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INOCENTAR 153 IRA
B. Adjetivo.
nãqi (’pp): “inocente”. Este adjetivo aparece 43
vezes no Antigo Testamento. Uma ocorrência está
no SI 15.5, que fala do homem íntegro, que não “re
cebe subornos contra o inocente”.
INSTRUÇÃO
A. Substantivo.
müsãr (~D'D): “instrução, castigo, advertência”.
Este substantivo aparecc 50 vezes, principalmente
em Provérbios. A primeira ocorrência está em Dt
11.2: “E hoje sabereis que falo, não com vossos
filhos, que o não sabem e não viram a instrução do
SENHOR, vosso Deus, a sua grandeza, a sua mão
forte, c o seu braço estendido”.
Um dos principais propósitos da literatura
sapiencial era ensinar sabedoria e müsãr (Pv 1.2 ). O
termo müsãr significa disciplina, mas é mais que
isso. Como "disciplina", ele ensina como viver cor
retamente no temor do Senhor, de forma que o sábio
aprenda a lição antes da tentação e da prova: "O que
tendo eu visto, o considerei: e. vendo-o. recebi ins
trução" (Pv 24.32). Esta “disciplina" é treinamento
para vida: por conseguinte, prestar atenção a m úsjr
é importante. Muitos verbos confirmam a necessi
dade de uma resposta correta: "Ouvir, obedecer,
amar, receber, obter, apoderar-se. guardar, manter".
Além disso, a rejeição é confirmada por muitos ver
bos relacionados com müsãr. “Rejeitar, odiar, igno
rar. não amar, menosprezar, abandonar”. Quando
müsãr é dado como “instrução", mas não é observa
do, o müsãr como “castigo” ou “disciplina" pode
ser o próximo passo: “A estultícia está ligada ao
coração do menino, mas a vara da correção a afugen
tará dclc” (Pv 22.15).
Atenção cuidadosa à “instrução" traz honra (Pv
1.9), vida (Pv 4.13), e sabedoria (Pv 8.33), e. acima
de tudo, agrada a Deus: “Porque o que me achar
achará a vida e alcançará favor do SENHOR” (Pv
8.35). A falta de observância da “instrução’- ocasio
na seus próprios resultados: morte (Pv 5.23). po
breza e vergonha (Pv 13.18), e é, em última instân
cia, sinal de que o indivíduo não tem consideração
pela própria vida (Pv 15.32).
A receptividade da “instrução” dada pelos pais,
professores, o sábio ou o rei é corolário direto da
subjugação do indivíduo à disciplina de Deus. Os
profetas acusaram Israel por não receber a disciplina
de Deus: “Ah! SENHOR, atentam os teus olhos para
a verdade? Feriste-os, e não lhes doeu; consumiste-
os, e não quiseram recebei- a correção; endureceram
as suas faces mais do que uma rocha; não quiseram
voltar” (Jr 5.3). Jeremias pediu aos judeus e aos habi
tantes da Jerusalém sitiada que prestassem atenção
ao que estava acontecendo ao redor, para que eles
ainda se sujeitassem à “instrução” (Jr 35.13). Isaías
predisse que o castigo de Deus que os homens mere
ciam foi levado pelo Servo Sofredor, trazendo paz
aos que crêem nEle: “Mas ele foi ferido pelas nossas
transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas
suas pisaduras. fomos sarados” (Is 53.5).
A Septuaginta tem a tradução de paideia (“edu
cação. treinamento, instrução"). A palavra grega é a
base para a palavra pedagogia, “treinamento dc uma
criança”.
B. Verbo.
yãsar ( " ') : "disciplinar". Este verbo ocorre no
hebraico e no ugarítico com o sentido de "discipli
nar". Fora destes idiomas a raiz não está represen
tada. O verbo aparece 42 vezes no Antigo Testa
mento: cf. Pv 19.18: "Castiga teu filho enquanto há
esperança, mas para o matar não alçarás a tua alma”.
INVENTAR
hãsab (rr~): "pensar, considerar, contar, inven
tar. planejar". Esta palavra é encontrada ao longo do
desenvolvimento histórico do hebraico e do aramaico.
Encontrada pelo menos 120 vezes na Bíblia hebraica.
hãsab ocorre pela primeira vez no texto em Gn 15.6.
onde se diz de Abraão: "E creu ele no SENHOR, e
foi-lhe imputado [contado] isto por justiça”.
Freqüentemente usado no sentido comum de
"pensamento” , ou os processos de pensamento
normais (Is 10.7: 53.4; Ml 3.16), hãsab também e
usado no sentido de “intentar” ou “pensar planos
maus" (Gn 50.20; Jr 48.2). A palavra se refere aos
artesãos que “inventam” instrumentos dc música,
objetos artísticos e armas de guerra (Ex 31.4: 2 Cr
26.15: Am 6.5).
IR \
A. Substantivo.
hemãh (non): “ira. ardor, furor, raiva”. Este subs
tantivo aparece nos idiomas semíticos com os signi
ficados de “ardor, calor, ira. veneno, peçonha”. O
substantivo, como também o verbo yãham, denota
um estado emocional forte. O substantivo é usado
120 vezes, predominantemente na literatura poéti
ca e profética, sobretudo em Ezequiel.
O primeiro uso de hemãh se dá na história de
Esaú e Jacó. Jacó foi aconselhado a ir para Harã com
IRA 154 IRAR-SE
a esperança de que a “ira’’ de Esaú dissipasse: “E
mora com ele alguns dias, até que passe o furor de
teu irmão” (Gn 27.44).
A palavra indica um estado de raiva. A maioria
dos usos envolve a “ira” de Deus. A Sua “ira” é
expressa contra o pecado de Israel no deserto: “Por
que temi por causa da ira e do furor com que o
SENHOR tanto estava irado contra vós, para vos
destruir” (Dt 9.19). O salmista suplica pela miseri
córdia de Deus na hora da “ira” de Deus: “SENHOR,
não me repreendas na tua ira, nem me castigues no
teu furor” (SI 6.1). No fim, a “ira” de Deus foi ex
pressa contra Israel no Exílio dos judeus na Babilônia:
“Deu o SENHOR cumprimento ao seu furor; derra
mou o ardor da sua ira e acendeu fogo em Sião, que
consumiu os seus fundamentos” (Lm 4.11).
A metáfora “cálice” denota o julgamento de Deus
sobre o Seu povo. Sua “ira” é derramada: “Pelo que
derramou sobre eles a indignação da sua ira e a força
da guerra e lhes pôs labaredas em redor, mas nisso
não atentaram; e os queimou, mas não puseram nis
so o coração” (Is 42.25 ); e o “cálice da ira” é bebido:
"Desperta, desperta, levanta-te, ó Jerusalém, que
bebeste da mão do SENHOR o cálice do seu furor,
bebeste e sorveste as fezes do cálice da vacilação”
(Is 51.17).
