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1 EPIDEMIOLOGIA E PERFIL DOS PROBLEMAS NUTRICIONAIS 1 SUMÁRIO 1. NOSSA HISTÓRIA ....................................................................................................................... 2 2. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3 3. (des)nutrição, padrão epidemiológico, desenvolvimento e desigualdades ............................... 7 a. (Des)Nutrição: Aspectos Conceituais, Históricos E Antropológicos .......................................... 8 b. Prevalência, Distribuição E Tendência Secular Da (Des)Nutrição Em Um Contexto De Desenvolvimento E Desigualdades ................................................................................................10 c. Reflexões sobre (des)nutrição na pós-modernidade ..............................................................13 d. Estado Nutricional .................................................................................................................16 e. Avaliação Do Estado Nutricional ............................................................................................17 4. Os Problemas Nutricionais E A Estratégia De Enriquecimento De Alimentos No Brasil ............19 5. Histórico da Epidemiologia Nutricional ....................................................................................23 a. A Epidemiologia Da Anemia Ferropriva ..................................................................................28 b. Epidemiologia da Hipovitaminose A e Xeroftalmia .................................................................30 c. Epidemiologia da Obesidade .................................................................................................31 1. Referências ...............................................................................................................................33 2 1. NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 2. INTRODUÇÃO O cenário epidemiológico que vem se configurando no mundo e no Brasil, assim como a organização atual da atenção à saúde, demandam um novo perfil dos profissionais de saúde em geral, e do nutricionista em particular, para responder aos desafios decorrentes desse cenário. Refletir sobre o quanto esta formação está sintonizada com tais desafios é estratégico para aumentar a eficácia da atenção à saúde. Por outro lado, os conhecimentos e práticas que tradicionalmente se denominam "nutrição em saúde pública" estão em termos conceituais, técnicos e práticos cada vez mais presentes em outras áreas que não a de saúde, como, por exemplo, no campo intersetorial da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e na área de educação, por meio das ações da alimentação escolar. O atual contexto de intensas transformações sociais, econômicas e políticas tem contribuído para as mudanças no perfil de adoecimento da população e gerado discussões acerca de seus impactos na reorganização da sociedade. Atualmente, o aumento de doenças e agravos não transmissíveis impulsiona inquietudes quanto ao paradoxo da coexistência entre desnutrição e obesidade. Discute-se os aspectos relacionados à nutrição, contemplando as dimensões de escassez e excessos, sua evolução ao longo do tempo, além da conexão com o novo padrão epidemiológico. Iniciando com a caracterização conceitual, a historicidade e a interface antropológica do tema norteador. Em seguida, descreve-se a prevalência, a distribuição e a tendência secular da desnutrição e da obesidade, além das relações temporais com o novo padrão epidemiológico no Brasil em um contexto de desenvolvimento e desigualdades. Trazendo ainda uma reflexão acerca da (des)nutrição na pós-modernidade, os interesses e os interessados no processo saúde doença, assim como experiências internacionais e estratégias de cooperação solidária. Ainda com alguns avanços e desafios atuais diante da complexidade e velocidade das mudanças contemporâneas. Classicamente, a epidemiologia estuda a distribuição e os determinantes das doenças na população. Nas últimas décadas, esta área tem se especializado cada vez mais e, com isso, vários adjetivos têm sido sugeridos. Seria a epidemiologia 4 nutricional mais uma mera subdivisão da epidemiologia em função de determinantes específicos, ou ela teria um campo específico de conhecimento? Entende-se que o objetivo primeiro da epidemiologia nutricional seja medir dietas como um fator de exposição na maior ou menor ocorrência de doenças. O alcance desse objetivo constitui-se em tarefa complexa que requer cada vez mais especialização. O escopo da epidemiologia nutricional no Brasil passou a incorporar um conceito ampliado que considera tanto o estudo de outras exposições como o de alterações nutricionais específicas. Entre as exposições, além da aferição do consumo alimentar, devem ser incluídos outros indicadores de avaliação nutricional e variáveis relacionadas ao estilo de vida que exercem influência sobre as condições de saúde e nutrição, como a prática de atividade física. Entre as alterações nutricionais, incluem- se desde as deficiências como a desnutrição energético-proteica ou deficiências de micronutrientes específicos até os problemas relacionados ao excesso de peso, como a obesidade. O assunto em questão, apresentam e discutem métodos de avaliação do estado nutricional em diferentes grupos populacionais (gestantes, crianças, adolescentes, adultos e idosos), referências antropométricas, análises bioquímicas, de avaliação do consumo alimentar e da composição corporal. Adicionalmente, há estudos sobre aferição e validação em estudos de epidemiologia nutricional, intervenções nutricionais e estratégias de análise de dados com medidas repetidas para avaliação longitudinal do estado nutricional. A avaliação nutricional de diversos grupos populacionais tem, aqui, papel de destaque. O estado nutricional dos indivíduos depende do balanço entre o consumo e as necessidades fisiológicas, que variam em função da idade, específico para diferentes fases da vida. Os mais jovens e os mais velhos têm se revelado como os grupos que apresentam maior probabilidade de desequilíbrio na relação entre consumo e necessidades fisiológicas, que desencadeia distúrbios nutricionais por falta de nutrientes. Ao passo que o balanço crônico de energia pode ser captado por meio da antropometria, um método relativamente simples, a avaliação do consumo de nutrientes depende de métodos específicos mais complexos. Por esses motivos, a aferição do consumo ou a avaliação de marcadores de consumo alimentar tornam-se imprescindíveis, particularmente na compreensão do estado nutricional nos extremos da vida. 5 Mais recentemente, osestudos de validação e de identificação de um padrão de consumo alimentar passaram a se constituir em instrumentos de grande importância nos estudos epidemiológicos que buscam investigar a associação entre dieta e Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Instrumentos de investigação do consumo alimentar devem ser validados (calibrados) para a população em que se pretende aplicar o referido método, e para isso estudos de validação são uma ferramenta essencial na epidemiologia nutricional. Padrões de consumo alimentar que podem ser considerados saudáveis têm sido explorados em vários estudos, e as técnicas que permitem defini-los. Análises sobre o padrão de consumo são interessantes porque podem configurar-se como forma efetiva de prevenção, diferentemente do que acontece em alguns estudos epidemiológicos que buscam identificar o efeito de um nutriente específico na determinação