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Estratégia MED | Caderno de Respostas | 6º Simulado Residência Médica | Maio de 2024
RESIDÊNCIA MÉDICA
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CLÍNICA MÉDICA
01 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Nefrologia - Prof. Ricardo Leal) Um homem de 23 anos foi diagnosticado com síndrome nefrótica. A
biópsia renal não demonstrou alterações na microscopia óptica, mas havia apagamento dos processos podocitários, vistos na microscopia
eletrônica. Sobre o caso, assinale a alternativa correta.
A) Por se tratar da doença de lesão mínima, a biópsia renal era desnecessária.
B) O paciente em questão tem maior risco de sangramento comparado à população geral.
C) O tratamento da forma primária da doença, no adulto, envolve a prescrição de corticoide em monoterapia.
D) É esperado o consumo do complemento nos exames laboratoriais adicionais.
E) Não há necessidade de investigação de causas secundárias.
COMENTÁRIOS:
Atenção, Estrategista!
O enunciado descreve um paciente com síndrome nefrótica (edema, hipoalbuminemia e proteinúria acima de 3,5 g/dia) que foi
submetido à biópsia renal. O achado de microscopia óptica inalterada com apagamento dos processos podocitários na microscopia
eletrônica permite-nos diagnosticar a doença de lesões mínimas (DLM).
A DLM é a principal causa de síndrome nefrótica primária na infância, mas também pode ocorrer nos adultos.
Sua forma primária é manejada com corticoide em monoterapia, com excelente resposta clínica e laboratorial, sendo considerada uma
glomerulopatia de bom prognóstico.
Como causas secundárias, temos principalmente o uso de AINEs e alguns linfomas.
Vamos às alternativas:
Incorreta a alternativa A. A biópsia renal normalmente é preterida na população pediátrica. Em adultos, como a chance de ser lesão mínima
primária cai bastante, a biópsia renal é indicada.
Incorreta a alternativa B. Na síndrome nefrótica, de maneira geral, há eliminação de fatores anticoagulantes na urina, como a antitrombina
III, além do aumento da produção hepática de pró-coagulantes em resposta à hipoalbuminemia. Portanto, há risco aumentado de trombose,
não de sangramento.
Correta a alternativa C.
O tratamento inicial é feito com prednisona 1 mg/kg e a taxa de resposta clínica e laboratorial supera os 80%
na população adulta.
Incorreta a alternativa D. A lesão mínima é uma glomerulopatia que tipicamente não consome complemento.
Incorreta a alternativa E. Por se tratar de síndrome nefrótica no adulto, é sempre necessária a investigação de causas secundárias.
02 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Neurologia - Prof. Rodrigo Frezatti) Mulher, 85 anos, internada para tratamento de endocardite
infecciosa, apresenta hemiplegia direita associada à afasia, iniciadas há 2 horas. À avaliação inicial, apresenta PA 170 x 90 mmHg e a TC de
crânio afastou hemorragia, contudo revela provável meningioma de 1 cm, sem efeito de massa associado. Que característica do caso em
questão contraindica a trombólise?
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A) Endocardite infecciosa.
B) Idade.
C) Pressão arterial.
D) Meningioma.
E) Tempo desde o início dos sintomas.
COMENTÁRIOS:
Estrategista, questão de ordem prática e que aborda os critérios de contraindicação à trombólise.
O tratamento agudo do AVCi está na vanguarda da medicina baseada em evidências. A cada ano, novos estudos ampliam os critérios de
elegibilidade do tratamento de recanalização, seja com trombólise química, seja com trombectomia. Ainda assim, a trombólise endovenosa
permanece como estratégia importante e de benefício inequívoco. Está indicada em pacientes com mais de 18 anos, déficit neurológico
limitante e iniciado em até 4 horas e meia. Em casos selecionados, mesmo quando a janela é desconhecida, se houver mismatch FLAIR-
difusão na ressonância de crânio, isto é, caso um exame de RNM de fase aguda revele alteração na sequência de difusão (que avalia a
associação de área com isquemia definitiva e área de penumbra), contudo sem alteração na sequência FLAIR (que só se altera quando há
isquemia definitiva), desde que o paciente não tenha evidência de oclusão proximal e anterior, a trombólise poderá ser indicada.
Além disso, é necessária a realização de CT de crânio sem evidência de sangramento e o paciente não pode estar incluído em nenhum
dos critérios de exclusão, sendo os principais:
• uso de anticoagulantes orais com INR >1,7;
• AVC isquêmico ou TCE grave nos últimos 3 meses;
• história pregressa de AVCh;
• TC de crânio com hipodensidade maior ou igual a um terço do território da artéria cerebral média;
• PAS ≥ 185 mmHg ou PAD ≥ 110 mmHg;
• melhora rápida e completa antes da trombólise;
• déficit neurológico leve e sem repercussão funcional;
• cirurgias de grande porte dentro de 2 semanas;
• endocardite infecciosa;
• suspeita de dissecção de aorta ou HSA;
• punção arterial de sítio não compressível na última semana;
• hemorragia geniturinária ou gastrintestinal nas últimas 3 semanas.
Quanto ao trombolítico, o alteplase na dose de 0,9 mg/kg é a primeira droga e dose testada e verificada para uso. O Estudo ENCHANTED
de 2018 mostrou que a dose de 0,6 mg/kg é uma alternativa não inferior, associada a menor risco de sangramento, contudo com tendência
a menor taxa de recanalização. Além disso, o estudo EXTEND-IA TNK de 2018 mostrou que o tenecteplase na dose de 0,25 mg/kg é uma
alternativa e, na dose de 0,4 mg/kg, há maior risco de sangramento, sem maior chance de reperfusão.
Vamos às alternativas.
Correta a alternativa A. Exatamente! A endocardite infecciosa é um critério de exclusão absoluto à trombólise!
Incorreta a alternativa B. A idade, isoladamente, não é um critério de exclusão à trombólise.
Incorreta a alternativa C. A pressão arterial, quando igual ou superior a 185 x 110 mmHg, configura contraindicação à trombólise. O valor
apresentado pela paciente, portanto, não configura contraindicação.
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Incorreta a alternativa D. O meningioma é uma neoplasia benigna do SNC, não configura contraindicação à trombólise!
Incorreta a alternativa E. A janela da trombólise é de 4,5 horas. A paciente iniciou os sintomas há 2 horas, portanto sem contraindicação à
trombólise por esse motivo.
03 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Endocrinologia - Prof. Ênio Macedo) Paciente de 55 anos, previamente hígido, procura o pronto-
socorro por adinamia, letargia, sonolência, confusão mental, poliúria, dor difusa, náuseas, vômitos e constipação. Ao exame físico,
apresentava desidratação 3+. Os exames laboratoriais evidenciaram cálcio total corrigido de 13,8 mg/dL; fósforo 1,7 mg/dL; PTH 280 pg/
mL; creatinina 1,2 mg/dL. Assinale a melhor medida terapêutica inicial para o caso.
A) Calcitonina intramuscular.
B) Furosemida para espoliação de cálcio pela urina.
C) Ácido zoledrônico.
D) Cloreto de sódio 0,9%.
E) Dexametasona.
COMENTÁRIO:
Temos um paciente com adinamia, letargia, sonolência, confusão mental, poliúria, dor difusa, náuseas, vômitos e constipação. Todo
esse quadro lembra muito as manifestações clínicas de uma hipercalcemia. Para nossa sorte, isso é confirmado pela dosagem de cálcio
elevada. Vamos aproveitar para revisar as manifestações clínicas da hipercalcemia a seguir:
Manifestações clínicas
Renais
A hipercalcemia ocasiona diabetes insipidus nefrogênico, levando à resistência ao hormônio
antidiurético (vasopressina). Consequentemente, há maior perda de água pelos rins, resultando
em poliúria, polidipsia e desidratação.
A insuficiência renal também pode ocorrer, seja por vasoconstrição devido à desidratação (forma
aguda e com níveis bem elevados de cálcio), seja por deposição crônica de cálcio no parênquima
(nefrocalcinose).
A hipercalcemia de longa duração (como no hiperparatireoidismo primário)pode ocasionar
nefrocalcinose e nefrolitíase.
Musculoesqueléticas
Fraqueza muscular, mialgia, artralgia (principalmente no hiperparatireoidismo primário).
Dor óssea e fraturas.
Neuropsiquiátricas Rebaixamento de nível de consciência e agitação (hipercalcemias graves).
Cardiovasculares
Calcificação de válvula, miocárdio, artérias (hipercalcemia de longa data)
Hipertensão
Encurtamento do intervalo QT
Gastrointestinais
Constipação
Náuseas, vômitos (hipercalcemias graves)
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A hipercalcemia leva a uma REDUÇÃO da excitabilidade das membranas neuronais, causando uma redução da atividade do sistema
nervoso como um todo, o que explica os sintomas de adinamia, letargia, sonolência e confusão mental. Isso ocorre porque o cálcio que se
acumula no meio extracelular possui carga positiva. Recorde-se de que o neurônio apresenta uma carga negativa em seu citoplasma, de forma
que o aumento da diferença de potencial entre o meio intra e extracelular dificultará sua despolarização. Mecanismos similares ocorrem
também no sistema de condução cardíaco, justificando o prolongamento do intervalo QT que pode estar presente, e nos plexos nervosos
mioentéricos, causando náuseas, vômitos e constipação. Por fim, a hipercalcemia, por mecanismos pouco claros, provoca resistência do
receptor de vasopressina nos ductos coletores renais a seu ligante, ocasionando um quadro de diabetes insipidus nefrogênico, que justifica a
poliúria.
A principal etiologia de hipercalcemia na comunidade é o hiperparatireoidismo primário. Nessa condição, há uma produção
inapropriadamente elevada de PTH pelas paratireoides, causando o aumento da reabsorção óssea (que pode complicar com dor óssea,
osteíte fibrosa cística ou osteoporose), hipercalcemia, hipofosfatemia e hipercalciúria (que pode complicar com cálculos urinários). Parece-se
bastante com o caso de nosso paciente.
Agora, vamos ao que a questão de fato quer saber: o tratamento de uma hipercalcemia sintomática no pronto-socorro.
As opções terapêuticas de primeira linha para a hipercalcemia sintomática são:
- Expansão volêmica com cristaloides - é a PRIMEIRA medida que deve ser realizada, pois é a que surte efeitos de forma mais rápida e
duradoura. Muitos dos sinais e sintomas mais graves da hipercalcemia são devido à desidratação. Além disso, a expansão volêmica, por si só, é
capaz de diminuir os níveis séricos de cálcio. As recomendações posológicas são: iniciar com 200-300 mL/h de cristaloides e titular objetivando
um débito urinário de 100-150 mL/h. Em pacientes com fatores de risco para sobrecarga volêmica (como pessoas com insuficiência cardíaca
ou renal), pode-se lançar mão de diuréticos de alça para evitar a hipervolemia.
- Bisfosfonatos (preferencialmente o ácido zoledrônico endovenoso) - reduzem a mobilização de cálcio do osso para o sangue. É
uma medida muito eficaz, mas com início de ação somente após 1-3 dias de sua administração. Contraindicado para pacientes com taxa de
filtração glomerular < 35.
- Denosumab - utilizado como substituto aos bisfosfonatos nos pacientes com contraindicações ao uso dessas drogas.
- Glicocorticoides - somente indicados quando a etiologia da hipercalcemia é uma doença responsiva ao corticoide, como é o caso dos
linfomas e da sarcoidose.
- Calcitonina - hormônio antagônico ao PTH, portanto reduzindo a calcemia. Tem o início de ação rápido, porém também possui
curta duração de ação. Devido a sua baixa disponibilidade, é excepcionalmente utilizada para casos em que uma redução rápida do cálcio é
necessária enquanto as demais medidas surtem efeito. Muitos autores sequer consideram a calcitonina como um tratamento de primeira
linha.
Vamos aos comentários das alternativas.
Incorreta a alternativa A. A calcitonina, apesar de apresentar efeito muito rápido, tem curta duração. Devido a sua baixa disponibilidade, é
excepcionalmente utilizada para casos em que uma redução rápida do cálcio é necessária enquanto as demais medidas surtem efeito. Muitos
autores sequer consideram a calcitonina como um tratamento de primeira linha.
Incorreta a alternativa B. A furosemida pode ser utilizada como adjuvante à expansão volêmica nos pacientes com condições de risco
para hipervolemia, como a insuficiência cardíaca ou doença renal crônica. Seu uso fora desse contexto contribui pouco para o controle da
hipercalcemia e não é recomendado.
Incorreta a alternativa C. A questão pede a melhor medida terapêutica INICIAL. Apesar de o ácido zoledrônico estar indicado em pacientes
com hipercalcemia sintomática grave, seu efeito só poderá ser apreciado após 1-3 dias depois da infusão. Portanto, seu uso é mais importante
a médio e longo prazo. No pronto-socorro, o tratamento prioritário é a expansão volêmica.
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Correta a alternativa D.
A expansão volêmica com cristaloides é a PRIMEIRA medida que deve ser realizada, pois é a que surte efeitos
de forma mais rápida e duradoura. Muitos dos sinais e sintomas mais graves da hipercalcemia são devido à
desidratação. Além disso, a expansão volêmica, por si só, é capaz de diminuir os níveis séricos de cálcio. As recomendações posológicas são:
iniciar com 200-300 mL/h de cristaloides e titular objetivando um débito urinário de 100-150 mL/h.
Incorreta a alternativa E. Os glicocorticoides são somente indicados quando a etiologia da hipercalcemia é uma doença responsiva ao
corticoide, como é o caso dos linfomas e da sarcoidose.
04 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Hematologia - Prof. Hugo Brisolla) Criança de 8 anos é trazida pelos pais ao pronto atendimento por
quadro de fraqueza e urina escurecida. Mãe refere contato com naftalina há 1 dia. Ao exame físico, encontra-se descorada 2+/4+, ictérica
+/4+, afebril, sem visceromegalias. Laboratório mostra anemia, aumento de DHL, Coombs direto negativo e presença de corpúsculos de
Heinz.
Qual é o mais provável diagnóstico desse caso?
A) Deficiência de G6PD.
B) Anemia hemolítica autoimune.
C) Esferocitose hereditária.
D) Anemia aplásica.
E) HPN.
COMENTÁRIO
Guarde a dica, Estrategista: os corpos de Heinz são depósitos de hemoglobina oxidada vistos no citoplasma das hemácias, muito
associados com a deficiência de G6PD, provável diagnóstico de nosso caso.
A G6PD é uma enzima que participa da proteção das células com o estresse oxidativo. Na deficiência de G6PD, mutações ligadas ao
cromossomo X fazem com que haja menor produção dessa substância e, consequentemente, incapacidade das hemácias de se protegerem
contra eventos de estresse, como uso de medicações ou infecções.
Assim, o paciente deficiente em G6PD cursa com surtos de anemia hemolítica intravascular, normalmente precipitada por algum evento,
como o uso de naftalina em nosso caso. A “urina escura” que nosso paciente apresenta é justamente resultado da hemólise intravascular, uma
vez que há eliminação de hemoglobina na urina, ou seja, hemoglobinúria. Com isso em mente, veja as alternativas.
Correta a alternativa A:
apesar de não serem patognomônicos, os corpos de Heinz ajudam-nos a fazer o diagnóstico da deficiência de
G6PD, especialmente nas questões de prova!
Incorreta a alternativa B: a anemia hemolítica autoimune é uma condição de produção de autoanticorpos contra as hemácias dos pacientes,
levando a sua destruição aumentada. O exame diagnóstico da anemia hemolítica autoimune é o Coombs direto, que justamente verifica a
presença de anticorpos na superfície das hemácias. O Coombs negativo em nosso caso torna essa possibilidade pouco provável.
Incorreta a alternativa C: a esferocitose é uma condição autossômica dominante em que um defeito do citoesqueleto da hemácia faz com que
ela perca parte de sua membrana, sendo incapaz de manter seu formato bicôncavo, formando os esferócitos.Por serem pouco deformáveis,
os esferócitos sofrem lise no baço, por isso a esferocitose normalmente é marcada por esplenomegalia, o que não vemos em nosso caso.
Incorreta a alternativa D: a anemia aplásica é uma condição congênita ou adquirida de hipocelularidade da medula óssea, isto é, redução na
quantidade de células-tronco. Isso acarreta uma menor produção de células hematológicas, gerando citopenias de sangue periférico. Não há
avaliação medular em nosso caso e a aplasia de medula não cursa tipicamente com corpos de Heinz.
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Incorreta a alternativa E: a HPN é uma doença complexa da membrana das hemácias, cursando tipicamente com a tríade clássica de
pancitopenia, anemia hemolítica intravascular e trombose. Nosso paciente não apresenta todas essas manifestações.
05 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Dermatologia - Prof. Bruno Souza) Em relação ao herpes-zóster, assinale a alternativa correta.
A) É necessário iniciar tratamento precoce. Uma das opções é o uso aciclovir 200 mg, cinco vezes ao dia, com intervalos de aproximadamente
quatro horas.
B) O herpes-zóster é uma reativação de uma infecção viral, sendo a primoinfecção a gengivoestomatite herpética.
C) É imperativo a realização de biópsia de pele para confirmação diagnóstica.
D) Não há transmissão em forma de aerossol mesmo em pacientes imunossuprimidos.
E) A erupção é geralmente é unilateral, não ultrapassa a linha mediana e segue o trajeto de um nervo. Surge de modo gradual e leva de 2 a
4 dias para se estabelecer.
COMENTÁRIOS:
O herpes-zóster, também conhecido como cobreiro, é causado pela reativação do vírus varicela-zóster (VZV), o mesmo vírus que causa
a catapora (varicela) durante a infância ou na primeira exposição. Após a infecção inicial, o vírus permanece latente nos gânglios nervosos e
pode ser reativado mais tarde na vida. Vamos analisar cada alternativa para identificar a correta.
Incorreta a alternativa A. Muita atenção, Estrategista! Essa dose descrita na alternativa é para tratar infecção pelo herpes simples. As doses
utilizadas para o tratamento do herpes-zóster são as seguintes:
• Aciclovir: 800 mg, administrados 5 vezes por dia durante sete dias.
• Valaciclovir: 1000 mg, administrados três vezes por dia durante sete dias.
• Fanciclovir: 500 mg, administrados três vezes por dia durante sete dias.
Incorreta a alternativa B. Como vimos, a primoinfecção é a varicela. A gengivoestomatite herpetiforme é a primoinfecção do herpes simples.
Incorreta a alternativa C. O diagnóstico é clínico e não há necessidade de biópsia de pele.
Incorreta a alternativa D. Há eliminação do vírus varicela-zóster pelas vesículas de um quadro de herpes-zóster, principalmente quando o
paciente é imunossuprimido. Esses pacientes imunossuprimidos também podem eliminar o vírus pelas vias aéreas em forma de aerossol.
Correta a alternativa E.
De fato, o paciente começa com um quadro de dor neural que vai aumentando gradualmente e posteriormente
começam a surgir as vesículas e bolhas, seguindo trajeto do dermátomo. As lesões respeitam a linha média e
são unilaterais.
06 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Psiquiatria - Prof. Thales Thaumaturgo) Paciente de 72 anos de idade, aposentado, viúvo há 12
anos, comparece à consulta com seu cardiologista para uma consulta de rotina, acompanhado de sua neta. Tem, em sua história médica,
uma obesidade grau I, hipertensão arterial sistêmica, transtorno depressivo-ansioso, glaucoma, além de diversos episódios convulsivos
durante a infância. Seu cardiologista nota, durante o atendimento, que o paciente apresenta um humor entristecido, certa lentificação em
seus movimentos corporais, respostas mais curtas, leve desleixo com a aparência e aumento de peso. Ao comentar sobre sua impressão,
a neta do aposentado explica que o vovô está “muito pra baixo” há pelo menos 1 mês e meio. Diante desse cenário, você decide iniciar a
seguinte medicação:
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A) mirtazapina.
B) sertralina.
C) amitriptilina.
D) bupropriona.
E) nortriptilina.
COMENTÁRIOS:
Estrategista, estamos diante de um provável quadro de depressão recorrente em paciente geriátrico. Nessa faixa etária, é comum a
ocorrência de sintomas cognitivos, ansiosos e dolorosos, o que pode causar dificuldade na correta identificação da síndrome depressiva, além
de sobrepô-la a diagnósticos de síndromes demenciais, normalmente com sintomas mais insidiosos e progressivos. Dessa forma, o maior
desafio requisitado pela questão é apontar a melhor droga para o tratamento desse paciente.
Nos idosos, devemos lembrar o seguinte axioma: “start slow, go slow, but go”. Mas o que isso quer dizer? Isso significa que, na prática,
devemos evitar o tratamento medicamentoso em idosos?
Não! Isso significa que devemos agir com cautela, iniciando o tratamento com doses menores do que as habituais, com aumentos
lentos, acompanhamento clínico atento e, sempre que necessário, atingir as doses máximas recomendadas para o tratamento do transtorno.
Lembre-se: o objetivo é a remissão total dos sintomas!
Portanto, aqui, basta selecionar a droga mais adequada:
De forma resumida: EVITAR tricíclicos.
PREFERIR: ISRS,dentre esses, citalopram, escitalopram e sertralina, pois são drogas seguras e com pouca interação medicamentosa. Se
houver cardiopatia grave, a droga de eleição é esta última: sertralina.
Vamos às alternativas!
Correta a alternativa A: a mirtazapina, um antidepressivo atípico, é considerada segura em pacientes cardiopatas. Contudo, não é a melhor
opção para o caso, devido a seu efeito anticolinérgico que pode causar piora do quadro oftalmológico. Além disso, por ser uma medicação
com forte efeito histaminérgico, pode aumentar a sonolência e o apetite, eventos indesejados para esse paciente.
Correta a alternativa B: correta, conforme discutido na introdução.
Incorreta a alternativa C:
a amitriptilina, antidepressivo tricíclico, atua inibindo a recaptação de serotonina e noradrenalina. Possui
intenso efeito anticolinérgico, além de anti-histaminérgico, o que provoca frequentemente inúmeros efeitos
colaterais, especialmente na população geriátrica.
Correta a alternativa D: a bupropiona, um antidepressivo atípico, com ação sobre dopamina e noradrenalina, é considerada segura do ponto
de vista cardíaco, com poucos efeitos sobre acetilcolina e histamina. Relaciona-se ao aumento da energia e à perda de peso, o que seria
favorável ao paciente em questão; contudo, deve ser evitada em pacientes com história de epilepsia, traumatismo craniano e anorexia
nervosa.
Correta a alternativa E: a nortriptilina, outro antidepressivo tricíclico, é a droga menos tóxica da classe, atuando especialmente sobre
receptores de noradrenalina (amina secundária), com menos efeitos anticolinérgicos e anti-histamínicos. Apesar disso, não seria a droga de
escolha para esse paciente.
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07 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pneumologia - Prof. Juan Demolinari) Paciente, 19 anos de idade, sexo feminino, relata que
apresenta quadro de tosse seca recorrente de frequência mensal e dispneia diária. Relata piora da tosse e da dispneia após ir à casa de
um amigo onde havia muito mofo. No último mês, chegou a acordar duas vezes à noite com dispneia e parou de ir ao futebol por falta de
ar. Ao exame físico, FR: 18 ipm; FC: 78 bpm; PA: 110/70 mmHg; à ausculta respiratória, sibilos esparsos. De acordo com o caso relatado,
qual é a medicação indicada?
A) Budesonida inalatória e formoterol para uso contínuo e de resgate.
B) Beclometasona e salbutamol inalatórios para uso contínuo.
C) Budesonida inalatória contínua e salbutamol + budesonida de resgate.
D) Budesonida inalatóriae formoterol de resgate.
E) Budesonida inalatória contínua e formoterol de resgate.
COMENTÁRIO:
Olá, Estrategista. A questão apresenta um quadro clínico que sugere o diagnóstico de asma brônquica. Observe: paciente com tosse
crônica e dispneia que pioraram após se expor a um ambiente com mofo. Diante disso, é possível iniciarmos o tratamento?
O diagnóstico de asma deve ser baseado na presença de sinais e sintomas compatíveis com a doença, incluindo a variação clínica e,
sempre que possível, as provas de função pulmonar e avaliação de componente de alergia. No entanto, a espirometria não é necessária
para o diagnóstico, apenas desejável. Portanto, para pacientes com história clínica compatível (sintomas e evolução característicos, com
identificação de fatores desencadeantes), o médico está autorizado a iniciar o tratamento específico.
Entretanto, os testes funcionais apresentam outros benefícios além da confirmação diagnóstica, como a avaliação da gravidade da
limitação ao fluxo aéreo, sua reversibilidade e variabilidade e a monitorização do curso da doença, devendo ser realizados sempre que
possível.
A asma manifesta-se, classicamente, com episódios recorrentes de sibilância, dispneia, opressão torácica e tosse, principalmente no
período noturno ou pela manhã, ao despertar. Não se pode esquecer de que a maioria dos pacientes asmáticos tem outras manifestações de
atopias, sobretudo rinite alérgica.
E como tratar a doença? Por muito tempo, o tratamento medicamentoso da asma tinha como objetivo central aliviar sintomas, tendo
como pilar medicamentoso o uso de broncodilatadores. Entretanto, desde 2019, houve uma mudança significativa na base do tratamento e no
direcionamento para o controle do processo inflamatório presente nas vias respiratórias. Isso posto, a introdução precoce de corticosteroides
inalatórios (CI) passou a ser o pilar central do tratamento da asma, permitindo melhor controle de sintomas e, a longo prazo, podendo preservar
a função pulmonar e prevenir ou atenuar o remodelamento das vias aéreas, mesmo nos pacientes com quadros leves e/ou intermitentes.
Há duas maneiras de seguirmos o tratamento da asma: a via preferencial e a via alternativa. Na via preferencial, em todas as etapas,
utilizaremos a associação do corticoide inalatório com o formoterol. O formoterol é um beta-agonista de longa ação (LABA) com um início
de ação curto. Sendo assim, pode ser usado tanto para alívio quanto para a manutenção. Observe a seguir a via preferencial de tratamento:
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Na via alternativa, o tratamento de alívio dá-se com o uso de beta-agonistas de ação curta (SABA) e, sempre que se usar o SABA, deve-
se aplicar uma dose adicional de corticoide inalatório.
E em que etapa devemos iniciar o tratamento? Depende do grau de sintomas do paciente, como podemos observar na imagem a
seguir:
Tratamento Inicial de asma - de acordo com os sintomas
Tratamento inicial de escolha Tratamento inicial alternativo
Sintomas infrequentes (< 2x/mês) se sem
fatores de risco para exacerbações
CI dose baixa + formoterol, se necessário
(evidência B) - etapas I e II
Dose baixa de CI sempre que SABA
for necessário (evidência B) - etapa I
Sintomas ou uso de resgate ≥ 2x/mês, mas
menos do que 4-5x por semana
CI dose baixa + formoterol, se necessário
(evidência A) - etapas I e II
Dose baixa de CI fixa + SABA se
necessário
(evidência A) - etapa II
Sintomas na maioria dos dias ou despertares
noturnos 1 ou mais vezes por semana,
especialmente se apresentar algum fator de
risco para exacerbações
Dose baixa de CI + formoterol
manutenção e resgate (evidência A) -
etapa III
Dose baixa de CI + LABA associado a
SABA, se necessário (evidência A) -
etapa III
Apresentação inicial em exacerbações ou
sintomas graves
Dose moderada de CI + formoterol
manutenção e resgate (evidência D) -
etapa IV
*Pode ser necessário uso de corticoide
oral por curto período (5-7 dias 40-60 mg/
dia)
Dose alta de CI (evidência A) ou dose
moderada de CI + LABA (evidência D)
com SABA, se necessário - etapa IV
ALÍVIO: Cl dose baixa + FORMOTEROL, se necessário
ETAPAS (STEPS) 1 - 2
CI + Formoterol, se necessário
ETAPA (STEP) 3
CI dose baixa +
Formoterol
manutenção
ETAPA (STEP) 4
CI dose média +
Formoterol
manutenção
ETAPA (STEP) 5
Adicionar tiotrópio
Referenciar para
fenotipar +/-
anti-lgE, anti
IL5/5R, anti IL-4R.
Considerar altas
doses de Cl +
Formoterol
ALÍVIO: SABA, se necessário
ETAPA (STEP) 1
Usar CL sempre que utilizar SABA
ETAPA (STEP) 3
CI dose baixa +
LABA manutenção
ETAPA (STEP) 4
CI dose
média/alta +
LABA
manutenção
ETAPA (STEP) 5
Adicionar tiotrópio
Referenciar para
fenotipar +/-
anti-lgE, anti
IL5/5R, anti IL-4R.
Considerar altas
doses de Cl +
LABA
ETAPA (STEP) 2
CI dose baixa de
manutenção
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Como a paciente tem apresentado sintomas diários, associado a despertares noturnos e limitações de atividades, devemos começar,
pelo menos, na etapa III do tratamento.
Correta a alternativa A.
O uso de budesonida e formoterol contínuo e de resgate é a etapa III da via preferencial, portanto um
tratamento adequado para o caso em questão.
Incorreta a alternativa B. NUNCA usaremos um SABA (salbutamol) para manutenção, de uso contínuo.
Incorreta a alternativa C. Nessa alternativa, estaríamos fazendo a etapa II da via alternativa.
Incorreta a alternativa D. Essa opção é a etapa I e II da via preferencial. Pela carga de sintomas do paciente, o adequado é iniciar na etapa III.
