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APOSTILA SOL 11 Introduçao Ci SOLO Material Didático Curso UAB Especialização UniSolos Relatório 3 IICA_FAPUR 25 08 2023 RevLA_CAED_UFMG


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Curso de Especialização em 
Geoprocessamento, Levantamento e 
Interpretação de Solos 
 
APOSTILA 
 
Introdução à Ciência 
do Solo 
 
 
@os autores 
 
 
2 
 
 
 
 
 
Introdução à Ciência do 
Solo 
 
 
Fábio Soares de Oliveira 
Lúcia Helena Cunha dos Anjos 
José João Lelis Leal de Souza 
 
 
 
 
 
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Apresentação 
Prezado(a) estudante, 
 
Seja bem-vinda e bem-vindo à disciplina Metodologia Científica e Introdução 
à Ciência do Solo, que foi dividida em duas partes. Na primeira parte, a 
disciplina aborda os principais procedimentos e aspectos da pesquisa científica, 
como os tipos e a normalização de trabalhos acadêmicos. Na segunda parte, a 
disciplina trata especificamente da Ciência do Solo, e apresenta como essa é 
organizada, seu histórico e a definição do seu principal objeto de estudo: o solo. 
 
Para a primeira parte da disciplina foram utilizados materiais públicos sobre o 
tema de metodologia científica, disponibilizados pelos docentes. O material no 
texto a seguir apresenta os conteúdos relacionados à introdução à Ciência do 
Solo. 
 
Para o melhor aproveitamento dos estudos, esse material foi organizado em três 
unidades, que são: 
 Unidade 1: A Ciência do Solo 
 Unidade 2: A Pedologia 
 Unidade 3: O Solo 
 
Cada unidade apresenta um conteúdo específico, que se associa à unidade 
seguinte. No conjunto, elas trazem os conhecimentos necessários para que você 
compreenda o que é a Ciência do Solo, o que é a Pedologia, como elas se 
relacionam, o que é o solo e quais suas principais funções. 
 
 
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Assista ao vídeo de apresentação da disciplina “Metodologia Científica e Introdução à 
Ciência do Solo”, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Nele você 
conhecerá os docentes e encontrará as informações gerais sobre o curso. 
 
A leitura do material deve contemplar as informações que foram dispostas nos textos, 
nos quadros, gráficos e imagens. É muito importante que você observe todos os 
materiais, pois eles foram organizados para sintetizar e/ou ampliar os conteúdos aqui 
abordados. 
 
Além disso, foram indicados ao longo do material ícones que lhe ajudarão a ampliar 
seus conhecimentos sobre os temas discutidos. Eles incluem informações 
complementares, recomendações de leituras extras, sugestões de vídeos e materiais 
audiovisuais. O significado de cada link é apresentado a seguir. 
 
 
 
No mais, desejamos bons estudos a todos e todas!! 
 
 
 
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Sumário 
Unidade 1 .................................................................................................. 1 
A Ciência do Solo ....................................................................................... 1 
1.1 O que é a Ciência do Solo ................................................................................. 2 
1.2 As áreas da Ciência do Solo ............................................................................. 3 
1.3 A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) ...................................... 7 
1.3.1 Breve histórico da SBCS ............................................................................. 8 
1.3.2 Missão e objetivos da SBCS .................................................................... 11 
1.3.3 Estrutura cientifica da SBCS .................................................................... 12 
Unidade 2 ................................................................................................ 15 
A Pedologia ............................................................................................... 15 
2.1 O que é Pedologia ............................................................................................. 16 
2.2 Breve histórico da Pedologia no mundo ........................................................ 18 
2.3 Breve histórico da Pedologia no Brasil .......................................................... 26 
Unidade 3 ................................................................................................ 32 
O solo .......................................................................................................... 32 
3.1 O que é solo ....................................................................................................... 33 
3.2 As funções do solo ............................................................................................ 37 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 40 
SOBRE OS AUTORES ............................................................................................. 42 
 
 
 
 
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Unidade 1 
A Ciência do Solo 
Caro(a) estudante, 
 
Para começarmos a entender o solo, vamos primeiro apresentar como se 
organiza a ciência que o estuda. Nessa unidade apresentaremos a Ciência do 
Solo como um ramo do conhecimento em que o principal objetivo é estudar o 
solo em suas mais diversas manifestações, tendo como orientação os métodos 
científicos já discutidos na primeira parte da disciplina. Para isso, destacaremos 
quais seriam as áreas que compõem a Ciência do Solo, e como, no Brasil, ela 
se estrutura cientificamente na Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. 
 
 
Conteúdo Programático 
 1.1 O que é Ciência do Solo 
 1.2 As áreas da Ciência do Solo 
 1.3 A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo 
Objetivos 
Esperamos que você, ao final dessa unidade, seja capaz de: 
 Compreender a ciência do solo como um campo da ciência que tem o solo 
como objeto de estudo; 
 Reconhecer as áreas que compõem a Ciência do Solo; 
 Reconhecer como se organiza a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. 
 
 
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1.1 O que é a Ciência do Solo 
A Ciência do Solo pode ser definida, em sentido mais amplo, como uma 
ciência que tem o solo como objeto de estudo. Nessa perspectiva, interessa o 
estudo do solo a partir do uso de métodos científicos, que podem até variar ao 
longo do tempo e entre as diferentes áreas do planeta, mas que possuem em 
comum o interesse por compreender o solo em suas mais diversas 
manifestações. Isso quer dizer a Ciência do Solo busca a compreensão de 
múltiplos aspectos relacionados ao solo, incorporando a complexidade intrínseca 
a ele, mas também os interesses dos(as) cientistas que o estudam. 
Um exercício interessante seria pensar em questões feitas pelos(as) 
cientistas do solo. Essas questões ilustram esses múltiplos interesses e nos 
fazem ter a dimensão da grandiosidade da Ciência do Solo. Algumas delas 
seriam: 
 Como o solo pode ser definido? 
 Como o solo se forma? 
 Como o solo evolui? 
 Quais sãos os atributos ou propriedades (morfológicas, físicas, químicas, 
mineralógicas, por exemplo) que caracterizam um solo? 
 Como podemos analisar o solo em laboratório? 
 Como um solo pode ser utilizado para diversos fins (agricultura, produção 
de fibras e materiais para biocombustíveis, matéria-prima na indústria, 
construção civil etc.)? 
 Como o solo interage com o ciclo hidrológico? 
 Como o solo interage com o ciclo de diversos elementos químicos, como 
carbono, fosforo, nitrogênio, entre tantos outros? 
 Como o solo se relaciona com a vegetação? 
 Como o solo pode ser manejado? 
 Como o solo funciona enquanto habitat de diversos organismos? 
 Como o solo pode ser classificado? 
 Como o solo se distribui no espaço? 
 Quais os recursos minerais, genéticos, culturais etc. existentes no solo? 
 
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 Como solo participa da evolução da paisagem, no passado (Paleossolos, 
por exemplo) e no presente (Tecnossolos, solos antrópicos, por 
exemplo)? 
 Como os processos que ocorrem no solo afetam as mudanças climáticas 
globais? 
 
Essas são apenas algumas das questões que tornam a Ciência do Solo 
um ramo do conhecimento cheio de oportunidades de investigações sobre o seu 
objeto, bem como refletem o caráter multidisciplinar da Ciência do Solo. É por 
isso, como destacou Espindola(1992, 2007), que ela acaba se ramificando e 
diversas especializações surgem a partir disso, pois o estudo dos solos pode 
incluir pesquisas relacionadas a vários aspectos, com muitas interações com 
outras ciências. 
Dentro desse cenário, tornar-se um ou uma cientista do solo não ocorre 
por um caminho único e nem resulta em profissionais que se dedicam ao mesmo 
tema ou problema. Pensando na formação inicial em nível de graduação, 
diversas podem ser as áreas do conhecimento que, lidando com o solo, 
oferecem essa oportunidade. Citamos como exemplos cientistas do solo que tem 
sua graduação em Agronomia, Engenharia Florestal, Geografia, Geologia, 
Química, Biologia, Engenharia Ambiental, Educação, Arquitetura etc. 
Posteriormente, em nível de pós-graduação, tais profissionais se envolvem com 
programas específicos das ciências do solo, e aí sim passam a se dedicar a 
responder perguntas como as que foram citadas. 
 
1.2 As áreas da Ciência do Solo 
Como resultado das muitas abordagens do solo, a Ciência do Solo pode 
ser dividida em diferentes áreas. Essa organização não é unânime e, 
certamente, podemos encontrar divergências entre os autores. Contudo, seja 
qual for a divisão adotada, elas nos dão a noção de como a Ciência do Solo é 
ampla. 
Aqui vamos apresentar a Ciência do Solo organizada em áreas que 
contemplam os temas de pesquisa mais comuns sobre o solo. Essas áreas 
podem ser visualizadas na Figura 1. 
 
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Figura 1 – Algumas áreas da Ciência do Solo (Fonte: elaborada pelos autores) 
 
1) A Pedologia aborda a identificação, gênese, classificação e levantamento 
de solos. Algumas vezes é utilizada como sinônimo de Ciência do Solo. 
Interessa-se por compreender como os solos são caracterizados, como 
se formam, como variam no tempo e no espaço, e como podemos, a partir 
da sua classificação, compreender sua distribuição e a relação solo-
paisagem-ecossistemas, bem como avaliar potencialidades e limitações 
ao seu uso para diversos fins. 
 
