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Fundamentos Históricos e Teórico Metodológicas do Serviço Social - Dimensão Histórica - AULA 04

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Pró-reitoria de EaD e CCDD 
 
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Fundamentos Históricos e Teórico-
Metodológicos do Serviço Social - Dimensão 
Histórica 
 
 
Aula 4 
 
 
 
 
 
 
Profa. Jussara Marques de Medeiros 
 
 
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Conversa inicial 
Olá! 
Daremos continuidade à nossa caminhada na história do Serviço Social, 
compreendendo sua jornada da década de 1940 até o início da reconceituação 
da profissão. Assim, para compreender esse período, é necessário pontuar a 
influência norte-americana no Serviço Social brasileiro, apresentar o projeto 
desenvolvimentista e suas influências e explicitar os antecedentes históricos que 
originaram a Ditadura Militar no Brasil. 
Contextualização 
Nesta aula, será discutida a visão do projeto reformista conservador no 
Brasil, que, na década de 1950, preconiza o desenvolvimento do país. Além 
disso, há uma visão política e ideológica conservadora que apresenta um modelo 
de família naturalizada burguesa. Veja a imagem da revista Casa e Jardim e 
responda a seguinte questão: que modelo de família e de mulher essa revista 
apresenta? Ao final, nós o relacionaremos com a visão de família que os 
assistentes sociais defendiam na década de 1950. 
Figura 1 
 
Fonte: Jardim, 2011. 
 
 
 
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Tema 1: O projeto reformista conservador no Brasil 
Em relação ao contexto político do Brasil, nos anos 1950, o país se 
encontrava entre o final do governo de Vargas (que, de acordo com as notícias, 
se suicida em 1954) e o início do governo de Juscelino Kubitschek, com o seu 
projeto de modernização do país. Economicamente, intensificou-se a produção 
industrial e promoveu-se uma maior abertura para o capital externo, sendo que 
o maior símbolo da modernização é a construção de Brasília. Esse modelo foi 
chamado de nacional-desenvolvimentismo: 
Baseado na busca de um crescimento acelerado do país - “50 em 5”-, que só poderia ser 
alcançado mediante capital estrangeiro e tecnologia importada, acabou por provocar a 
desnacionalização de parte da nossa indústria, absorvida por campanhas internacionais 
(que começavam a se transformar em transnacionais) o domínio do capital estrangeiro 
passou a ser cerca de 90%. O que se chamava de nacional era a produção por filiais de 
empresas estrangeiras, aqui dentro, de artigos antes importados das matrizes, lá fora. 
(Worms; Costa, 2002, p. 69). 
Para Iamamoto (1983), no decorrer da década de 1940 até a metade da 
década seguinte, a economia nacional apresentou taxas de crescimento 
altamente positivas, porém em 1955, há uma reversão dessas tendências 
positivas, que teriam sido definidas pelas relações de intercâmbio com o exterior. 
Para a autora: 
A ideologia desenvolvimentista em seu aspecto mais aparente e geral envolve a proposta 
de crescimento econômico acelerado, continuado, autossustentado. O problema central a 
resolver constitui-se em superar o estágio transitório do subdesenvolvimento e do atraso. 
A meta a atingir é a prosperidade, a grandeza material da nação, a soberania dela 
decorrente, a paz e a ordem social-tudo isso potencialmente viável, bastando que se traga 
à luz a riqueza existente e adormecida de que o país dispõe, através do traçado de política 
adequada e do trabalho constante (Iamamoto, 1983, p. 347) 
Para Iamamoto, a ideologia desenvolvimentista se define pelos seguintes 
aspectos: 
- Busca da expansão econômica, no sentido de prosperidade, riqueza, 
grandeza material; 
 