Incorreta a alternativa E. Não existe uma opção de tratamento em que usaremos apenas formoterol de resgate, sempre haverá associação
com um corticoide inalatório.
08 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Hepatologia – Prof. Élio Castro) Correlacione as lesões hepáticas com suas características clínicas
e radiológicas correspondentes.
1. Hemangioma hepático.
2. Adenoma hepático.
3. Carcinoma hepatocelular.
4. Abscesso hepático piogênico.
5. Hiperplasia nodular focal.
A. Pode ser assintomática em fases iniciais. Na tomografia trifásica, exibe hipercaptação de contraste na fase arterial e lavagem precoce
nas fases portal e tardia (fase de equilíbrio).
B. Lesão benigna e assintomática. Na tomografia, apresenta-se com de cicatriz central, com realce após injeção do ácido gadoxético (fase
hepatobiliar).
C. Lesão benigna e frequentemente assintomática. Na tomografia, é hipodensa e tem aspecto globuliforme, com captação periférica de
contraste e impregnação centrípeta.
D. Lesão com potencial de malignização, frequentemente apresentando sintomas. Não possui características radiológicas típicas.
E. Cursa com febre e dor abdominal. Na tomografia, pode se apresentar como lesão heterogênea, com realce periférico, presença debris
e/ou gás no interior.
A correlação correta está na alternativa:
A) 1-B; 2-D; 3-A; 4-E; 5-C.
B) 1-A; 2-B; 3-D; 4-E; 5-C.
C) 1-C; 2-D; 3-A; 4-E; 5-B.
D) 1-C; 2-A; 3-D; 4-E; 5-B.
E) 1-A; 2-D; 3-E; 4-B; 5-C.
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Correta a alternativa C.
Dentro da hepatologia, os nódulos hepáticos são temas desafiadores devido à diversidade de causas e características que podem
apresentar. Comumente encontrados na prática clínica, em grande parte das vezes, esses tumores costumam ser assintomáticos e descobertos
incidentalmente em exames de imagem. Em alguns casos, porém, podem apresentar sintomas, o que ajuda a distinguir alguns tipos específicos
de lesão.
A seguir, vamos revisar as principais características das lesões apresentadas na questão, o que vai ajudá-lo a acertar futuras questões
semelhantes a essa. Vamos lá!
1. Hemangioma hepático:
Os hemangiomas são os tumores benignosmais comuns do fígado. Geralmente, são lesões únicas, podendo ser múltiplas em até
10% dos casos. Ocorrem mais comumente nas mulheres, principalmente entre 30 e 50 anos. Geralmente, são assintomáticas e, quando
apresentam sintomas, os mais comuns são dor abdominal, náuseas, vômitos e saciedade precoce. Na ultrassonografia, são vistas como lesões
hiperecogênicas, enquanto na tomografia computadorizada são hipodensas, homogêneas, com contornos globuliformes bem definidos, com
captação da periferia para o centro, tendendo a homogeneizar-se nos cortes de retardo. Os hemangiomas não devem ser puncionados, pelo
risco aumentado de sangramento.
2. Adenoma hepático:
Os adenomas geralmente são únicos e têm como principais fatores de risco o uso de anticoncepcionais, por isso predominam em
mulheres em idade fértil. Mas podem ocorrer também em homens que fazem uso de esteroides anabolizantes, na polipose adenomatosa
familiar e na obesidade. São as lesões hepáticas que mais provocam sintomas, como dor abdominal. A ruptura desses tumores pode causar
sangramento para o peritônio, condição que se associa à alta mortalidade. Essas lesões têm potencial de malignização considerável. Não têm
uma característica radiológica típica, embora possam demonstrar realce periférico na fase inicial, com fluxo centrípeto na fase venosa portal.
Podem ser bastante heterogêneas à tomografia, com presença de áreas de hemorragia, fibrose e/ou necrose.
3. Carcinoma hepatocelular (CHC):
Esse é o tumor maligno hepático primário mais comum. Os principais fatores de risco são a cirrose hepática (de qualquer etiologia) e
a hepatite B crônica ativa. Embora seja uma doença bastante agressiva, com alto potencial de metástases, nas fases iniciais, essa lesão pode
ser totalmente assintomática, motivo pelo qual é essencial seu rastreamento em cirróticos por meio do USG de abdome semestral, além da
dosagem da alfafetoproteína. Uma vez identificado um nódulo pelo USG, deve-se realizar a tomografia trifásica de abdome (ou a RNM), pois
esse tumor tem características radiológicas bastante típicas, são elas:
- hipercaptação de contraste na fase arterial;
- lavagem (“wash-out”) precoce na fase portal ou de equilíbrio.
Em fases avançadas, o CHC pode se disseminar, especialmente para o peritônio. Quando atinge grande tamanho, pode provocar dor
abdominal e romper-se para a cavidade abdominal, resultando em alta morbimortalidade.
COMENTÁRIOS:
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4. Abscesso hepático piogênico:
Os abscessos hepáticos piogênicos são os abscessos viscerais mais comuns, respondendo por 48% dos casos. Os principais fatores de
risco são diabetes mellitus, presença de doença hepatobiliar ou pancreática, transplante de fígado e uso de inibidores de bomba de prótons.
A obstrução da via biliar, com estase da bile e consequente infecção ascendente ao fígado, é a principal via de formação do abscesso. Outras
vias são a veia porta, a disseminação pela veia hepática ou por processos infecciosos próximos ao fígado.
Esses abscessos geralmente são polimicrobianos, sendo importantes agentes a E. coli, o Enterococcus faecalis, a Klebsiella e o
Staphylococcus aureus. Os pacientes geralmente apresentam um quadro arrastado de febre, dor abdominal, adinamia, anorexia e perda
ponderal. A tomografia é um exame de alta sensibilidade para o diagnóstico, geralmente sendo visualizados como áreas hipodensas ou
heterogêneas, exibindo conteúdo líquido ou purulento. Pode haver formação de paredes espessas, realce periférico após a administração
de contraste e presença de gás dentro do abscesso. A drenagem percutânea (guiada por TC) é o pilar do tratamento, além da associação de
antibióticos de largo espectro (como a associação de cefalosporina de terceira geração com metronidazol).
5. Hiperplasia nodular focal:
A hiperplasia nodular focal (HNF) é o segundo tumor benigno mais comum do fígado, não tendo potencial de malignização. É mais
frequente em mulheres entre 35 e 50 anos. Geralmente se apresentam como uma lesão única, com margem bem definida. O achado clássico
nos exames de imagem é a cicatriz central cercada por lesão homogênea, podendo apresentar realce na fase hepatobiliar, ou seja, após
a injeção de contraste hepatoespecífico (o ácido gadoxético). Os pacientes geralmente se apresentam sem sintomas. Raramente, pode
ocasionar dor abdominal e hepatomegalia, quando atingem grandes proporções.
09 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Gastroenterologia - Prof. Isabella Parente) Em relação às complicações locais da pancreatite
aguda, correlacione as colunas.
COLUNA I
(1) Coleção fluida peripancreática
(2) Pseudocisto pancreático
(3) Coleção necrótica aguda
(4) Necrose pancreática murada
COLUNA II
( ) Desenvolve-se precocemente no contexto da pancreatite aguda intersticial edematosa.
( ) Coleção com conteúdo sólido que surge precocemente no contexto de pancreatite aguda necro-hemorrágica.
( ) Coleção encapsulada tardia que não cursa com conteúdo sólido.
( ) Na tomografia computadorizada, apresenta-se como coleção fluida heterogênea com parede encapsular bem definida
A) 1324
B) 1234
C) 4321
D) 1342
E) 3142
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COMENTÁRIO:
A pancreatite aguda pode culminar com complicações sistêmicas ou locais. Entre as complicações locais, alguns autores as dividem
estrategicamente em complicações precoces, que surgem com menos de 4 semanas de evolução de uma pancreatite aguda, e complicações
tardias, que surgem com mais de 4 semanas.
Ademais, a depender do subtipo da pancreatite aguda - se edematosa intersticial ou necrosante -, também temos um ou outro tipo de
complicação.
Sumariamente, podemos resumir:
Coleções (peri)pancreáticas x subtipo pancreatite x tempo
Subtipo
Tempo Pancreatite aguda edematosa Pancreatite aguda necrosante
< 4 semanas Coleção fluida peripancreática aguda Coleção necrótica aguda
> 4 semanas Pseudocisto pancreático Necrose pancreática murada ou walled-off necrosis
Vamos, agora, às principais características de cada uma delas:
COLEÇÃO FLUIDA PERIPANCREÁTICA: essa coleção costuma desenvolver-se precocemente no contexto da pancreatite aguda intersticial
edematosa, cerca de 48 horas após o início dos sintomas. Caracteriza-se por coleção fluida homogênea sem conteúdo sólido, sem paredes
bem definidas, única ou múltipla, adjacente ao pâncreas. A maioria dessas coleções é estéril e resolve-se espontaneamente sem necessidade
de intervenção alguma.
PSEUDOCISTO PANCREÁTICO: por definição, chamamos de pseudocisto pancreático uma coleção “encapsulada” que ocorre após 4 semanas
do início dos sintomas de pancreatite aguda, ou seja, é uma complicação tardia. Recebe o nome de “pseudocisto” porque sua cápsula não é
verdadeira, mas formada por debris inflamatórios. O pseudocisto pancreático é geralmente extrapancreático e não cursa com presença de
necrose ou conteúdo sólido. Na TC, representa coleção redonda ou oval bem delimitada, homogênea e com densidade de fluido. O conteúdo
do pseudocisto é rico em amilase.
COLEÇÃO NECRÓTICA AGUDA: a coleção necrótica aguda é coleção fluida com variável quantidade de material necrótico sólido que surge
precocemente na pancreatite aguda (dentro das primeiras 4 semanas de início dos sintomas). Contrapõe-se justamente ao conceito de
coleção fluida peripancreática aguda, uma vez que esta última necessariamente não contém necrose em seu interior. Além disso, a coleção
necrótica aguda surge a partir de uma pancreatite necrosante e pode estar infectada ou não.
NECROSE PANCREÁTICA MURADA: anteriormente chamada de necrose pancreática organizada, necroma, pseudocisto associado à
necrose ou necrose pancreática subaguda, a “walled-off necrosis” (WON) refere-se à coleção necrótica pancreática e/ou peripancreática
que contémparede inflamatória bem definida, fibrótica e espessa. Assim como o pseudocisto pancreático, a WON surge tardiamente no
contexto da pancreatite aguda, após 4 semanas de início de uma pancreatite aguda necrosante. A WON surge a partir do tecido pancreático
ou peripancreático necrótico, pode ser múltipla e cursar com infecção. É mais comum na cauda e corpo do pâncreas. A TC contrastada
pode apresentar dificuldades na diferenciação entre conteúdo líquido e sólido, não sendo rara a existência de confusão diagnóstica entre
pseudocisto e WON. Nesses casos, exames como ressonância magnética, ultrassonografia endoscópica e ultrassonografia abdominal podem
ser necessários.
De posse desse conhecimento, vamos correlacionar as colunas:
( 1 ) Desenvolve-se precocemente no contexto da pancreatite aguda intersticial edematosa.
( 3 ) Coleção com conteúdo sólido que surge precocemente no contexto de pancreatite aguda necro-hemorrágica.
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( 2 ) Coleção encapsulada tardia que não cursa com conteúdo sólido.
( 4 ) Na tomografia computadorizada, apresenta-se como coleção fluida heterogênea com parede encapsular bem definida
Correta a alternativa A.
10 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Infectologia - Prof. João Paulo Telles) Paciente masculino de 64 anos, residente de Vitória da
Conquista na Bahia, apresenta-se a seu ambulatório com história de fraqueza progressiva em membros inferiores há 10 dias. Quando
questionado, ele refere estar emagrecendo de forma imotivada há 3 meses, com sudorese noturna e hemoptise. Há 4 dias, está com
dificuldade para urinar. Considerando a principal hipótese diagnóstica, é CORRETO afirmar que:
A) o tratamento é realizado com medicamentos por via oral e tem duração de, no máximo, 6 meses.
B) o déficit de força em membros inferiores, embora grave, é completamente reversível com o tratamento.
C) um importante diagnóstico diferencial seria suspeitado se o paciente tivesse um sopro em ruflar na linha axilar anterior.
D) é uma condição que acomete essencialmente imunossuprimidos, principalmente pessoas vivendo com HIV, com contagem de CD4 ≤ 200
céls/mm3.
E) por conta das queixas de fraqueza de membros inferiores e alteração esfincteriana, a topografia acometida deve ser, mais provavelmente,
a coluna cervical.
COMENTÁRIOS:
Estrategista,
Essa questão traz um quadro infeccioso crônico, que complicou recentemente com um déficit neurológico em membros inferiores. O
quadro de febre vespertina, sudorese noturna e hemoptise deve obrigatoriamente o fazer pensar em tuberculose. Considerando o quadro
de acometimento neurológico com fraqueza de MMII e sintomas esfincterianos, você deve pensar em uma espondilodiscite por tuberculose.
A espondilodiscite por tuberculose, também conhecida como doença de Pott, é uma infecção crônica que afeta as vértebras e os discos
intervertebrais, causada pelo Mycobacterium tuberculosis. Essa condição é relativamente rara nos países desenvolvidos, mas permanece uma
preocupação significativa em regiões onde a tuberculose é endêmica, como o Brasil. A espondilodiscite tuberculosa geralmente se apresenta
com dor nas costas persistente, febre e perda de peso. Em estágios avançados, pode levar a complicações graves, como deformidades
espinhais e compressão da medula espinhal, resultando em déficits neurológicos.
O diagnóstico da espondilodiscite por tuberculose é desafiador devido a sua apresentação clínica insidiosa e inespecífica. A confirmação
do diagnóstico frequentemente requer uma combinação de exames de imagem, como ressonância magnética, e testes laboratoriais, incluindo
a cultura de tecidos ou a PCR para Mycobacterium tuberculosis.
O tratamento é semelhante ao da tuberculose pulmonar, com esquema RIPE (rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol) por
2 meses, seguido de RI. A diferença é o tempo de RI, que pode ser um pouco mais prolongado, de 4 a 7 meses, totalizando 6 a 9 meses de
tratamento como um todo.
Pode ser necessário o uso de imobilização ou intervenção cirúrgica para estabilizar a coluna e aliviar a compressão neurológica. O
prognóstico melhora significativamente com a detecção precoce e o tratamento adequado, embora a recuperação completa possa levar
vários meses a anos. Com o passar dos dias com compressão medular, aumenta a chance de que o déficit não se resolva completamente.
Dito isso, vamos às alternativas.
Incorreta a alternativa A, pois, no caso de espondilodiscite por tuberculose, o tratamento pode se estender por até 9 meses.
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Incorreta a alternativa B, o déficit pode ser irreversível, principalmente se passadas mais de 72h desde sua instalação.
Correta a alternativa C,
pois um importante diferencial de espondilodiscite é infecção bacteriana, especialmente por S. aureus. A
suspeição clínica deve ser elevada em pacientes com fatores de risco, especialmente uso de drogas injetáveis
e valvopatias estruturais. O sopro em ruflar em linha axilar anterior poderia sugerir estenose mitral, sendo um fator de risco para endocardite
e espondilodiscite bacterianas.
Incorreta a alternativa D, pois a tuberculose, em qualquer forma, pode acontecer em paciente imunocompetentes também.
Incorreta a alternativa E, pois um acometimento de coluna cervical provavelmente geraria um déficit nos quatro membros, não só nos
membros inferiores. O acometimento é mais provavelmente de coluna torácica/lombar.
CIRURGIA GERAL
11 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Ortopedia - Prof. David Nordon) Paciente é trazido ao pronto-socorro em prancha rígida e com
colar cervical após mergulho em águas rasas. Apresenta perda de sensibilidade do ombro para distal, com discreta força para abdução do
ombro, porém sem capacidade de fletir os cotovelos. Todos os reflexos a partir do bicipital estão abolidos.
Sobre esse caso:
A) trata-se de uma lesão de Brown-Séquard.
B) trata-se de uma lesão completa de nível C4-C5.
C) o paciente apresenta-se em Frankel A.
D) o paciente provavelmente apresentará bradicardia e hipotensão.
E) não é possível definir se o paciente está em choque medular.
COMENTÁRIOS:
Discussão da questão
O que o examinador quer saber com essa pergunta?
Conhecimentos gerais sobre trauma raquimedular.
O que você precisa saber para responder a essa pergunta?
Trauma raquimedular
A medula espinhal pode ser lesada de forma completa ou parcial, após um trauma. Quando de forma parcial, consideramos síndromes
medulares específicas; quando de forma total, forma-se o que conhecemos como nível neurológico:
- Nível neurológico: o nível neurológico, ou último nível medular em que ainda há sensibilidade e motricidade preservadas, é exclusivo
de lesão medular completa. Não se apresenta em nenhuma outra lesão do sistema nervoso central.
Quando se atende um paciente com trauma raquimedular, há uma grande chance de se tratar de um politraumatizado e, por
consequência, com múltiplas lesões. A prioridade é, assim, preservar a vida do paciente, mas os cuidados com a coluna são muito importantes,
de forma que se deve sempre colocar o colar cervical, para estabilizar a coluna cervical, e fazer movimentação em bloco do paciente, até que
se prove que a coluna está intacta.
O melhor exame no momento do trauma é a radiografia, por ser rápido e bastante sensível às principais lesões da coluna vertebral.
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Choque medular
O trauma raquimedular é uma lesão grave devido a um trauma da coluna vertebral. É mais frequente nas zonas de transição (coluna
cervicotorácica e toracolombar). A fratura ou luxação da vértebra pode comprimir o canal medular e provocar déficit neurológico. Não há
tratamentos realmente efetivos para esse tipo de lesão.Fragmentos ósseos dentro do canal devem ser removidos, e fraturas com indicação
cirúrgica devem ser operadas. Contudo, ainda não temos técnicas para reestabelecer a conexão entre os nervos lesados.
Essa perda súbita de função medular é conhecida como choque medular, que envolve arreflexia, paralisia e hipotonia nos níveis abaixo
do nível afetado. O choque medular dura entre 24 e 48 horas, e seu fim é marcado pelo retorno dos reflexos sacrais (“piscadela” anal, reflexo
bulbocavernoso). Sua recuperação total pode levar até 4 semanas.
Classificação de Frankel
É uma classificação para se avaliar a função da medula espinhal e consiste na avaliação da função motora e sensitiva abaixo do nível de
lesão. Um jeito bom de lembrar se a escala melhora ou piora conforme as letras é pensar: A de ausente e E de excelente.
Grau Descrição
A Lesão neurológica completa; sem função motora ou sensitiva abaixo do nível de lesão.
B Apenas a função sensitiva está preservada, mesmo que parcialmente.
C Alguma função motora preservada, porém não funcional.
D Função motora preservada e funcional, porém abaixo do normal.
E Funções motora e sensitiva preservadas e normais; reflexos anormais podem persistir.
Síndromes medulares
A lesão da medula espinhal pode se manifestar de diversas formas. Veja, no quadro a seguir, as principais manifestações.
Síndrome Mecanismo de lesão Características
Centromedular -
Motor: membros superiores > membros inferiores.
Sensibilidade sacral preservada.
Recuperação em 50% dos casos.
Brown-Séquard
Lesão rotacional, subluxação, lesão
penetrante, fratura laminar ou
pedicular
Perda motora ipsilateral
Perda térmico-dolorosa contralateral.
Bom prognóstico.
Medular anterior Trauma em flexão
Perda total de sensibilidade e motricidade abaixo do nível.
Mau prognóstico.
Medular posterior Trauma em extensão
Comprometimento da sensibilidade vibratória e propriocepção.
Função motora e sensibilidade térmico-dolorosa preservadas.
Cone medular - Arreflexia de bexiga, intestino e membros inferiores.
Cauda Equina -
Anestesia em sela
Arreflexia total
Possibilidade de recuperação neurológica – urgência ortopédica.
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Discussão das alternativas
Incorretas as alternativas A, B e C, todas pela mesma razão: o paciente encontra-se em choque medular, comprovado pela ausência de todos
os reflexos a partir do bicipital, o que significa que o bulbocavernoso está ausente. Dessa forma, não é possível definir que tipo de lesão é,
se completa ou não, nem se ter certeza do nível. Caso esse caso tivesse alguns dias de apresentação e o reflexo bulbocavernoso já houvesse
retornado, seria, de fato, uma lesão completa de nível C4-C5 Frankel A.
Correta a alternativa D,
pois, considerando-se a provável altura da lesão (C4-C5), o paciente provavelmente apresentará choque
medular e, portanto, bradicardia e hipotensão.
Incorreta a alternativa E, como discutimos na alternativa A.
12 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Gastroenterologia - Prof. Isabella Parente) Sobre a anatomia do pâncreas, assinale a alternativa
correta.
A) O pâncreas é irrigado por rede arterial originária do tronco celíaco e da artéria mesentérica inferior.
B) O ducto pancreático principal (ou ducto de Wirsung) une-se ao ducto biliar e forma a ampola de Vater, a qual desemboca na segunda
porção do duodeno através da papila duodenal maior, envolvida pelo esfíncter de Oddi.
C) O pâncreas divisum ocorre por migração anômala do broto ventral, gerando tecido pancreático circunferencial que envolve a segunda
porção duodenal.
D) O pâncreas ectópico deverá ser sempre ressecado cirurgicamente.
E) A cauda do pâncreas localiza-se posteriormente ao rim esquerdo e relaciona-se com hilo esplênico e flexura do cólon.
COMENTÁRIO:
Estrategista, para acertarmos essa questão, temos que estar em dia com nossos conhecimentos sobre anatomia pancreática.
Anatomicamente, o pâncreas divide-se em cabeça, colo, corpo e cauda. A cabeça do pâncreas é circundada pela curvatura em “C” do
duodeno. Ela exibe uma projeção em sua porção inferior que recebe o nome de processo uncinado. O colo do pâncreas vem em seguida,
medindo de 1,5 a 2 cm, e continua-se com o corpo do pâncreas, cuja porção anterior é recoberta pelo peritônio. Por fim, a cauda do pâncreas
localiza-se anteriormente ao rim esquerdo e relaciona-se com hilo esplênico e flexura do cólon.
Vamos analisar as assertivas em busca da correta:
Incorreta a alternativa A. O pâncreas é irrigado por rede arterial originária do tronco celíaco e artéria mesentérica superior. A cabeça e
processo uncinado são irrigados pelas artérias pancreatoduodenais anterior e posterior. Já o colo, corpo e cauda são irrigados pelo sistema
arterial esplênico (artéria esplênica origina artéria pancreática dorsal e artéria pancreática inferior).
Correta a alternativa B.
O pâncreas situa-se atrás do estômago, ladeado pelo duodeno e baço. O duodeno, em C, praticamente abraça
a cabeça do pâncreas. Já o ducto pancreático principal (ou ducto de Wirsung) unindo-se ao ducto biliar e
formando a ampola de Vater, a qual desemboca na segunda porção do duodeno através da papila duodenal maior, envolvida pelo esfíncter
de Oddi.
Incorreta a alternativa C. Essa descrição corresponde ao pâncreas anular. O pâncreas divisum ocorre por fusão deficitária entre os brotos
dorsal e ventral, originando um ducto pancreático ventral que desemboca no duodeno através da papila maior juntamente com o ducto biliar
comum, e um ducto pancreático dorsal que desemboca através da papila menor.
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Incorreta a alternativa D. O pâncreas ectópico ocorre quando tecido pancreático é surpreendido em outros órgãos, como estômago, duodeno,
divertículo de Meckel. A ressecção cirúrgica é desnecessária, a menos que exista repercussão clínica.
Incorreta a alternativa E. A cauda do pâncreas localiza-se anteriormente ao rim esquerdo e relaciona-se com hilo esplênico e flexura do cólon.
13 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Cirurgia - Prof. Renatha
Paiva) PAC, 35 anos de idade, trazido pelo SAMU vítima de
agressão física com taco de madeira. Ao exame: vias aéreas
pérvias, colar cervical bem locado, saturação de oxigênio 92% em
ar ambiente. Expansibilidade torácica simétrica e normal, ausculta
cardiopulmonar sem alterações. Frequência respiratória 18 irpm,
frequência cardíaca 100 bpm, pressão arterial 100 x 70 mmHg.
Abdome flácido, doloroso à palpação de hipocôndrio esquerdo,
sem sinais de irritação peritoneal, pelve estável. Escala de coma
de Glasgow 12, equimose periorbitária bilateral. Pupilas isocóricas
e fotorreagentes, sem déficits neurológicos focais. Realizou
tomografias computadorizadas de crânio e abdome total (em
anexo). Uma hora após a admissão, o paciente evoluiu com piora
do rebaixamento do nível de consciência, frequência cardíaca 128
bpm, pressão arterial 80 x 50 mmHg e Glasgow 07.
Prova de acesso direto HVC 2024
Em relação à conduta indicada para esse paciente, é correto afirmar que:
A) está indicada intubação orotraqueal, expansão volêmica com estratégia de hipotensão permissiva e craniotomia descompressiva.
B) está indicada intubação nasotraqueal, expansão volêmica com ringer lactato aquecido e hemocomponentes, laparotomia exploradora.
C) está indicada intubação orotraqueal, expansão volêmica com ringer lactato aquecido e hemocomponentes, craniotomia descompressiva.
D) está indicada máscara de O2, não reinalante, 15 L/min, expansão volêmica com estratégia de hipotensão permissiva e laparotomia
exploradora.
E) está indicada intubação orotraqueal, expansão volêmica com ringer lactato aquecido e hemocomponentes, laparotomia exploradora.
COMENTÁRIOS
Estamos diante de um paciente vítima de agressão física com diagnóstico tomográfico de traumatismocranioencefálico (hematoma
subdural) e trauma abdominal fechado com lesão esplênica. Após a realização da tomografia, evoluiu com rebaixamento do nível de consciência
(Glasgow 7) e instabilidade hemodinâmica.
Seguindo a sequência do ABCDE do ATLS, na avaliação primária desse paciente, as condutas serão:
A. paciente com Glasgow ≤ 8, indicação de via aérea definitiva, sendo a intubação orotraqueal a via de escolha;
B. expansibilidade torácica simétrica e normal;
C. instabilidade hemodinâmica = reanimação com 1000 mL de ringer lactato aquecido, em acesso venoso periférico, transfusão de
hemocomponentes e controle de hemorragia por meio de laparotomia (e esplenectomia);
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D. Glasgow 7, hematoma subdural agudo = indicação de tratamento cirúrgico (drenagem do hematoma por craniotomia
descompressiva);
E. pelve estável, sem fraturas. Aquecer o paciente (evitar hipotermia).
Vamos analisar as alternativas.
Incorreta a alternativa A: a hipotensão permissiva é uma estratégia na abordagem inicial do paciente instável, principalmente nas vítimas
de trauma abdominal penetrante, seguida do controle imediato da causa do sangramento. A hipotensão permissiva significa permitir que
os pacientes permaneçam relativamente hipotensos durante alguma parte de sua ressuscitação. É uma das estratégias da reanimação e
controle de danos que tem como objetivo controlar a hemorragia rapidamente e prevenir a coagulopatia, minimizando o uso de cristaloides
e transfundindo hemoderivados (sangue, plasma e plaquetas) precocemente. A PAS (pressão arterial sistólica) é mantida em torno de 70 a 80
mmHg, apenas para manter a perfusão tecidual adequada sem provocar aumento do sangramento. O excesso de fluidos pode causar a ruptura
dos coágulos formados nos vasos lesados, podendo resultar em ressangramento, além de diluição de plaquetas e de fatores de coagulação,
instalação ou agravamento da hipotermia. Também causa efeitos adversos na agregação plaquetária e na cascata da coagulação, contribuindo
para coagulopatia. Nas vítimas de TCE, a PAS deve ser mantida ≥ 100 mmHg para prevenir lesão cerebral secundária, logo a hipotensão
permissiva não é uma conduta para esses pacientes. Além disso, a laparotomia exploradora deve ser realizada antes da craniotomia.
Incorreta a alternativa B: a via aérea de escolha é intubação orotraqueal. Além disso, a intubação nasotraqueal está contraindicada na
suspeita de fratura de base de crânio (sinal do guaxinim – equimose periorbitária bilateral).
Incorreta a alternativa C: a laparotomia exploradora deve ser realizada antes da craniotomia.
Incorreta a alternativa D: o paciente tem indicação de via aérea definitiva e a hipotensão permissiva está contraindicada devido ao traumatismo
cranioencefálico.
Correta a alternativa E: como vimos, essa é a alternativa correta.
14 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Cirurgia - Prof. Renatha Paiva) VJC, feminino, 44 anos, obesa, DM, admitida com dor em hipocôndrio
direito (HCD) há um dia, associada a náuseas, vômitos e febre aferida. Ao exame: REG, corada, desidratada +/4, eupneica, anictérica,
febril, consciente e orientada. FC: 102 bpm; PA: 90 x 60 mmHg, SaTO2: 95% em ar ambiente. Abdome doloroso em HCD, Murphy positivo.
Realizou ultrassonografia de abdome que evidenciou líquido pericolecístico, vesícula de paredes espessadas com cálculos em seu interior,
colédoco de calibre normal. Exames laboratoriais: Hb = 13,2 g/dL; 18,50 mil/mm³ (3% de bastões); plaquetas =150.000 / mm³; PCR = 156
mg/dL; creatinina = 2,3 mg/dL; ureia = 64 mg/dL, K = 4,3 mEq/L, Na = 132 mEq/L. Bilirrubina total = 1,5 mg/dL; TGO = 44 U/L; TGP = 39
U/L; amilase = 110 U/L. Iniciado antibioticoterapia endovenosa.
