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Literatura Brasileira I Margarete Louzano AULA 3 – Barroco (1601-1768) TÓPICOS • Gregório de Matos, o boca do Inferno • Botelho de Oliveira e outros • Primeira obra do Poeta nascido no Brasil a ser publicada INTRODUÇÃO • Nesta aula o objetivo será oferecer ao estudante de Letras uma perspectiva Literária sobre o Barroco, com Gregório de Matos, Botelho de Oliveira entre outros. Apresentaremos a Poesia do ‘boca do Inferno’ da crítica hostil aos caramurus, à dita pornografia do ‘poeta maldito’. Apresentaremos também o primeiro autor nascido no Brasil a publicar uma obra, Botelho de Oliveira e suas poesias que marcaram a presença do gongorismo no contexto do Brasil colonial. Marcando, deste modo, uma Literatura Nacional. “No Brasil, houve ecos do barroco durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Mattos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano. Na segunda metade do século XVIII porém, o ciclo do ouro já daria um substrato material à arquitetura à escultura e a vida musical, de sorte que parece lícito falar de um “barroco brasileiro”, e até “mineiro”, cujos exemplos mais significativos foram Aleijadinho, Manuel da Costa Ataíde e composições sacras de Lôbo de Mesquita,(...)” (BOSI, p.34, 2001) Gregório de Matos Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador, 1636 e morreu no Recife em 1696. De família abastarda, pais portugueses. Em 1642 estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Continuou seus estudos em Lisboa (1650 – 1661) na Universidade de Coimbra. Em 1663 foi nomeado juiz de fora de Alcácer do Sal, não sem antes atestar que era "puro de sangue", como determinava o jurídicas da época. Foi advogado e poeta. Considerado maiores poetas do Barroco em Portugal e no Brasil. O mais importante poeta satírico em língua portuguesa no período colonial. Gregório de Matos Segundo BOSI (2001), Gregório de Matos tinha formação humanística “Mazelas e azares tangeram-no de Lisboa para Bahia quando já se abeirava dos cinquent’anos; mas entre nós não perdeu, antes espicaçou o vezo de satirizar os desafetos pessoais e políticos, motivo de sua deportação para Angola de onde voltou, um ano antes de morrer, indo para recife que foi sua última morada.”(p.37) Gregório de Matos Gregório de Matos não era bem quisto pelos senhores poderosos da colônia. Era poeta culto, conhecedor da Lei e tinha formação Humanista, o que o tornava severo crítico da hipocrisia e injustiças sociais. Foi apelidado por representantes eclesiásticos de “Boca do Inferno”, por criticar a igreja católica, e assim é conhecido até os dias de hoje. Além da igreja católica, Gregório criticou diversos aspectos da sociedade e do governo. Por esse motivo, foi perseguido pela Inquisição e condenado e deportado para Angola no ano de 1694. Gregório de Matos “... lhe pungia o amor-próprio e o levava a estiletar às cegas todas as classes da nova sociedade: A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar a cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um freqüentado olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, Para a levar à Praça, e ao Terreiro.” (BOSI, p.37, 2001) Características das obras de Gregório de Matos Escreveu mais de 700 textos de poemas líricos, satíricos, eróticos e religiosos; inseridas no movimento do barroco, utiliza-se de jogos de palavras, variedade de rimas, além de uma linguagem popular faz uso de termos da língua tupi e outras línguas africanas. Alguns de seus poemas, primeiramente, foram publicados pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, no livro "Florilégio da Poesia Brasileira" (1850) editado em Lisboa (pós morte). Há, ainda controvérsias sobre a autoria de alguns de seus escritos. À Cidade da Bahia - Crítica à Bahia Tristes sucessos, casos lastimosos, Desgraças