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Período Composto: Coordenação


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O período composto: coordenação
Prof.ª Milca Tscherne
Descrição
Estudo das orações coordenadas assindéticas e sindéticas.
Propósito
Compreender as relações sintáticas e semânticas do período composto
por coordenação e sua importância na produção textual e na atividade
profissional de docência de língua portuguesa.
Objetivos
Módulo 1
Conceito de coordenação e subordinação
Identificar os conceitos de oração, período, coordenação e
subordinação.
Módulo 2
Orações coordenadas assindéticas
Reconhecer a relação de coordenação nos períodos compostos por
coordenação assindética.
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Módulo 3
Orações coordenadas sindéticas
Reconhecer a relação de coordenação nos períodos compostos por
coordenação sindética.
Introdução
A coordenação e a subordinação são os dois modos que temos
de relacionar as orações em um período composto.
Não é exagero dizer que coordenamos e subordinamos as
orações o tempo todo, tanto na fala quanto na escrita. Portanto,
são processos conhecidos e fundamentais da língua, mas que
podem ter o seu uso aperfeiçoado, pois abrangem não apenas a
sintaxe, mas, também, a semântica e a estilística.
Neste conteúdo, iremos nos concentrar apenas na coordenação
do período composto, não sem antes conceituarmos brevemente
o que é oração, período, coordenação e subordinação.
Aos estudos!

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1 - Conceito de coordenação e subordinação
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os conceitos de oração, período,
coordenação e subordinação.
A coordenação no período composto
De�nição de oração
O período composto é um período com mais de uma oração. Ele pode
ser constituído por duas ou mais orações ou por dois ou mais
predicados isolados.
Antes de prosseguirmos, vamos relembrar a definição de oração, que é
uma unidade fundamental aos estudos de sintaxe.
Relembrando
Oração: enunciado que contém um verbo ou uma expressão verbal.
Exemplos:
As histórias em quadrinhos surgiram no Brasil em 1869.
Jane Austen soube fundir o romance sentimental e a comédia de
costumes.
Nesses dois exemplos, as orações têm sentido completo, mas é
importante sabermos que a oração não precisa ter integridade
semântica. Basta que ela tenha os seus elementos estruturais.
Em muitos casos, o sentido completo do enunciado dependerá de outra
oração ou, ainda, de outras orações. Quando isso ocorre, as orações
deixam de ser independentes e passam a depender umas das outras,
em uma relação a que chamamos de subordinação.
Concluímos, portanto, que há dois tipos de orações: as independentes e
as dependentes.
As orações independentes e o período
A oração independente é aquela que não exerce função sintática da
outra a que se liga, como ocorre com as orações subordinadas.
Perceba que para definirmos o que é uma oração independente,
precisamos pensar na relação que as orações estabelecem entre si.
No período simples, aquele formado apenas por uma oração, não
precisamos nos ocupar com isso. No entanto, quando analisamos um
período composto, ou seja, aquele que se forma com duas ou mais
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orações, perceber as relações entre as orações é fundamental para
sabermos se elas estão em coordenação e, portanto, em independência
ou se elas estão em uma relação de subordinação, ou seja, de
dependência entre si.
Para relembrar a delimitação de período, confira a descrição que
Sacconi (1999) nos apresenta:
Forma-se, assim, um período
quando externamos um
pensamento completo, mediante
oração ou orações, terminado por
pausa forte, marcada na escrita por
ponto final, ponto de interrogação,
ponto de exclamação; reticências e,
às vezes, dois-pontos.
(SACCONI, 1999, p. 328)
O período, assim como a oração, é uma importante unidade do texto e
da sintaxe e é a ele, em sua versão composta por orações coordenadas,
que iremos nos dedicar ao longo deste tema.
O período composto por coordenação
No período composto por coordenação, as orações são independentes,
o que equivale dizer que uma oração não exerce qualquer função
sintática em relação à outra a que se liga. Pelo contrário, as orações têm
funções equivalentes no plano sintático.
Exemplo
Nós nos preparamos para a viagem e compramos as passagens.
Oração 1: Nós nos preparamos para a viagem
Oração 2: e compramos as passagens.
Ambas as orações se constroem por si só como unidades do discurso,
pois possuem todas as funções de que necessitam. São unidas por uma
conjunção aditiva, expressa por “e”.
Podemos exemplificar a coordenação e a independência entre as
orações por meio de outras elaborações, como:
Quero muito poder finalizar a pesquisa, porém receio que o prazo
seja curto demais.
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Nesse caso, continuamos com duas orações plenas de nexo semântico,
que se articulam em um período composto por meio de uma conjunção
adversativa, ou seja, que transmite a ideia de oposição. Duas
possibilidades ou realidades são confrontadas e ponderadas entre si:

O desejo de �nalizar a
pesquisa

O prazo curto
A coordenação é, portanto, o relacionamento de termos que se
equivalem sintaticamente dentro de um período, o que não ocorre na
subordinação.
De�nição de oração e período
Neste vídeo, vamos apresentar e debater a definição de oração e
período. Além disso, trataremos da caracterização das orações
independentes.
A subordinação no período composto
Chamamos de subordinação uma sequência de orações em que uma é
um termo sintático de outra, estabelecendo assim uma relação de
dependência no período composto.
Nessa relação, a oração que pede uma dependente chama-se oração
principal e a oração dependente chama-se oração subordinada.
As orações dependentes
A noção de oração dependente é muito importante para entendermos a
relação entre a oração subordinada e a oração principal.