Segundo as diretrizes de Tokyo, é correto afirmar que:
A) trata-se de um quadro de colecistite aguda grau II, com indicação de colecistectomia videolaparoscópica.
B) trata-se de um quadro de colecistite aguda grau III, com indicação de colecistostomia trans-hepática.
C) trata-se de um quadro de colangite aguda grau III, com indicação de drenagem da via biliar por CPRE (colangiopancreatografia retrógrada
endoscópica).
D) trata-se de um quadro de colecistite aguda grau III, podendo ser submetida à colecistectomia videolaparoscópica após reanimação.
E) trata-se de um quadro de colecistite aguda grau II, com indicação de colecistectomia aberta.
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COMENTÁRIOS
Estamos diante de uma paciente que apresenta critérios diagnósticos para colecistite aguda grave, classificada como grau III segundo
as diretrizes de Tokyo 2018. Vamos relembrar os critérios diagnósticos e a classificação de gravidade da colecistite aguda:
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO TG18/TG13 PARA COLECISTITE AGUDA
A- Sinais locais de inflamação:
✓ 1) sinal de Murphy
✓ 2) massa QSD* / dor / sensibilidade
*quadrante superior direito
B- Sinais sistêmicos de inflamação:
✓ 1) febre
✓ 2) PCR elevado
✓ 3) contagem elevada de leucócitos
C- Resultados da imagem:
✓ achados de imagem característicos da colecistite aguda
✓ diagnóstico suspeito: um item em A + um item em B
✓ diagnóstico definitivo: um item em A + um item em B + C
CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE DO TG18/TG13 PARA COLECISTITE AGUDA
Colecistite aguda grau III (grave): associada à disfunção de qualquer um dos seguintes órgãos / sistemas:
1) Disfunção cardiovascular: hipotensão que requer tratamento com dopamina ≥ 5 μg/kg por minuto ou qualquer dose de noradrenalina.
2) Disfunção neurológica: diminuição do nível de consciência.
3) Disfunção respiratória: relação PaO 2/FiO 2 < 300.
4) Disfunção renal: oligúria, creatinina > 2,0 mg/dL.
5) Disfunção hepática: PT ‐ INR > 1,5.
6) Disfunção hematológica: contagem de plaquetas < 100.000/mm³.
Colecistite aguda grau II (moderada) — associada a qualquer uma das seguintes condições:
1) Contagem elevada de leucócitos (> 18.000/mm³).
2) Massa macia palpável no quadrante abdominal superior direito.
3) Duração das reclamações > 72h.
4) Inflamação local marcada (colecistite gangrenosa, abscesso pericolecístico, abscesso hepático, peritonite biliar, colecistite
enfisematosa).
Colecistite aguda grau I (leve): não atende aos critérios de colecistite aguda "grau III" ou "grau II". Também pode ser definida
como colecistite aguda em um paciente saudável, sem disfunção orgânica e alterações inflamatórias leves na vesícula biliar, tornando a
colecistectomia um procedimento cirúrgico seguro e de baixo risco.
Dessa forma, temos uma paciente com colecistite aguda grau III, por apresentar disfunção renal (creatinina > 2,0 mg/dL).
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TRATAMENTO:
BAIXO RISCO (ASA ≤ 2)
• TOKYO I e II : COLECISTECTOMIA PRECOCE.
• TOKYO III SEM DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA/RESPIRATÓRIA/ BT ≥ 2 MG/dL = COLECISTECTOMIA PRECOCE.
ALTO RISCO (≥ 3)
• TOKYO I: ATB = PROGRAMAR COLECISTECTOMIA.
• TOKYO II: ATB COM OU SEM COLECISTOSTOMIA = PROGRAMAR COLECISTECTOMIA.
• TOKYO III: COM DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA/RESPIRATÓRIA/ BT ≥2 MG/Dl = COLECISTOSTOMIA = PROGRAMAR COLECISTECTOMIA
SE CONDIÇÕES CLÍNICAS.
Uma das alterações mais importantes entre as diretrizes de Tokyo 2013 e 2018 é que esta última define disfunção neurológica, disfunção
respiratória e coexistência de icterícia (bilirrubina total ≥ 2 mg/dL) como fatores preditivos negativos na colecistite de grau III. Isso quer dizer
que os pacientes não devem ser submetidos à cirurgia, pois esses fatores independentes estão associados a altas taxas de mortalidade. No
entanto, a disfunção renal e a disfunção cardiovascular são consideradas tipos de falência favorável do sistema orgânico (FOSF), portanto são
definidas como "fatores preditivos não negativos", porque essas disfunções geralmente podemser revertidas pelo tratamento inicial e pelo
suporte clínico e, desse modo, os pacientes iriam se beneficiar da colecistectomia precoce. Na TG13, a colecistite aguda com gravidade grau
III, a cirurgia precoce era contraindicada.
A cirurgia para pacientes com colecistite Tokyo II e III devem ser realizadas em centros avançados (com UTI) e por cirurgiões experientes.
Reanimação com antibióticos
e suporte
COLECISTECTOMIA PRECOCE
ANTIBIOTICOTERAPIA / SUPORTE
Drenagem percutânea ou endoscópica
da vesícula biliar
Colecistectomia eletiva ou
observação (depende do risco)
ASA ≤ 2 ASA ≥ 3
ANTIBIOTICOTERAPIA/
SUPORTE
COLECISTECTOMIA ELETIVA
COLECISTECTOMIA
PRECOCE
TOKYO I
ASA ≤ 2
Cirurgião experiente
e centro avançado
ASA ≥ 3
COLECISTECTOMIA
PRECOCE
COLECISTECTOMIA
ELETIVA
Antibióticos
Com ou sem drenagem
da vesícula biliar
TOKYO II
ASA ≤ 2
Fatores preditivos “não negativos”
(FOSF), disfunção renal e a disfunção
cardiovascular
Cirurgião experiente
e centro avançado
ASA ≥ 3
Fatores preditivos negativos de
disfunção neurológica, disfunção
respiratória e coexistência de
icterícia (TBiI ≥ 2 mg/dl)
TOKYO III
DIRETRIZES DE TOKYO TG18
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Vamos analisar as alternativas.
Incorreta a alternativa A. Nossa paciente tem um quadro de colecistite aguda grave, grau III.
Incorreta a alternativa B. Pacientes com colecistite aguda grau III, sem disfunção neurológica/respiratória/ BT ≥ 2 mg/dL podem ser
submetidos à colecistectomia precoce após reanimação. A colecistostomia estaria indicada nos casos de colecistite aguda grau III, com
disfunção neurológica/respiratória/ BT ≥ 2 mg/dL.
Incorreta a alternativa C. Essa é a indicação para pacientes com colangite aguda, dor abdominal, febre e icterícia (tríade de Charcot), ausente
em nossa paciente. Além disso, a ultrassonografia não apresenta dilatação das vias biliares, além dos achados serem típicos de colecistite
aguda.
Correta a alternativa D. Como vimos, essa é a alternativa correta.
Incorreta a alternativa E. Nossa paciente tem um quadro de colecistite aguda grave, grau III. Após a reanimação, a colecistectomia deve ser
feita preferencialmente por laparoscopia.
15 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Cirurgia - Prof. Renatha Paiva) RPC,
feminino, 56 anos, apresentando quadro de dor abdominal esporádica e
icterícia flutuante. Nega febre. Realizada ultrassonografia, visualizaram-se
cálculos na vesícula biliar, porém a avaliação da via biliar foi inconclusiva
devido à interposição gasosa. Exames laboratoriais: hemograma =
leucócitos – 10300/(sem desvio), Hb – 14 g/dL, plaquetas 175.000,
bilirrubinas totais: 3,9 mg/dL, BD – 2,9 mg/dL, FA de 550 U/L, ALT 250 U e
AST 230 U, amilase – 90 U/L. Foi realizado, então, outro exame de imagem
(em anexo).
Prova de acesso direto HECI 2021
Considerando o exame apresentado, é correto afirmar que:
A) o exame apresentado é uma angiotomografia e o tratamento é cirúrgico.
B) o tratamento inicial indicado é colangipancreatografia retrógrada
endoscópica (CPRE).
C) o diagnóstico mais provável é um tumor de Klatskin.
D) o tratamento definitivo é anastomose bileodigestiva.
E) o diagnóstico é coledocolitíase primária.
COMENTÁRIOS
Estamos diante de uma paciente com queixa de dor abdominal e icterícia flutuante (aquela que “vai e volta”). Os exames laboratoriais
confirmam icterícia obstrutiva, pois apresentam bilirrubinas aumentadas às custas da fração direta. Como a ultrassonografia não fechou o
diagnóstico, foi solicitada uma colangiorressonância, exame padrão-ouro para avaliação das vias biliares, que evidenciou coledocolitíase e
dilatação das vias biliares.
Nesse caso, está indicada a retirada do cálculo por via endoscópica (CPRE), seguida de colecistectomia, preferencialmente na mesma
internação.
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Comentários
Incorreta a alternativa A: o exame apresentado é uma colangiorressonância.
Exploração cirúrgica
da via biliar
Suspeita de
coledocolitíase
Ultrassonografia abdominal
Colangiofrafia intraoperatória
(opção nos locais que não dispõem
de RNM)
Cálculo (+) Cálculo (-)
CPRE
pós-operatória Encerrar cirurgia
Colangioressonância magnética
(padrão-ouro)
Cálculo (+) Cálculo (-)
ColecistectomiaCPRE
Cálculo (-) Dilatação da via biliar (+)Cálculo (+)
CPRE
Correta a alternativa B: como vimos, a CPRE é a conduta inicial.
Incorreta a alternativa C: o tumor de Klatskin é um tipo de colangiocarcinoma localizado na região peri-hilar. Na colangiorressonância, seria
visualizada, além da neoplasia, dilatação da via biliar intra-hepática e vesícula biliar murcha, não distendida.
Incorreta a alternativa D: anastomose bileodigestiva estaria indicada se a via biliar estivesse muito dilatada (> 1,5 cm) e na presença de
múltiplos cálculos.
Incorreta a alternativa E: o diagnóstico é coledocolitíase secundária, uma vez que a origem do cálculo é da vesícula biliar.
16 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Cirurgia - Prof. Renatha Paiva) Sobre o projeto ACERTO, é correto afirmar que:
A) o jejum pré-operatório para aleitamento materno é de 6 horas.
B) paciente no pós-operatório de cirurgia de grande porte deve receber analgesia com opioides endovenosos.
C) paciente submetido à colectomia direita com anastomose primária pode receber dieta no primeiro dia de pós-operatório.
D) não há necessidade de deambulação precoce para os pacientes com indicação de profilaxia farmacológica para tromboembolismo venoso.
E) o preparo colônico está indicado para todas cirurgias colorretais.
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COMENTÁRIOS
Em 2005, o Projeto ACERTO (aceleração da recuperação total pós-operatória), com base em ampla revisão bibliográfica sobre cuidados
perioperatórios, iniciou programa multimodal pioneiro no território nacional, o qual, desde a concepção, destacou a importância de questões
nutricionais na recuperação do paciente cirúrgico. A medicina baseada em evidências tem mostrado amplamente que programas de
aceleração da recuperação pós-operatória, aos moldes do ACERTO, são seguros, diminuem complicações pós-operatórias e reduzem o tempo
de internação hospitalar, sem incremento nas taxas de reinternação.
Na tabela a seguir, estão as principais recomendações do projeto ACERTO:
MEDIDA RECOMENDAÇÃO
Abreviação de jejum 200 mL de líquido claro acrescido de 12 g de maltodextrina 6h e 2h antes da cirurgia.
Realimentação precoce
NÃO é necessário aguardar o retorno dos ruídos hidroaéreos.
Nas cirurgias sem manipulação do trato gastrointestinal, iniciar dieta via oral no
mesmo dia da cirurgia (de preferência, dieta leve).
Nas cirurgias com anastomose (gastrointestinal, enteroentérica, enterocólica ou
colorretal), iniciar dieta líquida no mesmo dia ou no 1º dia pós-op.
Nas cirurgias com anastomose esofágica, iniciar dieta com 12-24h de pós-op. por
sonda nasoenteral ou jejunostomia.
Hidratação venosa
NÃO hiper-hidratar o paciente.
Evitar hidratação venosa de rotina.
Caso necessário, 30 mL/kg em 24h.
Sondas nasogástricas NÃO utilizar sonda nasogástrica aberta em drenagem de rotina.
Drenagem da cavidade NÃO utilizar drenos cavitários sem necessidade.
Analgesia pós-operatória
Uso escalonado da analgesia.
NÃO utilizar indiscriminadamente opioides.
NÃO prescrever medicação de resgate como primeira opção de analgesia.
O uso de cateter peridural é uma opção para evitar o uso excessivo dos opioides.
Preparo colônico
NÃO prescrever preparo colônico de rotina.
No ACERTO, indicado para pacientes que serão submetidos a ressecções colorretais
baixas.
Deambulação precoce
Estimular deambulação precoce.
Meta: 2h fora do leito no dia da operação e 6h nos dias subsequentes.
Vamos analisar as alternativas:
Incorreta a alternativaA: o jejum para aleitamento materno é de 4 horas.
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Alimento Tempo de jejum
Água e líquidos sem resíduos (“líquidos claros”) 2 horas
Leite materno 4 horas
Leite não humano ou fórmula infantil 6 horas
Refeição leve 6 horas
Refeição completa 8 horas
Tabela – Recomendações de jejum pré-anestésico.
Incorreta a alternativa B: o manejo da dor pós-operatória é fundamental no paciente cirúrgico, pois tem grande efeito na redução da
morbimortalidade cirúrgica. Para tanto, podemos usar a escala analgésica sugerida pela OMS para fazer o escalonamento das medicações:
Drogas adjuvantes
Dor refratária
à farmacoterapia
DEGRAU 4
Procedimentos
intervencionistas
+
Opioides fortes
+
Analgésicos
AINE
Dor
intensa
DEGRAU 3
Opioides fortes
+
Analgésicos
AINE
Dor
moderada
DEGRAU 2
Opioides fracos
+
Analgésicos
AINE
Dor
leve
DEGRAU 1
Analgésicos
AINE
Dessa forma, os opioides não devem ser usados de forma rotineira e indiscriminada. Os opiáceos retardam a realimentação precoce, pois
agem no peristaltismo e podem levar ao íleo pós-operatório, aumentam o risco de náuseas e vômitos pós-operatórios e estão associados a
rebaixamento do nível de consciência e depressão respiratória.
Correta a alternativa C:
para pacientes com anastomose gastrointestinal, enteroentérica, enterocólica ou colorretal, a dieta líquida
deve começar no mesmo dia ou no primeiro dia de pós-operatório.
Incorreta a alternativa D: a deambulação precoce sempre deve ser estimulada, mesmo que o paciente esteja recebendo profilaxia
farmacológica para TEV (tromboembolia venosa).
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Incorreta a alternativa E: devemos indicar preparo colônico nos pacientes que serão submetidos a ressecções colorretais baixas, como nas
amputações abdominoperineais do reto (cirurgia de Miles) ou nas ressecções com excisão total do mesorreto.
17 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Cirurgia - Prof. Antonio Rivas) Uma mulher de 56 anos em tratamento de insuficiência venosa
crônica vem ao consultório de cirurgia vascular para seguimento de rotina. Ao exame físico, apresenta escurecimento de face interna de
perna direita com descamação local e atrofia cutânea, além de edema do membro. Ao ultrassom Doppler venoso, apresentava trombose
venosa profunda de veia poplítea recanalizada. Considerando o caso em tela, qual é a classificação clínica da doença venosa crônica
conforme CEAP?
A) C1.
B) C2.
C) C3.
D) C4.
E) C5.
COMENTÁRIOS:
A classificação CEAP é um mnemônico para
• Clínica
• Etiológica
• Anatômica
• Fisiopatológica
Essa classificação tem o objetivo de categorizar doenças venosas crônicas com a finalidade de facilitar a comunicação entre os
profissionais e servir como base para descrições padronizadas.
A classificação clínica (letra C do mnemônico CEAP) é praticamente a única cobrada em provas de Residência. Vamos aproveitar essa
oportunidade para relembrá-la.
CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DA DOENÇA VENOSA CRÔNICA (CEAP)
C0 SEM SINAIS VISÍVEIS OU PALPÁVEIS DE DOENÇA VENOSA CRÔNICA.
C1 TELANGIECTASIAS.
C2 VEIAS VARICOSAS.
C3 EDEMA SEM ALTERAÇÕES CUTÂNEAS.
C4
ALTERAÇÕES CUTÂNEAS SECUNDÁRIAS À INSUFICIÊNCIA VENOSA (HIPERPIGMENTAÇÃO,
LIPODERMATOSCLEROSE).
C5 ALTERAÇÕES CUTÂNEAS COM ÚLCERA VENOSA CICATRIZADA.
C6 ALTERAÇÕES CUTÂNEAS COM ÚLCERA VENOSA ABERTA.
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O enunciado descreve a presença de edema associado a alterações cutâneas, como a hiperpigmentação, atrofia e descamação da pele.
Portanto, concluímos que estamos diante de uma insuficiência venosa crônica com lipodermatoesclerose, ou seja, CEAP – C4.
Correta a alternativa D.
18 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Cirurgia - Prof. Antonio
Rivas) Homem de 72 anos vem ao serviço de emergência com quadro
de dor abdominal de início abrupto, em cólica, com 18 horas de
evolução. Refere parada de eliminação de fezes e flatos. Ao exame
físico, apresenta-se em regular estado geral, com abdome distendido
e tenso, timpânico à percussão, com dor difusa à palpação, sem
sinais de irritação peritoneal. Os familiares informam que o paciente
é cronicamente constipado e foi diagnosticado recentemente com
megacólon chagásico. Além disso, é diabético, hipertenso e tabagista
de longa data.
Como parte da avaliação, o paciente foi submetido à radiografia de
abdome que encontra-se a seguir.
Que fator de risco apresentado abaixo NÃO está relacionado ao
diagnóstico em tela?
A) Sexo masculino.
B) Idade acima de 70 anos.
C) Doença de Chagas.
D) Constipação crônica.
E) Hipertensão e tabagismo.
COMENTÁRIOS:
Inicialmente, devemos notar que estamos diante de um quadro clássico de volvo de sigmoide. Vamos aproveitar essa oportunidade
para fazermos uma pequena revisão em relação a esse diagnóstico.
O volvo de sigmoide é uma condição em que ocorre torção do cólon sigmoide sobre si mesmo, levando à obstrução intestinal. Essa é a
segunda causa mais comum de obstrução intestinal baixa, correspondendo a aproximadamente 10% das obstruções baixas.
O diagnóstico é frequentemente suspeito em pacientes com dor e distensão abdominal de início súbito, náuseas, vômitos e constipação.
Ao exame físico, apresenta um abdome distendido e timpânico à percussão. O diagnóstico de um volvo de sigmoide é estabelecido por
imagem (radiografia simples ou tomografia computadorizada do abdome).
A radiografia simples de abdome é o primeiro e, às vezes, o único exame de imagem a ser realizado. Um sinal radiológico típico do volvo
de sigmoide é denominado “sinal do U invertido”, “sinal do grão de café” ou “sinal do tubo interno dobrado".
O principais fatores de risco relacionados a esse evento incluem:
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✓ sigmóide redundante e longo;
✓ idosos (7ª e 8ª décadas);
✓ sexo masculino;
✓ pacientes institucionalizados;
✓ doenças neurológicas e psiquiátricas, uso de medicamentos psicotrópicos;
✓ constipação crônica;
✓ doença de Chagas e doença de Crohn;
✓ dismotilidade colônica (jovens e crianças, ex.: doença de Hirschsprung).
O fluxograma para o tratamento dessa patologia se encontra logo a seguir.
Ao observarmos os fatores de risco elencados no comentário, notamos que hipertensão e tabagismo não se encontram entre eles,
afinal nenhum dos dois está relacionado ao aumento da probabilidade de desenvolvimento de volvo de sigmoide.
Não Sim
VOLVO DE SIGMOIDE
Paciente com volvo de sigmoide na imagem abdominal
Existem alguns dos seguintes sinais de alarme?
• Peritonite no exame físico
• Perfuração ou comprometimento intestinal na imagem
Realizar distorção endoscópica
com colocação de tubo retal
A distorção endoscópica é
bem-sucedida?
Cirurgia imediata*
Há evidência de comprometimento
vascular do cólon proximal?
O paciente é candidato a cirurgia?
Não
Sim
NãoSim NãoSim
Colectomia subtotal
e ileostomia
Sigmoidectomia
*Se o paciente estiver estável e não houver peritonite fecal pode ser realizada anastomose primária com ou sem ostomia de proteção.
Hartmann: cirurgia de escolha na instabilidade/contaminação intracavitária
Fonte: Uptodate
Preparo intestinal
Colonoscopia
Cirurgia (24 a 72h):
sigmoidectomia com
anastomose primária
Pacientes com mais de 2
episódios de volvo:
Colostomia endoscópica
percutânea ou sigmoidopexia
endoscópica percutânea
Correta a alternativa E.
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19 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Cirurgia - Prof. Antonio Rivas) Paciente do sexo masculino é trazido pelo SAMU após acidente
envolvendo moto x anteparo fixo há uma hora.Encontra-se com PA 85x55, FC 124, FR 34, Ausculta pulmonar tem MV presentes e simétricos,
com roncos de transmissão. Escala de coma de Glasgow com 9 pontos. Durante a exposição apresentava equimoses e escoriações na face
anterior do abdome. O cirurgião no setor de emergência realiza um FAST abdominal e observa moderada quantidade de líquido em oco
pélvico. Assinale a alternativa correta baseado no caso em tela.
A) Está indicado ácido tranexâmico, transfusão de hemoderivados e laparotomia exploradora.
B) Está indicado transfusão de hemoderivados e laparotomia exploradora, apenas (60' decorridos desde o evento).
C) O FAST com moderada quantidade de líquido na pelve é inconclusivo e indica a necessidade de lavado peritoneal diagnóstico.
D) O FAST positivo, junto aos estigmas de trauma abdominal, indica a necessidade de uma tomografia para avaliação pormenorizada.
E) O traumatismo craniano com efeito de massa e hipertensão intracraniana é uma justificativa possível para o choque.
COMENTÁRIOS:
Estamos diante de um paciente com instabilidade hemodinâmica com confirmação de sangramento intra-abdominal por meio do FAST.
Nessa situação, há indicação inquestionável de laparotomia exploradora (LE).
Lembre-se: trauma abdominal com instabilidade hemodinâmica e FAST positivo é uma indicação clássica de LE.
Além da laparotomia para controle de sangramento, outras medidas deveriam ser adotadas para esse paciente? A resposta é sim, e as
medidas incluem:
1. obtenção de dois acessos calibrosos (18 g ou mais calibrosos);
2. encaminhamento de amostra de sangue para tipagem sanguínea;
3. reposição inicial de 1000 mL de cristaloide aquecido;
4. reposição de hemoderivados para os quadros de choque não responsivo ou para choques de classe III ou classe IV;
5. administração de ácido tranexâmico para os casos de trauma grave (até 3 horas após o trauma) – dar 1 g em 10 minutos mais 1 g em
8 horas.
Correta a alternativa A: como vimos, há indicação inquestionável de laparotomia para controle do sangramento.
Além disso, o ensaio clínico Crash II demonstrou que a administração de ácido tranexâmico (transamin) diminui a mortalidade nos traumas
graves.
A droga está formalmente indicada nas três primeiras horas após o trauma, nos casos em que a frequência cardíaca está acima de 110 bpm
ou a pressão arterial sistólica abaixo de 90.
Sua administração é feita da seguinte forma:
1 g IV em bólus (correr em 10 minutos) seguida de administração de 1 g IV ao longo das próximas 8 horas subsequentes à primeira dose.
Por fim, o choque de classe III justifica a necessidade de hemoderivados.
Incorreta a alternativa B: além da laparotomia, está mantida a indicação de ácido tranexâmico. Afinal, ainda não se passaram 3 horas do
trauma.
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Incorreta a alternativa C: a finalidade do lavado peritoneal diagnóstico (LPD) é semelhante à do FAST, ou seja, identificar a presença de
sangramentos intra-abdominais no paciente politraumatizado. Sendo assim, o lavado não mudaria a conduta nesse caso, portanto não está
indicado.
A regra é: "se fez FAST, não precisa fazer lavado."
Incorreta a alternativa D: a tomografia está formalmente contraindicada nos pacientes com instabilidade hemodinâmica. Além disso, o
exame tomográfico não mudaria a conduta, que é a laparotomia exploradora.
Incorreta a alternativa E: a hipotensão arterial não pode ser justificada por sangramentos intracranianos ou por hipertensão intracraniana
(HIC). O que acontece com a pressão arterial na HIC é justamente o contrário, uma vez que esse quadro costuma ser caracterizado pela tríade
de Cushing, composta por:
• hipertensão;
• bradipneia;
• bradicardia.
20 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Cirurgia - Prof. Antonio Rivas) Homem de 25 anos sofreu ferimento penetrante de abdômen por
arma de fogo durante um assalto. Na admissão, encontrava-se instável hemodinamicamente com orifício de entrada em mesogástrio,
sem orifício de saída. Em virtude da lesão, optou-se pela realização de laparotomia exploradora. No intraoperatório, observou-se grande
hematoma intra-abdominal, além de lesão acometendo cerca de 1/3 da circunferência do cólon na altura do ângulo esplênico. Ao longo da
cirurgia, foram necessários 3 concentrados de hemácias, 3000 mL de cristaloides, além do uso de drogas vasoativas. Qual é o tratamento
mais adequado para essa lesão?
A) Hemicolectomia esquerda.
B) Colorrafia.
C) Colectomia total com ileostomia terminal.
D) Colectomia segmentar com colostomia e fístula mucosa.
E) Colectomia segmentar com colo-colo anastomose.
COMENTÁRIOS:
As lesões colorretais são mais frequentes após o trauma abdominal penetrante e raramente ocorrem nos traumas contusos. No trauma
penetrante por arma de fogo, a lesão do cólon fica atrás somente do intestino delgado, ocorrendo em 40% dos casos. Assim como o intestino
delgado, o cólon ocupa grande espaço na cavidade abdominal, estando mais vulnerável aos ferimentos penetrantes.
A parede posterior dos cólons ascendente e descendente é retroperitoneal, o que torna particularmente difícil o diagnóstico de
lesões nesses segmentos. Já o cólon transverso (segmento mais lesado), que é móvel e se estende da flexão hepática à flexão esplênica,
é intraperitoneal. Os dois terços superiores e anteriores do reto estão localizados intraperitonealmente e o restante é extraperitoneal, o
que é muito importante no planejamento do tratamento cirúrgico. Se o paciente apresentar sangue ao toque retal e estiver estável
hemodinamicamente, uma retossigmoidoscopia rígida pode ser bastante útil no diagnóstico e planejamento cirúrgico de lesões retais e do
sigmoide.
A mortalidade relacionada a lesões de cólon e reto é a mais baixa de todas as vísceras abdominais, com 12,3%, segundo o NTDB
(National Trauma Data Bank).
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Dependendo do grau da lesão colorretal, o tratamento pode ser feito com desbridamento e rafia da lesão (lesão < 50% da circunferência);
na maioria das lesões mais extensas, pode ser indicada ressecção do segmento e anastomose primária, sem colostomia de proteção. Porém,
são fatores de risco para a anastomose primária: comorbidades significativas, > 6 unidades de transfusão de sangue, choque, atraso na
operação (> 4 a 6 horas) e contaminação fecal pesada. Lesões proximais à artéria cólica média são melhor tratadas por meio da hemicolectomia
direita e anastomose ileocólica; lesões distais podem ser tratadas com ressecção segmentar e anastomose primária.
Vale lembrar que, nos traumas complexos, com lesões de vísceras maciças associadas e paciente instável, a cirurgia deve ser rápida
e o controle de danos é feito com rafia ou ressecção do cólon, utilizando grampeador intestinal e fazendo sepultamento dos cotos, sem
anastomose. A reconstrução do trânsito será feita posteriormente, após estabilização do quadro, em geral, após 48 horas.
Memorize o quadro de resumo abaixo, acerca das informações mais relevantes para a prova sobre os ferimentos colorretais.
TRAUMA COLORRETAL
✓ Lesão < 50% da circunferência = desbridamento e rafia primária da lesão.
✓ Lesão > 50% da circunferência = ressecção e anastomose primária, sem colostomia de proteção.
✓ Não realizar anastomose se: comorbidades significativas; > 6 unidades de transfusão de sangue; choque; atraso na
operação (> 4 a 6 horas); e contaminação fecal pesada. Nesses casos, ressecar e fazer uma colostomia (Hartmann,
fístula mucosa). Alguns autores indicam exteriorizar a lesão (mas não é consenso).
✓ Lesão de reto extraperitoneal: derivação fecal (colostomia em alça de proteção). Pode ser feita sutura primária e
drenagem pré-sacral.
Portanto, para o caso em tela, em que há instabilidade hemodinâmica, está indicada ressecção com colostomia + fístula mucosa.
Incorretaa alternativa A: como vimos, em um paciente instável hemodinamicamente, com uma lesão que acomete um segmento do cólon
esquerdo, a melhor conduta consiste em ressecar o segmento lesionado e realizar uma colostomia associada a uma fístula mucosa. Não há
indicação de que todo o cólon esquerdo seja ressecado.
