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Lorem
 ipsum
 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO COLETIVO 
CONSTITUCIONAL
Aula 2 
Microssistema do processo coletivo 
(parte 2)
Camila Almeida Porfiro
SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................3
1. A Ação Popular (Lei nº 4.717/1965) ...................................................3
1.1 Legitimidade ........................................................................................5
1.2 Competência .......................................................................................6
1.3 Coisa julgada ........................................................................................9
2. Ações coletivas e litígios estruturais ............................................. 10
Considerações finais ................................................................................ 18
Referências .................................................................................................. 19
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
3
Introdução
 Olá novamente!
 Na primeira parte de nossa aula, o foco esteve no estudo dos direitos difusos, 
coletivos e individuais homogêneos e na ação civil pública. Espero que esses 
conhecimentos tenham sido consolidados para que possamos, agora, avançar rumo aos 
preceitos da ação popular e das ações coletivas e litígios estruturais.
 Podemos continuar? 
1. A Ação Popular (Lei nº 4.717/1965)
 De acordo com o art. 5º, inc. LXXIII, da Constituição, 
qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise 
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o 
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e 
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada 
má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. 
 O art. 1º da Lei nº 4.717/1965 (Lei da Ação Popular), por sua vez, ostenta o 
seguinte teor: 
Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou 
a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, 
do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades 
autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, 
§ 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente 
os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais 
autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o 
tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por 
cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao 
patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, 
e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos 
cofres públicos.
 O que podemos notar nesses dois dispositivos?
 Que é indispensável a lesividade ao patrimônio público, à moralidade 
administrativa, ao meio ambiente, ao patrimônio histórico-cultural ou ao patrimônio 
de entidade de que o Estado participe, incluindo empresas públicas, sociedades de 
economia mista e pessoa jurídica subvencionada por dinheiro público. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4717.htm
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
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 Em outros termos, com suporte nas contribuições de Almeida (2007, p. 352), 
entendemos que a ação popular é: 
a ação constitucional fundamental pela qual é conferida ao cidadão o 
exercício do direito político de participação direta na fiscalização do 
poder público no plano da defesa do meio ambiente, do patrimônio 
cultural e histórico, da moralidade administrativa, do erário e, também, 
das relações de consumo. 
 Uma característica relevante desse instrumento processual é o fato de que o 
autor, tal como na ação civil pública, fica isento de custas e honorários, salvo comprovada 
má-fé. 
 Outra semelhança está no fato de que o Ministério Público deverá ser intimado 
para acompanhar a ação popular, sob pena de nulidade. De acordo com o § 4º do art. 
6º da Lei nº 4.717/1965, cabe ao Ministério Público “apressar a produção da prova e 
promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-
lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus 
autores”. Compete-lhe, ainda, promover o prosseguimento do feito caso o autor desista 
da ação. 
 Com efeito, na ação popular, a sentença que concluir pela carência ou 
improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição. Nesse sentido, confira 
o art. 19 da Lei n ° 4.717/1965: 
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência 
da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo 
efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação 
procedente caberá apelação, com efeito suspensivo. (Redação dada 
pela Lei nº 6.014, de 1973).
 Por força do microssistema de tutela coletiva, o referido artigo também se aplica 
à ação civil pública! Nesse sentido, confira o seguinte julgado do STJ: 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REMESSA NECESSÁRIA. Na ausência de 
dispositivo sobre remessa oficial na Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 
7.347/1985), busca-se norma de integração dentro do microssistema 
da tutela coletiva, aplicando-se, por analogia, o art. 19 da Lei n. 
4.717/1965. Embora essa lei refira-se à ação popular, tem sua 
aplicação nas ações civis públicas, devido a serem assemelhadas 
as funções a que se destinam (a proteção do patrimônio público e 
do microssistema processual da tutela coletiva), de maneira que 
as sentenças de improcedência devem sujeitar-se indistintamente 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
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à Remessa Necessária. De tal sorte, a sentença de improcedência, 
quando proposta a ação pelo ente de Direito Público lesado, reclama 
incidência do art. 475 do CPC, sujeitando-se ao duplo grau obrigatório 
de jurisdição. Ocorre o mesmo quando a ação for proposta pelo 
Ministério Público ou pelas associações, incidindo, dessa feita, a 
regra do art. 19 da Lei da Ação Popular, uma vez que, por agirem os 
legitimados em defesa do patrimônio público, é possível entender 
que a sentença, na hipótese, foi proferida contra a União, estado 
ou município, mesmo que tais entes tenham contestado o pedido 
inicial. Com esse entendimento, a Turma deu provimento ao recurso 
do Ministério Público, concluindo ser indispensável o reexame da 
sentença que concluir pela improcedência ou carência da ação civil 
pública de reparação de danos ao erário, independentemente do valor 
dado à causa ou mesmo da condenação. (STJ, REsp 1.108.542-SC, Rel. 