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- O problema central a atacar seria o atraso, que era a posição marginal 
do Brasil dentro do sistema capitalista; 
- As razões do subdesenvolvimento seriam o modelo agrário exportador 
no Brasil e o fraco desenvolvimento industrial no país; 
- A meta é a industrialização de base no país; o desenvolvimento deveria 
ser acelerado e autossustentado, e a industrialização deveria se desenvolver no 
sentido da produção industrial pesada; 
- O desenvolvimentismo constituía-se como meta para toda a coletividade 
e tinha um discurso de valorização do homem brasileiro, do fim do pauperismo 
e a elevação do nível de vida; (Iamamoto, 1983) 
A autora afirma que, com a intenção do trabalho em Desenvolvimento de 
Comunidade, o Serviço Social se mostra relativamente alheio à temática 
desenvolvimentista, o que não o impede de beneficiar-se da expansão 
econômica: 
No fim da década de 1940 e especialmente na década seguinte, abre-se um novo e amplo 
campo para os assistentes sociais; as grandes empresas (especialmente as industriais) 
passam a constituir um mercado de trabalho crescente. O Serviço Social se interioriza, 
acompanhando o caminho das grandes instituições, a modernização das administrações 
municipais e o surgimento de novos programas voltados para as populações rurais. Ao 
mesmo tempo, nas instituições assistenciais- médicas, educacionais, etc- o Serviço Social 
logra maior sistematização técnica e teórica de suas funções, alcançando definir áreas 
preferenciais de sua atuação técnica (Iamamoto, 1983, p. 350). 
As áreas preferenciais da atuação do assistente social consistiram, a 
partir da influência norte-americana, voltadas para o Serviço Social de 
tratamento, nas linhas de psicologia e psiquiatria, dos desajustamentos 
psicossociais. 
Para Ortiz (2010), o projeto de sociedade reformista conservador é 
articulado com nossas particularidades históricas como o colonialismo, o 
escravismo, na dependência de potências capitalistas centrais, no caráter 
antidemocrático. Sua entrada no Brasil é no cenário monopolista e com 
centralidade na industrialização. 
 
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Esse conservadorismo estaria imposto na profissão, mesmo com o 
desenvolvimentismo e a necessidade de uma reforma, de acordo com Andrade 
(2008): 
(...) as exigências da racionalidade capitalista impunham aos assistentes sociais, a 
necessidade de novas estratégias e instrumentos. Não era mais suficiente a 
“compreensão e experiência de mulheres com dom de si próprias à vida popular”. A 
demanda institucional conclamava o Serviço Social para o terreno da formação técnica, 
da eficiência. 
Foi nessa direção que o movimento interno da profissão conseguiu caminhar 
qualitativamente, também aderindo ideologicamente à racionalidade capitalista, o que lhe 
garantiu a legitimação profissional. (Andrade, 2008, p. 274) 
A figura a seguir ilustra o processo de urbanização e industrialização 
brasileira. Junto a isso, em 1947, foi promovido, pelo Centro de Estudos e Ação 
Social (CEAS), o 1º Congresso Brasileiro de Serviço Social, em São Paulo, no 
qual foi aprovado, em Assembleia geral da Associação Brasileira de Assistentes 
Sociais, o primeiro Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. 
Figura 2 
 
Fonte: 70 Anos de Serviço Social na Bahia, 2014. 
Nessa época, a profissão ainda não era regulamentada, mas já havia uma 
tentativa de qualificação profissional. Aliada à visão conservadora, houve uma 
forte influência do positivismo na profissão, como veremos a seguir. 
 
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Tema 2: O Serviço Social e a teoria positivista 
Para compreender a influência do positivismo no Serviço Social, é 
importante a priori entender o que é o positivismo. Assim, Löwy (2009) determina 
algumas premissas básicas que estruturam essa teoria: 
1. A sociedade é regida por leis naturais, invariáveis independentes 
da vontade e da ação humana; 
2. A sociedade pode ser estudada pelos mesmos métodos e 
processos empregados pelas ciências da natureza; 
3. As ciências da sociedade, assim como as da natureza, podem 
limitar-se à observação e à explicação causal dos fenômenos de forma 
objetiva, neutra, livre de julgamento de valor e ideologia; 
O positivismo surgiu, em fins do século XVIII e no princípio do século XIX, 
como uma utopia crítico revolucionária da burguesia antiabsolutista. Augusto 
Comte é considerado o fundadordo positivismo, pois ele buscou a defesa da 
ordem estabelecida. (Löwy, 2009). 
Para Löwy (2009), os fenômenos econômicos são frequentemente citados 
por Comte como leis naturais invariáveis, referindo-se à concentração do capital. 
O autor discorre: 
Otimista, Comte parece, por outro lado, convencido que “os proletários reconhecerão, sob 
o impulso feminino, as vantagens da submissão e de uma digna irresponsabilidade” (sic) 
graças a doutrina positivista “há de preparar os proletários para respeitarem, e mesmo 
reforçarem, as leis naturais da concentração do poder e da riqueza”. (Löwy, 2009, p. 28). 
 