Incorreta a alternativa B: a colorrafia é o reparo direto da lesão colônica por meio de sutura. Para lesões colônicas < 50% da circunferência do
cólon, limpas e em pacientes estáveis, o debridamento associado à colorrafia é uma opção eficaz e menos invasiva, evitando a necessidade
de estomas. Entretanto, nosso paciente encontra-se instável hemodinâmicamente, em uso de droga vasoativa. Desse modo, essa não é a
melhor conduta.
Incorreta a alternativa C: essa abordagem envolve a remoção de todo o cólon e a confecção de uma ileostomia terminal. Em um contexto de
lesão segmentar, não faz sentido considerarmos essa opção.
Correta a alternativa D:
essa abordagem envolve a remoção do segmento de cólon lesionado e criação de uma estomia dos segmentos
aferente (colostomia) e eferente (fístula mucosa). Lembre-se, a colostomia no contexto de trauma colônico
fica reservada para situações em que há lesões extensas (>50% da circunferência) em pacientes instáveis, com comorbidades significativas,
necessidade de transfusão de sangue maior do que 6 concentrados, com tempo de lesão superior a 4 a 6 horas ou contaminação extensa
da cavidade. No contexto de instabilidade hemodinâmica, essa é a melhor saída, mesmo que a lesão tenha 1/3 da circunferência do cólon
transverso.
Incorreta a alternativa E: a colectomia segmentar com anastomose primária está contraindicada em pacientes instáveis hemodinamicamente,
dado o risco de deiscência de anastomose, que decorre da má perfusão intestinal relacionada ao choque.
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GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
21 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Martins) Paciente de 59 anos vem ao ambulatório com queixa
de bola na vagina. Nega outras queixas. Refere que teve 3 partos vaginais. A avaliação de POP-Q está descrita a seguir:
-1 +1 -2
3 3 8
-3 -3 -8
De acordo com o POP-Q, qual é o diagnóstico mais provável?
A) Prolapso de parede anterior E2 + prolapso apical E1.
B) Prolapso de parede posterior E2 + hipertrofia do colo uterino.
C) Prolapso de parede anterior E2 + hipertrofia do colo uterino.
D) Prolapso de parede posterior E1 + prolapso apical E2.
E) Prolapso de parede posterior e anterior E2.
COMENTÁRIOS:
Existem diversas classificações utilizadas para avaliar os POPs, porém o POP-Q (pelvic organ prolapse quantification) é o mais aceito
pelas sociedades científicas e o mais cobrado nas provas de Residência. Sabemos que avaliar as grades do POP-Q é amplamente cobrado nas
provas e é uma das maiores dificuldades dos alunos.
A avaliação do POP-Q tem como base a fixação de pontos de referência na vagina (conforme imagem a seguir). Independentemente do
ponto, sua distância é medida em centímetros, em relação à carúncula himenal, que é o introito da vagina (ponto zero). Os pontos internos
da vagina são negativos e os pontos externos são positivos. Os valores aferidos pelo POP-Q são descritos por meio de uma grade, como a
representada na imagem a seguir. Em algumas provas, os nomes dos pontos não são dados e você tem que decorar a organização dessa grade.
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Vamos usar o passo a passo do POP-Q na prova?
1º. Veja os valores dos pontos Ba, Bp, C e D (a partir deles, você conseguirá avaliar se há a presença de prolapso e sua localização). O
comprimento vaginal total (CVT) também será importante para fazer a classificação.
Ba +1 Bp -3 C -2 D -8 CVT 8
2º. Os pontos Ba e Bp são maiores do que –3 (por exemplo -2, -1, 0 etc.)? Se sim, isso significa que há prolapso e você deve empregar
a classificação em estádios para definir seu grau. Lembrando que o ponto Ba representa a parede vaginal anterior, e o Bp, a parede posterior.
Há um prolapso da parede anterior, pois ele se encontra em +1.
3º. Qual é o valor do comprimento total da vagina? Vamos supor que seja de 10 cm. Transforme esse valor em um número negativo e
compare-o com o ponto D. Se o valor do ponto D for maior do que -10, por exemplo -9, -8 ou -7, isso significa que há uma descida da cúpula
vaginal, porém consideraremos patológico somente se a diferença for maior do que 2 cm. A partir disso, você deve usar a classificação do
POP-Q para ver seu estádio. É importante lembrar-se de que o ponto C e o ponto D descem juntos, pois representam o colo do útero e a
cúpula vaginal.
O CVT é de 10 ---> -10. Ao compararmos com o ponto D, vemos que a diferença não é superior a 2 cm, portanto não há prolapso de
parede apical. Mas há uma diferença muito grande entre C e D. São 6 cm. O que isso significa? Há uma hipertrofia do colo uterino, quando
ele mede mais do que 4-5 cm.
Vamos avaliar o estadiamento dos prolapsos:
Distopia genital – Classificação – POP-Q
Categoria Definição
Estágio 0
Sem prolapso (para o ponto D, somente consideramos prolapso se a diferença entre D e o valor
negativo de CVT for maior do que 2 cm). Por exemplo, se o CVT for de 10 cm e o ponto D estiver em –8
cm, consideramos fisiológico, porque a diferença é de 2 cm.
Estágio 1 Ba, Bp, C ou D estão a menos de –1 cm do hímen.
Estágio 2 Ba, Bp, C ou D estão, no mínimo, em –1 cm, mas não mais que + 1 cm do hímen.
Estágio 3
Ba, Bp, C ou D estão a mais do que + 1 cm, mas menos do que a diferença (CVT – 2 cm). Você deve
pegar o valor do CVT e subtrair 2 cm. Por exemplo, se o valor for 10 cm, você deve subtrair 2 cm,
chegando a 8 cm. Se o prolapso estiver antes de +8 cm, é considerado estádio III.
Estágio 4
Eversão total do órgão prolapsado. Ba, Bp, C ou D ficam, no mínimo, em (CVT –2 cm). Você deve pegar
o valor do CVT e subtrair 2 cm. Por exemplo, se o valor for 10 cm, você deve subtrair 2 cm, chegando
a 8 cm. Se o prolapso estiver além de +8 cm, é considerado estádio IV.
O prolapso de parede anterior é estádio II e não temos outros prolapsos, apenas uma hipertrofia do colo uterino.
Portanto, está correta a alternativa C.
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22 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Martins) Paciente de 34 anos refere ausência de menstruação há
8 meses. Nega outras queixas associadas. Nega qualquer problema de saúde ou cirurgia prévia. Realiza atividade física de alta intensidade
regularmente (7 vezes por semana), pois está se preparando para uma prova de triatlo. Refere que apresentou uma fratura por estresse
durante sua preparação. Realizadas dosagens de TSH e prolactina normais e o beta-hCG foi negativo. Diante do quadro apresentado, qual
é a principal hipótese diagnóstica?
A) Síndrome dos ovários policísticos.
B) Amenorreia funcional.
C) Insuficiência ovariana precoce.
D) Síndrome de Asherman.
E) Hiperplasia adrenal.
COMENTÁRIOS:
Na amenorreia hipotalâmica funcional, ou deficiência funcional de GnRH, ocorre diminuição dos pulsos de GnRH, levando à anovulação
crônica. Nesse grupo, estão incluídos transtornos alimentares, exercícios físicos extenuantes e estresse.
1. Transtornos alimentares: tanto a anorexia como a bulimia podem evoluir com amenorreia. Na anorexia, a disfunção hipotalâmica
é tão grave que pode afetar outros eixos hipotálamo-hipofisários, além do eixo reprodutivo e, mesmo com o retorno ao peso normal, nem
todas as pacientes retornam à função menstrual normal.
2. Exercícios: a amenorreia associada aos exercícios é mais encontrada nas atividades que necessitam de maior perda de peso e
gordura, como balé, corrida de longa distância, patinação e ginástica. Você verá,em algumas questões, a menção ao termo “tríade da atleta”,
que é definida como amenorreia, osteopenia/osteoporose (devido ao hipoestrogenismo) e desordens alimentares (também muito comuns
nessas pacientes).
3. Estresse: eventos traumáticos na vida ou estresse induzido por doenças podem causar amenorreia.
A paciente tem um dado importante de história para corroborar o diagnóstico, que é uma fratura por estresse, que pode ser explicado
pelo hipoestrogenismo e pelo excesso de atividade física.
Incorreta a alternativa A, pois a paciente não apresenta outros sinais indicativos de SOP, além da amenorreia.
Correta a alternativa B, conforme descrito na introdução.
Incorreta a alternativa C, pois a paciente não tem sinais clínicos sugestivos de falência ovariana.
Incorreta a alternativa D, pois a síndrome de Asherman ocorre após uma curetagem uterina.
Incorreta a alternativa E, pois a paciente não tem nenhum sinal de hiperandrogenismo.
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23 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Martins) Mulher de 23 anos procura a UBS referindo o
aparecimento de lesão em sua região íntima. Refere que a lesão apareceu há 7 dias. Ao exame, apresenta lesão única, com fundo sem
secreção, com bordas endurecidas e indolor ao toque. Apresenta linfonodomegalia inguinal bilateral. Não apresenta corrimentos ou
outros achados. Qual é o provável diagnóstico?
A) Cancro duro.
B) Cancro mole.
C) Donovanose.
D) Herpes.
E) Linfogranuloma venéreo.
COMENTÁRIOS:
A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica, sexualmente transmissível e de evolução crônica, causada pela bactéria Treponema pallidum.
Sua manifestação primária é uma úlcera genital, o cancro duro ou protossifiloma.
Trata-se de uma úlcera indolor (ou pouco dolorosa), em
geral única, com fundo limpo, secreção serosa escassa e bordas
endurecidas. Geralmente, passa despercebida, mas está localizada
em pequenos e grandes lábios, paredes vaginais e colo. Ocorre
linfadenopatia regional móvel, indolor, múltipla e que não fistuliza.
No geral, a adenopatia também passa despercebida. A
lesão aparece de 10-90 dias após o contato sexual (média de três
semanas) e é muito infectante, rica em treponemas, que podem
ser visualizados ao microscópio óptico com campo escuro. O cancro
costuma desaparecer entre três a quatro semanas, sem deixar
cicatrizes.
Correta a alternativa A, pois a descrição é compatível com sífilis primária.
Incorreta a alternativa B, pois o cancro mole manifesta-se com úlcera múltiplas, dolorosas e com fundo sujo.
Incorreta a alternativa C, pois a donovanose manifesta-se com úlceras irregulares e com fundo granuloso e sangrante.
Incorreta a alternativa D, pois a herpes manifesta-se com vesículas que se rompem e formam exulcerações múltiplas e dolorosas.
Incorreta a alternativa E, pois o linfogranuloma venéreo tem como principal manifestação sua fase secundária com acometimento linfonodal
com fistulização.
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24 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Martins) Mulher de 47 anos refere que está apresentando
irregularidade menstrual há cerca de 12 meses. Refere que, no início, os ciclos estavam mais curtos, chegando a sangrar duas vezes ao
mês e que agora está com intervalos mais longos, de até 3 meses. Refere aumento de irritabilidade e dificuldade para dormir. Nega outros
sintomas. Qual é o mecanismo associado ao quadro da paciente?
A) Redução da produção de inibina B com aumento de FSH, o que promove a ocorrência de ciclos mais curtos, com posterior queda dos
níveis estrogênicos.
B) Aumento dos níveis de progesterona, impactando em irregularidade da menstruação.
C) Esgotamento completo dos folículos ovarianos, levando a ciclos eventuais decorrentes da produção de estrona no tecido adiposo.
D) Aumento da produção de SHBG, diminuindo os níveis de esteroides sexuais e levando à irregularidade da menstruação.
E) Redução dos fatores de coagulação pelo hipoestrogenismo, levando a aumento de sangramento no início do climatério.
COMENTÁRIOS:
O ponto-chave para a ocorrência das modificações no climatério é a perda folicular intensa nesse período, porém essa queda da
reserva ovariana não se inicia nesse momento.
O processo de atresia folicular acompanha a mulher durante toda sua vida. Ao final da 20ª semana de vida intrauterina, a população de
folículos atinge seu maior valor. Cerca de 75% dessas células degeneram-se ainda na vida fetal. Desses folículos remanescentes, apenas cerca
de 400.000 chegarão à puberdade.
Ao final da fase reprodutiva, esse processo se intensifica, dando origem às alterações climatéricas, até que haja seu esgotamento no
período pós-menopausa.
No período da transição menopáusica, há uma alteração da produção hormonal ovariana e do funcionamento do eixo hipotálamo-
hipófise-ovário, devido à diminuição importante do número de folículos ovarianos. Por conta da depleção folicular, ocorre uma diminuição da
produção de inibina B (produzida pelas células da granulosa dos ovários), o que, por sua vez, desativa o feedback negativo sobre a hipófise,
aumentando os níveis de FSH. Nesse período, há um aumento da resposta folicular ovariana pela ação da gonadotrofina, com aceleração da
depleção dos folículos ovarianos, inclusive podendo haver aumento dos níveis estrogênicos. O fluxograma a seguir resume esse processo que
ocorre no período inicial do climatério:
Enquanto existe uma certa quantidade de folículos, os níveis de estradiol são mantidos e a ovulação também. Em determinado
momento, a reserva folicular torna-se tão baixa que não é possível haver produção suficiente de estradiol para a ocorrência do pico de LH e,
consequentemente, da ovulação. Os ciclos tornam-se anovulatórios e a concentração de progesterona reduz-se drasticamente. O fluxograma
a seguir resume o que ocorre no climatério tardio até a menopausa:
Depleção folicular
acelerada
Manutenção do
estradiol
Aumento
do FSH
Redução de
inibina B
Depleção
folicular
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Correta a alternativa A,
Ausência de pico
de LH
Redução da produção
de estradiol
Reserva folicular
muito baixa
Anovulação
conforme descrito na introdução.
Incorreta a alternativa B, pois há redução dos níveis de progesterona nesse período.
Incorreta a alternativa C, pois, quando há esgotamento completo dos folículos, a paciente tem a menopausa e não retorna a menstruar.
Incorreta a alternativa D, pois a produção de SHBG tende a diminuir nessa fase.
Incorreta a alternativa E, pois esse período é marcado por hipercoagulabilidade.
25 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Martins) Mulher de 36 anos chega ao consultório com queixa
de sinusorragia e sangramentos intermenstruais. No exame físico, foi evidenciada lesão exofítica em colo uterino com cerca de 3 cm. Não
há acometimento vaginal. No toque vaginal, os paramétrios encontram-se livres. Não há exames disponíveis. Quais são o estadiamento
clínico e o tratamento preconizado para essa paciente?
A) IB3, quimiorradiação.
B) IB2, histerectomia Piver 3.
C) IIA1, Wertheim-Meigs.
D) IA2, conização do colo.
E) IB1, histerectomia Piver 2.
COMENTÁRIOS:
Estrategista, essa paciente apresenta um quadro clínico típico de câncer de colo uterino. O câncer de colo uterino invasor, em fases
iniciais, bem como suas lesões precursoras, é assintomático, por isso a importância do rastreamento. Em mulheres assintomáticas, essa
neoplasia pode ser descoberta por meio do rastreio ou por lesão visível, durante o exame pélvico. Em mulheres sintomáticas, as manifestações
mais comuns são:
• sangramento irregular;
• corrimento vaginal mucoideou com odor (achado inespecífico);
• sinusorragia (sangramento pós-coito).
Aproximadamente 45% das pacientes têm doença localizada, no momento do diagnóstico; 36% têm doença com envolvimento regional
e 15% têm metástases à distância. Doença avançada pode apresentar-se com:
• dor pélvica, com irradiação para extremidades;
• sintomas urinários e intestinais devido à invasão ou compressão tumoral.
A visualização do colo uterino, durante o exame especular, pode revelar uma aparência normal ou uma lesão cervical visível. Qualquer
lesão visível suspeita deve ser biopsiada, independentemente dos resultados citológicos benignos anteriores.
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A lesão pode manifestar-se como úlcera superficial, tumor exofítico (Figura 1) na ectocérvice ou com infiltração da endocérvice. Os
tumores endofíticos podem resultar em um colo uterino que parece aumentado, liso e endurecido, geralmente chamado de "colo em barril".
Entre os adenocarcinomas cervicais, aproximadamente metade é exofítica; outros aumentam ou ulceram, difusamente, o colo uterino, e
cerca de 15% não apresentam lesão visível porque o carcinoma está dentro do canal endocervical.
O esquema a seguir mostra o estadiamento do câncer de colo:
A forma de tratamento do câncer de colo depende de seu estadiamento. Veja a tabela a seguir:
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TRATAMENTO DO CÂNCER DE COLO UTERINO
ESTÁDIO CONDUTA
Ca in situ
Conização (diagnóstica e terapêutica)
Se ADENOCARCINOMA in situ - histerectomia simples
IA- Tumor restrito
ao colo
IA1- invasão < 3 mm
SEM IELV: histerectomia extrafascial simples (Piver I) *
SEM IELV SEM PROLE DEFINIDA: conização
COM IELV: histerectomia Piver II + linfadenectomia
COM IELV SEM PROLE DEFINIDA: conização + linfadenectomia
IA2 - invasão 3-5 mm
Histerectomia Piver II + linfadenectomia
SEM PROLE DEFINIDA: traquelectomia + linfadenectomia
IB- Tumor restrito
ao colo com
profundidade de
invasão ≥ 5 mm
IB1- tumor < 2 cm
Histerectomia Piver III + linfadenectomia
SEM PROLE DEFINIDA: traquelectomia + linfadenectomia
IB2- tumor 2-4 cm Histerectomia Piver III + linfadenectomia
IB3-tumor ≥ 4 cm Quimiorradiação
II-
IIA1- invade 2/3 superiores da
vagina com tumor < 4 cm
Histerectomia Piver III + linfadenectomia
IIA2- invade 2/3 superiores da
vagina com tumor ≥ 4 cm
Quimiorradiação
IIB- invade paramétrio sem
atingir parede pélvica
Quimiorradiação
Como a paciente apresenta uma lesão restrita ao colo e medindo entre 2 e 4 cm, o estádio é IB2. A conduta nesses casos é histerectomia
Piver 3 + linfadenectomia.
Portanto, está correta a alternativa B.
26 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natalia Carvalho) Paciente de 28 anos, primigesta, com atraso menstrual para 7
semanas, apresenta dor abdominal e sangramento leve há 1 semana. Não há histórico de cirurgias prévias. Ao exame físico, apresenta-se
em bom estado geral, descorada +/4+, acianótica, consciente e orientada. PA: 110 x 70 mmHg. FC: 102 bpm. Exame físico abdominal: leve
dor à palpação no quadrante inferior direito, sem sinais de irritação peritoneal. A ultrassonografia transvaginal mostra ausência de saco
gestacional na cavidade uterina, mas revela uma massa anexial no lado direito medindo 3,5 x 2,2 x 2,0 cm, com fluxo sanguíneo periférico
ao Doppler e presença de pequena quantidade de líquido livre no fundo de saco posterior. Não é visualizado embrião. Qual é a principal
hipótese diagnóstica?
A) Gestação intrauterina inicial.
B) Torção de cisto ovariano.
C) Gestação ectópica íntegra.
Estratégia
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D) Apendicite aguda.
E) Gestação ectópica rota.
COMENTÁRIOS:
O que o examinador quer saber: sobre o diagnóstico de gestação ectópica.
A gestação ectópica (GE) corresponde a qualquer gestação que ocorre fora da cavidade endometrial, sendo o local mais comum a tuba
uterina (70% dos casos implantam-se na ampola tubária).
O diagnóstico é feito com a história clínica, a dosagem de hCG sérico e a ultrassonografia.
Diante de gestante com quadro clínico de dor abdominal aguda e intensa e sinais de instabilidade hemodinâmica no início da gestação,
deve-se pensar primeiramente em GE rota.
Quando a gestante apresenta quadro clínico leve ou ausente, o diagnóstico de GE dá-se pelos níveis séricos de B-hCG e pela
ultrassonografia.
Pacientes com hCG sérico com valores > 2000 mUI/mL, sem imagem de saco gestacional intrauterino são altamente suspeitas para
gestação ectópica. A visualização de imagem de saco gestacional extrauterino confirma a hipótese de gestação ectópica. Outras imagens
como anel tubário e hematossalpinge (sangue na tuba uterina) também se correlacionam com gestação ectópica.
Quando o B-hCG é maior do que 3500 mUi/mL, é obrigatória a visualização do saco gestacional, caso contrário já é possível confirmar
o diagnóstico de gestação ectópica, mesmo se não for observada imagem sugestiva de GE.
Em casos de HCG < 2000 mUI/mL, devemos repetir a dosagem e o USG em 48h, de modo que o crescimento inferior a 50% no período,
ainda sem imagem tópica, direciona para o diagnóstico de gestação ectópica.
Atraso menstrual + sangramento + dor pélvica
B-hCG quantitativo + US transvaginal
Cavidade uterina vaziaSaco gestacional tópico
Ausência de massa anexial
B-hCG quantitativo
< 3500UI
B-hCG quantitativo
≥ 3500UI
Repetir B-hCG
e USTV em 48h
Massa anexial extraovariana
Valores sobem menos que 50%
Gravidez inviável
ou ECTÓPICA
Valores duplicaram
GESTAÇÃO
ECTÓPICA
GESTAÇÃO
TÓPICA
GESTAÇÃO
TÓPICA
Avaliar anexos
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MED
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Comentários:
Incorreta a alternativa A: o ultrassom transvaginal não mostrou saco gestacional na cavidade uterina, que é um achado esperado em gestações
intrauterinas normais de 7 semanas.
Incorreta a alternativa B: embora a presença de uma massa anexial possa sugerir um cisto ovariano, a descrição de fluxo sanguíneo periférico
ao Doppler e a presença de líquido livre são mais consistentes com uma gestação ectópica. Além disso, o quadro clínico sugere uma gestação
ectópica, já que a paciente está com uma gestação inicial associada a sangramento e dor abdominal.
Correta a alternativa C:
a paciente está gestante de 7 semanas com dor abdominal e sangramento leve, juntamente com os achados
ultrassonográficos de uma massa anexial com fluxo sanguíneo periférico e a ausência de saco gestacional na
cavidade uterina, sugerindo uma gestação ectópica. Como não há sinais de irritação peritoneal nem instabilidade hemodinâmica, não se trata
de uma gestação ectópica rota, mas, sim, íntegra.
Incorreta a alternativa D: o quadro de dor abdominal poderia sugerir apendicite, especialmente localizada no quadrante inferior direito.
No entanto, a ausência de febre, os achados ultrassonográficos e a presença de sangramento genital são incompatíveis com apendicite e
sugestivos de gestação ectópica.
Incorreta a alternativa E: como não há sinais de irritação peritoneal nem instabilidade hemodinâmica, não se trata de uma gestação ectópica
rota, mas, sim, íntegra.
27 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natalia Carvalho) Paciente de 34 anos, com 37 semanas de gestação, primigesta,
vem ao serviço de emergência obstétrica com queixas de diminuição dos movimentos fetais nas últimas 48 horas. Nega outros sintomas. Ao
exame clínico, temperatura axilar de 36,7 °C e frequência cardíaca materna de 85 bpm. O exame obstétrico revela ausência de batimentos
cardiofetais à ausculta, dinâmica uterina ausente, toque vaginal com 2 cm de dilatação, 50% esvaecido, bolsa íntegra. A ultrassonografia
confirma a ausênciade batimento cardíaco fetal e líquido amniótico reduzido. Assinale a alternativa CORRETA referente à conduta menos
recomendada para esse caso.
A) Conduta expectante por 48 horas.
B) Indução do parto com ocitocina.
C) Colocação do balão de Foley.
D) Realização de cesariana imediata.
E) Administração de prostaglandinas.
COMENTÁRIOS:
O que o examinador quer saber: sobre a conduta no óbito fetal.
Diante de uma mulher com óbito fetal, a conduta deve envolver a investigação da causa do óbito fetal, os cuidados psicológicos e a
resolução da gestação.
O método e o momento do parto após o OF dependem da idade gestacional do natimorto, da causa do óbito, da história obstétrica
pregressa e do desejo materno.
Deve-se priorizar o parto normal, seja espontâneo ou induzido. O parto cesáreo é reservado para casos excepcionais, pois os riscos
maternos do procedimento cirúrgico não são compensados por benefício fetal.
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Conduta expectante
A conduta expectante deve ser priorizada, uma vez que 75-90% das gestantes entram em trabalho de parto espontâneo em até 2
semanas. Por isso, caso a família concorde, deve-se aguardar o trabalho de parto espontâneo por até 4 semanas.
São contraindicações à conduta expectante:
Contraindicações à conduta expectante
Coagulação intravascular disseminada
Infecção intra-amniótica
Rotura prematura de membranas
Descolamento prematuro de placenta
Placenta prévia
Aloimunização Rh
Distúrbios psíquicos
Pré-eclâmpsia grave
Restrição de crescimento fetal
Pré-eclâmpsia
Sabe-se que o óbito fetal aumenta o risco de coagulopatias na gestante, em decorrência da liberação gradual de tromboplastina da
placenta para a circulação materna. O risco de coagulação intravascular disseminada é em torno de 2% e aumenta quanto maior for o tempo
entre o OF e a resolução da gestação. Por isso, nos casos de conduta expectante, está indicado o acompanhamento com coagulograma, de
preferência semanal.
A maioria das mulheres prefere a resolução imediata da gestação diante de um diagnóstico de OF. Nesses casos, deve-se optar pela
indução do parto.
Como na maioria das vezes o colo uterino ainda está imaturo, primeiramente se acelera a maturação cervical, dando preferência ao
uso das prostaglandinas (misoprostol ou dinoprostone), por sua ação mais rápida e mais efetiva. O uso do misoprostol para a maturação
cervical, nos casos de OF, vai depender da idade gestacional e as doses recomendadas pela FIGO e pela FEBRASGO estão a seguir:
• 13-26 semanas: 200 µg a cada 4-6 horas;
• 27-28 semanas: 100 µg a cada 4-6 horas;
• acima de 28 semanas: 25 µg a cada 4-6 horas.
Alguns estudos demonstram segurança com uso de misoprostol na indução de fetos menores de 28 semanas e cicatriz de cesárea
anterior. Já em gestações com mais de 28 semanas, essa medicação deve ser evitada, pelo risco aumentado de rotura uterina. Por isso, diante
de cesárea anterior, dá-se preferência para os métodos mecânicos de maturação cervical, como a sonda de Foley.
A cesárea deve ser indicada somente se houver alguma contraindicação absoluta ao parto normal, como no caso de placenta prévia,
massa tumoral prévia à apresentação fetal, cicatriz uterina longitudinal ou miomectomia prévia. Lembre-se de que fetos em apresentação
pélvica não representam indicação de cesárea nos casos de OF.
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Comentários:
Incorreta a alternativa A: a conduta expectante é aceitável em casos de óbito fetal, especialmente se não houver sinais de infecção ou outra
complicação materna, permitindo a evolução natural para o trabalho de parto.
Incorreta a alternativa B: o uso de ocitocina para induzir o trabalho de parto em casos de óbito fetal pode ser uma opção nesse caso, se a
paciente optar por conduta ativa.
Incorreta a alternativa C: o balão de Foley pode ser utilizado para induzir o trabalho de parto em casos de óbito fetal, sendo eficaz e seguro
para a mãe.
Correta a alternativa D:
a cesariana nos casos de óbito fetal é a conduta menos recomendada, a menos que haja indicações obstétricas
ou médicas específicas que contraindiquem o parto vaginal. Em casos de óbito fetal, o parto vaginal é preferível,
uma vez que uma cesariana traria riscos cirúrgicos desnecessários para a mãe.
Incorreta a alternativa E: as prostaglandinas podem ser usadas para amadurecer o colo do útero e induzir o trabalho de parto, podendo ser
utilizada nos casos de óbito fetal.
28 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natalia Carvalho) Paciente de 26 anos realiza sua primeira ultrassonografia
obstétrica devido à incerteza quanto à data da última menstruação. A ultrassonografia revela um diâmetro médio do saco gestacional
de 16 mm, vesícula vitelínica presente medindo 3 mm e embrião com comprimento cabeça-nádega (CCN) de 5 mm sem batimentos
cardíacos visíveis. Com base na ultrassonografia apresentada, assinale a alternativa CORRETA que sugere uma idade gestacional provável.
A) 5 semanas.
B) 6 semanas.
C) 7 semanas.
D) 8 semanas.
E) 9 semanas.
COMENTÁRIOS:
O que o examinador quer saber: sobre a ultrassonografia inicial.
O diagnóstico de gravidez intrauterina pode ser feito pela ultrassonografia obstétrica inicial a partir de 4,5 a 5 semanas de gestação,
com a visualização do saco gestacional (SG).
A medida do saco gestacional é realizada pela média dos três diâmetros, calculando-se o diâmetro médio do saco gestacional (DMSG).
Pela medida do DMSG, é possível estimar a idade gestacional antes de 6 semanas, quando ainda não é possível medir adequadamente o
embrião.
A vesícula vitelínica (VV) torna-se visível ao redor de 5 semanas de gestação e normalmente se degrada entre 10 e 12 semanas. Essa
é a primeira estrutura a aparecer dentro do saco gestacional, ajudando a confirmar uma gestação intrauterina, pois diferencia um saco
gestacional verdadeiro de um pseudo-saco gestacional que pode ocorrer na gestação ectópica.