2) A Fertilidade do Solo e a Nutrição Mineral de Plantas aborda questões 
relacionadas ao reservatório de nutrientes minerais e orgânicos no solo, 
aplicadas, principalmente, ao seu uso agrícola. Algumas vezes é 
abordada como Edafologia, pois tem como foco a relação solo-planta e 
os horizontes de constituição organo-mineral que estão na superfície e 
nos quais se desenvolvem as raízes da maior parte das lavouras. Envolve 
desde a avaliação da fertilidade do solo, o estudo de fertilizantes, os 
processos e reações pelas quais as plantas absorvem os nutrientes, até 
o desenvolvimento dos métodos de análise em laboratório e 
recomendações para o aumento da fertilidade visando a produção 
agrícola. 
 
3) A Mineralogia do Solo interessa-se pela gênese, evolução, 
transformação e interações dos componentes da fração mineral dos 
 
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solos. Tem forte relação com a cristalografia e química mineral, com 
especial interesse pelos minerais que ocorrem na fração argila, com 
ênfase para os que predominam em solos de regiões tropicais. Envolve a 
aplicação de métodos laboratoriais diversos, como difração de raios-x, 
análises microscópicas e espectroscópicas, visando caracterizar e 
quantificar esses minerais. 
 
4) A Física do Solo aborda os constituintes e processos físicos do solo, em 
especial aqueles ligados aos fenômenos de transferência de massa e 
energia. Trata dos componentes sólidos, líquidos e gasosos do solo, 
envolvendo sua caracterização e dinâmica, como, por exemplo, de 
propriedades da fração sólida, como a granulometria, densidade, coesão 
etc., comportamento da água no solo e, da mesma maneira, dos gases 
(atmosfera do solo). 
 
5) A Química do Solo aborda os constituintes e processos associados à 
dinâmica geoquímica dos solos. Envolve o estudo aprofundado da 
composição química na interação de superfície da fase sólida com a 
solução do solo, envolvendo o estudo de equilíbrios químicos, adsorções 
e dessorções químicas, e casos específicos de solos salinos, cálcicos, 
sulfatados, drenagem ácida etc. 
 
6) A Biologia do Solo envolve o estudo dos organismos que tem no solo 
seu principal habitat e, da mesma maneira, do papel dos processos 
biológicos no funcionamento do solo. É uma área de abordagem ampla, 
com interesse em compreender, por exemplo, o papel dos organismos 
nos atributos do solo, mas também de entender a ecologia dos 
microrganismos e da fauna do solo e sua biodiversidade. Também possui 
interesse pelo estudo da qualidade do solo através de indicadores 
biológicos. 
 
7) A Pedometria é uma área que busca a análise espacial dos solos, 
incluindo seu mapeamento digital, mas também o uso de variáveis 
ambientais diversas, aplicáveis a estudos que vão desde a predição de 
atributos até a discriminação de classes de solos no espaço. A área faz 
uso corrente de ferramentas estatísticas e geoestatisticas, sistemas de 
 
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informações geográficas, sensores orbitais e técnicas de modelagem para 
o estudo dos solos. 
 
8) O Manejo e Conservação do Solo e da Água é uma área cuja 
preocupação central é o estudo das técnicas de manejo do solo e da água 
nele contida, visando aumento de produtividade aliada com a manutenção 
da sua conservação, ou seja, com sustentabilidade. Assim, envolve o 
desenvolvimento e a aplicação de técnicas de cultivo, de práticas 
conservacionistas e do planejamento do uso do solo, com forte aplicação 
na agricultura e pecuária e na proteção de ecossistemas e mananciais 
hídricos. 
 
9) Solos Florestais é uma área de interface com a ciência florestal que 
aborda a aplicação dos conhecimentos sobre solos para a prática da 
silvicultura. Tem como aplicação central o estudo dos processos 
pedológicos e biológicos em florestas naturais e plantadas, com técnicas 
de manejo especificas para esses sistemas. Destacam-se temas como 
ciclagem de nutrientes e dinâmica do carbono em florestas. 
 
10) A Matéria Orgânica do Solo é uma área aplicada ao estudo de um 
constituinte específico. Envolve temas como a ciclagem do carbono no 
solo, a composição e dinâmica da matéria orgânica do solo, 
funcionamento físico e químico da matéria orgânica, interações com a 
biota, manejo da matéria orgânica, entre outros. Dentre os temas atuais 
de maior relevância nessa área está o sequestro de carbono e a maneira 
como as práticas humanas têm afetado esse processo, com implicações 
nas mudanças climáticas globais e na emissão de gases de efeito estufa. 
 
11) A Educação em Solos é uma área que se dedica aos estudos sobre a 
abordagem do solo em distintos contextos educacionais, desde a 
educação formal, em níveis de ensino básico e superior, até a educação 
não formal, voltada ao público em geral. Aborda a popularização da 
Ciência do Solo e a promoção de estudos que visem desenvolver práticas 
de conscientização da importância do solo para a vida no planeta. Se 
debruça sobre desenvolver e aperfeiçoar materiais didáticos e 
paradidáticos. 
 
7 
 
 
12) Por fim, temos a Etnopedologia, uma área onde são abordados os 
conhecimentos de solos a partir de distintas comunidades tradicionais e 
seus saberes. É uma área que busca compreender como outros grupos, 
que não os(as) cientistas do solo, entendem a formação e caracterização 
do solo, e como o classificam e o utilizam. São abordados os sistemas 
conceituais dessas comunidades e sempre que possível realizado o 
diálogo entre tais conhecimentos e aqueles produzidos dentro da 
academia. 
 
 
O Brasil possui 12 programas de pós-graduação diretamente relacionados à Ciência do 
Solo, que oferecem cursos de mestrado e doutorado stricto sensu. Esses programas 
estão dispostos nas regiões sul (4) sudeste (5) e nordeste (3) do Brasil. Por sua vez, 
todas as regiões geográficas são contempladas quando considerados que existem ao 
menos 39 programas de pós-graduação que abordam a temática ‘Ciência do Solo’– 
geralmente concentradosem cursos de pós-graduação em Agronomia. Na Capes 
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que é o órgão 
governamental responsável pela avaliação e suporte à Pós-Graduação no Brasil, esses 
programas estão concentrados na área de Ciências Agrárias I, subárea Ciência do Solo. 
Esse curso é o primeiro ofertado como especialização lato sensu, sob o tema “solo” e 
na modalidade de Educação a Distância (EaD) no país e por universidades públicas. 
[Fim de “Você sabia?”] 
 
1.3 A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) 
Uma maneira prática de compreendermos como a Ciência do Solo se 
organiza no Brasil é analisar como está estruturada a Sociedade Brasileira de 
Ciência do Solo, também conhecida por sua sigla, SBCS. Essa Sociedade é um 
órgão que congrega profissionais e instituições de todo o Brasil dedicados ao 
estudo científico do solo e, desde o seu início, tem como objetivo melhorar a 
comunicação e divulgação científica da ciência do solo. A seguir apresentaremos 
brevemente um pouco do seu histórico, princípios e missão e posteriormente a 
estrutura cientifica da SBCS. 
 
 
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1.3.1 Breve histórico da SBCS 
‘A SBCS foi criada em outubro de 1947 com a Assembleia de aprovação 
e a primeira Reunião Brasileira de Ciência do Solo, realizadas no salão de 
conferências do Instituto de Química Agrícola do Rio de Janeiro, no bairro do 
Jardim Botânico, cidade do Rio de Janeiro, prédio onde hoje é a sede da 
Embrapa Solos. Sua criação foi motivada pelos pesquisadores Álvaro Barcelos 
Fagundes, que foi o seu primeiro presidente, Alcides Franco e Raul Edgard 
Kalckmann, por meio de proposta apresentada pela recém-criada Comissão de 
Solos do Centro Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas (CNEPA), e pelos 
demais membros fundadores (total de 31 sócios). A SBCS foi a primeira 
sociedade nacional de ciência do solo fundada na América Latina. A Sociedade 
Latino-Americana de Ciências do Solo (SLCS) foi criada em 1954. 
Ao longo de sua existência, a SBCS foi responsável pela organização dos 
eventos sobre solos no Brasil, em especial o Congresso Brasileiro de Ciência do 
Solo (CBCS), com 38 edições até este ano de 2023. Desde o início, a Sociedade 
se vinculou à extinta Comissão de Solos, pertencente ao CNEPA, participando 
do principal objetivo dessa Comissão, que era o de realizar levantamentos de 
solos no país e elaborar a Carta de Solos do Brasil. A SBCS, através de seus 
sócios, tem atuado diretamente em todas as ações que envolvam a pesquisa e 
a divulgação em ciência do solo no Brasil, contribuindo para diversas políticas 
públicas neste tema. Seus membros e comissões têm participação ativa na 
criação e aperfeiçoamento do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos 
(SiBCS), coordenado pela Embrapa Solos e com a sua primeira edição em 1999. 
Nos primeiros 30 anos da SBCS, em que a Sociedade esteve sediada na 
cidade do Rio de Janeiro, foram organizadas 15 edições do Congresso Brasileiro 
de Ciência do Solo, nas cidades Rio de Janeiro, Campinas, Recife, Belo 
Horizonte, Pelotas, Ilhéus, Piracicaba, Belém, Fortaleza, Piracicaba, Brasília, 
Curitiba, Vitória, Santa Maria e Campinas. Após 1975 um novo Estatuto foi 
criado, e a SBCS teve sua sede alterada para Campinas, no Instituto Agronômico 
de Campinas (IAC). Esse estatuto veio acompanhado pelo primeiro regimento e 
pela normatização das funções da secretaria executiva. Dentre os destaques 
desse período em que a gestão da SBCS em Campinas está a criação do 
 
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Boletim Informativo, em 1975, e da Revista Brasileira de Ciência do Solo, 1977, 
até hoje um dos principais veículos de divulgação da pesquisa na Ciências do 
Solo do Brasil. Entre 1975 e 1994 foram realizadas 11 edições do Congresso 
Brasileiro de Ciência do Solo, nas cidades São Luiz, Manaus, Salvador, Curitiba, 
Belém, Campinas, Recife, Porto Alegre, Goiânia e Viçosa. 
 
