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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE MATERIAIS ENG02002 MATERIAIS CONSTRUÇÃOMECÂNICA TRABALHO - AÇOS ANÁLISE METALOGRÁFICA DE UM EIXO DE TRANSMISSÃO AUTOMOTIVO ANDRÉ ZOCOLOTTI RICARDO JOSÉ BELIBIO RODRIGO VIEIRA OLIVEIRA GRUPO H Porto Alegre 2024 ANDRÉ ZOCOLOTTI RICARDO JOSÉ BELIBIO RODRIGO VIEIRA OLIVEIRA ANÁLISE METALOGRÁFICA DE UM EIXO DE TRANSMISSÃO AUTOMOTIVO Trabalho apresentado em 2024/1 como requisito parcial para obtenção de aprovação na disciplina de Materiais de Construção Mecânica l do curso de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Orientador: Prof. Marcelo Mabilde Porto Alegre 2024 RESUMO O aço, uma liga de ferro e carbono, é amplamente utilizado devido às suas propriedades mecânicas, elétricas, magnéticas e térmicas. Este estudo justifica-se pela necessidade de caracterizar materiais que compõem componentes automotivos, especificamente um eixo de transmissão automotivo, essencial para entender os tratamentos térmicos e propriedades mecânicas aplicadas durante sua fabricação. Destarte, o objetivo deste trabalho é realizar uma análise completa do eixo de transmissão automotivo, identificando a composição química, microestruturas, tratamentos térmicos aplicados e inclusões não metálicas presentes no material. Isso permitirá uma compreensão detalhada das características e comportamentos do aço utilizado. A metodologia aplicada envolveu a preparação de cinco amostras retiradas do eixo de transmissão, cada uma submetida a diferentes tratamentos térmicos: têmpera em óleo, têmpera em água, normalização, recozimento e uma amostra mantida em seu estado original. Inicialmente, foi realizada a medição da dureza das amostras utilizando um durômetro. Posteriormente, as amostras foram lixadas, polidas e submetidas a ataque químico com Nital 2% para revelação das microestruturas. A análise visual das microestruturas e inclusões não metálicas foi realizada utilizando microscópios ópticos com ampliações variadas. Além disso, o teor de carbono foi analisado com o auxílio do software ImageJ, que estima a porcentagem de áreas claras e escuras nas imagens geradas pelo microscópio, os resultados mostraram que a amostra recozida apresentou um percentual de carbono em torno de 0,45%, com inclusões do tipo óxido globular. A têmpera em água resultou na maior dureza devido à formação de martensita, paralelamente a têmpera em óleo apresentou uma dureza semelhante e uma microestrutura predominantemente de martensita. A análise da amostra normalizada identificou uma microestrutura de ferrita com perlita grossa e dureza intermediária. A amostra original indicou fortemente um tratamento térmico superficial, evidenciado pela diferença de dureza entre o centro e as extremidades. Em conclusão, a caracterização completa das amostras permitiu identificar o tipo de aço utilizado no eixo de transmissão e os tratamentos térmicos aplicados, destacando a importância das técnicas de metalografia e a relevância dos tratamentos térmicos na definição das propriedades finais do material. Palavras-chave: Aço, Metalografia, Microestruturas, Tratamentos Térmicos. ABSTRACT teel, an alloy of iron and carbon, is widely used due to its mechanical, electrical, magnetic, and thermal properties. This study is justified by the need to characterize materials that make up automotive components, specifically an automotive drive shaft, which is essential for understanding the heat treatments and mechanical properties applied during its manufacturing. Therefore, the objective of this work is to conduct a comprehensive analysis of the automotive drive shaft, identifying its chemical composition, microstructures, applied heat treatments, and non-metallic inclusions present in the material. This will allow a detailed understanding of the characteristics and behaviors of the steel used. The methodology applied involved the preparation of five samples taken from the drive shaft, each subjected to different heat treatments: oil quenching, water quenching, normalization, annealing, and one sample kept in its original state. Initially, hardness measurements of the samples were performed using a hardness tester. Subsequently, the samples were ground, polished, and chemically etched with 2% Nital to reveal the microstructures. The visual analysis of the microstructures and non-metallic inclusions was carried out using optical microscopes with varied magnifications. Additionally, the carbon content was analyzed using ImageJ software, which estimates the percentage of light and dark areas in the images generated by the microscope. The results showed that the annealed sample had a carbon content of around 0.45%, with globular oxide-type inclusions. Water quenching resulted in the highest hardness due to the formation of martensite, while oil quenching showed similar hardness and a predominantly martensitic microstructure. The analysis of the normalized sample identified a ferrite microstructure with coarse pearlite and intermediate hardness. The original sample strongly indicated a surface heat treatment, evidenced by the difference in hardness between the center and the edges.In conclusion, the complete characterization of the samples allowed the identification of the type of steel used in the drive shaft and the applied heat treatments, highlighting the importance of metallographic techniques and the relevance of heat treatments in defining the final properties of the material. Keywords: Steel, Metallography, Microstructures, Thermal Treatments. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Procedimento de seccionamento da amostra (Colpaert, 2008)................................ 15 Figura 2 - Procedimento de lixamento da amostra (Notas de aula do prof. Marcelo Mabilde)16 Figura 3 -Classificação das inclusões segundo Jernkontoret. (Notas de aula do prof. Marcelo Mabilde).................................................................................................................................... 19 Figura 4 - Correlação entre as escalas de dureza (Notas de aula do prof. Marcelo Mabilde)...21 Figura 5 - Escala de dureza Rockwell (Callister, 2007)............................................................23 Figura 6 - Escala de dureza e formas de indentação (Callister, 2007)...................................... 23 Figura 7 - Tamanho dos tamanhos de grão conforme a ASTM (Colpaert, 2008).....................24 Figura 8 - Microestrutura de ferrita (Colpaert, 2008)............................................................... 25 Figura 9 - Microestrutura de austenita (Colpaert, 2008)...........................................................26 Figura 10 - Microestrutura de perlita (Colpaert, 2008).............................................................27 Figura 11 - Microestrutura de martensita (Colpaert, 2008)...................................................... 28 Figura 12 - Microestrutura de martensítica com carbonetos esferoidizados (Colpaert, 2008).......................................................................................................................................28 Figura 12 - Microestrutura de bainita (Colpaert, 2008)............................................................ 29 Figura 13 - Diagrama de fases Fe-C (Colpaert, 2008)..............................................................30 Figura 14 - Diagrama TTT para aço SAE/AISI 4340 (Atkins, 1977)................................... 31 Figura 15 - Diagrama CCT para aço SAE/AISI 4340 (Atkins, 1977)...................................... 33 Figura 16 - Aço AISI 52100 esferoidizado (Colpaert, 2008)................................................... 34 Figura 17 - Aço hipereutetóide com matriz de ferrita e cementita parcialmente esferoidizada. (Colpaert, 2008)........................................................................................................................ 35 Figura 18 - Eixo de transmissãoautomotivo analisado (Próprio autor, 2024)..........................38 Figura 19 - Durômetro realizando o teste de dureza na escala HRC (Próprio autor, 2024)..... 39 Figura 20 - Seccionamento da amostra (Próprio autor, 2024).................................................. 40 Figura 21 - Embutidora Struers Citopress-15 (Próprio autor, 2024).........................................40 Figura 22 - Processo de lixamento da amostra (Próprio autor, 2024)......................................41 Figura 23 - Processo de polimento da amostra (Próprio autor, 2024).......................................42 Figura 24 - Recipiente com Nital 2% (Próprio autor, 2024).....................................................42 Figura 25 - Amostra original embutida, sem ataque químico, apresentando secção transversal e longitudinal (Próprio autor, 2024).........................................................................................43 Figura 26 - Análise microscópica no Microscópio óptico Zeiss - (os autores, 2024)...............44 Figura 27 - Processo de têmpera em água 27-a e em óleo 27-b (os autores, 2024)..................46 Figura 28 -Amostra original com aumento de 100X (seção transversal no centro) (Próprios autores, 2024)............................................................................................................................48 Figura 29 -Amostra original com aumento de 100X (seção longitudinal na lateral) (Próprios autores, 2024)............................................................................................................................49 Figura 30 - Amostra original com ampliação de 1000X, corte transversal - centro, atacada com nital (Próprios autores, 2024)........................................................................50 Figura 31 - Amostra original com ampliação de 1000X, corte transversal - lateral, atacada com nital (Próprios autores, 2024)........................................................................51 Figura 33 - Amostra recozida com aumento de 100X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024)............................................................................................................................54 Figura 34 - Amostra recozida com aumento de 1000X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024)............................................................................................................................54 Figura 35 - Análise do percentual de carbono utilizando o Software ImageJ (Próprios autores, 2024)......................................................................................................................................... 55 Figura 36 - Amostra normalizada com aumento de 100X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024)............................................................................................................57 Figura 37 - Amostra normalizada com aumento de 1000X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024)............................................................................................................58 Figura 38 - Amostra temperada com água com aumento de 1000X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024)............................................................................................................60 Figura 39 - Amostra temperada com água com aumento de 1000X (seção transversal - Lateral) (Próprios autores, 2024).............................................................................................. 60 Figura 40 - Amostra temperada com óleo com aumento de 1000X (seção transversal - Lateral) (Próprios autores, 2024)............................................................................................................62 Figura 41 - Amostra temperada com água com aumento de 1000X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024)............................................................................................................62 Figura 42 - Resultados do teste por espectroscopia de emissão óptica (Próprios autores, 2024). 