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CARTAS PAULINAS E GERAIS AULA 2 Prof. Marlon Ronald Fluck 2 CONVERSA INICIAL Estimado e estimada estudante, dando sequência ao nosso estudo, convido você para juntos abordarmos três epístolas: Gálatas, 1 e 2 Tessalonicenses. A ênfase desta aula será nos objetivos gerais, a ocasião em que as cartas foram escritas, os problemas enfrentados pelas igrejas e uma análise geral do conteúdo. TEMA 1 – A EPÍSTOLA AOS GÁLATAS Iniciamos nossa aula com a Epístola de Paulo aos Gálatas, e pretendemos explicar quem eram os Gálatas que receberam essa epístola, a importância dela para a Igreja de nossos dias, a data provável em que foi escrita, os seus objetivos, a explicação do que foi o Primeiro Concílio Eclesiástico de Jerusalém e o motivo por que este ocorreu. Figura 1 – Mapa da Primeira Viagem de Paulo Fonte: Arquivo/João Moreira No mapa, vemos a localização da região da Galácia, bem como a localização de Jerusalém, onde ocorreu o Concílio. 1.1 A importância dessa epístola Quando o Cristianismo começou a se estabelecer nas cidades em que o Judaísmo estava presente, a pergunta que frequentemente se fazia era: quem é a maior autoridade religiosa: Moisés “ou” Cristo? Ou seria Moisés “e” Cristo? A 3 supremacia de Cristo sobre Moisés e a fé cristã como mais elevada que a fé judaica foi a resposta dada pelo apóstolo Paulo. Logo após a epístola aos Romanos, a epístola aos Gálatas é considerada a carta magna da fé cristã. Ela é um documento revolucionário com relação à forma dos cristãos abordarem o antigo Judaísmo. Por este motivo, a epístola aos Gálatas tem sido chamada de “Declaração de Independência Cristã” (Carrez, 1997, p. 117). A epístola aos Gálatas foi escrita para uma comunidade de gentios convertidos e perturbados por indivíduos judaizantes e legalistas, que queriam impor a prática de rituais judaicos aos gentios. Seu objetivo era, principalmente, o de servir como um documento que assegurasse a liberdade cristã que os fiéis podem desfrutar em Jesus Cristo (Carrez, 1997, p. 118-122). Gálatas tem sido conhecida como Escritura da Liberdade Cristã. Sabemos que a primeira visita de Paulo à essa comunidade foi motivada por uma doença física (Bíblia, Gálatas, 2009, 4:13). Paulo não pretendia pregar na Galácia, mas ficou enfermo (4:14). Mesmo que Paulo se apresentasse um tanto abatido fisicamente, os gálatas o receberam com calor e compreensão (Gl 4:14-15). O fervor do apóstolo e a receptividade calorosa dos ouvintes superaram os desânimos físicos, a ponto de Paulo permanecer ali por muitos meses. A segunda visita foi menos animadora para o apóstolo, visto que a situação entre os cristãos da Galácia fez com que ele se sentisse desconfortável. As referências a esta segunda visita não são difíceis de ser notadas na epístola que você está estudando. Na opinião de Halley (2001, p. 252), a data mais aceita para redação desta carta foi por volta de 57 d.C., no final da terceira viagem missionária de Paulo, quando ele estava em Éfeso, na Macedônia, ou em Corinto, pouco antes de também escrever a Epístola aos Romanos. Contudo, diversos estudiosos acreditam que a epístola aos Gálatas foi escrita em Antioquia, próximo de 49 d.C., antes do retorno de Paulo da Galácia e antes do Concílio de Jerusalém em 49-50 d.C., o que implica que esta epístola teria sido a primeira a ser escrita. Existiam duas regiões conhecidas na época como Galácia. No decorrer do século III antes de Cristo, alguns gauleses (celtas) migraram para o interior da Ásia Menor e fundaram um reino. Debaixo do reinado de Amintas (séc. I a.C.), o reino fundado pelos gauleses estendeu-se até a Pisídia, Licaônia e outros 4 lugares ao sul e, quando os romanos assumiram o controle, logo