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246 Elinor Goldschmied e Sonia Jackson
turbação que Janet causava ao grupo para a consideração de algumas de suas
capacidades.
Começando pelo seu correr infatigável, foi sugerido que Helen poderia
usar o jardim para correr em torno de obstáculos com Janet, segurando sua
mão. O objetivo disso era fazer com que a criança diminuísse seu ritmo, e
capacitá-la a adquirir maior habilidade e controle de seus movimentos, em
uma relação mais próxima com sua cuidadora. Outra abordagem consistia em
Helen segurar Janet em seus braços até que ela relaxasse, e então estimulá-la
a explorar o Cesto de Tesouros, apanhando objetos, colocando-os na boca e
depois no chão, como se ela fosse muito mais nova. Mais tarde, ela ofereceria
receptáculos para que Janet colocasse e retirasse objetos de dentro deles. Ao
mesmo tempo, a organizadora passava um tempo com a mãe de Janet, aju-
dando-a a compreender o que Helen estava tentado fazer.
Depois de alguns dias com essa atenção intensiva, o nível de atividade de
Janet começou a baixar para um nível mais próximo ao de uma criança de 2
anos normal e energética. As funcionárias perceberam que havia muitos expe-
dientes práticos de que poderiam lançar mão para fazer com que Janet se
acalmasse e participasse de atividades, baseadas no seu próprio conhecimen-
to acerca do desenvolvimento infantil. Elas não precisaram esperar por um
diagnóstico, o qual ainda as deixaria com a tarefa de encontrar formas de
aplicar essa informação em práticas cotidianas.
Desobediência
As crianças, em seus segundo e terceiro anos de vida, muitas vezes pas-
sam por fases em que se recusam a fazer o que os adultos pedem, como forma
de afirmar sua independência. Esse comportamento é diferente daquele da
criança que ignora habitualmente os pedidos de adultos e passa a fazer coisas
que foram especificamente proibidas. Uma possibilidade que deve ser excluí-
da é a criança estar sofrendo de perda auditiva intermitente, o que é extrema-
mente comum, sobretudo entre crianças que provêm de lares desfavorecidos.
Não há garantias de que os testes audiométricos-padrão sempre detectem isso
(Bamford e Sauders, 1985).
Se a audição da criança for normal, o problema provavelmente está na
forma como os pais lidam com ela. Por exemplo, alguns pais dão instruções
aos seus filhos sem verificar se eles realmente entenderam o que é desejado,
ou sem se assegurar de que o comportamento desejado realmente aconteça. A
criança aprende rapidamente a ignorar tais comunicações. Outra situação
comum ocorre quando a criança só consegue chamar a atenção tornando-se
um aborrecimento.
Os pais precisam de auxílio para compreender que a atenção, por mais
negativa que seja, é recompensadora para uma criança, e portanto fará com
Educação de 0 a 3 anos 247
que o comportamento indesejado tenha mais probabilidade de persistir. Junto
com os pais, as educadoras podem analisar em detalhes o comportamento da
criança e identificar um problema específico a ser trabalhado. Algumas vezes,
a dificuldade pode ser eliminada alternando as condições, como sugerido an-
teriormente, ou avaliando se o que é demandado da criança é necessário ou
razoável, dado seu estágio de desenvolvimento.
Quando há uma concordância em relação à existência de um problema,
a educadora-referência pode ajudar a mãe a identificar, de forma precisa, em
que ela gostaria que o comportamento da criança mudasse, assim como a
lidar com um passo por vez. Pequenos sucessos podem capacitar a mãe a
desenvolver uma estratégia para lidar com seu filho de maneira mais eficaz e
com menos estresse. Charles Gibb e Peter Randall (1989), em seu livro
Professionals and parents (Profissionais e pais), explicam com muita clareza a
teoria por trás da abordagem comportamental e sugerem muitas técnicas úteis
a ser utilizadas com os pais e com as crianças pequenas.
Dificuldades na alimentação
Este tipo de dificuldades pode provocar bastante ansiedade nas funcioná-
rias. Elas podem ter originado-se de relações bem precoces ou estar conec-
tadas com a maneira como a criança se sente a respeito de suas experiências
na creche. Caso a primeira hipótese seja verdadeira, então a cuidadora que
faz a visita ao lar antes da admissão da criança já terá ouvido algo sobre o
assunto de um dos pais, ou a mãe já terá comentado a respeito enquanto
estava com seu filho durante o período de adaptação.