Deus. na qualidade de Potentado Todo-Podero-
so, fica irado pelos pecados c orgulho do Seu povo,
visto que são um insulto à Sua santidade. Em certo
sentido derivado, os soberanos da terra também fi
cam irados, mas a sua ira é despertada por circuns-
làncias nas quais eles não têm controle. Naamã fi
cou irado com o conselho de Eliseu (2 Rs 5.11,12);
Assuero ficou enfurecido com a recusa de Vasti exi
bir sua beleza diante dos homens (Et 1.12).
O termo henulh também denota a reação do ho
mem diante das circunstâncias cotidianas. A “ira”
do homem é uma expressão perigosa do seu estado
emocional, visto que inflama todos os que estão
perto da pessoa irada. A “ira” surge por muitas
razões. Provérbios falam com vccmência contra a
hemãh, como o ciúme (Pv 6.34); confronte: “Cruel
é o furor e a impetuosa ira, mas quem parará peran
te a inveja?” (Pv 27.4; cf. Ez 16.38). O homem irado
pode ser culpável de crime e ser condenado: “Temei
vós mesmos a espada; porque o furor traz os casti
gos da espada, para saberdes que há um juízo” (Jó
19.29). A resposta sábia à “ira” é uma resposta
suave: “A resposta branda desvia o furor, mas a
palavra dura suscita a ira” (Pv 15.1).
A palavra lieniãh está associada com q inãh ,
“ciúme”, e também com nãqãm, “vingança”, já que
a pessoa enfurecida procura defender seu nome ou
vingar-se na pessoa que o provocou. Nos procedi
mentos de Deus para com Israel Ele teve ciúmes do
Seu nome Santo, razão pela qual Ele precisou tratar
com justiça do Israel idólatra, vingando-se: “Para
fazer subir a indignação, para tomar vingança, eu
pus o seu sangue numa penha descalvada, para que
não seja coberto” (Ez 24.8). Mas Ele também vinga
o Seu povo contra os inimigos: “O SENHOR é um
Deus zeloso e que toma vingança; o SENHOR toma
vingança e é cheio de furor; o SENHOR toma vin
gança contra os seus adversários e guarda a ira con
tra os seus inimigos” (Na 1.2). Outros sinônimos de
hemãh são ’ap. “raiva, furor”, e qesep, “ira”, como
em Dt 29.27 e J r 21.5.
Há dois significados especiais de hemãh. Um é
"ardor” ou “calor”, como em “o Espírito me levan
tou e me levou;e eu me fui rnui triste, no ardor do
meu espírito; mas a mão do SENHOR era forte so
bre mim” (Ez 3.14). O outro é “veneno” ou “peço-
nha”, como em Dt 32.33: “O seu vinho é ardente
veneno dc dragões e peçonha cruel de víboras”.
A Septuaginta dá as seguintes traduções: orge
(“raiva, indignação, ira”) e íhurnos (“paixão, ardor,
raiva, ira”).
B. Verbo.
yãham (CiT): “irar-se, eneolerizar-se, esquentar-
se”. Este verbo, que só ocorre 10 vezes no hebraico
bíblico, é a raiz do substantivo henulh.
Em Dt 19.6, yãham significa “esquentar-se”:
“Para que o vingador do sangue não vá após o homi
cida, quando se esquentar o seu coração, e o alcan
ce”.
IRAR-SE
A. Verbo.
qãtsaph (HS~): “irar-se, ficar irado, com raiva”.
Este verbo aparece 34 vezes e e encontrado princi
palmente no Pentateuco e nos profetas, e algumas
vezes nos livros históricos e na literatura poética. A
palavra é usada no hebraico rabínico, mas seu uso
no hebraico moderno foi substituído por outros
verbos. E uma palavra cananéia antiga. Como glosa
apareceu nas Tabuinhas de Amarna com o significa
do de “preocupar-se” ou, de acordo com outros,
“amargurar-se". A relação com o cognato árabe
qasafa é duvidosa.
O significado geral de qãtsaph é uma forte explo
são emocional de raiva, sobretudo quando o homem
é o sujeito da reação. O primeiro uso da palavra
IRAR-SE 155 IRMÃO
apresenta este sentido: “E indignou-se Faraó muito
contra os seus dois eunucos. [...] E entregou-os à
prisão [custódia]” (Gn 40.2,3; cf. Gn 41.10). Moisés
ficou amargamente irado com os israelitas desobe
dientes (Êx 16.20). Os líderes dos filisteus “iraram-
se” com Aquis (1 Sm 29.4), e Naamã ficou grande
mente irritado pela falta de sentido de protocolo
por parte de Eliseu (2 Rs 5.11). Eliseu expressou
sua raiva por Jeoás, rei de Israel (2 Rs 13.19). O rei
Assuero, em sua ira, depôs Vasti (Et 1.12). Nestes
exemplos, o indivíduo exaltado (geralmente um rei)
demonstrou sua ira real em medidas radicais contra
seus súditos. Ele estava em posição de “ficar irado"
com a reação ou atitude dos seus súditos. É mais
raro uma pessoa “ficar irada” com um seu igual. E
até mais raro um súdito “ficar bravo” com seu supe
rior: “Dois eunucos do rei [...] grandemente se in
dignaram e procuraram pôr as mãos sobre o rei
Assuero” (Et 2.21).
O substantivo derivado de qãtsaph se refere
particularmente à raiva de Deus. O verbo qãisapk
é usado 11 vezes para descrever a raiva do homem
e IS vezes para se referir à raiva de Deus. E^te
fato, junto com a observação de que o verbo é em
geral uma expressão de um superior contra um sú
dito, explica por que o texto bíblico usa qãtsaph
com mais freqüência para descrever a ira de Deus.
O objeto da ira é indicado pela preposição 'al i "con
tra”). “Porque temi por causa da ira [ 'ap] e do
furor [hemãh] com que o SENHOR tanto estava
irado [qãtsaph] contra [V;/] vós, para vos destruir"
(Dt 9.19). A ira do Senhor se expressa contra a
desobediência (Lv 10.6) e o pecado (Ec 5.5ss).
Entretanto, a própria pessoa pode ser a causa da
ira dc Deus (SI 106.32). No deserto, os israelitas
provocaram a ira de Deus pela desobediência e
falta de fé: “Lembra-te e não te esqueças de que
muito provocaste à ira o SENHOR, teu Deus, no
deserto; desde o dia em que saístes do Egito até
que chegastcs a esse lugar, rebeldes fostcs contra o
SENHOR” (Dt 9.7, cf. Dt 9.8,22). Moisés falou
sobre a ira de Deus contra a desobediência de Isra
el. a qual seria, no momento próprio, a ocasião
para o Exílio (Dt 29.27), e os profetas amplificam
a advertência de Moisés sobre a vindoura “ira” de
Deus (Jr 21.5). Depois do Exílio, Deus teve com
paixão de Israel e voltou Sua ira contra os inimigos
de Israel (Is 34.2).
Na versão grega, encontramos as seguintes tra
duções; orgizomai (“irar-se”) e lupew (“afligir-se,
doer-se, entristecer-se”).
