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Disciplina: Ética Empresarial e Responsabilidade Social Docente: Paula Almeida Brito Data: Discente: Período: Atividade O FORD PINTO Quarenta anos depois de sua produção, o Ford Pinto ainda é lembrado como uma perigosa armadilha de fogo.No fim da década de 1960, a geração do baby boom estava começando a entrar na universidade. Com o aumento da afluência nos Estados Unidos, aumentou também a demanda por meios de transporte de preço acessível, e as montadoras captaram o mercado com modelos como o Fusca, da Volkswagen, e o Toyota Corolla. A Ford precisava de um veículo competitivo, e Lee Iacocca autorizou a produção do modelo Pinto. Ele era pequeno e barato – pesava menos 900 kg e custava menos de US$2.000. O cronograma de produção previa a entrega dos primeiros lotes aos revendedores no modelo de 1971, o que significava que o carro passaria do planejamento à produção em menos de dois anos. Na época, era comum fazer um protótipo primeiro e, então, acelerar a produção. Nesse caso, a Ford construiu as máquinas que criaram a carcaça do veículo ao mesmo tempo em que estava projetando o primeiro modelo. Isso diminuiu o tempo de produção, mas dificultou futuras modificações. O design compacto exigia um tanque de combustível chamado de saddlebag, perto do eixo traseiro. Em testes, impactos traseiros a mais de 50 km/h às vezes faziam o tanque se romper de tal maneira que partículas de gasolina eram borrifadas no compartimento dos passageiros, de modo similar a um aerossol. As regulamentações canadenses exigiam um fator de segurança mais alto, e os modelos para exportação foram modificados com uma camada extra de amortecimento. Nos Estados Unidos, o Pinto atendia a todos os padrões federais da época em que foi produzido. A Ford começou uma campanha contra normas de segurança muito rígidas ao longo da produção do Pinto. O governo abraçou ativamente uma análise de custo- benefício, e o argumento da Ford contra novas regulamentações articulava-se em torno dos pretensos benefícios. Sob pressão, a Administração Nacional de Segurança no Tráfego de Estradas dos Estados Unidos (National Highway Traffic Safety Administration) sugeriu um valor de pouco mais de US$200.000 a uma vida humana. Usando esse número, e projetando em torno de 180 mortes por queimaduras por ano, a Ford argumentava que aperfeiçoar o Pinto seria mais do que problemático. Em determinado momento, havia mais de 2 milhões de Pintos nas estradas, e não era surpresa que vários deles estivessem envolvidos em colisões. Os dados começaram a indicar que alguns tipos de colisões, especialmente colisões traseiras e capotagem, apresentavam maior probabilidade de produzir incêndios no Pinto do que em veículos semelhantes. Um artigo na revista Mother Jones publicou memorandos internos da Ford mostrando que a empresa estava ciente do problema de segurança e acusando-a de vender carros “em que sabia que centenas de pessoas morreriam queimadas desnecessariamente”. A revista afirmava também que instalar uma barreira entre o tanque e o compartimento de passageiros era um procedimento barato (menos de US$20). Em 1978, em um caso quase sem precedentes em Goshen, Indiana, o Estado acusou a empresa do homicídio doloso de três jovens mulheres. A empresa foi declarada inocente, em grande parte porque o juiz restringiu as evidências aos fatos específicos do caso – um caminhão pick-up teve uma forte colisão traseira com o carro delas —, mas a Ford enfrentou centenas de processos judiciais e teve sua reputação severamente manchada. Pressionada pelo governo, e logo antes de novas normas serem aprovadas, a Ford fez o recall de 1,5 milhão de Pintos em 1978. O modelo foi descontinuado em 1980. Lee Iacocca disse que sua empresa não produziu de- liberadamente um veículo inseguro, que a proporção de acidentes mortais não era extraordinariamente alta para o modelo e que a controvérsia era essencialmente um assunto jurídico e de relações públicas. QUESTÕES 1. Um fabricante deve ir além das normas do governo se achar que seu produto pode oferecer possíveis riscos à segurança? 2. Uma vez que o risco se tornou aparente, a Ford deveria ter feito o recall do veículo e promovido sua melhoria? Ela deveria ter convidado os proprietários a pagar pela nova barreira para o tanque de combustível, se eles decidissem adicionar uma? Se apenas metade dos proprietários respondesse ao recall, qual seria a obrigação da empresa? 3. Existe alguma diferença para um consumidor entre ser capaz de tomar uma decisão consciente sobre upgrades de itens de segurança (como airbags laterais) e ter que confiar que o fabricante determinará características como a resistência à tração do tanque de combustível? 4. Como os Pintos tinham má reputação, geralmente eram vendidos com desconto. As revendas têm a mesma obrigação que a Ford ao venderem um automóvel sabendo de possíveis defeitos de projeto? O preço com desconto absolve as revendedoras de qualquer responsabilidade pelo produto? Fonte: K. Gibson, Business Ethics: People, Profits, and the Planet (New York: McGraw-Hill, 2006), pp. 630–32.