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OS SETE BARCOS DE DEUS
MIZAEL DE SOUZA XAVIER
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS: Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo,especialmente por sistemas gráficos, sem a devida autorização assinada pelo autor,Mizael de Souza Xavier. A violação dos direitos é punível como crime (art. 184 eparágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, busca e apreensão eindenizações diversas (art. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19/02/1998, Lei dos DireitosAutorais). Este livro é um capítulo do livro: “Missão Integral: evangelismo eresponsabilidade social na dinâmica solidária do Reino de Deus”, publicado naAmazon (ASIN: B08H17MQP7).
Distribuição gratuitaVenda proibida
5S EDITORAParnamirim – RN – 2023
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ÍNDICE
Apresentação
BARCO 1: A graça salvadora de Deus
BARCO 2: Não adianta fugir da vontade de Deus
BARCO 3: Deus transforma a nossa realidade
BARCO 4: Confiança plena no Senhor
BARCO 5: A jornada cristã
BARCO 6: Perseverando no chamado
BARCO 7: O preço de seguir a Jesus
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APRESENTAÇÃO
“E eles, despedindo a multidão, o levaram assim como estava, no barco; e outros barcos o seguiam.”(Marcos 4:36)
Há alguns anos, eu meditava sobre a Palavra de Deus e percebi quehavia muitas histórias em que uma embarcação – barco ou navio –estava em evidência. Além disso, apesar de serem objetos sem vida,entram nas narrativas não como meros atores coadjuvantes, maspara desempenhar um importante papel na obra que Deus havia derealizar. Por exemplo: o que seria da história do dilúvio sem a arcade Noé? O que seria da saga de Jonas, o profeta fujão, sem o navioque o levaria em sua fuga? O que seria do episódio da pescamaravilhosa ou de Jesus acalmando a tempestade no meio do marsem um barco? Então, parei para estudar e pesquisar melhor cadauma dessas belíssimas narrativas bíblicas, percebendo logo quelições maravilhosas elas trazem para a Igreja hoje e a vida de cadacristão em particular. Estudando a viagem de Paulo como prisioneiroaté Roma e o naufrágio sofrido por ele, pude aprender que seguir aJesus tem seu preço, mas a obra que Ele começou em nós, haverá decompletá-la, e a recompensa será gloriosa e eterna.Este estudo – Os Sete Barcos de Deus – na verdade, vinhaacompanhado de outros dez, onde trato de temas diversos, comoespiritualidade, liderança, ofertas, fé, oração entre outros. Mas nofim decidi publicar cada estudo em separado, para não ficar umamiscelânea grande de temas em um livro só. Isso me possibilitouexpandir cada um desses temas, uma vez que não seria mais precisorestringir o número de páginas para economizar espaço. Sobre oepisódio de Mateus 14:22-33, quando Jesus anda sobre o mar, eutinha dois estudos: um que constava neste livro, chamado "É precisomanter o foco em Jesus", e outro intitulado "A jornada cristã em onzemomentos". Decidi, então, mesclar os dois, já que abordavam omesmo assunto. Com a graça de Deus, creio que o produto final ficoudentro das expectativas, com um conteúdo relevante que tenhocerteza de que irá agradar a todos os leitores. Os sete barcos sãoestudados aqui na sequência em que aparecem na Bíblia, começandopela arca de Noé até a viagem de Paulo à Roma.O que você irá encontrar no conteúdo deste livro? Para quemjamais leu algum estudo feito por mim, devo dizer que sigo umateologia reformada e ortodoxa, fundamentada apenas na Palavra deDeus, com pesquisas em material escrito por teólogos e autoresreconhecidos e respeitados pela cristandade evangélica. Minhasbases de fé são os cinco Solas da Reforma Protestante. Rejeito oliberalismo teológico, a neo-ortodoxia, o deísmo, o teísmo aberto, a
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Teologia da Prosperidade, o método histórico-crítico e/ou qualquertentativa mundana de atentar contra a verdade do Deus Trino eSoberano, bem como a Palavra por Ele inspirada: a Bíblia. Não atuocomo dono da verdade nem considero meus escritos como suficientespara os temas abordados, porque o oceano da Palavra de Deus éimensamente profundo, e eu ainda sou um aprendiz iniciante. Masnão abro mão de usar uma exegese correta no exame dos textosbíblicos. Creio na máxima que diz: "Texto fora do contexto é umpretexto para heresia".Ditas essas palavras, apresento-lhes Os Sete Barcos de Deus esuas maravilhosas histórias. Aqui aprenderemos temas relevantespara o momento que a Igreja do Senhor Jesus tem enfrentado, com asecularização da igreja institucionalizada, a comercialização da fé, oliberalismo teológico, a Confissão Positiva e o atrofiamentomissionário1. Noé nos ensinará que a graça de Deus é poderosa parasalvar o pecador. Jonas nos mostrará que não devemos rejeitar ochamado de Deus, mas precisamos obedecê-lo em tudo. Ao caminharsobre o mar, Pedro nos trará uma lição importante: o poder que nossustenta vem do Senhor, por isso jamais devemos desviar os nossosolhos dele. Ao acalmar a tempestade que ameaçava tragar o barcoonde ele viajava com seus discípulos, Jesus nos ensina uma poderosalição: Deus está no controle de todas as coisas, por isso não devemostemer, apenas crer e esperar nele.Que Deus lhe abençoe, amado leitor. Que a Sua graçamaravilhosa lhe dê sabedoria e força para aprender e praticar todasas lições aqui aprendidas.
1 No livro “Decepcionados com a igreja: 70 razões e desculpas para a evasão nasigrejas cristãs”, abordo muitos desses temas e analiso minuciosamente as razões edesculpas pelas quais as pessoas abandonam a igreja e até mesmo a fé cristã. Naparte final, ofereço algumas respostas para um movimento que tem crescidobastante nos últimos anos: os “desigrejados” ou a “igreja orgânica.”
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A GRAÇA SALVADORA DE DEUSGênesis, capítulos 6 a 9
“Porém, Noé achou graça diante de Deus.”
Quando Deus criou o homem e a mulher, colocou-os no seu paraísoperfeito para que cuidassem dele. Adão e Eva estavam livres paradominar sobre todas as coisas e desfrutar das inúmeras delícias queDeus criara. Só havia uma única regra que eles deveriam obedecer:jamais comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, queconhecemos como o “fruto proibido” (Gn 2:17). Sendo tentados pelaserpente, o primeiro casal fez a primeira escolha errada dahumanidade e optou por desobedecer a Deus, comendo do fruto daárvore proibida (3:1-6). A consequência para eles foi a expulsão doparaíso; e para eles e nós, a Queda, momento em que o pecadoentrou no mundo e por ele, a morte (Rm 5:12). Após este tristeepisódio, o homicídio de Caim contra seu irmão Abel prefiguravaapenas o mal que estava por se disseminar no mundo, o que de fatoaconteceu. A partir da Queda, o pecado e a morte se alastraram nomundo. O homem, totalmente depravado em seu caráter edistanciado de Deus pelo seu pecado, passou a reproduzir o “fatorAdão e Eva”: a rebeldia contra o Criador2.Quando chegamos ao capítulo sexto do livro de Gênesis, lemosque a multiplicação dos seres humanos levou consequentemente àmultiplicação do mal, de modo que era continuamente mau tododesígnio do coração do homem (6:1-5). Esse episódio nos trazalgumas importantes lições a respeito da doutrina da salvação, quepodemos ver claramente em toda a saga de Noé, desde o seuchamamento até o fim do dilúvio. Em primeiro lugar está a própriadepravação da humanidade. A impiedade generalizada na época deNoé nada mais era do que o reflexo do pecado oriundo da Queda, dadesobediência do primeiro casal. Em Romanos 3:10-18, o apóstoloPaulo faz uso de diversos textos do Antigo Testamento parademonstrar a condição pecaminosa da humanidade. Aquele homemdos tempos de Noé é o mesmo de hoje, “pois todos pecaram ecarecem da glória de Deus” (Rm 3:23). Por um só homem o pecadoentrou no mundo, e pelo pecado a morte (Rm 5:12). Não há diferençana natureza pecadora dos tempos de Noé para os nossos dias, nemmesmo nas consequências dessa natureza, basta olharmos para onível de depravação no qual a humanidade caminha a passos largos.Dianteda situação maligna das suas criaturas, Deus decideerradicar o ser humano do mundo e tudo o que havia criado (6:11-
2 No livro “A Queda e as suas consequências”, analiso as desastrosasconsequências da Queda para a natureza humana, tendo como base o pensamentoagostiniano da “depravação total”, buscando compreender os seus reflexos nanossa vida pessoal e interpessoal, na natureza e no mundo. Lançamento em breve!
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13). Vemos aqui o claro juízo de Deus em pagar o pecado com amorte. Como escreveu Paulo: “o salário do pecado é a morte” (Rm6:23). Da mesma forma, quando Adão e Eva pecaram, Deus ossentenciou a uma dupla morte: espiritual, isto é, a ausência da glóriadivina e a presença da concupiscência; e física, porque no Éden nãohaveria morte, o homem viveria para sempre. Agora, Deus sentenciaa humanidade a perecer debaixo das águas do dilúvio, como castigopor sua desobediência e impiedade. Deus fala por intermédio doprofeta Isaías: “Ai do perverso! Mal lhe irá; porque a sua paga será oque as suas próprias mãos fizerem” (Is 3:11). Paulo escreveu aosgálatas: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que ohomem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7). Assim como tambémdeclarou por intermédio do profeta Ezequiel: “Eis que todas as almassão minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; aalma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:4). Ao exercer juízo sobre omundo, Deus demonstra a sua justiça e soberania. O juízo de Deus éexecutado igualmente, sem distinção (Rm 2:1-16), de modo que todospereceram no dilúvio e muitos ainda hoje perecem sem Deus.Todavia, em meio àquela geração má e corrupta, um homemachou graça diante dos olhos do Criador: Noé (vs. 8-10). Deus nãodestruiria totalmente a humanidade, mas salvaria por meio daconstrução de uma arca um homem e a sua família. O Deus queexecuta o juízo é mesmo que providencia uma arca de salvação. Deusanunciou a Noé que haveria de erradicar da terra todo ser vivente,ordenando que ele construísse uma arca para salvar a si mesmo, asua família e um casal de cada espécie de animais. Aquele seria orecomeço da odisséia humana sobre a Terra (vs. 11-22). Os capítulos7 e 8 mostrarão a construção da arca, o dilúvio e Noé e sua famíliasendo salvos da destruição. Ao lermos estes versículos, o que nosvem à mente é a promessa feita pelo Senhor após a Queda, dirigindo-se à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tuadescendência e o seu descendente” (Gn 3:15). Esse descendente –Jesus Cristo – viria para reparar a comunhão desfeita entre Deus e ohomem por conta do pecado (Gl 4:3-7). A arca de Noé é uma figurade Cristo: aqueles que estão nele serão salvos; os que ficarem de forajá estão julgados e condenados (Jo 3:17-19). Jesus é o sacrifícioprovidencial de Deus pelos nossos pecados, a porta da nossasalvação, a arca que nos mantém livres da condenação e nos leva emsegurança para a terra firme celestial.Nesses três elementos – depravação humana, juízo de Deus e asalvação do pecador – vemos o mais importante, que figura de formaperfeita no episódio da arca de Noé: a graça de Deus. Excetuando-seNoé, nenhuma das pessoas vivas naquela época buscava fazer avontade de Deus ou se importava com o que o seu Criador pensava arespeito daquilo que estavam praticando. Não havia no homemperdido vontade alguma de buscar a Deus para ter vida, como bemdisse Jesus aos fariseus: “não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo5:40). Assim como alguém que morre fisicamente não pode buscar
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vida para si próprio, quem está morto espiritualmente também nãotem essa vontade e capacidade. É preciso que alguém lhe dê vida. Damesma forma como aconteceu no jardim do Éden (3:8,9), a iniciativade buscar o pecador para restaurá-lo foi de Deus. Ele viu que o serhumano estava perdido em seus pecados (6:1-5), proferiu o seu juízocontra ele (vs. 6,7,13), providenciou um meio de salvação (vs. 14-21)e executou o seu juízo (cap. 7). A graça de Deus não somenteenxerga o pecador, como também decide agir a seu favor,abençoando-o com a possibilidade de salvar-se da sua condição demorte para alcançar a vida eterna. É a graça quem nos atrai (Ef 1:3-14; 2:8,9; 1 Pe 1:3,4; 1 Jo 2:25; 5:11,12). Noé foi agraciado porqueDeus o escolheu para isso. A salvação oferecida por Deus, a arca queEle nos dá graciosamente, não pode ser rejeitada (Hb 2:3; 12:25; 1 Jo5:10), como também não pode ser perdida. O Senhor Jesus expressaessa verdade em poucas palavras: “Eu lhes dou a vida eterna; jamaisperecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”Após a bonança, Deus fez aliança com Noé e o abençoou e aosseus filhos (9:1-19). Todos aqueles que foram escolhidos, que creramna Palavra de Deus e entraram na arca foram salvos. A arca de Deustrouxe vida em meio a um mundo repleto de maldade e corrupção. Araça humana não melhorou nada de lá até aqui, muito pelo contrário.Os homens continuam mortos em seus delitos e pecados, vivendo demaneira corrupta e perversa. Aquela arca foi capaz de salvar apenasuma família e alguns animais, mas Jesus Cristo, por meio da suamorte expiatória na cruz, é capaz de salvar totalmente aqueles quepor Ele se chegam a Deus (Hb 7:25). O batismo em Jesus éprefigurado por esta arca de salvação (1 Pe 3:20-22). Assim comoNoé, o pecador tem a segurança da salvação nesta arca proposta porDeus: a justificação pela fé em Cristo (Hb 11:7). Ao mesmo tempo emque é figura de salvação, ela também é de condenação para aquelesque ficarem fora dela (Mt 24:37-39). Na vinda de Jesus para julgar ahumanidade, muitos perecerão como nos tempos do dilúvio e serãodeixados para trás. A Arca é o Senhor Jesus. Nela entramos pela fé,por meio da graça de Deus que nos livra do dilúvio da condenaçãoeterna. Não foi Noé quem escolheu entrar na arca, foi Deus quem oconduziu até dentro dela. Da mesma forma, Deus atrai pra si aquelesque são seus.Existe um pensamento final sobre este tema. O que todas asoutras pessoas faziam enquanto Noé construía a Arca? Pelagrandiosidade do projeto, podemos supor que todos podiam ver oimenso barco ser construído, os animais entrando, a família de Noétrabalhando. Supomos, também, que muitos devem ter questionadosobre o que seria aquilo, quais eram as razões daquela megaempreitada. Apesar disso, três informações a Bíblia não nos traz: sealgumas pessoas, arrependidas, tentaram conquistar um lugar naArca, se alguém tentou entrar na Arca quando as águas começaram asubir assustadoramente e se outras pessoas, ao saberem do intuitode Deus e verem a construção que Noé empreendia, também
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tentaram construir barcos para se salvar. Não podemos criarhistórias fantasiosas como os filmes de Hollywood, mas apenasconcordar com o fato de que somente aqueles que Deus escolheu sesalvaram do dilúvio. Não havia outra maneira de escapar, nãoadiantava construir outras embarcações: somente a Arca foi o meioescolhido pelo Senhor para demonstrar a sua benevolente graça.Também não era possível entrar nela a força, comprar umapassagem na terceira classe, junto às fezes dos animais. Somentequem Deus havia escolhido poderia estar ali.Tudo isso nos chama a atenção para uma prática existentedesde o período pós-diluviano: a conquista do Paraíso por meio dospróprios esforços e méritos. Não precisamos retroceder tantosséculos na História, mas basta-nos um breve comentário sobre osdias atuais. A nossa única Arca é a cruz de Cristo. Todavia, ela temperdido a sua importância na vida e na pregação da Igreja cristã hámuitos anos. O Evangelho da graça de Deus tem cedido espaço parauma mensagem triunfalista, que não está interessada na salvaçãoeterna da alma, mas na conquista de bens terrenos e felicidademundana. Oferece-se, acima de tudo nos meios neopentecostais,caminhos dos mais diversos para que o pecador possa se chegar atéDeus e alcançar o seu favor: campanhas deoração, objetos ungidos,unções bizarras, dízimos e ofertas3. A cruz de Cristo, o Evangelho dasalvação fica de lado, sufocado pela ambição dos homens, anuladopelas heresias que bombardeiam a Igreja do Senhor e tentamdestroçar a sua essência. A Reforma Protestante retomou umaverdade bíblica que há muitos séculos vinha sendo desprezada, até oano de 1517: “O justo viverá por fé” (Rm 1:17). Sem obras deautojustiça, sem méritos próprios, a salvação é um ato gratuito deDeus que só pode ser conquistada porque Cristo já a conquistou pornós no Calvário (Ef 2:8,9; At 13:39; Rm 3:24-28; 5:1; Gl 2:16; 3:11).Não adianta comprar uma passagem para o Paraíso nem construirseu próprio barco, pois o caminho é um só: a fé em Jesus Cristo.A Arca de Noé representou vida e salvação para aqueles queestavam dentro dela, mas condenação e morte para os que ficaramde fora. Da mesma forma, a cruz de Cristo representa vida e salvaçãopara aqueles que nela deixam a sua vida de pecado, mas condenaçãoe morte para os que dela escarnecem. Todos os que creem nessamensagem serão salvos, mas aqueles que insistem em virar as costaspara o Evangelho da graça de Deus, serão condenados. O apóstoloPaulo escreveu: “Certamente, a palavra da cruz é loucura para osque se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (1
3 Abordo este tema no livro “A graça de ofertar”, Dízimo ou oferta? O cristão devedar ou devolver os dízimos com base no Antigo Testamento? Este livro pretenderesponder a estas e outras questões relacionadas à oferta. Trago aqui, também,uma análise de 2 Coríntios 9:1-15, revelando a verdadeira natureza das ofertas noNovo Testamento, que envolve: prontidão, zelo, compromisso, motivação correta,alegria, testemunho, submissão ao Evangelho e graça. Além disso, procuro explicarcom clareza a verdadeira “lei da semeadura”, que, na Bíblia, difere em tudo do quevem sendo praticado em muitas igrejas.
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Co 1:18). O objeto de tortura e morte vergonhosa do ImpérioRomano serviu como forma de doação de vida. Pelo lavarregenerador do sangue vertido na cruz pelo Senhor, somos limposdos nossos pecados, purificados pela fé, santificados pela graça eredimidos pela sua gloriosa ressurreição. Tudo o que éramos antesde crer em Cristo foi deixado para trás, conforme também afirmouPaulo: “mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostesjustificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nossoDeus” (1 Co 6:11; cf. Tt 3:5; Ef 1:7; Hb 13:12). Diante do Trono doCordeiro haverá uma multidão que ninguém poderá contar, depessoas que tinham duas coisas em comum: “lavaram suasvestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7:14) epossuem os seus nomes escritos no Livro da Vida (Ap 21:7). Vocêpossui essa segurança?
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NÃO ADIANTA FUGIR DA VONTADE DE DEUSLivro do profeta Jonas
“Que é isto que fizeste!”
A história do profeta Jonas é o exemplo da busca desesperada de umhomem em fugir da vontade de Deus. Quase que diariamente,milhares de pessoas lotam templos e cultos de oração e profecia parabuscar algo de Deus, conhecer que promessas Ele tem para as suasvidas. O crente em Cristo Jesus não acredita em cartomantes, búzios,tarólogos, adivinhos, mas ainda assim quer a previsão para o seufuturo, e os falsos profetas funcionam como esses místicos capazesde prevê-lo. Mas existe um detalhe: a profecia precisa ser positiva,apontar para algo bom e agradável para ser reconhecida como vindade Deus. Quando a palavra do profeta não é conforme o esperado,não foi Deus quem falou. Ora, de que nos adianta conhecer a vontadede Deus se vamos desprezá-la? O rei Davi agradava-se em fazer avontade de Deus (Sl 40:8; 143:10). O que pode ser melhor que acerteza de que as nossas ações estão sendo direcionadas por Deuspara cumprir o seu propósito soberano? Que satisfação maior podehaver para o crente em saber que está contribuindo para que a obrado Senhor seja realizada e pessoas sejam abençoadas através dassuas ações?O profeta Jonas não se interessava por essa satisfação. Eleparecia entender que Deus havia se equivocado ao enviá-lo à grandecidade de Nínive para pregar a sua Palavra. Jonas conhecia o Deusmisericordioso a quem servia e sabia que, se pregasse àquela cidadepoderosa, seus habitantes poderiam se converter e ter do seu lado oSenhor, o poderoso El-Shadai! O que seria de Israel? Nínive era acapital da Assíria, inimiga histórica de Israel e Judá, fundada porNinrode, bisneto de Noé (Gn 10:6-12). Nínive, provavelmente amaior cidade do mundo antigo (1:2; 3:2,3; 4:11), seria destruídacerca de 150 anos depois daquela geração que ouviu a pregação deJonas e se arrependeu, cumprindo a profecia de Naum (Na 1:1ss).Era uma cidade cruel para com os filhos de Israel, e Jonas seressentia disso. Se ela tivesse do seu lado o Senhor dos Exércitos, oque poderia acontecer? A atitude de Jonas ao receber o seu chamadofoi fugir da sua missão, viajando em direção oposta, rumo à cidadede Társis. A Bíblia não diz que ele pretendia ir para longe de Nínive,mas da presença do Senhor (1:3). Fugir da vontade de Deus é fugirdo próprio Deus! Como, porém, fugir da presença de Deus? Onde seesconder do seu olhar? Impossível, porque Deus não é somente deperto, mas também de longe (Jr 23:23). O Senhor nos sonda e nosconhece, sabe tudo a nosso respeito, mesmo os pensamentos maisprofundos e ocultos. Para onde formos, lá Ele estará, porque não há
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lugar algum no universo visível e invisível no qual Ele não reine (Sl139). Se Deus tem um plano para a nossa vida ou para realizaratravés dela, não temos como fugir. A sua vontade soberana semprese cumprirá, independente da nossa vontade, da nossa disposição edos nossos esforços ou da falta deles. Assim aprendeu Jó apósenfrentar suas grandes desventuras: “Bem sei que tudo podes, enenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42:1).Em sua fuga desesperada, Jonas entrou num navio. Aquelaembarcação haveria de ser palco para situações inusitadas queacompanhariam o profeta fujão. Tudo começou quando Deus enviouuma forte tempestade sobre o mar, forte o suficiente para quasedespedaçar o navio (1:4). Quantas vezes sentimos que astempestades da vida parecem querer nos tragar e paramos para nosperguntar o motivo. Uma das perguntas que sempre nos fazemos é:“O que foi que eu fiz para merecer isso?”. Talvez a pergunta quedevamos fazer seja: “O que estou deixando de fazer para isso estaracontecendo comigo?”. Quem sabe Deus esteja querendo nos trazerde volta à sanidade, lembrar-nos da essência do nosso chamado,fazer como que retomemos os seus projetos que deixamos para trás.Aquilo que pensamos que veio nos destruir, na verdade veio para nosencaminhar de volta ao primeiro amor. O autor de Hebreus escreveu:“Toda disciplina, com efeito, no momento não parece motivo dealegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacíficoaos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça” (Hb 12:11).Deus sempre nos busca, onde quer que estejamos e o que quer quefaçamos, porque Ele nos ama e tem planos para nós que não irãofalhar.No momento da tempestade, aquelas pessoas, queprovavelmente não possuíam o compromisso com Deus que o profetadeveria ter, começaram a clamar cada um ao seu deus, enquantotentavam aliviar a carga do navio. Jonas, porém, dormiatranquilamente, como muitos pecadores dormem como se as suasalmas não ardessem pelo pecado ou como muitos crentes queinsistem em fechar os ouvidos à voz do Espírito Santo. Quando oviram, ordenaram que ele também invocasse o seu Deus, semimaginar que o Deus de Jonas era o Deus do céu, do mar e da terra(v. 9). Enquanto os descrentes exercitavam a sua fé, o profeta deDeus escondia-se. Ninguém poderia imaginar que ele possuíacompromisso algum com uma divindade, como muitos que dizem quecreem em Deus, mas que só são conhecidos comotal quandointerrogados a respeito da sua fé. Eles são chamados de “crentesagentes secretos”. A atitude de Jonas não era a de um crente: não seimportava consigo mesmo, muito menos com as pessoas que aliestavam e que poderiam perecer. Não estava sendo solidário, masomisso em sua fé. Afinal de contas, ele já tinha uma rota traçadapara a sua vida, nada poderia lhe fazer parar. Isso nos lembra aparábola contada pelo Senhor Jesus em que um homem, após suasgrandes conquistas, dizia consigo mesmo: “tens em depósito muitos
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bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te” (Lc 12:19.Mas Deus lhe disse: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o quetens preparado, para quem será?” (v. 20). A conquista de Jonasparecia a sua liberdade, mas era apenas o começo de sua jornada devolta ao ponto em que Deus o colocara.O v. 10 mostra que aqueles homens sabiam bem quem era oDeus de Jonas. Eles ficam possuídos de grande temor e exclamam:“Que é isto que fizeste!”, pois eles entendiam que Jonas fugia dapresença do Senhor. Logo, aqueles homens pagãos e idólatraspossuíam mais fé em Jeová do que o próprio profeta Jonas, que sedeclarava seu servo. Querendo resolver o problema do iminentenaufrágio, mas não desejando atentar contra a vida de Jonas, aquelestripulantes e passageiros experimentaram uma experiência deconversão inusitada! Vemos que partiu do próprio Jonas a ideia delançá-lo ao mar para que ele se aquietasse, pois aquela tempestadeera por sua causa (v. 12). Mas eles não o fizeram! Como jogar ao maro homem que se declara servo do Senhor? Então, após se esforçaremmais uma vez para alcançar a terra, eles clamaram ao Senhor porsuas vidas e reconheceram a sua soberania (1:14). Lançando Jonasao mar e vendo a tempestade imediatamente se acalmar, já nãoorava mais cada um ao seu deus, mas “Temeram, pois, estes homensem extremo ao Senhor; e ofereceram sacrifícios ao Senhor, e fizeramvotos” (v. 16). Não querendo que os ninivitas se salvassem, Jonaslevou salvação a quem ele nem imaginava! Então ficamos a pensar:será que essa fuga do profeta também não estava dentro dos planossoberanos de Deus para salvar aqueles pecadores? Embora a Bíblianão afirme isso, provavelmente sim.Não existem acasos no Universo, muito menos nos planos deDeus para ele, para o ser humano e, mais especificamente, para asua Igreja. Em toda a narrativa bíblica não existem coincidências,mas a mão poderosa de Deus agindo para cumprir os seus planossoberanos, que jamais poderão ser frustrados (Jó 42:2; Pv 19:21; Is14:27; 43:13; 46:10,11). Mesmo naquelas ocasiões que parecemapenas efeitos da casualidade existe um propósito eterno de Deusagindo. Todas as profecias que apontavam para Jesus se cumpriraminexoravelmente, da maneira como Deus havia planejado (Mt17:22,23). Desde o local do seu nascimento, sua ida para o Egito, suavinda para Nazaré, seus milagres, a traição de Judas, a suaressurreição, a descida do Espírito Santo em Pentecoste até onascimento da Igreja, Deus sempre esteve orientando a história e osfatos para levar a cabo os seus planos. A fuga de Jonas não foi obrado acaso, muito menos a conversão daqueles homens. Assim tambémacontece na nossa vida: “acidentes”, “coincidências” e “acasos”inexplicáveis nos conduzem na direção da rota traçada por Deus oude volta a ela. Isso não significa que Deus usa os nossos pecados,mas nos usa a despeito deles. Erramos pelo meio do caminho, masem qualquer ponto deste caminho o Senhor sempre agirá.
