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O período composto: coordenação Prof.ª Milca Tscherne Descrição Estudo das orações coordenadas assindéticas e sindéticas. Propósito Compreender as relações sintáticas e semânticas do período composto por coordenação e sua importância na produção textual e na atividade profissional de docência de língua portuguesa. Objetivos Módulo 1 Conceito de coordenação e subordinação Identificar os conceitos de oração, período, coordenação e subordinação. Módulo 2 Orações coordenadas assindéticas Reconhecer a relação de coordenação nos períodos compostos por coordenação assindética. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 1/37 Módulo 3 Orações coordenadas sindéticas Reconhecer a relação de coordenação nos períodos compostos por coordenação sindética. Introdução A coordenação e a subordinação são os dois modos que temos de relacionar as orações em um período composto. Não é exagero dizer que coordenamos e subordinamos as orações o tempo todo, tanto na fala quanto na escrita. Portanto, são processos conhecidos e fundamentais da língua, mas que podem ter o seu uso aperfeiçoado, pois abrangem não apenas a sintaxe, mas, também, a semântica e a estilística. Neste conteúdo, iremos nos concentrar apenas na coordenação do período composto, não sem antes conceituarmos brevemente o que é oração, período, coordenação e subordinação. Aos estudos! 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 2/37 1 - Conceito de coordenação e subordinação Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os conceitos de oração, período, coordenação e subordinação. A coordenação no período composto De�nição de oração O período composto é um período com mais de uma oração. Ele pode ser constituído por duas ou mais orações ou por dois ou mais predicados isolados. Antes de prosseguirmos, vamos relembrar a definição de oração, que é uma unidade fundamental aos estudos de sintaxe. Relembrando Oração: enunciado que contém um verbo ou uma expressão verbal. Exemplos: As histórias em quadrinhos surgiram no Brasil em 1869. Jane Austen soube fundir o romance sentimental e a comédia de costumes. Nesses dois exemplos, as orações têm sentido completo, mas é importante sabermos que a oração não precisa ter integridade semântica. Basta que ela tenha os seus elementos estruturais. Em muitos casos, o sentido completo do enunciado dependerá de outra oração ou, ainda, de outras orações. Quando isso ocorre, as orações deixam de ser independentes e passam a depender umas das outras, em uma relação a que chamamos de subordinação. Concluímos, portanto, que há dois tipos de orações: as independentes e as dependentes. As orações independentes e o período A oração independente é aquela que não exerce função sintática da outra a que se liga, como ocorre com as orações subordinadas. Perceba que para definirmos o que é uma oração independente, precisamos pensar na relação que as orações estabelecem entre si. No período simples, aquele formado apenas por uma oração, não precisamos nos ocupar com isso. No entanto, quando analisamos um período composto, ou seja, aquele que se forma com duas ou mais 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 3/37 orações, perceber as relações entre as orações é fundamental para sabermos se elas estão em coordenação e, portanto, em independência ou se elas estão em uma relação de subordinação, ou seja, de dependência entre si. Para relembrar a delimitação de período, confira a descrição que Sacconi (1999) nos apresenta: Forma-se, assim, um período quando externamos um pensamento completo, mediante oração ou orações, terminado por pausa forte, marcada na escrita por ponto final, ponto de interrogação, ponto de exclamação; reticências e, às vezes, dois-pontos. (SACCONI, 1999, p. 328) O período, assim como a oração, é uma importante unidade do texto e da sintaxe e é a ele, em sua versão composta por orações coordenadas, que iremos nos dedicar ao longo deste tema. O período composto por coordenação No período composto por coordenação, as orações são independentes, o que equivale dizer que uma oração não exerce qualquer função sintática em relação à outra a que se liga. Pelo contrário, as orações têm funções equivalentes no plano sintático. Exemplo Nós nos preparamos para a viagem e compramos as passagens. Oração 1: Nós nos preparamos para a viagem Oração 2: e compramos as passagens. Ambas as orações se constroem por si só como unidades do discurso, pois possuem todas as funções de que necessitam. São unidas por uma conjunção aditiva, expressa por “e”. Podemos exemplificar a coordenação e a independência entre as orações por meio de outras elaborações, como: Quero muito poder finalizar a pesquisa, porém receio que o prazo seja curto demais. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 4/37 Nesse caso, continuamos com duas orações plenas de nexo semântico, que se articulam em um período composto por meio de uma conjunção adversativa, ou seja, que transmite a ideia de oposição. Duas possibilidades ou realidades são confrontadas e ponderadas entre si: O desejo de �nalizar a pesquisa O prazo curto A coordenação é, portanto, o relacionamento de termos que se equivalem sintaticamente dentro de um período, o que não ocorre na subordinação. De�nição de oração e período Neste vídeo, vamos apresentar e debater a definição de oração e período. Além disso, trataremos da caracterização das orações independentes. A subordinação no período composto Chamamos de subordinação uma sequência de orações em que uma é um termo sintático de outra, estabelecendo assim uma relação de dependência no período composto. Nessa relação, a oração que pede uma dependente chama-se oração principal e a oração dependente chama-se oração subordinada. As orações dependentes A noção de oração dependente é muito importante para entendermos a relação entre a oração subordinada e a oração principal. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 5/37 A oração dependente é aquela que exerce uma função sintática de outra oração. Ela é, na verdade, um termo sintático em forma de oração. Ela pode assumir, por exemplo, a função sintática de um substantivo, de um adjetivo ou de um advérbio. Por isso, nos anos finais do ensino fundamental 2 e ao longo do ensino médio, entramos em contato com aquelas classificações longas nas aulas de análise sintática. Lembra-se das orações subordinadas substantivas objetivas diretas? Ou das orações subordinadas adjetivas restritivas, orações subordinadas adverbiais concessivas? Essas extensas classificações revelam exatamente a função sintática que uma oração dependente está desempenhando em relação a uma oração principal. Exemplos: Avisamos ao policial rodoviário que ocorreu um acidente. Avisamos o policial rodoviário de que ocorreu um acidente. Em ambos os exemplos, temos a oração principal formada pelo verbo “avisar”, que admite duas formas distintas de regência: Avisar alguma coisa a alguém Avisar alguém de alguma coisa Essa sutileza modifica a função sintática exercida pela oração dependente. Em “Avisamos ao policial rodoviário que ocorreu um acidente”, a oração dependente (que ocorreu um acidente) tem a função de objeto direto. Já em “Avisamos o policial rodoviário de que ocorreu um acidente”, a oração dependente (de que ocorreu um acidente) tem a função de objeto indireto. Em uma sequência subordinativa, também é possível que uma oração dependente seja termo de outra oração dependente. Exemplo 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenaçãohttps://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 6/37 Perguntei se todos queriam que registrássemos a reunião em ata. Esse período é composto por três orações: Oração 1: Perguntei Oração 2: se todos queriam Oração 3: que registrássemos a reunião em ata. A oração 2 é dependente da oração principal 1. Ela exerce a função sintática de objeto direto. Quem pergunta, pergunta algo (= se todos consideravam importante). Por sua vez, a oração 3 exerce também a função de objeto direto em relação à oração 2, pois complementa o verbo querer. Quem quer, quer algo (= que registrássemos a reunião em ata). A oração principal Apresentada a oração dependente, resta-nos refletir sobre a oração principal. A oração principal é aquela que pede uma oração dependente. Vejamos alguns exemplos: 1. É bom que modifiquemos as nossas ideias. 2. A professora solicitou que os alunos compareçam à live. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 7/37 3. O conhecimento precisa de que o amemos. 4. O apartamento que adquiri é novo. 5. Chegou cedo porque a reunião foi antecipada. Esses cinco exemplos são sintéticos, porém contêm duas orações cada um. A primeira oração é a principal e a segunda oração é a dependente da primeira. Se a segunda é dependente da primeira, podemos concluir que as segundas orações exercem funções sintáticas específicas da primeira. Sendo assim, que tal traçarmos as equivalências entre as orações e suas funções ou valores sintáticos? Comecemos por separar as orações principais, que são: 1. É bom 2. A professora solicitou 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 8/37 3. O conhecimento precisa 4. O apartamento é novo 5. Chegou cedo Agora, vamos pensar sobre as orações dependentes: que funções elas exercem em relação às orações principais? 1. que modifiquemos as nossas ideias é sujeito de “É bom”. 2. que os alunos compareçam à live é objeto direto de “A professora solicitou”. 3. de que o amemos é objeto indireto de “O conhecimento precisa”. 4. que adquiri é adjunto adnominal de apartamento, que pertence à oração “O apartamento é novo”. 5. porque a reunião foi antecipada é adjunto adverbial de causa de “Chegou cedo”. Agora que já sabemos que as orações dependentes possuem valor de algum termo sintático solicitado pela oração principal, vamos prosseguir para saber quais são as possíveis ligações entre as orações, coordenadas ou subordinadas, previstas para a composição de um período formado por uma ou mais orações. Classi�cação das orações quanto à ligação entre si Quanto à ligação entre as orações, podemos dividir de duas maneiras: Conectivas ou sindéticas Orações que se ligam por meio de conectivos, como as conjunções coordenativas e as conjunções subordinativas, pronomes e advérbios relativos. Justapostas ou assindéticas Orações que não se ligam com a anterior por palavras especiais de conexão, mas sim por sinais de pontuação, por palavras de natureza pronominal ou adverbial. Note que existem ligações sindéticas, ou seja, com conectivos, e assindéticas, sem conectivos, tanto entre as orações coordenativas quanto nas orações subordinativas. São nessas especificidades que a semântica se instala com força. Muitas vezes, para conseguirmos interpretar a relação entre duas orações, precisamos recorrer às relações de sentido entre elas. As orações coordenadas assindéticas e as orações coordenadas sindéticas são, respectivamente, os assuntos de que trataremos nos dois módulos seguintes. Até lá! 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 9/37 Subordinação no período composto Neste vídeo, vamos assistir à explicação sobre alguns tipos de oração do período composto. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Leia o texto a seguir: Há um ano, em um momento em que a covid-19 parecia dar uma trégua e todos ansiavam por um fim de ano de celebrações, o mundo foi surpreendido pelo aparecimento de uma variante que rapidamente elevou os casos da doença. Era a ômicron, cepa do SAARS-CoV-2, coronavírus causador da doença, que surgiu com enorme poder de transmissibilidade, porém menos letal que as anteriores ‒ alfa, beta, gama e delta. (FELIX, P. Um susto esperado. Veja. São Paulo: Abril, a. 55, nº 46, 23 nov. 2022, p. 64, grifo nosso) Acerca desse parágrafo, é correto afirma que A é um período composto por sete orações. B só existem orações principais. C “por”, “causador” e “poder” desempenham função verbal. D expressões verbais como “parecia dar” e “foi surpreendido” não formam orações. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 10/37 Parabéns! A alternativa E está correta. Trata-se de um parágrafo composto por dois períodos separados por um ponto final. As formas verbais (há, ansiavam, elevou, era, surgiu), bem como as expressões verbais (parecia dar e foi surpreendido) constituem, ao todo, sete orações, divididas em dois períodos. O primeiro é composto por cinco orações e o segundo, por duas. Já “por”, “causador” e “poder” são respectivamente preposição, adjetivo e substantivo. As expressões verbais “parecia dar” e “foi surpreendido” formam orações normalmente, tal como os verbos. Questão 2 A conhecida frase latina Veni, vidi, vici, atribuída a Júlio César (100- 44 a.C.), que a teria escrito em uma carta ao Senado romano após vencer uma batalha, é com frequência traduzida por “Vim, vi, venci” (I) ou por “Vim, vi e venci” (II). Considerando as duas possibilidades de tradução, podemos afirmar que: Parabéns! A alternativa D está correta. Em ambas as traduções, há três orações coordenadas, formadas pelos verbos vir, ver e vencer. Na tradução I, as orações estão E é um parágrafo composto por dois períodos. A As traduções I e II são compostas por orações assindéticas. B Há apenas uma oração em cada frase, por isso não há como classificá-las em sindéticas ou assindéticas. C As frases I e II são compostas por três orações sindéticas. D Ambas as frases são compostas por orações coordenadas. E Ambas as frases constituem períodos compostos por subordinação. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 11/37 justapostas sem a presença de conectivos, por isso, são assindéticas. Já na tradução II, a última oração se liga à penúltima pela conjunção aditiva “e”, tornando-as sindéticas, ou seja, com a presença de conectivo. 2 - Orações coordenadas assindéticas Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a relação de coordenação nos períodos compostos por coordenação assindética. A oração assindética A oração assindética nas orações coordenadas Síndeto ou síndeton são variantes para a palavra grega syndeton, que significa ligado a, unido a. O síndeto expressa uma situação em que duas ou mais orações sintaticamente independentes se unem por meio de uma conjunção e, assim, compõem um período de orações sindéticas. O prefixo a, também de origem grega, sinaliza a negação. Por isso, assindética caracteriza o tipo de oração que não se liga a outra por meio de conjunções ou de outro conectivo qualquer. Vejamos alguns exemplos: Ex. 1 Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. (LISPECTOR, 1983, p. 33, grifo nosso) 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 12/37 Trata-se de um trecho do conto Uma galinha, escrito em 1960 por Clarice Lispector. Temos um período composto por duas orações que se coordenam por meio da vírgula. Não há qualquer conjunção queas ligue. O trecho é bastante descritivo e, para isso, há justaposição de adjetivos e de verbos que se prestam a esse fim. Ex. 2 Em pé ou sentado, levantar os braços, entrelaçar os dedos das duas mãos com as palmas viradas para cima e alongar para cima. Nesse segundo exemplo, temos uma orientação de como executar um exercício de alongamento. Para isso, tal como no exemplo anterior, as orações coordenadas se separam com vírgulas sem a presença de conjunção. Todas seriam assindéticas, não fosse a presença de uma conjunção no final da sequência coordenativa. Trata-se da conjunção aditiva “e”, usada para introduzir a última oração do período, caracterizando-a como uma oração coordenada sindética. Vamos a outro exemplo: Quanto aos exercícios, as regras básicas para uma gestante incluem: reduzir a intensidade dos movimentos, aumentar os intervalos de execução, reduzir o tempo de treino diário, eliminar as atividades esportivas de competição, não fazer exercícios em decúbito ventral a partir do terceiro mês de gestação. Aqui, vemos claramente a equivalência de valor sintático entre as orações, como, aliás, é próprio das orações coordenadas. Trata-se de um período composto por seis orações assindéticas, pois todas são separadas por sinais de pontuação (dois pontos e vírgulas) e não por conectivos. Interessante também notarmos que há gêneros textuais em que a coordenação assindética é muito apropriada e, por isso, usada com preferência, como é o caso de narrações esportivas. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 13/37 A abundância e a mudança rápida dos movimentos obrigam o narrador a justapor muitas orações feitas com verbos de ação, produzindo, dessa forma, muitas orações sequenciadas sem qualquer conectivo. O resultado é um texto composto por um grande número de orações coordenadas assindéticas. Recomendação Como desafio para você, ouça um trecho de uma narração de futebol e confira as orações, transcrevendo-as. Há tipos de atas que também sequenciam as ações e o resultado é um texto composto predominantemente por orações coordenadas assindéticas. As orações assindéticas na literatura Na literatura, sobretudo nas narrativas modernas, em especial as mais enxutas ou as introspectivas e intimistas, vemos com frequência a parataxe como uso preferencial para representar o monólogo interior e o fluxo de consciência. A parataxe tem origem grega parataxis e significa “colocar lado a lado”. Corresponde, portanto, a uma sequência de frases justapostas sem conectivos que, em geral, são simples e curtas. Vejamos um exemplo retirado do romance A obscena senhora D, de Hilda Hilst: Convivo há alguns dias com a senhora P, a porca que escapuliu do quintal de algum. Abri a porta e ela entrou numa corrida guinchada, bambolando. Lá fora o estriduloso da vizinhança, depois silêncio, depois algumas chalaças gritadas mas nem tanto. Depois algum lapuz berrou: vá vá Dominico, deixa a porca pra louca, tu tem tantas, porca e louca se entendem. Ficou num esquinado ao lado da cozinha, achei uns guardados de milho, dei água, umas verduras velhas arrancadas do que foi horta um dia no quintal. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 14/37 (HILST, 2001, p. 44, grifos nossos) Observe como se compõem o terceiro e quarto períodos, praticamente apenas com orações coordenadas assindéticas. E até mesmo se considerarmos todo o parágrafo, excluindo as duas orações subordinadas (“a porca que escapuliu do quintal” e “do que foi horta um dia no quintal”), vemos que ele se constrói de orações coordenadas. Um pouco adiante, ao refletir sobre a velhice e a morte, a senhora D prossegue: Que hei de ficar tão velha e rígida como um tufo de urtigas, e leve num sem carnes, e tateante de coisas mortas, a cabeça fremente de clarões, a boca expelindo ainda palavras-agonia, datas, números, o nome dos meus cães, bacias de água quente pela casa os pés estão gelados, traz as bacias, deixa-me esfregar assim, ah, não adianta o nome dos meus cães, dos três pássaros, pedaços de frases incrível sol morrendo noite dor daqui a pouco luz palidez amanhã (HILST, 2001, p. 45, grifos nossos) Aqui foram destacados apenas os verbos das orações assindéticas. Nesse caso, percebemos com mais força o monólogo interior escapando para o fluxo de consciência com construções que mostram a aceleração do pensamento da narradora, Hillé (que é a senhora D). Além da parataxe, que serve para designar a ausência de conectivos entre as orações, há também uma figura de sintaxe que é o assíndeto. Nos estudos literários, é comum usarmos ambos os termos, parataxe e assíndeto, para pensarmos sobre as construções linguísticas que abrem mão das conjunções para formar as orações. Na oposição ao assíndeto, temos outra figura de sintaxe: o polissíndeto. São formações que se valem do uso repetido, em geral da mesma 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 15/37 conjunção coordenativa, a fim de conferir maior valor expressivo ao enunciado, como ocorre na crônica O telefone (1951), de Rubem Braga: “Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge” (BRAGA, 2005, p. 21, grifos nossos). Uso de orações assindéticas Neste vídeo, vamos debater sobre a ocorrência de orações assindéticas em textos literários. Outros alcances da concepção de oração assindética As orações intercaladas Dentre as orações assindéticas, temos também as orações intercaladas. Trata-se aqui especialmente das orações intercaladas que acrescentam elementos de esclarecimento. Segundo Bechara (1986, p. 224), as orações intercaladas não vêm, em geral, introduzidas por conjunção e, caso venham, a conjunção desempenha mero valor estilístico intensivo. As orações intercaladas podem denotar: Advertência Quando esclarece um ponto que se julga indispensável. Ex.: Todos os países pobres, nesse “todos” eu incluo o Brasil, precisam repensar a distribuição de renda e as formas de tributação. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 16/37 Desejo Quando se expressa um desejo. Ex.: É muito difícil, pudera eu, completar uma maratona. Escusa Quando se aproveita a ocasião para se desculpar. Ex.: Digo sempre, perdoem-me os cinéfilos cults, prefiro os blockbusters. Opinião Quando se aproveita a oportunidade para opinar. Ex.: Aquele funcionário, como era competente, foi premiado no final do ano. Permissão Quando se solicita algo. Ex.: Minha experiência no exterior, permita-me aqui uma comparação desagradável, foi como estar em uma prisão. Ressalva Quando se faz uma ressalva. Ex.: O ano, pode-se bem dizer, já terminou. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 17/37 Problematizando as orações assindéticas A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), instituída em 1959, por meio de uma portaria, unificou as terminologias e organizou o ensino da língua portuguesa no Brasil. Filólogos e linguistas contribuíram para a padronização de termos para o ensino e para exames de admissão e de habilitação. Nesse particular, a NGB considera assindética apenas as orações coordenadas. Posteriormente, gramáticos, como Evanildo Bechara, questionaram essa associação exclusiva das orações assindéticas à coordenação e propuseram a nomenclatura de justapostas (assindéticas) e conectivas (sindéticas). Para Bechara (1986), as orações assindéticas ocorrem também entre as orações subordinadas. A justaposição de orações, ou seja, a ausência de conectivos para ligá- las, segundo o autor, é possível também nos processos de subordinação. O gramático defendeque há subordinadas sindéticas e assindéticas, rejeitando, portanto, a posição marcada pela NGB. As duas orações a seguir são orações que sintática e semanticamente se subordinam sem, no entanto, serem ligadas por quaisquer palavras especiais de conexão: Tivesse dinheiro, eu viajaria. Espero sejas feliz. (BECHARA, 1986, p. 221) Claramente, essas construções poderiam receber conjunção subordinativa: “Se eu tivesse dinheiro, eu viajaria” e “Espero que sejas Citação Quando se interrompe ou se esclarece uma citação ou discurso direto. Ex.: ‒ Larguem as armas, gritou o policial, e mãos ao alto! 