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Resenha sobre o Cap. 3 do livro SARAIVA, José F. S. (org.). História das relações internacionais contemporâneas: da sociedade internacional do século XIX a era da globalização. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. Aluna: Ana Roberta Dias Rossi Turma: 2º Semestre de Relações Internacionais O capítulo abordado nesta resenha trata sobre as mudanças no meio internacional e sua reorganização a partir dos acontecimentos do ano de 1871 até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914 e suas possíveis causas. Além disso, visa um olhar crítico sobre os acontecimentos e sobre a importância, mesmo que “falha”, da diplomacia da época. Ainda, foram abordados os fatores que podem explicar ontologicamente as forças que moveram as ações dos governos. Com o Concerto de Viena, os países europeus viviam em uma organização estabelecida com o objetivo de evitar o surgimento de uma nova hegemonia. Porém, na tentativa de alcançar e manter sua soberania e status quo, e com alto crescimento industrial, o Império Alemão unificado acabou por se tornar uma ameaça a esse sistema. A partir do surgimento dessa possível nova hegemonia que o Império Alemão apresentava, surgiu o sentimento de medo nos outros países da Europa. Isso fez com que rivais (Inglaterra, França e Rússia) se unissem em prol de um objetivo comum: impedir o surgimento de uma hegemonia alemã. O surgimento do nacionalismo na Alemanha e na Itália resultou na desintegração de diversos pequenos países que, até então, serviam como Estados-tampão entre as grandes potências. Isso privou as potências maiores da oportunidade de expandir seu domínio na Europa. De maneira semelhante, a região europeia do Império Otomano em declínio deixou de ser uma área de expansão moderadora para as grandes nações e se transformou em um terreno volátil. Eventualmente, essa transformação culminou na faísca inicial que desencadeou a Primeira Guerra Mundial. No antigo sistema de Viena as alianças não eram permanentes, e isso cedeu lugar, após a ameaça de uma nova hegemonia, a uma bipolaridade de dois blocos de poder: Tríplice aliança (Alemanha, Áustria, Hungria e Itália) e Tríplice Entente (França, Rússia e Grã-Bretanha). Após a virada do século, os Estados Unidos da América já se consolidava como possível potência mundial e o Japão, a partir de 1860 também já começava a se industrializar. O crescimento de países não-europeus mostrou que o poder inesgotável europeu encontrava seu limite e uma reorganização de poderes acontecia. De um lado, cinco potências originais (Alemanha, França, Grã-Bretanha, Rússia e Áustria Hungria), e de outro as novas potências. Ainda que o crescimento econômico dessas novas nações em destaque fosse notável, “o teste decisivo para o status de grande potência continuou sendo a capacidade de fazer guerra”. Mesmo com o crescimento da diplomacia e do lento caminhar da democracia, a manipulação e o controle das massas tomava conta da Europa. Esse apelo dos Estados era voltado para o nacionalismo com um objetivo: transformar a participação política em “psicose de massa”. O objetivo era que a população voltasse seus olhos para os países vizinhos como inimigos externos, ao invés de olhar para os problemas do próprio país. Ainda, esse forte nacionalismo crescente fez com que o darwinismo social influenciasse as teorias e estudos das relações internacionais. A militarização exacerbada também fez parte deste período, influenciada, além do nacionalismo, pelo plano Schlieffen, que se baseava em uma futura guerra de duas frentes, que eclodiu na Primeira Guerra. A Alemanha tinha o potencial para estabelecer uma hegemonia na Europa, mas sua política externa cautelosa e preocupações com coalizões inimigas limitaram seu poder efetivo. Após 1890, a Alemanha buscava um status político condizente com seu poder econômico, enquanto a França formava alianças para equilibrar essa ascendência alemã. Isso levou a um período de "paz armada", semelhante à Guerra Fria posterior a 1945, e não ao consenso moral do Concerto Europeu do século XIX. Apesar das crises diplomáticas, esses 43 anos representaram um dos períodos mais pacíficos entre as grandes potências europeias, mas também prepararam o terreno para a Primeira Guerra Mundial. A industrialização e o crescimento do capitalismo