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Outro fato importante: pode ser que Deus esteja usando astribulações que hoje enfrentamos para abençoar vidas que nemconhecemos. A nossa fé, a nossa perseverança e a nossa confiançaem Deus levarão testemunho àqueles que nos observam. Não vemosJonas questionando a sua momentânea tribulação a bordo de umnavio prestes a naufragar. Ele não se importava! Mas nós sempre nosquestionamos a respeito das lutas que enfrentamos, dasadversidades e tribulações que vêm na forma de abandono, doença,desemprego, morte de pessoas amadas, crises familiares ouexistenciais. Precisamos parar de perguntar o “porquê” das nossastribulações e começar a perguntar o “para quê”. Como vimos nocapítulo anterior: Deus sempre tem um plano! O apóstolo Pauloescreveu: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,Pai de misericórdia e Deus de toda consolação! É ele que nosconforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os queestiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nósmesmos somos contemplados por Deus” (2 Co 1:3,4). A nossa dorpode representar a cura para alguém. Naquele navio, muitos foramcurados. E isso é maravilhoso, porque Jonas, naquele momento,estava dando um péssimo testemunho. Deus agiu com misericórdia epreparou um milagre para que, mesmo diante do mau testemunho doprofeta fujão, a sua glória se revelasse para aqueles homens.Enquanto aqueles que estavam no navio viam a fúria do marcessar e o mar se acalmar diante deles, Jonas começava uma novaetapa da sua jornada. Ao ser lançado ao mar, Deus deparou umgrande peixe para que tragasse o profeta, dentro do qual Jonasesteve três dias e três noites (2:17). O ventre do peixe foi como queum retiro espiritual para Jonas, um momento de refletir sobre a suavida e as suas atitudes. Enquanto estava no navio, ele dormiatranquilamente, mesmo com o mar em fúria e o desespero de todosos que estavam com ele na mesma situação. Agora, no ventre dogrande peixe, Jonas encontrou forças e razão para orar, como vemosem todo o capítulo dois. No navio, ele sentia-se seguro da suadecisão em fugir da vontade de Deus, mas ali, nas profundezas dooceano, conseguiu entender que estava errado e que Deus o buscariaonde quer que ele estivesse. Ele entendeu, também, o seu erro. Aoorar, Jonas sente que a morte o estava tragando (vs. 2-6). Então, elese lembra de Deus e ora (v. 7). Jonas tinha consciência da suadesobediência, ele não estava insensível quanto a isso. E tambémsabia que o preço a ser pago poderia ser muito alto: viver parasempre distante da presença do Senhor (v. 4). O que fica evidenteem toda essa história é que Jonas não estava fugindo porque haviapecado, Ele era profeta em Israel, servia ao Senhor, não tinha nadacontra Deus, só se ressentia de Nínive e não queria que ela viesse ase converter. O problema de Jonas não era com Deus. Ele sabia quemera o Deus em quem ele acreditava, o seu poder e a sua misericórdia.Quando a intenção do coração de Jonas mudou, ele percebeuque havia se afastado do centro da vontade de Deus, da misericórdia
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que Ele tanto conhecia. Ele ora: “Os que se entregam à idolatria vãabandonam aquele que lhes é misericordioso” (v. 8). Talvez Jonasestivesse falando a respeito de si próprio: ele amava tanto a Israelque a colocou e primeiro lugar na sua vida, desprezando a vontadede Deus e, por conseguinte, o próprio Deus. Ao fugir, Jonas nãoestava preocupado com o que Deus pensava e queria, mas com o queele próprio decidira que seria o certo e o melhor a ser feito. Talvezmuitos estejam nessa situação hoje, colocando-se no centro da suaprópria existência, tomando decisões que contrariam a vontade deDeus revelada nas Escrituras, tornando-se adoradores de si próprios.O cristão evangélico não possui imagens de escultura em casa, nãofrequenta santuários dedicados a santos e deuses, não conta com aintercessão dos mortos nem participa de festas em homenagem aosmártires da fé. Muitos, no entanto, idolatram suas bênçãos,reverenciam suas vitórias, fugindo de Deus enquanto pensam buscá-lo, desprezando-o enquanto presumem servi-lo, usando a sua fé paraautopromoção. Eles sabem o que Deus quer, mas preferem fazer ocontrário: o que eles querem ou não fazer coisa alguma. Tiagoescreveu: “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não ofaz nisso está pecando” (Tg 4:17). Jonas sabiao bem que deveria serfeito, mas não o fez.Em sua oração, Jonas reconhece a sua desobediência e asconsequências de abrir mão da vontade de Deus para fazer a suaprópria. Ele ora: “Mas, com a voz do agradecimento, eu te oferecereisacrifício; o que votei pagarei. Ao Senhor pertence a salvação!” (v.9). Após o seu retiro espiritual forçado, Jonas estava pronto paracumprir a vontade de Deus, para atender ao seu chamadomissionário. Como disse, Jonas era profeta em Israel, mas naquelemomento fora enviado para pregar a outra cidade, e uma cidadepagã, inimiga histórica do povo de Deus. Vemos em diversos livrosproféticos – como Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, por exemplo –profecias sobre a destruição de muitas cidades do mundo antigo,como a Babilônia, a Assíria, a Etiópia, o Egito, apenas para citaralgumas. Entretanto, Deus não é Deus apenas de um povo, mas detoda a terra. Ele deseja a salvação de todos, por isso Israel deveriaser uma luz para o mundo, o que está exemplificado em Jonas quenão aconteceu dessa maneira. Embora tivesse inimigos, o povo deDeus fora inicialmente criado com a intenção, também, de serbênção para os outros povos: “Abençoarei os que te abençoarem eamaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas asfamílias da terra” (Gn 12:3). Israel prefigurava o Servo do Senhorcomo “luz para os gentios” (Is 49:6). Nós, como servos e Igreja doSenhor, somos chamados a salgar a iluminar o mundo com o sal a eluz de Cristo (Mt 5:13-16), o que, infelizmente, parece que fazemos ocontrário.O Deus de misericórdia olha para o seu profeta fujão e atendeao seu clamor, falando ao peixe, e este o vomita na terra seca (2:10).Novamente o Senhor faz a convocação: “Dispõe-te, vai à grande
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cidade de Nínive e proclama contra ela a mensagem que te digo”(3:1,2). A primeira coisa que vemos aqui é que Deus não mudou osseus planos, mas recomeçou do ponto onde Jonas havia parado. Digo“Jonas havia parado” porque Deus não cessou de operar em todo otempo em que o profeta esteve fugindo da sua vontade. Muito pelocontrário! A fuga de Jonas que representaria o fim da sua missão emNínive, tornou-se um meio de salvação para os homens que viajavamcom ele no navio e como uma oportunidade para que o profetarepensasse seus sentimentos e atitudes, até reconhecer a bondade ea misericórdia de Deus. Não houve nenhum hiato entre o primeirochamado e o segundo: Deus sempre esteve no controle de todas ascoisas. Será que não havia outros profetas que o Senhor, em suaonisciência, sabia que prontamente o atenderiam e iriam semquestionar pregar à grande cidade de Nínive, como Amós, porexemplo? Mas Deus tinha planos que Jonas não conhecia, mas queenvolveram a salvação de muitas vidas e uma transformaçãoespiritual necessária. Enquanto isso, os seus planos eram cumpridos,não conforme Jonas havia planejado, mas como já estavamdeterminados desde a eternidade.Vemos, então, no capítulo terceiro, o desenrolar da história,que mostrará que Jonas, mesmo a contragosto e com o coraçãorevoltado, cumpriu a sua missão (vs. 1-4). Então aconteceu o que eletemia: “Os ninivitas creram em Deus, e proclamaram um jejum, evestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor” (v. 5). Nãoimportaram todos os esforços de Jonas para que aquelas pessoas nãose convertessem, porque Deus já havia determinado que elas creriame seriam salvas (vs. 9,10). No final das contas, a vontade do profetafujão foi ofuscada pela soberana e todo-poderosa vontade de Deus.Entretanto, quando parecia que a história de Jonas teria um finaltotalmente feliz, vemos que aquele servo do Senhor não ficou nadasatisfeito com o resultado da sua pregação: “Com isso, desgostou-seJonas extremamente e ficou irado” (4:1). Mesmo pregando aosninivitas, Jonas esperava um resultado diferente: que aquelaspessoas não se arrependessem e Deus lhes enviasse o castigo queprometera. Mas os planos de Deus não são os nossos planos, comoEle nos disse por meio do profeta Isaías: “Porque os meuspensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossoscaminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55:8). Quando Deustem algo para fazer em nós e através de nós, Ele o fará. Fugir da suavontade é como fugir da própria respiração.Vemos na história de Jonas um contraponto entre ossentimentos humanos e os de Deus, entre a maneira como Deus agee como os seres humanos escolhem agir. Neste episódio, podemosver a misericórdia de Deus para com todas as nações (4:2,10,11; cf.Êx 34:6; Nm 14:18; Sl 86:5,15; Jl 2:13; 1 Tm 2:4; 2 Pe 3:9). Já oprofeta Jonas tipifica o ser humano que geralmente não age commisericórdia, mas é vingativo e rancoroso. Aqui também ficaevidente o governo soberano de Deus em contraponto à falibilidade
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dos projetos humanos (1:4,9,17; 2:10; 4:6,7; cf. Jó 42:2; Sl 107:25;146:6; Ne 9:6; Mt 10:29,30; At 7:24; Rm 8:28). A ira de Jonasdemonstrada no capítulo quarto traz uma lição: “Então, perguntouDeus a Jonas: É razoável essa tua ira por causa da planta? Elerespondeu: É razoável a minha ira até a morte. Tornou o Senhor:Tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual nãofizeste crescer, que numa noite nasceu e numa noite pereceu; e nãohei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há maisde cento e vinte mil pessoas, que não sabem distinguir entre a mãodireita e a esquerda, e também muitos animais?” (vs. 9-11). Nínive tornou-se uma ilustração para a dureza do coração dosfariseus (Mt 12:38-41; Lc 11:29-32). Jonas pode ser o retrato danação de Israel rebelada contra Deus, mesmo sendo incumbida detestemunhar do Senhor às outras nações (Is 43:10-12; Jz 2:11; Mc7:6-9). Ou também pode ser um exemplo para a Igreja fujona, quetem navegado na contramão da vontade de Deus, deixando de ser sale luz neste mundo, condenando os infiéis sem levar até eles averdade que pode salvá-los, preocupando-se mais com a suasegurança e conforto do que com as almas carentes fora das suasquatro paredes. A Igreja hoje se assemelha a Jonas em seu egoísmoem não querer compartilhar Deus com os outros, mas guardá-losomente para si e os seus. Corremos o risco de sermos uma Igrejaque olha para o céu em busca de milagres, mas que não move umdedo para ser milagre na vida de alguém (1 Jo 2:17; Jo 6:37,40; 9:31;Ez 18:23; Ef 1:9,10; Sl 37:34; Rm 8:27). Devemos abrir o coraçãopara receber as bênçãos de Deus e as nossas mãos para compartilhá-las. Devemos, a todo instante, buscar a vontade de Deus para a nossavida, nossas relações, nossos sonhos e a Igreja4.
4 No livro “Os sete hábitos da espiritualidade biblicamente eficaz”, demonstrocomo a espiritualidade cristã envolve a totalidade da nossa vida e como isso dizrespeito não somente a nós mesmos, mas aos nossos relacionamentos e o nossopapel como servos de Deus no mundo. Todo o texto é baseado em 2 Pedro 1:5-11,onde o apóstolo Pedro nos revela uma espiritualidade coerente, integral, amorosa eprática.
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DEUS TRANSFORMA A NOSSA REALIDADELucas 5:1-11
“E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram.”
Cada pessoa que nasce na Terra é um ser individual, mesmo quemanifeste características próprias de uma cultura. Somos diferentesem muitas coisas, desde os aspectos físicos até o conteúdo do nossocaráter e como nos comportamos na sociedade. Apenas umacaracterística une todos os seres humanos e os torna parte de umúnico rebanho: o pecado original. Por mais diferentes que sejamosuns dos outros, a mancha do pecado nos comunga numa realidadedistante da presença de Deus, carentes de salvação. E se todospecaram e carecem da glória de Deus, todos também estão unidos auma única possibilidade de salvação: a fé em Jesus Cristo, porquequem crê, será salvo (Jo 3:16,17,36). Então, mais uma vez aindividualidade se faz presente, quando aqueles que, pela ação doEspírito, aceitama Jesus como Senhor e Salvador são separadosdaqueles que não creem, que amam mais as trevas do que a luz.Estes continuam com a sua realidade terrena e pecaminosa, que osconduzirá brevemente ao inferno; enquanto aqueles, por meio dagraça de Deus, recebem a vida eterna que os levará seguros até océu5. Não porque fizeram algo por merecer, mas porque Deus osatraiu graciosamente para Si. Afinal, como escreveu o apóstoloPaulo: “Porque pela graça dois salvos, mediante a fé; e isto não vemde vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”(Ef 2:8,9).Um relato bíblico demonstra essa verdade. Os apóstolostiveram a sua vida literalmente e radicalmente dividida em antes edepois de Cristo. Os discípulos foram chamados para seguir a Jesusquando estavam lidando com a realidade do seu dia a dia, em seusafazeres familiares e profissionais. Alguns estavam pescando, outroestava na coletoria de impostos; todos estavam desfrutando da suavida e todos distantes da glória de Deus; alguns de formainconsciente, talvez; outros de forma bastante consciente. O fato éque a chegada de Jesus transformou completamente a sua realidade.No trecho da Bíblia intitulado “A pesca Maravilhosa” (Lc 5:1-11), orelato de Lucas ocorre no lago de Genesaré e se inicia com Jesussendo apertado pela multidão que desejava ouvir a Palavra de Deus
5 No livro “A ovelha peregrina: o Salmo 23 e a salvação”, faço uma análise destebelo Salmo de Davi à luz da salvação dos pecadores. Comentando cada versículodeste poema inspirado, demonstro como o Pastor da Nossa alma nos escolhe paraser ovelhas do seu pasto, como Ele nos salva, como cuida de nós e nos fazperseverar na fé e, por fim, como nos conduz em segurança ao aprisco eterno noscéus, onde habitaremos com o Senhor para todo o sempre.
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(v. 1). Ele avistou dois barcos que já estavam atracados, enquanto ospescadores lavavam as suas redes (v. 2). Eram dois barcos, masJesus escolheu deliberadamente entrar em um deles (v. 3). Vemoslogo que é Deus quem toma a atitude de nos buscar. Jesus já sabiadesde a eternidade que naquele barco estaria um dos seusseguidores. Como Deus criador, Ele criara Simão Pedro e desdeantes da fundação do mundo já havia preparado um plano para ele.Assim acontece conosco, estamos absorvidos pelos afazeres domundo sem imaginar que planos maravilhosos o Senhor tem paranós. De boa vontade, Simão recebeu o Senhor em seu barco, e estepassou a ensinar às multidões que ali haviam se reunido (v. 3). Apósessa pregação, Jesus pediu que o barco fosse levado para distante dapraia e que as redes fossem lançadas para que eles pescassem (v. 4).Baseado na experiência anterior na qual não havia pescado nada,Simão esclarece que a noite fora frustrante, pois nada tinhampescado, mas que lançaria as redes em obediência à palavra doMestre (v. 5). O resultado foi de fato uma pesca maravilhosa quequase fez afundar a embarcação. Qual era o objetivo daqueleshomens como profissionais da pesca? Apanhar muitos peixes, vender,obter lucros, pagar as suas contas. Jesus lhes proporcionou essaoportunidade. Eles finalmente conseguiram a bênção que tantodesejavam. Depois de uma noite inteira de trabalho árduo semresultados, agora eles podiam se alegrar com aquele milagre que oSenhor lhes dera. Mas algo aconteceu. Simão Pedro pareceu não seimportar com a quantidade de peixes que havia pegado, nãocomemorou, não fez planos para o dinheiro que conseguiria com oslucros daquela pesca. Simão caiu em si e percebeu diante de quemestava. Prostrando-se aos pés do Senhor, ele exclamou: “Senhor,retira-te de mim, porque sou pecador” (v. 8) Enquanto muitos hoje,diante das maravilhas operadas por Deus, tornam-se soberbos e seveem no direito de exigir dele os seus milagres, Pedro se reconheceupecador indigno de estar na presença do Senhor. Este foi o primeiropasso para que ele viesse a ter a sua realidade transformada:reconhecer a sua pequenez diante da Majestade do Senhor,enxergar-se como pecador indigno do Salvador.Após a pesca maravilhosa e o reconhecimento de que Jesus erao Senhor, a realidade de Pedro, bem como a de Tiago e João (v. 10),mudou completamente. Disse o Senhor: “Não temas; doravante seráspescadores de homens” (v. 10). O evangelista Marcos tambémregistra esse este chamado; “Vinde após mim, e eu vos fareipescadores de homens” (Mc 1:17). A partir desse instante, aqueleshomens não estavam mais preocupados com a sua profissão e seuslucros, mas abandonaram tudo para seguirem a Jesus. Após nãohaver pescado nada naquela noite e dependendo dessa pesca paramanter o seu negócio, eles viram o seu barco quase naufragar comtantos peixes que foram apanhados. Imagine que grande lucro elesobteriam com a venda do pescado! Mas a Palavra de Deus afirma: “E,
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arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram”(Lc 5:11). Isso mesmo, eles simplesmente abandonaram todo aquelelucro financeiro em prol de um lucro maior: pescar homens. O queeles ganhariam pescando homens? Será que imaginavam que Jesusos estava convocando à captura e à venda de escravos? Com certezanão. Eles sabiam diante de quem estavam e qual seria a sua missão:salvar almas. Incrivelmente, ao contrário da mentalidade evangélicade hoje que abre mão das pessoas para tomar posse da bênção,aqueles pescadores abriram mão da benção que acabaram dereceber para tomar posse do ministério de salvar pessoas. Elesolharam para Jesus e compreenderam a verdadeira bênção.Deus transforma a nossa realidade! Lendo todos os relatosbíblicos sobre a vida de Pedro e as suas epístolas, vemos o queaquele encontro com Jesus representou na sua vida e como ela, umavez transformada, foi poderosamente utilizada para alcançar – pescar– outras vidas. Quando lemos no livro de Atos o episódio da descidado Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2:1-13), encontramos oapóstolo Pedro como o primeiro pregador e evangelista da Igreja queali acabara de nascer. O seu discurso foi a rede jogada à mente e aoscorações de todos os que ali estavam (vs. 14-36), ficando ela cheia dequase três mil pessoas que aceitaram a Jesus e foram batizadas:“Então, o que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendoacréscimo naquele dia de quase três mil pessoas” (v. 41). Depescador de peixes a pescador de almas! Se antes Pedro obtinhalucro com o seu trabalho, agora os seus esforços aumentavam onúmero de vidas que eram acrescentadas ao Reino dos céus. Arealidade transformada daquele pescador agora transformava outrasvidas. E é isso que Deus quer fazer conosco, é essa maravilhosa obraque Ele deseja operar na nossa vida. Talvez achemos que o que darásentido à nossa existência sejam os bens materiais, o poder, a famaou qualquer outro produto perecível do nosso desejo, mas Deuspensa diferente: Ele quer nos dar uma nova identidade e a salvaçãono céu. O Senhor declarou: “Eu vim para que tenham vida e atenham em abundância” (Jo 10:10). Mesmo os nossos maiores planose sonhos não são capazes de produzir vida, muito menos emabundância, que é aquela que começa aqui e segue pela eternidade.Nós precisamos ser alcançados pela graça do Senhor e inundadoscom sua presença.Todos os seres humanos nascem pecadores, mas podemalcançar a salvação em Cristo (Jo 3:16,36; Rm 3:23,24). Quandoescolhidos e salvos por Ele, nada mais nos importa, apenas deixartudo para trás e segui-lo. O Liberalismo Teológico e a Teologia daProsperidade, que há muito se infiltraram nas igrejas e vêmpervertendo a fé cristã, têm convencido milhares de pessoas que assuas necessidades são a casa própria, um carro novo, o emprego dossonhos, prosperidade financeira, o ganho de uma causa na justiça, acura de uma enfermidade e tantas outras ambições e promessas. Nãopodemos negar que precisamos demuitas dessas coisas, mas a nossa
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maior necessidade, a necessidade mais urgente de todos nós é asalvação da nossa alma. Pedro e seus amigos podiam ter prosseguidocom a bênção que acabaram de receber, mas logo viram que ela nãoera nada comparada com aquilo que o Senhor estava lhesoferecendo. Deus não quer transformar a nossa realidade financeira,mas colocar fim à nossa miséria espiritual e enriquecer-nos com avida eterna. São os nossos pecados, frutos da Queda, que produzemas nossas crises e nos tornam infelizes, não a falta de uma casa ouum carro. “Tomar posse da bênção”, como ensinam alguns, podesignificar abrir mão da verdadeira bênção: o próprio Senhor Jesus.Quando nos rendemos ao Senhor, somos transformados por suagraça, santificados por seu Santo Espírito, regenerados, redimidos,justificados, adotados como filhos. Somos salvos para as obras (Ef2:8-10), para demonstrarmos através das nossas atitudes o poder deDeus que opera eficazmente em nós. Jesus transforma nossocomportamento, nossos relacionamentos, nossos sonhos, nossasdores e nossas inclinações. Ele faz tudo novo! O Senhor nos salva enos faz pescadores de homens, envia-nos a pregar a sua Palavra enos usa para propagar o seu Reino eterno6. Se a nossa realidadeainda não foi transformada, se escolhemos ficar com os peixes – asbênçãos – ao invés de seguir o Mestre, pode ser que ainda estejamosno velho barco da nossa existência, tentando pescar vida, mascolhendo decepções e vendo todas as manhãs as nossas redes deinteresses cheias, mas a nossa vida, vazia. Será que estamosdispostos a abandonar a nossa rede cheia de peixes para seguir aJesus? Concluo com um versículo que demonstra o estado de espíritode quem faz a escolha errada: “Tendo, porém, o jovem ouvido estapalavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades” (Mt19:22). E com outro que revela a alegria daqueles que fazem aescolha certa: “E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se porterem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome”(At 5:41).
