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Sinalização celular SUMÁRIO 1. Sinalização celular ................................................................................................ 3 2. Tipos de sinalização .............................................................................................. 3 3. Velocidade da sinalização celular ................................................. ........................ 8 4. Natureza dos sinais celulares ............................................................................... 8 5. Vias de sinalização intracelular ............................................................................. 9 6. Interruptores moleculares ................................................................................... 13 7. Receptores .......................................................................................................... 14 8. Receptores associados a canais iônicos ............................................................ 15 9. Receptores associados a proteína G ................................................................... 16 10. Via do AMP cíclico (CAMP) ............................................................................ 18 11. Via de fosfolipídeo de inositol ......................................................................... 20 12. Receptores associados a enzimas .................................................................. 23 13. A via de RAS .................................................................................................... 24 14. Via JAK/STAT .................................................................................................. 25 15. Como regular a ação dos receptores ............................................................... 27 Referências bibliográficas ...............................................................................................29 Sinalização celular 3 1. SINALIZAÇÃO CELULAR Nos organismos multicelulares, a troca de informações por meio de moléculas, que são sinais ou mensageiros químicos, começa na vida embrionária e constitui, durante toda a vida, o principal meio de comunicação entre as células. Frequentemente, essa comunicação envolve a conversão dos sinais de informação de uma forma para outra – transdução de sinal. Em uma comunicação característica entre células, a célula sina- lizadora produz um tipo particular de molécula-sinal que é detectada pela célula-alvo. A ligação da maior parte das moléculas sinalizadoras aos seus receptores inicia uma série de reações intracelulares que regulam praticamente todos os aspectos do comportamento celular, incluindo metabolismo, movimento, proliferação, sobrevivência e diferenciação. A maioria das células animais envia e recebe sinais, podendo atuar tanto como cé- lulas sinalizadoras quanto receptoras. As células-alvo possuem proteínas receptoras que reconhecem e respondem especificamente à molécula-sinal. A transdução de sinal começa quando a proteína receptora na célula-alvo recebe um sinal extracelular e o converte nos sinais intracelulares que alteram o comportamento celular. As mo- léculas-sinal podem ser proteínas, peptídeos, aminoácidos, nucleotídeos, esteroides, derivados de ácidos graxos e até mesmo gases dissolvidos. 2. TIPOS DE SINALIZAÇÃO As células podem se comunicar de duas maneiras: através de interações diretas ou por meio de moléculas sinalizadoras secretadas. Existem diversas formas de sinalização celular por meio de moléculas secretadas, que podem ser divididas em três categorias de acordo com a distância que os sinais percorrem. Essa diversidade de sinalização celular permite que as células coordenem seus processos fisiológicos e respondam a estímulos externos de maneira adequada. É im- portante destacar que as interações celulares e a sinalização são fundamentais para a manutenção da homeostase do organismo, além de desempenharem um papel crucial no desenvolvimento e na patogênese de diversas doenças. • Sinalização endócrina: as moléculas sinalizadoras, conhecidas como hormônios, são produzidas por células endócrinas especializadas e transportadas através da circulação, seja sanguínea, nos animais, ou de seiva, nas plantas, para agir sobre células-alvo localizadas em órgãos distantes. Esse processo é o principal meio de comunicação em organismos pluricelulares. • Sinalização parácrina: as moléculas-sinal são difundidas localmente pelo líquido extracelular, permanecendo próximas à célula que as secretou. Essas moléculas atuam como mediadoras locais sobre as células vizinhas, constituindo um tipo de comunicação conhecido como sinalização parácrina. Em certos casos, as células podem responder aos mediadores que elas próprias produzem, o que representa uma forma de sinalização autócrina. Sinalização celular 4 • Sinalização sináptica ou neuronal: é um tipo de sinalização que se dá exclusi- vamente entre células excitáveis, sendo mediada por moléculas denominadas neurotransmissores. A secreção delas ocorre nas sinapses, locais especializa- dos em que as células nervosas (ou neurônios), por meio de seus numerosos prolongamentos, estabelecem contato umas com as outras, permitindo o envio de mensagem a longas distâncias. Nesse processo, a informação é transmitida por vias específicas por meio da conversão de sinais elétricos em uma forma química, os neurotransmissores. A comunicação célula-célula pode ocorrer por meio de interação direta entre as cé- lulas, sem a necessidade de liberação de uma molécula sinalizadora, caracterizando a sinalização dependente de contato. Nesse tipo de comunicação, as células estabelecem contato direto por meio de moléculas sinalizadoras presentes na membrana plasmática das células