já estavam moldando a divisão de poder no sistema mundial desde o início do século XIX. Apesar da política de alianças de Bismarck e da crescente bipolaridade, soluções diplomáticas no espírito do sistema de Viena ainda eram possíveis. O Concerto Europeu desempenhou um papel na partilha da África, na intervenção conjunta na China e na conferência londrina de 1912. Os principais debates historiográficos desse período se concentram em questões como o caráter do sistema internacional, a existência de um equilíbrio de poder ou uma hegemonia alemã após 1871, as explicações para a nova expansão imperial europeia após 1870, muitas vezes chamadas de teorias do imperialismo, e as causas profundas da Primeira Guerra Mundial. A explicação das causas profundas da Primeira Guerra Mundial é a questão central, com debates sobre o primado da política interna versus o primado da política externa. A história social desafiou os pressupostos da história tradicional das relações internacionais, questionando a ideia de que a política externa é independente das questões da política interna. Essa alta integração da economia mundial nas décadas que antecederam a Primeira Guerra Mundial, abrangendo comércio, investimentos diretos, fluxos financeiros e migração, apresenta semelhanças notáveis com o processo de globalização que ocorreu no final do século XX e início do século XXI. Pode-se considerar a globalização contemporânea como uma espécie de retomada de princípios e processos que tiveram início no final do século XIX. Nesse ponto, a supremacia econômica europeia atingiu seu ponto mais alto. No entanto, durante esse período, um novo polo econômico fora da Europa emergiu com o rápido crescimento industrial dos Estados Unidos, que se tornaram o líder industrial do mundo entre 1880 e 1900. No entanto, esse crescimento econômico americano teve um impacto global com algum atraso. Até a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos mantiveram seu foco econômico principalmente no mercado interno. Sua participação no comércio mundial em 1913 era de apenas 10%, e suas exportações de capital eram de apenas 9%. Alguns historiadores, como G. Arrighi, veem a Grande Depressão de 1873 a 1896 como o início do "longo século XX," marcando a ascensão do "sistema norte-americano de acumulação em escala mundial" e o declínio do sistema britânico. Nesse período, do meio do século XIX ao início da Primeira Guerra Mundial, a economia global se tornou mais diversificada, com a hegemonia britânica no mercado mundial recuando. O crescimento da Alemanha, a industrialização na Rússia e em outros estados europeus contribuíram para esse declínio da Grã-Bretanha como líder global. A participação britânica no comércio mundial caiu de 28,4% para 17,5% entre 1875 e 1913, e sua participação na produção mundial de bens industrializados diminuiu significativamente. A Grã-Bretanha evoluiu de ser a "oficina do mundo" para o "banco do mundo," com os investimentos no exterior e o mercado de capitais londrino se tornando cada vez mais cruciais para sua posição global. O comércio mundial continuou a se concentrar na Europa, mas a participação dos três principais países (Inglaterra, França e Alemanha) caiu de 52,9% em 1875 para 37,6% em 1913. Houve uma divisão mundial do trabalho, com algumas regiões fornecendo matérias-primas e outras produzindo bens industrializados. Os Estados Unidos foram uma exceção, alterando seu modo de inserção no mercado mundial nesse período. Eram fornecedores de matéria-prima (74% das exportações americanas em 1890) e tornaram-se exportadores de produtos industrializados, principalmente às custas da Inglaterra. O desenvolvimento agrário nas antigas colônias de povoamento branco nas Américas e na Oceania, juntamente com avançosno transporte, como estradas de ferro e navios a vapor, possibilitou a formação do primeiro mercado agrário mundial integrado. Isso resultou em uma drástica queda nos preços dos produtos agrícolas, como o trigo, que ficou mais de 50% mais barato entre 1871 e 1894. A dominação europeia na exportação de produtos industriais era notável, com Grã-Bretanha, Alemanha e França contribuindo com 61% de todas as exportações desse tipo. Além disso, a Europa era líder na exportação de capitais, com a Inglaterra e a França detendo 70% de todos os investimentos no exterior em 1900. A rápida