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AULA 4 GESTÃO DA DIVERSIDADE Profª Lucimara do Nascimento Numata 2 CONVERSA INICIAL Preconceitos, intolerâncias e discriminações no contexto brasileiro do trabalho Olá! Seja muito bem-vindo(a) a esta aula, cujo objetivo é compreendermos preconceitos, intolerâncias e discriminações como fenômenos indissociáveis do contexto social brasileiro, cujo resultado é a prática de violência entre as pessoas e cuja existência se revela também no ambiente do trabalho. Para a ampliação do conhecimento acerca desse assunto principal, estudaremos os seguintes cinco temas: 1. Preconceitos, intolerâncias e discriminações no contexto do trabalho, no Brasil 2. Estudos sobre interseccionalidade como perspectiva analítica de problemas sociais no contexto da intolerância 3. A intolerância na realidade brasileira: um estudo atual 4. Violência organizacional 5. Tolerância nas organizações Convidamos você, aluno(a), a continuar o seu trajeto de aquisição de conhecimento com consciência crítica, para a discussão de um dos desafios da atualidade, que é: como criar medidas que previnam a discriminação na sociedade e, consequentemente, no ambiente do trabalho? A intolerância é um fenômeno estruturado não só na sociedade brasileira, mas no mundo. As mudanças desse panorama dependem de nós e, para que elas ocorram da melhor forma, é preciso engajamento em estudar aquilo que é necessário, mesmo sendo esse um tema que nos provoque indignação. TEMA 1 – PRECONCEITOS, INTOLERÂNCIAS E DISCRIMINAÇÕES NO CONTEXTO DO TRABALHO, NO BRASIL O Brasil está entre os cinco países mais desiguais do mundo, conforme matéria publicada no site das Nações Unidas (Brasil, 2018), e, mesmo depois de diminuir a desigualdade em 8,5%, entre 2001 a 2014, ela voltou a aumentar com a crise econômica a partir de 2015. Nesse contexto, o fato é que a parcela de 1% mais rica da população do Brasil concentra entre 22% a 23% do total da renda do 3 país, num nível bem acima da média internacional, que está entre 5% a 15%, nesse quesito. Isso posto, nos deparamos então com o desafio de atingir um dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), como apresentados em aula anterior e segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 2015) – no caso, o ODS de número 10, que trata da redução da desigualdade nos países e entre eles: 10.1 Até 2030, progressivamente alcançar e sustentar o crescimento da renda dos 40% da população mais pobre a uma taxa maior que a média nacional 10.2 Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra. 10.3 Garantir a igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades de resultados, inclusive por meio da eliminação de leis, políticas e práticas discriminatórias e da promoção de legislação, políticas e ações adequadas a este respeito. 10.4 Adotar políticas, especialmente fiscal, salarial e de proteção social, e alcançar progressivamente uma maior igualdade. 10.5 Melhorar a regulamentação e monitoramento dos mercados e instituições financeiras globais e fortalecer a implementação de tais regulamentações. 10.6 Assegurar uma representação e voz mais forte dos países em desenvolvimento em tomadas de decisão nas instituições econômicas e financeiras internacionais globais, a fim de produzir instituições mais eficazes, críveis, responsáveis e legítimas. 10.7 Facilitar a migração e a mobilidade ordenada, segura, regular e responsável das pessoas, inclusive por meio da implementação de políticas de migração planejadas e bem geridas. 10.a Implementar o princípio do tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, em conformidade com os acordos da OMC. 10.b Incentivar a assistência oficial ao desenvolvimento e fluxos financeiros, incluindo o investimento externo direto, para os Estados onde a necessidade é maior, em particular os países menos desenvolvidos, os países africanos, os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e os países em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus planos e programas nacionais. 10.c Até 2030, reduzir para menos de 3% os custos de transação de remessas dos migrantes e eliminar os corredores de remessas com custos superiores a 5%. (ONU, 2015) Distante ainda do pleno atendimento desse ODS, a sociedade brasileira é também conhecida mundialmente como uma das sociedades mais ignorantes e violentas do mundo. Dados coletados, em pesquisa sobre intolerância, por Meneghetti e Stefani (2020) relatam dados fundantes dessa realidade, tais como: a. o Brasil está entre os cinco países mais desiguais do mundo; b. o Brasil é o terceiro país mais ignorante do mundo; c. conforme Cerqueira (2018), no documento Atlas da violência 2018, o Brasil tem taxa de homicídio cerca de 30 vezes maior do que a Europa; 4 d. conforme matéria