6 Todos os cristãos são evangelistas por natureza e devem se preparar para estatarefa santa e urgente. Este é o tema central da minha série: “Curso de formaçãode evangelistas”, que possui quatro módulos: (1) a natureza e o conteúdo dapregação, (2) a natureza e as qualidades do evangelista, (3) os métodosevangelísticos e (4) evangelismo e cosmovisão cristã. Cada capítulo de cadamódulo finaliza com exercícios teóricos e práticos para fortalecer o aprendizado.Outro livro importante é “Influência Digital e Evangelização”, onde abordo temascomo comunicação, comportamento, relacionamento e evangelismo nas redessociais.
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CONFIANÇA PLENA NO SENHORLucas 8:22-25
“Passemos para a outra margem do lago.”
Pare por um instante e imagine-se partindo para uma viagem debarco, não num grande barco repleto de botes e coletes salva-vidas,mas numa pequena embarcação onde cabem apenas você e algunsamigos. A viagem não é longa, vocês vão apenas atravessar de umamargem para outra de um grande lago. Todos estão felizes ecansados, o dia foi cheio de boas surpresas e muito trabalho. Aviagem transcorre normalmente, até que de repente surge uma fortetempestade. Os ventos fortes e as águas agitadas sacodem o barcode um lado para outro. Você e seus amigos seguram firmes no timão,recolhem as velas, protegem-se o máximo que podem enquanto aságuas parecem querer engoli-los. Estão todos desesperados, vendoque a qualquer momento o pior pode acontecer. E agora?Foi isso o que aconteceu certa vez com os discípulos de JesusCristo. O evangelista Lucas relata que “num daqueles dias”, Jesusentrou num barco em companhia dos seus discípulos. Vemos estemesmo relato em Mateus 8:23-27, Marcos 4:35-41 e Lucas 8:22-25.Marcos detalha que o fato ocorreu “naquele dia”, demonstrando umaprecisão maior de tempo, que foi logo após o Senhor ter proferidodiversas parábolas. Eles iriam para o outro lado do lago, ou seja, dacosta oeste à leste. Os discípulos, a pedido do Senhor, entraram numbarco, e Jesus lhes disse: “Passemos para a outra margem do lago”(Lc 8:22). Mateus utiliza a palavra “mar”, mas trata-se do mesmolocal: o Mar da Galileia, que é, na verdade, um grande lago, medindoaproximadamente 21 quilômetros de comprimento e 14 quilômetrosde largura. O lago, ou mar, é cercado por montanhas e estáaproximadamente a mais de 200 metros abaixo do nível do mar. Ascondições climáticas ali favoreciam o surgimento de tempestades,como aquela que Jesus e seus discípulos enfrentariam. Marcosregistra que outros barcos seguiram aquele onde Jesus estava (4:36).Então, lá estavam eles no barco com o seu Mestre. Masenquanto navegavam, algo aconteceu: Jesus recostou-se em umtravesseiro e dormiu (v. 23). O Mestre estava cansado, fadigado apósum dia inteiro na sua missão de pregar o Reino de Deus. Aqui vemosa humanidade de Jesus: o Deus que não se cansa nem se fatiga (Is40:28-31), sujeitou-se a vir ao mundo em um corpo humano limitadoe perecível, capaz de se cansar após um dia exaustivo de trabalho.Lucas nos informa que a tempestade sobreveio ao mar assim queJesus adormecera: “Enquanto navegavam, ele adormeceu. Esobreveio uma tempestade de vento no lago, correndo eles o perigode soçobrar” (ou naufragar; 8:23). Com certeza, eles tentaram de
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todas as formas salvar suas vidas, retirando o excesso de água,segurando-se o mais firme possível. Ali estava Pedro, pescador,acostumado com as intempéries marítimas. Se pensarmos para ondeJesus estava navegando com seus discípulos – a terra dos gerasenos,fronteira com a Galileia – podemos ver que forças malignas podiamestar por detrás daquela tempestade. Afinal, tão logo elesdesembarcaram, veio da cidade ao seu encontro um homem possessode demônios, do qual Jesus expeliu uma legião de demônios que oatormentavam (Lc 8:26-34). Ele “veio ao seu encontro”,provavelmente já os estaria esperando.Após uma luta vã contra a força dos ventos e as ondas que osameaçavam afundar, os discípulos finalmente se lembraram queJesus estava no barco com eles. O evangelista Marcos mostra deforma como eles se dirigiram a Jesus: “Mestre, não te importa quepereçamos?”. Já Lucas, registra: “Mestre, estamos perecendo!”(literalmente: “sendo destruídos”). A fraseologia de Lucas utiliza apalavra grega epistatès, que em outros lugares equivale a didaskalos(“rabino” ou “mestre”) para se referir a Jesus. Parecia que para elesnão havia mais esperança. Eles foram retirados da segurança deonde estavam para uma situação de perigo, onde as suas própriasvidas pareciam estar por chegar ao fim. O Mestre os teria levadopara morrerem no meio do lago? Isso nos lembra a atitude doshebreus no deserto após a fuga do Egito. Diante das dificuldades,eles murmuraram e chegaram mesmo a dizer a Moisés: “Foi porquenão havia sepulcros no Egito que de lá nos tiraste para morrermosneste deserto? Por que nos fizeste isto, tirando-nos do Egito?” (Ex14:11). Jesus, então, levantou-se, acalmou a tempestade e se fezgrande bonança. Se antes encontramos o Jesus humano descansando após umdia fatigante de trabalho, aqui vemos o Jesus divino, com autoridadepara repreender a tempestade e ordenar que ela cesse: “Acalma-te,emudece!” (Mc 39). Mais adiante o veremos com autoridade paraexpulsar a legião de demônios do endemoninhado gadareno, curarum paralítico (Mt 9:1-8), curar uma mulher enferma (Mc 5:24-34),ressuscitar a filha de Jairo (Mc 35-43), e tantos outros milagres esinais que o Senhor operou durante todo o seu ministério terreno.Mas também o veremos sendo rejeitado pelos judeus e até mesmopelos seus conterrâneos, em Nazaré (Mc 6:1-6). Ainda hoje,presenciamos a mesma situação: a despeito de todas as maravilhasque o Senhor tem realizado neste mundo (conversões, vidastransformadas, curas e milagres), existem aqueles que insistem queElenão existe, que negam a sua divindade e tentam explicar os seusmilagres à luz da ciência. Esses indivíduos conseguem enxergarJesus dormindo no barco, sobre um travesseiro, mas se negam a vê-lofazendo cessar uma grande tempestade apenas com a autoridade doseu comando. E entre esses estão muitos que se declaram cristãos!São, na verdade, ateus práticos, almas vazias de Deus.
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Depois que tudo estava calmo, que a tempestade cessara e sefez grande bonança, o Senhor repreendeu a falta de fé dos seusdiscípulos: “Por que sois assim tão tímidos? Como é que não tendesfé?” (Mc 4:40). Em que momento os discípulos perderam a sua fé oudeixaram de exercê-la? Podemos conjecturar que ao chamar Jesus àspressas, eles não contavam que Ele poria fim à tempestade parasalvar a todos. Eles simplesmente estavam alertando Jesus sobre operigo que enfrentavam, tendo em vista que no meio de todo aquelealvoroço, o Senhor dormia tranquilo. Se pensarmos que os discípulosrecorreram a Jesus porque sabiam que somente Ele poderia livrá-losdaquela situação, ainda assim a sua fé se demonstrou pequena einsuficiente diante não somente da situação, mas também daqueleque os havia convidado e empreender aquela viagem. Não podemosconfiar em Deus pela metade. Não existe meia fé, meia confiança,meia esperança. Quando entregamos a nossa vida nas mãos do Pai,precisamos estar certos de que as suas mãos são poderosas para nosguiar, sustentar e socorrer.Esta situação ilustra claramente o que acontece na vida demuitas pessoas que acreditam que possuem alguma fé em Deus7.Basta olhar alguns capítulos e versículos anteriores para vermos queos discípulos tinham todas as condições para não se desesperaremnaquele momento de angústia. No Evangelho segundo Lucas,podemos ver quantos milagres eles presenciaram ao lado de Jesusantes daquela viagem: a cura de um endemoninhado em Cafarnaum(4:31-37), a cura da sogra de Pedro (4:38,39), a cura de diferentesmoléstias e a expulsão de demônios (4:40,41), uma pescamaravilhosa (5:1-11), a cura de um leproso (5:12-19), a cura de umparalítico em Cafarnaum (5:17-26), a cura do homem da mãoressequida (6:6-11); a cura de muitos enfermos no litoral de Tiro eSidom (6:17-19), a cura do servo do centurião (7:1-10) e aressurreição do filho da viúva de Naim (7:11-17). Mesmo apóspresenciarem tantos sinais e prodígios, os discípulos sedesesperaram assim que a tempestade caiu sobre eles. Todosesqueceram quem estava no barco e de tudo o que Ele fizera. Talvez isto esteja acontecendo agora na nossa vida, talvezestejamos passando por momentos de tribulação, de provação eesquecemos que Jesus está conosco no barco, que Ele está nocontrole da nossa história. Julgamos tão desesperadora a situação,que não paramos para nos lembrar de todos os milagres que oSenhor já operou a nosso favor, começando pelo principal: a salvaçãoda nossa alma. É nesses momentos que a nossa fé é testada, que o
7 A questão da natureza da fé cristã é apresentada no meu livro “O poder da fé”,onde mostro que fé vai muito além de crer na existência de Deus e manter contatocom Ele para a conquista de bênçãos e de sonhos. Apresento a natureza da fé comoalgo que possui, acima de tudo, fundamentação bíblica. Ela é um dom de Deus eestá firmada na ressurreição de Cristo e na conversão do pecador. A fé é, também,um conjunto de doutrinas, envolvendo arrependimento, confiança em Deus,compromisso, coerência, renúncia, entre outras características apresentadas nolivro.
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nosso caráter é provado e somos chamados a tomar decisões quepoderão nos colocar numa posição favorável diante dascircunstâncias ou agravar ainda mais a situação. A tendência do serhumano, mesmo aquele que Deus chamou, é esquecer quem é ecolocar suas necessidades e o desespero acima dos valores em queacredita e acabar tomando decisões equivocadas. Se não lembrarmosconstantemente a nossa natureza e vocação, se não mantivermosfirme a nossa convicção de que somos de Deus e Ele estáconstantemente conosco, pode ser que uma pequena brisa setransforme, ou ao menos seja percebida, como um terrível vendaval.Algo muito interessante também nesta história é o sonotranquilo de Jesus. A tempestade forte ameaçava o barco onde Elerepousava, os ventos lançavam-lhes de um lado para outro; comcerteza havia muita correria e gritaria, pois todos estavamdesesperados de suas vidas, temendo pelo pior. E a Palavra de Deusnos diz que Jesus simplesmente dormia. Ora, será que quando somosaçoitados pelas ondas da vida, Jesus está dormindo? Será que Elenão está vendo nossas lágrimas, nosso sofrimento, nossas lutas,nossas dores? Será que de repente o Mestre desistiu de olhar pornós? São perguntas que fazemos a nós mesmos, ainda que de formainconsciente. Da nossa angústia, olhamos para o céu e clamamos:“Deus, onde estás?”. Talvez os discípulos tenham pensado sobreessas coisas. Mas como eles não costumavam olhar para os milagresdo passado, para tudo aquilo que Jesus já havia operado, tambémnão haviam prestado atenção às palavras de Jesus: “Passemos para aoutra margem do lago”. Também isso se parece conosco: bastaentrarmos em desespero para esquecermos daquilo que a Palavra deDeus nos diz.Jesus tinha um plano na vida daqueles homens. Ele já haviatraçado um destino: passar à outra margem. O que eles nãocompreenderam é que, independente das circunstâncias, dos fortesventos, da escuridão ou de qualquer outro fator, eles haveriam dechegar do outro lado. Por que Jesus dormia? Porque Ele sabia quenada poderia frustrar os seus planos! Ele não temia a tempestadeporque sabia que chegaria ao seu destino. Mas os discípulostemeram, porque sua fé não era grande o suficiente para crer que oMestre haveria de cumprir o que dissera: “Passemos para a outramargem do lago”. Eles temeram porque não confiaram que suasvidas estavam seguras nas mãos daquele que tinha o poder deressuscitar os mortos, de curar os enfermos e de lhes dar o EspíritoSanto para sempre. Eles temeram porque olharam mais para ascircunstâncias do que para o cumprimento do plano do Senhor.Confiar em Deus não é somente crer que Ele pode fazerinfinitamente mais do que tudo que pedimos ou pensamos, mas quemesmo que o pouco que pedimos e pensamos não aconteça, Elecontinua sendo Deus.Assim somos muitos de nós quando passamos pelastempestades da vida, quando somos submetidos à provação:
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esquecemos de tudo que Deus já fez, a começar pela nossa salvação,e duvidamos que conseguiremos chegar ao fim. Mesmo Deus tendonos prometido a vitória, mesmo tendo Ele dito que somos mais quevencedores, ainda assim duvidamos e vemos a nossa fé naufragar.Achamos que Deus está dormindo, que Ele não liga mais para nós enos entregamos ao desespero. É quando Jesus nos olha e pergunta:“Onde está a vossa fé?”. Será que só temos fé em Deus enquantovemos os milagres acontecerem, enquanto ouvimos as palavras deprofetas que nos prometem bênçãos e vitórias? Basta nosdistanciarmos dessas coisas que a nossa fé é posta em xeque-mate?Precisamos olhar para a nossa história e dizer como Samuel após aderrota dos filisteus: “Até aqui nos ajudou o Senhor” (1 Sm 7:12). Aoinvés de olhar para Deus e questioná-lo, devemos contemplá-lo comesta certeza: “Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá osocorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra” (Sl121:1,2).Não precisamos nos espantar: Deus está conosco e nãopermitirá que os nossos pés vacilem (Sl 121:3). Ele está no nossobarco e nem dorme nem dormita (v. 4). Nem sempre é fácil deixar deconfiar na nossa própria força e capacidade para deixar Deus nosguiar. Estamos sempre tentando fazer as coisas da nossa maneira,esquecendo-nos de orar e de submeter à vontade do Senhor nossosplanos e sonhos. Somente quando tudo dá errado, quandoperdemoso controle da situação e nos vemos diante de circunstânciasinesperadas e problemáticas é que clamamos ao Pai por seu auxílio.Esse clamor, muitas vezes, é um desabafo de indignação contraDeus: “Senhor, por que fizestes isso? Não te importa que eu sofra? OSenhor prometeu que eu chegaria do outro lado e aqui estou prestesa naufragar!”. Por isso, Jesus repreendeu os discípulos por sua faltade fé. Por que devemos nos perturbar quando Deus nos garantiu quechegaríamos do outro lado? Quando olhamos mais para as ondas emenos para o poder de Deus, acabamos nos preocupando com o quenão é essencial e deixamos de viver a nossa fé.Muito se fala sobre o “silêncio de Deus”, aquele momento danossa vida em que parece que Ele não está nos ouvindo. Muitosdizem: “Acalme-se, Deus está trabalhando”. Mas será que realmenteacreditamos nisso? Ou será que olhamos para Deus e o enxergamos“dormindo”, sem se importar que pereçamos? Deixemos Jesus dormirsossegado no fundo do barco, porque o plano que Ele traçou secumprirá, a meta será alcançada. Cabe a nós apenas, pela sua graçae força, administrar o barco no qual Ele nos colocou. E quando asgrandes ondas surgirem, quanto a tempestade nos sacudir paratodos os lados, devemos crer e confiar no Senhor: “Passemos para aoutra margem”. Se Ele nos convidou para a viagem, estejamosseguros do seu comando, da sua provisão e da sua vitória. Ele nãoestá em silêncio, apenas já disse no início aquilo que não precisamosmais perguntar. A sua Palavra nos garante que somos vencedores,que estamos assentados com Ele nos lugares celestiais (Ef 1:3) e que
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nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1).Não importa quão difícil pareça cumprir o que Deus propôs para anossa vida. Independente de tudo e até de nós mesmos, chegaremossãos e salvos do outro lado. Confiemos nas palavras do apóstoloPaulo: “Estou plenamente certo de que aquele que começou a boaobra em vós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1:6).Uma triste constatação desse episódio é que, mesmo depois depresenciarem todos os sinais e milagres antes daquela viagem,mesmo após testemunharem o Filho de Deus acalmando aquelaterrível tempestade apenas com uma ordem de sua boca, eles aindatinham dúvidas sobre quem era Jesus, sobre quem estava com elesno barco. É o que lemos em Lucas 8:25: “Eles, possuídos de temor eadmiração, diziam uns aos outros: Quem é este que até aos ventos eàs ondas repreende, e lhe obedecem?”. Parece que nada é osuficiente para que creiamos em Deus e depositemos totalmente nelea nossa esperança. Parece que cada evento catastrófico da nossavida diminui o tamanho do poder e a importância de Deus para nós.Mas se cremos de fato no Senhor, se a Ele entregamos o nossobarco, não precisamos de nada além da fé, da certeza de queseremos conduzidos em segurança, porque Ele é o fiel pastor danossa alma (Sl 23). Quanto mais conhecemos a Deus e nosrelacionamos com Ele, mais o conheceremos e maiores certezasteremos sobre sua natureza divina e a nossa pequenez humana. Maisadiante os discípulos saberiam quem Jesus era de fato, e Pedropoderia exclamar cheio de convicção: “És o Cristo de Deus” (Lc9:20). Esta deve ser a nossa certeza: Aquele que formou todas ascoisas e nos criou, possui o controle absoluto de todas ascircunstâncias. Não existe evento natural ou sobrenatural e açãohumana que possam impedir o agir de Deus ou frustrar seus planos edecretos. Ele é Deus!
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A JORNADA CRISTÃMateus 14:22-33
“Vem!”
Estamos diante de mais um barco, onde aprenderemos maravilhosaslições sobre a vida cristã e a necessidade de mantermos o nosso focoem Jesus. Este episódio nos revela que a caminhada com Cristocomeça quando, pela fé, aceitamos a Jesus como o nosso único esuficiente Senhor e Salvador. Nos bastidores desta nossa aceitação,Deus já estava trabalhando. Ele não somente nos escolheu antes dafundação do mundo como também nos predestinou, segundo obeneplácito da sua vontade, para o louvor da sua glória (Ef 1:4-14).Deus também providenciou um meio para nos regenerar e assimpodermos crer, pois estávamos mortos em nossos delitos e pecados enão podíamos responder ao chamado para a vida. Era preciso queEle, por meio do seu Santo Espírito, fizesse esta obra em nós: Ele nosdeu vida (Ef 2:1,8,9)! É o Senhor quem nos chama, é Ele quem nosenvia e nos capacita, não somente para crermos para a salvação, mastambém para permanecermos nela e praticarmos as boas obraspreparadas a nós (Ef 2:10). Este é um processo que envolve: escolha,chamado, regeneração, conversão, santificação, perseverança eglorificação.Esta jornada que se iniciou desde a eternidade, estende-se portoda a nossa vida, até alcançarmos a nossa pátria celestial, ondereinaremos para sempre com o Senhor (Fp 3:20,21). Enquantoestamos neste mundo, porém, vivemos as nossas lutas diárias: lutacontra a natureza pecaminosa que guerreia dentro de nós emoposição à vontade do Espírito; luta contra as forças hostis doinimigo que tenta de todas as formas nos tragar; luta contra ummundo que jaz no maligno e que nos odeia por causa da nossaidentificação com Cristo, oprimindo-nos e ao mesmo tempo nosseduzindo; luta em defesa da fé contra os falsos ensinos quepenetram como câncer na Igreja; luta em prol do crescimento doCorpo de Cristo, da sua constante edificação e santificação noSenhor. Essa luta é diária, em meio às provas e tribulações comuns atodo ser humano e, de forma especial, ao crente comprometido como Evangelho. Só será possível lutarmos esta guerra se estivermosseguros da vitória que já é nossa e se a nossa fé estiver firmada naRocha, que é o Senhor Jesus e a sua Palavra de vida eterna: a BíbliaSagrada. Nenhum soldado parte para a guerra se tiver dúvidas se asua espada funcionará ou não. A nossa espada jamais falhará!No episódio narrado em Mateus 14:22-33, temos um exemplode vários momentos da jornada cristã. Ela se inicia com o SenhorJesus convocando seus discípulos a seguirem até o outro lado do
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mar, onde mais tarde os encontraria. A viagem não foi tranquila, poishavia muito vento contrário e fortes ondas. No meio da viagem, elesrecebem a visita inusitada do Senhor, que vinha caminhando sobreas águas, o que os encheu de terror, porque com certeza aquilo nãoera algo comum de se ver. Muito embora o Senhor os tenhaacalmado, anunciando ser Ele quem estava ali, os discípulosduvidaram, e Pedro foi ter com Ele sobre as águas. Diante da falta defé de Pedro e dos demais discípulos, o Senhor repreendeu Pedro:“por que duvidaste?”. Podemos retirar deste relato onze liçõesimportantes sobre esses diversos e adversos momentos queenfrentamos na nossa jornada pela vida cristã. A lição queaprenderemos é aquela ensinada pelo apóstolo Paulo: “Estouplenamente certo de que aquele que começou a boa obra em vós háde completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1:6). Deus não planejapara falhar, não começa para não terminar e não nos chama para nosdeixar para trás.
Momento da chamada (v. 22)
A narrativa se inicia com Jesus compelindo os seus discípulos aentrarem no barco para passar para a outra margem do Mar daGalileia e chegar a Genesaré, uma planície que fica a noroestedaquele mar. Outras traduções do Novo Testamento trazem umapalavra diferente para “compelir” (do grego anankadzo), adotadapela Almeida Revista e Atualizada: forçou (Bíblia de Jerusalém),ordenou (Revista e Corrigida), insistiu (King James Atualizada) eobrigou (Ave Maria, edição catequética popular). Embora diferentes,todas essas palavras expressam a mesma ideia de uma ordem quedeveria ser cumprida prontamente. Não havia outra opção. De fato, otermo grego denota o sentido de forçar, constranger,compelir pormeio de súplica ou convite; persuadir. O registro de João revela queas multidões que presenciaram os milagres de Jesus desejavamproclamá-lo rei dos Judeus, à força (Jo 6:14,15). Aquelas pessoasentenderam de maneira equivocada o milagre da multiplicação dospães. Ao invés de enxergar em Jesus o Filho de Deus, o Messiascelestial prometido, encontraram nele a oportunidade de ter alguémtão poderoso, capaz de livrá-los do jugo do império Romano. Essaintenção bem caberia no conceito moderno de super-herói: um sercom poderes extraordinários que salva uma comunidade, país ou omundo de uma ameaça igualmente extraordinária. Era isso queaquelas pessoas queriam: um Messias com superpoderes paraderrotar os seus inimigos. Ainda hoje, muitos cristãos chamam Jesusde “Herói”, o que não é certo. Deus não fez de Jesus um super-herói,mas o fez Senhor e Cristo (At 2:36). Ele não veio nos libertar de umpoder secular opressor, mas da opressão do pecado que fazseparação entre Deus e o homem (Is 59:1,2).
