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Biblioteconomia Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP V658e Vieira, Leociléa Aparecida Biblioteconomia / Leociléa Aparecida Vieira, Lucilene Aparecida Francisco. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 122 p.: il. Color. 1. Biblioteconomia. 2. Ciência da Informação. I. Francisco Lucilene Aparecida. II. Centro Universitário UniFatecie. III. Núcleo de Educação a Distância. IV. Título. CDD: 23 ed. 027 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTORAS Profª Drª Leociléa Aparecida Vieira ● Doutora em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). ● Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). ● Licenciada em Pedagogia pela Universidade Castelo Branco (UCB). ● Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). ● Especialista em Administração Estratégica Em Recursos Humanos pela Univer- sidade Tuiuti do Paraná (UTP). ● Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Instituto Brasileiro de Pós Graduação e Extensão (IBPEX). ● Especialista em Educação a Distância: Teoria, Metodologia e Aprendizagem pela Faculdade Educacional da Lapa (FAEL). ● Especialista em Educação Especial Inclusiva e Metodologias de Ensino pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI).´ Funcionária aposentada do Sistema de Bibliotecas da UFPR. Foi professora em diversas Instituições de Ensino Superior (IES), dentre elas: Grupo Uninter, Universidade Positivo, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Faculdade Educacional da Lapa, Fa- culdades Opet, Universidade Estadual do Tocantins. Atuou como coordenadora de cursos, na modalidade presencial e a distância. Atualmente, compõe o Banco de Avaliadores da Educação Superior INEP/Basis e é professora adjunta do curso de licenciatura em Pedago- gia da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) – campus de Paranaguá e do Mestrado Profissional em Educação Inclusiva em Rede Nacional (Profei) (Polo Unespar). Link curriculum lattes: CV: http://lattes.cnpq.br/0063909006157307 Prof. Ms. Lucilene Aparecida Francisco ● Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual de Londrina. ● Mestre em Políticas de Informação, pela Universidade Estadual de Maringá. ● Especialista de Gestão Pública pela Universidade Estadual do Centro-Oeste ● Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Estadual de Londrina Bibliotecária na Universidade Estadual do Paraná – Campus Apucarana. Atuou também como bibliotecária em instituições privadas de ensino técnico e superior e como docente no curso de especialização em Política Social da Universidade Estadual do Paraná – Campus Apucarana. Link Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6226753997220286 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Caro(a) aluno(a)! Sejam bem vindos(as) à disciplina Fundamentos da Biblioteconomia! Esta disciplina tem por intuito refletir sobre os fatos que contribuíram para o sur- gimento da Biblioteconomia desde os primórdios da civilização até a contemporaneidade. Para fazer esta trajetória dividimos o texto em quatro unidades. Vejamos! Na Unidade 1 denominada Fundamentos da Biblioteconomia, iniciamos a caminhada com os diferentes conceitos atribuídos à Biblioteconomia, a Documentação e a Ciência da Infor- mação. Refletiremos sobre a origem da escrita e dos registros do conhecimento e as influências que estes fatos tiveram na constituição da Biblioteconomia como área do conhecimento e, também, discutiremos sobre a caracterização das bibliotecas enquanto espaços sociais. Na Unidade 2 sob o título de Evolução Histórica da Biblioteconomia, iniciaremos nosso passeio pela compreensão do vocábulo e depois dividiremos nossa trajetória em três períodos distintos: Antiguidade que compreende desde o início da civilização; Idade moderna que vai de 1453 até 1789, que corresponde ao período da invenção da Imprensa e o Renascimento e, por fim, Idade Contemporânea, a partir de 1789 até a atualidade. Na Unidade 3 intitulada Documentação, iniciaremos o percurso pelo conceito, de- pois perpassaremos pelos aspectos concernentes sua origem e natureza, bem como, sua finalidade em meio a crescente massa de documentos técnicos e científicos produzidos pela humanidade, por fim, identificaremos as contribuições das teorias semióticas aos processos de significação, dimensionamento e tratamento da informação. Na Unidade 4: Biblioteconomia no Brasil, conheceremos sobre o panorama da Biblioteconomia no país. Desta maneira, buscaremos na história conhecer sobre o surgi- mento do curso e qual a razão motivou a sua criação. Discutiremos sobre as atividades do bibliotecário e quais os desafios enfrentados por este profissional na contemporaneidade. Ao final de cada unidade apresentamos sugestões de leituras e filmes que o(a) ajudarão na ampliação dos seus conhecimentos e fixação do conteúdo. O caminho é longo, mas prazeroso, então que tal iniciarmos a nossa caminhada? Bons estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Fundamentos da Biblioteconomia UNIDADE II ................................................................................................... 37 Evolução Histórica da Biblioteconomia UNIDADE III .................................................................................................. 59 Documentação UNIDADE IV .................................................................................................. 85 Biblioteconomia no Brasil 3 Plano de Estudo: ● Conceitualização; ● Documentação e Ciência da Informação; ● Escrita e patrimônio cultural: origem e razão de ser da área; ● Bibliotecas e a origem da Biblioteconomia. Objetivos da Aprendizagem: ● Apresentar conceitos que fundamentam a Biblioteconomia; ● Identificar os pontos comuns e divergentes entre a Documentação e Ciência da Informação; ● Contextualizar historicamente sobre o surgimento da escrita; ● Caracterizara biblioteca no decorrer dos tempos e os fatos que deram origem a Biblioteconomia. UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco 4UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia INTRODUÇÃO Prezado(a) acadêmico(a)! Nesta Unidade convidamos você a conhecer sobre as origens da Biblioteconomia. Nesse sentido, iniciaremos a nossa caminhada pela conceitualização, pois é impossível estudarmos sobre determinada área do conhecimento se não conhecermos os seus signifi- cados e os fatos históricos que deram a sua origem. Para tanto, dividimos o conteúdo dessa unidade em quatro itens: Conceitualização, onde apresentamos os diferentes conceitos atribuídos à Biblio- teconomia; Documentação e Ciência da Informação, a qual aborda os conceitos e origens da Documentação e da Ciência da Informação suas relações, diferenciações e aproximações com a Biblioteconomia; A origem da escrita e dos registros do conhecimento e suas influências para consti- tuição da Biblioteconomia, considerando que desde a pré-história, o homem sente a necessi- dade de preservar registros de suas atividades e de deixar uma marca para a posterioridade; Origem e caracterização das bibliotecas, enquanto espaços sociais destinados à guar- da, organização e disseminação da informação e preservação da memória da humanidade. Ao final desta unidade deixamos algumas sugestões de leitura para fixação do conteúdo, a fim de que você assimile o conteúdo que é fundamental para a compreensão e atuação na área. Bons estudos! 5UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 1. CONCEITUALIZAÇÃO Prezado(a) Acadêmico(a)! Neste item convidamos você a conhecer o desenvolvimento conceitual da Biblioteconomia e suas representações ao longo da história. Iniciamos nosso percurso destacando que o termo Biblioteconomia aparece pela primeira vez em 1841 no livro intitulado Bibliothéconomie: instructions sur L’arrangement, la conservation et l’administration des bibliotheques, publicado por Léopold-Auguste-Costantin Hesse na França, indicando um conjunto de técnicas de organização e gestão de bibliotecas. A Biblioteconomia se desenvolve então de acordo com Vieira (2014) como uma prática de organização de bibliotecas, abrangendo três grandes domínios: ● Acervo - (documentos) envolvendo as técnicas de desenvolvimento de cole- ções, sua conservação e tratamento (catalogação, classificação) ● Leitores - (público) incluindo a recepção, comunicação, acesso aos documen- tos, e conhecimento dos usuários e de suas necessidades. ● Espaços físicos - (instituições) envolvendo questões relacionadas à organiza- ção administrativa, técnica, humana e financeira das bibliotecas. 6UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia O conceito norte americano de Biblioteconomia ou Library Science (Ciência das bi- bliotecas) busca aplicar a tecnologia e a teoria biblioteconômica para a seleção, organização, gerenciamento, preservação, disseminação, criação e utilização das coleções de informação por todos e em todos os formatos e suportes, sejam eles, físicos ou virtuais (VIEIRA, 2014). De acordo com Cunha e Cavalcanti (2008, p. 55) o termo Biblioteconomia refere-se às atividades de organização, administração, legislação e regulamentação de bibliotecas ou ainda ao conhecimento e prática da organização de documentos em bibliotecas, tendo por finalidade sua utilização. No Quadro 1 apresentamos uma síntese do desenvolvimento conceitual do termo Biblioteconomia ao longo da história da área e você poderá perceber que ele sofreu altera- ções no decorrer dos tempos. QUADRO 1 - DESENVOLVIMENTO CONCEITUAL DA BIBLIOTECONOMIA Autor Conceito Ano Lee Pierce Butler (1884-1953). Professor e pesquisador da Escola de Biblioteconomia de Chicago Os elementos básicos da Biblioteconomia consistem na acumulação de conhecimento pela sociedade e sua transmissão contínua às gerações, enquanto esses processos são atualizados por meio de registros gráficos 1933 Samuel Clement Bradford (1878-1948), Bibliotecário, documentalista e matemático britânico. A Biblioteconomia ocupa-se de todos os aspectos do tratamento dos livros. 1948 José Domingo Buonocore, pesquisador argentino da Biblioteconomia. Área que se destina ao estudo dos princípios racionais para realizar, com a maior eficácia e o menor esforço possível, os fins específicos das bibliotecas. Esta área é dividida em uma parte técnico-científica (estudo sobre seleção, aquisição e catalogação de livros, assim como o regime econômico, os recursos, o local e o mobiliário da biblioteca, sua conservação e uso) e uma parte político-administrativa (meios e métodos mais adequados para garantir um bom serviço público de leitura; relaciona-se com a administração e gestão de bibliotecas). 1952 Joseph Z. Nitecki professor e pesquisador da Escola de Biblioteconomia de Chicago Estudo empírico, racional e pragmático da relação entre o livro, o usuário e o conhecimento. 1962 Jesse Hauk Shera (1903–1982) bibliotecário, cientista da informação e professor/pesquisador da Escola de Biblioteconomia de Chicago. A Biblioteconomia é a disciplina mais interdisciplinar de todas. Sua tarefa de ordenar, relacionar e estruturar o conhecimento e os conceitos a torna estreitamente inter-relacionada com a semântica geral, também altamente interdisciplinar, epistemológica e envolvida na linguagem, simbolismo, abstração, conceituação e avaliação do conhecimento. 1977 7UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Autor Conceito Ano Edson Nery da Fonseca (1921-2014) bibliotecário, professor e pesquisador pernambucano. Biblos = livros + tcheca = caixa + nomos = regra 1992 Tefko Saracevic (1930) Pesquisador croata, que estuda a da Informação e Documentação. A Biblioteconomia está voltada à organização, à preservação e ao uso dos registros gráficos humanos. Essas atividades são realizadas pelas bibliotecas não apenas como uma organização particular ou um tipo de sistema de informação, mas principalmente, como uma instituição social, cultural e educacional indispensável, de valor comprovado muitas vezes ao longo da história humana e através das fronteiras das diferentes culturas, civilizações, nações ou épocas. 1996 Yves-François Le Coadic (1942), teórico francês da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. União de duas palavras, “biblioteca” e “economia” (está no sentido de organização, administração, gestão). A Biblioteconomia não é nem uma ciência, nem uma tecnologia rigorosa, mas uma prática de organização: a arte de organizar bibliotecas. 1996 Francisco das Chagas de Souza nasceu no Ceará e foi professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) de 1983 a 2015 A Biblioteconomia é uma ciência que se determina por uma prática social e que se consolida pelo registro e codificação das experiências positivas no uso, organização e controle dos documentos que são buscados pelos seus conteúdos [informação]. A Biblioteconomia opera com informação e com suporte de informação [materialmente, documento] e tem na organização e controle do fluxo destes e nos sujeitos [geradores e consumidores] de infor- mação os objetivos determinantes do seu campo científico. Historicamente, ela trabalha com aqueles objetos (documentos), e embora mudem formatos e suportes, segundo o nível de atualização tecno- lógica de cada época, os objetos de informação e organização de seu fluxo são os mesmos. 1996 Maria das Graças Targino, pesquisadora da área de Biblioteconomia/Ciência da Informação. Foi vinculada à Universida- de Federal do Piauí (UFPI) A área do conhecimento que se ocupa com a organização e a administração das bibliotecas e outras unidades de informação, além da seleção, aquisição, organização e disseminação de publicações sob diferentes suportes físicos. 2006 Jonathas Luiz Carvalho da Silva A Biblioteconomia é uma área que constrói atividadestécnicas e normativas com perspectiva de acesso à informação para os sujeitos, é uma área do conhecimento de caráter técnico- normativo que produz meios e práticas científicas. 2018 Fonte: Adaptado de Silva (2018, p. 34). 8UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia O quadro 1 apresenta uma síntese dos significados atribuídos à Biblioteconomia em diferentes períodos históricos e localidades. Observamos que a Escola de Biblioteconomia de Chicago representada pelos estudiosos Butler (1933), Shera (1957) e Nitecki (1968) apresenta um conceito amplo direcionado aos estudos dos materiais bibliográficos, suas relações com os usuários e à organização e recuperação da informação. A Biblioteconomia estadunidense exerceu significativa influência na formação da Biblioteconomia brasileira, principalmente no desenvolvimento de suas atividades técnicas, entretanto a Biblioteconomia brasileira agrega uma dimensão social à sua prática, o que faz suscitar debates se a Biblioteconomia seria uma disciplina/técnica/norma/regra ou uma ciência. Nesse debate há estudiosos como Saracevic (1996) que defendem que a Biblio- teconomia não é uma ciência, mas sim uma atividade voltada para servir aos usuários da biblioteca com aplicação prática. Le Coadic (1996) classifica a Biblioteconomia como uma prática de organização que consiste na arte de organizar bibliotecas, dedicando-se a aspectos como gestão do acervo, organização de biblioteca enquanto instituição e ao atendimento das demandas dos leitores e usuários. Esse entendimento está relacionado ao fato das primeiras definições de Bibliotecono- mia trazerem como traço semântico a “caixa de livro” do termo biblioteca e também os traços de “instituição social” e “prestação de serviço”. Por ter esse viés prático, para muitos autores, a Biblioteconomia não tem alcançado um estado de desenvolvimento suficientemente avan- çado para que possa se estabelecer e se sustentar teoricamente, demandando buscar em outras áreas teorias que possam fundamentar suas práticas (GALVÃO, 1993, p. 102). Entretanto, na contemporaneidade vimos surgir novas compreensões para o termo, qualificando-o como uma “ciência que se determina por uma prática social e que se conso- lida pelo registro e codificação das experiências positivas no uso, organização e controle dos documentos que são buscados pelos seus conteúdos [informação].” (SOUZA, 1996 p. 4) ou então como uma área do conhecimento que se preocupa com a organização e a ad- ministração das bibliotecas (TARGINO, 2006), ou ainda como uma “área do conhecimento técnico-normativo que produz e aplica meios para promover o acesso e uso da informação para sujeitos (usuários)”. (SILVA, 2018 p. 36), por meio de serviços, produtos e modelos direcionados à organização, gestão, uso de tecnologias e mediação de informações que satisfaçam as demandas trazidas pelos usuários, ao mesmo que tempo em que se esta- belece cientificamente ao desenvolver suas perspectivas técnico normativas a partir de problemas práticos de informação do cotidiano social (SILVA, 2018). 9UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia O mesmo autor argumenta que multiplicidade de conceitos atribuídos à Bibliote- conomia confere-lhe um caráter plural e interdisciplinar que permite compreendê-la na atualidade a partir de três fundamentos: ● Sócio-histórico, referentes práticas de organização de documentos, preserva- ção da memória e produção e disseminação de conhecimentos; ● Técnico, normativo e científico, com vista a promover a organização/ trata- mento, mediação, acesso, uso e apropriação da informação por meio de serviços e produtos em ambientes de informação, especialmente bibliotecas; ● Humanista-enciclopédico, relacionado ao conhecimento das técnicas e práti- cas documentárias e informacionais que permitem atuar com variados públicos e áreas do conhecimento. Isso implica em dizer que o desenvolvimento das atividades da área deve fundamen- tar-se em aspectos estratégicos, voltados à gestão, recursos, serviços, fontes de informa- ção e tecnologias da informação e comunicação, além de aspectos sociocognitivos, como noções de sociedade, cultura, educação, memória, história, ética entre outros que levem a construção de um corpus histórico, científico e humanista de atuação (SILVA, 2018). Nessa perspectiva, a Biblioteconomia assume um caráter multidisciplinar, interdis- ciplinar e transdisciplinar pelos diversos diálogos que constrói com outras áreas do co- nhecimento, principalmente com as Ciências Sociais Aplicadas (administração, Economia, Comunicação, entre outras) e com as Ciências Humanas (Filosofia, História, Educação, Sociologia, Psicologia, dentre outras). Esse caráter disciplinar pode ser percebido a partir do momento que notamos o quanto a Biblioteconomia assimila de conteúdos de outras áreas, ou seja, no quanto outras áreas contribuem para o seu desenvolvimento e também no que a Biblioteconomia tem a oferecer ou contribuir com outras áreas. Isso demonstra que o desenvolvimento da Biblioteconomia se dá por meio da relação de cooperação, re- ciprocidade e mutualidade estabelecida entre a Biblioteconomia e outras áreas do saber. Conforme defende Silva (2018). Neste item vimos os diferentes conceitos atribuídos à Biblioteconomia ao longo da sua trajetória enfatizando que na perspectiva tradicional, Saracevic (1996) e Le Coadic (1996) ela é concebida como uma disciplina ou uma prática voltada à organização e gestão de acervos com vistas a sua utilização por diferentes públicos de usuários Já na concepção moderna representada principalmente por Souza (1996) e Silva (2018) a Biblioteconomia assume o status de ciência inter e multidisciplinar que se desenvolve a partir da prática social de organização, gestão e disseminação da informação. 10UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia SAIBA MAIS Para conhecer mais sobre os fundamentos da Biblioteconomia sugerimos o vídeo “O Visionário Paul Otlet”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Cxfom91e8aA. Sugerimos também a o artigo: Biblioteconomia: gênese,história e fundamentos e de Ana Paula Lima Santos e Mara Eliane Fonseca Rodrigues, disponível em: https://rbbd.febab. org.br/rbbd/article/view/248/264. https://www.youtube.com/watch?v=Cxfom91e8aA https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/248/264 https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/248/264 11UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 2. DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Caro(a) Acadêmico(a)! Neste item vamos conhecer os conceitos de Documentação e Ciência da Infor- mação e suas relações com a biblioteconomia. Iniciamos nosso percurso apresentando que a Documentação tem sua origem do latim; docurnentum que tem o sentido de docere que significa ensinar, o que denota objeto de ensino e transmissão de conhecimentos e comprovação de fatos (ROSSATO; FLORES 2015). A Documentação, campo do conhecimento criado no final do século XIX por Paul Otlet e Henri La Fontaine, é marcada por diversas visões de suas origens e de seu desen- volvimento ao longo dos séculos. Assim, contrariamente à Biblioteconomia, a Documen- tação não deriva de termos relacionados a espaço físico ou instituição social, mas sim do documento (TANUS, RENAU, ARAÚJO, 2012). Sua origem remete à Segunda Guerra Mundial e à crescente necessidade de informa- ções científicas técnicas, que “[...] obrigou a engenheiros, químicos, físicos, biólogos a deixar seus laboratórios de pesquisa e trabalho para organizarem serviços especiais de informações, a que resolveram denominar de centros de Documentação” (GALVÃO 1993, p. 103). Posteriormente, devido à grande produção de documentos e a necessidade de sua organização com vistas à recuperação, iniciou-se o ensino da Documentação como disci- plina especial, distinta da biblioteconomia, interessada em “cuidar da grande quantidade de documentos (‘explosão documentária’) que a Biblioteconomia não conseguiu atender” (SAMBAQUY 1978apud GALVÃO, 1993, p. 103). 12UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Com isso percebemos que as técnicas documentárias orientam-se à análise e disseminação de materiais diversos, como relatórios de pesquisa, normas, artigos, teses entre outros, denominados de informação científica, a qual requereu formas específicas de tratamento e organização. Paralelo ao surgimento dos centros de Documentação, destina- dos a dar o tratamento necessário ao grande volume de documentos que surgira, vimos as instituições ligadas a Biblioteconomia substituir ou acrescentar à denominação original o termo Documentação. Conforme ocorreu com o Instituto Internacional de Bibliografia, que em 1931, passou a ser denominado Instituto Internacional de Documentação e posterior- mente em 1938 denominado Federação Internacional de Documentação, o qual define a Documentação como “o processo de reunir, classificar e difundir documentos em todos os campos da atividade humana” (GALVÃO, 1993, p. 103). Em relação à Ciência da Informação (CI), destacamos que sua compreensão perpassa os diferentes conceitos atribuídos ao termo informação que aparece ora como dados registrados, ou conteúdo de um texto; ora como a experiência estocada na mente humana. Assim, o conceito de informação, pressupõe a compreensão dos termos: dado, conhecimento e sabedoria. Percebemos que a exemplo do que ocorre com a Biblioteconomia, a Ciência da Informação também é de difícil definição devido à polissemia dos termos que compõem a expressão (ciência e informação), assim encontramos na literatura variados conceitos e também a discussão se seria ou não uma ciência. Defendendo a Ciência da Informação como ciência, Robredo (2005, p. 2), destaca que “Ciência da Informação surge na Ex-União Soviética como sinônimo de informática, processamento automatizado da informação, e nos Estados Unidos, o termo surge para representar uma evolução teórica da biblioteconomia”, configurando-se portanto como uma ciência multidisciplinar Já Cesarino (1973, p. 55) acrescenta que a “Ciência da In- formação busca investigar as propriedades e o comportamento da informação e os meios de processá-Ia para pronta acessibilidade e uso”. Esses processos incluem a criação, disseminação, coleção, organização, armazenamento, recuperação, interpretação e uso da informação, estando diretamente relacionada a outras disciplinas como: matemáticas, lógicas, linguística, psicologia, tecnologia de computadores, pesquisa de operação, artes gráficas, comunicação, etc., constituindo-se como uma ciência interdisciplinar. Para Costa (1990, p.140) a Ciência da Informação procura de fornecer um “[...] conjunto de procedimentos que visam a melhorar as técnicas e métodos voltados para o acúmulo e transferência do conhecimento”, a partir da investigação de determinados aspectos da área da informação sem se preocupar com a aplicação prática da pesquisa e da realização de trabalhos práticos com técnicas e métodos que possam colaborar para o desenvolvimento da informação científica e tecnológica através de produtos e serviços. 13UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Saracevic (1974) afirma que a CI começou a se desenvolver como campo de in- vestigação por volta de 1950, como resultado do desafio intelectual de relacionar a teoria da informação e os processos de comunicação humana e das necessidades de solucionar os problemas relacionados ao processamento da informação por computador. Para o autor a CI tem demonstrado adquirir consistência de verdadeira ciência, assumindo como tema básico de estudos, os processos de comunicação humana, em especial a comunicação do conhecimento, compreendida como um processo básico que fundamenta e penetra toda a atividade humana. Nas palavras do autor “Através da história, a comunicação do conhecimento humano, na sociedade e através das gerações assumiu várias formas, envolveu vários sistemas, dos quais, um dos mais importantes e duráveis é a biblioteca”. (SARACEVIC, 1974, P. 45). Borko (1968, p. 3) define ciência CI como: [...] a disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informa- ção, as forças que governam seu fluxo, e os meios de processá-la para sua acessibilidade e uso. A CI está ligada ao corpo de conhecimentos relativos à origem, coleta, organização, estocagem, recuperação, interpretação, trans- missão, transformação e uso de informação. Ela tem tanto um componente de ciência pura, através da pesquisa dos fundamentos, sem atentar para sua