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MÓDULO III AGENTES FÍSICOS: RUÍDO E VIBRAÇÃO Prof. Dr. Walter dos Reis Pedreira Filho1 Pesquisador Titular da Fundacentro - SP Profª. MSc. Fernanda Anraki Vieira2 Perita Judicial do TRT3 - MG e TRT8 – PA 1 Ǫuímico Industrial. Mestre e Doutor em Ǫuímica Analítica. 2 Eng. Ǫuímica e Seg. do Trabalho. Mestra em Trabalho, Saúde e Ambiente. 2 3 RUÍDO O som é um fenômeno físico oriundo de vibrações mecânicas que se propagam em forma de ondas no ar (GERGES, 2000. SALIBA, 2018). São propriedades da onda sonora: a) Frequência: número de oscilações que uma onda realiza em um intervalo de tempo. Permite distinguir sons graves (baixas frequências) de sons agudos (altas frequências), sendo representada pela unidade Hertz (Hz). A onda sonora se propaga dentro da frequência de 20 a 20.000 Hz, sendo esta a faixa audível ao ouvido humano (GERGES, 2000. SALIBA, 2018). b) Amplitude: é a medida da extensão da perturbação da onda durante um ciclo. Permite distinguir um som forte de um som fraco, mais comumente conhecida como volume do som. A unidade da amplitude é Newton por metro quadrado (N/m²) ou Decibel (dB). A onda sonora possui amplitude entre o limiar de audição (2x10-5 N/m² = 0 dB) e o limiar da dor (20 N/m² = 140 dB) (GERGES, 2000. SALIBA, 2018). O som faz parte do cotidiano. Porém, quando este é desagradável ou indesejado, o definimos como ruído. O efeito do ruído sobre o indivíduo não depende somente de suas propriedades físicas, mas também do modo como o indivíduo o percebe, sendo esta percepção subjetiva (GERGES, 2000). É considerado um fenômeno físico que indica uma mistura de sons, cujas frequências não seguem uma regra precisa. O ruído pode se apresentar nas seguintes formas: – Ruído contínuo: permanece “estável”, com variações máximas de 3 dB durante um longo período (superior a 15 minutos). Por exemplo, o ruído oriundo de máquinas em operação contínua. – Ruído intermitente: ruído com variações, maiores que 3 dB, em períodos curtos (menores que 15 minutos). Por exemplo: ruído oriundo de máquinas que operam em ciclos repetitivos ao longo do dia. – Ruído de impacto: apresenta picos com duração menor que 1 segundo a intervalos superiores a 1 segundo. Por exemplo, uma prensa que realiza menos de 30 prensagens por minuto (SALIBA, 2018). O ruído possui limite de tolerância, que é a intensidade máxima relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará danos à saúde do trabalhador durante a sua vida laboral. A exposição a altos níveis de ruído, por períodos de tempo prolongado, pode levar o indivíduo à perda de audição. A perda auditiva é configurada pela redução da sensibilidade de audição que ocorre devido aos danos causados às células da cóclea (GERGES, 2000). 4 O primeiro efeito fisiológico da exposição a altos níveis de ruído é a perda temporária de audição na banda das frequências de 4.000 a 6.000 Hz, sendo possível ao ouvido se recuperar. A recuperação ocorre através de um período estimado entre 11 a 14 horas de repouso acústico. Caso a exposição ocorra novamente antes da total recuperação do sistema auditivo, as células do ouvido interno são danificadas e a perda auditiva pode se tornar permanente, inclusive em outras frequências. A perda auditiva permanente é denominada Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR). Quando a origem é sabidamente ocupacional, é chamada de Perda Auditiva Induzida por Ruído Ocupacional (PAIRO) (GERGES, 2000, SALIBA 2018). A perda auditiva permanente por exposição ao ruído se inicia geralmente na faixa de 3.000 a 6.000 Hz, principalmente na frequência de 4.000 Hz. Enquanto situada nesta faixa, o indivíduo pode não perceber esta perda, pois ela não influencia a faixa de frequência da conversação humana (500 a 2.000 Hz). Ou seja, não há prejuízo da fala, escuta ou entendimento da conversação ou audição de músicas ou TV. Daí a importância de se detectar e interromper a PAIR nos estágios iniciais, visto que ainda não ocorreu prejuízo da comunicação, que pode impactar na qualidade de vida do trabalhador (SALIBA, 2018). Quando a frequência de 3.000 Hz é comprometida, surgem as primeiras dificuldades na comunicação. Geralmente, quando há presença de ruído de fundo, conversas paralelas etc. Se a faixa de 2.000 Hz é comprometida, é comum que o indivíduo tente compensar a perda auditiva fixando o olhar nos lábios de quem fala, ou falando mais alto. Se a faixa de 1.000 Hz ou menos é comprometida, os prejuízos sociais são evidentes e o indivíduo tende a apresentar desdobramentos psíquicos. Ainda que irreversível, é muito raro que a PAIR cause incapacidade parcial ou total para o trabalho (SALIBA, 2018). A perda auditiva pode ser mensurada através de um exame denominado audiometria. Neste exame são medidos os limiares auditivos do indivíduo em várias frequências. Quando a perda auditiva é menor que 25,0 dB(A), entende-se que ela está dentro da normalidade. Perdas auditivas entre 30,0 a 35,0 dB(A) são consideradas pequenas, sobretudo, se ocorrerem em uma frequência específica. Já as perdas maiores que 35,0 a 40,0 dB(A) são consideradas significativas, devendo-se considerar, inclusive, outras causas isoladas ou associadas à exposição ao ruído (SALIBA, 2018). Sons de curta duração e alta intensidade podem causar o trauma acústico. Este é configurado pela perda auditiva imediata, severa e permanente (SALIBA, 2018). Ainda, a exposição prolongada a altos níveis de ruído, além de provocar danos ao sistema auditivo, é a causa de outros efeitos sobre o corpo humano, tais como: aumento de batimentos cardíacos, hipertensão arterial, estreitamento dos vasos sanguíneos, tensão muscular, alterações digestivas, disfunção hormonal, redução da libido, dificuldade de repouso do corpo, aumento da frequência respiratória, vertigem e cefaleia. Os efeitos dessas alterações podem se manifestar na forma de mudanças de comportamento, por exemplo, nervosismo, fadiga mental, frustração, prejuízo no desempenho no trabalho (GERGES, 2000. SALIBA, 2018). Como desdobramentos dos efeitos extra-auditivos, a taxa de ausência no trabalho aumenta e o trabalhador pode ter dificuldades em lidar com conflitos ou situações atípicas no ambiente de trabalho. Estes desdobramentos, inclusive, podem levar à ocorrência de acidentes de trabalho. 