B. Substantivo.
qetseph (Ĥ i?): “ira, indignação, furor”. Este subs
tantivo ocorre 28 vezes no hebraico bíblico e nor
malmente em referência a Deus. Uma ocorrência da
“ira” de Deus está em 2 Cr 29.8: “Pelo que veio
grande ira do SENHOR sobre Judá e Jerusalém".
Um exemplo da “ira” de homem aparece em Et 1.18:
"E. neste mesmo dia, as princesas da Pérsia e da
Média dirão o mesmo a todos os príncipes do rei,
ouvindo o feito da rainha; e, assim, haverá assaz
desprezo e indignação” (cf. Ec 5.17).
IRMÃ
'ãhót <.— N): “irmã". Como ocorre com as pala
vras para "irmão" e "pai”, este substantivo é co
mum em muitos idiomas semíticos. Considerando
que "irmão" aparece 629 vezes, “irmã” só ocorre
114 vezes. O uso é raro na literatura poética com a
exceção de Cantares de Salomão (sete vezes). A
primeira ocorrência está em Gn 4.22: “E Zilá tam
bém teve aTubalcaim. mestre de toda obra de cobre
e de ferro; e a innã de Tubalcaim foi Naamá”.
A tradução de "irmã" por ’ãhôt é só o começo.
No costume hebraico, a palavra tem um termo em
pregado para se referir à filha do pai e mãe (Gn
4.22 ou à meia-irmã (Gn 20.12). Também alude à
tia pelo lado paterno (Lv 18.12; 20.19) ou pelo lado
materno (Lv 18.13: 20.19).
O uso de ãhót denota mais geralmente as paren-
tas: "E abençoaram Rebeca e disseram-lhe: O nossa
irmã. sejas tu em milhares de milhares, c que a tua
semente possua a porta de seus aborrecedores!” (Gn
24.60). Este significado enconira-se por trás do uso
metafórico, onde duas divisões de uma nação (Judá
e Israel; Jr 3.7) e duas cidades (Sodoma e Samaria;
Ez 16.46) são retratadas como irmãs (os nomes
hebraicos de entidades geográficas são femininos).
O significado mais especializado de “amada” só
é encontrado em Ct 4.9: “Tiraste-me o coração,
minha irmã [ou amada], minha esposa; tiraste-me o
coração com um dos teus olhos, com um colar do
teu pescoço”. Aqui 'ãhót é usado como termo de
estima em vez de ser termo para designar parenta de
sangue.
A Septuaginta traduz a palavra adelphe (“irmã").
IRMÃO
'ãh (ns): “irmão”. Esta palavra tem cognatos no
ugarítico e na maioria dos outros idiomas semíticos.
O hebraico bíblico atesta a palavra aproximadamen
te 629 vezes e em todos os períodos.
IRMÃO 156 IR-SE EMBORA
Em seu significado básico, 'ãh representa “pa
rente masculino’’, “irmão ’. Este é seu significado na
primeira ocorrência bíblica: “E teve mais a seu ir
mão Abel” (Gn 4.2). Esta palavra representa irmão
germano ou meio-irmão: “Eele lhe disse: Ora, vai, e
vê como estão teus irmãos” (Gn 37.14).
Em outra acepção, 'ãh pode descrever “parente
de sangue”. O sobrinho de Abrão é chamado de seu
"irmão”: “E tornou a trazer toda a fazenda e tornou
a irazer também a Ló, seu irmão, c a sua fazenda, e
também as mulheres, e o povo” (Gn 14.16). Esta
passagem também pode refletir o uso de concerto
do termo por meio do qual conota “aliado” (cf. Gn
13.8). Em Gn 9.25, 'ãh significa claramente “paren
te”: “Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos
seus i r m ã o s Labão chamou seu sobrinho Jacó de
'ãh: "Depois, disse Labão a Jacó: Porque tu és meu
irmão, hás dc servir-me de graça?” (Gn 29.15). Um
pouco antes, Jacó se descreveu como ’ãh do pai de
Raquel (Gn 29.12).
As tribos podem ser chamadas de 'cihím: “En
tão, disse [a tribo dej Judá a [a tribo dc] Simeão, seu
irmão: Sobe comigo à herdade que me caiu por sor
te” (Jz 1.3). A palavra 'ãh é usada para se referir a
um membro da mesma tribo: “Com quem achares os
teus deuses, esse não viva: reconhece diante de nos
sos irmãos o que é teu do que está comigo e toma-
o para li” (Gn 31.32). Em outro lugar, descreve um
compatriota: “E aconteceu naqueles dias que, sen
do Moisés já grande, saiu a seus irmãos e atentou
nas suas cargas” (Êx. 2 .11).
Em várias passagens, a palavra 'ãh conota “com
panheiro” ou “colega”, quer dizer, irmão por esco
lha. Encontramos um exemplo em 2 Rs 9.2. “E,
chegando lá, vê onde está Jcú, filho de Josafá, filho
de Ninsi; e entra, e faze que ele se levante do meio
dc seus irmãos, e leva-o à câmara interior” (cf. Is
41.6; Nm 8.26). Algo neste sentido está no uso de
concerto da palavra'ãh como sinônimo de “aliado”:
“Então, saiu Ló a eles à porta, e fechou a porta atrás
de si, c disse: Meus irmãos, rogo-vos que não façais
mal” (Gn 19.6,7). Observe este mesmo uso emNm
20.14 e 1 Rs 9.13.
A palavra 'ãh pode ser um termo de tratamento
cortês, como parece ser em Gn 29.4: “E disse-lhes
Jacó [a pastores cuja identidade ele desconhecia]:
Meus irmãos, donde sois? E disseram: Somos de
Harã".
O vocábulo 'ãh às vezes representa alguém ou
algo que existe ao lado de determinada pessoa ou
coisa: “E certamente requererei o vosso sangue, o
sangue da vossa vida; da mão de todo animal o re
quererei, como também da mão do homem e da mão
do irmão de cada um requererei a vida do homem.
Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o
seu sangue será derramado; porque Deus fez ho
mem conforme a sua imagem” (Gn 9.5,6).
IR-SE EMBORA
A. Verbo.
gãlãh (rf?l): “sair, ir-se embora, descobrir, reve
lar”. Este verbo aparece no ugarítico, árabe, aramaico
imperial, aramaico bíblico e etiópico. O hebraico bí
blico o atesta em todos os períodos e por volta dc
190 vezes. Alguns estudiosos dividem este verbo em
dois homônimos (duas palavras distintas com a mes
ma soletração). Se esta divisão for aceita, gãlãh' apa
rece cerca de 112 vezes e gãlãh2 aproximadamente
75 vezes. Outros estudiosos consideram que este
seja somente um verbo com uma ênfase intransitiva e
uma ênfase transitiva. Parece mais provável.