publicada na BBC News Brasil (Estas, 2018), das 50 cidades mais violentas do mundo, 17 estão no Brasil. A diversidade cultural brasileira, mundialmente reconhecida, se encontra fragilizada por incontáveis manifestações preconceituosas e discriminatórias que diariamente violam direitos de uma parcela expressiva dos cidadãos brasileiros, pois, por exemplo, 30% da população diz ter sofrido preconceito por causa da classe social, segundo dados de matéria publicada na BBC News Brasil (Estas, 2018). Scarano (2018, p. 126) corrobora com tal contexto afirmando que o racismo e a discriminação são realidades presentes na sociedade brasileira. Ambos ofendem princípios da igualdade e da dignidade humana. Ainda para Scarano (2018), estratégias racistas atuais persistem para exercerem controle populacional, mantendo certos grupos em condições privilegiadas, enquanto outros se encontram em condição subalterna. Na segurança, na educação e no mercado de trabalho se evidencia a discriminação na sociedade, e estratégias e medidas que previnam tal condição ainda são escassas. Continuamos, ainda, com uma grande distância entre grupos sociais que deveriam ter garantidos seus direitos de igualdade. A discriminação, em suas mais variadas formas de manifestação (rejeição, exploração, escravidão, extermínio), parece ser uma constante na história das relações humanas. Encontramos em Pereira e Souza (2016) argumentação sobre a legitimação das ações de discriminação ao longo da história da civilização, da Antiguidade à contemporaneidade: a. na Antiguidade, o critério discriminatório era pragmático (escravo era, por exemplo, um prisioneiro de guerra); b. na Idade Média, havia o estabelecimento de categorias culturais e religiosas discriminatórias (por exemplo, entre cristãos e hereges, cristãos e judeus ou cristãos e muçulmanos); c. na Idade Moderna, sobretudo com a invenção do conceito de raça como subtipo humano, a crença na hierarquia racial passou a ser o principal critério discriminatório associado à legitimação de um sistema econômico baseado na mão de obra escrava, à institucionalização da segregação das pessoas de cor negra, por exemplo pelo regime de Jim Crow, no sul dos EUA, entre 1890 e 1950, pelo apartheid na África do Sul, de 1948 a 1990 e pelo holocausto, na Alemanha nazista, antes e durante a Segunda Guerra Mundial; 5 d. mais recentemente, a justificação da discriminação baseada na crença em diferenças biológicas entre grupos humanos tem sido substituída pela crença em diferenças culturais profundas e de difícil mudança, mantendo a mesma função discriminatória da crença anterior. Scarano (2018, p. 128) fornece um dado bastante importante sobre a Lei n. 1.390/1951, a qual foi a primeira lei, no Brasil, a condenar a prática do racismo. Promulgada em 3 de julho de 1951 e sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas, essa lei, mais conhecida como Lei Afonso Arinos (Brasil, 1951),teve por principal inspiração um fato ocorrido em 1950 com a dançarina negra norte- americana Katherine Dunham. A companhia de dança Katherine Dunham Company era composta por negros e especializada em danças folclóricas, de origem negra e da Antiguidade em geral. Foi ela que abriu o caminho para as danças negras na Broadway, tendo Dunham também coreografado e dançado em Hollywood. Quando veio ao Brasil para uma temporada com sua companhia, Dunham foi proibida de se hospedar no Hotel Esplanada, localizado em São Paulo e que não aceitava negros. A repercussão do fato foi tomada como um escândalo no Brasil e no exterior. Embora esse caso tenha sido um fator decisivo para a formulação da Lei n. 1.390/1951 (Brasil, 1951), Scarano (2018, p. 128) ressalva a importância de outro caso, que envolveu o então deputado mineiro Afonso Arinos e seu motorista. Em 1950, Arinos apresentou ao Congresso Nacional projeto de lei que transformava o racismo em contravenção penal, motivado por uma discriminação sofrida pelo seu motorista particular, negro, que, casado com uma catarinense de descendência alemã, fora proibido pelo proprietário de uma confeitaria, no Rio de Janeiro, de entrar no estabelecimento acompanhando a sua mulher e os seus filhos. Fatos semelhantes se sucediam em todo o país. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a formação de clubes sociais negros representava um símbolo de resistência de uma população à qual era negada a entrada nos clubes sociais tradicionais: a população negra se viu forçada a fundar clubes como uma forma de criar espaços para suas próprias práticas culturais, de lazer e de diversão. Segundo Meneghetti e Stefani (2020), a análise sistemática da utilização dos conceitos de preconceito, discriminação e intolerância em diversos estudos já publicados revela que esses termos frequentemente são utilizados de formas sinônimas, correlatas ou mesmo idênticas. Isso posto, os autores ressaltam que existem diferenças, entre esses termos, que vão além da sua mera utilização 6 instrumental linguística. Para tanto, os autores propõem delimitações constitutivas de cada conceito, com a finalidade de estabelecer não só funcionalidades para cada termo, como também fundamentá-las segundo o seu contexto sócio- histórico, a saber: a. O preconceito é um juízo preconcebido e tido como certo. Está baseado em formulações imaginárias e concepções preestabelecidas de estereótipos compartilhados socialmente. O preconceito geralmente manifesta-se no indivíduo, mas sua instituição é social, ou seja, ele é socialmente elaborado, apreendido, compartilhado e legitimado. Os preconceitos estão fundamentados em preconcepções, isto é, são formas sedimentadas de pensar que, na sua forma mais radical, tornam-se dogmas, verdades imutáveis. Isso ocorre devido à incapacidade de se refletir permanentemente sobre a realidade, de se compreender as próprias limitações, de se ter empatia por outras pessoas ou de se colocar no lugar do outro. Com o tempo, os preconceitos são manifestados em forma de discriminações. As discriminações envolvem sempre prejuízos para alguém. b. A discriminação é o ato, sutil ou deliberado, individual ou coletivo, de agir de forma agressiva ou violenta contra pessoas, grupos ou coletivos. A discriminação está estruturada afetivamente por sentimentos como ódio, fúria, raiva, ira; ou emoções como medo, inveja, ciúmes, desprezo etc. Também pode estar associada à ignorância – no sentido de desconhecimento ou incapacidade de colocar-se no lugar do outro – a ou tentativas de autopreservação. Na discriminação, identificam-se de forma distinta suas vítimas e seus perpetradores, e sua existência está associada a vínculos objetivos e intersubjetivos entre aquelas partes do ato discriminatório. O efeito direto e inevitável do preconceito, da discriminação e da intolerância é a violência, que é a amálgama das relações sociais que definem as diferenças entre o preconceito, a discriminação e a intolerância. Como uma manifestação do poder assimétrica, a violência só ocorre no contexto humano. c. A intolerância é uma forma organizadora da vida social e sua essência reside na aceitação das violências praticadas e legitimadas socialmente. Os elementos que caracterizam a intolerância são três: 1. existência de pelo menos um agressor pessoal, coletivo ou institucional; 7 2. presença de atos de agressão e violência perpetrados contra indivíduos, grupos ou coletivos, ou seja, existência de práticas de discriminação e não somente de manifestação de preconceitos; 3. institucionalização da omissão, falta de apoio, negligência, indiferença por parte de indivíduos, instituições, organizações e Estado quanto ao acolhimento das vítimas de agressões e violências. Sobre a violência, para melhor esclarecimento de sua relação com a discriminação, Faria e Meneghetti (2007) asseveram que aquela se trata de uma manifestação do poder assimétrica, que só ocorre no contexto humano. Assim, a violência é [...] a prática de ações de não questionamento da realidade com o intuito de reproduzi-la, voltadas para preservar interesses específicos através de instrumentos coercitivos explícitos ou sutis de qualquer natureza, em contraposição aos mais legítimos interesses e direitos coletivos, desqualificando a práxis democrática, crítica e reflexiva e instituindo, com a finalidade de perpetuar, fatos e situações intensas de força e que são desproporcionais à utilidade considerada política, econômica, social e psicologicamente tolerável de aceitação da dominação como fruto das relações de poder. (Faria; Meneghetti, 2007, p. 283) Como é notável nas pesquisas sobre a temática, como observam Meneghetti e Stefani (2020), a intolerância migra de um plano imaginário, simbólico e até virtual e se materializa em forma de violências psíquicas (xingamentos, humilhações, assédios morais) e físicas (socos, pontapés, assassinatos). Essas formas de violência são, muitas vezes, endossadas por uma sociedade que assegura a validade dessas práticas e corrobora com sua permanência. Assim, a intolerância se dá por um predomínio de relações destrutivas que são construídas em quaisquer tipos de instituições (familiares, educacionais, laborais), que, de forma direta ou indireta, permitem que os indivíduos manifestem seus preconceitos. Esse consentimento confere segurança e até impulsiona que haja tomadas ações agressivas, violentas e discriminatórias. Existe, ainda, uma interação entre os tipos de discriminação, que se dá entre os marcadores sociais da diferença. Esse fenômeno é conhecido nos estudos científicos como interseccionalidade, tema que estudaremos a seguir. 