emissoras e proteínas receptoras presentes na membrana das células-alvo. Esse tipo de comunicação é mais íntimo e de curto alcance. Se liga! A sinalização parácrina é utilizada, por exemplo, para o controle de inflamação nos locais de infecção ou controle da proliferação celular na cica- trização de um ferimento. Já a sinalização autócrina é estabelecida pelas células cancerígenas como forma de promover sua própria sobrevivência ou proliferação. Figura 1. As célulasanimais sinalizamde várias maneiras uma para outra. Fonte:Art of Science/shutterstock.com Sinalização celular 5 Tipo mais popular ENDÓCRINA TIPOS DE SINALIZAÇÃO Moléculas sinalizadoras → Hormônios Transportadas através da circulação Células-alvo em locais distantes PARÁCRINA Moléculas-sinal se difundem no líquido extracelular Tipo mais popular Células-alvo vizinhas Autócrina: as células respondem aos mediadores que elas mesmas produziram SINÁPTICA OU NEURONAL Apenas entre células excitáveis Moléculas-sinal → Neurotransmissores Ocorre nas sinapses Conversão de sinais elétricos em uma forma química DEPENDENTE DE CONTATO Moléculas-sinal localizadas na membrana plasmática das células sinalizadoras Receptor na membrana das células-alvo Fonte: elaborado pelo autor. Uma célula típica de um organismo multicelular está exposta a centenas de molé- culas-sinal diferentes em seu ambiente. Cada célula deve responder seletivamente a essa mistura de sinais, desprezando alguns e reagindo com outros, de acordo com sua função especializada. A maioria das células do corpo dos animais contém um conjunto específico e ge- neticamente programado de receptores para os numerosos sinais químicos que ati- vam ou inibem as atividades celulares. As respostas das células diante dos diversos sinais dependem basicamente do elenco de receptores que cada célula apresenta. A variedade de receptores torna a célula sensível simultaneamente a muitos sinais extracelulares e permite que um número relativamente pequeno de moléculas-sinal, utilizadas em diferentes combinações, exerça um controle complexo e refinado sobre o comportamento celular. A combinação desses sinais pode desencadear respostas que não correspondem à simples soma dos efeitos individuais de cada sinal. Em outraspalavras, a resposta gerada a partir da interação desses sinais pode ser maior ou menor do que a soma das respostas individuais de cada sinal. Isso acontece porque os sistemas de propagação intracelular ativados pelos diferentes sinais interagem, de modo que a presença de um sinal modifica a resposta do outro. Uma combinação de sinais permite a sobrevivência da célula, outra combinação leva à diferenciação especializada, e outra promove a divisão celular. Sinalização celular 6 Figura 2. Via de sinalização intracelular simples, ativada por uma molécula de sinalização extracelular. Fonte: W.Y. Sunshine/shutterstock.com Normalmente, o sinal emitido por um receptor de superfície celular é transmitido para o interior da célula-alvo através de uma cadeia de moléculas sinalizadoras intra- celulares, que atuam em sequência para alterar a atividade de proteínas efetoras, as quais modificam o comportamento celular. Essa cascata de sinalização intracelular e as proteínas efetoras envolvidas variam entre os diferentes tipos celulares especializados, resultando em respostas celulares distintas ao mesmo tipo de sinal. Sobreviver A B C A B C D E F G A B C Crescer e se dividir Diferenciar-se Morrer Célula apoptótica Figura 3. A célula animal depende de múltiplos sinais extracelulares. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Sinalização celular 7 Se liga! A maioria das células animais está programada para auto- destruição na ausência de sinal. Se liga! A diferença entre a maquinaria intracelular atrelada aos tipos de receptores que cada célula apresenta pode ser elucidada pelo caso da acetilcolina. Os receptores para esse neurotransmissor são diferentes no músculo esquelético e no músculo cardíaco, bem como seus efeitos, pois no esquelético há o estímulo para contração, enquanto no miocárdio, diminui o ritmo e a força das contrações. Além disso, na glândula salivar esse sinal estimula a secreção de componentes da saliva, mesmo que seus receptores sejam os mesmos da célula cardíaca. Figura 4. Respostas lentas e rápidas a um sinal extracelular. Fonte: Adaptado de: ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular da Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017 Molécula de sinalização extracelular Via sinalizadora intracelular Função proteica alterada Síntese proteica alterada Lenta (minutos a horas) Maquinaria citoplasmática alterada Núcleo DNA RNA Proteína de superfície celular Sinalização celular 8 3. VELOCIDADE DA SINALIZAÇÃO CELULAR A velocidade de qualquer resposta sinalizadora depende da natureza das moléculas de sinalização intracelular que executam a resposta da célula-alvo. Quando a resposta envolve somente mudanças em proteínas já existentes na célula, ela pode ocorrer muito rapidamente, por exemplo, uma mudança alostérica em um canal iônico controlado por neurotransmissor pode alterar o potencial elétrico da membrana plasmática em milis- segundos, e as respostas que dependem da fosforilação de proteínas podem ocorrer em segundos. Contudo, quando a resposta envolve mudanças na expressão gênica e na síntese proteica, normalmente demora minutos ou horas. De maneira geral, as moléculas sinalizadoras extracelulares podem ser divididas em duas classes. A primeira e mais numerosa consiste em moléculas excessivamente grandes ou muito hidrofílicas para atravessar a membrana plasmática da célula-alvo. Essas moléculas interagem com receptores na superfície celular para transmitir sua mensagem através da membrana. Se