5 LEGISLAÇÃO DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR SOBRE RUÍDO A legislação brasileira que trata sobre a exposição ocupacional à ruído é a Norma Regulamentadora 15 (NR-15), que trata do ruído contínuo e intermitente em seu Anexo 1, e do ruído de impacto, em seu Anexo 2, da Portaria MTb nº 3.214, de 08/06/1978 e alterações, que regulamenta o Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. As avaliações de ruído são de caráter quantitativo e conferem ao trabalhador a percepção do adicional de insalubridade, em grau médio, caso os limites de tolerância sejam ultrapassados sem que se tome as devidas medidas de proteção. Anexo 1 da NR-15 - Ruído Contínuo e Intermitente Considera-se ruído contínuo aquele cuja variação de nível de pressão sonora varia ± 3dB durante um período longo de observação (maior que 15 minutos). O ruído intermitente possui variação igual ou maior que ± 3dB em curtos intervalos de tempo (menor que 15 minutos) e superior a 0,2 segundos (SALIBA, 2018). Do ponto de vista ocupacional, não há diferenciação entre o ruído contínuo e o ruído intermitente. Portanto, considera-se ruído contínuo ou intermitente o ruído que não é de impacto (BRASIL, 1978). O Anexo 1 da NR-15 apresenta uma tabela com os limites de tolerância em função do nível de ruído em dB(A) e a máxima exposição diária permissível. Para um nível de ruído de 85,0dB(A), a máxima exposição diária permissível é de 08h (oito horas). Ainda, referido anexo estabelece os critérios de medição - medidos em decibéis (dB) com instrumento de nível de pressão sonora operando no circuito decompensação “A”, circuito de resposta lenta (SLOW), e leituras feitas próximas ao ouvido do trabalhador. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores a níveis de ruído, contínuo ou intermitente, superiores a 115 dB(A), sem proteção adequada, se configuram como risco grave e iminente (BRASIL, 1978). Da análise da tabela de limites de tolerância para exposição a ruído contínuo ou intermitente do Anexo I da NR-15, verifica-se que o fator, ou incremento, de duplicação de dose (q), ou seja, o incremento em decibéis que, quando adicionado a um determinado nível, implica a duplicação da dose de exposição ou a redução para a metade do tempo máximo permitido (BRASIL, 2001), é de 5,0 dB(A). Anexo 2 da NR-15 - Ruído de Impacto Considera-se ruído de impacto aquele que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a um segundo, a intervalos superiores a um segundo (BRASIL, 1978). O Anexo 2 da NR-15 apresenta como limite de tolerância para o ruído de impacto o nível de 130 dB (linear), sendo que nos intervalos entre os picos, o ruído existente deve ser avaliado como ruído contínuo. Ainda, referido anexo estabelece os critérios de medição - medidos em decibéis (dB) com instrumento de nível de pressão sonora operando no circuito linear de 6 resposta para impacto, e leituras feitas próximas ao ouvido do trabalhador (BRASIL, 1978). Em caso de não se dispor de medidor de nível de pressão sonora com circuito de resposta para impacto, será válida a leitura feita no circuito de resposta rápida (FAST) e circuito de compensação “C”, com limite de tolerância de 120 dB(C). As atividades ou operações que exponham os trabalhadores, sem proteção adequada, a níveis de ruído de impacto superiores a 140 dB(LINEAR), medidos no circuito de resposta para impacto, ou superiores a 130 dB(C), medidos no circuito de resposta rápida (FAST), se configuram como risco grave e iminente. (BRASIL, 1978). AVALIAÇÃO DE RUÍDO E NORMA DE HIGIENE OCUPACIONAL 01 (NHO-01) A Norma de Higiene Ocupacional 01 (NHO-01) é uma norma técnica, de publicação nacional, pela Fundacentro, órgão federal de pesquisas em saúde e segurança do trabalhador do Ministério do Trabalho, com o objetivo de estabelecer critérios e procedimentos para a avaliação da exposição ocupacional ao ruído, que implique risco potencial de surdez ocupacional (BRASIL, 2001). A NHO-01 diz que a avaliação de ruído deverá ser feita de forma a caracterizar a exposição de todos os trabalhadores considerados no estudo (BRASIL, 2001). Isto significa definir uma estratégia de medição que contemple todas as situações de exposição no ambiente de trabalho. Para que não seja necessário avaliar todos os trabalhadores, pode-se verificar se existem grupos homogêneos de trabalhadores, ou seja, grupos de trabalhadores que estão expostos às mesmas condições de trabalho, de forma que o resultado de uma avaliação seja representativo para todos os trabalhadores que compõem tal grupo (BRASIL, 2001). Se houver dúvidas quanto à possibilidade de redução do número de trabalhadores a serem avaliados, a abordagem deverá avaliar todos os trabalhadores expostos. As medições devem ser representativas das condições reais de exposição, ou seja, devem contemplar todas as condições, operacionais e ambientais habituais, que envolvem o trabalhador no exercício de suas funções (BRASIL, 2001). O período de amostragem deverá ser escolhido de forma que este seja representativo da jornada de trabalho. Se forem identificados ciclos repetitivos, eles deverão ser suficientes para caracterizar a jornada. Se forem identificados ciclos irregulares ou grande variação de ruído, deverão ser medidos números maiores de ciclos para caracterizar a exposição (BRASIL, 2001). Se no decorrer da jornada o trabalhador executar duas ou mais rotinas independentes de trabalho, a avaliação poderá ser feita separadamente em cada uma das rotinas e posteriormente calcular a exposição diária. Igualmente, se houver dúvidas quanto à possibilidade de redução do tempo de amostragem, esta deverá envolver toda a jornada de trabalho (BRASIL, 2001). Os procedimentos de avaliação não devem interferir na medição. Condições não rotineiras, ou seja, eventuais, devem ser avaliadas e interpretadas isoladamente. Ainda, deve-se obter informações administrativas que comprovem as condições verificadas em campo (BRASIL, 2001). 