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 18/37 feliz”. Ao se optar pela justaposição, temos um caso que incide sobre a estilística. Para Bechara (1986), ao se optar pela ausência de conectivo, essas orações seriam subordinadas justapostas ou subordinadas assindéticas, jamais seriam coordenadas assindéticas, pois elas não possuem a equivalência sintática entre as orações para que possam ser consideradas orações coordenadas. Já para a NGB, não há oração subordinada assindética. Outra ocorrência interessante é o que se verifica, por exemplo, com a classificação da oração coordenada aditiva. Said Ali, filólogo e um dos maiores sintaxistas da língua portuguesa, destaca que algumas orações reduzidas de gerúndio e de infinitivo podem indicar adição. Diz ele: Se o acontecimento ocorrido em primeiro lugar for enunciado por uma oração explícita o gerúndio, denotando fato imediato, equivalerá a uma oração coordenada iniciada pela conjunção e: Recebeu a joia, entregando-a depois à esposa. (SAID ALI, 1965, p. 147) A oração reduzida de gerúndio “entregando-a depois à sua esposa” equivale a “e entregou-a depois à sua esposa”. Também recebem a classificação de coordenadas aditivas as orações reduzidas de infinitivo quando expressam, segundo Said Ali (1965), “adição enfática”. Exemplifica ele: “Aqueles meninos, sobre não serem educados, eram excessivamente teimosos” (1965, p. 147). A oração que se intercala confere ênfase, soma à oração: Aqueles meninos eram excessivamente teimosos. Se precisássemos desfazer a oração reduzida de infinitivo e propor uma oração coordenada aditiva, seria algo do tipo: Aqueles meninos eram excessivamente teimosos e eram não educados (ou e eram mal educados). Percebemos com esses exemplos que a semântica é requisitada para interpretarmos e classificarmos o período composto por coordenação. Embora não tenhamos o síndeto, no caso, a conjunção coordenativa aditiva nesses exemplos dados por Said Ali, trata-se de uma relação de adição entre orações que se coordenam. Classificam-se, portanto, como 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 19/37 orações coordenadas aditivas, mesmo que não apresentem a típica conjunção aditiva e. Discussões sobre as orações assindéticas Neste vídeo, vamos discutir os posicionamentos diferentes sobre as orações assindéticas a partir da NGB e do questionamento de gramáticos e linguistas. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Por definição, oração coordenada que seja desprovida de conectivo é denominada assindética. Considere os períodos seguintes: I. Não ouvi uma palavra, não vi movimento algum, o local estava aparentemente vazio. II. O ano novo passou, o Carnaval já chegou e ainda não comecei a estudar. III. O alerta de terremoto soou, as pessoas se refugiaram nos abrigos. Nada aconteceu. Existe coordenação assindética: A Apenas em I. B Apenas em II. C Apenas em III. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 20/37 Parabéns! A alternativa E está correta. Os períodos I e III são compostos por orações assindéticas. Entre elas não há qualquer conectivo. Em I, há um período composto por três orações coordenadas assindéticas, separadas por vírgulas. Em III, há dois períodos: o primeiro é composto por duas orações coordenadas assindéticas separadas por vírgula e o segundo período é simples, ou seja, composto por apenas uma oração. Em II, não há assindetismo, pois a terceira oração é introduzida pela conjunção e. Questão 2 Assinale a alternativa que traz uma oração intercalada assindética. Parabéns! A alternativa B está correta. Apenas “disse o ministro da suprema corte” é uma oração intercalada assindética, classificada como uma oração de citação. Nas demais alternativas, temos duas orações subordinadas intercaladas (as introduzidas por se e que). As restantes sequer são orações, pois não possuem verbos. Trata-se do adjunto adverbial de D Em I, II e III. E Apenas em I e III. A Brasília, que é a capital da República, foi fundada em 1960. B – Com a devida vênia, disse o ministro da suprema corte, peço vistas do processo. C O evento, se tivesse sido bem-organizado, atrairia mais gente. D A ONU, Organização das Nações Unidas, faz uma governança mundial desde 1945. E Ontem, à meia-noite, foi encerrado o horário de verão. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 21/37 tempo (“à meia-noite”) e, por fim, do aposto explicativo da sigla ONU. 3 - Orações coordenadas sindéticas Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a relação de coordenação nos períodos compostos por coordenação sindética. De�nição e classi�cação das orações coordenadas sindéticas Oração coordenada inicial e oração coordenada sindética As orações coordenadas sindéticas são aquelas introduzidas por uma conjunção. Exemplo Nélida Piñon lutava pela literatura e consagrou-se como a primeira presidente mulher da Academia Brasileira de Letras. Trata-se de um período formado por duas orações. Oração 1: Nélida Piñon lutava pela literatura Oração 2: e consagrou-se como a primeira presidente mulher da Academia Brasileira de Letras. Ambas as orações apresentam equivalência sintática, são independentes. Nenhuma é termo sintático da outra. Como afirma o linguista e gramático Perini (1996, p. 143): “quando duas ou mais 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 22/37 estruturas são unidas por coordenação, nenhuma delas exerce função sintática dentro de nenhuma outra”. Quando classificamos uma oração coordenada sindética, acrescentamos a espécie de conjunção coordenativa que inicia a oração. Ao serem coordenadas entre si, a relação estabelecida foi a de adição. Para isso, optou-se pela conjunção aditiva “e”. Portanto, trata-se de uma oração coordenada sindética aditiva. Em um período composto por coordenação, chamamos a primeira oração de coordenada inicial. No exemplo dado, temos, então, a oração “Nélida Piñon lutava pela literatura” como a coordenada inicial e a segunda oração “e consagrou-se como a primeira presidente mulher da Academia Brasileira de Letras” como coordenada sindética aditiva. Classi�cação das orações coordenadas sindéticas São as conjunções coordenativas que fazem a ligação entre duas orações coordenadas. Elas podem ser de cinco tipos. Aditivas Relacionam pensamentos similares, organizados em sequência, resultando em uma soma. As conjunções usadas normalmente são: e e nem. Atenção! A conjunção nem equivale à expressão “e não”. Por esta razão, na língua culta, não se usa a forma “e nem” para introduzir oração coordenada aditiva. Exemplos: O Brasil importa e exporta muita música. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 23/37 Há escritores mais fechados que não dão entrevistas nem se expõem na mídia. E mediu o terreno, e conferiu o projeto, e conferiu de novo, e desistiudo plano. Neste último exemplo, perceba que todas as orações são sindéticas. Não há a coordenada inicial. Trata-se de um polissíndeto em que todas as orações são introduzidas pela conjunção aditiva e. É possível também coordenar orações com correlação. São as séries correlativas enfáticas, usadas para realçar a segunda oração. Para isso, usamos: não só... como também, não somente... mas também, não só... mas ainda, não só... senão ainda etc. Exemplos: O Brasil não só importa, como também exporta muita música. O consumo interno do país depende não só dos salários senão ainda dos juros. Adversativas Exprimem contraste, oposição, compensação ou ressalva em relação à oração anterior. As conjunções adversativas são: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, senão, não obstante. Exemplos: 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 24/37 O mercado paralelo de compra e venda de dólar é tecnicamente ilegal, porém usado por todo mundo. O governo se empenhará na conciliação do país, mas não irá tolerar atos contra a democracia. Fui bem na avaliação, contudo não fui aprovada. Alternativas Exprimem fatos ou conceitos que se alternam ou que se excluem. Apresentam conjunção na última oração ou nas duas. As conjunções alternativas são: ou, ou... ou, já... já, ora... ora, quer... quer. Exemplos: 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 25/37 Ou o acordo sobre a partilha da herança se define ou será mais um ano de luta judicial. Eu irei quer faça chuva quer faça sol. O júri ora se mostrava convencido pelo promotor ora pelo advogado de defesa. Conclusivas Expressam uma conclusão lógica sobre algo já posto na coordenada inicial. As conjunções conclusivas são: logo, pois (obrigatoriamente posposta ao verbo), portanto, por isso (a mais usada na língua falada), então, assim. As locuções “por conseguinte”, “de modo que” e “em vista disso” também expressam conclusão. Exemplos: 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 26/37 Os portões serão fechados às 14h, portanto nenhum candidato poderá entrar após esse horário. Não conseguirei comparecer ao concerto; meu convite está, pois, disponível para quem quiser. Penso, logo existo. (DESCARTES, 1637) Explicativas Justificam o que está contido na oração coordenada inicial, ou seja, explicam a razão de ser do que está expresso na oração anterior. As conjunções explicativas são: pois (obrigatoriamente anteposta ao verbo), que (porque), porque, porquanto. Exemplos: 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 27/37 Leia logo o livro, porque preciso emprestá-lo a outra pessoa. A equipe foi inteiramente substituída por outra, pois comprovou- se a sabotagem. Deixe-o descansar da cirurgia, que ele precisa se recompor. Orações coordenadas sindéticas Veja agora a definição das orações coordenadas sindéticas e sua classificação. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 28/37 Re�nando a percepção das orações coordenadas Embora haja conjunções específicas que nos ajudam a classificar as orações coordenadas sindéticas, é importante não avaliarmos exclusivamente as conjunções, pois, além de os elementos conjuntivos serem multifuncionais, a sintaxe, neste e em outros casos, pode render- se à semântica. Como já vimos, há possibilidade de as orações serem assindéticas e, mesmo assim, classificarmos a oração pelo sentido que expressam e não pela conjunção que inexiste. Exemplos: Avisei; ninguém me ouviu: todos estavam distraídos. Começou animado a leitura do Ulisses, de Joyce; não durou uma semana. No primeiro exemplo, temos a pontuação fazendo o papel das conjunções. A relação entre a primeira e a segunda oração é de oposição e entre a segunda e a terceira, de explicação. Por isso, temos um período composto por uma oração coordenada inicial, seguido por uma oração coordenada assindética adversativa e uma oração coordenada assindética explicativa. Se, no entanto, quiséssemos ligar as orações por conjunções, teríamos: Avisei, mas ninguém me ouviu, pois todos estavam distraídos. A primeira oração continua a ser uma coordenada inicial, a segunda é uma oração coordenada sindética adversativa e a terceira é uma oração coordenada sindética explicativa. No segundo exemplo, temos uma relação também de oposição: “Começou animado a leitura de Ulisses, de Joyce, porém não durou uma semana”. Trata-se de um período composto que apresenta uma relação adversativa que pode ser expressa tanto pelo assindetismo quanto pela conjunção. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 29/37 [...] os elementos conjuntivos são coesivos não por si mesmos, mas indiretamente, em virtude das relações significativas específicas que se estabelecem entre as orações dentro do período, entre os períodos dentro de um parágrafo, entre os parágrafos no interior do texto. (FÁVERO; KOCH, 1988, p. 41) Vamos a alguns casos. Bechara (1986), baseado em Said Ali (1965), faz as seguintes observações após tratar das orações coordenadas sindéticas explicativas: As explicativas não passam de causais coordenativas, que nem sempre se separam claramente das causais subordinativas que veremos adiante. Em certas línguas, distingue-se a causal subordinativa da causal coordenativa pela diversidade da partícula (em francês parce que, car; em inglês because, for; em alemão weil, denn); em português, empregando-se porque ou que para um e outro caso, conhece-se a diferença pela pausa. A causal subordinativa separa-se da oração principal por uma pausa muito fraca (que se representa, quando muito, por uma vírgula). A causal coordenativa separa-se da proposição anterior por uma pausa mais forte (que se figura por vírgula, ponto e vírgula e até por ponto final) (BECHARA, 1986, p. 161) Vamos a alguns exemplos. Se dissermos “Saia mais cedo, que vai chover” ou “Saia mais cedo porque vai chover” não equivale a dizermos 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 30/37 que sair mais cedo é a causa da chuva, mas sim que em razão da chuva, por causa da chuva, é preciso antecipar-se e sair mais cedo para evitá- la. Trata-se de uma oração coordenada sindética explicativa ou de uma de uma oração coordenada sindética causal, como pensam Bechara (1986) e Said Ali (1965). Se as coordenadas explicativas ou causais pedem maior pausa em relação às subordinativas causais (que ainda veremos!), podemos perfeitamente propor as seguintes elaborações: Saia mais cedo, que vai chover. Saia mais cedo; que vai chover. Saia mais cedo: vai chover. Saia mais cedo. Vai chover. (Neste caso, desfaz-se o período composto, mas mantém-se a relação explicativa.) Agora, caso se tratasse de orações subordinadas adverbiais causais, as quais igualmente se valem das conjunções que e porque dentre outras, essa pausa mais acentuada nas coordenadas, explicitada pela pontuação na escrita e pela pausa na fala, desapareceria. O importante é não confundir explicação com causa. O professor Pasquale faz uma importante observação: “Uma explicação é sempre posterior ao fato que a gerou; uma causa é sempre anterior à consequência resultante dela” (CIPRO NETO, 1996, p. 469). Discussões sobre orações coordenadas Neste vídeo, vamos conversar sobre aspectos semânticos e conceituais relacionados com as orações coordenadas. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio#31/37 A pontuação das orações coordenadas As orações coordenadas e a vírgula Vamos conhecer ou relembrar alguns aspectos relacionados com a pontuação na relação de coordenação entre as orações. Entre as orações, a vírgula separa: 1. As orações coordenadas assindéticas. As cidades se desenvolviam, ampliavam-se cada vez mais em direção à zona rural. 2. As orações coordenadas sindéticas, com exceção das introduzidas pela conjunção e. As cidades se desenvolviam, mas continuavam distanciadas da zona rural. Exceções: a) Quando a oração introduzida pela conjunção e tiver o sujeito diferente do sujeito da oração anterior, ela deverá ser separada por vírgula. Muitos não justificaram a ausência, alguns avisaram que havia conflito de agenda, outros apenas se desculparam, e a reunião não aconteceu. b) Quando a conjunção e introduzir várias orações de uma sequência (polissíndeto). O público eufórico se aproximava do palco, e aplaudia aqueles grandes atores, e assobiava, e gritava, e voltava a aplaudir sem se cansar. 4. As orações coordenadas intercaladas. As cidades, dizia o especialista, ampliavam-se cada vez mais em direção à zona rural. 5. Omissão (elipse) de verbo. Você gosta de cinema e eu, de teatro. (Você gosta de cinema e eu gosto de teatro.) 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 32/37 As orações coordenadas e o ponto e vírgula Entre as orações, o ponto e vírgula pode ser usado para separar: 1. As orações coordenadas sindéticas, especialmente as adversativas e conclusivas. Escolha as palavras que quiser; mas fale apenas por si. O volume de trabalho triplicou neste semestre; portanto é preciso contratar mais gente. Atenção: Caso as coordenadas sindéticas adversativas e conclusivas não sejam iniciadas pelas respectivas conjunções, mas estas encontrarem-se deslocadas, o ponto e vírgula será obrigatório e a conjunção será isolada por vírgulas. Alguns congressistas são assíduos na Câmara; outros, porém, mal comparecem à casa do povo. Apenas 21% dos jovens brasileiros, entre 25 e 34 anos, concluíram o ensino superior; não há, portanto, semelhança alguma com os números argentinos (40%) nem chilenos (34%). 