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A oração dependente é aquela que exerce uma função sintática de outra
oração. Ela é, na verdade, um termo sintático em forma de oração. Ela
pode assumir, por exemplo, a função sintática de um substantivo, de um
adjetivo ou de um advérbio.
Por isso, nos anos finais do ensino fundamental 2 e ao longo do ensino
médio, entramos em contato com aquelas classificações longas nas
aulas de análise sintática. Lembra-se das orações subordinadas
substantivas objetivas diretas? Ou das orações subordinadas adjetivas
restritivas, orações subordinadas adverbiais concessivas?
Essas extensas classificações revelam exatamente a função sintática
que uma oração dependente está desempenhando em relação a uma
oração principal.
Exemplos:
Avisamos ao policial rodoviário que ocorreu um acidente.
Avisamos o policial rodoviário de que ocorreu um acidente.
Em ambos os exemplos, temos a oração principal formada pelo verbo
“avisar”, que admite duas formas distintas de regência:

Avisar alguma coisa a
alguém

Avisar alguém de
alguma coisa
Essa sutileza modifica a função sintática exercida pela oração
dependente.
Em “Avisamos ao policial rodoviário que ocorreu um acidente”, a oração
dependente (que ocorreu um acidente) tem a função de objeto direto.
Já em “Avisamos o policial rodoviário de que ocorreu um acidente”, a
oração dependente (de que ocorreu um acidente) tem a função de
objeto indireto.
Em uma sequência subordinativa, também é possível que uma oração
dependente seja termo de outra oração dependente.
Exemplo

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Perguntei se todos queriam que registrássemos a reunião em ata.
Esse período é composto por três orações:
Oração 1: Perguntei
Oração 2: se todos queriam
Oração 3: que registrássemos a reunião em ata.
A oração 2 é dependente da oração principal 1. Ela exerce a função
sintática de objeto direto. Quem pergunta, pergunta algo (= se todos
consideravam importante).
Por sua vez, a oração 3 exerce também a função de objeto direto em
relação à oração 2, pois complementa o verbo querer. Quem quer, quer
algo (= que registrássemos a reunião em ata).
A oração principal
Apresentada a oração dependente, resta-nos refletir sobre a oração
principal. A oração principal é aquela que pede uma oração dependente.
Vejamos alguns exemplos:
1. É bom que modifiquemos as nossas ideias.
2. A professora solicitou que os alunos compareçam à live.
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3. O conhecimento precisa de que o amemos.
4. O apartamento que adquiri é novo.
5. Chegou cedo porque a reunião foi antecipada.
Esses cinco exemplos são sintéticos, porém contêm duas orações cada
um. A primeira oração é a principal e a segunda oração é a dependente
da primeira.
Se a segunda é dependente da primeira, podemos concluir que as
segundas orações exercem funções sintáticas específicas da primeira.
Sendo assim, que tal traçarmos as equivalências entre as orações e
suas funções ou valores sintáticos? Comecemos por separar as orações
principais, que são:
1. É bom
2. A professora solicitou
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3. O conhecimento precisa
4. O apartamento é novo
5. Chegou cedo
Agora, vamos pensar sobre as orações dependentes: que funções elas
exercem em relação às orações principais?
1. que modifiquemos as nossas ideias é sujeito de “É bom”.
2. que os alunos compareçam à live é objeto direto de “A professora
solicitou”.
3. de que o amemos é objeto indireto de “O conhecimento precisa”.
4. que adquiri é adjunto adnominal de apartamento, que pertence à
oração “O apartamento é novo”.
5. porque a reunião foi antecipada é adjunto adverbial de causa de
“Chegou cedo”.
Agora que já sabemos que as orações dependentes possuem valor de
algum termo sintático solicitado pela oração principal, vamos prosseguir
para saber quais são as possíveis ligações entre as orações,
coordenadas ou subordinadas, previstas para a composição de um
período formado por uma ou mais orações.
Classi�cação das orações quanto à ligação
entre si
Quanto à ligação entre as orações, podemos dividir de duas maneiras:
Conectivas ou sindéticas
Orações que se ligam por meio de conectivos, como as conjunções
coordenativas e as conjunções subordinativas, pronomes e advérbios
relativos.
Justapostas ou assindéticas
Orações que não se ligam com a anterior por palavras especiais de
conexão, mas sim por sinais de pontuação, por palavras de natureza
pronominal ou adverbial.
Note que existem ligações sindéticas, ou seja, com conectivos, e
assindéticas, sem conectivos, tanto entre as orações coordenativas
quanto nas orações subordinativas. São nessas especificidades que a
semântica se instala com força. Muitas vezes, para conseguirmos
interpretar a relação entre duas orações, precisamos recorrer às
relações de sentido entre elas.
As orações coordenadas assindéticas e as orações coordenadas
sindéticas são, respectivamente, os assuntos de que trataremos nos
dois módulos seguintes. Até lá!
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Subordinação no período composto
Neste vídeo, vamos assistir à explicação sobre alguns tipos de oração
do período composto.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Leia o texto a seguir:
Há um ano, em um momento em que a covid-19 parecia dar uma
trégua e todos ansiavam por um fim de ano de celebrações, o
mundo foi surpreendido pelo aparecimento de uma variante que
rapidamente elevou os casos da doença. Era a ômicron, cepa do
SAARS-CoV-2, coronavírus causador da doença, que surgiu com
enorme poder de transmissibilidade, porém menos letal que as
anteriores ‒ alfa, beta, gama e delta. (FELIX, P. Um susto esperado.
