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ATIVIDADE 3 Você conhece o hip-hop e a street dance? Leia o trecho de uma notícia que trata do protagonismo feminino por meio do hip-hop. Grupo de hip-hop criado por estudantes incentiva protagonismo feminino em AL O protagonismo juvenil vem, cada vez mais, sendo trabalhado nas escolas da rede estadual – nas unidades de ensino integral, essa valorização do estudante na produção de sua própria história é ainda mais potencializada. A busca pela voz ativa fez com que quatro alunas da Escola Estadual Maria Salete Gusmão de Araújo, de Maceió, participantes do grupo GDP [Grupo da Periferia], escrevessem uma canção sobre autoestima e independência feminina, com direito a videoclipe [...]. As Senhoritas – Yngrid Taynar (MC Tay) e Syberlen Noberto (MC Belle) são integrantes do GPD desde sua criação. Junto com Naahliel Cristine e Izabella Vitória, que entraram este ano, as jovens criaram o seu próprio grupo, intitulado “As Senhoritas” e responsável pelo single “Toda mina é uma rainha e não precisa de um rei”. A canção aborda temas como a autoestima, a independência e o em- poderamento femininos. De acordo com Yngrid, a escolha do tema se deu pela vontade de retratar a realidade da mulher. Suas letras re- latam a experiência das mulheres ne- gras e da periferia e como a sociedade se relaciona com estas mulheres. Para Syberlen, o ingresso no mundo do hip-hop e do rap fez com que ela passasse a observar ainda mais o cotidiano ao seu redor. “Eu não achava que faria uma diferença imensa na minha vida – em casa, na escola. Tive um despertar do senso crítico e comecei a enxergar as coisas de um modo diferente. No rap, ponho nas letras a nossa convivência e de outras mulheres, coisas que elas pas- sam, para elas não acharem que estão sozinhas. A gente coloca na letra o que queremos que elas escutem”, relata a estudante. [...] Escola e comunidade – As garotas são tão animadas e envolvidas com o projeto que começaram a repassar os conhecimentos adquiridos para outras pessoas da comunidade. Numa academia próxi- ma, as jovens reúnem garotas e garotos que se interessam pelo estilo musical para produzir compo- sições próprias e re�etir sobre temas corriqueiros que in�uenciam suas vidas, trabalhando também o respeito às diferenças ideológicas. LIMA, Ana Carolina. Grupo de hip-hop criado por estudantes incentiva protagonismo feminino em AL. Consed, 5 set. 2019. Disponível em: http://www.consed.org.br/central-de-conteudos/grupo-de-hip-hop-criado- por-estudante-incentiva-protagonismo-feminino-em-al. Acesso em: 27 dez. 2019. Grupo As Senhoritas, em foto de 2019. M C T ri b o /N a B a s e d a C u lt u ra Não escreva no livro 59 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 59PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 59 2/27/20 3:40 PM2/27/20 3:40 PM http://www.consed.org.br/central-de-conteudos/grupo-de-hip-hop-criado-por-estudante-incentiva-protagonismo-feminino-em-al http://www.consed.org.br/central-de-conteudos/grupo-de-hip-hop-criado-por-estudante-incentiva-protagonismo-feminino-em-al Usando um computador ou um telefone celular, digite hip-hop, dança de rua ou street dance na barra de busca do navegador e pesquise vídeos que mostrem a presença dessa prática entre os adolescentes e jovens no Brasil. A dança de rua, surgida nos guetos estadunidenses na década de 1930, mes- cla movimentos coordenados e harmoniosos. Ela ganhou notoriedade com a explosão do movimento funk e a dança do cantor estadunidense James Brown (1933-2006). Depois de assistir a vídeos de dança de rua, reúnam-se em grupos e pesqui- sem estilos de dança urbana. Digitem na barra de busca do computador as palavras locking, popping e hip-hop freestyle. Assistam a alguns vídeos e tentem reproduzir os movimentos dos dançarinos. Dependendo do interesse de cada grupo é possível criar uma pequena coreografia, que pode ter cerca de 1 minuto, por exemplo, e se apresentar para a turma. a) Como vimos, são várias as formas de os jovens se relacionarem com o cor- po: dançando, jogando capoeira, praticando