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Essa compreensão equivocada do ministério de Jesus pareciater afetado a mente dos discípulos, por isso o Senhor os enviou parao outro lado do mar, a fim de cessar essa ideia. Vê-se aqui arepetição da tentação do deserto, quando Satanás ofereceu a Jesustodos os reinos do mundo, ou seja, a possibilidade de tornar-se umrei terreno, de um reino passageiro, não celestial (Lc 4:1-13). Jesusnão estava interessado em receber honras humanas nem se deixoulevar pelo orgulho. Ele em tudo foi tentado, por isso pode secompadecer das nossas fraquezas e nos socorrer, mas em nadapecou (Hb 2:18; 4:15). Mais adiante, vemos o controverso Pedrotentar demover Jesus da sua missão redentora, após o Senhormostrar a ele e aos outros discípulos que era necessário que Elefosse para Jerusalém, sofresse muitas coisas, fosse morto eressuscitasse ao terceiro dia (Mt 16:21). Chamando-o à parte, Pedrolhe disse: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum teacontecerá” (v. 23). Vemos logo na réplica de Jesus que ali estavaatuando o próprio Satanás, mais uma vez tentando desviar Jesus dasua missão. Naquele mesmo tempo, o próprio Pedro fizera a suamaior declaração a respeito de Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho doDeus vivo” (16:16).Para começarmos a nossa caminhada com Cristo, precisamosconhecer aquele que nos chama. Os discípulos seguiram a ordem doSenhor porque sabiam quem Ele era. O próprio Senhor Jesus tinhacerteza da sua identidade, da sua missão, do propósito da suaencarnação neste mundo. Assim como rejeitou a sugestão de Satanásde tornar-se rei em um mundo prestes a perecer, o Senhor manteve-se firme à sua natureza de Filho de Deus e à obra que haveria derealizar em prol da humanidade perdida ao ser obrigado a tornar-serei por aquele povo. Quem era Aquele que ordenara que os discípulosentrassem no barco? Quem é este que nos chama para uma vidanova, mediante a fé e o arrependimento? Ele é o Deus que começou aboa obra em nós e há de aperfeiçoá-la até ao Dia de Cristo Jesus (Fp1:6). O apóstolo Paulo escreve: “O mesmo Deus de paz vos santifiqueem tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegrose irrepreensíveis na vinda do nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o quevos chama, o qual também o fará” (1 Ts 5:23,24). Os discípulospodiam estar seguros quanto a passar para o outro lado quando atempestade sobreveio sobre eles. Pedro pôde sentir-se seguro deandar sobre o amar, sem risco para a sua vida, pois o Senhor oconservaria íntegro até alcançar o seu objetivo final. Ele o chamou,então Ele o faria.Como dissemos na introdução deste estudo, nós, crentes emCristo Jesus, somos frutos de um chamado específico de Deus: umchamado à salvação. Aqueles que entraram no barco obedecendo àordem de Jesus eram os seus doze discípulos, escolhidos por Elepessoalmente para a vida eterna e o ministério apostólico. Nenhumdeles havia se alistado no exército de Cristo, mas todos estavam aliporque foram escolhidos. O Senhor lhes disse: “Não fostes vós que
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me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros evos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça;a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-loconceda” (Jo 15:16). Da mesma forma, nós fomos escolhidos emCristo para a salvação, para nos tornarmos seus discípulos e servos,segundo a sua vontade soberana (Ef 1:4-14). O chamado gracioso deDeus é eficaz e irresistível; Ele não pede: ”Por favor, me aceitem”,mas, uma vez que somos convencidos pelo Espírito Santo dos nossospecados, a nossa resposta sempre será positiva. Essa foi a respostaque os discípulos deram ao ser convocados. Mesmo Judas, quehaveria de trair o Senhor, não se negou a segui-lo quando chamado.Podemos citar, também, Maria. O anjo não pediu encarecidamenteque, se fosse da vontade dela, ela poderia, quem sabe, dar à luz aoSalvador. Ele simplesmente transmitiu uma mensagem que revelavaa vontade soberana e irresistível de Deus: “Eis que conceberás edarás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus” (Lc1:31). E ponto final! Na teologia, chamamos a isso de “vontadedecretada”.A nossa escolha tem um propósito e vai além do que apenasherdar a vida eterna. Ela envolve o que faremos aqui nesta vidaenquanto o Senhor não vem nos buscar. O que Deus espera de nósnesta jornada é a obediência ao nosso chamado, o que pode envolveratuar em diversas frentes de batalha, incluindo o chamadomissionário, a Grande Comissão (Mt 28:19,20; Mc 16:15). Ao sedirigir aos seus discípulos, o Senhor os “compeliu”. Talvez elestivessem insistido para ficar, mas o Senhor os obrigou, porque estaera a sua vontade (cf. At 26:11; 28:19; 2 Co 12:11;Gl 2:13,14; 6:12;Mc 6:45; Lc 14:23). Isto quer dizer que o convite de Jesus erapertinente e deveria ser obedecido, não restando outra saída para osseus discípulos a não ser entrar no barco e seguir para a outramargem do mar. A Igreja é do Senhor e está ao seu serviço8. É Elequem dá a direção a ser tomada, quem a guia. Como escolhidos,chamados e comissionados por Deus, devemos agir sempre comoseus discípulos. Somos seus embaixadores neste mundo e devemosiluminá-lo com a luz de Cristo, seguindo com fé a jornada que Ele nospropôs, na própria salvação, na nossa vida cotidiana e no ministériocristão.
Momento da jornada (vs. 23,24)
8 O que é a Igreja? O que caracteriza um movimento religioso ou um ajuntamentode pessoas como a verdadeira Igreja de Cristo? No livro “O que é ser Igreja”,apresento este tema de maneira abrangente, abordando pontos importantes, taiscomo: os sacramentos, a presença do Espírito Santo, a consciência da verdadeiraconversão, santidade e disciplina eclesiástica, amor, culto teocêntrico e solidário,entre outros que revelam o que o Senhor Jesus considera, por meio da sua Palavra,como a sua Igreja verdadeira.
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Diante da ordem do Mestre, os discípulos não tinham outraopção, além de obedecer. Então, entraram no barco e seguiramviagem. O Senhor, porém, não seguiu imediatamente com eles, masdespediu as multidões e retirou-se sozinho para o monte a fim deorar, estando ele só. Os Evangelhos registram diversos momentos deoração de Jesus, muitos deles solitários, quando Ele se afastava dasmultidões, e até mesmo dos seus discípulos, para um momentoíntimo com Deus a fim de buscar consolo. Mateus registra Jesussubindo ao monte para orar somente aqui e no Getsêmani (26:36-46).Enquanto isso, os seus discípulos enfrentavam o mar bravio, osventos e as ondas que vinham sobre eles. É bastante cômodo pensarcomo algumas confissões evangélicas ligadas à Teologia daProsperidade o fazem, que a jornada cristã é uma viagem isenta dedor e de sofrimento, que o que espera o crente é uma vida abundantede felicidade, saúde e prosperidade financeira. Todavia,não é issoque a Bíblia nos ensina, não é essa a nossa esperança verdadeira. Osdiscípulos poderiam esperar que aquela fosse uma viagem tranquila,afinal de contas, estavam seguindo ordens do Senhor, cumprindo oseu propósito. Mas logo no meio da viagem eles descobriram quenem sempre o mar está calmo e o vento a favor. Jesus não nos prometeu que a nossa jornada seria livre deproblemas, dificuldades, tribulações e provações. Deus nos tira domundo num sentido estritamente espiritual, isto é: somos separadosdo pecado do mundo para Deus. Mas é no mundo que a nossajornada se dá. Aqui teremos aflições (Jo 16:33), sofreremosperseguições (2 Tm 3:12), mas nada disso vem para nos destruir;muito pelo contrário, vem para fortalecer e confirmar a nossa fé. Nãosabemos que pensamentos rondavam a mente dos discípulosenquanto enfrentavam aquela adversidade, mas sabemos que elesprosseguiram, continuaram na sua rota, não voltaram com o barcopara a segurança da praia, para perto do Senhor. Também não háregistro de que eles murmuraram e que disseram entre si: “Nossa,em que roubada o Senhor nos meteu!”. Talvez, na nossa jornada nafé, já tenhamos nos questionado a respeito disso. Quem sabetenhamos dito: “Eu não sabia que a vida cristã seria tão difícil!”. Ou,enganados por pregadores inescrupulosos, tenhamos desabafado:“Fui enganado! Achei que navegaria por um mar de pétalas de rosas,mas só vejo grandes e bravias ondas neste mar da minha fé”.A nossa jornada começa na cruz: somos salvos pelo sacrifíciode Cristo no Calvário e convidados a carregar a nossa cruz parasegui-lo. Os discípulos não estavam ali cumprindo a sua própriavontade, mas a vontade daquele que os comissionou. Eles nãoquestionaram os propósitos do seu Mestre em mandá-los atravessaro mar, enquanto ele permaneceria ali. Aqueles que estão nestajornada negaram a si mesmos e tomaram a sua cruz (Mt 16:24). Elesestão nesta caminhada porque entenderam que a sua vida não podiaser mais importante que seguir a Cristo. Naquele barco açoitadopelas ondas e pelos ventos, eles podiam ter certeza de que
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chegariam do outro lado, porque assim o Senhor o disse. Muitosquerem seguir a Jesus sem tomar a sua cruz (Mt 10:38), crendo quea jornada cristã não envolve identificação total com o Senhor, masem apenas algumas áreas da sua vida. Entram no barco, mas ditamas suas próprias regras e traçam o seu próprio curso. Eles creem queDeus está no comando do barco, mas dão a Ele um mapa informandoa direção que sua vida deve tomar, as paradas que deve fazer eaonde não podem ir: “Veja bem, Senhor, hoje seguiremos este cursoe aportaremos nesta ilha. Eu confio em Ti. Agora, faça a tua parte”.Quando Deus nos envia numa direção, os ventos sempre sãocontrários: o ódio e o assédio do mundo (Mt 10:22; 1 Jo 2:15-17;3:13), os desejos da carne (Gl 5:17; Rm 7:15-18) e as investidas dodiabo (Ef 4:27; 6:11; Tg 4:7; 1 Pe 5:8,9) são ameaças constantes àintegridade da nossa fé, da nossa confiança em Deus e do nossocaráter9. A jornada cristã também é uma viagem através da selva dasdoutrinas mentirosas, onde os falsos mestres e os falsos profetasconstantemente atentam contra a nossa fé. Se não estivermos bemfundamentados na doutrina dos apóstolos, qualquer vento de mentiranos tirará do rumo certo. Essa ideia está expressa na parábola dosemeador (Mt 13:1-23). A semente, como sabemos, é a “palavra doreino” (v. 19; Marcos usa o termo “palavra de Deus”, sendo ambas amesma Palavra) e o nosso coração, o solo onde ela é semeada. EssaPalavra pode ser arrebatada pelo Maligno (v. 19), abandonada pelasuperficialidade da nossa fé (v. 21), sufocada pelo amor e oscuidados do mundo (v. 22) ou dar bons frutos quando compreendidae escutada da maneira correta (v. 23). Algumas pessoas estarãopresentes em todos os cultos da igreja vivendo em uma dessassituações, outras a abandonarão pelos mesmos motivos. Quempermanecerá na fé? Quem irá perseverar nessa jornada? Aqueles aquem Deus deu o poder de serem iluminados pela compreensãodessa Palavra (vs. 10-18; cf. Mc 8:10).Deus nos dá seus dons para que nos edifiquemos e sejamosaperfeiçoados como corpo de Cristo para o desempenho do serviço,que conduz a essa edificação, de modo que cheguemos àvaronilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4:7-12).O objetivo dessa edificação é “para que não mais sejamos comomeninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todovento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com queinduzem ao erro” (v. 14). Somos chamados a batalhar diligentementepela fé que Deus entregou aos santos (Jd 1:3). Essas ondas devem
9 Este tema é abordado mais profundamente no meu livro “Integridade cristã:buscar o equilíbrio ou viver a verdade?”. Nele, apresento o tema com o objetivo dechegar a uma conclusão: não existe equilíbrio em questões doutrinárias erelacionadas ao caráter cristão: somos chamados a viver uma vida íntegra e santa.Na balança cristã, não existe a possibilidade de pender para um lado ou para outro– bem ou mal, verdade ou mentira, pecado ou santidade, sã doutrina ou falsosensinos –, mas apenas o dever de buscar sempre o que é reto: bem, verdade,santidade e sã doutrina. Somente a verdade produz integridade e somente estadeve ser almejada pelo servo do Senhor.
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ser destruídas, jamais devemos navegar sobre elas. Mas serejeitarmos as ondas e os ventos da prova de Deus, ficaremos àderiva, sendo açoitados pelos ventos de Satanás. Em momento algumo Senhor disse que seria fácil, mas garantiu que a porta estreita noslevaria por um caminho apertado (Mt 7:13,14). Este caminhoapertado, por mais difícil que seja, conduz à vida. Como o Senhordisse a Moisés e a Josué: “não te deixarei, nem te desampararei” (Js1:5; cf. Dt 31:6,8; Hb 13:5). Como diz certo hino: “Segura na mão deDeus, e vai”.
Momento do medo (vs. 25, 26)
O evangelista Mateus registra que o Senhor Jesus foi ter comseus discípulos na quarta vigília da noite, entre três e seis horas damanhã. Ele não seguiu em outro barco, mas vinha caminhando sobreas águas, demonstrando o poder que exercia sobre aquilo que Elemesmo criara. Caminhar assim sobre o mar sem afundar era umaprerrogativa divina, como vemos em Jó 9:8: “quem sozinho estendeuos céus e anda sobre os altos do mar”. Aquele que fez as águas é oúnico que pode caminhar sobre elas, o que revela a divindade doFilho de Deus. A recepção dos doze ao vê-lo foi ficarem aterrados eexclamar: “É um fantasma!”. Além disso, tomados de medo, gritaram(v. 26). Quando enfrentamos o desconhecido, a nossa tendência é termedo e nos desesperar. Na Bíblia, o medo (gr. phobos, significandotemor) pode estar ligado a um sentimento de terror ou reverência.Neste caso, os discípulos foram tomados pelo terror. O medodemonstra ausência de certezas, insegurança quanto ao nossodestino, uma desestruturação emocional diante de uma possívelameaça. O medo pode, também, revelar falta de confiança de queconseguiremos seguir adiante. Esta falta de confiança pode serdirigida a Deus ou a nossa própria incapacidade de vencer osobstáculos que estão na nossa frente. Neste último sentido, o medo ébastante positivo, pois nos revela a nossa pequenez e nos leva abuscar a grandeza de Deus. Mas a partir do momento em que temosum encontro com Deus e com a força do seu poder, o medo se tornaindesculpável, fruto da nossa incredulidade. O cristão não crê no seupoder interior, na força motriz da sua vontade e do seu pensamento:ele crê em Deus, que supre a suas deficiências com o poder que vemdo Alto.Naquele momento, os discípulos não estavam preparados paraencontrar com aquela figura desconhecida que vinha caminhandosobre as águas. Se tivessem dado ouvidos à palavra do Senhor, quelhes disse que fossem adiante dele, certamente teriam parado parapensar: “É o Senhor quevem ter conosco sobre as águas!”. Mas elesestavam ocupados demais com os ventos e as grandes ondas pararecordar que o Senhor estava com eles sempre. Podemos aindaconjecturar: porque teriam medo de um fantasma aqueles homens
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que caminhavam ao lado do Filho de Deus, que presenciavam ossinais e os milagres que Ele operava? É cômico pensar em dozehomens aos berros, gritando de medo em um barco na madrugada.Mas assim também somos nós e nossos medos diante daquilo quenão conseguimos entender nem controlar. Tudo que escapa ao nossocontrole causa pânico. Mas nada escapa ao controle de Deus!Uma das formas de combater o medo é a certeza do nossochamado e a confiança plena naquele que está sempre perto de nós.Confiança, na Bíblia, significa estar seguro, esperar, não temer (cf. Is41:10; Sl 34:4; 56:3) É o sentimento de segurança e proteção queuma pessoa sente quando pode confiar em alguém ou alguma coisa.Isto significa que devemos depositar a nossa confiança em algo oualguém que realmente tenha condições de nos dar a segurança queprecisamos. Confiar Naquele que é forte é a segurança de sermostambém fortes, como lemos no Salmo 125:1: “Os que confiam noSenhor são como o monte Sião, que não se abala, firme parasempre”. Alguns confiam em si próprios, no poder, nas riquezas, noseu status e em outros castelos de areia na beira do mar da vida.Neste caso, estamos falando da confiança no Senhor, como bem seexpressou Davi: “Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós,porém, nos gloriamos em o nome do Senhor, nosso Deus. Eles securvam e caem; nós, porém, nos levantamos e nos mantemos de pé”(Sl 20:7,8). O que também nos dá confiança é crer na coisa certa.Como os discípulos poderiam pensar que quem estava ali era algoque não existe, um fantasma? Quando a nossa fé não estáfundamentada na Palavra de Deus inspirada, a Bíblia Sagrada, somoslevados para todos os lados por todo vento de doutrina.No momento do medo, bem como em todos os outrosmomentos, a nossa confiança precisa estar no Senhor (Sl 91:1,2). Aconfiança é um dos significados da fé: quem tem fé em Deus, confianele (Mc 9:23; Hb 11:6). Confiar em Deus, porém, é mais do queacreditar que Ele está conosco e nos socorrerá ou que Ele nos daráaquilo que lhe pedimos, mas envolve entregar a Ele a nossa vida,para que Ele seja o Senhor de tudo que somos e temos. Se nãoentregamos a nossa vida a Jesus, significa que não temoscompromisso com Deus e não confiamos a Ele a nossa alma. Então,não adianta confiar nas outras coisas. Esta confiança nos dá acerteza de estarmos amando, adorando e servindo a Deus da maneiracorreta, isto é, por aquilo que Ele é: Deus. Aquele que teme, não éaperfeiçoado no amor (1 Jo 4:18). A confiança é segurança quanto ànossa vida, não somente nos momentos de tribulação, mas tambémnos momentos de tranquilidade. Muitos crentes, mesmo quando tudoestá bem, vivem ansiosos, pensando nos problemas que poderãoacontecer. Quem confia em Deus não anda ansioso (Mt 6:25-33; Fp4:6-9), mas tem esperança quanto aos problemas que lhe afligem eao seu destino eterno. Ter esta esperança significa, também,obedecer a Palavra de Deus, tendo a certeza de que os resultadossempre serão positivos: “Mas o que foi semeado em boa terra é o que
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ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, asessenta e a trinta por um” (Mt 13:23).
 Momento da dúvida (vs. 27,28)
Diante do medo do desconhecido, os discípulos duvidaram.Jesus então interveio, dizendo: “Tende bom ânimo! Sou eu. Nãotemais!” (v. 27). No grego “Sou eu” é escrito “Eu sou” (ego eimi),que no Antigo Testamento denota o nome e o caráter de Deus (Êx3:14). O Senhor se manifesta aos seus discípulos em um momentodelicado, quando eles estavam sendo oprimidos pela agitação domar. Podemos inferir do contexto deste episódio que o Senhor, comoDeus, sabia o que haveria de acontecer enquanto orava no monte.Ele tinha conhecimento da situação difícil que os seus discípulosenfrentavam naquele mar revolto. Contudo, Ele não orou ao Pai paraque o mar se acalmasse nem o fez antes de seguir caminhando sobreele. Jesus apareceu aos seus discípulos em meio às dificuldades,levando-lhes ânimo e coragem. Podemos lembrar aqui as suaspalavras ao se despedir dos seus doze amigos, quando afirmou:“Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundopassais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo16:33). De fato, Aquele que comandava o mar e o vento, que erapoderoso para caminhar sobre as águas, deu-lhes motivos segurospara que confiassem nele. E Ele é o mesmo que nos dá motivos aindahoje. Ora, “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será parasempre” (Hb 13:8). Caminhando sobre o mar, o Senhor dava maisuma prova da sua divindade e, como Deus, nele não pode havervariação ou sombra de mudança (Tg 1:17b).Ao presenciar aquele episódio sobrenatural, era de se esperarque os discípulos confiassem na palavra do Senhor de que era Elequem vinha caminhando sobre o mar, mas provavelmente eles aindaacreditavam ser um fantasma ou um sonho, de modo que desejavamum sinal. Pedro expressa uma dúvida que, certamente, também era ados demais apóstolos: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo,por sobre as águas” (v. 28). Podemos tirar desta passagem algumasimportantes lições sobre a qualidade da nossa fé durante a jornadada nossa vida cristã10. Em primeiro lugar, parece que, diante dascircunstâncias adversas da vida, mesmo as coisas de Deus nosparecem incertas. O medo do desconhecido lançou dúvidas sobre apalavra e a atitude de Cristo naquele momento. Pedro duvidou seaquele homem que vinha caminhando sobre o mar era mesmo Jesus(será que Jesus podia mesmo realizar aquele feito?). Ele precisava
10 No livro “Resiliência cristã: fortalecidos no Senhor e na força do seu poder”,trago ao leitor esse tema de grande relevância para nós: como superar as nossastribulações e sair bem mais fortalecidos. Abordo assuntos diversos, como: anatureza e o propósito do sofrimento, o que é a resiliência cristã e como elaacontece, os obstáculos para ser um crente resiliente, limites, autopercepção,proatividade, mecanismos de defesa, e muito mais. Lançamento em breve!
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ver para crer, precisava fazer o mesmo que Jesus. Essa atitude dePedro é parecida com a de muitos cristãos: não basta saber que Jesusexiste, não basta compreender que Ele está no controle de tudo, nãobasta a segurança de que Ele está a guiar suas vidas: é preciso umsinal, é necessário que o Senhor prove que Ele é Ele mesmo e que édigno de confiança. “Senhor, se és tu, se de fato és Deus, dá-me aresposta que tanto busco para meus problemas”, dizem. E mesmoquando veem a manifestação da sua vontade e do seu poder, aindaassim duvidam, querem provas.Nem Pedro nem os demais discípulos tinham direito de duvidarde Jesus e de temer naquele momento. Se olharmos os versículosanteriores a esta narrativa, veremos que todos eles estiverampresentes no milagre da primeira multiplicação dos pães (Mt 14:13-21). Além disso, também haviam presenciado diversas curas emilagres, como a cura de um leproso (8:1-4), a cura da sogra dePedro (8:14,15), a cura dos endemoninhados gadarenos (8:28-34), acura de uma mulher enferma (9:19-22), a cura da filha de Jairo (9:23-16), a cura de dois cegos (9:27-31), entre muitas outras. Comoveremos no próximo barco, eles, inclusive, já haviam passado poruma situação parecida quando, estando a bordo de um barco varridopelas ondas em uma tempestade, clamaram: “Senhor, salva-nos!Perecemos!” (8:25). Naquela ocasião, o Senhor os repreendeu pelasua falta de fé (v. 26). E diante da bonança que se fez sob a palavrade Jesus, eles se perguntaram: “Quem é este que até os ventos e omar lhe obedecem?”. Em outros momentos da sua jornada osdiscípulos também expressaram dúvidas (Jo20:27; Lc 24:38; Mt17:20).Em segundo lugar, a dúvida surge quando largamos de lado afé, deixando de confiar no Senhor, quando fechamos os nossos olhose não conseguimos enxergar quem Ele é e o que já fez por nós. Entãoprecisamos de milagres e sinais para voltar a crer. A fé de muitaspessoas necessita desses sinais e milagres para se firmar. Elasesperam sempre por uma confirmação de Deus para as suas vidas,quando deveriam simplesmente crer na sua Palavra. Outra facedessa mesma moeda é que inúmeros seguidores de Jesus não oenxergam como Ele realmente é, porque o buscam por motivaçõeserradas. Eles veem Jesus, mas o Jesus que eles desejam ver. Nasequência deste episódio no Evangelho segundo João (6:22ss), vemosque a multidão procurou por Jesus e não o encontrou. Então,entrando em vários barcos, chegaram de Tiberíades até o local ondehaviam comido o pão. Não o encontrando lá, partiram paraCafarnaum à sua procura, onde o encontraram (vs. 22-25). Quegrande odisseia em busca do Senhor! Mas eles não estavaminteressados no sinal em si (a multiplicação dos peixes; 6:1-15), masno pão que saciou a sua fome. E queriam mais! O Senhor lhes disse:“Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurastes não porquevistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes” (v. 26).O mais interessante nisso tudo é que, após as palavras de Jesus sobre
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o pão da vida e a obra de Deus que se realizava nele (vs. 27-29), osmesmos lhe perguntaram: “Que sinais fazes para que vejamos ecreiamos em ti? Quais são os teus feitos?” (v. 30). Para os incrédulose os praticantes de uma fé materialista, não importa muito quemJesus é, mas o que Ele tem para dar em termos de bênçãos.A verdadeira fé não necessita de subterfúgios para se legitimarnem de artifícios vãos para se demonstrar real. Muitas igrejas sevalem do uso de objetos ungidos como uma forma de atrair aresposta de Deus e para que os crentes tenham algo de concreto emmãos para se sentirem seguros quanto à sua própria fé. A nossa fénão pode comportar dúvida alguma. É preciso crer em Deus e na suafidelidade. Não podemos duvidar das suas promessas e dos seusplanos para nós. Não podemos ter dúvidas quanto ao cumprimentointegral da sua Palavra. A nossa fé deve se basear no caráterimutável de Deus e na concretização de todos os seus decretossoberanos. O profeta Jeremias escreveu: “Deus não é homem, paraque minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura,tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?”(23:19). Não podemos crer no Jesus que desejamos, mas naquele quenos é revelado na Bíblia. Não precisamos de sinais, apenas da fé, dacerteza de que Ele é o Grande Eu Sou.