8 TEMA 2 – ESTUDOS SOBRE INTERSECCIONALIDADE COMO PERSPECTIVA ANALÍTICA DE PROBLEMAS SOCIAIS NO CONTEXTO DA INTOLERÊNCIA O percurso histórico da conceituação teórica da interseccionalidade é iniciado pela jurista estadunidense Kimberlé Crenshaw (2002), no final da década de 1980, e avança até os estudos atuais, já com uma ampla literatura existente. Um conjunto de atuação interdisciplinar é formado com outras pesquisadoras norte-americanas, inglesas, canadenses e alemãs. Segundo Assis (2019, p. 34- 37), no Brasil, entre outras referências, Sueli Carneiro, Lélia Gonzales, Beatriz Nascimento, Luiza Bairros e Carla Akotirene é que impulsionam o interesse pela perspectiva interseccional. Em 1989, Crenshaw (2019), em seu artigo Desmarginalizando a intersecção de raça e sexo: uma crítica feminista negra da doutrina antidiscriminação, teoria feminista e políticas antirracistas, inaugura o uso do conceito de interseccionalidade e o demonstra em uma simbologia ilustrada com base nas ruas, cujo tráfego de veículos, em um cruzamento (intersecção), pode fluir em uma direção ou em outra. Nesse caso, as ruas, nos seus diversos sentidos que se cruzam, são os eixos da discriminação.Pode-se pensar, então, a discriminação racial como uma rua que segue de norte para o sul e que assim cruza com a discriminação de gênero, uma rua na direção leste e oeste. Os carros que se locomovem na entre ambas as “ruas” dessa intersecção representam “[...] a discriminação ativa, as políticas contemporâneas que excluem indivíduos em função da sua raça e de seu gênero” (Crenshaw, 1989, citada por Kerner; Tavolari, 2012, p. 55). A sobreposição das discriminações não é vivenciada de modo isolado e de forma semelhante por todos, contudo: se uma mulher negra sofre uma injustiça porque está no cruzamento, a injúria cometida contra ela pode resultar de discriminação sexual ou de discriminação de gênero. E é nas intersecções que se encontram as respostas para a superação das desigualdades. Originalmente, a utilização do termo intersecção serviu para designar a interdependência das relações de poder, de raça, de sexo e de classe, o que, segundo Crenshaw (2002, p. 177), “[...] é uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação”. Essa interação entre os marcadores sociais da 9 diferença pressupõe a identificação e a localização dos seus pontos de intersecção para a eficácia de uma intervenção possível. Atualmente, essa discussão sobre interseccionalidade na interação sobreposta entre gênero e raça dá lugar e revela a interação entre quaisquer tipos de discriminação, seja ela baseada em classe social, seja em raça, gênero, idade, status socioeconômico, capacidade física ou mental, gênero ou identidade sexual, religião ou etnia. É um método que tem como marco teórico as realidades das múltiplas desigualdades, ao se pensar na interação dessas de uma maneira dinâmica e multidimensional (Crenshaw, 1989, citada por Kerner; Tavolari, 2012, p. 55). E sua crescente relevância se dá tanto entre os movimentos sociais quanto na academia, em busca de ferramentas políticas para o alcance de justiça social. Rosa (2012, p. 72), objetivando compreender amplamente a interseccionalidade com base na sua recepção por pesquisadores(as) brasileiros(as), realizou um levantamento bibliográfico no banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) entre os anos de 2005 e 2015, que evidenciou as contribuições da perspectiva interseccional. Os resultados do descritor interseccionalidade apontam que, a partir de 2009, há uma constante de crescimento nas produções com essa abordagem, conforme o Gráfico 1. Gráfico 1 – Produções com base na interseccionalidade, por ano Fonte: Elaborado com base em Rosa, 2012. O aumento exponencial nas produções, como observado no Gráfico 1, se complementa com o estudo de Lopes (2020, p. 83) sobre a aplicação da 10 interseccionalidade como categoria de análise nos trabalhos publicados na revista Estudos Feministas, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os resultados obtidos com base nos descritores interseccionalidade, interseccional, intersecção ou intersecções totalizaram 17 artigos, publicados em 18 volumes, da edição 2002 à última edição de 2019, que revelam o interesse de pesquisa acerca da teoria interseccional no cenário brasileiro, por uma revista engajada nos estudos de gênero e na teoria feminista. Os estudos justificam a abordagem da interseccionalidade para a compreensão da atuação de diferentes formas de opressão que se imbricam e situam o sujeito nas relações cotidianas de poder, como religião, orientação sexual etc. Compreende-se interseccionalidade, assim, como “[...] uma das formas de combater as opressões múltiplas e imbricadas, e, portanto, como um instrumento de luta