63 Figura 43 - Diferentes microestruturas com aumento de 1000X (Próprios autores, 2024)...... 65 Figura 44 - Diagrama CCT para aço SAE/AISI 4340 (Próprios autores, 2024).......................66 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Tabela da escala de Mohs (Notas de aula do prof. Marcelo Mabilde)..................... 20 Tabela 2 - Dados de dureza da amostra original (os autores, 2024)................................ 47 Tabela 3 - Resultados dos testes de dureza na amostra recozida (Próprio autor, 2024)............53 Tabela 4 - Resultados dos testes de dureza na amostra normalizada (Próprio autor, 2024)..... 56 Tabela 5 - Resultados dos testes de dureza na amostra temperada a (Próprio autor, 2024)......59 Tabela 6 - Resultados dos testes de dureza na amostra temperada a (Próprio autor, 2024)......61 Tabela 7 - Tabela de dureza em diferentes escalas (Próprios autores, 2024)............................ 64 Tabela 8 - Tabela de microestruturas (Próprios autores, 2024).................................................64 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................9 1.1. Justificativa................................................................................................................ 9 1.2. Problema......................................................................................................................9 1.3. Objetivos...................................................................................................................... 9 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................................................10 2.1. Os aços......................................................................................................................10 2.2. Siderurgia................................................................................................................... 11 2.3. Metalografia................................................................................................................11 2.3.1. Seleção de Amostras........................................................................................ 12 2.3.2. Corte de Amostra.............................................................................................. 13 2.3.3. Embutimento..................................................................................................... 13 2.3.4. Lixamento da Superfície................................................................................... 14 2.3.5. Polimento da Amostra.......................................................................................15 2.3.6. Ataque Químico................................................................................................ 15 2.3.7. Análise Microscópica........................................................................................ 16 2.3.8. Análise de Inclusões......................................................................................... 16 2.4. Dureza........................................................................................................................17 2.4.1. Dureza de risco, escala Mohs.................................................................................18 2.4.2. Dureza de impacto, escala Shore...........................................................................18 2.4.3. Dureza de penetração............................................................................................ 18 2.4.4. Escala Brinell.......................................................................................................... 19 2.4.5. Escala Vickers e Knoop.................................................................................... 20 2.4.6. Escala Rockwell................................................................................................ 20 2.5. Tamanho de Grão......................................................................................................21 2.6. Microconstituintes do Aço.......................................................................................... 22 2.6.1. Ferrita................................................................................................................23 2.6.2. Austenita........................................................................................................... 23 2.6.3. Cementita..........................................................................................................24 2.6.4. Perlita................................................................................................................ 25 2.6.5. Martensita......................................................................................................... 25 2.6.6. Bainita............................................................................................................... 26 2.7. Diagrama Fe-C...........................................................................................................27 2.9. Curva TTT, CCT.........................................................................................................28 2.9.1. Curvas TTT....................................................................................................... 28 2.9.2. Curvas CCT/TRC.............................................................................................. 30 2.10. Tratamentos Térmicos do Aço................................................................................. 31 2.10.1. Recozimento................................................................................................... 31 2.10.1.1. Recozimento pleno.................................................................................31 2.10.1.2. Recozimento Intercrítico.........................................................................32 2.10.1.3. Recozimento Subcrítico......................................................................... 32 2.10.2. Normalização.................................................................................................. 32 2.10.3. Têmpera..........................................................................................................33 2.10.4. Revenido......................................................................................................... 33 2.11. Endurecimento Superficial....................................................................................... 33 2.11.1. Têmpera superficial.........................................................................................33 2.11.2. Cementação.................................................................................................... 34 3. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS.............................................................................. 34 3.1. Escolha do Material................................................................................................... 34 3.2. Ensaio de dureza....................................................................................................... 35 3.3. Preparação da Amostra............................................................................................. 36 3.3.1. Corte................................................................................................................. 36 3.3.2. Embutimento..................................................................................................... 37 3.3.3. Lixamento..........................................................................................................38 3.3.4. Polimento.......................................................................................................... 38 3.3.5. Ataque químico................................................................................................. 39 3.4. Análise macroscópica................................................................................................ 40 3.5. Análise microscópica................................................................................................. 40 3.6. Análise de inclusões.................................................................................................. 41 3.7. Análise do tamanho do grão...................................................................................... 42 3.8. Tratamentos térmicos................................................................................................ 42 3.8.1. Recozimento..................................................................................................... 42 3.8.2. Normalização.................................................................................................... 43 3.8.3. Têmpera............................................................................................................43 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................................................................44 4.1. Análise da amostra Original.......................................................................................44 4.1.1. Análise da dureza............................................................................................. 44 4.1.2. Análise da microestrutura................................................................................. 45 4.1.2.1. Análise das Inclusões não Metálicas....................................................... 45 4.1.2.2. Análise dos Microconstituintes.................................................................47 4.2. Análise da amostra Recozida.................................................................................... 50 4.2.1. Análise da dureza............................................................................................. 50 4.2.2. Análise da microestrutura................................................................................. 50 4.2.3. Tamanho do grão.............................................................................................. 52 4.2.4. Análise percentual de carbono..........................................................................52 4.3. Análise da amostra resfriada ao ar............................................................................ 53 4.3.1. Análise da dureza............................................................................................. 53 4.3.2. Análise da microestrutura................................................................................. 54 4.3.3. Tamanho do grão.............................................................................................. 55 4.4. Análise da amostra resfriada em água...................................................................... 55 4.4.1. Análise da dureza............................................................................................. 55 4.4.2. Análise da microestrutura................................................................................. 56 4.5. Análise da amostra resfriada em óleo....................................................................... 58 4.5.1. Análise da dureza............................................................................................. 58 4.5.2. Análise da microestrutura................................................................................. 58 4.6. Espectroscopia de emissão óptica............................................................................ 