da cadeia causal das DCNT. Descreve-se a epidemiologia dos principais problemas nutricionais brasileiros, à luz das transições demográfica, epidemiológica e nutricional. É interessante observar como um estudo sobre a epidemiologia da desnutrição continua sendo tão atual e importante, embora a desnutrição não seja mais o principal problema nutricional em nosso país. Com a transição nutricional experimentada no Brasil, muitos estudiosos e pesquisadores da desnutrição no passado investigam, hoje, a epidemiologia das DCNT, com destaque para a epidemia da obesidade. A sobreposição de padrões nutricionais na população brasileira justifica a necessidade de uma descrição mais detalhada sobre a desnutrição, em concomitância com assuntos sobre a obesidade, hipertensão, diabetes, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares, além das doenças carenciais como a hipovitaminose A e a anemia ferropriva. No conjunto intitulado “Problemas nutricionais brasileiros” procura-se, portanto, refletir sobre as características peculiares do Brasil. Exemplo dessas peculiaridades é a coexistência de problemas carenciais endêmicos de grande proporção, como a anemia, e a epidemia de excesso de peso observada nas últimas décadas do século XX. Trata-se, portanto, da já reconhecida sobreposição de padrões nutricionais distintos. A atividade física consiste em um importante determinante proximal do estado nutricional e é claramente reconhecida no processo de determinação de várias DCNT. 6 O conceito ampliado da epidemiologia nutricional, inclui temas como a epidemiologia da amamentação no Brasil, a discussão da medida e do conceito de segurança alimentar e as políticas nutricionais públicas adotadas no país. Os estudos que a integram abordam temas da atualidade que de alguma forma retomam as origens da epidemiologia nutricional, quando as deficiências nutricionais específicas eram objeto de estudo. Estudos sobre origem fetal das doenças e sobre janelas de exposição na gênese das doenças apresentam conceitos e teorias que, mais recentemente, têm demonstrado como a desnutrição e a obesidade convivem nos mesmos domicílios e nos trajetos de vida, com a desnutrição em momentos específicos podendo constituir fator de risco para o desenvolvimento de algumas DCNT. Espera-se que uma visão ampla e atualizada dos problemas nutricionais de relevância para a saúde pública possa contribuir na formulação de políticas públicas voltadas para esses problemas. Com esse conhecimento acumulado pode ser possível aperfeiçoar e desenvolver protocolos de atendimento mais adequados para uso no Sistema Único de Saúde (SUS). 7 3. (DES)NUTRIÇÃO, PADRÃO EPIDEMIOLÓGICO, DESENVOLVIMENTO E DESIGUALDADES Pretende-se esclarecer aspectos relacionados à nutrição, contemplando as dimensões de escassez e excessos, e sua evolução ao longo do tempo, além de sua conexão com o novo padrão epidemiológico do Brasil. Para delinear a evolução do perfil alimentar e nutricional e tecer as possíveis redes e relações entre si partiu-se das referências de Josué de Castro e seus intérpretes, além de publicações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para caracterizar o período anterior à 1970. De 1970 até 1990 utilizou-se o Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef), a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) e a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), para caracterizar as três décadas em questão, respectivamente. E finalizou-se a evolução temporal com os dados referentes ao início do século XXI, utilizando-se como fontes a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde de mulheres e crianças (PNDSM), além da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). As reflexões acerca da (des)nutrição na pós-modernidade foram desenvolvidas a partir de uma tríade proposta por Lefevre e Lefevre para a compreensão do processo saúde/doença dentro de uma lógica de mercado. Segue-se descrevendo alguns problemas de saúde coletiva provenientes do desequilíbrio dessa tríade, experiências internacionais e nacionais que tentam priorizar as necessidades individuais e coletivas em detrimento das exigências mercadológicas, além de iniciativas solidárias entre países como a Cooperação Sul-Sul (CSS). 8 a. (Des)Nutrição: Aspectos Conceituais, Históricos E Antropológicos A abordagem da desnutrição no Brasil perpassa a evolução e o desenvolvimento social, político e econômico do próprio país. Por isso, é inevitável não retomar a contribuição pioneira e visionária do pernambucano Josué de Castro, que rompeu com a “conspiração do silêncio” que permeava a temática da “fome” entre as décadas de 1940 e 1950 e auxiliou na compreensão da problemática em todas as suas dimensões e naturezas, ao conjugar aspectos biológicos, antropológicos, socioeconômicos e políticos. Josué de Castro foi apresentado à fome, segundo o mesmo, nos mangues e bairros miseráveis do Recife. O autor retrata em seu clássico Geografia da Fome as características que envolvem essa temática nas diversas regiões do país, as quais divide em Amazônia, nordeste açucareiro, nordeste seco, centro-oeste e sul. Em meados de 1940, a fome, endêmica e epidêmica, foi identificada nas três primeiras regiões e a desnutrição em todas elas. Para situar o leitor faz-se importante esclarecer a natureza distinta e conceitual de alguns termos já usados por autores clássicos, como Josué de Castro, mas ainda polêmicos na literatura. Desnutrição, fome e pobreza costumam ser utilizados como sinônimos e, na verdade não o são. Descreveu-se em um ensaio, as diferenças existentes entre esses termos, por isso adota-se essa ótica conceitual para direcionar as inter-relações. A pobreza constitui a dimensão mais ampla e corresponde a não satisfação de necessidades básicas como alimentação, moradia, lazer, vestuário, saúde, educação e outras. É comumente mensurada através da renda para alcançar as necessidades elementares citadas e quando abaixo da linha da pobreza, ou seja, nível crítico de renda, famílias e indivíduos são consideradas pobres. O termo “indigência” pode ser empregado quando o cálculo da linha da pobreza considera apenas os custos familiares com a alimentação. A fome pode se manifestar de forma aguda ou crônica. A fome aguda equivale a ausência do alimento e, por isso, pode se manifestar na magreza. Enquanto que a fome crônica, maior interesse desta reflexão, corresponde a oferta insuficiente de 9 energia e nutrientes para desempenho das atividades cotidianas e por isso pode se manifestar como desnutrição energética ou energético-proteica crônica. A mensuração direta da fome é de difícil operacionalização e por isso predominam os métodos indiretos. No Brasil, a pesquisa que mais se aproximou dessa perspectiva foi o Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef), que avaliou o consumo familiar por meio de pesagem dos alimentos, da renda, alémdo estado nutricional. As diversas modalidades de deficiências nutricionais ou a ausência de elementos importantes na alimentação podem ser entendidas como desnutrição. Esta se manifesta na forma de doenças que podem ter origem no aporte alimentar insuficiente, tanto quanto no desmame precoce, higiene precária, infecções persistentes que comprometem o aproveitamento biológico dos alimentos, excesso alimentar com carências específicas e outros. O crescimento das crianças (altura por idade) é um dos melhores indicadores globais de saúde e também permite inferências quanto à desigualdade nas populações, uma vez que a própria desnutrição é um dos produtos da desigualdade