Veja. São Paulo: Abril, a. 55, nº 46, 23 nov. 2022, p. 64, grifo nosso)
Acerca desse parágrafo, é correto afirma que

A é um período composto por sete orações.
B só existem orações principais.
C
“por”, “causador” e “poder” desempenham função
verbal.
D
expressões verbais como “parecia dar” e “foi
surpreendido” não formam orações.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
Trata-se de um parágrafo composto por dois períodos separados
por um ponto final. As formas verbais (há, ansiavam, elevou, era,
surgiu), bem como as expressões verbais (parecia dar e foi
surpreendido) constituem, ao todo, sete orações, divididas em dois
períodos. O primeiro é composto por cinco orações e o segundo,
por duas. Já “por”, “causador” e “poder” são respectivamente
preposição, adjetivo e substantivo. As expressões verbais “parecia
dar” e “foi surpreendido” formam orações normalmente, tal como os
verbos.
Questão 2
A conhecida frase latina Veni, vidi, vici, atribuída a Júlio César (100-
44 a.C.), que a teria escrito em uma carta ao Senado romano após
vencer uma batalha, é com frequência traduzida por “Vim, vi, venci”
(I) ou por “Vim, vi e venci” (II). Considerando as duas possibilidades
de tradução, podemos afirmar que:
Parabéns! A alternativa D está correta.
Em ambas as traduções, há três orações coordenadas, formadas
pelos verbos vir, ver e vencer. Na tradução I, as orações estão
E é um parágrafo composto por dois períodos.
A
As traduções I e II são compostas por orações
assindéticas.
B
Há apenas uma oração em cada frase, por isso não
há como classificá-las em sindéticas ou
assindéticas.
C
As frases I e II são compostas por três orações
sindéticas.
D
Ambas as frases são compostas por orações
coordenadas.
E
Ambas as frases constituem períodos compostos
por subordinação.
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justapostas sem a presença de conectivos, por isso, são
assindéticas. Já na tradução II, a última oração se liga à penúltima
pela conjunção aditiva “e”, tornando-as sindéticas, ou seja, com a
presença de conectivo.
2 - Orações coordenadas assindéticas
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a relação de coordenação nos períodos
compostos por coordenação assindética.
A oração assindética
A oração assindética nas orações coordenadas
Síndeto ou síndeton são variantes para a palavra grega syndeton, que
significa ligado a, unido a.
O síndeto expressa uma situação em que duas ou mais orações
sintaticamente independentes se unem por meio de uma conjunção e,
assim, compõem um período de orações sindéticas.
O prefixo a, também de origem grega, sinaliza a negação. Por isso,
assindética caracteriza o tipo de oração que não se liga a outra por meio
de conjunções ou de outro conectivo qualquer.
Vejamos alguns exemplos:
Ex. 1
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava,
muda, concentrada. (LISPECTOR, 1983, p. 33, grifo nosso)
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Trata-se de um trecho do conto Uma galinha, escrito em 1960 por
Clarice Lispector. Temos um período composto por duas orações
que se coordenam por meio da vírgula. Não há qualquer
conjunção queas ligue. O trecho é bastante descritivo e, para
isso, há justaposição de adjetivos e de verbos que se prestam a
esse fim.
Ex. 2
Em pé ou sentado, levantar os braços, entrelaçar os dedos
das duas mãos com as palmas viradas para cima e alongar
para cima.
Nesse segundo exemplo, temos uma orientação de como
executar um exercício de alongamento. Para isso, tal como no
exemplo anterior, as orações coordenadas se separam com
vírgulas sem a presença de conjunção. Todas seriam
assindéticas, não fosse a presença de uma conjunção no final da
sequência coordenativa. Trata-se da conjunção aditiva “e”, usada
para introduzir a última oração do período, caracterizando-a como
uma oração coordenada sindética.
Vamos a outro exemplo:
Quanto aos exercícios, as regras básicas para uma gestante incluem:
reduzir a intensidade dos movimentos, aumentar os intervalos de
execução, reduzir o tempo de treino diário, eliminar as atividades
esportivas de competição, não fazer exercícios em decúbito ventral a
partir do terceiro mês de gestação.
Aqui, vemos claramente a equivalência de valor sintático entre as
orações, como, aliás, é próprio das orações coordenadas. Trata-se de
um período composto por seis orações assindéticas, pois todas são
separadas por sinais de pontuação (dois pontos e vírgulas) e não por
conectivos.
Interessante também notarmos que há gêneros
textuais em que a coordenação assindética é muito
apropriada e, por isso, usada com preferência, como é
o caso de narrações esportivas.
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A abundância e a mudança rápida dos movimentos obrigam o narrador
a justapor muitas orações feitas com verbos de ação, produzindo, dessa
forma, muitas orações sequenciadas sem qualquer conectivo.
O resultado é um texto composto por um grande número de orações
coordenadas assindéticas.
Recomendação
Como desafio para você, ouça um trecho de uma narração de futebol e
confira as orações, transcrevendo-as.
Há tipos de atas que também sequenciam as ações e o resultado é um
texto composto predominantemente por orações coordenadas
assindéticas.
As orações assindéticas na literatura
Na literatura, sobretudo nas narrativas modernas, em especial as mais
enxutas ou as introspectivas e intimistas, vemos com frequência a
parataxe como uso preferencial para representar o monólogo interior e o
fluxo de consciência.
