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INTRODUÇÃO ÀS PROPRIEDADES DAS PARTÍCULAS SÓLIDAS. PROPRIEDADES E ANÁLISE DE PARTÍCULAS SÓLIDAS UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CURSO DE FARMÁCIA Farmacotécnica e Tecnologia Farmacêutica II SÓLIDOS As partículas sólidas são constituídas por moléculas que são mantidas próximas umas das outras por Forças intermoleculares. A intensidade de interação entre duas moléculas é determinada pelos átomos individuais que forma sua estrutura. Ligações de hidrogênio (interações eletrostáticas entre um átomo de Hidrogênio e um átomo eletronegativo, como o Oxigênio) Forças de Van der Waals ( Esse é um termo genérico que abrange as forças dipolo-dipolo (de Keesom), dipolo-dipolo induzido (de Debye) e dipolo induzido-dipolo induzido (de London). CRISTALIZAÇÃO Estado cristalino Moléculas dispostas de forma ordenada Estado amorfo Arranjos moleculares desorganizados CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS ARRANJO CRISTALINO Características físico-químicas: ponto de fusão Cristais de arranjos moleculares fracos (forças de Van der Waals): baixo ponto de fusão (parafina) Cristais de arranjos moleculares coesos (pontes de H): alto ponto de fusão CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS POLIMORFISMO Ocorre quando determinado sólido apresenta mais de um arranjo cristalino Características dos cristais são diferenciadas: densidade, ponto de fusão, solubilidade, etc. CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS Dependem da forma polimórfica: Cor Dureza Solubilidade Ponto de fusão Isso leva a respostas biológicas diferentes, uma vez que a biodisponibilidade do fármaco estará afetada. CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS Polimorfos possuem formas cristalinas diferentes, mas são idênticos no estado líquido e de vapor. Polimorfos metaestáveis (polimorfismo monotrópico): Maior pressão de vapor Alta energia livre Maior solubilidade Menor ponto de fusão do que a forma estável verdadeira. CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS Formas metastáveis: Poderão existir por tempo variável num produto, de acordo com temperatura e pressão Maiores massas poderão ser dissolvidas, formando soluções supersaturadas que poderão precipitar Formas metastáveis podem aumentar a biodisponibilidade de fármacos lipofílicos CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS Durante a cristalização, moléculas de solvente podem ficar retidas no cristal: Água: hidrato Outros solventes: solvatos (indesejáveis) Ex. se ,moléculas de etanol estão retidas, a substância será um etanolato. Monoidrato: 1 molécula de água:1 molécula de cristal Diidrato, triidrato, etc... Diferenças entre forma anidra e hidratos = peseudopolimorfismo CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS Forma hidratada poderá ter maior ou menor velocidade de dissolução Ex: teofilina hidratada: menor solubilidade eritomicina hidratada: maior solubilidade Em geral, formas anidras apresentam maior solubilidade Fármacos em sua forma anidra possuem maior atividade termodinâmica em comparação com seus hidratos correspondentes e, em conseqüência, possuem maior solubilidade e velocidade de dissolução em relação às formas hidratadas (SILVA, 2007). CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS ARRANJO AMORFO Moléculas não apresentam padrão de repetição ordenado Materiais poliméricos sempre são amorfos Podem apresentar zonas organizadas (semicristalinos): graus de cristalinidade variáveis Baixo peso molecular: precipitação rápida ou moagem podem levar a obtenção de amorfos Temperatura de maior variação de suas propriedades: temperatura de transição vítrea (Tg) CRISTALIZAÇÃO DE SÓLIDOS Substância amorfa armazenada abaixo da Tg: quebradiça; estado vítreo; Substância acima da Tg: elástica, alta mobilidade, rápida conversão à forma cristalina; Algumas substâncias podem provocar queda da Tg de amorfos, favorecendo a cristalização (plastificantes). FORMATOS DE CRISTAIS Formato interfere na dissolução, no fluxo do pó e na sedimentação FORMATOS DE CRISTAIS Formatos arredondados para cristais apresentam a maior área superficial Maior solubilidade e biodisponibilidade Moagem pode ser