social. A dimensão da pobreza parece ser a que mais se aproxima da perspectiva da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e envolve os demais conceitos. Mas a SAN, sozinha, não garante a superação da fome e da desnutrição. A fome pode surgir sem a pobreza em situações momentâneas de guerra e catástrofes naturais. Por outro lado, uma situação atual e ao mesmo tempo antiga é a permanência da desnutrição com caráter trans-social, a exemplo da anemia no Brasil e a carência de iodo na Europa. O aspecto comum a todas estas categorias que comprometem o estado de saúde e a nutrição é a vulnerabilidade dos grupos ou pessoas acometidas. Esse novo padrão de adoecimento da população brasileira está fortemente relacionado com os processos históricos de interferência política nas estruturas de produção, comercialização e exportação. Estes foram decisivos para o desmonte da política agrícola e de abastecimento e para o fortalecimento do agronegócio. Ao recorrer a políticas compensatórias, priorizaram-se grupos organizados e os recursos públicos começaram a ser direcionados para a iniciativa privada, na agricultura e em outros setores. Os pequenos agricultores foram diretamente atingidos e praticamente obrigados a se desvincularem da atividade do campo, fomentando o 10 êxodo rural, enquanto que os grandes empresários mantiveram crescimento econômico. Em paralelo ao processo de urbanização, intensificou-se a produção e a oferta de alimentos industrializados, favorecendo as modificações nos hábitos alimentares, com a presença cada vez maior destes alimentos nas feiras das famílias. Isto ratificou a desvalorização do homem do campo, uma vez que o alimento in natura se distancia cada vez mais do consumidor e passa a seguir outros circuitos que visam sua modificação pela indústria, aumento do tempo de prateleira, empacotamento e, por fim, ganho de espaço nos supermercados. O surgimento de novos espaços como o “supermercado”, por exemplo, com características muito semelhantes em todo o mundo, com as mesmas marcas, as mesmas franquias e as mesmas comidas, faz parte desse processo que conduz ao desaparecimento das características particulares de cada local, região ou país e expansão generalizada de modos de vida globais. b. Prevalência, Distribuição E Tendência Secular Da (Des)Nutrição Em Um Contexto De Desenvolvimento E Desigualdades Afinal, estaríamos vivenciando há mais de 50 anos “uma transição alimentar/nutricional ou uma mutação antropológica?”, estaríamos diante de uma “metamorfose epidemiológica?”. Qual o modelo de (des)nutrição vigente no início do século XXI em meio às transições demográficas e epidemiológicas? A melhora nas condições de vida e saúde, saneamento básico, escolaridade, moradia, acesso a serviços, avanço da tecnologia desde os antibióticos, anticoncepcionais até a era da genética, além de mudanças socioculturais como a inserção da mulher no mercado de trabalho, a urbanização e a convivência com outras doenças, são alguns aspectos que contribuíram para o cenário atual. Apesar do gasto energético aparentemente superior na transição do século XIX para o XX, os registros de ingestão calórica variavam de 1.600 a 1.700 calorias ou menos. A desnutrição estava presente em todas as regiões do país, embora com causas e manifestações diversas, e que Josué de Castro distribuiu como três “áreas de fome” e duas “áreas de subnutrição”. Se comparássemos a atual divisão do país 11 seriam duas áreas de fome, regiões Norte e Nordeste, e três de subnutrição, Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nesse período, foram encontradas diversas carências nutricionais como deficiência de sódio, anemia por deficiência de ferro, bócio (deficiência de iodo), beribéri (deficiência de vitamina B1 na Amazônia) e déficits proteico e calórico, que se manifestavam nas formas mais graves da desnutrição (marasmo e kwashiorkor), além das endemias como as verminoses, esquistossomose, doença de Chagas e malária (na Amazônia). Entretanto, o Sul apresentava o padrão dietético mais equilibrado. Apesar de uma realidade epidemiológica diferente do contexto atual, Josué de Castro já fazia referência a diferenças no perfil alimentar vinculado a classes sociais. Além de também relatar a presença de escassez e excessos, uma vez que enquanto alguns tinham fome pela ausência do alimento, outros se superalimentavam, caracterizando ambas as situações como indutoras da má nutrição. No período que segue, incentivou-se a produção agrícola em massa com a justificativa de superação da fome, indiretamente verificada por meio do déficit de peso. A mortalidade por Doenças Crônicas Não Transmissíveis aumentou em mais de três vezes. Por outro lado, a anemia permaneceu presente e por outro lado, reduziu-se o bócio endêmico. A iodação do sal de cozinha foi implementada em todo território nacional apenas em 1974, quando a agenda de enfrentamento do problema passou a ser internacional. No padrão dietético associado a essas mudanças nutricionais, observou-se aumento no consumo de refrigerantes, biscoitos, embutidos e refeições industrializadas. Por outro lado, reduziu-se o consumo de ovos, gordura animal, peixes, raízes e tubérculos. O consumo médio de sal no Brasil (12g/dia) alcançou o dobro da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e se aproxima do consumo per capita encontrado nos países considerados mais desenvolvidos. A maior disponibilidade de variedades e quantidade de alimentos, a implantação de políticas assistenciais que melhoraram o acesso e a distribuição destes, além da expansão do saneamento, da rede básica de saúde, melhoria da escolaridade materna e renda familiar, foram alguns avanços que permitiram o 12 alcance de algumas metas do milênio como a erradicação da fome e a superação do déficit de altura. Ao mesmo tempo o país passou a ocupar a 77ª posição no ranking da OMS em relação à obesidade. No início do século XXI, pesquisas reafirmam as intensas desigualdades que se manifestam de forma injusta em grupos vulneráveis, os mesmos que permanecem sendo acometidos por desnutrição crônica, anemia e hipovitaminose A. A contínua convivência com a desnutrição não interferiu no crescimento gradual e rápido da obesidade no país. A prevalência de excesso de peso entre adolescentes, enquanto os adultos brasileiros estavam acima do peso e obesos. Alguns aspectos positivos registrados nos últimos anos foram o aumento da prática de atividade física e redução no número de pessoas que assistiam televisão três ou mais horas por dia, além da tendência à estabilização da obesidade nos últimos anos. Em meio à superação dos agravos decorrentes da fome, desnutrição e pobreza extrema, o caso do beribéri no Maranhão, deixou a comunidade científica perplexa por se tratar de uma deficiência primária da Vitamina B1 (tiamina), em pleno século da tecnologia. Os principais determinantes foram o uso abusivo de álcool e a atividade física laboral pesada, além da possível exposição a agrotóxicos. Todos esses aspectos apresentaram relação com as mudanças sociais que aconteceram ao longo das últimas décadas na região com predomínio da agricultura exploratória e poucaprodução de alimentos básicos, agropecuária extensiva, além do intenso desmatamento para atender as demandas de madeireiras e mineradoras, o que resultou em alterações nas relações de trabalho, na economia local e na cultura, acentuando as iniquidades. Tais paradoxos são verificados também em países que historicamente têm superado o problema da fome, desnutrição e pobreza extrema. Segundo estimativas da OMS, a deficiência de iodo na Europa permanece como problema de saúde pública, ainda que seja predominante a forma leve da carência. A manutenção de profundas desigualdades de renda e raça também tem contribuído para problemas nos padrões dietéticos. Os mais pobres e que vivem em condição de insegurança alimentar têm maior probabilidade de serem obesos, uma vez que estão mais expostos a reduzida qualidade dos alimentos a preço acessível. 