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Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totali- zando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desen- volvida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada co- leção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolu- ção das questões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. TEORIA No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cui- dadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é encontrado em subcategorias que fa- cilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicati- vos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. MULTIMÍDIA Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro co- nhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran- gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Ma- temática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que difi- culta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial me- morização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vi- venciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preo- cupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. VIVENCIANDO Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fa- zem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios re- solvidos e comentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explica- ções dadas em sala de aula. APLICAÇÃO DO CONTEÚDO Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desem- penho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê-las com tranquilidade. ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, criamos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles que aprendem visualmente os conte- údos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos estudos e até a resolução dos exercícios. DIAGRAMA DE IDEIAS © Hexag SiStema de enSino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2023 Todos os direitos reservados. Coordenador-geral Murilo de Almeida Gonçalves reSponSabilidade editorial, programação viSual, reviSão e peSquiSa iConográfiCa Hexag Editora editoração eletrôniCa Letícia de Brito Matheus Franco da Silveira projeto gráfiCo e Capa Raphael de Souza Motta imagenS Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) Pixabay (https://www.pixabay.com) iSbn 978-85-9542-244-5 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a in- clusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens pub- licadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não rep- resentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2023 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br GEOGRAFIA GEOGRAFIA 1 5 AULAS 1 E 2: MOVIMENTOS DA TERRA 007 AULAS 3 E 4: COORDENADAS GEOGRÁFICAS E FUSO HORÁRIO 015 AULAS 5 E 6: NOÇÕES DE CARTOGRAFIA 023 AULAS 7 E 8: ELEMENTOS DO CLIMA E FATORES CLIMÁTICOS 035 GEOGRAFIA 2 45 AULAS 1 E 2: INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO 047 AULAS 3 E 4: GEOLOGIA 057 AULAS 5 E 6: GEOLOGIA DO BRASIL E EXPLORAÇÃO MINERAL 067 AULAS 7 E 8: GEOMORFOLOGIA: FORÇAS ESTRUTURAIS E ESCULTURAIS 077 SUMÁRIO Co m pe tê n Ci a 1 Compreender os elementos culturais que constituem as identidades H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura. H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas. H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos. H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspectoda cultura. H5 - Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades. Co m pe tê n Ci a 2 Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder. H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos. H7 Identificar os significadoshistórico-geográficos das relações de poder entre as nações. H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social. H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial. H10 Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfica. Co m pe tê n Ci a 3 Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, con- flitos e movimentos sociais. H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço. H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades. H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder. H14 Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas. H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história. Co m pe tê n Ci a 4 Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social. H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social. H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção. H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais. H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano. H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho. Co m pe tê n Ci a 5 Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção. H21 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político. H22 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construçãodo texto literário. H23 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional. H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades. H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social. Co m pe tê n Ci a 6 Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos. H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem. H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e(ou) geográficos. H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos. H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas. H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas. MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM GEOGRAFIA GEOGRAFIA 1 LIVRO TEÓRICO 6 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS Esses são temas que o Enem adora ex- plorar, e nessas questões podem apare- cer de tudo: textos-base, mapas e gráfi- cos, principalmente aqueles que chamam atenção para situações do cotidiano. Os temas abordados neste caderno são pedidos com frequência nas provas da FUVEST. É muito importante que o aluno compreenda bem os conceitos de locali- zação e cartografia. A Unicamp costuma abordar esses temas em seus vestibulares com o auxílio de mapas e esquemas, para que o aluno raciocine para além do enunciado. Este vestibular explora os temas desta frente de maneira bastante tradicional, principalmente no que tange a cartogra- fia, onde as projeções cartográficas são recorrentes nas provas. Pede em seus exercícios os principais conceitos, utilizando, muitas vezes, tex- tos-base para sua resolução. É vital que o aluno não saio do texto, pois a Unesp quer saber se o candidato compreendeu por que aquele texto foi escolhido. Embora as provas versem sobre assuntos da atualidade, os temas desta frente aparecem vez por outra, apresentando um nível médio de dificuldade, e sempre com material de apoio, como mapas e gráficos. As questões não apresentam surpresas, principalmente quando se trata de geo- grafia física, como climatologia, que apa- rece em quase todas as provas. Essa prova presa sempre pela objetivida- de com relação aos temas desta frente, na qual cartografia e clima merecem destaque especial. As últimas provas mostraram um do- mínio de conteúdo relacionado, prin- cipalmente, a fuso horário e noções de cartografia, além de trazer elementos do clima e fatores climáticos... Os candidatos precisam explorar os temas desta frente e relacioná-los às questões regionais, pois é assim que os exercícios costumam aparecer. Clima é um tema certeiro nas provas da Federal do Paraná. Estudar bem os conceitos e aplicá-los em escala local é a chave para um bom resultado. Este vestibular não apresenta em seu edital mais recente e nem exige nas provas dos últimos vestibulares questões relacionadas à disciplina de Geografia. A UERJ é um vestibular que utiliza muitos mapas, para a maioria dos temas deste caderno, principalmente em questões discursivas. Para um bom desempenho nas provas, o aluno não pode deixar de exercitar leituras e exercícios com mapas. Essa prova é bastante tradicional e con- teudista, orientada para todos os temas desta frente, ou seja, astronomia, carto- grafia e clima estão sempre presentes. O vestibular Souza Marques apresentou, nos últimos anos, uma tendência a inserir questões relacionadas à geografia física, de forma bem equilibrada. Observa-se uma concentração de temas sobre os elementos do clima e fatores climáticos. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 7 V O LU M E 1 1. Introdução É notável o fascínio que as pessoas sentem pelo céu. Quem nunca admirou um pôr do sol ou ficou impressionado com uma tempestade? Contudo, ainda hoje, os fenômenos ce- lestes que fazem parte do cotidiano não são compreendi- dos por grande parte da humanidade. O interesse pelos mistérios do Universo faz parte da natureza humana desde o começo da civilização. Ao mesmo tempo em que a exten- são e beleza do Universo é admirada, o desafio de conhe- cê-lo é instigante, pois, ao investigar o Cosmos, a humani- dade está indagando também sobre a sua própria origem. A luz e o calor do Sol durante o dia, o luar e as estrelas à noite, o ciclo das estações, a necessidade de se orientar nos percursos de um lugar a outro e de estabelecer uma cro- nologia para os acontecimentos foram motivos suficientes para o homem tentar equacionar o Universo. 2. Movimentos da Terra Do ponto de vista da ciência, a Terra possui um único mo- vimento, que pode, dependendo de suas causas, ser divi- dido nos seguintes componentes: § movimento de rotação em torno de seu eixo; § movimento de translação em torno do Sol; § movimentos de precessão e de nutação; § movimento dos polos; § movimento em torno do centro de nossa galáxia. Os dois primeiros são os principais, pois suas influências podem ser sentidas diariamente. Fonte: Youtube Série “Cosmos”. Produzida pelo astrônomo Carl Sagan ProductionsO segredo dessa série de treze horas foi o talento de comunicador de Sagan, capaz de desmistificar o que até então fora informação científica inacessível. A versão escrita desse programa continua a ser o livro de divul- gação científica mais vendido da história. multimídia: vídeo 2.1. Movimento de rotação O movimento de rotação ocorre quando a Terra gira em torno de si mesma, de oeste para leste, isto é, em torno de um eixo imaginário que passa por seus polos. A duração do chamado dia sideral, ou seja, o tempo necessário para a Terra comple- tar uma volta em torno de seu eixo (360º exatos), é de 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 décimos. Em relação ao Sol, o tempo de rotação médio, o chamado dia solar médio, é de 24 horas. O dia solar é compreendido como o período en- tre duas passagens sucessivas do Sol sobre o meridiano local e varia ao longo do ano, sendo sempre superior ao dia sideral. É devido a isso que existe a sucessão de dias e noites, fa- tor que desempenha um papel fundamental no equilíbrio da temperatura e da composição química da atmosfera. A rota- ção provoca a sensação de que o Sol se movimenta em rela- ção à Terra, de leste (nascente – levante) para oeste (poente); entretanto, é a Terra que se movimenta em relação ao Sol. A velocidade desse movimento é de aproximadamente 1.666 km/h, ou 465 m/s, que é bastante elevada, porém muito inferior à de outros astros do Universo. É interessan- te notar que a velocidade aumenta nas áreas próximas à linha do equador, região em que o raio terrestre é maior. Na cidade de Porto Alegre, por exemplo, a velocidade da rotação terrestre cai para 1.450 km/h. MOVIMENTOS DA TERRA COMPETÊNCIA(s) 2 HABILIDADE(s) 6 CH AULAS 1 E 2 8 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 Outros efeitos do movimento de rotação são: o formato geoide da Terra, isto é, ela é achatada nos polos e expan- dida no equador, não formando uma esfera perfeita; as correntes marinhas; a circulação atmosférica e o desnível entre os oceanos. Na verdade, a Terra, assim como os demais planetas sola- res, gira em torno do próprio eixo porque não existe ne- nhum tipo de força ou resistência capaz de parar a sua rotação, que se perpetua. Acredita-se que, depois do sur- gimento do Universo, os corpos celestes colidiram-se (e ainda colidem-se) por várias vezes, o que fez com que os elementos constituintes dos planetas se mantivessem em movimentos giratórios. É importante considerar que nem sempre a rotação dos planetas é no sentido anti-horário, a exemplo de Urano e Vênus, que giram no sentido horário. O ABCD da Astronomia e Astrofísica - J. E. Horvath A Astronomia constitui um “ponto de encontro” da Física com a Matemática e com outras disciplinas. O presente trabalho oferece uma visão breve e atualiza- da de praticamente todas as áreas da Astronomia, com especial ênfase na Astrofísica Estelar, Cosmologia e a nascente Astrobiologia. multimídia: livro 2.2. Movimento de translação A Terra, ao mesmo tempo em que gira em torno do seu eixo, também realiza o movimento de translação, que consiste em dar uma volta completa em torno do Sol. Para realizar esse movimento, ela utiliza cerca de 365 dias – ou precisamente 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. O trajeto per- corrido com esse movimento é denominado órbita terrestre. A órbita terrestre é elíptica, onde o Sol está ligeiramente des- locado em relação ao centro do movimento. A Terra está mais próxima do Sol entre 4 a 7 de janeiro e mais distante entre 4 e 7 de julho. Fonte: Youtube A ciência em si – Gilberto Gil multimídia: música 2.3. Periélio e afélio O periélio é o ponto da órbita de um corpo, seja ele planeta, asteroide ou cometa, que está mais perto do Sol. Quando um corpo está no periélio, ele tem a maior velocidade de translação de toda a sua órbita. A distân- cia entre a Terra e o Sol no periélio é de cerca de 147,1 milhões de quilômetros. O afélio, por sua vez, é o ponto da órbita em que um plane- ta ou um corpo está mais distante do Sol. Quando se trata de um objeto que orbita uma estrela que não o Sol, esse ponto é denominado apoastro. A distância entre a Terra e o Sol no afélio é de cerca de 152,1 milhões de quilômetros. Quando um astro está no afélio, ele tem a menor veloci- dade de translação de toda a sua órbita, proporcionando invernos mais longos no HS e verões mais longos no HN. MoviMento retardado Periélio MoviMento acelerado Sol TERRA aFélio É comum que esses pontos sejam confundidos como a causa das estações do ano, com o verão sendo relacionado ao periélio e o inverno ao afélio. No entanto, as estações do ano ocorrem em função do movimento de translação as- sociado à inclinação do eixo de rotação, gerando variações na luminosidade. O plano formado pela órbita terrestre é denominado pla- no da elíptica. O eixo de rotação da Terra tem inclinação de, aproximadamente, 23º em relação à perpendicular desse plano. Esse fato faz com que a luz do Sol atinja o planeta de forma desigual, iluminando e aquecendo he- misférios e regiões em épocas diferentes, o que causa, CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 9 V O LU M E 1 por sua vez, a ocorrência das estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. É também o movimento de translação da Terra o responsá- vel pelo ano bissexto, que tem a duração de 366 dias. Isso ocorre porque a duração do ano é sempre arredondada para 365 dias, excluindo as 5 horas, 48 minutos e 46 segundos que restam. A diferença é acertada a cada quatro anos com o ano bissexto, incluindo o dia 29 de fevereiro no calendário. A influência da Lua na Terra Até onde se sabe, a Terra é o único planeta do Sistema Solar em condições de abrigar vida da forma como ela é conhecida. A Terra está a uma distância adequada do Sol, possui uma atmosfera rica em oxigênio e tem gran- des quantidades de água. A partir do Sol, é o primeiro planeta que tem um satélite natural, a Lua. Quando se fala sobre esse satélite, logo é lembrada sua influência no movimento de subida e descida das águas do mar, que é explicado pela lei da gravidade de Isaac Newton. A Lua não exerce sozinha essa influencia na maré. O Sol também tem um papel importante nesse movimento, embora sua influência seja menor do que a da Lua, pois ele está mais distante da Terra. Assim como o Sol e a Terra, a Lua não está em repou- so. Ela gira ao redor da Terra, que, por sua vez, gira ao redor do Sol. E, da mesma forma que a Terra atrai a Lua, a Lua atrai a Terra, mas com menos intensida- de. O efeito da atração da Lua não exerce nenhuma influência nos continentes, mas afeta os oceanos. A influência da Lua provoca correntes marítimas que geram duas marés altas e duas baixas diariamente. A diferença entre marés pode ser quase impercep- tível ou muito notável, dependendo principalmente da posição dos astros em relação à Terra, isto é, das fases da Lua, que são as seguintes: § Lua nova: Sol, Lua e Terra estão alinhados, o Sol e a Lua estão na mesma direção. A força de atra- ção é somada e causa elevação máxima da maré (maré de sizígia). § Lua minguante: a Lua está a oeste do Sol, quase formando um ângulo de 90° entre eles. A atração é quase nula e causa a menor elevação da maré (maré de quadratura). § Lua cheia: o Sol, a Lua e a Terra estão alinhados novamente, só que agora a Terra está entre o Sol e a Lua. A atração causa novamente grandes ele- vações das marés (maré de sizígia). § Lua crescente: a Lua está a leste do Sol, quase formando um ângulo de 90°. Nessa fase, a gravi- tação da Lua se opõe à gravitação do Sol. Como a Lua está mais próxima da Terra, o Sol não consegue anular totalmente a força gravitacional da Lua, e a maré ainda apresenta uma ligeira elevação (maré de quadratura). § Entretanto, esse jogo de forças não é igual em toda parte, pois o contorno da costa e as dimensões do fundo do mar também alteram a dimensão das marés. Em certas regiões abertas, a água se espalhapor uma grande área e sobe só alguns centímetros nas marés máximas. Em outras, como um braço de mar estreito, o nível pode se elevar vários metros. Não raro, é possível ver a Lua durante o dia. Em algu- mas vezes pela manhã, em outras pela tarde. É impor- tante esclarecer que a Lua está sempre presente no céu, tanto durante o dia quanto durante a noite. O que ocorre é que, devido ao fato de a Lua não apresentar luz própria, só é possível vê-la quando ela, de algum modo, reflete a luz emitida pelo Sol. Durante a fase da lua nova, como o Sol está iluminan- do o lado oculto do satélite natural, a Lua não pode ser vista nem durante o dia e nem durante a noite. Na fase da lua cheia, ela só aparece no horizonte ce- leste quando já está anoitecendo. Isso significa que a Lua pode ser vista de dia durante as fases minguan- te e crescente. A primeira só aparece pela manhã, e a segunda, depois do meio-dia, porque a minguan- te nasce imediatamente após o período da cheia, à meia-noite, permanecendo nos céus durante 12 horas. 10 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 Já a Lua em sua fase crescente, mais comum, só pode ser vista durante as tardes porque ela só nasce na metade do dia, quando fica iluminada em cerca de 50% de sua superfície durante as mesmas 12 horas. A iluminação, além da reflexão da luz do Sol, depende, sobretudo, do grau de inclinação dos raios solares. As diferenças dos horários de surgimento da Lua no céu são explicadas pelo fato de, a cada dia, ela nascer 48 minutos mais tarde. Assim, à medida que a posição da Lua em relação aos raios do Sol vai se alterando, mudam também as suas fases e o horário de seu apa- recimento no horizonte. www.iag.usp.br multimídia: sites 3. Equinócio, solstício e estações do ano As estações do ano têm duração aproximada de três me- ses. A Terra recebe variadas quantidades de radiação solar por conta da sua inclinação e da sua órbita ao redor do Sol. Assim, existem diferentes estações ao longo do ano, o que influencia diretamente o tipo de vegetação e o clima de todas as regiões da Terra. Fonte: Youtube Linha do Equador – Djavan multimídia: música Quatro pontos do trajeto de translação são significativos ao longo do ano: dois solstícios e dois equinócios. Os dois equi- nócios são os momentos nos quais os raios solares incidem perpendicularmente no equador. Dias 21 ou 22 de março e 23 de setembro são datas que marcam, respectivamente, o início do outono e da primavera no Hemisfério sul e o início da primavera e do outono no Hemisfério norte. Já os solstícios são os momentos nos quais os raios sola- res incidem perpendicularmente sobre um dos trópicos. Eles ocorrem em 22 de junho, no Trópico de Câncer (no hemisfé- rio norte), e em 21 de dezembro, no Trópico de Capricórnio (hemisfério sul). Essas duas datas marcam, respectivamente, o início do inverno e do verão no hemisfério sul, e o início do verão e do inverno no hemisfério norte. No dia de solstício, os raios solares tangenciam um dos polos, fazendo com que este tenha 24 horas de luz, e o outro, 24 horas de escuridão. Decifrando a Terra - Wilson Teixeira, Thomas Rich, Maria Cristina Motta de Toledo, Fabio Taioli O novo Decifrando a Terra interessa não só aos estudan- tes universitários de diversas especialidades científicas, mas também a todos que desejam compreender os in- trincados processos geológicos que ocorrem no planeta há 4,56 bilhões de anos. multimídia: livro O fenômeno do sol da meia-noite O “sol da meia-noite” é um fenômeno natural obser- vável ao norte do Círculo Polar Ártico (hemisfério nor- te) e ao sul do Círculo Polar Antártico (hemisfério sul), regiões onde o Sol é visível por 24 horas do dia, nas da- tas próximas ao solstício de verão. A rotação da Terra, sua inclinação e a órbita solar fazem com que uma das extremidades do planeta permaneça constantemente CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 11 V O LU M E 1 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS iluminada. Enquanto no Círculo Polar Ártico o Sol não se põe durante seis meses, no Círculo Polar Antártico é a noite que dura mais tempo: de 20 de março a 23 de setembro. Nesse período, o polo norte está totalmente voltado para a luz. Quanto mais próximo dos polos, maior é o número de dias em que o Sol não se põe. Durante esse fenômeno, o Sol se aproxima da linha do horizonte como se fosse o pôr ou o nascer do Sol, mas não desaparece totalmente. O fenômeno opos- to é chamado de noite polar, em que o Sol não se encontra visível durante 24 horas. Quando o “sol da meia-noite” ocorre no polo norte, a noite polar ocorre no polo sul e vice-versa. A noite civil polar, ou seja, quando é necessário man- ter por mais de 24 horas consecutivas a iluminação artificial para atividades no exterior, não ocorre em nenhum local da Europa continental ou do estado norte-americano do Alasca, pois não existe qualquer parte dessas regiões com latitude superior a 72° 33’ N. A noite polar astronômica, ou seja, com escuridão total, não ocorre em qualquer terra do hemisfério norte, limitando-se ao oceano Ártico central. Uma vez que no hemisfério sul não há assentamentos permanentes suficientemente próximos do polo (salvo as bases antárticas, habitadas por uns poucos cientistas e militares), apenas Estados Unidos, Canadá, Groen- lândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia e o extremo norte da Islândia podem desfrutar desse fenômeno. No norte da Noruega, por exemplo, nunca anoitece completamente no verão. Apesar de o Sol não estar ao alto no céu, ele nunca chega a desaparecer total- mente e se mantém acima da linha do horizonte. “Sol da Meia-noite” eM alta, noruega A natureza criou suas estratégias para sobreviver à noi- te e ao dia prolongado. Em diversas regiões habitadas, quando o Sol aparece, os pássaros e peixes se reprodu- zem, o gelo formado no inverno evapora e a vegetação aproveita a luz e o calor, frutificando. No inverno, os ani- mais migram ou hibernam, o gelo volta a cobrir uma ampla área e somente as espécies adaptadas permane- cem. Apesar de ser dia durante meses, nos extremos da Terra, porém, o gelo nunca some. A Astronomia é o segmento da ciência que estuda os corpos celestes utilizando os conhecimentos científicos disponíveis. Com exceção da Lua e de alguns planetas do Sistema Solar, todos os demais astros só podem ser estudados por meio da luz que enviam para a Terra. Pelo estudo dessa luz é que que os astrônomos conseguem obter informações e elaborar os modelos e as teorias que procuram explicar os comportamentos, as estruturas físicas e as composições químicas dos astros no Universo. O estudo e a análise da luz recebida dos astros na forma de micro-ondas, ondas de rádio, radiação infraver- melha, luz visível, luz ultravioleta, raios X e raios Gama são feitos por meio da aplicação dos conhecimentos de Física, Matemática, Química, etc. 12 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 VIVENCIANDO Glossário: § Geoide: concebido idealmente como a forma da Terra, que não é esférica e sim achatada nos polos e bojuda no equador. § Meridional ou austral: localizado ao sul. § Setentrional ou boreal: localizado ao norte. § Movimento de precessão: fenômeno físico que consiste na mudança do eixo de rotação, causando um efeito giroscó- pico, observado nos movimento dos ponto de referência celeste. § Movimento de nutação: pequena oscilação periódica do eixo de rotação da Terra, com um ciclo de 18,6, anos causada pela força gravitacional da Lua sobre a Terra. § Zênite: ponto imaginário interceptado pelo eixo vertical imaginário, traçado a partir da cabeça de um observador (locali- zado sobre a superfície terrestre), que se prolonga até a esfera celeste. O Planetário Professor Aristóteles Orsini, também conhecido como Planetário do Ibirapuera, está localizado no Parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Primeiro planetário do Bra- sil, foi inaugurado em 26 de janeiro de 1957. O observatório doIbirapuera é uma grande atração para os fãs do espaço side- ral, pois todas as imagens de estrelas, planetas, constelações e nebulosas são captadas por telescópios; trata-se, portanto, de imagens com brilho e cores reais. É um excelente passeio para aqueles que desejam ter uma noção melhor de astronomia. O Museu Cósmico, também conhecido como Planetário de Santa Cruz, é um museu brasilei- ro dedicado à Astronomia. Foi inaugurado em 2008 no bairro de Santa Cruz, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Abriga uma cúpula equipada com um planetário moderno que si- mula fielmente imagens em movimento de um céu semelhante ao que podemos observar du- rante uma noite clara, em local livre de poluição atmosférica, auxiliado por dezenas de equipa- mentos periféricos. Depois de sua inauguração, o Rio de Janeiro tornou-se a “Capital Nacional de Cultura Planetária”, por possuir três museus administrados pela Fundação Planetários do Rio de Janeiro. Localizado na Estrada do Guandu, 4278-4282, é um ótimo passeio para os amantes da Astronomia. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 13 V O LU M E 1 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos. As representações gráficas, especialmente mapas e gráficos, são elementos importantes na aplicação de conteú- dos geográficos; no entanto, às vezes podem se tornar entraves à aprendizagem devido às dificuldades que os alunos enfrentam em manipular esses instrumentos. O contexto mundial que ora se apresenta é caracterizado por uma intensa gama de tecnologias que tem provocado transformações na economia, na política e na educação. Essas mudanças trazem novas formas de ver e sentir o espaço geográfico, influenciando o ensino da Geografia, uma vez que essa disciplina tem a preocupação de fornecer ao aluno subsídios para que ele possa “entender” o mundo e fazer uma leitura crítica ou mais atenta dessa “reorganização espacial e social”. Considerando o espaço geográfico como objeto de estudo da Geografia, é interessante destacar alguns pontos relevantes na aplicação dessa linguagem. Seu papel não é de ilustrar uma aula e não se deve usar o gráfico pelo gráfico ou o mapa como passatempo para os alunos. Ela deve ser um recurso de mediação para o melhor enten- dimento dos conteúdos geográficos e, consequentemente, para a aquisição desses conhecimentos. MODELO 1 (Enem) Um leitor encontra o seguinte anúncio entre os classificados de um jornal: VILA DAS FLORES Vende-se terreno plano medindo 200 m2. Frente voltada para o sol no período da manhã. Fácil acesso. (443)0677-0032 Interessado no terreno, o leitor vai ao endereço indicado e, lá chegando, observa um painel com a planta a seguir, onde estavam destacados os terrenos ainda não vendidos, numerados de I a V: Considerando as informações do jornal, é possível afirmar que o terreno anunciado é o 14 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 DIAGRAMA DE IDEIAS a) I. b) II. c) III. d) IV. e) V. ANÁLISE EXPOSITIVA Esse exercício é um bom exemplo de como o Enem explora e mescla conceitos cartográficos e físicos, colocando-os em situações do cotidiano. Dadas as condições geográficas do loteamento e observando a escala da planta, entre os terrenos vol- tados para o leste, II, IV e V estão fazendo frente para o sol nascente, apenas o terreno IV possui 200 m2 (10 m × 20 m). RESPOSTA Alternativa D MOVIMENTO DA TERRA ROTAÇÃO TRANSLAÇÃO • DIAS E NOITES • FORMATO GEOIDE • CORRENTES MARINHAS • CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA • SOLSTÍCIO • EQUINÓCIO • ZONAS DE ILUMINAÇÃO CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 15 V O LU M E 1 1. Coordenadas geográficas Ao longo da história, o ser humano sempre sentiu a neces- sidade de se orientar e se localizar. Foi a partir do advento da escrita e dos mapeamentos que os recursos para orien- tação se desenvolveram com maior precisão. Esses recursos são indicados por números que represen- tam graus de circunferência, resultado do “fatiamento” do globo terrestre, segundo a divisão sexagesimal. É im- portante lembrar que uma circunferência apresenta 360°; além disso, cada grau tem sessenta minutos (60’), e cada minuto, sessenta segundos (60”). As coordenadas geográficas baseiam-se em diversas linhas imaginárias horizontais e verticais traçadas sobre o globo terrestre: os paralelos e os meridianos. Cartografia básica – Paulo Roberto Fitzi O uso de mapas e imagens de satélite é cada vez mais frequente no nosso dia a dia. A sua correta interpreta- ção, no entanto, exige o domínio de conceitos básicos nem sempre acessíveis na literatura disponível em lín- gua portuguesa. multimídia: livro 1.1. Meridianos Os meridianos são linhas imaginárias que ligam os polos norte e sul, formando “meias circunferências” na Terra. Também se fez necessária a escolha do meridiano de zero grau (0°), por isso convencionou-se, para início da conta- gem, o meridiano que passa pela torre do observatório astronômico de Greenwinch, que é uma localidade na área metropolitana de Londres, capital da Inglaterra. O meridiano de Greenwich divide a Terra em dois hemis- férios: ocidental e oriental. A partir dele, é possível traçar diversos meridianos, até o limite de 180°, tanto para oeste quanto para leste, o que totaliza os 360° da “circunferência” da Terra. Ao lado do número do meridiano, deve-se indicar leste (E ou L) ou oeste (W ou O). No ponto de 180º (seja leste ou oeste), tem-se a linha internacional de data (ou Linha In- ternacional de Mudança de Data). É o meridiano oposto ao meridiano de Greenwich, atravessando o Pacífico. 