7 Conforme a NHO-01, são procedimentos gerais de medição: – Preparação do instrumento: • escolher equipamento adequado à medição devidamente certificado; • verificar a integridade do equipamento (microfones, cabos, etc.); • verificar a carga da bateria; • ajustar os parâmetros de medição conforme critério de avaliação; • proceder à calibração inicial. – Abordagem do trabalhador: • escolher o trabalhador a ser avaliado; • explicar ao trabalhador sobre o objetivo da medição, que a medição não deve interferir em suas atividades habituais, que as medições não efetuam gravações de conversas, que o equipamento ou microfone nele fixado só pode ser removido pelo avaliador, que o microfone não pode ser avaliado ou obstruído, entre outros aspectos pertinentes; • posicionar o equipamento no trabalhador, sendo que o microfone deve estar dentro da zona auditiva. O equipamento e o cabo (quando houver) devem ser fixados para que não ocorra interferência na medição. Se forem identificadas diferenças significativas entre os níveis de pressão sonora dos dois ouvidos, as medições deverão ser realizadas no lado exposto ao maior nível. • dar início à medição. – Acompanhamento da medição: • Durante a medição, o avaliador não deve interferir no campo acústico ou nas condições de trabalho; • O avaliador deve verificar, de tempos em tempos, se o equipamento está operando normalmente e se o trabalhador está executando atividades habituais. – Finalização da medição: • decorrido o tempo de amostragem, retirar o equipamento do trabalhador; • obter o relatório da medição, seja via software ou impressão; • -proceder a calibração final. Caso a aferição da calibração apresentar variação maior que ±1dB, esta deve ser desprezada; • ainda, caso o nível de tensão da bateria esteja abaixo do mínimo aceitável ou o equipamento tenha sofrido qualquer prejuízo à sua integridade, a medição também deverá ser descartada. – Interpretação dos resultados: • Cada equipamento fornece os resultados em um relatório da medição com histograma. O relatório e histograma obtidos da avaliação realizada fornecerão os dados para cálculo no nível equivalente de ruído e da dose de exposição. Com base nos resultados obtidos, a atuação recomendada pela NHO-01 é a seguinte: 8 1 – Relatório de medição: • A NHO-01 recomenda que no relatório técnico sejam abordados no mínimo: • Introdução, incluindo objetivos do trabalho, justificativa e datas ou períodos em que foram desenvolvidas as avaliações; • Critério de avaliação adotado; • Instrumental utilizado; • Descrição das condições de exposição avaliadas; • Dados obtidos; • Interpretação dos resultados. O relatório de medição deve possibilitar a compreensão, por leitor qualificado, do trabalho desenvolvido, além de documentar a avaliação (BRASIL, 2001). ATENÇÃO!!! O fator, ou incremento, de duplicação de dose (q), ou seja, o incremento em decibéis que, quando adicionado a um determinado nível, implica a duplicação da dose de exposição ou a redução para a metade do tempo máximo permitido NA NHO-01 é de 3,0 dB(A). Isso significa que os limites de exposição da NHO-01 são diferentes do Anexo 1 da NR-15. Logo, para avaliação quantitativa de ruído, utiliza-se os procedimentos de medição da NHO-01 e os limites de tolerância da NR-15. 1 Fonte: (BRASIL, 2001). 9 PARÂMETROS DE MEDIÇÃO Para que a avaliação de ruído possa ser realizada, é necessária a compreensão dos parâmetros de medição para configuração dos diversos modelos de equipamentos existentes no mercado e ainda a interpretação dos resultados fornecidos nasavaliações. Os parâmetros de medição são: – Dose Equivalente de Ruído ou Efeitos Combinados: Quando ocorrem dois ou mais períodos de exposição a diferentes níveis de ruído, deve- se considerar os seus efeitos combinados (BRASIL, 1978). O cálculo do efeito combinado, ou dose equivalente de ruído, é obtido através da soma das seguintes frações: C1 C2 C3 CnD=___+___+___…___ T1 T2 T3 Tn Onde: – D é dose equivalente de ruído; – Cn é o tempo total de exposição a um nível específico; – Tn é a duração total permitida neste nível, conforme a tabela do Anexo I da NR-15. Caso o resultado da dose equivalente seja superior à unidade ou 100%, o limite de tolerância terá sido ultrapassado. Ou seja, a dose é um parâmetro utilizado para caracterizar a exposição ao ruído, expresso em porcentagem de energia sonora, tendo como referência o valor máximo da energia sonora diária admitida, definida com base em outros parâmetros pré- estabelecidos: fator de duplicação de dose, critério de referência e nível limiar de integração (BRASIL, 2001). – Fator (ou Incremento) de Duplicação de Dose (q) ou Exchange Rate (ER) Como já exposto anteriormente, é o incremento em decibéis que, quando adicionado a um determinado nível, implica a duplicação da dose de exposição ou a redução para a metade do tempo máximo permitido (BRASIL, 2001). Ou seja, a quantidade de decibéis que representa a duplicação da intensidade do ruído. O fator de duplicação de dose do Anexo 1 da NR-15 é de 5,0 dB(A), e algumas normas utilizam o incremento de duplicação de dose q=3, inclusive, a própria NHO-01. Essa diferença implica em diferentes abordagens e resultados nas medições de ruído. – Critério de Referência (CR) ou Criterion Level (CL) Conforme a NHO-01, critério de referência é o nível médio para o qual a exposição, por um período de 8 horas, corresponderá a uma dose de 100%. No caso do Anexo 1 da NR-15, trata-se do limite de tolerância que é 85,0 dB(A) (BRASIL, 2001). 10 – Nível Limiar de Integração (NLI) ou Threshold Level (TL) É o nível de ruído a partir do qual os valores devem ser computados na integração para fins de determinação de nível médio ou da dose de exposição. Ou seja, a partir de qual nível de ruído o instrumento irá medir. Níveis abaixo do nível limiar de integração são desconsiderados nos cálculos (BRASIL, 2001). – Nível Equivalente de Ruído (Neq), ou Equivalent Level (Leq), ou Average Level (Lavg), ou Nível de Exposição (NE) O nível equivalente é o nível médio baseado na equivalência de energia (BRASIL, 2001). Ou seja, representa os níveis de pressão sonora médios ao longo do tempo, definido pela seguinte expressão (SALIBA, 2018): Para fator de duplicação de dose q = 5: D x 8Lavg = 16,61 x log _____ + 85 T Para fator de duplicação de dose q = 3: D x 8Leq = 10 x log _____ + 85 T Onde: – Lavg / Leq são os níveis equivalentes de ruído; – D é a dose equivalente em fração decimal, ou seja, o valor obtido pelo instrumento de medição deve ser dividido por 100; – T é o tempo de medição. – Média Ponderada no Tempo ou Weighted Average Sound Level (TWA) O nível equivalente de ruído para 8 horas é denominado TWA (Weighted Average Sound Level) e é obtido pelas seguintes equações (SALIBA, 2018): Para q = 5: TWA = 16,61 x logD + 85 Para q = 3: TWA = 10 x logD + 85 11 – Nível de Exposição Normalizado (NEN) Conforme a NHO-01, o nível de exposição normalizado (NEN) é o nível de exposição (NE) convertido para uma jornada padrão de 08 horas diárias, para fins de comparação com o limite de exposição (BRASIL, 2001). Para q = 5: TENEN = NE + 16,61 log _____ 480 Para q = 3: TENEN = NE + 10 log _____ 480 Onde: – NEN é o nível de exposição normalizado para comparação com o limite de tolerância; – NE é o nível de exposição (ou Leq/Lavg); – TE é o tempo de duração, em minutos, da jornada diária de trabalho. 