Quando o DMSG é ≥ 8mm, geralmente já é possível visualizar a vesícula vitelínica. Se essa estrutura não é observada, podemos estar
diante de uma gestação não evolutiva, mas a confirmação de gestação inviável só pode ser feita com o acompanhamento ultrassonográfico
seriado ou quando não se visualiza vesícula vitelínica e embrião com DMSG ≥ 25 mm.
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O embrião pode ser visualizado a partir de 5,5 a 6 semanas e sua medida é feita pela avaliação do comprimento cabeça-nádegas (CCN)
após 6 semanas de gestação. Essa medida é o parâmetro mais importante para se calcular a idade gestacional pela ultrassonografia, como
veremos mais adiante.
A atividade cardíaca do embrião é visualizada no ultrassom entre 5,5 e 6 semanas. Quando não se observam batimentos cardíacos
em embrião com 7 mm ou mais, estamos diante de uma gestação inviável.
A tabela a seguir resume as principais estruturas visualizadas na ultrassonografia obstétrica inicial e que ajudam no diagnóstico de
gestação.
Estruturas Início da visualização na ultrassonografia transvaginal
Saco gestacional 4,5 a 5 semanas
Vesícula vitelínica 5 semanas
Atividade cardíaca embrionária 5,5 a 6 semanas
Medida do CCN 6 semanas
Comentários:
Incorreta a alternativa A: com 5 semanas, geralmente é possível visualizar o saco gestacional, mas ainda não se identifica claramente a
vesícula vitelínica e o embrião, especialmente medindo 5 mm de CCN.
Correta a alternativa B:
um embrião com CCN de 5 mm tem aproximadamente 6 semanas de gestação. Nessa idade gestacional, a
vesícula vitelínica é visível. Os batimentos cardíacos devem ser detectáveis a partir de 7 mm.
Incorreta a alternativa C: um embrião de 7 semanas teria um CCN maior, aproximadamente entre7 e 12 mm, e os batimentos cardíacos
deveriam ser visíveis.
Incorreta a alternativa D: com 8 semanas, o CCN estaria entre 14 e 20 mm e os batimentos cardíacos seriam definitivamente visíveis.
Incorreta a alternativa E: nesse estágio, o CCN seria entre 22 e 30 mm e, além dos batimentos cardíacos fetais, também se observam
movimentos corporais do feto.
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29 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natalia Carvalho) Paciente na 33ª semana de gestação, primigesta vem à
emergência obstétrica com queixas de contrações uterinas frequentes e dor abdominal moderada. Ao exame: dinâmica uterina de 4
contrações/30 minutos/45 segundos, batimentos cardiofetais de 146 bpm e pressão arterial de 120 x 80 mmHg. Toque vaginal mostra
colo uterino central, dilatado 3 cm, 50% de esvaecimento cervical, apresentação cefálica e bolsa íntegra. Assinale a alternativa que NÃO
deve ser realizada, baseada nas evidências atuais.
A) Administração de betametasona.
B) Aplicação de sulfato de magnésio.
C) Inibição das contrações com nifedipina.
D) Inibição das contrações com atosiban.
E) Profilaxia para estreptococos do grupo B.
COMENTÁRIOS:
O que o examinador quer saber: sobre a conduta no trabalho de parto prematuro.
As principais medidas que reduzem os riscos da prematuridade abaixo de 34 semanas são: corticoterapia para maturação pulmonar,
antibioticoprofilaxia para estreptococo do grupo B e sulfato de magnésio para neuroproteção fetal. A tocólise deve ser administrada com o
objetivo de retardar o parto para ser possível administrar e aguardar o efeito dessas medicações.
A inibição do trabalho de parto prematuro geralmente retarda o parto em até 48 horas. O objetivo de adiar o parto é ter tempo hábil
para administrar corticoide e sulfato de magnésio, bem como permitir o transporte da gestante a um centro de referência quando necessário.
Por isso, somente gestantes cujos fetos se beneficiam dessas intervenções devem receber a tocólise. Além disso, a terapia de manutenção dos
tocolíticos após 48 horas não está indicada, pois é ineficaz em prevenir o parto prematuro e melhorar os parâmetros neonatais.
Assim, a tocólise está indicada para trabalho de parto prematuro entre 24 e 34 semanas em pacientes com membranas íntegras, com
até 4 cm a 5 cm de dilatação cervical. Fora desses limites, seu uso deve ser particularizado de acordo com as características de cada serviço.
Sendo assim, as contraindicações para a tocólise são:
• idade gestacional < 24 semanas ou ≥ 34 semanas;
• rotura prematura pré-termo de membranas;
• óbito fetal ou malformação fetal letal;
• sinais de corioamnionite;
• suspeita de descolamento prematuro de placenta;
• placenta prévia com sangramento;
• restrição de crescimento fetal;
• doenças maternas graves descompensadas.
Os principais tocolíticos são: bloqueadores do canal de cálcio (nifedipina), antagonista dos receptores da ocitocina (atosiban), agonista
dos receptores beta-adrenérgicos (terbutalina) e os inibidores da síntese de prostaglandinas (indometacina). O atosiban e a nifedipina são os
tocolíticos mais utilizados na atualidade por terem menos efeitos colaterais e serem mais efetivos na tocólise.
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A administração de corticoide é a principal conduta em gestantes com chance de parto prematuro nos próximos 7 dias (trabalho de
parto prematuro, rotura prematura de membranas fetais ou parto prematuro eletivo), pois diminui os riscos de síndrome respiratória do
recém-nascido, hemorragia intracraniana, enterocolite necrosante e morte neonatal.
Os corticoides utilizados para a maturação pulmonar são a betametasona e a dexametasona. A betametasona na dose de 12 mg a cada
24h, completando duas doses no total, é o corticoide de escolha para esses casos, por ser necessário um menor número de aplicações. Já a
dexametasona na dose de 6 mg a cada 12h, completando 4 doses no total, é o segundo corticoide mais utilizado, mas tem a mesma eficácia
da betametasona.
Observa-se o efeito do corticoide já nas primeiras horas de uso, mas a ação completa ocorre após 24 horas do término do ciclo, isto
é, 48 horas após a primeira aplicação. Por isso, o uso do corticoide deve ser feito mesmo quando não há tempo hábil de se realizar o ciclo
completo.
O sulfato de magnésio deve ser usado para neuroproteção fetal na iminência de parto prematuro com ou sem rotura de membranas,
por diminuir a severidade e os riscos de paralisia cerebral ocasionados pela prematuridade. O uso do sulfato de magnésio deve ser feito entre
24 e 31 semanas e 6 dias para gestantes em trabalho de parto prematuro estabelecido ou para parto prematuro eletivo nas próximas 24 horas.
A antibioticoprofilaxia para estreptococo do grupo B deve ser feita intraparto a todas as gestantes em TPP com cultura positiva ou
desconhecida para a prevenção da sepse neonatal. A medicação de primeira escolha é a penicilina cristalina, mas a ampicilina, 2 g a cada 6
horas, também é medicação aceita.
A dose de ataque da penicilina cristalina é de 5 milhões UI por via endovenosa e deve ser feita, pelo menos, 4 horas antes do parto.
As doses de manutenção são de 2,5 milhões UI a cada 4 horas até o parto. Pode-se optar pela clindamicina endovenosa, caso haja alergia à
penicilina.
Comentários:
Incorreta a alternativa A: como a paciente está em trabalho de parto e tem menos de 34 semanas, está indicada a corticoterapia (betametasona
ou dexametasona) para maturação pulmonar.
Correta a alternativa B:
como a paciente tem 33 semanas e está em trabalho de parto, não há indicação do uso de sulfato de magnésio
para a neuroproteção fetal, pois esse deve ser feito até 32 semanas de gestação.
Incorreta a alternativa C: como a paciente tem 33 semanas e está no início do trabalho de parto, está indicado o uso de tocolítico, como a
nifedipina e o atosiban para inibição do trabalho de parto, a fim de haver tempo para a administração de corticoterapia.
Incorreta a alternativa D: como a paciente tem 33 semanas e está no início do trabalho de parto, está indicado o uso de tocolítico, como a
nifedipina e o atosiban, para inibição do trabalho de parto, a fim de haver tempo para a administração de corticoterapia.
Incorreta a alternativa E: a profilaxia para EGB está indicada em todos os casos de trabalho de parto prematuro e cultura desconhecida ou
positiva.
30 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natalia Carvalho) Assinale a alternativa INCORRETA referente às recomendações
da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre os cuidados intrapartos para uma experiência positiva de parto.
A) Durante o trabalho de parto, é recomendado o monitoramento do bem-estar fetal utilizando métodos não invasivos.
B) A mobilidade durante o trabalho de parto é incentivada, permitindo que a parturiente adote posições que lhe sejam confortáveis e
eficazes para o progresso do trabalho de parto.
C) A hidratação oral é desaconselhada durante o trabalho de parto, recomendando-se a administração intravenosa de fluidos.
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D) O uso de métodos não farmacológicos de alívio da dor, como massagens e banho de água quente, é encorajado para diminuir a percepção
da dor durante o trabalho de parto.
E) O suporte emocional contínuo por uma equipe treinada é considerado fundamental para promover uma experiência positiva de parto e
reduzir a percepção de dor e ansiedade.
COMENTÁRIOS:
O que o examinador quer saber: sobre assistência ao parto.
Atenção, Estrategista! A seguir, preparei um resumo com todas as intervenções recomendadas e não recomendadas pela OMS
e MS na assistência ao parto. Esse é o tópico que mais cai sobre esse temanas provas de Residência Médica!
Intervenções recomendadas:
PRIMEIRO ESTÁGIO DO TP – FASE ATIVA
Fase latente até 5 cm e fase ativa a partir de 5 cm de dilatação
Duração variável, com fase ativa em torno de 12h para primíparas
Controle intermitente dos BCFs a cada 15-30 min
Toque vaginal a cada 4 horas
Opções de alívio da dor: analgesia epidural, opioides e medidas não farmacológicas
Ingestão de líquidos e alimentos
Encorajar movimentação e posição vertical
SEGUNDO ESTÁGIO DO TP – EXPULSIVO
Duração variável, geralmente inferior a 2h em multípara e 3h em primípara
A posição do parto deve ser escolhida pela gestante, mesmo com analgesia
Controle intermitente dos BCFs a cada 5 min
Recomenda-se massagem perineal, compressas quentes e proteção perineal com as mãos
Realizar puxos espontâneos
TERCEIRO ESTÁGIO DO TRABALHO DE PARTO – DEQUITAÇÃO
Ocitocina 10 UI intramuscular para todas as pacientes
Tração controlada do cordão
Retardar o clampeamento do cordão por pelo menos 1 min
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RECÉM-NASCIDO
Contato pele a pele na primeira hora de vida
Estimular amamentação na primeira hora de vida
Vitamina K 1 mg intramuscular após o nascimento
Banho adiado até 24h após o nascimento
Mãe e bebê não devem ser separados
PUERPÉRIO
Avaliação materna regular nas primeiras 24h
Mãe e recém-nascido devem receber cuidados por pelo menos 24h após o nascimento
As intervenções não recomendadas são:
PRIMEIRO ESTÁGIO DO TP – FASE ATIVA
Usar o critério de evolução da dilatação cervical de 1 cm/h
Intervenções de rotina na fase latente (< 5 cm)
Pelvimetria clínica
Cardiotocografia de rotina na admissão ou contínua no TP espontâneo de gestação saudável
Tricotomia e enemas
Embrocação vaginal de rotina com antissépticos
Amniotomia e ocitocina para prevenir o TP prolongado
Ocitocina de rotina
Antiespasmódicos e fluidos endovenosos de rotina
SEGUNDO ESTÁGIO DO TP – EXPULSIVO
Uso rotineiro e liberal de episiotomia
Pressão manual do fundo uterino (manobra de Kristeller)
TERCEIRO ESTÁGIO DO TRABALHO DE PARTO – DEQUITAÇÃO
Massagem uterina contínua em paciente que recebeu ocitocina
RECÉM-NASCIDO
Aspiração em boca e nariz do RN se líquido amniótico for claro e respiração espontânea
PUERPÉRIO
Antibiótico profilático para partos não complicados ou para episiotomia
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Comentários:
Incorreta a alternativa A: a OMS orienta a monitorização dos batimentos cardíacos fetais durante todo o trabalho de parto, para garantir o
bem-estar fetal.
Incorreta a alternativa B: a OMS orienta que a mulher seja estimulada a deambular e adquirir posições verticalizadas para promover um
trabalho de parto mais eficaz e confortável para a mulher.
Correta a alternativa C:
a OMS recomenda a hidratação oral para as mulheres em trabalho de parto, pois é uma forma natural e
eficiente de manter a hidratação.
Incorreta a alternativa D: a OMS recomenda que a parturiente tenha acesso a métodos não farmacológicos e farmacológicos de alívio da dor.
Incorreta a alternativa E: a OMS recomenda o suporte emocional durante o parto para todas as parturientes.
PEDIATRIA
31 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Otorrinolaringologia - Prof. Diógenes Paiva) Sophia, de 12 anos, apresentou um quadro de dor
de garganta, febre e tosse há 5 dias com piora progressiva e início de “manchas vermelhas” no corpo há 1 dia, sendo trazida pelo pai ao
pronto-socorro. Ao exame, febre de 38,5 graus, orofaringe com hiperemia, hipertrofia e exsudato tonsilar, edema de úvula, petéquias em
palato, linfonodomegalia cervical posterior, AP: MV+ sem RA. Leucócitos: 18.000 com linfocitose e 20% de linfócitos atípicos. Em relação
ao quadro acima, assinale a alternativa correta.
A) Como o principal diagnóstico diferencial é com faringite bacteriana por S. pyogenes, devemos realizar o teste rápido para pesquisa da
referida bactéria.
B) É recomendada a utilização de analgésicos, aciclovir e corticoide.
C) O principal exame para esse diagnóstico é a sorologia para Epstein-Barr.
D) Biópsia de linfonodo deve ser indicada, pois apresenta maior efetividade do que a punção.
E) Já podemos iniciar o uso de p. benzatina ou amoxicilina sem exames complementares.
COMENTÁRIOS:
Correta a alternativa C.
Futuro Residente, veja como as questões sobre mononucleose infecciosa apresentam enunciados mais longos, valorizando a pluralidade
de sintomas dessa infecção. Ela foi a faringite mais frequente nas provas de R1, sendo cobrada também pelo SES-PE em anos recentes.
O causador é o vírus Epstein-Barr (EBV), da família Herpesviridae (HHV tipo 4), portanto é um vírus formado por uma molécula de DNA.
Adolescentes e adultos jovens são a faixa etária mais acometida e apresentam mais frequentemente o quadro clínico completo.
Outra característica marcante do exame físico, e que será o principal fator para diferenciar a associação faringite +
linfonodomegalia do Epstein-Barr da causada pelos outros agentes, é a hepato e/ou esplenomegalia.
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O exantema é variável, apresentando-se mais
frequentemente como maculopapular, em tronco e raízes de
membros, ocorrendo em apenas 10 a 15% dos casos.
Muito importante para a vida de médico e, por isso, bastante
cobrado em provas é o conhecimento de que: em caso de uso de
antibióticos na mononucleose (que é contraindicado) o exantema
exacerba-se e torna-se mais frequente.
Porém, esse exantema também pode acontecer de forma
espontânea, como no caso descrito acima.
O diagnóstico da mononucleose pode ser clínico, por meio
da associação dos sinais e sintomas descritos acima. Contudo, em
casos mais graves ou que necessitem de confirmação diagnóstico,
existem exames complementares que podem nos auxiliar para esse
fim.
Fonte: Shutterstock.
O exame mais cobrado nas provas de Residência é o hemograma, que apresenta leucocitose às custas de
linfocitose com > 10% de linfócitos atípicos.
Esse conhecimento é importante, pois várias doenças linfoproliferativas podem ser descritas entre as alternativas
como diagnósticos diferenciais, querendo “pegar carona” nesta atipia linfocitária.
A sorologia (IgM e IgG), para detecção dos anticorpos específicos contra o EBV, dá a certeza diagnóstica.
Testes rápidos para a detecção de anticorpos heterófilos e/ou de anticorpos específicos para o vírus Epstein-Barr também são viáveis
para o diagnóstico e podem ser utilizados. Um exemplo é a reação de Paul-Bunnell.
Nessa reação, verificamos uma hemaglutinação no contato do soro do paciente com hemácias de ovelha.
Os anticorpos heterófilos são imunoglobulinas produzidas em resposta a um antígeno não específico ou contra antígenos animais
induzidos a partir de vacinas, contato ambiental ou determinadas doenças infecciosas e autoimunes.
Se um paciente apresentar uma alta suspeita clínica, mas o teste de anticorpos heterofilos for negativo, deve ser feita a sorologia (IgM
e IgG para o EBV), pois o IgM fica positivo nas infecções agudas.
Incorreta a alternativa A. Na faringite bacteriana por S. pyogenes, podemos ter de forma semelhante a presença de hiperemia e hipertrofia
de tonsilas associadas a exsudato faríngeo, edema de úvula, petéquias em palato e linfonodomegalia cervical anterior. Porém, não apresenta
linfonodomegalia cervical posterior, hepatomegalia e o leucograma apresentaria leucocitose às custas de aumento dos neutrófilos.
Incorreta a alternativa B. As infecções primárias pelo Epstein-Barr raramente requerem mais do que terapia de suporte. Como possibilidades
farmacológicas, o acetaminofeno ou anti-inflamatórios não esteroides são recomendados para o tratamento da febre, desconforto na faringe
e mal-estar.
O aciclovir não apresentoubenefício clínico significativo em pacientes com infecção aguda pelo Epstein-Barr, não sendo indicada sua
utilização para o tratamento da fase aguda! Esse fármaco foi cobrado com frequência pelas bancas entre as alternativas, abordando os
tratamentos possíveis para MI.
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O corticoide pode ser utilizado em alguns casos mais complicados, como os que evoluem com:
- acometimento do SNC;
- anemia hemolítica autoimune;
- hipertrofia significativa de tonsilas levando a desconforto respiratório.
Incorreta a alternativa D. A biópsia de linfonodo seria uma conduta adequada caso estivéssemos diante da suspeita clínica de uma doença
linfoproliferativa. Porém, esse é um quadro agudo associado à faringite, sendo bem típico da mononucleose infecciosa por Epstein-Barr.
Não se esqueça de que essa infecção pode cursar com linfócitos atípicos.
Incorreta a alternativa E. A alternativa está incorreta, pois, conforme já descrevi, não estamos diante de uma suspeita de faringite bacteriana.
E, mesmo que estivéssemos, devemos solicitar antes um teste rápido para a pesquisa de antígenos estreptocócicos, que, caso seja negativo,
deve ser acompanhado de solicitação de cultura de orofaringe.
Essa conduta objetiva a diminuição da prescrição exagerada de antibióticos em infecções virais.
32 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Você atende no ambulatório de imunologia pediátrica
várias crianças ao dia em investigação para imunodeficiências congênitas e os pais questionam bastante sobre as vacinas que podem ser
utilizadas. Das citadas abaixo, qual pode ser considerada segura para aplicação nessas crianças?
A) BCG.
B) Hepatite A.
C) Tríplice viral.
D) Febre amarela.
E) Dengue.
COMENTÁRIOS:
Caro colega, temos dois tipos de vacinas: as vacinas vivas atenuadas são vacinas que contêm o patógeno, entretanto de uma
forma enfraquecida, em que eles perderam a capacidade de produzir a doença em imunocompetentes. Porém, são contraindicadas para
imunodeficientes e gestantes.
São elas: BCG, rotavírus, pólio oral, tríplice viral, tetra viral, varicela isolada, dengue e herpes-zóster.
As vacinas inativadas não contêm o patógeno vivo, portanto não têm capacidade de produzir a doença.
São elas: tríplice e dupla bacteriana, meningocócicas, pneumocócicas, hepatites A e B, Haemophilus influenzae tipo B, pólio inativada,
HPV, influenza, raiva e as vacinas contra o coronavírus.
Exatamente por não conterem o patógeno, elas têm como vantagem serem seguras para imunodeprimidos, imunodeficientes e
gestantes.
O quadro a seguir traz a distribuição das vacinas virais e bacterianas entre os grupos.
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VIVAS ATENUADAS INATIVADAS
Bacterianas BCG
Difteria
Tétano
Coqueluche
Meningocócicas C, B e ACWY
Pneumocócicas 10, 13 e 23 valente
Haemophilus influenzae tipo B
Virais
Rotavírus
Febre amarela
Sarampo
Caxumba
Rubéola
Varicela
Pólio oral
Dengue
Herpes-zóster (Zostavax™)
Hepatites A e B
HPV
Pólio inativada
Raiva
Influenza
Coronavírus
Herpes-zóster (Shingrix™)
Para não precisar decorar, pense assim:
- A maioria das bacterianas são inativadas, com exceção da BCG.
- A maioria das virais são vivas atenuadas, com exceção do mnemônico que trago abaixo.
Hoje CORri PORAÍ: HPV, Hepatites A e B, CORonavírus, Pólio Oral, RAiva, Influenza.
Como a criança do enunciado está em investigação para imunodeficiência, ela não poderá aplicar nenhuma vacina viva.
Incorreta a alternativa A. BCG é uma vacina viva.
Correta a alternativa B. Hepatite A é uma vacina inativada.
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Incorreta a alternativa C. Tríplice viral é uma vacina viva.
Incorreta a alternativa D. Febre amarela é uma vacina viva.
Incorreta a alternativa E. A vacina contra dengue é viva.
33 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Você é chamado para atender uma intercorrência na
enfermaria pediátrica do hospital universitário. Chegando lá, você encontra uma criança de 2 anos, inconsciente. Você checa seu pulso e
respiração e observa que ela está em parada cardiorrespiratória. Sobre os próximos passos no atendimento, é correto afirmar que:
A) iniciamos a reanimação cardiopulmonar com as ventilações de resgate, na frequência de 1 ventilação a cada 2 a 3 segundos.
B) caso você estivesse acompanhado de um enfermeiro, é correto dizer que a reanimação será feita no ritmo de 30 compressões para 2
ventilações.
C) como a principal causa de PCR em crianças é a hipóxia, ela deverá ser intubada de imediato.
D) caso o ritmo identificado seja uma fibrilação ventricular, deverá ser aplicado um choque de 2 J/kg.
E) a adrenalina deve ser administrada no volume de 0,1 mg/kg endovenoso, na diluição de 1:10.000.
COMENTÁRIOS:
Estrategista, vamos relembrar os passos a serem seguidos quando encontramos alguém inconsciente?
1) SEGURANÇA
Garantir a segurança do local antes de socorrer a vítima.
Não se aplica nesse caso, pois estamos em ambiente intra-hospitalar.
2) RESPONSIVIDADE
Para verificarmos a responsividade, o consenso indica que devemos tocar o ombro da criança ou o calcanhar do bebê e chamar sua
atenção.
Já sabemos que ele está arresponsivo.
3) ACIONAMENTO DA EMERGÊNCIA
Se o paciente está arresponsivo: chamar por ajuda.
Em ambiente hospitalar, pedir o carrinho de parada com desfibrilador.
3) VERIFICAR RESPIRAÇÃO E PULSO SIMULTANEAMENTE
Deve ser realizado em até 10 segundos.
Já visto que está sem pulso e sem respiração.
5) INICIAR A RCP - Esse é o passo a ser feito agora!
• Na presença de apenas um socorrista, as compressões torácicas devem ser aplicadas em uma proporção de 30 compressões
para 2 ventilações por minuto (30x2).
• Na presença de 2 socorristas, as compressões torácicas podem ser aplicadas na proporção de 15 compressões para 2 ventilações,
por minuto (15x2).
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Quando o carrinho de desfibrilação chegar, devemos verificar o ritmo. Na PCR pediátrica, temos 4 ritmos:
- 2 chocáveis: fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso.
- 2 não chocáveis: assistolia e atividade elétrica sem pulso.
Vamos às alternativas.
Incorreta a alternativa A. A ventilação de resgate só deve ser iniciada nas paradas respiratórias com pulso presente (acima de 60 bpm). Nesse
caso, a criança está em parada cardiorrespiratória e precisa de compressões e ventilação.
Incorreta a alternativa B. Na presença de mais de um socorrista, utilizamos o ritmo de 15 compressões para 2 ventilações.
Incorreta a alternativa C. Apesar de estar correto dizer que a principal causa de PCR em crianças é a hipóxia, não há necessidade de intubação
imediata. Muito pelo contrário, ela não deve atrasar o início das manobras de reanimação.
Correta a alternativa D.
A fibrilação ventricular é um ritmo chocável. Assim que identificado o ritmo, o paciente deverá ser desfibrilado.
O primeiro choque deve ser de 2 J/kg.
Incorreta a alternativa E. A adrenalina é a principal droga da reanimação e pode ser utilizada em qualquer ritmo. Sua dose endovenosa é de
0,01 mg/kg, na via endovenosa, na diluição de 1:10.000.
34 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Uma criança de 5 anos deu entrada no pronto atendimento com
um quadro de febre, vômitos e diarreia com sangue, há 24 horas. Ao exame físico, ele está febril, prostrado e desidratado. Considerando
o quadro clínico, quais são o agente provável e a conduta adequada para essa criança?
A) Rotavírus. Apenas hidratação endovenosa.
B) Vibrião da cólera. Apenas hidratação endovenosa.
C) E. colienteropatogênica. Hidratação endovenosa e antibioticoterapia com sulfametoxazol + trimetroprim.
D) Salmonella. Hidratação endovenosa e antibioticoterapia com ciprofloxacino.
E) Shigella. Hidratação endovenosa e antibioticoterapia com ceftriaxona.
COMENTÁRIOS:
Olá, Estrategista, há 3 mecanismos infecciosos na diarreia aguda. Observe:
1) Mecanismo osmótico
Na diarreia infecciosa osmótica, os microrganismos infectam e destroem as vilosidades intestinais, local onde encontramos as
dissacaridases, que são enzimas que digerem os açúcares. Eles, então, acumulam-se na luz intestinal, aumentando a pressão osmótica. Com
isso, há aumento da passagem de água e eletrólitos para a luz intestinal. O excesso de açúcar fermentado transforma-se em radicais ácidos,
portanto as fezes são aquosas, ácidas e explosivas, podendo causar dermatite perineal. O paciente manifesta dor e distensão abdominal, além
do excesso de gases. Os agentes causadores são os vírus e a E. coli enteropatogênica.
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2) Mecanismo secretório
No intestino, a adenosina monofosfato cíclico (AMPc), a guanosina monofosfato cíclico (GMPc) e o cálcio, em condições normais,
regulam a saída de água da célula.
Alguns microrganismos causam aumento desses mediadores e, consequentemente, há saída ativa de água e eletrólitos para a luz
intestinal, culminando nos episódios diarreicos com desidratação precoce e grave. Os principais agentes são a E. coli enterotoxigênica e o
Vibrio cholerae.
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3) Mecanismo inflamatório/invasivo
Nesses casos, a liberação de citocinas e mediadores inflamatórios promovem hipersecreção e hipermotilidade intestinal. Também
podemos ter invasão da mucosa e doença sistêmica secundária.
Nas diarreias inflamatórias, há perda de sangue e muco nas fezes. Além disso, observamos aumento dos leucócitos fecais, bem como
níveis elevados de calprotectina e lactoferrina nas fezes.
Os principais agentes da diarreia infecciosa inflamatória/invasiva são: Shigella, Salmonella, E. coli enteroinvasiva, Campylobacter, E. coli
entero-hemorrágica, Entamoeba histolytica e Yersinia.
Vamos voltar ao caso? A criança tem um quadro de disenteria e uma desidratação com comprometimento do estado geral, certo?
Portanto, é inegável que ela precisa ser hidratada. Além disso, quando temos disenteria com comprometimento do estado geral, devemos
também iniciar antibióticos.
Os antibióticos de escolha são:
- Para crianças imunocompetentes de 3 meses a 10 anos ou 30 quilos.
Azitromicina: 10 mg/kg/dia, via oral, no primeiro dia e 5 mg/kg/dia por mais 4 dias.
Ceftriaxona: 50 mg/kg intramuscular 1 vez ao dia, por 3 a 5 dias, como alternativa.
- Maiores de 30 quilos ou 10 anos.
Ciprofloxacino: 1 comprimido de 500 mg de 12/12h, via oral, por 3 dias;
Ceftriaxona: 50 a 100 mg/kg intramuscular 1 vez ao dia, por 3 a 5 dias, como alternativa.
* Crianças menores de 3 meses ou criança com imunodeficiência: internar e administrar ceftriaxona, 50 a 100 mg/kg, endovenosa, 1
vez ao dia.
Vamos às alternativas.
Incorreta a alternativa A. O rotavírus tem um mecanismo osmótico, com diarreia aquosa e sem sangue.
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Incorreta a alternativa B. A cólera tem mecanismo secretório, com diarreia aquosa e sem sangue.
Incorreta a alternativa C. A E. coli enteropatogênica tem mecanismo osmótico e não precisa de antibioticoterapia.
Incorreta a alternativa D. Apesar da Salmonella ser um agente possível, pela idade da criança, não iniciaríamos ciprofloxacino.
Correta a alternativa E.
A Shigella é um agente possível e deve ser tratada com hidratação venosa e antibioticoterapia. A ceftriaxona
é uma alternativa possível.
35 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Você avalia, na enfermaria da maternidade, um bebê de
16 horas de vida, nascido a termo, adequado para idade gestacional e que apresenta icterícia zona 1 de Kramer. A mãe refere que está
conseguindo amamentar, com boa pega e sucção, mas ainda está com pouco colostro. A tipagem sanguínea da mãe é O positivo, e a do
RN, A negativo. Qual é a principal causa dessa icterícia?