Min. Castro Meira, Julg. 19/5/2009, grifos nossos).
1.1 Legitimidade
 Quem pode propor a ação popular?
 No que tange à legitimidade ativa para a propositura, destaque-se que basta 
ter capacidade política ativa para ser considerado cidadão apto. Assim, o maior de 
16 anos e o preso provisório, dado que possam votar, poderão, igualmente, propor a 
ação popular. Deveras, segundo o § 3º do art. 1º da Lei nº 4.717/1965, o requisito para a 
propositura é o título eleitoral, exigindo-se tão somente o comprovante de votação ou 
justificação nas últimas eleições, a fim de se comprovar o exercício regular da cidadania. 
 Cumpre lembrar-se, ainda, do art. 14, § 2º, da Constituição, segundo o qual: “Não 
podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar 
obrigatório, os conscritos”. Com efeito, somente há um caso em que um estrangeiro 
poderá propor ação popular: o português com residência permanente no Brasil e 
quando houver reciprocidade em favor dos brasileiros (CF, art. 12, § 1º). 
 Ainda quanto à legitimidade, merece destaque o fato de que, segundo a Súmula 
nº 365 do STF, “pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular”.
 Por fim, ressalte-se que, na linha do art. 6º da Lei da Ação Popular, esta poderá 
ser proposta:
contra as pessoaspúblicas ou privadas e as entidades referidas 
no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores 
que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato 
impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e 
contra os beneficiários diretos do mesmo.
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
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1.2 Competência 
 A quem compete o julgamento da ação popular?
 A regra geral nas ações populares é que o juízo competente será o de primeiro 
grau, conforme a origem do ato, não importando qual seja a autoridade impugnada (Cf. 
STF, Pet. 3152/PA-AgR, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 
20/8/2004). Em outras palavras, a competência para julgar ação popular contra ato de 
qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo 
competente de primeiro grau. 
 O art. 5º da Lei nº 4.717/65 determina que a competência para processamento e 
julgamento da ação popular será aferida considerando-se a origem do ato impugnado. 
Logo, caberá à Justiça Federal apreciar a controvérsia se houver interesse da União e à 
Justiça Estadual se o interesse for dos Estados ou dos Municípios. 
 Ocorre que, de acordo com o STJ,
para se fixar o foro competente para apreciar a ação em comento, 
mostra-se necessário considerar o objetivo maior da ação popular, 
isto é, o que esse instrumento previsto na Carta Magna, e colocado 
à disposição do cidadão, visa proporcionar. (STJ, CC 47.950/DF, Rel. 
Ministra Denise Arruda, Primeira Seção, DJU de 07.05.07). 
 Assim, a fixação da competência para o conhecimento de ações populares deve 
ser adequada “às normas disciplinadas no Código de Processo Civil em combinação 
com as disposições constitucionais”. Portanto, poderá haver hipótese em que são 
igualmente competentes, por exemplo, os juízos (i) do domicílio do autor, (ii) de onde 
houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou (iii) onde esteja situada a 
coisa. 
 Nesse sentido, confira os seguintes julgados do STJ: 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO POPULAR 
AJUIZADA CONTRA ATO DO PRESIDENTE DO BNDES, QUE, POR 
DISCIPLINA LEGAL, EQUIPARA-SE A ATO DA UNIÃO. INTELIGÊNCIA 
DO ART. 5º, § 1º DA LEI 4.717/65. APLICAÇÃO DOS ARTS. 99, I, DO 
CPC, E 109, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. COMPETÊNCIA 
TERRITORIAL. PRINCÍPIO DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS.
1. Debate-se a respeito da competência para julgamento de ação 
popular proposta contra o Presidente do Sistema BNDES – Banco 
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, empresa pública 
federal. Não se questiona, portanto, a competência da Justiça Federal 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
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para processamento e julgamento do feito, mas busca-se a fixação da 
Seção Judiciária competente, se a do Rio de Janeiro (suscitante), ou de 
Brasília (suscitada). 