ascensão econômica da Alemanha unificada, a estagnação relativa da Grã-Bretanha e o enfraquecimento da França desequilibraram a Europa. A participação da Alemanha no comércio mundial cresceu, enquanto a da França e da Grã-Bretanha caíram. Ainda, os investimentos estrangeiros alemães aumentaram enquanto os franceses diminuíram. Contrariando teorias econômicas do imperialismo que consideram o colonialismo como uma estratégia necessária do capital em busca de oportunidades de investimento e mercados de exportação, as colônias conquistadas nesse período desempenhavam um papel secundário no mercado mundial. No final do século XIX, a importância das colônias africanas para as potências europeias era bastante limitada em termos econômicos. A África Ocidental francesa, uma das principais conquistas da França, representava apenas 0,07% de todas as importações francesas em torno de 1910. No caso britânico, apenas a colônia de imigrantes da África do Sul tinha alguma relevância econômica, recebendo 3,69% de todas as exportações britânicas em 1906, enquanto o restante da África negra representava apenas 4,7%. As relações entre interesses econômicos e política externa eram complexas. Enquanto o liberalismo econômico havia prevalecido durante duas décadas, a partir da década de 1870, surgiu a ideia de que a economia nacional merecia proteção e incentivos do Estado. Isso levou a um retorno ao protecionismo e à "guerra alfandegária" e ao uso do poder estatal para proteger e promover interesses econômicos. No entanto, essa interação complexa entre interesses econômicos e políticos externos não se encaixa completamente nas teorias que afirmam que a política externa era unicamente impulsionada por interesses econômicos. Durante o período de 1871 a 1914, houve tanto competição econômica entre Estados como uma crescente colaboração do capital internacional. As relações econômicas dos Estados não eram diretamente alinhadas com suas políticas externas, e foi somente a partir de 1911 que os governos conseguiram alinhar mais claramente seus interesses econômicos e políticas de segurança nacional. Entre 1878 e 1890, a Europa viu a maioria dos Estados introduzir impostos sobre importações de produtos agrícolas e industriais, exceto a Grã-Bretanha, que manteve o livre-comércio. Esses impostos variaram de 4% (Holanda) a 41% (Espanha), enquanto os Estados Unidos já haviam começado a impor tarifas protecionistas desde 1861. As tarifas alfandegárias europeias foram introduzidas moderadamente na Rússia, Áustria, Itália e Alemanha em 1878, seguidas pela França em 1881. Essas tarifas refletiram a proteção de novas indústrias contra concorrência "desleal" e reagiram à Grande Depressão de 1873 a início dos anos 1990. No entanto, essas altas tarifas permaneceram mesmo durante o período de prosperidade após 1896. A Alemanha desempenhou um papel pioneiro na introdução de impostos sobre produtos agrícolas. Os impostos protecionistas tiveram um impacto significativo na política interna, mas suas consequências econômicas foram questionáveis, porém desempenharam um papel importante no desenvolvimento do nacionalismo e militarismo na Europa. Conflitos comerciais entre Estados, como a Guerra dos Suínos entre Áustria-Hungria e Sérvia, ilustraram as complexas interações entre política econômica externa e alianças políticas. O sistema de alianças de Bismarck, que incluía a Dupla Aliança com a Áustria-Hungria e a Tríplice Aliança com a Itália, foi formado em resposta a crises diplomáticas na Europa, como a "guerra à vista" de 1875 e a grande crise do Oriente de 1875-78. Bismarck procurou garantir a integridade do Império Alemão e evitar coalizões contra a Alemanha. Seu sistema de alianças desempenhou um papel importante nas relações internacionais, e o Congresso de Berlim de 1878 foi uma etapa fundamental nessa política, embora tenha criado problemas a longo prazo na Europa. As tensões nos Bálcãs resultaram da rivalidade de poderes na região e da decadência do Império Otomano. O congresso refletiu o papel influente de Bismarck na política europeia, mas suas consequências contribuíram para futuros problemas. As relações entre a Alemanha e a Rússia deterioraram-se devido ao conflito de interesses nos Bálcãs e à postura mediadora de Bismarck. Isso levou à formação da Dupla Aliança entre a Alemanha e a Áustria-Hungria. Posteriormente, a