A parataxe tem origem grega parataxis e significa “colocar lado a lado”.
Corresponde, portanto, a uma sequência de frases justapostas sem
conectivos que, em geral, são simples e curtas.
Vejamos um exemplo retirado do romance A obscena senhora D, de
Hilda Hilst:
Convivo há alguns dias com a
senhora P, a porca que escapuliu do
quintal de algum. Abri a porta e ela
entrou numa corrida guinchada,
bambolando. Lá fora o estriduloso
da vizinhança, depois silêncio,
depois algumas chalaças gritadas
mas nem tanto. Depois algum lapuz
berrou: vá vá Dominico, deixa a
porca pra louca, tu tem tantas, porca
e louca se entendem. Ficou num
esquinado ao lado da cozinha, achei
uns guardados de milho, dei água,
umas verduras velhas arrancadas do
que foi horta um dia no quintal.
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(HILST, 2001, p. 44, grifos nossos)
Observe como se compõem o terceiro e quarto períodos, praticamente
apenas com orações coordenadas assindéticas. E até mesmo se
considerarmos todo o parágrafo, excluindo as duas orações
subordinadas (“a porca que escapuliu do quintal” e “do que foi horta um
dia no quintal”), vemos que ele se constrói de orações coordenadas.
Um pouco adiante, ao refletir sobre a velhice e a morte, a senhora D
prossegue:
Que hei de ficar tão velha e rígida
como um tufo de urtigas, e leve num
sem carnes, e tateante de coisas
mortas, a cabeça fremente de
clarões, a boca expelindo ainda
palavras-agonia, datas, números, o
nome dos meus cães, bacias de
água quente pela casa os pés estão
gelados, traz as bacias, deixa-me
esfregar assim, ah, não adianta o
nome dos meus cães, dos três
pássaros, pedaços de frases
incrível sol morrendo
noite dor daqui a pouco
luz palidez amanhã
(HILST, 2001, p. 45, grifos nossos)
Aqui foram destacados apenas os verbos das orações assindéticas.
Nesse caso, percebemos com mais força o monólogo interior
escapando para o fluxo de consciência com construções que mostram a
aceleração do pensamento da narradora, Hillé (que é a senhora D).
Além da parataxe, que serve para designar a ausência de conectivos
entre as orações, há também uma figura de sintaxe que é o assíndeto.
Nos estudos literários, é comum usarmos ambos os
termos, parataxe e assíndeto, para pensarmos sobre as
construções linguísticas que abrem mão das
conjunções para formar as orações.
Na oposição ao assíndeto, temos outra figura de sintaxe: o polissíndeto.
São formações que se valem do uso repetido, em geral da mesma
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conjunção coordenativa, a fim de conferir maior valor expressivo ao
enunciado, como ocorre na crônica O telefone (1951), de Rubem Braga:
“Há dois dias meu telefone não
fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge” (BRAGA, 2005, p. 21,
grifos nossos).
Uso de orações assindéticas
Neste vídeo, vamos debater sobre a ocorrência de orações assindéticas
em textos literários.
Outros alcances da concepção de
oração assindética
As orações intercaladas
Dentre as orações assindéticas, temos também as orações intercaladas.
Trata-se aqui especialmente das orações intercaladas que acrescentam
elementos de esclarecimento. Segundo Bechara (1986, p. 224), as
orações intercaladas não vêm, em geral, introduzidas por conjunção e,
caso venham, a conjunção desempenha mero valor estilístico intensivo.
As orações intercaladas podem denotar:

 Advertência
Quando esclarece um ponto que se julga
indispensável.
Ex.: Todos os países pobres, nesse “todos” eu
incluo o Brasil, precisam repensar a distribuição de
renda e as formas de tributação.
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 Desejo
Quando se expressa um desejo.
Ex.: É muito difícil, pudera eu, completar uma
maratona.
 Escusa
Quando se aproveita a ocasião para se desculpar.
Ex.: Digo sempre, perdoem-me os cinéfilos cults,
prefiro os blockbusters.
 Opinião
Quando se aproveita a oportunidade para opinar.
Ex.: Aquele funcionário, como era competente, foi
premiado no final do ano.
 Permissão
Quando se solicita algo.
Ex.: Minha experiência no exterior, permita-me aqui
uma comparação desagradável, foi como estar em
uma prisão.
 Ressalva
Quando se faz uma ressalva.
Ex.: O ano, pode-se bem dizer, já terminou.
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Problematizando as orações assindéticas
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), instituída em 1959, por
meio de uma portaria, unificou as terminologias e organizou o ensino da
língua portuguesa no Brasil. Filólogos e linguistas contribuíram para a
padronização de termos para o ensino e para exames de admissão e de
habilitação.
Nesse particular, a NGB considera assindética apenas as orações
coordenadas. Posteriormente, gramáticos, como Evanildo Bechara,
questionaram essa associação exclusiva das orações assindéticas à
coordenação e propuseram a nomenclatura de justapostas
(assindéticas) e conectivas (sindéticas).
Para Bechara (1986), as orações assindéticas ocorrem
também entre as orações subordinadas.
A justaposição de orações, ou seja, a ausência de conectivos para ligá-
las, segundo o autor, é possível também nos processos de
subordinação. O gramático defendeque há subordinadas sindéticas e
assindéticas, rejeitando, portanto, a posição marcada pela NGB.
As duas orações a seguir são orações que sintática e semanticamente
se subordinam sem, no entanto, serem ligadas por quaisquer palavras
especiais de conexão:
Tivesse dinheiro, eu viajaria.
