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Geografia de guerra e conquista Apresentação A Geografia é uma ciência que aborda questões e relações ligadas ao espaço geográfico e às interações que nele ocorrem. Durante a história da humanidade e de seu desenvolvimento, houve a necessidade de conquista, domínio, demarcação e organização desse espaço, gerando muitas vezes conflitos, disputas e guerras. Porém, até para que isso fosse e continuasse sendo possível, foi necessário o conhecimento do espaço geográfico, possibilitado por meio da ciência geográfica. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ver o uso da Geografia como instrumento de conquista, os autores fundamentais para esse conceito e suas ideias, bem como de que maneira a Geografia fomentava a guerra e a conquista. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o uso da Geografia como instrumento de conquista.• Listar autores fundamentais da Geografia como instrumento de conquista e suas ideias.• Explicar de que maneira a geografia fomentava a guerra e a conquista.• Desafio A Geopolítica é um dos ramos da Geografia mais importantes, pois dimensiona as relações e dependências entre os países do mundo, como políticas, econômicas, territoriais, sociais, entre outras. Suponha que você é um professor e pesquisador de Geografia e foi convidado para participar de um congresso sobre temas da Geopolítica e as relações entre países e macroeconomia. Seguindo o planejamento, mencione qual o autor do livro citado e algumas ideias que fundamentem a escolha. Infográfico Diversas teorias geopolíticas surgiram ao longo da história da humanidade, no que tange ao poder e às estratégias de conquista, como o poder naval, que seria o desenvolvimento tecnológico naval e seu poderio de forças militares marítimas, e o poder terrestre, que, contrário ao naval, seria alavancado, principalmente, pelas mudanças tecnológicas provenientes do desenvolvimento do motor à combustão e das grandes ferrovias transcontinentais. Neste Infográfico, você conhecerá as principais teorias geopolíticas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/6fb7786b-97f3-4514-8696-a9219efe42da/d4029540-d8c8-4ed6-bdf8-895812c9fba6.jpg Conteúdo do livro A Geografia, como ciência, tem diversos objetivos e utilizações, que variam de acordo com a necessidade dos homens ao longo da história. O espaço geográfico é o palco dessas utilizações e atuações, em que existem as relações entre os próprios seres humanos e com a natureza, inclusive a necessidade de conquista, demarcação, institucionalização do Estado e guerra. No Capítulo Geografia de guerra e conquista, do livro Cartografia, você vai ver o uso da Geografia como instrumento de conquista, os autores fundamentais para esse conceito e suas ideias, bem como de que maneira a Geografia fomentava a guerra e a conquista. Boa leitura. CARTOGRAFIA Cristina Marin Ribeiro Gonçalves Geografia de guerra e conquista Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o uso da geografia como instrumento de conquista. Listar autores fundamentais para o conceito e suas ideias. Explicar de que maneira a geografia fomentava a guerra e a conquista. Introdução Ao longo da história da humanidade, o espaço geográfico vem sendo palco do desenvolvimento das sociedades e, como consequência, sofrendo inúmeras transformações. Estas ocorrem por intermédio do homem, pela realização de suas atividades produtivas, vivências e conquistas. Para tanto, foi surgindo a necessidade de demarcação e a posse dos espaços vividos e conquistados, que ocorreram inúmeras vezes por meio da guerra. Neste capítulo, você vai estudar o uso da geografia como instrumento de conquista, os autores fundamentais para o conceito, as suas ideias e também de que maneira a geografia fomentava a guerra e a conquista. Geografia como instrumento de conquista De acordo com Moreira (2007), a geografi a é historicamente defi nida como ciência, na qual seu tema tem sido o conhecimento, ocupando-se do problema da existência, mas sempre confundindo com o tema sobrevivência. Em cada época da história existiu uma forma de geografia e um perfil próprio de geógrafos. Na Antiguidade, por exemplo, a geografia era baseada no