2. “O art. 5º da referida norma legal [Lei 4.717/65] determina que a 
competência para processamento e julgamento da ação popular será 
aferida considerando-se a origem do ato impugnado. Assim, caberá à 
Justiça Federal apreciar a controvérsia se houver interesse da União, 
e à Justiça Estadual se o interesse for dos Estados ou dos Municípios. 
A citada Lei 4.717/65, entretanto, em nenhum momento fixa o foro 
em que a ação popular deve ser ajuizada, dispondo, apenas, em 
seu art. 22, serem aplicáveis as regras do Código de Processo Civil, 
naquilo em que não contrariem os dispositivos da Lei, nem a natureza 
específica da ação. Portanto, para se fixar o foro competente para 
apreciar a ação em comento, mostra-se necessário considerar 
o objetivo maior da ação popular, isto é, o que esse instrumento 
previsto na Carta Magna, e colocado à disposição do cidadão, visa 
proporcionar” (CC 47.950/DF, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira 
Seção, DJU de 07.05.07).
3. Partindo da análise da importância da ação popular como 
meio constitucional posto à disposição “de qualquer cidadão” 
para defesa dos interesses previstos no inc. LXXIII do art. 5º da 
Constituição Federal/88, concluiu a Primeira Seção desta Corte 
pela impossibilidade de impor restrições ao exercício desse direito, 
terminando por fixar a competência para seu conhecimento 
consoante as normas disciplinadas no Código de Processo Civil em 
combinação com as disposições constitucionais.
4. Ato de Presidente de empresa pública federal equipara-se, por 
disciplina legal (Lei 4.717/65, art. 5º, § 1º), a ato da União, resultando 
competente para conhecimento e julgamento da ação popular o Juiz 
que “de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for 
para as causas que interessem à União” (Lei 4.717/65, art. 5º, caput).
5. Sendo igualmente competentes os Juízos da seção judiciária do 
domicílio do autor, daquela onde houver ocorrido o ato ou fato que 
deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, 
do Distrito Federal, o conflito encontra solução no princípio da 
perpetuatio jurisdicionis.
6. Não sendo possível a modificação ex officio da competência em razão 
do princípio da perpetuatio jurisdicionis, a competência para apreciar 
o feito em análise é do Juízo perante o qual a demanda foi ajuizada, isto 
é, o Juízo Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, o suscitado.
7. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 7ª 
Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, o suscitado.
(CC 107.109/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, 
DJe 18/3/2010, grifos nossos).
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO POPULAR 
AJUIZADA EM FACE DA UNIÃO. LEI 4.717/65. POSSIBILIDADE DE 
PROPOSITURA DA AÇÃO NO FORO DO DOMICÍLIO DO AUTOR. 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
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APLICAÇÃO DOS ARTS. 99, I, DO CPC, E 109, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL.
1. Não havendo dúvidas quanto à competência da Justiça Federal para 
processar e julgar a ação popular proposta em face da União, cabe, no 
presente conflito, determinar o foro competente para tanto: se o de 
Brasília (local em que se consumou o ato danoso), ou do Rio de Janeiro 
(domicílio do autor).
2. A Constituição Federal de 1988 dispõe, em seu art. 5º, LXXIII, que 
“qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que 
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que 
o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e 
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada 
má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”. Tal ação 
é regulada pela Lei 4.717/65, recepcionada pela Carta Magna.
3. O art. 5º da referida norma legal determina que a competência 
para processamento e julgamento da ação popular será aferida 
considerando-se a origem do ato impugnado. Assim, caberá à Justiça 
Federal apreciar a controvérsia se houver interesse da União, e à 
Justiça Estadual se o interesse for dos Estados ou dos Municípios. A 
citada Lei 4.717/65, entretanto, em nenhum momento fixa o foro em 
que a ação popular deve ser ajuizada, dispondo, apenas, em seu art. 
22, serem aplicáveis as regras do Código de Processo Civil, naquilo em 
que não contrariem os dispositivos da Lei, nem a natureza específica 
da ação. Portanto, para se fixar o foro competente para apreciar a 
ação em comento, mostra-se necessário considerar o objetivo maior 
da ação popular, isto é, o que esse instrumento previsto na Carta 
Magna, e colocado à disposição do cidadão, visa proporcionar.