 
Conheça a Revista Brasileira de Ciência do Solo (RBCS): Acesse: 
https://www.rbcsjournal.org/ 
[Fim de “Multimídia”] 
 
A partir de 1997 a sede da SBCS é transferida para a cidade de Viçosa, 
onde permanece até a atualidade. Com essa transferência, foram investidos 
esforços para a melhoria dos sistemas de comunicação, bem como uma 
segunda versão do Regimento foi lançada em 2012 e do Estatuto em 2013, que 
foram ambos revisados em 2021. As reformulações incluíram uma 
internacionalização da SBCS, que ficou mais próxima da União Internacional de 
Ciência do Solo (IUSS) e da Sociedade Latino-americana de Ciência do Solo 
(SLCS). Dentre as principais mudanças, houve a organização da Sociedade em 
núcleos regionais, sendo que na atualidade, além dos eventos nacionais, são 
realizados, com apoio da SBCS os encontros e simpósios regionais de solos. 
Entre os eventos nacionais da SBCS estão a Reunião Brasileira de 
Manejo e Conservação do Solo e da Água (RBMCSA); o Simpósio Brasileiro de 
Educação de Solo (SBES); a Reunião Brasileira de Classificação e Correlação 
de Solo (RCC); e a Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de 
Plantas, Reunião Brasileira sobre Micorrizas, Simpósio Brasileiro de 
Microbiologia do Solo e Reunião Brasileira de Biologia do Solo (Fertbio). Estes 
eventos científicos são organizados por seus sócios e instituições parceiras. 
Houve também a expansão das publicações organizadas pela Sociedade, com 
diversos livros textos lançados, que são obras de referência da ciência do solo 
no Brasil, e um selo específico, o Tópicos em Ciências do Solo. 
 
 
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Na atualidade, os sócios da SBCS se distribuem em diferentes áreas de 
formação e de todas as regiões do Brasil. A SBCS está organizada em nove 
Núcleos Regionais ou Estaduais, sendo eles: Amazônia Ocidental, Amazônia 
Oriental, Nordeste, Noroeste, Centro-Oeste, Leste, São Paulo, Paraná e Sul. 
Possui diversos títulos publicados na forma de livros, manuais e guias, bem 
como o Boletim Informativo (até 2019) e a NewsLetter (a partir de março de 
2020), estes últimos trazendo textos técnicos sobres temas em ciência do solo e 
as principais notícias para a comunidade de Ciência do Solo. Ainda, a RBCS, 
com fator de impacto JCR de 1,566 e classificada como Qualis A3, na área de 
Ciências Agrárias da CAPES, possui abrangência internacional. A RBCS é o 
único periódico científico no país dedicado exclusivamente à Ciência do Solo, 
com uma história que se inicia em 1977. É nesse contexto que a SBCS se 
consolida na atualidade como uma das mais importantes sociedades cientificas 
do Brasil. 
 
 
Para saber mais sobre a história da SBCS, consulte os livros: 
“Sociedade Brasileira de Ciência do Solo: um olhar sobre sua história”, disponível em chrome-
extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.sbcs.org.br/wp-
content/uploads/2015/07/Sociedade-Brasileira-de-Ci%C3%AAncia-do-Solo-UM-OLHAR-SOBRE-
SUA-HIST%C3%93RIA.pdf 
“Os fundadores da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo: uma síntese biográfica. Barbosa, 
Julierme. 2023. SBCS, Viçosa, UFV. Disponível em: https://www.sbcs.org.br/ ou através do link: 
https://www.sbcs.org.br/wp-
content/uploads/2020/12/livrofundadores_23_02_2023_12_00_39_id_40445.pdf 
Para acessar os Boletins e as Newsletters da SBCS consulte os links: 
https://www.sbcs.org.br/?post_type=boletim e 
https://www.sbcs.org.br/?post_type=newsletter 
[Fim de “Saiba mais”] 
 
 
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1.3.2 Missão e objetivos da SBCS 
A missão da SBCS é desenvolver a Ciência do Solo no Brasil contribuindo, 
através de atividades de pesquisa, extensão e ensino, para o desenvolvimento 
do país e da sociedade brasileira. Com base nisso, os objetivos da SBCS são: 
 Promover e incrementar a aproximação e o intercâmbio intelectual 
daqueles que atuam na pesquisa, no ensino, na divulgação ou em 
atividades técnicas para o conhecimento e melhor utilização do solo e da 
água no Brasil. 
 Difundir o conhecimento dos métodos científicos e das técnicas racionais 
de exploração, tratamento e conservaçãodo solo e da água. 
 Tratar da adequação e uniformização da nomenclatura e representação 
do solo, bem como dos métodos de análise e seus controles de qualidade. 
 Colaborar e zelar para o aperfeiçoamento do Sistema Brasileiro de 
Classificação de Solos e para a implementação de ações de 
Levantamentos de Solos no Brasil. 
 Estimular a formação de Bibliotecas Especializadas, Museus e Centros 
de Referência de Solos. 
 
 
Assista aos vídeos no link do YouTube da SBCS 
(https://www.youtube.com/@sbcssolos3656/featured). São 28 vídeos incluindo lives em 
que os especialistas discutem temas contemporâneos importantes e mostram um pouco 
da história da SBCS e de atividades em seus núcleos. 
Siga também a SBCS em suas mídias sociais: 
https://www.instagram.com/sbcs.solos/?hl=pt-br 
https://www.facebook.com/sbcs.solos 
https://twitter.com/sbcs_br 
[Fim de “Multimídia”] 
 
 
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1.3.3 Estrutura cientifica da SBCS 
A estrutura cientifica da SBCS é organizada em Divisões Temáticas que, 
por sua vez, são separadas em Comissões. Cada divisão possui uma direção e 
uma vice direção, e cada comissão uma coordenadoria e uma 
subcoordenadoria. Os temas das divisões refletem as principais áreas de 
atuação da Ciência do Solo, e as comissões fazem analogia às áreas que a 
compõem, como abordado no item 1.2. Assim, podemos reconhecer a estrutura 
da Ciência do Solo tendo como base a SBCS. A Figura 2 apresenta a estrutura 
científica da SBCS. 
A análise da diversidade de comissões nos dá a visão do amplo campo 
de atuação da Ciência do Solo. Conforme já apresentado, esse fato não só 
reflete como essa ciência tem muito a contribuir, mas também a complexidade 
do solo enquanto objeto de estudo. Como um componente físico da paisagem, 
o solo é abordado por diferentes áreas do conhecimento, e suas aplicações 
nessas áreas são múltiplas, indo desde os conhecimentos diretamente ligados a 
agricultura, de interesse direto para a economia do país, àqueles de ordem 
ambiental, social e cultural. A Ciência do Solo busca enfrentar esse desafio e, 
por isso, reveste-se de um caráter multidisciplinar com diversos olhares voltados 
ao um objetivo comum: entender o solo. 
 
 
 
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Figura 2 – Estrutura científica da SBCS – Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 
organizada em divisões temáticas e suas comissões. (Fonte: Elaborada pelos autores) 
 
 
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Nesta unidade você conheceu um pouco sobre a Ciência do Solo, sua conceituação, 
áreas e como ela se estrutura cientificamente na Sociedade Brasileira de Ciência do 
Solo (SBCS). 
 
Vimos que: 
 
 A Ciência do Solo pode ser definida como uma ciência que tem o solo como 
objeto de estudo, e realiza seu estudo a partir de métodos científicos; 
 O solo é um componente que interessa a diversas áreas profissionais e sua 
abordagem envolve muitos aspectos. Por isso a Ciência do Solo se torna uma 
área do conhecimento ampla, possível de ser subdividia em diversas subáreas. 
Aqui apresentamos essa divisão de forma resumida: 
o Pedologia: aborda a identificação, gênese, classificação e levantamento de 
solos e sua interpretação para diversos fins. 
o Fertilidade do Solo e a Nutrição Mineral de Plantas: aborda questões 
relacionadas ao reservatório de nutrientes minerais e orgânicos no solo. 
o Mineralogia do Solo: aborda a composição mineral da fase sólida do solo. 
o Física do Solo: aborda os constituintes e processos físicos do solo. 
o Química do Solo: aborda os constituintes e processos associados à 
dinâmica geoquímica dos solos. 
o Biologia do Solo: aborda os organismos que tem no solo seu principal habitat 
e o papel dos processos biológicos no funcionamento do solo. 
o Pedometria: aborda a análise espacial dos solos, incluindo ferramentas 
computacionais e modelagens. 
o Manejo e Conservação do Solo e da Água: aborda as técnicas de manejo 
do solo e da água e as práticas conservacionistas. 
o Solos Florestais: aborda o estudo de solos voltado para a prática da 
silvicultura. 
o Matéria Orgânica: aborda a composição e dinâmica dos constituintes 
orgânicos do solo, com ênfase no carbono. 
o Educação em Solos: aborda a produção do conhecimento sobre o solo em 
distintos contextos educacionais. 
o Etnopedologia: aborda os conhecimentos de solos a partir de distintas 
comunidades tradicionais e seus saberes. 
 A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) congrega profissionais de 
todo o Brasil dedicados ao estudo científico do solo. Foi criada em 1947, e tem 
como missão desenvolver a Ciência do Solo no Brasil, contribuindo, através de 
atividades de pesquisa, extensão e ensino, para o desenvolvimento do país e da 
sociedade brasileira. É responsável pela organização de eventos e publicações 
cientificas. Dentre eles destacamos o Congresso Brasileiro de Ciência do Solo e 
a Revista Brasileira de Ciência do Solo. 
 A SBCS é organizada em núcleos regionais e estaduais que se integram à sua 
secretaria executiva. Na atualidade sua organização científica é composta por 
quatro divisões temáticas com suas respectivas comissões. As divisões são: 
o 1 – Solo no tempo e no espaço 
o 2 – Processos e propriedades do solo 
o 3 – Uso e manejo do solo 
o 4 – Solos, meio ambiente e sociedade 
 
[Fim de “ Em síntese”] 
 
15 
 
 
Unidade 2 
A Pedologia 
 
Caro(a) estudante, 
 
Nessa unidade discutiremos a Pedologia como uma das áreas da Ciência do 
Solo com o foco nos estudos de gênese, classificação e levantamento de solos. 
Para isso, apresentaremos um breve histórico de como a Pedologia se estruturou 
enquanto área do conhecimento científico no mundo e no Brasil. 
 
