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SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 
2 PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL ................................................................ 5 
2.1 O laço social ......................................................................................... 6 
2.2 Novas modalidades do laço social ....................................................... 7 
2.3 A autoridade ......................................................................................... 8 
2.4 Desregulações ..................................................................................... 9 
2.5 O amor e o desejo .............................................................................. 10 
2.6 O saber ............................................................................................... 10 
3 OS LAÇOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS: UMA DISCUSSÃO ACERCA 
DAS IDENTIFICAÇÕES ............................................................................................ 11 
4 TRATAMENTO PELO DISCURSO ........................................................... 16 
5 A PSICANÁLISE, O TRABALHO E O LAÇO SOCIAL .............................. 18 
5.1 O trabalho ........................................................................................... 20 
5.2 A palavra como laço social na clínica psicodinâmica do trabalho ...... 21 
5.3 O poder da fala na clínica do trabalho ................................................ 26 
5.4 A posição do clínico do trabalho ......................................................... 33 
5.5 Objetivo da clínica psicodinâmica do trabalho .................................... 37 
6 TEORIA DA FORÇA DOS LAÇOS ........................................................... 39 
7 OS LAÇOS SOCIAIS DE INDIVÍDUOS EM SOFRIMENTO PSÍQUICO ... 43 
8 CONSIDERAÇÒES SOBRE PSICOSE E LAÇO SOCIAL: “O FORA-DO-
DISCURSO DA PSICOSE ...................................................................................... 51 
9 Referências bibliográficas ......................................................................... 59 
10 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 63 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno 
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta 
, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse 
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. 
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão 
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
2 PSICANÁLISE E LAÇO SOCIAL 
 
Fonte: valordoconhecimento.com.br 
A questão do laço social como modo de tratamento do mal-estar na cultura é 
essencial para psicanálise. A experiência psicanalítica fala que o sujeito, enredado em 
suas estratégias mortíferas de recuperação do essencialmente perdido, encontra na 
ordem do discurso a via possível para atravessar a vida. Freud nunca confinou a 
psicanálise numa ação entre dois. 
Concebendo a sexualidade e a pulsão como essencialmente atravessadas pelo 
social, tratou da cultura, da história, da política, da arte e da religião a partir da 
psicanálise, sem jamais recuar de sua posição. Lacan por sua vez, situando a 
psicanálise como inseparável do campo da fala e da linguagem indica que no mais 
substancial de seus fundamentos a psicanálise ela é mesma, um laço social. 
Umas práxis apoiadas numa ética que nos ata enquanto sujeitos, não à 
elaboração conceitual diletante, mas a um laço específico com o Outro, com o 
significante e com a perda. Em uma palavra: ao real. 
Nesse contexto a psicanálise aborda questões fundamentais em suas relações 
com as diferentes respostas do corpo social ao mal-estar, considerando as 
particularidades das intervenções orientadas pela posição do psicanalista. 
 
 
 
6 
 
 
 
2.1 O laço social 
O que seria a partir da psicanálise, o laço social? Trata-se da relação entre os 
seres humanos que se sustenta do discurso e, por meio dele, assume as modalidades 
de época e marcas de uma cultura determinada. Há laço social porque não há laço 
natural, na medida em vivemos em um mundo de linguagem. A esta aproximação 
geral é preciso acrescentar que o laço social se particulariza com as modalidades do 
gozo dos sujeitos que o realizam. 
As relações são assim orientadas pelo discurso e se praticam com margens de 
liberdade variáveis, o que localiza o laço social enquanto o articulador dos 
macrocosmos social e do individual. O interessante dessa articulação é que não-toda, 
quer dizer, não estamos no mito das metades que se juntam para recriar a harmonia 
perdida. 
O laço social é uma forma de fazer laço com o outro que conecta, e ao mesmo 
tempo separa, pois se sustenta sobre um vazio que abrigará a causa do sujeito, sua 
singularidade. Isto sinaliza que não há determinismo social, pois, a causa está no 
sujeito. 
A partir da perspectiva social, entende-se que a civilização regula o gozo, daí 
que a civilização remete a fazer civil, a transformar em cidadão, fazer sociável, dito 
em outros termos, fazer entrar o gozo no laço social sintomatizado conforme os 
modelos aceitáveis. 
A partir da perspectiva da psicanálise, a civilização tem a ver com o discurso. 
Para Lacan o discurso excede à palavra, vai mais além dos enunciados que 
realmente se pronunciam. O discurso subsiste sem palavras, porque se trata 
de relações fundamentais que se sustentam da linguagem. O discurso 
sustenta a realidade, a modela sem supor o consenso por parte do sujeito 
(LACAN, 1977, p. 21). 
A psicanálise sabe que há o gozo, que pode regular-se pela via do recalque e 
da sublimação, gozo que pode regular-se fantasticamente e transformar-se em prazer, 
mas sabe também que não é todo regulável. 
 
 
 
7 
 
 
 
2.2 Novas modalidades do laço social 
Não é fácil falar das novas modalidades do laço social, porque é verdade que 
não se pode generalizar, mas, ao mesmo tempo, porque cada um é filho de sua época 
e muitas vezes há dificuldades para tomar uma distância necessária que permita 
formalizar a realidade em que se vive. Isto se evidencia na existência de margens 
variáveis de incompreensão, que frequentemente se revestem de uma certa 
dramaticidade, ou de um relativismo próximo do cinismo. Por isso, o estatuto desta 
apresentação é o de apontar algumas contribuições para pensar o tema. 
Muito se pode falar sobre estas questões, mas as novas formas do sintoma 
requerem um estudo profundo dos efeitos do discurso capitalista, como variante do 
discurso do mestre, para não dar demasiada consistência às identificações mono 
sintomáticas. Embora o sintoma abrigue um núcleo de gozo autista, seus envoltórios 
mudam, esses envoltórios formais do sintoma tomam apoio no discurso da época. 
Cabe diferenciar o discurso do mestre como momento da sociedade que se 
refere ao mestre antigo, do discurso do mestre como o discurso do inconsciente, que 
produz um efeito no sujeito e um mais de gozar. Em sua primeira acepção, faz muitos 
anos que vem sofrendo modificaçõesaté chegar ao discurso capitalista atual, que 
Lacan toma como uma variante do discurso do mestre. 
Qual é a particularidade do discurso do mestre tomado pelo lado do 
inconsciente? É que estabelece uma impossibilidade entre o sujeito e o mais-de-
gozar, que dá como resultado, que o objeto sustenta a realidade pelo fantasma e dá 
satisfação regulada. Esta é a função civilizadora ou, o que é o mesmo, a inclusão do 
gozo no laço social de maneira sintomatizada. Por isso Lacan deu uma fórmula do 
laço social: 2+a. 
O semblante do pai, encarnado nas formas culturais e nos ideais unificadores 
da época, deu uma determinada consistência e regulação ao gozo sob a forma de um 
laço social muito centrado no recalque, basta pensar no horizonte vitoriano e sua 
relação com o sintoma. 
Por que falar agora dos efeitos do discurso capitalista se esse discurso existe 
no social há muitos séculos e tem organizado a época moderna? Porque não é a 
 
 
 
8 
 
 
 
mesma época moderna, esse mundo moderno atual, onde a relação do discurso 
científico com o discurso capitalista gerou uma nova revolução tecnológica que 
chamamos Internet. 
A mudança marca a passagem à realidade sustentada pelo fantasma, à 
realidade como realização do fantasma dado que se suprimiu a barreira que separava 
o sujeito do gozo. Daí que os sintomas atuais aparecem com um predomínio do gozo 
autista, e falamos de uma clínica da passagem ao ato. Que repercussões isto tem no 
laço social? O laço da modernidade se sustenta dessa barreira do recalque, daí o 
predomínio dos semblantes, a divisão entre o público e o privado, etc. 
O individualismo indica que caso se promovam os objetos sucedâneos, haverá 
uma mudança nas modalidades do laço. Na realidade mostra que ninguém está só, 
se não há o outro que vela o objeto, há a companhia direta do objeto. 
2.3 A autoridade 
O que Bauman chamou de “a modernidade sólida” se sustenta de ideais 
unificadores: 
“O capitalismo pesado, de estilo fordista, era o mundo dos legisladores, os 
criadores de rotinas e os supervisores, o mundo dos homens e mulheres 
dirigidos por outros que perseguiam fins estabelecidos por outros. Por essa 
razão era também um mundo de autoridades: líderes que sabiam o que era 
melhor e mestres que ensinavam seguir adiante” (BAUMAN, 2003, p. 70). 
Freud assiste já à queda deste modelo e se pode dizer que a psicanálise 
aparece no momento em que se vislumbra a queda dos semblantes do pai: vocês não 
temam exagerar a mania de autoridade e a inconsistência interna dos seres humanos. 
Poderia proporcionar-lhes um padrão para medi-las, a extraordinária multiplicação das 
neuroses desde que as religiões entraram em decadência. 
Efetivamente, Freud estabelece uma certa relação entre o complexo paterno e 
Deus, como se pode ver em “Uma recordação infantil de Leonardo da Vinci, quando 
diz que, “certos jovens perdem a fé religiosa tão rápido quanto se quebra neles a 
autoridade do pai”. 
 
 
 
9 
 
 
 
A autoridade do pai era introjetada como núcleo do supereu perpetuando a 
proibição. Para Freud, a civilização pretendia uma renúncia do gozo de tipo 
adaptativo, mas esta tentativa de solucionar o mal-estar gerava outro novo porque 
relança o circuito do supereu. 
Todavia, a modernidade sólida acreditava na relação com uma certa cautela, 
os ideais da época do imperativo categórico assim o testemunham. A pós-
modernidade é a consciência na medida perdida. 
Lacan entende a civilização como produtora de deformações e se antecipa a 
nossa época onde o problema é a quantidade de dejetos que, como retorno do 
recalcado, invadem contaminando. Os laços sociais parecem seguir o mesmo ritmo, 
consumir e rechaçar. 
2.4 Desregulações 
Hoje se encontram em primeiro plano os efeitos que o discurso capitalista 
introduz com o apagamento da dimensão subjetiva e a desregulação do gozo, extravio 
e aceleração. 
Fala-se da perda da vergonha. Há que se recordar que para Freud a vergonha 
era uma barreira necessária para o desenvolvimento da sexualidade e tinha uma 
importante função socializadora. O desenvolvimento precoce da vergonha remete a 
um Outro primordial que olha, anterior ao Outro que julga. A vergonha ajudaria assim 
a circunscrever o gozo, a fixá-lo, e esta seria sua função civilizadora, reguladora. A 
vergonha é, em certa medida, um véu para o gozo. Esse Outro que se sustenta como 
regulador, que se faz existir como tal, se revela inexistente na pós-modernidade. 
Como se trata a desregulação? As políticas sociais tentam regular com 
intervenções diretas. A partir da psicanálise não se pode abordar o gozo se não 
emprestam envolturas, semblantes para interpelá-lo. Sabe-se que ao atacar 
diretamente o gozo, gera-se transferência negativa. Aparece o que podíamos chamar 
a perda de consentimento ao laço, por exemplo, o laço educativo. Assim aparecem 
diferentes fenômenos de recusa e que se caracterizam pela falta de demanda. 
 
 
 
10 
 
 
 
É por isso que os diferentes trabalhadores sociais estão centrados na 
problemática de casos onde a demanda é de um terceiro, mas não do sujeito. Assim, 
por exemplo, devem criar em muitos casos condições prévias para a demanda 
educativa ou assistencial, quer dizer, devem estabelecer uma relação com o Outro e 
logo gerar as condições para que o sujeito queira algo. 
2.5 O amor e o desejo 
Lacan diz que, precisa que o amor seja um fato cultural, não poderia haver 
amor se não houvesse cultura. Também assinala que é o amor o que permite ao gozo 
condescender ao desejo porque vela o que causa o desejo e evita assim a angústia: 
“Para destacá-lo um pouco mais diria que o desejo é coisa mercantil que há 
uma cotização do desejo que se faz subir e baixar culturalmente, e que do 
preço que se dá ao desejo no mercado dependem a cada momento a forma 
e o nível do amor. O amor, na medida em que ele mesmo é um valor, como 
muito bem dizem os filósofos, está feito da idealização do desejo” (LACAN, 
2005, p. 195). 
A depreciação da dimensão do amor traz, por um lado, a perda do desejo, e 
pelo outro o recrudescimento do gozo auto erótico. Um artigo divulgado há pouco no El 
País, falava do “multiloving” que em realidade é a exposição na internet do modo de 
gozo de cada sujeito e a busca exclusiva dessa satisfação. O laço erótico deve se 
sintomatizar num “parceiro” daí que falamos do “parceiro-sintoma”. Chamamos 
“parceiro-sintoma” ao laço que permite passar pelo Outro para obter a satisfação 
sexual. 
2.6 O saber 
As modificações do sujeito suposto saber afetam vários campos onde a 
transferência é crucial. Não falamos somente do laço educativo senão também do laço 
médico, por exemplo. Perdeu-se a suposição de saber que implicava que se tivesse 
confiança no profissional que ajudaria a ganhar um saber, uma cura, etc. 
 
 
 
11 
 
 
 
A perda dessa dimensão epistêmica faz proliferar a doxa e inverte o esquema: 
aquele que sabe é o sujeito. 
No campo escolar o cognitivismo repousa nessa suposição, aquele que sabe é 
o aluno e o profissional ao invés de fazer a oferta educativa se localiza na posição de 
demanda: “diga-me o que queres”. Hoje é o sujeito, ele próprio, que confecciona o 
menu, fazendo zaping ou buscando no Google. Ninguém busca o todo ali, senão algo 
pontual. Como essa informação está sempre à disposição não é necessária a 
memória, é um saber que não se fixa. 
3 OS LAÇOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS: UMA DISCUSSÃO ACERCA DAS 
IDENTIFICAÇÕES 
A preocupação atual com a saúde, como bem supremo e fim em si, e a 
submissão dos sujeitos às normas corporais, higiênicas, médicas e estéticas, 
constituem, consoante a visão antropológica, uma sociedade dominada pelo valor da 
vida, remetida à anatomia e tomada como funcionamento corporal medido por critérios 
biológicos, tal como abordado pela perspectiva arqueológica foucaultiana da anátomo- 
política do corpo, denominada em Rabinow (1999) de “biossociabilidade”. 
Segundo esse autor, talexperiência social resulta da instalação da nova 
genética em todo o tecido societário por meio das práticas médicas em interação com 
a biotecnologia e o capital (1999, p. 147). 
Esta obediência dos sujeitos às prescrições para uma vida longeva tem como 
ponto de partida a “retórica do risco”, elemento estruturante básico da 
“biossociabilidade” (ORTEGA et al., 2008, p. 33). 
O risco, ao ser enfatizado pelas práticas médicas e outros discursos, promove 
o trabalho de cada um sobre si de uma maneira contínua, a fim de produzir um sujeito 
eficiente, adaptável, autônomo e também responsável, o qual orienta suas escolhas e 
estilos de vida para a procura da saúde, do desempenho corporal e do afastamento 
dos riscos. Cabe aqui destaque para a terceira idade, como modelo da qualidade de 
vida, pois está se torna hoje a última tentativa de permanecer jovem e vital. 
 