4. Segundo a doutrina, o direito do cidadão de promover a ação 
popular constitui um direito político fundamental, da mesma 
natureza de outros direitos políticos previstos na Constituição 
Federal. Caracteriza, a ação popular, um instrumento que garante 
à coletividade a oportunidade de fiscalizar os atos praticados pelos 
governantes, de modo a poder impugnar qualquer medida tomada 
que cause danos à sociedade como um todo, ou seja, visa a proteger 
direitostransindividuais. Não pode, por conseguinte, o exercício 
desse direito sofrer restrições, isto é, não se pode admitir a criação 
de entraves que venham a inibir a atuação do cidadão na proteção de 
interesses que dizem respeito a toda a coletividade.
5. Assim, tem-se por desarrazoado determinar-se como foro 
competente para julgamento da ação popular, na presente hipótese, 
o do local em que se consumou o ato, ou seja, o de Brasília. Isso porque 
tal entendimento dificultaria a atuação do autor, que tem domicílio 
no Rio de Janeiro.
6. Considerando a necessidade de assegurar o cumprimento do 
preceito constitucional que garante a todo cidadão a defesa de 
interesses coletivos (art. 5º, LXXIII), devem ser empregadas as 
regras de competência constantes do Código de Processo Civil - cuja 
aplicação está prevista na Lei 4.717/65 -, haja vista serem as que 
melhor atendem a esse propósito.
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
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7. Nos termos do inciso I do art. 99 do CPC, para as causas em que a 
União for ré, é competente o foro da Capital do Estado. Esse dispositivo, 
todavia, deve ser interpretado em conformidade com o § 2º do art. 
109 da Constituição Federal, de modo que, em tal caso, “poderá o 
autor propor a ação no foro de seu domicílio, no foro do local do ato 
ou fato, no foro da situação do bem ou no foro do Distrito Federal” 
(PIZZOL, Patrícia Miranda. “Código de Processo Civil Interpretado”, 
Coordenador Antônio Carlos Marcato, São Paulo: Editora Atlas, 2004, 
p. 269). Trata-se, assim, de competência concorrente, ou seja, a ação 
pode ser ajuizada em quaisquer desses foros.
8. Na hipótese dos autos, portanto, em que a ação popular foi proposta 
contra a União, não há falar em incompetência, seja relativa, seja 
absoluta, do Juízo Federal do domicílio do demandante.
9. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da 10ª Vara 
Federal da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro, o suscitado.
(STJ, CC 47.950/DF, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Seção, DJ 
de 7/5/2007, grifos nossos).
1.3 Coisa julgada
 De acordo com o art. 18 da Lei da Ação Popular, a sentença terá eficácia de coisa 
julgada oponível erga omnes, exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente 
por deficiência de prova. Nesse caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com 
idêntico fundamento, valendo-se de nova prova (MEIRELLES; WALD; MENDES, 2013, 
p. 205). Nessas ações, a coisa julgada se dá secundum eventum probationis, de modo que 
se a decisão proferida no processo julgar a demanda improcedente por insuficiência de 
provas, não haverá formação de coisa julgada. 
 No que diz respeito à abrangência da coisa julgada, aplica-se o art. 103 do Código 
de Defesa do Consumidor, por força do microssistema processual coletivo.
 Assim, 
 não serão atingidos os titulares de direitos individuais, ainda que a ação seja 
julgada no mérito improcedente; e 
 no caso de procedência da ação popular, fica garantido ao titular do direito 
individual utilizar a sentença coletiva no seu processo individual (transporte 
in utilibus), desde que comprove a identidade fática e jurídica de situações 
(MAZZILLI, 2017, p. 686).
 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
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Você sabia que é inadmissível o ajuizamento de ação popular que buscar invalidar 
ato de conteúdo jurisdicional?
 Estamos caminhando para o último tópico de conteúdo desta aula. Espero que 
esteja conseguindo acompanhar o desenvolvimento dos assuntos. Vamos continuar! 
2. Ações coletivas e litígios estruturais 
 Para concluirmos nossa aula, gostaria de tecer breves anotações a respeito dos 
processos estruturais, que são espécies do gênero processos coletivos. 