Espero sejas feliz.
(BECHARA, 1986, p. 221)
Claramente, essas construções poderiam receber conjunção
subordinativa: “Se eu tivesse dinheiro, eu viajaria” e “Espero que sejas
 Citação
Quando se interrompe ou se esclarece uma citação
ou discurso direto.
Ex.: ‒ Larguem as armas, gritou o policial, e mãos
ao alto!
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feliz”. Ao se optar pela justaposição, temos um caso que incide sobre a
estilística.
Para Bechara (1986), ao se optar pela ausência de conectivo, essas
orações seriam subordinadas justapostas ou subordinadas
assindéticas, jamais seriam coordenadas assindéticas, pois elas não
possuem a equivalência sintática entre as orações para que possam ser
consideradas orações coordenadas. Já para a NGB, não há oração
subordinada assindética.
Outra ocorrência interessante é o que se verifica, por exemplo, com a
classificação da oração coordenada aditiva.
Said Ali, filólogo e um dos maiores sintaxistas da língua portuguesa,
destaca que algumas orações reduzidas de gerúndio e de infinitivo
podem indicar adição. Diz ele:
Se o acontecimento ocorrido em
primeiro lugar for enunciado por
uma oração explícita o gerúndio,
denotando fato imediato, equivalerá
a uma oração coordenada iniciada
pela conjunção e: Recebeu a joia,
entregando-a depois à esposa.
(SAID ALI, 1965, p. 147)
A oração reduzida de gerúndio “entregando-a depois à sua esposa”
equivale a “e entregou-a depois à sua esposa”.
Também recebem a classificação de coordenadas aditivas as orações
reduzidas de infinitivo quando expressam, segundo Said Ali (1965),
“adição enfática”. Exemplifica ele: “Aqueles meninos, sobre não serem
educados, eram excessivamente teimosos” (1965, p. 147).
A oração que se intercala confere ênfase, soma à oração: Aqueles
meninos eram excessivamente teimosos. Se precisássemos desfazer a
oração reduzida de infinitivo e propor uma oração coordenada aditiva,
seria algo do tipo: Aqueles meninos eram excessivamente teimosos e
eram não educados (ou e eram mal educados).
Percebemos com esses exemplos que a semântica é
requisitada para interpretarmos e classificarmos o
período composto por coordenação.
Embora não tenhamos o síndeto, no caso, a conjunção coordenativa
aditiva nesses exemplos dados por Said Ali, trata-se de uma relação de
adição entre orações que se coordenam. Classificam-se, portanto, como
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orações coordenadas aditivas, mesmo que não apresentem a típica
conjunção aditiva e.
Discussões sobre as orações
assindéticas
Neste vídeo, vamos discutir os posicionamentos diferentes sobre as
orações assindéticas a partir da NGB e do questionamento de
gramáticos e linguistas.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Por definição, oração coordenada que seja desprovida de conectivo
é denominada assindética. Considere os períodos seguintes:
I. Não ouvi uma palavra, não vi movimento algum, o local estava
aparentemente vazio.
II. O ano novo passou, o Carnaval já chegou e ainda não comecei a
estudar.
III. O alerta de terremoto soou, as pessoas se refugiaram nos
abrigos. Nada aconteceu.
Existe coordenação assindética:

A Apenas em I.
B Apenas em II.
C Apenas em III.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
Os períodos I e III são compostos por orações assindéticas. Entre
elas não há qualquer conectivo. Em I, há um período composto por
três orações coordenadas assindéticas, separadas por vírgulas. Em
III, há dois períodos: o primeiro é composto por duas orações
coordenadas assindéticas separadas por vírgula e o segundo
período é simples, ou seja, composto por apenas uma oração.  Em
II, não há assindetismo, pois a terceira oração é introduzida pela
conjunção e.
Questão 2
Assinale a alternativa que traz uma oração intercalada assindética.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Apenas “disse o ministro da suprema corte” é uma oração
intercalada assindética, classificada como uma oração de citação.
Nas demais alternativas, temos duas orações subordinadas
intercaladas (as introduzidas por se e que). As restantes sequer são
orações, pois não possuem verbos. Trata-se do adjunto adverbial de
D Em I, II e III.
E Apenas em I e III.
A
Brasília, que é a capital da República, foi fundada em
1960.
B
– Com a devida vênia, disse o ministro da suprema
corte, peço vistas do processo.
C
O evento, se tivesse sido bem-organizado, atrairia
mais gente.
D
A ONU, Organização das Nações Unidas, faz uma
governança mundial desde 1945.
E
Ontem, à meia-noite, foi encerrado o horário de
verão.
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tempo (“à meia-noite”) e, por fim, do aposto explicativo da sigla
ONU.
3 - Orações coordenadas sindéticas
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a relação de coordenação nos períodos
compostos por coordenação sindética.
De�nição e classi�cação das orações
coordenadas sindéticas
Oração coordenada inicial e oração
coordenada sindética
As orações coordenadas sindéticas são aquelas introduzidas por uma
conjunção.
Exemplo
Nélida Piñon lutava pela literatura e consagrou-se como a primeira
presidente mulher da Academia Brasileira de Letras.
Trata-se de um período formado por duas orações.
Oração 1: Nélida Piñon lutava pela literatura
Oração 2: e consagrou-se como a primeira presidente mulher da
Academia Brasileira de Letras.