Na forma intransitiva, gãlãh significa “ir-se em
bora” ou “sair”. Este significado é visto claramente
em 1 Sm 4.21: “Mas chamou ao menino Icabô, di
zendo: Foi-se a glória de Israel”. Assim, Is 24.11
poderia ser traduzido por: “Foi-se embora o gozo
da terra”. Uso especial deste sentido do verbo é
“entrar em exílio”. A primeira ocorrência bíblica de
gãlãh traz esta acepção: “E os filhos de Dã levanta
ram para si aquela imagem de escultura, e Jônatas,
[...] e seus filhos foram sacerdotes da tribo dos
danitas, ate ao dia do cativeiro da terra” (Jz 18.30),
ou até que perderam o controle da terra e foram
forçados a servir outros deuses.
O bem conhecido cativeiro do Antigo Testamen
to foi trazido por Deus pelos reis da Assíria e
Babilônia (1 Cr 5.26; cf. Jr 29.1).
Embora gãlãh não seja usado neste sentido na lei
de Moisés, a idéia está claramente presente. “Se
não tiveres [ó Israel] cuidado de guardar todas as
palavras desta lei, que estão escritas neste livro,
para temeres este nome glorioso e terrível, o SE
NHOR, teu Deus; [...] e desarraigados sereis da ter
ra, a qual passas a possuir. E o SENHOR vos espa
lhará entre todos os povos, desde uma extremidade
da terra até à outra extremidade da terra” (Dt
28.58,63,64; cf. Lv 26.27,33). Este verbo também é
usado para aludir ao “exílio de indivíduos”, como
Davi (2 Sm 15.19).
Esta palavra também significa “pôr-se nu”. Noé
“bebeu do vinho e embebedou-sc; e descobriu-se no
meio de sua tenda” (Gn 9.21).
IR-SE EMBORA 157 JOVEM
A forma transitiva ocorre com menos freqüên
cia, mas tem uma maior variedade de significados.
“Descobrir” outra pessoa pode significar “ter rela
ções sexuais” com ela: “Nenhum homem se chegará
a qualquer parenta da sua carne para descobrir a sua
nudez. Eu sou o SENHOR” (Lv 18.6). Descobrir a
nudez de alguém nem sempre se refere a relações
sexuais (cf. Êx 20.26). Outra expressão, “descobrir
a ourela de alguém” quer dizer ter relações sexuais
com uma pessoa (Dt 22.30).
Em Is 16.3, gãlãh1 (no radical intensivo) signifi
ca “trair” : “Esconda os desterrados [não traia o fu
gitivo]”. Este verbo também pode ser usado para
aludir a “descobrir” coisas, “pô-las a nu” de forma
que fiquem visíveis: “Os fundamentos do mundo st
descobriram, pela repreensão do SENHOR" (2 Sm
22.16). Em sentido relacionado. Ez 23.18 fala em
“pôr a descoberto” as devassidões, em "expô-las"
constantemente ou levar uma vida de devassidão.
A revelação de Deus de Si me>mo significa que
Ele “se manifestou" iGn 35.71. "Revelar aos ouvi
dos” de alguém é contar-lhe algo: "O SEXHOR o
revelara aos ouvidos de Samuel, um dia antes que
Saul viesse” (1 Sm 9.15). Neste caso, o verbo não
significa apenas “contar”, mas “contar a alguém algo
que não era sabido”. Usado neste sentido, gãlãh é
aplicado à “revelação” de segredos (Pv 11.13) e dos
sentimentos íntimos da pessoa. Por conseguinte, Jr
11.20 devia ser traduzido por: “A ti revelei meu caso".
Assim, gãlãh é usado para se referir a “tornar
algo" abertamente conhecido ou “dar publicidade”:
"Uma cópia do escrito para que se proclamasse a
lei em cada província foi enviada a todos os povos,
para que estivessem preparados para aquele dia"
(Et 3.14i. Outra acepção aparece em Jr 32.11, onde
gãlãh. com relação a uma ação de compra, significa
"não selado ou fechado”.
B. Substantivo.
gôlãh (■“".): "exílio, exilado". Esta palavra faz
42 ocorrências no Antigo Testamento. Esdras 2.1
usa a palavra para se referir às "pessoas que
retornaram do exílio". Em outras referências, a pala
vra significa "pessoas no exílio" (2 Rs 24.15). Em 1
Cr 5.22. gôlãh se refere à era do “exílio".
J
JOVEM
na ‘ar ("^J): “mocidade, jovem, rapaz, moço.
menino”. Esta palavra é encontrada no ugarítico e
parece que a palavra egípcia na-arma (“criados ar
mados”) também está relacionada com o uso semítico
ocidental. A raiz com o significado de “mocidade"
só ocorre como substantivo e surge no hebraico no
feminino (na‘arãh, “moça. jovem”) como também
na forma masculina (por exemplo, Gn 24.14).
O termo na'ar aparece 235 vezes no Antigo
Testamento hebraico. Seu uso é predominante no
Pentateuco e nos livros históricos. A primeira ocor
rência está cm Gn 14.23,24: “Não tomarei coisa
alguma [...] salvo tão-somente o que os jovens co
meram e a parte que toca aos varões que comigo
foram, Ancr, Escol e Mame; estes que tomem a sua
parte”.
O significado básico de na‘ar é “juventude” em
contraste com homem mais velho. As vezes, signi
fica criança muito nova: “Na verdade, antes que este
menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra
de que te enfadas será desamparada dos seus dois
reis” (Is 7.16). Em geral, na ‘ar denota um “homem
jovem” que está em idade de se casar, mas ainda é
solteiro. Temos de nos lembrar da oposição entre
mocidade e velhice, de forma que entendamos me
lhor que Jeremias, no mesmo tempo que afirmava
ser só uma "crianca". ele não era necessariamente
O
criança. Na verdade, ele argumentava que não tinha
a experiência dos mais velhos, quando disse: "Ah!
Senhor JEOVÁ! Eis que não sei falar; porque sou
uma criança" (Jr 1.6 ).
Absalão foi considerado na ‘ar, ainda que fosse
velho o bastante para liderar as tropas em rebelião
contra Davi: “E o rei deu ordem a Joabe, e a Abisai.
e a ltai. dizendo: Brandamente tratai por amor de
mim ao jovem, a Absalão” (2 Sm 18.5).
Um significando derivado dc na 'ar é “moço” ou
“criado". Jônatas usou um “criado” como pajem de
armas: “Sucedeu, pois, que um dia disse Jônatas.
filho de Saul. ao moço que lhe levava as armas: Vem,
passemos à guarnição dos filisteus, que está lá da
quela banda” (1 Sm 14.1). O na ‘ar (“moço" ou “ser-
viçal”) se dirigia a seu empregador por “senhor':
"Estando, pois, já perto de Jebus, e tendo-se já
declinado muito o dia, disse o moço a seu senhor:
JOVEM 158 JULGAR
Caminhai agora, e retiremo-nos a esta cidade dos
jebuseus e passemos ali a noite” (Jz 19.11). Os reis
e oficiais tinham “moços" que eram chamados pelo
título de na'ar. Neste contexto, a palavra é melhor
traduzida por “serviçal”, como no caso dos assis
tentes do rei Assuero que o aconselhavam: “Então,
disseram os jovens do rei que lhe serviam: Bus-
quem-se para o rei moças virgens, formosas à vista”
(Et 2.2). Quando um na 'ar é comissionado a levar
mensagens, ele é “mensageiro”. Assim, vemos que
o significado da palavra na1 ar como “criado” não
denota “escravo” ou aquele que faz serviços vis. Ele
levava documentos importantes, era treinado na arte
da guerra e até aconselhava reis.