Às vezes a criança alimenta-se bem em casa, mas tem dificuldades na
creche, e vice-versa. Uma das primeiras coisas a ser averiguada é se a criança
na verdade ganha peso de maneira razoável e é saudável de uma forma geral,
apesar de aparentemente comer pouco. Utilizando-se um gráfico de cresci-
mento ou de desenvolvimento, isso pode ser facilmente conferido. Uma crian-
ça cujo peso encontra-se abaixo do terceiro nível de desenvolvimento seria
diagnosticada como sofrendo de “insuficiência não orgânica de crescimento”
(tendo sido excluídas causas orgânicas para as dificuldades na alimentação),
um transtorno muito sério que certamente requer auxílio de especialistas
(Jenkins e Milla, 1998). Entretanto, a maioria das crianças portadoras de
dificuldades de alimentação não tem peso corporal demasiado baixo e conti-
nuam a crescer normalmente; essas crianças, em geral, são classificadas como
portadoras de “problemas de alimentação comportamentais”, que muitas ve-
zes é o motivo do encaminhamento para a creche.
Como com todos os comportamentos rotulados de “difíceis”, é importan-
te considerar o comportamento de dificuldade na alimentação, tendo em vis-
ta as experiências da criança em casa e na creche. A primeira questão a ser
248 Elinor Goldschmied e Sonia Jackson
considerada é que as crianças provêm de uma variedade de circunstâncias
familiares. A criança pode não estar acostumada a sentar-se à mesa para co-
mer, mas sim a ser alimentada sentada no joelho de alguém ou movendo-se. A
alimentação na creche inevitavelmente significará uma grande mudança para
qualquer criança, à qual ela terá de acostumar-se, adaptando-se não somente
ao gosto e à aparência diferentes da comida, mas também à organização que
a creche tem para a hora da alimentação.
Nós, adultos, muitas vezes somos cautelosos e reservados em relação a
comidas que não conhecemos (pense na forma como reagimos quando estamos
em férias e nos oferecem lula, patê de melro ou pernas de sapo), de maneira
que não surpreende que algumas crianças se comportem da mesma forma.
Permite-se que os adultos digam que não estão com vontade de comer e isso é
compreendido e aceito. Se não se permite às crianças ter a mesma liberdade,
a hora das refeições pode transformar-se em uma batalha, o que é invariavel-
mente contraproducente.
Outra possibilidade é que a criança possa estar reagindo a várias experiên-
cias insatisfatórias que teve na hora das refeições, como passar um período
barulhento e caótico nesse momento, haver confusão e atraso ao servirem a
comida, os assentos serem desconfortáveis e muito próximos, e assim por diante
(ver Capítulo 10).
Quando uma criança mostra-se relutante em comer, podemos oferecer
gentilmente uma porção bem pequena de comida no seu prato e, caso ela não
coma, devemos retirar o prato, ainda gentilmente; essa é uma mensagem de
cuidado e preocupação que se transmite sem palavras. Retirar um prato de
comida que não foi consumida pode ser feito de uma maneira calma e com-
preensiva, ou de forma punitiva ou exasperadora, e o rosto da criança nos
dirá exatamente como ela se sente a respeito desse ato.
Quando há um sistema de educador-referência que funciona adequada-
mente, uma criança que tem dificuldades alimentares não passará desperce-
bida. Se a criança comeu muito pouco ou não comeu, precisamos ser capazes
de fazer na creche o que faríamos em casa: dispor de frutas ou passas ou
cenoura crua (por exemplo) para que, caso ela sinta fome mais tarde, possa-
mos oferecer-lhe algo, de forma não intrusiva. Isso não significa que devamos
oferecer alternativas durante a refeição, que é uma armadilha na qual os pais
muitas vezes caemem casa, e que muito provavelmente leva a caprichos e
manias (Douglas, 1989). Essa sugestão pode causar indignação em uma cre-
che, pois a organização requer que as crianças alimentem-se em horários de-
terminados. Em geral, as crianças se conformam com isso; no entanto, estamos
lidando com pessoas, e não com robôs, e assim precisamos ter coragem para
sermos flexíveis quando necessário. No que tange a outras dificuldades com-
portamentais, todas as funcionárias que lidam com a criança portadora de
problemas com a alimentação devem obter uma concordância quanto a suas
abordagens.
Educação de 0 a 3 anos 249
Conforto e comportamentos que aliviam a tensão
Chupar o polegar, bater com a cabeça e masturbar-se são tipos de com-
portamento que criam dificuldades em primeiro lugar para os adultos, e não
para as próprias crianças, mas podem tornar-se um problema entre eles caso
não se lide sabiamente com esses comportamentos.
Chupar o polegar e os dedos
Além da ação de sugar envolvida na alimentação, parece que os bebês
precisam bastante de uma espécie de sugar “não nutritivo” como parte de seu
desenvolvimento (Douglas, 1988). O ato de sugar os dedos ou objetos, de
bebês e de crianças bem pequenas, é um assunto carregado emocionalmente,
que, às vezes, suscita todo tipo de sentimentos ansiosos e agressivos nos adul-
tos. Entretanto, essa é uma atividade que é buscada energética e prazerosa-
mente em cada geração de bebês. Podemos ver Jesus quando bebê com dois
dedos em sua boca em pinturas renascentistas, e alguns bebês nascem com
uma marquinha vermelha em um de seus polegares, o que indica que eles o
vinham sugando confortavelmente mesmo antes de nascer.