A bandeira do Brasil é pensada a partir da visão positivista: 
Como uma das bases do positivismo é a ORDEM, o mesmo substituiria a agitação política 
por uma reforma das mentalidades, estendendo isto ao proletariado também – se todos 
tivessem acesso à educação de qualidade, todos fariam sua parte como um corpo que só 
funciona se todos os órgãos estiverem bem, cada um com sua função, sem nenhuma 
‘doença’ – assim, o PROGRESSO se estenderia à sociedade funcionaria como uma 
máquina sem defeito, em perfeita harmonia. (Sociologia, 2011) 
 
 
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Percebe-se uma naturalização das desigualdades sociais, sob um 
discurso pseudocientífico. O autor comenta a problemática do axioma da 
neutralidade valorativa e o condicionamento histórico social. Embora possamos 
observar uma visão valorativa burguesa, a concepção “científica” agrega um 
status de uma teoria “desinteressada”. A análise histórica não é considerada 
nessa teoria, e a sociedade é analisada como “coisa”, a exemplo das ciências 
da natureza. Löwy (2009) faz uma severa crítica a este aspecto da visão 
positivista: 
Na realidade, a “boa vontade” positivista enaltecida por Durkheim e seus discípulos é uma 
ilusão ou uma mistificação. Liberar-se por um “esforço de objetividade” das 
pressuposições éticas, sociais ou políticas fundamentais de seu próprio pensamento é 
uma façanha que faz pensar irresistivelmente na célebre história do Barão de 
Münchhausen, ou este herói picaresco que consegue, através de um golpe genial, escapar 
ao pântano onde ele e seu cavalo estavam sendo tragados, ao puxar a si próprios pelos 
cabelos... Os que pretendem ser sinceramente seres objetivos são simplesmente aqueles 
nos quais as pressuposições estão mais profundamente enraizadas. (Löwy, 2009, p. 37). 
Dessa forma, considerando o papel ideológico para a implantação do 
capitalismo, observamos que a ciência não é desinteressada. Behring e 
Boschetti (2006) ressaltam a influência dessa teoria nos dias de hoje: 
Contudo, a influência dessa forma de pensar perdura até os dias de hoje no campo do 
pensamento social e talvez estejamos revivendo um certo revival. Exemplo disso é o 
resgate da ideia durkheimiana de anomia para a explicação das transformações 
contemporâneas, que seriam uma espécie de condição mórbida e patológica geral da 
sociedade, marcada pela desagregação e pelo desequilíbrio social, manifesto pela 
incapacidade da sociedade de exercer sua ação sobre os indivíduos, levando a disfunções 
e conflitos (Behring; Boschetti, 2006, p. 30) 
No Serviço Social, essa corrente tem um papel ideológico fundamental 
para a manutenção do status quo. Podemos perceber a influência dela no 
conteúdo histórico apresentado por Balbina Ottoni Vieira, uma das precursoras 
do Serviço Social no Brasil. A autora discorre sobre a evolução do Serviço Social 
com indivíduos, afirmando que “o cliente é a unidade familiar”. Em seguida, 
apresenta o caráter promocional do atendimento com indivíduos “preconizado 
como mais eficiente pelos países em desenvolvimento” e completa: 
 
