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FACULDADE FASIPE- RONDONÓPOLIS BACHARELADO EM ODONTOLOGIA EDUARDO FILIPE LOPES CAMPOS SISTEMA COMPLEMENTO ORIENTADORA: PROFA. DRA. JOZI GODOY FIGUEIREDO Rondonópolis 2024 1 1. O que é sistema complemento(SC)? O sistema complemento tem a incumbência de ser o principal mediador humoral do processo inflamatório junto aos anticorpos. É constituído por um conjunto de várias proteínas plasmáticas, que podem ser solúveis no plasma ou expressas na membrana celular. A ativação desse sistema pode se dar pelas vias clássica ou alternativa. Nele as proteínas laboram em conjunto na opsonização de microrganismos, promoção de recrutamento de fagócitos para o sítio de infecção e, às vezes, na destruição direta dos microrganismos1, 2. 2. Evolução do Sistema Complemento: O SC é um complexo protéico polimolecular formado por diversas substâncias que se encontram no plasma sangüíneo, nas membranas celulares e desempenham um papel importante em diferentes tipos de reações imunoinflamatórias, tendo um papel importante nos mecanismos de defesa inatos e adquiridos.3. A evolução do SC correlaciona-se a um sistema antigo de defesa, já presente nos deuterostômios invertebrados, nestes e nos agnathans, a via alternativa já era presente, e o SC parecia já estar envolvido principalmente na opsonização de material estranho. A partir da emergência das imunoglobulinas no peixe cartilaginoso, surgem também as vias clássica e lítica. As espécies pecilotérmicas, tendem a ter um SC bem desenvolvido, lembrando o SC dos vertebrados homeotérmicos. Entretanto, ao contrário dos homeotérmicos, diversas espécies de pecilotérmicos atualmente possuem múltiplas formas de componentes do SC(C3 e fator B), que são estrutural e funcionalmente mais diversificados do que nos vertebrados mais evoluídos. Sendo notório que as múltiplas formas de C3 que foram caracterizadas em vários peixes teleósteos são capazes de ligar-se a várias superfícies que ativam o SC44. O sistema de ativação do complemento se desenvolveu ainda mais pela diversificação de uma colectina semelhante a C1q e suas MASPs relacionadas para se tornarem os componentes de iniciação (C1q, C1r e C1s) da via clássica do complemento5. Figura 1: Representação esquemática do sistema complemento. Fonte: Trouw LA, Pickering MC, Blom AM. The complement system as a potential therapeutic target in rheumatic disease. Nat Rev Rheumatol. 2017 Sep;13(9):538-547. doi: 10.1038/nrrheum.2017.125. Epub 2017 Aug 10. PMID: 28794515. 2 3. Representantes do Sistema Complemento: Os componentes do sistema complemento na via clássica (ativada por determinados isotipos de anticorpos ligados a antígenos), são denominados com o símbolo "C" e sucedidos com um número correspondente, sendo os componentes C1 (C1q, C1r e C1s), C4 (C4a e C4b), C2(C2a e C2b) e C3 (C3a e C3b) ativados em cascata. Em todas as vias, após a geração de C3b, a convertase de C5 é montada, clivando C5 em C5a e C5b, iniciando as etapas terminais da ativação do complemento1, 2, 5. Os componentes da via alternativa (ativada na superfície das células microbianas na ausência de anticorpo), com exceção do C3, denominam-se com nomes convencionais ou símbolos diferentes, sendo o fator D (alfaglobulina termo lábil), fator B (betaglobulina termolábil) e properdina (gamaglobulina tetramérica)1, 2, 5. Os representantes da via das lectinas (desencadeada pela ligação de polissacarídeos microbianos a lectinas circulantes), são as serina proteases associadas MASP-1, MASP-2 e MASP-3, além de Lectina, M-ficolina, L-ficolina e H-ficolina, estes responsáveis pela aglutinina, opsonina e fixação do complemento2. A via terminal do SC ou complexo lítico de membrana (CLM), finda a formação do complexo de ataque à membrana, é representada pelos componentes C5 (C5a e C5b), C6, C7, C8 e C9. O C5b inicia a montagem dessa via e estimula as ligações dos componentes, com a formação do complexo C5b,6,7,8,9, o complexo de ataque à membrana (MAC) é concluído1, 2. 3 Fonte: ITURRY-YAMAMOTO, G. R.; PORTINHO, C. P.. Sistema complemento: ativação, regulação e deficiências congênitas e adquiridas. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 47, n. 1, p. 41–51, jan. 2001. 4. Ativação do Sistema Complemento: As vias de ativação do SC são: a via clássica, a via alternativa, a via das lectinas e a via terminal. A ativação do complemento pode-se dar por microrganismos e por anticorpos que estão ligados aos microorganismos e outros antígenos. O complemento conduz um ataque imune às superfícies microbianas e o sistema imune gera produtos que atuam na eliminação dos microrganismos1, 2. A ativação do complemento também envolve as cascatas proteolíticas em que a enzima precursora inativa, o zimogênio, é convertida e torna-se uma protease ativa que cliva e, assim, induz a atividade proteolítica da próxima proteína do complemento na cascata. Tais cascatas propiciam enorme e rápida amplificação pois cada molécula de enzima ativada em uma etapa podem gerar múltiplas moléculas de enzima à serem ativadas na etapa seguinte2. A ativação por ambas as vias leva à formação do complexo lítico de membrana(CLM), que destrói células, através de uma lise celular1. 