Ambas as orações apresentam equivalência sintática, são
independentes. Nenhuma é termo sintático da outra. Como afirma o
linguista e gramático Perini (1996, p. 143): “quando duas ou mais
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estruturas são unidas por coordenação, nenhuma delas exerce função
sintática dentro de nenhuma outra”.
Quando classificamos uma oração coordenada sindética,
acrescentamos a espécie de conjunção coordenativa que inicia a
oração.
Ao serem coordenadas entre si, a relação estabelecida foi a de adição.
Para isso, optou-se pela conjunção aditiva “e”. Portanto, trata-se de uma
oração coordenada sindética aditiva.
Em um período composto por coordenação, chamamos a primeira
oração de coordenada inicial. No exemplo dado, temos, então, a oração
“Nélida Piñon lutava pela literatura” como a coordenada inicial e a
segunda oração “e consagrou-se como a primeira presidente mulher da
Academia Brasileira de Letras” como coordenada sindética aditiva.
Classi�cação das orações coordenadas
sindéticas
São as conjunções coordenativas que fazem a ligação entre duas
orações coordenadas. Elas podem ser de cinco tipos.
Aditivas
Relacionam pensamentos similares, organizados em sequência,
resultando em uma soma. As conjunções usadas normalmente são: e e
nem.
Atenção!
A conjunção nem equivale à expressão “e não”. Por esta razão, na língua
culta, não se usa a forma “e nem” para introduzir oração coordenada
aditiva.
Exemplos:
O Brasil importa e exporta muita música.
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Há escritores mais fechados que não dão entrevistas nem se
expõem na mídia.
E mediu o terreno, e conferiu o projeto, e conferiu de novo, e
desistiudo plano.
Neste último exemplo, perceba que todas as orações são sindéticas.
Não há a coordenada inicial. Trata-se de um polissíndeto em que todas
as orações são introduzidas pela conjunção aditiva e.
É possível também coordenar orações com correlação. São as séries
correlativas enfáticas, usadas para realçar a segunda oração. Para isso,
usamos: não só... como também, não somente... mas também, não só...
mas ainda, não só... senão ainda etc.
Exemplos:
O Brasil não só importa, como também exporta muita música.
O consumo interno do país depende não só dos salários senão
ainda dos juros.
Adversativas
Exprimem contraste, oposição, compensação ou ressalva em relação à
oração anterior. As conjunções adversativas são: mas, porém, contudo,
todavia, entretanto, senão, não obstante.
Exemplos:
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O mercado paralelo de compra e venda de dólar é tecnicamente
ilegal, porém usado por todo mundo.
O governo se empenhará na conciliação do país, mas não irá
tolerar atos contra a democracia.
Fui bem na avaliação, contudo não fui aprovada.
Alternativas
Exprimem fatos ou conceitos que se alternam ou que se excluem.
Apresentam conjunção na última oração ou nas duas. As conjunções
alternativas são: ou, ou... ou, já... já, ora... ora, quer... quer.
Exemplos:
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Ou o acordo sobre a partilha da herança se define ou será mais
um ano de luta judicial.
Eu irei quer faça chuva quer faça sol.
O júri ora se mostrava convencido pelo promotor ora pelo
advogado de defesa.
Conclusivas
Expressam uma conclusão lógica sobre algo já posto na coordenada
inicial. As conjunções conclusivas são: logo, pois (obrigatoriamente
posposta ao verbo), portanto, por isso (a mais usada na língua falada),
então, assim. As locuções “por conseguinte”, “de modo que” e “em vista
disso” também expressam conclusão.
Exemplos:
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Os portões serão fechados às 14h, portanto nenhum candidato
poderá entrar após esse horário.
Não conseguirei comparecer ao concerto; meu convite está, pois,
disponível para quem quiser.
Penso, logo existo. (DESCARTES, 1637)
Explicativas
Justificam o que está contido na oração coordenada inicial, ou seja,
explicam a razão de ser do que está expresso na oração anterior. As
conjunções explicativas são: pois (obrigatoriamente anteposta ao
verbo), que (porque), porque, porquanto.
Exemplos:
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Leia logo o livro, porque preciso emprestá-lo a outra pessoa.
A equipe foi inteiramente substituída por outra, pois comprovou-
se a sabotagem.
Deixe-o descansar da cirurgia, que ele precisa se recompor.
Orações coordenadas sindéticas
Veja agora a definição das orações coordenadas sindéticas e sua
classificação.

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Re�nando a percepção das orações
coordenadas
Embora haja conjunções específicas que nos ajudam a classificar as
orações coordenadas sindéticas, é importante não avaliarmos
exclusivamente as conjunções, pois, além de os elementos conjuntivos
serem multifuncionais, a sintaxe, neste e em outros casos, pode render-
se à semântica.
Como já vimos, há possibilidade de as orações serem assindéticas e,
mesmo assim, classificarmos a oração pelo sentido que expressam e
não pela conjunção que inexiste.
Exemplos:
Avisei; ninguém me ouviu: todos estavam distraídos.
Começou animado a leitura do Ulisses, de Joyce; não durou uma
semana.
No primeiro exemplo, temos a pontuação fazendo o papel das
conjunções. A relação entre a primeira e a segunda oração é de
oposição e entre a segunda e a terceira, de explicação. Por isso, temos
um período composto por uma oração coordenada inicial, seguido por
uma oração coordenada assindética adversativa e uma oração
coordenada assindética explicativa.
Se, no entanto, quiséssemos ligar as orações por conjunções, teríamos:
Avisei, mas ninguém me ouviu, pois todos estavam distraídos.