Outro substantivo nõ‘ar significa“mocidade'’.
Este substantivo aparece só quatro vezes na Bíblia,
sendo uma vez no SI 88.15: “Estou aflito e prestes
a morrer, desde a minha mocidade-, quando sofro os
teus terrores, fico perturbado” (cf. Jó 36.14).
A Septuaginta dá as seguintes traduções:
paidarion (“menininho, menino, criança, escravo
jovem”); neos (“noviço”); neaniskos (“mocidade,
jovem, criado, serviçal”); paidion (“infante, crian
ça”); pais ("criança” ); c neanias (“mocidade, jo
vem”).
JULGAR
A. Verbo.
shãphat (sçzf): “julgar, livrar, dominar”. Este
verbo também aparece no ugarítico, fenício, árabe,
acadiano e no hebraico pós-bíblico. O hebraico bí
blico atesta shãphat ao redor dc 125 vezes e em
todos os períodos.
Em muitos contextos, esta raiz tem sentido judi
cial. O termo shãphat se refere à atividade de uma
terceira parte que se assenta acima dc duas outras
que estão em conflito uma com a outra. Esta terceira
parte ouve o caso das partes que estão em disputa e
decide quem está com a razão e o que fazer a respei
to (ele age como juiz e jurado). Assim, Sarai disse a
Abrão: “Meu agravo [a afronta que me foi feita]
seja sobre ti [esteja sobre o teu colo]. Minha serva
pus eu em teu regaço; vendo ela, agora, que conce
beu, sou menosprezada aos seus olhos. O SENHOR
julgue entre mim e ti” (Gn 16.5, primeira ocorrência
da palavra). Sarai tinha dado em seu lugar Agar para
Abrão. Este ato estava dc acordo com a antiga lei
nuzu. a qual Abrão aparentemente conhecia e se
guia. Os direitos legais da criança seriam de Sarai.
Isto significava que Agar “fez todo o trabalho” e
não recebeu privilégio algum. Por conseguinte, ela
tomou as coisas dificultosas para Sarai. Na qualida
de de cabeça tribal e familiar, a responsabilidade de
Abrão era manter as coisas em ordem. Isto ele não
fez. Então Sarai declara que c inocente do mal; ela
não fez nada para merecer os maus tratos de Agar, e
Abrão está em falta em não pôr a casa em ordem. O
apelo dela é: visto que Abrão não fez seu dever
(normalmente seria ele o juiz das questões tribais),
“o Senhor decida” entre nós, quer dizer, em sentido
judicial, quem está certo. Abrão reconheceu a legiti- ’
midade do seu caso c entregou-lhe Agar para que
fosse colocada na linha (Gn 16.6).
O termo shãphat também fala do cumprimento
de uma sentença. Este conceito e o de ouvir o caso e
tomar uma decisão são vistos em Gn 18.25, onde
Abraão fala do “Juiz [literalmente, “Aquele que jul
ga'’] de toda a terra”. Em 1 Sm 3.13, a ênfase está
somente em “dar” a sentença: “Porque já eu lhe fiz
saber que julgarei a sua casa para sempre, pela ini
qüidade que ele bem conhecia”.
Em alguns casos, “julgar” significa na verdade
livrar da injustiça ou opressão. Davi diz a Saul: “O
SENHOR, porém, será o juiz, e julgará entre mim e
ti, e verá, e advogará a minha causa, e me defenderá
da tua mão” (1 Sm 24.15). Este sentido (além do
sentido judicial) “livrar", deve ser entendido quan
do se fala dos juizes de Israel (Jz 2.16): “E levantou
o SENHOR juizes, que os livraram da mão dos que
os roubaram [saquearam]”.
O termo shãphat é usado não só para aludir a um
ato de livramento, mas também a um processo por
meio do qual a ordem e a lei são mantidas dentro de
um grupo. Esta idéia também está incluída no con
ceito dos juizes de Israel: “E Débora, mulher profe-
tisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele
tempo” (Jz 4.4). Esta atividade era judicial e consti
tuía um tipo de governar Israel. Com certeza gover
nar está em mente em Nm 25.5: “Então, Moisés
disse aos juizes der Israel: Cada um mate os seus
homens que se juntaram a Baal-Peor” (I Sm 8.1).
O libertador militar era o chefe de um exército
voluntário conclamado quando havia ameaça de pe
rigo (milícia). Nos dias de Samuel, este procedimen
to provou ser inadequado para Israel. Eles queriam
um líder que organizasse e conduzisse um exército
parado. Eles pediram a Samuel um rei como tinham
as outras nações, um que fosse hábil e treinado na
guerra, e cujo sucessor (o filho) também fosse trei
nado cuidadosamente. Corno conseqüência, haveria
mais continuidade na liderança. Incluso nesta idéia
de um rei que os “julgasse” como as outras nações,
JULGAR 159 JUNTAR
estava a idéia de um regente. A fim de sustentar um
exército permanente e seu treinamento, o povo Li
nha de ser organizado para taxação de impostos e
recrutamento. É o que está em vista em 1 Sm 8 .6-
18, como explica Samuel.
B. Substantivos.
mishphãt (EStfp): “julgamento, direitos”. Este
substantivo, que ocorre por volta de 420 vezes, tam
bém aparece no ugarítico.
Esta palavra tem dois sentidos principais. O pri
meiro lida com o ato de se sentar como juiz para
ouvir um caso e dar um veredicto apropriado.
Eclesiastes 12.14 é exemplo de tal ocorrência: "‘Por
que Deus há de trazer a juízo toda obra e até tudo o
que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau".
O termo mishphãt também se refere aos “direi
tos" pertencentes a alguém (Êx 23.6). Este segundo
sentido traz várias acepções: a esfera na qual as
coisas estão em relação apropriada com as reivindi
cações da pessoa (Gn 18.19. primeira ocorrência):
um veredicto judicial i Dr 17.9): a declaração do caso
para o acusado < Nm 2 '.5 r. e uma ordenança estabe
lecida (Êx 21 .1 1.
O substantivo sh:phãnn: diz respeito aos "atos
de julgamento". Uma de suas 16 ocorrências está
em Nm 33.4: "Enterrando os egípcios os que o SE
NHOR tinha ferido entre eles. a todo primogênito, e
havendo o SENHOR executado os seus juízos nos
seus deuses..."