política” (Hirata, 2014, p. 69). O que se compreende disso é que existe uma interação sobreposta entre as características de gênero, raça, classe social e outras, que intensificam a vulnerabilidade de alguns indivíduos a receberem diversos tipos cruzados de discriminação. Tal ideia corrobora com o que apontam Meneghetti e Stefani (2020, p. 19), quando afirmam que o fenômeno da interseccionalidade se caracteriza pela “[...] manifestação de outras formas de intolerâncias na mesma situação”. Porém, sem adentrar profundamente nesse campo de estudos, todavia, os autores se ancoram no que estabelece Kimberlé Crenshaw (2002) sobre o tema, de que os eixos de intolerância são distintos e excludentes, ou seja, a intolerância racial é diferente da intolerância social, que, por sua vez, é diferente da intolerância política. Ademais, frequentemente, esses eixos podem se interligar criando complexas intersecções em que mais de um eixo acabam se cruzando. Por fim, a autora conceitua a interseccionalidade como: [...] uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a interseccionalidade trata da forma como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do desempoderamento. (Crenshaw, 2002, p. 177, grifo nosso) Nesse contexto, é possível entender como os eixos de poder relacionados à raça, à etnia, ao gênero e à classe estruturam os terrenos sociais, econômicos 11 e políticos em que vivemos, assim também como podem, em um somatório, intensificar as situações de intolerância e de violência. O entendimento de tal interação entre os marcadores sociais da diferença é imprescindível para a pressuposição, identificação e localização dos seus pontos de intersecção, para a eficácia de uma intervenção possível. Logo, o método da interseccionalidade, que tem como marco teórico as realidades das múltiplas desigualdades, ao pensar na interação dessas realidades de uma maneira dinâmica e multidimensional (Crenshaw, 1989, citada por Kerner; Tavolari, 2012), apresenta relevância para esta aula, que analisa as variáveis que impactam a intolerância. Percebe-se, então, que há uma difusão da teoria interseccional nos debates contemporâneos, bem como o interesse, inclusive de pesquisadoras(es) de fora dos estudos feministas e de gênero, pelo tema. Fortalece-se assim a proposição para se discutir as intolerâncias que operam de forma articulada, permitindo compreensão das teias de opressão interligadas e suas atuações na sustentação de projetos de dominação de classe, com o suporte da teoria interseccional. Saiba mais No livro O que é interseccionalidade?, Carla Akotirene (2018) aponta para os perigos do esvaziamento do conceito e que a interseccionalidade se constitui como ferramenta crítico-política e teórica que “[...] visa dar instrumentalidade teórica-metodológica à inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo e cis- hétero-patriarcado”. TEMA 3 – A INTOLERÂNCIA NA REALIDADE BRASILEIRA: UM ESTUDO ATUAL Ao analisarmos a obra Intolerância: uma análise da sociedade brasileira (Meneghetti; Stefani, 2020), que aborda dez tipos de intolerâncias sociais pesquisadas com 1.009 respondentes de distintas regiões do país, encontramos a existência de uma prática discriminatória e violenta fazendo vítimas em cerca de 29% dos respondentes da pesquisa, que revela os seguintes tipos de intolerância presentes nessa prática, a saber: • intolerância associada à condição econômica e de classe; • intolerância de gênero; • intolerância geracional e de idade; • intolerância associada à condição física e mental; 12 • intolerância étnica; • intolerância associada à cor da pele; • intolerância geográfico-cultural; • intolerância religiosa; • intolerânciapolítico-ideológica; • intolerância associada à identidade de grupo. Na coleta dos dados, o questionário aplicado consistiu em realização de algumas perguntas objetivas e de uma subjetiva. As perguntas objetivas possibilitavam estabelecer o panorama das dez formas de intolerância supracitadas. Segundo os autores da pesquisa (Meneghetti; Stefani), a apresentação dessas configurações tem objetivo pedagógico, pois, conforme estudamos no Tema 2, com base na análise histórica e dos dados quantitativos, há um processo de interseccionalidade que faz com que se descubra que uma mesma pessoa pode sofrer, concomitantemente, mais de uma forma de intolerância: Este fato é comprovado estatisticamente, além das respostas subjetivas dadas pelos respondentes da pesquisa. Exemplo disso é a própria compreensão de racismo, que envolve várias formas de intolerâncias sofridas por uma mesma vítima: intolerância associada à cor de pele, étnica, religiosa, geográfico-cultural, para citar as mais frequentes entre os respondentes. (Meneghetti; Stefani, 2020) Os dados quantitativos e qualitativos coletados foram