2. As orações coordenadas assindéticas com evidente valor adversativo ou conclusivo. O poder público atuou fortemente naquele caso; não obteve sucesso. A Mata Atlântica é um dos biomas mais ameaçados de extinção; é preciso preservá-la a todo custo. 3. Blocos de orações coordenadas que estabelecem contraste. Uns dedicam-se somente aos seus próprios interesses, investem apenas no que lhes oferece retorno, fecham-se suas bolhas sociais; outros doam-se sem querer nada em troca, dedicam tempo e conhecimento a causas alheias. Esses pontos que acabamos de abordar constituem os casos mais específicos de pontuação das orações coordenadas. Pontuação nas orações coordenadas Neste vídeo, vamos acompanhar as explicações sobre o emprego da vírgula e do ponto e vírgula nas orações coordenadas. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 33/37 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Considere o seguinte texto: “Os livros, documentos e obras de arte danificados foram restaurados e não ficaram como o esperado.” Apesar de a conjunção “e” normalmente ser aditiva, a oração em destaque é Parabéns! A alternativa A está correta. A conjunção aditiva “e”, neste caso, exerce a função de uma conjunção adversativa. Equivale à conjunção adversativa “mas”. Poderíamos reescrever da seguinte forma: “Os livros, documentos e obras de arte danificados foram restaurados, mas não ficaram como o esperado.” Verificamos que, por terem sido restaurados os itens descritos, cria-se uma expectativa positiva que é frustrada pelo conteúdo da segunda oração: eles não ficaram como o esperado. A adversativa, pois expressa relação de oposição. B conclusiva, pois expressa relação de conclusão. C explicativa, pois expressa relação de causa. D alternativa, pois expressa relação de quebra de expectativa. E causal, pois expressa relação de motivação. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 34/37 Questão 2 Considere o fragmento a seguir: “Os policiais estavam presentes no tumulto; sabem, pois, o que lá aconteceu”. Sobre a conjunção pois, podemos afirmar que Parabéns! A alternativa E está correta. Em: “Os policiais estavam presentes no tumulto; sabem, pois, o que lá aconteceu”, a conjunção pois é uma conjunção conclusiva. Ela está corretamente posposta ao verbo e isolada por vírgulas, como deve ser. Caso ela estivesse anteposta ao verbo, ela passaria a ser uma conjunção explicativa e a pontuação seria alterada para: “Os policiais estavam presentes no tumulto, pois sabem o que lá aconteceu”. Considerações �nais Estudamos o período composto por coordenação, examinando os principais conceitos, características e relações sintático e semânticas implicados nas orações coordenadas. A desempenha a função de conjunção coordenativa explicativa. B está posicionada incorretamente depois do verbo. C antes ou depois do verbo, a conjunção estabeleceria a mesma relação de sentido. D não deveria estar isolada por vírgulas. E se estivesse anteposta ao verbo, a oração seria uma coordenada explicativa. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 35/37 Aprendemos que as definições sobre orações coordenadas podem ser problematizadas, mas sem que isso nos impeça de dominar o uso adequado das relações de coordenação entre as orações. Quando identificamos essas relações de forma consciente, conseguimos não apenas compreender melhor o que lemos, como também usar com mais precisão os pequenos conectivos e a pontuação que tanto contribuem para estabelecer as relações de coesão e sentido ao texto. Todo conhecimento em língua portuguesa está sempre em associação com muitos outros já presentes em nossa memória. É a partir da ampliação desse repertório que a nossa capacidade de usar a língua também aumenta. Bons estudos! Podcast Neste podcast, vamos conversar sobre alguns conceitos relacionados com as orações coordenadas, destacando seus aspectos sintáticos e semânticos. Explore + Consulte, em várias gramáticas da Língua Portuguesa, a parte dedicada à sintaxe. Nelas você encontrará conteúdos sobre o período composto por coordenação e sobre a pontuação nas orações coordenadas. Aprofunde seus estudos sobre a pontuação lendo o livro As (man)obras da pontuação, de Véronique Dahle, disponível na Google Acadêmico e Google Livro. Otimize os seus conhecimentos sobre as conjunções e demais conectivos em materiais sobre coesão textual, como, por exemplo, o livro A coesão textual, de Ingedore Villaça Koch, editado pela Contexto. 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 36/37 Referências CIPRO NETO, P. Gramática da língua portuguesa – Pasquale & Ulisses. São Paulo: Scipione, 1996. BECHARA, E. Moderna gramática brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1986. BRAGA, R. O telefone. In: Braga, R. et al. Para gostar de ler: Crônicas 4. São Paulo: Ática, 2005. FÁVERO, L. L.; KOCH, I. G. V. Linguística Textual: Introdução. São Paulo: Cortez, 1988. HILST, H. A obscena senhora D. São Paulo: Globo, 2001. LISPECTOR, C. Uma galinha. In: LISPECTOR, C. Laços de família: contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. PERINI, M. A. Gramática descritiva do português. 4. ed. São Paulo: Ática, 1996. SACCONI, L. A. Nossa gramática. 25. ed. São Paulo: Atual, 1999. SAID ALI, M. Gramática secundária da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1965. VERÍSSIMO,E. Acidente em Antares. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema 09/05/2024, 15:35 O período composto: coordenação https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/07180/index.html?brand=estacio# 37/37 javascript:CriaPDF()