registro cartográfico de povos e territórios. Viajantes, comerciantes e Estado solicitavam dos geógrafos diversas informações de caráter estratégico que os orientavam em seus deslocamentos no interior dos espaços de vida de cada povo, como, por exemplo, os povos romanos na Antiguidade. De acordo com Oliveira e Saraiva (2016), ao iniciar a busca por alimento e moradia, a humanidade começou a precisar de senso de localização. O ambiente que o cercava era vasto e sua capacidade de guardar informações era restrita. Dessa maneira, surgiu a necessidade de registrar e rascunhar seu pensamento e atividades. Após a evolução dos símbolos, tornando-se mais padronizados e significativos, os seres humanos começaram a localizar seu posicionamento, assim encontrando abrigo e mantimentos com mais facilidade, pois tinham noção de seu posicionamento e das regiões próximas de onde habitavam. Cerca de 4.000 a.C., com o sedentarismo e a criação do Estado, ocorreu a Revolução agrícola, vindo à tona, mais uma vez, a necessidade de reconhecer os acidentes do relevo, os limites entre as propriedades e localização, surgindo, então, os primeiros procedimentos de demarcação de áreas. As representações gráficas mais antigas conhecidas pela humanidade foram criadas na Mesopotâmia, aproximadamente, em 3.500 a.C., representando as regiões entre os rios Tigre e Eufrates, que correspondem, atualmente, ao Iraque. Oliveira e Saraiva (2016) afirmam que a prática desses métodos de medição e representação foi repassada aos gregos, que a chamaram de topografia: “topo” significa lugar ou ambiente, e “grafia”, um desenho ou representação gráfica, sendo em suma a descrição de um lugar, conforme exemplo da Figura 1, que traz uma planta topográfica. Figura 1. Exemplo de uma planta topográfica para a construção de um projeto de estradas. Fonte: Oliveira e Saraiva (2016, p. 10). Geografia de guerra e conquista2 Todavia, na Idade Antiga (de 4.000 a.C. a 476 d.C.), as civilizações exerciam um controle sobre a água dos rios com a construção de açudes e canais de irrigação, como no Egito. Nesse período, existia uma preocupação, não com a disposição e o registro do local, mas com a execução de um projeto, isto é, a locação de uma obra já planejada. O Estado era dominado pelas camadas superiores da sociedade e, para garantir essa dominação, reis, imperadores e príncipes organizavam exércitos, surgindo, então, as primeiras batalhas pela expansão territorial e apoderamento de riquezas, em que, com elas, surgiu a necessidade de confecção de mapas, levando, então, a grandes avanços da cartografia. Na Idade Média, além dos mapas terrestres, outro posicionamento tornou- -se fundamental ao homem, no qual o termo hidrografia tomou força, pois o homem começou a se “lançar” ao mar. O século XVI foi marcado pelas primeiras grandes viagens comerciais, culminando com o descobrimento do continente americano. No entanto, nos séculos XVII e XVIII, ocorreu um grande avanço na cartografia dos povos europeus, como o planisfério de Van der Aa e Jeans Cassini, de 1715. De acordo com Oliveira e Saraiva (2016), para o exercício de uma car- tografia consistente, a topografia e a geodésia, por meio de levantamentos topográficos e geodésicos, também deve ser coerente a coleta dos dados para o que se deseja representar. A partir da segunda metade do século XVIII, impusionados pelas operações de guerra frequentes das grandes potências europeias, pelas necessidade de cartas e pela impossibilidade de execução de grandes serviços por meios privados, surgiram os serviçoscartográficos nacionais, responsáveis pelos levantamentos topográficos. Então, foi divulgado o processo de levantantamento por triangulação como método principal para os grandes levantamentos. A triangulação é um método de levantamento em que as coordenadas são obtidas por meio de transporte de coordenadas preestabelecidas, fazendo-se a leitura de ângulos horizontais entre duas estações usadas como base para um terceiro ponto de vista, e assim por diante. 