 
Conteúdo Programático 
 2.1 O que é Pedologia 
 2.2 Breve histórico da Pedologia no mundo 
 2.3 Breve histórico da Pedologia no Brasil 
 
Objetivos 
Esperamos que você, ao final dessa unidade, seja capaz de: 
 Compreender o que é a Pedologia; 
 Conhecer um pouco da história da Pedologia no mundo e no Brasil; 
 Reconhecer a importância da Pedologia enquanto área do conhecimento 
dentro da Ciência do Solo. 
 
 
 
16 
 
2.1 O que é Pedologia 
Etimologicamente, a palavra Pedologia tem origem grega e vem da junção 
de pedon, que quer dizer solo, e logos, ou estudo. Assim, Pedologia pode ser 
simplificadamente definida como estudo do solo. O uso pioneiro da palavra é 
atribuído a Friedrich Albert Fallou (1794-1877), que embora tenha sido advogado 
de formação, interessava-se por estudos da natureza, publicando diversos 
trabalhos sobre o tema (Fallou 1855, 1857, 1862, 1875 etc), sendo mais 
conhecida a obra em que defende a necessidade de criação de uma ciência 
especifica para tratar dos solos, intitulada Pedologie oder allgemeine und 
besondere Bodenkunde, ou Pedologia ou Ciência do Solo geral e especial 
(Fallou, 1962). 
Conforme destaca Ker et al. (2012), podemos pensar na Pedologia como 
um ramo científico da Ciência do Solo que aborda os estudos relacionados à 
identificação, formação, classificação e mapeamento dos solos. Essa também 
pode ser entendida como a posição adotada pela maior parte das pedólogas e 
pedólogos brasileiros, que através da sua instituição representativa, a SBCS, 
tem a Pedologia inserida na Divisão 1, intitulada Solo no espaço e no tempo, 
principalmente nas Comissões 1.1 e 1.2, respectivamente Gênese e morfologia 
do solo e Levantamento e classificação do solo. 
Assim, podemos pensar que os interesses da Pedologia caminham no 
sentido de compreender o que é o solo e como ele se forma, elucidando o papel 
de fatores ambientais e processos físicos, químicos e biológicos envolvidos, 
como o solo interage com outros elementos na paisagem, como ele se organiza 
morfologicamente, como pode ser classificado e como se distribui no espaço e 
no tempo. Tais conhecimentos são de grande utilidade para toda a Ciência do 
Solo, pois envolvem aplicações em diversos campos de atuação, incluindo a 
agricultura, a pecuária, a preservação ambiental, oplanejamento de uso dos 
espaços urbanos e rurais, a construção civil, a indústria da mineração, a 
produção de medicamentos, a aplicação cultural por populações tradicionais, a 
compreensão da evolução da paisagem, e diversas outras. Por esse motivo a 
Pedologia interessa a diversas outras ciências, como Agronomia, Geografia, 
Geologia, Engenharia, Arqueologia e Antropologia, Biologia, Ecologia, Medicina 
etc. 
 
17 
 
Dada a amplitude dos temas abordados pela Pedologia, é de se esperar 
que para produzir conhecimentos sobre o solo ela enfrente o desafio de se 
relacionar com diversas outras áreas do conhecimento (Figura 3), bem como 
incorporar conceitos, técnicas e instrumentos diversos. A Pedologia é uma 
ciência dinâmica, como o solo, e tem se transformado constantemente. Assim, 
considerando que o solo é um componente multifatorial, tema que será discutido 
em outra disciplina deste curso, produzir conhecimentos sobre ele é trabalhar 
com uma ciência multidisciplinar por essência. 
 
 
Figura 3 – Relação dialógica entre a Pedologia e outras áreas do conhecimento, 
evidenciando que essas áreas produzem conhecimentos importantes para a Pedologia 
e vice-versa. (Fonte: Elaborada pelos autores) 
 
Da mesma maneira, o conhecimento gerado pela Pedologia tem sido 
chamado para contribuir com a resolução de diversos problemas 
socioambientais em que o solo se faz presente, ampliando ainda mais os 
desafios e a abrangência dessa ciência. Conforme destacou Oliveira et al. 
(2022), ao lidar com os problemas da sociedade tão diversos, e ao se comportar 
como uma ciência multidisciplinar, a Pedologia permite que cientistas de outras 
áreas do conhecimento se identifiquem com ela, tornando-se também pedólogos 
e pedólogas, e ao mesmo tempo, num movimento retroalimentador, ela contribua 
 
18 
 
para o crescimento dessas outras áreas (Figura 3). Tais constatações nos levam 
a perceber que a Pedologia é mais atual e necessária que nunca. 
 
 
Assista ao vídeo O que é pedologia - IBGE Explica, disponível no Youtube, na página 
https://www.youtube.com/watch?v=fjfI6YOifBc 
Assista ao vídeo: Live - Pedologia e ambiente: conhecimento de solos e suas 
aplicações, na página https://www.youtube.com/watch?v=BwnHfZCKm20 
[Fim de “Multimídia”] 
 
2.2 Breve histórico da Pedologia no mundo 
O solo tem sido objeto de interesse do conhecimento humano desde que 
as populações do passado deixaram de ser nômades e passaram a lidar com 
ele mais diretamente, seja através de observações do comportamento das 
plantas, da prática da horticultura, do seu uso como matéria-prima para a 
fabricação de cerâmica ou extração de pigmentos minerais utilizados nas 
pinturas rupestres (Figura 4). Fato é que desde os menores grupos humanos da 
pré-história às grandes civilizações orientais e ocidentais, o conhecimento sobre 
o solo era produzido, e quase sempre mediado pelas experimentações 
motivadas pelas necessidades de sobrevivência. Essa interação era tão grande 
que algumas populações chegaram a “construir” solos a partir de intervenções 
diretas, como é o caso das Terras Pretas Arqueológicas e os Solos de Sambaqui 
no Brasil. 
As Terras Pretas foram inicialmente reconhecidas na região amazônica, 
sendo também identificadas como Terras Pretas Amazônicas ou Terra Preta do 
Índio (Figura 4), onde se concentram, mas não são exclusivas desses ambientes, 
ocorrendo também em diversos outros biomas brasileiros e em outros países da 
América do Sul e no mundo. Da mesma maneira, os Solos de Sambaqui estão 
distribuídos ao longo do litoral brasileiro e no interior do continente sul americano 
na margem de diversos rios. 
 
 
19 
 
 
 
Figura 4 – Exemplo de diversas interações entre grupos humanos do passado e os 
solos, destacando: a) diferentes cores de pinturas rupestres na parte superior de um 
dos painéis da Lapa do Desenho, Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, 
Januária/Itacarambi, MG, que revelam pigmentos contendo componentes minerais 
retirados do solo; b) fragmentos de cerâmica arqueológica sendo escavados em sítio 
localizado na região dos Currais de Pedra, Lagoa dos Patos, MG, onde sua produção 
envolveu o uso de argilas retiradas do solo; c) Terra Preta Arqueológica na região de 
Soure, Ilha de Marajó, Amazônia e d) Solo de Sambaqui da região de Quatipuru, Pará; 
ambos produzidos por populações pré-coloniais. Fonte: imagens a e b: os autores; 
imagens c e d: Renata Jordan. 
 
Espindola (2018) nos fornece diversos exemplos sobre a produção de 
conhecimentos sobre o solo, antes mesmo da institucionalização da Pedologia 
como área do conhecimento científico. Esses exemplos são sintetizados no 
Quadro 1 e a diversidade de exemplos apresentada nos alerta para o fato de que 
não podemos confundir o surgimento da Pedologia, enquanto área do 
conhecimento científico, com o início da produção de conhecimentos sobre o 
solo. Entender o solo sempre foi uma inquietação humana, e gerar conhecimento 
sobre ele é um fato mais antigo que a Pedologia em si. Nesse caso, o surgimento 
da Pedologia deve ser entendido como o início da institucionalização do estudo 
dos solos, ou seja, “a cristalização de uma ciência autônoma” nos dizeres de 
Espindola (2014, 2018), representada pela formação de profissionais específicos 
treinados em instituições acadêmicas, e que desenvolvem pesquisas a partir de 
métodos científicos. Esse movimento, tido como início da Pedologia, ocorre no 
final do século XIX. 
 
20 
 
Quadro 1 – Síntese de exemplos apresentados por Espindola (2018) que representam 
conhecimentos gerados por estudos sobre os solos antes da institucionalização da 
Pedologia como ciência. 
 