1.2. Paralelos A linha imaginária traçada na parte mais larga da Terra é o paralelo de zero grau (0°), cujos pontos são equidistantes dos polos. Ele foi denominado equador, o principal paralelo, e divide o planeta em dois hemisférios, norte e sul. Os outros paralelos são traçados seguindo a linha do equa- dor, tanto para o norte quanto para o sul. A cada um deles é atribuído o número correspondente ao ângulo formado com a linha do Equador, considerando o centro da Terra como centro da “circunferência”. Assim, os polos estão a 90° do equador. Indica-se norte (N) ou sul (S) ao lado do número do paralelo. Além do equador, existem quatro paralelos notáveis: no hemisfério norte, há o Círculo Polar Ártico (90° N) e o Trópico de Câncer (23° N); no hemisfério sul, há o Círculo Polar Antártico (90° S) e o Trópico de Capricórnio (23° S). © C és ar da M ata /S ch äff er Ed ito ria l Equador Latitudes norte Latitudes sul Polo norte 90º N 0º G re en w ic h 180º Longitudes oeste Longitudes leste antimeridiano de Greenwich 0º MERIDIANOS PARALELOS 1.3. Latitude e longitude É necessário usar duas indicações para localizar qualquer lugar na superfície terrestre de forma exata: as latitudes e as longitudes. Fornecer as coordenadas geográficas de uma cidade sig- nifica informar sua latitude e sua longitude. COORDENADAS GEOGRÁFICAS E FUSO HORÁRIO COMPETÊNCIA(s) 2 HABILIDADE(s) 6 CH AULAS 3 E 4 16 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 § Latitude é a distância, medida em graus, que separa a linha do equador de um ponto qualquer da superfície terrestre. Ela varia de 0° a 90° ao norte e ao sul. § Longitude é a distância, medida em graus, do meridi- ano de Greenwich a um ponto qualquer da superfície da Terra. Ela varia de 0° a 180° a leste ou a oeste. LONGITUDES LATITUDES 2. Zonas de iluminação É usual substituir essa denominação por zonas climáticas, o que é um equívoco, pois o clima não é o simples resultado de maior ou menor exposição aos raios solares. A denominação “zonas de iluminação” é preferida por geógrafos mais rigo- rosos. A diferença de temperatura que se verifica do equador aos polos é resultante da inclinação dos raios solares. Mapas da Geografia e Cartografia Temática – Marcelo Martinelli O livro introduz o leitor no domíniodas representações gráficas e apresenta os fundamentos metodológicos da cartografia temática e da Geografia em bases ligadas à comunicação visual. É uma proposta inovadora que considera o mapa da Geografia não apenas como uma ilustração de texto, mas um meio capaz de revelar o conteúdo da informação. multimídia: livro Nas áreas próximas aos polos, onde a curvatura da Terra é mais acentuada, os raios do sol se distribuem por uma su- perfície menor, determinando menor concentração de calor. Nas baixas latitudes (próximas ao Equador), os raios solares tocam perpendicularmente a superfície do planeta, deter- minando maior concentração e, consequentemente, maior aquecimento. Temperaturas médias ocorrem nas latitudes médias (entre os trópicos e os círculos polares). 1. Zona Tropical ou Tórrida (ou de baixas latitudes) – situada entre os trópicos. 2. Zona Temperada do Norte (ou de médias latitudes) – situada entre o Trópico de Câncer e o Círculo Glacial Ártico. 3. Zona Temperada do Sul (ou de médias latitudes) – situada entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Glacial Antártico. 4. Zona Glacial Ártica (ou de altas altitudes) – situada ao Norte do Círculo Glacial Ártico. 5. Zona Glacial Antártica (ou de altas latitudes) – situ- ada ao Sul do Círculo Glacial Antártico. 3. Fuso horário No passado, a hora era uma característica extremamen- te local. Os antigos viajantes precisavam acertar o relógio toda vez que chegavam a uma cidade nova. O acerto de horas era feito através do Sol: o meio-dia representava o ponto mais alto que a estrela alcançava. A partir da Re- volução Industrial, com o barco e a locomotiva à vapor, as distâncias se encurtaram, causando dificuldades para a de- terminação da hora. Em 1884, representantes de 25 países se reuniram, em Washington, para determinar um sistema padronizado de horas, e, assim, foram criados os fusos horários. Dividindo-se os 360º da “esfera” terrestre pelo número de horas que a Terra leva para completar seu movimento de rotação, tem-se 15º (quinze graus), ou seja, a cada hora, a Terra gira 15º. Partindo desse raciocínio, o planeta foi divi- dido em 24 fusos horários, correspondentes às 24 horas do dia e limitados por meridianos, distantes 15º uns dos outros. O meridiano 0º tem como referência o observatório de Gre- enwich, localizado no subúrbio de Londres, que passou a CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 17 V O LU M E 1 simbolizar o primeiro meridiano internacional, base para a determinação do horário legal, adotado em todo o mundo. Como a Terra gira de oeste para leste, os fusos à leste de Greenwich têm as horas adiantadas em relação ao fuso inicial. Os fusos situados à oeste, por sua vez, têm as horas atrasadas em relação à hora de Greenwich. Meridiano 0, Marcado no obServatório real de greenwich, a leSte de londreS Outra questão abordada na Conferência do Meridiano foi estabelecer um marco para a mudança do dia no planeta. A partir de então, definiu-se o antimeridiano de Greenwich, ou seja, a linha de longitude 180º, oposta ao meridiano inicial, chamada Linha Internacional de Mudança de Data. Esse meridiano divide um fuso em que todos os lu- gares têm a mesma hora, mas, a oeste da linha, a data está um dia na frente da data a leste. 3.1. Fuso horário legal No mapa-múndi é possível observar que os limites dos me- ridianos não são respeitados estritamente. Existem variações de acordo com cada país. Ou seja, o horário de determinadas áreas em alguns países não corresponde ao horário do fuso ao qual pertencem. Há um limite prático entre os fusos, que seguem o contorno e os limites entre países ou entre as uni- dades administrativas em que alguns países se dividem, os chamados fusos legais. DIA NOITE Polo Sul Polo Norte Leste Oeste © R afa el Sc hä ffe r G im en es /S ch äff er Ed ito ria l 3.2. Calculando os fusos: a lei de Aldrin É possível calcular a hora em certas localidades sem a uti- lização de um mapa, desde que se saiba sua longitude e o horário e a longitude de outro local, que será tomado como referência. O calculo é feito da seguinte maneira: § determina-se a diferença entre as longitudes dos dois lugares; § somam-se as duas longitudes caso estejam em hemis- férios diferentes; § subtraem-se as longitudes caso estejam no mesmo he- misfério; § o resultado deve ser dividido por 15º; § o resultado dessa divisão será a diferença entre os ho- rários de dois lugares. Esta deverá ser subtraída se o local estiver à oeste, ou somada, para leste. O método conhecido como lei de Aldrin determina a dife- rença de fusos horários entre dois locais. Principais siglas Sigla Significado Tradução Descrição GMT Greenwich Mean Time Tempo Médio de Greenwich Refere-se a Greenwich, onde ficou definida por convenção a base para cálculo inter- nacional de horário. ST Standard Time Tempo Padrão Hora oficial em cada fuso horário. DST Daylight Saving Time ou Summer Time Horário de Verão Alteração do horário de uma região, designado apenas durante uma porção do ano, adiantando-se em geral uma hora no fuso horário oficial local. UTC Coordinated Universal Time Tempo Universal Coordenado, tempo civil Os fusos horários são relativos a ele. 18 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 Principais siglas Sigla Significado Tradução Descrição UT Universal Time Tempo Universal Usado em astrono- mia, tem por base a rotação da Terra. IAT International Atomic Time Tempo Atômico Internacional Sua base são os relógios atômicos. A . M . / P.M. Ante Meridiem/ Post Meridiem (do latim) Antes do meio-dia/ Depois do meio-dia Usados por povos que consideram um ciclo de 12 horas. HL — Hora Legal Hora oficial do país. Fonte: Youtube Mapas do acaso – Engenheiros do Hawaí multimídia: música 3.3. Fusos horários do Brasil O Brasil possui quatro fusos horários devido à sua grande extensão longitudinal. A maior parte do território fica no se- gundo fuso (atrasado em 3 horas em relação a Greenwich), que corresponde à hora oficial do Brasil – ou horário de Brasília. Nesse fuso, estão incluídas as regiões Sul, Sudeste, Nordeste e parte das regiões Norte e Centro-Oeste. Para evitar a existência de dois fusos dentro do mesmo estado, o limite prático dos fusos acompanha a divisão política do país. Os fusos do Brasil são: § primeiro fuso (UTC-2): Atol das Rocas, Fernando de Noronha, Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Trindade e Martim Vaz; § segundo fuso – horário de Brasília (UTC-3): regi- ões Sul, Sudeste e Nordeste; estados de Goiás, Tocan- tins, Pará e Amapá; e o Distrito Federal; § terceiro fuso (UTC-4): estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e a parte do Amazonas que fica a leste da linha que interliga Taba- tinga e Porto Acre; § quarto fuso (UTC-5): estado do Acre e a porção do Amazonas que fica a oeste da linha. Durante os anos de 2008 a 2013 esse fuso horário foi excluído, passan- do a ser incorporado pelo terceiro fuso (UTC 4). Brasil: fuso horário Jet lag O jet lag (também conhecido como doença do fuso horário) é a perda de ritmo e concentração ao se passar por fusos horários diferentes em pouco tem- po. Seus sintomas consistem em irritabilidade, cefa- leia, taquicardia e alteração dos padrões de sono e fome. Esse tipo de alteração ocorre devido às mu- danças de hábitos (hora de comer e de dormir, por exemplo). Quando a diferença de horário entre o ponto de saída e o destino é superior a quatro horas, os efeitos do jet lag se tornam mais evidentes. Fonte: ibge. diSPonível eM: <httP://MaPaS.ibge.gov.br/ Politico-adMiniStrativo>. aceSSo eM: nov. 2014. 3.4. Horário de verão O chamado horário de verão foi criado para aproveitar os dias mais longos do verão nas regiões de média e alta latitudes. Cerca de 50 dias antes do solstício de verão, adianta-se o relógio em 1 hora. Com essa mudança, as pessoas passam a acordar mais cedo do quefariam normalmente. Uma pessoa que acorda às 8 horas, por exemplo, passa a acordar, no ho- rário de verão, o equivalente às 7 horas sem essa mudança. Como os dias são mais longos, já há iluminação natural nesse horário. Dessa forma, a claridade do dia é aprovei- tada desde seu início. No final da tarde, o Sol, que se poria normalmente às 19 horas, passa a se pôr às 20 horas. A Alemanha, em 1916, foi o primeiro país a adotar o ho- rário de verão. A partir daí, devido à Primeira Guerra Mun- dial, diversos países na Europa o adotaram. A economia de energia elétrica foi vista como um esforço de guerra, pro- CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 19 V O LU M E 1 piciando a economia de carvão, principal fonte de energia da época. Nos Estados Unidos foi mais difícil implementar o horário de verão devido à coincidência com a implanta- ção do sistema de fusos horários em 1918 (por ocasião da Primeira Guerra Mundial). No Brasil, ele foi adotado pela primeira vez em 1931, também com o objetivo de econo- mizar energia elétrica. Em abril de 2019, o presidente Jair Bolsonaro assinou o decreto que acabou com o horário de verão no Brasil. Fonte: Youtube Documentário - “Todo mapa tem um discurso” Levanta as principais questões simbólicas e práticas sobre as regiões marginalizadas que não pertecem ao mapa oficial da cidade. multimídia: vídeo Internacionalmente os estudos apontam três benefícios do horário de verão: economia de energia, redução de aciden- tes nos horários de pico do trânsito (que durante esse perí- odo possuem mais iluminação natural) e redução de assal- tos e crimes. No caso brasileiro, é possível acrescentar um importante benefício: a possibilidade de armazenamento de água nos reservatórios das hidrelétricas durante o verão para que essa água seja utilizada mais tarde, durante os meses secos do inverno. Fonte: Youtube Terra – Caetano Veloso multimídia: música No Brasil, a economia chegou a R$ 160 milhões, resultados verificados durante o horário de verão 2011/2012, uma redu- ção da demanda de ponta da ordem de 2.555 MW – sendo 1.840 MW no subsistema Sudeste/Centro-Oeste e 610 MW no subsistema Sul. O horário de verão aumenta a segurança e diminui os custos de operação do sistema, possibilitando a redução da tarifa de energia elétrica para o consumidor. No entanto, a prática recebeu tanto aplausos quanto críticas. Adiantar os relógios traz benefícios para o varejo, os esportes e outras atividades que exploram a luz do Sol depois da jor- nada de trabalho, mas pode trazer problemas para o entendi- mento da tarde e para outras atividades ligadas diretamente à luz solar, como a agricultura, por exemplo. Embora alguns dos primeiros proponentes do horário de verão tenham pen- sado que ele reduziria o uso de lâmpadas incandescentes durante a tarde – uma vez que a iluminação era o principal uso da eletricidade –, o clima moderno e os padrões de uso de aparelhos para refrigeração diferem bastante. As pesqui- sas em relação a como o horário de verão atualmente afeta o uso de energia têm sido limitadas e contraditórias. Às vezes, as mudanças causadas pela medida complicam a cronometragem e podem atrapalhar viagens, faturamen- tos, manutenção de registros, dispositivos médicos, equi- pamentos pesados e padrões de sono. Os softwares dos dispositivos contemporâneos podem frequentemente alte- rar o horário automaticamente, mas as mudanças de po- líticas por várias jurisdições de datas e horários do horário de verão podem ser confusas. No ano de 2019, o Governo Federal extinguiu o horário de verão no Brasil. www.inpe.br multimídia: sites 3.5. Horário de verão no mundo As sociedades industrializadas geralmente seguem um cro- nograma baseado em relógios nas atividades do dia a dia que não mudam no decorrer do ano. A coordenação do transporte público e os horários de início do trabalho e da escola, por exemplo, mantêm-se constantes durante o ano. Por outro lado, as rotinas de trabalho e conduta pessoal dos agricultores são geralmente governadas pelo tempo em que a luz solar está visível e pelo horário solar aparente, que pode mudar sazonalmente devido à inclinação axial da Terra. A luz do dia dos trópicos norte e sul dura mais no verão e menos no inverno, com o efeito tornando-se maior à medida que nos afastamos dos trópicos. 20 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 regiõeS que adotaM o horário de verão regiõeS que já adotaraM horário de verão, MaS não uSaM atualMente regiõeS que nunca adotaraM horário de verão Ao redefinir simultaneamente todos os relógios de uma região para uma hora adiante ao horário padrão, os indivíduos que seguem essa rotina vão acordar uma hora antes do que acordariam de outro modo; eles vão iniciar e completar as rotinas de trabalho uma hora antes e terão sessenta minutos extras da luz do dia depois da jornada de trabalho. No começo de cada dia, entretanto, haverá uma hora de luz a menos, o que torna a política menos prática. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 21 V O LU M E 1 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos. As representações gráficas há muito tempo são usadas pela disciplina geográfica, mas nem sempre propor- cionam resultados satisfatórios. Isso é decorrente, entre diversas razões, do uso de metodologias inadequadas para o ensino-aprendizagem. Às vezes, os mapas são usados para pintura ou até mesmo como meras ilus- trações de um texto, deixando de ser um material pedagógico. No caso dos gráficos, são pouco explorados por serem vistos como um material de difícil compreensão pelos alunos. A Geografia é uma ciência que utiliza mapas e gráficos para o estudo do espaço, assim, quanto melhor esse espaço for representado, melhor será en- tendido. De acordo com Passini, os ensinos de Geografia e de Cartografia são indissociáveis e complementares: a primeira é conteúdo e a outra é forma. Não há possibilidade de se estudar o espaço sem representá-lo, assim como não podemos representar um espaço vazio de informações (2007, p.148). As representações gráficas são significativas para entender textos, ideias e dados de forma eficaz e sintetizada. As- sim, elas devem comunicar as informações instantaneamente, através de imagens visuais de forma monossêmica, isto é, sem ambiguidade, permitindo uma única leitura. MODELO 1 (Enem) Os moradores de Utqiagvik passaram dois meses quase totalmente na escuridão Os habitantes desta pequena cidade no Alasca – o estado dos Estados Unidos mais ao norte – já estão acostumados a longas noites sem ver a luz do dia. Em 18 de novembro de 2018, seus pouco mais de 4 mil habitantes viram o último pôr do sol do ano. A oportunidade seguinte para ver a luz do dia ocorreu no dia 23 de janeiro de 2019, às 13h04 min (horário local). diSPonível eM: www.bbc.coM. aceSSo eM: 16 Maio 2019 (adaPtado). O fenômeno descrito está relacionado ao fato de a cidade citada ter uma posição geográfica condicionada pela a) continentalidade; b) maritimidade; c) longitude; d) latitude; e) altitude. ANÁLISE EXPOSITIVA A alternativa correta é [D], porque em razão da inclinação do eixo da Terra, as áreas de altas latitudes sofrem máxima variação de luminosidade nos solstícios de verão e inverno, resultando, dessa forma, em longas noites no inverno. As alternativas incorretas são: [A] e [B], porque maritimidade e continentalidade são reguladores térmicos e não de variação da incidência solar; [C], porque longitude é usada para cálculo de fuso horário; [E], porque altitude é um fator que não define a variação da incidência solar. RESPOSTA Alternativa D 22 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 DIAGRAMA DE IDEIAS FUSO HORÁRIO PADRONIZAÇÃO DO HORÁRIO MUNDIAL GREENWICH 0º (MERIDIANO CENTRAL) A HORA AUMENTA LESTE A HORA DIMINUI OESTE BRASIL 1º FUSO: -2 HORAS 2º FUSO: -3 HORAS 3º FUSO: -4 HORAS 4ºFUSO: -5 HORAS • EQUADOR • TRÓPICO DE CÂNCER • TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO • CÍRCULO POLAR ÁRTICO • CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO • GREENWICH • LINHA INTERNACIONAL DE MUDANÇA DE DATA • FUSO HORÁRIO MERIDIANOSPARALELOS LONGITUDELATITUDE COORDENADAS GEOGRÁFICAS CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 23 V O LU M E 1 1. Cartografia A cartografia é a ciência da representação gráfica da super- fície terrestre e tem como produto final o mapa. Entretan- to, os mapas e outros produtos realizados pela cartografia não são cópias fiéis da realidade. Eles só seriam a reprodu- ção fiel da realidade caso fossem exatamente do tamanho real da área mapeada, o que os tornaria inúteis e inviáveis. Com efeito, os mapas são sempre a representação de parte da realidade. É sempre necessário se perguntar o que um mapa quer representar e qual é o seu objetivo. Com isso, os cartógrafos utilizam alguns recursos que visam facilitar o entendimento e a interpretação das cartas. Mapa-múndi babilônico O primeiro mapa de que se tem registro foi feito numa tábua redonda de argila por volta de 2300 a.C. na re- gião da Mesopotâmia (atual Iraque). Era apenas uma representação de um rio, provavelmente o rio Eufra- tes, circundando montanhas. Outros registros, datan- do de 1000 a.C., foram encontrados em tumbas no Egito e representavam paisagens locais, trilhas e rios. A representação feita pelos babilônios é considerada o primeiro mapa-múndi da his- tória, por representar o mun- do na concepção de seus au- tores, mesmo que, na verdade, a Terra seja bem diferente do que foi registrado. É possível distinguir dois ramos dentro da cartografia: a sistemática e a temática. A cartografia sistemática tem como objetivo produzir mapas com o máximo de precisão possível, ou, ao menos, com distorções controladas. Os ma- pas topográficos, por exemplo, são produzidos pela carto- grafia sistemática. A cartografia temática, por sua vez, tem como objetivo a utilização de mapas de base, geralmente produzidos pela cartografia sistemática, para a representa- ção de temas variados da geografia física ou humana. Para expressar os dados são utilizados símbolos, cores, gráficos e as próprias formas e tamanhos das áreas representadas. 1.1. Histórico MaPa-Múndi de PtoloMeu, 1486 Desde épocas remotas até os dias atuais, o desenvolvimento da cartografia acompanhou o próprio progresso da civilização. NOÇÕES DE CARTOGRAFIA COMPETÊNCIA(s) 2 HABILIDADE(s) 6 CH AULAS 5 E 6 24 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 As guerras, as descobertas científicas, o desenvolvimento das artes e ciências e os movimentos históricos que exi- giam maior precisão na representação gráfica da superfície da Terra impulsionaram a evolução da cartografia. Mas foi na Grécia Antiga que se lançaram os primeiros fundamen- tos da ciência cartográfica, quando Hiparco (160-120 a.C.) utilizou, pela primeira vez, métodos astronômicos para determinar a superfície da Terra e deu a primeira solução do problema relativo ao desenvolvimento da superfície da Terra sobre um plano, idealizando a projeção cônica. Todo o conhecimento geográfico e cartográfico da Grécia Antiga se condensa nos escritos do geógrafo e cartógrafo grego Cláudio Ptolomeu de Alexandria (90-168 d.C.). Sua extraordinária obra em seis volumes apresenta os princípios da cartografia matemática, das projeções e dos métodos de observação astronômica. Mais tarde, com o advento da agulha magnética, tornou-se possível a exploração dos mares e se intensificou o comér- cio para o Leste. Deu-se início, então, à epopeia portuguesa dos descobrimentos. Além disso, Gutenberg inventou a im- prensa e foi fundada a Escola de Sagres. No século XIX, iniciou-se o levantamento hidrográfico do litoral brasileiro, um dos maiores destaques da história da cartografia náutica do Brasil. Já no século XX, o emprego da aerofotogrametria e a introdução da eletrônica no ins- trumental necessário para os levantamentos determinaram uma grande revolução na cartografia. A cartografia contemporânea busca acompanhar o progres- so em todos os ramos da atividade humana. Uma das princi- pais características do século XXI é uma produção em massa, no menor tempo possível e com precisão cada vez maior. 1.2. Definições de mapas e cartas MaPa do braSil – regiõeS Não existe uma diferença rígida entre os conceitos de mapa e carta, o que torna difícil estabelecer uma separação defini- tiva entre o significado dessas designações. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- tica (IBGE), “carta é a representação no plano, em escala média ou grande, dos aspectos artificiais e naturais de uma área tomada de uma superfície planetária, subdividida em folhas delimitadas por linhas convencionais – paralelos e meridianos – com a finalidade de possibilitar a avaliação de pormenores, com grau de precisão compatível com a escala”. Ainda segundo o IBGE, “mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área to- mada na superfície de uma figura planetária, delimitada por elementos físicos, político-administrativos, destinadas aos mais variados usos, temáticos, culturais e ilustrativos”. A distinção entre mapa e carta é um tanto convencional e subordinada à ideia de escala. Nota-se, contudo, certa pre- ferência pelo uso da palavra carta. Na verdade, o mapa é apenas uma representação ilustrativa e pode perfeitamen- te ser considerado um caso particular de carta. Dessa forma, o mapa é a representação da Terra, nos seus aspectos geográficos, naturais ou artificiais, que se destina a fins culturais ou ilustrativos. Assim, ele não tem caráter científico especializado e é geralmente construído em esca- la pequena, cobrindo um território mais ou menos extenso. Carta, por sua vez, é a representação dos aspectos naturais ou artificiais da Terra, destinada a fins práticos da atividade humana, permitindo a avaliação precisa de distâncias, dire- ções e localizações geográficas de pontos, áreas e detalhes. É, portanto, uma representação similar ao mapa, mas de caráter especializado, construída com uma finalidade espe- cífica e geralmente em escalas maiores. O mapeamento é o conjunto de operações de levantamen- to, construção e reprodução das cartas de determinado projeto. De acordo com a escala, é possível classificar os mapas e as cartas em: § cadastrais – escalas de 1:500 a 1:10.000; § topográficos – escalas de 1:25.000 a 1:250.000; § geográficos – escalas de 1:500.000 a 1:1.000.000. 1.3. Escala Uma enorme literatura discorre sobre a questão da es- cala em geografia e, amiúde, converge para alimentar um debate circular e tautológico. Atônitos, debruçamo- -nos sobre esse problema – será um problema? – e descobrimos a recorrência de três premissas centrais: a crítica à analogia da escala geográfica com a carto- gráfica e, com frequência, a ausência ou recusa à ela- CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 25 V O LU M E 1 boração de uma proposta metodológica alternativa; a afirmação de que o valor da variável muda com a esca- la e, por fim, a aceitação da escala como uma definição a priori na pesquisa geográfica. Silveira, Maria laura. eScala geográFica: da ação ao iMPério? reviSta terra livre, goiânia, ano 20. Pode-se definir escala como a relação entre o tamanho do fato geográfico representado no mapa e o seu tamanho real na superfície da Terra. Os mapas apresentam dois tipos de escala: § Escala numérica: representada por uma fração, na qual o numerador indica a distância no mapa, e o deno- minador indica a distância na superfície real. Uma escala 1:100.000 (um por cem mil) significa que a superfície re- presentada foi reduzida 100 mil vezes. Nesse caso, 1 cm no mapa = 100.000 cm = 1.000 m = 1 km na realidade. § Escala gráfica: é uma linha reta graduada, por meio da qual se indica a relação da distância real com as distâncias representadasno mapa. Por exemplo: 1 cm = 100 km. km 2 1 0 2 4 © César da Mata/ Schäffer Editorial A fórmula para calcular a distância real entre dois pontos em um mapa é D = E × d, em que D é distância real, d é a distância no mapa e E é a escala. Assim, em um mapa de escala 1:200.000, se a distância em linha reta entre dois pontos é de 20 cm (pode ser medida com a régua), qual a distância real entre esses pontos? D = 200.000 × 20 = 4.000.000 cm ou 40 km Para saber a distância no mapa, aplica-se a fórmula d = D : E. d = 4.000.000 ÷ 200.000 = 20 cm Quanto maior a escala, menor a área representada, o que possibilita a visualização de uma quantidade maior de detalhes. Veja alguns exemplos utilizados em mapas com suas escalas correspondentes: § Mapas de plantas cadastrais, usadas para identificação de lotes no espaço urbano: 1:1.000 a 1:2.000. § Mapas topográficos municipais: 1:5.000 a 1:20.000. § Mapas topográficos regionais: 1:50.000 a 1:250.000. § Mapas de grandes regiões brasileiras: 1:500.000 a 1:2.000.000. § Mapas de grandes países como o Brasil: escalas menores que 1:5.000.000. COMPARAÇÃO ENTRE ESCALAS Aplicação Área representada Tamanho da escala Nível de análise (número e quantidade dos pormenores) Área de território representado plantas de casas 1:100 grande escala (igual ou superior a 1:100.000) grande (muitos pormenores) pequena (menor área representada) escala descritiva 1:200 plantas de arruamentos 1:500 1:1.000 plantas de bairros, cidades ou aldeias 1:1.000 1:2.000 1:5.000 mapas de grandes propriedades (rurais ou industriais), províncias ou regiões 1:10.000 1:25.000 1:50.000 1:75.000 1:100.000 mapas de estados, países, continentes ou do mundo 1:800.000 pequena escala (inferior a 1/100000) pequena (poucos pormenores) grande (maior área representada) escala explicativa 1:10.000.000 1:90.000.000 1:600.000.000 26 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 2. Construção e interpretação dos mapas 2.1. Orientação no mapa A maioria dos mapas traz uma rosa dos ventos ou uma seta indicando o norte. Quando não há essa indicação, conven- cionou-se que o norte está na parte superior do mapa. N 2.2. Elementos de um mapa Um mapa representa o espaço a partir da visão vertical. Os mapas do tipo topográfico representam todos os elementos visíveis do espaço, como área urbana, agricultura, vias de transporte, hidrografia, tipos de vegetação, etc. Eles são ela- borados a partir de levantamentos topográficos realizados por empresas privadas ou órgãos governamentais, como o IBGE, e servem de base para outro tipo de mapa, o temático. Os mapas temáticos são representações de fenômenos na- turais (clima, relevo, rochas, etc.) ou socioeconômicos (popu- lação, indústria, urbanização etc.) mostrando seus aspectos quantitativos e/ou qualitativos. Um mapa deve conter: § Título: informa o tema que está sendo representado. § Legenda: mostra o significado dos símbolos e é impor- tante para explicar o que o mapa comunicou visualmente. § Escala: indica quantas vezes o mapa foi reduzido, possibilitando o cálculo das distâncias e das dimensões reais do espaço representado. 