13 Assim, a análise histórica dos dados nutricionais reafirma que, embora tenha havido importantes avanços com a redução de déficits nutricionais no panorama nacional e suas regiões, ainda há a presença de intensas desigualdades no Brasil e no mundo e estas se manifestam de forma injusta em grupos vulneráveis. Além disso, os agravos se sobrepõem e somam-se ao longo do tempo, e até mesmo onde pareciam superados reemergem com características específicas e adaptadas ao novo meio constantemente modificado pelo homem. Os paradoxos entre escassez e excessos, o global e o local, o desenvolvimento e a desigualdade, são constantes contradições da sociedade pós-moderna e têm interferido na forma de se comportar, comer, se relacionar e adoecer das pessoas. O que parecia duas faces opostas da mesma moeda aparenta ser tão homogêneo quanto o movimento capitalista de uniformizar a sociedade a partir do consumo. À medida em que a obesidade, a anemia e outras carências nutricionais convivem no mesmo corpo e em todas as classes sociais, se diferenciam pelo contexto sociocultural em que estas pessoas estão inseridas e podem interferir nos desdobramentos em virtude do acesso, conhecimento e outras condições, ou a falta delas, de enfrentamento do problema. c. Reflexões sobre (des)nutrição na pós-modernidade Para além dos determinantes sociais da saúde, os princípios de uma sociedade capitalista podem ter relação direta com o processo de adoecimento e, por isso, a discussão da macro-política deve estar intrinsecamente ligada às mudanças nutricionais e epidemiológicas aqui discutidas. O subdesenvolvimento como um subproduto do desenvolvimento e na modernidade o processo de exploração parece ser camuflado nos diversos prazeres vendidos/proporcionados. Foi elaborado um modelo triangular para explicar o processo saúde e doença baseado na lógica mercadológica, e apresentam como protagonistas o indivíduo, o sistema produtivo e o corpo técnico (profissionais de saúde). Para os indivíduos a saúde é vista como uma “sensação”, portanto é sentida; para o sistema produtivo como uma “mercadoria”, neste caso é vendida; e do ponto de vista técnico como um tipo de “poder ou autoridade”, deste modo é o exercício de proporcionar saúde. Dessa forma, todos os atores deveriam exercer papel de vigilantes entre si para equilibrar as 14 forças e garantir que todos os âmbitos fossem contemplados dentro de seus limites, em prol da saúde. Porém, no contexto atual, a alimentação e a nutrição tornam-se mercadoria e entram na agenda de interesses contemporâneos, modificando desde os meios de produção até a forma como se compra e se prepara os alimentos. Nessa lógica de consumo, a nutrientificação dos alimentos, a quimificação dos remédios e os estilos de vida saudáveis servem ao sistema produtivo, muitas vezes articulado com o poder técnico dos profissionais de saúde, e exercem forte influência sobre o indivíduo. A título de ilustração, a medicina da beleza é uma das que mais cresce no mundo, e o componente dietético está largamente disseminado nos diversos mecanismos de comunicação, sendo também um dos fatores relacionados às novas formas de apresentação da desnutrição como transtornos alimentares (anorexia, bulimia), intolerâncias e alergias alimentares, cânceres e outras. Ademais, vários problemas de saúde são subprodutos de demandas capitalistas locais como a utilização indiscriminada de defensivos agrícolas nas grandes produções voltadas para o agronegócio levando à contaminação de alimentos e até mesmo do leite materno; marketing e propaganda infantil, contribuindo para a obesidade e desnutrição nessa fase da vida; ultra processamento de alimentos para atender demandas de tempo e espaço, resultando na modificação da composição nutricional e adição de estruturas artificiais desconhecidas pelo metabolismo humano e capazes de gerar graves problemas metabólicos. Os impactos ambientais e coletivos decorrentes dessas demandas permanecem pouco divulgados ou ainda no anonimato para garantir os interesses do mercado. Em nível nacional e internacional, podemos identificar tímidas iniciativas que vão de encontro à lógica de mercado. No Brasil encontra-se em tramitação um Projeto de Lei (1.755/2007) para proibição da venda de refrigerantes em escolas de educação básica. Essas medidas também são criticadas, e no discurso dos que se sentem vítimas destas, esse processo penaliza o consumidor e suprime sua autonomia. Outras iniciativas, como a regulação do marketing e propaganda de alimentos, continuam sendo um desafio tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. No Brasil, a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras, que 15 representa um conjunto de normas para regular a promoção comercial e a rotulagem de alimentos e produtos destinados a recém-nascidos e crianças de até três anos de idade, foi regulamentada quase 10 anos depois de sua criação, por meio do Decreto nº 8.552, de 3 de novembro de 2015. O Brasil adotou também medidas de proporções mais amplas como incentivo à produção local e familiar com garantia de compra, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e a inclusão da agricultura familiar no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Nessa perspectiva é possível garantir renda para famílias, possibilitar a permanência destas no seu território de origem em vez de migrarem para os grandes centros urbanos, incentivar uma produção sustentável, resgatar a cultura local e os padrões alimentares tradicionais, além de incluir alimentos saudáveis nas escolas. Nessa perspectiva, por meio da Cooperação Sul-Sul (CSS), foi firmada parceria com Moçambique com o objetivo de promover transferência de conhecimentos e oferecer suporte técnico para viabilizar a elaboração e a implementação do “Programa Nacional de Alimentação Escolar de Moçambique”, pautada na experiência brasileira e considerando a realidade e a cultura local. Alguns resultados já podem ser observados como o aumento da adesão e frequência escolar em Changara e a presença de hortas em 80% das escolas com produção de alimentos como milho, couve, tomates, cebolas, em Cahora-Bassa. O enfrentamento das doenças agudas e crônicas perpassa o desafio de se impor aos interesses econômicos, ao poder de fortes indústrias como a alimentícia, da beleza e farmacêutica, além de firmar parcerias solidárias. A Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição (ICN2) trouxe um conjunto de ações políticas que os governos se comprometeram em implementar para enfrentar a má nutrição em todas as suas formas (sobrepeso e obesidade, retardo do crescimento, deficiências de micronutrientes). Entre as ações propostas destacam-se o fortalecimento de locais para produção e processamento de alimentos, especialmente por pequenos agricultores; incentivo à redução de gordura saturada, açúcares e sal de alimentos e bebidas; formação de recursoshumanos; regulamentação do marketing e propaganda de alimentos, especialmente quanto à comercialização de substitutos do leite materno; criação de ambientes propícios para a promoção da atividade física desde as fases iniciais da vida, e outros. 