61 4.7. Considerações finais..................................................................................................61 4.7.1. Interpretação de curvas e gráficos....................................................................63 4.7.2. Reengenharia....................................................................................................65 5. CONCLUSÕES...................................................................................................................67 1. INTRODUÇÃO 1.1. Justificativa Com frequência, deparamo-nos com peças e componentes disponíveis no mercado desprovidos de qualquer indicaçãoacerca do material que os constitui. Para elucidar tal questão, podemos recorrer a distintas técnicas metalográficas. Assim sendo, neste estudo, empreendemos ensaios de metalografia, testes de dureza e tratamentos térmicos, com o propósito de, por meio da comparação e fundamentados na literatura existente, identificar o material utilizado na fabricação do eixo de transmissão veicular. Para além da análise metalográfica, que se ocupa da observação minuciosa da microestrutura do aço, empreendemos uma série de tratamentos térmicos, os quais são: o recozimento, a normalização, a têmpera em água e a têmpera em óleo. Tais procedimentos visam estabelecer uma comparação entre a dureza do material original e a das amostras que foram submetidas aos referidos tratamentos térmicos. Através dessas análises, torna-se viável determinar a microestrutura, o teor de carbono, as inclusões não-metálicas presentes, bem como identificar os tratamentos térmicos e os processos mecânicos aos quais o material possa ter sido submetido durante sua fabricação. 1.2. Problema Determinar de que material foi construído e se foram feitos tratamentos térmicos durante a fabricação do eixo de transmissão do automóvel a ser estudado. 1.3. Objetivos ● Estudar a microestrutura de uma peça em aço e determinar o percentual de carbono, inclusões, estrutura química presente, para assim, identificar o tipo de aço em questão; ● Analisar as características mecânicas inerentes do material, determinar o tipo de tratamento térmico aplicado ao aço e realizar tratamentos térmicos comuns na indústria; ● Aplicar conhecimentos teóricos adquiridos em aula. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Os aços A origem do aço remonta a milhares de anos, com seus primeiros indícios encontrados na Idade do Ferro, por volta de 1200 a.C. O aço é uma liga composta principalmente de ferro e carbono, e sua produção envolve a remoção de impurezas do ferro e a adição de uma quantidade controlada de carbono, percentual este deve ser menor que 2,11%, acima disso, entre 2,11% e 6,67% estão os denominados ferros fundidos (Colpaert, 2008). Conquanto, a primeira classificação para um aço se dá pelo principal elemento ligado ao Ferro, assim, há dois grandes grupos, os aço-carbono e os aços-liga Os aços carbono configuram-se como ligas metálicas onde o ferro e o carbono constituem os elementos predominantes, acompanhados de traços menores de outros componentes. Ademais, a categorização dos aços carbono podem ser subdivididas em duas formas. Pode-se caracterizá los pelo conteúdo de carbono presente na liga, subdividindo-se em três principais classes: aço carbono de baixo teor (com até 0,30% de carbono), aço carbono de médio teor (com teor entre 0,30% e 0,60% de carbono) e aço carbono de alto teor (com teor variando entre 0,60% e 1,70% de carbono). Analogamente às fases que se constituem durante o resfriamento controlado do material, os aços hipoeutetóides, com teor de carbono inferior a 0,8%, distinguem-se pela presença de ferrita e perlita. Já os aços eutetóides, que possuem exatamente 0,8% de carbono, exibem uma microestrutura integralmente composta por perlita, a qual é uma combinação de ferrita e cementita. Por sua vez, os aços hipereutetóides, com teor de carbono superior a 0,8%, manifestam uma microestrutura caracterizada pela coexistência de perlita e cementita (Callister, 2007). Os aços liga constituem-se como ligas metálicas predominantemente compostas por ferro e carbono, entretanto, incorporam outros elementos em quantidades variáveis com o intuito de aprimorar suas propriedades mecânicas e físicas. Elementos de liga, tais como cromo, níquel, molibdênio, vanádio e tungstênio, são adicionados para conferir características específicas, incluindo maior resistência, dureza, tenacidade, além de resistência ao desgaste e à corrosão (Callister, 2007). Conforme a quantidade desses elementos de liga, os aços liga podem ser classificados em aços de baixa liga e aços de alta liga. 2.2. Siderurgia O processo de transformação do minério de ferro em aço nas siderúrgicas envolve várias etapas essenciais. Primeiramente, o minério de ferro é extraído de minas e transportado para usinas siderúrgicas, onde passa por um processo de beneficiamento para remover impurezas e aumentar seu teor de ferro. Em seguida, o minério, mais comumente hematita (Fe2O3) e magnetita (Fe3O4) (Mourão, 2007), são fundidos em altos-fornos junto com coque (carvão mineral) e calcário, onde ocorre a redução do minério em ferro metálico através de altas temperaturas. 𝐹𝑒2𝑂3 + 3𝐶→ 2𝐹𝑒 + 3𝐶𝑂 O ferro fundido resultante é então transferido para a aciaria, onde é convertido em aço. Este processo pode ocorrer através de dois métodos principais: o processo básico de oxigênio (BOF) ou o forno elétrico a arco (EAF). No BOF, o ferro fundido é refinado em aço por meio da adição de oxigênio puro ou enriquecido, removendo impurezas como carbono e silício. No EAF, sucata de aço e ferro-gusa são fundidos através de arcos elétricos para produzir aço de alta qualidade. Após a conversão, o aço é moldado em lingotes, placas ou bobinas, dependendo da aplicação final. Em seguida, o aço é submetido a processos de acabamento como laminação a quente ou a frio, têmpera e revenimento, galvanização ou revestimento para alcançar as propriedades desejadas. 2.3. Metalografia A metalografia constitui-se no estudo da estrutura interna e da composição dos metais e suas ligas, mediante a utilização de técnicas avançadas de microscopia e outras modalidades de análise. Este domínio científico engloba a preparação meticulosa das amostras metálicas, processo que compreende o corte, lixamento, polimento e ataque químico, com o propósito de desvelar a microestrutura do material. A microscopia óptica e eletrônica configuram-se como instrumentos imprescindíveis para a observação dos intrincados detalhes da estrutura metálica, permitindo a identificação de grãos, fases, inclusões e defeitos, os quais exercem influência determinante sobre as propriedades mecânicas e físicas dos metais. Mediante a metalografia, torna-se viável compreender de que maneira a composição química e o processamento dos metais influenciam suas características e comportamentos. Para tal propósito, é imperativo retirar uma amostra do material em análise, realizar os cortes necessários para investigações específicas, embutir, lixar e polir essas amostras. Em virtude desses procedimentos, a análise metalográfica é classificada como um exame destrutivo, pois inviabiliza a reutilização da peça submetida ao estudo. As inclusões manifestam-se visivelmente logo após o processo de polimento, ao passo que a microestrutura somente se torna discernível após a aplicação de ataque químico, usualmente com Nital a 2%. Tanto a microestrutura quanto as inclusões são examinadas mediante microscópios ópticos, com ampliações de 100X, 200X, 500X e até 1000X, dependendo dos objetivos da análise. 2.3.1. Seleção de Amostras A definição da amostra pode ser realizada pelo solicitante do ensaio ou seguir a norma técnica relevante para a análise. Na ausência de uma norma ou especificação fornecida pelo contratante, é crucial considerar o formato da peça, as informações necessárias e as posições de uso. Em peças com geometria regular, são normalmente feitos dois cortes planos: um transversal e outro longitudinal ao eixo principal, cada qual revelando informações distintas. A seção transversal do corte (Figura 1), destaca principalmente a natureza estrutural do material, identificando microconstituintes, o teor de carbono, a homogeneidade da seção, os tratamentos térmicos aplicados e suas profundidades, bem como a quantidade de inclusões não metálicas. O corte longitudinal (Figura 1), por sua vez, esclarece os processos de fabricação da peça, indicando se ela passou por conformação a frio (com inclusões alongadas), a quente/fundição (com inclusões globulares) ou forjamento. A seção longitudinal também évaliosa para detectar trincas e falhas, além de fornecer informações sobre a extensão dos tratamentos térmicos aplicados. Figura 1 - Procedimento de seccionamento da amostra (Colpaert, 2008). 2.3.2. Corte de Amostra Frequentemente, torna-se imperativo seccionar o corpo de prova para facilitar a manipulação experimental. A técnica do corte abrasivo tem sido amplamente preconizada, substituindo com notória vantagem o corte a frio. Este método permite que o corpo de amostra resulte em uma superfície plana de baixa rugosidade, além de oferecer maior segurança, celeridade e eficiência. O aparato utilizado para tal procedimento é o denominado “cut-off”, ou policorte, que emprega discos abrasivos de Carbeto de Silício (SiC). Estes discos são intensamente refrigerados, o que evita deformações decorrentes do aquecimento, e operam a baixas rotações. Tal metodologia é vastamente empregada em laboratórios metalográficos, devido à sua eficácia e precisão. 2.3.3. Embutimento O embutimento consiste em circundar a amostra com um material adequado, formando um corpo único. Neste viés, este processo é aplicado a fim de facilitar a manipulação de peças pequenas, precaver a danificação da lixa ou do pano de polimento ou o sujeito que está a manuseá-la, permitindo que a superfície da amostra seja planificada e polida de maneira uniforme, revelando com clareza a estrutura interna do metal. Conquanto, existem duas maneiras de realizar o embutimento. Na técnica a frio, resinas líquidas auto-polimerizáveis são utilizadas, e esse processo pode levar de quinze minutos a vinte e quatro horas. É um processo exotérmico que pode atingir até 120°C. Já na técnica a quente, materiais termoplásticos são prensados sob temperaturas de até 200°C e pressões de até 150 bar, com duração média de seis a trinta minutos. 2.3.4. Lixamento da Superfície O processo de lixamento de amostras na metalografia é fundamental para preparar superfícies planas e polidas que permitam uma análise microestrutural precisa dos materiais metálicos. O controle rigoroso das etapas de lixamento é essencial para evitar distorções na estrutura da amostra e garantir resultados metalográficos precisos e confiáveis. Posteriormente, o processo de lixamento é iniciado seguindo uma sequência estruturada de etapas com abrasivos de granulometria progressiva, o que é essencial para obter uma superfície plana e uniforme na preparação de amostras para análise metalográfica. Inicialmente, utiliza-se uma lixa de granulometria grossa, como 220 ou 320, aplicando-se uma pressão moderada para remover imperfeições grosseiras e evitar o abaulamento da superfície da amostra. Durante este estágio, é crucial o uso de água corrente para e remover os detritos resultantes do processo abrasivo, seguindo um movimento unidirecional que garante a orientação uniforme dos arranhões na direção do lixamento. Após alcançar uma textura uniforme e alinhada dos arranhões na direção inicial do lixamento, a amostra é então rotacionada em 90° e o procedimento é repetido com uma lixa de granulometria mais fina, como 400, 600 e, finalmente, 1200. Este refinamento progressivo das partículas abrasivas ajuda a reduzir ainda mais as irregularidades superficiais e prepara a amostra para o estágio final de polimento. Essa abordagem metódica e controlada assegura que a superfície da amostra mantenha sua integridade estrutural e que os resultados da análise metalográfica sejam consistentes e precisos, conforme demonstrado esquematicamente na Figura 2. Figura 2 - Procedimento de lixamento da amostra (Notas de aula do prof. Marcelo Mabilde) 2.3.5. Polimento da Amostra O processo de polimento é essencial para remover os riscos deixados pelas lixas durante a preparação das amostras para análise metalográfica. Utilizam-se politrizes automáticas onde é selecionado o tipo de pano ou prato metálico de polimento, ajustando a velocidade de rotação geralmente entre de 300 a 500 rotações por minuto (rpm). Cada tipo de pano possui uma precisão específica e requer o uso de lubrificantes adequados, sendo crucial verificar se não há danos no pano e realizar a limpeza com água ou álcool antes do início do polimento. Neste trabalho, foi utilizado um pano de polimento com partículas de alumina de aproximadamente 3 micrômetros de precisão, lubrificado com água. Após o polimento, a amostra é imediatamente lavada em água corrente e seca com algodão e jato de ar quente para evitar a corrosão localizada. Esse processo meticuloso assegura que a superfície da amostra mantenha sua integridade e preparação adequada para análise detalhada da microestrutura metalográfica. 