A primeira oração continua a ser uma coordenada inicial, a segunda é
uma oração coordenada sindética adversativa e a terceira é uma oração
coordenada sindética explicativa.
No segundo exemplo, temos uma relação também de oposição:
“Começou animado a leitura de Ulisses, de Joyce, porém não durou uma
semana”. Trata-se de um período composto que apresenta uma relação
adversativa que pode ser expressa tanto pelo assindetismo quanto pela
conjunção.
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[...] os elementos conjuntivos são
coesivos não por si mesmos, mas
indiretamente, em virtude das
relações significativas específicas
que se estabelecem entre as
orações dentro do período, entre os
períodos dentro de um parágrafo,
entre os parágrafos no interior do
texto.
(FÁVERO; KOCH, 1988, p. 41)
Vamos a alguns casos. Bechara (1986), baseado em Said Ali (1965), faz
as seguintes observações após tratar das orações coordenadas
sindéticas explicativas:
As explicativas não passam de
causais coordenativas, que nem
sempre se separam claramente das
causais subordinativas que veremos
adiante. Em certas línguas,
distingue-se a causal subordinativa
da causal coordenativa pela
diversidade da partícula (em francês
parce que, car; em inglês because,
for; em alemão weil, denn); em
português, empregando-se porque
ou que para um e outro caso,
conhece-se a diferença pela pausa.
A causal subordinativa separa-se da
oração principal por uma pausa
muito fraca (que se representa,
quando muito, por uma vírgula). A
causal coordenativa separa-se da
proposição anterior por uma pausa
mais forte (que se figura por vírgula,
ponto e vírgula e até por ponto final)
(BECHARA, 1986, p. 161)
Vamos a alguns exemplos. Se dissermos “Saia mais cedo, que vai
chover” ou “Saia mais cedo porque vai chover” não equivale a dizermos
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que sair mais cedo é a causa da chuva, mas sim que em razão da chuva,
por causa da chuva, é preciso antecipar-se e sair mais cedo para evitá-
la.
Trata-se de uma oração coordenada sindética explicativa ou de uma de
uma oração coordenada sindética causal, como pensam Bechara (1986)
e Said Ali (1965).
Se as coordenadas explicativas ou causais pedem maior pausa em
relação às subordinativas causais (que ainda veremos!), podemos
perfeitamente propor as seguintes elaborações:
Saia mais cedo, que vai chover.
Saia mais cedo; que vai chover.
Saia mais cedo: vai chover.
Saia mais cedo. Vai chover. (Neste caso, desfaz-se o período composto,
mas mantém-se a relação explicativa.)
Agora, caso se tratasse de orações subordinadas adverbiais causais, as
quais igualmente se valem das conjunções que e porque dentre outras,
essa pausa mais acentuada nas coordenadas, explicitada pela
pontuação na escrita e pela pausa na fala, desapareceria.
O importante é não confundir explicação com causa. O professor
Pasquale faz uma importante observação: “Uma explicação é sempre
posterior ao fato que a gerou; uma causa é sempre anterior à
consequência resultante dela” (CIPRO NETO, 1996, p. 469).
Discussões sobre orações
coordenadas
Neste vídeo, vamos conversar sobre aspectos semânticos e conceituais
relacionados com as orações coordenadas.

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A pontuação das orações
coordenadas
As orações coordenadas e a vírgula
Vamos conhecer ou relembrar alguns aspectos relacionados com a
pontuação na relação de coordenação entre as orações.
Entre as orações, a vírgula separa:
1. As orações coordenadas assindéticas.
As cidades se desenvolviam, ampliavam-se cada vez mais em
direção à zona rural.
2. As orações coordenadas sindéticas, com exceção das introduzidas
pela conjunção e.
As cidades se desenvolviam, mas continuavam distanciadas da
zona rural.
Exceções:
a) Quando a oração introduzida pela conjunção e tiver o sujeito diferente
do sujeito da oração anterior, ela deverá ser separada por vírgula.
Muitos não justificaram a ausência, alguns avisaram que havia
conflito de agenda, outros apenas se desculparam, e a reunião não
aconteceu.
b) Quando a conjunção e introduzir várias orações de uma sequência
(polissíndeto).
O público eufórico se aproximava do palco, e aplaudia aqueles
grandes atores, e assobiava, e gritava, e voltava a aplaudir sem se
cansar.
4. As orações coordenadas intercaladas.
As cidades, dizia o especialista, ampliavam-se cada vez mais em
direção à zona rural.
5. Omissão (elipse) de verbo.
Você gosta de cinema e eu, de teatro. (Você gosta de cinema e eu
gosto de teatro.)
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As orações coordenadas e o ponto e vírgula
Entre as orações, o ponto e vírgula pode ser usado para separar:
1. As orações coordenadas sindéticas, especialmente as adversativas e
conclusivas.
Escolha as palavras que quiser; mas fale apenas por si.
O volume de trabalho triplicou neste semestre; portanto é preciso
contratar mais gente.
Atenção: Caso as coordenadas sindéticas adversativas e conclusivas
não sejam iniciadas pelas respectivas conjunções, mas estas
encontrarem-se deslocadas, o ponto e vírgula será obrigatório e a
conjunção será isolada por vírgulas.
Alguns congressistas são assíduos na Câmara; outros, porém, mal
comparecem à casa do povo.
Apenas 21% dos jovens brasileiros, entre 25 e 34 anos, concluíram
o ensino superior; não há, portanto, semelhança alguma com os
números argentinos (40%) nem chilenos (34%).
