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TÓPICOS GRAMATICAIS – ASPECTOS MORFOLÓGICOS E SINTÁTICOS AULA 6 Profª Yara Silva 2 CONVERSA INICIAL Os constantes avanços tecnológicos trouxeram novas formas de comunicação, tanto na produção quanto na recepção de textos. O dinamismo dos meios, em especial, a rapidez cada vez maior da transmissão de informação e a consequente possibilidade quase infinita de geração de “subinformações” possibilita ao leitor a escolha do caminho a se percorrer pelo texto. Nesse ambiente cibercultural, as novas formas de emprego da língua acarretam o surgimento de novos gêneros textuais, e isso torna necessária a reflexão acerca desses novos conteúdos e do novo posicionamento dos enunciadores do texto. Vamos conhecer esse percurso! TEMA 1 – CIBERCULTURA Cibercultura é um novo termo incorporado ao nosso vocabulário. Tal prefixo, “ciber”, já dá a entender tratar-se de algo relacionado à tecnologia. "Cyber" é o diminutivo da palavra "cybernetic", que tem como tradução: algo (coisa ou lugar) que possui uma grande concentração de tecnologia avançada, em especial computadores, internet etc. Juntando essa ideia à palavra “cultura”, entendida como conjunto de hábitos, crenças e conhecimentos de uma sociedade, "cibercultura" trata-se de hábitos, atitudes e modos de pensamentos relacionados ao espaço virtual, propiciado pela rede mundial de computadores. De acordo com Lemos (2008, p. 11), cibercultura é a “cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais”. Para Lévy (1999, p. 14), a cibercultura pode ser definida como “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. Ao pensarmos no que temos hoje em tal espaço, podemos confirmar que muitos (quiçá todos) dos hábitos dos países ocidentais tiveram influência do mundo virtual. De acordo com Lemos (2008, p. 11), a cibercultura é “a forma sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base microeletrônica que surgiram com convergência das telecomunicações com a informática na década de 70”. A cibercultura surge como uma nova forma de ver e se relacionar com o mundo, alterando a maneira como são executadas as práticas sociais, estudo, 3 trabalho, lazer, leitura, escrita, comunicação, entre outros. Como ênfase, a questão da escrita é modificada e, para se adequar a esse mundo, passa a ser, também, entendida e utilizada de maneira diferente. 1.1 Caracterização da cibercultura A ideia de cibercultura se dá a partir da década 1970 com o surgimento da informática e, principalmente, a partir das duas décadas seguintes, com a popularização da internet e seu acesso a ela. Nesse contexto, o computador passa a ser o equipamento responsável por estabelecer conexão com os outros computadores por meio da rede. Com a possibilidade de acesso à tecnologia, houve a modificação de textos, seja inserindo novos trechos, seja copiando e colando novos. Todavia, como tudo que é novo, tal mídia trouxe debate, mais precisamente preconceito, entre os estudiosos e usuários do meio. Para Capparelli (2005), é normal que as pessoas se alarmem toda vez que surge um novo meio de comunicação. Isso porque se imagina que o novo sobrepujará o antigo, inclusive aqueles mais prestigiados. Além disso, questiona- se sobre o impacto que esses terão no âmbito da cultura. De acordo com o autor, foi o que aconteceu com a escrita, em detrimento da fala, com o rádio, cinema e televisão. Diante desse contexto, pode-se compreender que apesar de o temor ante a novas possibilidades de interação e expressão cultural, nem sempre o novo extinguiu o antigo. No contexto da cibercultura, a sociedade foi compreendendo que as novas modalidades de escrita e leitura exigem uma nova forma de pensamento e expressão, sem, entretanto, eliminar antigas. Nessa conjuntura, portanto, cabe aos usuários compreender e analisar como são essas novas expressões e adequar o discurso a tais fins. De acordo com Diniz (2008), a cibercultura é o espaço que se estrutura na informática e na internet, espaço responsável pela divulgação e circulação de elementos e movimentações culturais na rede. Para Lévy (1999), a cibercultura não designa apenas a infraestrutura material da comunicação no universo digital como também o universo oceânico de informações abrigadas por ela. Além disso, da mesma forma que os