outros esportes. Com que ativi- dades tratadas até aqui você mais se identificou? O que gostaria de apren- der ou explorar mais? Converse com os colegas a respeito desse assunto. b) Com base no que foi conversado na questão anterior, que práticas corporais você e os colegas gostariam de incorporar ao Festival de Culturas Juvenis da turma? Vejam a seguir algumas orientações que podem ajudá-los a orga- nizar as oficinas de práticas corporais que comporão o evento. Respostas pessoais. Resposta pessoal. gueto bairro habitado por minorias social e economicamente marginalizadas. COMO FAZER UMA OFICINA DE PRÁTICAS CORPORAIS 1. Para começar, você e os colegas devem decidir que oficinas serão realizadas durante o festival. Vocês podem promover oficinas de capoeira, de danças urbanas, de parkour ou de outras práticas corporais que sejam significativas para a turma. 2. Após definir as oficinas, escolham um ou mais colegas para liderar as atividades. Preferencialmente, esses estudantes devem ter familiaridade com a prática ou interesse em pesquisá-la. 3. Estipulem a duração de cada oficina. Para manter o interesse do público, o ideal é destinar de 30 minutos a 1 hora para cada vivência. 4. Determinado o tempo total da oficina, pensem em como ela será organizada, decidindo que atividades vão fazer parte da vivência e a ordem em que elas serão realizadas. É possível dividir a oficina em uma parte teórica e uma parte prática, por exemplo, ou intercalar teoria e prática. 5. Preparem um roteiro da oficina para não esquecer nenhum detalhe. Lembrem-se de anotar também todos os recursos e material necessário (colchonetes, aparelho de som, instrumentos musicais, etc.) e de providenciá-los com antecedência. 6. Antes da oficina, também é importante escolher o local em que ela será realizada e fazer uma visita técnica para verificar se é necessária alguma adaptação do espaço. Para que o público realize as práticas corporais com conforto e segurança, o ideal é escolher instalações amplas e arejadas, como o pátio ou a quadra de esportes. Se for utilizada uma sala de aula, pode ser necessário afastar os móveis para ampliar o espaço de circulação disponível. 7. Dependendo do tamanho do evento, pode ser necessário solicitar a inscrição prévia dos participantes de cada oficina. Nesse caso, um convite pode ser enviado por e-mail ou publicado nas redes sociais. É importante incluir no convite algumas informações básicas, como título da oficina, nome dos ministrantes, local onde será realizada, duração, quantidade mínima e máxima de participantes, público-alvo, tipo de roupa que deve ser usado, etc. J a zz A rc h iv H a m b u rg /a k g -i m a g e s / A lb u m /F o to a re n a Depois de todas as apresentações, proponha aos estudantes que conversem sobre aquelas que se destacaram, seja pela criatividade dos passos, seja pela habilidade dos dançarinos. James Brown foi cantor, dançarino, compositor e produtor musical. Brown influenciou artistas e tornou-se referência em ritmos como o soul e o funk. 60 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 60PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 60 2/27/20 3:40 PM2/27/20 3:40 PM ETAPA 4 As vivências juvenis também envolvem a autodescoberta e a experimentação de linguagens e formas de expressão diversas, que ajudam adolescentes e jovens a ampliar seus interesses e sua capacidade de refletir sobre a vida, seus sentimentos e seus projetos de vida. Assim, além da música e das práticas corporais, uma forma de expressão que pode fazer parte das culturas juvenis é a escrita literária. Na forma de poemas, raps, cordéis, repentes, slams, histórias em quadrinhos ou na forma de contos, a experimentação da escrita pode ajudar a definir inte- resses e a expressar o mundo interior de cadaum de nós. Nesta etapa, vamos explorar algumas dessas possibilidades. Cora Coralina (1889-1985) é o pseudônimo da poetisa goiana Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Apesar de escrever desde a adolescência, teve seu primeiro livro publicado apenas em 1965, quando já estava perto de