16 São muitos os interesses que permeiam as questões relacionadas à saúde e nutrição na sociedade contemporânea, mas deve-se destacar o respeito às escolhas individuais, em prol da autonomia dos sujeitos. No entanto, isso se entende empoderando o indivíduo para corretas escolhas, e por isso o Estado deve atuar em prol da proteção da coletividade, por meio de políticas públicas com ênfase na educação, promoção da saúde e esforços regulatórios, para que os direitos coletivos não sejam cerceados em benefício de uma minoria e o indivíduo não seja constantemente culpado por não conseguir enquadrar-se em padrões comportamentais. d. Estado Nutricional As desordens nutricionais são mais prevalentes entre idosos e relacionam-se com alto risco de morbimortalidade. O estado nutricional expressa o grau pelo qual as necessidades fisiológicas e o equilíbrio entre ingestão e necessidades de nutrientes são atendidos, o que é influenciado por diversos fatores (Figura 1). Figura 1 - Estado nutricional ótimo como resultado entre o equilíbrio da ingestao e as necessidades nutricionais Fonte: Campos, et al., 2007. 17 e. Avaliação Do Estado Nutricional A avaliação nutricional constitui rotina do exame clínico por intermédio das seguintes técnicas: anamnese alimentar, incluindo a ingestão; medidas bioquímicas; exame e história clínicos; medidas antropométricas; estado psicossocial. Outros métodos que podem ser utilizados são: análise de impedância bioelétrica; peso submerso em água; ultrassonografia; tomografia computadorizada; ressonância nuclear magnética, entre outros. Na Figura 2 estão ressaltadas as etapas em que pode haver variações do estado nutricional, deficiência ou sobrecarga e como intervir de modo a evitar a má-nutrição antes que ela se desenvolva. Figura 2 - Etapas que levam ao desenvolvimento de deficiência ou sobrecarga alimentar e os pontos nos quais os componentes da avaliação nutricional podem intervir para antecipar problemas, suprindo as defi ciências nutricionais e evitando a má-nutrição, antes que ela se desenvolva. 18 Fonte: Campos, et al., 2007. SAIBA MAIS: Acesse o link: http://eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=19999 Para saber mais sobre: O uso da epidemiologia nutricional nas políticas/programas de alimentação e nutrição 19 4. OS PROBLEMAS NUTRICIONAIS E A ESTRATÉGIA DE ENRIQUECIMENTO DE ALIMENTOS NO BRASIL Desde a década de 1980, e mais marcadamente de 90, o Brasil passa por profundas modificações em seu perfil demográfico, epidemiológico e nutricional. A mortalidade em geral, que tinha nas doenças infecciosas e parasitárias sua principal causa, assemelha-se a de países desenvolvidos, sendo liderada por doenças crônicas não transmissíveis, em especial, pelas doenças cardiovasculares. O pano de fundo no aspecto nutricional, que explica as duas faces desta transição epidemiológica, é a redução da desnutrição energético-proteica e o aumento substancial das prevalências de sobrepeso e obesidade na população, em todas as fases da vida. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde, o déficit de estatura diminuiu de 29,3% (1974-75) para 7,2% (2008-09) nas crianças do sexo masculino e de 26,7% para 6,3% nas do feminino. No entanto, mantêm-se disparidades regionais importantes, uma vez que, no meio rural da Região Nordeste, a baixa estatura atinge 16 e 13,5% das crianças do sexo masculino e feminino, respectivamente. A mesma pesquisa identificou que cerca de 33,3% das crianças brasileiras de 5 a 9 anos encontrava-se com excesso de peso. O sobrepeso/obesidade atingia na época 50,1% dos homens e 48,0% mulheres de 20 a 60 anos. Ao tempo em que não se pode minimizar a importância epidemiológica do sobrepeso/obesidade como fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis, não se pode negar o perfil nutricional de fome, desnutrição e deficiências de micronutrientes que afeta parcela significativa da população brasileira, equiparando a 6ª economia mundial, aos países mais pobres do mundo no que tange à qualidade de vida e de saúde de seu povo. Método baseado na percepção de insegurança alimentar, que considera a fome um fenômeno social e biológico, a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar e Nutricional (EBIA), aplicada em 2004 e, posteriormente, em 2009, pelo IBGE, demonstra que, em 2004, 34,9% dos domicílios brasileiros apresentavam algum grau 20 de insegurança alimentar, sendo de 18,0% insegurança leve, 9,9% moderada e 7,0% grave. Em cinco anos, a percentagem de famílias que se encontrava em situação de insegurança alimentar e nutricional reduziu para 30,2%, ou seja, 4,7%, apenas. Tem-se chamado de “Fome Oculta” a deficiência de micronutrientes de importância epidemiológica, algumas de alta magnitude e importantes efeitos deletérios à saúde. Inadequações nas dietas de grupos populacionais específicos foram encontradas em estudos pontuais realizados em diferentes regiões do País e, até mesmo, deficiências nutricionais de ferro, vitamina A, vitamina D, zinco, ácido fólico e cálcio, sendo as duas primeiras as de maior prevalência, foram diagnosticadas por meio de exames bioquímicos. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS), em 2006, analisou amostras sanguíneas de 3.499 crianças menores de 5 anos e de 5.698 mulheres de 15 a 49 anos, em todas as regiões do País. Encontrou-se prevalência de anemia em 20,9 % das crianças e em 29,4% das mulheres. A prevalência de anemia foi maior na Região Nordeste, atingindo 25,5% das crianças e 39,1% das mulheres. A mesma pesquisa, avaliando os níveis de retinol sérico, encontrou que 17,4% das crianças e 12,3% das mulheres em idade reprodutiva apresentavam níveis inadequados de vitamina A, sendo as Regiões Nordeste, Centro- oeste e Sudeste as de maior prevalência, de 12,1% a 14,0%. Dentre as medidas de intervenção para enfrentar os problemas nutricionais específicos de maior gravidade no País, destacam-se ações de educação nutricional com promoção de hábitos alimentares adequados. Outras, como a profilaxia com ferro e outros micronutrientes aos grupos de maior vulnerabilidade devem ser consideradas, e algumas ações já têm sido implementadas no País, com vantagens e desvantagens. A fortificação de alimentos é medida adotada em diversos países do mundo, e o Brasil começa a evoluir nesta área como política pública em alimentação e nutrição. Em dezembro de 2002, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio da Resolução 344, tornou obrigatória a adição de ferro e ácido fólico nas farinhas de milho e trigo, na quantidade mínima de 4,2 mg de ferro e 150 mcg de ácido fólico/ 100 g do produto. Acredita-se que esta medida venha melhorar o perfil nutricional de ferro da população a longo prazo, uma vez que o pão é um alimento que compõe o hábito 21 alimentar da população brasileira. Entretanto, o grupo de maior vulnerabil idade, que são as crianças menores de dois anos, não será beneficiado. Também a população de mais baixa renda nem sempre tem acesso ao produto. Assim, os maiores desafios para fortificação de alimentos no País dizem respeito à escolha do alimento (veículo), que deve ser um amplamente utilizado pela população em geral, como é o caso do arroz, do feijão e do açúcar. É imperativo também que o processo de enriquecimento e de preparo garanta a biodisponibilidade do nutriente, seja ele micro,seja macro e que também não adicione custo ao produto. O preço do produto enriquecido precisa ser viável para aquisição pela parcela da população mais dependente e necessitada deste benefício. A tendência mundial da população é reduzir o consumo diário de energia