Momento da decisão (v. 29)
O medo e a dúvida fazem parte da natureza humana antiga eque ainda habita no crente numa certa medida, e são de certamaneira até importantes, pois nos mostram nossas fraquezas que nostornam totalmente dependentes de Deus. Muitas vezes, Deus noslança desafios que nos levam a uma tomada de decisão diante desituações que querem desestruturar a nossa fé e abalar a nossaconfiança nele. Os discípulos vinham numa dura jornada, onde atempestade e o desconhecido levantavam questionamentos em seuscorações. Pedro não poderia sustentar para sempre aquela dúvidaque o seu medo gerara. Ele precisava ir até Jesus, tomar umadecisão, dar um passo de fé. Quando esta história é contada,geralmente nos apegamos à parte em que Pedro começa a afundarpara falar das grandes ondas da vida que tiram a nossa atenção deJesus. Entretanto, pouco se fala que, apesar de todas ascircunstâncias, do medo e da dúvida, Pedro ousou descer daembarcação e colocar os pés nas águas revoltas para ir ter comJesus. Ele tomou uma decisão baseado na ordem do Senhor: “Vem!”.Embora questionando sobre quem seria aquele “fantasma”, se opróprio Cristo ou seu espírito, o apóstolo prontamente o obedeceu.Será que ele não tinha reparado as grandes ondas e os fortes ventosantes de colocar o primeiro pé na água? Será que ele já não estavaciente da situação inusitada que iria enfrentar: caminhar sobre o
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mar? Com certeza sim, mas ele desceu do barco e andou sobre aságuas. Quando o Senhor ordenou que Pedro fosse ter com Elecaminhando sobre o mar, não o fez para que Pedro experimentasse asensação de poder debaixo dos seus pés ou a emoção do momento,mas para manifestar o seu poder e ao mesmo tempo revelar a Pedroe aos demais discípulos a fraqueza deles. Pedro não poderia realizaraquilo sem Jesus, tanto é que começou a afundar quando desviou asua atenção dele. Na jornada cristã, fazer a vontade de Deus podeenvolver coisas que para nós são improváveis, como caminhar sobreas águas11. Mas se é Ele quem está chamando, devemos nos lançarsem medo e seguir em frente, porque seremos fortalecidos no Senhore na força do seu poder (Ef 6:10). Se o medo nos paralisa, o chamadodo Senhor deve nos dar a segurança que necessitamos para insistirna caminhada. Precisamos sempre tomar decisões, abandonar onosso conforto e reconhecer a nossa pequenez para investir naquiloque Deus propôs para a nossa vida. A melhor decisão é dar passoscom base na Palavra de Deus, confiando que Ele nos levará emsegurança, que Ele é e sempre continuará sendo Deus. O crenteprecisa ser corajoso, mesmo que todos ao seu redor tenham medo. Oque ajuda na tomada de decisão é a certeza de quem somos e a quempertencemos. Muitas pessoas não conseguem seguir adiante com adecisão de seguir a Jesus porque no fundo não se sentempertencentes a Ele. Às vezes de fato não são. Jesus diz “Vem!”, e elasdizem “Eu não sou louco!”.As nossas decisões devem estar firmadas em Deus. Tiagoescreve que devemos sentir alegria pelas provações que passamos,porque elas visam à confirmação da nossa fé, para que tenhamosperseverança e sejamos perfeitos e íntegros. Com certeza, comoveremos adiante, aquele episódio serviu de lição aos discípulos efortaleceu a sua fé (Tg 1:2-6). Diante desses momentos difíceis,quando nos falta sabedoria para agir, devemos pedi-la a Deus, semduvidar (vs. 5,6). Esta sabedoria está amplamente exposta naspáginas da Bíblia. Ela nos fornece os princípios morais e espirituaisnos quais devemos basear as nossas decisões. A grande maioria dosnossos erros existe porque não damos ouvidos ao que Deus nos falaatravés da sua Palavra, quando decidimos agir com a força do nossobraço e com o nosso próprio entendimento. Salomão escreveu emseus provérbios: “Confia no Senhor de todo o teu coração e não teestribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teuscaminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3:5,6). Quando
11 A questão do improvável é abordada no meu livro “Maria e a vontade de Deuspara nós”. Tomando como ponto de partida a anunciação do nascimento de Jesus àvirgem Maria, trago pontos importantes sobre a maneira como Deus realiza a suavontade na nossa vida. Essa não depende do nosso querer e da nossa capacidade,mas do mover soberano e poderoso de Deus, que pode fazer o impossível serealizar, como fez com Maria ao conceber-lhe a graça de dar à luz ao Salvador. Seé Deus quem está agindo, tudo se torna possível. Outro livro que escrevi sobre otema é: “Faça a escolha certa”.
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Pedro decidiu caminhar até Jesus por sobre as águas, com certezanão estava confiando na sua própria capacidade de levitação.Eis o ponto chave, um exemplo da forma como a Igrejacaminha hoje em meio a este mundo tempestuoso: ela possui fé econfiança no Senhor, mas o seu foco não está totalmente nele. Nasua caminhada, os ventos do mundanismo e das falsas doutrinas têmfeito com que ela abandone essa confiança irrestrita em Cristo parase deixar levar por crenças e práticas que fazem com que ela afunde.As portas do inferno não prevalecerãocontra a Igreja, mas muitas“igrejas” têm fechado as suas portas. O que não podemos deixar deperceber é que quando Pedro deixou de olhar para Jesus, não foiJesus quem afundou, mas ele. A nossa falta de fé não anula o poderde Deus. Um cristianismo sem identidade é um cristianismo quedeixou de caminhar para o alvo certo. O mesmo acontece na nossavida pessoal: quando tiramos os nossos olhos de Jesus (suaautoridade, seu poder e seus mandamentos), os nossos pés vacilam.O apóstolo Paulo escreveu: “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-loalcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que paratrás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigopara o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em CristoJesus” (Fp 3:13,14). Não é possível caminhar com Cristo se nãomantivermos firme o nosso foco nele, se nos deixarmos levar poraquilo que não possui importância e que, ao contrário, puxa-nos parabaixo e nos faz afundar. Mas, embora a Igreja muitas vezes seencontre caminhando sobre águas revoltas, ela está firmementealicerçada sobre a Rocha, que é Cristo (Cl 1:23; 2:7). Jesus nãoabandonou Pedro, não deixou de se importar com Ele. Pedro sabiaem quem podia confiar. Nós também sabemos.
Momento do foco (v. 30a)
Ter atitudes corretas que nos permitam vencer significa nãoperder de vista o foco. Quando Jesus chamou Pedro para ir ter comEle caminhando sobre o mar, a primeira atitude do discípulo foiobedecer à voz do seu Mestre e ir ao seu encontro, caminhandosobre as águas. Mas conforme avançava, Pedro perdia o foco, seusolhos não estavam mais voltados para Jesus, mas para a força dovento. De repente, a sua atitude mudou, seus pés vacilaram tomadosde medo, e ele começou a afundar. Se tivesse mantido os olhos nofoco, se tivesse se deixado levar pela primeira atitude de fé e decoragem, Pedro teria chegado são e salvo até Jesus. Mas a suaatitude de se desviar do foco fez com que ele começasse a afundar.Quando decidimos seguir a Jesus, seja na nossa conversão, na nossavida cotidiana ou na obra para a qual Ele nos designou, devemosmanter a atenção nele. Só podemos manter o foco olhando parafrente, para o autor e consumador da nossa fé. Se pararmos paraprestar atenção nas grandes ondas e ventos, certamente
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começaremos a afundar. Perceba: Jesus não acalmou o mar para quePedro pudesse caminhar sobre ele, mas o chamou sem alterar ascircunstâncias. Muitos crentes clamam a Deus por uma totalcalmaria no mar da sua vida, para que possam se sentir abençoadose felizes. Eles realmente creem que só estarão seguros debaixo dasbênçãos de Deus quando perceberem que todos os seus problemasdesapareceram. E é isso que pregam muitas seitas: se o crente estáenfrentando problemas na sua vida, significa que não está sendoabençoado; talvez esteja em pecado, não tenha fé ou não deu o seudízimo.Na nossa jornada cristã em meio às fortes tempestades ou acalmaria, a atitude deve ser mantida, independente dascircunstâncias. Existem momentos que requerem de nós uma atitude.Mas a verdadeira atitude, aquele impulso positivo e invariável,aquele sentimento de fé que move montanhas, é algo que deve estarconstantemente presente dentro de nós. Não podemos esperar terboas atitudes diante da adversidade se no nosso interior não residiressa atitude constante de pensar e agir sempre positivamente, combase numa fé genuína, que gera a confiança, a segurança e aesperança que precisamos para seguir em frente. Quando falo em“pensar positivamente”, não estou me referindo ao “poder dopensamento positivo”, mas à plena certeza de que Deus está nocontrole de todas as coisas, então tudo sairá bem, mas o “bem” deDeus, não o nosso. Deus não nos dá aquilo que queremos, mas aquiloque precisamos. Devemos nos lembrar que Ele não muda nem falha.Como vimos, quando Pedro perdeu de vista o foco, quem começou aafundar foi ele, não Jesus. O Senhor permanecia ali, esperando-o. Oautor de Hebreus assevera: “De fato, sem fé é impossível agradar aDeus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deuscreia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”(Hb 11:6).Fazer a vontade de Deus e cumprir a sua meta para nós deveser a nossa maior motivação, buscando sempre a sua glória, comoescreveu o apóstolo Paulo: “Portanto, quer comais, quer bebais oufaçais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Co10:31). Não podemos permitir que a semente da Palavra de Deus quefoi plantada em nós seja sufocada ou anulada pelo nosso ego e peloscuidados e adversidades do mundo. Deus compreende que temosnossos sonhos pessoais, nossas necessidades que precisam sersupridas, mas nada disso deve nos desviar do alvo proposto. Pauloera alguém que não se deixava desviar do alvo. Ele tinha tribulações,provações e toda sorte de agruras que um homem de Deus podesuportar, mas prosseguia fiel e incansável para o alvo determinadopor Deus para a sua vida (Fp 3:13,14). O que realmente nos motiva?Quais são as nossas metas? Infelizmente, muitos crentes seesquecem de suas metas no decorrer da sua vida cristã, dos planostraçados por Deus, dos sonhos de viver uma vida santa e servir aoseu Senhor. É o caso da igreja de Éfeso descrito no livro de
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Apocalipse: eles perderam o foco, o alvo, acabaram se desmotivando,perdendo o primeiro amor (Ap 2:1-7). Qual o conselho de Deus paraaquela igreja? Voltar a praticar o que praticava antes, rever as suasobras, as suas atitudes, retornar ao amor primeiro. Se tiramos osnossos olhos do alvo, estamos errando o caminho, o que significa queo nosso comportamento não é aceitável para Deus, porque nãoestamos tomando por base o Senhor Jesus, mas qualquer outra coisa,pessoa ou pregação que tenha desviado os nossos olhos dele. Pode ser que os ventos que podem nos derrubar comecem comum “vento de doutrina” entranho, que causa confusão e desestruturaa nossa fé, desviando-nos daquilo que é sólido e pode nos manter depé, para uma areia movediça de mentiras, que nos fará desconfiaraté mesmo de Deus e da sua Palavra. Manter o foco em Jesussignifica não se desviar da sua Palavra, do seu Evangelho de graça esalvação. Salomão escreveu em seus Provérbios: “Pondera a veredade teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos. Não declines nempara a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal” (Pv4:26,27). O mesmo declarou Moisés em seu discurso ao povo deDeus: “Não te desviarás de todas as palavras que hoje te ordeno,nem para a direita nem para a esquerda, seguindo outros deuses,para os servires” (Dt 28:14). O mesmo disse o Senhor a Josué paraanimá-lo em sua missão: “Tão-somente sê forte e mui corajoso parateres o cuidado de fazer segundo toda a lei que o meu servo Moiséste ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para aesquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares”(Js 1:7). Os pés de Pedro vacilaram porque o seu coração vacilou. Eledesviou sua mente da ordem de Jesus: “Vem!”. Como manteremos ofoco no Senhor? Observando a sua Palavra: “Lâmpada para os meuspés é a tua palavra e luz, para os meus caminhos” (Sl 119:105)12.
Momento da oração (v. 30b)
Quando perdeu Jesus de foco, Pedro logo sentiu que estavaafundando. Isto nos mostra que o poder de manter-se sobre as águasnão estava em Pedro, mas em Jesus. Aquele que o chamou – Vem! –era o mesmo que o mantinha de pé. Muitos crentes naufragam nasua fé ou vivem uma fé mentirosa e puramente religiosa porquecreem que o que os mantém de pé é a sua capacidade espiritual, seutempo de conversão, seus “dons de poder”, seus dízimos, um cargona Igreja, rituais, etc. Entretanto, é olhar para Jesus e confiar neleque nos dá poder para mantermos a nossa fé durante toda a jornada.Isso nos leva a pensar sobre algo: inúmeras coisas não dão certo nanossa vida porque não foi o Senhor quem nos chamou, quem nos
12 No livro “Maisque vencedores”, trago um estudo introdutório e relevante sobrea grande obra que Deus opera em nós por meio da sua Palavra, transformando onosso caráter e o nosso comportamento, mas, acima de tudo, dando-nos a vidaeterna em seu Filho, Jesus Cristo.
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enviou ou quem nos deu. Aquilo que aos nossos olhos parece direito,proveitoso e até solidário, pode não ser o mesmo do ponto de vista deDeus. Mas insistimos mesmo assim, tomamos decisões, vamos emfrente achando que o Senhor está lá em cima dando o seu aval.Quando pensamos que estamos no centro da sua vontade e na forçado seu poder, descobrimos que estávamos totalmente equivocadosquando tudo dá errado. Conforme escreveu Salomão: “O coração dohomem traça o caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv16:9). A nossa vontade humana limitada não pode competir com avontade boa, perfeita e agradável de Deus (Rm 12:2).Pedro, naquele momento de dificuldade, apesar de tirar os seusolhos de Jesus, sabia que podia confiar nele, porque a essa altura játinha certeza de que Aquele era realmente o Senhor. E clamou:“Salva-me, Senhor!”. Além de nos ensinar sobre o poder que há naoração, este clamor de Pedro nos traz outra lição: parece que épreciso estar numa situação muito delicada e difícil da nossa jornadapara direcionarmos o nosso pedido de socorro a Deus. Algumaspessoas realmente creem que podem viver sem Deus a maior partedo tempo, resolvendo aqueles problemas simples e possíveis aoshomens, deixando para Deus apenas o impossível, que requer ummover sobrenatural. Na canção “Derrubando muralhas”, o rappergospel, Pregador Luo, canta: “As muralhas que eu puder, eu mesmoderrubo. Aquelas que não der, Deus põe no chão por mim”. Sepodemos escalar a montanha com nossas próprias forças, nãoprecisamos de fé para removê-la, assim pensamos. Pedro precisou deJesus para o impossível – caminhar sobre as águas – e para o possível– não ser tragado por elas. Quando começou a submergir, Pedropoderia ter pensado: “Este não é Jesus, pois se fosse, eu teriaconseguido chegar até Ele”. Então teria gritado para o barco: “Meusamigos, me salvem!”, porque eles, com certeza, poderiam salvá-lo.Será que, como pescador, Pedro não sabia nadar? Mas ele buscou oSenhor!A oração deve estar presente em todo o processo da nossacaminhada cristã, desde a nossa conversão até o nosso últimosuspiro. Por que os discípulos não clamaram a Deus quando osventos eram contrários e as ondas assolavam o barco? Felizmente,Deus conhece as nossas fraquezas e está sempre pronto a atenderquando clamamos. Pedro fez uma oração curta, onde, mesmoafundando, reconheceu que estava diante do seu Senhor, e pediu porsocorro. Pedro percebeu que o problema não estava em Jesus, masnele próprio. Precisamos entender que não é a nossa força nem anossa inteligência que vencem as grandes ondas e os fortes ventos –ou as marolas e as brisas da vida –, mas o poder que vem do Senhor.O único poder que temos é para afundar. Se tudo parece impossível,Deus está do nosso lado, toma-nos pela mão e nos leva emsegurança. Se tudo está tranquilo, é Ele quem está nos sustentando,guiando, protegendo, cuidando, livrando. É Ele o tempo todo! Não éa força do nosso braço que está derrubando as muralhas que
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consideramos fáceis. Essa confiança deve nos levar a louvar juntocom o salmista: “Elevo os meus olhos para os montes: de onde mevirá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e aterra. Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitaráaquele que te guarda” (Sl 121:1-3). Se os nossos pés não vacilam, éporque o Senhor está nos guardando. Se acordamos todos os dias, éo Senhor quem nos dá a vida.A oração deve fazer parte constante da nossa jornada. Nãoexiste um local ou uma hora certa. Ele deve ser feita sempre queprecisarmos de Deus, isto é: o tempo todo, não somente diante dasmuralhas que não pudermos derrubar. A ordem é: “Orai sem cessar”(1 Ts 5:17). Como vimos, quando Pedro começou a duvidar, somenteele afundou, o Senhor Jesus permaneceu firme sobre o mar. Istosignifica que o Senhor não muda por causa das nossas fraquezas. Ocair está em nós, não nele. Ele permanece fiel, mesmo que sejamosinfiéis (2 Tm 2:13). A nossa falta de fé não anula o poder de Deus.Ele quer escutar o clamor da nossa alma, quer que o busquemosnuma demonstração de submissão e total dependência dele.Podemos nos perguntar: Jesus não era poderoso para manter Pedrosobre as águas, mesmo que ele duvidasse e fraquejasse? Se era opoder de Jesus que mantinha Pedro de pé, porque permitiu que eleafundasse? Pedro precisava ver que o poder não estava nele, mas emJesus. Pedro precisava reconhecer que aquele que vinha caminhandosobre o mar era o seu Senhor. E ele reconheceu: “Salva-me,Senhor!”.
Momento da provisão (v. 31a)
Quando oramos, Deus responde e chega com a devida provisão.Ele não nos dá a resposta que queremos ouvir, mas a queprecisamos. Ele não nos atende segundo aquilo que entendemos seras nossas necessidades, mas conforme as nossas necessidades reaisque Ele conhece profundamente. Naquele momento, o Senhorentendia qual era a necessidade de Pedro: precisava ser socorrido deum possível afogamento, precisava de uma mão para recobrar a suafé. No momento em que Pedro afundava, o Senhor chegou com osocorro providencial. Podemos ver o socorro de Deus presente nahistória humana desde a criação de tudo, quando providenciou tudoo que era necessário para que o primeiro casal vivesse feliz e emcomunhão com Ele. Mesmo após a Queda, Deus não abandonou assuas criaturas, mas providenciou um escape, um meio de sereconciliar com elas e dar-lhes a salvação: Jesus Cristo.O Senhor é o nosso Pastor e jamais nos faltará (Sl 23:1). Onosso socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra (Sl 121:1,2).Mesmo que não haja o fruto da videira e tudo mais nos falte,podemos nos alegrar no Senhor, nossa salvação e fortaleza (Hc 3:17-19). Na nossa jornada cristã, não viveremos sempre na abundância,
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mas teremos de aprender a suportar os momentos de escassez.Entretanto, devemos desenvolver uma fé no estilo do apóstolo Paulo,que o capacitava a viver contente em toda e qualquer situação (Fp4:11-13). Mesmo que tudo nos falte, Deus jamais nos faltará. Ocrente tudo pode naquele que o fortalece, porque está seguro nasmãos do Senhor em quaisquer circunstâncias, porque Ele é Deus eporque supre as suas necessidades (Fp 4:19; Hb 13:5; 2 Co 9:10,11;Mt 6:11). A sua fé não vacila quando as ondas estão muito altas nemse abala diante dos grandes ventos. Ele sabe que o Senhor está comele sobre o mar e que nunca o deixará afundar. E ainda que a sua févenha a vacilar, o poder de Deus é maior que a sua incredulidade enão o deixará desamparado. Esta era a lição de Pedro: todo o poderestá nas mãos do Senhor. A providência de Deus nos alcançasegundo a sua vontade soberana, porque Ele sabe do quenecessitamos, mesmo antes que lhe peçamos (Mt 6:8). Pode ser queo que peçamos não é o que Deus sabe que precisamos, por isso anossa oração deve ser sempre: “Seja feita a tua vontade, Senhor”13.Nós só podemos ir até determinado ponto, mesmo assim pelagraça que Deus nos dá para as pequenas coisas; a partir dali,somente com o auxílio sobrenatural de Deus. Isto aconteceu quandoestávamos mortos em nossos delitos e pecados e Deus nos proveu umSalvador, o seu Evangelho e a fé necessária para crermos. Eacontece em todos os momentos da nossa jornada, porque Deus nãonos abandona jamais, mesmo diante da nossa falta de fé. Aquele quecomeçou a boa obra em nós há de completá-la (Fp 1:6). Pelas coisasque Jesus sofreu, é poderoso para socorrer aqueles que sofrem (Hb2:10-18). O Senhor socorre os que são seus, traz esperança,capacita, dá livramento e provisões. Ele está conosco em todas ascircunstâncias e nos socorre no momentocerto. Podemos chamar oespaço entre o inicio da tribulação e a provisão de Deus de “ocaminho das pedras”, a jornada pelo aprendizado necessário queaquela situação nos trará. Deus não chegará jamais com providênciaantes que esse caminho seja percorrido, mas permitirá que, ao finalda jornada, a lição fique bem clara. E sairemos felizes.
Momento do confronto (v. 31b)
Após providenciar a salvação de Pedro, Jesus confronta-o com apequenez da sua fé: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?”.Vemos como confiança e fé estão intimamente ligadas. Pedro era umhomem de fé, isso nós não podemos negar. Ele foi o único que tevecoragem de deixar o barco para caminhar sobre o mar. A sua fé,
13 A vontade soberana de Deus nas nossas orações é um dos temas do meu livro“Pai Nosso: uma oração com a vida”. Nele, faço uma análise minuciosa da oraçãoque o Senhor nos ensinou, oferecendo ao leitor uma visão bíblica dessa oração,mostrando que o Pai que está nos céus é o Deus vivo, que cuida de nós e jamaisnos desampara.
