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Fundamentos e Metodologia das Atividades artísticas e culturais Fundamentos e Metodologia das Atividades artísticas e culturais Sumário 1 Importância e papel reservado às artes na educação Página 05 2 Mas o que é Arte-educação? Página 10 Apresentação Esta apostila é fruto de leituras feitas de alguns trabalhos de autores brasileiros, considerados basi- lares e que têm se debruçado nos últimos anos em pesquisar e estudar as relações entre a arte, a cultu- ra e a educação. Saliente-se que os aspectos teóricos e metodológicos são aqui discutidos com o objetivo de, sobretudo, caracterizar as principais discussões realizadas sobre o referido tema, e que impulsiona- ram inúmeros debates nos meios políticos e letrados acerca da necessidade de revisar os conceitos, funda- mentos e métodos que organizam e regem o enino de Artes no país, especialmente as relações entre as atividades artísticas e culturais. Nesse sentido, este material não tem a intenção de ser uma referência para se discutir a arte e a cultura na formação educacional de crianças e adolescentes, pois presta-se a fazer muito mais uma revisão biblio- gráfica dos principais nomes que tem se dedicado a (re) pensar e (re) planejar suas práticas didáticas con- cernentes ao próprio fazer artístico, contextualização e reflexão acerca das linguagens e códigos cultutais. Assim, esta apostila é um convite a reflexões, um ponto de partida para se despertar no leitor questões pertinentes ao campo da arte e da educação. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 5 1 Importância e papel reservado às artes na educação Atualmente a necessidade de (re) pensar o ensino de Artes como disciplina do currículo escolar do Ensino Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental, está atrelada, por um lado, às tentativas de mudanças no programa de estudos das instituições escolares, às revisões conceituais, teóricas e metodológicas que têm pos- sibilitado reflexões acerca da própria prática e cultura escolar, bem como do sentido e importância de se ensinar Artes às crianças. Por outro lado, esta necessidade está relacionada às novas relações engendradas pelas mudanças nas formas de viver e pensar o mundo, sobretudo com o que poderí- amos chamar de “boom” das tecnologias, aspecto que vem impulsionando o estabe- lecimento de medidas na legislação que rege o sistema educacional do país. A dimensão cultural não fica de fora deste cenário, pois vê-se nos estudos de pe- dagogos e educadores, assim como nas discussões nos meios políticos e sociais, o entendimento de que a Arte e a Cultura estabelecem relações estreitas nas produções de códigos e linguagens que conformam a vida dos sujeitos em sociedade. Dada essas primeiras impressões, é possível perceber que as experiências com o ensino de Artes na escola têm revelado a importância e lugar reservado às Artes no processo de ensino-aprendizagem e na formação ética e cidadã das crianças. Porém, as aulas de Artes são compreendidas e efetivadas na prática educacional, muitas ve- zes, como um momento destinado à “desopilação” das crianças, devido ao “cansaço” adquirido dos conteúdos das demais disciplinas, ditas “mais úteis” à formação in- telectual dos alunos, ou mesmo, como uma forma de as crianças se divertirem. Esta disciplina, portanto, proporcionaria um momento de lazer aos alunos. A partir das experiências que se conhece das aulas de Artes, é possivel chegar à conclusão de que estas, durante muito tempo, serviram para proporcionar certo momento de brinca- deira por meio da educação artística. Baseadas no fazer artístico, as aulas eram marcadas pelo desenho, pintura, ou mes- mo pela construção de materiais para datas comemorativas como o Dia dos Pais e das Mães atribuindo-se um caráter de “diversão” para os alunos. As atividades também estavam presentes nas celebrações de datas comemorativas, como o Dia do Índio, Independência do Brasil, ou o dia reservado à Consciência Negra, por exemplo. Ca- racterizadas por apresentações, tem a dança e a representação (teatro) como recursos para, por meio da Arte, externar mensagens aos seus expectadores. Sob essa ótica, é dada maior importância ao produto final, sejam os materiais con- feccionados ou as apresentações nas datas comemorativas. Essa proposta educacio- nal, adquiriu ao longo dos anos, inúmeras críticas, sobretudo pelos pesquisadores da área, que a chamam de “metodologia tradicional”, por supervalorizar atividades EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 6 baseadas na memorização, como as danças e as apresentações teatrais, assim como trabalhos artísticos pré-preparados, limitando ou talvez não incentivando a constru- ção da liberdade e da autonomia dos alunos. Aqui, é fundamental ressaltar que a este processo, o papel do professor não fica de fora. Este deve interferir, instigar, dar base, explicar, indagar e contextualizar as propostas de atividades. A liberdade e construção da autonomia não deve ser confundida com a “livre ex- pressão” ou “espontaneísmo” que é caracterizado pela não interferência dos profes- sores nas atividades. O ensino das Artes por algum tempo, foi fundamentado nessa estrutura, os professores forneciam os materiais para as atividades e esperavam que a Arte surgisse naturalmente dos alunos, sem uma contextualização ou explicação prévia da proposta artística e cultural. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 7 Tendências pedagógicas Espontaneísmo e sociointeracionismo Nesse sentido, é fundamental entrever: o ensino de Artes, inserindo nessas cir- cunstâncias, não foi de algum modo colocado em segundo plano pelo próprio sistema educacional? O ensino de Artes contribuía de algum modo para o desenvolvimento das capacidades intelectuais ou para a formação geral das crianças? Nas primeiras décadas da segunda metade do século XX, como mencionamos anteriormen- te, as aulas de Artes nas instituições escolares foram organizadas a partir da livre expressão, do espontaneísmo. Essa tendência pedagógica preconizava o domínio das técnicas por meio da reprodução de modelos e valorizava o fazer individual, não trazendo assim uma abordagem crítica da educação e da arte. Na década de 1980 surgiu a tendência crítico/reflexiva, cujo papel da escola seria mediar e garantir as bases para que o aluno desenvolvesse sua percepção e criticidade no processo ensino-aprendizagem. No ensino de Artes, valorizava-se as artes como produto da ação humana, rompendo com um modelo unicamente tecnicista, centra- do no individualismo e na reprodução de modelos artísticos. A educadora e pioneira no Brasil nos estudos sobre arte-educação, Ana Mae Bar- bosa, elaborou a partir de suas pesquisas, a metodologia da Proposta Triangular. Ten- do como referência os modelos norte-americanos e europeu, como a Inglaterra, esta autora defendeu que a prática didática em arte-educação deveria valorizar o “fazer artístico”, “a história da arte” e a “leitura de obras”. (BARBOSA, 1998, p. 33) Atualmente, este modelo prevalece como conceito e recurso metodológico de en- tendimento do lugar que a Arte e a Educação ocupam na formação dos alunos, assim como, direciona as propostas temáticas trabalhadas em sala de aula. Este modelo, portanto, faz parte da proposta sociointeracionista, na qual os alunos podem exercer: 1. Sua capacidade de criação e imaginação por meio da produção artística, explo- EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 8 rando vários códigos e linguagens culturais. 2.A percepção e análise acerca do próprio fazer artístico proporciona o aprendiza- do do produto final. Ensino de arte na legislação educacional Em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), O ensino de Artes é incluído no currículo esco- lar com a denominação de Educação Artística, porém não foi reconhecido enquanto disciplina. No período an- terior, havia algumas disciplinas cujos títulos traziam o termo “Artes”, como o caso das “Artes industriais”, as “Ar- tes domésticas”, cujos conteúdose propostas formariam os alunos nos ensinamentos da fabricação de objetos úteis, de prátcas relacionadas à conzi- nha e ao bordado, por exemplo. Nesse momento, as Artes tinham um caráter utilitá- rio. O desenho contribuiria num melhor desenvolvimento da escrita, a música e a dan- ça colaborariam no desenvolvimento da coordenação motora, na fixação dos conteú- dos. Somente com a LDB de 1996, conforme vê-se no parágrafo 2º do artigo 26, a Arte foi reco- nhecida disciplina e seu ensino se tornou obrigatório nos “diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 9 Além da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, como documento que orienta e organiza o sistema educacio- nal brasileiro, foi produzido também os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), como texto norteador da ela- boração dos currículos escolares do Ensino Fundamental e Médio das re- des pública e particular de ensino. No entanto, a efetivação desta medida na prática tem levado muitas escolas a in- cluir as Artes apenas em uma das sé- ries de cada um desses níveis, devido ao fato de a LDB não deixar claro em seus pontos se a obrigação diz respeito a todas séries. Segundo Ana Mae Barbosa, mesmo a LDB e os PCNs terem reservado lugar junto às demais disciplinas ao ensino de Artes, muitas escolas tem inserido a aprendizagem das Artes na disciplina de Literatura. Desse modo, vê-se que a obrigatoriedade e o reconhecimento garantido por lei não é o suficiente para tornar efetivo o ensino de Artes nas escolas. Para esta autora, as instituições escolares não podem relegar o ensino de Artes a um patamar inferior com relação às demais disciplinas do currículo. A construção de hierarquia na estrutura curricular pode levar à desvalorização de determinados saberes que, junto a outros das demais áreas, conformam um repertório fundamental para a formação das crianças. Segundo Irene Tourinho (2011 p. 28), estudiosa das artes e da cultura visual, a LDB e os PCNs: São documentos oficiais que re- presentam discursos e ações que foram acontecendo na medida em que profissionais da educação e especialmente das artes se mobili- zaram por meio de formas de par- ticipação mais expressivas reivin- dicando compromissos do Estado neste processo de implementação do ensino de Artes nas escolas. Mesmo as orientações e propostas contidas nesses documentos terem sofrido inú- meras críticas por parte dos educadores, tidas enquanto propostas “conservadoras, pedagogicamente megalômanas e culturalmente demagógicas”, o fato é que oficial- mente esses documentos fazem parte da legislação que rege e orienta a educação brasileira. (TOURINHO, 2011, p. 28) EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 10 2 Mas o que é Arte-educação? Antes de tudo, o fazer artistico na educação não significa que o processo de ensi- no-aprendizagem formará artistas, dançarinos, musicistas, bailarinos, ou mesmo o aprendizado de uma técnica de algum ramo das Artes. Primeiramente, é necessário sabermos acerca do papel da educação na formação dos sujeitos, para posteriormente chegarmos à função do ensino de Artes no desenvolvimento dos estudantes. O papel da educação se fundamenta na formação de sujeitos conscientes de sua re- alidade. Porém, vê-se persistir na prática escolar, uma proposta de ensino baseada na “educação bancária”, como no dizer de Paulo Freire. Um ensino, portanto, que se ba- seia no depósito de conhecimentos, formando sujeitos passivos, na medida em que os professores são o centro do processo. Uma via de mão única é estabelecida, mediante o movimento realizado, no qual o conhecimento parte do professor para o aluno. Ao contrário, Paulo Freire pro- põe uma educação que valorize as experiências e o próprio papel dos alunos e professores enquanto su- jeitos que constroem conhecimento a partir de relações que levam em conta as experiências de ambas as partes. Estabelecendo, assim, uma via de mão dupla, na medida em que o processo de ensinar e apren- der envolve as experiências tanto dos professores quanto dos alunos. Dessa forma, uma educação que se baseia apenas na transmissão de conteúdos, muitas vezes distantes da realidade dos alunos, não contri- bui para formar cidadãos críticos de sua realidade. Inserindo a Arte-Educação nes- sa perspectiva, observamos que, de acordo com João Francisco Duarte (2012, p. 44), estudioso da filosofia da educação, “a arte é sempre a cria- ção de uma forma. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 11 Toda arte se dá através de formas, sejam elas estáticas ou dinâmicas. Como por exemplo, de formas estáticas temos: o desenho, a pintura, a escultura etc. E como exemplo de dinâmicas: a dança, a música, o cinema etc”. A arte, portanto, nos coloca diante de formas que carregam aspectos do sentir, das maneiras de pensar dos sujei- tos. Segundo o mesmo autor, “a arte é a concretização, em formas (harmônicas), daque- la dimensão humana inalcançável pela linguagem conceitual: o sentimento”. (DUAR- TE, 2012, p. 51). Assim, a arte na educação deve dar maior atenção aos aspectos do “sentir”. Para que este papel se torne efetivo na prática é necessário que a proposta de educação valorize a capacidade dos alunos de elaborar a sua própria visão de mundo, baseadas nos posicionamentos que constroem de sua realidade. Nesse processo, tanto escola quanto alunos têm papeis fundamentais, na medida em que esta primeira dará base e direcionará os alunos para que sejam sujeitos de suas próprias percepções. Indiscutivelmente, o conhecimento não é algo “pronto” e “acabado” no qual os estudantes devem absorver para alcançar boas notas e “passar de ano”. Ao contrário, o conhecimento é construído e deve levar em conta as experiências dos sujeitos parti- cipantes do processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, a Arte na educação cons- titui fator fundamental para a construção da imaginação, da capacidade de criação. Nesse ponto, o ambiente escolar apresentará uma proposta educacional baseada não em respostas prontas, que os alunos deverão assimilar e reproduzir, cerceando a sua própria criatividade, mas em estímulos que instigará a capacidade criadora dos sujei- tos, para que nas aulas de Artes desenvolvam, a partir de suas próprias experiências, sentidos que expressem seus sentimentos, suas emoções e sua sensibilidade estética. (OSINSKI, p. 2002, p. 96) Porém, isso não quer diz er que a Arte na educação tem o objetivo apenas de liberar a emoção. Segundo Ana Mae Barbosa, “podemos aprender muito pouco sobre nossas emoções se não souber- mos refletir sobre elas. Se a Arte não é tratada como um conhecimento, mas somente como um ‘grito da alma’, não estaremos oferecendo nem uma educação no sentido cognitivo, nem no sentido emocional” (BARBOSA, 2011, p. 21). Assim, a Arte-Educação deve ser desenvolvida de modo que a real importância não deve ser dada somente ao produto final obtido, como no dizer de João Francisco Duarte. Fundamentalmente, o que importa não é apenas a produção de “obras de arte”, mas o processo pelo qual os sujeitos desenvolveram sua criação. Nesse momen- to, os alunos elaboram suas próprias percepções acerca da realidade no qual estão inseridos. A Arte-Educação constitui ferramenta pedagógica capital para o desenvolvimento social das crianças. Impulsionando a criatividade, a imaginação e o senso crítico, as crianças estabelecem relações nas quais atuam enquanto sujeitos sociais. Desse modo, o ensino das Artes não se preocupa apenas com a elaboração de habilidades e conhe- cimentos específicos dessa área, mas também na formação geral dos indivíduos. Para a educadora Sueli Ferreira (2012. p. 18), o ensino das Artes pode “extrapolar” o seu próprio campo e, assim, contribuir ou mesmo atender a interesses sociais e políticos. Questões como diversidade cultural e formas de exclusão social podem ser discutidas a partir deste ensino, colaborando, portanto, na construção de sentimentosde respei- to e tolerância. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 12 As atividades artísticas possibilitam às crianças desenvolverem capacidades de observação, análise, expressão de ideias, bem como o senso estético. A escola precisa instigar os alunos a pensar e criar, para que os mesmos possam desenvolver ideias e exteriorizá-las, seja em forma de gesto, de palavra, de imagens, de som. Assim, por meio da Arte, a capacidade de criação, imaginação e percepção são desenvolvidas de modo que, enquanto sujeitos sociais, podemos mudar a nossa própria realidade. Atualmente ainda vemos nas instituições escolares, concepções, metodologias e propostas de ensino orientadas pelos seguintes significados atribuí- dos ao ensino de Artes: 1. Aulas de Artes como momento de diversão, brincadeira, lazer e recreação. 2. Arte na educação como forma de proporcionar um momento de descanso e de desopilação em relação aos conteúdos das demais matérias, tidos ainda como mais “úteis” à formação das crianças. 3. Arte na educação como forma de garantir apenas a capacidade criativa das crianças. 4. Arte na educação como instrumento para se confeccionar materiais para a ornamentação da própria escola em celebrações, bem como para datas comemo- rativas do calendário civil. Segundo Ana Mae Barbosa, “o papel da Arte na educação é grandemente afetado pelo modo como o professor e o aluno vêem o papel da Arte fora da escola. [...] A estética contemporânea se funda na ideia de que Arte é a vinculação entre a forma e o conteúdo. [...]”. (1975, p. 91-93). Dessa maneira, segundo a mesma autora, os fun- damentos e métodos que orientam o ensino de Artes devem levar em conta que este pode contribuir na preparação dos sujeitos para os novos modos de percepção intro- duzidos pela “revolução tecnológica” e pela comunicação de massa. Atualmente, de acordo com a pesquisadora Maria Christina de Souza Rizzi (2011), os estudiosos que se dedicam a pensar a relação Arte-Educação tem compreendido o papel deste ensino a partir dos seguintes aspectos: EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 13 1. “Valoriza a construção e a elaboração como procedimento artístico, enfatiza a cognição em relação à emoção e procura acrescentar à dimensão do fazer artístico à possibilidade de acesso e compreensão do patrimônio cultural da humanidade” (RI- ZZI, 2011, p. 66). 