 A origem dos processos estruturais remonta às structural injuctions norte-
americanas, utilizadas pioneiramente no caso Brown v. Board of Education of Topeka, 
julgado em 1954 pela Suprema Corte dos Estados Unidos. Você já conhece essa 
história? Apresento alguns materiais que abordam a questão. Acompanhe comigo:
CURIOSIDADE
Fonte: https://www.thirteen.org/
Texto: Brown v. Conselho de Educação (1954)
Vídeo: Brown v. Board of Education in PBS’ The 
Supreme Court
Observação:
Caso necessário, utilize tradutor para a leitura do 
artigo
O vídeo está em inglês, para ver a legenda 
automática clique na engrenagem e escolha a 
opção “traduzir automaticamente”
https://www.thirteen.org/wnet/supremecourt/rights/landmark_brown.html
https://media-cldnry.s-nbcnews.com/image/upload/t_fit-2000w,f_auto,q_auto:best/msnbc/Components/Photos/040121/040121_hmed_brown50_7p.jpg
https://www.thirteen.org/wnet/supremecourt/rights/landmark_brown.html
https://www.youtube.com/watch?v=TTGHLdr-iak
https://www.youtube.com/watch?v=TTGHLdr-iak
https://drive.google.com/file/d/1M0OTWlbLcE8TWCfSAZCjr9QaU2kOEgfw/view?usp=sharing
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
11
 Nessa decisão, a Corte impôs a transformação do sistema nacional de ensino 
dividido em escolas para negros e outras para brancos – em um sistema unitário não 
racial. As técnicas utilizadas no julgamento permitiram o surgimento da structural 
reform, um novo modelo de adjudicação no qual o Poder Judiciário determina que 
autoridades políticas ou administrativas elaborem políticas públicas voltadas à 
cessação de violações sistêmicas a direitos fundamentais (PORFIRO, p. 23; FISS, 1979, 
p. 2). 
 Esses litígios são chamados de “estruturais” porque os tribunais se envolvem 
na gestão de estruturas administrativas e assumem certo nível de supervisão sobre 
instituições públicas (VERBIC, 2017, p. 65-66). Em âmbito nacional, a doutrina utiliza 
diferentes terminologias para tratar de ações dessa natureza, tais como “processos 
estruturais”, “medidas estruturantes” ou “decisões estruturais” (ARENHART; JOBIM, 2017, 
p. 5). 
 Com efeito, a decisão estrutural é aquela que busca implantar reformas em uma 
organização, instituição ou ente, com o objetivo de concretizar um direito fundamental, 
realizar determinada política pública ou resolver litígios complexos. Nela, há uma 
acentuada intervenção do Poder Judiciário para impor mudanças estruturais em órgãos 
administrativos, com a finalidade de efetivar certas normas e princípios constitucionais 
(PORFIRO, 2018, p. 39-40).
 Em boa síntese, César Rodriguez-Garavito e Franco (2010, p. 16) assinalam que 
o litígio estrutural é caracterizado por:
 afetar um grande número de pessoas que alegam violação de seus direitos 
fundamentais;
 envolver vários agentes estatais, que figuram como réus da ação por serem 
responsáveis por falhas sistemáticas de políticas públicas; e 
 abranger ordens de execução complexas, que obrigam os agentes estatais a 
implementarem políticas para proteger os direitos de toda a população afetada 
(e não apenas dos demandantes no caso específico). 
 Os processos estruturais se diferenciam do modelo bipolarizado, próprio 
das ações individuais, visto que não pretendem solucionar disputas entre dois polos 
adversários. Neles, a função do tribunal não é resolver um litígio − decidir qual o lado 
certo −, mas determinar quais reformas devem ser instituídas em prol da concretização 
de determinado direito fundamental (CHAYES, 1976, p. 1.302). 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
12
 Os conflitos discutidos nos litígios estruturais têm natureza policêntrica 
e geram impactos diretos em setores importantes da sociedade. Por essa razão, 
neles deve ser instituído um método dialógico de construção de decisão, com ampla 
participação dos grupos interessados no caso, a fim de que todos contribuam para a 
formação da solução jurisdicional. 
 Nas palavras de Owen Fiss (2017, p. 602),
a oposição binária pressuposta pelo modelo de resolução de disputas foi 
substituídapor um conjunto complexo e policêntrico de perspectivas, 
algo mais próximo de um encontro dos moradores de uma cidade (town 
meeting). 
 Certamente, a legitimidade do Judiciário para interferir em políticas públicas 
ou em questões complexas nos planos econômico e social só poderá ser assegurada em 
um ambiente democrático de participação (FISS, 2017, p. 602). Nesse aspecto, o litígio 
estrutural exige um processo contínuo de cumprimento: ao invés de se esgotar em um 
único ato, ele prolonga e aprofunda o envolvimento do tribunal com a causa. 
 Por fim, outra diferença do litígio estrutural em relação a outros procedimentos 
diz respeito à fase de cumprimento de sentença. Nos processos estruturais, o juiz não 
se limita a analisar fatos passados e a decidir a lide apresentada, mas projeta para o 
futuro a reforma de determinada instituição (PORFIRO, 2018, p. 37). 