2.3. Representação do relevo Tanto o relevo terrestre quanto o submarino podem ser representados de várias formas – por cores (altitudes), ha- churas, blocos-diagramas, etc. No entanto, as formas mais usuais são as curvas de nível e o perfil topográfico. As cores convencionadas pela Carta Internacional do Mundo (CIM) para mostrar as altitudes são as hipsométricas (verde, amarelo, marrom, violeta, violeta-escuro e branco), que indi- cam as cotas acima do nível do mar, e as batimétricas (tom azul), que indicam as cotas abaixo do nível do mar. Alagoas: mapa hipsométrico Fonte: Governo do Estado de Alagoas. Acesso: Nov. 2014. Fonte: governo do eStado de alagoaS. aceSSo: nov. 2014. 2.4. Topografia e curvas de nível Em cartografia, curvas de nível, também denominadas isoípsas, são linhas que unem pontos de igual altitude na superfície representada. Os intervalos existentes entre es- sas linhas são equidistantes, ou seja, sempre possuem a mesma medida. exeMPlo de curva de nível e PerFil toPográFico A interpretação das curvas de nível exige o conhecimento de algumas noções básicas: § Quanto maior a declividade do terreno representado, mais próximas são as curvas de nível; elas são mais afas- tadas na representação de terrenos pouco íngremes. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 27 V O LU M E 1 § Há sempre a mesma diferença de altitude entre duas curvas de nível. § Pontos situados na mesma curva de nível têm a mesma altitude. § Os rios nascem nas áreas mais altas e correm para as áreas mais baixas. As curvas de nível raramente se cruzam e tendem a ser pa- ralelas entre si. O cruzamento só ocorre quando há algum tipo de acidente geográfico incomum, como um barranco, ou seja, quando elas se tocam, é porque uma determinada altitude encontra-se sobre a outra. Além dessas características, é possível notar que as curvas de nível jamais se bifurcam. Observe no exemplo abaixo: exeMPlo de uMa área Maior rePreSentada eM curvaS de nível Produzir mapas topográficos em curvas de nível, principal- mente de áreas extensas, requer muito trabalho na coleta de dados, como o das altitudes, envolvendo uma rigorosa pre- cisão matemática. Entretanto, com os avanços tecnológicos no campo da cartografia, tanto com a aerofotogrametria quanto com as projeções de satélites, muitas vezes esse tipo de mapa é produzido quase que automaticamente, o que facilita estu- dos geológicos e geomorfológicos da superfície terrestre. 2.5. Geomática: a cartografia computadorizada O século XXI traz consigo o uso generalizado da geomá- tica, definida pela International Standards Organization como “o campo de atividade que integra todos os meios utilizados para a aquisição e o gerenciamento de dados espaciais necessários às operações científicas, administrati- vas, legais e técnicas envolvidas no processo de produção e gerenciamento da informação espacial”. Em outras palavras, é possível definir a geomática como a ciência e a tecnologia de coletar, interpretar e utilizar infor- mações geográficas. Embora não seja um campo novo, a geomática representa uma evolução das técnicas cartográficas, abrangendo ou- tros recursos utilizados também pela cartografia, como a topografia, a geodésia e a aerofotogrametria, juntamente com novas técnicas de sensoriamento remoto, o GPS e o Sistema de Informação Geográfica (SIG). Ou seja, a geomá- tica utiliza dados coletados por satélites e por trabalho de campo que são reunidos e processados em computadores, gerando produtos como mapas digitais ou bases de dados. O resultado mais completo obtido com o uso das técnicas da geomática é o geoprocessamento ou SIG, que permite a superposição e o cruzamento de informações. Sua principal característica é integrar, em uma base única, informações diversas – imagens, dados cartográficos, populacionais, etc. – de forma que seja possível consultar, comparar e analisar essas informações, além de produzir mapas. 2.6. Aerofotogrametria Também denominada fotogrametria, é a técnica de ela- boração de cartas com base em fotografias aéreas e com a utilização de aparelhos e métodos estereoscópicos, que permitem a representação de objetos em um plano e sua visão em três dimensões. Alguns detalhes são essenciais para a representação de fotografias aéreas, como o tamanho e a forma da área es- tudada ou a tonalidade e as sombras existentes nas fotos. Os tipos de fotografias aéreas mais usados são os mosai- cos cartográficos, as montagens de fotografias aéreas e as ortofotocartas, imagens com escala precisa em que podem estar representadas curvas de nível, ruas, limites, etc. técnica de aeroFotograMetria Embora muito utilizado para fins de mapeamento, esse mé- todo, assim como qualqueroutro método de representação da superfície terrestre, oferece algumas limitações. Nesse caso, as limitações se referem à interpretação das imagens obtidas, que exigem perícia do intérprete para reconhecer e diferenciar objetos, principalmente porque a forma dos objetos (meio pelo qual se faz o reconhecimento) pode ser alterada de acordo com a perspectiva da máquina na hora do registro da imagem (fotografia) ou mesmo devido às 28 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 características de interação da radiação eletromagnética com o alvo ou o conjunto observador-sensor. Outra dificuldade dessa técnica está na instabilidade do voo, principalmente quando feito em uma região onde venta constantemente. Quando a aerofotogrametria é feita com o objetivo de mapear o local, é traçado um plano de voo, de for- ma que as fotos sejam tiradas “em faixas” que cubram, para- lelamente, todo o terreno. Para isso, o ideal seria manter o voo em linha reta e a uma altura constante, mas isso nem sempre é possível, o que causa pequenas distorções nas fotos. No Brasil, o levantamento aerofotogramétrico deve ser pre- viamente autorizado pelo Ministério da Defesa. Além disso, ele só pode ser realizado por empresas especializadas em tal finalidade ou por entidades do governo, devendo ser informa- das a localização e a área de abrangência do levantamento. 2.7. Sensoriamento remoto O sensoriamento remoto é uma tecnologia de obtenção de imagens e dados da superfície terrestre por meio da capta- ção e registro da energia refletida/emitida pela superfície, sem que haja contato físico entre o sensor e a superfície estudada (por isso é denominado remoto). Os sensores óptico-eletrônicos usados para a captura dessa energia funcionam como se fossem uma câmera fotográfi- ca (captam e registram a radiação – luz – emitida/refletida pelo objeto) que tirasse fotos da superfície terrestre, só que os sensores são um pouco mais sofisticados. As câmeras fotográficas convencionais captam apenas o espectro de luz visível (de ondas longas), já os sensores uti- lizados no sensoriamento remoto costumam captar outras bandas (uma delas é o infravermelho, que é muito impor- tante para o estudo das vegetações, por exemplo). Quando a imagem for capturada, ela será analisada, transformada em mapas ou constituirá um banco de da- dos georreferenciados, caracterizando o que é chamado de geoprocessamento. O satélite é o veículo mais utilizado para captura de ima- gens em sensoriamento remoto. Isso ocorre devido a sua melhor relação de custo-benefício, uma vez que ele pode passar anos em órbita da Terra. Satélites artificiais Sensores remotos podem ser colocados em aero- naves, foguetes e balões para obter imagens da superfície da Terra; contudo, essas plataformas são operacionalmente caras e limitadas. Uma solução para esse caso é utilizar satélites artificiais para instalar esses sistemas. Um satélite pode girar em órbita da Terra por um longo tempo e não preci- sa de combustível para isso; alem do mais, a sua altitude permite que sejam obtidas imagens de grandes extensões da superfície terrestre de forma repetitiva e a um custo relativamente baixo. Os sa- télites artificiais são plataformas estruturadas para suportar o funcionamento de instrumentos de di- versos tipos, e, por essa razão, elas são equipadas com sistemas de suprimento de energia (painéis solares que convertem a energia radiante do Sol em energia elétrica e a armazena em baterias), de controle de temperatura, de estabilização, de transmissão de dados, etc. 2.8. Tecnologia de posicionamento global (GPS) GPS é a abreviatura de Global Positioning System, em português, Sistema de Posicionamento Global. Trata-se de um sofisticado sistema de navegação e posiciona- mento global que informa com precisão a latitude, a longitude e a altitude de um local, permitindo o ma- peamento de rotas marítimas e terrestres, redes de transmissão de energia elétrica, correntes marítimas, ecossistemas, bem como o monitoramento de desastres ambientais em qualquer ponto. O GPS é constituído por três segmentos: espacial, de controle e utilizador. O espacial é composto por 24 saté- lites distribuídos em seis planos orbitais. O segmento de controle é responsável pelo monitoramento das órbitas dos satélites. Por fim, o segmento do utilizador é o recep- tor GPS, responsável pela captação dos sinais fornecidos pelos satélites. Esse sistema de navegação possibilita, por meio de satélites artificiais, a obtenção de informa- ções sobre a localização geográfica em qualquer lugar da superfície terrestre e em qualquer hora do dia. Atu- almente existem dois sistemas de posicionamento por satélite em pleno funcionamento: o GPS, desenvolvido e mantido pelos Estados Unidos, e o Glonass, desenvol- vido na Rússia. A China está desenvolvendo um sistema denominado Compass. O Galileo europeu é outro siste- ma em fase de implantação. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 29 V O LU M E 1 2.9. Sistema de Informações Geográficas (SIG) Trata-se de sistemas destinados ao tratamento de dados re- ferenciados espacialmente. Esses sistemas manipulam diver- sas fontes, como mapas, imagens de satélites, cadastros, etc., permitindo a recuperação e a combinação de informações, além da realização dos mais diversos tipos de análises. A sobreposição de mapas é uma maneira de se obter in- formações comparadas colocando um mapa sobre o outro. A sobreposição de um ou mais mapas é um recurso inte- ressante quando se busca apresentar e comparar diferen- tes dados e informações referentes a uma mesma região, em um único mapa. A representação de informações em mapas diferentes não impede a comparação entre elas; entretanto, a vantagem de sobrepô-las em um só mapa se deve à possibilidade de verificar exatamente os pontos ou as áreas de ocorrência de cada informação, facilitando a comparação visual entre elas. Fontes de Dados Camadas de Dados Arruamento Edi�cações Cobertura Vegetal Dados Integrados Fonte: Governo dos EUA, 2015. eSqueMa de uM Sig 3. A representação da Terra sobre uma superfície plana e sua problemática Ainda hoje, a cartografia se depara com um grande de- safio: mesmo considerando todos os processos científicos e tecnológicos de representações espaciais da Terra, a problemática é a representação com exatidão do planeta sobre uma superfície plana. A Terra é “esférica”, mas os papéis são planos. Com isso, representar em um desenho a superfície do planeta obri- ga a fazer ajustes para que um objeto tridimensional seja representado de forma bidimensional. Em outras palavras, toda e qualquer tentativa de representar uma geoide em uma superfície plana causa algum tipo de deformação. De modo geral, é possível afirmar que a única forma rigorosa de representar a superfície da Terra é por meio de globos, nos quais se conservam exatamente as posições relativas de todos os pontos, e as dimensões são apresentadas em uma escala única. Contudo, a representação “perfeita” da Terra e os detalhes que o mundo moderno exige obrigariam a construção de um globo de proporções gigantescas, tendo praticamente o mesmo tamanho da Terra, o que impossibili- ta o processo de tal representação. Os cartógrafos, buscando solucionar ou amenizar as mais diversas deformidades nas representações cartográficas da Terra, criaram as projeções cartográficas, que consis- tem em um conjunto de linhas que forma uma rede de coordenadas, sobre a qual são representados os elementos do mapa: terras, cidades, mares, rios, etc. Os sistemas de projeções cartográficas são classificados quanto ao tipo de superfície adotada e ao grau de deformação da superfície. Entretanto, é importante ressaltar que nenhum tipo de projeção escolhida para representar a Terra evitará deforma- ções. Elas valorizarão alguns aspectos da superfície represen- tada e farão com que as distorções sejam conhecidas. 4. Principais projeções cartográficas 4.1. Quantoà superfície 4.1.1. Projeção cônica A superfície terrestre é representada num cone envolvendo o globo terrestre. Os paralelos formam círculos concêntri- cos, e os meridianos são linhas retas que convergem para os polos. As deformações ocorrem à medida que se afas- tam do paralelo padrão (paralelo de contato com o cone). A projeção é utilizada para representar áreas continentais (como regiões e continentes). © César da Mata/Schäffer Editorial 30 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 © César da Mata/Schäffer Editorial 4.1.2. Projeção cilíndrica © Pearson Prentice Hall, Inc. A superfície terrestre é representada num cilindro envolven- do o globo terrestre. Os paralelos e os meridianos são linhas retas que convergem entre si. As deformações ocorrem à medida que se aumentam as latitudes. É geralmente utiliza- da para representações do globo, como mapas-múndi. 4.1.3. Projeção azimutal, plana ou polar Também denominada projeção plana, é uma projeção usada geralmente para a representação das áreas pola- res, pois parte sempre de um ponto para a representação da(s) área(s) – por isso é usada para pequenas áreas. Pode ser de três tipos: polar, equatorial e oblíqua (chama- da também de horizontal). Equador Equador © Cé sa r d a M ata /S ch äff er Ed ito ria l 4.2. Quanto às propriedades E possível minimizar as deformações ocorridas pela planifi- cação da superfície terrestre no que se refere às áreas, às dis- tâncias e aos ângulos, mas nunca aos três ao mesmo tempo. § Projeção conforme: preserva os ângulos e deforma as áreas. § Projeção equivalente: preserva as áreas e altera os ângulos. § Projeção afilática: não conserva propriedades, mas minimiza as deformações em conjunto (ângulos, áreas e distâncias). § Projeção equidistante: as distâncias se preservam, e as áreas e os ângulos (consequentemente, a forma) são deformados. 4.2.1. Projeção de Mercator ou cilíndrica conforme Conserva a forma dos continentes, direções e ângulos, mas altera a proporção das superfícies, principalmente as regiões de alta latitude. Essa projeção é a mais apropriada à navega- ção marítima. É denominada eurocêntrica (imperialista), uma vez que exagera de modo estratégico as latitudes de 60º N/S, causando, assim, uma deformidade de quase 100%. © C és ar da M ata /S ch äff er Ed ito ria l Projeção de Mecator 4.2.2. Projeção de Peters ou cilíndrica equivalente Conserva as áreas das superfícies representadas, apesar de distorcer suas formas. O alemão Arno Peters (1916-2002) considerava que os mapas eram uma das manifestações simbólicas da submissão dos países do Terceiro Mundo. Peters combateu a imagem de superioridade dos países do Norte representada nos planisférios derivados da projeção de Mercator. A sua argumentação era a de que todos os países deveriam ser retratados no mapa-múndi de forma fiel à sua área, isto é, de forma equivalente. © Cé sar da M ata /Sc hä ffe r E dit ori al Projeção de PeterS CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 31 V O LU M E 1 www.inpe.br multimídia: sites 4.2.3. Projeção de Robinson ou afilática Com o intuito de aperfeiçoar as características da projeção de Mercator nas superfícies das regiões de alta latitude, Ar- thur H. Robinson (1915-2004) criou, em 1963, a sua pro- jeção. Trata-se uma projeção afilática, que não preserva as áreas, as formas ou as distâncias. No entanto, as distorções não são muito extremas, produzindo assim um planisfério bem equilibrado em termos visuais. Observe que os me- ridianos são linhas curvas e os paralelos são linhas retas. © C és ar da M at a/ Sc hä ffe r E dit or ial Projeção de robinSon Gráficos e mapas – Marcelo Martinelli A proposta básica dessa obra volta-se para o ensino- -aprendizagem de gráficos e mapas. Destina-se, fun- damentalmente, aos estudantes de graduação interes- sados nessa temática. multimídia: livro 4.2.4. Projeção de Mollweide A projeção elaborada por Karl Mollweide (1774-1825) é do tipo equivalente, ou seja, conserva o tamanho das áreas, mas altera as suas formas. Nessa projeção, os paralelos são linhas retas, e os meridianos, linhas curvas. Sua área é proporcional à da esfera terrestre, tendo a forma elíptica. As zonas cen- trais apresentam grande exatidão, tanto em área quanto em configuração, mas as extremidades apresentam grandes distorções. Karl Mollweide, muito conhecido não somente pela projeção que elaborou, mas também pelas grandes rea- lizações no campo das equações matemáticas, buscava uma forma de corrigir a projeção de Mercator, uma vez que essa era muito útil para navegações, porém pouco recomendada para análises sobre os continentes por alterar as suas escalas. Projeção de Mollweide 4.2.5. Projeção de Goode, que altera a de Mollweide Trata-se de uma projeção descontínua, uma vez que ten- ta eliminar várias áreas oceânicas. Goode (1862-1932) coloca os meridianos centrais da projeção corresponden- do aos meridianos quase centrais dos continentes para alcançar maior exatidão. Projeção de goode 4.2.6. Projeção de Holzel Projeção equivalente, seu contorno elipsoidal faz referência à forma aproximada da Terra, que tem um ligeiro achata- mento nos polos. Projeção de holzel 32 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 VIVENCIANDO Mapoteca – Biblioteca Mário de Andrade A Mapoteca é formada por uma coleção especial com cerca de sete mil cartas geográficas e mapas políticos, histó- ricos, físicos e geológicos e ainda por cerca de 4.300 volumes de atlas históricos e geográficos. Vale destacar a coleção de 34 mapas e planos manuscritos do final do século XVIII, de várias partes do Brasil. Tam- bém estão disponíveis as plantas da cidade de São Paulo do período de 1810 a 1870, que constituem importante fonte de pesquisa para estudos históricos. O atendimento ou visitação voltado a essa coleção está localizado em sala do 1.º andar da Biblioteca Mário de Andrade, localizada na Rua da Consolação, número 94, no centro de São Paulo. Sala de conSulta de MaPaS. acervo da biblioteca Mário de andrade A Mapoteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é formada por um acervo em que o foco é a cartografia histórica, principalmente do Brasil. Ela retrata os traços geográficos que foram se delineando e definindo pelos grandes geógrafos, cartógrafos e viajantes. A maior parte do acervo foi doada pelo Imperador Dom Pedro II, chamada Coleção Teresa Cristina, tendo como principal destaque o Livro que dá razão do Estado do Brasil, de Diogo de Campos Moreno, ilustrado pelo cos- mógrafo João Teixeira Albernaz; e a segunda das maiores coleções foi doada pelo político e historiador Manuel Barata, enriquecida por mapas manuscritos, cartas náuticas e atlas de Gerard Van Keulen. Localizada na Avenida Augusto Severo, n.º 8, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Trata-se de um lugar fascinante para quem deseja se aprofundar nos estudos cartográficos. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 33 V O LU M E 1 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Qualquer mapa é uma representação geométrica plana bastante simplificada da superfície terrestre ou de uma parte dela, isto é, qualquer mapa é uma representação matemática da superfície terrestre geográfica. O n m A A’ N i M R P � A calculando aS MedidaS da terra Nos últimos tempos, a Matemática tornou-se mais relevante na Geografia para o desenvolvimento dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG). A modelagem matemática de diversos fenômenos na superfície da Terra abriu, por meio do SIG, um importante campo da disciplina, o que permitiu uma maior interação com outros ramos da Geografia, como hidrologia, climatologia, geomorfologia e geografia econômica. Ordenada y 7 x 6543210-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 -6 -5 -4 -3 -2 -1 6 5 4 3 2 1 A B E D F G C abscissa cálculo cartográFico 34 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 DIAGRAMA DE IDEIAS TÍTULO LEGENDAESCALA CARTOGRAFIA ELEMENTOS DO MAPA GEOMÁTICA • SIG • GPS • SENSORIAMENTO REMOTO • AEROFOTOGRAMETRIA CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 35 V O LU M E 1 O clima, entendido como a manifestação habitual da at- mosfera num determinado ponto, é um dos importantes recursos naturais à disposição do homem e foi conside- rado matéria de interesse comum da humanidade por decisão da ONU em 1989. É um dos principais fatores responsáveis pela repartição dos animais e vegetais sobre o globo. CONTI, joSé bueno; ANGELO-FURLAN, Sueli. Clima e Meio Ambiente – José Bueno Conti multimídia: livro 1. Clima e tempo É possível dizer que clima e tempo são a mesma coisa? Quando, em determinado momento do dia, afirma-se que está nublado ou abafado, o objetivo é se referir ao tempo, isto é, às condições atmosféricas ou meteorológicas num determinado momento. Como se sabe, as condições atmosféricas podem mudar de um instante para outro, e, nesse caso, o tempo já não será o mesmo. Em São Paulo, no verão, é muito comum o céu estar limpo às duas horas da tarde e desabar uma grande chuva às quatro horas. Isso significa que o tempo é algo momentâneo, de curta duração. Tempo é a condição atmosférica de um de- terminado lugar em um dado momento. Contudo, quando se afirma que Manaus é uma cidade quente e úmida, o intuito é se referir ao clima dessa cidade, ou seja, ao seu modo permanente de ser. Manaus é e con- tinuará sendo uma cidade quente e úmida. O clima é algo duradouro, permanente, que não muda de um momento para outro. Clima é a sucessão habitual dos tipos de tempo num determinado lugar da superfície terrestre. Para tentar estabelecer o clima de um local, é preciso observar os pa- drões do tempo durante, no mínimo, trinta anos, o que é chamado de normal climatológica. É importante conhecer cada vez mais sobre as condições do tempo de uma determinada região, cidade ou país. Hoje em dia, aparelhos ultraprecisos e o uso de imagens de satélite indicam as condições do tempo dentro de um certo período. Assim, é possível prever a formação de fu- racões e seu deslocamento, a chegada de frentes frias, as tempestades de neve, os períodos de estiagem ou de chuvas intensas, as geadas e muitos outros fenômenos. Isso possibilita que se tomem atitudes preventivas para minimizar os efeitos de tais fenômenos, além de permitir que se saiba a intensidade com que eles se darão. Por exemplo, em 1975, o Brasil teve uma grande quebra na safra de café devido a uma geada fortíssima que arrasou os cafezais no Sudeste e áreas do Centro-Oeste. Os pre- juízos foram incalculáveis. Fonte: Youtube Segue o seco – Marisa Monte multimídia: música ELEMENTOS DO CLIMA E FATORES CLIMÁTICOS COMPETÊNCIA(s) 6 HABILIDADE(s) 30 CH AULAS 7 E 8 36 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 O que é a normal climatológica? Normal climatológica é o valor padrão reconhecido de um elemento meteorológico, considerando a mé- dia de sua ocorrência em uma determinada região, por um número determinado de anos. “Normal” sig- nifica a distribuição dos dados dentro de uma faixa de incidência habitual. Os parâmetros podem incluir temperaturas, pressão, precipitação, ventos, tempo- rais, quantidade de nuvens, porcentagem de umidade relativa, entre outros. As normais compreendem até então três momentos: § 1901-1930: primeira normal climatológica § 1931-1960: segunda normal climatológica § 1961-1990: terceira normal climatológica § 1991-2020: quarta normal climatológica (ainda em avaliação e registro) Sempre que se afirma que determinado dia, mês, esta- ção ou ano foi seco ou úmido, é preciso comparar com a média climatológica do local. Atualmente, a ocorrência de geadas é previsível pelos servi- ços de meteorologia, e o alerta faz com que os agricultores tomem providências para que elas não destruam as plan- tações. Apesar do aperfeiçoamento da técnica da previsão meteorológica, ainda não é possível obter informações e dados que permitam fazer previsões de longa duração. O que é tempo atmosférico? Tempo atmosférico ou meteorológico é o estado atual da atmosfera em uma determinada região e instante, sendo caracterizado pelas condições de temperatura, umidade, nebulosidade, deslocamento do ar (vento), radiação, chuva, etc. Como essas variáveis são dinâ- micas, o tempo sofre constantes modificações. A palavra “clima“ deriva do grego e significa “inclina- ção”, referindo-se à curvatura da Terra, que condiciona em grande parte os diferentes tipos climáticos terrestres. Fonte: Youtube Chove chuva – Jorge Ben Jor multimídia: música 1.1. Elementos do clima Os elementos do clima são grandezas (variáveis) que cons- tituem o estado da atmosfera. Esse conjunto de variáveis descreve as condições atmosféricas em uma dada região e instante. São eles: 1.1.1. Radiação solar Uma parte da energia em forma de radiação eletromagné- tica emitida pelo Sol é interceptada pelo sistema Terra-at- mosfera e convertida em outras formas de energia, como calor e energia cinética da circulação atmosférica. A ener- gia solar não é distribuída igualmente sobre a Terra. Cada camada absorve uma quantidade diferente de radiação solar. Ao chegar à Terra, a radiação é parcialmente absorvi- da pelos gases que compõem a atmosfera, pelo vapor de água e por partículas sólidas em suspensão. Outra parcela é absorvida pela superfície e irradiada para a atmosfera na forma de calor que aquece a troposfera. Essa distribuição desigual é responsável pelas correntes oceânicas e pelos ventos que, transportando calor dos trópicos para os polos, procuram atingir um balanço de energia. As causas dessa distribuição desigual são: os mo- vimentos da Terra em relação ao Sol, a distribuição das superfícies sólidas e líquidas (a água absorve e libera calor mais lentamente) e a configuração do relevo. As estações são causadas pela inclinação do eixo de rota- ção da Terra. Essa inclinação faz com que a orientação da Terra em relação ao Sol mude continuamente enquanto a Terra gira em torno do Sol. Por exemplo, o hemisfério sul se inclina para longe do Sol durante o inverno brasileiro e em direção ao Sol durante o verão. Isso significa que a altura do Sol, ou seja, o ângulo de elevação do Sol acima do horizonte, para uma dada hora do dia (ao meio-dia, por exemplo) varia no decorrer do ano. No hemisfério de verão as alturas do Sol são maiores, os dias mais longos e há mais radiação solar. No hemisfério de inverno, as alturas do Sol são menores, os dias mais curtos e há menos radiação solar. A quantidade total de radiação recebida depende não apenas da duração do dia como também da altura do CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 37 V O LU M E 1 Sol. Como a Terra é curva, a altura do Sol varia com a lati- tude. Quanto menor a altura solar, mais dispersa e menos intensa será a radiação. Outro fator importante que determina a distribuição desigual de energia solar pela superfície é o albedo. Albedo Ao incidir sobre qualquer corpo, a radiação solar vai, em maior ou menor quantidade, sofrer uma mudança de direção, sendo reenviada para o espaço por refle- xão. A fração de energia refletida por uma superfície em relação ao total de energia nela incidente (expres- so em percentagem) é conhecida como albedo. Veja os albedos de diferentes superfícies: Tipos de superfície Albedos mínimos Albedos máximos Água profunda 0,04 0,08 Solo úmido escuro 0,05 0,15 Solo claro 0,15 0,25 Solo seco 0,20 0,35 Área branca 0,30 0,40 Grama, vegetação baixa 0,15 0,25 Savana 0,20 0,30 Floresta 0,10 0,25 Neve 0,35 0,90 A variabilidade do albedo pode ser explicada pelo uso do solo ou pela composição das superfícies. Dessa for- ma, a neve tem um dos maiores índices de albedo, devido à sua superfície branca, que reflete de maneira eficiente os raios solares incidentes. Já o asfalto tem um dos menores índices de albedo devido à sua co- loração e composição. Isso faz comque ambientes urbanos sejam muito desconfortáveis termicamente. www.inmet.gov.br multimídia: sites 1.1.2. Temperatura do ar Calor e temperatura são conceitos distintos. Calor é defini- do como a energia cinética total dos átomos e moléculas que compõem uma substância. Temperatura é a medida da energia cinética média das moléculas ou átomos individuais. A temperatura de um copo de água fervente, por exemplo, é a mesma que a da água fervente de um balde. Entretanto, o balde de água fervente possui mais energia que o copo de água, ou seja, a quantidade de calor depende da massa do material, a temperatura não. A temperatura do ar é variável de acordo com os seguintes fatores: radiação solar, massas de ar, aquecimento diferencial do continente e da água, cor- rentes oceânicas, altitude e posição geográfica. No inverno, o desconforto humano com o frio é inten- sificado pelo vento, que afeta a sensação de tempera- tura. O vento não apenas aumenta o resfriamento por evaporação, mas também aumenta a taxa de perda de calor sensível devido à constante troca de ar aque- cido junto ao corpo por ar frio. Fonte: Youtube Felicidade – Marcelo Jeneci multimídia: música 1.1.3. Umidade do ar Trata-se da presença de vapor de água no ar. As principais maneiras de descrever quantitativamente a presença de vapor d’água no ar são a umidade absoluta e a umidade relativa (U.R.), que é a relação entre a quantidade de água 38 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 existente no ar (umidade absoluta) e a quantidade máxima que poderá haver na mesma temperatura (saturação). Isso significa que, em vez de indicar a real quantidade de vapor de água no ar, esse índice indica quão próximo o ar está de se tornar saturado. Quando o ar está saturado, a umidade relativa é de 100%. Veja o gráfico: Variação diurna de temperatura e da U.R. TE M PE RA TU RA (° C ) U M ID A D E RE LA TI VA 10 10 108 8 8 6 6 6 4 4 4 2 2 2 - 2 0 12 12 12 14 16 50% 60% 70% 80% PMAM Umidade Relativa Temperatura O gráfico mostra que em temperaturas mais elevadas é ne- cessário mais vapor d’água para atingir a saturação. 