completar 76 anos de idade. Doceira de profissão e distante dos grandes centros, produziu uma obra que retrata o interior do Brasil e a vida cotidiana permeada de lirismo. L u iz G e v a e rd /E s ta d ‹ o C o n te œ d o ATIVIDADE 1 Você vai ler a seguir alguns poemas que tematizam a infância, a adolescência e a vida adulta e que podem estimulá-lo a refletir sobre essas diferentes fa- ses da vida e, de certo modo, sobre o que é ser jovem. Leia os poemas com um colega e pensem sobre suas preferências e sobre qual poeta conseguiu expressar melhor, no modo de ver de vocês, as questões relacionadas à fase que estão vivendo. Poema 1 Assim eu vejo a vida A vida tem duas faces: Positiva e negativa O passado foi duro mas deixou o seu legado Saber viver é a grande sabedoria Que eu possa digni�car Minha condição de mulher, Aceitar suas limitações E me fazer pedra de segurança dos valores que vão desmoronando Nasci em tempos rudes Aceitei contradições lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo Aprendi a viver CORALINA, Cora. Assim eu vejo a vida. In: CHAVES, Adriana. Família encontra poemas inéditos de Cora Coralina. Folha de S.Paulo, 4 jul. 2001. Ilustrada, p. E1. Após a morte da poetisa Cora Coralina, seus amigos e familiares criaram o Museu Casa de Cora Coralina, em 1985. Acesse o site da instituição para saber mais. Lá, também é possível fazer uma visita virtual. Disponível em: http:// www.museucoracoralina.com.br/. Acesso em: 17 dez. 2019. SE LIGA Não escreva no livro 61 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 61PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 61 2/27/20 3:40 PM2/27/20 3:40 PM Sérgio Vaz (1964-) é um poeta paulista. Fundou, em 2000, a Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa). É também o criador do Sarau da Cooperifa, que reúne centenas de pessoas todas as semanas na Zona Sul de São Paulo com o objetivo de ler e criar poesia. Assista a Cacaso na corda bamba. Direção de Joaquim Salles e PH Souza. Produção: Luiz Salazar e PH Souza. Brasil: Cafeína Produções; Imagin&Som, 2016 (1 h 28 min). Documentário que aborda a vida e a obra do autor. Disponível em: https://canalcurta.tv.br/filme/?name=cacaso_na_corda_bamba. Acesso em: 17 dez. 2019. SE LIGA A Cooperifa é um movimento cultural que promove atividades poéticas no bairro do M’Boi Mirim, na periferia de São Paulo, como sessões de cinema, feiras de livros, mostras de arte e o Sarau da Cooperifa, o principal evento da cooperativa, que busca aproximar a comunidade da poesia. Acesse o site da Cooperifa e conheça as iniciativas culturais desenvolvidas pela cooperativa. Disponível em: http://cooperifa.com.br/. Acesso em: 17 dez. 2019. Assista também a uma entrevista de Sérgio Vaz ao jornalista Claudiney Ferreira no programa Jogo de Ideias (2008, 27 min). Nessa entrevista, o poeta fala dos Objetivos do Sarau da Cooperifa, criado em 2001, e do seu compromisso com a literatura e com a cidadania. Disponível em: https:// youtu.be/PKZ9TO_YCnM. Acesso em: 17 dez. 2019. SE LIGA E rn e s to R o d ri g u e s /E s ta d ã o C o n te ú d o Antônio Carlos de Brito, o Cacaso (1944-1987), foi um poeta e letrista mineiro. Fez parte da chamada Geração Mimeógrafo, que escrevia uma poesia que ficou conhecida como marginal, vendida em livretos produzidos de forma artesanal. M . D a v i d e B a rr o s /F o lh a p re s s Poema 3 Idade madura Meu coração anda inquieto e sufocado como na infância nas noites de tempestade. É risonho meu futuro? Minha solidão é indescritível BRITO, Antônio Carlos. Lero-lero. São Paulo: Cosac Naify, 2012. p. 96. Poema 2 Inf‰ncia A infância era um lugar sem palácios mas encantado. Lá, as meninas usavam sapatinhos de cristal e eram todas princesas. Os meninos calçavam chuteiras e se transformavam em reis. Seguiam assim, eternos... sem deixar rastros, pisavam nas nuvens. VAZ, Sérgio. Colecionador de pedras. São Paulo: Global, 2013. p. 61. 