12 CONFIGURAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS Os equipamentos de medição de ruído devem ser configurados conforme as normas vigentes para a avaliação de ruído ocupacional e ambiental. Normalmente, os itens a serem configurados nos equipamentos são: – Circuito de ponderação: conforme curvas de compensação A, B, C ou D. No caso da NR- 15, para ruído contínuo e intermitente, será A. – Circuito de resposta: determina a rapidez com que o medidor acompanha as variações nos níveis de ruído. Pode ser lento (“slow”), rápido (“fast”), impulso (“impluse”) ou pico (“peak”). No caso da NR-15, para ruído contínuo e intermitente, será lenta (“slow”). – Incremento de duplicação de dose (q): no caso da NR-15, para ruído contínuo e intermitente, será 5,0 dB(A). – Critério de referência (CR): no caso da NR-15, para ruído contínuo e intermitente, será o limite de tolerância para 08 horas que é 85,0 dB(A). – Nível limiar de integração: no caso da NR-15, para ruído contínuo e intermitente, será de 80,0 dB(A), pois se trata do menor nível apresentado na tabela de limites de tolerância e é o valor do nível de ação mencionado no PPRA na NR-9. – Faixa de medição mínima (ou “Range”): faixa de ruído que o aparelho irá medir. No caso da NR-15, para ruído contínuo e intermitente, será 80 a 115 dB(A), visto que 80,0 dB(A) é o nível limiar de integração e que 115,0 dB(A) é o nível considerado risco grave e iminente. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE RELATÓRIOS E HISTOGRAMAS Conforme já mencionado, as nomenclaturas dos parâmetros de medição podem ser diferentes de equipamento para equipamento. Portanto, deve-se atentar ao manual do equipamento utilizado para que não ocorram erros na leitura e interpretação dos parâmetros. Como exemplo, seguem os parâmetros do audiodosímetro Simpson 897: 2 2 Figura 1: Parâmetros do audiodosímetro Simpson 897. Fonte: PS Controles Industriais. 13 Os parâmetros configurados no equipamento, antes e após a medição, são registrados em um relatório de medição com histograma (histórico da medição ao longo do tempo). É de suma importância saber ler e interpretar o relatório e o histograma, pois através deles é possível obter os resultados da medição e verificar se houve algum erro na metodologia de avaliação. A seguir, como exemplo, um modelo de relatório de medição e histograma do equipamento Simpson 897. 3 A leitura e interpretação do relatório e histograma é: – Criterion (ou critério de referência): 85,0 dB; – Thershold (ou nível limiar de integração): 80,0 dB; – Exchange rate (ou fator de duplicação de dose): 5,0 dB; – Job (ou trabalho): campo para preenchimento da função avaliada; – Name (ou nome): campo para preenchimento com o nome do trabalhador avaliado; – Location (ou localização): campo para preenchimento do setor avaliado; – Start date (ou data de início): data da medição; – Start time (horário de início): horário de início da medição; – Calibration (ou calibração): calibração em 114,0 dB, às 08:09h, do dia 06/05/02 em Range (ou faixa de medição) de 80 a 130 dB; – Calibration (ou calibração): calibração em 94,0 dB, às 08:40h, do dia 06/05/02 em Range (ou faixa de medição) de 50 a 100 dB; 3 Figura 2: Relatório de medição e histograma do equipamento Simpson 897. Fonte: PS Controles Industriais. 14 – Measurement summary (resumo da medição): são apresentados os dados obtidos; – Run time (ou tempo de execução): 00:17, ou seja, foram medidos 17 minutos; – Hold time (ou tempo de espera): 00:02, ou seja, o equipamento permaneceu em modo de espera por 02 minutos; – Leq: 115,5 dB(A); – SPL Max (ou nível de pressão sonora máximo da medição): *130,0 dB(A), ou seja, foram medidos níveis equivalentes ou superiores a 130,0 dB(A). Como a faixa de medição do equipamento vai até 130 dB, os níveis de ruído acima deste valor não foram registrados; – Dose: 108,0%; – 140 dB Peaks (ou picos iguais ou maiores que 140 dB): 0, ou seja, não houveram picos equivalentes ou superiores a 140 dB; – Histograph (ou histograma): são apresentados os tempos de medição, nestecaso, a cada 5 minutos, com os respectivos níveis de pressão sonora médios. UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES DOS EQUIPAMENTOS Os equipamentos que possuem softwares permitem a visualização dos parâmetros da medição no computador. São utilizados os mesmos princípios da leitura e interpretação dos relatórios e histogramas, onde é necessário verificar no manual a nomenclatura de cada parâmetro. Segue a interface de configuração do equipamento DOS 600: 4 4 Figura 3: Interface de configuração do equipamento DOS 600. Fonte: Instrutherm. 15 Abaixo, um modelo de relatório de dados e um histograma do equipamento DOS 600: 5 6 5 Figura 4: Relatório de dados do equipamento DOS 600. Fonte: Instrutherm. 6 Figura 5: Histograma do equipamento DOS 600. Fonte: Instrutherm. 16 MEDIDAS DE CONTROLE A propagação do som ocorre em forma de ondas esféricas a partir da fonte. Duas situações podem dificultar essa propagação: – a presença de obstáculos na trajetória do som; – a não uniformidade do meio, por exemplo, ventos e/ou gradientes de temperatura (GERGES, 2000. SALIBA, 2018). Para controle da propagação de ruído no ambiente, a hierarquia de controle atua primeiramente na fonte, em seguida na trajetória e por último no trabalhador. A implantação das medidas de controle deve ser acompanhada de treinamento dos trabalhadores e avaliação da eficácia destas (BRASIL, 1978). – Controle na fonte: É a medida mais indicada no controle de ruído, vez que elimina ou reduz os níveis de ruído emitidos no ambiente. O momento mais apropriado é no planejamento das instalações, onde pode-se optar por adquirir equipamentos menos ruidosos e sistematizar o layout da forma mais conveniente (SALIBA, 2018). Uma vez que a instalação já existe, o controle na fonte pode ser feito através de outras medidas, como por exemplo: – Substituição de equipamentos por outros