liga! É importante também abordar a velocidade com qual a célula responde ao processo de saída da molécula-sinal. Na maioria dos casos de tecidos adultos, a resposta desaparece quando o sinal cessa. O efeito é transitório porque o sinal exerce seu efeito pela alteração de um grupo de moléculas de vida curta (instáveis), que sofrem reposição contínua. Assim, quando o sinal extracelular é removido, a degradação das moléculas velhas rapidamente elimina todos os ves- tígios de sua ação. O resultado é que a velocidade com a qual a célula responde à remoção do sinal depende da velocidade de degradação ou de reposição das moléculas afetadas por ele. 4. NATUREZA DOS SINAIS CELULARES A segunda e menor classe de sinais consiste em moléculas que são suficientemente pequenas ou hidrofóbicas para atravessar a membrana plasmática. Uma vez dentro da célula, essas moléculas ativam enzimas intracelulares ou se ligam a proteínas recep- toras intracelulares que regulam a expressão gênica. Sinalização celular 9 Se liga! Os hormônios esteroides e os hormônios da tireoide são exemplos clássicos de moléculas-sinal que atuam por meio de receptores intrace- lulares em razão de suas características hidrofóbicas. No interior da célula, seus receptores são membros de uma família de proteínas conhecida como superfa- mília de receptores nucleares, que são fatores de transcrição contendo domínios relacionados com ligação ao ligante, ligação ao DNA e ativação de transcrição. A ligação ao ligante regula suas funções como ativador ou repressor direto da expres- são gênica. A diferença entre esses tipos de molécula-sinal está no mecanismo de ação dos receptores. No caso dos esteroides, os receptores são incapazes de ligar-se ao DNA na ausência do hormônio. Quando uma molécula de esteroide se liga ao seu receptor específico, ocorre uma mudança na conformação do receptor que permite sua ligação a sequências regulatórias do DNA. Esse processo ativa a transcrição de genes-alvo e desencadeia uma resposta celular específica. Já no caso dos hormônios tireoidianos, o receptor se liga ao DNA tanto na presença como na ausência do hormônio, mas a ligação à molécula-sinal altera a atividade do receptor, ativando sua ação reguladora da transcrição. Receptores de superfície celular Proteína receptora de superfície celular Pequena molécula de sinalização hidrofóbica Molécula de sinalização hidrofílica Proteína receptora intracelular Membrana plasmática Célula alvo Proteína carreadora Célula alvo Núcleo Receptores intracelulares Figura 5. Ligação de moléculas de sinalização extracelu- lar aos receptores de superfície e intracelulares. Fonte: VectorMine/shutterstock.com 5. VIAS DE SINALIZAÇÃO INTRACELULAR A função de um sistema de sinalização intracelular é detectar e quantificar estímulos específicos em uma determinada região da célula e, em seguida, gerar uma resposta adequada em tempo e magnitude em outra região. Isso permite que a célula regule suas atividades de forma precisa e coordenada em resposta a diferentes sinais ambientais. O sistema realiza esta tarefa pelo envio de informação na forma de “sinais” molecu- lares do receptor para o alvo, frequentemente por meio de uma série de intermediários Sinalização celular 10 que não apenas passam o sinal adiante, mas o processam de várias maneiras. Cada sistema de sinalização desenvolveu comportamentos especializados que produzem uma resposta apropriada para a função celular controlada por esse sistema. Os componentes dessas vias de sinalização intracelular executam uma ou várias funções cruciais: • Transmissão do sinal e auxílio da propagação por toda a célula. • Aumentar a intensidade do sinal recebido, amplificando-o, de forma que mesmo pequenas quantidades de moléculas-sinal extracelulares sejam suficientes para desencadear uma resposta intracelular intensa. • Combinar sinais de diferentes vias para gerar uma resposta coordenada e adaptativa. • Ramificar o sinal para diferentes vias intracelulares ou proteínas efetoras, permi- tindo a criação de múltiplos caminhos no fluxo de informações e resultando em uma resposta intracelular complexa. Molécula de sinalização extracelular Membrana plasmática Pequenas moléculas de mensageiros intracelulares Citosol Proteína receptora Transdução inicial Transdução e amplificação Transmissão Integração Distribuição Metabolismo alteradoExpressão gênica alterada Forma celular ou movimentos alterados Figura 6. Alguns efeitos da retroalimentação simples. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Alguns sistemas de sinalização são capazes de gerar uma resposta moderadamente gradual a variações amplas nas concentrações do sinal extracelular. Outros sistemas Sinalização celular 11 geram respostas significativas somente quando a concentração do sinal aumentar acima de um valor limiar. Essas respostas abruptas são de dois tipos. Uma delas é uma resposta sigmoide, na qual baixas concentrações do estímulo não têm muito efeito, quando então, em níveis intermediários do estímulo, há um aumento abrupto e contínuo da resposta. Tais sistemas fornecem um filtro para reduzir respostas inapropriadas a baixas concentrações basais de uma molécula-sinal, mas respondem com alta sensi- bilidade quando o estímulo está dentro de uma pequena variação das concentrações do sinal. Um segundo tipo de resposta abrupta consiste na resposta descontínua ou “tudo ou nada”, na qual a resposta é inteiramente ativada (e com frequência de forma irreversível) quando o sinal alcança certa concentração limitar. A maioria dos sistemas de sinalização intracelular incorporam ciclos de retroalimen- tação, nas quais o produto final de um processo atua na regulação desse processo. Na retroalimentação positiva, o produto estimula