seres humanos se valem desse universo, também o alimentam. Isso pode ser comprovado por meio dos textos escritos colaborativamente ou, mais comum 4 ainda, nas pesquisas feitas diariamente em sites de buscas, que trazem informações sobre quaisquer assuntos. Tanto é que a máxima “se não está na internet, não existe” é cada vez mais verdadeira. É válido ressaltar, também, a citação de Lévy (1999, p. 49-50), ao defender que: a extensão do ciberespaço acompanha e acelera uma virtualização geral da economia e da sociedade. Das substâncias e dos objetivos voltamos aos processos que o produzem. Dos territórios, pulamos para o nascente, em direção às redes móveis que os valorizam e as desenham. Dos processos e das redes, passamos a competências e aos cenários que as determinam, mais ainda. Os suportes de inteligência coletiva do ciberespaço multiplicam e colocam em sinergia as competências. Do design à estratégia, os cenários são alimentados pelas simulações e pelos dados colocados à disposição pelo universo digital. Ubiquidade da informação, documentos interativos interconectados, telecomunicação recíproca e assíncrona em grupo e entre grupos: ciberespaço faz dele o vetor de um universo aberto. Simetricamente a extensão de um novo espaço universal dilata o campo de ação dos processos de virtualização. Como não poderia deixar de ser, a leitura e produção de textos foram bastante modificadas no contexto cibercultural. 1.2 Características da leitura no ciberambiente Novos termos agregados ao ambiente virtual explicam sobre as novas práticas de leitura. De acordo com Capparelli, “ao invés de se ler, navega-se no hipertexto”. Tal afirmação é muito acertada, pois a experiência de leitura, mas também do leitor que se depara com o texto, é diferente. Para ele, navegar significa: soltar as amarras, parar em certos portos ou lançar âncoras aqui e ali para observar as características dessa convergência de imagens, sons, escrita e movimento num único suporte informático. E no ato de navegar, o navegador aventura-se; age como um caçador em busca de uma caça precisa; ou bisbilhota as ilhotas durante o percurso, caminha pelas praias dos textos, incursiona nos conteúdos e, depois, reparte-se para novas navegações; acontece que nem sempre se volta ao porto, indo de um lugar para o outro, até que se desliga o computador e se vai dormir. (Capparelli, 2005, p. 58-59) A citação de Capparelli pode ser parafraseada, utilizando-nos de nossas práticas na web. Iniciamos a busca para conhecer determinado assunto e, seguindo os hiperlinks, vamos nos distanciando do tema principal e, quando percebemos, assistindo a vídeos que nada têm relacionados ao tema inicial. Para Santaella (2013), uma das características na leitura em tela é que ao mesmo tempo em que se lê na internet, está sendo feito um certo tipo de 5 edição no texto, já que é o leitor quem determina qual será a sequência da leitura, a chamada leitura não linear. Da mesma forma, a colaboração das pessoas que leem o texto e vão fazendo conexões, acrescentando e enriquecendo a leitura. Além disso, o processo de leitura na internet é diferente, dada a grande quantidade de recursos semióticos, seja questão gráfica, imagens, fotos, áudio, que se unem ao conteúdo do texto para lhe trazer um significado mais aprofundado, afinal, “não são poucas asimplicações culturais, comunicacionais e cognitivas que a hipermídia, entendida em seu sentido mais amplo, traz para os modos de se produzir, transmitir e receber informação, conhecimento e arte” (Santaella, 2013, p. 249). TEMA 2 – A NOÇÃO DE VIRTUAL NA CONDIÇÃO CONTEMPORÂNEA Quando ouvimos a palavra "virtual", logo imaginamos algo que não existe fisicamente ou que não é real, que é ilusório, imaginário. Entretanto, o filósofo francês Pierre Lévy afirma que o virtual está associado ao atual e não ao real, como normalmente se imagina. A palavra virtual, originalmente, significa "que se pauta em força, potência". Sendo assim, o virtual é aquilo que está em potência e em caminho de atualização; sua oposição seria o atual, e não o real. 2.1 O que é o virtual? Para Lévy (1999), o virtual pode ser entendido levando em conta a situação de uma árvore, que potencialmente está presente desde o início, desde a semente, levando aos pensamentos de que o virtual tende