menos ruidosos; – Manutenção preventiva nos equipamentos; – Lubrificação periódica das partes e componentes dos equipamentos; – Reduzir impactos, quando estes existirem e forem possíveis; – Programar as operações de modo que o mínimo de equipamentos permaneça ligados simultaneamente; – Entre outras (SALIBA, 2018). – Controle na trajetória Quando o controle na fonte não é possível, deve-se estudar a possibilidade de medidas de controle na trajetória de propagação do som. Neste caso, a intensidade do ruído produzida é a mesma, porém, é atenuada através de absorção ou isolamento (SALIBA, 2018). A absorção ocorre quando o som encontra uma superfície composta de materiais porosos ou fibrosos. Os coeficientes de absorção dos materiais variam conforme a frequência do som. Já o isolamento consiste em evitar a transmissão do som de um ambiente para outro, fazendo o uso de materiais isolantes (SALIBA, 2018) No caso do isolamento, é possível se isolar a fonte, por exemplo, na construção de uma barreira entre a fonte de ruído e o meio para evitar a propagação do som. Também é possível isolar o receptor, quando se impõe uma barreira entre a fonte e o indivíduo exposto ao ruído, por exemplo, na implantação de cabines em equipamentos (SALIBA, 2018). 17 – Controle no trabalhador: Não sendo possível o controle na fonte e na trajetória, deve-se adotar medidas no trabalhador, que contemplam medidas administrativas para reduzir sua exposição ou o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Quanto às medidas administrativas, a limitação do tempo de exposição do trabalhador consiste em reduzir o tempo de exposição aos níveis de ruído elevados. Isso pode ser feito, por exemplo, através de rodízio entre os trabalhadores. Para o sucesso dessas medidas, um estudo sistemático do tempo das tarefas, métodos de trabalho, monitoramento de ruído etc., deve ser cuidadosamente realizado (SALIBA, 2018). Já o controle do ruído feito pelo uso de EPI deve considerar os requisitos da Norma Regulamentadora 6 (NR-6), tais como: – Seleção do EPI; – Fator de atenuação; – Uso efetivo durante a exposição; – Vida útil e periodicidade de troca (SALIBA, 2018). 18 MATERIAL COMPLEMENTAR DE RUÍDO Norma de Higiene Ocupacional - Procedimento Técnico - Avaliação da Exposição Ocupacional ao Ruído - NHO 01. Disponível em: http://arquivosbiblioteca.fundacentro.gov.br/exlibris/aleph/a23_1/apache_ media/A5RGFHYSQ5TA7P816K7QPT4AB9KDFP.pdf ARTIGOS Análise de programas de preservação da audição em quatro indústrias metalúrgicas de Piracicaba, São Paulo, Brasil. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2006000 300016&lng=pt&nrm=iso A percepção sobre protetores auriculares por trabalhadores participantes de programas de preservação auditiva: estudo preliminar. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/codas/v27n4/pt_2317-1782-codas-27-04-00309.pdf Avaliação do conforto do protetor auditivo individual numa intervenção para prevenção de perdas auditivas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v15n5/177-11.pdf Equipamento de proteção individual auricular: avaliação da efetividade em trabalhadores expostos a ruído. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v18n3/1982-0216-rcefac-18-03-00667.pdf Estudo comparativo entre os fatores de duplicação da dose de ruído Q5 e Q3. Disponível em: http://ftp.astecconsultoria.com.br/pdfs/Artigo%20-%20Suelen.pdf Estudo dos efeitos auditivos e extra-auditivos da exposição ocupacional a ruído e vibração. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 72992002000500017&lng=pt&nrm=iso Exposição ao ruído ocupacional como fator de risco para acidentes do trabalho. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 89102005000300018&lng=pt&nrm=iso Ouvindo pelos protetores. Disponível em: http://www.abho.org.br/wp-content/uploads/2014/02/artigo_ ouvindopelosprotetores_24_13a15.pdf 19 VÍDEOS A natureza do som e ouvido humano. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wsCIl5ehL0c Escala decibel. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RNGpZm64pcU Gráfico de audibilidade. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wem4lWHX9KE Napo. Pare esse barulho, episódio 3. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rkbat5wUWo4 Napo. Pare esse barulho, episódio 4. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7iwLEgOaOOU Napo. Pare esse barulho, episódio 7. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tTcUeJwzFqk 20 21 VIBRAÇÃO A vibração é um movimento oscilatório e periódico de um corpo em torno de um ponto fixo, definida pelos parâmetros: velocidade, aceleração (amplitude) e frequência (números de ciclos completos por minuto) (SALIBA, 2018). Podem ser Vibrações de Corpo Inteiro (VCI), que são as vibrações transmitidas ao corpo como um todo, geralmente por meio de uma superfície de contato, ou Vibrações de Mãos e Braços (VMB), também conhecidas como segmentar, de extremidades ou localizadas, que são vibrações que atingem certas partes do corpo, principalmente mãos e braços (SALIBA, 2018). As vibrações de corpo inteiro são comumente relacionadas aos trabalhos em equipamentos, tais como veículos, ônibus, tratores, caminhões, plataformas, navios, aviões, helicópteros, máquinas agrícolas, etc. Bernardino Ramazzini, o “pai da medicina do trabalho”, descreveu, no ano de 1700, os efeitos da vibração de corpo inteiro: “As sacudidelas têm o poder de perverter toda a economia do corpo, das partes sólidas como das fluidas; todas as vísceras sacodem pela força do cavalo trotão, torpe e pesado; disse Lucílio, e quase são arrancadas de sua posição natural; toda a massa sanguínea se perturba, de cima a baixo, desviando-se do seu movimento normal; em consequência, produzem-se fluxões, ou seja, estancamento de soro nas articulações, ruturas de vasos nos pulmões e rins, úlceras e varizes nas pernas, ao retardar-se o refluxo do sangue, principalmente naqueles que domam cavalos e necessitam manter em tensão os músculos das coxas e das pernas, para não serem dobrados.” (RAMAZZINI,1700) A exposição ocupacional à VCI eleva o risco de dores lombares e doenças da coluna, que incluem alteração degenerativa primária das vértebras e dos discos intervertebrais. Além dos problemas na coluna, referida exposição pode afetar o sistema nervoso central (SALIBA, 2018). 