2.3.6. Ataque Químico O processo de ataque químico representa a etapa final na preparação de amostras para análise metalográfica, essencial para revelar detalhes da microestrutura do material em estudo. Durante esta fase, um reagente químico como o Nital 2% — uma solução composta por 2% de ácido nítrico e 98% de álcool etílico — é aplicado para corroer seletivamente os contornos do grão na superfície da amostra. Isso cria uma textura fosca que elimina reflexos de luz no microscópio, facilitando a observação das características estruturais. A seleção do reagente adequado depende do tipo de material e da macroestrutura que se deseja destacar. O controle preciso do tempo de exposição ao reagente é crucial, já que um período excessivo pode resultar na formação de óxidos que obscurecem a estrutura, enquanto um tempo insuficiente não revela adequadamente os contornos do grão. Um ataque químico eficaz produz uma superfície fosca, sem brilho excessivo, com contornos de grão bem definidos. Após o processo, a amostra deve ser imediatamente neutralizada em água para interromper a ação do reagente e, em seguida, seca cuidadosamente com jato de ar quente e algodão. É essencial evitar o contato direto com a amostra após o polimento e o ataque, pois a presença de oleosidade nas mãos pode causar corrosão localizada, comprometendo os resultados da análise metalográfica. 2.3.7. Análise Microscópica Após a preparação meticulosa e precisa da amostra, procede-se à observação microscópica, etapa central na prática metalográfica e a culminação dos passos anteriores. Esta fase é crucial para analisar detalhadamente as fases constituintes do material, geralmente com ampliações que variam de 50X a 2000X. Através da microscopia, é possível examinar a estrutura interna do material, identificar diferentes fases, inclusões, defeitos e avaliar a distribuição dos constituintes. 2.3.8. Análise de Inclusões Devido à complexidade do processo de manufatura dos aços, é frequentemente observada a presença de substâncias alheias à matriz ferro-carbono, caracterizadas como impurezas que exercem um impacto substancial nas propriedades mecânicas e térmicas dos materiais. Segundo Callister (2007), tais impurezas podem originar-se de diversas fontes, como arraste de materiais refratários dos fornos devido à corrosão pelo ferro fundido, precipitação de sulfetos e óxidos durante a solidificação do metal, ou a adição de elementos de liga com baixa solubilidade. A existência dessas impurezas, tais como fósforo, enxofre, silício, manganês, alumínio e outros ametais, resulta na formação de óxidos e precipitados como MnS, FeS, SiO₂, Al₂O₃. A qualidade do aço está intrinsecamente ligada às inclusões presentes, as quais podem alterar significativamente suas propriedades. Como definido por Dieter (1986), em certos casos, as inclusões são intencionalmente introduzidas para aumentar a dureza e resistência mecânica, mas também podem ocasionar fragilização devido à concentração de tensões internas, além de dificultar o crescimento dos grãos. As inclusões não-metálicas são visualizadas sob um microscópio com aumento de 100X após o polimento e antes do ataque químico, geralmente apresentando-se em forma circular. Em aços submetidos a processos de conformação mecânica a frio, as inclusões tendem a se alongar na direção da deformação,fenômeno observável em cortes transversais. Existem diversas classificações para as inclusões, sendo a mais difundida aquela proposta pela Jernkontoret (Associação dos Siderurgistas Suecos), conforme detalhado por Llewellyn (1992), que categoriza as inclusões em quatro principais classes: tipo A (sulfuretos), tipo B (aluminas), tipo C (silicatos) e tipo D (óxidos globulares). Cada classe é subdividida em cinco grupos com base na quantidade de inclusões por unidade de superfície, e cada grupo é classificado também de acordo com a espessura das inclusões, totalizando assim 40 classificações. Essas categorias são comparadas por meio de tabelas específicas, analisadas com um aumento de 100X, para determinar o impacto das inclusões na qualidade e desempenho do material. Figura 3 -Classificação das inclusões segundo Jernkontoret. (Notas de aula do prof. Marcelo Mabilde) 2.4. Dureza A dureza de um material é a sua capacidade de resistir à deformação permanente, seja por riscos, abrasão ou indentação. Esse conceito é fundamental na ciência dos materiais e na engenharia, pois determina a resistência do material a forças aplicadas. Segundo Callister, "a dureza é uma medida da resistência de um material a uma penetração localizada" (Callister, 2007). Já a ASM International define a dureza como "a resistência de um material à deformação permanente causada por uma carga compressiva" (ASM International, 2015). 2.4.1. Dureza de risco, escala Mohs A dureza de risco Mohs é uma escala qualitativa que classifica a resistência de minerais ao risco, indo de 1 (mais macio) a 10 (mais duro), conforme a Figura 4. Desenvolvida por Friedrich Mohs em 1812, essa escala é baseada na capacidade de um material riscar outro. Um exemplo clássico é o talco, com dureza 1, que é facilmente riscado por todos os outros materiais, enquanto o diamante, com dureza 10, risca todos os outros materiais da escala (Callister, 2007). Tabela 1 - Tabela da escala de Mohs (Notas de aula do prof. Marcelo Mabilde) 2.4.2. Dureza de impacto, escala Shore O teste de dureza de impacto Shore mede a resistência de um material à penetração usando um durômetro Shore, que consiste em um indentador carregado por uma mola. O procedimento envolve pressionar o indenter contra a superfície do material e medir a profundidade de penetração, que é convertida em uma escala numérica (Shore A para materiais mais macios como borracha e plásticos, e Shore D para materiais mais duros) (Callister, 2007). A dureza Shore é inversamente proporcional à profundidade da penetração: quanto menor a penetração, maior a dureza. Este teste é amplamente utilizado para avaliar a dureza de elastômeros, plásticos e outros materiais flexíveis. 2.4.3. Dureza de penetração A dureza de penetração refere-se à resistência de um material à deformação permanente sob a aplicação de uma carga concentrada. Segundo Callister, "a dureza de penetração é medida pressionando-se um penetrador de forma específica contra a superfície Dureza Mineral Fórmula Química 1 Talco Mg3Si4O10(OH)2 2 Gipsita CaSO4.2H2O 3 Calcita CaCO3 4 Fluorita CaF2 5 Apatita Ca5(PO4)3(OH,F,Cl) 6 Ortoclásio KAlSi3O8 7 Quartzo SiO2 8 Topázio Al2SiO4(F,OH)2 9 Coríndon Al2O 3 10 Diamante C do material sob uma carga definida" (Callister, 2007). As principais classificações incluem a dureza Brinell, que usa uma esfera de aço; a dureza Rockwell, que usa um cone de diamante ou uma esfera de aço; e a dureza Vickers, que utiliza uma pirâmide de diamante. Cada método possui suas particularidades e é escolhido com base nas propriedades específicas do material e na precisão requerida para a aplicação, tendo suas conversões de valores baseadas na Figura 5. Figura 4 - Correlação entre as escalas de dureza (Notas de aula do prof. Marcelo Mabilde) 2.4.4. Escala Brinell Os ensaios de dureza Brinell utilizam um penetrador esférico, geralmente feito de aço endurecido ou carboneto de tungstênio com 10 mm de diâmetro, que é pressionado contra a superfície do material sob cargas que variam entre 500 e 3000 kg. Durante o teste, a carga é mantida constante por um período de 10 a 30 segundos. Após a aplicação da carga, a impressão deixada pelo penetrador é medida usando um microscópio de baixa potência com uma escala graduada. O diâmetro da impressão é então convertido em um valor de dureza Brinell (HB) usando um gráfico apropriado. Este método é vantajoso devido à simplicidade da técnica que utiliza apenas uma escala para diferentes materiais (Callister, 2007). Para garantir precisão nos resultados, o método Brinell requer que a superfície do corpo de prova seja lisa e plana. As exigências de espessura mínima do corpo de prova, bem como o espaçamento adequado das impressões, são semelhantes às dos ensaios Rockwell. Essa técnica é amplamente utilizada para medir a dureza de materiais com estruturas heterogêneas ou grandes grãos, proporcionando uma avaliação confiável e uniforme. As especificações rigorosas para a definição da impressão asseguram que os valores obtidos sejam consistentes e precisos, tornando o método Brinell uma escolha popular nas indústrias (Callister, 2007). 2.4.5. Escala Vickers e Knoop Os ensaios Knoop e Vickers utilizam penetradores de diamante para medir a dureza de materiais. O método Knoop aplica cargas de 1 a 1000 g, resultando em uma impressão alongada, ideal para materiais frágeis e cerâmicos. A dureza é determinada pela relação entre a carga e a área da impressão medida sob microscópio (Callister, 2007). No método Vickers, um penetrador piramidal de diamante é utilizado, também com cargas de 1 a 1000 g, criando uma impressão quadrada. A dureza Vickers é calculada pela medição da diagonal da impressão. Este método é amplamente usado para materiais metálicos devido à sua precisão e versatilidade. As durezas são indicadas pelos números HK e HV, respectivamente, para Knoop e Vickers (Callister, 2007). 2.4.6. Escala Rockwell Os ensaios Rockwell são amplamente utilizados para medir a dureza de materiais devido à sua simplicidade, rapidez e precisão. Este método utiliza diferentes tipos de penetradores, como esferas de aço e pontas de diamante, aplicando cargas que variam da manor carga de 10 kg e de 60, 100 e 150 kg. A dureza é determinada pela profundidade da penetração resultante de uma carga inicial menor seguida por uma carga principal maior. Esta técnica permite uma avaliação rápida e eficiente da resistência superficial de diversos materiais (Callister, 2007). Figura 5 - Escala de dureza Rockwell (Callister, 2007). Ao especificar durezas Rockwell, o símbolo da escala deve ser incluído junto com o valor numérico da dureza. Por exemplo, "80 HRB" indica uma dureza de 80 na escala Rockwell B. Isso é essencial para garantir clareza e precisão na comunicação das propriedades do material (Callister, 2007). Figura 6 - Escala de dureza e formas de indentação (Callister, 2007). 2.5. Tamanho de Grão As propriedades mecânicas dos aços dependem do tamanho de grão, sendo este uma medida crucial na metalografia quantitativa. As metodologias mais comuns incluem a interseção linear média (em três dimensões) e o tamanho de grão ASTM, calculado a partir dessa interseção. A interseção linear média é o valor da corda média gerada pela interseção dos grãos com linhas de teste em diferentes orientações na amostra. Esta medida está diretamente relacionada à área total da interface entre grãos e, numa estrutura monofásica, ao inverso do número médio de interseções por comprimento unitário de linha de teste (Colpaert, 2008). A avaliação do tamanho de grão também pode ser feita por comparação de imagens do material com cartas-padrão, ver Figura 8, embora esta técnica seja mais subjetiva e suscetível a erros. O tamanho do grão ASTM é definido pelo número G, obtido através de uma equação que relaciona o número de grãos por polegada quadrada. Há diversos métodos para medir o número de grãos por unidade de área em uma seção de uma amostra metalográfica,incluindo métodos planimétricos e de interseção (Colpaert, 2008). Figura 7 - Tamanho dos tamanhos de grão conforme a ASTM (Colpaert, 2008). Para garantir precisão, é importante utilizar uma linha de interseção orientada em todas as direções. A norma ASTM E112 orienta sobre a representatividade dos tamanhos de grão, destacando a necessidade de um tamanho mínimo de amostra para resultados significativos. As técnicas permitem calcular a área média dos grãos interceptados pelo plano amostral, evitando erros decorrentes da não secção dos grãos em suas maiores áreas (Colpaert, 2008). 