3Geografia de guerra e conquista Ainda de acordo com Oliveira e Saraiva (2016), no século XIX, diversos avanços ocorreram nos processos e instrumentos topográficos, como a invenção do taqueômetro, por volta do ano de 1835, pelo italiano Ignazio Porro. Também no século XIX, destaca-se a criação dos princípios da fotogrametria, em 1848, por Aimé Laussedat, que, no século seguinte, passou por um grande avanço, na perspectiva econômica, de rapidez e precisão no mapeamento. Todavia, no século XX, os instrumentos topográficos e geodésicos tive- ram grande modernização, salientando-se o aparecimento e a evolução da informática e da eletrônica, em que, a partir da Segunda Guerra Mundial, a topografia e a geodésia experimentaram um alto grau de precisão e eficiência. Autores fundamentais e suas ideias De acordo com Becker (2012), cada vez mais o espaço é utilizado como forma de alternativa de controle social. O modo pelo qual o espaço é apropriado e gerido e o conhecimento desse processo constituem, ao mesmo tempo, expressão e condição das relações de poder. A geografia política proveniente de Friedrich Ratzel, em 1897, na obra Politische Geographie (Geografia política), representou um avanço na teoria geográfica do Estado, sendo uma das poucas a assumir o valor estratégico do espaço e da geografia. Podemos considerar a sua obra como o primeiro momento epistemológico da geografia, que se ocupou do conhecimento científico, estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados, mesmo que sob a influência da rea- lidade e contexto em que vivia, que foi marcado pela expansão e consolidação dos Estados-Nação da Europa, propondo, então, uma concepção unidimensional e naturalizada do político, encarado, exclusivamente, pelo Estado como um fato dado e fortemente condicionado pelo solo de seu território. Ainda de acordo com Becker (2012), a legitimidade científica para a prática estratégica do Estado, que é crescente e sistematicamente instrumentalizada, e o espaço (e o tempo) visando aos objetivos econômicos e de controle social, passou a ser dada por uma nova disciplina, a Geopolítica, criada em 1917 a partir da apropriação justamente do organicismo contido na obra de Ratzel e também das informações descritivas e “apolíticas” produzidas pelos geógrafos. As deformações da Geopolítica nazista afetaram, ainda mais, os geógrafos dessa reflexão teórica, embora muitos, em sua prática, não deixassem de colaborar com o aparelho do Estado no planejamento da guerra e do território. Geografia de guerra e conquista4 O ato de negar a prática estratégica, das origens da disciplina, seja teorizada por Ratzel, seja a da Geopolítica explícita do Estado Maior, ou implícita na prática dos geógrafos, é negar a própria Geografia, que foi, assim, prejudicada no seu desenvolvimento teórico e na sua função social. No contexto da Geografia Humana francesa, destaca-se Camille Vallaux, que escreveu a obra Geografia social: o solo e o Estado (1910), o primeiro estudo completo e sistemático de Geografia Política desde Ratzel, fazendo uma análise crítica e ao mesmo tempo detalhada das ideias de Ratzel. De acordo com Silva (2018), compete a Ratzel ser um dos grandes influenciadores da Geopolítica, embora nunca tenha feito uso do termo Geopolítica (ou Geopolitik, em alemão), repercutindo de forma decisiva sobre e estudiosos da Geopolítica. Mais tarde, ofereceu a Rudolf Kjellén, geógrafo sueco, as bases para criar o único ramo que logrou sucesso na sua divisão da política. Ou seja, desde a publicação da obra Politische Geographie, a Geografia Política tem sido definida como estudo das relações entre Estado e solo, sendo Kjellén um dos primeiros geógrafos a trabalhar com a questão do poder das sociedades nas relações com seus espaços. Podemos destacar duas grandes contribuições: a de Yves Lacoste, que privi- legia a Geopolítica e o potencial político do espaço, em que sua proposta é mais metodológica do que teórica; e a de geógrafos neomarxistas, que privilegiam a teoria da Geografia Política baseada no materialismo histórico, reduzindo o Estado a poucas derivações do econômico; é o determinismo econômico e uma concepção naturalizada e unidimensional do poder. No entanto, no cenário brasileiro, podemos considerar Everardo Backheu- ser como precursor dos estudos Geopolíticos, assim como Golbery do Couto e Silva, que exerceu diversas funções, sendo reconhecido, principalmente, como