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O objetivo do tipo promocional é “capacitar o indivíduo para superar ou prevenir suas 
dificuldades atuais e outras que virão a surgir, e resolver seus problemas de modo a 
alcançar o máximo de satisfação pessoal e melhor integração social”. O objeto é a situação 
social problema que se quer transformar e o sujeito do processo, o próprio ciente, por sua 
vez, ajudado por um agente- um assistente social- para a transformação da situação 
(Vieira, 1981, p. 49). 
Podemos perceber a linguagem positivista no caráter individual do 
atendimento e na “integração social”, bem como ao não se considerarem fatores 
históricos. 
Essa visão determina o objeto da profissão desde a sua gênese, afinal, 
no início da profissão, o objeto era visto como o homem, o homem “incapaz, o 
homem pobre”. Na década de 1970, o objeto se colocou como a situação social 
problema, a partir da visão de Vieira (1981) e do proposto no Documento de 
Araxá. Percebeu-se uma visão de atendimento centrada no indivíduo e os 
problemas decorrentes também são devido a disfunções que o “cliente” deve 
superar. 
Assim, é que, no início do Serviço Social no Brasil, 1937, o objeto definido era o homem, 
mas um homem específico: o homem morador de favelas, pobre, analfabeto, 
desempregado, etc. Enfim, entendia-se que esse homem era incapaz, por sua própria 
natureza, de “ascender” socialmente. Daí que o objeto do Serviço Social era este homem, 
tendo por objetivo moldá-lo, integrá-lo, aos valores, moral e costumes defendidos pela 
filosofia neotomista. Posteriormente, o Serviço Social ultrapassa a ideia do homem como 
objeto profissional. Passa-se à compreensão de que a situação deste homem – 
analfabeto, pobre, desempregado, etc. – é fruto, não só de uma incapacidade individual, 
mas, também, de um conjunto de situações que merecem a intervenção profissional. O 
objeto do Serviço Social se coloca, então, como a situação social problema (Machado, 
1999, p. 40) 
No próximo tópico, nós nos aprofundaremos na influência da visão 
cientificista no Serviço Social, de influência norte-americana. 
 
 
 
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Tema 3: Influência norte-americana no Serviço Social brasileiro 
A partir da década de 1940, houve uma forte influência do Serviço Social 
norte-americano no Brasil, voltando o Serviço Social mais para a questão do 
tratamento e das técnicas. 
Mary Richmond ofereceu as bases técnicas para a profissão: 
Por trás das ideias de Richmond, há uma clara e identificável concepção funcional de 
sociedade, elaborada pela sociologia norte-americana. E essa mesma sociologia norte-
americana somada ao arsenal técnico de Mary Richmond, Gordon Hamilton, Helen 
Perlman, Florence Hollis, entre outros, conferiram uma autoridade advinda do saber fazer 
específico, distinto do senso comum, aos assistentes sociais no Brasil (Andrade, 1999, p. 
276). 
 Essas técnicas de trabalho, porém, advieram de uma forte influência do 
positivismo. O profissional tem um papel importante socialmente: 
No âmbito institucional, o agente profissional, o assistente social, será o responsável pelo 
trabalho junto aos sujeitos sociais que, por conflitos, começam a se descolar de 
determinadas posições do sistema de estratificação, para que retornem ao sistema. Na 
ótica funcionalista, a proposta institucional é colocar o conflito no conjunto da estrutura 
social aceitável, adequando o usuário aos seus recursos (Andrade, 1999, p. 276). 
 O Conservadorismo Católico, a partir da década de 1940, começou a ser 
tecnificado, porém é necessário destacar os seguintes aspectos: 
Cabe esclarecer que nem o doutrinarismo, nem o conservadorismo constituem teorias 
sociais. A doutrina caracteriza-se por uma visão de mundo abrangente, fundada na fé, em 
dogmas. O conservadorismo, como forma de pensamento e experiência prática, é 
resultado de um contra movimento aos avanços da modernidade, assim, suas reações 
são preservadoras da ordem capitalista. Por sua vez, a teoria social constitui um conjunto 
explicativo totalizante, ontológico, vinculado organicamente ao pensamento filosófico, 
acerca do ser social na sociedade burguesa e de seu processo de constituição e de 
reprodução. A teoria é uma construçãointelectual que proporciona explicações 
aproximadas da realidade e assim supõe um padrão de elaboração: o método (Andrade, 
1999, p. 276). 
 Assim, a profissão considera três métodos de abordagem: Serviço Social 
de Caso, Serviço Social de Grupo e Serviço Social de Comunidade. Em relação 
ao Serviço Social de Grupo, Iamamoto (1983) afirma: 
 
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O Serviço Social de grupo, que há muito tempo vinha sendo utilizado de forma tradicional 
(recreação e educação), na década de 1950 começa a fazer parte dos programas 
nacionais do SESI, LBA, SESC, em hospitais, favelas, escolas, etc., iniciando-se uma nova 
abordagem- que se generaliza na década de 1960- que relaciona estudos psicossociais 
do participante com problemas da estrutura social e utilização de dinâmica de grupo 
(Iamamoto, 1983, p. 351). 
 