2.6. Microconstituintes do Aço Os microconstituintes são elementos da microestrutura de uma liga metálica que possuem estruturas características e identificáveis (Callister, 2007). No caso do aço, o ferro pode apresentar diferentes estruturas cristalinas (CCC e CFC) dependendo da temperatura, influenciadas por elementos de liga que estabilizam uma ou outra estrutura e formam novas fases. Exemplos de microconstituintes no aço incluem a fase alfa primária e a estrutura eutética, que é uma mistura de duas fases com uma estrutura lamelar distinta. O conhecimento dessas estruturas e suas transformações é fundamental para entender as propriedades do aço e seu comportamento durante o processamento térmico (Colpaert, 2008). 2.6.1. Ferrita Ferro puro, denominado ferro (alfa), é a estrutura hipoeutetóide cristalina (CCC). Presente em aços com baixos teores de carbono, sendo estável a temperatura ambiente. Esses aços, quando trabalhados a frio, alteram a forma dos grãos devido à deformação, resultando em dureza relativamente baixa. Devido ao seu baixo teor de carbono, não formam cementita, e frequentemente recebem adições de elementos como titânio ou nióbio para formar carbonetos, nitretos e carbonitretos, que são pequenos o suficiente para não serem visíveis em microscopia óptica. Este material é utilizado em aplicações que requerem deformabilidade, como anéis de vedação metal-metal na indústria do petróleo, devido a sua baixa dureza (Colpaert, 2008). Figura 8 - Microestrutura de ferrita (Colpaert, 2008). 2.6.2. Austenita A austenita é uma fase de estrutura CFC (cúbica de face centrada) formada quando a ferrita em aços Fe-C é aquecida a temperaturas elevadas. Esta fase é estável a altas temperaturas e pode ser observada em microscópios capazes de operar nessas condições. A formação da austenita a partir da ferrita ocorre com a redistribuição de carbono, embora em aços de baixo teor de carbono essa redistribuição seja mínima e não atrase a transformação. Técnicas metalográficas podem ser usadas para revelar os contornos de grão da austenita que existiam antes da transformação do material (Figura 10), permitindo a análise detalhada das microestruturas presentes (Colpaert, 2008). Figura 9 - Microestrutura de austenita (Colpaert, 2008). 2.6.3. Cementita A cementita, ou carboneto de ferro (Fe₃C), é um composto que aparece na estrutura do aço quando a solubilidade do carbono na ferrita é excedida. Em aços hipereutetóides, ela se forma de maneira contínua e clara, contendo 6,67% de carbono. Este componente é caracterizado por sua dureza, fragilidade e quebradiço, além de ser ferromagnético abaixo de 212°C. Em aços de baixo teor de carbono usados para conformação, a cementita geralmente se distribui como uma segunda fase dispersa ao longo do produto. É crucial que os tratamentos térmicos favoreçam a precipitação da cementita, removendo o carbono da solução para melhorar a formabilidade do aço. Durante o tratamento térmico, as partículas de cementita nucleiam em heterogeneidades estruturais e crescem pela difusão de carbono. A formação e crescimento da cementita requerem uma movimentação significativa de carbono no aço (Colpaert, 2008). 2.6.4. Perlita A perlita é uma microestrutura formada em aços contendo teores de carbono significativos quando resfriados do campo da austenita para temperaturas abaixo do ponto eutetóide (723 °C). Ela consiste em um equilíbrio entre ferrita e cementita, apresentando-se como camadas alternadas dessas fases. Devido à diferença de composição química entre ferrita e cementita, há uma significativa redistribuição de carbono durante a formação da perlita. Este processo resulta em placas ou lamelas paralelas das duas fases, com o crescimento cooperativo facilitado pela nucleação de cementita. A morfologia da perlita pode variar com a velocidade de resfriamento: resfriamento lento produz perlita com maiores espaçamentos interlamelares, enquanto resfriamento rápido resulta em perlita mais fina. Esta transformação é essencial para ajustar as propriedades mecânicas do aço, influenciando sua dureza e ductilidade (Colpaert, 2008). Figura 10 - Microestrutura de perlita (Colpaert, 2008). 2.6.5. Martensita A martensita é a fase mais dura presente em um aço e se forma durante o resfriamento rápido da austenita, um processo conhecido como têmpera. Quando o aço é aquecido até a temperatura de austenitização, a austenita se torna supersaturada de carbono, já que não ocorre separação entre ferrita e cementita. No resfriamento brusco, o carbono solubilizado na austenita não se liga ao ferro, resultando na formação de uma fase tetragonal de corpo centrado, conhecida como martensita. Esta transformação ocorre sem a necessidade de difusão atômica significativa, reorganizando a estrutura cristalina da austenita em uma configuração de martensita, que apresenta uma morfologia de agulhas finas e pontiagudas, criando muitas tensões internas (Colpaert, 2008). A martensita, formada diretamente do resfriamento do ferro gama, possui alta dureza devido à sua estrutura altamente distorcida e tensão interna. No entanto, essa alta dureza e a presença de tensões internas podem prejudicar a resistência geral do aço. Para aliviar essas tensões e melhorar as propriedades mecânicas, um segundo tratamento térmico de revenido é aplicado. Este tratamento ajusta a dureza e a tenacidade, proporcionando um equilíbrio entre resistência e ductilidade no aço (Colpaert, 2008). Figura 11 - Microestrutura de martensita (Colpaert, 2008). Figura 12 - Microestrutura de martensítica com carbonetos esferoidizados (Colpaert, 2008). 2.6.6. Bainita A bainita é um microconstituinte intermediário formado em aços quando a transformação eutetóide ocorre em uma faixa de temperatura entre a formação da perlita (aproximadamente 550-720 °C) e a transformação martensítica. Identificada pelos estudos de Davenport e Bain, a bainita é constituída por agregados de ferrita e cementita, apresentando características distintas em comparação à perlita e à martensita. A bainita se forma através de mecanismos de nucleação e crescimento cooperativo, resultando em estruturas de placas ou lamelas finas, dependendo das condições de resfriamento. A distinção entre bainita e martensita pode ser desafiadora usando microscopia óptica, pois ambas estão no limite de resolução técnica. No entanto, a bainita é geralmente menos fina que a martensita e possui uma morfologia específica. A ausência de cementita na bainita pode resultar na classificação de alguns constituintes intermediários como "ferritas bainíticas" (Colpaert, 2008). Figura 12 - Microestrutura de bainita (Colpaert, 2008). 2.7. Diagrama Fe-C O diagrama de fases ferro-carbono é uma ferramenta crucial para representar as relações estáveis entre as fases em ligas ferro-carbono. Ele mostra quais fases estão presentes, suas proporções relativas e como estão arranjadas. A microestrutura de uma liga ferro-carbono é influenciada pelos elementos de liga presentes, suas concentrações e o tratamento térmico aplicado. Este diagrama ajuda a entender a formação de fases como a ferrita, austenita e cementita, e suas transformações sob diferentes condições de temperatura e composição (Callister, 2007). No diagrama ferro-carbono, as principais fases são ferrita (α), austenita (γ) e cementita (Fe₃C). Ligas ferrosas são classificadas em ferros,aços e ferros fundidos com base no teor de carbono. A reação eutetóide, onde a austenita se transforma em ferrita e cementita a 727°C, resulta na formação de perlita, uma microestrutura com camadas alternadas de ferrita e cementita. Ligas hipoeutetóides (menos de 0,76% C) contêm ferrita proeutetóide e perlita, enquanto ligas hipereutetóides (mais de 0,76% C) possuem cementita proeutetóide e perlita. As frações mássicas dessas fases podem ser calculadas pela regra da alavanca (Callister, 2007). Figura 13 - Diagrama de fases Fe-C (Colpaert, 2008). 2.8. Espectroscopia de emissão óptica A espectroscopia de emissão óptica (OES, Optical Emission Spectroscopy) é uma técnica analítica usada para determinar a composição elementar de uma amostra. O princípio básico da OES envolve a excitação dos átomos ou íons presentes na amostra, que emitem luz em comprimentos de onda característicos quando retornam a estados de menor energia. Essa luz emitida é dispersada em um espectrômetro, onde diferentes comprimentos de onda são separados e detectados. A intensidade das linhas espectrais resultantes é proporcional à concentração dos elementos na amostra, permitindo a sua quantificação. De acordo com Bings (2006), a OES é amplamente utilizada devido à sua alta sensibilidade e capacidade de análise multielementar rápida. 2.9. Curva TTT, CCT 2.9.1. Curvas TTT Os diagramas TTT ("tempo-temperatura e transformação"), demonstram as transformações isotérmicas através de curvas de início e fim para uma determinada temperatura e tempo, são de extrema importância para se entender o que ocorre com ligas de aço em temperaturas elevadas. Estes diagramas são precisos para transformações nas quais a temperatura da liga é mantida constante ao longo de toda a duração da reação. Figura 14 - Diagrama TTT para aço SAE/AISI 4340 (Atkins, 1977) Para a sua correta aplicação é necessário sabermos as condições de resfriamento da peça, a composição química e a velocidade de resfriamento, com base nesses dados é possível determinar a estrutura final do material. 2.9.2. Curvas CCT/TRC Apesar da relevância das curvas TTT na área industrial, a maioria dos tratamentos térmicos empregados em aços utilizam resfriamento contínuo e não isotérmico. Assim sendo, é fundamental compreender o impacto da velocidade de resfriamento na austenita, daí surgiu a necessidade da criação das curvas CCT (continuous cooling transformation) para taxas de resfriamento constantes. Figura 15 - Diagrama CCT para aço SAE/AISI 4340 (Atkins, 1977) Do ponto de vista prático, as transformações que mais interessam são as que se verificam quando a temperatura decresce continuamente. As curvas de resfriamento contínuo são, normalmente, deslocadas para a direita e para baixo em relação às curvas isotérmicas. A Figura 16 apresenta a curva CCT para um aço SAE/AISI 4340. A partir do diagrama é possível correlacionar taxa de resfriamento, microconstituintes formados e dureza obtida para resfriamentos realizados ao ar, em água e em óleo. 2.10. Tratamentos Térmicos do Aço O tratamento térmico do aço consiste em submeter o material a temperaturas controladas, seguido por resfriamento em diferentes condições, com o objetivo de aprimorar ou modificar suas propriedades mecânicas, por meio de mudanças em sua estrutura que podem causar transformações microestruturais que envolvem rearranjo de átomos. A alteração das características mecânicas de um material resultam em mudanças de fase. Os tipos mais comuns de tratamentos térmicos são recozimento, normalização, têmpera e revenido. 2.10.1. Recozimento Consiste em aquecer o aço até uma temperatura acima ou dentro da sua zona crítica e em seguida a realização de um resfriamento lento, tem por finalidade “apagar” qualquer tipo de estrutura resultante de tratamentos térmicos ou mecânicos anteriormente realizados ao material, aliviar as tensões internas, uniformizar o tamanho do grão e reduzir a dureza. Há três processos diferentes para recozer uma amostra de aço, o recozimento pleno, intercrítico e subcrítico. 