Quem e quando? O que? 
Fonte 
bibliográfica 
Livro chinês de Yugong, 
2.500 ac 
Solos eram diferenciados pelas cores, texturas e 
hidrologia. 
Gong, 1989 
Conde de Buffon, Séc. 
XVI 
Descreveu um solo ferruginoso rico em minerais 
secundários e grânulos esféricos de óxidos de ferro e 
manganês. 
Feller et al., 2003 
Lomonosov, em 1763 
Abordou o conceito de solo como um corpo 
geobiológico formado num longo espaço de tempo, 
com distintas camadas geradas por fatores climáticos 
e organismos. 
Hartemink, 2010 
Lineu (1707-1778) 
Aventou coberturas vegetais distintas nas diferentes 
terras, sendo considerado um importante divulgador 
do papel do solo na natureza. 
Yarilov, 1910 
Humboldt, 1789 
Atribuiu a possibilidade de se descobrir determinado 
tipo de solo a partir da caracterização de plantas e 
rochas associadas. 
Wilde, 1963 
Darwin, 1838 
Mostrou a atuação de minhocas no solo de uma 
escavação romana na produção do mould, 
reproduzido num corte vertical com camadas 
denominadas A-B-C-D. 
Johnson, 1990 
Gasparin, 1840 
Considerou o solo uma camada diferenciada da 
superfície da Terra, cuja natureza petrográfica 
revelava o “solo ativo” (zona de grande atividade de 
raízes) e o “solo inerte”. 
- 
Hassenfratz (1755-1827) 
Defendia que o carbono das plantas provinha 
inteiramente de uma fração solúvel do solo (húmus). 
Feller et al., 2001 
De Saussure, 1804 
Provou que a porção essencial do carbono provinha 
do ar atmosférico, mas que uma porção reduzida 
poderia provir do húmus. 
Feller et al., 2001 
Thaër, 1811 
Sintetizou a “teoria do húmus”, valorizando a gestão 
orgânica (ganhos e perdas) na fertilidade do solo. 
Feller et al., 2001 
Liebig, 1840 
Desmontou o conceito de que a nutrição de plantas 
se dá via “solução do solo”, com o transporte de 
carbono, oxigênio e hidrogênio pelo ar e pela água, o 
que passou a ser concebido como “teoria mineral, ou 
mineralista”. 
Feller et al., 2001 
Hitchcock, 1838 
Assinalou a influência das rochas na natureza dos 
solos, registrando solos arenosos, barrentos, 
argilosos calcários, terciários e aluviais. 
Feller et al., 2001 
Hilgard, 1860 
Relacionou substratos a produções agrícolas, e 
destacou solo e subsolo nos mapeamentos. 
Feller et al., 2001 
De Beletskii, 1895 
Escreveuo livro em russo sobre a “Origem dos solos, 
composição e propriedades: tipos de solos, 
classificação, potencialidades e mapeamento”. 
Dobrovol’skii & 
Rozhkov, 2009 
Fallou, 1853 
Cogitou uma ciência autônoma específica para tratar 
dos solos. 
- 
 
21 
 
 
Conforme já destacamos no item anterior, é atribuído a Fallou (1955) o 
uso pioneiro do termo Pedologia (Pedologie), bem como da defesa pela 
necessidade de criação de uma ciência voltada ao estudo dos solos. Contudo, 
internacionalmente, são os trabalhos desenvolvidos pelo russo Vasili 
Dokuchaev, em especial seus pioneiros estudos de caracterização do 
Chernozem, a “terra negra” (DOKUCHAEV, 1883) que dão início ao corpo teórico 
e metodológico que garantem à Pedologia a configuração de ciência. Mas, o que 
teria feito Dokuchaev para ser reconhecido como o “pai” da Pedologia? 
Os trabalhos desenvolvidos por Dokuchaev e sua equipe ao longo dos 
últimos 20 anos do século XIX não só elucidaram aspectos importantes dos solos 
utilizados para a produção agrícola na Rússia, mas também resultaram em um 
arcabouço conceitual que permitiu um redirecionamento do estudo de solos em 
todo o mundo. DOKUCHAEV (1879) apresenta ao mundo o conceito de perfil 
de solo, dando a esse uma concepção genética e não apenas morfológica. 
Segundo ele, o perfil de solo seria formado por camadas, que chamou de 
horizontes, cuja origem está ligada ao intemperismo de uma rocha e associado 
a uma posição topográfica do relevo específica. Além disso, postulou que isso 
seria controlado pela ação do clima e organismos, conforme o que chamou de 
zonas bioclimáticas. Os grandes avanços dessas constatações podem ser assim 
destacados: 
 Os solos são formados pela interação entre diversos fatores 
ambientais. 
 O perfil de solo é uma categoria de análise que expressa a maneira 
como o solo se formou e, por isso, o estudo dos horizontes pode 
revelar o papel dos fatores e processos. 
 Estudar o perfil de solo demanda que a Pedologia seja realizada 
em parte no campo, ou seja, no ambiente de ocorrência do solo, 
com posterior complementação de análises de laboratório. 
 A variação dos tipos de solos no espaço pode ser explicada pela 
variação dos seus fatores de formação e, por isso, podem ser 
estabelecidos modelos de distribuição do solo na paisagem. 
 
 
22 
 
Além dos trabalhos que levam aos novos conceitos e modelos de origem 
sobre solos e procedimentos para seu estudo, os trabalhos de Dokuchaev 
resultaram em esforços para criar ou aprimorar sistemas de classificação dos 
solos. Com base na Lei da Zonalidade Bioclimática, foi proposto um sistema de 
classificação de solos em zonais, azonais e intrazonais (SIBIRTSEV 1895; 
Resende et al., 2012). Isso levou a uma efervescência da Escola de Pedologia 
Russa, onde muitos outros trabalhos foram desenvolvidos. Espindola (2018) 
destaca os seguintes: gênese e classificação dos solos (Glinka, 1916; Polynov, 
1923; Neustruev, 1927; Afanasiev, 1927; Zakharov, 1927; Prasolov, 1937; Rode, 
1947); ações do clima e outros fatores do meio (Gerasimov, 1933; Gerasimov e 
Glazovskaya, 1960); matéria orgânica (Tyurin, 1937; Kononova e 
Aleksandrova,1958). 
De acordo com Dokutchaev (1879) os solos poderiam ser classificados 
em três classes principais: 
Classe A = solos normais (zonais) que respondem completamente às 
condições físico-geográficas e geobiológicas da região ou da zona onde 
se acha o solo. 
Classe B = solos transitórios (azonais) não respondendo totalmente ao 
conjunto normal das condições físico-geográfica e geobiológicas da 
região onde se encontram. 
Classe C = solos anormais (azonais) relacionados mais de perto com as 
formações geológicas subjacentes: solos pantanosos, solos aluviais, 
solos eólicos tanto de loess como de dunas. 
 
Esses conceitos, embora ainda encontrados em muitos livros didáticos, 
não são largamente aplicados aos solos mais intemperizados nos ambientes 
tropicais. Esse é o caso do território brasileiro, em que a formação dos solos é 
um resultado de processos que se iniciaram muito antes da própria separação 
do continente da América do Sul da África, no antigo Gondwana; portanto, 
envolvendo diversos paleoclimas. 
A tradução dos trabalhos russos para outros idiomas, em especial o 
inglês, bem como as valiosas conferências internacionais onde tais resultados 
eram apresentados, levaram a disseminação de conceitos e procedimentos para 
 
23 
 
outros países. Com base nisso, a Pedologia começa a se desenvolver ao longo 
da primeira metade do século XX com a ampliação dos levantamentos de solos 
em distintas partes do planeta e, da mesma maneira, dos conhecimentos sobre 
a atuação dos fatores em ambientes distintos daqueles existentes no território 
russo, como, por exemplo, as áreas subtropicais do hemisfério norte e tropicais 
da Ásia. Esses trabalhos culminam na sistematização do modelo multifatorial de 
Dokuchaev por Hans Jenny, em 1941, que tratou o solo através da expressão: 
S (solos) = f (material de origem, clima, relevo, organismos, tempo). Essa 
expressão, que tem suas origens nos trabalhos de Dokuchaev e de sua escola, 
será mais amplamente conhecido na disciplina que aborda a Pedogênese: 
fatores e processos de formação do solo. 
Como a atuação dos fatores conduzem a processos físicos, químicos e 
biológicos que levam à formação do solo, um movimento tomado pela Pedologia, 
sobretudo nos países de língua inglesa, foi desenvolver estudos que 
aprimorassem a compreensão dos processos pedogenéticos. Esses 
investimentos têm nomes reconhecidos, como Joffe (1936) com seu livro 
Pedology, posteriormente revisitado por Simonson (1959) que deu à teoria dos 
processos gerais de formação do solo um reconhecimento mundial. Não 
demorou muito para que os processos gerais fossem detalhados em processos 
específicos, resultando no aprimoramento de muitos sistemas classificatórios 
através do reconhecimento de horizontes diagnósticos, como ocorreu nos 
Estados Unidos com a publicação – Soil Taxonomy: A Basic system of soil 
classification for making and interpreting soil surveys, desenvolvido pela Equipe 
de Levantamento de Solos (Taxonomia do Solo: um sistema básico de 
classificação do solo para fazer e interpretar levantamentos de solo, título 
traduzido pelos autores; Estados Unidos, Soil Survey Staff, NRCS, 1975, 1999). 
O mesmo ocorreu com o mapa de solos do mundo, publicado em 1969, em 
vários volumes, pela FAO e a Sociedade Internacional de Ciência do Solo, que 
deu origem ao sistema internacional World reference base for soil resources 
(WRB, IUSS Working Group, 4ed. 2022). Esses fatos marcam o fortalecimento 
de uma Escola Anglo-Saxônica de Pedologia, que teria forte influência sobre a 
formação de cientistas do solo em todo o mundo, inclusive no Brasil, e no 
 
24 
 
Sistema de Classificação de Solos Brasileiro – SiBCS (Santos et al., 2018), que 
será tratado em outra parte do curso. 
 