Rússia buscou uma nova aliança, resultando no segundo Tratado dos Três Imperadores. No entanto, crises na Bulgária e o General Boulanger na França ameaçaram o sistema de alianças de Bismarck. Para evitar uma guerra entre a Rússia e a Áustria-Hungria, Bismarck tornou públicas as cláusulas da Dupla Aliança. A Áustria abandonou o Tratado dos Três Imperadores, enfraquecendo a influência de Bismarck. Problemas econômicos e políticos agravaram as relações teuto-russas, resultando na formação da aliança franco-russa e preparando o terreno para a Primeira Guerra Mundial. Bismarck é elogiado por manter a paz de curto prazo, mas criticado por não resolver os problemas subjacentes das relações europeias e por usar métodos secretos na diplomacia. Entre 1871 e 1914, houve uma notável retomada das conquistas coloniais pelas principais potências europeias, com exceção da Áustria-Hungria. Antes de 1876, a Inglaterra e a Rússia eram as principais potências coloniais, dividindo a maior parte do território colonial. Por volta de 1900, outras potências, como França, Alemanha, Itália, Bélgica, Japão e Estados Unidos, também se tornaram coloniais, e o território colonial sob domínio europeu quase dobrou, atingindo 70 milhões de quilômetros quadrados. Esse fenômeno de expansão colonial no final do século XIX é chamado de "novo imperialismo". Há debates sobre como definir e delimitar esse período, com algumas visões divergentes sobre quando começou. Do ponto de vista das relações internacionais, a expansão colonial pode ser dividida em dois períodos: um até 1890, caracterizado por ambições coloniais que não causavam muitas tensões entre as potências, e outro a partir de 1890, quando a concorrência colonial aumentou e as tensões entre as potências dentro e fora da Europa se intensificaram. Isso levou a uma globalização da política europeia e à elevação das tensões na Europa devido à competição colonial. A partilha da África pelas potências europeias entre 1876 e 1900 é um dos aspectos mais surpreendentes e menos compreendidos do novo imperialismo. Inicialmente, apenas 10% do território africano estava sob domínio colonial, com a presença de colônias como a Argélia francesa, o Cabo britânico, e pequenas possessões em partes da África Ocidental. Até a década de 1870, a África estava inserida no sistema internacional com base no livre-comércio, sem conquistas territoriais significativas. No entanto, a partir de 1876, houve um "surto colonial" em que as potências europeias, incluindo França, Grã-Bretanha, Alemanha e outras, competem para conquistar quase todo o continente, aumentando a posse colonial de 10% para 90% até 1900. Isso desencadeou a "corrida colonial" na África. A Conferência de Berlim de 1884-1885 não decidiu sobre a partilha da África, mas estabeleceu regras, como o critério de "ocupação efetiva" para o reconhecimento do domínio colonial. A competição colonial intensificou-se, especialmente entre Grã-Bretanha, França e Alemanha. Além disso, conflitos se concentraram no Egito, que se tornou estratégico devido ao Canal de Suez, e na ÁfricaAustral, onde a descoberta de diamantes e ouro alterou a dinâmica da colonização. Isso levou à segunda guerra sul-africana entre a Grã-Bretanha e os bôeres. O imperialismo na Ásia no final do século XIX combinou características de dominação formal e informal. A Índia permaneceu sob controle colonial formal britânico, principalmente usando o modelo de dominação indireta, que envolve a instrumentalização das elites locais para governar. Isso provocou conflitos na Índia com a Rússia e a França, levando à resposta britânica com a ocupação de regiões estratégicas e a formação da aliança anglo-nipônica em 1902. A Rússia buscou expandir seu domínio no sudeste e leste da Ásia, ameaçando as fronteiras orientais da Índia. A França concentrou seus esforços nas conquistas coloniais na Península da Indochina, expandindo seu controle sobre o Vietnã, Laos e Camboja. A Grã-Bretanha respondeu estendendo seu domínio colonial na Malásia e anexando a Birmânia, garantindo suas fronteiras no leste da Índia. A China evitou a partilha de seu território pelas potências europeias por pouco, mas perdeu grande parte de sua soberania devido à abertura forçada para mercadorias estrangeiras e concessões diplomáticas. A resistência chinesa, exemplificada pelo levante