JUNTAR
qãhats (i” ') : "reunir, coletar, juntar, ajuntar".
Este verbo também aparece no ugarítico, árabe,
aramaico e no hebraico pós-bíblico: uma palavra
semelhante (tendo os mesmos radicais, mas com
significado diferente) aparece no etiópico. O termo
qãbats aparece em todos os períodos do hebraico e
por volta de 130 vezes na Bíblia. O verbo ’ãsaph é
sinônimo próximo de qãbats, diferindo apenas por
rer uma gama mais extensa de significados. A pala
vra 'ãsaph duplica todos os significados dc qãhats.
Primeiro, qãhats significa “ajuntar” coisas cm
um único local. A palavra enfoca o processo de
"ajuntamento”, como em Gn 41.35 (primeira ocor
rência): José aconselhou Faraó que designasse go
vernadores ou inspetores para que "ajuntem toda a
comida destes bons anos. que vêm, e amontoem
trige debaixo da mão dc Faraó". O verbo também
rrjfc: _ o resultado do processo, como cm Gn 41.48:
I sjur.K-u todo o mantimento dos sete anos que
- ■ _ terra do Egito". Só em uma passagem qãhats
significa “colher” (is 62.9): “Mas os que o ajunta-
rem [colherem] o comerão e louvarão ao SENHOR:
e os que o colherem beberão [vinho] nos átrios do
meu santuário”.
Este verbo é usado metaforicamente para se re
ferir a coisas que só podem scr “juntadas” em sen
tido figurativo. Assim, no SI 41.6, o coração do
inimigo “amontoa” a maldade enquanto faz uma vi
sita a alguém, ou seja, o inimigo considera como ele
pode usar tudo o que ouve e vê contra seu anfitrião.
A palavra qãhats c usada para aludir a "reunir"
pessoas. Esta “reunião” é uma resposta a uma con
vocação, mas nem sempre. Em 1 Rs 11.24, Davi
“ajuntou homens e foi capitão de um esquadrão"
Esta ação não foi o resultado de uma convocação
que Davi fez. mas foi o resultado de relatos que
circulavam sobre ele. Toda a história deixa bastante
claro que Davi não estava buscando formar um exér
cito para rivalizar Saul. Mas quando os homens vi
nham a ele. ele os Colocava em ordem de batalha.
Bastante freqüentemente este verbo é usado
para se referir a "chamar" ou "convocar” pessoas
para um local central. Quando, por exemplo, Jacó
abençoou seus filhos, ele os "chamou” e lhes disse
que chegassem mais perto (Gn 49.2). Esta mesma
palavra é usada para aludir a “chamar” a milícia.
Todos os homens sãos em Israel, entre as idades
de 20 e 40 anos. eram integrantes da milícia. Emi—•
tempos de paz. eles eram fazendeiros e mercado
res: mas quando ameaçados por algum perigo naci
onal. um líderos "ajuntaria" ou os “chamaria” para
um local comum e os organizaria em um exército
(cf. Jz 12.4). Todo o Israel podia scr “chamado"
ou “ajuntado” para batalha (como uma milícia);
assim “ajuntou Saul a todo o Israel, e se acampa
ram em Gilboa” (1 Sm 28.4). Este uso militar tam
bém significa “colocar cm ordem de batalha” um
exército permanente no sentido de “estabelecê-los"
para a batalha. Os homens de Gibeão disseram:
“Todos os reis dos amorreus que habitam na mon
tanha se ajuntaram contra nós” (Js 10.6). Em 1 Rs
20 .1, qãbats leva este sentido além da implicação
de “concentrar” um exército inteiro contra um pon
to em particular: “E Ben-Hadade, rei da Síria, ajun
tou todas as suas forças; c trinta e dois reis, e
cavalos, e carros havia com ele; e subiu, e cercou a
Samaria, c pelejou contra cia”.
Assembléias ordenadas podem incluir assembléi
as para fazer concerto: “Então, disse Abner a Davi:
Eu me levantarei, e irei, e ajuntarei ao rei, meu se
nhor, todo o Israel, para fazerem aliança contigo" 12
JUNTAR 160 JUNTO
Sm 3.21). Em várias instâncias, assembléias são
“convocadas” para atividades de adoração pública:
“Congregai todo o Lsrael em Mispá. [...] E congre
garam-se em Mispá, e tiraram água, e a derramaram
perante o SENHOR, e jejuaram aquele dia” (1 Sm
7.5.6; cf. J1 2.16).
Quando qãbaís aparece no radical intensivo, na
maioria das vezes Deus é o sujeito. Este uso conota
que algo vai ter como resultado o que não acontece
ria se as coisas fossem deixadas sozinhas. O verbo é
usado neste sentido para se referir ao “julgamento
divino” : “Como se. ajuntam a prata, e o bronze, e o
ferro, e o chumbo, e o estanho no meio do forno,
para assoprar o fogo sobre eles, a fim de se fundi
rem, assim vai ajuntarei na minha ira e no meu
furor” (Ez 22.20). O termo qãbaís também é aplica
do à “libertação divina”: “O SENHOR, teu Deus, te
fará voltar do teu cativeiro, e se apiedará de ti, e
tornará a ajuntar-te dentre todas as nações entre as
quais te espalhou o SENHOR, teu Deus” (Dt 30.3).
Uso especial do verbo qãbaís aparece em .112.6,
a saber, “arder” ou “arder de excitação” ou “empa
lidecer” : “Diante deles, tremem os povos; todos os
rostos empalidecem” (ARA).
'ãsaph (^ÇX): “ajuntar, recolher, retirar”. Este
verbo também aparece no acadiano. ugarítico, fenício
e aramaico. E atestado em todos os períodos da
literatura bíblica e ocorre cerca de 200 vezes.
Basicamente, ’ãsaph se refere a “trazer objetos
para um ponto comum”. Isto pode significar “ajun
tar” ou “recolher” algo como, por exemplo, comi
da. A primeira ocorrência é quando Deus disse a
Noé que “ajuntasse” comida para ele (Gn 6.21).
Eventualmente, a comida devia entrar na arca. Este
verbo também sc refere a “ajuntar” comida na épo
ca da colheita ou “colher” : “Também seis anos se-
mearás tua terra e recolherás os seus frutos” (Ex
23.10). Segundo Reis 22.4 não se refere ao proces
so de sair e ajuntar algo, mas a ficar parado como
alguém que lhe traz dinheiro. Note também Gn
29.22: “Então, ajuntou Labão todos os varões da
quele lugar c fez um banquete” ; este versículo
enfoca semelhantemente o produto final do ajun
tamento. Mas aqui o “ajuntador” não ajunta fisi
camente o que é “ajuntado”. Ele é apenas o ímpeto
ou a causa ativa para o ajuntamento de todos aque
les homens. Deus pode “ajuntar” alguém a seus
pais. isto é. fazê-lo morrer (2 Rs 22.20). Aqui a
ênfase está no produto final e em Deus como o
agente que “ajunta”.