 
Figura 4 
 
Fonte: 70 Anos de Serviço Social na Bahia, 2016. 
Assim, podemos observar que o Serviço Social se encontrava ligado ao 
trabalho com as políticas públicas. Em relação à Legião Brasileira da Assistência, 
ela foi criada na década de 40, em um primeiro momento para atender as famílias 
dos pracinhas que foram para a Segunda Guerra Mundial. Em seguida, voltou 
sua ação para várias frentes da Assistência. Há uma relação próxima dessa 
instituição com o Serviço Social: 
Constituindo-se na primeira Campanha assistencial de nível nacional, a Legião Brasileira 
de Assistência será de grande importância para a implantação e institucionalização do 
Serviço Social, contribuindo em diversos níveis para a organização, expansão e 
interiorização da rede de obras assistenciais, incorporando ou solidificando nessas os 
princípios do Serviço Social, e a consolidação e expansão de ensino especializado de 
Serviço Social e do número de trabalhadores sociais (Iamamoto, 1983, p.259). 
 A implantação da LBA propiciou para o Serviço Social a expansão e o 
aumento quantitativo do volume de assistência e a utilização do profissional para 
 
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a organização do serviço; o assistente social amplia suas funções, que também 
passam a ser de coordenação e planejamento. (Iamamoto, 1983) 
Em relação ao Serviço Social de Casos, é muito significativa a afirmação 
de Vieira (1981): 
Em essência, o Serviço Social com indivíduos procura ajudar a pessoa a resolver seus 
próprios problemas, seja através de mudanças de atitude, seja pela utilização de recursos 
da comunidade ou por ambos os meios. O assistente social ajuda a examinar suas 
dificuldades; analisa com ela as possibilidades de remove-las; informa sobre os recursos 
materiais, legais, jurídicos, etc e a maneira de utiliza-los; leva o cliente a escolher a solução 
e a adotar os meios para executa-la (Vieira, 1981, p. 50). 
 
A autora aponta uma relação com os “recursos da comunidade”, ou seja, 
conhecer outras formas de atendimento para a resolução das demandas. 
Entretanto, apesar da expansão da profissão, o Serviço Social servia a uma 
visão de controle social, que atendia aos interesses da ordem burguesa. 
Sob a concepção funcionalista, o controle social exercido pressupunha a integração do 
indivíduo ao bom funcionamento de uma sociedade proposta pela classe dominante. Era 
enfatizado o trabalho com grupos, quer para interação, quer para fins terapêuticos, de 
forma a conseguir a melhor adaptação do indivíduo ao seu meio. O modo funcionalista de 
pensar, investigar e intervir na realidade social ganhou força porque, culturalmente, 
correspondia aos interesses da ordem e da lógica burguesas instauradas na sociedade 
civil e no Estado brasileiro (Andrade, 1999, p. 279). 
 Contudo, em 1960, iniciou-se o processo de reconceituação da profissão. 
Veremos em seguida os antecedentes históricos da Ditadura no Brasil, para 
melhor compreender esse período. 
Tema 4: Antecedentes históricos da Ditadura Militar no Brasil 
Agora, compreenderemos o contexto histórico originário da Ditadura 
Militar no Brasil. Netto descreve o Brasil de 1960: 
Predominava ligeiramente a população rural (53,7%)e nenhuma grande cidade brasileira 
(exceto São Paulo e Rio de Janeiro) tinha mais de um milhão de habitantes. À época, 
transportes e comunicações valiam-se muito da rede ferroviária (então de 38.287km), mas 
a rede rodoviária já se expandia rapidamente (somava cerca de 24.000km, dos quais 
 