nunca vistas, nem faladas. São, ó Bahia, vésperas choradas De outros que estão por vir estranhos Sentimo-nos confusos e teimosos Pois não damos remédios as já passadas, Nem prevemos tampouco as esperadas Como que estamos delas desejosos. Levou-me o dinheiro, a má fortuna Ficamos sem tostão, real nem branca, macutas, correão, nevelão, molhos: Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna E é que quem o dinheiro nos arranca, Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos. Contemplando nas cousas do mundo Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: Com sua língua ao nobre o vil decepa: O Velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa: Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por Tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa: Mais isento se mostra, o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazio a tripa, E mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa.” Considerado poeta “rebelde” por sua voraz acidez nas palavras e também por ter poesias considerada pornográficas. Contudo, há de ressaltar que Gregório de Matos é, sem duvidas, um poeta clássico. Ainda hoje atribuem-lhe também o título de ‘poeta maldito”. Necessidades Forçosas da Natureza Humana Descarto-me da tronga, que me chupa, Corro por um conchego todo o mapa, O ar da feia me arrebata a capa, O gadanho da limpa até a garupa. Busco uma freira, que me desentupa A via, que o desuso às vezes tapa, Topo-a, topando-a todo o bolo rapa, Que as cartas lhe dão sempre com chalupa Que hei de fazer, se sou de boa cepa, E na hora de ver repleta a tripa, Darei, por quem mo vaze toda Europa? Amigo, quem se alimpa da carepa, Ou sofre uma muchacha, que o dissipa, Ou faz da mão sua cachopa. “A truculência do juiz é a outra face do trovador obsceno: contraste primário que, dada a mediania humana e artística de Gregório, não deságua no eros religioso atingido pela alta poesia barroca de Tasso e Donne, Silesius e Sor Juana Inés de la Cruz.” (BOSI, p.39. 2001) Aos Principais da Bahia Chamados caramuru Há coisa como ver um Paiaiá Mui prezado de ser Caramuru, Descendente do sangue do tatu, Cujo torpe idioma é Cobepá? A linha feminina é carimá Moqueca, pititinga caruru Mingau de puba, e vinho de caju Pisado num pilão de Piraguá. A masculina é um Aricobé Cuja filha Cobé um branco Paí Dormiu no promontório de Passé. O Branco era um marau, que veio aqui, Ela era uma Índia de Maré Cobé pá, Aricobé, Cobé Paí. Um calção de pindoba, a meia zorra, Camisa de urucu, mantéu de arara, Em lugar de cotó, arco e taquara, Penacho de guarás, em vez de gorra. Furado o beiço, e sem temor que morra O pai, que lho envasou c’uma titara, Porém a Mãe a pedra lhe aplicara Por reprimir-lhe o sangue que não corra. Alarve sem razão, bruto sem fé, Sem mais leis que a do gosto, quando erra, De Paiaiá tornou-se em abaité. Não sei onde acabou, ou em que guerra: Só sei que deste Adão de Massapé Procedem os fidalgos desta terra. Botelho de Oliveira Manuel Botelho de Oliveira nasceu em Salvador, 1636, onde faleceu em 1711. Filho de um capitão de infantaria, cursou Direito na Universidade de Coimbra. De volta ao Brasil, passou a exercer a advocacia e foi eleito vereador da Câmara de Salvador. Em 1694, tornou-se capitão-mor dos distritos de Rio do Peixe, Papagaio e Gameleira, cargo obtido em função da criação da Casa da Moeda, na Bahia (empréstimo de 22 cruzados). Foi advogado, político e poeta barroco de nacionalidade portuguesa nascido no Brasil colônia. Primeiro autor nascido no Brasil a ter livro publicado. O Gongorismo em Botelho de Oliveira Gongorismo s.m. 1. estilo literário que se enquadra dentro do Barroco e que tem como seu maior expoente o poeta espanhol Luis de Góngora y Argote 1561-1627, caracterizado por um hermetismo deliberado, emprego de palavras eruditas, afetação levada ao