 
 
12 
 
 
 
A velhice, na contemporaneidade, passa a ser reconstituída como um estilo de 
vida mercadológico que conecta os valores da juventude com as técnicas de cuidado 
corporal. Os idosos da atualidade são apresentados como saudáveis, joviais, 
longevos, engajados, produtivos, autoconfiantes e em plena forma física. 
Não é por acaso que assistimos hodiernamente à proibição do fumo em lugares 
públicos, à obsessão pela saúde, à preocupação ambiental em larga escala, ao 
crescimento da demanda por produtos alimentícios naturais e integrais, bem como à 
oferta de alimentos industrializados cada vez mais naturalizados, cuja imitação dos 
primeiros não perde em frescor, aparência nem em termos de ingredientes nutricionais 
e de saúde; pelo contrário, já são apresentados no mercado como opções superiores 
aos produtos naturais, dentre outros. 
Com efeito, pode-se dizer que a vida, como referência corporal, está 
rearticulando os valores que anteriormente constituíam os sujeitos, tais como os 
religiosos, morais, políticos e éticos, por exemplo, substituindo-os pelas regras 
higiênicas, desempenho físico, longevidade, prolongamento da juventude etc. 
 
Costa (2011) diz que, isto significa dizer que “o mito científico encampou o 
direito intelectual de dar sentido à vida. Ocorreu, com isso, uma guinada no 
terreno dos valores. O sentido da vida, antes referido, primordialmente, a 
valores religiosos, éticos ou políticos foi deslocado para o plano do debate 
científico” (2011, p. 3). 
 
Acrescenta o autor que a ciência não eliminou os antigos valores, mas 
efetivamente, os reordenou em uma nova hierarquia, tornando a ética, exemplo gratia 
(e.g.), bioética ou correlato moral do ideal natural da qualidade de vida, o mundo 
humano transforma-se em uma cidade ecológica ou ambiental, a boa política, no 
momento, diz respeito ao cuidado com o ambiente físico da espécie natural, ao passo 
que o justo está relacionado com o saudável. Afora isto, o correto é o que se conforma 
ao projeto da vida bem-sucedida, do ponto de vista biológico, e a boa religião é a que 
se harmoniza ao ideal da boa saúde. 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
 E, por fim, “a antiga “vida reta, boa ou justa” deixou de ser o padrão ideal das 
condutas. No lugar da “excelência virtuosa da vida” surge um novo padrão, a 
“qualidade de vida”” (COSTA et al., 2011, p. 3). 
Sob tal ponto de vista, trata-se, então, de uma nova “renaturalização” dos atos 
humanos, que não descarta os antigos valores, mas tenta retraduzi lós na ideologia 
científica. 
O cuidado de si, por exemplo, antes voltado para o desenvolvimento da alma, 
dos sentimentos ou das qualidades morais, migrou a atenção para a 
longevidade, a perfeição da saúde físico-mental, a juventude, em suma, para 
a “fitness” (COSTA et al., 2004, p. 3). 
Haja vista o fato de que os laços sociais hoje se estabelecem com amparo na 
referência à vida, ao lê-los à luz da teoria freudiana das identificações desenho 
explicativo que, em sua forma ideal, se encontra na base dos laços sociais, tal como 
proposto pelo modelo freudiano é possível dela inferir dois modelos de identificações 
ideais: o ideal como referência e a encarnação do ideal. 
O primeiro implica tomar o ideal como referência, com base no qual os sujeitos 
se reconhecem por laços de reciprocidade, não se reduzindo a ele, mas 
transformando-se segundo os seus traços, na medida em que o assimilam. 
Neste caso, está envolvida uma relação identificatória que inscreve o sujeito no 
campo da alteridade cujo maior exemplo é o pai morto, o qual serviu de referência 
para os filhos no momento fundador dos laços sociais. 
Tal formação do laço, proposta por Freud (1912,1913 e 1969), dá origem ao 
grupo humano articulado em torno de uma lei paterna, isto é, um pai desmaterializado, 
ideal impossível de ser encorpado, pois se trata de um lugar sempre vacante. 
Ao submeterem-se a ela, os irmãos saem de uma condição de natureza para 
ascenderem à cultura. Assim, tal ligação com um mesmo ideal - o pai morto - sustenta 
a identificação dos sujeitos entre si como membros de uma comunidade que se funda 
sobre a lei paterna. 
Já o segundo supõe a sujeição a um objeto, cuja presença, ao se localizar no 
lugar do ideal do ego, instância simbólica que em sua constituição comporta vários 
 
 
 
14 
 
 
 
modelos de identificações passadas, representa-o completamente, tornando-se, pois, 
idealmente superpoderoso. 
Essa “substituição” do ideal do ego pelo objeto, em sua concretude, provoca a 
devoção a este último, já que ele se conserva nesse lugar “hipercatexizado” a 
expensas da alteridade. Tal fenômeno é denominado por Freud (1921/1969) de 
“servidão” ou “fascinação”, sendo ele um elemento característico das massas 
(1921/1969, p. 144). 
Consoante ensina Freud (1914/2004), o ideal do ego, além de ser uma 
formação singular relacionada ao eu, também é uma instância que serve para explicar 
manifestações psíquicas tão específicas, como, por exemplo, a psicologia das 
massas. Sobre isto, Freud (1914/2004) assinala: “esse ideal tem, além de sua parcela 
individual, uma parcela social, o ideal comum de uma família, de uma classe e de uma 
nação” (1914/2004, p. 118). 
A massa, sob a ótica de Freud (1921/1969), é um certo número de indivíduos 
que colocaram um só e mesmo objeto no lugar de seu ideal do ego, e, 
consequentemente, se identificaram uns com os outros (1921/1969, p. 147). 
Esta estrutura libidinal intensa, ou seja, a colocação do objeto no lugar do ideal 
do ego e a identificação mantém a massa unida, uniforme e homogênea, nela estando 
também em jogo a presença da ilusão de um substituto paterno idealizado, que cuida 
e ama todos os membros com amor igual, o que faz Enriquez (1991) explicitar que a 
massa está instalada sobre uma base de igualdade. Nestas circunstâncias, são 
tecidas relações de identidade ao líder ou ideal encarnado, que podem ser ilustradas 
pelos idosos longevos. 
Então esses estão atualmente referidos à norma biológica, tal como a massa, 
seduzida e fascinada, que segue o seu líder, na medida em que eles parecem se 
constituir conforme a obediência às normas da qualidade de vida em uma sociedade 
fundada não no convívio das diferenças, mas calcada na segregação delas. 
Quanto ao fato de uma norma poder funcionar de maneira aproximada do líder, 
tal como suposto neste texto, Freud (1921/1969) já havia assinalado a possibilidade 
de um líder ser substituído por uma ideia dominante” ou “abstração” (p. 121). Sobre 
isto, ele assevera: 
 
 
 
15 
 
 
 
 Teremos de considerar se os grupos com líderes talvez 
não sejam os mais primitivos e completos, se nos outros uma ideia, uma 
abstração, não pode tomar o lugar do líder (estado de coisas para o qual os 
grupos religiosos, com seu chefe invisível, constituem etapa transitória) e se 
uma tendência comum, um desejo, em que certo número de pessoas tenha 
uma parte, não poderá, da mesma maneira, servir de sucedâneo. Essa 
abstração, ainda, poderá achar-se mais ou menos completamentecorporificada na figura do que poderíamos chamar de líder secundário, e 
interessantes variações surgiriam da relação entre a ideia e o líder. O líder ou 
a ideia dominante poderiam também, por assim dizer, ser negativos; o ódio 
contra uma determinada pessoa ou instituição poderia funcionar exatamente 
da mesma maneira unificadora e evocar o mesmo tipo de laços emocionais 
que a ligação positiva. Surgiria então a questão de saber se o líder é 
realmente indispensável à essência de um grupo, e outras ainda, além dessa 
(FREUD, 1921/1969, p.127). 
Considerando a abrangência do termo “massa” em psicanálise, e guardadas as 
devidas proporções entre o líder e a norma biológica, no sentido de só se poder 
comparar aquilo que não é idêntico, conjetura-se ser possível, com o progresso da 
“biossociabilidade”, pensar o enlaçamento social contemporâneo organizado em torno 
de um ideal encarnado, qual seja, a vida encorpada pela norma biológica, parecendo 
está a funcionar de uma maneira homogeneizante, seduzindo e evocando certo 
fascínio. 
Este poder de sedução pode ser visto hoje por meio do investimento maciço na 
maximização de comportamentos saudáveis e na minimização de procederes 
desviantes, consoante a norma biológica. Como leciona Costa (2011). 
Inventou-se um novo modelo de identidade, a bio-identidade, e uma nova 
forma de preocupação consigo, a bio-ascese, nos quais a fitness é a suprema 
virtude. Ser jovem, saudável, longevo e atento à forma física começa a 
funcionar como a regra científica que legitima ou desqualifica outras 
preferências e aspirações à felicidade. (...). Tornamo-nos, dessa forma, 
politeístas tolerantes, sexualmente liberados e complacentes com as 
pequenas transgressões morais, desde que não ultrapassem o limite de 
segurança da qualidade de vida e da bioética. Tudo é mais ou menos 
permitido, se as taxas de colesterol estiverem fora da faixa de risco (COSTA 
2011, p. 3 e 4). 
Na perspectiva freudiana, este ensaio investiga se a sociedade contemporânea 
pode ser examinada à luz da servidão e em que medida ela se aplica à noção de 
“servidão voluntária”, elaborada por Etienne de La Boétie (2008), como uma obstinada 
vontade de servir por feitiço a um só elevado à condição de senhor. 
 
 
 
16 
 
 
 
Nos termos de La Boétie (2008), Coisa extraordinária, por certo; é, porém, tão 
comum que se deve mais lastimar-se do que espantar-se ao ver um milhão de homens 
servir miseravelmente, com o pescoço sob o jugo, não obrigados por uma força maior, 
mas de algum modo (ao que parece) encantados e enfeitiçados apenas pelo nome de 
um (2008, p. 12). 
Para La Boétie (2008), a escolha da servidão não está relacionada ao medo da 
morte ou à covardia, muito menos ao poder da força. Este momento de “desnaturação” 
do homem, passagem do ser da liberdade, da fala e da razão, para o sujeito que 
escolhe a servidão, diz respeito mais ao encantamento e enfeitiçamento exercidos 
pela sedução do “nome de um”, ou seja, um homem qualquer, como todos, elevado à 
condição de “um”, a quem o povo dedica a sua vida (2008, p. 12). Com efeito, se 
poderia pensar o “um” como líder, a encarnação do ideal? 
Aventa-se que sim, porquanto o “um” da servidão voluntária provoca o 
enfeitiçamento e o encantamento, tal como o líder na massa. Como já se viu, com 
suporte em Freud (1921/1969), a superposição entre o ideal do ego e o objeto provoca 
um efeito de fascínio e a submissão a esse ser tornado idealmente superpoderoso. 
Portanto, supõe-se que a relação com a vida, tomada como funcionamento corporal, 
parece ser dominantemente do tipo servil, pois constituída conforme a obediência às 
normas de qualidade de vida, tal como a ligação que os servos voluntários mantêm 
com o tirano. 
4 TRATAMENTO PELO DISCURSO 
 
Fonte: anatomiadapalavra.com 
 
 
 
17 
 
 
 
Em o mal-estar na civilização, Freud aponta o relacionamento com os outros 
homens como a causa de maior sofrimento do homem. O mal-estar na civilização é, 
portanto, o mal-estar dos laços sociais. 
Estes se expressam nos atos de governar e ser governado, educar e ser 
educado e também, como mostrou Freud, tanto no vínculo entre analista e analisante, 
que ele inaugurou, quanto no ato de fazer desejar, como as histéricas o ensinaram. 
Essas quatro formas de as pessoas se relacionarem entre si, governar, educar, 
psicanalisar e fazer desejar, Lacan chamou de discursos pois os laços sociais são 
tecidos e estruturados pela linguagem. 
Governar corresponde ao discurso do mestre/senhor em que é o poder que 
domina, educar constitui o discurso universitário dominado pelo saber, analisar 
corresponde ao laço social inventado no início deste século por Freud em que o 
analista se apaga como sujeito por ser apenas causa libidinal do processo analítico. 
E o discurso da histeria é aquele que é dominado pelo sujeito da interrogação 
(no caso da neurose histérica, trata-se da interrogação sobre o desejo) que faz o 
mestre não só querer saber mas produzir um saber. 
A relação médico-paciente pode entrar nessas quatro modalidades de laço 
social. Tomemos exemplos simples e um pouco caricaturais. 
Quando o médico manda e o paciente obedece (até na prescrição de um 
remédio) estamos no discurso do mestre, quando o médico ensina ou convence o que 
psiquiatria tem a dizer sobre seu caso ele se encontra no discurso da universidade, 
quando o médico cala e ocupando o lugar de objeto causa de desejo em transferência 
faz o paciente segredar aquilo que ele mesmo nem sabia que sabia, vemos a 
emergência ao discurso do analista. 
E quando o médico se vê impulsionando a se deter, a estudar e a escrever para 
produzir um saber provocado pelo caso do paciente estamos no discurso histérico. 
Dentre esses quatro discursos, o discurso da ciência se assemelha mais, por sua 
estrutura de produção de saber, ao discurso histérico. Histeria, aqui, não se refere à 
neurose do mesmo nome, mas uma forma de relacionamento humano em que um 
provoca no outro o desejo e a criação de um saber (tal como as histerias fizeram com 
Freud). 
 