Ao longo dos anos a discussão em torno do tema “polegar ou chupeta”
tem declinado e ressurgido. Há ocasiões em que a chupeta é útil, mas infeliz-
mente ela se presta a um uso errôneo por parte dos adultos, que a utilizam
como um “corta-papo”, cortando a comunicação que a criança está tentando
efetuar, inibindo a vocalização e o desenvolvimento precoce da fala. A vanta-
gem do polegar é que ele está sempre ali; ele não cai no chão, não precisa
então ser apanhado e “desinfetado” na saia da mãe ou reinfectado antes de
ser devolvido à boca do bebê, tampouco se perde nas dobras de um cobertor,
causando frustração e indignação.
Outra vantagem do polegar tem a ver com a capacidade crescente do
bebê de fazer escolhas. Aprender a escolher começa muito cedo. Quando um
bebê que já consegue sentar-se em posição ereta suga seu polegar, isso signi-
fica que em algum momento ele terá de escolher entre usar sua mão (e pole-
gar) para o sugar continuado ou para manipular algum brinquedo que o atraia.
Isso pode significar um verdadeiro dilema para ele: “Devo aproveitar o prazer
imediato que o sugar me proporciona, ou será que devo deixar minha mão
livre para a satisfação mais avançada de brincar com um brinquedo?”.
Masturbação e brincar sexual
Uma criança pequena tem muita curiosidade a respeito de seu próprio
corpo, e descobre muito cedo que, ao explorá-lo, pode ganhar conforto e pra-
250 Elinor Goldschmied e Sonia Jackson
zer, e ainda alívio da tensão. Esse assunto era acompanhado de uma enorme
carga de concepções errôneas e desaprovação no passado, e provavelmente
nas experiências infantis de muitos adultos. Isso significa que devemos ter
informações acuradas e confiança em nossas próprias atitudes (e naquelas
das outras funcionárias) ao decidir como reagir a esse assunto.
As crianças na creche advêm de vários contextos culturais e sociais, nos
quais as atitudes familiares variam amplamente. Elas têm níveis diversos de
liberdade em suas famílias para explorar seus corpos, perceber as diferenças
entre homens e mulheres e meninos e meninas, além de saber como chamar
sua barriguinha, seu peito e seu umbigo, seu pênis e sua vagina. Ao crescer,
elas absorvem os tabus que pertencem à sua cultura e às suas relações familia-
res. A cuidadora precisa descobrir informações, tanto quanto for possível, acerca
das atitudes dos pais, e pensar em como reagir a elas caso difiram das suas
próprias.
Há não muito tempo, a masturbação era vista como causa das mais hor-
rendas consequências físicas, como, por exemplo, a cegueira. As crianças ti-
nham de encarar punições e ameaças violentas, aumentando a ansiedade que
tentavam aliviar à sua própria maneira. Agora que as atitudes no Reino Unido
mudaram de maneira geral, a preocupação com esse assunto, como ocorre,
por exemplo, no famoso livro de A. S. Neill, Summerhill (1960), parece muito
estranha. No entanto, temos de lembrar que é necessário mais do que uma
geração para que ideias prévias desapareçam, de forma que não somente os
pais, mas também as cuidadoras podem ainda ter concepções incorretas re-
manescentes de suas infâncias. As cuidadoras devem ser claras na afirmação
de que a masturbação na infância (e depois dela) é uma prática universal que
não acarreta efeitos físicos adversos. Os motivos que levam a desencorajá-la
são sociais, e desestimular essa prática nunca deve ser feito de uma maneira
que leve a criança a pensar que ela é má. Algumas vezes há inibições a respei-
to da discussão desses temas no grupo de funcionárias, porém é importante
ter uma opinião coletiva.
A masturbação, assim como sugar o polegar em excesso, é uma forma de
buscar conforto que pode indicar que a criança está vivenciando tensão ou
tédio. Se a sua educadora-referência der-se conta disso, ela pode oferecer
companhia e uma atividade alternativa à criança. A masturbação persistente
associada ao afastamento do contato social por longos períodos requer uma
investigação mais detalhada, bem como discussão do assunto com os pais e,
provavelmente, com especialistas de fora da creche. Como sempre, deve-se
descartar as causas físicas, como coceira causada por infecção ou inflamação,
se necessário por meio do exame da criança por um médico.
O brincar de conotações sexuais pode, de forma similar, ser fonte de
ansiedade para as cuidadoras, em parte porque elas podem suspeitar que ele
está associado ao abuso sexual (discutido no próximo capítulo). Isso não é
necessariamente verdadeiro, mas, quando brincam de médico e hospital ou

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