sua própria produção; na retroalimentação negativa, o produto inibe sua própria produção. A retroalimentação positiva em uma via de sinalização pode transformar o com- portamento da célula-alvo. Se apresentar intensidade moderada, seu efeito será sim- plesmente o aumento abrupto da resposta ao sinal, gerando uma resposta sigmoide; mas se for suficientemente forte, pode produzir uma resposta “tudo ou nada”. Uma vez que o sistema de resposta está no seu nível mais alto de ativação, essa condição geralmente é autossustentada e pode persistir mesmo depois que a intensidade do sinal tenha diminuído abaixo do seu valor crítico. Por meio da retroalimentação positiva, um sinal extracelular transitório pode indu- zir mudanças de longa duração nas células e em suas células-filhas, as quais podem persistir por toda a vida do organismo. Se liga! A retroalimentação positiva pode desencadear uma memó- ria celular, de modo que uma célula pode sofrer uma mudança permanente de características sem nenhuma alteração na sequência de seu DNA. Um exemplo são as células musculares, haja vista que os sinais que desencadeiam sua dife- renciação ativam a transcrição de uma série de genes que codificam proteínas reguladoras de transcrição específicas de músculo. Essas proteínas estimulam a transcrição dos seus próprios genes, bem como de genes que codificam várias outras proteínas de células muscular. Assim, a decisão de se tornar uma célula muscular passa a ser permanente. Sinalização celular 12 Por outro lado, a retroalimentação negativa neutraliza o efeito de um estímulo e, dessa forma, abrevia e limita o nível da resposta, tornando o sistema menos sensível a perturbações. No entanto, assim como no caso da retroalimentação positiva, podem ser obtidas respostas qualitativamente diferentes quando a retroalimentação atua de forma mais vigorosa. Uma retroalimentação negativa com um retardo suficientemente longo pode produzir respostas oscilantes, que persistem enquanto o estímulo estiver presente ou podem até mesmo ser geradas de forma espontânea, sem a necessidade de um sinal externo. Porém, se o retardo for curto, o sistema se comporta como um detector de mudança. Ele dá uma resposta forte ao estímulo, mas ela decai rapidamen- te mesmo com a persistência deste; se o estímulo for aumentado de forma súbita, o sistema responde novamente de forma intensa, mas sua resposta decai com rapidez. Figura 8. Alguns efeitos da retroalimentação simples. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular da Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017 S E P I I Retroalimentação positiva a) c) d) b) Retroalimentação positiva Retroalimentação negativa Retardo Cinase-sinal S Cinase-sinal Cinase e inativa Cinase E ativada Controle sem retro-alimentação Tempo Sinal Tempo Sinal Retro-alimentação positiva At iv id ad e da C in as e E Controle sem retro-alimentação Retro-alimentação negativa retardo curto Retro-alimentação negativa retardo longo Tempo Sinal Tempo Sinal Tempo Sinal At iv id ad e da C in as e E Cinase E ativada Fosfatase I altamente ativada Retroalimentação negativa E E P P E Sinalização celular 13 6. INTERRUPTORES MOLECULARES Proteínas intracelulares de sinalização frequentemente funcionam como interruptores moleculares, ativando quando recebem um sinal e mudando de um estado inativo para um estado ativo. Essas proteínas ativadas podem então ativar outras proteínas na via de sinalização, mantendo-as ativas até que outro processo as desative. Se liga! Para que uma via de sinalização se recupere após transmitir um sinal e fique apta a transmitir outro, cada proteína ativada deve retornar ao seu estado original ausente de estímulos. Portanto, para cada etapa de ativação ao longo da via, deve haver um mecanismo de inativação. Os dois são igualmente importantes para a comunicação celular. As proteínas que atuam como comutadores moleculares pertencem a duas classes. A primeira e maior consiste em proteínas que são ativadas ou inativadas por fosforilação Essas moléculas são ativadas por um mecanismo de comutação acionado em uma direção por uma proteína quinase, que adiciona um grupo fosfato à proteína, e na outra direção por uma proteína fosfatase, que remove o fosfato. O equilíbrio entre as cinases e fosfatases é crucial para a regulação dessas proteínas. Se liga! Muitas das proteínas comutadoras controladas por fos- forilação estão organizadas em cascatas de fosforilação: uma proteína-cinase ativada por fosforilação fosforila a cinase seguinte e assim por diante, transmi- tindo o sinal adiante, e nesse processo ocorrem a amplificação, a propagação e a modulação do sinal. As proteínas de ligação a GTP são uma classe importante de proteínas comutado- ras nas vias de sinalização intracelular. Elas alternam entre um estado ativo e inativo, dependendo se estão ligadas a GTP ou GDP, respectivamente. Quando ativadas pela ligação ao GTP, essas proteínas apresentam uma atividade intrínseca de hidrólise de GTP (conhecidas como GTPases) e se autodesativam quando o GTP é hidrolisado a GDP. Sinalização celular 14 Sinalização por fosforilaçãoa) Recebimento do sinal ATP ADP Transmissão do sinal Proteína cinase Proteína fosfatase Inativa Ativa Sinalização por ligação a GTPb) Pi Recebimento do sinal GTP GTP GDP GDP Transmissão do sinal Ligação a GTP Hidrólise de GTP Inativa Ativa Pi Figura 9. Proteínas sinalizadoras intracelulares que atuam como comutadores moleculares. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017 7. RECEPTORES As proteínas receptoras presentes na superfície celular são classificadas em três grandes grupos que se distinguem pelos mecanismos de transdução utilizados: recep- tores associados a canais iônicos, receptores associados a proteínas G e receptores associados a enzimas. O número de diferentes tipos de receptores nessas três cate- gorias é ainda maior do que o número de sinais extracelulares que atuam sobre eles, já que muitas moléculas sinalizadoras possuem mais de um tipo de receptor. Além disso, algumas moléculas sinalizadoras conseguem se ligar a receptores de mais de uma classe. Saiba mais! O grande número de receptores de superfície diferentes que o corpo necessita para os propósitos de sinalização são também alvos para muitas substâncias estranhas que interferem na nossa fisiologia e em nossas sensações, desde a heroína e a nicotina até tranquilizantes e pimentas. Essas substânciasmimetizam o ligante natural de um determinado receptor, ocupando os sítios de ligação do ligante natural, ou se ligam a outro sítio do receptor, causando bloqueio ou superestimulação. Muitas drogas e venenos atuam dessa forma, e uma grande parte da indústria farmacêutica se dedica à procura de substâncias que exerçam um efeito definido pela ligação a um tipo específico de receptor. Sinalização celular 15 8. RECEPTORES ASSOCIADOS A CANAIS IÔNICOS Funcionam da maneira mais simples e direta, sendo responsáveis pela transmissão rápida de sinais pelas sinapses no sistema nervoso. Eles transformam o sinal químico na forma de um pulso de neurotransmissores liberado no exterior da célula-alvo em um sinal elétrico, na forma de uma mudança de voltagem pela membrana plasmática dessa célula. Após a ligação do neurotransmissor, o receptor apresenta uma alteração em sua conformação que leva à abertura ou fechamento de um canal para o fluxo de íons específicos pela membrana. Conduzido por seus gradientes eletroquímicos, os íons entram ou saem da célula no tempo de 1 milissegundo, criando uma mudança no potencial da membrana. Essa mudança pode desencadear um impulso nervoso, ou facilitar ou dificultar que outros neurotransmissores o façam. Esses receptores são uma especialidade do sistema nervoso e de outras células eletricamente excitáveis, como as células musculares. Figura 10. Receptores associados a canais iônicos. Fonte: Designua/shutterstock.com Sinalização celular 16 9 . R E C E P T O R E S A S S O C I A D O S A PROTEÍNA G Os receptores acoplados às proteínas G são compostos por sete α-hélices paralelas que atravessam a membrana celular. Quando um ligante se liga ao domínio extracelu- lar desses receptores, ocorre uma mudança conformacional que permite ao domínio citosólico se ligar a uma proteína G associada à face interna da membrana plasmática. Essa interação ativa a proteína G, que por sua vez se dissocia do receptor e transmite o sinal para um alvo intracelular, que pode ser uma enzima ou um canal de íons. Se liga! Relembrando os conceitos de estrutura secundária de uma proteína, sabemos que uma α-hélice constitui uma cadeia polipeptídica retorcida em torno de um eixo imaginário longitudinal que passa pelo centro da hélice, com os grupos R voltados para a face externa da hélice. Essa estrutura otimiza o uso das ligações de hidrogênio que se dispõem paralelamente ao longo do eixo da hélice. Cada hidrogênio do grupamento amino de um resíduo de aminoácido está ligado através de uma ligação de hidrogênio ao oxigênio do grupamento carboxila de uma ligação peptídica localizada quatro resíduos adiante na mesma cadeia. As proteínas G são constituídas por três subunidades, denominadas α, β e γ, e, por isso, são caracterizadas como heterotriméricas. Em condições de repouso, a subu- nidade α encontra-se ligada ao GDP e complexada com a subunidade βγ. A ligação da molécula–sinal induz uma mudança conformacional no receptor, de maneira que o domínio citosólico do receptor interage com a proteína G e estimula a liberação do GDP ligado à subunidade α e sua troca para GTP. Assim, tanto a subunidade α ativada ligada ao GTP, quanto o complexo αγ interagem, separadamente, com seus alvos para obter uma resposta intracelular. A atividade da subunidade α é finalizada pela hidrólise do GTP, inativando a subunidade (agora ligada ao GDP), que se associa novamente ao complexo αγ, tornando a proteína G pronta para reiniciar o ciclo. Sinalização celular 17 Membrana plasmática Proteína G inativa GPCR ativado Domínio Ras Domínio AH Subunidade α ativada α Ativação do efetor Subunidade βϒ ativada β ϒ Molécula de sinalização Citosol GPCR inativo GTP GTP GDP GDP Figuras 11 e 12. Ativação de uma proteína G por um GPCR ativado. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Quando a ativação da proteína G medeia a regulação de um canal iônico, há ativação de uma proteína Gi e o componente ativo na sinalização é o complexo, que se liga à face intracelular do canal, abrindo-o para a entrada ou saída de moléculas. Quando ocorre a interação das proteínas G com enzimas, as consequências são mais complexas e podem levar à produção de pequenas moléculas sinalizadoras intracelulares adicionais, Sinalização celular 18 conhecidas como segundos mensageiros. São produzidas em grande quantidade quando as enzimas são ativadas e se difundem rapidamente, disseminando o sinal por toda a célula. As duas enzimas-alvo mais frequentes da proteína G são a adenilato-ciclase, enzima responsável pela síntese do AMP cíclico, uma molécula sinalizadora intrace- lular pequena, e a fosfolipase C, responsável pela síntese das pequenas moléculas sinalizadoras intracelulares trifosfato de inositol e diacilglicerol. 