um dos principais teórico da Doutrina de Segurança Nacional entre os anos de 1949 e 1966. Além de ser considerado um dos grandes geopolíticos brasileiros, Backheuser foi general, exercendo funções nos governos militares e na própria Escola Superior de Guerra. Becker (2012) afirma que a naturalização do Estado e do espaço, pelo determinismo geográfico, e a reação extrema a essa postura cria, assim, um impasse para a análise das relações entre o espaço e o político e a sociedade em geral. Ora se considera o espaço como determinante da ação humana e o Estado como única fonte de poder, ora se nega essa determinação, substituindo-se para a econômica, mas sem precisar o papel do espaço e do Estado nessas relações. A Geopolítica traz como herança ideológica as hipóteses geoestratégicas sobre o poder mundial que seguem dois princípios básicos: são concentradas no Estado-Nação e atribuem o poder à Geografia concreta dos lugares. 5Geografia de guerra e conquista Na hipótese de centrar o Estado-Nação e caracterizá-lo como unidade exclusiva de poder global, onde o mundo é visto a partir da perspectiva de um Estado, pois, na verdade, as potências disputam o poder no cenário inter- nacional, constituindo o ponto de referência para a organização dos demais. A atribuição do poder à configuração das terras e mares e ao contexto dos territórios é aderir ao princípio do determinismo geográfico e omitir a res- ponsabilidade humana na tomada de decisão política, incluindo a dos Estados, que modelam a geografia de seus territórios. O denominado determinismo geográfico, ou determinismo ambiental, coloca o homem em uma condição submissa à natureza, em que os aspectos naturais determinam a ação humana, sendo, então, as características físicas e psicológicas dos homens determinadas pelo meio ambiente físico em que vivem. A partir das ideias de Friedrich Ratzel, considerado o pai do determinismo geográfico, foi criada a primeira escola geográfica, a qual defendia a importância do território como fator determinante do poder entre as nações. Com certeza, o Estado não é a única unidade de poder, apesar de ser uma delas, e o poder não sendo determinado pela configuração das terras e mares e pela geografia dos lugares, e sim por motivações e razões humanas e pelas relações das sociedades. De acordo com Becker (2012), o espaço sempre foi fonte de recursos e meio de vida. Contemporaneamente, sua potencialidade reside, também, no fato de ser condição para a reprodução generalizada — como dimensão concreta, constituinte das relações sociais; ele é produtor e reprodutor das relações de produção e de dominação. Daí o controle crescente do espaço como forma de controle social. É, portanto, no contexto da instrumentalização do espaço — e do tempo —, bem como do reconhecimento de sua potencialidade, que se pode resgatar a dimensão política da Geografia contida no projeto original, e posteriormente renegada. A questão territorial, atualmente, é uma chave, pois abre a perspectiva da multidimensionalidade do poder no que diz respeito à práticaespacial estratégica de todos os atores sociais e em todos os níveis, escapando da concepção totalitária de um poder unidimensional, seja do Estado, do capital ou da máquina de guerra. Geografia de guerra e conquista6 Geografia como fomento à guerra e à conquista De acordo com Vesentini (1988), a principal resposta que Lacoste fornece ao seu questionamento constitui o próprio título do livro: isto — a geografi a — serve, em primeiro lugar, (embora não apenas) para fazer a guerra, ou seja, para fi ns político- -militares sobre (e com) o espaço geográfi co, para produzir e reproduzir esse espaço com vistas (e a partir) das lutas de classes, especialmente como exercício do poder. Ser ou não ser de fato uma ciência pouco importa, em última análise, argumenta o autor. O fundamental, a seu ver, é que, malgrado as aparências mistifi cadoras, os conhecimentos geográfi cos sempre foram, e continuam sendo, um saber estraté- gico, um instrumento de poder intimamente ligado a práticas estatais e militares. A geopolítica, dessa forma, não é uma caricatura nem uma pseudogeografi a, ela seria, na realidade, o âmago da geografi a, a sua verdade mais profunda