a atualizar-se – como a semente que se torna árvore – em um esforço propício para a transformação de sua realidade germinadora - e que sua oposição não se dá para com o real, mas ao atual. Lévy considera a oposição entre o real e virtual como “fácil e enganosa”. Para ele, o virtual, conforme vai se atualizando, sem ainda estar concretizado, opõe-se ao atual. Ele defende que contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização. (Lévy, 1999, p. 16) 6 Dessa forma, o virtual é a condição do que fornece as tensões para o processo criativo, que tem relação com a atualização. Essa é a ideia presente no processo de construção textual, que surge do trabalho dinâmico nos procedimentos de fundo estrutural. 2.2 Virtualização do texto Para Lévy (1999), a virtualização, passagem do atual para o virtual, faz com que este assuma o lugar do original em contraponto à atualização do atual. É o que ele chama de “desterritorizalização”, que, mesmo que exijam suportes físicos, não possui, de fato, “um lugar”. Quando uma pessoa, uma coletividade, um ato, uma informação se virtualizam, eles se tornam “não-presentes”, se desterritorializam. Uma espécie de desengate os separa do espaço físico ou geográfico ordinários e da temporalidade do relógio e do calendário. É verdade que não são totalmente independentes do espaço-tempo de referência, uma vez que devem sempre se inserir em suportes físicos e se atualizar aqui ou alhures, agora ou mais tarde. No entanto, a virtualização lhes fez tomar a tangente. (Lévy, 1999, p. 21) Assim, para Lévy (1999), o texto é uma entidade virtual e abstrata, atualizado por meio da leitura. Ademais, o sociólogo entende que, ao vincular a leitura à passagem do virtual ao atual criam-se novas relações e novos vínculos entre os procedimentos ligados à virtualização, vista por ele como uma atualização. Nessa perspectiva, o leitor assume um papel ativo e de destaque diante das escolhas que faz para completar o percurso da leitura. Desse modo, com um leitor pró-ativo e imediatista, é necessário pensar a produção de textos que sejam completos, mas que também atendam à velocidade da mensagem escrita. Portanto, é preciso que o texto se faça entender, todavia, de maneira concisa, e, ainda assim, com uma vasta possibilidade de informações. TEMA 3 – DO TEXTO AO HIPERTEXTO A escrita foi uma invenção revolucionária, responsável por demarcar a separação entre a história e a pré-história. Em diferentes formatos, desde as tábuas de argila até hoje, com o computador e internet, ela continua sendo parte importante da sociedade, já que possibilita o acesso ao conhecimento, além de permitir comunicação entre os indivíduos. Não só a escrita, mas o texto em si esteve presente em diferenças eras. Agora, na Era da Informação, o texto é 7 apresentado em um novo suporte: a tela. Mais do que isso, é a primeira vez que foi possível, a partir de um texto, direta e dinamicamente, fazer conexão com outros, por meio do hipertexto. 3.1 Texto Texto é uma palavra oriunda do latim textum, que tem como significado tecido, trama, entrelaçamento. Assim, ao se valer de palavras, orações e períodos, o texto vai sendo tecido. De início, é importante deixar evidente a ideia de que o texto é um todo significativo, isto é, uma forma de comunicação, que precisa ter sentido e que tem um objetivo, seja informar, descrever, argumentar, entre outros. De acordo com Marcuschi (2009, p. 30), texto “é o resultado atual das operações que controlam e regulam as unidades morfológicas, as sentenças e os sentidos durante o emprego do sistema linguístico numa ocorrência comunicativa”. Para ele, o que faz um texto ser um texto é a “discursividade, inteligibilidade e articulação que ele põe em andamento” (Marcuschi, 2009, p. 30). Koch e Travaglia (1992, p. 38) definem texto como: uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão. No entanto, é preciso deixar evidente que a construção do texto se dá no momento da leitura. Afinal, citando ainda Marcuschi (2009, p. 72), “texto é um evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas”. Dessa forma, o texto necessita da participação do leitor na construção do sentido, como asseverado por Koch (1997, p. 25), “o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele, no curso de uma interação”. 