2.10.1.1. Recozimento pleno O recozimento pleno consiste em elevar o material a uma temperatura acima da linha A1 para hipoeutetóides ou entre A3 e Acm para hipereutetóides e mantido por um determinado tempo para encharcamento térmico da peça, geralmente este tempo é definido como 1,5 minutos por milímetro da menor dimensão, em caso de aço ligados este tempo dobra. Após a peça permanecer pelo tempo necessário na zona crítica, o resfriamento é feito de forma lenta, dentro do próprio forno, para que as fases resultantes sejam apenas ferrita, perlita e cementita. Assim, um aço recozido apresenta baixa dureza e uma maior tensão de escoamento e tenacidade. 2.10.1.2. Recozimento Intercrítico O recozimento intercrítico, também denominado esferoidização, globulização ou de coalescimento, consiste em alternar sucessivamente a temperatura do aço acima e abaixo da linha A1, usualmente é utilizado em aços de alto carbono. Este tratamento visa esferoidizar a cementita presente na estrutura do aço, como a cementita é a fase mais dura e quebradiça, o resultado final da globulização é um aço mais dúctil, de melhor usinabilidade, como visto na Figura 17. Figura 16 - Aço AISI 52100 esferoidizado (Colpaert, 2008). O recozimento inadequado do aço hipereutetóide pode resultar em uma microestrutura que não atingiu a esferoidização completa dos carbonetos. Durante o tratamento térmico, a cementita começou a esferoidizar-se, mas não houve tempo ou temperatura suficiente para finalizar o processo. Como consequência, a microestrutura apresenta uma matriz de ferrita com uma combinação de lamelas de cementita e glóbulos esferoidizados, refletindo a natureza incompleta do tratamento térmico. Esta estrutura mista indica que o recozimento não foi eficaz para alcançar a esferoidização total, como visto na Figura 18. Figura 17 - Aço hipereutetoide com matriz de ferrita e cementita parcialmente esferoidizada. (Colpaert, 2008) 2.10.1.3. Recozimento Subcrítico O recozimento subcrítico é realizado para reduzir tensões provenientes de processos de usinagem ou de conformação/deformação. Esse tipo de recozimento não acarreta na mudança de fase, pois todo o processo é realizado abaixo da temperatura crítica do material (727°C). 2.10.2. Normalização A normalização é um tratamento térmico que consiste em aquecer o aço a uma temperatura superior ao do recozimento, até a completa austenitização da estrutura, seguido de um lento resfriamento ao ar. É comumente empregada em homogeneização de microestruturas de peças fundidas, forjadas, laminadas ou submetidas a outros tratamentos térmicos. Tem por objetivo diminuir o tamanho médio dos grãos, o refino das lamelas de perlita, alívio de tensões, melhorar a usinabilidade, promover uma maior resistência à tração e maior dureza, menor ductilidade e alongamento. 2.10.3. Têmpera É um tratamento que visa a formação de martensita a fim de aumentar a dureza e a resistência mecânica do aço. O processo consiste em aquecer o material até sua temperatura de austenitização e logo em seguida causar seu resfriamento rápido para que o carbono não se desassocie da austenita estabilizando-se, então, em martensita. O sucesso deste tratamento térmico depende de alguns fatores como, composição da liga, tipo e natureza do meio de resfriamento e do tamanho e geometria da amostra. O resfriamento brusco pode ser feito por imersão da peça em água, óleo, ou ao ar livre, dependendo da temperabilidade da peça. A peça após a finalização do processo adquire características como alta dureza e resistência à tração, baixa ductilidade e elevada fragilidade. 2.10.4. Revenido O revenimento é um processo de tratamento térmico realizado com a finalidade de aliviar tensões internas da peça e reduzir a dureza e a fragilidade do aço ajustando a resistência mecânica e a tenacidade de acordo com a aplicação do aço. A peça é aquecida e mantida a certa temperatura quevaria entre 150 a 700°C, abaixo da considerada crítica, e após resfriada lentamente ao ar. A temperatura do processo é importante pois está diretamente ligada a dureza que o material vai assumir após o processo, já que o revenimento reduz a dureza original atingida na têmpera. 2.11. Endurecimento Superficial Os processos de endurecimento superficial tem por finalidade melhorar a resistência ao desgaste de uma peça sem alterar a estrutura interna do material. Em muitas aplicações mecânicas o endurecimento total de um componente não é interessante, seja por custos ou por dificuldade na fabricação. É comumente utilizada em componentes mecânicos suscetíveis a desgaste tais como eixo, engrenagens, cremalheiras e etc. Abaixo são apresentados os dois tipos mais comuns e usuais de métodos para endurecimento superficial. 2.11.1. Têmpera superficial Neste processo apenas a camada de superfície da peça é aquecida, por meio de indução ou por chama, e é resfriada rapidamente, o endurecimento se dá pela formação de martensita na superfície do aço.A formação da martensita depende diretamente da sua tetragonalidade , sendo assim para que se obtenha um resultado satisfatório os aços devem ter um teor de carbono de no mínimo 0,4%. Em geral há necessidade de revenido que é feito em temperaturas mais baixas que a da têmpera normal. . A têmpera superficial garante a peça, superfícies de alta dureza e resistentes ao desgaste, resistência à fadiga por dobramento, capacidade de resistir a cargas de contato além de reduzir o risco de aparecimento de fissuras no resfriamento 2.11.2. Cementação A cementação tem por finalidade aumentar o teor de carbono e a dureza superficial de uma peça sem modificar a ductilidade de seu núcleo, por meio da difusão de carbono na superfície da peça. É indicada para aços ligados com baixo teor de carbono (0,15 a 0,25%), garantindo ao final uma camada cementada de 1mm de profundidade e 0,8% C, granulometria fina tanto superficial quanto no núcleo. Após sua execução é necessário realizar a têmpera e revenimento para então alcançar uma dureza final entre 63 a 65 HRC. A cementação garante à peça alta resistência à tração, alta dureza e alta resistência ao desgaste na superfície. É comumente utilizada na fabricação de engrenagens, pistas de mancais de rolamentos, eixos e peças guias, pinos e similares. 3. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS A seguir, serão exemplificados os procedimentos preconizados e subsequentes que transcorrem o presente projeto de pesquisa. 3.1. Escolha do Material Ademais, para a realização de uma análise metalográfica de um aço, é essencial selecionar um componente de aço com alta dureza, aumentando assim a probabilidade de o material ter sido submetido a tratamento térmico. Optou-se pela escolha de um semi-eixo automotivo, uma vez que este é um componente submetido a elevadas solicitações mecânicas, justificando a necessidade de tratamentos térmicos. Figura 18 - Eixo de transmissão automotivo analisado (Próprio autor, 2024). 3.2. Ensaio de dureza Antes do processo de embutimento, foi realizado um teste de dureza em cada amostra. Esse teste emprega um durômetro na escala apropriada, com dois tipos de equipamentos disponíveis: o durômetro Rockwell C e o Rockwell B (Figura 19). O procedimento do teste envolve três etapas principais: aplicação da pré-carga, aplicação da carga total e remoção da carga. A ponta indentadora mede a dureza com base na profundidade da penetração. O valor da dureza é exibido no mostrador do aparelho. Alguns cuidados básicos devem ser realizados antes do ensaio para garantir a correção dos resultados: ● A peça deve estar lisa e livre de oxidações ● A peça deve estar paralela à base do equipamento ● O equipamento deve estar calibrado com os padrões de medida. Realizaram-se medições de dureza tanto no centro quanto na periferia das peças, com três testes em cada área. Se a variação entre as medições em uma região fosse superior a 1, realizavam-se mais duas medições, totalizando cinco testes na mesma área. Esse método busca minimizar possíveis erros de medição. Primeiramente, utilizou-se a escala Rockwell C. Amostras que exibiram valores de dureza inferiores a 20 foram submetidas ao teste na escala Rockwell B. Figura 19 - Durômetro realizando o teste de dureza na escala HRC (Próprio autor, 2024). 3.3. Preparação da Amostra Subsequentemente, após os ensaios de dureza do material, a amostra foi preparada para o ensaio de metalografia, seguindo rigorosamente a seguinte série de etapas. 3.3.1. Corte A amostra foi seccionada utilizando uma máquina de corte abrasivo para examinar tanto a seção transversal quanto a longitudinal do material (Figura 20). O equipamento utilizado é equipado com um sistema de resfriamento à água, crucial para evitar o aquecimento da peça e a consequente alteração de suas propriedades e microestrutura. Figura 20 - Seccionamento da amostra (Próprio autor, 2024). 3.3.2. Embutimento A etapa de embutimento em baquelite foi conduzida utilizando a máquina Struers Citopress-15. Nesse processo, a peça foi posicionada na embutidora na orientação desejada para observação, seguida da adição de baquelite granulada, uma resina utilizada para trabalho a quente. O embutimento foi realizado sob uma pressão constante de aproximadamente 2000 psi, garantindo a correta fixação da amostra. Figura 21 - Embutidora Struers Citopress-15 (Próprio autor, 2024) 3.3.3. Lixamento O próximo passo foi realizar o lixamento na peça para tornar a superfície a ser analisada o mais uniforme possível e prepará-la para o polimento. Utilizou-se lixas 220, 320, 400, 600 e 1000, rotacionando a peça em, 90 graus a cada lixa diferente. Foi orientado que o lixamento fosse realizado até que houvesse apenas riscos no sentido em que se lixava, apagando todos os riscos do lixamento anterior. Observa-se o processo na Figura 22. Figura 22 - Processo de lixamento da amostra (Próprio autor, 2024) 3.3.4. Polimento Visando finalizar a preparação da superfície e deixar a amostra pronta para o ataque químico, foi realizado o polimento. Utilizou-se uma politriz ajustada em aproximadamente 500 RPM. Foi adicionada uma solução de alumina sobre o disco de feltro, visível em cor verde na Figura 23. O polimento foi realizado com movimentos circulares opostos ao sentido de rotação da máquina, mantendo uma pressão constante sobre a amostra. Após o polimento, limpou-se a amostra em água corrente para que fosse possível realizar a próxima etapa. Figura 23 - Processo de polimento da amostra (Próprio autor, 2024) 3.3.5. Ataque químico O ataque químico foi realizado com Nital 2%. Com um pouco de Nital 2% em um prato de vidro, conforme Figura 24, emergiu-se a superfície da amostra por quatro segundos, com cuidado para que a superfície não ficasse opaca demais, caso fosse deixada por mais tempo. Imediatamente, ao remover a amostra do químico, a superfície foi limpa com um algodão embebido em álcool. Após, o álcool evaporou, deixando a peça atacada, seca. Assim, a amostra estava pronta para ser analisada em microscópio. Figura 24 - Recipiente com Nital 2% (Próprio autor, 2024) 3.4. Análise macroscópica Ao realizar a análise macroscópica, foi possível confirmar a presença de tratamento térmico no fragmento de eixo de transmissão. Apesar da análise macroscópica de fato ter sido realizada após o ataque químico, a fotografia que melhor ilustra a análise é a Figura 25, tirada entre as etapas de lixamento e polimento, onde é possível perceber uma região mais escura nas periferias dos fragmentos, revelando partes mais duras do aço, que, provavelmente, passaram por tratamento térmico. Figura 25 - Amostra original embutida, sem ataque químico, apresentando secção transversal e longitudinal (Próprio autor, 2024) 3.5. Análise microscópica Para as análises microscópicas das amostras foi utilizado o microscópio óptico Zeiss (Figura 26) disponível no LACAR (Laboratório de Caracterização da UFRGS) . Todasas amostras foram analisadas com ampliação de 100x e 1000x conforme a necessidade e tamanho das estruturas analisadas. Figura 26 - Análise microscópica no Microscópio óptico Zeiss - (os autores, 2024) 3.6. Análise de inclusões A análise de inclusões foi realizada antes do ataque químico à amostra, com ampliação de 100x, tanto no corte transversal quanto no longitudinal, as imagens colhidas foram comparadas com a tabela de classificação das inclusões (Secção 2.3.8). 