após a morte de Amintas (25 a.C.), esse reino foi transformado na província da Galácia. Por gauleses se designava, portanto, um conjunto de populações celtas que habitava a Gália, isto é, o território que corresponde hoje, grosso modo, à França, à Bélgica e à Itália setentrional proto-históricas, provavelmente a partir da Primeira Idade do Ferro (cerca de 800 a.C.). O problema consiste em definir se os “gálatas”, a quem Paulo dirige sua primeira epístola, são os gálatas étnicos, que viviam ao norte, na província, ou os gálatas que viviam ao sul, habitado por diversas raças que foram incluídas na província romana (Carson, 1997, p. 320). Alguns estudiosos sugerem que a epístola foi dirigida à Galácia do norte. Porém havia pouca ou nenhuma população judaica ao norte, o que tornaria extremamente difícil que tivessem problemas com o legalismo judaico nessas regiões. Há apenas três alusões possíveis ao trabalho missionário de Paulo ali, que encontramos em Atos 16.6; 18.23 e 19.1. Outros afirmam que a carta foi enviada às igrejas da Galácia do sul, de Listra, Derbe, Icônio e Antioquia da Pisídia, cujo relato da evangelização encontramos em Atos 13 e 14. Portanto, a carta teria sido endereçada aos conversos de Paulo na província romana da Galácia, convertidos na primeira viagem missionária (Bíblia, Atos dos Apóstolos, 2009, 13:5-14:28); visitados na segunda (At 16:6) e na terceira (At 18:23) (Unger, 2006, p. 525). Um dos maiores problemas nas igrejas da Galácia é que eles estavam lutando entre si e contra o apóstolo Paulo. Contudo, em Cristo não pode haver divisões e conflitos, pois estar em Cristo é desfrutar da harmonia divina, evitando a destruição mútua (Bíblia, Gálatas, 2009, 5:15). Paulo argumentou que Cristo removeu os antigos preconceitos e as barreiras peculiares ao Judaísmo; assim, em Cristo, todos se tornam um só, sem distinção alguma. Isto é algo absoluto, e aceito pelos cristãos de hoje sem questionamentos. Contudo, na época, tratava-se de uma doutrina revolucionária (Fee, 2013, p. 401). A universalidade da mensagem cristã era um tema habitual na igreja primitiva. Em Cristo, os israelitas não desfrutavam de uma posição privilegiada, pois o Espírito Santo agia entre os gentios da mesma forma que entre os israelitas (At 11:1-8). Prever privilégios para os israelitas em detrimento dos 5 gentios era o argumento do legalismo que havia afetado até mesmo os apóstolos (Gl 2). Podemos observar em Gálatas 3:26-28 que o ideal seria a total eliminação das diferenças instituídas pelo Judaísmo, ficando implantada exclusivamente a graça divina, em Cristo Jesus. Assim, a epístola aos Gálatas tornou-se um tipo de defesa de toda a suficiência e universalidade de Cristo, bem como da nova fé, que liberta tanto gentios como judeus; escravos ou livres, homens e mulheres (Carrez, 1997, p. 117). TEMA 2 - DEFESA DO APOSTOLADO DE PAULO Essa carta nos apresenta os motivos pelos quais Paulo vinha sendo atacado: a base da aceitação perante Deus (Bíblia, Gálatas, 2009, 2:16-17; 4:3- 6; 5:2-4); a supremacia e exclusiva suficiência de Cristo (Gl 2:21; 3:18; 4:8-9); a validade do evangelho e do apostolado de Paulo (Gl 1:10-24). Portanto, a maior parte do texto de Gálatas compõe-se de uma defesa do seu apostolado (Bull, 2009, p. 88). Os Gálatas não receberam de forma agradável os escritos de Paulo, tanto interna quanto externamente à igreja, gerada por indivíduos legalistas que não compreenderam o propósito do Evangelho. Essa situação provocou a ida de Paulo até Jerusalém, a fim de procurar solução para este conflito; por não ter condições de ir pessoalmente à Galácia, teve de enviar esta epístola (Gl 4:20). Paulo demonstrou que o ensino divulgado não era fruto de sua mente, mas que o recebera