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menos de 10.000 pavimentados). A força de trabalho ainda se ocupava mais em atividades 
agropecuárias (53,87%); a indústria empregava dela uma parte bem menor (17,61%), 
assim como o comércio (6,57%), os transportes e comunicações (4,60%)os bancos e as 
atividades financeiras (4,60%), a administração pública (5,66%) e outros serviços 
(10,69%) (Netto, 2014, p. 25). 
No entanto, o autor destaca que, após o fim da Segunda Guerra Mundial, 
a industrialização avançava e, na segunda metade dos anos 1950, a renda do 
setor industrial já superava a da agricultura. A migração acelerou do campo para 
a cidade, acentuando a urbanização. O crescimento econômico aconteceu com 
efeitos desiguais, concentrando-se no Sudeste, em conjunto com a desigualdade 
na distribuição da renda. 
O governo de João Goulart terminou com o golpe militar, em abril de 1964. 
Os militares assumiram o poder e afirmaram que não o devolveriam aos civis, 
pois alegavam sua incapacidade de governar a nação. 
Netto (2014) afirma que os indicadores econômicos dos anos 1960 
mostram um quadro de crise. Em 1961, a taxa do Produto Interno Bruto (PIB) foi 
de 10.3%; em 1963, ela caiu pela metade: 5,3%, registrando-se o menor 
crescimento da década, 1,5%; por fim, em 1964, recuperou-se para 2,9%. O 
autor diz que não há consenso entre estudiosos de economia sobre os motivos 
dessa crise, mas concorda com a seguinte abordagem: 
(...) na entrada dos anos 60, esgotou-se a fase expansiva da industrialização brasileira 
que se iniciara no imediato segundo pós-guerra (inicialmente prolongando a substituição 
de importações) e chegou ao auge entre 1956 e 1961 (quando o processo se alargou para 
os setores da indústria pesada) (Netto, 2014, p. 41). 
Para o autor, a crise derivava da dinâmica interna, endógena, da 
economia brasileira, sendo necessárias reformas políticas e econômicas que 
pudessem executar uma política econômica de reformas, que conformassem o 
capitalismo. 
Alguns fatores foram fundamentais para a crise do governo de Jango, 
dentre eles: 
- O quadro econômico se deteriorava, sendo que, em 1963, a inflação já 
chegava a 25%, e o PIB dava sinais de desaceleração. Jango levou para o 
 
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Ministério da Fazenda um reformista conservador, sendo questionado pela 
esquerda; 
 
- Apesar de Jango estender, em 1963, direitos aos trabalhadores rurais, 
por meio do Estatuto do Trabalhador Rural, a questão agrária se agudizava com 
latifundiários armando milícias privadas e camponeses ocupando terras e 
tomando medidas de defesa; 
- Os militares de baixo escalão eram inelegíveis para mandatos 
legislativos. Em 1962, alguns sargentos se candidataram e foram eleitos, mas o 
Supremo Tribunal Federal reafirmou sua inelegibilidade, o que os levou a 
organizarem um movimento de reação a esse fato, tomando centros 
administrativos de Brasília. O movimento foi dominado, mas contribuiu para uma 
crise no governo; 
- Havia a pressão norte-americana: o presidente norte-americano 
colocava-se abertamente contra o governo de Jango, e sua embaixada 
encaminhava recursos somente a governadores e prefeitos da oposição; (Netto, 
2014) 
Era grande a crise do governo. Em 13 de março de 1964, Jango fez um 
grande comício a favor das reformas, em frente à Central do Brasil, no Rio de 
Janeiro. 
Na noite de 31 de março para 1º de abril de 1964, foi deflagrado o golpe 
militar, tomando posse, em 15 de abril, o general Castelo Branco. 
Silva (2011) afirma que o período da Ditadura Militar não foi homogêneoe deve ser pensado como um processo com períodos bem demarcados: 
a) De 1964 a 1968, com a definição das bases do Estado de Segurança Nacional, 
a formulação de novos mecanismos de controle e a reforma constitucional; a 
institucionalização do novo Estado e a sua grande crise em 1967-1968, quando o governo 
militar institui o Ato Institucional nº 5; 
b) De 1969 a 1974, o período mais rígido da ditadura militar; 
c) De1974 a 1985, a distensão a retirada dos militares da cena política, como atores 
de frente (Silva, 2011, p. 48). 
 