Boxer, alertou as potências europeias sobre os custos de uma ocupação colonial. O Japão emergiu como uma potência colonial na Ásia, vencendo a China em 1895 e garantindo a posse de Taiwan e da Coréia. A vitória japonesa sobre a Rússia em 1905 expandiu sua influência na Manchúria do Sul. O Japão continuou a expandir seu domínio territorial na China durante a Primeira Guerra Mundial, culminando na invasão da Manchúria em 1931, o que contribuiu para os eventos que levaram à Segunda Guerra Mundial na Ásia. O imperialismo na Ásia apresentou uma combinação de dominação formal e informal, envolvendo várias potências europeias, a China e o Japão em competições territoriais e influência colonial. O imperialismo americano no final do século XIX marcou uma mudança significativa na política externa dos Estados Unidos. Antes disso, os EUA eram vistos como antiimperialistas devido à sua própria história de luta anticolonial contra a Grã-Bretanha. No entanto, a intervenção em Cuba e a Guerra Hispano-Americana de 1898 levaram a uma transformação. A intervenção americana em Cuba e a guerra contra a Espanha levaram à conquista de territórios coloniais. Os EUA expulsaram os espanhóis de Cuba e Porto Rico, bem como anexaram as Filipinas. Cuba foi declarada um protetorado americano com a Emenda Platt em 1901. Os EUA gradualmente abandonaram seu isolacionismo, buscando uma política mais assertiva, especialmente no Caribe e no Pacífico, com a política externa de Theodore Roosevelt. Os EUA estenderam sua influência na América Central, construindo o Canal do Panamá, mantendo hegemonia no Caribe e intervindo em vários países, incluindo Cuba, República Dominicana, Haiti, México e Nicarágua. Na América do Sul, os EUA competiram com a Grã-Bretanha por interesses econômicos. A Doutrina Monroe foi reinterpretada para proteger os interesses americanos contra a influência europeia, resultando em intervenções nos assuntos internos de Estados latino-americanos. Além disso, os EUA expandiram sua presença na Ásia Oriental e no Pacífico, com a conquista das Filipinas, ocupação de ilhas e anexação do Havaí. Essas ações estavam ligadas aos interesses dos EUA na China, particularmente na promoção da política de "porta aberta" para garantir acesso ao mercado chinês. Os EUA não buscavam construir um império colonial em si, mas viam suas possessões coloniais como trampolins para o mercado chinês, cujo potencial econômico era altamente valorizado na época. O conceito de novo imperialismo gerou debates complexos e diversas teorias. O imperialismo desse período envolveu a dominação direta (imperialismo formal) e indireta (imperialismo informal) das potências europeias, dos EUA e do Japão sobre o Sul do planeta. A distinção entre essas formas de imperialismo é muitas vezes graduada. Não há uma única explicação monocausal para o imperialismo desse período. Fatores econômicos, como a busca por mercados e matérias-primas, desempenharam um papel, mas não eram a única causa. Os interesses variaram entre as potências, e a política colonial foi moldada por uma série de fatores, incluindo a depressão econômica, nacionalismo e competição entre estados. A colonização da África também foi multifacetada. As teorias econômicas, políticas e psicológicas foram usadas para explicar a corrida pela África, mas nenhuma explicação monocausal é convincente. Os motivos variaram de nação para nação, e a conquista colonial refletiu uma complexa interação de fatores. A Alemanha, por exemplo, teve interesses coloniais marginais e usou o colonialismo oportunista para atingir objetivos políticos. A Inglaterra adotou um novo colonialismo preventivo para evitar um protecionismo colonial francês. Os outros imperialismos, como Rússia, EUA e Japão, tinham razões específicas para sua expansão colonial. A polarização das principais potências em dois blocos de poder antagônicos foi uma característica dominante das relações internacionais após 1890. A Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) e a Tríplice Entente (França, Rússia e Inglaterra) eram os principais blocos. A aliança entre França e Rússia em 1894 reduziu a influência alemã no continente e estabeleceu um equilíbrio temporário entre as potências. O enfraquecimento temporário da Rússia devido à guerra russo-japonesa em 1904-1905 levou a Alemanha a tentar tirar proveito disso, mas