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porém, não foi grande o suficiente fazê-lo chegar até Jesus. Foipreciso resgatá-lo de afundar. A confiança é um dos significados dapalavra grega para fé – pistis. Esta confiança não comporta nenhumadúvida, mas envolve um relacionamento com Deus baseado nacerteza do seu caráter, do seu cuidado e do cumprimento das suaspromessas14. Se Jesus disse a Pedro que fosse até Ele caminhandosobre as águas, a fé de Pedro deveria tê-lo mantido firme, mesmodiante das ondas e dos ventos. Ao começar a afundar, ele viu suaconfiança ser abalada. Mas não de todo: ele tinha fé, uma fé pequenaque não foi capaz de levá-lo até o seu destino final, mas do tamanhosuficiente para que ele buscasse quem poderia levá-lo.A Bíblia não registra qualquer resposta de Pedro aoquestionamento do Senhor. Mas podemos meditar: que resposta oapóstolo teria dado para a pequenez da sua fé? Se, durante a nossajornada cristã, o Senhor nos perguntasse: “Por que duvidaste?”, queresposta teríamos para dar? Infelizmente, a grande maioria daquelesque se declaram cristãos atualmente, desenvolveram uma espécie defé baseada num relacionamento de barganha com Deus: eu cumpromeus deveres religiosos e o Senhor me abençoa. A sua fé não podeser firme, porque não está construída sobre alicerces verdadeiros,mas sobre interesses pessoais. No momento das grandes ondas, essafé não é suficiente para mantê-los estáveis, porque, na verdade, nãoconfiam em Deus, mas apenas nas suas bênçãos. Entretanto, mesmoos cristãos genuínos veem a sua fé vacilar quando surgem astribulações, as provações e as dificuldades. Afundam por nãoconfiarem totalmente naquele que os chamou a caminhar sobre aságuas. Talvez, se estivessem no lugar de Pedro, voltariam nadandopara o barco. Na verdade, é isso que muitos fazem quando saem daigreja porque se decepcionam com Deus, por Ele não ter feito o quegostariam que fizesse, do jeito que queriam e no momento queprogramaram.Podemos rememorar aqui outro texto importante dosEvangelhos, em que o Senhor repreendeu alguém por sua falta de fé:a ressurreição de Lázaro (Jo 11:1-46). O Senhor Jesus havia dito aMarta a respeito de Lázaro: “Teu irmão há de ressurgir” (v. 23). Ela,no entanto, acreditava ser a ressurreição que se realizaria no últimodia, mas o Senhor declarou: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quemcrê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mimnão morrerá, eternamente. Crês isto?” (vs. 25,26). Apesar daresposta positiva de Marta, o que incluiu uma declaração da
14 Quando falamos nas promessas que Deus realizará, devemos sempre nos referirà Bíblia. Somente aquelas promessas que estão reveladas e registradas nasSagradas Escrituras podemos ter segurança de que serão cumpridas. Promessas eprofecias trazidas até nós por pretensos profetas que supostamente falam emnome de Deus não podem nos trazer segurança alguma. Muitos crentes serevoltam contra Deus porque Ele não cumpriu o que lhes prometera, mas quandovemos essas promessas, elas não estão na Bíblia, mas na declaração de alguém quelhes trouxe uma “palavra profética” ou que decretou determinadas bênçãos parasuas vidas.
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messianidade e da divindade de Cristo (v. 27), ela continuouduvidando quando o Jesus ordenou que a pedra que tampava otúmulo onde Lázaro estava fosse retirada (v. 39). Então o Senhor lherespondeu: “Não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus?”(v. 40). Pedro e Marta são arquétipos de muitos de nós; eles revelamaqueles crentes que não confiam plenamente no Senhor, apesar deterem sua Palavra – a Bíblia – nas mãos. Eles precisam ver primeiro aglória de Deus para somente assim crerem nele. Como Tomé,precisam tocar nas suas feridas, sentir que Ele é real para confiaremsuas vidas e seus problemas a Ele. Algumas são adeptas da filosofia:“De nada serve um Deus que não me serve.”Outro exemplo de falta de confiança em Deus está registradono primeiro livro de Samuel, que tem como personagem principal orei Davi, mas que também registra a história de um homem bastantecontroverso: o rei Saul. Em um dos episódios narrados no livro, estápara acontecer uma guerra entre os israelitas e os filisteus (1 Sm13). Antes, Samuel havia ordenado a Saul que fosse diante dele, masque o esperasse por sete dias para sacrificar holocausto ao Senhor eapresentar ofertas pacíficas; só então ele saberia o que se deveriafazer (10:8). Naquela ocasião, Saul o esperou, mas agora, em umnovo contexto como rei orgulhoso que se tornara, ele já não possuíaa mesma paciência e confiança de antes. Vendo que o povo seespalhava por causa do aperto dos filisteus contra Israel, Saul tomoua iniciativa de oferecer o holocausto que era devido somente aSamuel, na presença de Aías, o sacerdote (14:18). Mal acabara defazê-lo, Samuel apareceu (vs. 8-10). A explicação de Saul é que haviaoferecido os holocaustos “forçado pelas circunstâncias” (v. 12). A suaansiedade o levara a desobedecer a Deus. Então, Samuel oconfrontou: “Procedeste nesciamente em não guardar o mandamentoque o Senhor, teu Deus, te ordenou; pois teria agora o Senhorconfirmado o teu reino sobre Israel para sempre” (v. 13). Isso nosmostra que não existem circunstâncias favoráveis e desfavoráveispara confiarmos ou deixarmos de confiar em Deus. Em todos osmomentos devemos crer na sua Palavra, esperar nele e obedecer aosseus mandamentos.Não podemos deixar de registrar o resultado da transformaçãoocorrida na vida do apóstolo Pedro após os anos que passou ao ladode Jesus em seu ministério terreno. Como vimos no barco três, Pedrotornou-se aquilo que o Senhor já havia planejado para ele mesmoantes de criá-lo: apóstolo, missionário, líder na Igreja, um homem defé e de coragem. Ao escrever a sua segunda epístola, Pedro revelaum pouco de si mesmo: “Simão Pedro, servo e apóstolo de JesusCristo, aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiçado nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1:1). Anteriormente, nasua primeira epístola, ele demonstrara que a lição fora aprendida,entendendo que o poder não está em nós, mas em Deus; que Aqueleque nos salvou é poderoso para nos levar em segurança até arevelação da nossa gloriosa salvação, que se mostrará no último
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tempo. É Deus quem chama, regenera, dá-nos a fé necessária paracrermos e nos guarda até o fim (1 Pe 1:3-5). Muitos estãocaminhando sobre o mar da sua salvação acreditando que é a suacapacidade e as suas obras que os mantêm salvos, crendo que podemperseverar na fé por si próprios. Esses são os mesmos que creem quea salvação pode ser perdida, o que não deixa de ser verdade paraeles. Afinal, se somos nós que nos mantemos salvos, essa salvaçãopode ser de fato perdida; mas se quem nos sustenta de pé sobre omar é Jesus, jamais iremos nos perder: “eu o ressuscitarei no últimodia” (Jo 6:40).Precisamos desenvolver essa fé capaz de nos levaraté o fim,que resista à pressão interna e externa, que não se dobre diante dasinvestidas do mundo ou do diabo15. Somente o Espírito Santo podenos dar a fé que precisamos para cumprir a nossa missão e chegar aofim da nossa jornada, momento em que poderemos dizer como Paulo:completei a carreira, guardei a fé (2 Tm 4:7). Não caminhamos paraa salvação, mas já de posse dela. Quando fazemos uma retrospectivada vida deste apóstolo, vemos que a sua primeira fé – farisaica –estava alicerçada sobre uma base ultrapassada, isto é, a Lei deMoisés, que apontava para Cristo. Após a sua conversão, porém, asua fé passou a ser estruturada no alicerce verdadeiro, que é oSenhor Jesus, de modo que jamais pôde ser abalada. Tudo o que elefez, realizou e conquistou para o Reino dos céus não partiu da suaprópria força, mas do poder que o Espírito Santo lhe dava.Escrevendo aos crentes de Corinto a respeito do ministério da graçade Cristo, Paulo afirmou que era por intermédio de Cristo que elepossuía confiança em Deus a respeito daqueles irmãos, e disse: “nãoque, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, comose partisse de nós; pelo contrário: a nossa suficiência vem de Deus”(2 Co 3:4,5). Imaginemos Pedro contando muitos anos depois ahistória do dia em que caminhou sobre o mar: “Não que por mimmesmo eu seria capaz de caminhar sobre as águas, como se aquelepoder partisse de mim; pelo contrário: a minha capacidade veio doSenhor”. Podemos confiar plenamente em Deus quando deixamos deconfiar em nós mesmos.
Momento da segurança (v. 32)
Após passar pela prova e ser confrontado pela pequenez da suafé, Pedro sobe com Jesus para o barco, para a segurança que o
15 No livro “Batalha Espiritual: uma luta em defesa da verdade”, trago um estudoaprofundado sobre o tema da batalha espiritual do cristão, analisando o ensinobíblico a respeito do assunto e refutando o chamado “Movimento de BatalhaEspiritual”. Temas como influência diabólica, possessão, idolatria, falsos ensinos,oração e a armadura espiritual do cristão fazem deste livro um importanteinstrumento para toda a cristandade que deseja conhecer esta guerra travadacontra as trevas. O foco principal do livro é: a maior luta da Igreja do Senhor écontra as mentiras de Satanás que se revelam na forma de falsos ensinos.
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Senhor lhe deu. Os relatos de Mateus e Marcos (6:51) mostram queo vento cessou imediatamente após a subida de Jesus ao barco. Alémde todos os milagres que haviam presenciado antes daquela viagem,eles se veem diante da realidade de que Aquele que com eles estavatinha poder para comandar todos os elementos da natureza. O quePedro não havia compreendido antes era que sempre esteve emsegurança, desde o momento em que Jesus ordenou que passassemde barco para a outra margem do mar. Ele esteve em segurançadiante da figura desconhecida que vinha caminhando sobre o mar,como também esteve quando ele mesmo caminhou e ainda quandocomeçou a afundar. Jesus mostra que sempre está conosco e nos dá asegurança de seguirmos em frente, mesmo que cheguem as provas eas tribulações, quando estamos cumprindo o seu chamado, a suavontade. Parece que nos sentimos seguros apenas quando tudo vaibem, quando não há tempestades na nossa vida. Parece, também,que as tribulações são um sinal visível da ausência de Deus, como sefosse possível a Deus se ausentar de algum lugar ou algum momentoda história, principalmente da história da sua Igreja. Todavia, Eledeclara em sua Palavra: “Acaso pode uma mulher esquecer-se dofilho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seuventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia,não me esquecerei de ti” (Is 49:15).O mundo sempre nos dá motivos para perdermos a nossasegurança, para desistirmos da nossa fé e nos entregarmos àincredulidade e ao desespero. Algumas correntes evangélicas levamseus seguidores a pensar que as tribulações não vêm de Deus e nãopertencem ao crente, fazendo-os acreditar que são um terrível mal eem nada contribuem positivamente com a nossa fé. Esse tipo depensamento desestimula as pessoas a seguirem adiante, uma vez quese deparam com um quadro totalmente diferente: um mundoatribulado, que em algum momento acaba também afetando o crente.Em sua epístola, o apóstolo Pedro fala das provações, situaçãonormal na vida de crentes e descrentes. O cristão, todavia, tem umgrande motivo para estar seguro: ele foi alcançado pela misericórdiade Deus e recebeu uma herança incorruptível: a vida eterna, asalvação guardada por Cristo e a se revelar (1 Pe 1:2-9). Pedro sabiabem disso, uma vez que ele era fruto da graça salvadora de Deus quejamais o deixou afundar. Em Atos 12:1-19, vemos a perseguiçãocontra a Igreja, que tirou a vida de Tiago, irmão de João e levouPedro ao cárcere. Da mesma maneira que o livrara de afundarnaquele mar bravio, o Senhor estendeu a sua mão para seu apóstolo,enviando um anjo para livrá-lo: “Cinge-te e calça as sandálias. E eleassim o fez. Disse-lhe mais: Põe a capa e segue-me” (v. 8).Como não nos alegrar? Estávamos mortos em nossos delitos epecados e Ele nos deu vida (Ef 2:5-10)! O Senhor nos dá a segurançade crermos em algo imperecível. O mundo confia a sua esperançanaquilo que está morto e morrendo: o próprio mundo. O cristãogenuíno espera em Cristo, por isso a sua esperança não é vã, mas
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viva, conforme escreveu o próprio Pedro: “Bendito o Deus e Pai denosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia,nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição deJesus Cristo dentre os mortos” (1 Pe 1:3). Essa esperança é a âncoraque nos prende ao Senhor (Hb 6:18,19). O apóstolo Paulo escreveuque absolutamente nada neste mundo nem no porvir pode nosseparar do amor de Deus, que está em Jesus Cristo, pois “Em todasessas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daqueleque nos amou” (Rm 8:37). Mesmo diante das grandes provas, ondenos vemos contristados, estamos seguros em Jesus. As tribulaçõesnão podem tirar a nossa segurança, porque elas são momentâneas eaquilo que Deus nos prometeu é eterno. O que nos dá esta certeza éo fato de que não esperamos nos recursos deste mundo, mas nagraça maravilhosa do Senhor. Além de nos manter firmes, a nossaesperança glorifica a Deus. O fim de toda aparente segurançaproduzida pelo mundo é uma insegurança ainda maior de uma vidasem Deus e um destino eterno em trevas, no inferno. A segurança docristão que passa por várias provações é a estabilidade espiritual16.Ele não somente nos guarda de sucumbir neste mundo, como nosleva seguros para o céu. Enquanto estivermos firmes na Rocha danossa salvação, nada poderá nos destruir. E quem nos mantémfirmes é a própria Rocha!
Momento do aprendizado (v. 33)
Como vimos, os discípulos não tinham razões para duvidar deJesus após presenciarem tantos milagres e sinais realizados por Elediante dos seus olhos. Esta viagem relatada no capítulo quatorze,inclusive, veio “logo a seguir”, após a primeira multiplicação dospães e dos peixes (v. 22). Isto é, eles tinham bem recente em suamemória quem Jesus era e do que Ele era capaz, mas mantinham ocoração endurecido (cf. Mc 6:52). Esse pode ser o motivo da suaincredulidade ao confundir Jesus com um fantasma; ou Pedro, aoduvidar que era de fato Jesus quem o chamava para ir ter com elesobre as águas. Após a sua jornada por aquele mar, os discípulosfinalmente parecem ter aprendido uma grande lição a respeito doseu Mestre. Pode ter sido esta a razão para Jesus não ter ido logocom eles no barco. Assim como aconteceu com aqueles homens, tudoo que passamos nesta jornada da nossa vida com Cristo serve comoum aprendizado. Deus está sempre nos ensinando algo paraconfirmar e fortalecer a nossa fé. Após Pedro subir ao barco com o
16 É possível vivermos uma espiritualidade sadia através de um compromissofirmadocom a santidade, o amor e as boas obras. De qualquer forma, é o EspíritoSanto quem opera a saúde espiritual em nós. No livro “Dê um upgrade na sua fé”,tomo emprestado um termo utilizado no ambiente empresarial para falar docrescimento e amadurecimento espiritual do cristão por meio de 5 sensos: Sentode utilização, Senso de organização, Senso de limpeza, Senso de padronização esaúde e Senso de disciplina e autodisciplina.
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Senhor e o vento cessar, os discípulos finalmente responderam àpergunta que eles mesmos fizeram na ocasião de outra viagem:“Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (Mt 8:27).Após esta nova jornada, eles reconheceram: “Verdadeiramente ésFilho de Deus”, ou seja: o Messias divino, o seu Senhor. Mais tarde,após esse episódio, o apóstolo João registra a declaração de fé dePedro, ao serem os discípulos indagados por Jesus se o deixariamcomo os demais: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras davida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo deDeus” (Jo 6:68,69). Já Lucas, registra o parecer da multidão sobre aidentidade real de Cristo: João Batista? Elias? Algum dos profetas?Pedro, porém declara: “És o Cristo de Deus” (Lc 9:18-21). Adeclaração registrada por Mateus é mais enfática: “Tu és o Cristo, oFilho do Deus vivo” (Mt 16:16).Isto nos chama a atenção para algo que a grande maioria doscristãos da atualidade não está disposta a enfrentar para alcançar asua vitória: o processo. Começamos este estudo falando do chamadodo Senhor e viajamos pelos riscos da caminhada, pelas pressõesinternas e externas que a nossa fé sofre no decorrer do trajeto, echegamos ao momento em que todas essas coisas tomam umadimensão maior: confirmam o valor da nossa fé e fortalecem a nossacrença em Cristo como o Filho de Deus, Aquele que reina desde aeternidade e tem poder sobre tudo e sobre todos. Evitar o processoou queimar etapas pode representar o risco de não amadurecermosna nossa santificação, de permanecermos crianças na fé, carentes deleite, quando já deveríamos ingerir alimento sólido. É claro que quemnos aperfeiçoa e nos dá o poder que precisamos para perseverar ecrescer é Deus (1 Co 3:6). Mas se negarmos o processo, como noscolocaremos dentro dele? Como assumiremos a necessidade doaperfeiçoamento? Seremos como meninos tolos, viveremos uma vidamedíocre e deixaremos de aproveitar as abundantes bênçãos queemanam do trono de Deus, bênçãos espirituais que nos alegram aalma, como a sabedoria que tanto necessitamos para crescer.O que está patente em Mateus 14:22-33, é que o aprendizadoveio após a tempestade e a prova da fé de Pedro. Negar as pedras docaminho é negar o próprio caminho. Muitos deduzem que osofrimento não faz parte da vida cristã, enquanto outros o aceitam,mas evitam-no ao máximo ou não veem nele nada proveitoso.Entretanto, em diversas passagens a Bíblia apresenta o sofrimento eas tribulações como partes inerentes de uma vida comprometida como Evangelho e com o crescimento espiritual. O apóstolo Pedroescreveu em sua primeira epístola: “Ora, o Deus de toda a graça, queem Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofridopor um pouco, ele mesmo há de vos aperfeiçoar, firmar, fortificar efundamentar” (1 Pe 5:10). Foi isso que aconteceu naquele mar:Cristo o chamou, e por fim Pedro saiu mais crente do que era antesde iniciar a sua travessia. Anteriormente, ele havia escrito que asprovações servem para a confirmação do valor da nossa fé (1:6,7). A
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fé de Pedro era vacilante, mas agora encontrou o seu valor nacerteza de que Jesus é de fato o Filho de Deus. De igual forma, Tiagoressalta as provações como um instrumento para a provação danossa fé, para que sejamos “perfeitos e íntegros, em nadadeficientes” (Tg 1:2-4). Pedro e os demais apóstolos passaram portoda aquela jornada até compreenderem a verdade do caráter divinodo Senhor. Eles deixaram de olhar para si mesmos e seus problemaspessoais para contemplarem a glória de Deus na face do seu Mestre.Entretanto, como já vimos, existem diversos outros problemasque atacam o crente por todos os lados, não somente o sofrimento:os apelos da carne pelo pecado, a sedução dos valores mundanos, astentações do inimigo da nossa alma, os ensinos dos falsos mestres,entre tantos outros. Uma pessoa pode achar que está firme naRocha, porque tem mantido uma vida santa e piedosa: ora, lê aBíblia, dá suas ofertas, pratica o bem e serve a Deus com alegria.Mas ela pode vir a descobrir que, apesar da sua piedade, a sua féestava alicerçada sobre mentiras, sobre um evangelho falso queretira a divindade da Palavra de Deus e o caráter divino daRevelação. Ela pode descobrir que servia com alegria ao Jesusmestre, psicólogo, curandeiro, abençoador ou um nome escrito numcheque celestial para trocar por suas vitórias, mas não ao “Cristo, oFilho do Deus vivo”, o Deus e Senhor de tudo que existe. É precisomuito cuidado com a maneira como interpretamos a Bíblia e vivemosa nossa fé. Pode ser que muitos já tenham afundado e se afogado,vestidos com um escafandro de mentiras, que supostamente osmantêm respirando, mas que é, na verdade, o seu próprio túmulo.
Da eternidade a eternidade
A caminhada cristã é uma jornada que começa na eternidade ena própria eternidade se completa. Afinal, fomos eleitos para asalvação “antes da fundação do mundo” (Ef 1:4). Estamos nestecaminho cumprindo um chamado divino, que nos tirou de umasituação de perdição para nos tornar seus filhos e seus servos,ministros de uma nova aliança em Cristo. Deus nos “chamou dastrevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9), transportando-nospara “o reino do Filho do seu amor” (Cl 1:13). Deus, com certeza, jásabia de antemão todos os problemas que enfrentaríamos, todas asdúvidas que teríamos, os nossos temores e a pequenez da nossa fé.Mas mesmo assim, Ele não deixou de nos chamar, de contar com anossa participação na implantação do seu Reino celestial. O queaprendemos com este episódio que foi estudado, é que não devemosjamais desviar os nossos olhos do autor e consumador da nossa fé,mesmo diante das grandes tempestades da vida, quando a nossaconfiança tende a esmorecer. Deus nos tem dado motivos para crerna sua provisão, no seu auxílio e no seu livramento; não somente portodas as coisas maravilhosas que Ele tem operado na nossa vida,
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mas, acima de tudo, pelo fato de Ele ser Deus e porque a sua Palavranos dá essa garantia. O Senhor é o nosso Pastor e isso já é osuficiente para que estejamos firmes e sem vacilar.A nossa vida não é uma vida sem propósito. Às vezes vamos auma loja e adquirimos um produto porque estava na promoção, masque não terá finalidade alguma para nós; de repente o deixamosguardado em uma gaveta e nem lembramos mais dele. Deus, aocontrário, nos comprou por um alto preço e com um propósito, paraque todo o nosso ser glorifique o seu Santo Nome. Não somos maisde nós mesmos, não devemos servir aos nossos próprios interesses.Tudo o que somos e que temos é do Senhor. Como escreveu Pauloaos coríntios: “Porque fostes comprados por preço. Agora, pois,glorificai a Deus no vosso corpo” (1 Co 6:20)17. Por mais que a nossafé vacile, Deus jamais desiste dos seus propósitos para nós. Vimos nobarco três como o Senhor chamou os seus discípulos e transformou arealidade deles: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores dehomens” (Mc 1:17). Mais tarde, após a sua ressurreição, mesmotendo convivido com todos os defeitos dos seus discípulos, o Senhorconfirmaria o seu chamado, demonstrando que todo poder repousasobre Ele para transformar simples homens em grandes servos doSenhor: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura”(Mc 16:15). Do “vinde” ao “ide”: os planos de Jesus não mudaram,porque não dependiam das circunstâncias nem dacapacidadenatural dos seus discípulos, mas da sua própria escolha soberana. Asua vontade de cumpriu, nenhum deles se perdeu, a não ser aqueleque já havia sido predestinado para isso (Jo 6:39; Jo 17:12).
17 Este é um tema bastante importante para a nossa fé. Eu o abordo no meu livro“Corpo e espiritualidade: como glorificar a Deus através do nosso corpo”. Nestelivro, apresento o tema da glorificação de Deus por meio de todo o nosso ser,interior e exterior. Como podemos usar as mãos para a glória de Deus? E os pés, aboca, os olhos, os ouvidos e os joelhos? A Bíblia traz lições sobre cada parte donosso corpo e como elas podem e devem ser usadas no nosso culto racional e nanossa vida cotidiana. Será que, na empresa onde trabalho, a minha boca temglorificado a Deus?
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Nesta jornada, Jesus se revela quem é e nos revela quem somose a nossa dependência dele. Ele nos mostra que a nossa caminhada épor um caminho de esperança. O apóstolo Paulo entendia que asprovações sempre terão um fim proveitoso para o crente sábio: “Enão somente isto, mas também nos gloriamos nas própriastribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e aperseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Rm 5:3,4).Cristo é esperança do começo ao fim: na esperança fomos salvospara uma viva esperança (1 Pe 1:3; Rm 9:23; 2 Co 2:14; 1 Tm 1:1).Cristo em nós é a esperança da glória (Cl 1:27). Esta verdade nosconduz a um aprendizado, que tem como objetivo apresentar-nosperfeitos em Cristo (Cl 1:28). Embora sejamos exortados a uma fésubstancial no Senhor, não são nossos medos e dúvidas queapagarão a glória de Deus em nós, porque o que somos e temos, doprincípio ao fim, existe por Ele e para Ele. O Espírito com o qualfomos selados quando cremos nos dá a certeza de que aquele que atéo vento e o mar obedecem é o Filho de Deus e que Ele é poderosopara nos conduzir em segurança até o fim desta jornada. Se Deus épor nós, quem será contra nós?
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PERSEVERANDO NO CHAMADOJoão 21:1-13
“Lançai a rede à direita do barco e achareis.”