22 A Figura 1 apresenta os sistemas ortogonais de coordenadas de transmissão da vibração de corpo inteiro para as posições sentada, em pé e deitada. 3 Já as vibrações de mãos e braços, são comumente produzidas por ferramentas manuais, tais como furadeiras, parafusadeiras, politrizes, motosserras, marteletes, etc. O primeiro relato de distúrbios vasculares relacionados a exposição a vibrações de mãos e braços, é de 1862, pelo médico francês Maurice Raynaud. Posteriormente, em 1911, Loriga, pesquisador italiano, descreveu a síndrome da vibração nos trabalhadores que operavam marteletes em pedreiras. E em 1918, Alice Hamilton constatou, através de um estudo sobre o uso de marteletes por mineiros em pedreiras, que os trabalhadores desenvolviam um tipo de anemia das mãos (VENDRAME, 2005). A exposição ocupacional à vibração de mãos e braços pode provocar alterações de ordem vascular (embranquecimento dos dedos ou das mãos), neurológica, osteoarticular e muscular. A severidade destes efeitos está relacionada à exposição diária e acumulada ao longo dos anos, ao espectro de frequências da vibração, métodos de trabalho (ex.: tipo de ferramenta, postura das mãos e braços, magnitude e direção da vibração, etc.) (CUNHA, 2006). 3 Figura 1: Eixos de direção adotados para medição. Fonte: Adaptação de ISO 2631:1997, BRASIL, 2013-1. 23 A Figura 2 apresenta os eixos de direção de transmissão da vibração de mãos e braços. 4 A exposição ocupacional a vibrações, dependendo de como ocorre – intensidade e tempo de exposição - é capaz de causar danos à saúde do trabalhador, desde lombalgias, nos casos de exposição a vibrações de corpo inteiro, a efeitos neurológicos, vasculares e musculoesqueléticos. Daí a necessidade de se estudar os efeitos da vibração no corpo humano nos mais diversos tipos de atividades laborais, e de se regulamentar a exposição ocupacional às vibrações. LEGISLAÇÃO DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR SOBRE VIBRAÇÃO A legislação brasileira que trata sobre a exposição ocupacional à vibrações é o Anexo 8 da Norma Regulamentadora 15 (NR-15), da Portaria MTb nº 3.214, de 08/06/1978 e alterações, que regulamenta o Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. O texto legal do Anexo 8 da NR-15, que vigorou até 12/08/2014, foi dado pela Portaria da SSMT nº 12, de 06/06/1983, que determinava que a avaliação de vibração deveria tomar por base os limites de tolerância definidos pela Organização Internacional para a Normalização (ISO), em suas normas ISO 2631 e ISO/DIS 5349 ou suas substitutas. O uso da ISO nas avaliações de vibração causava interpretações diversas sobre o nível de ação e limite de tolerância, entre os profissionais da área técnica e jurídica, pois a norma 4 Figura 2: Localização do sistema de coordenadas para VMB. Fonte: BRASIL, 2013-2. 24 se encontrava em língua inglesa, sem tradução oficial, e os limites eram obtidos através de cálculos e leitura de gráficos. As Figuras 3 e 4 a seguir, mostram os gráficos do Anexo B da Norma ISO 2631, versões 1997 e 2010 respectivamente, de onde eram obtidos os limites de tolerância para exposição ocupacional à vibração. 5 6 Logo, o período anterior à publicação da Portaria MTE nº 1.297, de 13/08/2014, atualmente em vigor, foi marcado por interpretações da legislação, métodos de caracterização de risco e decisões judiciais controversas. A publicação da Portaria MTE nº 1.297, de 13/08/2014, alterou o paradigma da avaliação da exposição ocupacional às vibrações, de um panorama anteriormente subjetivo, para um panorama objetivo, com a adoção das Normas de Higiene Ocupacional (NHO), de publicação nacional, pela Fundacentro, órgão federal de pesquisas em saúde e segurança do trabalhador do Ministério do Trabalho, em substituição às ISO. Nesse sentido, para avaliação de vibrações de corpo inteiro, a Norma ISO 2631 foi substituída pela NHO-09, e para avaliação de vibrações de mãos e braços, a Norma ISO/DIS 5349 foi substituída pela NHO-10. Ainda, a Portaria MTP nº 426, de 07/10/2021, aprovou o Anexo I -Vibração, na Norma Regulamentadora 09 (NR-9), antigo Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, que atualmente trata da Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos. ANEXO 8 DA NR-15 O Anexo 8 da NR-15 estabelece os critérios de exposição ocupacional às vibrações de corpo inteiro e vibrações de mãos e braços. Este determina que os procedimentos técnicos para avaliação quantitativa sejam, respectivamente, aqueles relacionados nas Normas de Higiene Ocupacional 09 e 10 (NHO-09 e NHO-10) (BRASIL, 2023). 5 Figura 3: ANEXO B da Norma ISO 2631–1:1997. 6 Figura 4: ANEXO B da Norma ISO 2631–1:2010. 25 Para a VCI, o limite de exposição ocupacional diária é a aceleração resultante de exposição normalizada (aren) de 1,1 m/s2 ou dose de vibração resultante (VDVR) de 21,0 m/ s1,75, devendo ambos serem avaliados. Já para a VMB, o limite de exposição ocupacional diária é a aceleração resultante de exposição normalizada (aren) de 5 m/s2 (BRASIL, 2023). A avaliação quantitativa deve ser representativa da exposição, incluindo os aspectos organizacionais e ambientais, e a caracterização deve ser objeto de laudo técnico que contemple, no mínimo: a) Objetivo e datas em que foram desenvolvidos os procedimentos; b) Descrição e resultado da avaliação preliminar da exposição, realizada de acordo com o item 4 do Anexo 1 da NR-09; c) Metodologia e critérios empregados, inclusas a caracterização da exposição e representatividade da amostragem; d) Instrumentais utilizados, bem como o registro dos certificados de calibração; e) Dados obtidos e respectiva interpretação; f) Circunstâncias específicas que envolveram a avaliação; g) Descrição das medidas preventivas e corretivas eventualmente existentes e indicação das necessárias, bem como a comprovação de sua eficácia; h) Conclusão (BRASIL, 2023). AVALIAÇÃO DE VIBRAÇÃO DE CORPO INTEIRO E NHO 09 A avaliação da exposição ocupacional à VCI requer que se realize uma abordagem inicial dos locais e condições de trabalho. Devem ser obtidas informações técnicas e administrativas acerca das atividades e equipamentos a serem avaliados, inclusive a existência de grupos de exposição similar. A análise preliminar da exposição deve considerar: a) informações fornecidas por fabricantes de veículos, máquinas ou equipamentos sobre suas especificações técnicas, incluindo os níveis de vibração gerados durante as operações envolvidas na exposição; b) estado de