Concomitante, o avanço das pesquisas pedológicas em regiões tropicais 
foi responsável por outros posicionamentos diante da maneira como a gênese 
do solo era compreendida. Paralelo ao desenvolvimento da Escola Anglo-
Saxônica, a Escola Francesa teve seus investimentos centrados em 
compreender a evolução do solo a partir de um modelo biogeodinâmico 
(Bocquier, 1973). Sobretudo nos primeiros 20 anos da segunda metade do 
século XX, foram realizadas pesquisas em diversas áreas tropicais onde a 
complexidade genética dos solos levou à criação de modelos e procedimentos 
distintos. Destaca-se a abordagem do solo com um continuum, que tem raízes 
nos trabalhos de Milne (1934) sobre a Catena, mas que avançam em direção ao 
conceito de Topossequência, conforme abordado por Boulet et al. (1982), que 
inclusive propôs o método de Análise Estrutural da Cobertura Pedológica. 
Embora o perfil de solo seja uma categoria de análise considerada nessa escola, 
o foco está na distribuiçãolateral dos horizontes, revelando sistemas de 
transformação de um solo em outro a partir da evolução da cobertura pedológica. 
Para sistematizar o histórico da Pedologia considerando essa 
multiplicidade de abordagens, Bocquier (1984) propôs três fases entre a 
institucionalização da Pedologia na Rússia e o início da década de 1980, quando 
o texto foi escrito. São elas: 
 Fase 1 – Heranças de Dokuchaev, final do século XIX até 1945 
 Fase 2 – Renovação da Pedologia, 1945 até 1970 
 Fase 3 – Renascença da Pedologia, após 1970 
 
O Quadro 2 sintetiza os principais aspectos de cada uma dessas fases. É 
preciso considerar que uma fase não substitui necessariamente a outra. Ao 
contrário, trata-se de uma leitura do predomínio de determinados tipos de 
abordagens sobre o solo, que podem coexistir entre si. 
 
 
 
25 
 
 
Quadro 2 – Síntese da proposta elaborada por Bocquier (1984) de compartimentação 
da história da Pedologia em três fases. (Fonte: Adaptado de Espindola, 2008). 
 HERANÇA RENOVAÇÃO RENASCENÇA 
Categoria utilizada 
para o estudo do 
solo 
Perfil Horizonte 
Continuum (cobertura 
pedológica) 
Como o solo se 
comporta no 
espaço 
Como um 
objeto 
descontinuo 
Como um objeto 
descontínuo, mas que 
tem variações 
contínuas 
Como um objeto 
continuo com variações 
estruturas espaço-
temporais 
Métodos de 
análise 
Análises globais, indiretas, com 
reconstituições 
Análise experimentais 
Correlações estatísticas 
Análise direta da 
constituição 
Análise sistêmica do 
funcionamento 
Modelização-simulação 
Caracterização 
analítica 
Global, por 
tipos de solos 
Global, por processos 
Mecanismos e seu 
determinismo 
E
ta
p
as
 
Pesquisa 
das 
Relações funcionais externas 
Relações causais 
internas 
com os 
Fatores de 
formação 
Processos 
pedogenéticos 
Mecanismos 
enfoque Funcional-fatorial Sistêmico 
tipo Zonal-atualista Histórico Determinista 
‘ 
Com base nas informações do Quadro 2, as três fases podem ser assim 
compreendidas: 
 Na Fase Herança temos o foco no estudo dos solos a partir dos 
seus fatores de formação, ou seja, estudamos suas propriedades 
para compreender como eles se relacionam aos ambientes em que 
ocorrem. Os solos são classificados por suas zonas de ocorrência. 
Ex.: solos polares, solos de regiões temperadas, solos de regiões 
tropicais etc. 
 
26 
 
 Na Fase Renovação, estudamos as propriedades atuais dos solos 
para compreender os processos pedogenéticos atuantes, e a partir 
deles entender a relação processos-fatores. A partir desses 
processos, determinamos morfologias típicas que são utilizadas 
para classificar esses solos. Ex: a ocorrência do processo de 
latossolização leva à formação de horizontes B do tipo latossólicos 
que nos permitem classificar o solo como Latossolo. 
 Na Fase Renascença, estudamos a variação espaço temporal dos 
horizontes, para compreender o comportamento do solo como um 
continuum, e a partir disso entender como as transformações 
verticais e laterais ocorrem, elucidando os mecanismos que levam 
a elas. Nesse caso o reconhecimento das sequências pedológicas 
e dos sistemas de transformação laterais. 
 
2.3 Breve histórico da Pedologia no Brasil 
Um relato histórico sobre a Ciência do Solo no Brasil é apresentado na 
publicação recente – The Soils of Brazil (Solos do Brasil), no capítulo 1, de título 
– Uma breve história da ciência do solo brasileira (A brief history of Brazilian soil 
science), do qual foram aqui reproduzidos alguns trechos mais diretamente 
relacionados à história da Pedologia no Brasil. Para leitura complementar vejam 
Schaefer et al. (2023) e, no capítulo citado, são também destacados alguns 
documentos tais como: Moniz (1982); Espindola (1992, 2008); Schaefer et al. 
(1997); Camargo et al. (2010); Bezerra et al. (2015); Barbosa et al. (2020). 
Segundo os autores (SCHAEFER et al., 2023) a agronomia no Brasil 
remonta ao início do século XIX como uma subdisciplina da botânica, 
intimamente associada à química, e posteriormente estabelecida como um novo 
ramo da ciência. Em meados do século XIX, a química agrícola surgiu a partir 
desta associação, levando ao estabelecimento da Ciência do Solo. No Brasil, 
como em diversos países, o tema da Pedologia foi desenvolvido inicialmente nas 
áreas de conhecimento em Geologia Agrícola, Agrologia, Agrogeologia, 
Agroecologia, Química Agrícola ou Agricultura Geral (ESPINDOLA, 2010). A 
pedologia consolidou-se como conhecimento aplicado e científico no Brasil em 
 
27 
 
meados do século XX, quando foi criada a SBCS, através da reunião dos 
cientistas que trabalhavam neste campo da ciência do solo. 
Neste item será destacada a história da classificação de solos no Brasil, 
uma vez que o seu desenvolvimento esteve sempre vinculado ao da Pedologia, 
com o incentivo as pesquisas buscando maior conhecimentos dos solos tropicais 
e a execução de levantamentos de solos no Brasil. Assim, a classificação do 
solo, baseada em conceitos essencialmente pedológicos, iniciou em 1947, com 
a criação da Comissão de Solos, do Centro Nacional de Ensino e Pesquisas 
Agronômicas (CNEPA) do Ministério da Agricultura, precursora do atual Centro 
Nacional de Pesquisa de Solos (CNPS), a Embrapa Solos, a qual tinha por 
missão fazer o inventário nacional dos solos brasileiros. Em função de 
prioridades do programa de levantamentos de solos, os trabalhos realizados pela 
Comissão tiveram, necessariamente, as seguintes características: foram 
efetuados em escalas pequenas, as unidades mapeadas representavam 
grandes áreas (Estado) e o nível dos levantamentos foi o exploratório-
reconhecimento ou o de reconhecimento. 
O referencial escolhido para a classificação dos solos brasileiros baseou-
se nas publicações de Baldwin et al. (1938) e Thorp & Smith (1949) e outros 
trabalhos que os sucederam. Tal referencial contudo, mostrou-se inadequado, já 
no primeiro levantamento efetuado no Estado do Rio de Janeiro (Brasil, 1958), 
e, em especial, no que lhe sucedeu, São Paulo (Brasil, 1960). Vários dos solos 
encontrados não se ajustavam ao conceito central de algumas das classes ou, 
simplesmente, não encontravam qualquer correspondência entre os solos 
relacionados. 
O aumento dos levantamentos de solos em vários estados e regiões do 
Brasil, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, evidenciou que a adoção 
integral de um sistema estrangeiro, tal como os mais difundidos na época: o Soil 
Taxonomy (Estados Unidos, 1975) e a Legenda da FAO para o Mapa de Solos 
do Mundo (FAO, 1974), era inapropriada para classificar os solos do território 
brasileiro, de forma que permitisse identificá-los em classes mais gerais, em 
níveis taxonômicos elevados, até os níveis inferiores, com classes de solos mais 
homogêneas. Assim, o desafio para o estabelecimento de um sistema de 
classificação brasileiro de solos foi assumido, em 1978, pelo então Serviço 
 