62 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 62PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 62 2/27/20 3:40 PM2/27/20 3:40 PM Para conhecer mais trabalhos de Paulo Leminski, acesse o site dedicado à sua obra. Disponível em: http://www.pauloleminski.com.br/. Acesso em: 17 dez. 2019. SE LIGA livre-doc•ncia mais alto grau de titulação acadêmica, obtido na universidade por meio de concurso. Poema 4 quando eu tiver setenta anos então vai acabar esta adolescência vou largar da vida louca e terminar minha livre-docência vou fazer o que meu pai quer começar a vida com passo perfeito vou fazer o que minha mãe deseja aproveitar as oportunidades de virar um pilar da sociedade e terminar meu curso de direito então ver tudo em são consciência quando acabar esta adolescência LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 55. Paulo Leminski (1944-1989) foi um poeta curitibano. Como letrista, fez parceria com músicos como Caetano Veloso e com o grupo A cor do som. Conhecido como poeta samurai, tinha como interesses o cinema, as artes visuais, o judô e a língua e a cultura japonesas. J u v e n a l P e re ir a /E s ta d ã o C o n te ú d o a) No poema de Sérgio Vaz, a infância é retratada como um tempo de sonhos e fantasias, em que meninas sonham em ser princesas e meninos jogadores de futebol. Você concorda com as ideias do poema? Quais eram seus sonhos de infância? b) O poema de Cacaso, diferentemente do de Sérgio Vaz, localiza na infância certa angústia e solidão. Você se identifica com esses sentimentos? Eles es- tiveram mais presentes em sua infância ou surgiram agora, na adolescência? Troque ideias com um colega. c) Cora Coralina trata no poema aqui apresentado dos obstáculos e das lutas que mulheres como ela, que nasceram no século XIX, tiveram que travar na vida. Você acredita que a condição feminina é diferente hoje, no século XXI? Que “contradições e lutas” as mulheres de hoje ainda têm de enfrentar? d) O poema de Leminski trata de um embate juvenil: o desejo dos pais versus o desejo do eu poético de continuar sendo um adolescente, postergando a entrada no mundo adulto e a assunção de responsabilidades. Você e sua família conversam sobre seu futuro? Seus pais ou responsáveis costumam opinar sobre ele? Você se sente confortável com isso? Como você imagina que seja fazer parte do mundo adulto? Converse a respeito dessas questões com os colegas. e) Agora é sua vez! Você conhece algum poema que defina o que é ser jovem para você? Qual? Anote esse poema em seu caderno de registro de ideias. Se preferir, você mesmo pode escrever um poema ou letra de canção que defina o que é ser jovem hoje. Os poemas e as letras de canção selecionados ou produzidos pela turma serão exibidos ao público durante o Festival de Culturas Juvenis. Respostas pessoais. Respostas pessoais. Respostas pessoais. Respostas pessoais. 63 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 63PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 63 2/27/20 3:40 PM2/27/20 3:40 PM Você provavelmente já ouviu algum rap. O rap é um dos elementos que com- põem o movimento hip-hop. Já vimos, neste projeto, outra manifestação des- sa cultura: a dança de rua. No texto a seguir, leia um pouco mais sobre o surgimento do rap na capital paulista. A princípio, no início dos anos 80, os hip hoppers conheceram o break, e dançavam nas pistas dos salões de baile, até chegarem às ruas da capital, no pioneirismo de Nelson Triunfo – a quem costumamos nos referir como o “guru” do hip-hop. O gra�techegou quase simultanea- mente ao break – e as revistas importadas auxiliaram nessas novas descobertas. [...] Mas, em meados dos anos 80, chegou o “tagarela” – sim, o rap não era rap, era um ritmo engraçado, rápido e divertido que de imediato fora apelidado por tagarela. Os grupos de hip hoppers interessados e identi�cados com esse movi- mento juvenil, nascido na periferia e cuja força se concentra na música de origem negra, passaram a pesquisá-lo, difundindo-o no país. For- maram grupos de dança que se exibiam na rua 24 de Maio e depois na Estação São Bento do Metrô. De posse de informações mais detalhadas, foram apresentados ao rap e por intermédio dele investiram na sua criatividade, passando a fazer letras