3.7. Análise do tamanho do grão A análise do tamanho do grão é feita após o ataque químico com ampliação de 100x, tanto no corte transversal quanto no corte longitudinal, e as imagens colhidas comparadas com cartas-padrão (Secção 2.5). 3.8. Tratamentos térmicos Visando a necessidade de buscar qual foi o tratamento térmico utilizado na fabricação do componente mecânico testado, foram realizados os processos abaixo exemplificados a fim de comparar os resultados obtidos com os colhidos da amostra original. Frisando que após cada tratamento térmico as amostras foram submetidas a testes de dureza. 3.8.1. Recozimento Devido ao resfriamento lento característico do processo de recozimento, esse tratamento térmico foi conduzido pelo técnico do laboratório. A peça original foi dividida e aquecida a uma temperatura de 900 ºC , durante uma hora, garantindo que o material fosse aquecido acima da zona crítica para assegurar a completa austenitização. Após o aquecimento, a peça foi resfriada lentamente dentro do forno para prevenir tensões internas. Em seguida, realizou-se o lixamento para a remoção da carepa, seguido dos testes de dureza, preparação da amostra para embutimento e subsequente análise metalográfica. O resfriamento lento resulta na formação de perlita, que, quando atacada com Nital, revela uma aparência escura no microscópio. Essa aparência escura contrasta com a aparência clara da ferrita ou da cementita. Utilizando a porcentagem da área escura observada no microscópio, é possível determinar o teor de carbono presente na peça. Com base nesse percentual de carbono no aço, definimos a sua temperatura de austenitização, de acordo com o diagrama de fases. Na análise microscópica foi possível estimar o percentual de carbono da peça, observando-se a porcentagem de área escura com uma ampliação de 1000x. O seguinte cálculo foi utilizado para estimar o percentual de carbono: %á𝑟𝑒𝑎 𝑒𝑠𝑐𝑢𝑟𝑎∗ 0,77 =%𝑐𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑜 Equação 01 - Percentual de carbono com base na área escura Outra forma de estimar o teor de carbono, embora aproximada, foi comparar as imagens de microestruturas das peças com aquelas presentes na bibliografia existente. Este método possibilita verificar o percentual de carbono estimado conforme a relação mencionada anteriormente. 3.8.2. Normalização Para a realização do processo de normalização da amostra consideramos o teor de carbono de 0,45%, calculado na etapa do recozimento, com base nesse dado foi utilizado o diagrama Fe-C (Figura 13) para determinar que a temperatura do processo deveria ser de aproximadamente 780°C. No entanto, a amostra foi levada ao forno do laboratório pré-aquecido a 820°C por 15 minutos, e após foi resfriada ao ar. A divergência nas temperaturas do processo se deve ao fato que o forno é compartilhado com outros grupos e a fim de atender a todos, a temperatura foi elevada. 3.8.3. Têmpera A têmpera foi realizada em duas amostras: uma resfriada em água e outra resfriada em óleo. Os parâmetros de encharcamento utilizados foram os mesmos da normalização. Realizou-se o processo de forma semelhante para as duas peças, após a retirada do forno a amostra foi rapidamente mergulhada no líquido a temperatura ambiente sendo agitada bruscamente a fim de facilitar a troca térmica. Figura 27 - Processo de têmpera em água 27-a e em óleo 27-b (os autores, 2024) 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Nesta seção serão apresentados os resultados das análises da amostra realizadas em laboratório. Além da amostra original, foram realizados processos de recozimento, normalização, têmpera em óleo e têmpera em água. Cada um dos resultados das durezas e análise de microestruturas serão expostos em seus respectivos subtópicos a seguir. 4.1. Análise da amostra Original Primeiramente, foi realizada a coleta de dados com a amostra original para que a análise desses dados sirva de base para comparação com os dados coletados da amostra após passar por processos diferentes que podem alterar suas características físicas tais como dureza e microestrutura. 4.1.1. Análise da dureza Foram realizados ensaios sucessivos de dureza em três diferentes regiões da amostra. Na superfície dos dentes, na lateral dos dentes e no centro. Os valores estão dispostos na Tabela 2: Medição Região Dureza HRC HRB Média Desvio Padrão 1 Superfície 43 - 52,9 5,25 2 Superfície 55 - 3 Superfície 58 - 4 Superfície 56 - 5 Superfície 52,6 - 6 Centro - 84,1 85,7 1,247 Centro - 87,1 8 Centro - 86,1 9 Lateral 59,5 - 59 1,1510 Lateral 57,4 - 11 Lateral 60,1 - Tabela 2 - Dados de dureza da amostra original (os autores, 2024) A superfície do dente apresentou dureza média de 52,9 HRC com desvio padrão de 5,25 HRC e a lateral do dente imprimiu dureza média 59,0 HRC, com desvio padrão de 1,15 HRC, valores considerados altos e indicando uma influência perceptível dos efeitos do tratamento térmico. O centro, por sofrer menos os efeitos do tratamento térmico, imprimiu valores de dureza inferiores, sendo 85,7 HRB com desvio padrão de 1,52 HRB. Nota-se que o desvio padrão dos valores de dureza superficial do dente ficou relativamente alto ao ser comparado com as demais medidas, essa diferença pode ser explicada pois a superfície é pequena o que causa instabilidades nas medições. 4.1.2. Análise da microestrutura 4.1.2.1. Análise das Inclusões não Metálicas Com o objetivo de se observar as inclusões não metálicas, a amostra foi levada ao microscópio antes do ataque químico. Foram observadas as seções transversal e longitudinal da amostra, conforme Figuras 28 e 29 abaixo. Figura 28 -Amostra original com aumento de 100X (seção transversal no centro) (Próprios autores, 2024) Figura 29 -Amostra original com aumento de 100X (seção longitudinal na lateral) (Próprios autores, 2024) Analisando as Figuras 28 e 29 verifica-se a presença de inclusões no formato de pontos, demonstrando visual parecido com óxido globular. Em primeira análise, com o foco no perfil transversal da amostra, e comparando com a Figura 3 (secção 2.3.8, percebe-se inclusões maiores e mais espaçadas caracterizando tipo óxido globular de série grossa D3. Em segunda análise, para o perfil longitudinal, percebe-se que os pontos ficam mais próximos e menores, caracterizando inclusões também do tipo óxido globular, porém de série fina D5. 4.1.2.2. Análise dos Microconstituintes A análise da microestrutura do aço na Figura 30 revela uma matriz de ferrita com carbonetos precipitados, indicando que o aço foi provavelmente submetido a um processo de esferoidização para melhorar a usinabilidade. Este tratamento térmico resulta na formação de carbonetos esferoidizados, que são mais facilmente cortados durante a usinagem. Figura 30 - Amostra original com ampliação de 1000X, corte transversal - centro, atacada com nital (Próprios autores, 2024) Comparando com as microestruturas observadas nas Figuras 16 e 17 da seção 2.10.1.2 deste trabalho, podemos concluir que a Figura 30 apresenta características semelhantes às da imagem 16 (2.10.1.2), onde a esferoidização foi bem-sucedida, resultando em glóbulos de cementita esferoidizada em uma matriz ferrítica. Na Figura 17, apesar da presença de lamelas de cementita indicando uma esferoidização incompleta, a matriz de ferrita é ainda evidente. Isso reforça a conclusão de que o aço na Figura 30 passou por um processo de esferoidização, similar ao observado na Figura 16 (2.10.1.2), e difere da Figura 17 onde a esferoidização não foi totalmente eficaz. Foi então analisadaa região periférica da amostra, pois essa apresenta uma maior dureza, com o intuito de identificar a diferença na microestrutura. Figura 31 - Amostra original com ampliação de 1000X, corte transversal - lateral, atacada com nital (Próprios autores, 2024) Na lateral percebe-se de forma bem evidente uma estrutura de martensita com carbonetos esferoidizados, tal estrutura pode ser comprovada pela Figura 12. Essa estrutura condiz com a dureza encontrada e nos leva a acreditar que a peça passou por um tratamento térmico (provavelmente de têmpera). Ao comparar com o diagrama TCC do Atkins (Figura 15), vimos que essa é a estrutura prevista para um aço com os mesmos elementos que o ISO/AISI 4340. Figura 32 - Área de transição entre região periférica e central, aumento de 50x (Próprios autores, 2024) Foi realizada uma fotografia com aumento de 50x para a observação da região de transição da dureza. Não foi possível uma captura de maior ampliação devido à zona de transição ser muito grande nesse caso. Tendo em vista que a parte inferior-esquerda da imagem se refere à superfície da peça e a parte superior-direita, ao centro, é evidente uma granulometria de glóbulos de cementita esferoidizada em uma matriz ferrítica no centro, e uma microestrutura não tão definida nessa foto, mas que já vimos se tratar de martensita com carbonetos esferoidizados, correspondente à superfície mais dura. 4.2. Análise da amostra Recozida 4.2.1. Análise da dureza Dispostos na tabela abaixo, os valores obtidos nos ensaios de dureza da amostra recozida, após a mesma ser minimamente lixada, visando a remoção de possíveis materiais depositados na superfície, oriundos do processo de recozimento. Medição Região Dureza HRC HRB Média Desvio Padrão 1 Centro - 95 96,66 1,52 2 Centro - 97 3 Centro - 98 4 Dente - 81 81 2 5 Dente - 83 6 Dente - 79 Tabela 3 - Resultados dos testes de dureza na amostra recozida (Próprio autor, 2024). Os valores de dureza na amostra recozida são muito inferiores aos valores obtidos na amostra original. Essa diferença verifica que o processo de recozimento foi realizado de forma correta, esta redução na dureza da peça é devido aos efeitos do tratamento térmico, por conta da mudança da microestrutura. O dente e o centro apresentam médias de dureza iguais à 81 HRB e 96,66 HRB, respectivamente, assim, pode-se concluir que na superfície a dureza fica um pouco menor devido a descarbonetação que ocorre no forno por não termos controle do ambiente. 4.2.2. Análise da microestrutura A peça foi submetida ao ataque químico com Nital 2% durante aproximadamente 4 segundos para que sua microestrutura fosse revelada, possibilitando a análise da mesma. É possível observar que a peça ficou homogênea quanto à sua microestrutura, resultado que indica que o recozimento foi realizado com sucesso e descarta a possibilidade da peça ter sido submetida a um tratamento termoquímico superficial. Figura 33 - Amostra recozida com aumento de 100X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024) Figura 34 - Amostra recozida com aumento de 1000X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024) Nota-se a presença de perlita com poucas áreas de ferrita, resultado esperado do processo de recozimento para um aço hipoeutetóide. Esse resultado está de acordo com o diagrama CCT do Atkins (Figura 15), para o aço ISO/AISI 4340, com 0,4% de carbono. 4.2.3. Tamanho do grão Comparando a imagem da amostra recozida ampliada 100x com a Carta Padrão de tamanho de Grão da ASTM (Figura 7, seção 2.5) é possível assumir que o tamanho de grão do centro da amostra recozida é entre 4 e 5. 