extremo, inversão da frase e abundância de figuras de linguagem, especialmente a metáfora. (gongorismo in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa.Porto: Porto Editora, 2003-2018). Música do Parnaso - Botelho de Oliveira Mal Amigo, 1663 foi a primeira obra publicada em Coimbra, porém sua principal obra é a coletânea de poemas Música do Parnaso, que reúne poemas em português, castelhano, italiano e latim e duas comédias em espanhol, Hay amigo para amigo e amor e Engaños y elos. Escrita e publicada 1705 em Lisboa, tornou-o o primeiro autor português nascido no Brasil a ter um livro impresso. Segundo BOSI, (2001) sua obra é a maior representante da presença do gongorismo no Brasil. Música do Parnaso - Botelho de Oliveira Na obra, Música do Parnaso, destaca-se o poema À Ilha de Maré, onde o poeta faz uso do vocabulário típico dos barrocos, além de ser um dos primeiros a louvar a terra e descrever com riqueza de detalhes a variedade de frutos e legumes brasileiros, numa descrição exuberante da natureza tropical do Brasil, o que, certamente, encantaria as metrópoles europeias. Necessidades Forçosas da Natureza Humana “Jaz oblíqua forma e prolongada a terra de Maré toda cercada de Netuno, que tendo o amor constante, lhe dá muitos abraços por amante, e botando-lhe os braços dentro dela a pretende gozar, por ser mui bela. Nesta assistência tanto a senhoreia, e tanto a galanteia, que, do mar, de Maré tem o apelido, como quem preza o amor de seu querido: e por gosto das prendas amorosas fica maré de rosas, (...) Aqui se cria o peixe regalado com tal sustância, e gosto preparado, que sem tempero algum para apetite faz gostoso convite, e se pode dizer em graça rara que a mesma natureza os temperara. Não falta aqui marisco saboroso, para tirar fastio ao melindroso; os polvos radiantes, os lagostins flamantes, camarões excelentes, (...) Necessidades Forçosas da Natureza Humana As fruitas se produzem copiosas, e são tão deleitosas, que como junto ao mar o sítio é posto, lhes dá salgado o mar o sal do gosto. As canas fertilmente se produzem, e a tão breve discurso se reduzem, que, porque crescem muito, em doze meses lhe sazona o fruito, e não quer, quando o fruto se deseja, Que sendo velha a cana, fértil seja. As laranjas da terra poucas azedas são, antes se encerra tal doce nestes pomos, que o tem clarificado nos seus gomos; mas as de Portugal entre alamedas são primas dos limões, todas azedas Nas que chamam da China grande sabor se afina, mais que as da Europa doces, e melhores, e têm sempre a ventagem de maiores, e nesta maioria, como maiores são, têm mais valia. Os limões não se prezam, (...) “...desvalorizar um poema barroco porque ‘vazio’ ou mitizá-lo porque rebuscadamente estilizado é, ainda e sempre, cometer o pecado de isolar espírito e forma, e não atingir o plano da síntese estética que deve nortear, em última instância, o julgamento da obra. A tentação, de resto, parece fatal, e não sei de homem culto, por equilibrado que se professe, que não tenha alguma vez caído nela; mas o importante é vigiar-se para que o dogmatismo de uma opção não nos faça mergulhar na ininteligência de uma das poucas atividades que resgatam a estupidez: a arte. (BOSI, 2001) Frei Itaparica Frei Manuel de Santa Maria nasceu em 1704 na ilha de Itaparica, Brasil, e faleceu provavelmente em 1768. Pouco se conhece da sua vida, sabendo-se apenas que professou na Ordem de São Francisco, no convento de Paraguaçu, dedicando-se, mais tarde, ao púlpito. É autor de Eustáquios, poema sacro e tragicómico, que contém a vida de Santo Eustáquio Mártir, chamado antes Plácido, e de sua mulher e filhos, publicado sem data, sem indicação de local nem autoria. Este poema, descoberto por Francisco Adolfo de Varnhagen, imita Camões. Diogo Grasson Tinoco Segundo BOSI (2001), Grasson foi, provavelmente, autor