O termo ’ãsaph representa não só o processo de
levar coisas para um lugar comum: também repre
senta “levar” coisas para si mesmo. Depois que a
colheita era colhida (“ajuntada”) na eira e no lagar de
vinho, é que a Festa dos Tabernáculos devia ser
celebrada (Dt 16.13). Em Dt 22.2, o homem deve
“recolher" em sua casa (levar para casa e cuidar de)
o animal perdido cujo dono não pôde ser achado.
Desta maneira. Deus “recolhe” para Si os que são
abandonados por suas famílias (SI 27.10). Aplica
ção especial desta acepção é “dar hospitalidade”:
“E entrando ele, assentou-se na praça da cidade,
porque não houve quem os recolhesse em casa para
ali passarem a noite" (Jz 19.15). “Ajuntar” também
significa “ser consumido por” — Deus promete que
as pessoas integrantes do Seu povo “nunca mais
serão consumidas pela fome na terra” (Ez 34.29).
Finalmente, usado deste modo o verbo significa “re
colher”. como quando Jacó “recolheu os pés na
cama” (Gn 49.33, ARA).
A terceira ênfase é a “retirada” ou “remoção” de
algo; a ação é vista da perspectiva de alguém que
perde algo porque alguém o tomou (“recolheu”).
No SI 85.3, a “cessação da indignação” representa
este tipo de “retirada” de quem fala. Assim, a raiva
“desaparece” : "Desviaste-le do ardor da tua ira”.
Compare também a declaração de Raquel no nasci
mento de José: “Tirou-me Deus a minha vergonha”
(Gn 30.23). Neste caso. Raquel fala da “destruição”
da sua vergonha. “Ajuntar a alma” é “perder” a vida
(Jz 18.25). Deus também pode ser o agente que
“ajunta” ou “colhe uma alma”: “Não colhas a minha
alma com a dos pecadores” (SI 26.9). Neste sentido,
'ãsaph pode significar “ser curado” de uma doença:
“Tomara que o meu senhor estivesse diante do pro
feta que está em Samaria; ele o restauraria da sua
lepra” (2 Rs 5.3).
JUNTO
A. Advérbios.
yahad ("líT): “junto, juntamente, semelhantemen
te, tudo de uma vez, todos juntos”. O termo yahad
aparece cerca de 46 vezes e em todos os períodos
do hebraico bíblico.
Usado como advérbio, a palavra enfatiza uma
pluralidade na unidade. Em alguns contextos, a co
notação está na ação comum. Golias desafiou os
israelitas, dizendo: “Disse mais o filisteu: Hoje,
desafio as companhias de Israel, dizendo: Dai-me
um homem, para que ambos pelejemos” (1 Sm
17.10). Às vezes, a ênfase está no lugar comum: “E
sucedeu que os restantes sc espalharam, que não
JUNTO 161 JURAR
ficaram dois deles juntos” (1 Sm 11.11). A palavra
pode ser usada para designar estar no mesmo lugar
ao mesmo tempo: “E os entregou na mão dos
gibeonitas, os quais os enforcaram no monte, pe
rante o SENHOR; e caíram estes sete juntamente'
(2 Sm 21.9). Em outras passagens, yahad significa
"ao mesmo tem po”: "Oh! Se a minha mágoa
retamente se pesasse, e a minha miséria juntamente
se pusesse numa balança!” (Jó 6.2).
Em muitos contextos poéticos, yahad é sinôni
mo próximo de kullâm, “conjuntamente” . Porém,
yahad é mais enfático e significa “tudo de uma vez,
tudo junto”. Em Dt 33.5 (primeira ocorrência bíbli
ca), a palavra é usada enfaticamente e significa “to
dos juntos” ou “todos eles juntos”: “E o SENHOR
foi rei em Jesurum, quando se congregaram [juntos]
os cabeças do povo com as tribos de Israel". Con
fronte: “Certamente que os homens de classe baixa
são vaidade, e os homens de ordem elevada são
mentira; pesados em balanças, eles juntos são mais
leves do que a vaidade" < SI 62.9). Em tais contextos.
yahad enfatiza a totalidade de determinado grupo
(cf. SI 33.15).
A palav ra yahad também enfatiza que coisas são
"semelhantes" ou que a mesma coisa vai acontecer a
todos: "Perecem igualmente o louco e o bruto e
deixam a outros os seus bens" (SI 49.10).
yahdãw (■'nn;): "todos semelhantemente, igual
mente. tudo de uma vez, todos juntos”. A segun
da forma adverbial, yahdãw ocorre em torno de
92 vezes. Também fala de ação comum (“um con
tra o outro”, Di 25.11), lugar comum (“juntos”,
Gn 13.6, primeira ocorrência bíblica desta forma)
e tempo comum (ou seja, “logo que deito, dur
m o", SI 4.8, veja ARA). Em outros lugares,
yahdãw também é sinônimo de kullâm, “conjun
tamente”. Em Is 10.8, yahdãw significa “todos
juntos” ou "igualmente”: “Não são meus prínci
pes todos eles reis?” Em Êx 19.8, esta palavra
implica “tudo de uma vez” como também “todos
juntos": “Então, todo o povo respondeu a uma
voz ". O sentido “semelhantemente” aparece em
Dt 12.22: "Porém, como se come o corço e o
veado, assim comerás; o imundo e o limpo jun ta
mente comerão delas”.
B. Verbo.
O verbo yahad querdizer “unir-se. encontrar-
se” . Este verbo ocorre na Bíblia quatro vezes e
iem cognatos no aram aico, ugarítico . árabe,
eticpico e acadiano. Temos uma ocorrência em
Gr. 49.6: "N'o seu secreto conselho, não entre
minha alma; com a sua congregação, minha glória
não se ajunte
C. Substantivos.
Yãhid ( t í t ) : “a própria pessoa, único, solitário,
sozinho”. Esta palavra ocorrc 12 vezes como subs
tantivo ou como adjetivo. O termo yãhid tem
cognatos no ugarítico, aramaico e siríaco. A palavra
pode ser usada com o significado de “eu. a minha
alma”: “Livra a minha alma da espada e a minha
predileta [“vida”, ARA; ou “única”], da força do
cão” (SI 22.20; cf. SI 35.17).
Às vezes, esta palavra significa “único”: “Toma
agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem
amas” (Gn 22.2. primeira ocorrência bíblica da pa
lavra). Em duas passagens, esta palavra quer dizer
“solitário" ou "sozinho": "Olha para mim e tem
piedade de mim. porque estou solitário [“sozinho”.
ARA] e aflito" (SI 25.16: cf. SI 68.6 j.
O substantivo yãhad ocorre só uma vez com o
significado de "unidade". Davi disse aos benjamitas:
"Se vós vindes a mim pacificamente e para me aju
dar, o meu coração se unirá convosco [estou pronto a
me tomar um (ou a me unir) convosco]” (1 Cr 12.17).
Este uso da palavra como substantivo é incomum.