4.2.4. Análise percentual de carbono Para se estimar o percentual de carbono da amostra, compara-se a quantidade de área clara e escura. O valor encontrado é usado no cálculo descrito na fundamentação teórica da análise percentual de carbono. É importante sabermos o percentual de carbono para definirmos a temperatura dos tratamentos térmicos. Para essa análise foi utilizada a Figura 35, corte transversal da amostra na região central, com aumento de 1000x, que é constituído de perlita grossa e ferrita. Figura 35 - Análise do percentual de carbono utilizando o Software ImageJ (Próprios autores, 2024). O resultado obtido usando o método que redefine as tonalidades de branco, preto e acinzentado, para somente tons de preto e branco, nos permitiu calcular a percentagem da área escura da amostra. Com esse resultado de 59,09% de área escura e usando a Equação 1, a percentagem de carbono resultou em 0,45%, o que não condiz com a real composição do aço ISO/AISI 4340, pois os elementos de liga e a escolha da temperatura a necessária para o recozimento, acrescido com a simplificação utilizada pelo software, fizeram com que a área escura fosse superior ao que realme pode ser considerado para o cálculo. %á𝑟𝑒𝑎 𝑒𝑠𝑐𝑢𝑟𝑎∗ 0,77 = %𝑐𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑜 Equação 1 - Percentual de carbono com base na área escura 4.3. Análise da amostra resfriada ao ar 4.3.1. Análise da dureza A Tabela 4 abaixo apresenta os valores de dureza medidos para a amostra que passou pelo tratamento térmico de normalização, aquecida a uma temperatura de 820°C, pois supomos destarte que se a peça não possuía elementos de liga e possuía um percentual estimado na seção 4.2.4, com base nisso, a peça foi aquecida e resfriada ao ar. Medição Região Dureza HRC HRB Média Desvio Padrão 1 Centro 52 - 54,6 1,63 2 Centro 54,5 - 3 Centro 56 - 4 Centro 54,5 - 5 Centro 56 - 6 Dente 52,5 - 54,7 3,34 7 Dente 58 - 8 Dente 50 - 9 Dente 56 - 10 Dente 57 - Tabela 4 - Resultados dos testes de dureza na amostra normalizada (Próprio autor, 2024). Como observado na Tabela 4, os valores de dureza encontrada no corpo de prova normalizada são muitos superiores ao da amostra recozida e semelhantes ao da amostra original, na região superficial, onde houve tratamento térmico de têmpera. Assim, a diferença dos valores de dureza no centro e na superfície no corpo de prova é bem baixa, podendo admitir que este tratamento térmico foi feito corretamente. Por fim, conclui-se que o material pode ser temperado ao ar, o que ocorreu neste caso, explicando o alto valor de dureza em toda a peça. 4.3.2. Análise da microestrutura É possível identificar que a amostra normalizada possui martensita, como esperado pelo diagrama CCT do Atkins (Figura 15), do aço ISO/AISI 4340, visto que ele abrange uma grande área de ação conforme o resfriamento prolongado. Esta formação e dureza evidencia que a amostra se trata de um aço ligado, de alta temperabilidade, o que explica a sua escolha para a fabricação de um eixo de transmissão automotivo. Figura 36 - Amostra normalizada com aumento de 100X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024) Figura 37 - Amostra normalizada com aumento de 1000X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024) 4.3.3. Tamanho do grão Comparando a imagem da amostra normalizada ampliada 100x com a Carta Padrão de tamanho de Grão da ASTM (Seção 2.5) é possível assumir que o tamanho de grão do centro da amostra normalizada é 8. 4.4. Análise da amostra resfriada em água 4.4.1. Análise da dureza Assim como a peça resfriada ao ar, a amostra resfriada em água foi submetida ao teste de dureza nos pontos central e superficial. Os dados colhidos nesta análise em escala de dureza rockwell C estão dispostos na Tabela 5 abaixo para melhor visualização. Medição Região Dureza HRC HRB Média Desvio Padrão 1 Centro 59 - 60,8 2,00 2 Centro 59,1 - 3 Centro 61,5 - 4 Centro 60,4 - 5 Centro 64 - 6 Dente 59,1 - 59,94 1,52 7 Dente 58,9 - 8 Dente 59 - 9 Dente 60,2 - 10 Dente 62,5 - Tabela 5 - Resultados dos testes de dureza na amostra temperada a (Próprio autor, 2024). Ao analisar os valores observados, não constatamos variações significativas de dureza entre o centro e a superfície, indicando que a amostra possui uma homogeneidade de dureza em toda a sua estrutura. Comparando os valores de dureza entre as amostrasresfriadas em água e em óleo, notamos um sutil aumento na dureza na amostra resfriada em água. 4.4.2. Análise da microestrutura Ademais, as Figuras 38 e 39, tanto na seção transversal quanto na seção longitudinal, nota-se estruturas muito bem definidas de martensita, o que era esperado para este material de acordo com a sua curva CCT do Atkins (Figura 15), para o aço ISO/AISI 4340. Por conseguinte, conclui-se que o material pode ser temperado em água, no entanto era esperado uma dureza flertando com os 67 HRC, já que, esperava-se uma estrutura completamente composta por martensita. Figura 38 - Amostra temperada com água com aumento de 1000X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024) Figura 39 - Amostra temperada com água com aumento de 1000X (seção transversal - Lateral) (Próprios autores, 2024) 4.5. Análise da amostra resfriada em óleo 4.5.1. Análise da dureza Após a realização da têmpera em óleo, assim como as demais, a amostra foi submetida ao teste de dureza nos pontos central e superficial. Os testes foram realizados em escala de dureza Rockwell C e estão dispostos na Tabela 6 abaixo. Medição Região Dureza HRC HRB Média Desvio Padrão 1 Centro 61,5 - 60,34 0,96 2 Centro 60 - 3 Centro 61 - 4 Centro 59 - 5 Centro 60,2 - 6 Dente 58 - 59,66 1,32 7 Dente 61,5 - 8 Dente 58,9 - 9 Dente 60,4 - 10 Dente 59,5 - Tabela 6 - Resultados dos testes de dureza na amostra temperada a (Próprio autor, 2024). Novamente ao analisarmos os dados colhidos pode-se observar que tanto o centro como a periferia da peça apresentam valores de dureza muito próximos. Sendo assim, a amostra é homogênea enquanto sua dureza. Percebe-se que a dureza da peça não teve alterações significativas comparado aos demais tratamentos efetuados. 4.5.2. Análise da microestrutura Ao analisar a microestrutura das amostras fica evidente a formação de estruturas muito bem definidas de martensita. Tal fato evidencia o sucesso do processo de têmpera assim como na amostra temperada em água. Analogamente as demais amostras o resultado encontrado vai de acordo com o esperado na curva CCT do Atkins, (Figura 15) para o aço ISO/AISI 4340. Figura 40 - Amostra temperada com óleo com aumento de 1000X (seção transversal - Lateral) (Próprios autores, 2024) Figura 41 - Amostra temperada com água com aumento de 1000X (seção transversal - Centro) (Próprios autores, 2024) 4.6. Espectroscopia de emissão óptica Por fim, foi realizado o processo de espectroscopia de emissão óptica em uma das amostras atadas, o que confirmou as suspeitas de que o material se travava de um aço liga, com alta temperabilidade e de grande uso no setor automobilístico. Este teste revelou que o aço é um ISO/AISI 4340, com 1,94% de Ni, 0,884% de Cr, 0,283% de Mo, 0,202% de Cu, 0,084% de Si. Figura 42 - Resultados do teste por espectroscopia de emissão óptica (Próprios autores, 2024) 4.7. Considerações finais Colocar aqui o quadro resumo das durezas convertidas e RM (apenas os valores médios finais e as possíveis microestruturas). Centro Superfície ou Periferia Amostra/Escala HV HRB HRC RM (Mpa) HV HRB HRC RM (Mpa) Original 173 85,7 - - 560 - 52,7 - Recozida 222 96,66 - - 160 81 - - Normalizada 595 - 54,6 - 595 - 54,7 - Temperada óleo 697 - 60,34 - 674 - 59,66 - Temperada água 720 - 60,8 - 697 - 59,94 - Tabela 7 - Tabela de dureza em diferentes escalas (Próprios autores, 2024) Para melhor visualização, temos uma tabela com as diferentes microestruturas. Amostra Centro Superfície ou periferia Original cementita esferoidizada + ferrítica Martensita com carbonetos esferoidizados Recozida Perlita + Ferrita Perlita + Ferrita Normalizada Martensita + Bainita Martensita + Bainita Temperada em água Martensita Martensita Resfriamento em óleo Martensita Martensita Tabela 8 - Tabela de microestruturas (Próprios autores, 2024) Figura 43 - Diferentes microestruturas com aumento de 1000X (Próprios autores, 2024) 4.7.1. Interpretação de curvas e gráficos Figura 44 - Diagrama CCT para aço SAE/AISI 4340 (Próprios autores, 2024). Usando o método de microscopia de emissão óptica, empregado para detectar a percentagem de carbono e demais elementos químicos presentes na amostra, estimou-se que o aço possuía cerca de 0,4% de carbono. Com base nesses valores, escolheu-se a curva CCT para verificar as microestruturas. Dessa forma, podemos considerar este aço como sendo um 4340, que é amplamente utilizado em diversas aplicações mecânicas. Vale ressaltar que existe um pequeno erro na técnica de estimativa da percentagem de carbono por área escura da amostra reconhecida, o qual não foi utilizado para a escolha da curva CCT. Com base na percentagem estimada e utilizando uma curva CCT obtida do M. ATKINS (1980), juntamente com a tabela de dureza das amostras, foi possível confirmar as microestruturas presentes em cada caso. Com base na Figura 44, é possível confirmar as microestruturas das amostras com base na numeração indicada, assim urge as seguintes conclusões: Para a linha D, que representa a amostra recozida, o diagrama indica somente a existência de perlita e ferrita, o que também se verifica na seção 4.2.2. Na normalização, indicada pela linha C, deveríamos visualizar uma pequena presença de bainita. Na prática, só foi possível observar martensita na imagem do microscópio da seção 4.3.2. Porém, sabemos que a bainita é de difícil visualização no microscópio, por isso não descartamos a sua presença. Para a linha B, representando a o tratamento térmico com resfriamento em óleo, o diagrama indica somente a presença de martensita se considerássemos a variação da curva de resfriamento, o que se torna prático ao observar a seção 4.4.2. Para a linha A, caracterizando a têmpera em água, há a presença apenas de martensita, a uma dureza máxima considerando a curva CCT, o que também foi concluído ao observarmos na imagem do microscópio da seção 4.5.2. 4.7.2. Reengenharia Os estudos realizados na amostra original da peça sugerem um processo de têmpera superficial, que fica evidenciado com base na análise macroscópica que mostrou uma diferente coloração no centro da peça em relação às áreas mais periféricas. Outro fator que colabora para esta teoria é a análise de dureza na qual mostrou valores mais elevados (média de 59HRC) para as regiões distantes do centro (média 85,7 de HRB). A análise por espectroscopia de emissão óptica revelou que o material se trata de um aço 4340 com adição de algumas outras ligas. De posse das informações citadas acima, para se reproduzir o objeto deste estudo, sugere-se o tratamento do aço 4340 por meio de uma têmpera superficial com resfriamento em óleo, pois o seu resfriamento mais lento não propicia a aparecimento de trincas e fissuras no material. A fim de se baixar a dureza e melhorar a usinabilidade será necessário um processo de revenimento. Com base no fato da peça analisada se tratar de um eixo de transmissão automotivo, item que é submetido a diversos tipos de esforços e momentos a dureza superficial elevada é justificada. O fato de sua região central ser menos dura é condizente com a sua aplicação visto que se a dureza alta da superfície fosse constante o componente ia ser muito propenso a quebras e trincas 5. CONCLUSÕES Tire conclusões apenas do que foi interpretado acima. Não conclua sobre o que você não analisou. Tire suas conclusões de forma objetiva e na forma de tópicos (sugestão) ao invés de um texto contínuo. REFERÊNCIAS MOURÃO, Marcelo Breda. Introdução a Siderurgia. São Paulo: Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais - ABM, 2007. CALLISTER, JR, WILLIAM D. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma Introdução. 9. ed. Rio de Janeiro, RJ: LTC _ Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda., 2007. COLPAERT, Hubertus. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. 4. ed. São Paulo: Blucher, 2008. BINGS, N. H. Inductively Coupled Plasma Optical Emission Spectroscopy (ICP-OES). [S. l.: s. n.], 2006. ATKINS, M; MET, B.Atlas of continous cooling transformation diagrams for engineering steels. [S. l.: s. n.], 1980. DIETER, G.E. Mechanical Metallurgy. 3rd Edition. New York: McGraw-Hill, 1986. ASM INTERNACIONAL. Metallography and Microstructures. Volume 9. [S. l.: s. n.] 2015. LLEWELLYN, D. Steels: Metallurgy and Applications. Londres: Butterworth-Heinemann Reading, 1992. Notas de Aula – prof. Marcelo Mabilde