e recôndita. De acordo com Santo Junior (2016), as principais teorias geopolíticas são a de Mahan, que defende o poder marítimo; a de Mackinder, que privilegia o poder terrestre; e a Geopolitik nazista, que, embora elaborada teoricamente por Haushofer, não foi seguida pelo Terceiro Reich. Spykman reelabora a teoria mackinderiana no pós-guerra e sustenta a estratégia geopolítica estadunidense desde então. O grande formulador da Teoria do Poder Marítimo, Alfred Thayer Mahan, para entender como a Grã-Bretanha dominou os mares por 300 anos e ao mesmo tempo compreender os instrumentos de ação que foram utilizados por ela para esse domínio, publicou, em 1980, a sua abra clássica The Influence of Sea Power Upon History: 1660–1783, na qual discute a história naval britânica, ainda mais por causa de sua visão estratégica, explicou e previu guerras, assim como instabilidades globais. Sendo assim, é reconhecido como precursor das teorias geopolíticas sobre o poder marítimo na época contemporânea, em que nenhuma pessoa influenciou tão direta e profundamente a Teoria do Poder Marítimo como Mahan. Os elementos apresentados como os fundamentais das supremacias navais são: posição geográfica; formação física; extensão territorial; tamanho da população; caráter do povo; caráter do governo. De acordo com Silva (2018), devemos ressaltar que o papel da posição geográfica está, em primeiro lugar, no que se refere às condições específicas que definem o poder marítimo. Além disso, quanto à extensão territorial e à 7Geografia de guerra e conquista sua influência no poder marítimo, Mahan considera que, mais que o total de quilômetros quadrados de um território, o que conta de fato é a extensão de seu litoral e as características de seus portos. Contudo, se não forem considerados o tamanho e a distribuição de sua população, tais fatores se tornam inválidos. Ainda para Silva (2018), outros dois fatores são apresentados pelo teórico: o Caráter Nacional e o Caráter de Governo. O primeiro apresenta as direções seguidas pelos países com relação às atividades em geral e, especialmente, aquelas ligadas ao mar. Nesse caso, Mahan cita exemplos da Espanha e Por- tugal para mostrar que a exploração baseada simplesmente na “caça à riqueza imediata”, como de ouro e prata, é efêmera e ao mesmo tempo de pouco efeito quando não articulada a outras atividades econômicas, principalmente a in- dústria. Todavia, o “Caráter de Governo”, para o poder marítimo, é entendido como a combinação do governo e da instituição de um país, concluindo que a eficácia é maior nos governos apresentados como democráticos. A Teoria do Poder Terrestre foi criada por Halford John Mackinder, em que a teoria da geopolítica clássica, que se contrapunha à teoria de Mahal, considerava que a geografia era a base da história, contribuindo para a cons- trução de uma teoria que tem na geoestratégia a chave para a hegemonia mundial, sendo, então, o poder terrestre, e não o naval. Então, podemos afirmar que a primeira grande corrente clássica da Geo- política foi desenvolvida por Mackinder, primeiro, por ter acompanhado de perto a situação do seu país e do mundo em quatro períodos muito signifi- cativos para a história da humanidade e, em particular, para a evolução do pensamento geográfico-político, com a transição do século XIX para o XX, com as transformações no continente europeu que afetaram o mundo, como o fortalecimento do Império Britânico e as disputas interimperialistas que culminaram na Primeira Guerra Mundial; e o desdobramento da guerra e suas consequências; e o período entre guerras (1919–1939); e, por fim, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e suas consequências ao mundo. A obra de Karl Haushofer, que foi general do exército alemão, é composta por diversas controvérsias, um tanto pela sua extensão e um pouco pelo seu alinhamento com o partido Nazista. Haushofer baseou-se tanto na Geografia Política de Ratzel quanto nas ideias continentais de Mackinder, o qual influen- ciou Haushofer na elaboração das estratégias para a Segunda Guerra Mundial. Proveniente do pensamento de Ratzel, originou-se a concepção organicista baseada nos conceitos de espaço vital e de fronteira. Para