de música cujo conteúdo expres- sasse a realidade de suas vidas. ANDRADE, Elaine Nunes de. Hip-hop: movimento negro juvenil. In: ANDRADE, Elaine Nunes de (org.). Rap e educação, rap é educação. São Paulo: Summus, 1999. p. 88. ATIVIDADE 2 O clipe da música “God’s plan”, do rapper canadense Drake (1986-), já alcançou mais de 1 bilhão de visualizações e mostrou quanto o rap ainda mantém uma relação direta com as comunidades periféricas. Assista ao videoclipe no canal oficial do artista em um site de compartilhamento de vídeos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xpVfcZ0ZcFM. Acesso em: 20 dez. 2019. SE LIGA Leia a seguir a letra da música “A ordem natural das coisas”, do rapper pau- lista Emicida (1985-), com participação de MC Tha (1993-). Essa música trata da vida cotidiana nas periferias brasileiras. A ordem natural das coisas [Emicida] A merendeira desce, o ônibus sai Dona Maria já se foi, só depois é que o Sol nasce De madruga que as aranha tece no breu E amantes ofegantes vão pro mundo de Morfeu E o Sol só vem depois O Sol só vem depois É o astro rei, ok, mas vem depois O Sol só vem depois Leandro Roque de Oliveira, conhecido como Emicida, é um rapper e compositor paulista que coleciona vitórias em batalhas de improvisação. O artista criou um acrônimo para o seu nome artístico: E.m.i.c.i.d.a. (Enquanto minha imaginação compuser insanidades domino a arte). K a ri m e X a v ie r/ F o lh a p re s s Não escreva no livro 64 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 64PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 64 2/27/20 3:40 PM2/27/20 3:40 PM Anunciado no latir dos cães, no cantar dos galos Na calma das mães, que quer o rebento cem por cento E diz: Leva o documento, son Na São Paulo das manhã que tem lá seus Vietnã Na vela que o vento apaga, afaga quando passa A brasa dorme fria e só quem dança é a fumaça Orvalho é o pranto dessa planta no sereno A Lua já tá no Japão, como esse mundo é pequeno Farelos de um sonho bobinho que a luz contorna Dar um tapa no quartinho, esse ano sai a reforma O som das criança indo pra escola convence O feijão germina no algodão, a vida sempre vence Nuvens curiosas, como são Se vestem de cabelo crespo, ancião Caminham lento, lá pra cima, o firmamento Pois no fundo ela se finge de neblina Pra ver o amor dos dois mundos [Emicida & MC Tha] A merendeira desce, o ônibus sai Dona Maria já se foi, só depois é que o Sol nasce De madruga que as aranha tece no breu E amantes ofegantes vão pro mundo de Morfeu E o Sol só vem depois O Sol só vem depois É o astro rei, ok, mas vem depois O Sol só vem depois A merendeira desce, o ônibus sai Dona Maria já se foi, só depois é que o Sol nasce De madruga que as aranha desce no breu E amantes ofegantes vão pro mundo de Morfeu E o Sol só vem depois O Sol só vem depois É o astro rei, ok, mas vem depois O Sol só vem depois A ORDEM natural das coisas. Compositores: Emicida e Damien Seth. Intérpretes: Emicida e MC Tha. In: AmarElo. Intérprete: Emicida. São Paulo: Laboratório Fantasma, 2019. 1 álbum, faixa 2. Thais Dayane da Silva, a MC Tha, é uma cantora e compositora paulista que mescla elementos do funk, do forró, do rap e do pop em suas músicas. Nascida e criada na Cidade Tiradentes, bairro da Zona Leste de São Paulo (SP), MC Tha iniciou sua carreira na música aos 15 anos, tornando-se a primeira mulher MC de seu bairro. Morfeu em inglês, “filho”. na mitologia grega, deus do sonho que tem a habilidade de assumir qualquer forma humana e aparecer nos sonhos das pessoas. son O álbum AmarElo (São Paulo: Laboratório Fantasma, 2012), de Emicida, traz composições que buscam conectar as pessoas por meio do que elas têm em comum, criando elos para superar as crescentes contradições da contemporaneidade. Se possível, escute o álbum na íntegra. Acesse também o site do rapper Emicida e conheça outros de seus trabalhos. Disponível em: http://www.emicida.com/?debug=true. Acesso em: 24 out. 2020. SE LIGA A n d y S a n ta n a /F u tu ra P re s s 65 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 65PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 65 25/10/20 22:0725/10/20 22:07 Agora, responda às questões a seguir. a) Que cenas do cotidiano das periferias são destacadas nesse rap? b) Na sua opinião, que visão a letra traz dessas cenas? Resposta pessoal. c) Se você fosse escrever um rap que apresentasse cenas do cotidiano da co- munidade em que vive, quais cenas você destacaria? Forme um grupo com mais quatro colegas, discutam as possibilidades que melhor expressem esses contextos e anotem as ideias no caderno de registros. Resposta pessoal. Desde sua origem, o rap se baseia na arte do improviso. Somente depois de algum tempo as letras desse gênero passaram a ser escritas. A improvisação permanece viva nas batalhas de rima. Nelas, dois oponentes mostram seu talento e se desafiam por meio de versos rimados feitos no improviso. Um grupo de jurados ou o público que acompanha a batalha escolhe o vencedor. Em um slam, batalha de poesia, cada competidor declama seu texto e, ao final, escolhe-se um vencedor. Slam ou poetry slam significa, literalmente, palavra falada, um gênero poético que engloba toda literatura pensada para ser falada em público. Para poder participar de uma batalha de slam, o par- ticipante tem que apresentar um texto autoral, inédito (ou seja, que não te- nha sido apresentado em nenhuma outra batalha) e curto (de no máximo 3 minutos). O participante deve, ainda, usar apenas a voz e o corpo para se manifestar, sem o acompanhamento de nenhum instrumento ou batida musical. Geralmente, a ordem de apresentação dos competidores, também chamados de slammers, é definida por sorteio. No Brasil, desde 2012, ocorre anualmente a Festa Literária das Periferias (Flup). Percorrendo favelas e comunidades do Rio de Janeiro, a Flup dá voz a autores jovens das periferias que, em suas obras, tratam de temas relacio- nados à juventude e ao engajamento social, como racismo, empoderamento de mulheres e de jovens negros, repressão policial e violência do Estado, exclusão de direitos, sexualidade e temática LGBTQ+. Hoje, ocorrem slams em vários estados brasileiros, graças ao incentivo e à di- vulgação do grupo Slam Resistência, batalha que ocorre na praça Roosevelt, no centro da cidade de São Paulo (SP), toda primeira segunda-feira de cada mês. Digite na barra de busca de um computador com internet termos como “ba- talha de rimas nacional”, “slam das minas” e “slam resistência” e assista a alguns dos vídeos. Vale a pena também acessar o site da escritora e slammer paulista Mel Duarte (1988-) para conhecer algumas de suas poesias. Disponível em: https://www. melduartepoesia.com.br/. Acesso em: 24 out. 2020. SE LIGA Mel Duarte nasceu na cidade de São Paulo (SP), é escritora, poeta, slammer e produtora cultural. Sua atuação com literatura começou em 2006 e, desde então, já publicou alguns livros, como Fragmentos dispersos (São Paulo: Na Função, 2013) e Negra nua crua (São Paulo: Ijumaa, 2016), também publicado na Espanha com o título Negra desnuda cruda(Madri: Ediciones Ambulantes, 2018). D iv u lg a • ‹ o /m e ld u a rt e p o e s ia .c o m .b r Agora é sua vez! Você e os colegas vão organizar um slam ou uma batalha de rimas. Siga as instruções. 66 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 66PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 66 25/10/20 22:0725/10/20 22:07 https://www.melduartepoesia.com.br/ https://www.melduartepoesia.com.br/ COMO FAZER UM SLAM OU UMA BATALHA DE RIMAS 1. Reúna-se com a turma e, juntos, decidam o que vão fazer: slam ou batalha de rimas. 2. No caso de escolherem a batalha de rimas, selecionem uma batida de fundo e treinem a criação de rimas no improviso. Depois, sorteiem a ordem de apresentação dos oponentes. Definam também quem serão os jurados (pode ser a turma inteira). A cada dupla que participar, um dos oponentes vence e avança, até chegar ao primeiro lugar. Vocês podem definir também um tema para a batalha, assim cada participante pode pensar previamente em algumas rimas e criar outras no improviso, com base nas respostas do oponente. 