por revelação do próprio Cristo (Carson, 1997, p. 319). O apóstolo Paulo defendeu a legitimidade do seu apostolado, a autoridade divina do evangelho pregado por ele, a doutrina da justificação pela fé sem qualquer combinação de obras ou rituais legalistas e a eficiência dos princípios cristãos comobase para a vida de liberdade em Cristo (Bull, 2009, p. 88). Sabemos que pouco tempo depois da sua primeira visita a Galácia recebeu a visita de mestres cristãos de origem judaica. Eles insistiam que os gentios não podiam ser cristãos, a não ser que também observassem as leis de Moisés (Halley, 2001, p. 633). Eles eram chamados de “judaizantes” e faziam parte de uma seita que não aceitava a decisão dos apóstolos a respeito da circuncisão (Bíblia, Atos dos Apóstolos, 2009, 15) e continuavam a insistir que os cristãos só poderiam chegar a Deus por intermédio do Judaísmo. Assim, os gentios convertidos eram 6 primeiramente circuncidados e orientados a observar a lei judaica (Unger, 2006, p. 525). Formavam um partido cujos representantes perseguiam o apóstolo Paulo em suas viagens missionárias e tentavam destruir seu trabalho missionário. Eles foram chamados pelo apóstolo de “ministros de Satanás”. Em Atos 15, você pode ver os problemas que esses cristãos causaram em Antioquia. O mesmo ocorreu em Gálatas (2:12; 2:4). Eles também foram chamados de “falsos apóstolos” (Bíblia, 2 Coríntios, 2009, 11:13). Alguns tinham até “cartas de recomendação” (2 Co 3:1). Em Gálatas 6:13, o versículo é escrito “no tempo presente”, dando a ideia de que ainda estavam se submetendo ao ritual judaico de circuncisão. Paulo deixa bem claro que a verdadeira intenção dos perturbadores era corromper o evangelho de Cristo. Mas eles não estavam dando a eles outro evangelho melhor, mas sim distorcendo o único evangelho, modificando-o a partir de sua essência (Fee, 2013, p. 406). Algo que você pode perceber facilmente na literatura paulina é que esses perturbadores promoveram por conta própria visitas, desequilíbrios e agitação nas igrejas gentílicas. Eles despertaram periodicamente intensa indignação do apóstolo. No caso de Corinto, o ataque foi diretamente contra o apostolado paulino. Na Galácia, eles não só se opuseram à sua doutrina, mas também procuravam depreciá-lo (Carson, 1997, p. 319). Logo depois da saudação inicial encontramos as seguintes palavras: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Bíblia, Gálatas, 2009, 1:6-7). Aquele grupo se distanciou da doutrina absolutamente distintiva do verdadeiro evangelho, que é a salvação eterna inteiramente dependente da graça divina em Cristo, em separado dos rituais e observâncias religiosas e obras advindas do mérito humano de qualquer tipo. Desejavam aprimorar a obra do Espírito Santo mediante a Lei (Gl 3:3) (Brown, 2004, p. 627). Os gálatas aceitaram a doutrina deles com a mesma sinceridade que aceitaram a mensagem de Paulo. Ocorreu uma série de circuncisões entre os gentios recém-convertidos ao Cristianismo. Paulo chamou isto de outro 7 evangelho (Gl 1:6-7). Deveria ser considerado anátema (amaldiçoado) quem modificasse o evangelho pregado por ele (Gl 1:9). O assunto era extremamente importante e absolutamente vital para o cristianismo nascente – a própria cruz de Cristo estava em perigo, em vista deste aceitável legalismo dos judaizantes pois “se a justiça é mediante a Lei, segue-se que morreu Cristo em vão” (Gl 2:21). Paulo avisa que eles estavam sendo desviados para um evangelho completamente distinto e não para uma forma superior do mesmo evangelho como inocentemente julgavam. Substituíram a simplicidade e a espiritualidade do evangelho pelas observâncias judaizantes, ou seja, a observância absoluta à Lei Mosaica estava se tornando algo essencial