 
 
18 
 
 
 
O que se espera da ciência é efetivamente a produção de saber sobre o real. 
Mas isso não quer dizer que ela não entre nos outros discursos ela também entra 
tanto no discurso universitário quanto no discurso do mestre. Nossa civilização atual 
é dominada pela ciência. É uma civilização científica cujo mal-estar se expressa nas 
doenças dos discursos. 
O mal-estar da civilização científica se apresenta hoje como doenças 
predominantemente oriundas do discurso capitalista que é nova modalidade do 
discurso do mestre. São essas doenças do discurso que o psiquiatra é chamado a 
tratar. 
O discurso como laço social é um modo de aparelhar o gozo com a linguagem 
na medida em que o processo civilizatório, para permitir o estabelecimento das 
relações entre as pessoas, implica a renúncia da tendência pulsional em tratar o outro 
como um objeto a ser consumido: sexualmente e fatalmente. Pois a inclinação do 
homem é ser o lobo do outro homem, ou seja, abusar dele sexualmente, explorá-lo, 
torturá-lo, matá-lo saciando no outro sua pulsão de morte erotizada, a civilização exige 
do sujeito uma renúncia pulsional. 
Todo laço social implica um enquadramento da pulsão resultando em uma 
perda real de gozo. Todo discurso é, portanto, um aparelho: aparelho de gozo. 
A ciência também pode entrar na categoria de discurso como enquadramento 
de gozo na medida em que tem por finalidade a conquista do real, ou seja, a 
colonização do real pelos aparelhos simbólicos que as fórmulas matemáticas 
representam. 
5 A PSICANÁLISE, O TRABALHO E O LAÇO SOCIAL 
Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) a depressão será, 
em 2020, a principal causa de incapacitação para o trabalho em todo o mundo. Mas 
se, como dizia Freud (1930) em o mal-estar na civilização, o trabalho é uma das 
formas de encontrar o pouco do quinhão de felicidade que noscabe em vida, nos 
perguntamos então: por que o homem hoje encontra tristeza no seu labor? São 
realmente deprimidos todos estes tantos trabalhadores? Em um trabalho recente 
 
 
 
19 
 
 
 
(Ribeiro, 2011), o mal-estar no trabalho seria fruto do próprio discurso que 
articula/desarticula o laço social da contemporaneidade. 
Freud, observa que, embora o trabalho seja fonte de uma satisfação particular, 
é pouco apreciado como via para a felicidade pelos seres humanos. Na 
contemporaneidade, trabalhar e amar, as duas principais fontes de satisfação libidinal 
que, dizia Freud (1930), garantiriam aos homens um pouco de contentamento, 
motivos que cada vez mais são inalcançáveis. 
 O Mal-estar na civilização já tenha por volta de 80 anos, a mudança do laço 
social já se fazia presente na época em que Freud o escreveu. 
A psicanálise fundada por Freud tem suas raízes fincadas na história do homem 
moderno e seu espaço de atuação assegurado por uma prática ética e pertinente nos 
dias atuais, pelo menos aquela que se refere ao campo lacaniano, prática que se 
propõe a não fugir dos postulados freudianos, sem, contudo, deixar de repensar seus 
conceitos a partir da experiência clínica. 
A psicanálise nasceu através da própria experiência enquanto clínico do seu 
fundador e, desde então, nunca se desvinculou deste caráter de vivência pessoal, 
única e irrepetível acontecida no divã, embora seja pensada também como base de 
entendimento para as diversas esferas da sociedade contemporânea. 
Diferenciando-se da psicologia, que sempre teve em seus postulados uma 
preocupação com a cura, a saúde e a busca do bem (Badiou, 1993), através da escuta 
do consciente e a sua compreensão, a psicanálise retira deste mesmo consciente o 
lugar de verdade do sujeito e coloca sua atenção no fenômeno do inconsciente, este 
sendo o lugar do desconhecimento, da ignorância, só acessível por meio de suas 
manifestações tais como os sintomas, sonhos, atos falhos e chistes. Para a 
psicanálise homem não é mais o ser autônomo e autoconsciente que a psicologia 
acredita poder contar, mas dividido, contraditório e desconhecedor de sua própria 
casa. Sua ética é a de psicanálise assim sendo ética do desejo, e este desejo é 
sempre desejo inconsciente. 
 
 
 
20 
 
 
 
5.1 O trabalho 
O trabalho, tal como é visto hoje, não é algo natural na história do homem, é 
um fenômeno construído historicamente e ao mesmo tempo construtor da 
subjetividade dos sujeitos (Castel, 1994). 
A chamada cultura ocidental moderna se organiza em torno do trabalho, ou 
seja, da produção de objetos como mediador das trocas sociais, a ponto de 
o trabalho se tornar um ideal, um gosto, uma vocação, uma nobreza, ‘Ser 
trabalhador’ torna-se para nós uma marca, uma insígnia” (Jardim, 2011, 
p.106). 
Estranhar este fenômeno e pensar as consequências que este trabalho 
capitalista trouxe para a história do sujeito hipermoderno (Lipovetsky, 2004) é um 
dever daqueles que lidam, no dia-a-dia, com as consequências das agruras do labor 
na saúde mental dos sujeitos. 
Dejours (1983), psiquiatra e psicanalista francês que estuda a relação do 
trabalho com o sofrimento mental diz que o mesmo trabalho que é fonte de satisfação 
e prazer para os sujeitos, pode ser também produtor de sofrimento e adoecimento 
psíquico, sobretudo quando é um labor rígido, repetitivo e frustrante, não dando ao 
sujeito possibilidade de transformação e aperfeiçoamento. 
Para Dejours, o trabalho seria um regulador social, fundamental para a 
subjetividade humana e, quando possibilita ao trabalhador uma estruturação positiva 
de sua personalidade, pode inclusive aumentar a resistência dos sujeitos aos 
desequilíbrios psíquicos e corporais. 
Para Gaulejac (2007), sociólogo que também estuda a relação dos sujeitos com 
o trabalho, cada sujeito sejam quais fores as condições de trabalho, seja qual for o 
grau de instrumentalização de que é objeto tem necessidade de dar valor àquilo que 
produz, de coerência diante do caos, regulação diante da desordem, racionalidade 
diante das contradições. Isso lhe permite realizar-se ao realizar sua tarefa. 
O trabalho, diz o sociólogo, tem sentido visto que dá o sentimento de contribuir 
para uma obra coletiva e que cada atividade tem um fim fora de si mesma. Ainda 
segundo Gaulejac o trabalho, como está posto na sociedade atual, é sem sentido, 
sem alma, valoriza a ação (em detrimento da reflexão) e é individualista (em 
 
 
 
21 
 
 
 
detrimento do coletivo). Ele contribui para alienar o sujeito numa miragem de auto 
realização, sucesso e compensações financeiras. E a gestão é pervertida quando 
favorece uma visão do mundo na qual o humano se torna um recurso a serviço da 
empresa. 
Marx (1983), por sua vez, define o trabalho como a categoria maior da condição 
humana, definindo o homem como espécie: 
 O trabalho em uma forma que o caracteriza como exclusivamente humano. 
Uma aranha leva a cabo operações que lembram as de um tecelão, e uma abelha 
deixa envergonhados muitos arquitetos na construção de suas colmeias. Mas o que 
distingue o pior arquiteto da melhor das abelhas é que o arquiteto ergue a construção 
em sua mente antes de a erguer na realidade (p.198). 
5.2 A palavra como laço social na clínica psicodinâmica do trabalho 
A psicodinâmica do trabalho, criada e difundida por Christophe Dejours, é uma 
disciplina clínica e teórico-metodológica que nasceu na França, influenciada pela 
ergonomia, sociologia, filosofia e psicanálise. Enfatiza a dimensão humana, subjetiva, 
relacional e semântica do trabalho, por acreditar que sempre há algo que o homem 
deve ajustar, imaginar, inventar para dar conta do real (Dejours, 2005). 
As situações de trabalho são suscetíveis a eventos inesperados, anomalias de 
funcionamento, incoerências organizacionais, imprevistos decorrentes dos materiais 
e das ferramentas utilizadas ou das relações com os colegas, chefes, subordinados, 
equipes, e até com os clientes. 
Isso implica admitir que não existe um trabalho só de execução, e que uma 
distância entre o prescrito e a realidade da situação (Dejours, 2008a) é o próprio 
trabalhar. 
A elaboração da organização do trabalho real implica uma distância das 
prescrições que dão início à atividade de interpretação e, nessa linha, o 
trabalho insiste na dimensão humana (Dejours, 2011). 
Dejours sugere pela primeira vez o método de pesquisa-ação para abordar o 
trabalho e as dinâmicas psíquicas envolvidas. 
 
 
 
22 
 
 
 
O método proposto tem o objetivo de abrir um espaço de fala-escuta clínica que 
permita a compreensão da organização do trabalho e suas consequências, assim 
como obter conhecimento sobre o papel do trabalho e analisar a mobilização do 
coletivo dos trabalhadores participantes. 
A psicodinâmica do trabalho tem uma posição ontológica e epistemológica que 
une a hermenêutica, a psicanálise e a teoria da ação numa luta contra o que é o 
sofrimento no trabalho. 
 Segundo Bouyer (2015), o sofrimento no trabalho sempre é um sofrimento 
social, já que coletivos inteiros são submetidos a restrições de autonomia, imposição 
de pressões temporais, incluindo as exigências de ritmo intenso, escassez de pausas 
e cobranças excessivas de alcance de metas elevadas de produção. 
O sofrimento social, o sofrimento no trabalho e o sofrimento psíquico existem 
numa inter-relação: o sofrimento social abarca o coletivo e, nesse espaço, 
desencadeia o sofrimento no trabalho e o sofrimento psíquico (Bouyer, 2015). 
O autor indica haver uma passagem do sofrimento social para o sofrimento 
individual cujos impactos podem ser verificados na existência de uma coletiva 
dimensão social em atividades de trabalho, atravessado de relações de poder. O 
sofrimento social se direciona para um contexto social específico, do qual se 
desdobram vivências subjetivas e processos psíquicos com uma dinâmica própria. 
As relações sociais de produção contemporâneas surgiram,no Brasil, a partir 
da década de 1980, quando ocorreram os primeiros impulsos de reestruturação 
produtiva, o que levou à adoção de novos padrões organizacionais e tecnológicos, 
bem como a novas formas de organização social do trabalho (Antunes, 2011). 
Segundo Antunes (2011), os modelos de gestão neoTayloristas incluem novas 
políticas gerenciais, com programas de qualidade total e de remuneração variável. 
Para o autor, a nova qualificação exigida compele aos trabalhadores à adequação 
quase que absoluta num contexto de crescente desemprego e precarização do 
trabalho. 
Uma formação geral e polivalente, na tentativa de manter os vínculos de 
trabalho, acarreta consequências psíquicas e físicas merecedoras de atenção. O 
sofrimento no trabalho é sempre da ordem social. 
 
 
 
23 
 
 
 
Mendes (2012) ressalta que, nos ambientes de trabalho, não existe espaço que 
admita o sofrimento como parte do humano e que, em tais ambientes, prevalece o 
rompimento de vínculos, fundamentais para a manutenção e o fortalecimento da 
subjetividade. 
A partir do contexto descrito do mundo do trabalho e em função da carência de 
vínculos de cooperação, a condução clínica do trabalho tem como propósito a 
emancipação e a construção de laços afetivos, além de motivar no sujeito o desejo de 
resgatar a capacidade de pensar sobre o sofrimento no trabalho e o compartilhamento 
dele com o coletivo de trabalhadores. 
A clínica do trabalho vem se fortalecendo pela diversidade de formas e 
abordagens. No Brasil, seu desenvolvimento acompanhou, principalmente, a 
divulgação do enfoque teórico e metodológico da Psicodinâmica do Trabalho, 
como comprovam os estudos de Duarte e Mendes (2015), Oliveira e Mendes 
(2014), Ghizoni e Mendes (2014), Mendes e Vieira (2014), Medeiros e 
Mendes (2013), Martins e Mendes (2012), Dias et al. (2012) e Dias et al. 
(2012). 
Esses estudos pretenderam entender fenômenos relacionados com a ação de 
trabalhar, como as doenças que acometem os trabalhadores, mas também realizar 
práticas e intervenções clínicas que fortaleçam o laço social e a saúde física e mental 
do trabalhador. 
Diversas patologias encontram-se relacionadas com o ambiente de trabalho 
que não permite a fala sobre o que se sente. Existem angústias difíceis de nomear no 
ambiente laboral, pela impossibilidade de sua exposição, pois, nesses espaços, há 
impedimentos do encontro entre o sujeito que carrega uma história singular, 
personalizada, e a organização do trabalho despersonalizante (Mendes, 2012). 
Expressar-se de forma pública no coletivo de trabalhadores envolve mostrar 
uma vulnerabilidade que não é compatível com um contexto perverso (Saraiva e 
Mendes, 2014), permeado por uma lógica de competição, enfraquecimento dos laços 
sociais e que nega aos trabalhadores a consciência sobre a potência da reação. Trata-
se de uma racionalização produtiva que desconsidera os laços. 
Casos de depressão e DORTs (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao 
Trabalho) escalaram com o fortalecimento de um modelo de produção alicerçado na 
 
 
 
24 
 
 
 
intensificação do trabalho e na pressão por alcançar padrões de qualidade que 
desconsideram a saúde do trabalhador (Rocha et al., 2012). 
Associada a isso, encontra-se a aceleração dos processos que impede o 
trabalhador de pensar, falar e nomear o que sente, pois, fazê-lo significaria estar à 
margem dos padrões de qualidade que o contexto exige: trabalhador adaptado que 
faça o que tem que ser feito sem questionar. Admitir que haja sujeitos que sofrem, 
desejam e sentem não é permitido; muito menos falar sobre isso. 
Suicídios e ideações suicidas relacionadas ao trabalho também (Dejours, 
2008b; Santos et al., 2011) afluem aos trabalhadores num estado de solidão 
psicológica e num ambiente que denota o enfraquecimento dos laços sociais 
no trabalho. A carência de solidariedade entre as pessoas no local de 
trabalho, o individualismo e a competição aumentam os riscos de sua 
ocorrência (Dejours, 2008b). 
Situações de assédio moral no trabalho são caracterizadas pelo isolamento, 
incomunicabilidade e proibição de conversar com os colegas (Ferreira et al., 2006); o 
assédio moral é considerado produto de uma perversão social que captura os 
trabalhadores e é um tipo de patologia social. Constata-se, muitas vezes, que as 
pessoas que praticam o assédio não são necessariamente perversas em suas 
estruturas, mas, dado os modos de gestão e produção do trabalho, desenvolvem esse 
tipo de práticas (Ferreira et al., 2006). 
É com essas queixas que os trabalhadores chegam à clínica do trabalho: 
aturdidos e desolados, submetidos a uma cultura que ensina a não falar nem 
expressar. É a cultura do silêncio, que é, acima de tudo, uma estratégia de 
sobrevivência. Nossa prática em clínica do trabalho escuta dos trabalhadores que 
sobreviver no ambiente de trabalho significa, às vezes, calar o que se sente, por medo 
de represálias. 
O sofrimento precisa de um clínico que consiga decifrar a relação dele com as 
situações de trabalho e assim contribuir para desvelar a sua gênese. A interpretação 
do sofrimento ocorre num caminho que procura a nomeação das angústias, bem como 
a identificação das relações abusivas. É possível que as angústias e o sofrimento não 
sejam nomeados, por não serem percebidos pelos trabalhadores, devido à dificuldade 
de expressar os sentimentos nos locais de trabalho. 
 
 
 
25 
 
 
 
A condução clínica da psicodinâmica do trabalho se desliza nesse movimento 
implicando um saber-fazer específico do clínico que exige o conhecimento não apenas 
do mundo do trabalho, mas também da concepção psicanalítica de sujeito. A posição 
do clínico nesse ponto é o que faz a diferença. 
Desbanalizar as violências no trabalho, as quais passam por fatos ordinários e 
denunciar o que não pode ser naturalizado (Pérrileux e Mendes, 2015) implicam 
colocar uma potência política nas práticas em clínica Psicodinâmica do Trabalho. 
A politização do sofrimento pode ser considerada na perspectiva de sofrimento 
social e psíquico (Bouyer, 2015). Ou seja, sob a lógica de que o sofrimento no trabalho 
é principalmente um sofrimento que depende de decisões políticas, que emerge de 
decisões institucionais e organizacionais e não tem sua gênese apenas na história do 
sujeito. 
Os trabalhadores buscam a clínica do trabalho quando conseguem identificar 
vivências que causam sofrimento, produzidas pela violência dos modelos de gestão 
adotados nas organizações do trabalho (Pérrileux e Mendes, 2015). Nossa prática em 
clínica do trabalho envolve considerar aspectos teóricos da Psicodinâmica do 
Trabalho, abrindo espaço para novas considerações teóricas advindas da dialética 
Freud-lacaniana. 
Dessa forma, consideramos três dispositivos baseados na clínica 
Lacaniana: 
A interpretação, o silêncio e a transferência (Mendes, 2015), que podem 
contribuir para uma escuta psicanalítica do sofrimento de forma a produzir 
efeitos no posicionamento subjetivo do sujeito. O motivo do diálogo 
embasado nesses dispositivos se fundamenta na necessidade de acessar a 
posição subjetiva do trabalhador, os sintomas e as defesas que estão 
instalados diante do que é o real do trabalho (Mendes, 2015) para descobrir 
esse sofrimento. O sujeito pode se apegar ao sofrimento e aos sintomas de 
forma a mantê-los encobertos e negados num sistema defensivo que resiste 
a um reposicionamento subjetivo (Mendes, 2015). 
Nessa perspectiva, além de atendimentos em grupo, incluímos também 
atendimentos individuais, num projeto de pesquisa-intervenção. Nossa prática clínica 
é realizada no centro de atendimento e estudos psicológicos da universidade de 
Brasília, que abriga o projeto práticas em clínica do trabalho. 
 