10. VIA DO AMP CÍCLICO (CAMP) Quando a subunidade alfa da proteína G (Gs) é estimulada, ela ativa a adenilil (ou adeni-lato) ciclase, o que leva a um aumento súbito e dramático na síntese de cAMP a partir de ATP, por meio de uma reação de ciclização que remove dois grupos fosfato do substrato e une as extremidades "livres" do grupo fosfato remanescente ao açúcar da molécula de ATP. Posteriormente, uma segunda enzima, denominada cAMP fosfodies- terase, converte rapidamente o cAMP em AMP para ajudar a eliminar o sinal. O AMP cíclico é uma molécula hidros- solúvel capaz de propagar o sinal por toda a célula, interagindo com proteínas localizadas no citosol, no núcleo ou em outras organelas. O AMP cíclico exerce vários efeitos ao interagir com proteínas da célula, principalmente pela ativação da enzima proteína-cinase dependente de AMP cíclico (PKA). Normalmente, ela é man- tida inativa na forma de um complexo com outra proteína. A ligação do cAMP estimula uma mudança conformacional que libera a cinase ativa. A PKA ativada catalisa a fosforilação de aminoácidos de alguns grupos proteicos, sobretudo serina e treoninas específicas em determi- nadas proteínas intracelulares, alterando, O OP O O P O O CH2 NH2 N N N N ATP P P O¯ O O¯ Adenilil-ciclase Fosfodiesterase do AMP cíclico O O OH OH CH2 H2O NH2 N N N N cAMP O OH OH CH2 NH2 N N N N 5’-AMP O OH OH O¯ O¯ ¯O O OP O¯ ¯O PiP Figura 13. Síntese e degradação do AMP cíclico. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Sinalização celular 19 assim, suas atividades. Muitas respostas celulares diferentes são mediadas pelo AMP cíclico. Um exemplo de resposta é a adrenalina, um hormônio liberado pela glândula adrenal em situações de estresse, que se conecta a receptores associados à proteína G encontrados em vários tipos de células, sendo um exemplo de resposta fisiológica. As consequências variam de uma célula para outra. No músculo esquelético, por exemplo, a adrenalina desencadeia um aumento na concentração intracelular de cAMP, o que causa a degradação do glicogênio (estoque de glicose na forma de polímero). Assim, o aumento do AMP cíclico aumenta ao máximo a quantidade de glicose disponível como combustível para acelerar a atividade muscular. No caso do músculo esquelético, vemos um efeito rápido da ativação da cascata do cAMP. Porém, esse segundo mensageiro também pode envolver mudanças na expressão gênica que demoram minutos ou horas para acontecer. Nessas respostas lentas, a PKA fosforila reguladores de transcrição que ativam a transcrição de genes selecionados. Adrenalina PKA inativa Citosol Núcleo PKA ativa PKA ativa DNA RNA Poro nuclear Transcrição Gene-alvo ativado AMP cíclico Adenitato-cilase ativada Subunidade α da proteína G ativada (GS) GPCR ativado (receptor adrenérgico) Regulador de transcrição fosforilado, ativado GTP ATP P Figura 15. Aumento na concentração intracelular de AMP cíclico com ativação da transcrição gênica. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular.6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Sinalização celular 20 11. VIA DE FOSFOLIPÍDEO DE INOSITOL O fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato (PIP2) é um componente menor da membrana plasmática, localizado em direção à camada interna da bicamada fosfolipídica. Uma variedade de moléculas-sinal estimula a hidrólise de PIP2 pela fosfolipase C, uma reação que produz dois segundos mensageiros distintos, diacilglicerol e inositol 1,4,5-trifosfato (IP3). Diacilglicerol e IP3 estimulam vias distintas da cascata de sinalização, de modo que a hidrólise de PIP2 dispara uma cascata dupla de sinalização intracelular. O IP3, um açúcar fosforilado hidrofílico, difunde-se para o citosol e o lipídeo diacilglicerol permanece na membrana plasmática. O IP3 liberado no citosol chega rapidamente ao retículo endoplasmático, onde se liga aos canais de Ca2+ na membrana da organela, abrindo-os. Assim, o Ca2+ armazenado dentro do retículo é liberado para o citosol por meio desses canais abertos, causando um aumento acentuado na concentração citoplasmática do íon livre, a qual normalmente é muito baixa. Por sua vez, o Ca2+ sinaliza para outras proteínas. Saiba mais! As mudanças nos níveis de íons de Ca2+ livres na célula podem ser desencadeadas por vários tipos de estímulos, não se limitando apenas aos receptores associados à proteína G. Um exemplo é a fertilização, na qual a entrada de Ca2+ através dos canais abre caminho para um aumento na concentração desse íon, dando início ao processo de desenvolvimento embrio- nário. Já nas células musculares, o aumento do Ca2+ citosólico provocado por um estímulo nervoso inicia a contração. Em muitas células secretoras, o Ca2+ desencadeia a secreção. O Ca2+ desempenha todas essas funções a partir de ligações com proteínas sensíveis a ele, influenciando suas atividades. Por outro lado, o diacilglicerol atua no recrutamento e na ativação da proteína quinase C, uma enzima que se move do citosol para a membrana plasmática. A PKC deve seu nome à necessidade de se ligar ao Ca2+ para se tornar ativa. A PKC, uma vez ativada, fosforila um conjunto de proteínas intracelulares que variam dependendo do tipo celu- lar. A PKC tem o mecanismo de ação da PKA, embora a maioria das proteínas que ela fosforila sejam diferentes. Sinalização celular 21 Molécula de sinalização GPCR ativado Diacilglicerol Proteína-cinase C ativada Proteína Gq ativada Ativação do canal de liberação de Ca2+ regulado por IP3 Ca2+ Lúmen do retículo endoplasmático Inositol 1,4,5-trifosfato (IP3) Fosfolipase C-β ativada β ϒ P P P P P P α PI 4,5-bifosfato (PI[4,5]P2) Membrana plasmática GTP Figura 16. Ativação da proteína cinase C pelos GPCRs. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Muitos dos efeitos de Ca2+ são mediados pela proteína de ligação ao íon cálcio calmodulina, que é ativada pela ligação ao Ca2+ quando sua concentração citosólica aumenta para cerca de 0,5μM. O complexo Ca2+/ calmodulina liga-se então a uma variedade de proteínas-alvo, incluindo proteocinases. A ligação da calmodulina ao íon induz uma mudança conformacional na proteína que a torna capaz de se enrolar em uma ampla gama de proteínas-alvo na célula, alterando suas atividades. Uma classe particularmente importante de alvos da calmodulina é a das proteínas-cinase depen- dentes de Ca2+/ calmodulina (CaM-cinases). Quando são ativadas, essas proteínas influenciam outros processos na célula pela fosforilação de proteínas específicas. RECEPTORES ASSOCIADOS A PROTEÍNAS G Ativação Três subunidades: α (ligada ao GDP), β e y Proteínas G Inativação Formado por sete α-hélices paralelas Proteínas G Via do Fosfolipídeo de Inositol (PIP2) Interagem com canais iônicos ou com enzimas Via do AMP cíclico Subunidade α troca GDP por GTP e se separa Subunidades β e γ formam um complexo Hidrólise do GTP da subunidade α Associação da subunidade α ao complexo βγ Estímulo a adenilato–ciclase Hidrólise da PIP2 pela fosfolipase C Síntese de cAMP a partir de ATP Produção de diacilglicerol e IP3 (segundos mensageiros) Ativação da enzima proteína– cinase dependente de cAMP (PKA) IP3 Diacilglicerol Liberado no citosol Abre os canais de Ca2+ no retículo endoplasmático Permanece na membrana plasmática Ativa a proteína– cinase c (PKc) (depende de Ca2+)Fonte: Elaborado pelo autor. Sinalização celular 23 12. RECEPTORES ASSOCIADOS A ENZIMAS São proteínas transmembranas em que o domínio citoplasmático do receptor atua como uma enzima — ou forma um complexo com outra proteína com atividade en- zimática. Foram descobertos em função do seu papel em resposta aos “fatores de crescimento”, proteínas-sinal que regulam crescimento, proliferação, diferenciação e sobrevivência das células nos tecidos animais. A maioria desses fatores funciona como mediador local e pode agir em concentrações muito baixas. As respostas a elas são geralmente lentas (em um período de horas) e requerem muitas etapas de trans- dução intracelular, que no final produzem mudanças na expressão gênica. Contudo, esses receptores podem mediar reconfigurações rápidas e diretas do citoesqueleto, controlando a maneira pela qual a célula altera sua forma e se move. A família mais numerosa de receptores ligados a enzimas são os receptores tirosina- -cinase, que funcionam fosforilando resíduos de tirosina de seus substratos proteicos. As proteínas que formam esses receptores têm somente um segmento transmembrana, o qual se acredita que atravesse a bicamada lipídica com uma única α–hélice. A primeira etapa na sinalização desses receptores é a dimerização induzida pelo ligante, isto é, dois receptores se reúnem na membrana, formando um dímero. A di- merização leva à autofosforilação do receptor à medida que as cadeias polipeptídicas dimerizadas fosforilam umas às outras, nos resíduos de tirosinas de suas caudas citosólicas. Esse processo é importante para aumentar a atividade do receptor e para criar sítios de ligação específicos no domínio citosólico dele. Com a ligação das proteínas sinalizadoras nas tirosinas fosforiladas, elas se tor- nam ativadas, atuando na propagação do sinal ou como adaptadoras entre o receptor e outras proteínas sinalizadoras formando um complexo de sinalização ativo. Essas proteínas possuem um domínio de interação especializado (-SH2) que reconhece e se liga às tirosinas fosforiladas específicas. Figura 17. Ativação dos receptores tirosina-cinase por dimerização. Fonte: https://docplayer.com.br/10216990-Sinalizacao-celular-por-que-sinalizar.html Sinalização celular 24 Enquanto persistem, esses complexos proteicos transmitem o sinal ao longo de vá- rias rotas simultaneamente. Dessa forma, ativam e coordenam numerosas mudanças bioquímicas necessárias para desencadear uma resposta complexa como a proliferação celular. Porém, essa resposta pode ser interrompida a partir da ação de proteínas-tiro- sina-fosfatases tanto no receptor quanto em outras proteínas sinalizadoras. Em certas circunstâncias, tanto os receptores de tirosina-cinase como os receptores associados à proteína G podem ser internalizados e degradados por meio da digestão lisossomal. 13. A VIA DE RAS Um componente-chave da sinalização intracelular dos receptores tirosina–cinase é a Ras, uma pequena proteína ligada à face citoplasmática da membrana por uma cauda lipídica. Praticamente todos os receptores desse tipo ativam Ras. Ela pertence a uma grande família de proteínas ligadas ao GTP, formadas por um única cadeia polipeptídica, frequentemente denominadas GTPases monoméricas. A Ras se assemelha à subunidade α da proteína G e também funciona como interruptor molecular. A interação com uma proteína sinalizadora ativada faz com que a Ras troque seu GDP por um GTP, tornando -se ativa. Após algum tempo, a própria Ras hidrolisa o GTP a GDP, tornando-se inativa. Em seu estado ativado, a Ras promove a ativação de uma cascata de fosforilação, na qual umasérie de serina/treonina–cinases fosforilam e ativam uma à outra em sequência. Esse sistema de transmissão inclui um módulo de três proteínas–cinases chamado de módulo de sinalização da MAP–cinase, em homenagem à última cinase da cadeia que fosforila várias proteínas efetoras, incluindo determinados reguladores de transcrição. Membrana plasmática MAP-cinase-cinase-cinase (Raf) MAP-cinase-cinase (Mek) MAP-cinase (Erk) Proteína Ras ativa Proteína X Mudanças na atividade proteica Mudanças na expressão gênica Proteína Y Proteína A reguladora de transcrição Proteína A reguladora de transcrição Citosol P P P P P P P P GTP ATP ADP ATP ADP ATP ADP Figura 18. Módulo de MAP-cinase ati- vado por Ras. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Sinalização celular 25 Saiba mais! Inicialmente descoberta em células cancerígenas hu- manas, a proteína Ras posteriormente foi encontrada também em células normais. Quando ocorre uma mutação na proteína, sua atividade GTPásica é inativada, o que impede a autoinativação e causa uma proliferação celular descontrolada, resultando no desenvolvimento de câncer. Cerca de 30% dos cânceres humanos têm seus genes Ras com essas mutações ativadoras, e muitos cânceres que não produzem proteínas Ras mutantes têm mutações em genes cujos produtos estão na mesma via de sinalização da Ras. 14. VIA JAK/STAT Nem todos os receptores associados a enzimas desencadeiam cascatas de sinali- zação complexas para levar uma mensagem para o núcleo. Alguns receptores utilizam uma rota mais direta para controlar a expressão gênica, a via JAK/STAT. Os elementos – chave nessa via são as proteínas STAT (transdutoras de sinal e ativadoras de trans- crição), uma família de fatores de transcrição com domínios–SH2. A estimulação de receptores de citocinas leva ao recrutamento de proteínas STAT, que se ligam através de seus domínios -SH2 às fosfotirosinas nos domínios citoplasmáticos do receptor. Com isso, as STAT são fosforiladas por membros da família JAK de proteína–tirosina cinases não receptores, que estão associadas com receptores de citocina. A fosforilação da tirosina promove a dimerização de proteínas STAT, que translocam para o núcleo, onde elas estimulam a transcrição de seus genes–alvo. Figura 19. Via de sinalização JAK–STAT ativada por citocinas. Fonte: Dabilg/shutterstock.com Doença da paratireoide 26 RECEPTORES ASSOCIADOS A ENZIMAS Atuam como uma enzima ou forma um complexo com enzimas Atuam em baixas concentrações Fonte: Elaborado pelo autor. Ativados por “fatores de crescimento” Geralmente, as respostas são lentas Receptores tirosina–cinase Atuam como mediador local Família mais numerosa Atuam fosforilando resíduos de tirosina Somente um segmento transmembrana como α–hélice Processo de sinalização Dimerização Autofosforilação Moléculas intracelulares se ligam às fosfotirosinas Formam–se várias rotas de sinalização simultaneamente Via de Ras Ras → pequena proteína ligada à membrana Promove a ativação de uma cascata de fosforilação (módulo de sinalização MAP–cinase) GTPases monoméricas Funciona como interruptor molecular Via JAK/STAT Rota direta para o núcleo Citocinas estimulam os receptores Recrutamento das proteínas STAT Dimerização das proteínas STAT Translocação para o núcleo Transcrição dos genes–alvo. Proteínas tirosina– cinases não receptores fosforilam as STAT Sinalização celular 27 15. COMO REGULAR A AÇÃO DOS RECEPTORES As células e os organismos são capazes de detectar a mesma porcentagem de variações de um sinal em uma escala muito ampla de intensidade do estímulo em resposta a muitos tipos de estímulos. As células–alvo conseguem isso por meio de um processo reversível de adaptação, ou dessensibilização, pelo qual uma exposição prolongada a um estímulo reduz a resposta celular. O mecanismo básico é de uma retroalimentação negativa que opera com retardo curto: uma resposta intensa altera a maquinaria de sinalização envolvida, de forma que esta se torna menos responsiva à mesma concentração do sinal. A adaptação a uma molécula de sinalização pode ocorrer de várias maneiras. • O sequestro do receptor ocorre quando uma molécula de sinalização se liga aos receptores da superfície celular, induzindo a endocitose desses receptores e o seu subsequente confinamento temporário em endossomos; • Retrorregulação do receptor: o sequestro do receptor pode levar à destruição dos receptores nos lisossomos; • Inativação do receptor: os receptores podem ser inativados na superfície da célula, por exemplo, ao serem fosforilados em curto intervalo de tempo após sua ativação; • Inativação de proteínas sinalizadoras; • Produção de proteínas inibidoras; Doença da paratireoide 28Fonte: Elaborado pelo autor. SINALIZAÇÃO CELULAR Tipos de sinalização Receptores Respostas lentas Velocidade Respostas rápidas Alterações proteicas Mudanças na expressão gênica Síntese proteica Moléculas pequenas e/ou hidrofóbicas Moléculas grandes e/ou hidrofílicas Natureza dos sinais celulares Presença de receptores na superfície da célula São capazes de atravessar a membrana plasmática s/ receptores Ligam–se a receptores intracelulares Funções Vias de sinalização intracelular Transmitir o sinal Amplificar o sinal Integrar sinais Distribuir o sinal Ciclos de retroalimentação O produto estimula sua própria produção O produto inibe sua própria produção Retroalimentação negativa Retroalimentação positiva Torna o sistema menos sensível ao estímulo Pode induzir mudanças permanentes Associados a canais iônicos Transmissão de sinais através das sinapses Ação de neurotransmis- sores O produto inibe sua própria produção Sequestro do receptor Formas de regulação da atividade dos receptores Receptores Inativação do receptordo receptor Inativação de proteínas sinalizadoras Produção de proteínas inibidoras Endócrina Parácrina Sináptica Dependente de contato Associados a proteínas G Proteína G – heterotrimérica (subunidades α,β e γ) Pode regular canais iônicos ou enzimas Via de Fosfolipídeo Via do AMP Cíclico Síntese de cAMP a partir de ATP Produção de dia-cilglicerol e IP3 Associados a proteínas G Atuam em resposta a fatores de crescimento Via JAK/STATVia de Ras Ras→ GTPase monomérica Módulo de sinalização MAP–cinase Via direta para o núcleo Sinalização celular 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COOPER, Geoffrey M.; HAUSMAN, Robert E.. A Célula: uma abordagem molecular. Uma Abordagem Molecular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular da Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. sanarflix.com.br Copyright © SanarFlix. Todos os direitos reservados. Sanar Rua Alceu Amoroso Lima, 172, 3º andar, Salvador-BA, 41820-770