para eles. Não havia rejeição ao evangelho, mas conceitos legalistas e ritualistas começaram a destruir doutrinas fundamentais (Bull, 2009, p. 90). O apóstolo procura defender o evangelho da graça gratuita que ele proclamara aos gentios (Bíblia, Atos dos Apóstolos, 2009, 14:27). Enfatiza a verdade essencial de que o indivíduo é justificado pela fé em Jesus Cristo, e nada mais. Paulo procura mostrar que a liberação da lei mosaica é resultado de um relacionamento com Cristo, através do Espírito Santo, que produz no fiel uma nova regra de vida e de fé. Assim, as pessoas que foram regeneradas estão libertas do legalismo. Desta forma, o fiel está sendo formado por Cristo, sendo seu objetivo compartilhar de todas as suas perfeições morais e espirituais. Isto se opõe radicalmente ao legalismo mosaico e seu código de cerimônias, bem como a exigência à obediência perfeita aos mandamentos. O apóstolo defendeu vigorosamente a doutrina da justificação em Cristo, sem a necessidade de qualquer complemento. Gálatas é “a carta magna da emancipação espiritual” (Farrar, citado por Tenney, 1967, p.13). TEMA 3 – O CONCÍLIO EM JERUSALÉM Houve uma controvérsia legalista que provocou o primeiro Concílio na Igreja Cristã, realizado em Jerusalém e registrado historicamente em Atos 15. Esse Concílio foi a favor de Paulo e de suas ideias de liberdade cristã; mas a história eclesiástica posterior mostra que isso não deu solução à controvérsia, pois os legalistas continuaram a perseguir Paulo em suas viagens missionárias, lhe causando muitos transtornos e aborrecimentos (Quesnel, 2008, p. 27). 8 Depois disso, Paulo visitou pessoalmente a Galácia levando as decisões do Concílio de Jerusalém e declarando que a circuncisão não era necessária (At 15:1 - 16:4) (Carson, 1997, p. 325). Tabela 1 – Esboço da epístola aos Gálatas Saudação e os temas 1.1-10 Abordagem autobiográfica: a independência e a origem divina do evangelho anunciado por Paulo 1.11-2.21 Abordagem de argumentação teológica: a justificação pela fé 3.1-5.12 Abordagem pastoral: a vida no Espírito e a liberdade da lei 5.13-6.10 Conclusão da carta 6.11-18 Fonte: Fluck, 2021. No quadro podemos ver uma estrutura básica da Epístola aos Gálatas. Sempre existem outras possibilidades. Elaboramos essa para auxiliar-nos didaticamente. A principal questão teológica abordada na epístola aos Gálatas diz respeito à salvação. Cabe então uma pergunta: o que produz a salvação? Ela foi conseguida através do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo somente. É importante destacarmos o “somente”, pois a igreja de Gálatas queria acrescentar algo mais à salvação, as obras bem-intencionadas; e os judaizantes acrescentaram até a circuncisão realizada nas sinagogas. O apóstolo Paulo adverte-os que os que acrescentarem algo à salvação seriam considerados amaldiçoados, por que somente Cristo salva. A salvação somente pela fé e confiança na obra realizada por Cristo foi o centro da argumentação teológica de Paulo e a base para o ensinamento ético das consequências práticas para a vida do cristão (Frey, 2012, p. 234). Juntamente com a ênfase nesta justificação pela fé em Jesus Cristo, encontramos a liberdade cristã (Bíblia, Gálatas, 2009, 5:1); os crentes devem “andar no Espírito” (Gl 5.16). Curiosamente, até mesmo aqueles que são justificados pela fé em Cristo, por vezes, “acham mais fácil submeter-se à escravidão de um sistema” (Carson, 1997, p. 334). Chegamos ao final de nosso estudo da Epístola de Gálatas e aprendemos elementos essenciais para a fé e a vida cristã. Convido você a continuarmos nessa jornada de descobertas. 