analisados por um grupo de especialistas em estatística. Outro grupo de integrantes foi responsável por fazer o levantamento bibliográfico de artigos científicos e pesquisas científicas para identificar a existência de diferenças conceituais entre preconceito, discriminação e intolerância. Para tanto, realizou-se estudo sistemático da ocorrência dos termos preconceito, discriminação e intolerância nas bases de dados Scielo 4, Spell 5 e nos catálogos de teses e dissertações da Capes 6 até o ano de 2017, o que mostra que houve a publicação de 310 estudos sobre os três assuntos. Os termos preconceito, discriminação e intolerância foram considerados em suas definições específicas, como estudamos no Tema 1. O corpus da pesquisa, além dos trabalhos científicos, se deu em mais de 320 reportagens jornalísticas analisadas nos anos de 2017, 2018 e início de 2019 (Meneghetti; Stefani, 2020). 13 Segundo Meneghetti e Stefani (2020), entre as manifestações de violência que podem ocorrer em situações de preconceito, discriminação e intolerância, destacam-se, entre outras: • socos, pontapés, tapas, empurrões e todas as formas de agressões físicas que causem algum dano ao corpo da vítima; • xingamentos e agressões verbais; • desqualificações pessoais; • calúnias e difamações; • piadas; • humilhações públicas; • isolamento de indivíduos, grupos e/ou coletivos. Os autores alertam para a necessidade de distinguirmos a agressão da violência (Meneghetti; Stefani, 2020). Segundo eles: a. As agressões são atos que implicam infligir desconforto, dor, mal-estar no agredido, por meio de atos voluntários ou não. Estão associadas às manifestações de medo e de autodefesa. As agressões físicas são respostas a situações contingenciais do ambiente. Por isso, são típicas dos animais e estão relacionadas à preservação da vida. As agressões verbais são aquelas que são reações impensadas, que expressam, por exemplo, algum xingamento. b. Quando o conteúdo do xingamento é pensado, ou seja, refere-se ao uso de palavra ou conceito intencionalmente elaborado e planejado de forma a expressar um ataque articulado que esteja amparado em preconceitos do agressor, aí tem-se uma situação de violência. As agressões se diferem da violência, que é uma manifestação de poder. A violência está inserida em relações sociais complexas, que vão muito além dos fatores desencadeantes das agressões. Uma das formas de expressão ativa da violência é a agressão física, mas não é a única. A violência pode ser expressa por meio da omissão ou, ainda, por meio da indiferença diante da vítima. Na referida pesquisa de Meneghetti e Stefani (2020), a relação entre o sofrimento de violência e os tipos de intolerância pesquisados se deu da seguinte maneira: 14 a. 50% dos respondentes declararam ter sido vítimas de violência por intolerância político-ideológica; b. 37,5% dos respondentes disseram ter sido vítimas de violência por intolerância associada à sua condição econômica ou classe social; c. 36% dos respondentes declararam ter sido ser vítimas de violência por intolerância religiosa. Em relação ao grupo de agressões sofridas pelas vítimas, em média, segundo Meneghetti e Stefani (2020): a. 27% dos respondentes declararam ter sido vítimas de piadas no ambiente em que se encontravam; b. 24% declararam ter sido vítimas de desqualificação pessoal devido às suas ideias e formas de pensar. Em relação ao grupo de agressores, destaca-se que eles são, em geral, pessoas conhecidas (Meneghetti; Stefani, 2020): a. 21% dos respondentes declararam ter sido vítimas de colegas de trabalho; b. 19%, vítimas de colegas de escola e/ou faculdade; c. 18%, de amigos e/ou colegas em geral. Uma das questões levantadas por Meneghetti e Stefani (2020) e que nos choca ainda mais é em relação ao apoio recebido pelos respondentes após as agressões sofridas: a. 37% das vítimas declararam não ter recebido qualquer tipo de apoio; b. 22%, entre aquelas vítimas que receberam algum tipo de apoio, o receberam proveniente de amigos; c. 18% das vítimas disseram ter recebido apoio de familiares; d. 12% declararam ter recebido apoio do(a) cônjuge; e. 0,5% declararam ter recebido apoio de assistência social e psicológica pública. A obra-base desta pesquisa aborda, em seus capítulos 2 a 11, um tipo específico de intolerância social, compreendendo a contextualização de sua natureza e da sua prática, corroborada por evidências reportadas na mídia informativa e por dados da pesquisa quantitativa e qualitativa realizada pelos autores (Meneghetti; Stefani, 2020). 