empregada para obtenção de cristais esféricos Adição de tensoativos num meio de precipitação pode alterar o formato das partículas FENÔMENOS DE SUPERFÍCIE Energia de superfície Influencia processos como a molhabilidade de sólidos Em líquidos, equivale à tensão superficial Em sólidos: formato da partícula, forma cristalina (polimorfismo) e presença de hidratos podem alterar a energia de superfície Medidas em sólidos: ângulo de contato entre um líquido e o sólido (molhabilidade) Ângulo ZERO indica alta molhabilidade FENÔMENOS DE SUPERFÍCIE Sorção de Vapor: Exposição de um pó a gás ou a vapor gera: Adsorção de vapor na superfície do pó Ocorre para cristais Absorção no interior da mistura do pó Somente para amorfos (efeito plastificante) Deliqüescência do pó Quando o pó dissolve-se no vapor Formação de hidrato ou solvato Quando o gás ou vapor são absorvidos e mantidos no interior da estrutura cristalina TAMANHO DE PARTÍCULA Interfere nas características físicas e na eficácia farmacológica Homogeneidade de conteúdo Tamanho de partícula do fármaco e dos adjuvantes deve ser definido no desenvolvimento do produto Segundo leis da difusão, menores tamanhos de partícula geram maior velocidade de dissolução (maior biodisponibilidade) TAMANHO DE PARTÍCULA Pode influenciar em fatores como: Taxa de dissolução do fármaco Molhabilidade e capacidade de dispersão de partículas em meio líquido Uniformidade de misturas de sólidos Fluxo do sólido: partículas pequenas tendem a ser mais coesas Percepção de sólidos suspensos em semi- sólidos para a via tópica ou preparações oftálmicas TAMANHO DE PARTÍCULA Determinado a partir do: .Diâmetro equivalente da partícula Nem todas as partículas são esféricas Tamanho de partículas irregulares é dado pelo diâmetro da forma esférica aproximada Diâmetro do perímetro projetado Diâmetro da área projetada É possível produzir mais de uma esfera equivalente a uma dada partícula com formato irregular TAMANHO DE PARTÍCULA Determinado pelo diâmetro de Feret e diâmetro de Martin Ambos dependentes do formato e da posição da partícula Diâmetro de Feret Diâmetro de Feret Diâmetro de Martin Diâmetro de Martin Estes diâmetros são estatísticos e uma média de várias orientações diferentes para produzir um valor médio para cada diâmetro de partícula. Caracterizar o tamanho de partículas com formato irregular, como as geralmente encontradas em sistemas farmacêuticos, é um desafio. TAMBÉM É POSSÍVEL DETERMINAR O DIÂMETRO ESFÉRICO EQUIVALENTE BASEANDO-SE EM OUTROS FATORES, COMO VOLUME, SUPERFÍCIE, ABERTURA DA PENEIRA E CARACTERÍSTICAS DE SEDIMENTAÇÃO. DISTRIBUIÇÃO DE TAMANHO População de partículas de dimensões uniformes = monodispersão Maioria dos pós é polidisperso, com diâmetros que circundam uma (normal) ou mais médias (bimodal) Diâmetro de partícula F re q ü ê n c ia p e rc e n tu a l Diâmetro de partícula F re q ü ê n c ia p e rc e n tu a l DISTRIBUIÇÃO DE TAMANHO Distribuições de tamanho heterogêneas podem gerar: Diferenças de biodisponibilidade Diferenças de solubilidade Diferenças de estabilidade Cristalização Sedimentação Dificuldade de fluxo de pós Dificuldade de compactação FORMA DA PARTÍCULA Algumas partículas não podem ser avaliadas como esferas por não terem nenhuma relação com estas Partículas fibrosas Medidas de tamanho podem ser feitas nos dois eixos principais: comprimento e largura ASSIM: avaliações de tamanho devem considerar o formato da partícula MÉTODOS DE ANÁLISE DE TAMANHO Tamisação Microscopia eletrônica Contador Coulter Dispersão de Luz Laser Sedimentação MÉTODOSDE ANÁLISE DE TAMANHO TAMISAÇÃO Tamanho da partícula que passa por uma abertura quadricular Avaliação de partículas entre 5 e 125000 m Segundo a ISO: entre 45 e 1000 m Coluna de 6 a 8 tamises com malhas na razão √2 Tempo de tamisação é fator importante MÉTODOS DE ANÁLISE DE TAMANHO MICROSCOPIA A microscopia consiste em um método capaz de visualizar a partícula. Considera: Formato da partícula Diâmetro equivalente Não avalia adequadamente a distribuição granulométrica, uma vez que a visualização aborda campos individuais MÉTODOS DE ANÁLISE DE TAMANHO MICROSCOPIA Microscopia ótica Avalia partículas entre 1 e 1000 m As partículas são analisadas em duas dimensões, normalmente