3. Compreende os códigos e linguagens artísticas como expressão do modo de ver o mundo externados e concretizados na imaginação, na criação, na percepção. Proposta triangular de Ana mae Barbosa Relacionar a produção artística com apreciação estética e informação histórica ou, em outras palavras, experimentar, decodificar e se informar (BARBOSA, 1998, p. 17), constitui hoje a principal proposta de ensino em arte-educação. Esta abordagem de- signada de “Proposta Triangular” teve início na década de 1980, sendo sistematizada no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo, entre os anos de 1987 e 1993, tendo como meio a leitura de obras originais. Ana Mae Barbosa, um dos principais nomes que tem se dedicado a estudar a arte e a educação, desenvolveu essa proposta quando esteve a frente do MAC. A proposta triangular deriva de uma dupla triangiulação. A pri- meira é de natureza epistemoló- gica, ao designar os componentes do ensino/aprendizagem por três ações mentalmente e sensorial- mente básicas, quais sejam: cria- ção (fazer artístico), leitura da obra de arte e contextualização. (Fon- te: BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998, p. 33) Nos anos de 1989 e 1992 a Proposta Triangular foi experimentada nas escolas mu- nicipais de São Paulo, período em que Paulo Freire foi Secretário de Educação do Município, tendo como meio de reproduções de obras de arte e visitas aos originais do meuseu. Foi conduzida inicialmente por Ana Mae Barbosa e depois por Regina Machado e por último Christina Rizzi. (BARBOSA, 1998, p. 35). Barbosa explica a educação cultural que se pretende com a Proposta Triangular a partir do seguinte embasamento: EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 14 Leitura da obra de arte é ques- tionamento, é busca, é descoberta, é o despertar da capacidade críti- ca, nunca a redução dos alunos a receptáculos das informações do professor, por mais inteligentes que elas sejam. A educação cultu- ral que se pretende com a Proposta Triangular é uma educação crítica do conhecimento construído pelo próprio aluno, com a mediação do professor, acerca do mundo visual e não uma “educação bancária”. A Proposta Triangular é constru- tiva, interacionista, dialogal, mul- ticulturalista e é pós-moderna por tudo isto e por articular arte como expressão e como cultura na sala de aula, sendo esta articulação o denominador comum de todas as propostas pós-modernas do ensi- no da arte que circulam interna- cionalmente na contemporaneida- de. (Fonte: BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998, p. 40 e 41) Segundo Ana Mae Barbosa (1993, p. 93-94), para termos uma educação que valori- ze o multiculturalismo em arte é necessário: * “Promover o entendimento de cruzamentos culturais, através da identificação da similari- dades, particularmente nos papeis e funções da arte, dentro e entre grupos culturais”. * “Reconhecer e celebrar diversidade racial e cultural em arte em nossa sociedade, enquanto também se potencializa o orgulho pela herança cultural em cada indivíduo”. * “Incluir em todos os aspectos do ensino da arte (produção, apreciação e contextualização) problematizações acerca de etnocentrismo, esteriótipos culturais, preconceitos, discriminação e racismo”. * “Enfatizar o estudo de grupos particuares e/ou minoritários do ponto de vista do poder como mulheres, índios e negros”. * “Possibilitar a confrontação de problemas, tais como racismo, sexismo, excepcionalidade física ou mental, participação democratica, paridade de poder”. * “Examinar a dinâmica de diferentes grupos”. * “Desenvolver a consciência acerca dos mecanismos de manutenção da cultura dentro de grupos sociais”. * “Incluir o estudo acerca da transmissão de valores”. * “Questionar a cultura dominante, latente ou manifesta, e todo tipo de opressão”. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 15 Formação de Professores Para que as propostas do ensino de Artes sejam experimentadas na prática escolar, é necessário, antes de tudo, refletir se os professores, coordenadores e diretores estão cientes da necessidade deste ensino no currículo escolar. A formação dos professores, portanto, deve atender a uma proposta educacional que garanta a compreensão da im- portância da Arte na formação dos sujeitos. É fundamental primeiramente entender o que é Arte antes de passar a ensiná-la, para não incorrer no risco de incompreensão ou deturpação do sentido deste ensino para a formação das crianças. Por que desenhar, pintar, dançar, cantar, representar são atividades importantes na Arte-Educação? Os professores, portanto, devem “conhecer desde os conceitos fundamentais da linguagem da Arte até os meandros da linguagem artística em que se trabalha. Tem de saber como ela se produz – seus elementos e seus códigos” (MARTINS, 2011, p. 52), assim como, por meio de uma visão multicultural, sua presença na cultura dos povos, valorizando a diversidade cultural. Não raras vezes, vê-se professores se queixando da falta de condições necessárias para o desenvolvimento do ensino de Artes. A ausência de materiais se torna obstá- culo para a elaboração e realização das atividades. Porém, é fundamental ressaltar que somente dispor dos equipamentos e materiais necessários não é suficiente para se obter resultados positivos quanto ao aprendizado das crianças. As metodologias e o próprio entendimento do papel das Artes no processo ensino-aprendizagem são elementos essenciais. Se os professores continuarem com as concepções de “educação bancária”, como discutido no início desta apostila, apenas depositando nascrianças conteúdos, como se as mesmas fossem uma folha em branco carecendo de cores, ou mesmo uma caixa vazia à espera do professor para enchê-la, os alunos permanecerão realizando as atividades de forma mecânica, sem compreensão dos sentidos. Este processo não envolve somente condições adequadas e “boa vontade” dos professores, mas sobretudo, o compromisso da escola para que as propostas educa- cionais em Artes se tornem efetivas e contribua na formação geral dos estudantes. Assim, alguns aspectos tornam-se fundamentais: 1.Os professores devem entender que os alunos desenvolvem suas atividades ex- EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 16 teriorizando-as seja em forma de música, desenho, dança, imagem, etc., em tempos diferentes. 