 
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A Ditadura Militar intensificou as características da modernização 
conservadora. Para Behring e Boschetti (2006): 
(...) a ditadura militar reeditou a modernização conservadora como via de 
aprofundamento das relações sociais capitalistas no Brasil, agora de natureza 
claramente monopolista (Netto, 1991), reconfigurando nesse processo a questão 
social, que passa a ser enfrentada num mix de repressão e assistência, tendo em vista 
manter sob controle as forças do trabalho que despontavam. Nesse quadro, houve 
um forte incremento da política social brasileira (Behring; Boschetti, 2006, p. 136). 
Assim, várias políticas sociais foram inseridas, a maioria restritivas 
quanto ao acesso, ou seja, políticas para trabalhadores que contribuíam. De 
acordo com o livro Política Social: fundamentos e história, de Beehring e 
Boschetti (2006), citamos os seguintes tópicos: 
1. A unificação, a uniformização e a centralização da previdência social 
no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), em 1966, retiraram 
definitivamente os trabalhadores da gestão da previdência social, que 
passou a ser tratada como questão técnica e atuarial. 
2. Em 1967, os acidentes de trabalho passaram também para a gestão 
do INPS, apesar de certa contrariedade das seguradoras privadas. 
3. Ao lado disso, a previdência foi ampliada para os trabalhadores 
rurais, por meio do Funrural, política que adquiriu, neste caso, um caráter 
mais redistributivo, já que não se fundava na contribuição dos trabalhadores, 
mas numa pequena taxação dos produtores, apesar de seu irrisório valor de 
meio salário mínimo (1971). 
4. A cobertura previdenciária também alcançou as empregadas 
domésticas (1972), os jogadores de futebol e os autônomos (1973), e os 
ambulantes (1978). 
5. Em 1974, criou-se a Renda Mensal Vitalícia para os idosos pobres, 
no valor de meio salário mínimo para os que tivessem contribuído ao menos 
um ano para a previdência. 
 
 
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6. O Ministério da Previdência e Assistência Social foi criado em 1974 
incorporando a LBA, a Fundação Nacional para o Bem-estar do Menor 
(Funabem, criada em 1965) - que veio a substituir o antigo SAM extinto em 
1964, sem necessariamente alterar seu caráter punitivo, mantido no Código 
de Menores de 1979 -, a Central de Medicamentos (CEME) e a Empresa de 
Processamento de Dados da Previdência Social (Dataprev). 
7. Esse complexo se transformou, com uma ampla reforma 
administrativa, no Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social 
(SINPAS), em 1977, que compreendia o INPS, o Instituto Nacional de 
Assistência Médica (Inamps) e o Instituto Nacional de Administração da 
Previdência Social (Iapas), além daquelas instituições referidas acima. 
8. Nessa associação entre previdência, assistência e saúde, impôs-
se uma forte medicalização da saúde, com ênfase no atendimento 
curativo, individual e especializado, em detrimento da saúde pública, em 
estreita relação com o incentivo à indústria de medicamentos e 
equipamentos médico-hospitalares, orientados pela lucratividade (Bravo, 
1996; 2000). 
9. Além dessa intensa institucionalização da previdência, da saúde 
e, com muito menor importância, da assistência social, a ditadura 
impulsionou uma política nacional de habitação com a criação do Banco 
Nacional de Habitação (BNH). Combinava-se a essa política a criação de 
fundos de indenização aos trabalhadores e que constituíram mecanismos 
de poupança forçada para o financiamento da política habitacional, dentre 
outras (FGTS, PIS, Pasep) (Behring; Boschetti, 2006). 
Para o Serviço Social, a ditadura resultou em um trabalho de mobilização 
política desarticulado: o espaço de atuação dos assistentes sociais eram as 
políticas sociais em expansão e os programas de desenvolvimento de 
comunidade: 
 