a recuperação da Rússia e a aproximação da Grã-Bretanha da aliança franco-russa restauraram o equilíbrio. A Inglaterra, França e Rússia se aproximaram devido ao temor da política externa alemã, que foi percebida como imprevisível e ameaçadora. Os tratados entre essas potências eram defensivos, e a elite alemã se sentia cercada por inimigos. Em 1914, uma tentativa alemã de superar essa defensiva com uma "fuga para a frente" levou à Primeira Guerra Mundial. A competição colonial entre as potências fora da Europa começou a influenciar a situação na Europa, aumentando as tensões. Após 1890, a política mundial tornou-se uma característica da política exterior das potências europeias, e a Alemanha reivindicou igualdade de direitos em relação às possessões coloniais, o que contribuiu para as tensões. A diplomacia inicialmente lidou com questões fora da Europa, mas após 1905, os conflitos europeus voltaram a ser uma preocupação central. A rivalidade nos Bálcãs foi uma das causas imediatas da Primeira Guerra Mundial, com a Sérvia, aliada da Rússia, e a Áustria-Hungria, aliada da Alemanha, enfrentando-se após a expulsão do Império Otomano da Europa. Isso culminou em uma série de crises na Europa que levaram à guerra em julho de 1914. O período de 1890 a 1914 foi marcado por uma série de crises e alianças na Europa. A saída de Bismarck do poder marcou uma virada decisiva na política externa alemã e nas relações internacionais europeias. Apesar das diferenças entre a política conservadora de Bismarck e a política agressiva da fase guilhermina, houve elementos de continuidade. As relações entre Alemanha e Rússia começaram a se deteriorar durante o tempo de Bismarck, levando à superação do isolamento da França. O novo chanceler alemão, von Caprivi, manteve a orientação principal da política externa de Bismarck, buscando ganhar a Grã-Bretanha como parceira. Entre 1887 e 1897-1898, formou-se o antagonismo entre a Alemanha e a Rússia, tornando-se um elemento-chave nas relações internacionais. Com a chegada da Weltpolitik e do programa de construção naval em 1897, o antagonismo entre a Alemanha e a Grã-Bretanha se tornou uma peça-chave na bipolarização das relações europeias. A formação da aliança franco-russa em 1891-1894 pôs fim ao isolamento diplomático da França. O Plano de Schlieffen, desenvolvido pelos militares alemães, visava enfrentar a possibilidade de uma guerra em duas frentes, preconizandoum ataque decisivo à França e, em seguida, à Rússia, ignorando a neutralidade da Bélgica. A política externa de Caprivi subestimou a possibilidade de uma aliança franco-russa e superestimou uma possível aproximação entre a Alemanha e a Grã-Bretanha. A aproximação entre a Grã-Bretanha e a França foi uma reação à política externa alemã. A Weltpolitik alemã tinha raízes na política interna, procurando consolidar o sistema político e acalmar tensões sociais internas. Essa política foi marcada por uma busca de prestígio e poder no cenário mundial, bem como pela construção de uma marinha de guerra. As crises do Marrocos em 1905 e 1911, bem como a crise da anexação da Bósnia em 1908-1909, aumentaram as tensões internacionais e fortaleceram as alianças e antagonismos entre as grandes potências. As guerras balcânicas em 1912-1913 acentuaram as tensões europeias e colocaram a região dos Bálcãs no centro de um possível conflito. A Rússia e a Inglaterra atuaram para evitar um confronto direto entre a Áustria-Hungria e a Rússia. No entanto, o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand em Sarajevo em julho de 1914 desencadeou uma cadeia de eventos que levaria ao início da Primeira Guerra Mundial. O sistema internacional foi marcado por crescentes tensões e conflitos entre as grandes potências, especialmente após 1911. No entanto, há outro lado nesse cenário, que envolve tentativas de aproximação e negociações. Tanto entre a Alemanha e a Rússia quanto entre a Alemanha e a Grã-Bretanha, houve esforços para buscar a detenção das hostilidades. Em 28 de junho de 1914, o herdeiro ao trono austríaco, Franz Ferdinand, e sua esposa foram assassinados em Sarajevo, desencadeando uma série de eventos. A Áustria-Hungria viu isso como uma oportunidade de confrontar a Sérvia e dependia da Alemanha. A Alemanha liderada por belicistas apoiou a Áustria e emitiu uma "carta branca". No entanto, havia tensões