na alimentação, talvez para 1.500-1.600 kcal (mulheres) e 2.300 a 2.400 kcal (homens). Esse fenômeno é decorrente das profundas transformações nos hábitos de vida, ou seja, fatores como meios de transporte, sedentarismo, conveniências e condições de moradia, facilidades no ambiente de trabalho, que vêm ocorrendo nas últimas décadas, levam os indivíduos a realizarem menos atividades físicas. Mais recentemente, cresce em todo o mundo o fenômeno da obesidade, principalmente nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, resultando em consequências danosas à saúde das pessoas. Para a população em geral, a ingestão convencional de alimentos não possibilita atingir as necessidades humanas diárias dos diversos nutrientes por razões diversas, por exemplo, falta de conhecimento, hábitos alimentares inadequados e, ainda, em muitas regiões o baixo poder aquisitivo de parcela expressiva da população. Pode-se considerar que as tendências atuais são: a) melhoria do balanço nutricional dos alimentos, tornando-os mais saudáveis, com consequente melhoria da qualidade de vida; e b) suprimentos de produtos alimentícios com maior conveniência de preparo, produção sustentável ambiental e socialmente, saborosos e, consequentemente, de maior aceitação pelo consumidor. Dessa forma, o enriquecimento nutricional de alimentos, outrora abordado como complemento de dieta deficiente, em virtude do baixo poder aquisitivo de parte 22 da população, com consequente alimentação qualitativamente inadequada, toma novo aspecto em tempos atuais. Este enriquecimento de alimentos no Brasil obedece à Resoluções específicas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), uma vez que o País é signatário do Codex Alimentarius e segue, portanto, às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). A metodologia para incorporação de nutrientes no enriquecimento de alimentos, seja micro, seja macronutrientes é variada. Alguns alimentos são mais apropriados para receber adição de minerais, outros para receberem vitaminas e ainda outros alimentos que são adequados para receber adição de proteínas, cálcio e fosfatos. Os grãos como o arroz e o feijão podem ser enriquecidos nutricionalmente por técnicas de difusão do nutriente no grão, utilizando mais frequentemente água como meio de transporte. As farinhas de cereais e de leguminosas podem ser adicionadas de misturas de nutrientes e homogeneizadas em misturadores sólido-sólido. Os produtos das misturas de farinhas são apropriados ao processo de cocção por extrusão. Assim, esta técnica se revela como excelente opção para o processo de enriquecimento desses alimentos. Pela sua versatilidade, uma diversidade muito grande de produtos alimentícios pode ser proveniente de processamento por extrusão. Assim, alimentos com conteúdo adequado, quantitativa e qualitativamente de proteínas, enriquecidos com fibras, vitaminas e minerais de diferentes formas, formatos, sabores e aromas podem ser obtidos. Os limites da técnica de extrusão são flexíveis, uma vez que o processo permite o trabalho em diferentes condições que envolvem temperatura, pressão e tempo de residência em faixas relativamente amplas de variações. 23 5. HISTÓRICO DA EPIDEMIOLOGIA NUTRICIONAL Estudos clássicos da relação entre a deficiência de certos nutrientes na dieta e o surgimento de doenças carenciais constituem a história da epidemiologia nutricional. Diferentes países, inclusive o Brasil, vêm utilizando o conhecimento da epidemiologia nutricional para orientar o setor Saúde e tentar influenciar o consumo alimentar da população. Mesmo com a grande produção científica que serve de base para a elaboração de políticas públicas na área de alimentação e nutrição, críticas são divulgadas, tanto no meio acadêmico como pela população em geral. As restrições ao consumo de ovo tornaram-se emblemáticas nesse sentido. Interdições e escolhas alimentares aparecem em diferentes culturas e religiões, e não se trata de uma questão atual. Todavia, propostas de políticas públicas na área de alimentação e nutrição com o objetivo de influenciar as escolhas alimentares sempre se fundamentaram em conhecimentos científicos correntes. Os recentes avanços da ciência da nutrição fazem com que mudanças na escolha alimentar ocorridas nos últimos anos e outras, ainda desconhecidas pela ciência, possam vir a acontecer, em futuro próximo. Mais recentemente, as guias alimentares têm enfatizado uma abordagem em alimentos e padrões de consumo e, dessa forma, aproximam-se das reais necessidades da população. Contudo, na medida em que o conhecimento gerado pela epidemiologia nutricional transforma-se em regra social, ou norma, evidencia-se o seu caráter temporal, ou seja, as normas podem morrer, e essa possibilidade deve ser vista como um passo importante para a incorporação de novos conhecimentos pelos profissionais da saúde e pela população em geral. O desenvolvimento de métodos práticos, válidos e viáveis para mensurar a dieta individual tem sido descrito como um dos principais desafios da pesquisa em epidemiologia nutricional. Informações válidas de consumo de energia e nutrientes são fundamentais para estudos epidemiológicos sobre dieta e Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Existem vários métodos de avaliação de ingestão alimentar, mas todos apresentam limitações. 24 Inquéritos Recordatórios de 24 horas (IR24h), registros alimentares ou história alimentar podem fornecer uma avaliação acurada da dieta habitual de um indivíduo. Entre os métodos citados, o IR24h permite ao entrevistador colher um grande número de informações e detalhes sobre o modo de preparo e os ingredientes utilizados em receitas caseiras. Tem como vantagens a alta adesão entre os entrevistados, o baixo custo, além do fato de o entrevistado não precisar ser alfabetizado e de o hábito alimentar não se alterar quando realizado sem prévio agendamento. Em contrapartida, um único IR24h não estima a dieta habitual, pois não considera a variabilidade do consumo alimentar de um dia para outro (intra-indivíduo). A variação intra-indivíduo e entre indivíduos pode também diferir muito entre nutrientes. Para macronutrientes da dieta que apresentam pequena variação no consumo intra-indivíduo, alguns dias de avaliação do consumo alimentar são suficientes para estimar sua ingestão habitual. Já para os micronutrientes da dieta, a variação do consumo intra-indivíduos é muito maior que a variabilidade entre indivíduos, exigindo múltiplos IR24h para se alcançar uma estimativa acurada de seu consumo habitual. Questionários de Frequência Alimentar (QFA) têm sido utilizados em estudos epidemiológicos para verificar a associação entre dieta e DCNT. Entre as vantagens deste método, estão a aplicabilidade em um grande número de indivíduos, o baixo custo e a possibilidade de estimar a ingestão alimentar referente a um longo período – geralmente no último ano ou até mesmo por tempo maior. No entanto, apesar de sua menor exatidão em relação a outros métodos de avaliação do consumo alimentar, o QFA classifica os indivíduos de risco segundo grau de exposição e diferenças entre concentrações extremas de ingestão. Neste aspecto em particular, por ser capaz de medir variação de consumo entre indivíduos, o QFA tem sido considerado mais adequado à estimativa de riscos. No entanto, há necessidade de avaliação de acurácia e precisão do QFA na população específica. Mais recentemente, marcadores bioquímicos têm sido utilizados em estudos de validação de métodos de avaliação de consumo alimentar.A principal vantagem é que os erros medidos pelos marcadores bioquímicos não têm relação com os erros medidos nos questionários alimentares. Portanto, correlação entre a ingestão alimentar e marcador bioquímico oferece inquestionável evidência de validação. 