conservação de veículos, máquinas ou equipamentos utilizados quanto aos sistemas de amortecimento, assentos e demais dispositivos que possam interferir na exposição dos operadores ou motoristas. O nível de vibração gerado depende, entre outros fatores, das características e do estado de conservação desses dispositivos. Esses aspectos devem ser considerados quando da utilização de dados relativos a operações e equipamentos similares; c) dados de medições de exposição ocupacional já existentes, eventualmente disponíveis; 26 d) características da superfície de circulação; e) constatação de condições específicas de trabalho que possam contribuir para o agravamento das condições de exposição, como, por exemplo: atividades desenvolvidas em situações ou condições diversas das finalidades para as quais se destinam os veículos, as máquinas ou os equipamentos; f) estimativa de tempo efetivo da exposição diária; g) nível de ação e limite de exposição adotados; h) informações ou registros relacionados a queixas, susceptibilidades ou predisposições atípicas ou antecedentes médicos relacionadosaos trabalhadores expostos e os efeitos neles gerados (BRASIL, 2013-1). Quando, por meio da análise preliminar, houver a convicção técnica de que: – as situações de exposição são aceitáveis, é recomendado, no mínimo, a manutenção das condições de exposição existentes; – as situações de exposição são inaceitáveis, é obrigatória a adoção de medidas de controle; – permanece a incerteza da aceitabilidade da condição de exposição analisada ou há a necessidade de se dispor do valor da aceleração resultante de exposição normalizada (aren) e do valor da dose de vibração resultante (VDVR) para quaisquer fins, deve-se efetuar a avaliação quantitativa (BRASIL, 2013-1). A avaliação da vibração de corpo inteiro requer medidores integradores, que atendam aos requisitos constantes da Norma ISO 8041 (2005) e revisões, e estejam devidamente ajustados com relação aos parâmetros de medição. A seleção do transdutor de medição (acelerômetro) deve ser feita considerando-se o tipo de montagem necessária para o devido posicionamento e as características do sinal a ser medido (ex.: frequências, amplitudes, picos, etc.). Os equipamentos devem ser periodicamente calibrados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), ou por laboratórios credenciados (BRASIL, 2013-1). As medições devem ser feitas no ponto de medição que seja representativo da exposição ocupacional, sendo os acelerômetros devidamente fixados (Figura 5). Não devem ser utilizados tipos de fixação que promovam um fraco acoplamento ou que possam comprometer os resultados obtidos. Um outro cuidado que deve ser tomado é a disposição dos cabos, para que os mesmos não introduzam sinais indesejados, ou mesmo não sejam danificados (BRASIL, 2013-1). 27 7 Antes de iniciar a medição deve-se: – verificar a integridade eletromecânica do conjunto de medição; – verificar as condições da carga da bateria; – ajustar os parâmetros de medição; – efetuar a regulagem do medidor (BRASIL, 2013-1). O posicionamento e a conduta do avaliador devem propiciar a menor interferência possível nas condições e nos procedimentos de trabalho avaliados. Antes de iniciar a medição, o trabalhador avaliado deve ser informado sobre: – o objetivo do trabalho e como as medições serão feitas; – de que a medição não deve interferir em sua conduta de trabalho e em suas atividades habituais; – que os dispositivos utilizados são frágeis, sendo alertado sobre os cuidados durante a medição (ex.: evitar pancadas ou puxões nos cabos e nos acelerômetros); – de que o conjunto de medição só pode ser manuseado e removido pelo avaliador; – qualquer outra informação pertinente (BRASIL, 2013-1). O equipamento deve ser ligado no início da atividade a ser avaliada e desligado quando a mesma for concluída. Este procedimento deve ser repetido de forma a cobrir um número suficiente de amostras que permita a obtenção de um resultado representativo da exposição (BRASIL, 2013-1). Durante a avaliação, o conjunto de medição deve ser verificado periodicamente para garantir que o acelerômetro esteja posicionado adequadamente, que os cabos e as conexões estejam instalados de forma devida e que o medidor esteja em condições normais de operação. 7 Figura 5: Fixação do acelerômetro para avaliação de VCI. Fonte: A Autora, 2019. 28 O acelerômetro só pode ser retirado do ponto de medição após a interrupção da medição (BRASIL, 2013-1). Os dados obtidos só poderão ser validados se o equipamento mantiver comportamento regular durante todo o procedimento de medição e: – permanecer com a integridade eletromecânica preservada; – apresentar nível de tensão da bateria aceitável; – apresentar variação da calibração inicial e final de ±5% ou daquela especificada na documentação do medidor, desde que mais restritiva (BRASIL, 2013-1). Devem ser determinados e registrados, para cada componente de exposição, os valores das acelerações e as doses medidas, os tempos efetivos de duração e o número de repetições. Ainda, deve-se registrar a duração da jornada do trabalhador sob análise (BRASIL, 2013-1). Finalizada a medição, o equipamento é conectado a um computador, de modo que um software fornecerá os dados desejados (Figuras 6, 7, 8, 9 e 10): 8 8 Figura 6: Software dBMaestro. Configuração dos dados da medição. Fonte: A Autora, 2019. 29 9 10 11 9 Figura 7: Software dBMaestro. Configuração do tempo de exposição. Fonte: A Autora, 2019. 10 Figura 8: Software dBMaestro. Em destaque, o valor de aren. Fonte: A Autora, 2019. 11 Figura 9: Software dBMaestro. Em destaque, o valor de VDVR. Fonte: A Autora, 2019. 30 12 Os critérios de julgamento e tomada de decisão para a VCI estão expostos no Quadro 1: 13 AVALIAÇÃO DE VIBRAÇÃO DE MÃOS E BRAÇOS E NHO 10 A avaliação quantitativa da exposição à vibração de mãos e braços segue os mesmos preceitos da avaliação de vibração de corpo inteiro. De um modo geral, a abordagem inicial dos locais e condições de trabalho deve contemplar informações técnicas e administrativas acerca das atividades e equipamentos a serem avaliados, inclusive a existência de grupos de exposição similar. 12 Figura 10: Software dBMaestro. Histograma. Fonte: A Autora, 2019. 13 Quadro1: Critério de julgamento e tomada de decisão (VCI). Fonte: (BRASIL, 2013-1). 