28 
 
Nacional de Levantamento e Conservação de Solos - SNLCS (sucessor da 
antiga Comissão de Solos) da Embrapa, através do Projeto: "Desenvolvimento 
do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos", sob a coordenação do 
eminente pedólogo Marcelo Nunes Camargo. 
Com a maior prática em execução de levantamentos de solos, os 
pedólogos, do atual CNPS, Embrapa Solos, do Instituto Agronômico de 
Campinas (IAC), do Departamento de Produção Mineral, do Ministério das Minas 
e Energia, através do projeto RADAMBRASIL (hoje no IBGE) e de muitas outras 
instituições no Brasil, com grande contribuição de equipes das Universidades 
nos levantamentos e na produção de pesquisas pioneiras sobre a gênese dos 
solos brasileiros, foram sedimentando e aprimorando a concepção sobre classes 
de solos para atender a particularidades de solos e ambientes brasileiros. 
A partir de 1980, foi criado um grupo de trabalho no SNLCS, para 
desenvolver um Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, através de 
aproximações, que eram documentosde trabalho de circulação restrita, visando 
arrecadar contribuições, críticas e sugestões para serem selecionadas e 
analisadas pelo grupo de trabalho. Ainda em 1980, a primeira aproximação 
define propriedades categóricas - muitas delas listadas atualmente como 
atributos diagnósticos, reações do solo, grupamentos texturais e define 11 
classes em primeiro nível, a seguir: 
i) Classe 1 – solos minerais muito pouco ou pouco desenvolvidos, 
seja pelo pouco tempo de exposição do material de origem, seja 
por esse apresentar resistência que não favorece a pedogênese; 
ii) Classe 2 – solos minerais, com mais de 30 % de argila expansível, 
pronunciada mudança de volume em função do teor de umidade, 
intenso fendilhamento, slickensides, gilgai e agregados 
cuneiformes; 
iii) Classe 3 – solos minerais, com B incipiente subjacente a qualquer 
horizonte diagnóstico superficial, exceto o turfoso e o A 
chernozêmico; 
iv) Classe 4 – solos minerais, de alta saturação por bases, Ta e 
horizonte A fraco, A moderado ou A chernozêmico sobrejacente a 
horizonte B textural; 
 
29 
 
v) Classe 5 – solos minerais, não hidromórficos, B textural 
imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte diagnóstico 
superficial, exceto turfoso; 
vi) Classe 6 – solos minerais, textural abrupto subjacente a horizonte 
A fraco, A moderado, A proeminente e A chernozêmico; 
vii) Classe 7 – solos minerais com Bh, Bhs ou Bs subjacente a 
horizonte A álbico; 
viii) Classe 8 – solos minerais, não hidromórficos, com B latossólico; 
ix) Classe 9 – solos minerais hidromórficos ou que pelo menos 
apresentam restrição temporária à percolação de água; 
x) Classe 10 – solos minerais, hidromórficos, com horizonte glei 
dentro de até 50 cm de profundidade; 
xi) Classe 11 – solos hidromórficos, pouco evoluídos, orgânicos. 
Com o avanço das discussões, algumas das classes listadas foram 
combinadas e outras foram criadas, mas a maioria foi mantida; porém, com 
evolução significativa nos critérios para a sua classificação. 
 
Em 1987, é apresentada uma classificação de solos, na qual estão 
relacionadas as classes dos níveis mais elevados, com indicação de atributos 
para uso nos níveis subsequentes (CAMARGO et al., 1987). Foi também 
relevante para a padronização dos levantamentos, o documento “Critérios para 
distinção de classes de solos e de fases de unidades de mapeamento: normas 
em uso pelo SNLCS” (Embrapa, 1988). Após um período de menor intensidade 
de recursos e projetos para levantamentos de solo no Brasil, em que as 
atividades da Comissão também foram reduzidas, foi concluída a 4ª 
Aproximação (Embrapa, 1997) pelo Comitê Executivo de Classificação de Solos. 
Este documento gerou a versão preliminar do Sistema Brasileiro de 
Classificação de Solos – SiBCS (Embrapa, 1998), que foi testado, consolidado 
e divulgado com a sua primeira edição (Embrapa, 1999), com tiragem de mil 
exemplares, no Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, realizado em Brasília, 
em 1999. 
A partir desta primeira edição do SiBCS, várias revisões e alterações 
foram implementadas na medida em que o seu uso se expandia no país, estando 
 
30 
 
no momento em sua quinta edição (Santos et al., 2018) e com uma edição em 
inglês, ambas lançadas no Congresso Mundial de Ciência do Solo, no Rio de 
Janeiro, em 2018, organizado pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. As 
tiragens das sucessivas edições do SiBCS, entre a segunda e quinta, somam 18 
mil exemplares impressos e a quinta edição é um dos documentos com maior 
número de “downloads” dentre as publicações da Embrapa. Portanto, se 
comprova o acerto em sua elaboração e sua importância para a Ciência do Solo 
no Brasil. 
 
Atualmente o SiBCS dispõe-se como um sistema aberto, em contínua 
transformação, baseado na morfologia como expressão de processos 
pedogenéticos, sendo que existem 13 (treze) classes no primeiro nível 
categórico. Mais informações sobre o SiBCS serão apresentadas na disciplina 
Sistema Brasileiro de Classificação do Solo, mais adiante neste curso, ou podem 
ser consultadas na publicação Santos et al. (2018). 
 
 
 
Para conhecer mais detalhes do histórico da Pedologia no Brasil, consulte a Linha do 
Tempo elaborada pela Embrapa, disponível no endereço 
https://www.embrapa.br/pronasolos/ciencia-do-solo-no-brasil 
[Fim de “Saiba mais”] 
 
 
 
Nesta unidade você conheceu um pouco sobre a Pedologia, sua definição, histórico no 
mundo e no Brasil. 
 
Vimos que: 
 
 A Pedologia é um ramo científico da Ciência do Solo que aborda os estudos 
relacionados à identificação, formação, classificação e mapeamento dos solos. 
 Para produzir conhecimentos sobre o solo, a Pedologia se relaciona com 
diversas outras ciências, assumindo um caráter multidisciplinar. 
 A institucionalização da Pedologia como área do conhecimento científico ocorre 
no final do século XIX, e tem na Rússia sua primeira escola. Foi o cientista russo 
Vasili Dokuchaev quem deu início ao corpo teórico e metodológico que garantiu 
 
31 
 
à Pedologia a configuração de ciência. Os trabalhos desenvolvidos por ele 
apresentaram ao mundo os fatores de formação e o perfil de solo, que marcaram 
profundamente a maneira como os solos foram estuados desde então. 
 Não devemos confundir a institucionalização do estudo de solos a partir da 
Pedologia, enquanto ciência, com a primeira vez em que conhecimentos sobre 
os solos foram produzidos. Antes disso, desde as populações humanas pré-
históricas, o solo já era objeto de interesse e investigação, principalmente porque 
estava relacionado a ele uma das atividades mais indispensáveis à vida humana: 
a produção de alimentos. 
 A história da Pedologia no Brasil se confunde com a do desenvolvimento do 
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), sendo o Brasil o único 
país da América do Sul e Central com um sistema nacional, desenvolvido a partir 
de colaboração entre instituições de pesquisa e universidades para atender as 
especificidades dos solos e dos biomas brasileiros. 
 
[Fim de “ Em síntese”] 
 
32 
 
 
Unidade 3 
O solo 
 
Caro(a) estudante, 
 
Após conhecer um pouco sobre a Ciência do Solo e a Pedologia, discutiremos o 
conceito de solo, abordando as diferentes perspectivas sobre ele ao longo do 
tempo definindo qual o conceito que será utilizado em nosso curso. É importante 
esclarecer que como qualquer outro componente abordado por muitas áreas do 
conhecimento, o solo pode ser entendido de maneira distinta conforme o olhar 
de cada profissional ou da área do conhecimento. Contudo, é preciso definir um 
conceito de solo para que possamos dar encaminhamento ao curso, e neste 
caso, utilizaremos o adotado pela Pedologia. 
 
 
Conteúdo Programático 
 3.1 O que é solo 
 3.2 As funções do solo 
 
Objetivos 
Esperamos que você, ao final dessa unidade, seja capaz de: 
 Compreender o que é solo; 
 Reconhecer o solo como um produto de síntese; e 
 Reconhecer as múltiplas funções que um solo apresenta. 
 
 
33 
 
 
3.1 O que é solo 
O conceito de solo pode variar conforme a área do conhecimento e sua 
aplicação. Isso porque se trata de um componente com o qual vários 
profissionais lidam. Por exemplo, para agrônomos(as) o solo pode estar 
relacionado ao substrato que sustenta as plantas cultivadas, oferecendo-lhes 
reserva de nutrientes, ar e água. Para geólogos(as) e engenheiros(as) de minas 
pode significar o produto da alteração intempérica das rochas, que sob 
determinados aspectos, contém minerais acumulados em processos 
supergênicos (com várias origens) passíveis de serem explorados na indústria. 
Para engenheiros(as) civis, por usa vez, o solo pode representar o material 
friável a ser compactado para a construção de fundações e/ou manejado em 
aberturas de estradas, por exemplo. 
Considerando a Ciência do Solo como um todo, o conceito de solo 
também sofreu variações ao longo do tempo, porque mesmo internamentea 
essa, como vimos até aqui, ocorrem interesses e abordagens múltiplas. Nesse 
caso, Bockheim et al. (2005) destacam que ao longo do tempo as principais 
definições para solo foram: 
 como um meio para o crescimento das plantas; 
 como produto do intemperismo das rochas, sedimentos ou ainda 
da transformação de outros solos; 
 como um corpo natural da paisagem que evolui no tempo, com forte 
registro dessa evolução na sua composição expressa em 
propriedades químicas, físicas e mineralógicas, além de vestígios 
dos organismos que nele habitaram; 
 como uma camada descontínua que recobre a litosfera; e 
 como um conjunto composto de sólidos (minerais e matéria 
orgânica), líquidos e gases, que ocupa um dado espaço e é 
estruturado em horizontes ou camadas que o distinguem do seu 
material de origem. 
Estes mesmos autores identificam diversos marcos ao longo da história 
da Pedologia que nos ajudam a explicar a variação do conceito de solo. Esses 
marcos foram sintetizados na linha do tempo da Figura 5. 
 
34 
 
 
 
Figura 5 – Linha do tempo indicando alguns marcos importantes na evolução das 
abordagens sobre solos. Adaptado de Bockhein et al. (2005). 
 