A) Fisiológica.
B) Da amamentação.
C) Incompatibilidade Rh.
D) Incompatibilidade ABO.
E) Do leite materno.
COMENTÁRIOS:
Olá, Estrategista, nas questões de icterícia, a primeira coisa a ser feita é definir se ela é fisiológica ou patológica. Observe:
Fisiológica Patológica
Início após 24h da vida
Pico do 3° ao 5° dia de vida
Pode iniciar antes de 24h de vida
Pode aumentar acima de 0,2 mg/dL/hora
Declina após o 7° dia em termo ou 14° dia em pré-termo
Pode persistir após 7 dias em termo ou 14 dias em pré-
termo
Não ultrapassa limites fisiológicos
12-13 mg/dL em termos
15 mg/dL em PT
Pode ultrapassar limites fisiológicos
Aumento de bilirrubina indireta apenas Pode ocorrer hiperbilirrubinemia indireta ou direta
Sem sintomas de doença associada Pode ter sintomas de doença associada
No caso, temos uma icterícia patológica, pois iniciou antes de 24h de vida, certo?
As principais causas de icterícia patológica em um neonato a termo e saudável são as incompatibilidades sanguíneas, ABO e Rh, e você
precisa saber diferenciá-las.
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• Incompatibilidade Rh (Antígeno D)
É também chamada de doença hemolítica isoimune Rh do RN ou eritroblastose fetal. Ocorre em mães Rh negativas com bebês Rh
positivos.
MÃE – RN +
Para que ela ocorra, são necessárias duas etapas.
1. SENSIBILIZAÇÃO
Ela ocorre, geralmente, quando uma mãe Rh negativo é sensibilizada por uma primeira gestação de um bebê Rh+. Outras possíveis
fontes: abortamento, amniocentese ou transfusão sanguínea.
Nesse momento, os antígenos Rh do bebê induzem a mãe a produzir anticorpos anti-Rh.
Na primeira gestação, está tudo certo, há apenas a sensibilização e nada acontece com o bebê.
2. HEMÓLISE
Em uma segunda gestação, a mãe tem anticorpos anti-Rh prontos e, caso esse bebê seja Rh+, eles irão promover a destruição imune
das hemácias fetais.
CLÍNICA: intraútero, podemos ter anemia fetal, hidropisia, aborto, natimorto. No período neonatal, as manifestações comuns são de
hemólise, reticulócitos e hiperbilirrubinemia indireta. Já em casos graves, há anemia severa e hepatoesplenomegalia.
LABORATORIAL:
• mãe Rh negativo;
• RN Rh positivo;
• Coombs indireto positivo;
• Coombs direto positivo, sinalizando hemólise no RN.
Figura: incompatibilidade Rh.
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CONDUTA: exige sempre tratamento. Os casos leves podem ser tratados com fototerapia, e os graves podem precisar de
exsanguineotransfusão.
PREVENÇÃO: a prevenção da doença é muito importante e diminuiu muito a morbimortalidade. Ela é feita com imunoglobulina anti-
RhD .
• Incompatibilidade do grupo ABO
Também chamada de doença hemolítica ABO do recém-nascido. Ocorre em mães O com bebês A ou B.
MÃE O, RN A OU B
Nela, há apenas uma etapa, portanto independe da paridade materna.
HEMÓLISE
Sabemos que mães O positivo possuem naturalmente anticorpos anti-A e anti-B. Portanto, elas, já no primeiro contato, podem fazer
destruição imune das hemácias fetais.
CLÍNICA: geralmente, é mais leve do que a Rh. A maior parte dos casos mostra pouca hemólise e uma hiperbilirrubinemia indireta
discreta.
LABORATORIAL:
• mãe O;
• RN A ou B;
• Coombs indireto negativo;
• Coombs direto negativo ou fracamente positivo (há pouca hemólise!);
• podemos ter teste do eluato positivo, pois ele tem uma sensibilidade maior parahemólise.
CONDUTA: fototerapia. Raramente precisa de transfusão.
PREVENÇÃO: não há.
Figura: incompatibilidade ABO.
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Voltando ao caso, a mãe é O positivo e o RN, A negativo, portanto precisamos pensar em incompatibilidade ABO.
Vamos às alternativas.
Incorreta a alternativa A. Icterícias que iniciam antes de 24 horas de vida são sempre patológicas.
Incorreta a alternativa B. A icterícia da amamentação nunca ocorre antes de 24 horas de vida, e sim em torno do 3º dia, quando temos
dificuldade no aleitamento materno.
Incorreta a alternativa C. Na incompatibilidade Rh, a mãe é negativa e o RN é positivo.
Correta a alternativa D. Essa é a principal hipótese diagnóstica quando temos icterícia patológica com mãe O e RN A ou B.
Incorreta a alternativa E. A icterícia do leite materno é um diagnóstico de exclusão com fisiopatologia ainda em estudo. Ela inicia após
24 horas de vida e seu pico é de 2 semanas, podendo chegar a níveis patológicos. A conduta é tratar com fototerapia, sem suspender o
aleitamento materno.
36 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Você avalia um neonato, nascido pré-termo de 35 semanas,
peso 1950 g, e percebe que ele apresenta icterícia e hepatoesplenomegalia. O teste do olhinho está alterado e você ausculta um sopro
cardíaco em maquinaria. Qual é a principal hipótese diagnóstica a ser considerada?
A) Sífilis congênita.
B) Toxoplasmose congênita.
C) Citomegalovirose congênita.
D) Rubéola congênita.
E) Herpes simples congênita.
COMENTÁRIOS:
Olá, Estrategista. As infecções congênitas apresentam características comuns entre elas, portanto o examinador precisa colocar na
questão alguma característica chave para que você possa diferenciá-las, e isso é o pulo do gato! Observe o quadro a seguir, ele traz as
principais delas, que são cobradas com bastante recorrência!
INFECÇÃO CONGÊNITA CARACTERÍSTICAS CHAVES
Toxoplasmose
Tétrade de Sabin: calcificações intracranianas difusas, coriorretinite, hidro ou microcefalia,
retardo mental.
Rubéola Cardiopatia congênita, catarata, surdez.
Citomegalovírus Calcificações intracranianas periventriculares, petéquias, surdez.
Sífilis Lesões cutâneas palmoplantares, lesões ósseas (pseudoparalisia de Parrot/dor à mobilização).
Herpes simples Vesículas cutâneas, hiperemia conjuntival, acometimento neurológico.
Varicela Lesões cicatriciais cutâneas, malformações de membros.
Zika vírus Microcefalia, microftalmia, pé torto congênito, artrogripose.
HIV Assintomático ao nascer, sinais de imunodepressão tardios.
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Repare que temos:
- Sinais inespecíficos: prematuridade, baixo peso, icterícia e hepatoesplenomegalia.
- Características chaves:
Teste do olhinho alterado
Sopro cardíaco em maquinaria = cardiopatia (persistência do canal arterial)
Com isso, devemos pensar no diagnóstico de rubéola congênita. Essa é uma infecção que geralmente traz três principais manifestações:
catarata, surdez neurossensorial bilateral e cardiopatia, sendo a persistência do canal arterial e a estenose de artéria pulmonar as principais
delas.
Vamos às alternativas.
Incorreta a alternativa A. Na sífilis congênita, temos como características as lesões de pele (palmoplantares) e as lesões ósseas, que podem
causar dor à mobilização e pseudoparalisia.
Incorreta a alternativa B. As características da toxoplasmose congênita que aparecem em provas são as da tétrade de sabin: coriorretinite,
calcificações intracranianas difusas, hidro/microcefalia e retardo mental.
Incorreta a alternativa C. Na citomegalovirose congênita, procure, principalmente, por calcificações intracranianas periventriculares.
Correta a alternativa D.
Incorreta a alternativa E. A herpes simples congênita manifesta-se com vesículas cutâneas, hiperemia conjuntival, acometimento neurológico,
entre outros.
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37 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pediatria - Prof. Andrea Makssoudian) Uma menina de 5 anos com quadro de febre há 5 dias,
dor em joelho esquerdo que evoluiu para dificuldade de movimentação de tornozelo direito, impossibilitando-a de deambular. O exame
revela limitação de movimento de joelho esquerdo além de hiperemia e aumento do calor em tornozelo direito. Observam-se máculas
de coloração rósea, com aspecto serpiginoso, não pruriginosas no tronco, sem outras alterações. Indique a principal hipótese diagnóstica.
A) Vasculite por IgA.
B) Urticária.
C) Sarampo.
D) Doença de Kawasaki.
E) Febre reumática.
COMENTÁRIOS:
Olá, Estrategista,
O caso clínico apresentado mostra uma criança de 5 anos que apresenta:
• febre;
• artrite migratória de grandes articulações;
• exantema de aspecto serpiginoso, não pruriginoso, localizado em tronco.
Esses dados são muito sugestivos da febre reumática (FR), que é uma doença prevalente em nosso meio e causa importante de
cardiopatia adquirida em idade jovem. Ela consiste em uma sequela não supurativa de uma infecção estreptocócica de orofaringe que afeta
indivíduos geneticamente predispostos. Ocorre após algumas semanas da infecção e é mais comum entre 5 e 15 anos de vida.
Em 2015, os critérios diagnósticos da febre reumática (FR) foram revisados pela American Heart Association, dividindo entre países de
alto risco para febre reumática (como o nosso) e de baixo risco.
São necessários 2 critérios maiores mais a evidência de infecção estreptocócica ou 1 maior e 2 menores mais a evidência de infecção
estreptocócica para o diagnóstico da FR.
Veja a seguir os critérios diagnósticos para a febre reumática (FR):
Países de moderado e alto risco para FR
CRITÉRIOS MAIORES CRITÉRIOS MENORES
Poliartrite migratória (poliartralgia ou monoartrite)
Alteração de VHS (maior do que 30 mm na primeira hora) e
PCR maior ou igual a 3 mg/dL
Cardite
Aumento do PR no ECG corrigido para a idade (quando não
houver cardite)
Coreia Febre maior ou igual a 38 °C
Eritema marginado Artralgia
Nódulos subcutâneos
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Nossa paciente apresenta 2 critérios maiores (artrite e eritema marginado) e 1 critério menor.
Vamos analisar as alternativas.
Incorreta a alternativa A, a vasculite por IgA pode se manifestar com artrite de grandes articulações, mas a manifestação de pele caracteriza-
se por pápulas sobrelevadas, de aspecto vinhoso, que não desaparecem à digito pressão e que se localizam predominantemente em membros
inferiores e região glútea.
Incorreta a alternativa B, na urticária, teríamos lesões de pele pruriginosas e não haveria justificativa para a febre e a artrite migratória.
Incorreta a alternativa C, o sarampo é uma doença viral que cursa com febre elevada, sintomas catarrais, conjuntivite e exantema morbiliforme
que evolui de forma craniocaudal.
Incorreta a alternativa D, os critérios diagnósticos da doença de Kawasaki são:
• Febre por 5 dias ou mais associada a mais 4 dos 5 critérios a seguir:
• conjuntivite bilateral não exsudativa;
• exantema polimorfo;
• adenomegalia cervical;
• alterações de extremidades;
• alterações de mucosa oral.
Correta a alternativa E,
a criança preenche os critérios para febre reumática e, a partir desse momento, vamos investigar a evidência
de infecção estreptocócica e avaliação com ecocardiograma, com a finalidade de se detectar a presença de
cardite reumática.
38 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pediatria - Prof. Andrea Makssoudian) Lactente de 1 ano e 6 meses de idade, previamente hígido,
apresentou uma crise convulsiva tônico-clônica generalizada, com duração de 10 minutos, que cessou antes de chegar ao hospital. O
exame físicorevela um lactente febril (T: 38,5 °C), com coriza hialina e hiperemia de orofaringe. O lactente recebeu antitérmico e, após 3
horas, encontra-se ativo e sorridente. Indique a conduta adequada.
A) Internação para observação clínica e coleta de exames para pesquisa de foco infeccioso.
B) Alta com sintomáticos e orientações.
C) Alta com prescrição de fenobarbital.
D) Coleta imediata de liquor para afastar a possibilidade de meningite.
E) Solicitar avaliação urgente do neurologista pediátrico.
COMENTÁRIOS:
Olá, Coruja,
Esse enunciado traz um lactente de 1 ano e 6 meses de idade, que apresentou uma crise convulsiva tônico-clônica generalizada em
vigência de febre, com duração menor do que 15 minutos, com recuperação neurológica completa. Esses dados corroboram a hipótese de
crise febril (CF) simples.
A CF pode ser dividida em:
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• Crise febril simples (70% a 75% dos casos): crise tônico-clônica generalizada, com duração inferior a 15 minutos, que não
apresenta recorrência em 24 horas e não manifesta sintomatologia pós-ictal (a recuperação neurológica é completa).
• Crise febril complexa (20% a 25%): apresenta uma ou mais das seguintes características — crises focais, presença de alterações
neurológicas pós-ictais, como a paralisia de Todd, duração maior do que 15 minutos e/ou recorrência dentro de 24 horas.
A conduta perante os casos de crise febril simples é orientar os pais quanto à benignidade do quadro, indicar antitérmicos e orientações
para o controle dos sintomas em casa. Não é necessária a realização de exames subsidiários com eletroencefalograma, tomografia, liquor,
tampouco a introdução de anticonvulsivante de manutenção ou encaminhamento ao neurologista.
Vamos analisar as alternativas:
Incorreta a alternativa A, como houve recuperação neurológica completa e a crise é simples, não se recomenda internação. A origem da febre
está evidente, pois o paciente apresenta sinais de uma infecção viral de vias aéreas superiores.
Correta a alternativa B, porque indicou a recomendação adequada.
Incorreta a alternativa C, o uso de anticonvulsivantes em crianças saudáveis com crise febril simples não é recomendado, pois o risco de
efeitos colaterais é maior do que seus benefícios.
Incorreta a alternativa D, a criança está ativa e sorridente e o exame clínico é normal, assim não há indicação de coleta de liquor.
Incorreta a alternativa E, a crise febril simples é um quadro benigno que não necessita de acompanhamento com neurologista pediátrico.
39 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pediatria - Prof. Andrea Makssoudian) Um recém-nascido com 48 horas de vida, nascido a termo
com peso adequado sem intercorrências e cuja mãe foi diagnosticada com tuberculose pulmonar dois dias antes do parto encontra-se
assintomático e está em condições de alta. Indique a melhor conduta para prevenir a tuberculose no recém-nascido.
A) Não vacinar, iniciar profilaxia com rifampicina e solicitar PPD aos três meses. Manter o aleitamento com medidas de higiene e uso de
máscara cirúrgica pela mãe.
B) Vacinar imediatamente o bebê com a BCG e indicar investigação de tuberculose por meio de radiografia de tórax e pesquisa de BAAR no
suco gástrico.
C) Não vacinar e indicar tratamento com isoniazida, rifampicina e pirazinamida por 2 meses, reavaliando após esse período.
D) Vacinar imediatamente e prescrever profilaxia com isoniazida por seis meses.
E) Não vacinar, interromper o aleitamento, solicitar três amostras de BAAR e radiografia de tórax para o recém-nascido.
COMENTÁRIOS:
Olá, Estrategista,
A quimioprofilaxia da tuberculose baseia-se no emprego de medicamentos para prevenir a infecção pelo Mycobacterium tuberculosis
em pessoas expostas ou o desenvolvimento da doença, nos indivíduos infectados. No primeiro caso, trata-se da quimioprofilaxia primária e,
no segundo, da quimioprofilaxia secundária.
Os recém-nascidos expostos à tuberculose podem apresentar formas graves da doença e, por esse motivo, devem ser submetidos à
profilaxia primária.
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Se for constatado o contato com adulto bacilífero, o recém-nascido assintomático não deve ser vacinado e deve receber isoniazida ou
rifampicina por três meses. Após esse período, caso o lactente continue assintomático, é realizada a prova tuberculínica. Se resultar ≥ 5mm,
manter a profilaxia por mais três meses, se for com isoniazida, ou por mais um mês, se for com rifampicina, e o lactente não deve ser vacinado,
pois já apresenta resposta imune ao bacilo.
Se, após três meses, o PPD for menor do que 5 mm, deve-se interromper a profilaxia e vacinar o lactente com BCG.
Observe o fluxograma:
Iniciar QP primária e
não vacinar
Três meses depois
PPD ≥ 5mm PPD < 5mm
Suspender QP e
vacinar com BCG
Isoniazida: manter
mais 3 a 6 meses e
não vacinar
RMP: manter por
mais 1 mês
A amamentação é permitida, desde que a mãe não tenha mastite tuberculosa. Mães com tuberculose pulmonar devem utilizar a
máscara cirúrgica ao amamentar e ao cuidar da criança, enquanto a baciloscopia for positiva.
Correta a alternativa A, porque indicou as orientações apropriadas para esse recém-nascido.
Incorreta a alternativa B, a vacinação não é recomendada e, como o recém-nascido está assintomático, não é indicada a investigação da
tuberculose ativa.
Incorreta a alternativa C, o esquema tríplice deve ser reservado apenas para crianças com diagnóstico de tuberculose ativa, esse recém-
nascido se encontra assintomático.
Incorreta a alternativa D, a profilaxia está indicada, mas a vacinação não é recomendada ao nascimento. Além disso, devemos realizar o PPD
aos 3 meses.
Incorreta a alternativa E, não há necessidade de investigar a doença nesse recém-nascido, pois ele encontra-se sem sintomas. Além disso, foi
recomendada a suspensão do aleitamento, que não é uma medida apropriada.
40 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Pediatria - Prof. Andrea Makssoudian) Um menino de 6 anos de idade, com estatura de 112cm,
apresenta média de pressão arterial aferida nas últimas três consultas de 110 x 72 mmHg. Utilizando a tabela a seguir, indique a classificação
de pressão arterial encontrada nessa criança.
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6
Estatura (cm) 110,3 112,2 115,3 118,9 122,4 125,6 127,5 110,3 112,2 115,3 118,9 122,4 125,6 127,5
P50 93 93 94 95 96 94 98 54 54 55 56 57 57 58
P90 105 105 106 107 109 110 110 66 66 67 68 68 69 69
P95 108 109 110 111 112 113 114 69 70 70 71 72 72 73
P95+12mmHg 120 121 122 123 124 125 126 81 82 82 83 84 84 85
A) Pressão arterial normal.
B) Hipertensão estágio 1.
C) Hipertensão estágio 2.
D) Pressão arterial elevada.
E) Hipertensão limítrofe.
COMENTÁRIOS:
Caro Estrategista,
Recomenda-se que a pressão arterial (PA) seja aferida em TODAS as crianças acima de três anos de idade. Essa avaliação deve ser feita
no mínimo uma vez por ano, mesmo se não tiverem fatores de risco.
Em situações específicas, está indicada a medida da PA para crianças abaixo dos três anos. Observe o quadro a seguir:
QUE CRIANÇAS DEVEM TER A PA AFERIDA ANTES DOS 3 ANOS DE IDADE
Com riscos
decorrentes do
histórico neonatal
✔ Prematuros < 32 semanas
✔ Muito baixo peso ao nascer (< 1.500 g ao nascer)
✔ Quem tenha sido submetido a um cateterismo umbilical
✔ Outras intercorrências neonatais em que a criança ficou internada na UTI
Doenças cardíacas ✔ Cardiopatias congênitas (corrigidas ou não)
Doenças renais
✔ ITU de repetição
✔ Hematúria ou proteinúria
✔ Doença renal conhecida
✔ Malformações do trato geniturinário
✔ História familiar de doença renal congênita
Submetidas a
transplantes
✔ Órgãos sólidos
✔ Medula óssea
Outros
✔ Neoplasias
✔ Uso de medicamentos que sabidamente aumentama PA
✔ Outras doenças sabidamente associadas à HAS, como neurofibromatose, esclerose tuberosa,
anemia falciforme, patologias de suprarrenal, entre outras
✔ Suspeita ou risco de aumento da pressão intracraniana
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Os parâmetros que são utilizados para a classificação da PA são: idade, sexo, estatura e os valores de pressão arterial encontrados. São
necessárias três medidas, em ocasiões diferentes, para que se tenha um valor confiável para avaliação.
Na tabela a seguir, você pode conferir como deve ser feita a classificação:
CLASSIFICAÇÃO
(Diretriz Americana 2017 e SBP)
PRESSÃO ARTERIAL
NORMOTENSO PAS e PAD < P90 para sexo, idade e altura
PA ELEVADA PAS e/ou PAD ≥ P90 e < P95 para sexo, idade e altura
HIPERTENSÃO PAS e/ou PAD ≥ P95 para sexo, idade e altura
HIPERTENSÃO ESTÁGIO 1 PAS e/ou PAD ≥ P95 a < P95 + 12 mmHg para sexo, idade e altura
HIPERTENSÃO ESTÁGIO 2 PAS e/ou PAD ≥ P95 +12 mmHg para sexo, idade e altura
Ao avaliarmos o paciente do enunciado, vemos que os valores observados se encontram entre o P95 e P95+12 mmHg.
Dessa forma, podemos afirmar que a criança apresenta hipertensão estágio 1.
Correta a alternativa B.
MEDICINA PREVENTIVA
41 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Neurologia - Prof. Rodrigo Frezatti) Homem, 22 anos, apresenta quadro de fraqueza dos membros
inferiores iniciada cerca de 15 dias depois de um quadro de gastroenterite aguda. Ao exame físico, apresenta fraqueza de predomínio
distal e predileção em membros inferiores, associado a arreflexia e hipoestesia tátil-dolorosa no terço distal das pernas. Considerando a
principal hipótese diagnóstica, com a evolução do quadro, que achado de exame físico é provável de estar presente?
A) Urgincontinência urinária.
B) Sinal de Babinski.
C) Sinal da roda denteada.
D) Déficit sensitivo em nível.
E) Disautonomia.
COMENTÁRIOS:
Estrategista, para responder à questão, precisamos identificar qual é a principal hipótese diagnóstica. Em resumo, temos um quadro de
déficit sensitivo e motor, associado a arreflexia e iniciado cerca de 2 semanas após um processo infeccioso. A principal hipótese diagnóstica
é síndrome de Guillain-Barré!
Essa doença envolve, de forma aguda, várias raízes nervosas, além dos nervos periféricos, por isso pode ser descrita como uma
polirradiculoneuropatia aguda.
Estratégia
MED
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RESIDÊNCIA MÉDICA
69
Trata-se de uma doença imunomediada, sendo muito comum a identificação de um “gatilho” imunológico precedendo o início dos
sintomas, em média em cerca de 2 semanas. As causas infecciosas são as mais comuns e, entre elas, a infecção pelo Campylobacter jejuni é a
mais “clássica” e inclusive associa-se a pior prognóstico e lesão axonal! Além desse patógeno, o zika vírus, HIV, dengue, Epstein-Barr, varicela-
zóster, citomegalovírus, entre outros, também já foram associados a essa condição. Além das causas infecciosas, antecedente de vacinação e
mais raramente, cirurgia ou trauma, também podem ser os gatilhos imunogênicos.
O quadro clínico clássico envolve déficit sensitivo e motor dos membros inferiores, superiores e, eventualmente, da face, que
progridem de forma ascendente, simétrica e são acompanhados de hiporreflexia/arreflexia ao exame físico. Além disso, é comum a presença
de disautonomia no curso da doença, sendo possíveis as manifestações de alteração do ritmo cardíaco, hipertensão arterial e sudorese. Em
crianças, o sintoma inicial pode ser de dor difusa pelos membros, o que é incomum em adultos. O quadro clínico, por definição, pode piorar
em média até no máximo quatro semanas desde o início dos sintomas. A piora que se estende além disso, sobretudo quando ultrapassa 8
semanas, passa a ser conhecida como PIDC (polirradiculoneuropatia inflamatória desmielinizante crônica).
O diagnóstico é eminentemente clínico! Entretanto, os exames de eletroneuromiografia (ENMG) e punção do LCR podem auxiliar.
A ENMG pode revelar o acometimento agudo desmielinizante ou, mais raramente axonal, dos nervos periféricos, contudo, sobretudo
precocemente, o exame pode ser normal! Perceba, portanto, que existem dois fenótipos neurofisiológicos: o desmielinizante e o axonal, este
último, em geral, de pior prognóstico e ligado a infecções prévias pelo C. jejuni.
Já o exame de LCR pode revelar dissociação albumino-citológica (elevação de proteínas sem elevação de celularidade). Cabe ressaltar
que tal achado não é patognomônico de Guillain-Barré, podendo ocorrer em condições como diabetes mellitus mal compensado. Além
disso, a dissociação albumino-citológica não ocorre em todos os pacientes, em cerca de 10 a 25% deles, mesmo após 3 semanas do início dos
sintomas, esse achado não será evidenciado. Destaco ainda que algumas bancas maldosas podem descrever elevação de celularidade nos
pacientes com Guillain-Barré. É raro mas pode ocorrer, em geral, não ultrapassando 20 células no LCR.
O tratamento é feito com plasmaférese ou infusão de imunoglobulina, não sendo o corticoide uma opção terapêutica. Cabe ressaltar
que, especialmente em crianças, o tratamento fica reservado para o aparecimento de disfunção bulbar (disfagia ou disfonia), ventilatória
ou piora do quadro motor. Em suma, não é todo o paciente que deve receber o tratamento precocemente! Em casos leves e em melhora, o
tratamento pode ser conservador.
Alguns sinais e sintomas podem apontar para diagnósticos diferenciais de paralisia flácida aguda, fique atento:
✓ Hiponatremia, dor abdominal de repetição, sintomas neuropsiquiátricos: porfiria intermitente aguda. Doença genética causada
por um defeito enzimático na metabolização do heme, gerando acúmulo de metabólitos tóxicos (ácido delta-aminolevulínico e
porfobilinogênio), o que pode levar à associação de sintomas descrita.
✓ Presença de urgincontinência urinária, déficit sensitivo em nível e síndrome do neurônio motor superior: sugere mielopatia.
Note que, embora incomum, um paciente com Guillain-Barré pode apresentar urgincontinência urinária no contexto de sintomas
disautonômicos.
✓ Acometimento motor isolado: pode sugerir infecções “polio-like”, sendo a mais conhecida a infecção pelo West Nyle virus. Além
da própria poliomielite (muito embora esteja erradicada do Brasil).
✓ Sintomas com propagação descendente e associação com disfunção pupilar: pode sugerir botulismo. Lembre-se de que existe
um fenótipo clínico de Guillain-Barré, conhecido como Miller Fischer, que envolve a tríade: ataxia, oftalmoplegia e arreflexia. Tal
fenótipo associa-se com a produção de anticorpos contra um antígeno específico: anti-GQ1b.
Vamos às alternativas:
Incorreta a alternativa A. Sintomas que denotam disfunção esfincteriana não são comuns na síndrome de Guillain-Barré. Ocorrem raramente,
em cerca de 5% dos pacientes apenas e configuram sinal de alerta para o diagnóstico diferencial com mielopatias.
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Incorreta a alternativa B. A disfunção do neurônio motor superior, que inclui o sinal de Babinski, não ocorre na síndrome de Guillain-Barré,
que é um quadro de paralisia flácida aguda.
Incorreta a alternativa C. O sinal da roda denteada ocorre na disfunção extrapiramidal, sobretudo no parkinsonismo.
Incorreta a alternativa D. O déficit sensitivo em nível ocorre nas mielopatias, não na síndrome de Guillain-Barré.
Correta a alternativa E.
A disautonomia é um dos principais sintomas no curso da síndrome de Guillain-Barré. É típico da doença e,
inclusive, suscita a demanda de observação em leito monitorizado!
42 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Dermatologia - Prof. Bruno Souza) Uma criança vai à consulta na unidade básica de saúde com
“bolinhas” na pele. A mãe refere que as lesões são assintomáticas, surgiramna semana passada e estão aumentando em quantidade.
Ao exame, há várias pápulas normocrômicas com umbilicação central no tronco. Com relação ao quadro exposto, assinale a alternativa
correta.
A) O agente etiológico dessa doença é semelhante ao vírus que causa a varíola.
B) Pela benignidade e baixa transmissibilidade da doença, não é necessário tratamento.
C) O local mais acometido é a região palmoplantar.
D) Uma das complicações relatadas é o surgimento de encefalite viral.
E) Acomete exclusivamente crianças, já que o sistema imunológico do adulto é capaz de combatê-lo.
COMENTÁRIOS:
Estrategista, a descrição das lesões – pápulas normocrômicas com umbilicação central – é característica do molusco contagioso, uma
infecção viral da pele causada pelo vírus Molluscum contagiosum, que é um membro da família dos poxvírus. Vamos analisar cada alternativa.
Correta a alternativa A.
Achou estranho esse ser o gabarito? O vírus Molluscum contagiosum é, de fato, um membro da família dos
poxvírus, assim como o vírus que causava a varíola. Ambos são vírus DNA de fita dupla, embora o molusco
contagioso seja muito menos severo e perigoso.
Incorreta a alternativa B. Embora o molusco contagioso seja geralmente benigno e muitas vezes se resolva espontaneamente, ele pode ser
bastante transmissível, especialmente entre crianças e em ambientes como escolas e creches. O tratamento pode ser recomendado para
limitar a disseminação e por razões estéticas ou de desconforto.
Incorreta a alternativa C. O molusco contagioso comumente afeta o tronco, braços, pernas e região genital, mas raramente afeta a região
palmoplantar.