2.No processo ensino-aprendizagem não se deve dar importância somente ao pro- duto final, mas ao próprio processo de criação, momento em que os alunos observam, pensam, analisam. 3.O produto final não deve seguir um padrão estético designado pelo professor, pois é necessário valorizar a capacidade de criação dos alunos. 4.As atividades desenvolvidas no ensino de Artes devem ser compreendidas como formas de desenvolvimento da capacidade de criação e imaginação, e não apenas como um momento de “diversão” para os alunos. 5.As atividades elaboradas no ensino de Artes não devem limitar a capacidade de criação e autonomia das crianças. Privilegiar a técnica e a reprodução de determinados padrões estéticos apresen- tados nas mídias sociais, acaba desvalorizando o papel do aluno na criação de suas próprias percepções e sentidos. Porém, essa liberdade concebida aos alunos, não sig- nifica que o professor irá se isentar desse processo. Seu papel será em instigar, esti- mular a capacidade de criação e imaginação, propiciando, ao mesmo tempo, novas possibilidades e experiências até então desconhecidas dos alunos. Da mesma forma, quando as atividades artísticas são pautadas somente na suges- tão de temas por parte dos professores e na liberdade assegurada aos alunos para criarem, estes elementos acabam por cercear o desenvolvimento das capacidades cognitivas. Este processo deve está baseado na explicação e contextualização das pro- postas temáticas, para que os alunos possam compreender e elaborar suas atividades, de modo que tirem o máximo proveito, apreendendo de forma crítica. Arte-educação E cultura As Artes no ambiente escolar constitui ferramental pedagógica essencial para, não somente dar a conhecer aos alunos a produção artística de outras culturas, mas tam- bém contribuir na compreensão de que os aspectos sociais das relações estabelecidas entre os sujeitos estão vinculadas à dimensão cultural. Ressalte-se que, por meio da Arte, os sujeitos podem expressar suas preocupações, suas visões de mundo e cons- truir sentidos para orientar ações na sociedade. Para Ana Mãe Barbosa: Através das artes, temos a representação simbólica dos traços espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam a sociedade ou o grupo social, seu modo de vida, seu sistema de valores, suas tradições e crenças. A arte, como linguagem presentacional dos sentidos, transmite significados que não podem ser transmitidos através de nenhum outro tipo de linguagem, tais como as linguagens discursivas e científicas. BARBOSA, Ana Mae. Arte como cultura e expressão. In. Barbosa, Ana Mae (Org.). Tópicos Utópicos. Belo Horizonte c/Arte, 1998, p. 16. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 17 Uma das propostas discutidas pelos educadores nos últimos anos, tem sido a par- ticipação da escola na criação de oportunidades aos alunos, para que por meio da Arte-Educação, tenham contato com as mais variadas formas de artes (música, tea- tro, dança, artes visuais) das diferentes culturas. Nesse processo, os alunos precisam compreender, primeiramente, que “as artes são expressões de identidades e culturas e sua compreensão requer conhecimento dos parâmetros que as regem” (FERREIRA, 2012, p. 16). A Arte e a cultura andam juntas, de modo que para compreendermos os códigos culturais de um povo, é necessário conhecer a sua arte. Nessa esteira, é possível a par- tir dessa dialética Arte-Cultura, entender os modos de ser e estar no mundo empreen- didos pelos sujeitos. A diversidade cultural que se pode conhecer e refletir no ensino de Artes, deve abarcar o multiculturalismo e o interculturalismo, não privilegiando uma determinada cultura, tomando-a como hegemônica, como foi ao longo da his- tória da educação no Brasil a apropriação dos códigos europeus e norte-americanos brancos, tidos enquanto coeficientes do que havia de mais civilizado no Ocidente. Abaporu, 1928 (Tarsila do Amaral) Dessa forma, o dito “erudito” das heranças culturais não pode ser ana- lisado sob a ótica de um olhar “verti- calizado”, ou seja, de que este preva- lece ou tem mais importância que as culturas de classes sociais economica- mente menos favorecidas, sendo estas desvalorizadas pelas instituições edu- cacionais. Aqui, o interculturalismo entre os códigos das diferentes classes sociais deve ser garantido como forma de compreensão de como estas classes construíram seus códigos e suas lin- guagens. A educação como caminho para se pensar, conhecer e estimular o respei- to às culturas constitui aspecto que, atualemnete, requer uma proposta de ensino que não esteja voltada unica- mente para os parâmetros de cultura europeus ou norte-americanos. Recuemos um pouco na história! A expansão marítimo-comercial europeia no século XV, com a busca de novos pro- dutores de matérias-primas e mercados consumidores para os produtos europeus, levou à conquista da América e de regiões do continente africano. A imposição de sua cultura, o etnocídio, aos povos indígenas nas terrras que, posteriormente, seriam cha- madas de Brasil, levou o colono europeu a ver as linguagens e expressões indígenas a partir dos valores e cânones europeus, apresentando sua cultura como referência e paradigma. Porém, estes povos reivindicaram, ao longo da história, o reconhecimen- to de sua cultura e valores. Os povos indígenas que aqui já estavam, ou os africanos que para cá vireram na condição de escravos, trouxeram seus valores culturais, seus comportamentos e suas formas de viver, incorporando elementos europeus ou resig- nificando. Desse modo, a partir da própria formação da cultura brasileira, os estudio- EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 18 sos falam de multiculturalismo, pluriculturalismo e interculturalismo. O termo interculturalismo é considerado pelos estudiosos o mais apropriado para tratar do assunto. Os termos multiculturalismo e pluriculturalismo “significam a coe- xixtência e mútuo entendimento de diferentes culturas na mesma sociedade”, já o in- terculturalismo significa a “interação entre as diferenytes culturas” (BARBOSA, 1998, p. 14). Dessa forma, a escola para dar conta da proposta