JURAR
shãba‘ (vy.?'): “jurar, fazer juramento”. Esta é
uma palavra comum ao longo da história do idioma
hebraico. O fato de ela ocorrer mais de 180 vezes na
Bíblia hebraica também atesta sua importância. O
termo sliãba‘ aparece pela primeira vez na Bíblia
hebraica em Gn 21.23,24, onde Abimeleque pede
para Abraão: “Jura-me aqui por Deus que me não
mentiras a mim, nem a meu filho. [...] E disse Abraão:
Eu jurarei".
“Jurar” ou “fazer juramento” é confirmar uma
promessa com veemência. Josué instrui os espiões
com relação à Raabe de Jericó: “Entrai na casa da
mulher prostituta e tirai de lá a mulher com tudo
quanto tiver, como lhe tendes jurado" (Js 6.22).
Davi e Jônatas confirmaram vigorosamente o amor
que tinham um pelo outro com um juramento (1 Sm
20.17). Submissão a Deus é empenhada por jura
mento (Is 19.18). Sofonias condena os sacerdotes
“que se inclinam jurando ao SENHOR e juram por
Malcã [o deus dos amonitasj” (Sf 1.5). Ao fazer e
sustentar Suas promessas aos homens, Deus “jura"
por Si mesmo. Deus disse a Abraão, depois da pro
va envolvendo a ordem dc sacrificar o filho Isaque:
“Por mim mesmo, jurei, diz o SENHOR, porquanto
fizeste esta ação e não me negaste o teu filho, o teu
JURAR 162 JUSTIFICAR-SE
único, que deveras te abençoarei” (Gn 22.16,17; cf.
Is 45.23; Jr 22.5). Deus também “jura" por Sua
santidade (Am 4.2).
A raiz do verbo “jurar'’ e a raiz do algarismo
"‘sete” são as mesmas em hebraico, e considerando
que o número sete é o “número perfeito”, alguns
conjeturam que “jurar" é a de alguma maneira “sete
a si mesmo”, assim ligando a si mesmo com sete
coisas. Talvez isto seja comparado pelo uso de
“sete", quando Sansão se deixou amarrar por sete
cordas de vime frescas (Jz 16.7) e permitiu que fos
sem tecidas sete tranças com os cabelos da sua ca
beça (Jz 16.13). A relação entre “jurar” e “sete” são
inconclusivas.
JUSTIFICAR-SE
A. Verbo.
tsãdaq (p^S): “justificar-se, ser justo, estar no
direito, ser justificado, fazer justiça”. Este verbo,
que aparece menos de 40 vezes no hebraico bíblico,
é derivado do substantivo tsedeq. Em nenhum lugar
a questão da justiça é mais apropriada do que no
problema do sofrimento do justo apresentado em
V
Jó, onde o verbo ocorre 17 vezes. A parte do Livro
de Jó. a freqüência de tsãdaq nos diversos livros e
pequena. A primeira ocorrência do verbo está em
Gn 38.26, onde Judá admite que Tamar estava no
seu direito: "Mais justa é ela do que eu, porquanto
não a tenho dado a Selá, meu filho”.
O significado básico de tsãdaq é “ser justo”. É
um termo legal que envolve todo o processo de jus
tiça. Deus é "justo" em todas as Suas relações e, em
comparação com Ele, o homem não é justo: "Seria,
porventura, o homem mais jusio do que Deus?” (Jó
4.17). Em certo sentido derivado, o caso apresenta
do pode ser caracterizado como causa justa em que
todos os fatos indicam que a pessoa será inocentada
de todas as acusações. Isaías convocou as nações
para apresentar testemunhas que testemunhassem
que o caso delas era certo: “Apresentem as suas
testemunhas, para que se justifiquem, e para que se
ouça, e para que se diga: Verdade é” (Is 43.9). Jó se
preocupava com o seu caso e o defendeu diante dos
amigos: “Ainda que eu fosse justo, lhe não respon
deria; antes, ao meu juiz pediria misericórdia” (Jó
9.15). O termo tsãdaq também é usado com o signi
ficado do resultado do veredicto, quando o homem
é pronunciado “justo” e é judicialmente inocentado
de todas as acusações. Jó acreditava que, no final
das contas, o Senhor o vindicaria contra os seus
oponentes (Jó 13.18).
Em seu padrão causativo, o significado do ver
bo traz mais claramente o sentido de pronuncia
mento judicial de inocência: “Quando houver con
tenda entre alguns, e vierem a juízo para que os
juizes os julguem, ao justo [saddiq] justificarão
[t.íí7í/í/q] e ao injusto condenarão” (Dt 25.1). Os
israelitas foram incumbidos de apoiar a justiça em
todas as áreas da vida. Quando o sistema de tribu
nal falhava por causa de corrupção, o ímpio era
falsamente "justificado” e o pobre privado da jus
tiça por causa de acusações fabricadas. Absalão
ganhou muitos partidários prometendo justiça aos
proprietários de terras (2 Sm 15.4). Deus assegu
rou a Israel que. no fim, a justiça seria feita: “Não
perverterás o direito do teu pobre na sua demanda.
De palavras de falsidade te afastarás e não matarás
o inocente e o justo: porque não justificarei o ímpio”
(Êx 23.6,7). O justo seguia o exemplo de Deus. O
salmista exorta as pessoas a mudar o sistema judi
cial: "Defendei ti pobre e o órfão; fazei justiça ao
aflito e necessitado” (SI 82.3).
A última esperança de Jó estava na declaração de
Deus de justificação. O Antigo Testamento está de
acordo com esta esperança. Quando a injustiça pre
valece. Deus é aquele que “justifica”.
A Septuaginta traduz o verbo por dikaiaõ (“fa
zer justiça. vindicar").
B. Substantivos.
tsedeq ( '!): Wdãqãh (n~Ti): “justiça". Es
tes substantivos vêm de uma raiz semítica que
ocorre no hebraico, fenício e aramaico com um
sentido jurídico. No fenício e no aramaico antigo,
a palavra traz o sentido de "lealdade” demonstra
da por um rei ou sacerdote como servo do seu
deus. Nestas línjzuas, uma forma da raiz é combi-
nada com outras palavras ou nomes, particular
mente com o nome de uma deidade, nos nomes de
reis. No Antieo Testamento conhecemos o nome
Melquisedeque ("rei da justiça”). Significado mais
limitado da raiz é encontrado no árabe (um idio
ma semítico do sul): “veracidade” (de proposi
ções). No hebraico rabín ico , o substantivo
tsedãqãh significa “esmolas” ou “demonstrações
de misericórdia” .
A palavra ts‘dãqãh, que ocorre 157 vezes, é
encontrada ao longo do Antigo Testamento (com
exceção de Êxodo, Levítico, 2 Reis. Eclesiastes,
Lamentações de Jeremias, Habacuque e Sofonias).
O termo tsedeq, que aparece 119 vezes, é encon
trado principalmente na literatura poética. O pri
meiro uso de tsedeq é: “Não fareis injustiça no