pelo lado de maior tamanho Pode induzir a superestimação Microscopia eletrônica De varredura (SEM) De transmissão (TEM) MÉTODOS DE ANÁLISE DE TAMANHO MICROSCOPIA Microscopia eletrônica de varredura (SEM) Partículas entre 0,05 (50 nm) e 1000 m Permite visualização tridimensional MÉTODOS DE ANÁLISE DE TAMANHO MICROSCOPIA Microscopia eletrônica de transmissão (TEM) Partículas entre 0,001 (1 nm) e 1000 m Normalmente empregada para partículas de tamanho inferior a 50 nm Nanoesferas de sílica de 800 nm contendo um complexo de rutênio-diimina. MÉTODOS DE ANÁLISE DE TAMANHO CONTADOR COULTER Baseado no princípio da zona sensora da passagem de corrente elétrica Quando uma partícula passa através de uma abertura, ela cria uma resistência. Quanto maior a partícula, maior a resistência, maior a voltagem. Cada pico de tensão é diretamente proporcional ao tamanho da célula. Avalia o diâmetro equivalente e a distribuição granulométrica Avalia partículas de 1 a 1000 m MÉTODOS DE ANÁLISE DE TAMANHO DISPERSÃO DE LUZ LASER Difração de Fraunhofer Para partículas cujo tamanho é maior que o comprimento de onda da luz (1 e 1000 m) Alteração de ângulo (dispersão) é medida Avalia a distribuição granulométrica Espectroscopia de Correlação de Fótons (Doppler) Avalia a variação constante da dispersão da luz laser causada pelo movimento browniano das partículas Partículas entre 1 e 1000 nm MÉTODOS DE ANÁLISE DE TAMANHO SEDIMENTAÇÃO Sedimentação por centrifugação Cerca de 0,01 a 100 m Medidas em meio líquido não aquoso Sedimentação gravitacional Entre 1 e 100 m Abaixo de 5 m, processo muito lento Medidas em meio gasoso ou líquido Rápida execução e baixo custo PROPRIEDADES DAS PARTÍCULAS DENSIDADE DE SÓLIDOS Densidade bruta Volume ocupado por certa massa de pó, sem nenhum tipo de compactação durante a execução do teste (proveta) Densidade de compactação Volume ocupado por certa massa de pó após compactação em proveta; Volúmetro de compactação (Voigt e Fahr, 2000) 50 g amostra em proveta de 100 mL Faz-se a leitura da densidade bruta Proveta é submetida a 1250 quedas sucessivas Volume é medido e só é considerado como resultado quando a diferença entre duas medidas for menor que 2 mL Volúmetro de Compactação ADESÃO E COESÃO Forças intermoleculares geram tendência de coesão entre partículas sólidas e adesão em relação a superfícies Variam de acordo com o tamanho da partícula e umidade relativa Menores tamanhos geram maior coesão Reduzem o fluxo de partículas ADESÃO E COESÃO TENSÃO DE CISALHAMENTO Tensão necessária para cisalhar um leito de pó com resistência zero Pode ser medida através da célula de cisalhamento (diagrama de Mohr) Qual a força perpendicular necessária ao cisalhamento Além da coesão, esta avaliação gera dados sobre a capacidade de fluxo de um pó •RESISTÊNCIA À TRAÇÃO ⚫ Avalia indiretamente a força de coesão entre as partículas ⚫ Apresenta correlação direta com as medidas de ângulo de repouso ADESÃO E COESÃO Ângulo de inclinação •ÂNGULO DE REPOUSO ⚫ Avalia o deslizamento das partículas (rolagem ou fluxo): Atrito interno (coesão) X gravidade ⚫ Valores maiores: partículas coesivas ⚫ Valores menores: partículas não-coesivas ADESÃO E COESÃO Partículas coesivas ADESÃO E COESÃO Partículas pequenas são mais coesas Partículas maiores que 250 µm apresentam fluxo livre Partículas inferiores a 10 µm normalmente são muito coesas e resistentes ao fluxo Partículas com maior área de contato são mais coesas Esferas apresentam mais fluxo Partículas pouco densas são mais coesas, têm menor fluxo EMPACOTAMENTO A geometria de empacotamento gera diferenças de acomodação das partículas sólidas e interferem no fluxo Empacotamento denso = maior coesão = menor fluxo Empacotamento frouxo = menor coesão = maior fluxo Assim: a densidade bruta de um pó é sempre menor do que a de suas partículas Empacotamento de Partículas Sólidas de Mesmo Tamanho e Mesmo Formato Empacotamento de Partículas Sólidas Irregulares ou de Tamanhos Diferentes Arranjo denso: 26% de porosidade Arranjo frouxo: 48% de porosidade Arranjo denso: distribuição heterogênea EMPACOTAMENTO A geometria de empacotamento determina: A porosidade do sólido A densidade bruta do sólido, que tende a ser menor quanto maior a porosidade