Incorreta a alternativa D. Não há relatos de encefalite como complicação do molusco contagioso. O vírus causador da doença normalmente
se limita à pele, sem causar doença sistêmica grave.
Incorreta a alternativa E. A infecção é bem mais comum em crianças. Porém, adultos também podem ser infectados, especialmente se forem
imunossuprimidos.
43 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Medicina Preventiva - Prof. Bárbara D’Alegria) Acerca do uso sequencial dos testes diagnósticos
e de seus efeitos na propedêutica investigativa, analise as afirmativas a seguir.
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I - Quando há necessidade de um diagnóstico confirmatório preciso para uma determinada condição, que demandará uma intervenção
invasiva subsequente, os testes em série são a melhor opção.
II - Se objetivamos aumentar a sensibilidade da propedêutica diagnóstica, devemos utilizar um teste por vez, passando para o próximo
teste apenas se o anterior resultar positivo.
III - Em contextos de urgência e emergência, os testes em paralelo não devem ser utilizados, afinal tendem a aumentar o tempo para que
se atinja ou descarte o diagnóstico de interesse.
IV - Nos rastreamentos de doenças, a metodologia aplicada para busca do diagnóstico precoce envolve o emprego de testes em paralelo.
Avaliadas as afirmativas, assinale a alternativa CORRETA.
A) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
B) Apenas a afirmativa IV está correta.
C) Existe apenas uma afirmativa correta.
D) Existem duas afirmativas corretas.
E) Existem três afirmativas corretas.
COMENTÁRIO INTRODUTÓRIO
TEMA: TESTES DIAGNÓSTICOS EM ASSOCIAÇÃO (MÚLTIPLOS)
Referência Bibliográfica:
1. Estratégia MED. Livro Digital: Curso Extensivo - Testes Diagnósticos. São Paulo, 2024.
A aplicação de testes diagnósticos em associação visa atender às necessidades específicas de um determinado contexto clínico. Por
meio do uso de mais de um teste, poderemos potencializar as propriedades diagnósticas da investigação como um todo, de acordo com o
objetivo final da propedêutica.
Existem duas metodologias básicas, a saber:
1) Aplicação de testes em paralelo: mais de um teste é aplicado simultaneamente, bastando apenas um resultado positivo para
confirmarmos a presença da condição em investigação.
Esse tipo de metodologia é tipicamente aplicada em situações clínicas em que necessitamos de um resultado imediato, que nos aponte
para a ausência ou a possível presença da afecção. Logo, usamos testes em paralelo no contexto de epidemias e em serviços de emergência,
onde nos deparamos com pacientes graves e que demandam prontas intervenções.
Ao aplicarmos vários testes ao mesmo tempo, tendemos a aumentar a sensibilidade diagnóstica da investigação, ou seja, a capacidade
de identificar uma doença, por exemplo, será maior do que se fossem feitos cada um dos testes isoladamente. É por isso que bastará um
resultado positivo nos testes realizados para que aceitemos que a condição pesquisada está presente.
Além de aumentar a sensibilidade, existe um grande aumento do valor preditivo negativo da investigação, ou seja, se todos os testes
vierem negativos, existe uma alta probabilidade de estarmos, de fato, diante de um indivíduo que não apresenta a afecção em investigação.
Portanto, o uso de testes em paralelo é ideal para permitir a exclusão de uma determinada doença ou agravo.
Como pontos negativos desse tipo de metodologia, podemos citar a redução da especificidade diagnóstica e o aumento dos falso-
positivos, que se traduzem em um baixo valor preditivo positivo para esse tipo de investigação.
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Figura: Testes em paralelo. Observe que múltiplos testes são feitos ao mesmo tempo e de forma independente. Em caso de um resultado positivo, temos a confirmação
da doença investigada.
2) Aplicação de testes em série: aqui, usaremos um teste por vez e só continuaremos a investigação, passando para o próximo teste,
se o primeiro teste for positivo.
De forma distinta dos testes em paralelo, a metodologia em série visa oferecer um diagnóstico mais preciso. Por isso, aplicaremos
classicamente essa investigação em contextos ambulatoriais ou de internação hospitalar, onde temos um maior tempo hábil para fazer o
diagnóstico.
Assim, ao aplicarmos testes subsequentes, um após o outro, tendemos a aumentar a especificidade da propedêutica e, também, seu
valor preditivo positivo, indicando que, diante de uma sequência de testes positivos, teremos uma grande possibilidade de estarmos diante
de um indivíduo com a condição investigada.
Portanto, perceba que essa busca por um diagnóstico preciso e assertivo será requerido em situações em que não pode haver erro
diagnóstico, já que muitas vezes uma intervenção invasiva será empreendida caso afirmemos que o paciente possui a afecção.
Um exemplo clássico de aplicação prática dessa metodologia são os rastreamentos de doenças. Neles, iniciamos a investigação com um
teste sensível para triar possíveis casos positivos da doença dentro da população de risco. Na sequência, em caso de positividade, passaremos
para testes mais específicos que serão feitos um após o outro para que confirmemos a doença.
A título de exemplificação, basta se lembrar do rastreamento do câncer de mama. Nele, uma paciente jamais será taxada como portadora
dessa neoplasia maligna apenas com um teste positivo (ex.: mamografia). Haverá a necessidade da execução de um teste específico (ex.: core
biópsia) para a confirmação histológica da condição.
Por fim, como pontos negativos desse tipo de metodologia, podemos apontar a redução da sensibilidade diagnóstica e o aumento dos
falso-negativos, que se traduz em um baixo valor preditivo negativo para esse tipo de investigação.
Figura: Testes em série. Observe que múltiplos testes são feitos um após o outro, de forma dependente. Em caso de resultado positivo, passamos para o próximo teste
e, apenas se ele também for positivo, é que confirmaremos o diagnóstico da doença.
Estratégia
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73
Feitas as conceituações, vamos avaliar cada uma das afirmativas.I - Quando há necessidade de um diagnóstico confirmatório preciso para uma determinada condição, que demandará uma intervenção
invasiva subsequente, os testes em série são a melhor opção - CORRETA: perfeita a afirmativa! Os testes em série representam a forma
mais adequada de utilizarmos testes múltiplos para a realização de diagnósticos precisos, o que reduzirá as chances de introduzirmos uma
intervenção invasiva em um paciente falso-positivo na investigação.
II - Se objetivamos aumentar a sensibilidade da propedêutica diagnóstica, devemos utilizar um teste por vez, passando para o próximo
teste apenas se o anterior resultar positivo - INCORRETA: ao usarmos um teste por vez (em série), iremos aumentar a especificidade da
propedêutica. Se estamos buscando aumento da sensibilidade, a saída é realizar vários testes simultaneamente (em paralelo).
III - Em contextos de urgência e emergência, os testes em paralelo não devem ser utilizados, afinal tendem a aumentar o tempo para que se
atinja ou descarte o diagnóstico de interesse - INCORRETA: já que o uso de testes em paralelo é ideal nesse cenário clínico. Ao realizarmos
múltiplos testes concomitantemente, bastando um positivo para confirmarmos o diagnóstico, reduzimos o tempo de espera para aceitar ou
excluir um diagnóstico e, assim, implementar prontas medidas terapêuticas direcionadas.
IV - Nos rastreamentos de doenças, a metodologia aplicada para busca do diagnóstico precoce envolve o emprego de testes em paralelo -
INCORRETA: nos contextos de rastreamento, empregamos testes em série. Iniciaremos com um teste sensível para fazer a triagem e, em caso
de positividade, prosseguiremos a investigação com testes específicos subsequentes.
Dessa forma, perceba que apenas a afirmativa I traz um conceito adequado.
COMENTÁRIO DAS ALTERNATIVAS
Incorreta a alternativa A. Já que apenas a afirmativa I está correta. A afirmativa II mostra-se inadequada.
Incorreta alternativa B. Pois a afirmativa IV está incorreta.
Correta a alternativa C. Aqui está o gabarito da questão. Existe apenas uma afirmativa correta, que, no caso, é a afirmativa I.
Incorreta a alternativa D. Pois existe apenas uma afirmativa correta.
Incorreta a alternativa E. Afinal, o que temos são três afirmativas incorretas e uma correta.
44 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Medicina Preventiva - Prof. Bárbara D’Alegria) Acerca da notificação de doenças, agravos e
eventos de saúde pública ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), assinale a alternativa CORRETA.
A) A notificação negativa deve ser realizada ao final de cada mês epidemiológico e marca a ausência de notificação dos itens presentes na
Lista Nacional de Notificações naquela unidade de saúde.
B) Para realizarmos o preenchimento da Ficha Individual de Notificação (FIN), faz-se necessária a expressa anuência do paciente, já que
estaremos revelando seu diagnóstico a outros profissionais que terão acesso a esse documento de notificação.
C) Algumas doenças presentes na Lista Nacional de Notificações só deverão ser notificadas pelos profissionais de saúde.
D) Doenças com grande potencial de transmissão e que se constituem como ameaças reais à saúde da população devem ser notificadas de
forma imediata, ou seja, em até 48 horas.
E) A notificação compulsória de doenças é obrigatória aos profissionais de saúde e aos responsáveis por serviços onde há prestação de
cuidados em saúde. Em caso de omissão da notificação, esses indivíduos poderão sofrer sanções legais, o que pode incluir multa e
processo penal.
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COMENTÁRIO INTRODUTÓRIO
TEMA: NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA AO SISTEMA NACIONAL DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO (SINAN)
Referências Bibliográficas:
1. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria de Consolidação n°4, de 28 de setembro de 2017. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0004_03_10_2017.html.
2. Estratégia MED. Livro Digital: Curso Extensivo - Sistemas de Informação em Saúde. São Paulo, 2024.
3. Brasil. Governo Federal. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível
em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm.
A notificação compulsória de doenças, agravos e eventos em saúde pública é sempre um tema de grande relevância nas provas de
Residência Médica.
As bases que definem as regras de notificação estão contidas na Portaria de Consolidação GM/MS nº 4, de 2017.
Vamos usá-la para fazer uma breve revisão do assunto.
O primeiro ponto de maior relevância é a compreensão acerca da importância da notificação dessas situações, que apresentam
relevância epidemiológica na avaliação e intervenção nas condições de saúde da população brasileira.
Em razão disso, a NOTIFICAÇÃO TORNA-SE OBRIGATÓRIA à TODOS os profissionais de saúde.
Veja:
"Art. 3º A notificação compulsória é obrigatória para os médicos, outros profissionais de saúde ou responsáveis pelos serviços públicos
e privados de saúde, que prestam assistência ao paciente".
Compreenda, então, que o ato de notificar as doenças, agravos e eventos de saúde pública presentes na lista nacional de notificação
compulsória não é uma atribuição exclusiva do médico, mas, sim, de todos os profissionais de saúde, bem como daqueles envolvidos de
alguma forma na assistência ao paciente.
Ressalta-se, ainda, que qualquer cidadão pode fazer a notificação, sem que essa seja obrigatória a esses sujeitos.
Outro ponto de suma importância é compreender que a notificação deve ser feita mediante a SIMPLES SUSPEITA da condição.
Observe:
"a comunicação obrigatória à autoridade de saúde, realizada pelos médicos, profissionais de saúde ou responsáveis pelos
estabelecimentos de saúde, públicos ou privados, sobre a ocorrência de suspeita ou confirmação de doença, agravo ou evento de saúde
pública".
Mais um importante ponto de ser salientado e que, por vezes, aparece nos concursos é a periodicidade da notificação. A tabela a seguir
resume as opções em relação ao tempo de notificação após a ciência da ocorrência suspeita ou confirmada da condição.
Estratégia
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75
Tipos de notificação Definição
Notificação compulsória
imediata
Deve ser realizada em até 24 horas, a partir do conhecimento da ocorrência de doença,
agravo ou evento de saúde pública, por meio do meio de comunicação mais rápido
disponível.
Notificação compulsória
semanal (ou mediata)
Realizada em até 7 (sete) dias, a partir do conhecimento da ocorrência de doença ou
agravo.
Notificação compulsória
negativa
É uma comunicação realizada semanalmente que o responsável pelo estabelecimento
de saúde faz à autoridade de saúde, informando que, na semana epidemiológica, não
foi identificada nenhuma doença ou nenhum agravo ou evento de saúde pública
constante da Lista de Notificação Compulsória.
Figura: Periodicidade de notificação das doenças, agravos e eventos em saúde pública. Fonte: Estratégia MED.
Por fim, é importante ressaltar que a notificação é feita tendo por base a lista mais atual de situações de notificação compulsória,
anualmente editada e atualizada pelo Ministério da Saúde. Todas as condições lá presentes deverão ser notificadas obrigatoriamente em todo
o território nacional, conforme a periodicidade estabelecida, que é feita ao SINAN por meio das FICHAS INDIVIDUAIS DE NOTIFICAÇÃO ou
FICHAS DE INDIVIDUAIS DE INVESTIGAÇÃO.
Confira exemplos dessas fichas a seguir.
Figura: Exemplo de Ficha Individual de Notificação (FIN). Trata-se de ficha geral utilizada para realizar a notificação quando o profissional de saúde faz o primeiro
atendimento de um indivíduo com uma doença ou um agravo de notificação compulsória. Ela é "é preenchida pelas unidades assistenciais para cada paciente quando
da suspeita da ocorrênciade problema de saúde de notificação compulsória ou de interesse nacional, estadual ou municipal". Perceba que o trecho inicial da FIN não faz
menção a nenhuma doença, começando com os dados do paciente. Fonte: Elaborado a partir da Referência Bibliográfica número 1 (um).
| | | | | | | | |
Nº
República Federativa do Brasil
Ministério da Saúde SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO
SINAN
FICHA DE NOTIFICAÇÃO
N
ot
ifi
ca
çã
o
In
di
vi
du
al
Unidade de Saúde (ou outra fonte notificadora)
Tipo de Notificação
Data da Notificação
Data dos Primeiros Sintomas
Agravo/doença
| | | | |
| | | | |
1
3
6
2
| |
| |
7
1 - Negativa 2 - Individual 3 - Surto 4 - Inquérito Tracoma
D
ad
os
G
er
ai
s
19
N
ot
ifi
ca
çã
o
de
Su
rt
o
Nº de Casos Suspeitos/
Expostos
Local Inicial de Ocorrência do Surto
18
| | | | |
17
| |
Data dos 1os Sintomas
do 1º Caso Suspeito
D
ad
os
de
R
es
id
ên
ci
a
N
ot
ifi
ca
nt
e
Município/Unidade de Saúde
Nome Função Assinatura
Notificação SVS 17/07/2006
| | | | | |
Código
Município de Notificação5
|
UF4
Nome do Paciente8 Data de Nascimento
| | | | |
9
| |
Nome da mãe16
11 M - Masculino
F - Feminino
I - Ignorado | |
Número do Cartão SUS
| | | | | | | | | | | | | | |
15
1-1ºTrimestre 2-2ºTrimestre 3-3ºTrimestre10 (ou) Idade Sexo
4- Idade gestacional Ignorada 5-Não 6- Não se aplica
9-Ignorado
Raça/Cor13Gestante12
14 Escolaridade
1 - Hora
2 - Dia
3 - Mês
4 - Ano
0-Analfabeto 1-1ª a 4ª série incompleta do EF (antigo primário ou 1º grau) 2-4ª série completa do EF (antigo primário ou 1º grau)
3-5ª à 8ª série incompleta do EF (antigo ginásio ou 1º grau) 4-Ensino fundamental completo (antigo ginásio ou 1º grau) 5-Ensino médio incompleto (antigo colegial ou 2º grau )
6-Ensino médio completo (antigo colegial ou 2º grau ) 7-Educação superior incompleta 8-Educação superior completa 9-Ignorado 10- Não se aplica
CEP
Bairro
Complemento (apto., casa, ...)
| | | | - | |
Ponto de Referência
País (se residente fora do Brasil)
26
29
23
31 33Zona32
25 Número
1 - Urbana 2 - Rural
3 - Periurbana 9 - Ignorado
(DDD) Telefone
30
|
Município de Residência
|
UF20 21 Distrito22
Geo campo 127
Geo campo 228
| | | | |
Código (IBGE)
| | | | |
Código (IBGE)
1-Branca 2-Preta 3-Amarela
4-Parda 5-Indígena 9- Ignorado
| | | |
Logradouro (rua, avenida,...)
Município de Residência21
| | | | |
Código (IBGE)
2421
| | | | | | | | | |
Código
1 - Residência 3 - Creche / Escola2 - Hospital / Unidade de Saúde
4 - Asilo 5 - Outras Instituições (alojamento, trabalho) 6- Restaurante/ Padaria
(similares)
8 - Casos Dispersos no Bairro 9- Casos Dispersos Pelo Município
10 - Casos Dispersos em mais de um Município 11 - Outros Especificar _____________________
7 - Eventos
Sinan NET
Estratégia
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76
Figura: Exemplo de Ficha Individual de Investigação (FII). Essa ficha é específica para cada uma das doenças ou agravos presentes na lista. Ela é mais completa e permite
a obtenção de dados mais específicos sobre as doenças, inclusive a identificação da fonte da infecção e dos mecanismos de transmissão dela. Veja que, no trecho inicial
de uma FII (no caso, de raiva humana), já começamos com o nome da doença. Ao longo da ficha, é possível encontrar perguntas específicas para aquela doença (e essas
perguntas serão diferentes nas fichas das outras enfermidades). Fonte: Elaborado a partir da Referência Bibliográfica número 1 (um).
COMENTÁRIO DAS ALTERNATIVAS
Incorreta a alternativa A. A notificação negativa realizada pelas unidades de saúde não é feita em caráter mensal, mas, sim, semanal. Portanto,
ao final de cada semana epidemiológica, uma nova notificação deverá ser emitida caso não tenham ocorrido notificações de nenhum dos
itens da lista.
Incorreta a alternativa B. A notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública é um dever legal de todos os profissionais
de saúde e deverá ser feita mesmo sem a anuência do paciente. Nesse contexto, como estamos diante de um dever legalmente instituído,
o ato de notificar não é considerado uma quebra de sigilo. Além disso, deve ficar claro que as informações pessoais do indivíduo estão
protegidas e não serão divulgadas a nenhum membro da comunidade.
Incorreta a alternativa C. Muito cuidado aqui, Estrategista! Como vimos, toda e qualquer doença, agravo ou evento de saúde pública presente
na Lista Nacional de Notificações pode ser adequadamente notificada por qualquer indivíduo, seja ele ou não um profissional de saúde. Além
disso, nunca caiam na pegadinha das bancas de afirmar que apenas os MÉDICOS tem a atribuição de notificar, sendo esta uma obrigação de
TODOS OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE, o que inclui obviamente os enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem etc.
Incorreta a alternativa D. As condições presentes na lista e que devem ser notificadas imediatamente são aquelas cuja importância
epidemiológica é maior, em especial quando falamos na capacidade de afetar de forma rápida a população e tomar proporções sanitárias
maiores, inclusive em nível mundial. Portanto, sua notificação deverá ser feita em até 24 horas às três esferas da Vigilância Epidemiológica
(Ministério da Saúde e Secretarias Estadual e Municipal de Saúde).
| | | | | | |
| | | | | | | | |
Nº
República Federativa do Brasil
Ministério da Saúde
SINAN
Dados Complementares do Caso
|
32
| | |
31 Data da Investigação
| | | |
A
nt
ec
ed
en
te
sE
pi
de
m
io
ló
gi
co
s
Tipo de Exposição ao Vírus Rábico33
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado Arranhão Lambedura
Localização34 1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado
Mucosa Cabeça/Pescoço Mãos Tronco Membros Superiores Membros Inferiores
| | | | | | |
37 Data da Exposição
Ferimento35
1- Único 2- Múltiplo 3-Sem Ferimento 9- Ignorado
Tipo de Ferimento36
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado Profundo Superficial Dilacerante
Tem Antecedentes de Tratamento Anti-Rábico?38
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado
| | | | | | |
40 Data da Última Dose
Espécie do Animal Agressor41
1 - Canina 2 - Felina 3 - Quiróptera (Morcego) 4 - Primata (Macaco)
7 - Outra _____________ 9 - Ignorado
Animal Vacinado42
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado5 - Raposa
Contato Indireto
Pré-Exposição Pós-Exposição
Raiva Humana
FICHA DE INVESTIGAÇÃO RAIVA HUMANA
Mordedura
Ocupação
SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO
| | | | | | |
39 Número de Doses Aplicadas
|
6 - Herbívora
Pés
CASO SUSPEITO: Todo paciente com quadro clínico sugestivo de encefalite rábica, com antecedentes ou não de exposição à
infecção pelo vírus rábico.
47 Nome do Hospital
A
te
nd
im
en
to
43 Ocorreu Hospitalização? Data da Internação44
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado
Principais Sinais/ Sintomas
1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado
Aerofobia Hidrofobia Disfagia Parestesia
Paralisia Agitação Psicomotora
Agressividade
Febre Outro (s): _____________________
48
D
ad
os
de
R
es
id
ên
ci
a
N
ot
ifi
ca
çã
o
In
di
vi
du
al
Unidade de Saúde (ou outra fonte notificadora)
Nome do Paciente
Tipo de Notificação
Município de Notificação
Data dos Primeiros Sintomas
| | | | |
1
5
6
8
| |
7
Data de Nascimento
| | | | |
9
| |
2 - Individual
D
ad
os
G
er
ai
s
Nome da mãe16
11 M - Masculino
F - Feminino
I - Ignorado | |
Número do Cartão SUS
| | | | | | | | | | | | | | |
15
1-1ºTrimestre2-2ºTrimestre 3-3ºTrimestre10 (ou) Idade Sexo
4- Idade gestacional Ignorada 5-Não 6- Não se aplica
9-Ignorado
Raça/Cor13Gestante12
14 Escolaridade
1 - Hora
2 - Dia
3 - Mês
4 - Ano
0-Analfabeto 1-1ª a 4ª série incompleta do EF (antigo primário ou 1º grau) 2-4ª série completa do EF (antigo primário ou 1º grau)
3-5ª à 8ª série incompleta do EF (antigo ginásio ou 1º grau) 4-Ensino fundamental completo (antigo ginásio ou 1º grau) 5-Ensino médio incompleto (antigo colegial ou 2º grau )
6-Ensino médio completo (antigo colegial ou 2º grau ) 7-Educação superior incompleta 8-Educação superior completa 9-Ignorado 10- Não se aplica
|
UF4
| | | | | |
Código
Data da NotificaçãoAgravo/doença
| | | | |
32
| |
Código (CID10)
RAIVA HUMANA A 8 2.9
| | | | | |
Código46 Município do Hospital
|
UF45
| | | | |
Código (IBGE)
| | | | |
Código (IBGE)
1-Branca 2-Preta 3-Amarela
4-Parda 5-Indígena 9- Ignorado
CEP
Bairro
Complemento (apto., casa, ...)
| | | | - | |
Ponto de Referência
País (se residente fora do Brasil)
23
26
20
28 30Zona29
22 Número
1 - Urbana 2 - Rural
3 - Periurbana 9 - Ignorado
(DDD) Telefone
27
Município de Residência
|
UF17 Distrito19
Geo campo 124
Geo campo 225
| | | | |
Código (IBGE)
Logradouro (rua, avenida,...)
Município de Residência18
| | | | |
Código (IBGE)
2121
| | | | | | | | | |
Código
SVS 08/06/2006Sinan NET
Estratégia
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Estratégia MED | Caderno de Respostas | 6º Simulado Residência Médica | Maio de 2024
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77
Correta a alternativa E.
Como vimos no comentário introdutório da questão, todos os cidadãos podem fazer a notificação de doenças,
agravos e eventos em saúde pública. Porém, isso é facultativo a esses indivíduos. Por outro lado, existe
obrigatoriedade em sua realização para os profissionais de saúde ou responsáveis pelos serviços públicos e privados de saúde, que prestam
assistência ao paciente.
Em caso de descumprimento desse dever, punições poderão ser empregadas.
Observe o que o Código Penal brasileiro postula a esse respeito quando pensamos especificamente nos profissionais médicos:
“Omissão de notificação de doença
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa”.
45 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Medicina Preventiva - Prof. Bárbara D’Alegria) Tendo por base os princípios da bioética
determinados nos trabalhos de Beauchamps e Childress, avalie a situação a seguir:
Paciente de 78 anos, internado com câncer de pâncreas terminal, apresenta diretivas antecipadas de vontade que determinam que, em
caso de deterioração de seu estado de saúde, não deseja receber medidas invasivas e, se parada cardiorrespiratória (PCR) sobrevir, não
quer ser reanimado.
Durante a passagem de plantão, tal situação não é informada ao médico que acabara de assumir. Na madrugada, o referido paciente
evolui com parada cardiorrespiratória. No intento de alterar tal situação, o médico reanima o paciente, institui drogas vasoativas por meio
de cateter periférico e passa um tubo orotraqueal, conseguindo reverter a PCR. Na sequência, solicita vaga no centro de terapia intensiva
(CTI) para realização dos cuidados pós-parada.
Diante da situação em tela, qual foi o PRINCIPAL princípio bioético desrespeitado pelas ações do médico?
A) Autonomia.
B) Justiça.
C) Não maleficência.
D) Beneficência.
E) Não houve desrespeito aos princípios da bioética na situação descrita.
COMENTÁRIO INTRODUTÓRIO
TEMA: PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA
Referência Bibliográfica
1. Roqué-Sánchez M. V.; e Macpherson I. Análise da ética de princípios, 40 anos depois. Rev. Bioét. vol.26 no.2 Brasília Abr./Jun.
2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/VdV3ByFcxmgryhjxZLpv3wt/?format=pdf&lang=pt.
Estrategista, os princípios bioéticos são elementos fundamentais da prática diária do médico, não se restringindo ao contexto da
pesquisa clínica. Propostos originalmente com esse fim no chamado Relatório Belmont, foram posteriormente aprimorados e difundidos no
contexto da medicina do dia a dia por Beauchamps e Childress, no que ficou conhecido como modelo bioético principialista.
Assim, quatro princípios básicos foram consagrados: a autonomia, a justiça, a beneficência e a não maleficiência, todos eles possuidores
da mesma importância e sendo considerados fundamentais para calcar uma prática médica ética e responsável.
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A autonomia é um princípio que pressupõe que todos os indivíduos têm liberdade para decidir sobre suas vidas, estando aqui incluídas
as decisões acerca de sua saúde. Assim, podemos inferir que a autonomia está diretamente ligada à capacidade de autodeterminação de um
indivíduo, gerenciando suas escolhas de acordo com sua própria vontade, que deverá ser respeitada pelos profissionais médicos.
Outro princípio bioético é o da justiça, que preconiza a divisão justa e equitativa dos recursos necessários para a execução dos cuidados
em saúde. Em linhas gerais, a grande frase que determina a essência desse princípio é “dar aquilo que cada um realmente necessita”. Nesse
sentido, fica evidente que o princípio da equidade está aqui embutido, já que, ao oferecermos a cada um aquilo que lhe é devido, estamos
reconhecendo que as pessoas são diferentes e, portanto, apresentam necessidades diferentes.
O terceiro princípio é o da beneficência, que determina que os profissionais médicos têm por missão base buscar sempre fazer o
bem a seus pacientes. Essa é uma obrigação moral a ser seguida, já que um dos bens mais preciosos do ser humano é confiado a essa classe
profissional: a saúde.
Por último, temos o princípio da não maleficência, que advoga que qualquer ato médico deve ter como princípio básico não causar
danos ao paciente, ou seja, antes de tudo, não devemos trazer prejuízos para àqueles sob nossos cuidados.
Em resumo, podemos assim determinar os quatro princípios bioéticos de forma esquemática:
Figura: Princípios de Bioética segundo Beauchamps e Childress.
Terminada a revisão de conceitos, vamos elucidar qual foi o principal princípio da bioética desrespeitado na situação descrita no
enunciado da questão.
Foi o princípio da AUTONOMIA.
Perceba que o paciente possuía um documento de diretivas antecipadas de vontade que apontava quais eram as medidas que gostaria
ou não de receber durante sua internação, caso não mais pudesse responder por si. Isso é uma clara expressão da autodeterminação do
paciente, exemplificando seu poder de escolha em relação às decisões a serem tomadas sobre sua saúde.
AUTONOMIA
Orientar,
garantir a
compreensão e
incentivar a
participação dos
pacientes nas
decisões.
NÃO
MALEFICÊNCIA
Princípio do primum
non nocere: "acima
de tudo, não causar
danos".
Profissionais de saúde
não devem prejudicar
intencionalmente os
pacientes.
BENEFICÊNCIA
Profissionais de
saúde têm a
obrigação moral
de atuar em
benefício e
interesse dos
pacientes.
JUSTIÇA
Engloba a distribuição
justa (equidade) e
equlibrada dos recursos.
Profissional de saúde
deve ser imparcial.
Estratégia
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Ao descumprir os desejos do paciente, que, para o contexto clínico, são eticamente aceitáveis, o profissional médico burla exatamente
o princípio da autonomia do paciente, “obrigando-o” a receber intervenções que não desejava.
COMENTÁRIO DAS ALTERNATIVAS
Correta a alternativa A. Conforme explicitado no texto do comentário introdutório da questão.
Incorreta alternativa B. De certa forma, podemos considerar que o princípioda justiça também está sendo desrespeitado, afinal o médico
está empregando condutas que poderão gerar situações injustas. Imagine que, ao levar esse paciente terminal para o CTI, algo que será
praticamente obrigatório após a reversão da PCR, ele poderá estar retirando a vaga de um outro paciente com melhor prognóstico e que
talvez também demandasse um leito nessa unidade. Logo, entenda que a conduta médica nesse contexto não impacta apenas a vida do
paciente oncológico em discussão, mas a de outros pacientes que porventura necessitem de internação nesse hospital.