3. No caso do slam, criem seus poemas previamente e os declamem. É possível, também, decorá-los. Vocês também podem selecionar poemas de escritores que admiram. Aqui também é possível definir alguns temas previamente, sobretudo aqueles ligados à turma: emoções, gostos, interesses, injustiças a serem superadas, sonhos, etc. 4. No final das apresentações, a turma decide quem é o vencedor. 5. Lembrem-se de filmar as apresentações dos colegas, assim elas poderão fazer parte do festival organizado por vocês! Outra opção é alguns de vocês se apresentarem ao vivo no festival, interagindo diretamente com a comunidade. A poetisa Mel Duarte é uma das integrantes do Slam das Minas (SP), criado em 2016 e que conta com edições oficiais sempre no terceiro domingo de cada mês. R e n a ta A rm e lin /m e ld u a rt e p o e s ia .c o m .b r 67 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 67PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 67 2/27/20 3:40 PM2/27/20 3:40 PM ETAPA 5 As artes visuais também são uma forma de expressão bastante presente entre adolescentes e jovens. Principalmente nos grandes centros, intervenções na paisagem urbana fazem parte das práticas de diversos grupos. Nesta etapa, veremos dois exemplos de formas de expressão visual e suas relações com as culturas juvenis. Você já ouviu falar do lambe-lambe? Esse pôster artístico, que pode ser de vários tamanhos, cos- tuma ser colado em espaços públicos, em superfícies como muros e postes, com o objetivo de disseminar a arte e promover a reflexão crítica. Alguns lambes abordam temas como o precon- ceito e a violência e denunciam abusos buscando formas de combatê-los e superá-los. Veja os exemplos a seguir. ATIVIDADE 1 a) Que problemas esses lambes abordam? b) Frida Kahlo (1907-1954) foi uma importante artista visual mexica- na. Suas telas abordam questões como dores do amor, maternidade frustrada, raízes culturais e o sofrimento físico do corpo (ela foi ví- tima de um acidente que a deixou com fortes dores na coluna por toda a vida). Contemporaneamente, tem se fortalecido como um símbolo de resistência feminina e uma inspiração para grupos e co- letivos feministas. Observe o autorretrato de Frida reproduzido ao lado e indique semelhanças entre ele e a imagem da artista presente no lambe visto acima. A questão do machismo e da violência contra a mulher. As flores no cabelo e as sobrancelhas grossas e unidas. É interessante comentar que essas características da artista têm sido bastante usadas, muitas vezes até de forma exagerada, para caracterizá-la em retratos. Estimule os estudantes a tentar compreender por que a imagem de Frida Kahlo está presente no lambe e qual é a sua relação com a frase escrita. Se achar necessário, peça a eles que façam uma pesquisa na internet sobre a artista. c) Você conhece outra mulher que seja símbolo da luta pelas causas das mulheres? Qual? Converse com um colega sobre ela e a causa que ela defende. Você já produziu um lambe-lambe? É muito fácil. Reúna-se com os colegas e dividam-se em grupos para uma oficina de produção de lambes. Eles poderão ser expostos no festival que vocês vão organi- zar no final deste projeto. Vocês também poderão organizar uma oficina de lambe-lambe no festival e compartilhar com a comunidade as ideias que esses pôsteres podem discutir. Autorretrato dedicado ao Doutor Eloesser, de Frida Kahlo, 1940 (óleo sobre madeira, 59,5 cm x 40 cm). atuantes nas questões de gênero, peça a eles que façam uma pesquisa usando celulares ou computadores. Respostas pessoais. Se os estudantes não conhecerem mulheres © B an co d e M ex ic o D ie go R iv er a & F rid a K ah lo M us eu m s Tr us t, M ex ic o, D .F ./A U TV IS , B ra si l, 20 20 @ flo re sn as ru as /m el ev ae m bo ra .c om .b r Le la B ra nd ão /E st úd io S in es te si a À esquerda, lambe “Moça, se ele não muda, mude-se dele”, do estúdio Sinestesia. À direita, lambe “Nenhuma a menos”, do coletivo Flores nas Ruas. Não escreva no livro 68 PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 68PI_L_Roberta_g21At_Projeto2_040a073_LA.indd 68 2/27/20 3:40 PM2/27/20 3:40 PM