31 A análise preliminar da exposição, neste caso, deve considerar: a) informações fornecidas por fabricantes sobre os níveis de vibração gerados pelas ferramentas envolvidas na exposição; b) estado de conservação das ferramentas. O nível de vibração gerado por ferramentas vibratórias depende das condições de uso e conservação dessas ferramentas, sendo influenciado pelo desgaste, pela periodicidade de manutenção, entre outros fatores; c) dados de medições de exposição ocupacional já existentes, eventualmente disponíveis; d) dados de ferramentas similares também poderão ser utilizados como referência; e) constatação de condições específicas de trabalho que possam contribuir para o agravamento das condições de exposição, como, por exemplo, atividades desenvolvidas em ambientes frios ou a utilização de ferramentas e acessórios em condições diversas das finalidades para as quais se destinam; f) estimativa de tempo efetivo de exposição diária; g) nível de ação e limite de exposição adotados; h) informações ou registros relacionados a queixas, susceptibilidades ou predisposições atípicas ou antecedentes médicos relacionados aos trabalhadores expostos e os efeitos neles gerados. (BRASIL, 2013-2). Os procedimentos gerais de medição são os mesmos estabelecidos para a vibração de corpo inteiro, tais como: – medidores integradores devidamente ajustados com relação aos parâmetros de medição e periodicamente calibrados; – procedimentos anteriores à medição; – posicionamento e a conduta do avaliador com menor interferência possível nas condições e nos procedimentos de trabalho avaliados; – orientação do trabalhador avaliado; – acompanhamento da medição; – procedimentos finais da medição e registro da avaliação. Obs.: Se houver diferença significativa na exposição de cada uma das mãos, deverá ser avaliada a mão exposta ao maior nível. Na prática, em função das características e das condições de manuseio das ferramentas ou das peças trabalhadas, o posicionamento do acelerômetro pode variar. Ainda, em determinadas situações, algumas opções de montagem do acelerômetro podem interferir na forma habitual que o trabalhador segura a ferramenta ou peça trabalhada. Essas interferências devem ser minimizadas, podendo inclusive, ser necessária a realização da medição em dois 32 pontos distintos, para uso da média como resultado (BRASIL, 2013-2). A Figura 11 apresenta os níveis de vibração relativos a ferramentas comuns no mercado americano: 14 14 Figura 11: Faixa de valores de vibração relativas a ferramentas comuns no mercado americano. Fonte: Adaptação de ISVR. CUNHA, 2006. 33 Os critérios de julgamento e tomada de decisão para a VMBestão expostos no Quadro 2: 15 MEDIDAS DE CONTROLE Ainda que as condições avaliadas sejam enquadradas como aceitáveis, se houver disponibilidade e viabilidade, a adoção de medidas de controle deve ser considerada. As medidas de controle podem ser preventivas, tais como: – monitoramento periódico da exposição; – orientação aos trabalhadores (ex.: riscos decorrentes da exposição; cuidados e procedimentos necessários para redução da exposição; cuidados a serem tomados após a exposição; limitações de proteção das medidas de controle; informar aos superiores sempre que observar níveis anormais de vibração, etc.); – controle médico; – entre outras; – ou corretivas, tais como: – modificação do processo ou da operação de trabalho; – adequação e manutenção de ferramentas; – melhoria das condições ambientais de trabalho; – redução do tempo de exposição diária; – entre outras (BRASIL, 2013-1). No caso da vibração de mãos e braços, existe Equipamento de Proteção Individual (EPI), luvas anti-vibração (Figura 12), que pode auxiliar na redução das vibrações absorvidas pelo trabalhador. Um estudo específico deve ser feito para esta finalidade. 15 Quadro 2: Critério de julgamento e tomada de decisão (VMB). Fonte: (BRASIL, 2013-2). 34 16 16 Figura 12: Luva anti-vibração. Fonte: DANNY, 2019. 35 REFERÊNCIAS BRASIL. Normas Regulamentadoras. Disponível em: < https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos- especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/ normas-regulamentadoras-nrs>. Acesso em 16 Jan. 2023. BRASIL. Norma de Higiene Ocupacional - Procedimento Técnico - Avaliação da Exposição Ocupacional a Vibrações de Corpo Inteiro - NHO 09. São Paulo: Fundacentro, 2013-1. Disponível em: <http://arquivosbiblioteca.fundacentro.gov.br/exlibris/aleph/a23_1/apache_ media/3X1GPGJ77HRGRNDFIDSR4M18G4LE1S.pdf>. Acesso em 16 Jan. 2023. BRASIL. Norma de Higiene Ocupacional - Procedimento Técnico - Avaliação da Exposição Ocupacional a Vibrações em Mãos e Braços - NHO 10. São Paulo: Fundacentro, 2013-2. Disponível em: http://arquivosbiblioteca.fundacentro.gov.br/exlibris/aleph/a23_1/apache_ media/AQPLEUS9PB3GF9CJH8H9F3HG9U2V6C.pdf>. 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São Paulo: LTr, 2018. 36 STELLMAN, Jeanne M.; DAUM, Susan M. Trabalho e saúde na indústria: riscos físicos e químicos e prevenção de acidentes. São Paulo: EPU, 1975. VENDRAME, A.C. Vibrações Ocupacionais. Disponível em: <http://www.portalsegsst.com.br/admin/downloads/kbehbo_x_vibracoes_ vendrame.pdf>. Acesso em 16 Jan. 2023. MATERIAL COMPLEMENTAR Norma de Higiene Ocupacional - Procedimento Técnico - Avaliação da Exposição Ocupacional a Vibrações de Corpo Inteiro - NHO 09. Disponível em: http://arquivosbiblioteca.fundacentro.gov.br/exlibris/aleph/a23_1/apache_ media/3X1GPGJ77HRGRNDFIDSR4M18G4LE1S.pdf Norma de Higiene Ocupacional - Procedimento Técnico - Avaliação da Exposição Ocupacional a Vibrações em Mãos e Braços - NHO 10. Disponível em: http://arquivosbiblioteca.fundacentro.gov.br/exlibris/aleph/a23_1/apache_ media/AQPLEUS9PB3GF9CJH8H9F3HG9U2V6C.pdf Artigos: Exposição ocupacional à vibração em mãos e braços em marmorarias no município de São Paulo: proposição de procedimento alternativo de medição. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3134/tde-10042007-000855/ en.php Fatores que influenciam a vibração ocupacional de corpo inteiro em tratores agrícolas. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/61565/3/2021_tcc_jcbdantas.pdf Transporte coletivo: vibração de corpo-inteiro e conforto de passageiros, motoristas e cobradores. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jtl/v10n1/2238-1031-jtl-10-01-0035.pdf Vídeo: Napo – Más vibrações. Disponível em: https://www.napofilm.net/pt/napos-films/napo-lighten-load/bad-vibrations 37 38 39 40