 
 
26 
 
 
 
O Projeto é voltado para o atendimento de trabalhadores em sofrimento no 
trabalho relacionado a alguma das seguintes situações: riscos de adoecimento 
ocupacional; situações de estresse pós-traumático,assédio moral, tentativas de 
suicídio e acidente de trabalho, afastamento temporário do trabalho por doença 
ocupacional ou em processo de readaptação laboral. 
Nosso fazer nasce do pressuposto de que abrir um espaço para falar e escutar 
o sofrimento originado no trabalho é uma postura crítica das formas de gestão atuais 
que não permitem a expressão dos sentimentos, gerando diversas patologias sociais. 
Ademais, avança-se com a ideia de que o poder da fala se inscreve em dois 
eixos: (i) a palavra politiza os trabalhadores que narram o que sentem, bem como 
permite denunciar e desbanalizar a violência nas relações sociais no trabalho; e (ii) a 
palavra faz laço social, promove a elaboração de eventos traumáticos acontecidos no 
âmbito do trabalho. Busca-se argumentar que a prática clínica vinculada à psicanálise 
opera a favor da construção do laço social. 
A partir do exposto, este artigo tem como objetivo discutir o poder da fala na 
clínica do trabalho como instrumento político, bem como refletir sobre o papel e a 
posição do clínico do trabalho. 
5.3 O poder da fala na clínica do trabalho 
A clínica do trabalho é o espaço da fala e da escuta do sofrimento originado 
pela organização do trabalho, permitindo aos trabalhadores criar estratégias eficazes 
para afrontar situações que provoquem sofrimento. Privilegia a fala não só por 
proporcionar um espaço de escuta, mas também porque promove o exercício de falar 
e de escutar, buscando pôr a palavra em ação (Mendes e Araújo, 2012). 
A clínica promove a condição humana e, para isso, se serve da dimensão da 
linguagem. Uma questão essencial para a teoria Psicodinâmica do Trabalho 
é que as situações do trabalho e a análise destas são mediadas pela 
linguagem, a qual se encontra em todas as fases: como resultado das regras 
do trabalho, com o coletivo e a comunidade; na intervenção da clínica 
psicodinâmica do trabalho, como vetor de ação sobre a organização do 
trabalho e as relações sociais; e como prática linguística na formação do 
trabalho (Dejours, 2004). 
 
 
 
27 
 
 
 
A clínica psicodinâmica do trabalho é um modo de revelar as mediações que 
ocorrem entre o sujeito e o real do trabalho, sendo o real acessado mediante a escuta 
do clínico. É desse modo que as situações de trabalho são visíveis (Ghizoni et al., 
2014). É um espaço em que o objeto de investigação é a relação do trabalhador com 
a atividade laboral em seus aspectos mais amplos, complexos e subjetivos. 
Nesse espaço, os sujeitos podem expressar suas impressões, sentimentos e 
percepções em relação a seus pares, superiores e subordinados, bem como suas 
tarefas realizadas, resultados e sentido do que fazem (Araújo, 2013). 
É o espaço da fala e da escuta do sofrimento que se origina na realidade 
concreta da organização do trabalho (Mendes, 2007). A clínica privilegia a fala: busca 
pôr a palavra em ação, abrindo a oportunidade de repensar o trabalho em suas 
dimensões visíveis e invisíveis, de questionar a organização do trabalho e os laços 
sociais que os sujeitos constroem com o real. 
Articula-se ação no ato de linguagem, uma vez que a fala implica uma eficiência 
quando passa pelo processo de elaboração-perlaboração coletiva, possibilitando a 
passagem do espaço de discussão para o espaço de deliberação (Mendes e Araújo, 
2012). O dispositivo clínico atua pela palavra como um revelador do evento 
sintomático (Pérrileux e Mendes, 2015). 
Tal passagem do espaço de discussão para o espaço de deliberação é um 
processo que pode ser entendido através dos conceitos elaborados no escrito de 
Freud (1996 [1914]) Recordar, Repetir e Elaborar (Mendes e Araújo, 2012). 
A perlaboração é um trabalho difícil e, segundo Mendes e Araújo (2012), o fato 
de se dar um nome à resistência por meio de uma interpretação não garante sua 
eliminação. Martins (2013) indica que o termo perlaboração foi utilizado por Freud para 
se referir ao processo de trabalho psíquico inconsciente que é integrado a uma 
interpretação e que superada a resistência que ela suscita, permite ao sujeito libertar- 
-se da influência dos mecanismos repetitivos. 
O que importa é que as intervenções permitam ao sujeito evoluir em seu 
trabalho de perlaboração. A escuta acontece no espaço de discussão do 
coletivo de trabalhadores com a reflexão dos modos de trabalhar, 
propiciando, através da perlaboração, a reapropriação de novas formas de 
relações no trabalho (Martins, 2013). 
 
 
 
28 
 
 
 
A passagem do espaço de discussão para o espaço de deliberação é um 
processo que requer a perlaboração, e não a simples discussão/verbalização do que 
acontece, demandando, assim, uma elaboração (Martins, 2013) interpretativa que 
propicie um processo psíquico de travessia e religação relacionado com o trabalho 
analítico vivido pelo sujeito. 
Mendes (1995) indica que o espaço público de discussão é construído pelos 
trabalhadores e constitui um momento em que são partilhadas a cooperação, a 
confiança e as regras em comum, mas isso, por si, só não constitui um espaço de 
deliberação nos termos acima detalhados. 
Isso posto, ressalta-se a importância da psicanálise para a compreensão da 
dinâmica trabalho, sujeito e ação, bem como para sustentação dos dispositivos da 
prática clínica em relação à escuta do sofrimento, à elaboração e à interpretação 
(Mendes e Araújo, 2012). O fazer envolve conflitos, e a forma como esse fazer afeta 
o sujeito é a principal ocupação da clínica. 
No Brasil, a base metodológica da clínica do trabalho e da ação preconizada 
por Dejours (1992) tem sofrido adaptações, assumindo uma feição voltada para a 
prática da escuta clínica do sofrimento, além da pesquisa. Dessa forma, sem romper 
com a teoria da Psicodinâmica do Trabalho, as práticas clínicas brasileiras têm se 
aproximado com maior ênfase da psicanálise. 
Exemplo disso é a clínica psicodinâmica do trabalho, proposta por Mendes e 
Araújo (2012), que promove o uso da Psicodinâmica do Trabalho na prática clínica, 
envolvendo pesquisa e intervenção. A prática clínica mencionada também inclui 
pensar a posição subjetiva dos trabalhadores a partir de uma concepção psicanalítica 
crítica. 
Ghizoni et al. (2014) explicam que a clínica psicodinâmica do trabalho 
caracteriza-se pela análise dos processos psíquicos mobilizados pelo encontro entre 
o sujeito e as imposições da organização do trabalho, e que as práticas clínicas no 
contexto brasileiro apresentam especificidades e singularidades. 
A psicodinâmica do trabalho tem sido usada como referencial teórico, e não só 
como método de pesquisa com os passos originalmente propostos. Segundo Merlo e 
Mendes (2009), a psicodinâmica do trabalho tem sido usada de duas formas: (i) como 
 
 
 
29 
 
 
 
categoria teórico-metodológica, que implica o uso da teoria e do método originalmente 
proposto por Dejours (1992); e (ii) como categoria teórica, direcionada ao uso dos 
conceitos para delinear pesquisas empíricas e interpretar dados, o que modifica o uso 
originariamente proposto por seu criador. 
Embora cada prática situada e contextualizada em diversos lugares apresente 
particularidades próprias o uso da Psicodinâmica do Trabalho com o método original 
ou dialogando com outras abordagens-teorias-concepções, com o coletivo de 
trabalhadores da mesma ou de diferentes categorias, ou com atendimentos individuais 
pode-se alegar que todas interpelam pela mobilização subjetiva dos trabalhadores. 
A mobilização subjetiva supõe: esforços de inteligência; esforços de 
elaboração na construção de opinião sobre a melhor maneira de superar as 
contradições do trabalho e de acertar nas dificuldades; e esforços para 
participar nas decisões e escolhas em relação à organização do trabalho 
(Dejours, 2011). 
Mobilização subjetiva e identidade são construídas no encontro com o real do 
trabalho. O reconhecimento é uma retribuição moral-simbólica outorgada ao ego por 
sua contribuição na eficácia da organizaçãodo trabalho e sua subjetividade (Dejours, 
2005), sendo a fonte da mobilização subjetiva. 
Acredita-se ser importante diferenciar o conceito de mobilização subjetiva do 
conceito de estratégias defensivas. As estratégias de defesa servem de mediação, 
negação e enfrentamento do sofrimento (Dejours et al., 1994) e são fundamentais 
para manter a saúde no trabalho (Dejours, 1992). 
Porém, a sua utilização pode desencadear uma adaptação exagerada e 
impedir, de forma parcial, a consciência de relações de exploração. Dejours (2006) 
postula a dupla cara das defesas no sentido de que elas podem fazer aceitável o que 
não deveria sê-lo. 
Dessa forma, funcionariam como armadilhas que dessensibilizam perante 
aquilo que produz o sofrimento. Mendes (2007) alerta, ainda, que elas podem perder 
seus efeitos e se transformarem em patologias sociais, como sobrecarga, servidão 
voluntária e violência. 
Por outro lado, e de acordo com Mendes e Duarte (2013), a mobilização 
subjetiva envolve o engajamento da subjetividade, a mobilização da inteligência e da 
 
 
 
30 
 
 
 
personalidade; baseia-se na relação contribuição/retribuição. O sujeito espera que a 
organização do trabalho lhe ofereça uma possibilidade de contribuir e uma 
possibilidade de gratificação simbólica por essa contribuição. Está sujeita à dinâmica 
do reconhecimento, que permite a transformação do sofrimento em prazer. 
Subjaz à mobilização subjetiva uma busca da identidade, pois o sujeito, além 
de executar a tarefa, quer dar vida ao trabalho e deixar sua marca. A mobilização 
subjetiva é o processo pelo qual o sujeito se cria e evidencia a relação entre trabalho 
e identidade constituição e afirmação da identidade. 
Esse conceito fundamenta a concepção de trabalho para a psicodinâmica do 
Trabalho e emerge diante das exigências e constrangimentos da organização do 
trabalho o real do trabalho (Mendes e Duarte, 2013). 
Pérrileux e Mendes (2015) afirmam que é por meio da palavra dos 
trabalhadores que se tem acessado as realidades organizacionais, as quais não 
seriam acessíveis de outra maneira. A circulação da palavra e as verbalizações têm 
permitido o avanço teórico sobre os conhecimentos em clínica Psicodinâmica do 
Trabalho. 
A Psicodinâmica do Trabalho é, sobretudo, uma teoria clínica e tem como 
objeto central abranger a mobilização subjetiva no trabalho, que é o 
engajamento afetivo mediado pela palavra. Nesse processo, torna- -se 
fundamental compreender o sofrimento como o afeto que mobiliza os 
investimentos do indivíduo para transformar a organização do trabalho 
(Mendes, 2012). 
A clínica do trabalho relacionada à psicodinâmica do trabalho e com maior 
ênfase na psicanálise encontra-se orientada por princípios que marcam uma distinção: 
trabalha-se com o sujeito do inconsciente e com o método clínico numa epistemologia 
estrutural-dialética. Nesse nó, a gramática Freud-lacaniana pode oferecer suportes de 
inteligibilidade e operatórios (Gómez, 2014a). 
Apontar a fala como potência exige desenvolver algumas ideias. Lacan (1999 
[1957- 1958]) indica que o significante mostra o funcionamento de uma cadeia 
articulada, que tende a formar grupos fechados e compostos de uma série de anéis 
que se prendem uns aos outros para construir cadeias. 
 
 
 
31 
 
 
 
Assim, as cadeias se prendem a outras cadeias como anéis. Igualmente, o 
autor coloca a questão de que, em todo ato de linguagem, há também uma sincronia 
implicada, evocada pela possibilidade de substituição inerente a cada um dos termos 
do significante. E é ali, na relação de substituição, que reside a potência criadora, a 
força da metáfora. Anuncia-se que é por essa via que entra o sentido. 
Rosa (2004) expõe que a análise pode ser feita pela vertente dos discursos, 
que produzem laços sociais, os quais são laços discursivos e que definem as maneiras 
diferentes de distribuição de gozo. 
Pérrileux e Mendes (2015) afirmam que a clínica do trabalho exige tratar o 
sintoma não como um problema a resolver, mas sim como um enigma que protesta 
por uma decisão; o sintoma faz parte de uma expressão das contradições sociais. 
O modo como se é afetado por um problema e o modo de falar dele é sempre 
singular, mas dizem também das contradições contemporâneas de trabalho. 
A clínica contribui para nomear os sintomas e inscrevê-los na ordem da palavra, 
o que possibilita elaborá-los; propõe um espaço que promova a mobilização subjetiva 
e o engajamento do trabalhador no encontro da identidade dele em seu fazer. Para 
isso, faz-se necessário narrar, falar e expressar os sentimentos e o sofrimento. 
A condução clínica exige pressupor que a fala representa uma cadeia 
significante e que sua gênese, tal como Lacan (1999 [1957-1958]) expressou, implica 
que o discurso sempre diz mais do que aquilo que se diz. Lacan anuncia dois estados 
ou sequências significantes. 
A primeira representa o discurso racional, o qual está integrado em certo 
número de pontos de referência e coisas fixas: é o discurso concreto do sujeito 
individual que fala e se faz. A outra é tudo isso, mas com as possibilidades de 
decomposição, de ressonância e de efeitos metafóricos e metonímicos. 
O autor anuncia: uma sequência vai pelo sentido inverso da outra, pela simples 
razão de que elas deslizam uma sobre a outra e que uma corta a outra. As duas 
sequências merecem atenção, pois é com elas que o trabalho clínico vai se 
desenvolver. 
Experiências clínicas indicam que os casos clínicos que se apresentam não 
estão desligados do modelo do capital, regido pela lógica do descartável. 
 