Apesar disso, repare que o desrespeito ao princípio da justiça é secundário ao desrespeito à autonomia do paciente. É por essa razão que o
PRINCIPAL princípio descumprido é o da autonomia.
Incorreta a alternativa C. A não maleficência pressupõe que o médico não irá atuar intencionalmente causando o mal de seus pacientes.
Ao vermos as condutas desse médico, temos a certeza que ele estava imbuído de um dever genuíno de salvar a vida do homem, em vistas
de evitar um desfecho que, em sua mente, era o pior. Pesa ao fato que toda essa concepção do médico se deu em razão da ausência das
informações necessárias que deveriam ter sido passadas pelo colega anterior acerca das diretivas antecipadas de vontade.
Incorreta a alternativa D. Seguindo aquilo que discutimos no texto do comentário da alternativa C, as atitudes do médico visaram ao benefício
do paciente, salvando sua vida, que estava em risco. Portanto, ao reanimar o sujeito, reverter a PCR e levá-lo para o CTI, o profissional estava
atuando, segundo sua concepção, com objetivo de causar o bem, não havendo intenção alguma de causar o mal. Isso reforça o raciocínio de
que, em razão da desinformação, o médico só agiu como agiu tendo por base a beneficência e a não maleficência de seus atos.
Incorreta a alternativa E. Pois como vimos, houve, sim, desrespeito a princípios bioéticos no contexto apresentado.
46 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Medicina Preventiva - Prof. Bárbara D’Alegria) Observe a tabela abaixo, construída a partir de um
estudo experimental que objetivou avaliar as diferenças de mortalidade entre dois grupos (intervenção versus controle) após a introdução
de um tratamento medicamentoso.
DESFECHOS
GRUPOS EM ESTUDO SIM NÃO TOTAL
INTERVENÇÃO a b a+b
CONTROLE c d c+d
TOTAL a+c b+d a+b+c+d
Analise a seguinte expressão matemática, elaborada a partir da tabela acima.
Essa expressão nos permite responder a que pergunta a seguir?
X =
(c / c + d) - (a / a + b)
1
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80
A) “Quantos pacientes devem ser tratados para que um deles apresente benefício?”
B) “Quais são as chances de o desfecho ser observado no grupo que recebeu a intervenção em relação ao grupo controle?”
C) “Qual é a eficácia da intervenção aplicada?”
D) “Qual é o risco comparativo do desfecho entre o grupo intervenção e o grupo controle?”
E) Nenhuma das alternativas acima apresenta uma pergunta que poderia ser respondida por essa expressão.
COMENTÁRIO INTRODUTÓRIO
TEMA: INTERPRETAÇÃO E CÁLCULO DO NÚMERO NECESSÁRIO PARA TRATAMENTO (NNT)
Referência Bibliográfica:
1. Estratégia MED. Livro Digital: Curso Extensivo - Pesquisa Epidemiológica e Medidas de Associação, 2024.
Estrategista, questão difícil por aqui!
Vamos juntos resolvê-la.
Para acertá-la, você precisaria saber interpretar como é feito o cálculo do chamado NÚMERO NECESSÁRIO PARA TRATAMENTO, ou
simplesmente NNT.
Primeiramente, vamos nos lembrar do que se trata essa medida e o que ela nos aponta.
O NNT é uma medida de associação capaz de avaliar o impacto da intervenção no grupo de pacientes que a recebe, indicando o quão
benéfica ela é por meio da mensuração de quantos indivíduos devem recebê-la para que o desfecho seja evitado em pelo menos 1 (um) deles.
Compreendido isso, vamos entender como essa medida pode ser calculada.
Sua fórmula de cálculo é a seguinte:
Número necessário para tratar = 1/redução absoluta de risco*.
*Redução absoluta de risco (RAR): é uma medida de associação obtida a partir do cálculo da diferença de riscos do desfecho entre o
grupo exposto e o grupo não exposto, permitindo uma visão absoluta da diferença de riscos.
A fórmula da RAR é a seguinte:
Redução absoluta de risco = risco absoluto dos não expostos (grupo controle) – risco absoluto dos expostos (grupo intervenção).
Com essas informações, você já deve ter deduzido a expressão que apresentamos no enunciado da questão. Ela nos mostra exatamente
o inverso da redução absoluta do risco, sendo, portanto, a fórmula de cálculo do NNT.
Veja a figura a seguir, que pormenoriza os elementos da expressão
X =
(c / c + d) - (a / a + b)
1
NNT
Risco absoluto do
desfecho no grupo
controle
Risco absoluto do
desfecho no grupo
intervenção
Inverso da redução
absoluta do risco{ {
{ {
Figura: Observe que a expressão tinha em X o valor do NNT. No numerador, encontramos o número 1 (um) e, no denominador, a diferença entre entre os riscos absolutos
do desfecho entre o grupo controle e o grupo experimental. Isso nada mais é do que a RAR. Se temos, então, 1 (um) dividido pela RAR, temos o inverso da RAR, que é o
NNT. Fonte: Estratégia MED.
Estratégia
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Por fim, perceba que o NNT avalia a probabilidade da ocorrência de um desfecho positivo a partir da adoção de uma intervenção.
Logo, um NNT alto indica que a intervenção não é tão benéfica, afinal terei que tratar um grande número de indivíduos para que um deles se
beneficie. Por outro lado, um NNT baixo indica que a intervenção é muito benéfica, afinal precisarei tratar um pequeno número de indivíduos
para que um deles se beneficie.
A título de bagagem teórica, devemos nos lembrar também do NND (número necessário para causar dano).
Em linhas gerais, quando objetivamos avaliar o quão maléfica é uma intervenção, podemos calcular o NND ou número necessário
para causar dano. Essa medida avalia quantos indivíduos devem receber a intervenção para que um sofra dano. Assim como para o NNT,
essa é uma forma de avaliar a probabilidade de um desfecho negativo a partir de uma intervenção. Quanto menor o NND, maior é essa
probabilidade e, quanto maior o NND, menor é essa probabilidade.
COMENTÁRIO DAS ALTERNATIVAS
Correta a alternativa A.
Exato! Essa é a pergunta respondida pelo NNT! Quantos pacientes devem receber uma intervenção para que
um deles se beneficie dela (ex.: não apresente o desfecho mortalidade). Assim, um NNT de 50 mostra-nos
que precisaremos aplicar a intervenção em 50 pacientes para que um se beneficie (ex.: um tenha o desfecho mortalidade evitado).
Incorreta a alternativa B. Já que quem responderia esse questionamento seria a razão de chances ou odds ratio (OR), calculado pela seguinte
expressão:
OR = a x d / c x b.
Incorreta a alternativa C. Como bem sabemos, a eficácia de uma intervenção em um estudo experimental pode ser calculada pela redução
do risco relativo (RRR), que, nesse caso, seria dada por:
RRR = 1 - [(a / a + b) ÷ (c / c + d)].
Incorreta a alternativa D. Pois seria o risco relativo (RR) a medida de associação responsável por responder esse questionamento. Ele é assim
calculado:
RR = (a / a + b) ÷ (c / c + d)
Incorreta a alternativa E. Já que na alternativa A temos a pergunta que pode ser respondida com a expressão apontada no enunciado da
questão.
47 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Medicina Preventiva - Prof. Bárbara D’Alegria) Analise as afirmativas abaixo e, a seguir, assinale
a alternativa correta.
I - A depender da localização da gestação, mesmo se apresentar sinais de vitalidade após o nascimento, o feto poderá ser considerado
como um natimorto.
II - A emissão da declaração de óbito é obrigatória a todos os nascidos vivos e aqueles que preencham pelo menos um dos critérios (idade
gestacional maiorou igual a 20 semanas; peso maior ou igual a 500 gramas; comprimento maior ou igual a 25 cm).
III - Caso a morte de uma criança ocorra antes dos 5 anos completos de idade, chamaremos esse óbito de “infantil”.
IV - As mortes pós-neonatais ou infantis tardias são amplamente influenciadas por fatores intrínsecos, tais como anomalias congênitas ou
doenças perinatais (ex.: doença da membrana hialina).
A) Existe apenas uma afirmativa correta.
B) Existem duas afirmativas corretas.
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C) Existem três afirmativas corretas.
D) Todas as afirmativas estão corretas.
E) Nenhuma das afirmativas está correta.
COMENTÁRIO INTRODUTÓRIO
TEMA: ESPECTRO DA MORTALIDADE FETAL E INFANTIL
Referências Bibliográficas:
1. Estratégia MED. Livro Digital: Curso Extensivo - Sistemas de Informação em Saúde. São Paulo, 2024.
2. Estratégia MED. Livro Digital: Curso Extensivo - Indicadores de Saúde. São Paulo, 2024.
Estrategista, o espectro da mortalidade fetal e infantil é muito cobrado em provas e existem diversas nuances de interesse nesse
assunto.
Portanto, vamos discutir os pontos de maior relevância do tema aqui!
Para iniciar a discussão desse assunto, é de suma importância que tenhamos um sumário de conceitos em mente. Eles sempre nos
ajudarão a raciocinar melhor sobre esse tema.
Vamos a eles:
# Óbito fetal: é a morte de qualquer produto da concepção antes de seu nascimento ou que, ao nascimento, acha-se morto, não manifestando
nenhum sinal vital após a saída do corpo materno.
# Aborto: óbito fetal que ocorre geralmente antes da viabilidade, ou seja, a vigésima ou vigésima segunda semana de gestação.
# Natimorto: óbito fetal que ocorre após a viabilidade, ou seja, depois da vigésima ou vigésima segunda semana de gestação.
# Nascido vivo: trata-se da expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração e da localização da gestação,
de um produto da concepção que esboça, após a separação, sinais vitais como batimentos cardíacos, pulsações do cordão umbilical ou
movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou não cortado o cordão umbilical e estando ou não desprendida a
placenta.
# Óbito não fetal: é o óbito de um nascido vivo, independentemente da idade gestacional, após sua separação do corpo materno.
# Óbito fetal precoce: é aquele que ocorre antes da vigésima ou vigésima segunda semana de gestação, ou seja, trata-se do aborto.
# Óbito fetal intermediário ou moderado: é aquele que se dá entre a vigésima ou vigésima segunda semana de gestação e a vigésima oitava
semana de gestação.
# Óbito fetal tardio: é aquele que ocorre após a vigésima oitava semana de gestação ou com um peso ao nascimento acima de 1000 gramas.
Feita essa conceituação, observe a figura a seguir.
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Figura: Observe como os conceitos por nós definidos acima batem com a linha temporal da mortalidade fetal e infantil. Caso a morte ocorra após a concepção e antes da
vigésima ou vigésima segunda semana de gestação, teremos um aborto. Nos casos em que essa morte acontece após esse período e o nascimento propriamente dito,
com o concepto já nascendo morto, temos o natimorto. Todos os óbitos de um nascido vivo, a partir daí, que porventura ocorram, serão ditos óbitos não fetais ou óbitos
infantis. Esses poderão ser estratificados, como veremos abaixo.
Os óbitos infantis são aqueles que ocorrem ao longo do primeiro ano de vida. Eles irão compor a taxa de mortalidade infantil (TMI)
ou coeficiente de mortalidade infantil (CMI), um importante indicador em saúde pública que, por meio da avaliação da mortalidade infantil
(óbitos ocorridos antes de se completar o primeiro ano de vida), permite avaliar as condições de vida e de saúde de toda uma população.
Para compormos os óbitos ocorridos ao longo do primeiro ano de vida, dividimos esse período em três etapas:
1) Período neonatal precoce: esse período se estende do nascimento até os primeiros sete dias incompletos de vida.
2) Período neonatal tardio: que vai do sétimo ao vigésimo sétimo dia de vida.
3) Período pós-neonatal ou infantil tardio: que se estende do vigésimo oitavo até o trecentésimo sexagésimo quarto dia de vida.
Em relação às causas de morte, os dois primeiros períodos são influenciados pelas causas oriundas do período perinatal, em especial
a prematuridade, e pelas anomalias congênitas. Ambas as causas são de difícil redução por meio de intervenções programadas. Podemos
considerar a mortalidade, aqui, como oriunda de fatores intrínsecos.
Já no período pós neonatal, predominam os fatores extrínsecos ou ambientais entre as causas de mortalidade. O acesso à saúde,
alimentação, saneamento básico e educação em saúde são cruciais para determinar as mortes aqui. Portanto, quando atuamos nesses fatores
por meio de medidas simples, como vacinação, conscientização da importância do aleitamento materno e tratamento de esgoto, iremos
obter grandes reduções nas mortes aqui localizadas.
Por fim, temos mais dois pontos extremamente relevantes quando tratamos do espectro da mortalidade fetal e infantil. São eles a
compreensão de quando deveremos ou não emitir a declaração de óbito (DO) e a declaração de nascido vivo (DNV).
Vamos começar com a declaração de óbito.
Em linhas gerais, emitiremos a DO nesse contexto em duas situações:
1) No óbito fetal, se a gestação tiver duração igual ou superior a 20 semanas ou o feto tiver peso corporal igual ou superior a 500 gramas
e/ou estatura igual ou superior a 25 centímetros; e
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2) No óbito não fetal, quando a criança nascer viva e morrer logo após o nascimento, independentemente da duração da gestação, do
peso do recém-nascido e do tempo que tenha permanecido vivo.
Portanto, guardem esses dois contextos!
A figura a seguir contribuirá com isso.
Figura: Quando emitir e quando não emitir a declaração de óbito (DO) no contexto dos óbitos fetais e não fetais. Fonte: Estratégia MED.
Agora, em relação à DNV, devemos saber que ela alimenta o SINASC (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos), sendo emitida por
profissionais de saúde que constatarem a ocorrência de um nascido vivo, ou seja, o concepto que, independentemente da idade gestacional,
apresente quaisquer sinais de vida após a separação do corpo materno (ex.: pulsação de cordão umbilical, batimentos cardíacos, choro e
respiração ativa etc.).
Deve ficar claro que a DNV será emitida para todos os nascidos vivos, independentemente do tempo transcorrido entre o nascimento
propriamente dito e sua morte.
Feita essa ampla revisão, vamos avaliar as afirmativas trazidas no enunciado da questão.
I - A depender da localização da gestação, mesmo se apresentar sinais de vitalidade após o nascimento, o feto poderá ser considerado como
um natimorto - INCORRETA: qualquer produto da concepção, independentemente da localização da gestação ou da idade gestacional, que
apresente sinais de vitalidade após o nascimento será considerado um nascido vivo. Caso sobrevenha óbito, iremos classificá-lo como um
óbito não fetal.
II - A emissão da declaração de óbito é obrigatória a todos os nascidos vivos e aqueles que preencham pelo menos um dos critérios (idade
gestacional maior ou igual a 20 semanas; peso maior ou igual a 500 gramas; comprimento maior ou igual a 25 cm) - CORRETA: como vimos,
essas são as duas situações em que há necessidade clara do preenchimento da DO.
III - Caso a morte de uma criança ocorra antes dos 5 anos completos de idade, chamaremos esse óbito de “infantil” - INCORRETA: já que os
óbitos infantis se restringem àqueles ocorridos até o primeiro ano incompleto de vida. Os óbitos ocorridos em menores de 5 anos são ditos
“óbitos nainfância”.
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IV - As mortes pós-neonatais ou infantis tardias são amplamente influenciadas por fatores intrínsecos, tais como anomalias congênitas ou
doenças perinatais (ex.: doença da membrana hialina) - INCORRETA: pois são os fatores extrínsecos ou ambientais os principais responsáveis
pela mortalidade pós-neonatal ou infantil tardia.
COMENTÁRIO DAS ALTERNATIVAS
Correta a alternativa A. Já que apenas a assertiva II está correta. Logo, temos apenas uma afirmativa correta entre as quatro listadas.
Incorreta alternativa B. Pois apenas uma afirmativa está correta.
Incorreta a alternativa C. Vide o texto do comentário da alternativa B.
Incorreta a alternativa D. Vide o texto do comentário da alternativa B.
Incorreta a alternativa E. Lembre-se de que a assertiva II está correta.
48 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Psiquiatria - Prof. Thales Thaumaturgo) A anorexia nervosa é um transtorno alimentar com
origem mental que afeta cerca de 1% da população, sobretudo mulheres jovens. São critérios para seu diagnóstico, exceto:
A) medo intenso de ganhar peso.
B) amenorreia.
C) distorção da autoimagem corporal.
D) padrão de dieta restrita.
E) peso baixo.
COMENTÁRIOS:
Estrategista, a anorexia nervosa (AN) é um transtorno alimentar que afeta cerca de 1% das mulheres, iniciando-se normalmente na
adolescência. A AN tem três características essenciais: restrição dietética; medo intenso de ganhar peso e distorção da autoimagem corporal,
resultando em baixo peso.
Amenorreia ou alterações hormonais também são muito comuns neste transtorno, devido ao baixo peso, desnutrição ou desidratação
(mas não são critério diagnóstico).
Após o diagnóstico de AN, podemos, ainda, subclassificá-la de duas formas:
• Tipo restritivo: o paciente adota uma dieta restrita em calorias e normalmente associada à prática de atividades físicas excessivas.
• Tipo purgativo: o paciente envolve-se em episódios de compulsão alimentar, que são compensados por meio de métodos de
purgação, como laxantes, diuréticos ou pela autoindução de vômitos.
Portanto, fique atento, pois algumas pacientes apresentam fases em que se envolvem em compulsão e purgação, mas que não são o
principal “eixo” do transtorno!
O tratamento é realizado com psicoterapia, terapia nutricional/nutrológica associadas a um ISRS. Nos casos graves, especialmente
naquelas pacientes com magreza acentuada, é necessário considerar a internação hospitalar.
Vamos às alternativas!
Correta a alternativa A: medo intenso de ganhar peso é um dos critérios da anorexia nervosa.
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Incorreta a alternativa B:
embora frequentemente presente no curso do transtorno, a amenorreia deixou de ser critério diagnóstico
com a atualização da CID para sua 11ª versão, em 2022. Por sua vez, já não era uma exigência desde a 5ª
versão do DSM, lançada em 2013.
Correta a alternativa C: perturbação ou preocupação excessiva com a autoimagem corporal é critério diagnóstico.
Correta a alternativa D: dieta restrita é uma das características centrais desse diagnóstico, sendo um critério necessário para esse transtorno.
Correta a alternativa E: visto que, no curso natural desse transtorno, o resultado é o baixo peso. Vale a pena mencionar que esse dado é de
suma importância quando esse transtorno é diferenciado da bulimia nervosa, em que o peso é normal ou elevado.
49 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Cardiologia - Prof. Bruno Ferraz) Paciente de 58 anos que acompanha regularmente na Unidade
Básica de Saúde com diagnóstico de miocardiopatia isquêmica em fase dilatada, com fração de ejeção de 18%. Está em uso de carvedilol
50 mg/dia, enalapril 40 mg/dia, espironolactona 25 mg/dia, AAS 100 mg e sinvastatina 40 mg. Paciente está sintomático em classe
funcional NYHA II-III, mesmo com tratamento otimizado. Sobre o ajuste terapêutico desse doente, assinale a alternativa CORRETA.
A) Se esse paciente possuir QRS largo (> 150 ms) e bloqueio de ramo esquerdo, está indicado o uso de ressincronizador cardíaco.
B) O uso da dapaglifozina, inibidor da SGTL2, está contraindicado, pois o paciente não é portador de diabetes.
C) Se a pressão arterial estiver elevada, podemos associar sacubitril-valsartana ao tratamento.
D) A ivabradina pode ser considerada se a frequência cardíaca estiver acima de 70 bpm, independentemente do ritmo de base.
E) Deve ser iniciada furosemida, visando ao aumento de sobrevida desse doente.
COMENTÁRIOS:
Caro Estrategista,
O tripé do tratamento da insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida é: IECA, betabloqueador e espironolactona. Essas são
as drogas que apresentam maior benefício na redução de mortalidade. Devemos sempre tentar utilizar essas drogas em todos os pacientes
sintomáticos, salvo contraindicações. Um detalhe importante: não são todos os betabloqueadores que demonstraram benefício na IC! Os
betabloqueadores aprovados são: carvedilol, bisoprolol, succinato de metoprolol e nebivolol (somente em pacientes com idade superior a 75
anos). Outras drogas também demonstraram benefício em redução de mortalidade, mas a magnitude é mais modesta e acabam tendo uma
participação coadjuvante no tratamento da IC. Quanto otimizamos a terapia tríplice e o paciente permanece sintomático, precisamos avaliar
que terapia devemos associar.
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Nas diretrizes mais recentes de IC, os inibidores da SGLT2, drogas utilizadas no tratamento da diabetes, assumiram um papel de
destaque no tratamento da IC. Seu benefício foi observado independentemente da presença de diabetes, com redução de mortalidade e
internações. Com isso, no paciente diabético e portador de IC, deve ser iniciado imediatamente. Nos demais, utilizaremos os sintomáticos
em uso de terapia tríplice otimizada.
A ivabradina é um inibidor dos canais If presentes no nodo sinusal. Por isso, só pode ser utilizada em pacientes com ritmo sinusal.
Seu principal efeito é reduzir a frequência cardíaca. A ivabradina reduziu o desfecho composto por mortalidade e hospitalizações por IC em
pacientes sintomáticos com FE ≤ 35%, em ritmo sinusal e com frequência cardíaca (FC) superior a 70 bpm. Esses pacientes já faziam uso da
terapia padrão para IC (IECA, betabloqueador e antagonista da aldosterona). Dessa forma, essa droga é uma boa opção em pacientes que não
controlam a frequência cardíaca com dose otimizada de betabloqueador ou não toleram dose máxima do mesmo.
O sacubitril/valsartana é uma nova classe terapêutica que atua no sistema renina-angiotensina-aldosterona. Combina um bloqueador
do receptor da angiotensina II (valsartana) com um inibidor da neprisilina (sacubitril). Ao inibir a neprilisina, a degradação dos peptídeos
natriuréticos, da bradicinina e outros peptídeos é lentificada. Essas substâncias promovem diurese, natriurese, relaxamento miocárdico e
antirremodelamento.
Essa droga foi testada contra o IECA (enalapril na dose 20 mg/dia) e obteve redução no desfecho composto por morte geral, morte
cardiovascular e hospitalizações em pacientes com ICFER, níveis elevados de BNP ou hospitalização no último ano e clearance de creatinina
superior a 30 mL/min/1,73 m².
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Uma das principais limitações ao uso do sacubitril/valsartana é a ocorrência de hipotensão sintomática, mais comum na população
idosa. Nas diretrizes, seu uso está indicado em pacientes com dose máxima de IECA e que mantêm níveis pressóricos elevados. Dessa forma,
eles recomendam a troca do IECA pelo sacubitril/valsartana. Mas fique atento! A primeira opção é o uso do IECA!
Por fim, a associaçãode hidralazina com nitrato também demonstrou redução de mortalidade. Essa combinação é usada quando
temos contraindicação ao uso de IECA/BRA ou no paciente que permanece hipertenso com dose otimizada de IECA/BRA.
Se o tratamento clínico estiver otimizado e nenhum fator causal for identificado, podemos realizar um ECG para análise do QRS. Se o
paciente estiver sintomático e tiver QRS alargado (≥ 150 ms), devemos considerar o uso do ressincronizador cardíaco. Mas, como surgiu o
ressincronizador?
Em alguns pacientes, observávamos, por meio de exames de imagem, que havia uma grande dissincronia entre os ventrículos, entre
o átrio e ventrículo e dentro do próprio ventrículo. Essa dissincronia era mais evidente em pacientes com bloqueios de ramo (especialmente
o ramo esquerdo) em que os ventrículos contraíam em momentos diferentes, prejudicando a dinâmica de contração. Com isso, foi proposto
um dispositivo com três eletrodos (átrio, ventrículo direito e ventrículo esquerdo), cuja função seria sincronizar a despolarização do coração.
O ressincronizador cardíaco foi capaz de melhorar a qualidade de vida, com redução de morbidade e mortalidade em pacientes
selecionados. Assim, diversos estudos foram desenvolvidos para definir os pacientes que irão apresentar maior benefício. A principal indicação
de implante de ressincronizador é:
• IC sintomática com FE ≤ 35% apesar de tratamento médico otimizado por 3 meses;
• ritmo sinusal;
• duração do QRS ≥ 150 ms.
• morfologia de bloqueio de ramo esquerdo.
Se todas as características estiverem presentes, maior é a chance de benefício do paciente. A duração do QRS parece ser o principal
marcador de dissincronia. Portanto, não está recomendado o implante do ressincronizador em pacientes com duração do QRS inferior a 130
ms.
Vamos analisar as alternativas?
Correta a alternativa A: conforme justificado acima.
Incorreta a alternativa B: a dapaglifozina pode ser utilizada independentemente da presença de diabetes.
Incorreta a alternativa C: em pacientes hipertensos, podemos SUBSTITUIR o IECA pelo sacubitril-valsartana. Não devemos misturar IECA com
BRA pelo maior risco de angioedema.
Incorreta a alternativa D: a Ivabradina só pode ser utilizada em pacientes em ritmo sinusal.
Incorreta a alternativa E: a furosemida é uma medicação importante no manejo da congestão, mas não é uma das medicações que promovem
aumento da sobrevida na insuficiência cardíaca.
50 – (Estratégia MED 2024 – Inédita – Reumatologia - Prof. Taysa Moreira) Mulher, 57 anos, procura a unidade básica de saúde
referindo fadiga e fraqueza há 4 meses. Nota dificuldade para subir escadas, levantar da posição sentada e colocar roupas no varal. Nega
antecedentes. Ao exame físico, apresenta força muscular grau IV em região proximal de membros superiores e inferiores, eritema e
edema em pálpebras superiores e lesões maculopapulares sobre a superfície dorsal de interfalangeanas e metacarpofalangeanas. Sobre
o caso acima, assinale a alternativa INCORRETA.
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A) Essa doença pode acometer crianças e adultos, com predomínio no sexo feminino.
B) O acometimento muscular é necessário para seu diagnóstico.
C) As lesões de pele descritas são patognomônicas dessa condição.
D) Pacientes com essa doença apresentam maior risco de neoplasias, principalmente nos primeiros 3 a 5 anos após o diagnóstico.
E) O tratamento inicial é feito com glicocorticoides.
COMENTÁRIO:
Estrategista, temos aqui uma mulher de meia-idade apresentando fraqueza muscular objetiva de caráter simétrico e de predomínio
proximal, acometendo cinturas escapular e pélvica. Frente a esse padrão de acometimento clínico, você deve pensar imediatamente nas
miopatias autoimunes sistêmicas. Mas, com a descrição das lesões cutâneas, não devem restar dúvidas quanto ao diagnóstico. O heliótropo
(eritema na região palpebral que pode vir acompanhado por edema) e as pápulas de Gottron (lesões maculopapulares sobre a superfície
dorsal das articulações das mãos) são patognomônicos da dermatomiosite.
Para aprendermos um pouco mais sobre essa condição, vamos às alternativas.
Correta a alternativa A: a dermatomiosite apresenta um pico dito bimodal. O primeiro ocorre dos 5 aos 15 anos (dermatomiosite juvenil) e o
segundo entre os 45 a 65 anos. Predomina no sexo feminino em uma proporção de 2 a 3 casos para cada homem acometido.
Incorreta a alternativa B:
apesar de ser uma miopatia, a dermatomiosite pode cursar apenas com manifestações cutâneas. A maioria
dos casos reúne os dois acometimentos, mas a forma amiopática, em que não há fraqueza muscular
clinicamente identificável e elevação de enzimas musculares, também é descrita em até 20% dos pacientes.
Correta a alternativa C: conforme discutimos acima. Além dessas lesões características, existem outras inespecíficas, tais como o rash malar,
fissuras ao longo dos dedos e das palmas das mãos, denominadas “mãos de mecânico", rash em face, pescoço e tórax anterior (V do decote),
rash em ombros e dorso (sinal do xale), hipertrofia das cutículas e eritemas periungueais. A calcinose cutânea é mais frequente nas formas
juvenis, geralmente é de longa duração, com predileção por sítios de microtraumas repetitivos, podendo evoluir com contratura articular e
infecção secundária, além de ser associada a pior prognóstico. Assim como toda doença do tecido conjuntivo, também está associada ao FRy.
Úlceras, paniculite e vasculites cutâneas também são descritas, além de serem possíveis sinais da gravidade da doença.
Correta a alternativa D: porque a dermatomiosite está classicamente associada a maior risco de neoplasias. O risco é maior no início da
doença e o câncer pode preceder, ser concomitante ou surgir após o diagnóstico da miopatia. Os tipos mais frequentes envolvem ovário,
trato gastrintestinal, mama e pulmão, entre outros. Por isso, todo paciente com diagnóstico de dermatomiosite deve realizar screening para
neoplasias, de acordo com sexo e idade.
Correta a alternativa E: porque glicocorticoides constituem a primeira linha de tratamento na dermatomiosite, sua dose e via de administração
(p. ex., oral ou endovenosa) dependerão da gravidade das manifestações clínicas. A introdução de imunossupressores, como metotrexato
e azatioprina, visa ao controle adequado da doença com desmame progressivo do corticoide. Casos refratários podem demandar o uso de
pulsoterapia com metilprednisolona, rituximabe e imunoglobulina intravenosa.
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