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(...) tendo como principal função eliminar a resistência cultural às inovações, enquanto 
obstáculos ao crescimento econômico, bem como integrar as populações aos programas 
de desenvolvimento (Silva, 2011, p. 49). 
Tema 5: Serviço Social e desenvolvimentismo 
Ortiz (2010) faz uma reflexão do projeto reformista conservador no 
contexto brasileiro, relacionando-o à profissão. No contexto de 
desenvolvimentismo, toma-se como referência a família católica e burguesa. É 
muito importante pensar como se considerava a família nesse contexto e o 
porquê de hoje, no exercício profissional, os docentes do curso de Serviço Social 
problematizarem o termo “família desestruturada”. 
No contexto do desenvolvimentismo, na profissão, a família é a “célula 
mater”, e, de acordo com os preceitos cristãos, ela é uma estrutura importante 
para a salvação dos homens, pois, sem ela, o homem não tenderá a cumprir sua 
missão terrestre: 
(...) cabe a família zelar pela educação e pela sedimentação do caráter de seus entes; 
uma vez não conseguindo cumprir tais funções, considera-se a família como 
desestruturada e diretamente responsável pelos problemas sociais (Ortiz, 2010, p. 93). 
Assim, há no pensamento conservador, somado à ideologia da Igreja 
Católica, uma visão ideal de família. A família era objeto da intervenção 
profissional nessa condição: 
(...) quando esta se configurava diferentemente do conhecido núcleo familiar burguês 
(composto por pai, mãe e filhos), como por exemplo: famílias em que os pais eram 
separados; ou as mães eram solteiras ou trabalhadoras, ou os pais eram desconhecidos 
ou supostamente irresponsáveis quanto a educação moral de seus descendentes (Ortiz, 
2010, p. 93). 
Os assistentes sociais reconheciam as desigualdades e a “carência 
material”, mas isso era um fato natural, que advinha da imperfeição do homem. 
As famílias desestruturadas, nesse contexto, “sempre existiram e existirão, 
gerando os problemas sociais advindos de sua inoperância, enquanto provedora 
e exemplo de boa conduta moral diante de seus filhos” (Ortiz, 2010, p. 93). 
 
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Outra característica, para a autora, do pensamento conservador é o 
anticapitalismo romântico, que seria compreender a desigualdade, mas não 
defender a extinção do sistema, defendendo inclusive alguns elementos da 
ordem burguesa como a comunidade e família. (Ortiz, 2010, p. 93) 
Outra característica do projeto reformista é a visão neotomista, que 
reconhece que o homem é um ser dotado de razão, mas que deverá dominar 
seus instintos e paixões para viver em sociedade com outros homens, para o 
bem comum. É necessário para isso uma reforma moral. Caberá à sociedade 
assegurar condições dignas ao trabalhador, que não poderá refutar a ajuda e 
não desejar o que é do outro. (Ortiz, 2012, p. 97). 
Nesse sentido, não se critica a sociedade capitalista, mas o que faz as 
pessoas se afastarem de uma perspectiva cristã. 
O projeto reformista conservador, sob a ótica da Igreja, possui, portanto, um fundamento 
centra l- todos são iguais perante Deus, independentemente de sua condição terrena 
(social); logo, a luta entre diferentes classes é absurda e deve ser contida através do 
controle de excessos por parte dos capitalistas e da educação moral para os trabalhadores 
(Ortiz, 2012, p. 98). 
 
Em relação a 1960, esta foi considerada a década do desenvolvimento, 
decisão tomada na Assembleia de Organização das Nações Unidas, em 1961, 
quando o presidenteKennedy propôs a Aliança para o Progresso. Nessa 
década, o Serviço Social, então, assumiu a direção do desenvolvimento: 
Explicitaremos essa posição a partir dos Anais do II Congresso Brasileiro de Serviço 
Social, organizado pelo CBCISS, realizado em 1961, na cidade do Rio de Janeiro. O 
Congresso teve como tema central “O Desenvolvimento Nacional para o Bem-Estar 
Social” (Aguiar, 2011, p.132). 
Por esse Congresso, a visão é que o Serviço Social deve desempenhar 
um papel no desenvolvimento do país. Esse discurso foi associado, na profissão, 
ao Desenvolvimento de Comunidade, o que nos mostra como o profissional está 
vinculado à manutenção da ordem estabelecida. 
 
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Síntese 
Chegamos ao final deste percurso! 
Iniciamos com a imagem que mostra uma mulher na cozinha, nas décadas 
de 1950 e 1960, naturalizando uma visão burguesa e conservadora do papel da 
mulher na sociedade. Em seguida, discorremos sobre o projeto reformista 
conservador no Brasil, que se iniciou com a política desenvolvimentista. 
Conhecemos a teoria positivista e a teoria norte-americana no Serviço Social 
Brasileiro. Discutimos os antecedentes históricos da Ditadura Militar no Brasil. 
No final, fizemos uma breve análise do Serviço Social e do desenvolvimentismo. 
 
 
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