3.2 Hipertexto O hipertexto é também um texto. No entanto, ele surge com maior evidência diante do contexto tecnológico. Se pensamos na formação do termo, hiper significa “grande, intenso, excesso”. Relacionado ao vocábulo “texto”, entende-se o hipertexto como aquele que vai além do texto. Em seu uso, ele 8 oferece além do que está escrito ali, já que possibilita interação com outros textos, de maneira dinâmica, em tempo real, por meio da internet. O termo foi popularizado pelo sociólogo estadunidense Theodor H. Nelson, em 1963, que definiu hipertexto como “escritas associadas não sequenciais, conexões possíveis de se seguir, oportunidades de leitura em diferentes direções”. Em outras palavras, o hipertexto é um texto que se apresenta em um suporte tecnológico e se caracteriza pela quebra da linearidade e sequencialidade. Lévy (2011, p. 44) assevera que “a abordagem mais simples do hipertexto é a de descrevê-lo por oposição a um texto linear, como um texto estruturado em rede”. Todavia, se pensarmos bem, a ideia de hipertexto não surge somente com o advento da internet. As notas de rodapé nos textos impressos, por exemplo, já encaminhavam o leitor para novos textos, sejam conceitos ou novas referências, que possibilitaram expandir a leitura. Marcuschi (1999) defende que ele não é novo no que diz respeito à concepção, mas, sim, na tecnologia, que possibilita uma nova forma de textualidade. Tal expansão se dá, também, por meio dos elementos visuais, que conectam, entre si, tanto trechos de textos verbal como de informação não verbal. A escolha da fonte e tamanho de letra, juntamente com cores, imagens e símbolos conferem ao leitor interatividade, mas também maior responsabilidade ao ato de ler. Se em um texto impresso a leitura era linear, já que o texto indicava o caminho a ler percorrido, agora, toda a ação fica a cargo do leitor, que passa a ser um sujeito ativo no processo. É o que afirma Lévy (2011, p. 20). Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras,páginas, imagens, gráficos ou partes gráficas, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda conosco, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Isso porque cada nó pode conter uma rede inteira Para Koch (2003 p. 63), os links “permitem ao leitor realizar livremente desvios, fugas, saltos instantâneos para outros locais da rede, de forma prática, cômoda e econômica”. De acordo com Landow (1992, p. 73), “comparado com o texto impresso, a forma eletrônica parece relativamente dinâmica, já que sempre permite a correção, a atualização e outras modificações similares”. 9 Assim, com o hipertexto, tem-se uma nova dinâmica no contato com o texto. Ao mesmo tempo em que se pode colaborar com a escrita, pode-se definir o processo de leitura como intrínseco à participação do sujeito na construção de sentido. TEMA 4 – GÊNEROS HIPERTEXTUAIS – PARTE 1 Diante das mudanças oriundas da criação do hipertexto no ambiente digital, percebemos que as práticas de leitura e escrita dos usuários também mudaram. Com isso, surgiram novos suportes, mas também novos gêneros que estão presentes nas práticas sociais. Nesse contexto, há textos aos quais se agregam som, imagens, movimentos e animações que resultam em uma leitura não linear, interativa e, também, intertextual. Consoante Marcuschi (1999, p. 8), no hipertexto, observam-se possibilidades de construção de sentido plurinearizada: O hipertexto não é um gênero textual, nem um simples suporte de gêneros diversos, mas um tipo de escritura. É uma forma de organização cognitiva e referencial cujos princípios constituem um conjunto de possibilidades estruturais que caracterizam ações e decisões cognitivas. Com o aumento do acesso à rede, aumentou também o acesso ao hipertexto, havendo modificação na recepção do texto, na atuação do autor e do leitor. E, com isso, a presença de novos gêneros textuais. 4.1 Gêneros textuais Para Marcuschi (2012, p. 159), os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social, ou seja, os gêneros fazem parte de nossas vidas. Isso implica a ideia de que, consequentemente, os gêneros são adeptos às transformações da humanidade, integrando- se socialmente à cultura na qual está sendo exposto, surgindo, assim, a necessidade de adaptação e o aparecimento desses novos gêneros. Estabelecendo-se como um fenômeno histórico-social, devem ser analisados partindo-se dessa premissa. Dessa forma, é necessário analisar o lugar social da interação, dos enunciadores e interlocutores e a finalidade dessa interação. Afinal, a produção de discursos não acontece no vazio. Todo texto se organiza dentro de determinado gênero. 