 Assim, a atividade do juiz aproxima-se da do administrador e não do perfil 
clássico da jurisdição, que analisa o passado para remediá-lo. Como afirma Owen Fiss 
(2017, p. 590), as decisões em processos estruturais não visam “apenas a acabar com 
um incidente que perturba o status quo”, mas sim “a mudar o estado de coisas atual e 
criar um novo status quo”. 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
Aula 2 - Microssistema do processo coletivo (parte 2)
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 Uma recente série televisiva produzida pela HBO chamada “Show Me 
a Hero” traz a história verídica de um litígio estrutural ocorrido no distrito de 
Yonkers, nos Estados Unidos. Você conhece essa produção?
 A série narra a história do famoso caso Spallone v. United States, no qual a 
corte distrital de Yonkers declarou que o Conselho Legislativo da cidade estava 
em desobediência ao tribunal (contempt of court), eis que não havia cumprido 
a ordem de criar moradias populares que contribuiriam para a dessegregação 
racial do local. 
 Vamos conferir um trailer da série?
Vídeo: Show Me a Hero
VOCÊ SABIA?
VÍDEO 
https://www.youtube.com/watch?v=PwqHZH1Uqvo
https://youtu.be/PwqHZH1Uqvo
https://youtu.be/PwqHZH1Uqvo
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 No campo do direito comparado, há casos paradigmáticos de processos 
estruturais, tais como: 
Brown v. Board of Education of Topeka, 
julgado em 1954 pela Suprema 
Corte norte-americana.
Desplazados, julgado em 2004 pela 
Corte Constitucional da Colômbia.
Grootboom, julgado em 2000 pelo 
Tribunal Constitucional da África do 
Sul.
Verbitsky e Mendoza, julgados pela 
Suprema Corte Argentina. 
EUA, Suprema Corte. Brown v. Board 
of Education of Topeka 347 U. S. 483 
− 1954.
COLÔMBIA, Corte Constitucional. 
Sentencia T-025/04, julg. 
22.01.2004. Disponível em: http://
www.corteconstitucional.gov.co/
relatoria/2004/t%2D025%2D04.
htm. Acesso em: 10 out. 2019.
ÁFRICA DO SUL, Tribunal 
Constitucional. Government of 
the Republic of South Africa v. 
Grootboom, 2000 (11) BCLR 1169, 
CC.
ARGENTINA, Corte Suprema de 
Justiça. Verbitsky Horacio c/ s/ 
Habeas Corpus, Fallos 328:1146, 
julg. 3.5.2005; ARGENTINA, Corte 
Suprema de Justicia de la Nación. 
Causa Mendoza, Beatriz Silvia y otros 
c/ Estado Nacional y otros s/ daños 
y perjuicios (daños derivados de la 
contaminación ambiental del Río 
Matanza – Riachuelo.
CASOS REFERÊNCIAS
http://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/2004/t%2D025%2D04.htm
http://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/2004/t%2D025%2D04.htm
http://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/2004/t%2D025%2D04.htm
http://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/2004/t%2D025%2D04.htm
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 E no Brasil? Você se recorda de alguma decisão estrutural?
 Gostaria de te apresentar alguns casos. Acompanhe comigo:
Raposa Serra do Sol. 
Casos envolvendo reformas no 
sistema prisional brasileiro.
STF, Pet 3388, Tribunal Pleno, Rel. 
Min. CARLOS BRITTO, julgado em 
19/03/2009, DJe 01/07/2010; STF, 
Pet 3388 ED, Tribunal Pleno, Rel. 
Min. Roberto Barroso, julgado em 
23/10/2013, DJ 04/02/2014.
ADPF nº 347 e RE nº 592.581/RS, 
julgados pelo STF.
People’s Union for Civil Liberties v. 
Union of India, julgado em 2001 pela 
Suprema Corte da Índia.
Torregiani e outros v. Itália, julgado 
pela Corte Europeia de Direitos 
Humanos. 
INDIA, Suprema Corte. People’s Union 
for Civil Liberties v. Union of India & 
Others. Civil Original Jurisdiction, 
Writ Petition (Civil), n. 196 of 2001, 
(May 8, 2002). Disponível em http://
www.righttofoodindia.org/orders/
may8.html. Acesso em: 10 out. 2019.
Corte Europeia de Direitos Humanos. 