25 Alguns indicadores bioquímicos podem ser utilizados para a validação de um QFA, oferecendo boa correlação com a real ingestão alimentar, com medidas objetivas e sem viés por parte do entrevistado ou do entrevistador. Entretanto, estão também sujeitos a três fontes de erro: 1) Diferença entre a avaliação da dieta e a real ingestão; 2) Efeito da digestão, absorção, captação, utilização, metabolismo, excreção e mecanismos homeostáticos, influenciando a relação entre quantidade ingerida e a medida bioquímica; 3) Erro associado ao próprio ensaio bioquímico. Portanto, biomarcadores e avaliação da dieta não medem exatamente a mesma coisa. Os erros para medidas bioquímicas são independentes dos erros associados ao QFA. Existem várias abordagens para medidas de indicadores bioquímicos: a) medida direta da concentração do nutriente ou seu produto metabólico em um tecido ou fluido; b) análise funcional de atividade de enzimas específicas ou produtos derivados do nutriente relacionado com a ingestão alimentar. Neste caso, deve-se verificar se a medida encontrada é referente às reservas orgânicas do nutriente analisado que estão sendo utilizadas para manter constantes suas concentrações sanguíneas ou se reflete o consumo alimentar habitual e/ou recente. Esta abordagem mede preferencialmente a adequação da ingestão, já que a enzima ou o produto final derivado do nutriente em questão pode sofrer influência de diversos fatores; c) concentração de nutrientes no sangue ou urina pouco antes e em intervalos após administração de uma dose conhecida do nutriente a ser validado. Pessoas com deficiência do nutriente a ser testado retêm maior quantidade. O uso desta última abordagem em estudos epidemiológicos é limitado. Concentrações plasmáticas de retinol, betacaroteno e alfa-tocoferol são sensíveis à ingestão alimentar atual e têm sido sugeridos como marcadores bioquímicos de exposição a nutrientes antioxidantes, apresentando boa correlação com consumo alimentar de frutas e vegetais. O alfa-tocoferol é transportado no sangue como parte do complexo de lipoproteína, principalmente em associação com LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade). A concentração sérica de vitamina E apresenta boa correlação com colesterol sérico e lipídeos totais. Aparentemente, uma única medida de alfa-tocoferol no plasma, ajustado para lipídeos sanguíneos, é capaz de representar a ingestão habitual de vitamina E. Muitos biomarcadores têm sido utilizados em pesquisa clínica e epidemiológica para avaliar a adequação dietética ou o estado nutricional de um nutriente em 26 indivíduos e populações. Exemplos típicos incluem a albumina sérica para avaliação de proteínas viscerais e ferritina sérica como indicador de reservas orgânicas de ferro. A utilidade de um biomarcador baseia-se nos determinantes fisiológicos da medida. A concentração de muitos nutrientes e biomarcadores no pool circulante é homeostaticamente regulada (cálcio sérico, por exemplo) ou pode ser fracamente relacionada ao consumo alimentar devido a produção endógena (colesterol sérico, por exemplo). Apesar da crescente importância na ocorrência de problemas nutricionais relacionados ao excesso de peso, a desnutrição ainda é prevalente em determinados grupos populacionais, atingindo principalmente crianças que vivem em regiões menos desenvolvidas. Cabe destacar que, embora o termo desnutrição possa também ser usado para se referir ao excesso de peso, usa-se como sinônimo para déficit nutricional, no caso da magreza extrema. Desnutrição ou baixo peso tem sido considerado como o principal fator de risco relacionado ao número de pessoas com incapacidade e o quarto fator relacionado ao número de mortes na população mundial, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao passo que o baixo peso atinge apenas países em desenvolvimento, nos países desenvolvidos os fatores de risco para incapacidades e mortalidade em geral estão relacionados ao excesso de peso, incluindo pressão arterial, colesterol e Índice de Massa Corporal (IMC) elevados e baixo consumo de frutas, legumes e verduras. A ocorrência de desnutrição tem sido explicada em função de alguns mecanismos fisiológicos que são apresentados no Quadro 1. Quadro 1 – Mecanismos fisiológicos relacionados com a desnutrição Fonte: Kac, et al. 2007. 27 No sentido fisiológico, esses cinco mecanismos explicam como o balanço energético pode se tornar negativo. Entretanto, o que pode também ser constatado é que os principais fatores envolvidos nesse balanço energético negativo estão relacionados a fatores socioeconômicos, culturais, ambientais ou biológicos, que, por sua vez, determinam o consumo energético inadequado ou a presença de doenças que são consideradas as causas proximais da ocorrência da fome/desnutrição. A complexidade e a natureza dos fatores envolvidos na determinação do déficit nutricional requerem que se leve em conta na análise a cadeia causal dos determinantes do estado nutricional e o tempo decorrido entre a exposição a cada fator e a desnutrição. Assim, estimadores estatísticos que explicitem a hierarquia das causas e organizem a precedência da exposição a cada fator passam a ser ferramentas importantes nas análises da determinação do estado nutricional e nas recomendações de políticas públicas que se façam a partir delas. Desnutrição é, frequentemente, parte de um ciclo vicioso que inclui pobreza e doença, sendo cada um destes três componentes inter-relacionados e contribuintes da ocorrência e persistência do outro. Para romper esse ciclo, são necessárias, além das intervenções específicas na área de nutrição e saúde, mudanças sociais, políticas e econômicas que atuem sobre os determinantes mais distais da desnutrição. Os determinantes distais não agem diretamente sobre os déficits antropométricos, e sim por meio de fatores intermediários ou proximais, que podem estar agindo por diferentes cadeias de determinação da desnutrição. Por exemplo, a pobreza e o desemprego são considerados como causas distais que, por sua vez, agem sobre a disponibilidade de alimentos no domicílio ou o acesso a serviços de saúde, considerados determinantes intermediários e com atuação sobre as causas proximais, como o consumo inadequado de nutrientes e a ocorrência de doenças infecciosas. Em relação às causas proximais, deve-se ressaltar que pode haver consumo deficiente de energia, proteína ou de micronutrientes e que as doenças infecciosas, por sua vez, podem levar à desnutrição por meio dos distintos mecanismos fisiológicos supracitados, seja por redução do apetite e diminuição no consumo alimentar, seja por aumento das necessidades energéticas ocasionado pelo catabolismo de nutrientes durante um processo infeccioso. 