Nem sempre as respostas que damos aos estímulos de Deus sãopositivas. Na luta do Espírito contra a carne, vez por outra a carnefala mais alto. Diante das grandes ondas, vem a falta de fé; diante dodesconhecido, surge o medo; diante dos desafios, brotam as dúvidas;diante das circunstâncias, aparece o desânimo. A nossa impressão aolermos o relato de João 21:1-13 é que, após a crucificação de Cristo,os seus discípulos pareciam haver desanimado, como se não tivessempresenciado todos os milagres, visto todos os sinais e ouvido todas aspregações e ensinos que apontavam para a messianidade de Jesus eanunciavam a sua obra vicária na cruz (cf. Lc 9:21,22; Mc 8:31; Mt16:21). Na verdade, a narrativa desta nova pesca maravilhosaencontra-se após as aparições de Jesus aos seus discípulos depois dasua ressurreição. A expressão “Depois disto” (cf. a mesma expressãoutilizada em 5:1; 6:1 e 7:1) não denota uma sucessão imediata detempo, mas um intervalo no qual ocorreram outros eventos. Jesus“tornou” a manifesta-se aos seus discípulos, ou seja, como já tinhafeito antes, mostrando um elo entre essa aparição e outrasmanifestações registradas no mesmo Evangelho: Ele apareceu aMaria Madalena (20:11-18) e aos seus discípulos, confrontando aincredulidade de Tomé (20:19:29). Na ocasião desta nova aparição,seguindo uma sugestão de Pedro, seis discípulos passaram a noiteinteira pescando no Mar de Tiberíades (ou Mar da Galileia): Tomé,Natanael, os filhos de Zebedeu e mais outros dois discípulos que nãotêm os nomes mencionados. Enquanto aguardavam os eventosprometidos por Jesus, eles decidiram não ficar ociosos, masprocuraram trabalhar pelo seu sustento. Durante toda a noite, comoacontecera em outro episódio, eles não conseguiram pescar nada (Lc5:1-11; cf. Barco 3).Costumamos ler este episódio com as lentes do desânimo: osdiscípulos desistiram do seu ministério e voltaram aos seus antigosafazeres. E foi com esse pensamento que iniciei este estudo.Contudo, conforme me aprofundei no tema, percebi que aqueleshomens não tinham motivos para desanimar, para voltar aos seusafazeres, pois a promessa do Senhor havia se cumprido. Aressurreição era o início de uma nova Aliança, selada com sangue nacruz, de uma nova fase para o povo de Deus e do nascimento daIgreja. Eles provavelmente estavam ansiosos por espalhar as boas-novas de que o Senhor ressuscitou, de que Ele vivia e que de fato erao Filho de Deus! Mas por qual motivo os discípulos não pregaram oEvangelho após constatarem que Cristo havia ressuscitado? Por que
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eles não noticiaram a todos os judeus ali presentes e a todos quantospudessem ouvir que o Senhor voltara dos mortos e estava no meiodeles? Imaginemos a cena dos discípulos e Jesus entrando no templo,indo confrontar os fariseus. Talvez eles diriam: “Vocês crucificaram onosso Mestre, mas eis que Ele está aqui conosco, vivo!”. Que grandevitória seria expor Jesus como um troféu, um triunfo da sua fé.Também não vemos Jesus indo até os fariseus, com seu corpoglorioso, impossível de sofrer novamente as dores do flagelo romanoou de uma nova crucificação, declarando a sua vitória e destruindotodos os seus inimigos. Será que todos não se curvariam ao vê-lo ali,vivo diante deles? Ele não fez isso, porque o seu Reino não é destemundo, como Ele já havia declarado na ocasião do seu interrogatóriodiante de Pilatos (Jo 18:36). Os planos de Deus estavam muito alémde convencer uma geração de judeus de que Jesus Cristo era oSenhor. Era preciso ir muito mais além, convencer o mundo inteiroem todas as eras, até a consumação do século.Os discípulos permaneceram como estavam, voltaram às suasatividades corriqueiras porque o Senhor ainda não havia subidoglorioso aos céus, porque Ele não tinha enviado o Espírito Santo (Jo16:7,8). Além disso, depois o Senhor lhes daria ordens expressaspara ficarem em Jerusalém até que do céu fossem revestidos depoder para serem suas testemunhas (Lc 24:49; At 1:4,8). Quando osdiscípulos voltaram sem haver pescado nada, lá estava Jesus a suaespera. O Senhor indagou se eles tinham alguma coisa para comer.Diante da resposta negativa, ordenou que eles lançassem a rede àdireita do barco, o que eles prontamente fizeram. Grande foi adificuldade dos discípulos para puxar a rede com a enormequantidade de peixes que foram pescados! Eles então reconheceramque estavam diante do Senhor. Talvez tivessem se lembrado daúltima pesca maravilhosa, logo no início do seu ministério e então osseus olhos se abriram. O discípulo amado, João, foi o primeiro areconhecer Jesus, lançando-se ao mar para ir ao seu encontro (v. 7).É certo que João fez uma analogia entre este episódio e o anterior.Quem mais poderia ser? Somente o Filho de Deus tinha poder paraoperar milagre tão grandioso. Jesus demonstra que Ele é o Alfa e oÔmega, o princípio e o fim, que jamais muda nem deixa para trásseus planos eternos. O Jesus da primeira pesca era o mesmo daquelenovo milagre!Quando os discípulos chegaram à praia, já tendo trazido obarco com os peixes, encontraram tudo preparado pelo Senhor paraque pudessem se alimentar (vs. 9,10). Neste ponto, João registra umfato marcante: “Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. Nenhum dosdiscípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? Porque sabiam que erao Senhor” (v. 12). Aqui recordamos de outra narrativa envolvendoJesus, seus discípulos e uma viagem de barco (cf. Barco 4), quandoeles se perguntaram espantados: “Quem é este que até aos ventos eàs ondas repreende, e lhe obedecem?” (Lc 8:25). Já em outraocasião, eles obtiveram a sua resposta: “Verdadeiramente és Filho de
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Deus” (Mt 14:33; cf. Barco 5). Não havia mais nenhuma dúvida, nãoera necessário questionar, porque eles já conheciam e tinhamcerteza da identidade divina daquele que ali, sentado na areiadaquela praia,comia com eles. O aprendizado ficou nas suas mentese no seu coração, não havia mais dúvida alguma nem medo ouespanto, apenas a constatação feliz de que o seu Mestre era,também, o seu Senhor.Esse episódio nos traz algumas reflexões importantes para anossa vida cristã. Primeira: Jesus mostra claramente aos seusdiscípulos aquilo que já havia lhes ensinado: “Sem mim, nada podeisfazer” (Jo 15:1-5). Sem a presença de Jesus, eles poderiam passarainda outra noite tentando conquistar algo e jamais conseguiriam.Eles não eram mais deles mesmos, mas pertenciam ao Senhor.Segunda: aquela pesca serviu para lembrar-lhes quem elesrealmente eram: pescadores do Reino de Deus. Os apóstolosreceberam a lição de que não eram mais parte daquele mar, mas queo Senhor já havia preparado outras águas para eles navegarem: ummar de almas amadas e escolhidas por Deus para serem fisgadas porsua maravilhosa graça. Aprenderam, também, que não era pela suacapacidade, conhecimento e técnica, mas pelo poder de Jesus Cristoque eles se tornariam pescadores de homens e mulheres. Era precisoum poder além das suas fraquezas e limitações, e este viria com adescida do Espírito Santo. Do mesmo modo que fora preciso oSenhor intervir naquela pesca de seres marinhos, o Espírito se fazianecessário para lhes dar poder para empreenderem a pesca de sereshumanos.O Espírito Santo estava constantemente com o Senhor (Lc4:18,19). Esse mesmo Espírito foi prometido aos apóstolos, de modoque eles deveriam esperar onde estavam até serem revestidos peloseu poder: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai;permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos depoder” (Lc 24:49). O Espírito os ensinaria todas as coisas e oscapacitaria para pregar o Evangelho (Jo 14:16-26; At 1:8). Aqueleshomens não poderiam cumprir a obra para a qual foramcomissionados com a sua capacidade humana, era preciso quefossem revestidos de um poder do Alto, o que veio a acontecer no diade Pentecostes (Atos 2). A partir dali, eles de fato se tornaramtestemunhas do Reino de Deus, pregando as boas-novas e dando assuas vidas para que muitas outras conhecessem Jesus, o Salvador.Eles perseveraram naquilo em que foram chamados pelo poder doEspírito Santo. É assim também na vida da Igreja: é o Espírito quemnos enche e capacita para a sua obra. Nada podemos fazer sem Ele;e quanto mais deixamos de viver nele para andar segundo a nossacarne, mais nos distanciamos do alvo, embora ele será alcançado,porque os planos de Deus não podem ser frustrados.O que acontece com muitas igrejas hoje é que deixaram de ladoa Bíblia para pegar de novo as redes; deixaram de investir naconquista de almas para investir em algo mais imediato e de lucro
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financeiro: as bênçãos que essas almas almejam alcançar aqui nestavida. Não porque sabem o que precisam fazer antes da volta doSenhor, mas porque estão acomodadas, porque abandonaram oprimeiro amor para investir em algo que possa lhes dar retornoimediato, não em almas, mas em bens deste mundo. Elas jogam arede do lado esquerdo do barco e se alegram com a quantidadeimensa de peixes que pescam, sem entender que estão jogando arede errada no mar errado, estão pregando a mensagem errada paraarrebatar o maior número possível de pessoas. Essa pesca predatóriae imoral não faz parte da verdadeira Igreja do Senhor nem pode serchamada de pregação do Evangelho, mas é uma forma distorcida deapresentar Deus. Por que esses pregadores insistem em ficar nosseus barcos e jogar suas redes dessa forma? Porque eles nãopossuem o Espírito Santo de Deus, não são pescadorescomissionados pelo Senhor, mas por sua própria ganância. Todas asações praticadas pela Igreja, sejam elas evangelísticas ou dequalquer outra natureza, só podem ser legitimadas como divinas pormeio da atuação do Espírito Santo. Qualquer esforço de fazer avontade de Deus sem a direção do Espírito não levará à glorificaçãodo Senhor Jesus.João registra que esta fora a terceira vez que Jesus apareciaaos seus discípulos depois de haver ressuscitado dentre os mortos (v.14). Ele registra, também que, após terem comido, Pedro passa porum interrogatório, que continha apenas uma pergunta de Jesus: “Tume amas?” (vs. 15-17). Pedro havia negado Jesus por três vezes, eagora é inquirido três vezes sobre amar o Senhor. Quando Jesuspergunta a Pedro “amas-me mais do que esses outros?”, vemos umaclara referência à declaração do discípulo no cenáculo, na últimaceia antes da crucificação. Os evangelistas registram o ocorrido dediferentes maneiras. Em Mateus, após Jesus indicar que, na ocasiãoda sua prisão, todos se escandalizariam, Pedro afirmou: “Ainda quevenhas a ser tropeço para todos, nunca o serás para mim” (Mt26:33). Em Marcos, lemos: “Ainda que todos se escandalizem, eujamais!” (Mc 14:29). Em Lucas, o Senhor avisa Pedro sobre os planosque Satanás tinha para ele, mas o discípulo argumenta: “Senhor,estou pronto para ir contigo, tanto para a prisão como para a morte”(Lc 22:33). No Evangelho segundo João, Pedro questiona o Senhorsobre o lugar para onde iria, e afirma: “Senhor, por que não possoseguir-te agora? Por ti daria a própria vida” (Jo 13:37). Portanto, apergunta de Jesus a respeito do seu amor – se o amava mais do queos outros discípulos – despertava na mente de Pedro a lembrança deum amor que ele afirmava ter por Jesus, mas que não foi capaz dedemonstrá-lo, porque o negou nas três oportunidades que teve de,como ele próprio havia afirmado, dar a vida pelo Mestre.Mas Jesus não estava ali para repreender Pedro, para depor-lhedo cargo de apóstolo, tendo em vista ter ele agido como um covarde.Dois motivos podem ser citados para explicar isso. Primeiro, aescolha dos doze apóstolos partira de uma vontade soberana de
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Deus, não deles (Jo 15:16). Em sua oração sacerdotal, quando oSenhor intercede ao Pai pelos seus discípulos, afirma: “Quando euestava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que secumprisse a Escritura” (Jo 17:12). Portanto, mesmo tendo negado aJesus por três vezes, Pedro não havia se perdido, porque foraescolhido por Deus para a salvação e para o ministério apostólico, eDeus não voltou atrás nessa escolha. Segundo: Assim comoaconteceu na sua caminhada sobre o mar, o apóstolo Pedro nãoestava de pé por causa da sua capacidade e força, mas pelo poder deDeus, a despeito das suas muitas limitações e falhas. Jesus mostra aoseu discípulo que não desistiu dele, que não somente entende, comojá sabia da sua fraqueza ao negá-lo. Isso confirma o que o próprioSenhor dissera sobre a salvação: “Não vim chamar justos, e simpecadores, ao arrependimento” (Lc 5:32). O que fez com que Pedroperseverasse no Caminho, mesmo após o triste episódio da negaçãode Cristo, foi o próprio Senhor Jesus Cristo, porque é dele que vem opoder para nos manter firmes na fé e salvos para sempre.O diálogo com Pedro é um diálogo restaurador. Jesus mostraque reconhece a pequenez de Pedro, mas mostra que mesmo assim ousará para apascentar as suas ovelhas. Ao perguntar “amas-me”,Jesus usa o verbo grego agapao, que envolve, segundo A. J. Macleod,(1990)18, uma escolha deliberada. Na sua resposta, porém, Pedro usauma forma inferior de amor, o que corresponde a “gosto de”. Já no v.17, Jesus utiliza a mesma expressão que Pedro utilizara, “Gostas demim?”, onde emprega o verbo phileo, o que leva o apóstolo a seentristecer. Podemos perceber a humildade de Pedro, porque eleestava diante daquele para quem prometera que jamais oabandonaria, porém, não fora capaz. Mas o Senhor estava aliconfirmando a sua fé e o seu apostolado: “Apascenta as minhasovelhas”. Todo o restante dos escritos do Novo Testamento nosrevelaráque Pedro tornou-se o homem, servo e líder que Jesus haviaescolhido para liderar a sua Igreja juntamente com os outrosapóstolos, pregar o Evangelho e dar a própria vida por essaMensagem de salvação para os perdidos (cf. 1 Pe 2:23; 5:2-4)19.Se pararmos para analisar de um ponto de vista maisabrangente, a declaração feita por Pedro de que daria a própria vidapor Jesus e que jamais o abandonaria, acabou se concretizando. Nãoantes da crucificação, não antes da ressurreição, não antes daascensão do Senhor aos céus, não antes da descida do EspíritoSanto. Ali mesmo, naquela praia, após confirmar o ministério de
18 In O novo comentário da Bíblia, vol. 2. São Paulo: Vida Nova, 1990.
19 O tema da liderança é importante para a Igreja atual, que parece viver umacrise de líderes cheios do Espírito Santo. No livro “A liderança de Neemias”, tragoum excelente estudo sobre a vida desse grande profeta de Deus, comprometidocom o seu Senhor e com a sua obra. Abordo temas bem atuais e importantes para olíder da Igreja de Cristo: paixão e zelo pela glória de Deus, sensibilidade, confissãode pecados, vida de oração, vida sacrificial, planejamento, entre outros.Lançamento em breve
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Pedro, o Senhor o advertiu: “Em verdade, em verdade te digo que,quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por ondequerias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro tecingirá e te levará para onde não queres. Disse isso para significarcom que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois deassim falar, acrescentou-lhe: Segue-me” (Jo 21:18,19). Jesus estavaprofetizando a morte de Pedro por crucificação, o que veio acontecerentre 64-67 d.C. sob as ordens de Nero. Pedro perseverou no seuchamado, bem como todos os outros apóstolos, porque as suas vidas,a sua fé e a sua salvação estavam firmadas numa Rocha inabalável: onosso Deus e Senhor Jesus Cristo20.
20 No livro “Os leões e a fornalha”, trago um estudo importante sobre a vida degrandes homens de Deus, acentuando a maneira como enfrentaram os riscos demorte vivendo cativos na Babilônia, mantendo firme a integridade do seu caráter,da sua fé e da sua confiança em Deus. Eles são modelos para a Igreja hoje, quevive inserida num mundo que a todo instante deseja tragá-la e enfrenta um inimigoferoz que luta para destruí-la: Satanás. Os apóstolos eram como Daniel e seusamigos: eles jamais se curvaram nem desistiram, mas cumpriram a sua missão.Lançamento em breve!
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O PREÇO DE SEGUIR A JESUSAtos, capítulos 27 e 28
“Paulo, não temas! É preciso que compareças perante César, e eis que Deus, por sua graça, te deu todos quantos navegam contigo.”
Quanto custa seguir a Cristo? Infelizmente, vivemos um momentoatual do cristianismo em que poucos sentem na pele o preço de crerno Senhor. Com exceção da Igreja perseguida, dos cristãos que aindasão assassinados brutalmente em países comunistas ou de religiãoislâmica, por exemplo, o cristão e o mundo demonstram haverestabelecido uma espécie de trégua. Ou o que é pior: parecem“enamorados”. A Igreja já não incomoda tanto, os seus valores nãocausam mais tanto contraste com os valores do mundo. Em algunscasos somos forçados a reconhecer que as trevas estão influenciandoa luz e o fel do mundo está tirando o sabor do sal da Igreja.Acabamos nos perguntando sobre o que é ser cristão. Será quesomos verdadeiramente “pessoas de Cristo” ou apenas seguidores demais uma religião, como o judaísmo, o islamismo e o budismo? Se omundo não está incomodado com a nossa presença, se a nossapregação não coloca em xeque os valores mundanos que gerammorte, se o nosso estilo de vida não nos identifica como seguidoresde Jesus, algo está muito errado. Será que estamos no mesmo barcoque o Senhor? Dificilmente, pois Jesus jamais remará um barco ondenós damos as ordens. É Ele sempre o capitão, não nós21.Aqueles que creem em Jesus, alegram-se com o fato de nãoprecisarem merecer a salvação, pois o preço do nosso pecado foipago por Cristo na cruz, salvando-nos totalmente pela sua poderosagraça. Não podemos, contudo, ficar apenas com um único lado dahistória: sentados, salvos e satisfeitos. Jesus pagou o preço da nossasalvação uma única vez, mas todos os dias nós pagamos o preço porsegui-lo. Não que Deus nos cobre algo ou que esse pagamento énecessário para sermos salvos, mas tal preço é um resultado naturalpor optarmos por seguir Aquele que o mundo odeia (Jo 15:18-27).Essa informação nem sempre está em evidência nas pregaçõesatuais, onde o pecador é tratado como um coitadinho que precisa serfeliz e que se aceitar a Jesus terá todos os seus problemas resolvidos.Essa é uma teologia liberal e mundana que quer tirar o lugar do
21 No livro “Espiritualidade líquida: caminhos e descaminhos da espiritualidadecristã”, apresento ao leitor uma preocupação legítima com a espiritualidade dacristandade atual, que parece seguir os passos da “modernidade líquida”, termocunhado pelo sociólogo Zygmunt Bauman. Abordo temas como: ausência de umaidentidade cristã, distorção e ausência de valores, falta de modelos apropriados,individualismo exacerbado, supervalorização da experiência, customização da fé,entre outros.
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Evangelho. O que geralmente não se comenta, é que existe uma cruza ser carregada através da negação de si mesmo (Lc 9:23,24). Ora,se o desejo de grande parte das pessoas que hoje lotam as igrejas éangariar bênçãos para si mesmas, crescer financeiramente, alcançara vitória, como entenderão que para seguir a Jesus é precisoautonegação? Se os pregadores da prosperidade afirmam que Jesuslevou na cruz todas as suas enfermidades e crises financeiras, comoaceitarão que precisam ainda carregar uma cruz? De fato, oEvangelho bíblico não compactua com o evangelho mundano, muitopelo contrário: ele esvazia igrejas! Só fica quem é realmente salvo.Os apóstolos e a grande maioria dos cristãos de sua épocaviveram o verdadeiro e único Evangelho de Jesus Cristo. O apóstoloPaulo é o nosso maior exemplo, não somente porque ele recebeudiretamente do Senhor a promessa de que haveria de enfrentargrandes adversidades no seu ministério (At 9:15,16; 20;22,23), mastambém porque todas elas estão relatadas no livro de Atos e nas suaspróprias cartas e epístolas (2 Co 11:32,33; At 13:50-51; 14:19;16:23,24; 19:23-26; 21:27-31). A tradição da história da Igrejainforma que Paulo foi decapitado em Roma, sob ordens do imperadorNero, por volta do ano 67 ou 68 d.C. O texto mais significativo queresume tudo aquilo que esse grande apóstolo do Senhor sofreu é 2Coríntios 11:16-33, onde ele relaciona o que enfrentara peloEvangelho, como resultante do seu compromisso com Deus e do seuamor pelas almas dos perdidos. Paulo – ao contrário dos mercenáriosque hoje se declaram apóstolos, sucessores dos 12, que visam tãosomente poder, fama e dinheiro – estava focado nas almas dospecadores, no discipulado dos crentes e na sua vida no céu.Este novo episódio situa-se no livro dos Atos dos Apóstolos,capítulos 27 e 28. Todavia, ele começa bem antes, no capítulo 21. Naocasião, Paulo estava na Cesareia e pretendia viajar para Jerusalém,mas havia uma profecia a respeito disso: um profeta chamado Ágabo,tomou o cinto de Paulo, ligando com ele os próprios pés e as própriasmãos, afirmando: “Isso diz o Espírito Santo: Assim os judeus, emJerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dosgentios” (v. 11). Houve grande quebrantamento entre os irmãos porcausa disso, rogando ao apóstolo que não subisse a Jerusalém (v. 12).Ele, porém, disse-lhes: “Que fazeis chorando e quebrantando-me ocoração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até paramorrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (v. 13)22. Paulo eraum servo que tinha intimidade com o seu Senhor, que seguia asorientações que o Espírito lhe dava a respeito do seu ministério.Portanto,ele sabia que aquela profecia era verídica, que algo oaguardava em Jerusalém, e não seria nada bom. Como nãoconseguiram persuadi-lo do contrário, os irmãos disseram: “Faça-sea vontade do Senhor”! (v. 14). Tudo o que aconteceu depois revelaqual era a vontade do Senhor, e Paulo não temeu enfrentá-la.
22 Esta fala de Paulo nos lembra bastante a declaração de Pedro a Jesus: “Senhor,estou pronto para ir contigo, tanto para a prisão como para a morte” (Lc 22:33).
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Não podemos entender a atitude de Paulo de enfrentar umapossível prisão em Jerusalém como insensata. Podemos conjecturarque ele deveria ter sido mais prudente, esperado mais um poucopara ir a Jerusalém. Mas Paulo não era irresponsável, ele sabia omomento certo de fugir e a melhor hora para enfrentar, porque eraguiado por Deus. Em Atos 9:20-25, por exemplo, depois pregar emDamasco logo após a sua conversão, os judeus já haviam iniciado suaperseguição contra o apóstolo do Senhor. Eles deliberaram tirar avida de Paulo, mas isso chegou ao seu conhecimento. Naquelaocasião, ele não enfrentou os judeus, não foi até onde eles estavampara, quem sabe, mostrar que Jesus era poderoso e estava do seulado. Muito pelo contrário, Lucas relata que “os seus discípulostomaram-no de noite e, colocando-o num cesto, desceram-no pelamuralha” (v. 25; cf. o seu próprio relato em 2 Coríntios 11:32,33).Aquela não era a hora, ainda havia muito que ser feito pela pregaçãodo Evangelho. Muito mais tarde, como veremos, a hora de enfrentaro inimigo chegou, mas não sem motivo algum, porém, seguindo umpropósito determinado de Deus.De imediato, podemos tirar duas grandes lições da vida doapóstolo Paulo até aqui. Primeira: a sua vida não girava em torno desi mesmo, daquilo que poderia conquistar para si com o seuministério. As benesses de Paulo estavam no céu, onde ele ansiavapor estar, e nas almas que deveriam ouvir a mensagem da cruz. Agraça de Deus o convencia disso e o movia nessa direção, da qual elejamais poderia se desviar. Ele afirmou em sua célebre frase:“Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp1:21)23. Se viver para ele era Cristo, sofrer por amor a Cristo era umahonra e uma alegria. Esse desprendimento de Paulo difere da fécristã atual, em que viver para Cristo é fonte de lucro, em que a fédeve ser vivida sem dor nem perdas, só ganhos; em que poucos sãocapazes de enfrentar quaisquer perigos por amor ao Evangelho.Segunda: a fé de Paulo não era desprovida de razão, mas elediscernia o momento exato de cada coisa acontecer. Evitava o quepodia ser evitado, enquanto vivia intensamente o inevitável. Elesabia, inclusive, quais ações estavam por detrás dos obstáculos aoseu ministério. Quando tentou retornar à recém-fundada igreja deTessalônica, Paulo foi impedido por Satanás (1 Ts 2:18). A suaviagem para Roma, mesmo sob o risco de morte, revelava-se comoum plano de Deus. Entretanto, mesmo comissionado pelo próprio
23 A vida do apóstolo Paulo serve de inspiração para a nossa caminhada cristã. Opróprio Paulo possuía autoridade para se colocar como exemplo a ser imitadonaquilo que ele mesmo imitava a Cristo. E é isto que a Palavra nos ensina: aimitarmos a Cristo, que é Deus. Mas como imitar um Ser tão Santo? Este é o temado meu livro “Imitadores de Deus”, onde trago ao leitor um estudo sobre osatributos morais de Deus que podem e devem ser imitados por aqueles que por Eleforam salvos e santificados. Não podemos criar as coisas do nada como Deus criou,mas podemos amar como Ele amou, perdoar como Ele perdoou e sermisericordiosos com os outros como Ele é conosco. Lançamento em breve! Veja olivro já publicado: “Alcançado pela graça: a conversão do apóstolo Paulo.”