9 TEMA 4 – PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES Estimado e estimada estudante, na segunda parte desta aula iremos estudar as duas epístolas que Paulo escreveu à Igreja dos Tessalonicenses. Apresentaremos a você como era a cidade de Tessalônica, de que modo ocorreu a fundação da Igreja nessa cidade e os problemas surgidos entre os discípulos de Cristo após a saída de Paulo de lá. Ao final, explicaremos quais foram os propósitos das epístolas. Saiba que esta carta é um dos mais antigos documentos do Novo Testamento e, provavelmente, a segunda epístola paulina.Ele a escreveu logo após sua chegada a Corinto, na primavera de 50. Os inícios promissores da comunidade cristã ainda eram bastante recentes, e Paulo relembra isso com muita gratidão (Bíblia, 1 Tessalonicenses, 2009 1:2-2:14). Por causa da hostilidade por parte dos gentios, o apóstolo teve de fugir rapidamente daquela cidade (1Ts 2:2; At 17:5s) (Bornkamm, 2003, p. 105). Vamos conhecer o lugar, a data provável e a ocasião em que a epístola foi redigida. Depois de fugir de Tessalônica, Paulo foi para a cidade de Beréia e, em seguida, seguiu para Atenas (Bíblia, Atos dos Apóstolos, 2009, 17). Como o apóstolo Paulo sentiu muita saudade da comunidade tessalonicense, de Atenas enviou Timóteo e Silas para lá (1Ts 3:1-2). Quando Timóteo voltou, encontrou Paulo em Corinto. Impossibilitado de ir à Tessalônica (1Ts 2:18), ainda de Corinto, Paulo escreveu a presente epístola. A narrativa de Atos nos informa que Paulo permaneceu em Corinto durante um ano e seis meses (At 18.11). A perseguição contra Paulo ocorreu enquanto Gálio (irmão do filósofo Sêneca) era procônsul da Acaia. Este cargo durava um ano, podendo ser renovado. Conforme a inscrição de Delfos, Gálio governou como procônsul da primavera de 51 até 52 d.C. Portanto, a primeira carta foi escrita nos últimos meses do ano 50 e nos primeiros de 51, poucos meses depois da fundação da comunidade de Tessalônica e depois do envio de sua epístola aos Gálatas. Na primeira carta aos tessalonicenses ele demonstra realmente que era um apocalíptico e, portanto, não podia negar a sua própria mensagem (1Ts 5:2-4) (Heyer, 2009, p. 85). 10 Podemos perceber a posição geográfica de Tessalônica no norte do mapa: Figura 2 – Mapa da Segunda Viagem de Paulo Crédito: Arquivo/João Moreira Como vimos, Paulo havia enviado de volta de Atenas Timóteo e Silas (At 18.5) a fim de consolar os tessalonicenses, dos quais recebeu boas notícias de seus colaboradores em seu retorno a Corinto, mas também relatos sobre alguns problemas. Vários convertidos haviam morrido e isso levantou a questão: será que aqueles que morreram antes da volta de Cristo ficariam excluídos da salvação final? O apóstolo escreveu a fim de consolar e confirmar a salvação de todos aqueles que creram (Carson, 1997, p. 388). Os missionários Paulo, Silas e Timóteo alcançaram a cidade de Tessalônica durante a “Segunda Viagem Missionária”. A moderna cidade de Salônica ostenta a abreviação do nome conhecido no Novo Testamento. Sob o domínio dos romanos, a cidade foi feita capital da província romana da Macedônia em 146 a.C. Era a maior cidade da província, com uma população aproximada de 200.000 habitantes no primeiro século; importante rota comercial, militar e com influência política. 11 4.1 Problemas da igreja Vejamos alguns problemas que a Igreja de Tessalônica enfrentou. Pelo texto, você pode facilmente perceber que a comunidade cristã parece ter problemas ou talvez dúvidas quanto à pureza sexual (Bíblia, 1 Tessalonicenses, 2009, 4:1-8). Paulo trata da questão do amor recíproco e da necessidade de que cada um trabalhe com as próprias mãos (1Ts 4:9-12), para, em seguida, entrar naquilo que podemos chamar de propósito da epístola: o futuro dos cristãos que morreram e a vinda de Cristo (1Ts 4:13-5:11). A abordagem sobre os cristãos que morreram (1Ts 4:13-18) nos faz recordar de que o tempo em que Paulo esteve com eles deve mesmo ter sido bastante breve e, neste intervalo alguns haviam morrido, e a comunidade cristã não sabia o que aconteceria com eles. Dessa forma, Paulo respondeu com convicção: os mortos serão ressuscitados; os vivos serão levados à presença de Cristo em sua vinda. Ainda que a pregação missionária em Tessalônica tivesse, em boa parte, abordado a questão da volta de Cristo, algumas questões, evidentemente, tinham ficado sem resposta. Particularmente, a Igreja estava tentando saber se as glórias do “grande dia” estavam reservadas para os vivos. Paulo explica que os cristãos mortos vão compartilhar tanto do triunfo quanto da ressurreição do Senhor Jesus Cristo. O versículo 17 menciona simplesmente a realidade de “estarmos com o Senhor para sempre”, mas não especifica se os santos retornam à Terra com ele imediatamente, ou depois de um intervalo, ou se o “novo céu e a nova terra” seguem imediatamente (Bruce, 2009, p. 2035-2036). Esta situação parece ter causado bastante ansiedade, o que leva Paulo a encorajá-los tratando da vinda de Cristo. A epístola era lida frequentemente como advertência, mas devemos ler a passagem como um encorajamento a uma comunidade de cristãos que estão sofrendo (1Ts 4:.11). Uma vez que eles são filhos da luz, não tomam parte em atividades noturnas, nem devem ser pegos de surpresa na vida de Cristo (Fee, 2013, p. 434, 435). 12 Tabela 2 – Esboço de 1 Tessalonicenses: Saudação e introdução da carta 1:1-10 Agradecimentos 2:1-3.13 Exortações éticas 4:1-5.24 Encerramento da carta 5:25-28 Fonte: Fluck, 2021. Esse é um esboço bastante resumido, mas que nos apresenta o esquema e a estrutura da carta. Através dele podemos ter uma visão sintética de seu conteúdo. 4.2 Questões teológicas A ênfase teológica da Primeira Carta aos Tessalonicenses é a volta de Cristo e a santificação. Paulo quer ajudar os cristãos da igreja de Tessalônica a entenderem como será a segunda vinda de Jesus Cristo, além de fazer com que eles tenham esperança e se preparem para a volta de Jesus. TEMA 5 – SEGUNDA EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES Vamos começar agora a aprender sobre a Segunda Epístola aos Tessalonicenses, que sem dúvida foi a carta mais apocalíptica de Paulo, tanto no sentido de destacar os castigos divinos quanto no de anunciar uma série de acontecimentos. Embora este conteúdo tenha contribuído para que muitos estudiosos considerassem essa carta como não sendo de autoria paulina, até o dia de hoje não se pode afirmar que a questão esteja resolvida (Bosch, 1998, p. 155). Como na epístola anterior, você também aprenderá sobre o lugar em que a epístola foi escrita, a data e a ocasião. Não resta dúvida que a segunda epístola foi escrita principalmente para apresentar o cenário apocalíptico (Bíblia, 2 Tessalonicenses, 2009, 2: 1-12). Paulo quis responder às interrogações dos cristãos que estranhavam que o dia do Senhor não chegasse tão depressa como pensavam. 13 5.1 O aparecimento do anticristo como precondição A leitura do trecho de 2Ts 2:1-12 nos faz descobrir que surgiram profetas cristãos primitivos na comunidade que se reportaram a uma pretensa carta de Paulo e pregaram a volta de Cristo como uma realidade presente. O apóstolo aconselha a comunidade de Tessalônica a respeito do ensino atribuído a ele segundo o qual o dia do Senhor já começou. É interessante percebermos que esses versículos associam “nossa reunião com ele” com “o dia do Senhor”. Duas palavras são utilizadas para descrever o efeito perturbador desse ensino. O apóstolo, que não sabe exatamente o que aconteceu, se refere de três formas possíveis em que o falso ensino pode ter chegado a Tessalônica. Essas