 O que podemos observar pela análise da linha do tempo é que o solo 
deixa de ser apenas um meio para o desenvolvimento das plantas com a 
institucionalização da Pedologia e ganha o escopo de objeto de estudo com a 
criação de outros conceitos relacionados, como perfil de solo, horizontes e 
fatores de formação. Posteriormente, considerando a expansão dos estudos 
pedológicos pelo mundo, o solo é reconhecido como um corpo natural e tem sua 
gênese ampliada na medida em que ocorre o refinamento dos sistemas de 
classificação e a definição de critérios para categorização de horizontes. Esse 
processo perdura até meados do século XX. Após, ocorre uma proliferação de 
outros conceitos relacionados ao solo, ora tentando definir suas variações no 
espaço, ora servindo de categoria para seu estudo, como nos levantamentos 
pedológicos. Destacam-se os conceitos de pedon, polipedon, corpo de solo, 
cobertura pedológica, pedosfera, pedometria, pedoforma, entre diversos outros. 
Esses conceitos serão abordados ao longo das disciplinas seguintes do curso, 
já que muitos deles são aplicados ao levantamento e mapeamento de solos. 
 
Para iniciar seus estudos busque mais informações sobre alguns conceitos importantes 
da Pedologia, tais como pedon, polipedon, pedosfera, pedoforma. 
[Fim de “Saiba mais”] 
 
35 
 
 
Um conceito que já deve ser trabalho nesse momento é o de Pedosfera. 
Conforme Lal et al. (1997) a pedosfera é a esfera terrestre composta pelos solos 
no planeta, dando aos solos uma dimensão de componente físico global (Figura 
6). Ela se relaciona com as demais geosferas, sendo que cada uma contém um 
conjunto de componentes e processos em si, e outros que surgem da relação 
com a pedosfera. Esse modelo revela o caráter do solo como um componente 
síntese, cuja origem está ligada ao papel de diversos fatores, conforme será 
abordado em outra disciplina do curso. 
 
 
 
Figura 6 – Concepção da Pedosfera como um produto da síntese das interações entre 
as demais esferas terrestres. Adaptado de Lal et al. (1997). 
 
 
36 
 
Mas, afinal, diante de tanta diversidade: o que é solo? Qual conceito 
podemos utilizar? 
 O conceito de solo que utilizaremos neste curso é aquele que melhor 
atende à Pedologia, e que fundamenta o Sistema Brasileiro de Classificação de 
Solos – SiBCS (Santos et al., 2018). Considerando esse conceito, podemos 
definir como solo: 
 O solo é uma coleção de corpos naturais, constituídos por partes sólidas, 
líquidas e gasosas, possuem pelo menos três dimensões espaciais e 
uma dimensão temporal e são dinâmicos. São formados por materiais 
minerais e orgânicos dispostos em aglomerados de partículas sólidas 
chamados agregados. Os agregados são organizados em horizontes 
e/ou camadas conforme sua morfologia e, geralmente, estão dispostos 
paralelamente à superfície. Os solos ocupam a maior parte do manto 
superficial das extensões continentais do nosso planeta, contêm matéria 
viva e podem ser vegetados na natureza onde ocorrem e, 
eventualmente, terem sido modificados por interferências antrópicas. 
 Quando examinados a partir da superfície, consistem em seções 
aproximadamente paralelas, organizadas em camadas e/ou horizontes 
que se distinguem do material de origem inicial, como resultado de 
adições, perdas, translocações e transformações de energia e matéria, 
que ocorrem ao longo do tempo e sob a influência dos fatores clima, 
organismos e relevo. Os horizontes refletem os processos de formação 
do solo a partir do intemperismo do substrato rochoso ou de sedimentos 
de natureza diversa. As camadas, por sua vez, são pouco ou nada 
afetadas pelos processos pedogenéticos, mantendo, em maior ou menor 
proporção, as características do material de origem. 
 O solo tem como limite superior a atmosfera, embora alguns solos 
possam ter uma coluna de água sobreposta (permanente ou periódica), 
desde que não haja impedimento ao desenvolvimento de raízes de 
plantas adaptadas a essas condições. Os limites laterais são os contatos 
com corpos d’água superficiais, rochas, gelo, áreas com coberturas de 
materiais detríticos inconsolidados, aterros ou terrenos sob espelhos 
d’água permanentes. O limite inferior do solo é difícil de ser definido. Em 
 
37 
 
geral, o solo passa gradualmente, em profundidade, para rocha dura ou 
materiais saprolíticos ou sedimentos que não apresentam sinais da 
influência de atividade biológica. O material subjacente (não solo) 
contrasta com o solo pelo decréscimo nítido de constituintes orgânicos e 
pelo decréscimo de alteração e decomposição dos constituintes 
minerais, ou seja, pelo predomínio de propriedades mais relacionadas 
ao substrato rochoso ou ao material de origem não consolidado. 
Modificado de Santos et al., 2018 
Sistema Brasileiro de Classificação de Solo 
 
3.2 As funções do solo 
Finalizaremos essa unidade com a apresentação da importância de se 
estudar o solo através do detalhamento de suas múltiplas funções. Funções do 
solo são compreendidas como serviços ambientais prestados pelo solo e que 
possibilitam a vida no planeta (FAO, 2015). São elas que mostram como o solo 
é um componente fundamental em questões de saúde humana, socioculturais, 
de resgate de conhecimentos tradicionais e relacionadas às seguranças 
alimentar, energética e hídrica (Brevik et al., 2018). De acordo com a FAO (2015) 
(Figura 7), as principais funções do solo são: 
 Meio para a produção de alimentos, fibras e combustíveis; 
 Reservatório para o sequestro de carbono; 
 Meio de purificação da água e degradação de contaminantes; 
 Agente de regulação do clima; 
 Meio para a ciclagem de nutrientes; 
 Habitat para diversos organismos; 
 Agente na regulação de enchentes; 
 Fonte de recursos genéticos e farmacêuticos; 
 Base de sustentação e suporte para as infraestruturas humanas; 
 
38 
 
 Matéria prima para diversos fins, como no fornecimento de 
materiais de construção; e 
 Herança cultural e reservatório de memórias dos povos. 
 
Figura 7 – As funções do solo conforme a FAO – Organização das Nações Unidas para 
alimentação e Agricultura. Fonte: www.fao.org 
 
Podemos também agrupar as funções do solo em biológicas, alimentares, 
de trocas e filtros, de matéria-prima e suporte e sociais, culturais e políticas. 
 
 
 
Em 2015, na comemoração do Ano Internacional do Solo, a FAO lançou um vídeo 
comemorativo sobre as funções do solo. Assista ao vídeo em 
https://www.youtube.com/watch?v=CZNanlXMXk4. 
[Fim de “Multimídia”] 
 
 
39 
 
 
 
Nesta unidade discutimos um pouco sobre o conceito de solo e suas funções. 
Vimos que: 
 O conceito de solo pode variar conforme a área do conhecimento e sua 
aplicação. Isso porque se trata de um componentecom o qual vários 
profissionais lidam. 
 O conceito de solo foi sendo alterado com o tempo, em virtude da expansão dos 
estudos e conhecimentos gerados sobre ele. 
 O solo, conforme definido para estudos pedológicos no Sistema Brasileiro de 
Classificação de Solos (SiBCS), é uma coleção de corpos naturais, constituídos 
por partes sólidas, líquidas e gasosas, tridimensionais, dinâmicos, formados por 
materiais minerais e orgânicos que ocupam a maior parte do manto superficial 
das extensões continentais do nosso planeta, contêm matéria viva e podem ser 
vegetados na natureza onde ocorrem e, eventualmente, terem sido modificados 
por interferências antrópicas. Esse será o conceito que utilizaremos em nosso 
curso. 
 Os solos possuem diversas funções, e são elas que mostram sua irrefutável 
importância para a humanidade. As principais funções do solo são: 
o Meio para a produção de alimentos, fibras e combustíveis 
o Reservatório para o sequestro de carbono 
o Meio de purificação da água e degradação de contaminantes 
o Agente de regulação do clima 
o Meio para a ciclagem de nutrientes 
o Habitat para diversos organismos 
o Agente na regulação de enchentes 
o Fonte de recursos genéticos e farmacêuticos 
o Base de sustentação e suporte para as infraestruturas humanas 
o Matéria prima para diversos fins, como no fornecimento de materiais de 
construção 
o Herança cultural e reservatório de memórias dos povos 
 
[Fim de “ Em síntese”] 
 
 
 
 
40 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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42 
 
 
SOBRE OS AUTORES 
 
Fábio Soares de Oliveira - Graduado em Geografia pela UFV, Mestre em Solos 
e Nutrição de Plantas pela UFV e Doutor em Ciências Naturais (Geologia 
Ambiental) pela UFOP. É professor no Instituto de Geociências da UFMG 
(IGC/UFMG). Atua nas áreas de Pedologia, Geomorfologia e Geoarqueologia, 
principalmente nos temas: gênese de solos; relação solo e paisagem; couraças; 
solos e relevos de ilhas oceânicas, solos da Antártica, solos antrópicos. 
 
Lúcia Helena Cunha dos Anjos - Graduada em Engenharia Agronômica pela 
UFRRJ, Mestre Agronomia (Ciências do Solo) UFRRJ e Doutora em Agronomy 
(Soil Science) pela Purdue University. É professora no Departamento de Solos 
da UFRRJ (DPS/UFRRJ). Atua na área de Pedologia, principalmente nos temas: 
classificação de solos, etnopedologia, manejo de solos, indicadores edáficos de 
qualidade e relação entre erosão do solo e degradação. 
 
José João Lelis Leal de Souza - Graduado em Geografia pela UFV, Mestre e 
Doutor em Solos e Nutrição de Plantas

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