10 Com o desenvolvimento tecnológico, novos gêneros e novos suportes surgiram – ou foram adaptados. A esse grupo de novas modalidades de gêneros deu-se o nome de “gêneros digitais”. 4.2 E-mail O e-mail pode ser considerado como um dos mais relevantes, presentes e utilizados na esfera digital. Também conhecido como carta ou correio eletrônico, é uma ferramenta de comunicação assíncrona. O suporte é o meio virtual e tem como finalidade o envio de mensagens pessoais ou profissionais. A linguagem se adequa à finalidade e aos interlocutores. Para Marcuschi (2012, p. 16): Correio eletrônico ou e-mail é uma forma de comunicação escrita normalmente assíncrona de remessa de mensagens entre os usuários do computador. Em certas circunstâncias, ele pode apresentar uma defasagem mínima de tempo entre uma remessa e a resposta, dando a nítida sensação de turnos em andamento, quando ambos estão em conexão on-line, ou então ter defasagem de dias, semanas e meses. No geral, os interlocutores são conhecidos ou amigos e raramente ocorre o anonimato, que é uma violação de normas do gênero (tal como uma carta anônima). Esta característica o diferencia dos bate- papos. Por outro lado, os e-mails em geral são pessoais, o que os diferencia das listas de grupos ou fóruns de discussão. Pode-se entender que o e-mail está muito próximo do que é a carta, bilhete ou mesmo um memorando. A estrutura é a mesma, com vocativo, desenvolvimento, despedida e assinatura, sempre se baseando na relação de proximidade ou não entre os interlocutores. 4.3 Videoconferência O gênero textual videoconferência é um gênero oral, desdobramento da conferência, uma apresentação ou discurso, que pode ser pública ou privada. A diferença entre eles é o suporte, já que o primeiro acontece no meio virtual e, o segundo, no presencial. Costa (2008, p. 65) define conferência: [...] geralmente se refere a uma preleção em público ou exposição oral perante um auditório de um tema da especialidade do orador [...]. O termo conferência pode constituir-se em outros gêneros ou subgêneros, conforme a esfera ou o meio em que circula, como: conferência médica ou odontológica; conferência particular, conferência religiosa. 11 Como características, há a predominância da apresentação oral, que pode se embasar em tópicos escritos, que também são apresentados ao público. A linguagem é formal, e o intuito é apresentar um conteúdo. TEMA 5 – GÊNEROS HIPERTEXTUAIS – PARTE 2 5.1 Blog O blog foi um gênero textual bastante explorado desde que surgiu. Com a possibilidade de autoria, com a multiplicidade de configurações, objetivos, conteúdos e tipos de linguagem, é um interessante gênero a ser analisado. Trata-se da virtualização do diário pessoal. O gênero atingiu um público tão grande, que ser “blogueiro”, aquele que produz e compartilha o conteúdo, passou a ser profissão. Importante ressaltar que, com o passar do tempo, a ideia de diário on-line foi deixada de lado, e o intuito ficou no compartilhamento de conteúdo, seja para informação ou conhecimento. Marcuschi (2012, p. 72) menciona que: Os blogs têm uma história própria, uma função específica e uma estrutura que os caracteriza como um gênero, embora extremamente variados nas peças textuais que albergam. Hoje eles são praticados em grande escala e estão fadados a se tornarem cada vez mais populares pelo enorme apelo pessoal. Nos blogs, os interlocutores podem interagir com o texto, comentando as postagens ou interagindo entre leitores, por meio do gênero “comentário de blog”. Nesse caso, a linguagem utilizada depende do conteúdo do blog, mas, geralmente, prevalece a linguagem informal. 5.2 Chat O chat é um gênero textual virtual cada vez mais utilizado. A ideia central é representar, de forma virtual, por meio da escrita, uma conversa presencial. O gênero se caracteriza por textos curtos, em formato de perguntas e respostas, visando sempre a agilidade na escrita, que se aproxima das marcas da fala. Tal diálogo pode se dar entre duas ou mais pessoas, como em salas de bate-papo ou aplicativos de mensagens. Nesse caso, a comunicação acontece em tempo real, para que possa haver interação entre os participantes. 