aplicação, quanto um componente de ciência aplicada, ao desenvolver pro- dutos e serviços. (tradução nossa). Fernandes, Cedón e Araújo (2011) fundamentados em Foskett (1980) destacam que a Ciência da Informação enquanto disciplina, surge de uma fertilização cruzada de ideias que incluem a arte da biblioteconomia, a computação, os meios comunicação e ciên- cias como linguística e psicologia que tem como uma de suas preocupações as questões relacionadas à comunicação e transferência do pensamento organizado. Contrapondo a ideia de que Ciência da Informação tenha alcançado do status de Ciência, Mercado (1974) alerta que a área ainda não de consolidou como ciência porque ainda carece de métodos de validação que permitam construir uma estrutura unificadora e possibilite realizar e comprovar hipóteses e ainda porque seu conceito é interdisciplinar e ilimitado. Com isso, representaria apenas a intersecção entre várias disciplinas, como linguística, psicologia, computação, por exemplo, sendo necessariamente prática. Contudo cabe ressaltar que a Ciência da Informação apresenta traços semânticos de caráter inves- tigativo, mas é prematuro considerá-la como ciência devido à “ausência de delimitação e clareza nas suas várias conceituações”. (GALVÃO, 1993, p. 108). A relação entre Biblioteconomia, a Documentação e a Ciência da Informação, também não é ponto pacífico entre os estudiosos das áreas. Cesarino (1973) destaca que se trata de disciplinas diferentes, embora tenham objetivos semelhantes e se utilizem das mesmas 14UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia técnicas, instrumentos e métodos de pesquisa e trabalho. Já Saracevic (1974) destaca que a Ciência da Informação, enquanto ciência, tem muito a contribuir para o desenvolvimento da Biblioteconomia. Costa (1990) sugere que enquanto a Ciência da Informação realiza inves- tigações e faz descobertas teóricas, enquanto a Biblioteconomia e Documentação aplicam os resultados dessas investigações, havendo uma atuação colaborativa entre as três áreas. Galvão (1993) a partir das afirmações de Shera (1980) destaca que a Documenta- ção é um aspecto ou área de atuação da Biblioteconomia e que a Ciência da Informação seria a base teórica da prática biblioteconômica, estabelecendo-se assim uma relação de retroalimentação entre as duas áreas. Fonseca (1987) alega que a Biblioteconomia trabalha com publicações primárias e seus usuários, a Documentação com publicação secundárias e terciárias e Ciência da Informação estuda como, quando, porque e onde a informação aparece, quem a produz, qual o seu fluxo e destino, portanto com a teoria que sustenta as práticas tanto da Biblioteconomia quanto da Documentação. Com base nos diferentes posicionamentos dos autores fica evidente a ausência de de- limitação conceitual entre os termos biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação. Assim, conforme destaca Galvão (1993, p. 111) enquanto o termo Biblioteconomia mantém tra- ços da etimologia da palavra sem refletir o desenvolvimento da área e a evolução do conceito, a Ciência da Informação como área interdisciplinar e “[...] não consegue, no seu desenvolvimento, uma determinação de seus limites. Nasce na interdisciplinaridade, se perde no seu interior e busca nos termos Documentação e biblioteconomia, muitas vezes, sua sustentação”. Nesse item estudamos os conceitos da Documentação e da Ciência da Informação e suas relações com a biblioteconomia. Vimosque essas áreas embora tenham sua relativa independência, desenvolvem-se mutuamente e se inter-relacionam mutuamente tanto em termos práticos quanto teóricos. REFLITA Assista ao vídeo “importância da Documentação e da tecnologia da informação” e reflita sobre a importância da Documentação e da informação na sociedade contemporânea. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cpTFyhRShWQ https://www.youtube.com/watch?v=cpTFyhRShWQ 15UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 3. ESCRITA E PATRIMÔNIO CULTURAL: ORIGEM E RAZÃO DE SER DA ÁREA Olá! Neste item o(a) convidamos a fazer um passeio pela história e desvendar como se deu o processo de escrita. De antemão, antecipamos que a civilização se divide em dois períodos bem distintos: antes da escrita e a partir dela. Desta maneira, refletir sobre a histó- ria da escrita “contribui não só para o nosso entendimento do mundo como de nós mesmos” (OLSON; TORRANCE, 1997, p. 13), haja vista, que a escrita vai além do agrupamento de letras e de junção de palavras. É por meio dela que o homem tem acesso ao mundo das ideias e pode acompanhar os avanços vivenciados pela humanidade. Após este preâmbu- lo, que tal conhecer como se deu a passagem da sociedade oral para a sociedade escrita? Antes de iniciar o percurso histórico é importante apresentar o que se entende por escrita, então buscamos em Fischer (2006, p. 14), que a conceitua como “a sequência de símbolos padronizados (caracteres, sinais ou componentes de sinais) com a finalidade de reproduzir geralmente a fala e o pensamento humano”. A escrita desde a sua invenção provocou grandes transformações intelectuais e so- ciais na humanidade, ela “tornou-se a suprema ferramenta do conhecimento humano (ciên- cia), agente cultural da sociedade (literatura), meio de expressão democrático e informação popular (a imprensa) e uma arte em si mesma (caligrafia) [...] (FISCHER, 2009, prefácio). 16UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia A história da escrita data da pré-história, quando o homem desenhava nas paredes das cavernas, em árvores e em rochas a representação de suas ideias e a manifestação seus desejos e as suas necessidades por meio de objetos e figuras. Esses desenhos eram denominados de pinturas rupestres e que, apesar de não ser um tipo de escrita, foi assim que iniciou o processo de comunicação (registrada) entre os seres humanos. FIGURA 1 - PINTURA RUPESTRE Com o passar dos anos, o homem já não mais nômade, sentiu a necessidade de registrar seus feitos, entretanto, o desenvolvimento de um sistema de escrita “formal” foi um processo lento. Nesta caminhada, várias ferramentas foram produzidas para auxiliar a memória, por exemplo, os pictogramas, que corresponde a representações de objetos e conceitos traduzidos em formas gráficas; nós; paus ou ossos entalhados, tábuas em que se escreviam as mensagens, dentre outros. Higounet (2003, p. 17), sobre a história da escrita descreve que a a pedra sempre foi o suporte por excelência das escritas monumentais. Os hieróglifos egípcios, as inscrições hititas, os fragmentos de Biblos, os carac- teres monumentais gregos e latinos são gravados na pedra dura ou vez por outra, incisos em relevo. A escrita dita cuneiforme da Suméria e da Ásia an- terior era, por outro lado, preferentemente traçada em tabuletas de argila fresca, depois cozidas ao forno. Os mais antigos caracteres chineses são gravados no bronze ou no casco de tartaruga. No templo de Maomé, os ára- bes usavam muito ossos de camelo. Conforme podemos perceber que até que a escrita tivesse como suporte de registro o papel percorreu um longo trajeto: pedra; casca de árvore; tablete ou tabuinha de argila; tablete ou tabuinha de cera; papiro e o pergaminho. Temos certeza de que você já está curioso(a) para conhecê-los. Então vamos adiante! 17UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Um sistema de escrita sistematizado surgiu por volta de 3.500 a.C, na Mesopotâ- mia, quando os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme. Lins (2020, p. 1), esclarece que “as sociedades antigas faziam uso da escrita para condensar informações, auxiliar na contabilidade, armazenar materiais e preservar nomes, datas e lugares”. Os textos da Mesopotâmia eram registrados com estiletes pontiagudos em na argila, em forma de cunha, amolecida (FISCHER, 2006). Os famosos tabletes ou tabuinhas de argila. SAIBA MAIS Na Mesopotâmia (atualmente sul do Iraque e sudoeste do Irã), no ano de 3.000 a.C., surgiu a escrita cuneiforme, em que cada sinal passou a representar uma sílaba. A re- gião da Síria, por volta do ano 1.500 a.C, era ocupada pelos fenícios, um povo bastante organizado, de bom domínio da agricultura e que fazia comércio com todo o Oriente e Ocidente. Com eles, surgiu o alfabeto fenício, que pela primeira vez associava os carac- teres aos sons, como na escrita fonética, que temos hoje. Aquela região foi colonizada pelos gregos e romanos e deu sua principal contribuição para o progresso cultural: a difusão do alfabeto, que modificado, passou a transcrever outras línguas, podendo ser considerado o ancestral de todos os alfabetos ocidentais, como o grego, de 900 a.C. e o latino, de 700 a.C. Fonte: Sampaio (2009). No segundo milênio a.C, criaram-se escolas para ensinar a escrever, entretanto, escribas era privilégio de poucos e os sacerdotes eram quem detinha monopólio da inter- pretação dos livros sagrados, além de ser os únicos profissionais que podiam ler as men- sagens reveladas nas entranhas dos animais sagrados (LYONS, 2011). Como podemos perceber, desde a Mesopotâmia a escrita sempre esteve associada ao poder. Fischer (2006, p. 17), complementa que por volta de 2000 a.C., em Ur, a maior metrópole da região com uma popula- ção de aproximadamente 12 mil pessoas, apenas uma pequena parcela – tal- vez uma em cada cem ou cerca de 120 mil pessoas, no máximo - era capaz de ler e escrever. De 1850 a 1550 a. C., a cidade-estado babilônia de Sippar, com cerca de dez mil habitantes, abrigava apenas 185 chamados “escribas” (ou seja, escritores oficiais em tabuletas), dos quais dez eram mulheres. 18UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia É importante salientar que as tabuinhas de argila eram grandes e pesadas e que o conteúdo nela escrito eram incontestáveis e quem duvidasse seria punido. A escrita cunei- forme foi usada por cerca de três mil anos e “a era da escrita cuneiforme chegou ao fim com o surgimento da escrita aramaica, com os fenícios, entre os séculos X a VII a.C., feita à tinta em couro ou papiro” (LINS, 2020, p. 2). Caminhando pelo nosso percurso sobre a história da escrita chegamos ao Egito e aos hieróglifos, que corresponde a uma forma de escrita pictórica, enigmática e de difícil compreensão, tinha cerca de 2.500 sinais. Considerada uma escrita sagrada, era utilizada somente por sacerdotes, membros da realeza e escribas, que podiam interpretar e reproduzir os símbolos. A escrita hieroglífica apesar de ter uma aparência bonita era difícil de ser decifra- da, pois os seus sinais ora exprimiam uma palavra e em outras um som, além de tomar muito tempo para traçar ou entalhar. Assim, no Egito Antigo, “a escrita hieroglífica cursiva, só muito mais tarde chamada de “hierática”, desenvolveu-se quase imediatamente como instrumento prático para escrever documentos comuns – cartas, contabilidade, listas – e já no segundo milênio a. C., também textos literários” (FISCHER, 2006, p. 43). FIGURA 2 - ESCRITA HIERÁTICA É mister salientar que embora se pudessem utilizar para a escrita hieróglifa, supor- tes duros, como a pedra, o metal e a madeira, os hieróglifos eram escritos em tinta sobre o couro, o óstraco e o papiro. A respeito desse último, Higounet (2003, p. 17), menciona que a fabricação do papiro foi monopólio do Egito até o século VII. [...] a matéria- -prima era o caule de um junco cultivado no vale do Nilo. As lâminas longitudi- nais e transversais, coladas com a água do rio, formavamas folhas que eram mandadas ao comércio cortadas em forma de rolo. Era um material bem pou- co resistente. Seu uso só foi abandonado completamente no século XI. Devido à pouca durabilidade o papiro foi aos poucos sendo substituído por outros materiais para suporte para a escrita e o mais comum foi o pergaminho. Este material surgiu na cidade de Pérgamo (Ásia), aproximadamente no Século 2 a.C e consistia na pele de um animal (cordeiro, carneiro ou cabra), que após curtida e seca estava pronta para receber a escrita. Era considerado um material nobre e usado nos mosteiros católicos para registrar documentos importantes. 19UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Foguel (2016, p. 26), esclarece foi o pergaminho que possibilitou o desenvolvimento do códex (ancestral do livro contemporâneo), por meio da costura pelo vinco, sem que as folhas se rasgassem ou se desgastassem pelo manuseio. Assim, os manuscritos foram evoluindo e desenvolvendo novos suportes, até chegarem ao papel tal qual hoje o conhecemos. Pode-se perceber que até a civilização conhecesse a escrita alfabética, percorreu um longo trajeto e todos os sistemas anteriores eram baseados na ideografia, isto é, as ideias eram representadas por pinturas ou desenhos, por exemplo, a escrita cuneiforme e a escrita hieroglífica. Queiroz (2005, p. 7), elucida que Depois de algumas descobertas, surgiu gradualmente o quadro de uma for- ma prototípica de escrita alfabética, a norte-semítica, formada por vinte e dois símbolos escritos uniformemente da direita para a esquerda: uma escrita consonântica, agora tida como o antepassado direto das escritas hebraica, moabita, fenícia, aramaica e grega, e que teve a sua existência definitiva nos últimos séculos do segundo milênio a. C. Com relação ao alfabeto, “sistema de sinais que exprimem os sons elementares da linguagem” (HIGOUNET, 2003, p.59), não se pode precisar com exatidão quando ele apareceu, o que se sabe é que “datam de 1900 a. C. dezesseis textos escritos em língua semítica encontrados em Serabit-el-Khadem, na península do Sinai. Nesses textos foram reconhecidos vinte e sete sinais diferentes nitidamente alfabéticos” (QUEIROZ, 2005, p. 7). É importante ressaltar que o alfabeto grego, desenvolvido nos séculos VI e VII a. C, é de sua importância para a escrita da civilização, pois, ele representava os sons da voz humana. Foi este alfabeto o intermediário ocidental entre o alfabeto semítico e o alfabeto latino. Um elemento diferenciador no sistema de escrita alfabética é a direção da escrita, por exemplo os chineses e japoneses escrevem da direita para a esquerda e em colunas. Os árabes escrevem também da direita para a esquerda, mas em linhas de cima para baixo. O grego antigo era escrito em linhas com direção alternada: uma linha da direita para a esquerda e a linha seguinte da esquerda para a direita, invertendo a direção das letras; a terceira linha equivalia à primeira e a quarta à segunda e assim sucessivamente. [...] Os romanos instituíram a escrita da esquerda para a direita em linhas, que vigora até os dias de hoje no nosso sistema alfabético (BRASIL, [2020?]). O alfabeto romano também conhecido como alfabeto latino, atualmente, é o sis- tema de escrita alfabética mais utilizado no mundo. Ele é usado para escrever a língua portuguesa e na maioria dos países colonizados pelos europeus. “Ao longo dos séculos XIX e XX, o alfabeto latino tornou-se também o alfabeto preferencialmente adotado por várias outras línguas, em especial pelas línguas indígenas de zonas colonizadas por europeus que não tinham sistema de escrita próprios (FOGUEL, 2016, p. 24) 20UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Ao refletirmos sobre a escrita alfabética, não podemos esquecer o suporte mais utilizado nesse sistema de escrita: o papel. Os créditos pela descoberta do papel, tal como conhecemos hoje, são atribuídos aos chineses que, após utilizarem para a escrita tiras de bambu, as quais eram obtidas do caule da planta, rapadas internamente e colocadas para secar e, para formar o livro, as fichas eram furadas nas extremidades e unidas por fios de seda. Tanta persistência levou a T’sai Lun, no ano de 105 d.C a inventar o papel, porém, no ano 751, o exército árabe atacou a cidade de Samarcanda, que na época era dominada pelo império chinês. Técnicos de uma fábrica de papel foram presos e levados a Bagdá. Ao descobrirem o segredo, os árabes também co- meçaram a fazer papel, sem revelar a técnica. No século 11, a novidade che- gou à Europa e, só depois, espalhou-se pelo Ocidente (ROPERO, 2012, [n.p.]). Com a invenção da imprensa no século XV o papel se “imortalizou” e “todas as ações do homem estão postas no papel: sua literatura, sua ciência, seu direito, sua religião, etc. Tudo isso se constitui em artefatos da escrita” (QUEIROZ, 2005, p. 8). Enfim, com relação a escrita vai além de agrupamento de signos, de “ponte” para a leitura, mas sim, ela é um instrumento de imobilização, patrimônio cultural de um povo, pois dela que as memórias se materializam e se imortalizam. As palavras de Higounet (2003, p.9-10), ilustram o exposto a escrita é mais que um instrumento. Mesmo emudecendo a palavra, ela não apenas a guarda, ela realiza o pensamento que até então permanece em estado de possibilidade. Os mais simples traços desenhados pelo homem em pedra ou papel não são apenas um meio, eles também encerram e res- suscitam a todo momento o pensamento humano. Para além de modo de imobilização da linguagem, a escrita é uma nova linguagem, muda certamen- te, mas, segundo a expressão de L. Febvre, “centuplicada”, que disciplina o pensamento e, ao transcrevê-lo, o organiza. Não importa o suporte que a armazena, a escrita sempre expressará as ideias e o pensamento da humanidade. 21UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 4. BIBLIOTECAS E A ORIGEM DA BIBLIOTECONOMIA Biblioteca Nacional. Seção de literatura Car(o) Acadêmico(a)! Neste item o(a) convidamos a fazer um passeio pelo surgimento das bibliotecas na humanidade e que desde o princípio teve por finalidade “guardar” e, posteriormente, tam- bém difundir o conhecimento. Veremos, também, que à medida que a informação crescia era necessário alguém para organizá-la e, desta forma, origina a Biblioteconomia, essa ciência, técnica e arte tão encantadora. Então, animados para a caminhada? Vamos lá! 4.1 Bibliotecas: contextualização O vocábulo biblioteca é composto pelas palavras gregas biblion (livro) e teke (caixa) e literalmente significa o lugar onde se guardam livros, apesar de desde as primeiras bibliotecas, essa palavra tem sido empregada para desig- nar um local onde se armazenam livros. Porém, nem sempre foram livros os materiais que preenchiam as bibliotecas. Historicamente, os suportes para a informação variaram de formato seguindo a tecnologia utilizada pelo homem. Já foram usados materiais como tabletas de argila, rolos de papiro e pergami- nho e os enormes códices que eram enclausurados nos mosteiros medievais (MORIGI; SOUTO 2005, p.190). 22UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia As bibliotecas fazem parte da história da humanidade desde muitos séculos antes de Cristo, pois no Egito e na China estas instituições existiram antes do período clássico grego, entretanto, a civilização que mais deixou provas concretas de grandes coleções de documentos foi a assírio-babilônica, com a biblioteca e Nínive, com uma gigantesca coleção de milhares de tijolos de barro, cujo organizador foi o rei foi Assurbanípal, (669-626 a.C.). Essa biblioteca ficou oculta durante séculos e foi descoberta na década de 1850, pelo arqueólogo Sir Austen Henry Layard, que encontrou placas e fragmentos cobertos de caracteres cuneiformes. As placas estavam classificadas por assuntos e identificadas por marcas que determinavam a sua localização nas coleções (SERRAI, 1975). Na biblioteca de Nínive se encontra uma inscrição feita pelo próprio Assurbanípal, quediz: “Gosto de ler bons pensamentos e de cortar orelhas e narizes de meus cativos de guerra” e o provérbio: “A escrita é a mãe da eloquência e o pai dos artistas” (LITTON, 1975, p. 34). Litton (1975), relata que na Antiguidade, estava localizada em Mênfis, à biblioteca de Ramsés II, faraó egípcio que reinou de 1320 a 1.200 a.C e, era denominada pelo so- berano de “Tesouro dos remédios da Alma”. Na Grécia, tem-se conhecimento de grandes bibliotecas e, uma delas que atraiu a atenção, foi a do filósofo Aristóteles. Após a sua morte, passaram por várias mãos até chegar em Roma. Continuando a caminhada pela história, encontra-se a biblioteca em Pérgamo, ci- dade da Ásia Menor, comparável às maiores da Grécia. Suas coleções chegaram a 20.000 volumes. Daí se originaram os códigos, folhas em vez de rolos, feitos de pergaminho (MAR- CONDES, 1976). A biblioteca mais famosa do período da Antiguidade foi a Biblioteca de Alexandria, fundada em 280 a.C. e ficava localizada na cidade de Alexandria, ao norte do Egito, nas margens do Mediterrâneo. Guardava cerca de 700.000 volumes ou rolos (MARTINS, 2003). Ela recebeu em seus recintos pesquisadores importantes que muito contribuíram para o conhecimento humano, dentre eles: Euclides de Alexandria, Herófilo e o físico Arquimedes. Reis (2020), a este respeito complementa que a Biblioteca de Alexandria foi estabelecida na Dinastia Ptolemaica no século III a.C. pelo rei Ptolomeu II. A vontade de obter conhecimento era tamanha que criaram uma espécie de lei que reunia todos os pergaminhos das em- barcações que aportassem na cidade de Alexandria. Eles tinham o anseio de adquirir uma cópia de cada livro da face da terra, então pegavam os pergami- nhos das embarcações, faziam as cópias que na época eram feitas manual- mente e depois que ficavam com as originais e devolviam as cópias. Ou até mesmo confiscavam as obras e compensavam os donos com uma quantia em dinheiro. 23UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Desta maneira, a Biblioteca de Alexandria, reunia um enorme fluxo de informações e tornou-se conhecida como o centro do conhecimento, infelizmente, ela foi incendiada pelo Imperador Júlio César, 47 a.C. queimando cerca de 500.000 rolos. Restaram, aproximada- mente, 200.0 que foram queimados por ordem do califa Osmar, 640 d.C., sob o argumento de que “ou os livros contém o que está no Alcorão e são desnecessários ou contém o oposto e não devemos lê-los” (VENTURI, 1998, p. 23). Essa biblioteca atualmente é conhecida como a “biblioteca desaparecida”. Pode-se mencionar que foi a partir da Biblioteca de Alexandria origina-se a Biblioteco- nomia. Era preciso preparar um profissional que tivesse habilidades para reunir e classificar a Documentação de forma que a informação pudesse ser disponibilizada ao usuário. As palavras de Santos e Rodrigues (2013, p. 116), são esclarecedoras ao mencionar que A necessidade de organizar, conservar e divulgar os documentos, desde o início da escrita até a época moderna, levou as bibliotecas a criarem uma sé- rie de procedimentos e métodos que, apesar de possuírem caráter eminente- mente técnico, visando à resolução de problemas práticos, formaram um con- junto de técnicas e de questões envolvendo a rotina dessas técnicas que, ao longo do tempo, se constituíram na base da futura disciplina Biblioteconomia. Era preciso organizar o conhecimento, até porque havia, também, bibliotecas em outras cidades helenísticas, em Antioquia, na corte dos Selêucidas e em Péla, capital da Macedônia. Essa última foi levada para Rom, após a derrota de Persu, o último rei mace- dônico (GIOVANNINI, 1998). Em Roma, também, foram instituídas muitas bibliotecas que continham grandes acervos literários. Giovannini (1998, p. 57), descrevendo sobre este período histórico acres- centa que O número de bibliotecas públicas, já extraordinário na época helenística, cresceu ainda mais durante o Império Romano, e isso prova a grande difusão dos livros. Parece que em 370 d.C. Roma contava com 28 bibliotecas; tam- bém em várias localidades da Itália e nas províncias havia bibliotecas [...] O número de bibliotecas particulares também aumentou consideravelmente a época imperial. Entretanto, com o desaparecimento do Império Romano do Ocidente, há o en- fraquecimento e a decadência da tradição filosófica e literária clássica sob o impulso da nova ideologia cristã e as bibliotecas da Roma Imperial fecham-se uma após a outra, em seu lugar aparecem as bibliotecas cristãs, com interesse centrado nos livros sagrados: “o pouco que se preserva da tradição pagã é ainda reunido nas seções gregas e latinas, mas as bibliotecas possuem um papel secundário, como o de fornecer material para a polêmica contra o mundo pagão” (SERRAI, 1975, p. 144). Essa revolução intelectual coincide com a transferência dos textos antigos do papiro para o pergaminho que, nem sempre intencional- mente, vem constituir um filtro desfavorável à cópia e à conservação da literatura clássica. 24UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Assim, chega-se na Idade Média e o maior número de bibliotecas dessa época pertencia às igrejas e mosteiros, pois a leitura, especialmente reservada aos domingos e à Quaresma, era considerada ocupação normal para os monges, “exceto para alguns negligentes e preguiçosos, que não querem dispor daquele que parece ser um implemento essencial do mosteiro: a biblioteca” (MANACORDA, 2010, p. 120). Os livros eram ofere- cidos em forma de códices de pergaminho e o bibliotecário medieval era responsável pela integridade material das coleções, que eram ainda bastante limitadas, pois os manuscritos eram raros e de difícil fabricação. Nas últimas décadas da Idade Média, criou-se a literatura popular, surgem as primeiras universidades e inicia-se a literatura científica, cujos frutos invadiram as biblio- tecas da época. Com o Humanismo e o Renascimento, livros e bibliotecas adquirem uma extraordinária importância: “uma das paixões dos estudiosos é procurar por toda parte dos mosteiros ocidentais e orientais os clássicos que são redescobertos, copiados, comprados e até surrupiados” (SERRAI, 1975, p. 145). Com a invenção da imprensa, em 1450, as bibliotecas crescem rapidamente: os sistemas medievais de conservação dos livros em armários, arcas e estantes de tampo inclinado não são mais compatíveis com o número de livros impressos. Antes do século XV as bibliotecas eram particulares ou ligadas a instituições. No século XVI, devido à origem e à função surgem outros tipos de bibliotecas: as constituídas como fundação e mantidas por dotação; as nacionais (em geral derivam das reais); as circulantes, com pagamento de certa importância por parte do usuário; as filantrópicas, com base financeira mista e as públicas anglo-americanas, mantidas por contribuições fiscais. No século XVII, em 1627, Gabriel Naudé