1.1.4. Precipitação Em meteorologia, precipitação descreve qualquer tipo de fenômeno relacionado à queda de água do céu. Isso inclui neve, chuva e chuva de granizo. A precipitação é uma parte fundamental do ciclo hidrológico, sendo responsável por retornar a maior parte da água doce ao planeta. Como se formam as nuvens? As nuvens são formadas por gotículas de água conden- sada, oriunda da evaporação da água na superfície do planeta, ou cristais de gelo que se formam em torno de núcleos microscópicos, geralmente de poeira sus- pensa na atmosfera. Depois de formadas, as nuvens podem ser carregadas pelo vento, tanto no sentido ascendente quanto descendente. Quando a nuvem é forçada a se elevar, ocorre um resfriamento e as gotí- culas de água podem ser total ou parcialmente conge- ladas. Quando os ventos forçam a nuvem para baixo, ela pode se dissipar pela evaporação das gotículas de água. Dessa forma, a constituição da nuvem depende de sua temperatura e altitude. Ela pode ser formada por gotículas de água e cristais de gelo ou, exclusiva- mente, por cristais de gelo em suspensão no ar úmido. Existem vários tipos de nuvem, entre eles: § Cirrus: aspecto delicado, sedoso ou fibroso, cor branca brilhante. Ficam a 8 mil metros de altitu- de, numa temperatura a 0 °C. Por isso são cons- tituídas de microscópicos cristais de gelo. § Stratus: muito baixas, em camadas uniformes e suaves, cor cinza; coladas à superfície formam o nevoeiro; apresentam topo uniforme (ar estável) e produzem chuvisco (garoa). § Cumulus: são massas individuais com contornos bem definidos; apresentam precipitação em for- ma de pancadas. 1.1.5. Tipos de chuvas A quantidade de vapor de água que o ar é capaz de reter antes de ele condensar (ou seja, transformar-se em gotícu- las de água e formar nuvens, nevoeiros ou chuva) depende da temperatura do próprio ar: quanto mais quente, maior a quantidade de vapor de água que o ar suporta sem con- densar. Quando o ar condensa e forma nevoeiro (próximo à superfície) ou uma nuvem (em alturas mais elevadas), a umidade relativa do ar é 100%, pois ele já está saturado, isto é, já tem todo o vapor de água que pode conter naque- la temperatura. À medida que o ar esquenta, sem a adição de mais vapor de água, a quantidade de vapor que o ar comporta antes de condensar também aumenta e, assim, a umidade relativa do ar cai. rePreSentação doS diFerenteS tiPoS de chuva § As chuvas convectivas ou de convecção (I) são típicas da região intertropical, principalmente na Zona Equatorial, e de verão, no interior dos continentes, de- vido às altas temperaturas. O calor do Sol esquenta o ar, que tende a subir e a esfriar enquanto sobe. Dessa forma, o vapor de água contido no ar esfria e precipi- ta. A evaporação também é intensa; assim, esse ar que sobe carrega muita umidade; à medida que aumenta a quantidade de vapor no ar, aumenta também a instabi- lidade, ou seja, o ar está à beira de atingir o ponto de sa- turação. A umidade elevada de tal forma atingirá níveis muito altos por volta das 15/16 horas, desencadeando tempestades e aguaceiros. A chuva manifesta-se inten- samente e é de curta duração, sendo fácil identificá-la, CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 39 V O LU M E 1 pois decorrem de nuvens brancas, densas e algodoadas, os cúmulos. Quando há muita umidade, o branco torna- -se cinza-escuro e a nuvem ganha o nome de cumulo- nimbus, que verterá sua carga de modo particularmente intenso, acompanhada de tormenta, raios e, às vezes, granizos. As chuvas são ditas de convergência, pois as massas de ar sobem com a ajuda de ventos alísios, que convergem para as áreas equatoriais. § As chuvas frontais (II) resultam do encontro de duas massas de ar com características distintas de temperatura e umidade. A partir desse choque, a massa de ar quente sobe e o ar esfria, aproximando-se do ponto de satu- ração, originando nuvens e, é claro, chuva. São do tipo chuvisco, à passagem de uma frente quente; e do tipo aguaceiro, de frente fria. Essas precipitações são típicas em áreas de baixa pressão, principalmente nas zonas dos trópicos ou temperadas, onde ocorrem o encontro das massas de ar polares com as massas de ar tropicais. Caracteriza-se uma frente fria quando ocorre precipita- ção pelo ar frio procedente dos polos. Contudo, também poderá ser causada por um processo oposto: uma frente quente e úmida que atropela massas de ar em região fria. § As chuvas orográficas ou de relevo (III) são as que derivam de uma subida forçada do ar, quando, no seu trajeto, apresenta-se uma cadeia de montanhas. Ao subir, o ar esfria, o ponto de saturação diminui, a umidade relativa aumenta e dá-se a condensação e, consequentemente, a formação de nuvens e chuva. Essas chuvas são frequentes nas áreas de relevo aci- dentado, ao longo de serras, de onde sopram ventos úmidos. Um bom exemplo de obstáculo orográfico é a Serra do Mar em São Paulo. Processos de saturação em baixos níveis § Orvalho ou sereno: é um fenômeno físico que resulta da condensação de vapores d’água pre- sentes no ar; os vapores formam gotículas quando entram em contato com superfícies de temperatu- ra mais baixa. § Geada: quando a temperatura do ar está abai- xo da temperatura de congelamento, o vapor d’ água sublima (passa do estado gasoso direto para o sólido) e forma uma fina camada de cris- tais de gelo nas superfícies ou nas folhagens ex- postas. As condições ideais para a formação de geada são: advecção da Massa Polar Atlântica (mPa), relevo baixo (ar frio acumulado), céu sem nuvens, sem vento e ar limpo. § Neblina ou nevoeiro: forma-se quando o ar quente e úmido entra em contato com o solo frio e perde calor em forma de vapor. Na neblina, é possível ter uma visibilidade para além de 1 km. No nevoeiro, a visibilidadeé menor. 1.1.6. Pressão atmosférica Trata-se da força exercida pelo ar em um determinado ponto da superfície. Está intimamente relacionada à tem- peratura, ao vapor d’água, à altitude e à latitude. As altas pressões resultam da descida do ar frio. A rotação da Terra faz o ar, ao descer, circular à volta do centro de alta pressão. Quanto mais baixa a altitude, maior a pressão atmosféri- ca. As baixas pressões são causadas pela elevação do ar quente. À medida que o ar, ao subir, arrefece, o seu vapor de água transforma-se em nuvens, que podem produzir chuva, neve ou tempestade. Quando o ar quente se eleva, cria-se, por baixo dele, uma zona de baixa pressão. Baixas pressões normalmente significam tempestades. Ao mesmo tempo, existe ar superior que se desloca para substituir o ar quente em elevação, o que dá origem aos ventos. Força de Coriolis A força de Coriolis é provocada pelo movimento de rotação da Terra. Ela altera o movimento de um corpo para a direita, no hemisfério norte, e para a esquerda, no hemisfério sul. Como isso ocorre? É que o planeta gira com uma velocidade angular constante. Assim, quando um objeto que não esteja conectado à Terra se move para o norte ou para o sul, a velocidade de rotação do planeta vai interferir na posição final do objeto. Por exemplo, imagine uma viagem de avião em linha reta de São Paulo a Brasília. Como o planeta gira de oeste para leste, se a rotação da Terra não for compensada e o voo prosseguir numa trajetória retilí- nea, a aeronave poderá chegar a Goiânia, cidade que está à esquerda do destino original, e não a Brasília. 40 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS VIVENCIANDO 1.1.7. Velocidade e direção do vento O vento consiste na circulação da atmosfera. Os ventos são denominados a partir da direção de onde eles sopram. Um vento norte sopra do norte para o sul; um vento leste sopra de leste para oeste. Assim, a direção do vento é o ponto cardeal de onde vem o vento: N, NE, E, SE, S, SW, W e NW. As medidas básicas do vento referem-se à sua direção e velocidade. 2. Fatores climáticos Os fatores climáticos são os agentes causais que condicio- nam os elementos do clima. Fatores geográficos como lati- tude, altitude, continentalidade/maritimidade e tipos de cor- rente oceânica (fria ou quente) interferem nos elementos do clima. A radiação solar, embora anteriormente considerada como um elemento do clima, também pode ser considerada como um fator climático, uma vez que pode influenciar na variação diária da temperatura do ar. 2.1. Latitude Quanto maior a latitude (distanciamento do equador), mais baixa a temperatura e maior a pressão atmosférica. Como no equador os raios solares incidem perpendicularmente à superfície, o aquecimento do ar é maior e, sendo ele mais quente, a pressão atmosférica é mais baixa. Assim, a varia- ção latitudinal estabelece uma divisão do globo em cinco zo- nas térmicas: zona tropical, temperada do norte, temperada do sul, glacial Ártica e glacial Antártica. 2.2. Altitude A altitude interfere nas condições climáticas à medida que varia. Quando há um aumento da altitude, a temperatura cai a uma razão de 0,5º a 1º a cada 100 metros aproxima- damente. A pressão atmosférica também diminui com o aumento da altitude, isso porque ocorre uma rarefação do ar, que, mesmo sendo mais frio, exerce pequena pressão sobre a superfície. O aumento da altitude faz com que o ar se torne mais ra- refeito e frio. Apesar de os dois ramos do conhecimento possuírem um caráter interdisciplinar, a Meteorologia costuma estar mais atrelada à Física, enquanto a Climatologia é mais relacionada à Geografia. Entretanto, um bom climatologista e um bom meteorologista precisam possuir um amplo conhecimento sobre ambas as áreas. Uma dica importante para facilitar a compreensão dos temas estudados é observar e procurar entender, durante uma viagem para a praia ou para altitudes elevadas, alguns fatores climáticos e como eles influenciam nas atividades do dia a dia dos moradores das diferentes localidades observadas. Outra dica é observar os mapas meteorológicos dos telejornais. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 41 V O LU M E 1 2.3. Massas de ar As massas de ar são grandes porções atmosféricas que pos- suem características próprias de temperatura e umidade. A formação das massas de ar está relacionada à influência que recebem das áreas onde se originam. Por exemplo, se uma grande porção atmosférica tem sua origem no oceano, ela será úmida e, se ainda for uma região tropical, será quente. Essas grandes massas de ar se deslocam dos locais de maior pressão para os locais de menor pressão, o que produz o encontro delas. Nesse encontro, elas não se misturam, isto é, uma empurra a outra de tal forma que aquela que avança com mais intensidade faz com que a outra retroceda, impon- do ao meio ambiente suas características. A zona de contato entre duas massas de ar distintas recebe o nome de frente ou superfície frontal. 2.4. Correntes marítimas Correntes marítimas são porções dos oceanos que possuem velocidade, salinidade, temperatura e densidade próprias. São muito importantes, pois são responsáveis pelo equilí- brio térmico (distribuição da temperatura) na Terra. Podem ser quentes ou frias, dependendo da região geográfica em que se originam. As correntes quentes correm das regiões tropicais para as altas latitudes, amenizando o clima nessas regiões, e as correntes frias originam-se nas áreas polares e correm para as zonas quentes, causando queda de tem- peratura. Elas interferem também na umidade do ar, pois, quando as massas de ar quente passam sobre uma corren- te fria, resfriam-se, ocorrendo condensação e chuvas. Veja a figura a seguir. Todas as regiões litorâneas são banhadas por correntes marinhas. O mar realiza uma função termorreguladora so- bre o clima do litoral. 2.5. Maritimidade e continentalidade A distribuição das massas líquidas (oceanos) e das mas- sas sólidas (continentes) às vezes exerce influência inten- sa na temperatura, pois o comportamento térmico das rochas (meio sólido) é diferente do comportamento da água (meio líquido). Os continentes aquecem e esfriam mais rapidamente que os oceanos. A consequência disso é que as variações de temperatura (amplitude térmica) nos primeiros são mais acentuadas do que nos segun- dos, que aquecem e perdem calor mais lentamente. Nas regiões próximas ao litoral, por exemplo, o calor liberado pelos oceanos ajuda a manter as temperaturas mais ele- vadas durante a noite nas estações mais frias, quando a insolação é menor. Esse fenômeno é denominado efeito de maritimidade. Já as regiões afastadas do mar sofrem o efeito de continentalidade: a superfície, por irradiação, perde rapidamente o calor recebido da insolação, por isso registra amplitudes térmicas maiores. O mar funciona como um verdadeiro regulador térmi- co devido à sua grande capacidade de aquecimento e perda de calor muito mais lento que o das áreas continentais. Essas diferenças de temperatura, entre as massas de águas oceânicas e os continentes, e a velocidade de aquecimento e resfriamento, são fundamentais para a mecânica de mo- vimentação do ar na atmosfera e das águas nos oceanos, que recobrem dois terços do planeta. À noite ocorre uM ProceSSo inverSo ao que Se veriFica durante o dia: a briSa MarítiMa. 2.6. Relevo A configuração e a disposição do relevo (efeito orográfico) podem causar interferências sobre o clima, na medida em que facilitam ou dificultam a circulação do ar atmosférico. Em algumas regiões do planeta, são encontrados verdadei- ros obstáculos à penetração das massas de ar. 42 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 Nos EUA, por exemplo, a costa oeste é ocupada pelas ca- deias orogênicas terciárias das montanhas Rochosas, que dificultam a penetração de umidade do Pacífico, tornando o clima do oeste estadunidense árido e semiárido. Outroexemplo da interferência do relevo ocorre na América do Sul. O corredor formado pelas planícies e pelas terras bai- xas situadas entre os Andes e os planaltos do Leste, como o Pantanal e a Amazônia, facilita a passagem de ar polar durante o inverno no hemisfério sul, causando o fenômeno da friagem na Amazônia ocidental. 2.7. Vegetação As florestas tropicais, como a floresta Amazônica, são um exemplo de como a vegetação influencia no clima. Por cau- sa da umidade, elas propiciam um maior índice de chuvas nessas regiões fazendo baixar as temperaturas. Além disso, quanto mais densa for a vegetação, mais dificuldade have- rá para os raios solares chegarem à superfície. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 43 V O LU M E 1 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas. Desde quando a humanidade passou a se organizar em grandes comunidades, ela alterou a natureza de forma a assegurar a sobrevivência e garantir o próprio conforto. A agricultura, a pecuária e a construção de cidades, por ex- emplo, modificam diretamente a natureza. Dessa forma, transformam características geográficas, como vegetação, permeabilidade do solo, absortividade e refletividade da superfície terrestre, além de alterar as características do solo, do ar atmosférico e das águas, tanto pluviais e fluviais como subterrâneas. A alteração do espaço preexistente para a habitação humana, na criação de cidades e grandes metrópoles, causa variação climática de diversas formas. As grandes cidades e metrópoles possuem diferenças climáticas fundamentais das áreas de campo próximas. As temperaturas de verão e inverno são maiores, a umidade relativa é menor, a quantidade de poluentes no ar é muitas vezes maior, a quantidade de nuvens e nevoeiro e as precipitações são maiores do que em áreas de campo próxi- mas; já a velocidade dos ventos e a radiação diminuem. Assim, pode-se concluir que as modificações no ambiente para a instalação de cidades densamente povoadas causam alterações no clima e na qualidade ambiental percebi- da. Problemas como chuvas intensas e torrenciais, inundações, queda de morros, ventania em determinados locais, assim como a instabilidade climática são efeitos da alta densidade populacional e das transformações ambientais. MODELO 1 (Enem) Em 1872, Robert Angus Smith criou o termo “chuva ácida”, descrevendo precipitações ácidas em Man- chester após a Revolução Industrial. Trata-se do acúmulo demasiado de dióxido de carbono e enxofre na atmosfera que, ao reagirem com compostos dessa camada, formam gotículas de chuva ácida e partículas de aerossóis. A chuva ácida não necessariamente ocorre no local poluidor, pois tais poluentes, ao serem lançados na atmosfera, são levados pelos ventos, podendo provocar a reação em regiões distantes. A água de forma pura apresenta pH 7, e, ao contatar agentes poluidores, reage modificando seu pH para 5,6 e até menos que isso, o que provoca reações, deixando consequências. diSPonível eM: httP://www.braSileScola.coM. aceSSo eM: 18 Maio 2010 (adaPtado). O texto aponta para um fenômeno atmosférico causador de graves problemas ao meio ambiente: a chuva ácida (pluviosidade com pH baixo). Esse fenômeno tem como consequência a) A corrosão de metais, pinturas, monumentos históricos, destruição da cobertura vegetal e acidificação dos lagos. b) A diminuição do aquecimento global, já que esse tipo de chuva retira poluentes da atmosfera. c) A destruição da fauna e da flora e redução de recursos hídricos, com o assoreamento dos rios. d) As enchentes, que atrapalham a vida do cidadão urbano, corroendo, em curto prazo, automóveis e fios de cobre da rede elétrica. e) A degradação da terra nas regiões semiáridas, localizadas, em sua maioria, no Nordeste do nosso país. ANÁLISE EXPOSITIVA O exercício demonstra como o fenômeno da chuva ácida é um grave problema de degradação ambiental que teve origem a partir do grande crescimento dos centros urbanos altamente industrializados. A produção industrial tem sido crescente desde o século XIX, e, com isso, a atmosfera recebe quanti- dades crescentes de gases do efeito estufa e resíduos industriais variados. A chuva ácida é um exemplo desse tipo de poluição. RESPOSTA Alternativa A 44 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 DIAGRAMA DE IDEIAS ELEMENTOS DO CLIMA (VARIÁVEIS) FATORES CLIMÁTICOS (MODIFICAM OS ELEMENTOS) VEGETAÇÃO PRECIPITAÇÃO RADIAÇÃO SOLAR LATITUDE PRESSÃO ATMOSFÉRICA MASSA DE AR MARITIMIDADE E CONTINENTALIDADE RELEVO UMIDADE TEMPERATURA ALTITUDE VENTO CORRENTES MARINHAS GEOGRAFIA GEOGRAFIA 2 LIVRO TEÓRICO 46 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS É importantíssimo que o aluno considere todos os temas possíveis de exercícios, sempre, é claro, dando ênfase às relações destes temas com o cotidiano. Atentem-se ao tema “recursos minerais” combinado com macroestructuras geoló- gica, a FUVEST adora essa relação. Podemos esperar da Unicamp questões para todos esses temas. O candidato deve, entretanto, atentar-se mais nos conceitos de geologia.. Para a UNIFESP, geografia física não é uma surpresa. Temas como geologia aparecem em questões que também traram de meio ambiente e recursos minerais A Unesp explora muito bem os principais conceitos, chamando atenção para as questões ambientais relacionadas aos temas das aulas. Os temas desta frente não aparecem bem distribuídos na prova do Einstein, mas mesclados em uma mesma questão, como em questões cuja base conceitual é geologia e as alternativas pedem um conhecimento de pedologia. Dois temas importantes que são pe- didos neste vestibular são geologia e geomorfologia. É importante estudar os principais conceitos sobre relevo e base geológica, pois as alternativas exigem um entendimento bem específico que podem levar o candidato ao erro.s. Essa prova costuma propor questões que relacionam os fenômenos físicos aos impactos ambientais. Leituras, interpreta- ções de notícias e textos científicos se so- mam às questões com muita frequência. As últimas provas demonstraram pouco interesse nesta frente, com raras ques- tões relacionadas à geologia e solos, de modo geral. A base de formulação das questões da UEL quase sempre está em tópicos re- gionais, muitas vezes se sobrepondo às de geografia física de outras regiões do Brasil e do mundo. Como a Geografia tem um perfil mul- tidisciplinar, é importante dedicar-se aos conceitos desta frente, de maneira integrada, sempre compreendendo os conteúdos em escala local. Este vestibular não apresenta em seu edital mais recente e nem exige nas provas dos últimos vestibulares questões relacionadas à disciplina de Geografia. Dos temas desta frente, os mais recor- rentes em provas da UERJ são Geomor- fologia e Geologia, sendo que, neste último, o aluno necessita compreender uma carga conceitual muito extensa, principalmente no que se refere à escala geológica e aos acontecimentos mais importantes. A dica para o conteúdo desta frente é compreender os elementos físicos e esta- belecer uma conexão com os problemas ambientais. O vestibular Souza Marques apresentou, nos últimos anos, uma tendência a inserir questões relacionadas à geografia física, de forma bem equilibrada. Observa-se uma concentração de temas sobre as forças estruturais e esculturais da geo- morfologia. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 47 V O LU M E 1 1. Ciência e Geografia [...] a Geografia foi no início tanto uma filosofia como uma ciência, filosofia de que os geógrafos alemães, como os historiadores, se serviram com fins políticos. Ela foi muitas vezes utilizada como um meio de propaganda nacional ou internacional, uma arma de combate entre Estados e Impérios, talvez mais ainda que a História. Seja como for, ela ainda arca com as consequências de sua juventudee das condições econômicas, sociais e po- líticas nas quais se desenvolveu. Pelo fato de ter seus próprios métodos, a geografia, mais que nenhuma outra ciência, sofreu as influências ideológicas em curso [...] jean dreSch Fonte: Youtube As Montanhas da lua Mountains of the moon é um filme de 1990 que narra a verídica história da expedição de dois oficiais britânicos – Richard Francis Burton e John Hanning Speke – em busca da fonte do Rio Nilo. multimídia: vídeo O homem, impulsionado por fins de sobrevivência, econô- micos ou políticos e até por curiosidade, sempre se pre- ocupou em conhecer o meio em que se desenvolve sua vida. Uma ambição que está associada principalmente à necessidade de sobrevivência, presente ao longo da histó- ria da humanidade. A primeira gênese da Geografia surgiu na Grécia antiga, onde se desenvolveu como ciência e método de pensa- mento filosófico. No início, era conhecida como História Natural ou Filosofia Natural. Os maiores contribuintes do início do desenvolvimento dessa disciplina foram Tales de Mileto, Heródoto, Eratóstenes, Hiparco, Aristóteles, Estra- bão e Ptolomeu. Com a expansão grega promovida por Alexandre da Macedônia (Alexandre, o Grande), o interes- se pelo estudo das novas terras colonizadas cresceu bas- tante devido aos fatores práticos que o conhecimento da matéria proporcionava, como o incremento das técnicas de navegação, que contribuiriam para uma atividade comer- cial mais intensa, bem como as melhorias que a Geografia adicionava à agricultura, indicando épocas, climas e solos ideais a um melhor cultivo. No período do auge do Império Romano, a Geografia contri- buiu com mais uma série de conhecimentos, como o “péri- plo”, ou seja, a descrição dos portos, rotas e escalas que os navegantes da época dispunham para realizar o comércio, tão necessário ao funcionamento do Império, e que também lhes garantia uma proteção mililtar mais eficaz. Durante a Idade Média, árabes como Edrisi, Ibn Battuta e Ibn Khaldun aprofundaram e mantiveram os antigos conhe- cimentos gregos. As viagens de Marco Polo espalharam pela Europa o interesse pela Geografia. Durante a Renascença e ao longo dos séculos XVI e XVII, as grandes viagens de ex- ploração reviveram o desejo de bases teóricas mais sólidas e de informações mais detalhadas. A Geographia Generalis, de Bernardo Varenius, e o mapa-múndi, de Gerard Mercator, são exemplos importantes disso. A segunda gênese resultou da institucionalização da Geogra- fia como ciência, e isso não se deu por acaso na Alemanha. Algumas condições propiciaram o surgimento da Geografia moderna na Alemanha: um território fragmentado em deze- nas de pequenos reinos e o desejo de expansão imperialista, constitutivo do capitalismo. A origem científica da Geogra- fia se deu na Alemanha do século XIX, à luz dos trabalhos de Alexander Von Humboldt e Karl Ritter, que contribuíram para que a Geografia se estabelecesse em bases científicas. Apesar de Humboldt não ser geógrafo e tampouco ter se preocupado em sistematizar seus conhecimentos geográ- ficos, sua contribuição foi importante para a Geografia. Os alemães têm sua importância na consolidação da Geografia enquanto ciência, especialmente por estabelecerem funda- mentos científicos autênticos, ou seja, a Geografia deixou de ser uma simples descrição do planeta para se transformar em uma ciência baseada na investigação das relações entre natureza e sociedade. INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO COMPETÊNCIA(s) 6 HABILIDADE(s) 26 CH AULAS 1 E 2 48 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 O intuito aqui não foi fazer um resgate profundo da histó- ria do pensamento geográfico, mas apenas situá-lo sucin- tamente no tempo e no espaço. Assim, é possível falar em “Geografias” no plural, pois muitos estudantes aprende- ram essa ciência sob diferentes perspectivas. Entendendo a evolução das ciências sociais como resultado das transformações da própria sociedade, fica fácil compre- ender as mudanças conceituais que ocorreram na Geogra- fia, que hoje pode ser hoje definida como uma ciência que busca explicar o espaço como resultado da dinâmica social. O espaço geográfico deve ser entendido como resultado da relação entre homem, natureza e trabalho, elementos considerados o tripé da Geografia. A Geografia é definida por alguns autores como o estudo das relações entre o homem e o meio ou, dito de outra for- ma, entre a sociedade e a natureza. Dentro dessa concep- ção, aparecem pelo menos três visões diferentes do objeto: alguns autores vão apreendê-lo como sendo as influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade; ou- tros autores, mantendo a ideia da Geografia como estudo da relação entre o homem e a natureza, vão definir o objeto como a ação do homem na transformação desse meio. E tem aqueles autores que concebem o objeto como a rela- ção em si, com os dados humanos e os naturais possuindo o mesmo peso. Para esses, o estudo buscaria compreender o estabelecimento, a manutenção e a ruptura do equilíbrio entre o homem e a natureza. Isso mostra o quanto é com- plexa a definição da Geografia. A Geografia renovada não se prende a uma visão tão estan- que da visão das ciências, não coloca barreiras tão rígidas en- tre as disciplinas; logo, não possui uma necessidade tão pre- mente de formular uma definição formal de objeto. A situação da Geografia tradicional é bem diferente, pois ela se apoia totalmente nos fundamentos positivistas, que pedem para legitimar a autoridade de uma ciência, uma definição precisa do objeto. A Geografia Renovada busca sua legitimidade na operacionalidade ou na relevância social de seus estudos. 