Assim: aumentos de densidade bruta geram redução da porosidade EMPACOTAMENTO Fatores que afetam o empacotamento: Tamanho e distribuição de tamanho da partícula Distribuição heterogênea: alto empacotamento Forma e textura das partículas Formação de arcos para partículas rugosas Formato determina capacidade de acomodação Propriedades de superfície Carga eletrostática aumenta a coesão e causa empacotamento compacto Condições de processamento FLUXO DE PÓS Fluxo de massa Ocorre quando o fluxo é alto e as partículas escoam livremente “A primeira que entra é a primeira que sai” = deslocamento em zonas horizontais FLUXO DE PÓS •Fluxo nucleado ⚫ Ocorre quando o fluxo é baixo ⚫ “A primeira que entra é a última que sai” = deslocamento afunilado ⚫ Pode gerar colapso (ar) e fluxo errático 1) Determinação do Ângulo de Repouso Avalia o fluxo observando a capacidade de escoamento do pó (método indireto) Valores de ângulo de repouso pequenos = alto fluxo e vice-versa Aparelho pode ser montado, mas deve ser pensado de forma a evitar vibrações durante a análise Quando o fluxo do material for muito pequeno, as medidas podem ser dificultadas Determinação do Fluxo de Pós AULTON, M. Delineamento de Formas Farmacêuticas, 2005. Determinação do Ângulo de Repouso = b 2 o 180 − onde : = ângulo de repouso (°) b = ângulo do ápice do triângulo (°) (Guterres, 1990) Pós com ângulo de repouso maior do que 50 : em geral, fluxo deficiente Pós com ângulo de repouso próximos a 25 : em geral, ótimo fluxo As medidas podem ser variáveis de acordo com o método e com as condições experimentais Determinação do Ângulo de Repouso 2) Determinação da Densidade Bruta Depende do empacotamento e modifica-se quando este muda A leitura da densidade bruta em cilindro graduado e a da densidade de compactação (volúmetro de compactação) pode avaliar o fluxo através do: Fator de Hausner ( Índice de compressibiidade e compactabilidade) Determinação do Fluxo de Pós A razão entre as densidades está relacionada com o atrito entre as partículas (Fator de Hausner) Atrito pequeno: razões de 1,2 maior fluxo, menor coesão Atrito grande: razões maiores de 1,6 Maior coesão Menor fluxo Normalmente formato lamelar Determinação do Fluxo de Pós Determinação do fator de Hausner (Hausner, 1967) determinado através do quociente entre as densidades de compactação e bruta, conforme a equação: dc = densidade de compactação (g/mL) db = densidade bruta (g/mL). FH dc db = Determinação do Fluxo de Pós Determinação do Índice de Compressibilidade (Carr, 1965) IC = índicede compressibilidade (%) dc = densidade de compactação (g/mL) db = densidade bruta (g/mL) IC dc db dc = − 100 Determinação do Fluxo de Pós Determinação da Densificação (D)(Guyot et al., 1995) Determinada pela diferença entre os volumes após 10 e 500 quedas em volúmetro de compactação Usa-se 10 g do produto para cálculo da densidade e os resultados são extrapolados para massa de 100 g V10 = volume após 10 compactações (mL) V500 = volume após 500 compactações (mL) 50010 VVD −= Determinação do Fluxo de Pós 3) Velocidade de Fluxo no Alimentador Método simples que consiste em medir a velocidade com que o pó esvazia o alimentador Mede o tempo necessário para o esvaziamento do alimentador previamente cheio Nem sempre este dado se reproduz em outros sistemas Ex: enchimento da matriz de compressão Determinação do Fluxo de Pós 4) Fluxômetro Registrador Escoamento do pó a partir do alimentador para uma balança (método direto) Avalia a variação de massa com o tempo (velocidade de fluxo) Determina a velocidade de fluxo de massa Quantifica a uniformidade do fluxo Determinação do Fluxo de Pós OTIMIZAÇÃO DO FLUXO DE SÓLIDOS Não trabalhar com partículas menores do que o necessário Distribuição de tamanho homogênea, evitando frações finas Uso de partículas esféricas e lisas Secagem por aspersão, cristalização Redução da carga eletrostática Reduzir o atrito durante o processo (aterramento) OTIMIZAÇÃO DO FLUXO DE SÓLIDOS Redução da umidade relativa, pois tende a aumentar a densidade bruta Uso de ativadores de fluxo (deslizantes) Talco, amido, estearato de magnésio Óxido de magnésio, talco siliconizado ou bicarbonato de sódio (umidade) Uso de alimentadores sob vibração ou ejeção