 
 
32 
 
 
 
Apontar a potência da fala como instrumento humanizador busca clamar pela 
humanidade, busca trazer de volta a capacidade de estabelecer laço social de forma 
a trazer novamente o afeto, desbanalizar as injustiças, resgatar o sentido do trabalho 
num espaço de fala/escuta. O simples (mas poderoso) ato de estar numa posição que 
escute o sofrimento traz novamente uma esperança em um mundo que parece ser 
sempre movido pelo valor. 
A dor precisa ser falada. Quando, por exemplo, um fato de assédio moral 
acontece, isso de algum modo marca o coletivo de trabalhadores, faz diferença e fica 
no nível do indizível. Fucks (2014) traz a ideia de que traumas subsistem em traços 
mnêmicos inconscientes e são regidos pelo tempo da transmissão simbólica que é a 
posteriori, fazendo valer essa subsistência até momentos nos quais os que estavam 
presentes já não estão mais. Isso deixa um legado: o da não fala. 
Para Fucks (2014), ao avançar na trama do trauma e nas formas de se 
espalhar, no âmbito do trabalho, duas figuras se destacam: o testemunho, entre o 
trauma individual e o coletivo; e o sobrevivente. 
Ambos estão ligados à figura do testemunho visceral que contamina quem não 
esteve presente. A autora assinala que, quando o esforço de metaforização é 
interrompido pelo impacto de um evento traumático, os sobreviventes se mantêm no 
limite do dizível. 
Ainda segundo Fucks (2014), o impacto é de grandes proporções, pois a 
transmissão Inter geracional de um trauma pode permanecer latente no decorrer de 
várias gerações. É assim que os trabalhadores se encontram, num impasse 
aprendido, seja pela vivência própria, seja pela figura de testemunho ou sobrevivente, 
mas num espaço de silêncio. 
 A fala permite a elaboração de eventos traumáticos ocorridos no âmbito do 
trabalho, e não apenas porque permite a expressão do vivenciado, mas também 
porque, na mesma lógica, propaga a elaboração. Para compreender como esse 
processo acontece no espaço da escuta clínica do sofrimento, será necessário 
desenvolver a ideia da posição do clínico, que permite ao sujeito ser e falar e que será 
abordada a seguir. 
 
 
 
33 
 
 
 
5.4 A posição do clínico do trabalho 
Nas escutas clínicas, estamos atentos à forma como o inconsciente se 
estrutura como uma linguagem. É pelo discurso que o sujeito se organiza, motivopelo 
qual esse espaço não deve ser minimizado. O clínico do trabalho deve reconhecer a 
condição de falta, pois é o que permite falar sobre o desejo, remetendo-o novamente 
ao mundo simbólico. Deve-se ajudar o trabalhador a enfrentar a sua falta. 
Muitas vezes, as pesquisas em clínica do trabalho e, particularmente, em 
psicodinâmica do trabalho (Ghizoni et al., 2014; Ghizonie e Mendes, 2014, Duarte, 
2014; Ferreira, 2013), têm sido caracterizadas pelo limite que a própria clínica tem na 
perlaboração dos conflitos. Embora as clínicas tenham acontecido coletivamente, 
percebeu-se que os trabalhadores eram resistentes à mudança de posição subjetiva. 
Uma das possíveis causas dessa resistência remetia à posição subjetiva do 
clínico, o que marca uma mudança na condução da clínica do trabalho, qual 
seja: a passagem de pesquisador-clínico a clínico-pesquisador (Mendes, 
2014). 
Mendes e Araújo (2012) indicam que existe uma diferença entre fazer 
pesquisas com o referencial da Psicodinâmica do Trabalho e/ou atuar como um clínico 
do trabalho com essa abordagem. Segundo as autoras, para fazer a clínica, o 
profissional precisa desenvolver saberes sobre o mundo do trabalho e o sofrimento. 
É essencial que o clínico, além de se apropriar da teoria, tenha uma prática, já 
que a prática da escuta e da interpretação articulada com a teoria fortalece seu papel 
na busca da mobilização subjetiva. Ainda, que essa marca na identidade do clínico é 
imprescindível para estabelecer as diferenças entre abordagens metodológicas, 
incluindo o campo das clínicas sociais em geral. 
O deslizamento de clínico-pesquisador implica que o clínico esteja em posição 
de escutar o material que o paciente traz. Segundo Mendes (2014), o processo clínico 
inicia-se na falta que se inscreve na fala, a qual, uma vez nomeada, pode exercer 
efeitos: um anseio que gera uma demanda que é a representação do acessível ao 
desejo. O lugar que se ocupa é de clínico, o que envolve afrontar as situações clínicas 
em Psicodinâmica do Trabalho desde esse lugar; trazendo implícita a ideia de que os 
clínicos devem lidar com suas próprias limitações. 
 
 
 
34 
 
 
 
Na clínica do trabalho, o processo de perlaboração sucede quando é 
propiciada a reintegração pelo trabalhador de sua história de vida em uma 
dimensão que ultrapasse os limites individuais (Mendes e Araújo, 2012). 
Mas devemos estar atentos, pois é um processo que, segundo Freud (1996 
[1914]), não é de curso calmo, existe uma relação com a transferência e a repetição, 
sendo o fenômeno da transferência um fragmento da repetição do passado esquecido. 
Segundo o autor, na prática, é uma árdua tarefa para o sujeito e uma prova de 
paciência para o clínico. 
 Lacan (1992 [1969-1970]) introduz a noção de que o gozo desborda e que a 
repetição se funda num retorno do gozo, mas que, nessa repetição, também há perda 
de gozo e o encontro com a origem da função do objeto perdido. Coelho (2006) esboça 
que é uma forma de abordar o estabelecimento do laço social, articulando o campo 
da linguagem e o campo do gozo. 
Lacan nos propõe conceber a experiência analítica como experiência de 
discurso. O gozo como a satisfação que inclui em si própria o seu avesso (Fucks, 
2014). 
Para Rosa (2004), a escuta do sujeito do desejo supõe uma relação sustentada 
pela transferência, que, por sua vez, produz um saber que está no sujeito e que ele 
não sabe que tem. A autora explica que escutar o sofrimento não significa eliminá-lo, 
mas sim criar uma nova posição diante do seu sentido. 
A singularidade do sujeito convoca a singularidade do clínico, convocação 
essa permitida pela transferência que sucinta a construção de laços afetivos 
(Mendes e Oliveira, 2014). 
O clínico deve também saber trabalhar com a demanda que os trabalhadores 
trazem, pois é a partir dela que será propiciada a elaboração dos conflitos. A proposta 
de Gómez (2014b) de complementar a clínica do trabalho com os dispositivos atuais 
da clínica lacaniana pode contribuir para a escuta do sofrimento no trabalho, pois 
prega pelo resgate da subjetividade e é contrária à lógica funcionalista, com 
preocupações adaptacionistas e produtivistas. 
O autor adverte sobre a presença de tendências que supõem que o sujeito é 
pleno de consciência e vontade, assim como de tendências que negam o que é a 
 
 
 
35 
 
 
 
fantasmática inconsciente e significante (presença do gozo): o sujeito deseja a cura, 
mas ama os seus sintomas, ou seja, gozo como o conceito paradoxal que permite a 
satisfação no desprazer. 
Gómez (2014b) fala que essa contribuição implica aceitar a ideia de incorporar 
e trabalhar com os significantes usados pelo sujeito/trabalhador, e não com os 
significantes usados pelos clínicos do trabalho, pois assim também se poderia estar 
atento ao repertório de significantes que ordenam cada sujeito. Os significantes que o 
sujeito usa são os que o organizam e o subordinam. Um recurso importante seria o 
silêncio, sem orientar, sem sugerir. 
Deve-se estar igualmente atento ao que Lustoza (2009) aponta como as 
consequências do discurso capitalista no laço social. Esse discurso transforma a 
insatisfação constitutiva do desejo humano em uma insatisfação que é dirigida pelo 
mercado. A autora assinala que o capitalismo encontra-se voltado a fomentar nos 
sujeitos uma insatisfação constante que sempre está acompanhada pelo gozo de 
algum objeto descartável, de fruição curta. 
A condição de haver laço social é o reconhecimento de que não somos capazes 
de fazer/dizer tudo sozinhos, mas sim de que, em função de nossa incompletude, 
precisamos nos dirigir ao Outro. 
Rosa (2004) aponta que, na análise do sintoma, deve-se escutar o que não é 
dito no discurso, mas também acrescentar a determinação dos não ditos dos 
enunciados sociais. A autora expõe, ainda, que o campo transferencial permite que o 
clínico ocupe um lugar de suposto-saber: o sujeito supõe que fala para quem sabe 
sobre ele, mas, nessa fala, ele se escuta e se apropria do próprio discurso. 
A noção de sujeito suposto-saber é necessária para que aquele que sofre 
possa se dirigir ao analista. Logo, o analista não ocupa o lugar do saber, mas 
reconhece a importância dessa noção para o paciente. 
A partir de pesquisas empíricas (Mendes, 2015), foi constatado que, muitas 
vezes, o sujeito não quer abrir mão de seu sofrimento e sintomas e que a relação 
entre defesa, sofrimento e trabalho se instala numa lógica que a psicodinâmica do 
Trabalho não dá conta. Dessa forma, quando o clínico se depara com esses 
 
 
 
36 
 
 
 
fenômenos, ele deve se colocar numa posição que consiga acolher e entender que a 
passagem para a perlaboração pode estar comprometida. 
Se a Clínica Psicodinâmica do Trabalho busca um comprometimento político, 
deve-se estar atento à forma como é possível a mudança subjetiva, que se inicia na 
posição do clínico. Não é uma escuta clínica do sofrimento sozinha que vai dar contar 
da posição subjetiva do sujeito, do coletivo de trabalhadores e do efeito político. 
A proposta não é só metodológica, mas também teórica do conhecimento da 
necessidade de assumir a própria falta para fazer laço social. O clínico é parte 
indissociável da condução clínica e sua subjetividade é uma das dimensões do próprio 
método. Sua formação não é só técnica, ética, mas também afetiva. 
Nesse sentido, a clínica não busca respostas e soluções de modo racional e 
objetivo e conviver com essa frustração é fundamental para que ocorra, em 
primeiro lugar (Mendes e Araújo, 2012). A posição do clínico implica também 
tornar-se um elo na escuta que possibilite a reumanização do sofrimento e 
deixar surgir a oportunidade de uma palavra (Mendes e Araújo, 2012). 
Pérrileux e Mendes (2015) apontam que é imprescindível que o clínico do 
trabalho ocupe um lugar vazio que permita ao sujeito acessar uma parte de sua 
verdade de modo a se inscrever de maneira diferente no laço social.A posição do 
clínico não consiste em optar pelo geral em detrimento do singular, nem pelo que pode 
ser chamado de realidade fantasmática em detrimento da realidade histórica. 
Consiste em manter os dois polos em tensão de forma que possa circular entre eles 
a depender do percurso empreendido pelo paciente/sujeito/trabalhador. 
Em alguns casos, uma tomada de posição do clínico pode impedir o 
prosseguimento do que poderia ser um trabalho de elaboração psíquica (Pérrileux e 
Mendes, 2015). A supervisão clínica da condução é uma forma de dar curso ao 
trabalho de elaboração psíquica (Mendes, 2015) e considera-se que, a partir desse 
ponto, se constrói também a posição do clínico do trabalho. 
Acredita-se que a escuta clínica do sofrimento no trabalho é um ato político 
que denuncia a normalidade dos sintomas (Mendes e Oliveira, 2014) e que é 
legítima uma concepção que leve em consideração os desafios nas relações 
de trabalho, assim como a história singular do sujeito (Nogueira e Bernardo, 
2013). 
 
 
 
37 
 
 
 
Proclama-se a busca pelo fortalecimento do laço social através da escuta 
tentando desconstruir a racionalização instrumental, atrelada a vínculos que façam 
surgir o sujeito. Destaca-se a importância da ética na clínica do trabalho (Mendes, 
2012), que se situa no respeito às diferenças dos sujeitos envolvidos. Busca-se uma 
fala verdadeira e a realização, pelo sujeito, de sua história em relação a um futuro, 
diminuindo o abismo do reconhecimento entre seu afeto e a emissão de suas palavras. 
A partir do princípio de que os sujeitos sofrem e manifestam seu sofrimento, a 
ética do clínico do trabalho é assegurar a discrição e o sigilo, permitindo ao trabalhador 
identificar, nomear e comunicar determinadas percepções avaliadas como ameaça. 
A verbalização do sofrimento deve ser ancorada por meio do laço que se forma 
com os envolvidos e propiciar ao sujeito potência para modificar o lugar que ocupa. 
O reconhecimento pelo outro da situação que gera mal-estar é essencial para a 
confrontação com o real experimentado e o que coloca o sujeito em movimento, 
desnudando os cenários prescritos e repetitivos para possibilitar o confronto com o 
real, manifestado no silêncio e que denega o sujeito da sua realidade. 
5.5 Objetivo da clínica psicodinâmica do trabalho 
O poder da fala na clínica do trabalho como instrumento político, tem como 
objetivo refletir sobre o papel e a posição do clínico do trabalho. Essa clínica é o 
espaço da fala e da escuta do sofrimento originado pela organização do trabalho, que 
privilegia a fala, já que busca pôr a palavra em ação. Constitui uma oportunidade de 
repensar o trabalho em suas dimensões visíveis e invisíveis, de questionar a 
organização do trabalho e os laços sociais que os sujeitos constroem com o real. 
 A escuta busca, através da reflexão dos modos de trabalhar e do processo da 
perlaboração, a reapropriação de novas formas de relações no/com o trabalho 
enquanto a condução clínica interpela pela mobilização subjetiva. 
A clínica do trabalho relacionada à psicodinâmica do trabalho e com maior 
ênfase na psicanálise se serve da dimensão da linguagem para produzir efeitos 
políticos. Apontar a potência da fala é clamar pela humanidade, buscando trazer de 
volta a capacidade de fazer laço social de forma a resgatar o afeto. 
 
 
 
38 
 
 
 
 A fala como instrumento político permite a elaboração de eventos traumáticos 
acontecidos no âmbito do trabalho, e não apenas porque permite a expressão do 
vivenciado, mas também porque, na mesma lógica, propaga a elaboração. Promove-
se a necessidade de a abordagem psicodinâmica do trabalho incluir conceitos vindos 
da psicanálise lacaniana para compreender os processos de apego ao sofrimento. 
Falar da posição do clínico do trabalho implica vislumbrar que ela repercute no 
processo mesmo de perlaboração. O clínico deve estar numa posição de escutar o 
material que o paciente traz e de saber que o processo clínico se inicia na falta que 
se inscreve na fala num anseio que gera uma demanda. 
Os clínicos devem lidar com suas limitações e faltas. A posição do clínico deve 
contemplar o curso não calmo do processo, tendo em vista que existe uma relação 
com a transferência e a repetição. 
O clínico do trabalho deve considerar o significado da noção de gozo e que a 
repetição se funda num retorno do gozo. Acredita-se que se deve complementar a 
clínica do trabalho com os dispositivos atuais da clínica lacaniana, o que pode 
contribuir para a escuta do sofrimento no trabalho. 
Questionar a presença de tendências que supõem o sujeito pleno de 
consciência e vontade, bem como de tendências que negam o que é a fantasmática 
inconsciente e os significantes que ordenam cada sujeito é um primeiro passo. 
A experiência analítica se funda no discurso, e o clínico é parte indissociável 
da condução em clínica, sendo sua subjetividade uma das dimensões do próprio 
método. O clínico do trabalho deve ocupar um lugar vazio que permita ao sujeito 
acessar uma parte de sua verdade de modo a se inscrever de maneira diferente no 
laço social. 
Reafirmamos que a posição do clínico não consiste em optar pelo geral em 
detrimento do singular, nem do que pode ser chamado de realidade fantasmática em 
detrimento da realidade histórica, mas sim em manter os dois polos em tensão de 
forma que possa circular entre eles a depender do percurso empreendido pelo 
paciente/sujeito/trabalhador. 
 