Torregiani e outros v. Itália, ECHR 
007, Julg. 08.01.2013. Disponível em: 
hudoc.echr.coe.int. Acesso em: 10 
out. 2019.
CASOS REFERÊNCIAS
CASOS REFERÊNCIAS
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4783560
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2637302
https://drive.google.com/file/d/1ui9ZygKeJfUaQMJCagecrs1boBhjRkpA/view
https://drive.google.com/file/d/1ui9ZygKeJfUaQMJCagecrs1boBhjRkpA/view
https://drive.google.com/file/d/1ui9ZygKeJfUaQMJCagecrs1boBhjRkpA/view
https://drive.google.com/file/d/1ui9ZygKeJfUaQMJCagecrs1boBhjRkpA/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1ui9ZygKeJfUaQMJCagecrs1boBhjRkpA/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1ui9ZygKeJfUaQMJCagecrs1boBhjRkpA/view?usp=sharing
https://hudoc.echr.coe.int/app/conversion/pdf/?library=ECHR&id=002-7400&filename=002-7400.pdf&TID=thkbhnilzk
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 Ressalte-se que no RE nº 592.581/RS, de relatoria do ministro Ricardo 
Lewandowski, o Tribunal admitiu a possibilidade de o Poder Judiciário obrigar a União 
e os Estados a realizarem obras em presídios para garantir os direitos dos detentos, 
independentemente de dotação orçamentária. A tese de repercussão geral firmada 
pela corte apresenta a seguinte redação:
Ação Civil Pública conhecida 
como “ACP do Carvão”, julgada pela 
Justiça Federal do Estado de Santa 
Catarina. 
Caso das creches no município de 
São Paulo, julgado pelo Tribunal de 
Justiça do Estado de São Paulo.
Justiça Federal de Santa Catarina. 
1ª Vara Federal de Criciúma. Ação 
Civil Pública nº 93.80.00533-4 
(SC)/0000533-73.1993.4.04.7204. 
Órgão Julgador: Juízo Substituto 
da 4ª VF de Criciúma. Juiz: Louise 
Freiberger Bassan Hartmann. Data 
de autuação: 05/04/1993. Autor: 
Ministério Público Federal. Réu: 
Nova Próspera Mineração S.A. 
e outros. Último andamento do 
processo: “21/02/2018 - Remessa 
Externa GR:18/0000215 DEST: 
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL”. 
Com efeito, o processo gerou os 
autos de cumprimento de sentença 
nº 5001587-17.2015.4.04.7204.
TJSP, Apelação nº 0150735-
64.2008.8.26.0002, Câmara 
Especial, Rel. Des. Walter de 
Almeida Guilherme, julgado em 
16/12/2013. Número de origem: 
Números de origem: 0150735- 
64.2008.8.26.0002.
CASOS REFERÊNCIAS
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É lícito ao Judiciário impor à Administração Pública obrigação de 
fazer, consistente na promoção de medidas ou na execução de obras 
emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao 
postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o 
respeito à sua integridade física e moral, nos termos do que preceitua 
o art. 5º, XLIX, da Constituição Federal, não sendo oponível à decisão 
o argumento da reserva do possível nem o princípio da separação dos 
poderes. (STF, RE 592581, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal 
Pleno, DJe de 1/2/2016). 
 Ainda, em 2015, no julgamento da ADPF nº 347, o Supremo Tribunal Federal 
reconheceu o Estado de Coisas Inconstitucional do sistema penitenciário brasileiro 
e passou a interferir na criaçãoe implementação de políticas públicas, inaugurando, 
assim, um caso paradigmático de processo estrutural no Brasil. 
 De acordo com o voto do ministro Marco Aurélio, relator na Medida Cautelar 
na ADPF nº 347, a respeito do estado de coisas inconstitucional no sistema carcerário 
brasileiro:
apenas o Supremo revela-se capaz, ante a situação descrita, de superar 
os bloqueios políticos e institucionais que vêm impedindo o avanço 
de soluções, o que significa cumprir ao Tribunal o papel de retirar 
os demais Poderes da inércia, catalisar os debates e novas políticas 
públicas, coordenar as ações e monitorar os resultados. Isso é o que 
se aguarda deste Tribunal e não se pode exigir que se abstenha de 
intervir, em nome do princípio democrático, quando os canais políticos 
se apresentem obstruídos, sob pena de chegar-se a um somatório de 
inércias injustificadas. Bloqueios da espécie traduzem-se em barreiras 
à efetividade da própria Constituição e dos Tratados Internacionais 
sobre Direitos Humanos. (STF, MC na ADPF nº 347/DF, Pleno, Rel. 