12 Para Marcuschi (2012, p. 73), os chats são “produções escritas no formato de diálogo numa sequência imediata e retornos rápidos com o sistema de seleções de parceiros, podendo ocorrer muitas confusões de multiplicidade de indivíduos na sala”. Na construção dos textos, há a presença de marcas de oralidade, afinal, é uma tentativa de reprodução de uma conversa presencial, juntamente com a presença de abreviações, primando pela agilidade na escrita. A partir daí, tem- se a presença do “internetês”, que é a linguagem utilizada na internet, com as características específicas para esse meio, que são as abreviações, as marcas de oralidade e a presença de emotions (ícones que expressam sentimentos/ sensações),uso de onomatopeias, interjeições, repetição de sinais de pontuação que trazer maior expressividade à conversa. Marcuschi (2012) traz que os chats surgem no verão de 1988, na Finlândia, quando Jarkko Oikarinen escreveu o primeiro IRC (Internet Relay Chat), na Universidade de Oulu, com o objetivo de estender os serviços dos programas BBS (os e-mails como se conhece hoje) para comunicações em tempo real. Foi então, com o surgimento do IRC, que teve início o funcionamento de uma rede pessoal de contatos que, inicialmente restrita a amigos e, depois, aos norte-americanos, passou a fazer parte a ser utilizada no mundo, por meio da internet. 5.3 Lista de discussão As listas de discussão são grupos formados para debater sobre um tema de mesmo interesse. A contato entre as pessoas se dá por meio de e-mails, enviados a todos os membros registrados. A lista de discussão é um gênero textual muito comum no meio acadêmico, mas também surge em grupos com interesses afins, como gestantes, grupos de filosofia, religião, entre outros, como universitários que criam listas para debater sobre determinado tema. A lista se inicia a partir de um moderador, que é o responsável pelo gerenciamento das mensagens e inserção de novos membros. NA PRÁTICA O uso do internetês é um grande debate nas escolas. Como é cada vez mais comum o acesso dos jovens ao mundo virtual, é cada vez mais comum que 13 eles se utilizem da linguagem abreviada, afinal, esse contexto de escrita exige pressa. Mas será que ela é um problema para o uso da língua materna? Como você trabalharia com esse fenômeno? Ainda com relação aos bancos escolares, cabe refletir sobre como seria uma aula em que se ensina a fazer pesquisas na internet. Será que todos os sites são confiáveis? No que os hiperlinks podem auxiliar na produção de uma pesquisa? Como você agiria com seus alunos? FINALIZANDO Fazemos parte de um grupo que recebe a tecnologia como novidade. Hoje, nativos digitais interagem na rede como se sempre fosse dessa forma. Para nós, as novidades e as possibilidades de acesso ao conhecimento tornam a leitura e a escrita uma tarefa nova, adequando-nos aos novos formatos e suportes. Se o ensino já foi passivo, a leitura, também. Hoje, o posicionamento do autor e do receptor de textos são diferentes, e muito mais ricos. 14 REFERÊNCIAS CAPARELLI, S. Novos formatos de leitura e internet. In: RÖSING, T. M. K.; BECKER, P. R. Leitura e animação cultural: repensando a escola e a biblioteca. Passo Fundo: UPF, 2005. COSTA, S. R. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. DINIZ, L. A. G. Cibercultura, hipertexto e cidade: a literatura e as artes no contexto das tecnologias digitais. São José do Rio Preto: [s.n.], 2008. KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. 4. ed. São Paulo: Contexto, 1992. LANDOW, G. P. Hipertexto: la convergencia de la teoría crítica contemporánea y la tecnología. Tradução de Patrick Ducher. Barcelona: Paidós, 1992. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. MARCUSCHI, L. A. Linearização, cognição e referência: o desafio do hipertexto. 1999. Disponível em: <http://web.uchile.cl/facultades/filosofia/Editorial/libros/discurso_cambio/17Marc us.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2022. SANTAELLA, L. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo: Paulus, 2013. TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 2000.