 
 
39 
 
 
 
 Em alguns casos, uma tomada de posição do clínico pode impedir o 
prosseguimento do que poderia ser um trabalho de elaboração psíquica e, para isso, 
se torna fundamental a supervisão clínica da condução. 
Tem-se a convicção de que é por via da palavra que podemos instaurar o mais 
humano que se tem, que é o laço social. A palavra provoca afeto e restitui a 
desbanalização das injustiças e permite a elaboração do que faz sofrer. 
A palavra tem um poder de inscrever no simbólico o que escapa ao controle, 
assim permitindo a elaboração-perlaboração dos eventos. Anuncia-se, ainda, que isso 
é permitido pela posição do clínico, que deve estar preparado para receber o que lhe 
vai ser depositado pelo sujeito. 
A condução clínica no trabalho tem como propósito a emancipação e a 
construção de laços afetivos, além de mobilizar no sujeito o desejo de resgatar a 
capacidade de pensar sobre o sofrimento no trabalho e seu compartilhamento com o 
coletivo de trabalhadores. A clínica do trabalho relacionada à psicodinâmica do 
trabalho e com maior ênfase na psicanálise opera a favor da construção do laço social. 
6 TEORIA DA FORÇA DOS LAÇOS 
Ao analisar as redes sociais a partir da perspectiva da força dos laços, 
Granovetter (1973) propõe-se a fornecer uma ferramenta que permita ligar os níveis 
micro e macro de análise, o que ele considera ser a resposta para um dos maiores 
problemas das teorias sociológicas. 
 O trabalho central de sua obra, intitulado The Strength of weak ties (A força 
dos laços fracos), publicado em 1973, aponta as socialidades como componentes 
importantes no mercado, em termos de informações a respeito de vagas de emprego 
entre os agentes com diferentes conjuntos de informações (KRAMARZ; SKANS, 
2014). 
Granovetter (1973, 1983) formulou a hipótese da força dos laços fracos, 
desenvolvendo grande parte do pensamento sociológico e econômico sobre redes de 
trabalho, ao aplicar sua tese ao mercado. O autor diz que os laços fracos, aspecto até 
então negligenciado na análise de redes de relacionamento, desempenham papel 
 
 
 
40 
 
 
 
fundamental, por serem responsáveis pela difusão da informação e influência, assim 
como pela mobilidade das oportunidades. 
 Granovetter (1973) diz que, embora laços fortes estejam mais motivados a 
ajudar, laços fracos são mais eficazes, porque são mais propensos a se mover em 
círculos diferentes, tendo acesso a informações distintas daquelas que circulam emredes formadas por pessoas muito próximas. 
Os laços fortes resultam na redundância da informação. Se A e B e A e C 
estão ligados por laços fortes, é provável que B e C também se relacionem, 
podendo ter laço forte ou fraco (embora seja mais provável que haja laço 
forte, em função da similaridade entre eles ser resultante dos seus laços 
fortes com A). Estas ligações na rede representam o princípio do fechamento 
triádico, uma vez que, quando os nós B e C têm um amigo A em comum, 
então a formação de uma aresta entre eles produz uma situação na qual os 
três nós têm bordas que se conectam, como um triângulo na rede (EASLEY; 
KLEINBERG, 2010). Assim, as informações que fluem entre A, B e C tornam-
se redundantes, pois o fluxo é cíclico (GRANOVETTER, 1973). 
 
Um laço fraco é estruturalmente benéfico porque é mais provável fornecer 
informações não redundantes do que um laço forte (BURT, 1992). 
Por exemplo, C pode ter um laço fraco com um ator D, que não se relaciona 
com A e B. Este ator D também deve ter laços fortes com outros atores, E e F, que 
não se relacionam com A e B. Por consequência, o laço fraco que liga C e D pode ser 
um canal pelo qual fluem novas informações. 
Como este laço é o único canal que liga A e B a E e F, ele também se torna 
uma ponte. A remoção desse laço fraco causaria um dano maior à rede do que a 
remoção de um laço forte, pois sua ausência geraria um bloqueio no fluxo de 
informações entre os atores (GRANOVETTER, 1973). Desta forma, o argumento 
central é que os contatos mantidos por meio de laços fracos são mais propensos a 
serem pontes para ligações de redes socialmente distantes, fornecendo acesso a 
informações e recursos novos (ARAL, 2016). 
Portanto, para Granovetter (1973), os laços fracos são mais propensos a 
associar membros de diferentes grupos. 
Espera-se que eles alcancem maior número de pessoas e percorram maiores 
distâncias sociais do que os laços fortes, sendo canais que transmitem informações, 
ideias e influências. Laços fracos são heterogêneos e são percebidos como elementos 
 
 
 
41 
 
 
 
críticos da estrutura social, ao permitir que a informação flua em outros clusters sociais 
(BURT, 1992). Por isso, um laço fraco não é pertinente à fraqueza da relação, mas à 
possibilidade de conexões com outros sistemas sociais (IBARRA, 1993). 
Esse efeito está relacionado à informação que uma fonte de conhecimento 
pode ter e, portanto, independe da confiabilidade percebida dessa fonte 
(LEVIN; CROSS, 2004). Por sua vez, os laços fortes atuam influenciando o 
processo de tomada de decisão em cada grupo, além de serem mais 
confiáveis (GRANOVETTER, 1973). 
Assim, uma rede ideal deve conter laços fortes e fracos, cabendo à situação 
apontar o valor real e o significado de cada laço. 
Mas quais critérios definiriam um laço fraco ou forte? Para Granovetter (1973, 
p. 1361), a força dos laços é aclarada como “uma combinação, provavelmente linear, 
da quantidade de tempo, intensidade emocional, intimidade (confidência mútua) e os 
serviços recíprocos que caracterizam o laço”. Neste sentido, torna-se relevante 
identificar se os laços são fortes, fracos ou ausentes. 
 Quanto mais os indivíduos interagem uns com os outros, maior o sentimento 
de amizade entre eles (HOMANS, 1950), e mais semelhantes eles se tornam 
(BRAMEL, 1969), reforçando o laço forte que surge a partir da proximidade e 
semelhança. 
Alguns autores influenciados pelo estudo de Granovetter (1973) 
desenvolveram pesquisas que também analisavam o impacto dos laços em aspectos 
relacionados ao trabalho. Ericksen e Yancey (1980 apud Granovetter, 1983) 
identificaram que os laços fortes foram utilizados pelos entrevistados com menor nível 
de escolaridade. 
Lin, Vaughn e Ensel (1981) diz que os laços fracos estão mais relacionados 
com a realização profissional, ou seja, estes laços conectaram os respondentes de 
modo a conseguir uma boa colocação na estrutura ocupacional. 
Zenou (2015) diz que os laços fracos proporcionam melhor acesso ao emprego 
em muitos casos, porque proporcionam, a um trabalhador desempregado, 
essencialmente mais ligações com probabilidade subjacente de se tornar empregado. 
 
 
 
42 
 
 
 
É importante pontuar, ainda, que o artigo de Granovetter estimulou pesquisas 
sobre a força dos laços fracos para a transmissão de informações em uma ampla 
variedade de contextos, e não apenas no mercado de trabalho (GEE, et al., 2016). 
Embora a hipótese da força dos laços fracos tenha se tornado estabelecida, 
surgem dúvidas e discordâncias sobre sua aplicabilidade, ao demonstrar o 
uso e valor real de cada vínculo (JACK, 2005). 
 Em 2003, Carpenter, Esterling e Lazer desenvolveram uma pesquisa que 
trouxe, como resultado, a compreensão de que, quando a informação é mais 
demandada, os laços fracos são menos eficientes na sua distribuição. Ademais, o 
estudo de Centola (2010), por exemplo, afirma que a capacidade de compartilhamento 
de informações nas ligações de rede fracas depende do conteúdo que será 
transmitido. Para o autor, informações voltadas a questões de comportamento com 
saúde são menos prováveis de serem compartilhadas por laços fracos. 
Gee et al. (2016) aponta, a partir da pesquisa realizada em 55 países, que mais 
pessoas conseguem emprego onde seus laços fracos funcionam. No entanto, tal 
resultado ocorre, na visão dos autores, não porque os laços fracos são mais úteis do 
que laços fortes, mas porque eles são mais numerosos; ainda assim, deve-se 
considerar uma variação substancial no valor de um laço ao analisar diferentes países. 
Gee et al. 
(2016) demonstra – se que o nível de desigualdade de renda em um país está 
positivamente correlacionado com o valor agregado de um laço forte, de modo que os 
laços fortes importam mais quando há maior desigualdade de renda, em questões de 
alcance de um possível emprego. 
Aral (2016) aponta uma nova teoria dos laços fracos ainda em sua infância, 
tendo, no coração do movimento, a tentativa de examinar profundamente a coo 
evolução das redes e da informação e conteúdo de conhecimento que flui através 
delas, e as diferenças entre os buracos estruturais locais e globais. 
Os elementos que caracterizam a força de um laço, entretanto, permanecem 
uma incógnita. Apesar da definição proposta por Granovetter (1973), estudiosos 
consideram arbitrariamente, em suas pesquisas, a escolha de características para 
 
 
 
43 
 
 
 
definir um laço como fraco ou forte, apontando a lacuna existente para melhores 
mensuração das ligações entre nós. 
7 OS LAÇOS SOCIAIS DE INDIVÍDUOS EM SOFRIMENTO PSÍQUICO 
Construção do objeto de estudo 
A essência de viver para o indivíduo humano está alicerçada fundamentalmente 
no sistema coletivo, que permite ao ser assim desenvolver-se. Durkheim (2002) 
enfatiza a relevância das instituições sociais (religião, família, governo), 
argumentando que o indivíduo tem necessidade de sentir-se seguro e respaldado pelo 
meio social. Considerando que uma sociedade sem regras de certa forma organizadas 
pode levar o homem ao desespero; logo, argumenta que o que realmente importa é 
que o indivíduo se sinta parte da coletividade. 
Assim, no desenvolvimento das relações humanas são constituídas ligações, 
tramas, laços com diversas implicações, intencionalidades e intensidades, sendo 
estes, mútuos, recíprocos, consistentes ou não, todos encontram-se alicerçados 
incontestavelmente em laços sociais. 
Ao conceitualizar laço social numa perspectiva psicanalítica, Poli (2004) o 
define como elemento agregador de enlace entre as relações humanas, fundamental 
para a construção da história do sujeito e de sua própria sociedade. 
No sentido relacional entre o sujeito e o outro, entre as pessoas, entre o 
analista e o paciente, Freud (1912) já orientava que para que houvesse êxito 
em qualquer relação psicanalítica, o laço entre as pessoas ficaria evidente 
através do fenômeno denominado transferênciao que primeiramente 
denominou confiança (VIEIRA, BESSET; 2008). 
 
No contexto de elos de confiança, do fenômeno da transferência que enlaça os 
indivíduos no aspecto relacional, Molina (2005) apresenta a perspectiva egocêntrica 
para a análise das redes sociais pessoais que possuem um núcleo denso, formado 
por laços mais íntimos e fortes, e por uma periferia, composta por laços então mais 
dispersos e fracos. Essas redes e os mecanismos (laços) que as constituem, além de 
terem sido empiricamente comprovadas pelos antropólogos da Escola de Manchester, 
 
 
 
44 
 
 
 
denotam a significância dos reais sentidos que as redes e laços tem na visão das 
próprias pessoas. 
Granovetter (1983) ao teorizar sobre os laços sociais, faz uma crítica a 
Sociologia que não apresentaria uma ligação que fosse convincente entre os níveis 
macro e micro para uma análise do sistema social. Ressalta a importância dos 
vínculos interpessoais, os quais dá o nome de laços, que se verificam nas interações 
sociais em nível micros sociais, e discorre sobre a força que estes laços exercem nas 
tomadas de decisões, nas negociações, no produto final destas relações. A partir de 
então desenvolve os conceitos de laços sociais fortes, fracos ou ausentes. 
Os laços sociais fracos são os responsáveis pela maior estruturação das 
redes sociais, bem como a transmissão de informações, de trocas, de 
comunicabilidade através da rede. A maior parte do fluxo de informações 
entre as pessoas se dá através dos laços fracos ao invés dos laços fortes 
(GRANOVETTER, 1983). 
Este fato é explicado, por exemplo, quando nossos afetos, nossos amigos, 
pessoas mais envolvidas em nosso cotidiano (laços fortes) tendem a circular nas 
mesmas redes que também circulamos. 
 Assim as informações que recebemos, provavelmente terão bastante 
semelhança com as que já sabemos, ao passo que as pessoas que não conhecemos, 
ou que temos ligações opacas, ou uma relação mais frágil ou de pouca importância 
(laços fracos), possibilitam que saibamos informações diferentes das que detemos, 
nos impulsionam a circular em outras redes, o autor Granovetter (1973, 1983) diz que 
em contrapartida estas relações opacas chamaram de “a força dos laços fracos”. 
Os laços fracos se diferem dos laços ausentes, por serem aqueles laços de 
pouco significado substancial atribuído pelas pessoas, como por exemplo os 
moradores de um mesmo bairro, que se veem eventualmente, sem se conhecerem. A 
ilustração a seguir mostra espacialmente a formação dos tipos de laços sociais. 
Granovetter (1983) comprova a importância capital de mantermos os nossos 
contatos distantes, ou seja, os nossos laços fracos, visto que são aquelas pessoas 
com quem se tem contatos eventuais, aos que não fazem parte das nossas relações 
do cotidiano, que são motivadoras do trânsito em novas redes. Na figura ficam 
ilustrados por pertencerem também a outra rede. 
 
 
 
45 
 
 
 
 O autor atribui cientificamente à importância dos laços fracos, visto que circular 
numa rede diferente daquela que o sujeito está habituado a transitar oportuniza novas 
ideias e novos relacionamentos. 
Pensando na trama das trocas relacionais, os indivíduos chamados loucos, 
sofreram e sofrem maus-tratos físicos e humilhações morais de toda ordem. 
Podem ser vistos como motivos de vergonha para suas famílias e seus 
núcleos sociais, e como um perigo e uma ameaça para a sociedade. São 
tutelados e ficam condicionados a uma inércia passiva, por médicos, 
profissionais da justiça e tantas outras autoridades (MOLINA, 2005). 
Ainda por muitas das vezes, podem ou até são considerados incapazes de 
produzir, de conviver e até de amar, rompendo os laços sociais no âmbito cultural, de 
trabalho, de trocas, de afeto, que alicerçam e dá sentido à vida humana. 
Saraceno diz (1999) quando diz que os manicômios além de serem miseráveis, 
são também locais vazios de relações afetivas. Desta forma um dos principais 
objetivos da reforma psiquiátrica, é evitar que a pessoa acometida de uma doença 
mental, possa ser privada de vivenciar os seus laços afetivos ou sociais. 
Vislumbrando o indivíduo em sofrimento mental no contexto de sua vida social, 
incluindo os laços familiares e seus afetos, faz-se necessário que a família possa 
cuidar e ser cuidada, para que se sinta protegida e aliviada da sobrecarga vivenciada, 
no sentido de que possa cuidar do indivíduo de maneira mais autônoma e livre 
(SILVEIRA; SANTOS JUNIOR; 2009). 
As denúncias realizadas por Foucault (2003) e Goffman (2005) deslocam a 
convergência de um discurso centrado na prática psiquiátrica, para uma aproximação 
de uma visão mais humana, integradora, permitindo a visualização de um ser humano 
experenciando um fenômeno – a loucura - e não o inverso (FONTES, 2007). 
No cenário brasileiro, os indivíduos em sofrimento mental muitas vezes trocam 
a solidão e as privações impostas pelos hospitais psiquiátricos, pelo abandono nas 
ruas, situação está imposta pela falta de apoio necessário a consolidar e reatar os 
laços familiares, e de afeto que foram abruptamente rompidos pela internação, 
configurando-se em importante problema social, político e de saúde pública (BRASIL, 
2006). 
 