de um poema que trata do descobrimento das esmeraldas “... só é conhecido em virtude da menção que lhe faz Cláudio Manuel da Costa, no poema “Vila Rica” transcrevendo-lhe quatro estâncias, as únicas que chegaram até nós. Pelo fragmento depreende-se que a obra de Grasson Tinoco seria um documento estimável das bandeiras nos fins dos seiscentos.” (BOSI, p.43, 2001) Morreu em fim o Rei dos Lusitanos, Mas como homem não sentiu a morte, Como Fênix morreu, que desta sorte. Acrescentou morrendo os próprios anos. Um Rei tão singular entre os humanos, Se acabara de parca ao duro corte, Fora tão grande o sentimento, e forte, Que causara no mundo imensos danos. Mas como a Fênix já desfalecida Deste modo acrescenta a sua idade, Não se sente esta morte, é aplaudida: Oh! mitigue-se a nossa saudade, Que deu o nosso Rei, perdendo a vida Tão cedo, mais aumento à eternidade. Considerações finais Vimos que se faz necessário o conhecimento de certos detalhes históricos e sociais, especialmente nas ligações estabelecidas entre Portugal colonizador e o Brasil à mercê de inúmeros fatores na construção de sua identidade Literária. As influências dos primeiros escritores e primeiras publicações realizadas por Botelho Oliveira, nascido no Brasil e Gregório de Matos com sua irreverente crítica à igreja católica, à sociedade e aos políticos. Estes foram portadores dos ecos do Barroco que chegou à nossas terras. Com tais estudos acreditamos aprimorar a competência de análise e reflexões críticas dos estudantes de Letras. ç Referências Bibliográficas BOSI, Afredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989. CÂNDIDO, Antônio . Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins Fonte , 1969. _________ Presença da Literatura Brasileira. Das origens ao Realismo. História e a Antologia. 11ª Ed. Rio de janeiro. Bertrand Brasil, 2003. __________ Formação da Literatura Brasileira. Momentos decisivos. 6.ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000. Referências Bibliográficas CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Momentos decisivos. 6.ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. ____________. Presença da Literatura Brasileira. Das origens ao Realismo. História e a Antologia. 11ª Ed. Rio de janeiro. Bertrand Brasil, 2003. COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1978. ___________, Afrânio (dir.) e COUTINHO, Eduardo de Faria (co-dir.). A literatura no Brasil. 4.ed. São Paulo: Global, 1997. Vols. I, II, III, IV, V e VI. CULTURA , Ministério da. A Carta de Pero Vaz Caminha. Fundação Biblioteca Nacional Departamento Nacional do Livro. 2010. MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa.32ª edição. São Paulo. Cultrix, 2003. OLIVEIRA, Manuel Botelho de. À Ilha de Maré. in Poesia Barroca, org. por Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Melhoramentos, 1967. https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua- portuguesa/gongorismo http://www.resumosdeliteratura.com/2015/01/resumo-de- literatura-brasileira-linha.html Literatura Brasileira I Número do slide 2 TÓPICOS INTRODUÇÃO Número do slide 5 Número do slide 6 Gregório de Matos Gregório de Matos Gregório de Matos Gregório de Matos Características das obras de Gregório de Matos À Cidade da Bahia - Crítica à Bahia Contemplando nas cousas do mundo Número do slide 14 Necessidades Forçosas da Natureza Humana Número do slide 16 Aos Principais da Bahia Chamados caramuru Número do slide 18 Botelho de Oliveira O Gongorismo em Botelho de Oliveira Música do Parnaso - Botelho de Oliveira Música do Parnaso - Botelho de Oliveira Necessidades Forçosas da Natureza Humana Necessidades Forçosas da Natureza Humana Número do slide 25 Frei Itaparica Diogo Grasson Tinoco Número do slide 28 Considerações finais Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas Número do slide 32