sobre como proceder, com o Kaiser alemão inicialmente buscando uma punição branda para a Sérvia. A Áustria-Hungria não estava pronta para uma ação rápida e o cenário se agravou. A Rússia decidiu apoiar a Sérvia, e a resposta da Sérvia às demandas austríacas foi habilidosa. Eventualmente, a Alemanha declarou guerra à Rússia e, posteriormente, à França, enquanto invadia a Bélgica. Isso levou à entrada da Grã-Bretanha na guerra em 1914. Os Estados Unidos se juntaram aos Aliados em 1917. Isso transformou o conflito local em uma guerra mundial. Durante a Primeira Guerra Mundial, as Potências da Dupla Aliança (Alemanha e Áustria-Hungria) receberam apoio da Turquia em 1914 e da Bulgária em 1915. Apesar das esperanças de uma vitória rápida contra a França, o avanço alemão foi interrompido na Batalha do Marne em setembro de 1914, resultando na solidificação da frente ocidental alemã. A guerra se transformou em uma guerra de trincheiras, onde o lado defensivo tinha vantagens. O plano de campanha alemão falhou logo no início da guerra. Tentativas de romper o impasse na frente ocidental resultaram em perdas humanas significativas, mas sem decisão militar. Na frente oriental, houve guerra de movimento, com a Rússia sofrendo derrotas e, eventualmente, desmoronando após a Revolução Russa em 1917. O Pacto de Paz de Brest-Litovsk impôs duras condições de paz à Rússia. A entrada dos Estados Unidos na guerra em 1917 teve um impacto decisivo. Os ataques alemães no oeste falharam, e a entrada americana na guerra minou as possibilidades de acordos separados com a Rússia, Finlândia e Romênia. A 11 de novembro de 1918, após a desintegração das Potências da Dupla Aliança e a revolução em Berlim, a Alemanha aceitou as condições de cessar-fogo, marcando sua derrota na guerra. O debate sobre as causas e a culpa da Primeira Guerra Mundial é marcado por diferentes interpretações. O Artigo 231 do Tratado de Versalhes de 1919 culpou o Império Alemão e seus aliados pela guerra. Isso desencadeou um debate internacional sobre a culpabilidade, incluindo esforços alemães para refutar a atribuição de culpa apenas à Alemanha. O revisionismo alemão argumentou que a França, a Inglaterra ou, principalmente, a Rússia deveriam ser responsabilizadas pela guerra. Outros historiadores, principalmente Herman Kantorowicz, Pierre Renouvin e Bernadotte Schmitt, destacaram que todos os Estados contribuíram para a guerra, mas a Tríplice Aliança (Alemanha e Áustria-Hungria) tinha maior responsabilidade. Renouvin culpou principalmente a Alemanha, embora não acreditasse que a Alemanha buscasse uma guerra mundial. O historiador Fritz Fischer desafiou essa visão harmoniosa com sua tese de que a Alemanha tinha planos agressivos de guerra, articulados no Programa de Setembro. Ele argumentou que a Alemanha desejava uma guerra, pelo menos entre a Áustria e a Sérvia, e esperava a neutralidade inglesa no conflito. Fischer também viu continuidade entre a política alemã na Primeira Guerra Mundial e o Terceiro Reich de Hitler. No entanto, embora o debate tenha sido profundo e influente, a maioria dos historiadores modernos não aceita a ideia de uma guerra planejada pela Alemanha. Em vez disso, muitos acreditam que todos os Estados europeus desempenharam um papel na anulação da paz em 1914, com a Alemanha tendo uma responsabilidade significativa, mas não uma clara intenção de uma guerra ofensiva. É possível concluir que o período de 1871 a 1914 foi caracterizado por uma série de mudanças significativas nas relações internacionais. A industrialização, o crescimento do capitalismo e a expansão colonial europeia moldaram a divisão de poder no cenário mundial. A Alemanha emergiu como uma grande potência, desafiando a tradicional supremacia britânica. A política externa alemã, especialmente após a saída de Bismarck, contribuiu para as tensões europeias. A formação de alianças e antagonismos, como a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente, polarizou as grandes potências. As crises nos Bálcãs e a rivalidade colonial aumentaram as tensões, levando ao início da Primeira Guerra Mundial. Esse período foi marcado por complexas interações entre interesses econômicos e políticos externos. A diplomacia muitas vezes não conseguiu resolver os problemas subjacentes nas relações europeias, resultando em um conflito global devastador.