Haushofer, a disputa pelo espaço vital reduziria o mundo a quatro entidades políticas de dimensões continentais: as pan-regiões, conforme Figura 2. Geografia de guerra e conquista8 Figura 2. Pan-regiões. Fonte: Santos Junior (2016, p. 87). De acordo com Santo Junior (2016), os Estados Unidos tiveram como principal formulador de sua política de segurança no Pós-Guerra o holan- dês, naturalizado norte-americano, Nicholas John Spykman. Em seu livro America’s strategy in word politics: the United States and the balance of power, de1942, encontra-se o núcleo doutrinário de suas ideias, também desenvolvidas na obra póstuma The geography of Peace, de 1944. Em termos práticos, o autor pode ser interpretado como um seguidor das ideias navalistas de Alfred Tayer Mahan e um crítico das ideias de Mackinder. Lacoste (1988) ainda afirma que a geografia serve fundamentalmente para fazer a guerra não significa somente, e que se trata de um saber indispensável àqueles que dirigem as operações militares. Não se trata unicamente de deslocar tropas e seus armamentos; uma vez já desencadeada a guerra: trata-se também de prepará-la, tanto nas fronteiras como no interior, de escolher a localização das praças fortes e de construir várias linhas de defesa e de organizar as vias de circulação. “O território com seu espaço e sua população não é unicamente a fonte de toda força militar, mas ele também é parte integrante dos fatores que agem sobre a guerra, nem que seja só porque ele constitui o teatro das operações...”, escreveu Carl von Clausewitz (1780–1831), sobre o qual Lênin pode dizer que era “um dos escritores militares mais profundos... um escritor cujas ideias fundamentais se tornaram hoje o bem de todo pensador”. O livro de Clausewitz, Da guerra, pode e deve ser lido como um verdadeiro livro de “geografia ativa”. 9Geografia de guerra e conquista A Geografia, ao longo da história, serviu de apoio para a sobrevivência, o reconhecimento do local de morada, a exploração dos recursos naturais, a demarcação de território, a conquista e a guerra. Esses conhecimentos não se limitam aos atributos físicos, mas também às relações entre os homens, às sociedades e à natureza, com suas transformações e dinâmicas, sendo a Geografia uma ciência de suma importância para as relações sociais, políticas, econômicas, ambientais e geopolíticas da contemporaneidade. BECKER, B. K. A geografia e resgate da geopolítica. Espaço Aberto: Programa de Pós- -Graduação em Geografia, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 117–150, 2012. LACOSTE, Y. A geografia: isso serve em primeirolugar para fazer a guerra. São Paulo, 1988. MOREIRA, R. Pensar e ser em geografia: ensaios de história, epistemologia e ontologia do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2007. OLIVEIRA, M. T.; SARAIVA, S. L. C. Fundamentos de geodésia e cartografia. Porto Alegre: Bookman, 2016. SANTOS JUNIOR, W. R. Geografia I: epistemologia, política e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2016. SILVA, R. G. Geografia política e geopolítica. Curitiba: InterSaberes, 2018. VESENTINI, J. W. Apresentação. In: LACOSTE, Y. A geografia: isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra. São Paulo, 1988. Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Geografia de guerra e conquista10 Dica do professor Friedrich Ratzel é considerado um dos mais importantes pensadores da ciência geográfica, sendo muito importante na discussão dos problemas humanos e considerado o pai do determinismo geográfico. Além do mais, é considerado o precursor da Geografia Política e da Geopolítica, privilegiando o elemento humano, gerando inúmeras frentes de estudo, incluindo as históricas e espaciais, tornando-se então um importante e influente pensador da Geografia. Nesta Dica do Professor, você vai ver quem foi Ratzel e quais suas contribuições e influências para a Geografia. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/7217f09b880cc3315d2b3a6b8cc7df14 Exercícios 1) De acordo com Moreira (2007), a geografia é historicamente definada como ciência, sendo que seu tema tem sido o conhecimento, se ocupando do problema da existência, mas é sempre confundido com o tema sobrevivência. Em cada época da história existiu uma forma de Geografia e um próprio perfil de geógrafos. Na Antiguidade, por exemplo, a Geografia era baseada no(a): A) registro cartográfico. B) foto de satélite. C) imagem aérea. D) registro fotográfico. E) teoria do determinismo. 