três formas são regidas por “supostamente vinda de nós”: elas são uma revelação alegadamente divina, um ensino falado atribuído ao apóstolo e uma carta, ou forjada ou atribuída erroneamente a ele. Dizia-se que a série de eventos concernentes ao dia do Senhor tinha começado a se desenrolar (Bruce, 2009, p. 2041). Essa doutrina parece ter sido motivo de confusão entre os destinatários. Assim, Paulo recorda seu ensino, já repassado anteriormente à comunidade, segundo o qual antes da volta de Cristo é necessário que venham primeiramente o afastamento da fé e da prática em relação a Deus e ao anticristo. Atualmente existe alguma grandeza que retém o anticristo; quando esta tiver sido afastada, ocorrerá a revelação do “homem da iniquidade” (Bíblia,2 Tessalonicenses, 2009, 2:8), que hoje atua de “forma secreta” (Bull, 2009, p. 109, 110). O aparecimento e destruição dele se dará por ocasião da volta do Senhor Jesus, e implicará que aqueles que se deixam tentar por ele serão tragados juntos na destruição. No trecho de 2Ts 3:6-12 Paulo os exorta como quem ameaça com uma sentença “em nome do Senhor Jesus Cristo”. Alguns dentro da comunidade andam preocupados e ociosos; é preciso seguir o exemplo de Paulo que trabalhou noite e dia para que não fosse pesado à comunidade, mesmo tendo o direito de ser sustentado por ela (2Ts 9). Daí ele passa à exortação mais geral, orientando-os à prática incansável do bem (2Ts 13) e para que possam atrair para o bom caminho aqueles que se desviaram (2Ts 14s). 14 Quadro 1.2 – Esboço de 2 Tessalonicenses: Introdução da carta 1:1-12 Ensinamento escatológico 2:1-12 Gratidão e chamada à permanência na fé 2:13-17 Chamada à intercessão 3:1-5 Orientações sobre como agir com os desorientados 3:6-13 Conselhos finais 3:14-16 Pós-escrito 3:17-18 Fonte: Fluck, 2021. Este esboço sucinto e esclarecedor oferece uma visão inicial bastante clara. Na Segunda Carta aos Tessalonicenses, Paulo os adverte ainda sobre a volta de Cristo. Paulo os alerta que não precisariam andar ansiosos e nem ociosos quanto à vinda de Cristo e que deveriam trabalhar para seu próprio sustento de cada dia. A carta ainda ressalta a expectativa do apóstolo quanto à volta de Cristo e incentiva a igreja à vida sóbria que provém da fé. NA PRÁTICA A epístola aos Gálatas se relaciona ao tema do primeiro concílio de Jerusalém, a pergunta sobre qual é a maior autoridade, se é Moisés ou Cristo. Gálatas mostra a declaração de independência cristã, bem como a suficiência e universalidade de Cristo. São apresentados também os elementos essenciais da fé e da vida cristã. FINALIZANDO Estimado e estimada estudante, chegamos ao fim desta aula. Estudamos a Epístola aos Gálatas, identificamos quem eram os gálatas que receberam essa epístola, a sua importância, a data provável de sua escrita, seus objetivos e a necessidade da convocação do Primeiro Concílio Eclesiástico em Jerusalém. Aprendemos também sobre a Primeira e a Segunda Epístola aos Tessalonicenses; vimos como era a cidade de Tessalônica, como ocorreu a fundação da igreja, os problemas surgidos com a saída de Paulo para outras cidades e os propósitos dessas duas epístolas. Até mais! 15 REFERÊNCIAS BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: Almeida revista e atualizada, 2ª ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. BORNKAMM, G. Bíblia, Novo Testamento: introdução aos seus escritos no quadro da história do cristianismo primitivo. São Paulo: Editora Teológica, 2003. BROWN, R. E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004. BRUCE, F.F. (org.). Comentário bíblico NVI. São Paulo: Vida, 2009. BULL, K.M. Panorama do Novo Testamento: história, contexto e teologia. 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