1.1. Princípios da Geografia Para a Geografia ser considerada como ciência, fez-se ne- cessária a fixação de princípios metodológicos que lhe con- feriram caráter científico. São eles: § Princípio da extensão: formulado por Friedrich Rat- zel. Segundo ele, o geógrafo, ao estudar um fato ou área, deve proceder à sua localização e delimitação, utilizando os recursos da cartografia. Nesse princípio, o importante é localizar fenômenos na superfície terrestre. § Princípio da analogia ou geografia geral: formula- do por Paul Vidal de La Blache e Karl Ritter. Segundo eles, após a área ser observada e delimitada, o geógrafo deve compará-la com outras áreas buscando as semelhanças e as diferenças existentes. § Princípio da causalidade: princípio formulado por Alexander Von Humboldt, que propõe explicar as causas do fato observado. alexander von huMboldt § Princípio da conexão ou interação: formulado pelo francês Jean Brunhes, esse princípio estabelece que os fatos geográficos, físicos ou humanos nunca aparecem isolados; estão sempre interligados por elos de relacionamento. Seu objetivo é identificar e analisar as relações existentes. § Princípio da atividade: também formulado por Bru- nhes, o princípio da atividade estabelece o caráter dinâ- mico do fato geográfico que deve ser estudado em seu passado para poder ser compreendido no presente e se ter uma imagem do seu futuro. 1.2. Espaço geográfico O objeto de estudo da ciência geográfica nem sempre foi fácil de ser definido. Essa disciplina de síntese, que reúne co- nhecimento de diversas outras áreas, transitou, ao longo de sua história, por diferentes leituras acerca de seu papel no campo das ciências e na interpretação da realidade, fruto de diferentes escolas filosóficas que a influenciaram. Como vimos anteriormente, podemos encontrar desde abordagens mais naturalistas e descritivas, herança do positivismo e do determinismo alemão do século XIX, até da escola francesa, do estudo dos diferentes gêneros de vida, também do século XIX, ambas fortemente marcadas pela perspectiva do impe- rialismo e do neocolonialismo europeu da época. Atualmente, sabe-se que há uma ciência geográfica que se propõe a superar o descritivismo e o localizacionismo. Seu arcabouço teórico e seu método de análisepermitem um leitura crítica do mundo, oferecendo elementos para o entendimento da realidade mais ampla nas escalas local, CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 49 V O LU M E 1 nacional e global. Seu objeto de estudo é o espaço geo- gráfico, um produto social, fruto das interações sociais e naturais da superfície terrestre. Contudo, não há um consenso entre os geógrafos sobre o que seria, exatamente, o espaço geográfico, haja vista que muitos deles orientam-se a partir de diferentes correntes de pensamento que apresentam perspectivas diversas. Para a corrente da Nova Geografia, por exemplo, o espaço geográfico corresponde à organização da sociedade e seus elementos sobre o meio. Certos autores, como Richard Hartshorne, defendem que o espaço geográfico é apenas uma construção intelectual, não existe de fato na sociedade. No caso, seria uma con- cepção da forma como nós enxergamos a realidade, no sentido de apreender como acontece a espacialização da sociedade e tudo o que por ela foi construído. Para Milton Santos, o espaço geográfico é um conjunto de sistemas de objetos e ações, isto é, os itens e elementos artificiais e as ações humanas que manejam tais instru- mentos no sentido de construir e transformar o meio, seja ele natural ou social. Os geógrafos humanistas afirmam que o conceito de espaço geográfico estaria atrelado à questão subjetiva, cultural e in- dividual. Nesse sentido, o espaço é o local de morada dos se- res humanos, o meio de vivência onde as pessoas imprimem suas marcas diariamente, proporcionando novas leituras à medida que a compreensão do mundo se modifica. Podemos perceber, portanto, que dentro de algumas defi- nições existentes, esse conceito possui várias visões confli- tantes entre si. No entanto, há um consenso: o espaço ge- ográfico representa a intervenção do homem sobre o meio, ou seja, um produto (que, dependendo da abordagem, pode também ser um produtor) das relações humanas e suas práticas sobre o substrato natural. Se ao longo de um rio, por exemplo, constrói-se uma pon- te, estamos provocando a alteração da paisagem local, o que representa a expressão do espaço geográfico. Se em uma cidade adotam-se medidas de revitalização de áreas degradadas, temos aí a transformação do espaço. Desse modo, tudo o que é construído pelo homem é, notada- mente, geográfico: hidrelétricas, cidades, campos agrícolas, sistemas de irrigação, entre outros elementos, que são as construções mais visíveis do espaço geográfico. Para o geógrafo Milton Santos, estamos vivenciando um pe- ríodo histórico de grandes avanços científicos e tecnológicos, que teve início na década de 1950, chamado de Terceira Revolução Industrial. Esse período é caracterizado pela inte- gração efetiva entre ciência, tecnologia e produção, ou seja, a descoberta científica passa a ter aplicação imediata no processo produtivo. É a fase em que despontam segmentos industriais de alta tecnologia, como os de telecomunicação (telefonia, robótica e transmissão televia), além do aeroespa- cial (criação de satélites artificiais e aviões). O geógrafo defi- niu-o como período técnico-científico-informacional. Por uma Geografia Nova – Milton Santos Por uma Geografia nova: da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica, escrito pelo Professor Doutor em Geografia Milton Santos em 1978, é uma das obras mais amplas e bem acabadas sobre a Geografia Crí- tica no mundo! O livro se tornou um clássico dentro da ciência, continuando atual em nossos dias. O autor aponta os problemas que impedem a construção de uma Geografia orientada para uma problemática so- cial mais ampla e construtiva. multimídia: livro Milton SantoS A Natureza do Espaço – Milton Santos Obra interdisciplinar que oferece um tratamento pioneiro às relações entre a técnica e o espaço e entre o espaço e o tempo, bases para a construção de um sistema de conceitos coerentemente formulado, objetivando definir o espaço geográfico e seu papel ativo na dinâmica social. multimídia: livro 50 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 A revolução tecnológica, que conectou pessoas e mercados em todo o mundo, provocando impactos econômicos, so- ciais, geográficos e culturais, também ampliou as desigual- dades entre povos e territórios. A velocidade com que se tem acesso às informações cria novas formas de produzir e agir sobre o espaço, criando o que chamamos de ciberespaço. 1.3. Determinismo geográfico O determinismo foi a escola que surgiu no final do século XIX, no período de transição do capitalismo comercial para a fase monopolista e imperialista. Para seus defensores, as condições naturais, especialmente as climáticas e, dentro delas, a variação de temperaturas ao longo das estações do ano, determinam o comportamento do homem, interfe- rindo na sua capacidade de progredir. E os países ou povos que estivessem localizados em áreas meteorológicas mais favoráveis cresceriam mais. O homem é considerado um produto do meio, portanto, a natureza seria o fator deter- minante do seu modo de vida. Seu principal defensor e organizador foi o geógrafo alemão Friedrich Ratzel. As ideias deterministas favoreceram as diferentes formas de dominação política e econômica. As teorias naturais de Lamarck, sobre hereditariedade dos caracteres adquiridos, e as de Charles Darwin, sobre a so- brevivência e adaptação dos indivíduos mais bem-dotados face ao meio natural, fortaleceram a base do determinismo. Friedrich ratzel Ratzel também elaborou o conceito de espaço vital, que seria formado pelas condições espaciais e naturais para a manutenção ou consolidação do poder do Estado sobre o seu território. As condições naturais seriam para o fortaleci- mento de uma dada sociedade ou povo, ou seja, aquelas po- pulações que dispusessem de melhor espaço vital estariam mais aptas a se desenvolver e a conquistar outros territórios. Essa noção foi fundamental diante do contexto histórico da Alemanha, que havia acabado de passar pelo seu processo de reunificação e necessitava de uma base para se afirmar enquanto Estado, com capacidade de crescimento, expan- são e dominação. Mesmo que alguns autores dissessem que o determi- nismo era uma ideologia criada pelas classes dominan- tes europeias para justificar o colonialismo, a tese de que as condições ambientais determinam em larga me- dida os processos históricos era muito bem aceita entre teóricos ligados à esquerda política. Esse foi o exemplo de Karl Marx, segundo o qual o capitalismo surgiu na Europa por causa das condições edáficas do continente, conforme a seguinte passagem: Uma natureza pródiga demais "retém o homem pela mão como uma criança sob tutela"; ela o impede de se desenvolver ao não fazer com que seu desenvolvimento seja uma necessidade de natureza. A pátria do capital não se encontra sob o clima dos trópicos, em meio a uma vege- tação luxuriante, mas na zona temperada. Não é a diversidade absoluta do solo, mas sobretudo a diversidade de suas qualidades químicas, de sua composição geológica, de sua configuração física, e a variedade de seus produtos naturais que for- mam a base natural da divisão social do trabalho e que excitam o homem, em razão das condições multiformes ao meio em que se encontra situado, a multiplicar suas necessidades, suas faculdades, seus meios e modos de trabalho. 1.4. Possibilismo geográfico O possibilismo surgiu na escola francesa, com o geógrafo Paul Vidal de La Blache. Seus defensores acreditam na pos- sibilidade de haver influências recíprocas entre o homem e o meio natural, e que o homem se adapta ao meio natural. Como ser racional, o homem é elemento ativo e, portanto, tem condições de modificar o meio natural e adaptá-lo às suas necessidades. Paul vidal de la blache CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 51 V O LU M E 1 O possibilismo surgiu na França em oposição ao determinismo ambiental. Seu objetivo era desmascarar o expansionismo ale- mão aocriticar o conceito de espaço vital e, ao mesmo tem- po, viabilizar o colonialismo francês. Além disso, queria abolir qualquer forma de determinação da natureza, adaptando a ideia de que a ação humana é marcada pela contingência. 1.5. Método regional Método que enfatiza a diferenciação de área não a partir das relações entre o homem e a natureza, mas a partir da integração de fenômenos heterogêneos em uma dada porção da superfície da Terra. Valorizado apenas a partir de 1940, esse pensamento geográfico já era abordado pelo filósofo Immanuel Kant e o geógrafo Karl Ritter no final do século XVIII e na primeira metade do XIX, respectivamente. A Geografia Regional procurava estudar as unidades com- ponentes da diversidade areal da superfície terrestre. Em cada lugar, área ou região a combinação e a interação das diversas categorias de fenômenos refletiam-se na elabora- ção de uma paisagem distinta, que surgia de modo objetivo e concreto. O estudo das regiões e das áreas favoreceu a expansão da perspectiva regional ou cronológica, que teve como êmulo e padrão as clássicas monografias da escola francesa. Preocupados em compreender as características re- gionais, os geógrafos desenvolveram a habilidade descritiva, exercendo a caracterização já estabelecida por La Blache em 1913. Defrontando-se com os casos, a explicação baseava- -se no destrinchar a evolução histórica e estabelecer a sequ- ência das fases que culminaram nas características atuais da referida área ou região. Levando em conta as concepções de que o globo era um organismo coerente, com as suas partes funcionando de modo integrador, admitia-se que mui- tas unidades areais executavam uma “função” em termos do conjunto. A cultura canavieira no nordeste brasileiro era desenvolvida para abastecer o mercado europeu, os países- -colônias forneciam matérias-primas para os países impe- rialistas, e outras explicações similares podem ser arroladas para os mais diversos aspectos e categorias de fenômenos. Karl ritter http://geografia.fflch.usp.br/ multimídia: sites 1.6. Nova Geografia A Nova Geografia, que surgiu em meados da década de 1950, tentando superar as dicotomias e os procedimen- tos metodológicos da Geografia Regional, desenvolveu-se procurando incentivar e buscar um enquadramento maior da Geografia no contexto científico global. O aparecimento de novas perspectivas de abordagem estava integrado na transformação profunda provocada pela Segunda Guerra Mundial nos setores científico, tecnológico, social e econô- mico. Essa transformação, que abrangia o aspecto filosófi- co e metodológico, foi chamada de “revolução quantitati- va e teorética da Geografia”. Algumas das metas básicas propostas por essa Nova Geografia eram: maior rigor na aplicação da metodologia científica, desenvolvimento de teorias e principalmente uso de técnicas estatísticas e ma- temáticas para analisar os dados coletados e as distribui- ções espaciais dos fenômenos. Com a Geografia Quantitativa, os indicadores socioeco- nômicos são suscetíveis de serem expressos em termos numéricos, avaliando, assim, o grau de desenvolvimento entre as nações, a análise de tabelas e de gráficos que explicam a pobreza e a possibilidade de esconder a real causa do subdesenvolvimento. A estagnação econômica do mundo subdesenvolvido é tratada como uma etapa necessária, que deve ser superada em curto prazo, desde que essas nações adotem políticas que favoreçam a ex- pansão do capital externo e ampliem as disparidades de desenvolvimento entre nações e camadas sociais. O uso das técnicas de análise deve ser evidentemente in- centivado, uma vez que elas são ferramentas e meios para o geógrafo. O conhecimento dessas diversas técnicas (as simples, as multivariadas e as relacionadas com a análise seriada e espacial) é básico para o geógrafo. No entanto, usar técnicas estatísticas, por mais sofisticadas que sejam, não é fazer Geografia. Se o geógrafo coleta inúmeros da- dos e informações e os analisa através do computador (por exemplo, usando a análise fatorial ou a discriminante), sem ter noção clara do problema a pesquisar e se não dispuser de arsenal teórico e conceitual que lhe permita adequa- 52 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 VIVENCIANDO damente interpretar os resultados obtidos, estará apenas fazendo trabalho de mecanização, mas nunca um trabalho geográfico. 1.7. Geografia Crítica A Geografia Crítica, de orientação marxista, manifestou-se entre as décadas de 1960 e 1970, num ambiente contes- tatório nos Estados Unidos por causa da Guerra do Vietnã, da luta pelos direitos civis, do processo de descolonização da África, da crise da poluição e da urbanização. Preocu- pada em ser crítica e atuante, entendia que a produção do espaço deriva do trabalho humano e assume formas diferentes em função da diversidade de combinações dos modos de produzir, circular e pensar. Karl Marx A Geografia Crítica também visava a ultrapassar e substi- tuir a Nova Geografia. Seus autores consideravam a Nova Geografia como sendo pragmática, alienada, objetivada no estudo dos padrões espaciais e não nos processos e proble- mas socioeconômicos e com grande função ideológica. Des- sa maneira, procurava analisar primeiramente os processos sociais, e não os espaciais, o oposto do que se costumava praticar na geografia teórica quantitativa. Nessa focalização, encontra-se implícito o esforço na tentativa de integrar os processos sociais e os espaciais no estudo da realidade. A Geografia Radical interessava-se pela análise dos modos de produção e das formações socioeconômicas. Isso por- que o marxismo considera como fundamental os modos de produção, enquanto as formações socioeconômicas es- paciais (ou formações econômicas e sociais) são as resul- tantes. As atividades dos modos de produção constroem e geram formações diversas. Cada modo de produção, capi- talista ou socialista, por exemplo, reflete-se em formações socioeconômicas espaciais distintas, cujas características da paisagem geográfica devem ser analisadas e compreen- didas. Uma corrente que propunha romper com a ideia de neutralidade científica para fazer da Geografia uma ciência apta a elaborar uma crítica radical à sociedade capitalista pelo estudo do espaço e das formas de apropriação da na- tureza. Nesse sentido, enfatizava a necessidade de engaja- mento político dos geógrafos e defendia a diminuição das disparidades socioeconômicas e regionais. 2. Conceitos importantes A linguagem geográfica, além dos princípios e das escolas geográficas, também necessita da formulação de alguns con- ceitos-chave como pré-requisito para a análise de seus fenô- menos. Esses conceitos são ferramentas de análise do espaço e carregam forte grau de parentesco entre si, pois todos se referem às ações humanas que transformam esse espaço. Espaços públicos de convivência e lazer são frequente- mente abordados e estudados pela Geografia a partir da ideia de lugar. Em alguns casos, estudos geográ- ficos com base nessas premissas foram responsáveis pela mudança na arquitetura de praças e espaços de lazer, especialmente por adequar tais locais à com- preensão e percepção das pessoas e à ideia que elas tinham de como deveria ser o seu lugar. Se possível, veja fotos e observe as transformações desses lugares na atualidade. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 53 V O LU M E 1 Fonte: Youtube Gente Humilde – Chico Buarque multimídia: música 2.1. Conceito de lugar O homem não vê o universo a partir do universo, o ho- mem vê o universo desde um lugar. Milton SantoS Para a Geografia, esse conceito está, nas principais abor- dagens, vinculado a uma análise compreensiva e, portanto, não objetiva e nem racionalista da realidade. Nesse senti- do, ele se articula a partir da relação ou compreensão do ser diante do espaço geográfico, ou seja, o lugar é o espaço apropriado ou percebido pelas relações humanas. É sabido que cada pessoa enxerga o mundode uma de- terminada forma, porque isso se relaciona com o conjunto de experiências dos indivíduos ao longo do tempo, suas concepções culturais e seus valores morais e até religiosos. Assim sendo, as análises geográficas pautadas no conceito de lugar concebem o espaço analisado não de uma manei- ra direta ou racional, mas por meio da compreensão hu- mana e, muitas vezes, com base em valores afetivos ou de identidade. É um tipo de análise mais comum no âmbito da Geografia Cultural e da Geografia da Religião, mas pode envolver outras áreas do saber em questão. 2.2. Conceito de paisagem Tudo aquilo que nós vemos, que a nossa visão alcança, é a paisagem [...]. Não apenas formada de volumes, mas também de cores, odores, movimentos, sons, etc. Milton SantoS Em algumas análises, a paisagem é diretamente definida como “aquilo que a visão alcança” ou como o “mundo conforme a sua aparência externa”. Portanto, a paisagem costuma ser definida como formas que se revelam diante dos nossos olhos na produção do espaço geográfico. Outras concepções desse modelo são apresentadas a par- tir da contestação desse conceito. Em muitas abordagens acadêmicas, a paisagem é concebida não apenas a partir da visão, mas da multissensorialidade, ou seja, da utilização dos demais sentidos (tato, olfato, paladar e audição). Além disso, a paisagem é, muitas vezes, reveladora de experiências e atrelada a fatores da expressão humana e pessoais, o que lhe dá uma dimensão cultural. PaiSageM natural PaiSageM ModiFicada 2.3. Conceito de território [...] o território é um nome político para o espaço de um país. Em outras palavras, a existência de um país supõe um território. Mas a existência de uma nação nem sempre é acompanhada da posse de um território e nem sempre supõe a existência de um Estado. Pode-se falar, portanto, de territorialidade sem Estado, mas é praticamente im- possível nos referirmos a um Estado sem território. SILVEIRA, Maria laura; SANTOS, Milton. o braSil, território e Sociedade no início do Século xxi. O território, um termo muito empregado no âmbito da po- lítica, é normalmente definido como uma área delimitada por fronteiras. Entretanto, nem sempre essas fronteiras são visíveis ou bem delineadas. Na maioria das abordagens ge- ográficas, o conceito de território está relacionado a uma configuração de poder. É, por isso, uma área apropriada, uma porção do espaço geográfico onde uma relação hie- rárquica se estabelece. O território possui uma característica importante, que é a sua multiplicidade em termos de tipificações e de escala. Ele pode abranger desde uma área muito restrita, como uma rua ou um terreno qualquer, até uma coalizão internacional compos- ta por forças militares de diversos países. Ao mesmo tempo, seus tipos envolvem territorialidades militares, jurídicas (vin- culadas ao Estado), naturais, culturais e até criminais, como os territórios de tráfico de drogas ou de grupos mafiosos. 54 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 2.4. Conceito de região Faz referência a uma área ou espaço que foi dividido obe- decendo a um critério específico. Trata-se de uma elabo- ração racional humana para melhor compreender uma determinada área ou um aspecto dela. Portanto, as regiões podem ser criadas para realizar estudos sobre as caracte- rísticas gerais de um território (as regiões brasileiras, por exemplo) ou para entender determinados aspectos do es- paço (as regiões geoeconômicas do Brasil, para entender a economia brasileira). Esse conceito, amplamente utilizado no senso comum, é geralmente empregado para designar uma área do espaço mais ou menos delimitada. Na Geografia, a região é defini- da como uma porção superficial designada a partir de uma característica que lhe é marcante ou que é escolhida por aquele que concebe a região em questão. Assim, existem regiões naturais, econômicas, políticas, entre muitas outras. Portanto, a região não existe diretamente, mas é uma cons- trução intelectual humana. No âmbito da Literatura, essa no- ção está vinculada ao conceito de regionalismo, que expres- sa o conjunto de costumes, expressões linguísticas e outros valores que apresentam variação entre uma região e outra, dando uma identidade coletiva para os diferentes lugares. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 55 V O LU M E 1 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem. A Geografia é uma ciência humana que estuda o espaço geográfico e suas composições, analisando a intera- ção entre sociedade e natureza. Essa área do conhecimento utiliza em suas abordagens uma série de conceitos que são considerados básicos para a fundamentação de seus estudos. Em algumas análises, a paisagem é diretamente definida como “aquilo que a visão alcança” ou o “mundo conforme a sua aparência externa”. Portanto, a paisagem costuma ser definida como as formas que se revelam diante dos nossos olhos na produ- ção do espaço geográfico. Porém outras concepções desse modelo são apresentadas a partir da contestação desse conceito. Em muitas abor- dagens acadêmicas, a paisagem é concebida não apenas a partir da visão, mas da multissensorialidade, ou seja, da utilização dos demais sentidos (tato, olfato, paladar e audição). Além disso, a paisagem é, muitas vezes, reveladora de experiências e atrelada a fatores da expressão humana e pessoais, o que lhe dá uma dimensão cultural. MODELO 1 (Enem) Portadora de memória, a paisagem ajuda a construir os sentimentos de pertencimento; ela cria uma atmosfera que convém aos momentos fortes da vida, às festas, às comemorações. claval, P. terra doS hoMenS: a geograFia. São Paulo: contexto, 2010 (adaPtado). No texto é apresentada uma forma de integração da paisagem geográfica com a vida social. Nesse sentido, a paisagem, além de existir como forma concreta, apresenta uma dimensão a) política de apropriação efetiva do espaço; b) econômica de uso de recursos do espaço; c) privada de limitação sobre a utilização do espaço; d) natural de composição por elementos físicos do espaço; e) simbólica de relação subjetiva do indivíduo com o espaço. ANÁLISE EXPOSITIVA Nesse exercício, o Enem busca mostrar as relações da vida humana com a paisagem e o quanto os ele- mentos dessa paisagem estão carregados de uma dimensão simbólica, pois cada ser humano entende e enxerga a mesma paisagem de maneiras diferentes. A paisagem constitui a aparência do espaço, é o que se pode visualizar no horizonte, sendo composta por elementos naturais e elementos artificiais produzidos pelo homem. Além da dimensão concreta, os elementos da paisagem carregam uma dimensão simbólica e cultural, uma vez que a percepção da paisa- gem é individual e carregada de elementos subjetivos. Duas pessoas que visualizam a mesma paisagem possivelmente não vão descrevê-la da mesma maneira. RESPOSTA Alternativa E 56 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 DIAGRAMA DE IDEIAS PAISAGEM CULTURAL PAISAGEM NATURAL ESPAÇO FÍSICO LUGAR REGIÕES GEOECONÔMICAS REGIÕES NATURAIS ESPAÇO GEOGRÁFICO FLORESTAS, MATAS, CAMPOS, DESERTOS, ILHAS DOMÍNIO JURÍDICO DOMÍNIO MORFOCLIMÁTICO MONTANHAS PLANALTOS PLANÍCIES DEPRESSÕES TERRITÓRIO PAÍSES ESTADOS OCEANOS MARES CONTINENTES BACIAS RURALURBANA CIDADES BAIRROS TERRENOS FAZENDAS SÍTIOS CHÁCARAS HUMANIZADO PLANETA TERRAPLANETA TERRA CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 57 V O LU M E 1 1. Aspectos geológicos: origem e evolução da Terra Considerando que tenha havido uma única explosão, a Ter- ra e os demais astros do Sistema Solar teriam se originado de uma única massa homogênea que se fragmentou em bilhões e bilhões de partes sob efeito da explosão. Para a teoria que defende várias explosões, a massa inicial era heterogênea e expandiu-se muito rapidamente com as explosões. Entretanto, para outros astrônomos, essa massaaté poderia ser uniforme, mas, devido à queda brusca da temperatura depois das explosões, ela teria ficado repleta de fraturas que a fragmentaram em bilhões de pedaços. Baseando-se nessas hipóteses, e reunindo dados fornecidos pelas várias pesquisas realizadas na superfície lunar, os as- trônomos elaboraram a Teoria da Acreção (ou acrésci- mo) para explicar a formação da Terra e dos demais corpos do Sistema Solar. Esses corpos teriam se formado a partir da agregação de várias partículas que estariam girando ao redor de um Sol primitivo. O Sol então se formou dentro de uma nuvem de gás e poeira, e começou a se submeter à fusão nuclear e a emitir luz e calor. As partículas que orbita- vam o Sol começaram a se unir em corpos maiores, conhe- cidos como planetésimos, que continuaram a agregar-se em planetas maiores. O material “restante” deu origem a asteroides e cometas. Como as colisões entre planetésimos grandes liberam mui- to calor, a Terra e outros planetas seriam derretidos no co- meço de sua história. A solidificação do material derretido aconteceu enquanto a Terra começou a esfriar, ou seja, a Terra começou a perder energia em forma de calor para o espaço, processo que se desenvolve de fora para dentro. Isso explicaria por que nosso planeta é envolvido por uma espécie de casca sólida e contém em seu interior camadas com elementos em estado de fusão. Os meteoritos mais velhos e as rochas lunares têm, aproxi- madamente, 4,5 bilhões de anos, mas a rocha mais antiga da Terra, conhecida atualmente, tem 3,8 bilhões de anos. Por al- gum tempo, durante os primeiros 800 milhões de anos de sua história, a superfície da Terra mudou de líquido para sólido. Visto que a rocha dura formou-se na Terra, sua história geo- lógica começou. Isso aconteceu provavelmente antes de 3,8 bilhões de anos, mas a prova disso não está disponível, pois a erosão e o tectonismo destruíram provavelmente toda a rocha mais antiga que 3,8 bilhões de anos. O começo do registro de rocha que existe atualmente na Terra é do Arqueano. Atração gravítica Formação de planetesimais A temperatura aumenta devido: Acreção Colisão de planetesimais ProtoplanetaD iferenciação Diferenciação • impacto dos planetesimais • compressão • desintegração radioativa D iluStração da teoria da acreção ou acréSciMo 1.1. As eras geológicas A história geológica do planeta é dividida em fases chama- das eras geológicas, divididas em períodos. Escala geológica Era Período Eventos no planeta Eventos no Brasil Datação (em milhões de anos) Azoica - Solidificação dos minerais e formação das primei- ras rochas cristalinas. Inexistência de vida. - 4500 a 3800 GEOLOGIA COMPETÊNCIA(s) 6 HABILIDADE(s) 26 CH AULAS 3 E 4 58 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 Escala geológica Era Período Eventos no planeta Eventos no Brasil Datação (em milhões de anos) Pré-cambriana Arqueozoico Formação das rochas magmáticas e metamórficas. Formação dos escudos cristalinos. Formação das serras do Mar e da Mantiqueira. 3800 a 2500 Proterozoico Formação das primeiras rochas sedimentares. Formação dos escudos brasileiro e guiano. 2500 a 590 Paleozoica Cambriano Glaciação e diastrofismo. Rochas sedimentares e metamórficas. Formação das bacias sedimentares antigas, do varvito de Itu (SP), e do carvão mineral do sul do Brasil. Início da formação da bacia sedimentar do Paraná e do São Francisco. 