5. Via clássica do Sistema Complemento: A via clássica do SC é formada pelos componentes C1 (componente iniciador da ativação), C4, C2 e C3 ativados em cascata. Essa via tem sua ativação frequentemente ligada aos complexos antígeno-anticorpo e imunoglobulinas agregadas (imunoglobulinas pertencentes às classes IgM e às subclasses IgG1, IgG2, IgG3)1, 8, 10. Essa via utiliza a proteína plasmática C1q para detectar anticorpos ligados à superfície de um microrganismo ou outra estrutura, pois esta proteína liga-se especificamente às regiões Fc da cadeia pesada µ e de algumas cadeias pesadas γ2. As subunidades C1r e C1s são esterases necessárias para a gradatividade da ativação da cascata1, 2. Em seguida a proteína sérica C4 sofre clivagem, sendo ativada pela C1r e gerando a C4b e a C4a (fragmento menor que é liberado). A C4b liga-se covalentemente à superfície de um microrganismo ou célula, onde o anticorpo está ligado e o complemento é ativado. A C4b liga-se a C2 para clivagem através do C1s, gerando os fragmentos C2b e C2a. O fragmento C2a é fisicamente associado a C4b na superfície da célula. O complexo C4b2a é a C3 convertase da via clássica, que se liga e cliva a C31,2. A C3 se cliva formando C3b e C3a. O C3b pode formar ligações covalentes com as superfícies celulares ou com o anticorpo em que a ativação do SC se iniciou. Com a deposição de C3b, ele pode se ligar ao Fator B e gerar mais C3 convertase pela via alternativa. Algumas moléculas de C3b formadas pela C3 convertase da via clássica ligam-se à convertase, formando o complexo C4b2a3b1,2. Esse complexo atua como a C5 convertase da via clássica, clivando C5 e iniciando as etapas finais da ativação do SC2. 4 6. Via alternativa do Sistema Complemento: A via alternativa depende dos fatores: fator D, fator B, properdina e C3. É desencadeada quando a proteína C3 identifica diretamente estruturas presentes na superfície microbiana, como por exemplo o LPS bacteriano1,2. Em soluções (em níveis baixos), a C3 se liga às superfícies celulares, sendo inibida por moléculas reguladoras existentes nas células dos mamíferos. Por os microrganismos não disporem de moléculas reguladoras, a ativação espontânea pode ser amplificada nas superfícies microbianas1,8. Assim, essa via pode discernir entre o próprio normal e os microrganismos exógenos, através da presença ou ausência das proteínas reguladoras1,2. A molécula C3 abrange uma ligação tioéster, que pode ser hidrolisada pela água, dando início a ativação dessa via. Após a hidrólise, forma-se um grupo sulfidrila e outro éster1,8. A hidrólise espontânea do C3 plasmático ocasiona à formação da C3 convertase de fase fluida e à geração de C3b. Se depositado sobre uma superfície microbiana, esse C3b se liga ao Fator B, formando a C3 convertase da via alternativa. Essa convertase cliva C3, produzindo mais C3b, que se ligam as superfícies microbianase cooperam na formação da C5 convertase. A C5 convertase cliva a C5, gerando C5b, proteína iniciadora das etapas terminais de ativação do complemento2. 7. Regulação do Sistema Complemento: Uma ativação descontrolada do SC pode ocasionar a formação do complexo lítico de membrana (CLM) no próprio tecido e a uma formação excessiva de mediadores da inflamação1. Geralmente isso não sucede, pois a ativação é ordenada por diversas proteínas de origem plasmáticas ou membranares com funções específicas, que mantêm um controle metódico da ativação1, 7. As C3 e C5-convertases se dissociam rapidamente e C4b, C3b e C5b7 apresentam uma capacidade unicamente provisória para a fusão à superfície-alvo. Sendo assim, o complemento de dada espécie é ineficiente para fomentar a lise de células autólogas. Através destes meios de de regulação se dá um delicado equilíbrio entre a ativação e a inibição da cascata do SC, prevenindo a lesão de células e tecidos próprios, permitindo a eliminação eficiente de organismos xenógenos1, 8, 9. Referências 1. Iturry-Yamamoto, G. R., & Portinho, C. P.. (2001). Sistema complemento: ativação, regulação e deficiências congênitas e adquiridas. Revista Da Associação Médica Brasileira, 47(1), 41–51. https://doi.org/10.1590/S0104-42302001000100029 2. ABBAS, A. K. Imunologia celular e molecular. 5ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 3. Adelsberg B. A conceptual view of the complement system. Pediatric Annals 1987; 16: 477-82. 4. Sunyer JO, Lambris JD. Evolution and diversity of the complement system of poikilothermic vertebrates. Immunol Rev 1998; 166: 39-57. 5 5. Murphy, Kenneth; Walport, Mark. Porto Alegre; Imunobiologia de Janeway; Artmed; 7 ed; 2010. 908 p. Monografia em Português. LILACS, Coleciona SUS. ID: biblio-941260. 6. C. Janeway, P. Travers, M. Walport, M. Shlomchik. Imunobiologia: o Sistema Imune na Saúde e na Doença - 5ª Edição. - Porto Alegre: Artmed, 2002. 5. ed. ISBN: 8536300116 7. Meri S, Jarva H. Complement regulation. Vox Sang 1998; 74: (Suppl 2) 291-302. 8. Law SKA, Reid KBM. Complement. Oxford, Ilpress, 1988. 72 p. 9. Lachmann PJ. The control of homologous lysis. Immunol Today 1991; 12: 312-5. 10.Frank MM. Complement in the pathophysiology of human disease. N Eng J Med 1987; 316:1525-1550. 6