15 TEMA 4 – A VIOLÊNCIA ORGANIZACIONAL Num mundo globalizado, convulsionado pela incerteza, que surpreende a cada dia com eventos que percorrem a escala da indiferença até o horror, uma pergunta desponta: como evitar que diferenciações se tornem desigualdades irremovíveis? Coexistir com as diferenças é um desafio para todos? No livro Organizações totalitárias: esquadrões da morte, tribunais do crime e o Hospital Colônia de Barbacena, Francis K. Meneghetti (2019) apresenta a seguinte relação entre preconceito, discriminação e intolerância: uma manifestação desse tipo começa simples, com um pensamento preconceituoso. Ganha força em atos de discriminação, muitos deles também simples, como xingamentos, insinuações de desprezo, desqualificação pessoal ou num sutil fazer de conta que não se tem nada a ver com o fato de a vítima se dar mal, ainda que tal gesto já possa ser movido pela satisfação de ver isso acontecer. A manifestação, então, ganha notoriedade quando muitos dos discriminadores agem organizados politicamente e têm o respaldo de uma massa de preconceituosos inertes que insistem em permanecer na ignorância ou na omissão confortável. Nesse momento, institui-se a intolerância, em que milhares de pessoas criam uma rede colaborativa para concretizar agressões, violências e injustiças contra aqueles que são considerados indesejados, transviados, incapazes, desajustados sociais. A diferença entre a discriminação e a intolerância social é que muitos desses perpetradores de agressões e violências, inicialmente apenas preconceituosos, passam a ocupar posições sociais e institucionais em que efetivamente podem criar ações organizadas e tomar decisões que afetam concretamente e de forma negativa a vida das vítimas. A intolerância social é, portanto, os preconceitos concretizados na ação de destruição dos outros, amparada pela institucionalização das diversas formas de violência sedimentadas pela ação direta, indireta ou pela negligência e omissão do Estado e das organizações da sociedade civil em face das violências praticadas. Nesse contexto, geralmente a violência no trabalho se expressa mediante roupagensvelhas e novas, como na tendência à intensificação do trabalho, impulsionada mediante uma sua reorganização (com uso de flexibilização de direitos, terceirizações, disseminação do trabalho parcial e temporário) justificada pelo advento de tecnologias modernas, usadas para otimizar a margem de lucros das empresas. Esse quadro leva ao aumento do número de acidentes e óbitos e 16 favorece o aparecimento de novas patologias físicas e mentais, relacionadas com as más condições de trabalho e com o desemprego – esse último exclui o ser humano das relações sociais e o “demite” da vida. A violência depara-se com a violação da Declaração dos Direitos Humanos, nos artigos seguintes: Artigo 1º Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. [...] Artigo 5º Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. [...] Artigo 7º Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. [...] Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei. [...] Artigo 19° Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão. [...] Artigo 23º 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses. [...] Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver, para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo, o direito de se entregar a alguma atividade ou de praticar algum ato destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados. (ONU, 1948) Na literatura internacional, Dejours, Abdoucheli e Jayet (2009), em seus trabalhos, realizados na década de 1970, analisam a relação entre o trabalho e o trabalhador na organização do trabalho, utilizando-se do modelo e do referencial 17 teóricos oferecidos pela psicopatologia clássica, que focava na doença mental, e pela ergonomia, que focava na análise das condições de trabalho. Para Dejours, Abdoucheli e Jayet (2009), a violência no trabalho requer atenção especial. Não obstante, a competição saliente no mercado, em um contexto de precarização, transfigura como banalizadas as injustiças, isola o trabalhador e lhe gera uma sensação de abandono e solidão. Tanto o equilíbrio psíquico quanto a saúde mental derivam da organização do trabalho; portanto, o trabalho pode ser tanto fonte de prazer como mediador de saúde. Em termos de estudos nacionais, Hagopian, Sousa e Bianco (2020, p. 769) entendem que a violência no trabalho é “[...] qualquer ação, todo incidente ou comportamento que não se pode considerar uma atitude razoável e com a qual se ataca, prejudica, degrada ou fere uma pessoa dentro do ambiente de seu trabalho ou devido diretamente ao mesmo”. Essa violência inclui todas as formas de comportamento, seja ele agressivo, seja autoritário e/ou abusivo, que possa causar dano psicológico ou físico ou, ainda, desconforto em suas vítimas, de modo intencional ou não. O conceito de violência laboral vai além da mera agressão e inclui o uso de poder e de força, de maneira psicológica, física, política, econômica