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Grupamentos ocupacionais Rendimento médio habitual do trabalho principal (R$) Participação de mulheres na população ocupada (%) Percentual de horas trabalhadas na semana de referência pelas mulheres em relação ao de homens (%) Razão do rendimento médio habitual* de mulheres em relação ao de homens (%)Homem Mulher Total 2 491 1 978 45,6 88,4 79,4 Diretores e gerentes 6 216 4 435 41,8 95,5 71,3 Profissionais das ciências e intelectuais 5 890 3 819 63,0 90,3 64,8 Técnicos e profissionais de nível médio 3 320 2 386 45,2 95,4 71,9 Trabalhadores de apoio administrativo 2 071 1 785 64,5 97,2 86,2 Trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e mercados 1 958 1 295 59,0 88,0 66,2 Trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais, da caça e da pesca 1 397 999 21,1 82,6 71,5 Trabalhadores qualificados, operários e artesãos da construção, das artes mecânicas e outros ofícios 1 752 1 150 16,2 83,0 65,7 Operadores de instalações de máquinas e montadores 1 895 1 303 13,8 92,3 68,8 Ocupações elementares 1 060 951 55,3 86,1 89,8 Membros das Forças Armadas, policiais e bombeiros civil-militares 5 301 5 338 13,2 89,8 100,7 * Rendimento médio habitual do trabalho principal da população de 25 a 49 anos de idade ocupada na semana de referência, por sexo, segundo os grupamentos ocupacionais, participação de mulheres na ocupação e razão (%) do rendimento de mulheres em relação ao de homens – Brasil – 4º trimestre – 2018. Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/ 23923-em-2018-mulher-recebia-79-5-do-rendimento-do-homem. Acesso em: 30 jul. 2020. 1. As maiores desigualdades de remuneração entre homens e mulheres são observadas em que tipos de ocupação? Que hipóteses podem explicar esse fato? 2. Dos grupos ocupacionais listados na tabela, em quais a participação das mulheres é inferior? O que poderia explicar isso? 3. É possível relacionar gênero e formação escolar? Explique dando exemplos da tabela. Ver respostas e orientações no Manual do Professor. Interpretar Apesar da crescente participação da mulher no mercado de trabalho, seu percentual de remuneração é bem menor do que o auferido pelo tra- balho masculino, assim como seus direitos e suas condições laborais. Ao trabalho feminino, no geral, têm sido reservadas áreas de trabalho intensi- vo. As áreas de maior desenvolvimento tecnológico ainda são destinadas majoritariamente ao trabalhador masculino. Assim, a expansão do trabalho feminino tem se verificado, especialmente, em atividades mais precariza- das ou informais e, ainda, com jornadas mais prolongadas. NÃO ESCREVA NO LIVRO 67 V6_CIE_HUM_Claudio_g21Sa_Cap2_062a093.indd 67V6_CIE_HUM_Claudio_g21Sa_Cap2_062a093.indd 67 24/09/2020 10:5424/09/2020 10:54 A mulher trabalhadora, em geral, pos- sui dupla ou tripla jornada porque, além de trabalhar fora, “deve” também cuidar das tarefas da casa e dos filhos. Mesmo em fa- mílias que buscam dividir igualitariamente as funções domésticas, é comum ouvirmos: “ele é um ótimo marido, ajuda a esposa em suas tarefas”. O trabalho doméstico ainda é visto como função exclusiva da mulher. Por mais emancipadas que as mulheres de hoje sejam em relação às mulheres de gerações mais antigas, essa emancipação é apenas parcial, porque o seu trabalho ainda não é valorizado igualitariamente ao dos homens ou, ainda, muitas vezes, nem é percebido como trabalho quando é do tipo doméstico. Há ainda outro problema: não raras vezes, o trabalho feminino está mais di- retamente ligado à autopreservação do que à autorrealização, principalmen- te em se tratando de mulheres de classes de baixa renda. Com dupla ou tripla jornada de trabalho, sem tempo para o lazer, sem independência econômica e, geralmente, empregada em um trabalho alienante, será possível a mulher se sentir realizada? Vivemos em uma sociedade de consumo e, portanto, acre- ditamos que o trabalho só é importante se der conta de nossas necessidades materiais, daí a desvalorização do trabalho feminino quando enquadrado na condição de trabalho doméstico. Receber um salário pequeno ou não receber nenhum salário é sinônimo de fracasso pessoal, de insucesso. E se considerássemos o trabalho como uma forma de contribuir para a so- ciedade, como um exercício de criatividade? E se pudéssemos experimentar a satisfação de desempenhar tarefas que nos beneficiam e aos demais, será que encararíamos o trabalho como algo estressante, depressivo ou degradante? Os trabalhadores do lar são inferiorizados em relação aos outros, como se fosse um trabalho menor, e acabam, por isso, se sentindo menos impor- tantes. Se, em vez de valorizar- mos apenas a riqueza material, pudéssemos valorizar a impor- tância que o trabalho tem para a comunidade como um todo, se o trabalho que exercemos pudesse funcionar como forma de afirma- ção (e não de negação) da nossa identidade, será que sofreríamos da mesma forma? O trabalho doméstico no Brasil é historicamente exercido pelas mulheres negras. Faxineiras e diaristas são majoritariamente mulheres negras. Apenas em 2015 foi promulgada a lei garantindo direitos trabalhistas às pessoas que exercem essa profissão. Desde o período colonial, mulheres negras são responsáveis pelas atividades mais fundamentais, desde a organização da casa até a amamentação das crianças, mesmo que não fossem seus filhos. Na imagem Mãe preta do pintor Lucílio de Albuquerque (1877-1939). Apesar de vivermos em uma sociedade declaradamente competitiva, nem sempre os termos dessa competição são justos com as pessoas envolvidas, como ocorre na competição entre homens e mulheres no mercado de trabalho. R e p ro d u ç ã o /M u s e u d e A rt e M o d e rn a © 2 0 2 0 C a rl ín /L a R e p ú b lic a 68 V6_CIE_HUM_Claudio_g21Sa_Cap2_062a093.indd 68V6_CIE_HUM_Claudio_g21Sa_Cap2_062a093.indd 68 24/09/2020 10:5424/09/2020 10:54