Min. Marco Aurélio, Julg. em 09.09.2015, DJ 19.02.2016, p. 31)
 Diante de tudo o que expusemos até o momento, você consegue perceber 
que a intervenção judicial estrutural pode oferecer um canal propício para promover 
discussões a respeito de violações de direitos fundamentais? 
 Tais litígios, portanto, têm o potencial de corrigir algumas das tendências 
observadas nas outras formas de concretização de direitos sociais pela via jurisdicional 
e podem ser especialmente promissores no que se refere ao impacto às populações 
marginalizadas. O manejo adequado das decisões estruturantes pode colaborar 
efetivamente para inibir a litigância errática e individualizada e contribuir para uma 
cultura de diálogos institucionais (PORFIRO, 2018, p. 171-172). 
https://www.conjur.com.br/2015-out-24/observatorio-constitucional-estado-coisas-inconstitucional-forma-ativismo
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 Ademais, as experiências no direito comparado mostram que cortes engajadas 
e abertas para o diálogo conseguem conduzir e dar efetividade às medidas estruturais, 
despertando uma burocracia adormecida e buscando a realização de direitos. Assim, 
mesmo quando não são capazes de gerar mudanças estruturais e efetivas nas instituições 
administrativas, esses litígios já desempenham o importante papel de chamar a atenção 
do Poder Judiciário e demais órgãos públicos para violações de direitos, podendo atrair 
também a atenção da mídia e da sociedade civil para o problema e instigar a busca por 
soluções (PORFIRO, 2018, p. 172). 
Considerações finais
 Chegamos ao final de nossas duas aulas. Nelas, estudamos as principais 
características das ações civis públicas e das ações populares, percorrendo seus critérios 
de legitimidade, competência e coisa julgada. Também entramos em contato com os 
litígios estruturais, instrumentos de promoção e proteção de direitos fundamentais 
de grupos vulneráveis. Espero que a aula tenha inaugurado (ou aprofundado) o seu 
interesse pelo fascinante campo das ações coletivas!
 Na próxima aula, você estudará os principais aspectos da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade e da Ação Declaratória de Constitucionalidade.
 Bons estudos!
 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO 
COLETIVO CONSTITUCIONAL
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Referências
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Manual das Ações Constitucionais. Belo Horizonte: 
Del Rey, 2007. 
ARENHART, Sérgio Cruz; JOBIM, Marco Félix (org.). Processos Estruturais. 
Salvador: JusPodivm, 2017.
CHAYES, Abram. The Role of the Judge in Public Law Litigation. Harvard Law Review, 
v. 89, n. 7, 1976.
FISS, Owen. The forms of justice. Harvard Law Review, v. 93, n. 1, p. 1-58, Nov. 1979.
FISS, Owen. To make the constitution a living truth: four lectures on the Structural 
Injunction. In: ARENHART, Sérgio Cruz; JOBIM, Marco Félix (org.). Processos 
Estruturais. Salvador: JusPodivm, 2017. 
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo 
curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. E-book.
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. São Paulo: Saraiva, 
2017.
MEIRELLES, Hely Lopes; WALD, Arnoldo; MENDES, Ferreira Gilmar. Mandado de 
Segurança e Ações Constitucionais. São Paulo: Editora Malheiros, 2013.
PORFIRO, Camila. Litígios estruturais: legitimidade democrática, procedimento e 
efetividade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018. 
RODRÍGUEZ-GARAVITO, César; FRANCO, Diana Rodríguez. Cortes y cambio social: 
cómo la Corte Constitucional transformó el desplazamiento forzado en Colombia. 
Bogotá: Centro de Estudios de Derecho, Justicia y Sociedad, Dejusticia, 2010.
VERBIC, Francisco. Ejecución de sentencias en litigios de reforma estructural en 
la República Argentina. In: ARENHART, Sérgio Cruz; JOBIM, Marco Félix (org.). 
Processos Estruturais. Salvador: JusPodivm, 2017. 
ZANETI JR, Hermes; GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direitos difusos e coletivos. 
Salvador: Juspodivm, 2017.
	Introdução
	1. A Ação Popular (Lei nº 4.717/1965)
	1.1. Legitimidade
	1.2. Competência 
	1.3. Coisa julgada
	2. Ações coletivas e litígios estruturais 
	Conclusão
	Referências

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