2) De acordo com Tuler e Saraiva (2016), ao iniciar a busca por alimento e moradia, a humanidade começou a precisar de senso de localização. Observe as seguintes afirmativas e selecione a opção correta: I – As representações gráficas mais antigas conhecidas pela humanidade foram criadas na Mesopotâmia, aproximadamente em 3.500 a.C., representando as regiões entre os rios Tigre e Eufrates, onde corresponde atualmente ao Iraque. II – Cerca de 4000 a.C., com o sedentarismo e a criação do Estado, ocorreu a Revolução Agrícola, vindo à tona, mais uma vez, a necessidade de reconhecer os acidentes do relevo e os limites entre as propriedades e a localização, surgindo então os primeiros procedimentos de demarcação de áreas. III – O ambiente que cercava a humanidade era vasto e sua capacidade de guardar informações era gigantesca. Dessa maneira, a necessidade de registrar e rascunhar o pensamento e as atividades não foi prioridade, acontecendo após o século X. A) I e III. B) I e II. C) II e III. D) Todas as alternativas estão corretas. E) Somente a I está correta. 3) Para executar uma cartografia consistente, a topografia e a geodésia têm por objetivo a coerência na coleta dos dados do que se deseja representar, para fazer da forma mais fiel possível. A partir da segunda metade do século XVIII, a cartografia foi impulsionada, principalmente, pelas: A) atividades religiosas. B) produções agrícolas. C) operações de guerra. D) estudos científicos. E) popularização da cartografia. 4) De acordo com Becker (2012), a legitimidade científica para a prática estratégica do Estado, que, crescente e sistematicamente instrumentalizada, no espaço (e no tempo), visando objetivos econômicos e de controle social, passou a ser dada por uma nova disciplina. Essa disciplina é o(a): A) Cartografia. B) Biogeografia. C) Geopolítica. D) Topografia. E) Geografia Física. 5) A teoria criada por Halford John Mackinder, que se contrapunha à teoria de Mahal, considerava que a Geografia era a base da História, contribuindo para a construção de uma teoria que tem na geoestratégia a chave para a hegemonia mundial. Nessa teoria, o poder é: A) aquaviário. B) marítimo. C) aéreo. D) naval. E) terrestre. Na prática O denominado descobrimento da América ocorreu no ano de 1492, pelo navegador Cristóvão Colombo, iniciando, então, a colonização europeia do continente americano e diversos acontecimentos relacionados a conquistas, disputas territoriais e poder. Acompanhe como uma professora realizou uma atividade lúdica de jogo de tabuleiro para representar esses principais acontecimentos Geopolíticos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/866d7d00-fa6b-4b8b-9842-1ffae8daf778/a56919c0-a0be-4073-b0fd-36514396c8f3.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A geopolítica da guerra civil síria e suas implicações para o Brasil Nesta dissertação, você pode conferir um estudo sobre a atual guerra civil na Síria, que vem constituindo uma das mais graves crises internacionais no século XXI. Suas causas históricas, seus principais atores envolvidos, sua situação atual e suas implicações geopolíticas para o Brasil foram analisados. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. O que a Geografia (política) deve ser. A Geografia Política entre a paz e a guerra Neste artigo, você pode conferir um estudo que resgata autores clássicos da Geografia Política para ilustrar as profundas relações entre a história da Geografia Política, a paz e a guerra. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. O retorno da Geopolítica e a atualidade de Ratzel: notas sobre um debate brasileiro Neste artigo, você pode conferir uma análise da realidade do Brasil contemporâneo a partir da retomada das ideias principais de Friedrich Ratzel. http://repositorio.unb.br/handle/10482/31598 https://seer.ufrgs.br/bgg/article/view/86063/49421 Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://periodicos.fclar.unesp.br/perspectivas/article/view/12999