 
 
46 
 
 
 
Goffman (1996) descreve a mortificação do eu, do sujeito asilado no 
manicômio. Destacando o comprometimento dos laços de sociabilidade deste sujeito, 
de maneira que o doente mental e a instituição asilar, praticamente confundem-se, 
pela internalização dos padrões e rotinas asilares. Este fenômeno o autor chama de 
“morte social”. 
Partindo-se de uma lógica autoritarista, seja dentro do hospital psiquiátrico ou 
fora dele, a única voz que este indivíduo encontra é a voz que o invade e o reprime, o 
impelindo a uma passividade inerte, que o transforma em um indivíduo sem voz, sem 
direito, com uma terceira voz a falar por ele. 
Dialeticamente falando, se ao invés de falarmos por eles, falarmos com eles, 
a conversa certamente seria outra. Sendo possível, ao escutá-los 
compreender que muito antes de ser doença, a loucura é uma experiência 
humana (BRASIL, 2006). 
Por esta total incompreensão deste modo diferente de experienciar a vida, os 
indivíduos foram encarcerados a pretexto de serem curados, foram sendo 
cronificados, tutelados, praticamente destruindo-se seus laços sociais, familiares, de 
afeto. 
Partindo deste vértice, da ruptura dos laços sociais dos indivíduos em 
sofrimento mental pelo enclausuramento no manicômio, cabe discutir as motivações 
hegemônicas deste processo. Esta contextualização histórica permite a compreensão 
dos múltiplos vetores e interesses que os historiadores apontam na concepção do 
processo saúde-doença, os quais envolvem o fenômeno da loucura. 
 Oliveira (2009) traz à tona a discussão que permeia os conflitos na 
estruturação da saúde mental, e os interesses hegemônicos históricos, que envolvem 
a lógica manicomial. O autor evidencia o modelo manicomial como centrado 
especificamente na figura profissional do médico, calcado na hegemonia disciplinar. 
Enfatiza que no modelo asilar de atenção, as discussões são conduzidas a se darem 
de forma restrita, sendo preferencialmente controladas, com privilégios aos ambientes 
técnicos e/ou acadêmicos. 
O modo de atenção psicossocial, no entanto, rompe com esta configuração 
disciplinar, convidando a uma discussão pública dos problemas mentais, 
 
 
 
47 
 
 
 
impulsionando as pessoas, anteriormente denominadas pacientes, agora usuários a 
assumirem seus lugares de cidadãos num mundo de direitos e deveres (OLIVEIRA, 
2009). 
No contexto da idade média, o louco gozava de certa liberdade e podia circular 
pelos espaços, sendo os feudos lugares relativamente pequenos, o que, de certa 
maneira, permitia que as pessoas se conhecessem e participassem da vida umas das 
outras de forma mais aproximada, numa perspectiva de uma vida comunitária. Com o 
crescimento das cidades, visto que o anonimatootimiza as vulnerabilidades, o louco 
passa a ser visto como um malfeitor, e adquire um status de indesejado, tendo por 
solução a exclusão. No final da Idade Média acontecimentos marcantes no campo das 
ideias, da política e da economia, motivam mudanças nos costumes que marcarão a 
Idade Média. 
Processam-se transformações nas maneiras de viver e nas formas subjetivas 
e concretas de se é estar no mundo, que não permitem que o ócio encontre 
alguma acomodação e seja compreendido ou aceito, visto que as tônicas do 
cotidiano das pessoas passam a ser centradas nos negócios (OLIVEIRA, 
2009). 
Naquele cenário dos feudos, e buscando compreender o aprisionamento 
histórico do louco, Foucault (1993) evidencia uma relativa liberdade que este gozava, 
muito embora ficando evidente por ora, o status que fora dado a sua linguagem, sendo 
por vezes vista como sem status, e, por outras vezes, com um valor particular. 
O autor faz referência a uma identificação entre a loucura e a literatura, 
especialmente porque a loucura não tem a obrigatoriedade de seguir as regras da vida 
cotidiana para a sua expressão, ocupando, assim como a literatura, enquanto 
disciplina e campo do saber, um lugar fora da centralidade, noutras palavras, um lugar 
marginal. 
Ainda neste momento histórico, tendo a liberdade como pano de fundo, o louco 
continua nesta configuração de diferente, sobretudo ainda liberto, quando era atração 
lúdica nos teatros europeus, divertindo os expectadores, visto que era uma 
personagem que externalizava a verdade, da qual os demais atores e expectadores 
não teriam consciência. 
 
 
 
48 
 
 
 
A festa da loucura é um outro evento exemplar a este respeito, quando as 
instituições sociais, linguísticas e religiosas eram questionadas pela inversão de 
papéis entre os atores e o questionamento de valores e condutas pairava neste 
acontecimento, o qual se destacava também por ser a única festa que não era 
religiosa por natureza (FOUCAULT, 1993). 
Muito embora, na Idade Média, ainda os loucos fossem admitidos e 
pudessem vagar pelas cidades, eles não se casavam, não tinham permissão 
para participarem de jogos, e eram sustentados por terceiros, por outras 
famílias. O autor ainda enfatiza que quando se tornavam agitados, eram 
afastados das cidades, e a título de segurança eram presos (FOUCAULT, 
1993). 
A época da “Era das Luzes” que inclusive Kant afirma representar uma época 
em que os homens saem de uma tutelagem que estes mesmos impuseram a si 
próprios o louco passa a ser recluso às instituições totais, em locais esguios à 
centralidade da sociedade, neste momento, ocupando um status de periculosidade, 
anteriormente atribuído aos acometido pela lepra. 
Os rótulos de perigoso e improdutivo começam a ser atribuídos, as pessoas 
com algum transtorno mental. No século XVIII, em meio às luzes do Iluminismo, a 
loucura passa a ser objeto de tratamento científico, sendo estudada nos manicômios, 
e tendo por sujeitos, os pacientes na extensão do termo, configurando-se, desta 
forma, as características fundantes da Psiquiatria Clínica. 
Dentro deste contexto hegemônico, de tentar aprisionar a loucura para uma 
ciência específica- a psiquiatria- no século XIX busca-se um reconhecimento de uma 
especialidade médica respeitável (OLIVEIRA, 2009). 
O pensamento de Foucault (1973) mostra-se, no mínimo, desconfiado com as 
“Luzes” e com o sucesso da progressão da razão, no sentido de um racionalismo 
disposto a “tudo explicar”. O autor afirma que as luzes que porventura tivessem 
descoberto a liberdade, paradoxalmente inventaram a disciplina. 
No final do século XIX, duas correntes disputam espaços dentro da psiquiatria: 
primeiro a psiquiatria organicista, que se ocupa de contemplar o tratamento da loucura 
por meios físicos, químicos ou biológicos, a qual perdura até a contemporaneidade; 
segundo a vertente dinâmica que busca as interpretações com base na Psicanálise. 
 
 
 
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No contexto histórico do Iluminismo, a ética da psiquiatria moderna exerce direito 
sobre o comportamento, o corpo e a vontade do louco, tendo respaldo pela 
cientificidade da época, sendo legitimada pelo corporativismo profissional médico. 
A loucura é aprisionada por Kraepelin (2001), que entende a gênese da doença 
mental como oriunda da genética, numa visão biologista, a partir de uma descrição 
detalhada e pormenorizada de sintomas, cartografando e classificando o que é normal 
ou patológico (AMARANTE, 2007). 
No final do século XX, a concepção de doença mental no Brasil é fortemente 
envolta pelo Movimento Higienista, que tinha no seu cerne a problematização, não só 
da doença, mas dos seus determinantes sociais e ambientais. Os problemas sociais 
passam a ser vistos como doentios, sendo assim medicalizados. 
As maneiras de caminhar, vestir-se, se expressar, falar, se relacionar, são 
passíveis de medicalizações, se não enquadrados como eventos adequados 
ou normais. Até esta etapa, a psiquiatria mantém o direito sobre os corpos e 
comportamentos, sendo o profissional médico psiquiatra aquele que busca 
um status social de consultor privilegiado. No que se refere às normas de 
comportamento social, nos relacionamentos interpessoais, familiares, 
amorosos, afetivos, exercendo neste século um papel de controlador social 
do comportamento humano (COSTA, 2007). 
O paradigma psiquiátrico é construído no contexto da reforma francesa e do 
Iluminismo, num contexto em que a superação das explicações religiosas da Igreja 
Católica sobre a loucura, se funda na ciência positivista. A medicina foi a ciência que 
sofreu um maior e mais significativo impacto neste processo. 
 Nasce a psiquiatria enquanto especialidade médica, capaz de aprisionar a 
loucura (inclusive no sentido literal do termo) antes objeto de estudo da filosofia, com 
seus questionamentos sobre alma, paixões e moral loucura essa que se torna doença 
mental, sendo passível de tratamento médico. Assim, o delírio, bem como o sonho, 
passa a ser um sintoma clínico, um erro por lhe faltar a racionalidade enquanto 
fenômeno psi, e que, portanto, tem de ser extirpado (COSTA-ROSA, 2000). 
Segundo Foucault (1993) o século XVII e XVIII correspondem à grande 
internação, pois a incapacidade para o trabalho leva o louco, juntamente com os 
mendigos, prostitutas e demais excluídos do meio social, aos leprosários, 
 
 
 
50 
 
 
 
permanecendo até sua morte. Neste contexto de exclusão, a hospitalização não 
possuía uma função clínica, mas sim de reclusão, salvaguardando a ordem social. 
Entre o século XVIII e no início do século XIX, surge um novo conceito da 
psiquiatria, quando os médicos Philipe Pinel e William Tuke, retiram as correntes dos 
loucos e introduzem, dentro dos hospícios, práticas terapêuticas, transformando o 
hospício em uma instituição médica. 
 Esta libertação não é total, pois o hospital passa a ser um local de classificação 
e diagnóstico, e um local onde o saber médico passa a ser o único detentor da verdade 
sobre a doença e o tratamento do paciente. 
Neste contexto, e justaposto ao tratamento medicamentoso, surgem outras 
técnicas de tratamento, como isolamentos e servidão, justificados como parte de 
tratamento ou cura (FOUCAULT, 2003). 
Segundo Amarante (2005) os movimentos da reforma psiquiátrica no mundo 
surgem após a Segunda Guerra Mundial, e no Brasil, é contemporâneo ao Movimento 
da Reforma Sanitária, quando há uma luta pela saúde coletiva, por mudanças nas 
práticas de atenção e gestão e pela criação de novas tecnologias de cuidado. 
Privilegiando a discussão pelo prisma do modelo médico hegemônico, no 
contexto nacional as políticas de saúde mental, até a década de 80 eram 
seguidas as diretrizes da psiquiatria, sendo que na década de 70, as 
vinculações da psiquiatria com a rede de hospitais psiquiátricos e com a 
indústria farmacêutica se mostram favoráveis ao aumento do consumo de 
psicotrópicos e ao aumento das intervenções hospitalares,muito embora sua 
ineficácia fosse evidente, tendo em vista a baixa taxa de melhoras e de altas 
(COSTA-ROSA; MONDONI, 2006). 
Amarante (1995) detalha a trajetória da reforma psiquiátrica brasileira 
evidenciando que, no contexto da abertura do regime militar surgem as primeiras 
manifestações na saúde, principalmente com a criação de 1976, do centro brasileiro 
de estudos de saúde (CEBES) e do movimento de renovação médica (REME), como 
espaços de pensamento crítico na área. 
No interior destes espaços, surge o Movimento dos Trabalhadores de Saúde 
Mental, que denuncia e acusa o governo militar, principalmente no que se refere à 
assistência psiquiátrica da época, de práticas de corrupção, fraudes e torturas. 
 
 
 
51 
 
 
 
Em 1978, é realizado o V Congresso Brasileiro de Psiquiatria, quando são 
discutidos temas, não somente relacionados ao campo da Saúde Mental, mas 
também os de cunho político e social. Neste importante contexto, cabe destacar a 
vinda ao Brasil de Franco Basaglia, Erving Gofram, Felix Guatari e Robert Castel, a 
fim de participarem do I Congresso Brasileiro de Psicanálise de Grupos e Instituições. 
O ano de 1987 é marcado pela realização da I Conferência Nacional de 
Saúde Mental e pelo II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores 
de Saúde Mental, sendo que este último se reveste de uma particular 
relevância, justificada pela participação de associações de familiares e 
usuários, denotando a incorporação destes atores no contexto de 
participação social (AMARANTE, 1995). 
8 CONSIDERAÇÒES SOBRE PSICOSE E LAÇO SOCIAL: “O FORA-DO-
DISCURSO DA PSICOSE 
A teoria freudiana sobre a cultura aponta que, na origem de qualquer cultura, 
há uma interdição do incesto. Freud, no texto Totem e Tabu (1913), recorre ao mito 
da horda primeva para desenvolver sua teoria sustentada pela lei do pai morto, ou 
seja, representado simbolicamente. 
Essa lei regula a entrada do sujeito na cultura, mediando as relações sociais. 
Percebe-se, com isso, uma estruturação da vida social a partir da função do pai como 
uma lei ordenadora do desejo incestuoso, conforme referendado pela teoria do Édipo. 
Lacan parte das formulações freudianas sobre o Édipo, mas amplia esse 
conceito, referindo-se à constituição do sujeito através da linguagem e tecendo uma 
construção mais estrutural desse tema. 
Em suas primeiras formulações, Lacan demarca que o pai que exerce a função 
simbólica de interdição do incesto é representado pelo significante Nome-do-Pai, 
normalizando o sujeito no campo da linguagem. 
Essa estruturação sugere um princípio de organização das relações a partir de 
uma lei simbólica, que é universal e necessária, estabilizando, de certa forma, todo 
o campo da linguagem. Porém, o autor vai mais-além do Édipo, apontando para a 
existência de uma falha na transmissão do Nome-do-Pai, havendo algo que escapa 
ou não passa por esse significante ordenador da estrutura simbólica do sujeito. 
 