intercultural deve garantir a ini- ciação dos alunos no conhecimento de sua cultura local, da comunidade em que estão inseridos, da sua região com relação às demais que compõem o país, para depois di- recioná-los nos aspectos cuturais dos vários povos que formam a nação, bem como os códigos, valores e linguagens de outras nações. (BARBOSA, 1998, p. 14) Nesse sentido, vê-se nos estabelecimentos educacionais a valorização do chama- do “erudito”, os aspectos culturais das classes mais favorecidas economicamente. As culturas das classes menos privilegiadas são desvalorizadas e ignoradas pela comu- nidade escolar. Os valores, comportamentos e expressões que compõem a cultura indígena são vistas, muitas vezes, somente nas celebrações de datas comemorativas, apresentadas como “exóticas”, como se o estudo que se pudesse fazer da cultura in- dígena fosse possível somente a partir do folclore brasileiro. (BARBOSA, 1998, p. 13). Sobre tal questão, é fundamental trazer a seguinte passagem da obra Tópicos Utópi- cos, de Ana Mae Barbosa. Nós aprendemos com Paulo Freire a rejeitar a segregação culturalna educa- ção. As décadas de luta para salvar os oprimidos da ignorância sobre eles pró- prios nos ensinaram que uma educa- ção libertária terá sucesso só quando os participantes no processo educacional forem capazes de identificar seu ego cul- tural e se orgulharem dele. Isto não sig- nifica a defesa de guetos culturais, nem de excluir a cultura erudita das classes baixas. Todas as classes têm o direito de acesso aos códigos da cultura erudita porque esses são os códigos dominan- tes – os códigos do poder. É necessário conhecê-los, ser versado neles, mas tais códigos continuarão a ser um conheci- mento exterior a não ser que o indivíduo tenha dominado as referências culturais da própria classe social, a porta de entra- da para a assimilação do “outro”. A mo- dalidade social depende da inter-relação entre os códigos culturais das diferentes classes sociais. (Fonte: BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998, p. 15) EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 19 Os colonizadores europeus também incorporaram códigos e linguagens perten- centes aos povos com os quais tiveram contato. Desse modo, é impossível falar de um “isolamento de uma identidade cultural”. Considerando esta, enquanto elemento dinâmico e fluido, e, portanto, sabendo que não é fixa, chega-se a um ponto no qual todas as outras questões convergem: identidades culturais são produzidas a partir do diálogo, incorporação, resignificação, com outras culturas, é o que se pode chamar de interculturalismo. Sobre este assunto, Ana Mae Barbosa faz a seguinte discussão: Através das artes temos a represen- tação simbólica dos traços espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam a sociedade ou o grupo so- cial, seu modo de vida, seu sistema de valores, suas tradições e crenças. A arte, como uma linguagem presentacional dos sentidos, transmite significados que não podem ser transmitidos através de nenhum outro tipo de linguagem, tais como a linguagem discursiva e científi- ca. Fonte: BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998, p. 16) DANÇA De acordo com Sueli Ferreira (2012, p. 39), a dança é uma das manifestações artís- ticas presente desde os povos primitivos, como é possível perceber nas pinturas ru- pestres com o movimento corporal expressado pelo homem primitivo. Nos diversos povos e culturas, a dança estava presente, como uma evocação aos deuses, expres- sando-se em rituais de agradecimento pela colheita, ou na preparação para a caça e a guerra. Dessa forma, a dança é uma linguagem presente no cotidiano das civilizações ao longo dos tempos. Assim, a expressão que conhecemos hoje como dança artística, passou por esses diferentes significados. Constituindo ritos, cerimônias e celebrações, essas expressões não chegaram ao que poderíamos chamar de um estágio mais “avançado” de manifestação corporal e cultural. Ao contrário, entende-se que ao longo do tempo a essas manifestações foram EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 20 acrescidas outras formas, ou muitas vezes formas já existentes foram negadas, e/ou transformadas. Por meio da dança podemos estimular a expressão corporal, trabalhar tanto a men- te quanto o fisíco, ou seja, experiementar o corpo em sua totalidade. Os movimentos feitos com o corpo acabam constituindo uma forma de comunicação no qual os sujei- tos podem expressar aspectos de sua própria cultura, bem como compreender como os códigos e linguagens foram construídas, a partir de um entendimento que leva em conta a pluralidade cultural. Para NANNI (2001, p.1), “as danças, em todas as épocas da história e ou espaço geográfico, para todos os povos é a representação de suas manifestações de seu “estado de espírito” por meio de emoções, de expressão e comunicação do ser, de suas características culturais”. Mas quando se trata da introdução da dança enquanto linguagem no ensino de Artes, como a cultura escolar se relaciona com tal aspecto? Como introduzir a lingua- gem da dança nas atividades artísticas? Diante do repertório cultural a que conhece- mos e estamos em contato constantemente, sobretudo pelas mídias, como se processa a escolha de determinado gênero em detrimento de tantos outros. Dessa forma, a uilização da dança está para além do fato de compreendê-la en- quanto linguagem que dará movimentos ao corpo, pois ao movimentar-se o corpo comunica, transmite sensações e mensagens. Ao compreender a dança como lingua- gem artística a ser trabalhada nas aulas de Artes, uma das precocupações que os professors devem ter diz respeito ao seu próprio entendimento acerca da dança. Esta não constitui apenas um recurso de aquisição de habilidades e técnicas, ou um recur- so metodológico para desenvolver determinadas atividades. A dança constitui uma forma de conhecimento. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs é possível observar os seguintes aspectos relacionados à utilização da dança no ensino de Artes. Por meio das danças os alunos pode- rão conhecer as qualidades do movimen- to expressivo como leve/pesado, forte/ fraco, rápido/lento, fluido/interrompi- do, intensidade, duração, direção, sendo capaz de analisá-los a partir destes refe- renciais; conhecer algumas técnicas de execução de movimento e utiliza-se de- las; ser capazes de improvisar, de cons- truir coreografias, e, por fim de adotar atitudes de valorização e apreciação des- sas manifestações expressivas. (BRASIL, 2000, p. 53) EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 21 Ao utilizar a dança nas aulas de Artes, o professor deve levar em conta os seguin- tes aspectos: Ao planejar as aulas, o professor de- ver considerar o desenvolvimento motor da criança, observar suas ações físicas e habilidades naturais. Deve estimular a pesquisa consciente a fim de ampliar o repertório gestual, capacitar o corpo para o movimento, dar sentido e orga- nização ás suas potencialidades. Deve estimular o aluno a reconhecer ritmos corporais e externos, explorar o espaço, inventar seqüências de movimento, ex- plorar sua imaginação, desenvolver seu sentido de forma e linha e se relacionar com os outros alunos buscando dar for- ma e sentidos às suas pesquisas de movi- mento. Esses são elementos básicos para introduzir o aluno na linguagem da dan- ça. (BRASIL, 2000, p. 68) IMAGEM VISUAL A necessidade de educar para uma percepção crítica da realidade e ambiente em que estamos inseridos, se tornou tarefa bastante desafiadora por parte dos profissio- nais envolvidos na Arte, seja no ambiente escolar ou não. O fato é que hoje vivemos numa sociedade da imagem. Todos os dias temos contato com um turbilhão de ima- gens vindas de diversos meios e instrumentos de comunicação. Diariamente convivemos com vários tipos de imagens, vindas de diferentes meios. Imagens são veiculadas pelas mídias sociais (internet, televisão) anunciando os mais diferentes produtos, e, ao mesmo tempo, procurando vender determinadas ideias, comportamentos e valores. São Slogans, Outdoors, panfletos, livros, anúncios de jornais e revistas, novelas, cinema, que, muitas vezes de forma involuntária e in- consciente, acabamos “aprendendo”, ou melhor, “absorvendo” determinados ideias de forma acrítica. Dessa forma, a leitura visual se torna uma tarefa fundamental no ensino de Artes. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 22 Este processo não passa somente pela leitura das cores, das linhas, dos desenhos, dos movimentos, mas, sobretudo pelos significados que esses elementos atribuem à imagem em diferentes realidades sociais. Dessa forma, é fundamental indagar: Que sentido ou que significado esta imagem quer transmitir ao leitor em determinado con- texto histórico? Como as crianças lêem as imagens? Qual significado lhes atribuem? O trabalho com imagens requer a compreensão das formas de como os seus ele- mentos se articulam para conceber sentidos. É importante ressaltar que o entendi- mento acerca dos sentidos deve está vinculado ao contexto de criação da própriaimagem, atentando para uma pluralidade de significados. Assim, é fundamental edu- car o olhar da criança de modo a não limitá-lo, mas dar base e garantir que o mesmo elabore um sentido crítico. Indiscutivelmente, o essencial é fazer com que as crianças desde a educação infantil aprendam a pensar criticamente sobre as imagens. Os professores, portanto, não irão designar uma forma correta de leitura da ima- gem, pois os sentidos dados pelos leitores são variados, na medida em que tal aspecto está relacionado ao repertório de informações que estes trazem. Atualmente, as redes sociais como Facebook, Instagram e WhatsApp têm feito parte das relações sociais e, muitas vezes, orientado as ações dos sujeitos. A rapidez com que as informações são enviadas faz com que milhões de imagens visuais sejam compartilhadas diariamente pelas pessoas. Nas páginas e perfis, as imagens ganham inúmeros sentidos e significados. Acompanhadas de textos escritos ou não, o fato é que as imagens trazem uma mensagem e são interpretadas de diversas maneiras pelo leitor. Sobre este assunto é importante ressaltar a seguinte questão: Abordadas como artefatos educativos, as imagens podem articular informa- ções, significados e valores que influen- ciam e até mesmo orientam/direcionam as pessoas a se posicionar em relação às ideias, a formar opinião sobre problemas e situações e, principalmente, a construir algum tipo de interação e compreensão sobre o mundo em que vivem”. MAR- TINS, Raimundo; TOURINHO, Irene. (Orgs.). Cultura das Imagens: Desafios para a arte e para a educação. Santa Ma- ria: Ed. UFSM, 2012, p. 11. Assim, as imagens fazem parte do cotidiano escolar das crianças, seja na articula- ção dos saberes e conteúdos das disciplinas, nos livros didáticos, ou nas paredes em forma de anúncios, é necessário pensar como as imagens são apropriadas pelas insti- tuições educacioanais para a formação das crianças e jovens. A relação da Arte-Educação com as imagens visuais não se restringe a um determi- nado repertório de imagens, sobretudo, aquelas presentes nos livros didáticos, como as obras produzidas por autores de renome no mundo da Arte. Atualmente, as novas mídias e suportes criam e fazem circular as imagens de forma intensa. As tecnologias EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 23 de captação de imagens digitais, como os smartfones, intensificaram nos últimos anos a circulação e acesso às imagens através de diversos meios, como a internet. Dessa forma, o repertório visual a ser estudado nas instituições escolares deve valorizar a cultura visual de modo a abarcar um repertório amplo produzido pelos diferentes sujeitos. MÚSICA Ao utilizar a música como instrumento na formação educacional das crianças não significa que os professores irão ensinar os alunos a tocar algum instrumento musical, ou ainda, que nas aulas aprenderão ensinamentos referentes ao canto, na intenção de formar um coral, por exemplo. O trabalho se dará na apreciação e percepção dos diferentes sons e ruídos que estão presentes no cotidiano das crianças. Por meio da música e das metodologias empregadas é possível trabalhar a concentração. Entretanto, na arte-educação a mú- sica necessita ser explorada em sua totalidade. Para além dos aspectos de acalmar e concentrar, deverá ser valorizada uma proposta educacional que se oriente pela cons- trução e desenvolvimento de sujeitos críticos. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 24 “Há muito mais a ser explorado no universo sonoro. A música é um veículo que desenvolve potencialidades como a habilidade motora, a percepção auditiva, a capacidade criativa, etc”. (MENDES, CUNHA, 2012, p. 84) “A música é uma arte eminentemente social, portanto, veiculado à sua época e ao seu lugar, suscetível às variações da sociedade, incluindo a evolução tecnoló- gica”. (MENDES, CUNHA, 2012, p. 93) Ao trabalhar a música em sala de aula é fundamental que o professor estimule nos alunos a capacidade de imaginação, levante indagações acerca do conteúdo, dos sons emitidos, dos sentidos que a música desperta. Nesse processo é necessário considerar o repertório musical conhecido pelos alunos, de modo a respeitá-lo, assim como re- fletir acerca da música no interior da cultura. Dessa maneira, é fundamental que o professor se oriente pela Proposta Triangular em arte-educação, apresentando outras possibilidades, ou seja, música e composito- pres que os alunos desconhecem, de modo a pensar sobre os gêneros musicais perti- nentes às culturas populares e eruditas do país. Nesse sentido, a música passará de lazer, o “ouvir música”, para o conhecimento, o “ler música”, ou seja, os alunos não apenas apreciarão, mas irão compreender o próprio contexto, intenções e mensagens que os compositores procuraram transmitir por meio das canções. Aqui, ressalte-se, por exemplo, as “canções de protesto”, no período da Ditadura Militar no Brasil, onde inúmeros intelectuais e artitas das mais deversas matizes procuraram por meio da música protestar contra o regime. Para não dizer que não falei de flores, foi uma canção que se tornou bastante conhecida nesse momento, de autoria do cantor e com- positor Geraldo Vandré, esta música foi considerada pelos militares PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não Nas escolas, nas ruas campos, construções Caminhando e cantando e seguindo a canção Vem, vamos embora que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer Pelos campos há fome em grandes plantações Pelas ruas marchando indecisos cordões Ainda fazem da flor seu mais forte refrão E acreditam nas flores vencendo o canhão Há soldados armados amados ou não Quase todos perdidos de armas na mão EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 25 Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição De morrer pela pátria e viver sem razões Nas escolas, nas ruas campos, construções Somos todos soldados armados ou não Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou não Os amores na mente as flores no chão A certeza na frente a história na mão Caminhando e cantando e seguindo a canção Aprendendo e ensinando uma nova lição Caminhando e cantando e seguindo a canção. TEATRO A utilização do teatro como linguagem artística possibilita o desenvolvimento da socialização, ou seja, da dimensão relacional entre os alunos. Este aspecto é essencial à formação das crianças, pois estas necessitam da socialização para desenvolverem suas capacidades intelectuais. Para além da dimensão da socialização, o teatro no ensino de Artes permite despertar nos alunos a capacidade de improviso, o desen- volvimento da expressão corporal, da oralidade, bem como contribui para que as crianças estabeleçam relações entre si, por meio das possibilidades de trabalho em grupo, se comunicando e construindo o conhecimento sempre por meio da dimensão relacional com o outro. A vivência teatral no ambiente escolar deve possibilitar o exercício da percepção, da criação e da imaginação. O aspecto fundamental desta linguagem artística não é o produto final, ou seja, a peça de teatro composta por alunos e ensaiada, muitas vezes, somente por meio dos direcionamentos dados pelos professores; mas é o pró- prio processo de descoberta, a expressão de sentimenros, a valorização do fazer e das ações, onde tanto alunos quanto professores são sujeitos ativos, que irá garantir uma formação de qualidade no que concerne a esta linguagem artística. Para saber mais! De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), “o teatro como arte, foi for- malizado pelos gregos, passando dos rituais mais primitivos das concepções religiosas que eram simbolizadas, para o espaço cênico orga- nizado, com demonstração de cultura e conheci- mento”. (BRASIL, 2000, p. 83) EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 26 Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação Secretaria de Educação Fundamental. Parâme- tros curricularesnacionais: Artes. 2ª ed. Brasília: DP&A, 1998. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei Nº 9.394 de 20 de de- zembro de 1996. BARBOSA, Ana Mae (Org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Pulo: Cortez, 2011. BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Por que Arte-Educação?. Campinas, São Paulo: Papirus, 2012. FERREIRA, Sueli. O ensino das artes: construindo caminhos. Campinas, São Paulo: Papirus, 2012. NANNI, Dionísia. Dança educação: pré-escola à universidade. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2001. MARTINS, Mirian Celeste. Aquecendo uma transformação-ação: atitudes e valo- res no ensino de Arte. In: BARBOSA, Ana Mae (Org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Pulo: Cortez, 2011. OSINSKI, Dulce Regina Baggio. Arte, história e ensino – uma trajetória. São Paulo: Cortez, 2002. RIZZI, Maria Christina de Souza. Caminhos metodológicos. In: BARBOSA, Ana Mae (Org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Pulo: Cortez, 2011. TOURINHO, Irene. Transformações no ensino da arte: algumas questões para re- flexão conjunta. In: BARBOSA, Ana Mae (Org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Pulo: Cortez, 2011. EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 27 Fundamentos e Metodologia das Atividades artísticas e culturais EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ 28 Rua Edmundo Bastos . s/n Sanharão . Baturité . Ceará www.faculdade.edu.br @fmbce 85 3347 2774