2. As orações coordenadas assindéticas com evidente valor adversativo
ou conclusivo.
O poder público atuou fortemente naquele caso; não obteve
sucesso.
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ameaçados de extinção; é
preciso preservá-la a todo custo.
3. Blocos de orações coordenadas que estabelecem contraste.
Uns dedicam-se somente aos seus próprios interesses, investem
apenas no que lhes oferece retorno, fecham-se suas bolhas
sociais; outros doam-se sem querer nada em troca, dedicam
tempo e conhecimento a causas alheias.
Esses pontos que acabamos de abordar constituem os casos mais
específicos de pontuação das orações coordenadas.
Pontuação nas orações coordenadas
Neste vídeo, vamos acompanhar as explicações sobre o emprego da
vírgula e do ponto e vírgula nas orações coordenadas.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Considere o seguinte texto:
“Os livros, documentos e obras de arte danificados foram
restaurados e não ficaram como o esperado.”
Apesar de a conjunção “e” normalmente ser aditiva, a oração em
destaque é
Parabéns! A alternativa A está correta.
A conjunção aditiva “e”, neste caso, exerce a função de uma
conjunção adversativa. Equivale à conjunção adversativa “mas”.
Poderíamos reescrever da seguinte forma: “Os livros, documentos e
obras de arte danificados foram restaurados, mas não ficaram
como o esperado.” Verificamos que, por terem sido restaurados os
itens descritos, cria-se uma expectativa positiva que é frustrada
pelo conteúdo da segunda oração: eles não ficaram como o
esperado.
A adversativa, pois expressa relação de oposição.
B conclusiva, pois expressa relação de conclusão.
C explicativa, pois expressa relação de causa.
D
alternativa, pois expressa relação de quebra de
expectativa.
E causal, pois expressa relação de motivação.
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Questão 2
Considere o fragmento a seguir:
“Os policiais estavam presentes no tumulto; sabem, pois, o que lá
aconteceu”.
Sobre a conjunção pois, podemos afirmar que
Parabéns! A alternativa E está correta.
Em: “Os policiais estavam presentes no tumulto; sabem, pois, o que
lá aconteceu”, a conjunção pois é uma conjunção conclusiva. Ela
está corretamente posposta ao verbo e isolada por vírgulas, como
deve ser. Caso ela estivesse anteposta ao verbo, ela passaria a ser
uma conjunção explicativa e a pontuação seria alterada para: “Os
policiais estavam presentes no tumulto, pois sabem o que lá
aconteceu”.
Considerações �nais
Estudamos o período composto por coordenação, examinando os
principais conceitos, características e relações sintático e semânticas
implicados nas orações coordenadas.
A
desempenha a função de conjunção coordenativa
explicativa.
B está posicionada incorretamente depois do verbo.
C
antes ou depois do verbo, a conjunção estabeleceria
a mesma relação de sentido.
D não deveria estar isolada por vírgulas.
E
se estivesse anteposta ao verbo, a oração seria uma
coordenada explicativa.
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Aprendemos que as definições sobre orações coordenadas podem ser
problematizadas, mas sem que isso nos impeça de dominar o uso
adequado das relações de coordenação entre as orações.
Quando identificamos essas relações de forma consciente,
conseguimos não apenas compreender melhor o que lemos, como
também usar com mais precisão os pequenos conectivos e a pontuação
que tanto contribuem para estabelecer as relações de coesão e sentido
ao texto.
Todo conhecimento em língua portuguesa está sempre em associação
com muitos outros já presentes em nossa memória. É a partir da
ampliação desse repertório que a nossa capacidade de usar a língua
também aumenta. Bons estudos!
Podcast
Neste podcast, vamos conversar sobre alguns conceitos relacionados
com as orações coordenadas, destacando seus aspectos sintáticos e
semânticos.

Explore +
Consulte, em várias gramáticas da Língua Portuguesa, a parte dedicada
à sintaxe. Nelas você encontrará conteúdos sobre o período composto
por coordenação e sobre a pontuação nas orações coordenadas.
Aprofunde seus estudos sobre a pontuação lendo o livro As (man)obras
da pontuação, de Véronique Dahle, disponível na Google Acadêmico e
Google Livro.
Otimize os seus conhecimentos sobre as conjunções e demais
conectivos em materiais sobre coesão textual, como, por exemplo, o
livro A coesão textual, de Ingedore Villaça Koch, editado pela Contexto.
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Referências
CIPRO NETO, P. Gramática da língua portuguesa – Pasquale & Ulisses.
São Paulo: Scipione, 1996.
BECHARA, E. Moderna gramática brasileira. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1986.
BRAGA, R. O telefone. In: Braga, R. et al. Para gostar de ler: Crônicas 4.
São Paulo: Ática, 2005.
FÁVERO, L. L.; KOCH, I. G. V. Linguística Textual: Introdução. São Paulo:
Cortez, 1988.
HILST, H. A obscena senhora D. São Paulo: Globo, 2001.
LISPECTOR, C. Uma galinha. In: LISPECTOR, C. Laços de família: contos.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
PERINI, M. A. Gramática descritiva do português. 4. ed. São Paulo: Ática,
1996.
SACCONI, L. A. Nossa gramática. 25. ed. São Paulo: Atual, 1999.
SAID ALI, M. Gramática secundária da Língua Portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 1965.
VERÍSSIMO,E. Acidente em Antares. São Paulo: Companhia das Letras,
2006.
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