28 Assim como as consequências das doenças infecciosas sobre a desnutrição estão bem estabelecidas, a influência dos déficits nutricionais sobre a ocorrência dessas doenças também tem sido descrita, demonstrando o ciclo vicioso entre desnutrição e infecção. O início da desnutrição geralmente ocorre em torno do sexto mês de vida da criança, quando a transição de alimentos complementares pode ser inadequada em qualidade e quantidade e também quando ocorre maior frequência de exposição a doenças infecciosas. Entretanto, a população idosa, principalmente em regiões menos desenvolvidas, também pode ser considerada um grupo de risco para a desnutrição. Sendo assim, em qualquer grupo etário, a ocorrência da desnutrição pode estar relacionada a fatores biológicos, sociais, econômicos e culturais que, por suavez, podem estar envolvidos em qualquer um dos mecanismos de determinação. a. A Epidemiologia Da Anemia Ferropriva A epidemiologia da anemia ferropriva, por definição, deve tratar dos determinantes da distribuição deste agravo nutricional causado pela deficiência de ferro no organismo humano, que afeta, sobretudo, o desempenho de uma das funções mais nobres do sangue, o transporte de oxigênio. Conhecer os determinantes da distribuição da anemia ferropriva significa descrever e explicar o que é anemia ferropriva, quantos e quem são os atingidos pelo agravo nutricional, assim como saber onde, quando, como e por que grupos populacionais são afetados pela doença, com a finalidade de contribuir para o enfrentamento do problema. Em 1990, por iniciativa das Nações Unidas, à frente o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), reuniram- se em Nova York representantes de oitenta países durante o Encontro Mundial de Cúpula pela Criança com a finalidade de elaborar um plano de ação para ser implementado durante a última década do século XX, visando a melhorar a saúde de crianças e mães, combater a desnutrição, o analfabetismo e erradicar as doenças que matavam milhões de crianças a cada ano. “A redução de um terço nos níveis de anemia das mulheres com relação a 1990” (Unicef, 1990) foi uma das metas estabelecidas naquele encontro, demonstrando a gravidade da situação 29 epidemiológica da deficiência e o compromisso inadiável dos governos e organismos internacionais com o enfrentamento do problema. Portanto, o entendimento da anemia ferropriva, abordando suas causas, consequências e o modo de enfrentar o problema mediante o olhar epidemiológico, como um instrumento básico da saúde coletiva, enfocando primordialmente o cenário brasileiro, é de suma importância. A suplementação com sais de ferro é a estratégia mais amplamente utilizada para controlar a anemia em países em desenvolvimento, principalmente naqueles onde as duas estratégias descritas anteriormente ainda não foram plenamente alcançadas. A suplementação é mais largamente usada para tratar do que para prevenir a deficiência de ferro e a anemia, embora venha sendo utilizada como medida preventiva em grupos de alto risco, como pré-escolares e gestantes – entre estas últimas, inclusive em países desenvolvidos. O Quadro 2 apresenta um roteiro para enfrentamento da anemia por deficiência de ferro em aplicações diárias, segundo sugestão do Unicef e da OMS. Quadro 2 – Esquema posológico em diferentes grupos biológicos para a prevenção da anemia por deficiência de ferro em escala populacional Fonte: Kac, et al. 2007. 30 b. Epidemiologia da Hipovitaminose A e Xeroftalmia Uma variedade de termos tem sido usada para caracterizar o estado nutricional de vitamina A e os seus efeitos sobre a saúde. Deficiência de Vitamina A (DVA) é o termo recomendado para expressar o status inadequado de vitamina A, que começa quando as reservas hepáticas caem abaixo de 20 µg/g (0,07µMol/g). Distúrbios da Deficiência de Vitamina A (DDVA) deve ser a expressão empregada para expressar as alterações fisiológicas secundárias à DVA. Essas alterações podem ser subclínicas, a exemplo dos distúrbios da diferenciação celular, da depressão da resposta imune, da redução da mobilização do ferro; ou clínicas, traduzidas pelo aumento da morbidade por doenças infecciosas e da mortalidade, retardo do crescimento, anemia e, principalmente, xeroftalmia. Xeroftalmia representa o epifenômeno da DDVA, sendo o termo utilizado para descrever todas as manifestações clínico-oculares da DVA, que compreendem um amplo espectro de sinais e sintomas que vão desde a cegueira noturna até a ulceração corneal e a ceratomalacia. A hipovitaminose A constitui um dos principais problemas nutricionais que afligem a população dos países do Terceiro Mundo, acometendo, sobretudo, crianças na idade pré-escolar e gestantes. Esse quadro de deficiência está intrinsecamente associado ao subdesenvolvimento, concentrando-se nas camadas mais pobres e menos educadas da população. As recomendações para os grupos etários, esquemas posológicos e período de administração a serem utilizadas na suplementação massiva com megadoses de vitamina A estão descritas na Tabela 1. 31 Tabela 1 – Esquema de suplementação com megadoses de vitamina A em populações vulneráveis Fonte: Kac, et al. 2007. c. Epidemiologia da Obesidade No Brasil, esse fenômeno é marcante, com aumento da prevalência em adolescentes, adultos e idosos. Nenhuma faixa etária ou grupo social está protegido da obesidade e identifica a atualidade da questão, visto que o tema está em todos os lugares: revistas, livros populares, textos científicos e agenda política dos governos. Infelizmente, respostas claras e precisas para a questão fundamental – como manter o controle do peso ao longo da vida adulta? – não estão disponíveis. Os estudos sobre os fatores da dieta associados à obesidade realizados nas últimas décadas do século XX priorizaram isolar componentes específicos da dieta, como, por exemplo, as gorduras, fibras ou tipo de carboidrato. Essas estratégias não se mostraram efetivas para a prevenção da obesidade, e a tônica das decisões mais recentes, que tem sido abraçada pelos organismos internacionais e agências de saúde, é abordar, concomitantemente, tanto o consumo quanto o gasto de energia. Combinar estratégias que visem a alterações, ao mesmo tempo, dos hábitos dietéticos e dos níveis de atividade física parece ser fundamental, na medida em que ambos são resultados da crescente industrialização e movimentação para os centros urbanos de grandes parcelas da população. Essas mudanças permitem e estimulam o acesso a um mercado crescente de produtos com distribuição globalizada e de produtos em geral, muitos deles poupadores de energia. Muitas atividades físicas foram substituídas, na sociedade moderna, pelo uso de aparelhos como os eletrodomésticos, os sistemas automatizados de controle remoto, o carro e os 32 sistemas de controle da temperatura ambiental. A Organização Mundial da Saúde (OMS), reconhecendo que manter o equilíbrio energético é a questão fundamental no controle da obesidade, destaca o equilíbrio energético como a primeira recomendação do documento internacional conhecido como Estratégia Global. No Brasil, essa recomendação foi incorporada no guia alimentar do Ministério da Saúde. 33 1. REFERÊNCIAS Elisabetta RECINE, et. al. A formação em saúde pública nos cursos de graduação de nutrição no Brasil. Rev. Nutr., Campinas, 25(1):21-33, jan./fev., 2012. Sylvia do Carmo Castro Franceschini, DNS José Benicio Paes Chaves, DTA. Os Problemas Nutricionais E A Estratégia De Enriquecimento De Alimentos No Brasil. Disponível em: http://www.novoscursos.ufv.br/projetos2/ufv/ipaf/www/wp- content/uploads/Os-Problemas-Nutricionais-e-a-Estrat%C3%A9gia-de- Enriquecimento-de-Alimentos-no-Brasil.pdf. Acesso em 19 out 2020. Universidade Federal de Viçosa. Marta Alice Gomes Campos, et al. Estado Nutricional E Antropometria Em Idosos: Revisão Da Literatura. Revista Médica de Minas Gerais 2007; 17(3/4): 111-120. Nathália Paula de Souza, et. al. A (des)nutrição e o novo padrão epidemiológico em um contexto de desenvolvimento e desigualdades. Ciência & Saúde Coletiva, 22(7):2257-2266, 2017. Gilberto Kac, et. al. Epidemiologia nutricional. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ/Atheneu, 2007. 580 p. ISBN 978-85-7541-320-3. 34