 
 
52 
 
 
 
Assim, em seu último ensino, iniciado nos anos 70, momento em que se 
debruça sobre a noção do real e do gozo, haverá uma mudança no conceito de 
significante que, se inicialmente era concebido como mortificador de gozo, nesse 
momento, será visto também como produtor de gozo. 
 A partir daí o autor desenvolve pontos teóricos que permitem chegar a uma 
elaboração, ao final de sua obra, segundo a qual há outra forma de ordenação da 
subjetividade que não passa pelo Nome-do-Pai, sendo assegurada por outros 
elementos que têm estrutura de sintoma, havendo também uma mudança no estatuto 
desse conceito. Conforme formula J.-A. 
Miller, nesse momento da teoria lacaniana, haverá uma mudança do estatuto 
do sintoma, estabelecendo-se uma equivalência entre sintoma e Nome-do-
Pai, pois “o Nome-do-Pai, ele próprio, não é nada mais que um sintoma”, uma 
vez que o sintoma, assim como o Nome-do-Pai, permite uma operação de 
localização ou fixação de gozo, (MILLER, 1998, p.105). 
Se, antes, a ideia de sintoma era vista como uma mensagem a ser decifrada, 
nesse outro momento, a ênfase será colocada na vertente do gozo do sintoma, aqui 
pensado como um modo ou uma fixação de gozo, como algo necessário que faz uma 
amarração ou uma conexão entre significante e gozo. 
A estruturação do sujeito no mundo a partir das leis da linguagem, Lacan 
estabelece uma discussão sobre o laço social, referindo-se à teoria do discurso em 
seu ensino de 1969-1970, cujo momento é de elaboração do mais-além do Édipo. É 
importante lembrar que, ao longo de sua obra, o autor já se havia referido, por várias 
vezes, à ideia de discurso, mas é nesse momento que ele chega a dar uma maior 
formulação a esse conceito, enunciando, a partir de então, que há uma relação 
próxima entre o campo do saber e o gozo, chegando a afirmar que é a partir do registro 
do simbólico que surge a ordem do impossível, pois o significante produz o gozo, ou 
seja, institui uma relação com o real. 
 A categoria do discurso permite dizer de uma certa estruturação da relação do 
sujeito em seu encontro com o campo do Outro e os efeitos que tem sobre ele esse 
encontro, organizando a utilização da linguagem entre as pessoas. Lacan refere-se 
ao discurso como sendo um campo definido, um campo já estruturado de um saber, 
 
 
 
53 
 
 
 
fundado sobre a linguagem, composto de significantes que integram uma rede desse 
saber, que é uma 
“Estrutura necessária (...) que subsiste em certas relações fundamentais (...) 
instaurando um certo número de relações estáveis, no interior das quais 
certamente pode inscrever-se algo bem mais amplo, que vai bem mais longe 
do que as enunciações efetivas. Não há necessidade destas para que nossa 
conduta, nossos atos, eventualmente, se inscrevam no âmbito de certos 
enunciados primordiais”. (LACAN, 1970b, p.11) 
No Seminário 20 (1972/1973), Lacan retoma a ideia do discurso para dizer que 
ele deve ser considerado “como liame social, fundado sobre a linguagem”. Diz de um 
liame, ou seja, um laço, no sentido de apontar uma rede articulada de significantes, 
uma vez que: 
“Um significante como tal não se refere a nada, a não ser que se refira a um 
discurso, quer dizer, a um modo de funcionamento, a uma utilização da 
linguagem como liame. (...) um liame entre aqueles que falam” (LACAN, 
1972-1973, p.43). 
Autor prossegue, dizendo que em tudo que diz respeito à relação entre os seres 
humanos, que se caracteriza como coletividade, há algo que sempre escapa, 
introduzindo, mais uma vez, a dimensão do real, ou seja, “a relação sexual como 
impossível”. Porém, assinala algo que ordena essa relação que é o discurso. 
Ele diz: 
Que essa relação, essa relação sexual, na medida em que a coisa não vai, 
ela vai assim mesmo – graças a um certo número de convenções, de 
interdições, de inibições, que são efeitos da linguagem e só se devem tomar 
como deste estofo e deste registro”. (LACAN, 1972-73, p.46) 
Nesse seminário, Lacan designa o laço social como discurso, pois: “O liame 
social só se instaura por ancorar-se na maneira pela qual a linguagem se situa e se 
imprime, se situa sobre aquilo que formiga, isto é, o ser falante” (LACAN, 1972/1973, 
p.74) 
Essa discussão sobre os discursos faz referência a construir algo sobre uma 
falta, sobre aquilo onde “não há relação sexual”, pois, a própria linguagem já aponta 
para algo que resta de não-articulável na cadeia significante, podendo esse resto 
circular pela linguagem. Nesse sentido, conforme pontua Miller, os discursos não 
 
 
 
54 
 
 
 
passam de defesas contra o real, sendo uma defesa pela via do simbólico (MILLER, 
1996, p.190-191). Isso leva a pensar que o laço social entre os seres humanos, ou 
seja, o discurso, que é o que organiza para eles a possibilidade de se falarem, só é 
possível de ser instituído a partir da subjetivação da perda através do simbólico, 
havendo com isso uma barreira de acesso ao gozo. 
É importante esclarecer que o laço social não é equivalenteà noção de 
sociedade. Nesse sentido, Miller, em seu seminário “Um esforço de poesia”, produz 
uma argumentação sobre a formulação lacaniana de laço social, apontando uma 
diferença entre este e a sociedade. 
Segundo ele: 
A sociedade, é para cada um uma evidência, é o que faz que tenhamos 
confiança em um certo número de aparelhos dos quais não temos a menor 
ideia de seu funcionamento... é isso a sociedade: um sujeito suposto que 
suscita nossa confiança, enquanto que não temos a menor ideia como isso 
se mantém, como isso funciona. Temos confiança que isso vai se repetir, que 
isso vai se manter. (...) A sociedade, nós lhe fazemos ato de fé. É por isso 
que a sociedade é um conceito duvidoso (MILLER, 2003, p. 03). 
Por outro lado, o laço social faz referência ao campo do Outro, onde o sujeito 
não está sozinho com isso, pois há sempre o campo do Outro de onde nasce o sujeito. 
Portanto, trata – se dá relação do sujeito com o Outro. E Miller prossegue, dizendo: 
O laço social não é equivalente à sociedade. (...). Porque falar de laço social 
muito mais que de sociedade, permite admitir que há vários tipos de laços 
sociais. E assim a promoção do conceito de laço social pluraliza o que nos 
fascina como o todo da sociedade”, pois a sociedade como tal é uma ilusão 
e o conceito de laço social vem esfacelar essa unidade ilusória, pluralizando 
(MILLER, 2003, p. 03). 
Em seu raciocínio, ele diz que, para Lacan, o laço social refere-se a uma 
relação de dominação, em que há a articulação entre dois lugares, ou seja, a relação 
de dominante e dominado, o que leva a inferir que se trata de uma relação de 
apropriação realizada pelo sujeito. Assim, pode-se dizer de um modo de relação mais 
particularizada do sujeito com o Outro, estando “a sociedade fragmentada em vários 
laços sociais” (MILLER, 2003, p.4). 
Pensando a civilização contemporânea, percebem-se, cada vez mais, outras 
formas de ordenação social, regidas pelo princípio da utilidade direta, que é uma das 
 
 
 
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consequências do sistema capitalista, cujo fundamento não se apoia mais só na teoria 
edipiana, o que coloca em evidência várias questões: queda dos ideais que regulavam 
as sociedades, bem como a descrença no Outro; declínio da posição paterna, gerando 
relações de intensa agressividade e violência; a globalização e a lógica do consumo 
insaciável que sustenta as relações das pessoas no mundo, tornando-as cada vez 
mais desreguladas. 
Depara-se com o surgimento de novos sintomas que escapam à lógica 
freudiana das formações do inconsciente, rompendo, muitas vezes, com o laço social, 
tais como: toxicomania, anorexia, bulimia, gastos e dívidas compulsivos, etc. 
 Antes mesmo do surgimento dos novos sintomas, a questão da psicose já 
aponta para a insuficiência da ordenação subjetiva a partir da norma edípica. Segundo 
Laurent (2000), referindo-se à psicose ao longo da civilização, “nunca na história os 
psicóticos estiveram tão à vontade. É uma das consequências do regime da 
descrença” (LAURENT, 2000, p.175). 
Diante dessa descrença no Outro, “é preciso inventar-se a si mesmo”, e, dentro 
desse contexto, o psicótico é o autor de várias invenções frente ao Outro que não 
existe, ou seja, “inventa-se o que não está lá”, estando a noção de invenção 
intimamente ligada à ideia do Outro que não existe, conforme afirma Miller (MILLER, 
2003, p.6,12). 
Dessa forma, como pensar o campo da cultura a partir de outros princípios 
ordenadores que não passem pelo Nome-do-Pai? Como pensar o laço social a partir 
de outros referenciais que não impliquem a instauração de uma falta ou uma interdição 
a partir da lei simbólica e, portanto, como pensar a relação do psicótico com a 
linguagem? 
Observam-se elaborações teóricas de vários leitores da obra de Lacan que 
comentam, a partir de seu ensino, que “o psicótico está dentro da linguagem, mas fora 
do discurso”. Considerando o discurso como equivalente ao laço social, tal como 
designado por Lacan, em seu Seminário 20, a formulação acima leva a pensar que o 
psicótico está fora do laço social. Porém, não se pode negar que os psicóticos falam 
e se comunicam, circulando pelos variados discursos estabelecidos, mas de que 
forma eles se posicionam no discurso? 
 
 
 
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Lacan, no texto O aturdito (1972), faz uma breve referência ao “fora-do-discurso 
da psicose”, bem como sobre “o dito esquizofrênico ao ser apanhado sem a ajuda de 
nenhum discurso estabelecido”, porém não desenvolve com maiores detalhes essas 
menções. É interessante notar que se trata de um texto que trabalha a noção da 
interpretação analítica, tomando o exemplo do “fora-do-discurso da psicose” para falar 
da interpretação no sentido oracular, porém não é um texto que tem como tema de 
investigação a psicose. 
“Fora-do-discurso da psicose” o autor está se referindo ali? Está o psicótico 
radicalmente “fora do discurso” a todo o tempo, e com isso imerso numa constante e 
ininterrupto sentimento de estranheza, “sozinho com o seu Isso”, ou se trata de índices 
que apontam para momentos de fora-do-discurso, que poderão permear qualquer 
estrutura subjetiva? 
Alguns textos de Lacan que concernem ao tema da psicose e que trazem 
pontuações referentes ao discurso, em momentos anteriores à formulação da teoria 
dos discursos, a partir de 1969, observa-se que, já no Seminário 3 (1955-1956) ele 
faz referência à linguagem, apontando para uma falta de correspondência entre os 
objetos do mundo e os significados, não havendo aí uma relação de co-naturalidade 
entre a palavra e a coisa. 
O autor diz que: 
O sistema da linguagem, em qualquer ponto em que vocês o apreendam, 
nunca se reduz a um indicador diretamente dirigido a um ponto da realidade, 
é toda a realidade que está abrangida pelo conjunto da rede de linguagem 
(LACAN, 1955-56, p.43). 
Lançando essa característica da linguagem, o autor tece comentários sobre a 
relação do psicótico com a linguagem, e, mesmo sendo delirante, ele admite que há 
discurso. Pois, seguramente, esses doentes falam a mesma linguagem que nós. Se 
não houvesse esse elemento, não saberíamos absolutamente nada deles. É, portanto, 
a economia do discurso, a relação da significação com a significação, a relação de 
seu discurso com o ordenamento comum do discurso, que nos permite distinguir que 
se trata do delírio (LACAN, 1955-56, p. 44). 
 
 
 
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Nesse texto, Lacan refere-se ao discurso comum e ao discurso delirante, não 
havendo uma maior elaboração da teoria do discurso nesse momento de sua obra. 
Então o texto se refere, de uma questão preliminar a todo tratamento possível 
da psicose (1958), Lacan diz que a estruturação do sujeito (psicose ou neurose) 
depende do que se desenrola no Outro, referindo-se que a forma de articulação que 
se dá no campo do Outro será estruturada por um discurso, formulando, em seguida, 
que o inconsciente é o discurso do Outro. Sendo o inconsciente colocado como 
discurso do Outro, isso já indica uma dificuldade do psicótico nesse campo, pois a 
relação estabelecida por ele é de exterioridade e estranheza, dificultando a 
subjetivação do discurso do Outro. 
Já nas formulações finais de seu ensino, conforme referido por Miller, Lacan 
estabelece outro estatuto à noção de sintoma, apontando uma relação do sujeito com 
a linguagem de forma a ter que inventar o Outro que não existe, valendo-se da psicose 
para exemplificar as variadas e inéditas formas de invenção que os psicóticos 
necessitam fazer. 
No contexto da psicose, a invenção, que é a construção de uma função 
original e diversificada diante daquilo que não existe, adquire maior 
propriedade, pois o psicótico testemunha essa inexistência, e, se se pode 
dizer, “sem o recurso a nenhum discurso estabelecido”, tendo que inventar 
uma função ou uma relação inédita (MILLER, 2003, p.13). 
Assim, é importante pensar a relação do psicótico com a linguagem e, portanto, 
com o discurso, pois, se aposição do psicótico em relação ao discurso for de 
exterioridade, não se pode esquecer, também, que ele tem contato com os variados 
discursos estabelecidos do mundo, havendo aí uma possibilidade de ele se valer dos 
discursos com parceiros. Tendo o discurso uma função de sustentação da fala do 
sujeito, propiciando uma referência que poderá conferir um sentido e um acordo sobre 
o uso dos termos entre os que falam, a entrada do psicótico em algum discurso, 
mesmo que seja de forma particular, poderá propiciar uma solução mais promissora 
e razoável. 
 Pode- se observar soluções mais bem-sucedidas de psicóticos 
célebres, tais como Joyce e Rousseau, que inventaram uma relação mais viável e 
com importantes efeitos sobre o social. 
 
 
 
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O laço social se instala como uma possibilidade de parceria em que o psicótico 
poderá se alojar, é possível levantar a hipótese de que o psicótico poderá circular, ou 
se inserir, em algum discurso a partir da construção ou invenção de uma ficção 
particular, em que ele estabelecerá um meio de regulação do gozo, surgindo com isso 
a possibilidade de construção de alguma forma de laço social. 
Talvez essa hipótese seja mais possível de ser sustentada a partir das 
considerações teóricas do final do ensino de Lacan, quando ele especifica que há 
outras formas de ordenação da subjetividade que não passam pelo Nome- do -pai, 
dando ênfase ao novo estatuto do sintoma como um elemento que poderá fazer essa 
ordenação. 
Os pontos teóricos desse momento permitem fazer considerações sobre uma 
articulação entre o sintoma e a necessidade de inventar ou construir algo 
diante da ruína do Outro, ou diante do fora-do-discurso. Assim, esses pontos 
podem possibilitar pensar o discurso, ou seja, o laço social na psicose, pois, 
como sugere Miller, “o laço social é o sintoma” (MILLER, 2003, p.130). 
Essas questões se colocam no dia-a-dia da prática clínica com psicóticos, seja 
em consultórios ou instituições que acolhem tais casos, pois é comum encontrar 
psicóticos que demandam um reconhecimento ou um lugar possível no social, 
buscando estabelecer algum laço com os discursos estabelecidos por meio dos quais 
possam se alojar, sejam os discursos religioso, médico, universitário, jurídico, artístico 
etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Linguagem e línguas Estudo e ensino 4. Linguísticas 5. Oralidade. 6. Sociolinguística 
I. Título. II. Série. Índice para catálogos sistemático. I. Português: Fala, oralidade e 
práticas sociais: Linguística 410.7

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