590 a 500 Ordoviciniano 500 a 438 Siluriano 438 a 408 Devoniano 408 a 360 Carbonífero Início do processo de formação do carvão mineral. 360 a 286 Permiano - 286 a 248 Mesozoica Triássico Grande atividade vulcânica. Formação de baciais sedimentares. Formação das bacias sedimentares do Paraná, Sanfranciscana e do meio Norte. Formação das ilhas de Trindade, Martin Vaz e do arquipélago de Fernando de Noronha e Penedos de São Pedro e São Paulo. Derrames basálticos na região Sul. Fomação do planalto arenito basáltico. 248 a 213 Jurássico 213 a 144 Cretáceo 144 a 65 Cenozoica Terciário Formação das grandes cadeias de montanhas (dobramentos modernos). Formação da bacia sedimentar (Ex.: bacia sedimentar Amazônica). 65 a 2 Quaternário Surgimento do homem moderno. Formação da bacia sedimentar do Pantanal. 2 a hoje Pré-Cambriano Paleozóica Mesozóica Cenozóica (Terciário) Cenozóica (Quaternário) ÚLTIMOS DINOSSAUROS PLANTAS COM FLORES 130 milhões PÁSSAROS DINOSSAUROS 180 milhões 1 milhão MAMUTE IDADES GLACIAIS GRANDE CÃNION 2 milhões SERRAS NEVADA E DAS CASCATAS 26 milhões PASTOS ALPES MACACOS MAMÍFEROS GIGANTESECHIPPUS HIMALAIA E MONTANHAS ROCHOSAS 65 milhões 4,6 milhões de anos FORMAÇÃO DA TERRA PETRÓLEO E GÁS 590 milhões PLANTAS DE SEMENTES MAMÍFEROS ANFÍBIOS 36 milhões60 milhões PLANTAS TERRESTRES 420 milhões 500 milhões 230 milhões TRILOBITAS ROCHAS SEDIMENTARES MAIS ANTIGAS 400 milhões 350 milhões INSETOS 320 milhões RÉPTEIS ALGAS E BACTÉRIAS FORMAS PRIMITIVAS DA VIDA 2,7 BilhõesROCHAS MAIS ANTIGAS PROTOZOÁRIOS E ESPONJAS 1 bilhão2 bilhões2 bilhões 600 milhões 3,8 bilhões APALACHES E URAIS 150 milhões PEIXES eScala geológica iluStrada eM ForMa de eSPiral. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 59 V O LU M E 1 Fonte: Youtube Como nasceu nosso planeta multimídia: vídeo 2. A estrutura da Terra O planeta Terra é um corpo dinâmico, com uma superfí- cie que serve de suporte para a sobrevivência dos seres humanos e demais seres vivos. Nessa superfície, também chamada de litosfera ou crosta terrestre, encontram-se os recursos minerais energéticos que alimentam as comple- xas organizações econômicas. Na litosfera estão também os solos, as águas oceânicas e continentais, as formas de relevo e os fenômenos climáticos que, em conjunto, interfe- rem na ocupação e organização do espaço físico-territorial para a instalação de complexos industriais, a formação de cidades, as práticas agrícolas, entre outras atividades. A superfície da Terra é composta por elementos diferentes: sólidos, líquidos e gasosos. São eles: Atmosfera Biosfera Hidrosfera Litosfera § Litosfera – camada sólida da Terra formada por mi- nerais e rochas, também chamada de crosta terrestre. Para fins econômicos, sua utilização limita-se a poucos quilômetros de profundidade, de onde são extraídas algumas riquezas minerais. § Hidrosfera – camada líquida formada por oceanos, mares, rios e aquíferos, lagos subterrâneos e água. Os interesses do homem limitam-se a mais ou menos mil metros de profundidade. § Atmosfera – camada gasosa, formada por uma mis- tura de gases (oxigênio, gás carbônico e nitrogênio). Ela envolve a Terra e a protege. É dividida em cinco camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, ionosfe- ra e exosfera. A troposfera é a mais importante, mais próxima da superfície terrestre (onde vive o homem e ocorrem quase todos os fenômenos metereológicos). § Biosfera – é o conjunto de todos os ecossistemas da Ter- ra; ela inclui a biota e os compartimentos terrestres com os quais a biota interage (litosfera, hidrosfera e atmosfera). 2.1. As camadas da estrutura interna da Terra A estrutura da Terra é formada por camadas de diferentes formações químicas (modelo 1) e físicas (modelo 2). 1) Modelo baSeado na coMPoSição doS MateriaiS do interior da terra. (a) litoSFera ou croSta terreStre 2) Modelo baSeado na rigidez doS MateriaiS do interior da terra. (b) MagMa PaStoSo Os dados que se tem a respeito do interior da Terra foram obtidos através de perfurações para extrair pe- tróleo, e não ultrapassam os 5 mil metros ou 6 mil metros de profundidade. Essas perfurações são exe- cutadas em bacias sedimentares, não alcançando as estruturas rígidas mais profundas. A divisão da estrutura da Terra foi baseada princi- palmente nos estudos sobre abalos sísmicos, pois o comportamento das ondas sísmicas altera-se na pas- sagem de uma camada para a outra em função da natureza dos materiais.O modelo atualmente aceito da estrutura interna do plane- ta revela três grandes camadas: o núcleo (NiFe), o manto e a crosta terrestre (litosfera). 2.1.1. Núcleo Acredita-se que o núcleo da Terra, formado por níquel e ferro, possua uma divisão entre núcleo externo e núcleo interno. Provavelmente o núcleo externo encontra-se no estado líquido, envolvendo o núcleo interno que, por estar submetido a altas pressões, esteja no estado sólido, exi- bindo temperaturas superiores a 5.000 ºC. Desse modo, a interação entre o núcleo externo e o interno parece ser a principal causa da formação do campo geomagnético da Terra. A alta densidade do núcleo indica que ele seria me- tálico, talvez formado por níquel e ferro. 60 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 As principais subdivisões da Terra Espessura ou raio (Km) Massa Densidade média (g/cm3) Crosta oceânica 7 7,0 × 1024 2,8 Crosta continental 40 1,6 × 1025 2,7 Manto 2870 4,08 × 1027 4,6 Núcleo 3480 1,88 × 1027 10,6 Oceanos 4 1,39 × 1024 1,0 Atmosfera - 5,1 × 1021 - Terra 6371 5,98 × 1027 5,5 Fonte: eStrutura da terra, S.P. clarK jr., 1973 2.1.2. Manto O manto, encontrado em estado pastoso ou magmático, é responsável por 80% do volume total do planeta. As per- turbações geológicas que atingem a crosta, como terremo- tos e vulcanismos, são provocadas pela pressão exercida por ele. Para entender melhor: o magma (composto essen- cialmente de silicatos de magnésio), que é expelido pelas erupções vulcânicas, é componente do manto. O manto terrestre estende-se desde cerca de 30 km de profundi- dade até 2.900 km abaixo da superfície (transição para o núcleo). Ele difere da crosta pelas suas características de composição química e de seu comportamento mecânico, traduzido pela existência de uma alteração súbita (uma descontinuidade) nas propriedades físicas dos materiais, que ficou conhecida como descontinuidade Mohoro- vičić ou descontinuidade de Moho. Essa descontinuidade marca a fronteira entre a crosta e o manto. Evidências sísmicas mostram que, em algumas re- giões cratônicas, a crosta continental está dividida em duas partes maiores pela descontinuidade de Con- rad, que marca um pequeno aumento das velocida- des sísmicas nessa profundidade, e separa as rochas de densidade menor na crosta superior das rochas de maior densidade na crosta inferior. 2.1.3. Crosta terrestre A crosta terrestre é subdividida em duas camadas ou crostas: a crosta oceânica ou inferior (de constituição ba- sáltica, com predomínio de silicatos de magnésio e ferro – SIMA), que recobre toda a superfície do planeta, e a crosta continental ou superior, que fica sobre a oceânica. Não existe crosta superior sobre os oceanos, apenas a crosta in- ferior, com espessuras que variam de 4 a 8 quilômetros. Na crosta continental predominam silicatos de alumínio (SIAL), com espessura que varia de 30 a 70 quilômetros. É for- mada de rochas – granitos, migmatitos, basaltos e rochas sedimentares –, semelhantes às que afloram na superfície. O que diferencia as rochas de cada subcamada da litosfera é a idade delas. As dos fundos oceânicos raramente ultra- passam 250 milhões de anos; as da crosta terrestre podem chegar a 4,5 bilhões de anos. Crosta oceânica (sima) Crosta terrestre (sial) Oceano Manto croSta terreStre e croSta oceânica A Terra está em constante movimento – um dinamismo composto por duas forças opostas chamadas forças en- dógenas (internas), que ocorrem no interior do planeta, no núcleo ou no manto, responsáveis pelas estruturas que sustentam as formas superficiais da litosfera; e for- ças exógenas (externas), que correspondem à ação dos ventos, chuvas, geleiras e outros fenômenos externos, que produzem o desgaste e a modificação (modelagem) cons- tante do relevo. A atual disposição das massas continen- tais e as movimentações ocorridas na superfície terrestre, chamadas de tectonismo, relacionam-se intrinsecamente com a dinâmica interna do planeta, ou seja, dizem respei- to à teoria das placas tectônicas. 3. A gênese das rochas As rochas são agregados naturais de minerais e formam a par- te essencial da crosta terrestre. Sua origem pode ser orgânica ou inorgânica e apresentam composição química definida. As rochas se classificam em três grandes grupos conforme sua origem e características minerais de textura: § magmáticas ou ígneas § sedimentares § metamórficas Uma rocha pode se transformar em outra do mesmo tipo ou de tipo diferente. 3.1. Rochas magmáticas ou ígneas Ao se formar, o planeta Terra era pouco mais do que uma bola de lava. Não havia a litosfera como a conhecemos hoje. As rochas magmáticas foram formadas em am- biente com temperaturas muito elevadas, o que permitiu a existência de materiais rochosos em fusão (magma). Essas rochas, como o próprio nome indica, formadas pela len- ta solidificação (cristalização) do magma pastoso, ficaram conhecidas como rochas ígneas (do latim ignis, fogo). A CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 61 V O LU M E 1 VIVENCIANDO maioria dos geólogos acredita que, durante certo tempo, toda a crosta terrestre foi constituída desse tipo de rocha e que todas as restantes originam-se delas. Dentro das rochas ígneas existe uma diferença básica: des- de o início, algumas se resfriaram rapidamente em contato com a atmosfera primitiva do globo. Ainda hoje, o magma lançado de vulcões ativos esfria rapidamente em contato com a atmosfera. Por outro lado, houve uma parte do mag- ma que estava no interior do planeta, um pouco abaixo da superfície, que também se solidificou, de modo muito mais lento do que a parcela em contato direto com a atmosfera. O granito, o diabásio e o basalto, muito antigos e resisten- tes, são exemplos desse tipo de rocha. § Rochas intrusivas ou plutônicas Durante sua ascensão à superfície, o magma vai abrindo es- paço por entre a litosfera – intrusões magmáticas – e pode parar junto a câmaras magmáticas próximas à superfície sem alcançá-la. Nessas câmaras, a lava esfria devagar e dá origem às rochas plutônicas. Depois de muito tempo, a ero- são e o intemperismo acabam deixando expostas essas ro- chas que há milhões ou bilhões de anos eram subterrâneas. granito Quanto mais lento for o resfriamento do magma, maiores serão os cristais de rocha – os minerais. As rochas ígneas plutônicas são compostas por cristais de minerais macroscó- picos, como o granito, cujo nome diz respeito à sua textura granular; os grãos dos minerais que compõem essa rocha são bem perceptíveis: quartzo, mica, feldspato entre outros. O granito é o tipo mais comum de rocha intrusiva na Terra. https://www.historiadomundo.com.br/inca multimídia: sites § Rochas extrusivas ou vulcânicas Rochas que resultam da solidificação rápida do material magmático (lava) quando em contato com a atmosfera. Nos vulcões, o magma atinge a superfície da crosta e en- tra em contato com a temperatura ambiente, resfriando-se rapidamente. Como a solidificação é praticamente instan- tânea, os cristais não têm tempo para se desenvolver – são muito pequenos e invisíveis a olho nu. Eles têm textura afa- nítica (sem cristais macroscópicos): seus grãos só podem ser observados com a ajuda do microscópio; ou textura vítrea, cujos minerais não podem ser individualizados nem mesmo se observados ao microscópio. Os basaltos são as rochas vulcânicas mais comuns. baSalto As rochas estão mais presentes no nosso dia a dia do que imaginamos. O basalto (rocha magmática extrusiva), por exemplo, é utilizado na produção de brita, usada na composição do asfalto de ruas e estradas. Procure saber sobre uma aplicação econômica de alguns tipos de rochas. 62 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 3.2. Rochas sedimentares As rochas da superfície terrestre são alteradas de forma contínua por agentes naturais, como a água em seus vários estados, os gases atmosféricos, a ação dos seres vivos e as variações de temperatura. Os produtosresultantes da alteração paisagística, por sua vez, poderão ser detríticos (pedras soltas, areia, fração fina dos solos), ou também se dissolver na água. Em conjunto com a alteração das ro- chas, acontece o processo erosivo, que arranca e desloca os materiais rochosos previamente alterados. As rochas sedimentares podem ser provenientes da erosão de rochas preexistentes e da precipitação de substâncias – processo químico no qual se forma um sólido insolúvel dentro de uma solução química – ou, ainda, de material correspon- dente a conchas e esqueletos de organismos mortos. Frag- mentos de minerais e rochas, de animais e de vegetais ou de precipitados químicos em soluções aquosas são conhe- cidos como sedimentos – detrito são carregados na erosão. https://www.historiadomundo.com.br/asteca multimídia: sites As áreas-fonte de sedimentos costumam ser porções eleva- das da superfície terrestre que regularmente se depositam e se acumulam em porções deprimidas da superfície, co- nhecidas como bacias sedimentares. Na maioria das vezes, são compostas de rios, lagos, lagoas, praias, fundos oceâ- nicos e dos arredores desses locais. As bacias sedimentares tendem a afundar lentamente. Por causa disso, os sedimen- tos mais novos são depositados sobre os mais antigos, que ficam preservados da erosão que predomina na superfície. Isso resulta em uma pilha de rochas de diferentes idades, desenvolvidas pelas transformações que ocorrem com os sedimentos depois de soterrados. Elas revelam a história da região na etapa do tempo em que houve subsidência (deposição) e acumulação de sedimentos. Pelo fato de as camadas mais profundas depositaram-se primeiro, pode-se estabelecer a cronologia dos eventos. Assim é possível tra- çar a evolução das espécies de animais e plantas ao longo do tempo e saber, por exemplo, quais dinossauros existiram simultaneamente em uma região, pelo conhecimento das relações entre as camadas que contêm os fósseis que essas formas de vida deixaram. Geografia do Brasil - Jurandyr Luciano Sanchez Ross Este livro é a mais moderna obra de referência no âmbito dessa disciplina. Destaca-se pela abordagem interpretati- va, que determinou a escolha de certos temas considera- dos de suma importância no estudo da geografia. multimídia: livro Fissura Dique ou filão de magma A lava escorre pelo respiradouro lateral Lacólito: massa de magma que empurra as camadas de rocha Sill: deposição do magma entre camadas de rocha Nuvem piroclástica: torrente de lava quente, poeira e gás Cinzas vulcânicas Lava A lava sobe pela chaminé central Câmara magmática extinta Câmara magmática Rocha intrusiva Rocha extrusiva eSqueMa iluStrando a ForMação daS rochaS MagMáticaS (intruSivaS e extruSivaS) Como os derrames ocorrem intermitentemente, a su- perposição de camadas assume o aspecto de planos de estratificação. As vulcânicas dão respostas distintas aos processos de desgaste. A intensidade da rede de fraturas, falhas e planos de acamamento ou de posição são fatores estruturais muito importantes na diminui- ção da resistência ao desgaste das rochas vulcânicas. Como exemplo, podem-se tomar os padrões de relevo que ocorrem no Sul do Brasil, nos derrames por fissuras de lavas vulcânicas da bacia do Paraná. Nessa área o relevo é intensamente dissecado, apresentando-se com grande quantidade de vales fluviais estreitos e pro- fundos e vertentes em forma de patamares. A elevada densidade de vales está associada às linhas de fratura e falhas, e os patamares, aos acamamentos dos diversos derrames vulcânicos. As rochas ígneas, em geral, ofe- recem grande resistência ao desgaste, tanto por ação física como pela ação química da água. roSS, j. l. S.: geograFia do braSil. São Paulo. ed. 2005. eduSP. P. 40. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 63 V O LU M E 1 Esses processos sempre ocorreram na superfície terres- tre; por isso existem rochas sedimentares de diferentes idades e de diversos ambientes de sedimentação. Cada ambiente resulta em rochas de variados tipos e aspectos, que dependem também do material constituinte. A maior parte das rochas sedimentares é do tipo clástico, em que se destacam os arenitos, os argilitos e os conglomerados. Essas são as rochas principais na constituição das bacias sedimentares e as que mais influenciam as formas de re- levo nesse tipo de estrutura. § Rocha sedimentar dentrítica ou clástica: ro- cha gerada por detritos ou partículas de material sólido de rocha e solo, que são transportados, de- positados e litificados em diversos ambientes de sedimentação. § Rocha sedimentar química: pode ser orgânica (calcário, dolomito e carvão) e inorgânica (sílex, um precipitado de sílica, e concreções lateríticas, precipitadas de ferro). Identificar uma rocha sedimentar é muito fácil. Ela é com- posta de sedimentos e de várias camadas – por isso é também chamada de rocha estratificada. O arenito, por exemplo, é empregado em construções e na pavimentação de ruas. Se for pura, é formada apenas do mineral quartzo. Outro tipo de rocha comum é a calcária, formada de con- chas, esqueletos de animais e plantas. Os espaços entre es- ses sedimentos são preenchidos por fluidos – água ou óleo –, ou por calcita – carbonato de cálcio cristalizado –, que funcionam como cimento. Regiões onde existem depósitos de rochas calcárias já estiveram há muito tempo cobertas pelo mar. São numerosas no Brasil e oferecem pouca resis- tência à ação do vento e da água. arenito eM Paria canYon-verMillion cliFFS wilderneSS, arizona, eua. Grandes depósitos de carvão mineral foram formados de florestas que morreram e foram cobertas há milhões de anos. Nesses locais não havia oxigênio suficiente para a decomposição dos detritos. Dependendo da profundida- de, diferentes tipos de carvão foram compostos da tem- peratura e das concludentes transformações químicas. Quanto mais antigos e escuros forem, pegarão fogo mais facilmente. No Brasil, as reservas de carvão encontram-se nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, apesar de o produto não ser considerado de boa qualidade. Se os materiais provenientes de plantas e animais são en- terrados em profundidade e temperatura suficientes, eles se transformam quimicamente em petróleo e gás natural. As rochas sedimentares oferecem informações sobre a história do ambiente em que se encontram. O xisto, por exemplo, constituído por minúsculos grãos de lama e argi- la, forma-se exclusivamente em águas calmas ou no fundo do mar. Já as rochas calcárias são formadas próximas de recifes de corais ou onde há movimento nas águas que trazem os sedimentos, como praias ou canais de rios. É im- portante lembrar que um mar que existiu em outras épocas pode não existir mais nos dias de hoje. O Oriente Médio, atualmente tão abundante em petróleo, já foi um fundo oceânico em eras geológicas anteriores. Sedimentação num lago ou num mar Mais recente Mais antiga iluStração de bacia SediMentar, local de ocorrência daS rochaS SediMentareS. 3.3. Rochas metamórficas As rochas metamórficas são rochas resultantes de um pro- cesso de alteração das condições originais do ambiente onde se deu sua gênese. Elas são provenientes das transfor- mações (metamorfismos) sofridas pelas rochas magmáticas, pelas rochas sedimentares ou por outras rochas metamórfi- cas. Essas mudanças ocorrem em função das condições de temperatura e pressão no interior da Terra. A rocha transfor- mada adquire novas características, muda sua composição e forma outros minerais estáveis nas novas condições vigen- tes. Essas modificações equivalem basicamente a reajustes da composição química e da textura das rochas em con- sequência das novas condições físico-químicas – pressão e temperatura – do meio. As rochas se fundem ao longo de um determinado intervalo de temperatura, visto que são compostas de vários minerais que possuem faixas de temperaturas de fusão diferentes. 64 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 Um exemplo comum de rochas metamórficas são os már- mores, formados da pressão sobre rochas calcárias que se recristalizam. Eles podem ser brancos ou coloridos e apre- sentam por base grãos de calcita. MárMore No esquema abaixo, é possível observar a chamada “au- réola de metamorfismo”, em que as rochas preexistentes, por pressão dos materiais superficiais, entram em contato com essa porção do interior da Terra e acabam modifican- do sua estrutura molecular. Anel de metamorfismo Transformação de rochas preexistentes em rochas metamórficas Nessas rochas, uma das características que mais se desta- cam é o plano de xistosidade. As falhas e as fraturas são linhas de menor resistência de massa rochosa e nelas os processos erosivos atuam com maior intensidade. Dessa forma, os vales fluviais, serras e morros tendem a ficar ali- nhados nas direções impostas pela rocha. Devido à sua origem e ao grau de transformação, algumas rochas podem ser mais ou menos resistentes. O quartzito, por exemplo, oferece grande resistência à erosão, enquanto o gnaisse e o migmatito tem um grau de resistência menor. Ciclo das rochas Fonte: Youtube Tempo rei - Gilbeto Gil multimídia: música CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 65 V O LU M E 1 DIAGRAMA DE IDEIAS CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS A química está presente diretamente no estudo das rochas, na composição química dos minerais e dos solos. METAMÓRFICA ROCHAS PROVÍNCIAS GEOGRÁFICAS ASPECTOS GEOLÓGICOS DA TERRA ESTRUTURA INTERNA DA TERRA NÚCLEO MANTO CROSTA TERRESTRE • DOBRAMENTOS MODERNOS • BACIA SEDIMENTAR • ESCUDOS CRISTALINOS • QUÍMICA • CLÁSTICA • PLUTÔNICA • VULCÂNICA SEDIMENTAR MAGMÁTICA 66 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem. A importância da compreensão sobre o comportamento e a dinâmica da litosfera está no fato de ela ser o local de atuação direta das atividades humanas, sendo transformadora e transformada por tais práticas. É sobre essa cama- da que o homem constrói e reconstrói o seu espaço geográfico, retira os minerais, pratica o uso e a exploração dos solos, entre outras coisas. MODELO 1 (Enem) De repente, sente-se uma vibração que aumenta rapidamente; lustres balançam, objetos se movem sozinhos e somos invadidos pela estranha sensação de medo do imprevisto. Segundos parecem horas, poucos minutos são uma eternidade. Estamos sentindo os efeitos de um terremoto, um tipo de abalo sísmico. aSSad, l. oS (não tão) iMPercePtíveiS MoviMentoS da terra. coMciência: reviSta eletrônica de jornaliSMo cientíFico, no 117, abr. 2010. diSPonível eM: httP://coMciencia.br. aceSSo eM: 2 Mar. 2012. O fenômeno físico descrito no texto afeta intensamente as populações que ocupam espaços próximos às áreas de a) alívio da tensão geológica; b) desgaste da erosão superficial; c) atuação do intemperismo químico; d) formação de aquíferos profundos; e) acúmulo de depósitos sedimentares. ANÁLISE EXPOSITIVA O fenômeno físico descrito é chamado de abalo sísmico ou terremoto: um tremor da superfície terrestre que acontece próximo às áreas de contato de placas tectônicas convergentes. O terremoto é um dos fenômenos da natureza que mais causa preocupações no homem, pois suas consequências podem ser extremamente profundas, tanto para as sociedades e suas construções como para a própria Terra, como o tremor do solo, tsunamis, surgimento de falhas, deslizamentos de terra, além da destruição das construções feitas pelas sociedades. O “alívio de tensão geológica” refere-se a um abalo sísmico ou terremoto, cuja origem dá-se em profun- didade (hipocentro). As ondas sísmicas atingem a superfície (epicentro) e se propagam, podendo causar danos socioeconômicos. RESPOSTA Alternativa A CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 67 V O LU M E 1 1. Uma breve história da exploração mineral A história da humanidade está ligada à utilização de re- cursos retirados da natureza. Sem os recursos de materiais minerais, incluindo a água e os solos, e os recursos energé- ticos, a humanidade não teria como subsidiar seu crescente desenvolvimento tecnológico. No início da civilização, nos- sos antepassados utilizavam lascas de quartzo para con- feccionar instrumentos rudimentares de caça ou de luta. Hoje, esse mineral ainda é usado para transformar a natu- reza e produzir um amplo conjunto de objetos, alguns até sofisticados, como os transistores ou cabos de fibra óptica. Desde a Idade da Pedra Lascada, a humanidade passou por vários estágios de desenvolvimento das técnicas de descober- ta de usos e transformações das substâncias naturais. Hoje em dia, a aplicação de técnicas modernas, e muitas vezes bas- tante refinadas, permitiu descobrir, obter e transformar bens minerais em bens manufaturados, tornando assim a vida mais confortável. E uma infindável diversidade de tipos de minerais e rochas vem sendo utilizada em quantidade crescente. As substâncias minerais, metálicas e não metálicas, os com- bustíveis fósseis e as pedras preciosas passaram a fazer par- te inalienável da vida moderna. Essa dependência, às vezes imperceptível, mantém e aprimora nossa qualidade de vida. Entretanto, algumas vezes a sociedade tem uma imagem nociva da mineração, porque ela transforma a paisagem ra- pidamente ao mobilizar imensas quantidades de material e gerar uma enorme porção de resíduos não utilizados. Sendo assim, procura-se levar cada vez mais à população, por meio de programas de educação ambiental, o conhecimento sobre a importância dos recursos minerais. O apoio da população às iniciativas de redução do desperdício de bens minerais pode retardar os problemas de escassez ou exaustão dos depósitos. Paralelamente, a demanda de bens minerais para as futuras gerações é pauta de estudo dos governos, pois as acumulações econômicas de substâncias minerais úteis constituem porções muito restritas nos continentes. Além do mais, é necessário para a formação de qualquer bem mineral um período de tempo muito maior do que aquele decorrido desde que começamos a utilizar as primeiras lascas de quart- zo. Portanto, houve uma multiplicação de pesquisas e ações governamentais e institucionais para otimizar a extração e prolongar a vida útil dos recursos, já que volumes gigantescos de bens minerais, que não são renováveis, estão sendo rapi- damente extraídos de seus depósitos. A conservação do recurso mineral, ou melhor, o prolonga- mento de sua vida útil para atendimento das necessidades da crescente população mundial, evitando os excessos de um consumo ambicioso, é uma atitude necessária para garantir o suprimento de insumos minerais praticamente imprescin- díveis à manutenção de uma forma de desenvolvimento sus- tentável. Dentro dessa perspectiva, muitos metais têm sido atualmente produzidos por meio de técnicas de reciclagem com a utilização de bens manufaturados sucateados, bem como outros, que são mais escassos na natureza, vêm sendo substituídos por metais mais abundantes. Essa atitude per- mitirá que preservemos por mais tempo os recursos minerais, diminuindo assim o impacto ao meio ambiente. O registro geológico do Brasil evidencia ambientes férteis em todo o tempo geológico, do Arqueano ao Holoceno, que contém importantes acumulações de bens minerais, algumas das quais já transformadas em minas. Por para- doxal que possa parecer, são os atrasos, as deficiências e demais dificuldades que vêm inibindo a exploração mine- ral e impedindo o pleno desenvolvimento da mineração no Brasil até o momento, o que se permite afirmar que ainda é elevado o potencial para descobertas de novos depósitos minerais no Brasil. Dentre os pontos negativos destacam-se: baixo conhecimento geológico do território nacional e de nossas províncias minerais, pequenos inves- timentos realizados em pesquisa mineral nopaís, projetos de exploração mineral realizados apenas em superfície ou baixa profundidade, carência de infraestrutura viária, legislação mineral pouco amigável e alto custo no Brasil. Duas principais províncias metalogenéticas brasileiras e quatro conjuntos de distritos mineiros, dentre as centenas existentes no país, são responsáveis pela maior parte das minas e depósitos minerais de porte significativo: Provín- cia Mineral Ferro-Aurífera do Quadrilátero Ferrífero (MG), Província Mineral Polimetálica de Carajás (PA), distritos de greenstones belts auríferos de Goiás, Bahia e Minas Gerais, e distritos de maciços básico-ultrabásicos de Goiás, Bahia GEOLOGIA DO BRASIL E EXPLORAÇÃO MINERAL COMPETÊNCIA(s) 6 HABILIDADE(s) 29 CH AULAS 5 E 6 68 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 e Pará. São essas províncias e distritos minerais que fazem com que os estados de Minas Gerais, Pará, Goiás e Bahia sejam responsáveis pela produção de 80%, em valor, das commodities minerais brasileiras. Nesta aula, o recurso mineral será abordado do ponto de vista essencialmente geológico, mostrando como se for- mam as concentrações minerais. Também será visto o pa- pel importante dos recursos minerais como fonte comer- cial necessária a uma infinidade de produtos industriais. Entenda os termos § Depósito mineral – grande concentração de qualquer substância mineral com teores e geo- metria conhecida e com potencial interesse eco- nômico. § Jazida – grande concentração de qualquer subs- tância mineral com teores e geometria conhecida e com valor econômico comprovado. § Mina – uma jazida em lavra, ainda que paralisa- da (temporariamente). § Lavra – conjunto de operações coordenadas, ob- jetivando o aproveitamento industrial da jazida até o beneficiamento. Fonte: Youtube Riquezas do meu Brasil – Candeia multimídia: música 2. As macroestruturas e suas características As macroestruturas do relevo terrestre estão representa- das pelos escudos cristalinos, pelas bacias sedimentares e pelas cadeias orogenéticas; esta última não ocorre no território brasileiro. 