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Senhor e dirigido por Ele, o apóstolo Paulo não tentava a Deus, nãose envolvia em situações de risco apenas para provar que Deusestava a seu favor. Quantos hoje tentam a Deus, envolvem-se emdívidas e outras questões por acharem que Deus lhes valerá. Fazemtudo cegamente pela fé, uma fé desprovida de razão e embasamentobíblico.A partir do capítulo 21:27 até o capítulo 26, veremos a prisãodo apóstolo Paulo e os diferentes interrogatórios a que foi submetido.Se a multidão gritava que crucificassem o Senhor, agora ela gritaque matem Paulo: “Mata-o” (21:36). Aqui vemos como Pauloexperimenta na própria pele o que o Senhor lhe disse no caminhopara Damasco: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (9:5). Agora elepróprio colocava-se no lugar de Jesus, sendo perseguido e preso porsua fé. Afinal, Paulo era membro da Igreja do Senhor, e persegui-loera perseguir o próprio Senhor Jesus. A defesa de Paulo relata a suaconversão e a forma como perseguia a Igreja, consentindo, inclusive,na morte de Estêvão (22:1-21). Conforme a turbe se revoltavadesejosa por vê-lo morto, Paulo mais uma vez usou de estratégia,porque não haveria de morrer ali. Ele revelou a sua cidadaniaromana (22:25). Além disso, instaurou grande confusão entre os seusacusadores (saduceus e fariseus), causando enorme dissensão entreeles por conta da ressurreição dos mortos (23:6-10). Na noiteseguinte, o Senhor revelou a razão de tudo aquilo: “Na noiteseguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois domodo por que deste testemunho ao meu respeito em Jerusalém,assim importa que também o faças em Roma” (23:11).Paulo escreveu aos crentes de Roma: “Sabemos que todas ascoisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daquelesque são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28). Ele escreveuisso porque experimentou o cuidado do Senhor diariamente. Osjudeus armaram uma cilada para matá-lo, mas Deus o livrou atravésde pessoas que jamais o abandonariam (23:12-25). Em toda anarrativa de Atos vemos a mão do Senhor guiando, protegendo elivrando o seu servo fiel. Apesar de tudo que sofrera e da intençãoassassina dos judeus e de todo o povo, Paulo jamais sofrera qualquerrisco real, porque a sua história não acabaria ali. Ele, então, apelapara César (25:11). Mais adiante vemos que Paulo teria sido solto senão tivesse apelado para ser levado para Roma. O próprio rei Agripaafirmou: “Este homem bem que podia ser solto, se não tivesseapelado para Cesar” (26:32). Não havia dúvidas de que Paulo erainocente de todas as acusações dos judeus, também não havia nadaque pudesse fazê-lo merecer alguma punição por parte das leisromanas. Entretanto, além de não temer a morte, Paulo tinha na suamente as palavras do Senhor: importava que ele desse testemunhotambém em Roma. Então era para lá que ele deveria ir.No capítulo 27, vemos o apóstolo Paulo embarcando preso emum navio rumo à Itália. Com ele foram dois amigos: Lucas, autor dolivro de Atos, e Aristarco. Aristarco foi um dos delegados que
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levaram a contribuição aos crentes pobres de Jerusalém (20:4). EmColossenses 4:10, parece-nos que ele foi prisioneiro juntamente comPaulo ou viajou como seu companheiro. Paulo estava onde o Senhordeterminara, revelando o seu caráter como apóstolo (enviado) deDeus, que obedece às suas orientações e se mantém firme em seuchamado. Alguns cristãos (místicos e enclausurados, como mongesem mosteiros distantes ou aquele evangélico domingueiro) achamque podem viver a sua fé longe dos mares tempestuosos da vida,distantes do campo onde a verdadeira batalha acontece24. Elesguerreiam de longe, buscando a presença de Deus em rituais etranses, esquecendo-se que Deus nos chamou e nos enviou parasalgar e iluminar o mundo, para dar frutos. Como a semente poderácrescer e dar frutos sem estar em contado com o solo? Como umsoldado vencerá a guerra escondido no quartel? O v. 4 mostra quePaulo e todos aqueles homens navegavam através de ventoscontrários. Nem a viagem nem os ventos pareciam a favor, mas Deusjá havia traçado a rota e o destino do seuservo.A viagem foi longa e muito perigosa, com diversas paradaspara troca de navio (vs. 4-8). Os navios daquela época com certezanão contavam com o conforto que temos hoje, ainda mais em setratando de transporte de prisioneiros. A narrativa detalhada daviagem do último navio é de tirar o fôlego! O autor, Lucas, conta emdetalhes os pensamentos, sentimentos e ações daqueles homens queenfrentavam um mar tempestuoso e um iminente naufrágio. Antesque pudessem chegar à terra firme, eles foram assolados por umtufão de vento (v. 14), desencadeado do monte Ida, em Creta,arrastando-os para longe da ilha. O apóstolo Paulo os havia dito:“Senhores, vejo que a viagem vai ser trabalhosa, com dano e muitoprejuízo, não só da carga e do navio, mas também da nossa vida” (v.10). Talvez por alguma revelação de Deus ou por experiênciaprópria, Paulo conhecia os perigos que enfrentariam, mas ocenturião dava mais crédito ao piloto do que ao que ele dizia (v. 11).A narrativa nos mostra que Paulo estava certo, pois as dificuldadesenfrentadas ao navegar por aquele mar tempestuoso, apesar detodos os esforços empregados para manter o barco flutuando einteiro, toda a esperança daqueles homens se dissipou: “E, nãoaparecendo, havia alguns dias, nem sol nem estrelas, caindo sobrenós grande tempestade, dissipou-se, afinal, toda a esperança desalvamento” (v. 20).Não imagino que alguém pudesse comer ou dormir naquelenavio, mas apenas pensar na sua própria morte, lembrar de tudo quehavia deixado para trás, antes de embarcar naquela fatídica viagem,e os planos traçados para a chegada ao seu destino. Agora, nada
24 O que falta ao cristianismo hoje é uma fé menos mística e mais racional,inteligente. No meu livro “Inteligência espiritual: vivendo uma espiritualidadecoerente e prática”, esse tema é abordado, trazendo ao leitor uma visão bíblica daespiritualidade cristã, que envolve a transformação integral do nosso ser e nosinsere numa prática cotidiana que vai muito além da liturgia do culto, de práticasdevocionais e de usos e costumes.
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disso parecia fazer sentido. Mas será que esse mesmo sentimento dederrota e desespero pela iminente morte rondava a alma de Paulo?Com certeza não! Quando o Senhor lhe disse que era preciso quetestemunhasse dele em Roma, era como se tivesse dito aos seusdiscípulos: “Passemos para a outra margem”. E da mesma formacomo Jesus não havia abandonado seus discípulos naquela ocasião,também não abandonara Paulo, muito pelo contrário: estava ao seulado e o orientava a respeito da viagem. Não importavam os ventos, ofuracão nem mesmo o desespero de todos os outros, porque Pauloestava seguro, sabia que haveria de chegar a Roma. A todo instante,o apóstolo ia consolando aqueles homens, o que incluía confrontá-loscom uma verdade: “Senhores, na verdade, era preciso terem-meatendido e não partir de Creta, para evitar este dano e perda” (v.21). Se tivessem ouvido as palavras de Paulo, não teriam nenhumaperda material, não teria sido necessário aliviar a carga do navionem jogar fora todo o seu armamento. É o que acontece com todosaqueles que deixam de ouvir a voz de Deus para confiar na palavra ena capacidade dos homens. É o que tem acontecido com a Igreja, quedeixa de lado a Palavra de Deus para dar ouvidos aos falsos mestres,falsos profetas e falsos apóstolos.O apóstolo Paulo garantiu àqueles homens que nenhuma vidase perderia entre eles, apenas o navio (v. 22). E revela o motivo:“Porque, esta mesma noite, um anjo de Deus, de quem eu sou e aquem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas! É preciso quecompareças perante César, e eis que Deus, por sua graça, te deutodos quantos navegam contigo” (v. 23). Será que você percebeualguma mudança nessa narrativa? O apóstolo Paulo subira a bordocomo prisioneiro, a sua vida estava nas mãos daqueles homens, tantodo centurião que o conduzia e dos soldados, quanto do capitão donavio e seus marinheiros. Agora a situação é outra: todos estão emsuas mãos, sob os seus cuidados. A vida daqueles homens passou adepender daquele que traziam como malfeitor para ser interrogadoem Roma. Mas, enxergando mais profundamente este episódio,podemos entender que o tempo todo, tanto Paulo como os demais,estiveram sob a proteção do Senhor. Não fora Paulo, os judeus ou asautoridades romanas que determinaram aquela viagem, mas opróprio Deus de quem Paulo era e a quem servia. Paulo não estavasozinho, pois o Senhor que o chamara e que lhe prometera tantaslutas e dores, era o mesmo que jamais o abandonou e que sempreesteve com ele nos seus momentos de aflição. Paulo cria que haveriade “chegar à outra margem”, pois havia um plano de Deus já traçadopara a sua vida que jamais poderia ser frustrado.Os versículos 27 a 44 relatam o naufrágio. O apóstolo Pauloperseverou na sua fé, mesmo que rodeado de homens quedesesperavam da própria vida. Num dado momento, ele procurouanimá-los para que comessem algo, porque havia dias não sealimentavam, garantindo-lhes que nem mesmo um fio de cabelo desuas cabeças seria perdido (vs. 33,34). Dizendo isso, tomou um pão,
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deu graças a Deus na presença de todos e pôs-se a comer (v. 35). Aotodo, havia 276 pessoas no navio. Após terem se alimentado, jogaramo trigo no mar. Diante da consequente perda do navio, que começaraa destroçar-se, os soldados decidiram matar todos os presos, paraque nenhum deles fugisse, mas o centurião, para salvar Paulo,impediu que isso acontecesse (vs. 42,44). Por fim, todos se salvaramem terra firme, nenhum deles se perdeu, porque a Palavra do Senhorhaveria de se cumprir. Ao chegarem à ilha de Malta, foram bemtratados pelos nativos, e ali Deus mostrou a Paulo e a todos ospresentes, que os seus planos jamais poderão ser frustrados. Aoajuntar Paulo um feixe de gravetos para a fogueira, uma víbora seprendeu em sua mão. Todos o julgaram como assassino que nãoescapara da Justiça, mas Paulo não sofreu mal algum, o que fez comque pensassem ser ele um deus (vs. 1-6).O apóstolo Paulo, com certeza, não era um deus, mas Ele serviaÀquele que criou os céus, a terra e o mar – e as víboras! Desde o seuchamado no caminho para Damasco até o instante de sua morte, ogrande apóstolo e missionário jamais abandonou o Caminho, jamaisdeixou de lado a sua fé, jamais parou de confiar naquele que oelegera para alcançar a salvação antes da fundação do mundo. Entãoele podia dizer: “Porque para mim tenho por certo que ossofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com aglória a ser revelada em nós” (Rm 8:18). Nem todos estão dispostosa pagar o preço para seguir a Jesus, a carregar a sua própria cruz enão amar o presente mundo, mas desejam tão somente a segurançade que terão as suas orações atendidas. A Igreja hoje parece estarnum imenso navio açoitado por grandes ondas, num mar bravio queameaça afundá-la. Para aliviar o seu peso e manterem-se firmessobre o mar, alguns têm jogado fora cargas muito preciosas, como adoutrina da cruz, o amor ao próximo, a santidade, a obediência àPalavra de Deus e o compromisso integral com o seu Reino. Elesainda não entenderam que não devem prestar atenção nas ondas domundo e que a sua viagem é curta e em breve terminará. O Senhorgarantiu a Paulo que ninguém se perderia, mas que todos seriamsalvos. Ele nos dá a certeza de que a nossa peregrinação nestemundo chegará ao fim e finalmente poderemos comparecer diante donosso Imperador. Aquele que começou a boa obra em nós, há decompletá-la (Fp 1:6). Permaneçamos firmes no Senhor pela suagraça eficaz, pagando o preço na certeza de que o mais precioso nósjá temos: a vida eterna nos céus, mesmo que esse barco mortal –nosso corpo – precise se despedaçar nas grandes ondas daperseguição.
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MIZAEL DE SOUZA XAVIEROlá! Sou o Mizael Xavier, poeta e escritor. Tenho 52 anos de idade.Comecei a escreverpoemas aos 12 anos, quando eu e meu irmãosonhávamos montar uma banda de Rock; os meus poemas seriam asletras das nossas músicas. Sou natural da cidade de Petrópolis, RJ, eresido no Rio Grande do Norte há 28 anos. Sou cristão reformado,divorciado, conservador, pai de Thiago e Milena. Possuo inúmerosartigos publicados em jornais de Natal. Realizei vários trabalhoscomo ator, diretor e multiplicador de Teatro do Oprimido. Além deescrever, sou ensaísta e teólogo. Em 2013, formei-me em Gestão deRecursos Humanos pela Universidade Potiguar. Sou autor dos livrosfísicos “Eu te amo” (poesia), “Memórias do Silêncio”(autobiografia/Bullying), “Até onde o amor pode alcançar” (poesias)e “Minha poesia” (antologia poética) Participei de duas antologias daeditora Lírio Negro (Brasilidade em Versos e Fragmentos de almaseternizadas), e da antologia ¨Poemas do coração V: Em busca daPaz”, da editora Antologias Brasil. Além disso, possuo mais de 100 e-Books publicados na Amazon. Sou membro da Igreja Batista.
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Blog de poesias: www.escrevicomavida.blogspot.com
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Obras já publicadas em formato de livro digital àvenda na Amazon e projetos em andamento
Espiritualidade
A graça de ofertar: ofertando a Deus com amor
A ovelha peregrina: o Salmo 23 e a salvação
A vitória de Deus nas tribulações
Alcançado pela graça: a conversão do apóstolo Paulo
Batalha Espiritual: uma luta em defesa da verdade
Caminhando sobre as águas: os 11 momentos cruciais da vitóriacristã
Cinco evidências de que você precisa de salvação
Como saber a vontade de Deus para nós: estudo + 16 princípiosbíblicos para conhecer e praticar a vontade de Deus
Corpo e espiritualidade: glorificando a Deus através do nosso corpo
Curso de formação de evangelistas em quatro módulos, vol. único
Dê um UPGRADE na sua fé: o Programa 5S da Qualidade Totalaplicado à vida espiritual cristã
Decepcionados com a igreja: 70 razões e desculpas para a evasão nasigrejas cristãs (análises e orientações pastorais, evangelísticas eapologéticas)
Desafio Diário: devocional com mensagens para cada dia do ano
Educação cristã de filhos: comunicação e estímulos na educação dosfilhos
Espiritualidade líquida: caminhos e descaminhos da espiritualidadecristã
Eu e a minha casa serviremos ao Senhor: um breve estudo sobreJosué 24:14-25 para os lares cristãos
Faça a escolha certa: aprenda a tomar decisões segundo a vontadede Deus
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Idolatria e Batalha Espiritual
Integridade cristã: buscar o equilíbrio ou viver a verdade?
Mais que vencedores: três estudos para edificar a nossa fé
Manual do obreiro aprovado: ações estratégicas de separação,capacitação, treinamento, envio e manutenção de obreiros
Minutos de sabedoria do alto
O Deus desconhecido: um estudo sobre Atos 17:15-34
O poder da oração: aprenda os segredos da oração que movemontanhas
O poder da fé: um estudo sobre a fé genuinamente bíblica
O que é ser Igreja: as características bíblicas da verdadeira Igreja deCristo
Os sete barcos de Deus: sete mensagens para edificar a sua fé
Os sete hábitos da espiritualidade biblicamente eficaz
Pai Nosso, uma oração com a vida: aprenda os segredos da oraçãomais conhecida dos cristãos
Palavras inspiradoras, vol. 1: amor e relações interpessoais
Palavras inspiradoras, vol. 2: motivação, superação e vitória
Palavras inspiradoras, vol. 3: Deus, fé e espiritualidade
Palavras inspiradoras, vol. único: Deus, fé, espiritualidade,motivação, superação, vitória, amor e relações interpessoais
Papai Noel: a verdadeira história jamais contada
Por uma Igreja pensante: a crise da razão bíblica e a importância dafé racional e inteligente
Mariologia
O segredo de Maria
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Eu sou a número quatro: semelhanças entre Maria e a Trindade nasobras de Ligório, Montfort, Roschini, João Paulo II, no Vaticano II eoutros escritores marianos
Maria e a vontade de Deus para nós: um estudo sobre a Anunciação
Geral
As feias que me perdoem: quatro textos e um poema sobre ser feio eo que é fundamental
Assédio moral no trabalho; análises e ações estratégicas de gestão depessoas
Comunicação empresarial: problemas e soluções
Gestão com pessoas: breves estudos
Memórias do silêncio: relatos e reflexões de uma ex-vítima dobullying
Ninguém morre de amor: como superar a desilusão amorosa, seruma pessoa realizada e feliz e viver um novo amor
O poder da oratória: a arte de se expressar, convencer e liderar
Os males do alcoolismo e como Jesus pode te libertar
Poesia romântica
120 frases e poemas para conquistar o seu crush
120 frases e poemas para reconquistar um grande amor
120 frases e poemas para você declarar o seu amor
365 dias de amor: textos e poemas para cada dia do ano
Amor nos anos 80: coletânea de poemas para ler escutando músicasinternacionais dos anos de 1980 (com indicações de músicas paracada poema)
Até onde o amor pode alcançar: textos e poemas de amor
Carta de amor: poemas de amor e de adeus
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Em caso de amor, abra o livro: poemas
Enquanto houver amor dentro de mim
Entre flores e mel: poemas e frases de um amor verdadeiro
Eu te amei desde a primeira vez em que te vi: poemas de amor
Mil quadrinhas românticas demais para serem lidas com o coração
Não haverá última canção para o amor: poemas de amor
Não pedirei desculpas por te amar
Para sempre e mais além: poemas de amor
Para um coração que sabe amar
Poemas que escrevi para dizer que te amo
Poemas românticos demais para serem lidos com o coração:antologia romântica
Todos os versos de amor que cabem dentro de mim
Tudo que sei sobre ela
Um lugar chamado amor
Poesia geral
A face do homem abstrato: poemas sobre os muitos eus em mim
A sombra do sol: poemas sobre ser invisível
Bomba de efeito moral e outros poemas altamente explosivos
Escrevi com a vida: poemas sobre Deus, sobre mim, sobre tudo
Esquizofrenia e outros poemas mentais
Eu não devia ter escrito este livro: poemas góticos e outros temas
Memórias de um verme e outros poemas
Memórias do vento: poemas que o vento trouxe
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O recolhedor de palavras: poemas estranhos demais para serem lidos
O saxofonista e outros personagens em histórias rimadas
Vidas em preto e branco: poemas sobre a vida, a morte e a morte emvida
Poesia cristã
Aos teus pés: poemas cristãos para a glória de Deus
Oceano: poemas cristãos
Infanto-juvenil
60 poemas para ler na escola: poemas para fazer pensar
A bruxa Jezabel: um conto sobre o poder do perdão
A floresta do desassossego
Cordel vencendo o Bullying
Mata essa barata: pequena história rimada
Miau! Miau! Poemas do gato Faísca
O Cravo e a Rosa (ei, e eu, a Margarida!): baseada em uma cançãoinfantil
Poemas para crianças de todas as idades
Contos
A floresta do desassossego: às vezes o passado volta, às vezes elenunca passou
A palhaça gorda e outros microcontos
Eu matei meu pai: um microconto sobre o desespero e a redenção
No meio das pedras tinha um caminho: uma pequena aventura nafazenda, uma grande lição de vida
O nevoeiro: poema-conto
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Teatro
Peça teatral “Se Jesus não tivesse vindo: para igrejas, evangelistas emissionários”
Peça teatral “Se Jesus não tivesse vindo: versão para o Natal”
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS DO ESCRITOR MIZAEL XAVIER
Espiritualidade
A Queda: as consequências do pecado original e a graça abubdante
Asas de águia: o poder de Deus na resiliência cristã
BOPE: Batalhão de Operações Piromaníacas Espirituais
Eu profetizo: verdades e mentiras sobre o “profetizar bênçãos”
Evangelho segundo Mateus: série Mensagens e Reflexões
Imitação de Deus: como nos tornarmos imitadores de Deus
Inteligência espiritual:vivendo uma espiritualidade inteligente eprática
João 3:16: uma pergunta e muitas certezas
Não acredite em tudo que você crê
Não toquem no ungido do Senhor: uma palavra sobre o autoritarismopastoral
O poder da expansão: supere os seus limites e cresça
O poder do tempo: princípios bíblicos para a administração do tempo
O toque da graça e outros textos para a edificação da nossa fé.
Os leões e a fornalha: o que Daniel e seus amigos têm a nos ensinarsobre a verdadeira fé?
Quem é você? O autoconhecimento cristão
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Seitas e heresias: manual de combate
Um milagre por dia: o comum, o extraordinário e o poder de Deus emcada um
Mariologia
A tentação de Maria
Ave Maria
Desvendando o segredo de Maria
Medalha milagrosa
Série Catolicismo Romano: doutrinas e refutações
Celibato
A salvação na Igreja Católica
Infalibilidade do Papa
Tradição e Magistério da Igreja
Purgatório
Série Bullying
Bullying: o que é? Conheça o problema, os personagens e os tipos deagressão
Bullying: estratégias de superação pessoal
Contos
Histórias de desencantado, o príncipe que não sabia amar (poemas-contos)
Geral
A incrível arte de dar a volta por cima
O caminho do sucesso
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Manual prático do agente de portaria: atribuições, procedimentos,comportamento e segurança
Coleção: poesia na escola
Vol. 1: 50 poemas para ler na escola
Vol. 2: Brincadeiras de criança
Vol. 3: Muito mais que a realidade
Vol. 4: É preciso falar de amor
Vol. 5: Ao Mestre dos mestres
Vol. 6: Histórias rimadas
Série liderança cristã
O líder cristão
A essência do líder cristão
O líder eficaz
Liderança e motivação
Liderança e trabalho em equipe
Liderança e planejamento estratégico
A liderança de Neemias
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	TODOS OS DIREITOS RESERVADOS:
	Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, sem a devida autorização assinada pelo autor, Mizael de Souza Xavier. A violação dos direitos é punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações diversas (art. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19/02/1998, Lei dos Direitos Autorais). Este livro é um capítulo do livro: “Missão Integral: evangelismo e responsabilidade social na dinâmica solidária do Reino de Deus”, publicado na Amazon (ASIN: B08H17MQP7).
	MIZAEL DE SOUZA XAVIER
	https://www.amazon.com.br/gp/aw/s/ref=nb_sb_noss?k=Mizael+Xavier+

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