ou moral. Pode ocorrer no âmbito individual ou coletivo e se desdobra em diversas faces (Hagopian; Sousa; Bianco, 2020). A tolerância foi reivindicada, a princípio e ainda hoje, como um mecanismo necessário para a garantia das liberdades individuais, em especial da liberdade de consciência, o que, de certa forma, reúne as liberdades de pensamento, culto, expressão e associação. E essa condição deve ser assegurada no contexto organizacional, como estudaremos em nosso último tema desta aula. Saiba mais O Núcleo de Estudos da Violência Organizacional (Nuevo) tem como objetivo divulgar informações atualizadas referentes às temáticas da violência no trabalho, da violência praticada no âmbito das organizações, da violência institucional e da corrupção no trabalho. Mais informações podem ser obtidas em: <https://nuevoblog.com/> (Nuevo Blog, [S.d.]). TEMA 5 – TOLERÂNCIA NAS ORGANIZAÇÕES Estudar a intolerância como fenômeno social atual é necessário como uma opção racional de busca pacífica da convivência. Sem negar os conflitos 18 inevitáveis presentes, se espera o alcance da mais harmoniosa possível relação. Ao se analisar etimologicamente a palavra tolerar, percebe-se essa noção. A raiz do termo tolerância, originária do latim tolěrāre, significa suportar, consentir. A tolerância não pode e não deve suportar ou consentir em aceitar a prática de violência, sobretudo quando ela ocorre de forma sistemática, permanente, corrente (Meneghetti; Stefani, 2020, p. 318). Esse conceito de tolerância surge na história do pensamento ocidental como um contraponto às práticas intolerantes, em especial durante os séculos XVI a XVIII, no contexto das guerras religiosas e massacres recíprocos havidos entre católicos e protestantes, na Europa. Perante a lei, a intolerância se tornou a forma para que as reivindicações pela igualdade de tratamento, independentemente de qualquer condição identitária (nacionalidade, religião, classe social, etnia, gênero etc.), fossem preservadas. Meneghetti e Stefani (2020) defendem que não podemos, como sociedade, ser tolerantes com a intolerância, pois esta se ampara na violência institucionalizada, que ocorre de forma sistematizada e permanente; igualmente, não se deve defender a intolerância com os intolerantes, pois o grau de envolvimento e participação entre as pessoas é distinto, em uma situação de intolerância – e porque não se resolve violência com violência. A tolerância tem limites e estes devem ser pautados pela não aceitação de práticas intolerantes que visem eliminar as diferenças legítimas que nos constituem como humanos. As inevitáveis situações conflitivas vividas por nossas sociedades contemporâneas e que se (re)produzem, por exemplo, no contexto organizacional do trabalho, na realidade brasileira, requerem ações concretas de combate às diversas formas de intolerância. É preciso provocar tensão e incômodo nas estruturas da sociedade para que ocorra uma ruptura com os poderes que legitimam a intolerância e o cenário vigente melhore. Cada vez mais, precisamos entender os fenômenos intolerantes em busca de que todas as identidades consigam conviver bem e em paz. Na verdade, para que continuemos a caminhar rumo à perspectiva de um futuro mais promissor do ponto de vista moral, ético, social etc., devemos aprender a respeitar nossas diferenças. Uma das formas para isso é estimular a capacidade de se imaginar no lugar do outro, ativar o bom humor e difundir esperança, segundo Oz (citado por Wahba, 2017, p. 9): “onde temos razão não podem crescer flores”. Propõe-se, pois, prescindir-se das ilusões de amor e ao invésde se fomentar a paz, procurar soluções de compromisso e de encontro com o outro em 19 algum lugar no meio do caminho. Latour (2016), filósofo francês, escreve a esse respeito: ao não se compartilhar um terreno comum, pode-se compartilhar uma disputa por ele. Saiba mais Para Amós Oz (citado por Amós, 2019), “Existe um gene fanático em cada um de nós.” Escritor israelense, Oz foi um ativista político e um dos mais renomados e premiados intelectuais de seu tempo. Falecido em dezembro de 2018, foi autor de uma extensa obra literária formada por romances, ensaios e críticas e publicada em 40 países, tendo se tornado um dos escritores israelenses mais traduzidos no mundo. 20 REFERÊNCIAS AKOTIRENE, C. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento, 2018. AMÓS Oz: como curar o (nosso) fanatismo. Fronteiras do Pensamento, 1 mar. 2019. Disponível em: <https://www.fronteiras.com/artigos/amos-oz-como-curar-o- nosso-fanatismo>. Acesso em: 24 nov. 2021. ASSIS, D. N. C. Interseccionalidades. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2019. BRASIL. Lei n. 1.390, de 3 de julho de 1951. 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