2.1. Escudos cristalinos Tipo de estrutura geológica caracterizada, em geral, pela sua estabilidade e composição antiga, tendo se consti- tuído durante o período Pré-cambriano, há mais de dois bilhões de anos. Basicamente, é a porção das placas continentais que, du- rante um período mínimo de 100 milhões de anos, não sofre ações diretas do tectonismo e do vulcanismo, o que caracteriza a sua estabilidade. É composto de rochas cris- talinas (magmáticas e metamórficas). Os escudos são estáveis, mas não significa dizer que eles não passam por transformações. Porém, neles, os agentes endógenos ou internos de transformação do relevo prati- camente não atuam. Por isso, as rochas são, externamente, muito desgastadas em virtude da ação dos agentes exter- nos ou exógenos, tais como a água, o vento e o clima. As- sim, o relevo das áreas onde se localizam os escudos costuma abranger, em geral, regiões de planaltos com baixas altitudes e algumas depressões relativas. Os escudos são divididos em dois tipos principais de estru- turas: os crátons cristalinos e as plataformas. Os crátons são tipos de escudos que afloraram na superfície, ou seja, não foram recobertos por outros tipos de estrutu- ras geológicas. Neles ocorrem os minerais metálicos, princi- palmente os que se formaram no Proterozoico. Os recursos minerais são muito importantes por seu uso em processos industriais, principalmente porque a natureza não repõe em tempo humano o que as sociedades retiram. Quando uma rocha contém um alto teor de algum mineral de valor econô- mico, é chamada de minério. Quando os minérios se concen- tram em um determinado ponto, temos uma jazida mineral. Aproximadamente 36% do território brasileiro é formado por escudos cristalinos. Destes, 4% são do Proterozoico. Essas estruturas geológicas estão distribuídas da seguinte forma no planeta: no continente americano aparecem os escudos das Guianas, o brasileiro e o canadense; no conti- nente africano, o Saariano; na Europa, o Russo-Fernosândi- co; na Ásia, o siberiano, o chinês e o indiano; e na Austrália, o escudo australiano. 2.2. Bacia sedimentar As bacias sedimentares começaram a se constituir efetiva- mente na era Paleozoica. Os territórios que compõem a Amé- rica do Sul estavam em altitudes bem mais baixas naqueles tempos – há cerca de 500 milhões de anos. Hoje, nossas bacias correspondem a 64% da estrutura geológica brasilei- ra – Amazônica, Meio Norte (Maranhão e Piauí) e Paranaica CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 69 V O LU M E 1 (Paraná) –, que no início eram formadas por depósitos de material marinho. Quando o fenômeno da epirogênese pro- vocou o levantamento do continente superior ao mar, elas ficaram emersas e unidas em território contínuo, como tam- bém passaram a ser preenchidas com material continental. Enquanto a formação das bacias sedimentares levou milhões de anos para se materializar, as placas tectônicas continua- ram se movimentando e a dinâmica da Terra seguiu seu cur- so. Áreas que antes se encontravam no fundo dos oceanos transformaram-se em áreas continentais, inclusive as zonas em que se formaram as bacias sedimentares, apesar de a maior parte delas ainda se encontrar no fundo dos oceanos. Durante esse processo de constituição das bacias sedi- mentares, muitos corpos ou restos de animais mortos e materiais orgânicos foram “enterrados” pelos sedimentos que foram depositados no fundo dos oceanos. E, conforme as condições de temperatura e pressão, parte dos restos desses materiais foi conservada e deu origem aos fósseis. Contudo, quando a pressão e as temperaturas (geralmente influenciadas pelo aquecimento provocado pelas camadas mais baixas da Terra) são elevadas, a tendência é que esses restos orgânicos passem pelo processo de litificação e se tor- nem líquido. Assim, conforme as condições de armazenamen- to, esse material acumula-se e transforma-se em petróleo. Segundo alguns estudiosos, as bacias sedimentares com- põem a memória do planeta, pois à medida que elas vão se formando, fragmentos do período em que elas se forma- ram são conservados. Por isso, o estudo dessas formações rochosas torna-se fundamental para se conhecer um pou- co mais sobre o passado geológico da Terra. A disposição das camadas estratificadas horizontalmente em quase todo o Brasil bem como as profundidades de- monstram a antiguidade de nossas bacias sedimentares. É o caso evidente da bacia sedimentar do Amazonas, que se estende por cerca de 200 km pelas margens do rio Amazo- nas, apresentando uma profundidade de 4 km, em alguns trechos, e uma superfície de 2 milhões de km2. Essa bacia é um espelho do ato de agentes do relevo – rios, temperatura e chuvas. Por toda a extensão das margens do rio Amazonas e de seus principais afluentes, as rochas sedimentares são bem atuais, pois pertencem ao período quaternário da era Cenozoica – fases pleistocênica e holocênica. Esses terrenos pleistocênicos e holocênicos representam a verdadeira planí- cie Amazônica e são mais conhecidos como várzeas. Quanto mais distantes desses eixos fluviais, mais antigos serão os terrenos sedimentares da bacia amazônica, ora do período terciário (cenozoico), ora do paleozoico (áreas de contato com os escudos cristalinos). A bacia do Paraná sofreu, parcialmente, uma das glacia- ções pelas quais passou a Terra, a permocarbonífera, que corresponde a dois períodos do paleozoico – e foram nesses terrenos que se formaram as jazidas carbonífe- ras. Essa bacia também aparece separada em algumas classificações, um terceiro tipo de terreno na estrutura geológica brasileira: os vulcânicos. Assim são chamados porque nessa mesma época de início da formação dos do- bramentos modernos, na era mesozoica, abriram-se fraturas na bacia sedimentar do Paraná, pelas quais subiram lavas básicas – fluidas, que percorrem grandes extensões.Foi das macroerupções às formações de rochas extrusivas, como o diabásio e o basalto, que, por ação do intemperismo físico e químico ao longo do tempo geológico, originou-se o solo fértil da terra roxa. O arenito, que já predominava antes da atividade vulcânica, ficou rajado por manchas basálticas, razão do nome do altiplano que abrange o oeste paulista e a maior parte do Paraná: Planalto Arenito-Basáltico. No mesozoico (período cretáceo) ocorreu a última fase de deposição extensiva nas bacias sedimentares do Bra- sil, com exceção da amazônica, que recebeu sedimen- tos ao longo do Terciário. No Cenozoico (Terciário), o continente sul-americano sofreu em seu conjunto soer- guimentos orogenéticos na borda ocidental (cordilheira dos Andes) e epirogenético em todo o restante. Esse so- erguimento atingiu o território brasileiro de modo desi- gual, sendo que algumas áreas foram mais levantadas e outras bem menos. Esse processo, associado à tectônica de placas, soergueu tanto as áreas dos crátons como os antigos cinturões orogenéticos e bacias sedimentares. Por meio da epirogênese terciária que as bacias sedi- mentares ficaram em níveis altimétricos elevados e sur- giram as escarpas das serras do Mar e da Mantiqueira por falhas geológicas. A partir desse processo tectônico desencadeou-se um prolongado e generalizado desgas- te erosivo que atuou sobre as bordas das bacias sedi- mentares provocando as depressões periféricas. 70 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 2.3. Cadeias orogenéticas: dobramentos modernos cadeiaS do hiMalaia Os dobramentos modernos, também conhecidos como ca- deias orogênicas ou cinturões orogênicos, são estruturas geo- lógicas que resultaram das ações do tectonismo e correspon- dem à formação de cadeias montanhosas, que apresentam as maiores altitudes do planeta. Em geral, são compostos por rochas magmáticas e metamórficas. Como exemplo temos a Cordilheira dos Andes, na América do Sul, e a Cordilheira do Himalaia, na Ásia, onde se encontra o monte Everest. Do ponto de vista do tempo geológico, os dobramentos modernos são considerados de origem recente, com cerca de 250 milhões de anos desde o início de sua formação. Sua localização ocorre, na maior parte, em regiões com re- lativa instabilidade geológica, devido ao fato de se origina- rem do choque e da interação entre duas placas tectônicas. Observe os esquemas a seguir. Figura A Figura B açõeS tectônicaS daS PlacaS convergenteS Na figura A, podemos notar as consequências do encontro entre placas convergentes, em que a mais pesada afunda e a mais leve se eleva, formando, sobre essa última, enrugamen- tos que dão origem aos dobramentos modernos e às cadeias de montanhas. A figura B permite-nos visualizar mais de per- to como os processos endógenos do tectonismo provocam o soerguimento do relevo e a sua consequente ondulação. É possível concluir que, por serem formações geologica- mente recentes, os dobramentos modernos sofreram em menor grau a ação dos agentes externos ou exógenos de transformação da superfície, o que ajuda a explicar o fato de seu relevo ser mais acidentado. “Dobramentos antigos” é uma expressão não mais fre- quente para se referir aos crátons ou escudos cristalinos (conhecidos também por maciços antigos), ou seja, os es- cudos cristalinos nada mais são do que dobramentos com formação geológica antiga. Por esse motivo, eles tiveram mais tempo para sofrerem alterações em suas composi- ções e passarem pelos efeitos das ações dos agentes exó- genos de modelagem do relevo. As cadeias orogênicas antigas do Brasil são provenientes da ação de vários diastrofismos. § O diastrofismo Laurenciano, que atuou no nosso ter- ritório no final do Arqueozoico e deu origem às for- mações elevadas das serras do Mar e da Mantiqueira, localizadas na faixa Atlântica. § O diastrofismo Huronino, do final do Proterozoico, que originou a serra do Espinhaço (MG) e a chapada Dia- mantina (BA). § O diastrofismo Caledoniano, na era Paleozoica, que deu origem ao dobramento antigo do Araguaia-Tocantins. 3. As riquezas econômicas do Brasil numa abordagem geológico-estrutural 3.1. Minerais metálicos CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 71 V O LU M E 1 3.1.1. Ferro O ferro é o mais importante recurso mineral da economia brasileira, do qual cerca de 70% destinam-se à exportação. A maior extração desse produto ocorre em Minas Gerais, numa área denominada Quadrilátero Ferrífero, que com- preende as cidades de Belo Horizonte, Santa Bárbara, Ma- riana e Congonhas do Campo. A maior jazida ferrífera do Brasil e do mundo, que ocupa a segunda posição de extração no cenário nacional, encon- tra-se na serra dos Carajás (Pará). Para o escoamento e a exploração do ferro de Carajás, foi criada uma infraestru- tura: o porto de Itaqui (MA), a hidrelétrica de Tucuruí e a estrada de ferro de Carajás. O Maciço do Urucum (ou Morro do Urucum), no Mato Gros- so do Sul, é outro local de extração cuja produção abastece principalmente o Paraguai, a Argentina e a Bolívia. Fonte: Youtube Ouro, Riquezas da Terra... Como Surgiu multimídia: vídeo 3.1.2. Manganês O Brasil é o grande exportador desse produto de grande utilização industrial na composição do aço e na fabricação de pilhas. Merecem destaque as seguintes localidades: § Marabá, Itupiranga e Carajás (PA); § Quadrilátero Ferrífero (MG); § Maciço do Urucum (MS). As infraestruturas criadas para dar suporte à produção de fer- ro também são aproveitadas no escoamento do manganês. BRASIL E MUNDO: PRINCIPAIS ÁREAS EXTRATIVAS DE MANGANÊS No Brasil % do total nacional No mundo % do total mundial Pará 61,6 China 21,2 Minas Gerais 18,6 Ucrânia 20,3 Mato Grosso do Sul 15,8 África do Sul 13,8 Outros 4,2 Brasil 9,9 A serra do Navio foi uma espécie de enclave ou possessão minero-territorial dos EUA no Brasil. A Icomi, Indústria e Comércio de Minério S.A., e a multinacional estadunidense Bethlehen Steel Corp, detiveram os direitos de exploração do manganês da serra do Navio de 1957 a 2003. A Icomi também controlava a estrada de ferro do Amapá e o porto Santana, em Macapá, responsáveis pelo escoamento da produção para o exterior. No entanto, ao encerrar a concessão da exploração ante- cipadamente em 1998, as jazidas já estavam esgotadas; continham apenas resíduos e minérios de baixo teor. Isso provocou a demissão em massa e resultou em um gran- de desastre ambiental: o arsênio. Essa substância, oriunda de rejeitos de manganês, contaminou o lençol freático e os igarapés da Amazônia provocando muitas doenças. 72 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 3.1.3. Nióbio Nióbio, o elemento metálico de mais baixa concentração na crosta terrestre, é encontrado na natureza a uma pro- porção de 24 partes por milhão. Considerado o mais leve dos metais refratários, é utilizado principalmente em ligas ferrosas (tão poderoso que é utilizado na escala de 100 gramas para cada tonelada de ferro). Esse metal cria aços bastante resistentes que são utilizadas em tubos de ga- sodutos, motores de aeroplanos, propulsão de foguetes e outros chamados supercondutores, além de ser usado na soldagem, na indústria nuclear, na eletrônica, nas lentes ópticas, nos tomógrafos, etc. Cada vez mais essencial à tecnologia atual por ser altamente resistente às altas tem- peraturas e à corrosão, o Nióbio, número 41 na tabela pe- riódica, é alvo de muitas polêmicas. De vez em quando, a discussão sobre nióbio volta a público como uma possível salvação para a economia brasileira. O fato de o nosso país ter as maiores reservas de nióbio do mundo e vendê- -lo muito barato é usado como argumento para colocá-lo como esperança de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. E sendo o Brasil o maior exportador mun- dial de nióbio, ele poderia aumentar os preços, e os outros países poderiam ser obrigados a aceitar. De fato, o Brasil tem 98% das reservas de nióbio atualmenteconhecidas no mundo, que estão presentes no Amazonas, em Goiás e em Minas Gerais. Realmente, conforme o Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM – 2030), publicado pelo Ministério de Minas e Energia em 2011, o Brasil responde por 98% da produção mundial desse metal. Nos anos 1960, quando a primeira reserva de nióbio foi descoberta no Brasil, sua aplicação ainda não era conhe- cida. Hoje em dia ele é utilizado para tornar as ligas me- tálicas muito mais fortes e maleáveis. Praticamente, tudo o que é eletrônico ou leva aço fica melhor acrescido de nióbio, como os carros, as turbinas de avião, os aparelhos de ressonância magnética, os mísseis, os marcapassos, as usinas nucleares, os sensores de sondas espaciais... Os fo- guetes da empresa americana SpaceX (os mais avançados do mundo), o LHC (o maior acelerador de de partículas do planeta) e o D-Wave (primeiro computador quântico) tam- bém contêm nióbio. Todos querem nióbio, e o Brasil é o país que tem o equivalente a 842 milhões de toneladas desse elemento metálico. Portanto, temos um metal raro, com importantes apli- cações na indústria – uma matéria-prima essencial para produtos variados, inclusive para aqueles de alto valor tecnológico. O nióbio, no entanto, é substituível por outros metais. Se o Brasil passar a cobrar um valor que o mercado internacional não esteja disposto a pagar, é possível que esse material seja trocado por vanádio ou titânio, cujas reservas estão presen- tes em outros países. Um ponto importante a considerar é que a indústria mun- dial não tem necessidade de utilizar mais nióbio, pois poucas quantidades do metal são suficientes para que ele cumpra sua função. Logo, colocar mais nióbio no mercado resultaria em queda do preço, já que não haveria mais au- mento da demanda. Outro limitador é que o Brasil não exporta produtos deriva- dos do nióbio. “Nós repetimos nosso velho ciclo: vendemos matéria-prima e compramos produtos prontos. Vendemos nióbio e compramos fios de tomógrafos, por exemplo”, explica o pesquisador Leandro Tessler, do Instituto de Fí- sica da Unicamp. O grande obstáculo, portanto, não é o preço cobrado pelo nióbio. É o fato de a indústria brasileira não ter tecnologia para produzir mercadorias de alto valor agregado a partir do metal. 3.1.4. Bauxita PRINCIPAIS PRODUTORES DE BAUXITA No Brasil % do total nacional No mundo % do total mundial Pará 88,8 Austrália 35,3 Minas Gerais 10,8 Guiné 15,2 Outros 0,4 Jamaica 10,0 Brasil 9,2 A maior jazida encontra-se no vale do rio Trombetas, no município de Oriximiná, no Pará. A bauxita é o principal minério de alumínio utilizado na indústria automobilística e aeronáutica. 3.1.5. Cassiterita Esse minério, que aparece em forma de cristais tetragonais, é utilizado como liga na fabricação de aço, folha de flandre e estanho, principalmente. PRINCIPAIS PRODUTORES DE CASSITERITA No Brasil % do total nacional No mundo % do total mundial Amazonas 57,8 China 33,9 Rondônia 42,2 Indonésia 24,3 Peru 11,1 Brasil 8,9 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 73 V O LU M E 1 VIVENCIANDO 3.2. Outros recursos e a posição do Brasil na participação mundial POSIÇÃO E PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NA PRODUÇÃO MUNDIAL Mineral Posição Participação (%) Nióbio 1.º 90,9 Ferro 2.º 18,3 Manganês 2.º 14,8 Bauxita 3.º 10,8 Caulim 3.º 5,5 Estanho 4.º 9,5 Vermiculita 4.º 4,2 Grafita 4.º 5,0 Magnésia 5.º 10,5 Talco 5.º 8,0 Zinco 7.º 1,6 Cromo 7.º 3,7 Fosfatados 8.º 2,9 3.3. Principais minerais metálicos e não metálicos Produção beneficiada 2000 FERRO (t) MG 138.718.996 PA 43.231.882 Brasil 214.610.000 MANGANÊS (t) PA 1.366.906 MG 604.022 MS 136.901 Brasil 2.192.000 COBRE (t) PA 134.000 GO 15.937 Brasil 149.937 NÍQUEL (t) GO 1.647.938 MG 213.128 Brasil 1.861.116 PRATA (t) PA 15,7 MG 1,8 GO 3,5 Brasil 41 SAL MARINHO (t) RN 4.050.000 RJ 220.000 Brasil 4.460.00 ALUMÍNIO (t) PA 8.553.270 MG 2.307.272 Brasil 13.846.272 ESTANHO (t) AM 16.625 RO 10.768 MG 79 Brasil 27.472 CHUMBO (t) MG 11.611 Brasil 13.400 A tradição escolar se vale da fragmentação e da compartimentalização e incide sobre a maneira de interpretar o mundo. De acordo com isso, para se aprender o objeto é preciso dividi-lo em partes, o que em muitos casos impos- sibililta a reconstrução das peças, isto é, surge a dificuldade de remontagem do quebra-cabeça. Nesse sentido, o todo se perde na atuação do detalhe em relação ao particular. Portanto, é preciso estudar exploração mineral, por exemplo, e estabelecer as relações entre os diversos saberes oferecidos, como a Química, a História e a Biologia. 74 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 OURO (t) PA 17.2 MG 16.4 Brasil 63.3 CALCÁRIO (t) MG 25.376.464 SP 18.436.013 Brasil 71.914.433 ÁGUA MARINHA (t) SP 766.557 MG 149.056 Brasil 1.673.704 http://www.igc.usp.br/ http://www.sbgeo.org.br/ http://www.dnpm.gov.br/ multimídia: sites CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Os sistemas naturais, ou o que é chamado de “natureza”, estão hoje completamente humanizados pelas socie- dades. O uso que fazemos do que se convencionou chamar de “recursos naturais” transformou os objetos na- turais em humanos, pois lhes atribuímos funções, utilidades e sentidos, sejam simbólicos (culturais ou políticos), sejam econômicos ou práticos. No âmbito simbólico, temos a noção de território, um espaço pertencente a um determinado povo, em que nem sempre há mudanças concretas na paisagem. No entanto, no campo econô- mico ou prático, as modificações na paisagem são bastante visíveis. Uma vez que incorpora a natureza à sua vida pelo desenvolvimento de sistemas técnicos, o homem diminui sua dependência em relação aos entraves que essa natureza opõe a seu domínio técnico e, contraditoriamente, aumenta sua dependência em relação aos recursos que ela oferece a sua sobrevivência. Observemos, por exemplo, como os minerais estão presentes no nosso cotidiano, como o sal que adicionamos a nossa comida (proveniente da halita mineral), os comprimidos de antiácido (feitos a partir do mineral calcite). São precisos muitos minerais para fazer algo tão simples como um lápis de madeira. O “chumbo” é feito a partir de grafite e minerais de argila; o latão é uma liga metálica de cobre e zinco, e as cores que a tinta tem são formadas por pigmentos e enchimentos feitos a partir de uma variedade de minerais. Um telefone celular é feito de dezenas de diferentes minerais, originários de minas do mundo todo. Os carros, as estradas em que nos deslocamos, os edifícios onde vivemos e os fertilizantes utilizados para produ- zir os nossos alimentos são todos feitos com minerais. Nos Estados Unidos, cerca de três trilhões de toneladas de commodities minerais são consumidos a cada ano para sustentar o padrão de vida de 300 milhões de cidadãos – o que corresponde a cerca de dez toneladas de materiais minerais consumidos por pessoa a cada ano. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 75 V O LU M E 1 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas. A extração de recursos da natureza é uma atividade muito antiga, baseada na necessidade de sobrevivência do homem e no desenvolvimento da sociedade. A presença de recursos minerais em uma determinada área está associada ao longo histórico geológico da terra. Normalmente os minerais encontram-se agregados a rochas, entretanto em alguns casos aparecem em concentrações maiores, o que possibilita sua melhor exploração no nível econômico. A exploração das riquezas no solo do Brasil se confunde com a própria história nacional. Da busca por ouro e pedras preciosas no leito dos rios a escavações gigantescas com toda tecnologia à disposição, lá se vão séculos de uma atividade que colocou o país entre os maiores produtores de minério do mundo. A geologia do Brasil tem destaque mundial pela quantidade e diversidadede recursos minerais encontrados no subsolo brasileiro, o que faz do país um importante produtor de bens minerais. MODELO 1 (Enem) As plataformas ou crátons correspondem aos terrenos mais antigos e arrasados por muitas fases de erosão. Apresentam uma grande complexidade litológica, prevalecendo as rochas metamórficas muito antigas (Pré-Cambriano Médio e Inferior). Também ocorrem rochas intrusivas antigas e resíduos de rochas sedimenta- res. São três as áreas de plataforma de crátons no Brasil: a das Guianas, a Sul-Amazônica e a do São Francisco. roSS, j. l. S. geograFia do braSil. São Paulo: eduSP, 1998. As regiões cratônicas das Guianas e a Sul-Amazônica têm como arcabouço geológico vastas extensões de escudos cristalinos, ricos em minérios, que atraíram a ação de empresas nacionais e estrangeiras do setor de mineração e destacam-se pela sua história geológica por a) apresentarem áreas de intrusões graníticas, ricas em jazidas minerais (ferro, manganês); b) corresponderem ao principal evento geológico do Cenozoico no território brasileiro; c) apresentarem áreas arrasadas pela erosão, que originaram a maior planície do país; d) possuírem em sua extensão terrenos cristalinos ricos em reservas de petróleo e gás natural; e) serem esculpidas pela ação do intemperismo físico, decorrente da variação de temperatura. ANÁLISE EXPOSITIVA Os Escudos Cristalinos (Crátons) formaram-se no Éon Pré-Cambriano, sendo formados principalmente por rochas magmáticas intrusivas (granito) e metamórficas. As porções que se originaram na Era Proterozoica são muito ricas em minerais metálicos, como ferro e manganês. É o caso de áreas de exploração mineral, como Carajás (PA) e Quadrilátero Ferrífero (MG). RESPOSTA Alternativa A 76 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 DIAGRAMA DE IDEIAS PROVÍNCIAS GEOLÓGICAS ESCUDOS CRISTALINOS BACIAS SEDIMENTARES DOBRAMENTOS MODERNOS ROCHAS MAGMÁTICAS E METAMÓRFICAS ROCHAS SEDIMENTARES HIDROCARBONETOS GEOLOGIA MINERAIS METÁLICOS CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 77 V O LU M E 1 1. A dinâmica do relevo A crosta terrestre está em constante processo de mudança. Diariamente, os sismógrafos registram mais de mil peque- nos abalos sísmicos que, em sua maioria, não são sentidos por nós, mas constituem uma prova da grande atividade no interior do planeta. No âmbito do conhecimento geomorfológico, está inserida a ideia de que o modelado terrestre evolui como resulta- do da influência exercida pelos processos morfogenéticos. Nessa perspectiva, o relevo que percebemos e analisamos é apenas uma etapa inserida em outra, mais longa, de fa- ses passadas e futuras. As experiências em modelos redu- zidos, por exemplo, a observação da ação marinha sobre as praias, a ação pluvial sobre as vertentes, a do material carregado pelos rios, demonstram os pontos que assinalam a ativa esculturação das formas de relevo. Os agentes modificadores do relevo podem, certamente, ser divididos em dois grandes grupos, de acordo com as origens de suas ações: os agentes estruturais (internos) e os agentes esculturais (externos). Os agentes estruturais, como o tectonismo, o vulcanismo e os abalos sísmicos ocorrem no interior da Terra e atuam de forma temporária e concentrada. Os agentes esculturais, como o intemperismo, as águas cor- rentes, o mar, o vento, os animais, o homem, modificam ex- ternamente a crosta terrestre e atuam de forma constante. O contínuo antagonismo das forças internas com as for- ças externas é que moldam e modificam constantemente o relevo terrestre. 2. Agentes internos (estruturais) Os agentes internos, endógenos ou endodinâmicos estru- turais, são responsáveis pela formação ou modificação da fisionomia do relevo. Esses agentes estão ligados ao movi- mento das placas tectônicas e aos fenômenos magmáticos. 2.1. Teoria da tectônica de placas: o tectonismo As duas principais explicações sobre a dinâmica do planeta, como a deriva continental e a teoria das correntes de con- vecção, foram questionadas por cientistas em meados do sé- culo XX, provocando novas investigações com o objetivo de encontrar mais evidências que comprovassem a proposta de Alfred Lothar Wegener, ou seja, a teoria da deriva continental. A teoria das correntes de convecção e a deriva dos con- tinentes apoiaram-se na hipótese de que o comporta- mento do manto corresponde ao dos materiais líquidos e gasosos, que tendem a subir para a superfície quando aquecidos e ir para o fundo quando esfriados. O mesmo acontece com o ar atmosférico e também com a água, quando submetida a aquecimento. O material mais profundo do manto e do núcleo, que apre- senta temperaturas mais altas, sobe em direção à superfí- cie, enquanto as camadas mais próximas da litosfera, es- tando mais frias, são conduzidas por pressão para o interior da Terra. Esse mecanismo faz com que os continentes, que fazem parte da litosfera, sejam conduzidos de acordo com esse movimento. Depois da Segunda Guerra Mundial, com o aperfeiçoa- mento dos equipamentos para localizar submarinos, foi possível aprimorar os mapas do fundo oceânico e locali- zar ambientes com forte atividade geológica, responsáveis pelo deslocamento de terras. Essa descoberta entrou em conflito com o modelo vigente à época, que apresentava a litosfera como sendo uma crosta rígida, fixa e contínua. A partir daí, foi possível então identificar que a litosfera é constituída por duas crostas: a oceânica e a continental, que se situam em blocos ou placas que permitem movi- mentos verticais e laterais. Assim nasceu a teoria da tectônica de placas, que vem ao encontro de uma outra, formulada por A. Wegener, no final do século XIX, quando, ao observar a coincidência do con- GEOMORFOLOGIA: FORÇAS ESTRUTURAIS E ESCULTURAIS COMPETÊNCIA(s) 6 HABILIDADE(s) 26 e 29 CH AULAS 7 E 8 78 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 torno do continente africano e do americano, considerou que esses já estiveram unidos e que, por deriva, teriam se separado. A concepção de Wegener foi reforçada pelas con- tribuições de H. Hess, em meados do século XX, a respeito da expansão do assoalho oceânico, com a descoberta de Vine Matheus referente ao magnetismo das rochas dos fundos oceânicos e pelas informações obtidas de pesquisas dos fun- dos oceânicos nas últimas décadas. A teoria da tectônica de placas surgiu com o argumento de que a litosfera (crosta continental e oceânica) está dividida em doze placas tectô- nicas que flutuam sobre o manto, um substrato pastoso, às vezes mais fluido, que as movimenta. Essas placas não têm a mesma dimensão nem são fixas. Seus limites são determi- nados, aproximadamente, pela presença de linhas de forte atividade sísmica e vulcanismo. Os limites dos continentes não coincidem necessariamente com os limites das placas. O deslocamento dessas placas provoca várias deformações e fenômenos em seus contor- nos, como o surgimento de cadeias montanhosas, falha- mentos, vulcanismos e terremotos. As áreas geologicamen- te instáveis da crosta terrestre, como os Andes, as Rochosas e o Himalaia, nada mais são do que locais onde ocorrem colisões ou seccionamentos de placas. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 79 V O LU M E 1 Quando se movimentam na horizontal, as placas tectônicas podem se aproximar (movimentos convergentes) ou se afas- tar (movimentos divergentes). Os movimentos conver- gentes correspondem ao choque de duas placas tectônicas que se movimentam uma no sentido da outra, como é o caso na cordilheira dos Andes, na América do Sul: a crosta oceânica situada na placa de Nazca, no oceano Pacífico, movimenta-se de encontro à crosta continental da placa Sul-Americana. A placa de Nazca, que possui densidade maior e espessura me- nor em relação à placa Sul-Americana, mergulha sob ela em direção ao manto – fenômeno denominado de subducção. Resultado: a crosta continental se eleva e forma uma cadeia de montanhas,a cordilheira. Como o manto encontra-se com temperaturas elevadas, a placa de Nazca funde-se à medida que afunda no manto, tornando-se parte dele e caracterizan- do uma região de destruição de placas. No movimento di- vergente, as placas tectônicas, quando se afastam, formam regiões geradoras de placas. A principal consequência disso é a abertura do oceano Atlântico. O Brasil afasta-se do conti- nente africano em média três centímetros ao ano. Qual seria a razão disso? No meio do oceano Atlântico, no limite entre as placas Sul-Americana e Africana, há uma abertura na litos- fera que faz o assoalho oceânico movimentar-se. Isso faz com que o magma, ao se solidificar em função das temperaturas mais baixas do que as do interior da Terra, dê origem a uma nova placa. Como esse processo de ascensão do magma é frequente, formam-se cadeias montanhosas submarinas, as dorsais Meso-Oceânicas. Nesse caso, a dorsal Mesoatlântica. Dorsal Oceânica, também chamada de dorsal Subma- rina, dorsal Meso-oceânica ou crista Média Oceânica, é a designação dada em Oceanografia Física às grandes cadeias de montanhas submersas nos oceanos que re- sultam do lento afastamento das placas tectônicas. São grandes elevações submarinas situadas na parte central dos oceanos da Terra, com uma altura média de 2.000 a 3.000 metros acima dos fundos oceânicos circundantes. Na sua região central apresentam um rift, cuja aparência geral é a de um sulco axial percorrendo longitudinalmen- te a dorsal, ao longo do qual são emitidas lavas prove- nientes da ascensão do magma do manto sublitosférico. diStribuição Mundial daS dorSaiS oceânicaS dorSal MeSoatlântica É possível verificar em um mapa-múndi físico que a distri- buição das cordilheiras e das áreas vulcânicas não é caó- tica ou puramente casual, ao contrário, obedecem a uma determinada lógica. A maior parte das mais altas cadeias de montanhas do globo está posicionada nas bordas de placas, nos oceanos. Nelas são encontradas as fossas sub- marinas com 8,5 a 11 mil metros de profundidade – as áreas mais profundas dos oceanos, praticamente encosta- das nos continentes. As cadeias montanhosas submarinas estão no meio dos oceanos, quase sempre na metade do caminho entre um continente e outro, distribuídas longi- tudinalmente – como meridianos –, com picos que, às ve- zes, emergem e formam ilhas vulcânicas. O nome “Dorsal Meso-Oceânico” foi formado de: dorsal (dorso, espinha) e meso-oceânico (no meio dos oceanos). Rift Valley O vale do Rift ou grande vale do Rift, também conhe- cido como vale da Grande Fenda, é um complexo de falhas tectônicas criado há cerca de 35 milhões de anos com a separação das placas tectônicas africa- na e arábica, um rift. Uma estrutura que se estende no sentido norte-sul por cerca de 5.000 km, desde o norte da Síria até o centro de Moçambique, com uma largura entre 30 e 100 km, e com uma profundidade de algumas centenas a milhares de metros. A seção norte forma o vale do rio Jordão, que se es- tende do mar da Galileia (ao norte) até o mar Morto (ao sul). O vale do Rift continua para o sul, através do Wadi Arabah, golfo de Ácaba e mar Vermelho. Na desembocadura sul do mar Vermelho, o Rift tem uma bifurcação, formando o Triângulo de Afar: o golfo de Aden, ao leste, corresponde à divisão entre a penín- sula da Arábia e África e continua como parte da cordilheira Central do oceano Índico; o outro ramo segue para o sudoeste através do Djibouti, para for- mar o vale do Rift Oriental, que abrange a Etiópia, o Quênia, a Tanzânia, o lago Niassa e o rio Chire, terminando no Zambeze. Na Tanzânia, um pouco ao norte do lago Niassa, o vale divide-se mais uma vez, com um ramo que segue para 80 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 o noroeste e depois para o norte, formando o lago Tanganyika, que faz a fronteira entre a República De- mocrática do Congo, a Tanzânia e o Burundi. A seguir tem o lago Kivu, que separa o Ruanda do Congo, o lago Eduardo e o lago Alberto, com uma das nascentes do rio Nilo, que o separam do Uganda e que é chamado Rift Ocidental ou Albertino, onde se encontra a maioria dos grandes lagos africanos, já mencionados. O lago Vitória encontra-se entre os dois ramos do vale do Rift. As bordas do vale do Rift são formadas por cordilheiras onde se encontram os pontos mais altos do continente, incluindo os montes Virunga, Mitumba e Ruwenzori. Muitos dos seus picos têm (ou tiveram no passado) ati- vidade vulcânica, como os montes Kilimanjaro, Quênia, Karisimbi, Nyiragongo, Meru e Elgon, assim como as Crater Highlands na Tanzânia. O vulcão Ol Doinyo Len- gai, o único vulcão de natrocarbonatite no mundo, con- tinua ativo. Outra zona vulcânica extremamente ativa é o Triângulo de Afar, no Djibouti. No Quênia, o vale é mais profundo a norte de Nairobi, e possui lagos menos profundos, mas com elevado conte- údo mineral, como o lago Magadi, é quase soda sólida (carbonato de sódio) e os lagos Elmenteita, Baringo, Bo- goria e Nakuru, extremamente alcalinos; o lago Naivasha tem fontes de água doce, o que lhe permite ter uma elevada biodiversidade. A parte final do vale junta-se for- mando o lago Niassa, um dos mais profundos do mundo, alcançando os 706 metros de profundidade. Ele separa o Malawi da província moçambicana do Niassa e logo chega ao vale do Rio Zambeze, onde acaba o vale do Rift. Se continuar a separação das placas, dentro de alguns milhões de anos, a África Oriental será inundada pelo oceano Índico e uma grande ilha será formada com a região leste da costa de África. No vale do Rift tem sido depositados, ao longo dos anos, sedimentos provenientes da erosão das suas margens, o que tornou o ambiente propício à conservação de des- pojos orgânicos. Por isso, foram feitas nesse ambiente importantes descobertas antropológicas, especialmente em Piedmont, no Quênia, onde foram encontrados os ossos de vários hominídeos, considerados antepassados do homem atual. O achado mais importante, de Donald Johanson, foi um esqueleto quase completo de um aus- tralopitecíneo, que foi chamado “Lucy”. Além das placas convergentes e divergentes, existem os chamados limites transformantes – um tipo de limite entre placas tectônicas em que elas deslizam e roçam uma na outra. Normalmente não há nem destruição nem cria- ção de crosta. Esse movimento classifica-se como horizon- te direito ou esquerdo. Boa parte dos limites transforman- tes ocorrem nos fundos oceânicos, onde eles provocam o movimento lateral de cristas ativas. Porém, os limites trans- formantes mais conhecidos encontram-se em terra, como o complexo da falha de San Andreas, localizado na costa da América do Norte. a Falha de San andreaS 2.2. Vulcanismo Vulcanismo é a atividade geológica que envolve qualquer processo ou conjunto de fenômenos relacionados com o derramamento ou movimentação do magma, gases e ou- tros materiais advindos do interior da Terra para a superfí- cie. Suas atividades estão quase sempre relacionadas com a movimentação das placas tectônicas, e são mais comuns nas zonas de encontro entre duas placas diferentes. eSqueMa iluStrativo de uM vulcão eM atividade CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 81 V O LU M E 1 É possível classificar o vulcanismo em: primário – ligado diretamente aos vulcões, e secundário – ligado a ativida- des vulcânicas em geral, como gêiseres, fontes termais, etc. Os vulcões são aberturas na crosta terrestre pelas quais uma grande quantidade de magma é liberada – material extremamente aquecido formado por rochas quase líqui- das. As erupções acontecem devido à pressão oriunda do interior da Terra que “empurra” o magma para cima. Em virtude dessa pressão, é comum haver alguns tremores nos arredores de grandes vulcões pouco tempo antes de eles entrarem em atividade. As erupções vulcânicas são classificadas em três tipos prin- cipais: as efusivas (que emitem lava), as explosivas (que emitem fragmentos de rocha sólida, chamados de piroclas-tos) e as mistas (que emitem lavas e piroclastos). É impor- tante lembrar que magma e lava são termos diferentes: o primeiro é o conjunto de materiais sólidos em estado de fusão, localizados no manto terrestre; o segundo é a trans- formação do magma quando chega à superfície, perdendo boa parte de seus gases. As erupções vulcânicas, quando emitem um material que se encontra em maior quantidade abaixo da crosta ter- restres, auxiliam o ser humano a compreender melhor como o planeta Terra se estrutura abaixo da superfície, em zonas onde o acesso e a obtenção de materiais para estudo são dificultados. Dessa forma, muitas informa- ções sobre a estrutura interna do planeta e o seu pro- cesso de formação advêm de dados coletados após as atividades vulcânicas. Alguns vulcões que não estão mais em atividade são cons- tantemente chamados de “adormecidos”. No entanto, al- guns deles podem simplesmente “acordar” sem maiores dificuldades, o que se explica pelo fato de as atividades vul- cânicas ocorrerem desde a formação do planeta, há mais de 4,5 bilhões de anos. Portanto, sua escala temporal é ge- ológica, bem diferente da escala temporal histórica: alguns vulcões não estão inativos, somente o seu ciclo de ativação é que é longo, envolvendo centenas ou até milhares de anos entre uma erupção e outra. SolidiFicação de lava vulcânica, dando origeM ao baSalto Ilhas vulcânicas § Hotspot: consiste numa zona singularmente mais quente no manto. A instabilidade da fronteira en- tre o núcleo e o manto nessa zona originou uma coluna de matéria quente que sobe pelo manto, constituindo uma pluma térmica. Ao atingir a li- tosfera, o material da pluma funde e o magma re- sultante derrete a crosta oceânica, perde os seus gases, virando lava, que se transforma em basalto. O Havaí, a Islândia e os Açores são três exemplos. Tanto no Havaí como na Islândia, o hotspot continuou der- ramando magma e uma montanha foi crescendo até passar a superfície oceânica. A ilha de Kauai, no Havaí, foi a primeira a ser formada. Como a crosta oceânica está sempre sendo construída e destruída, e também se movendo, formaram-se outras ilhas: Oahu, Molokai, Maui e a última, Havaí. O hotspot está por baixo do Havaí, com vulcões que ainda estão se formando. PluMa abaixo da iSlândia § Vulcão submarino: durante a erupção do vulcão submarino, ele expele a lava que arrefece e forma uma ilha, como a recém-formada ao lado da ilha de Nishinoshima, no Japão, ou a ilha de Surtsey, na Islândia. A ação dos vulcões no relevo costuma ser bastante eviden- te: envolve tanto verdadeiras catástrofes como contribui positivamente para as práticas humanas. As rochas oriun- das da lava que se solidifica rapidamente na superfície são chamadas de rochas ígneas ou magmáticas, das quais a mais comum é o basalto. Quando se decompõem, essas 82 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 rochas dão origem às “terras roxas”, que são muito férteis. Além disso, as cinzas emitidas nas erupções também aju- dam a fertilizar os solos. Além de modificar o relevo, os vulcões podem também alterar o clima. Quando as cinzas são lançadas para muito alto, elas podem sofrer uma menor influência da gravidade e pairar na atmosfera durante muitos anos, bloqueando parte dos raios solares e contribuindo para a diminuição das temperaturas. Em regiões oceânicas, as erupções podem provocar o aque- cimento das águas e o surgimento de massas de ar quente. A compreensão das ações e dos efeitos do vulcanismo no relevo e nas sociedades nos ajuda a entender a comple- xidade e a inter-relação entre os diversos fenômenos que acontecem no interior e no exterior da Terra. Os assoalhos oceânicos, principalmente os das dorsais sub- marinas, concentram parte significativa dos vulcões. Milha- res de ilhas oceânicas se formaram por causa da atividade vulcânica. A principal região vulcânica da Terra é o anel de dobramentos que cerca o oceano Pacífico, conhecido como Círculo de Fogo do Pacífico, uma área que vai da cordilheira dos Andes às Filipinas, passando pela costa ocidental da América do Norte e pelo Japão, onde se encontram cerca de três quartos dos vulcões ativos do mundo. círculo de Fogo do PacíFico 2.3. Tectonismo ou diastrofismo Tectonismo é um termo geral que abrange todos os movimen- tos da crosta terrestre com origem em processos tectônicos, como formação de bacias oceânicas, continentes, planaltos e cordilheiras. Os movimentos tectônicos resultam de pressões vindas do interior da Terra e que agem na crosta terrestre. Quando as pressões são verticais, os blocos continentais so- frem levantamentos e rebaixamentos. O diastrofismo (distor- ção) caracteriza-se por movimentos lentos e prolongados que acontecem no interior da crosta terrestre e produzem defor- mações nas rochas. Esse movimento pode ocorrer na forma vertical (epirogênese) ou na horizontal (orogênese). 2.3.1. Orogênese São os movimentos geológicos que levam à formação de montanhas ou cadeias montanhosas. Esses movimentos, produzindo por dobramentos e falhamentos resultantes do choque entre as placas, são considerados rápidos em termos geológicos. O processo de orogenia andina, por exemplo, ini- ciou-se no mesozoico e prolongou-se até o cenozoico. 2.3.2. Epirogênese Lento movimento de subida e descida de grandes porções da crosta – provocado pela compensação de pressão que um bloco da litosfera exerce sobre as áreas mais próximas – causando sua elevação pelo princípio da isostasia. A orogênese e a epirogênese não podem ser considerados movimentos interdependentes e desarticulados. Os dois movimentos resultam da deriva continental e do choque de placas tectônicas convergentes; em ambos ocorrem fa- lhamentos, fraturas de rochas e vulcanismo. o horSt e a graben São oS doiS PrinciPaiS tiPoS de FalhaMentoS. O processo de orogenia andina iniciou-se no Mesozoico e prolongou-se até o Cenozoico. Durante este último ocorreu CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 83 V O LU M E 1 a epirogenia do continente sul-americano. Acompanhando esses movimentos, aconteceram, por exemplo, falhamentos como os que geraram a escarpa da serra do Mar, da serra da Mantiqueira (Horst), o médio vale do Paraíba (Grabem), o vulcanismo e as intrusões ao longo do litoral Pacífico. § Horst: bloco de terra elevado em relação às áreas vizinhas, devido ao movimento combinado de pla- cas geológicas paralelas, cujo movimento provoca o rebaixamento de terrenos vizinhos ou a elevação de uma faixa de terreno entre elas. § Graben: depressão de origem tectônica, geralmente com a forma de um vale alongado, com fundo plano, formada quando um bloco de uma área fica rebaixado em relação à área circundante. Fonte: Youtube O Inferno de Dante No filme O Inferno de Dante, Harry Dalton (Pierce Bros- nan), um vulcanologista (perito em fenômenos vulcâ- nicos), e Rachel Wando (Linda Hamilton), a prefeita de Dante, uma pequena cidade, tentam convencer o conse- lho dos cidadãos e outros geólogos a declarar estado de alerta, pois um vulcão muito próximo, que está inativo há vários séculos, entrará em erupção. Mas interesses econô- micos são contrariados com a notícia, que pode afastar um grande empresário que pretende fazer investimentos que iriam gerar 800 empregos diretos na cidade. multimídia: vídeo 2.4. Sísmicos Outro importante agente interno modelador do relevo são os abalos sísmicos. Terremoto ou abalo sísmico é uma vi- bração da superfície terrestre produzida por forças naturais situadas no interior da crosta a profundidades variáveis. Embora a palavra terremoto seja mais utilizada para os grandes eventos destrutivos, e que os menores sejam geralmente chamados de abalos ou tremores de terra, to- dos resultam do mesmo processo geológico de acúmulo lento e liberação rápida de tensões. A diferença principal entre os grandes terremotos e os pequenos tremores é o tamanho da área de ruptura, o que determina a inten- sidade das vibraçõesemitidas. O lento movimento da camada mais externa da Terra, cerca de alguns centímetros por ano, produz tensões que vão se acumulando em vários pontos. Essas tensões podem ser compressivas ou expansivas, dependendo da direção de movimento relativa entre as placas que compõem a camada externa da Terra. Quando essas tensões atingem o limite de resistência das rochas, ocorre uma ruptura. https://volcano.si.edu/ multimídia: sites O movimento repentino entre os blocos de cada lado da rup- tura gera vibrações que se propagam em todas as direções. O plano de ruptura forma o que se chama de falha geoló- gica. Os terremotos podem ocorrer quando há contato entre duas placas (caso mais frequente) ou no interior de uma de- las, como indicado na figura acima, sem que a ruptura atinja a superfície. O ponto onde começa a ruptura e a liberação das tensões acumuladas chama-se hipocentro, e a distância 84 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 do foco à superfície é a profundidade focal. O tamanho do terremoto é medido por meio de uma escala de magnitude chamada escala Richter – uma escala logarítmica que varia de 0 a 10. Existe também a escala Mercalli, que classifica a intensidade do tremor a partir dos efeitos sobre as pessoas, as construções e a natureza. Quando acontece uma ruptura no interior da Terra, são geradas vibrações sísmicas que se propagam em todas as direções em forma de ondas. O mes- mo ocorre, por exemplo, com uma detonação de explosivos em uma pedreira, cujas vibrações, tanto no terreno quanto no ar (ondas sonoras), podem ser sentidas a grandes distâncias. Essas ondas sísmicas é que causam danos perto do epicentro e podem ser registradas por sismógrafos em todo o mundo. Fonte: Youtube Terremoto – João Bosco e Vinícius de Moraes multimídia: música Como se forma um tsunami Outro tipo de fenômeno relacionado com os abalos sísmicos, é o tsunami, fenômeno que provoca o aparecimento de on- das gigantes, longas e velocíssimas (900 km/h), que podem atingir 50 metros de altura e avançar quilômetros adentro do continente. Um terremoto de nove graus na escala Richter, com epicentro no oceano Índico, provocou um tsunami que atingiu, em dezembro de 2004, o litoral de treze países e deixou um saldo de mortes superior a 200 mil pessoas. Mapa das zonas sísmicas Vladivostok Nordvik Lanzhou Wellington 180 ° 051 ° 021 ° 90° 06 ° 30° 0° 180 ° 150 ° 120 ° 90° 60° 30° 180 ° 150 ° 120 ° 90° 60° 30° 0° 180 ° 150 ° 120 ° 90° 60° 30° 0° 30° 30° 60° 90° 60° 60° 90° 30° 0° 30° 60° Baixa 0 0,2 0,4 0,8 1,6 2,4 3,2 4,0 4,8 5,6 Média Alta Muito alta Fonte: Global Seismic Hazard Program 3. Agentes externos (esculturais) O relevo terrestre encontra-se em permanente desenvol- vimento. Suas formas criadas por agentes internos estão constantemente sofrendo a ação dos chamados agentes externos do relevo, que realizam um trabalho de mode- lagem da paisagem terrestre. Esse trabalho é contínuo e incessante. As forças exógenas correspondem à ação de agentes naturais, como águas correntes, ventos, mares, ge- leiras, seres vivos, entre outros. Apesar de essa atividade abranger toda a superfície terrestre, é fundamental enten- der que, além do trabalho específico de cada um deles, a participação de cada um difere bastante de acordo com a área em que atuam. Os agentes externos esculturais mostram seus trabalhos em duas formas básicas: o intemperismo e a erosão. O in- temperismo é responsável pelo desgaste e/ou fragmenta- ção das estruturas e a erosão é responsável pelo transporte do material desagregado pelo intemperismo. 3.1. Intemperismo O intemperismo é classificado de três maneiras: físico, quími- co e biológico. O físico corresponde às transformações físi- cas, como a fragmentação, que posteriormente se depositará numa outra região. Ele predomina em ambientes extremos, como desertos ou áreas congeladas. Com as variações térmi- cas, os corpos dilatam-se e contraem-se em curtos períodos de tempo e acabam fragmentando-se, criando a possibilida- de de transporte desses fragmentos pela ação dos ventos ou das águas, o que caracteriza a erosão. O intemperismo químico se caracteriza pela alteração quí- mica de rochas ou de solos em soluções aquosas. Embora a água da chuva seja naturalmente destilada, ela não é pura, pois há gases importantes do ar dissolvidos nela: oxigênio e gás carbônico. Esses gases, principalmente o carbônico, em contato com a água, formam ácidos com ações corrosi- vas que alteram quimicamente os minerais que compõem as rochas e os solos. O intemperismo químico ocorre em regiões com alto índice pluviométrico, como as equatoriais, onde as chuvas são mais intensas. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 85 V O LU M E 1 A ação biológica também compõe ações intempéricas. A ruptura de solos e rochas pela força das raízes de uma árvore compõe o intemperismo físico-biológico. As atividades orgâ- nicas de bactérias e fungos, presentes na decomposição de animais ou vegetais, transformam quimicamente as rochas e os solos e caracterizam o intemperismo químico-biológico. 3.2. Erosão (tipos) 3.2.1. Eólica (ventos) A erosão eólica acontece de duas maneiras: por deflação e por corrosão. Na deflação, o vento faz uma varredura de uma superfície e remove sedimentos soltos. Na corrosão, o vento é pesado e carregado de partículas em suspensão, por isso atua somente nas partes mais baixas formando figuras em forma de “cogumelos” ou “taças”. A acumulação eólica, por sua vez, é responsável pela formação de dunas e de loess – sedimento fértil de coloração amarela. As dunas são mon- tanhas de areia formadas pela ação do vento e aparecem em litorais, áreas continentais e desertos. As dunas litorâne- as podem ser fixas ou móveis – podem até mesmo soterrar grandes extensões de terra, até cidades inteiras. taça ou cálice, eM Ponta groSSa, Paraná 3.2.2. Pluvial (chuva) A erosão pluvial é provocada pela retirada de material da parte superficial do solo pelas águas da chuva. Essa ação é acelerada quando a água encontra o solo desprotegido de vegetação. A primeira ação da chuva ocorre por meio do impacto das gotas d’água sobre o solo, provocando a desagregação dos torrões e agregados do solo, lançando o material mais fino para cima e para longe – fenômeno co- nhecido como salpicamento. A força do impacto também força o material mais fino para ir abaixo da superfície, o que provoca a obstrução da porosidade (selagem) do solo e aumenta o fluxo superficial e a erosão. A chuva é um dos agentes erosivos mais ativos. Provoca enchentes e enxurradas. Dependendo do grau de intensi- dade das águas das chuvas, acontece a erosão pluvial do tipo superficial, laminar, de sulcos ou de ravinamento. iluStração eSqueMática do ProceSSo eroSivo Pluvial coM Foco Para a ForMação de ravinaS 3.2.3. Fluvial (rios) A erosão fluvial é causada pelo desgaste provocado pelo percurso que as águas dos rios fazem. Ela favorece a formação de planícies e ilhas em foz do tipo delta. As correntes de água transportam materiais que são deposi- tados em outros locais. Essa erosão pode mudar o curso do rio, gerando os cha- mados meandros. Um exemplo da erosão fluvial é o Grand Canyon, localizado no Arizona, Estados Unidos. Ele é resul- tado da erosão fluvial do rio Colorado. É importante lem- brar, que essas alterações no relevo levam muito tempo para acontecer, cerca de milhões de anos. o grand canYon é uM exeMPlo de inteMPeriSMo FíSico coM gêneSe Fluvial. 3.2.4. Glacial (gelo) É o trabalho de formação do relevo feito pelas geleiras. Ao descer de áreas mais altas para outras mais baixas, o gelo pode causar a abertura de vales normalmente chamados de fiordes, formados pela presença de antigas geleiras. Nas áreas de acumulação formam-se as morainas ou morenas. 86 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 VIVENCIANDO Normalmente acontece quando,em épocas de temperaturas muito frias, a água que no verão penetrou entre as rochas con- gela e acaba por quebrá-las devido ao aumento de volume. FiordeS, na noruega 3.2.5. Marinha ou abrasão Um trabalho destrutivo ou construtivo como resultado da ação do mar. Muito comum nos litorais de costas altas, é provocado pela ação das ondas, que vão corroendo as ba- ses e causando desabamentos. O trabalho de acumulação marinha leva à formação de restingas, recifes, tômbolos, lagunas, lagoas e praias – su- perfícies cobertas de areia e localizadas em costa baixa. O trabalho de destruição marinha provoca o surgimento de barreiras e falésias, bem como a formação de praias. ForMação de FaléSiaS 3.2.6. Erosão acelerada (Antrópica) Essa erosão decorre do agravamento dos processos natu- rais de erosão em razão do mau uso do solo, como o culti- vo com técnicas inadequadas. eroSão acelerada Pela ação de MineradoraS Em grande parte dos casos, o vento modifica o relevo em regiões litorâneas e também desérticas. Ambas são áreas de concentração de areia; assim sendo, o vento sopra deslocando-a de um lugar para outro. Tal fenômeno é res- ponsável pela formação das dunas. No entanto, a ação dos ventos não se limita a isso. Ela também desempenha influência em casos em que a poeira disposta no ar é lançada em direção às rochas. Então, de maneira gradativa e lenta, o relevo vai sendo modelado dando origem a esculturas naturais intrigantes. Propomos aqui que cada aluno observe os lugares por onde passa e identifique os agentes externos que mais esculpem o relevo. CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 87 V O LU M E 1 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Erosão por impacto das gotas Soli�uxão Rastejo Erosão em condutos subterrâneos (”pipe”) Escorrega- mento Avalanche Movimento de massa OceanoChuva Água de escoamento Água Escoamento super�cial Escoamento subsuper�cial Erosão em canais �uviais Erosão em ravinas e voçorocas Erosão em sulcos Erosão laminar Erosão gracial Erosão costeira Causada pela gravidadeCausada por �uidosCausada pelo vento Erosão eólica É importante evidenciar a importância do estudo dos processos erosivos para a arquitetura, na medida em que os edifícios são construídos sobre um terreno real, que tem uma modelagem geomorfológica específica, fruto, entre outros aspectos, da ação das águas pluviais sobre a superfície do solo, que gera um processo que não se interrompe com a conclusão das obras. 88 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1 ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM HABILIDADE 26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem. Relevo e sociedade formam diferentes faces de uma mesma composição estrutural, que responde pela in- teração das atividades humanas com a cadeia de elementos naturais. Sendo assim, é impensável considerar um sem o outro, muito embora a maior parte das paisagens geomorfológicas do nosso planeta tenha se constituído em períodos anteriores à formação das primeiras civilizações. Nesse sentido, se considerarmos a influência e a mútua relação entre relevo e sociedade, perceberemos o quanto os elementos naturais condi- cionam, em parte, as atividades humanas. Geralmente, os agrupamentos humanos optam por estabelecer suas práticas em lugares planos ou naqueles menos inclinados possíveis. Entretanto, com o desenvolvimento das diferentes técnicas, foram desenvolvidas formas de ocupar também esses espaços, embora tal ocorrên- cia nem sempre seja realizada de maneira sustentável. MODELO 1 (Enem) De repente, sente-se uma vibração que aumenta rapidamente; lustres balançam, objetos se movem sozinhos e somos invadidos pela estranha sensação de medo do imprevisto. Segundos parecem horas, poucos minutos são uma eternidade. Estamos sentindo os efeitos de um terremoto, um tipo de abalo sísmico. aSSad, l. oS (não tão) iMPercePtíveiS MoviMentoS da terra. coMciência: reviSta eletrônica de jornaliSMo cientíFico, n.o 117, abr. 2010. diSPonível eM: httP://coMciencia.br. aceSSo eM: 2 Mar. 2012. O fenômeno físico descrito no texto afeta intensamente as populações que ocupam espaços próximos às áreas de a) alívio da tensão geológica; b) desgaste da erosão superficial; c) atuação do intemperismo químico; d) formação de aquíferos profundos; e) acúmulo de depósitos sedimentares. ANÁLISE EXPOSITIVA O “alívio de tensão geológica” refere-se a um abalo sísmico ou terremoto, cuja origem se dá em profun- didade (hipocentro). As ondas sísmicas atingem a superfície (epicentro) e se propagam, podendo causar danos socioeconômicos. RESPOSTA Alternativa A CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias 89 V O LU M E 1 DIAGRAMA DE IDEIAS OROGÊNESE EPIROGÊNESE VULCANISMO ABALOS SÍSMICOS FÍSICO BIOLÓGICOQUÍMICO RELEVO AGENTES ESTRUTURAIS (INTERNOS) TECTONISMO AGENTES ESTRUTURAIS (EXTERNOS) EROSÃO (TRANSPORTE) INTEMPERISMO GEOMORFOLOGIA • EÓLICA • FLUVIAL • PLUVIAL • MARINHA • GLACIAL ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ANOTAÇÕES 90 CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias V O LU M E 1