publica o Advis pour dresser um bibliothéque, “o primeiro manual para bibliotecários, que formalizou as bases conceituais da Biblioteconomia, abrindo caminho para a afirmação de importantes conceitos, como a ideia de ordem bibliográfica” (SANTOS; RODRIGUES, 2013, p. 117) Em 1659, Frederico Guilherme abre em Berlim, a primeira biblioteca pública, en- tretanto, nem sempre públicas significava aberta a todos sem distinção e, essas, novas bibliotecas serviam a um público selecionado e, portanto, inacessíveis a toda população. Somente em 1676, Gottfried Wilhelm Leibniz (bibliotecário da biblioteca de Hannover) dá à biblioteca o caráter de uma instituição pública, igualando-a à escola. A finalidade da biblio- teca é contribuir para o progresso e para o melhoramento da humanidade. De acordo com Santos e Rodrigues (2013, p. 119), 25UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia [...] a partir de então, a biblioteca pública passou a representar a modernida- de, em oposição às bibliotecas da antiguidade e da idade medieval que a an- tecederam. Em função do surgimentoda biblioteca pública e do crescimento dos periódicos, a Biblioteconomia passou a trilhar novos caminhos. Para satisfazer as necessidades de instrução e de distração dos que não eram sábios, estudantes ou suficientemente ricos para possuir suas próprias coleções de livros, toma forma, a partir do século XVII, a biblioteca circulante, isto é, uma coleção de volumes que são emprestados para leitura, mediante pagamento de pequena quantia. Além dessas, aparecem as bibliotecas filantrópicas, aquelas que se mantêm em parte com as contribui- ções dos usuários (SERRAI, 1975). No século XVIII, as bibliotecas prosperam, o gosto pela indagação torna-se moda e espalha-se em círculos sempre maiores, a razão procura esclarecer os campos tenebrosos da história nacional e dos fenômenos naturais, e estes constituem alguns dos estímulos que levam a um maior uso das bibliotecas e, ao mesmo tempo, a um notável aumento da produção editorial. Na segunda metade do século XVIII, as ideias iluministas encontraram aplicação nas reformas jurídicas e práticas adotadas por alguns soberanos. Foram suprimidas todas as irmandades e ordens religiosas que não tivessem finalidades hospitalares ou educativas e suas bibliotecas foram transferidas para as bibliotecas públicas, estaduais ou universitárias. No século XIX, as bibliotecas públicas proliferaram rapidamente e as ideias demo- cráticas e o choque das ideologias políticas em meados deste século não podiam deixar de se refletir nas bibliotecas. Nessa época, “o burguês rico, imbuído de filantropia, com dó dos pobres, não podia deixar de se condoer com a falta de ‘pão espiritual’ em que vivia o trabalhador”. Este e outros chavões passaram a constituir uma espécie de propaganda, cujo slogan em voga era: “Abrir uma biblioteca é como fechar uma prisão”. (MORAES, 1983, p. 16) Foi o tempo das chamadas “bibliotecas populares”. Todo mundo parecia convencido da necessidade de ilustrar o operário, evitando, ao mesmo tempo, que ele se corrompesse com leituras perigosas. Dentro desse espírito abriram-se bibliotecas públicas por toda parte da Europa. Bibliotecas “cheias de livros de vulgarização científica, romances históricos, clássicos dos que são tidos como boa leitura, manuais de instrução técnica e profissional”. Bibliotecas, em suma, “munidas de obras escolhidas, ‘ao alcance do povo’, que a nata intelectual julgava destinadas a instruir ou divertir os operários” (MORAES, 1983, p. 16). Entretanto, o surgimento das bibliotecas públicas gratuitas “contribuíram para re- forçar os temores da massificação da cultura”, e a burguesia se perguntava “se os padrões de leitura, ao se alastrarem entre os assalariados, diminuiriam o seu gosto pelo trabalho” (COHN, 1973, p. 61). Na fase inicial da divulgação dos hábitos de leitura, ficou bem mar- cada a afinidade entre a preocupação com a presença da “massa” e com a “massificação cultural” por um lado, e a expressão de interesses de classe, bastante primários, por outro. 26UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia No que concerne ao termo Biblioteconomia, Santos e Rodrigues (2013, p. 20), salientam que ele foi usado pela primeira vez somente em 1839 na obra publicada pelo livreiro e bibliógrafo Léopold-Auguste-Constantin Hesse e intitulada Bibliothéconomie: instructions sur l’arrangement, la conservation e l’administration des bibliothèques. Portanto, é a partir do século XIX que efetivamente as técnicas e práticas dos bibliotecários começam a ser sistematizadas. Ainda, no século XIX, as conclusões ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa emigram para a Inglaterra e para os Estados Unidos da América e as bibliotecas americanas nasciam, pois, sem o erro básico das europeias: a separação de bibliotecas para o povo e bibliotecas para as elites. Elas não eram, neste caso, doadas por uma classe, como uma esmola, a outra classe menos favorecida. Para Moraes (1983, p. 16) “nunca houve nos Estados Unidos, a mentalidade bibliotecária humanitária”. Assim, do século XIX em diante, as bibliotecas e a Biblioteconomia adquirem sua fisionomia atual. E hoje em dia, abrir uma biblioteca não é mais fechar uma prisão. A biblioteca deixou de ser um “hospital de almas” para se tornar simplesmente uma oficina de trabalho, que pode ser utilizada por qualquer cidadão. REFLITA Agora que já sabemos como surgiram as bibliotecas no mundo, você já tem ideia de como estas instituições chegaram no Brasil? Fonte: As autoras. No que diz respeito ao surgimento da biblioteca no Brasil, os livros chegaram a partir da metade do século XVI, após a instalação, em 1549, do Governo-Geral em Sal- vador, na Bahia. Essa data marca o “começo da vida administrativa, econômica, política, militar, espiritual e social do país”, entretanto, “só começamos a engatinhar pelo caminho da cultura depois do estabelecimento dos conventos dos jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditinos, principalmente dos padres da Companhia de Jesus que, logo após sua chegada, abrem Colégios na Bahia e em outras capitanias” (MORAES, 1979, p. 1), mas os livros, assim como a instrução estavam nos conventos, pois a Igreja foi a única educadora do Brasil até fins do século XVIII e, as bibliotecas conventuais foram, até a segunda metade desse século, os centros de cultura e formação intelectual dos jovens brasileiros que iam completar seus estudos em Portugal. 27UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Ao se referir às primeiras bibliotecas, Milanesi (1986, p. 65), tece o seguinte comentário: elas não nasceram públicas mas, como o ensino, privadas e com uma direção ferreamente dirigida: a catequese, o aprimoramento do espírito missionário. Os livros que faziam parte desse arsenal religioso espalhado pelas primei- ras povoações e colégios eram apropriados ao objetivo: fundamentalmente obras litúrgicas ou de amparo doutrinário ao trabalho apostólico, sempre sob o respaldo do colonizador. Esse panorama só se alterou com a chegada da família real no Brasil, em 1808. De acordo com Moraes (1983), com o Príncipe Regente, veio de Lisboa a célebre coleção de Diogo Barbosa Machado, a qual serviu de ponto de partida para a Biblioteca Nacional de nossos dias. Com a corte, veio também o maquinário para que se instalasse no país a primeira imprensa. Na Bahia, em 1811, o Conde dos Arcos funda a primeira biblioteca pública. Três anos mais tarde, a Biblioteca Real instalada no Rio de Janeiro, no hospital dos Terceiros Carmelitas, abre as suas portas à população fluminense. “E aqui termina o período medieval das bibliotecas brasileiras” (MORAES, 1983, p. 18). A instalação da República no Brasil provocou mudanças sociais. As idéias liberais advindas dos novos tempos contribuíram para o incentivo da criação de bibliotecas. Esse esforço é assim descrito por Milanesi (1986, p. 34): os esforços mais visíveis para a construção de um modelo de biblioteca parti- ram de grupos diferenciados e que representavam a busca de modernização reflexa. Para o geral da população como desde o Segundo Império, procura- va-se construir uma biblioteca que fosse uma possibilidade de restauração hu- manística da sociedade através do eruditismo e das filosofias regeneradoras. A década de 1920, foi uma década marcada por crises sociais e políticas que cul- minaram com a derrubada das oligarquias. Com isso houve o empobrecimento de algumas cidades, em consequência, decaem as suas bibliotecas e muitas delas desapareceram. Mas se essas bibliotecas decaíram ou desapareceram, em compensação as diretamente sustentadas pelo governo foram crescendo pouco a pouco. A Nacional do Rio aumentou seu acervo com a aquisição de coleções particulares e também em virtude da lei que obriga todo editor a doar-lhe um exemplar de cada obra publicada. As dos Ministérios e das Fa- culdades, adquirindo livros de vez em quando. As estaduais também cresceram. Tudo isso mais por força das circunstâncias que por iniciativa direta dos respectivos governos.Nas décadas de 1950 a 1960, de uma maneira geral o número de bibliotecas tem crescido, raros são os municípios que não possuem sua biblioteca, mesmo porque negar recursos financeiros para a implantação de uma biblioteca seria o mesmo que passar atestado de inculto, coisa indesejável para qualquer político. De uma maneira geral elas têm sido vistas como inofensivas (CARVALHO, 1991, p. 39). 28UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Até que chega 1964 e inicia no país a ditadura militar e as bibliotecas sofrem cen- sura e a informação passa a ser sonegada até chegar a reabertura da democracia no país, onde as bibliotecas voltam a desempenhar um papel relevante na sociedade e, no limiar do século XXI, mais que nunca, acredita-se de que é preciso instalar, organizar bibliotecas e disponibilizar a informação a todos os indivíduos, ou seja, atender a toda comunidade, a todo cidadão. 29UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade vimos os conceitos atribuídos à Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação e como essas áreas se desenvolvem e se relacionam. Vimos que a Biblioteconomia está voltada à organização e a administração de bibliotecas e outras uni- dades de informação, desenvolvendo ações de seleção, aquisição, organização e dissemi- nação de publicações sob diferentes suportes físicos e desenvolve suas atividades técnicas e normativas na perspectiva de proporcionar o acesso à informação. Já Documentação por sua vez volta suas ações ao processo de reunir, classificar e difundir documentos em todos os campos da atividade humana e a Ciência da Informação estaria preocupada em estudar as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam seu fluxo, e os meios de processá-la para sua acessibilidade e uso, fornecendo os fundamentos teóricos necessários às práticas biblioteconômicas e documentárias. Estudamos também como se deu o processo da escrita e pudemos perceber que a história da humanidade se divide em dois períodos bem distintos: antes da escrita e depois dela e, também, que desde a sua invenção provocou grandes transformações intelectuais e sociais na humanidade. Vimos também os sistemas de escrita anteriores à escrita alfabética. Por fim conhecemos sobre o surgimento das bibliotecas e que se, a princípio, elas surgiram com a finalidade de guardar a informação, na contemporaneidade, elas são de suma importância na produção e socialização do conhecimento. 30UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia LEITURA COMPLEMENTAR A transformação do mundo pela escrita Por Maíra Valle e Alessandra Pancetti É difícil imaginar o mundo que conhecemos sem a escrita. A maior parte dos avanços científicos e tecnológicos, ao longo da história, está direta ou indiretamente associada ao armazenamento e transmissão de informações. Mas a escrita não esteve sempre presente: considerando a história do Homo sapiens, que tem por volta de duzentos e cinquenta mil anos de existência, ela é uma invenção bastante recente. Com toda a certeza, a linguagem oral precedeu muito o início da expressão dos homens através de símbolos gráficos. A razão do hiato entre a fala e a escrita deve se relacionar ao alto grau de abstração exigido por essa forma de expressão. Inicialmente, os elementos gráficos utilizados eram apenas desenhos que repre- sentavam diretamente aquilo que se queria expressar, como mostram as pinturas rupestres. Assim, uma cabeça de um boi, por exemplo, representava esse animal. Três cabeças de boi representavam três bois, e assim por diante. Entretanto, por mais simplório que isso possa parecer hoje, para se criar e reconhecer os pictogramas, como são chamados esses símbolos figurativos, foi necessária uma grande dose de abstração do homem primitivo. Afinal, esses desenhos são uma representação bastante diversa da realidade, colorida e em três dimensões. E apesar da alta exigência cognitiva, é possível que a escrita tenha se iniciado diversas vezes, em diferentes locais, em épocas próximas, como ocorreu com quase todas as grandes invenções humanas. Atualmente, acredita-se que a escrita foi criada através de um processo de evolução lento, que levou milhares de anos e foi gerado a partir da ideia de registro de propriedade ou objetos. Segundo Marcelo Rede, professor da Universidade de São Paulo (USP) especiali- zado em história da Mesopotâmia, a teoria da criação única da escrita, cuja difusão posterior teria derivado em todos os outros tipos, não é plausível. Para ele, não há apenas uma razão para o aparecimento da escrita, e sim inúmeros fatores, dentro de um contexto histórico espe- cífico, que levaram as sociedades pré-históricas a desenvolverem esse modo de expressão. “De fato, sobretudo como mostraram as pesquisas da arqueóloga Denise Schman- dt-Besserat, desde o período neolítico, em plena pré-história, portanto, desde nove ou oito mil anos a.C., várias populações do Oriente utilizavam sistemas de registros para efetuarem o armazenamento de informações ou se comunicarem”, explica o professor da 31UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia USP. Inicialmente, isso se deu através de pequenos objetos moldados a partir da pedra ou da argila, cujo uso ajudava no controle de produção e circulação de bens. Os chamados token representavam diretamente o artefato em questão, como uma pequena escultura da cabeça de um boi ou uma planta. Entretanto, às vezes eles tinham uma representação mais abstrata como, por exemplo, uma pedra redonda representando um boi. Numa fase pos- terior, os tokens passaram a ser envoltos por esferas de argila, as bullae. Segundo Rede, esse foi um avanço no sistema de informações. “Isso sugere um acréscimo importante na complexidade do sistema de registro, pois as bullae permitem reunir em seu interior vários tokens, formando uma espécie de unidade de conta, um arquivo de informações”, explica o historiador. Às vezes, os tokens eram impressos na argila, determinando o que esta continha, denotando uma complexidade ainda maior entre a representação e o próprio objeto representado. Com o passar do tempo, as bullae esféricas também desapareceram e surgiram tabletes achatados e, ao invés dos tokens, passaram a ser utilizadas apenas as impressões destes nos tabletes de argila. Os símbolos iconográficos impressos nesses tabletes de argila constituíram os sinais proto-cuneiformes, pois já se assemelhavam à forma triangular, de cunha, da escrita cuneiforme. A escrita cuneiforme representa o mais antigo sistema de escrita de que se tem registro. Ela apareceu na região da Mesopotâmia – atual Iraque – e, para alguns estudio- sos, estaria associada a uma língua única, o sumério, tendo sido criada para expressar os elementos linguísticos de maneira literária, narrativa. Por essa razão, muito estudiosos insistem em uma criação pontual ou única da escrita. “É uma visão que repercute muito e exagera a ideia de que o surgimento da escrita foi um verdadeiro divisor de águas, marcan- do o fim da pré-história e o início da história propriamente dita”, afirma Rede. Dentro dessa perspectiva, o historiador explica que, apesar de a maioria dos estudiosos acreditar que os hieróglifos egípcios sejam resultado de um processo local, alguns ainda acreditam que houve uma importação da ideia do registro da Mesopotâmia. Embora não haja consenso quanto à forma como a escrita se originou, o mesmo não se dá para a invenção do alfabeto, que surgiu depois. “No caso do sistema alfabético, o processo de difusão funcionou largamente: originado, ao que tudo indica, na região do Levante (entre a costa de Gaza e a Turquia), as várias formas de alfabeto foram se derivando umas das outras e espalharam-se por todo o Mediterrâneo antigo, da Fenícia a Roma, pas- sando pela Grécia. Assim sendo, as razões que levaram ao aparecimento da escrita variam conforme os contextos históricos e não há uma resposta única”, completao professor da USP. Quando o alfabeto foi inventado, as formas escritas passaram a representar não mais 32UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia coisas, mas os sons da língua falada. Segundo ele, o registro de uma língua não pode se esgotar na representação pictográfica, pelo simples fato de que nem todas as coisas podem ser representadas em símbolos pictóricos. Como Rede explica, em relação à escrita suméria: “Como dizer, a partir de uma imagem semelhante, o verbo “du”(“falar”) ou “gu”(“gritar”)? E como distinguir “gritar”(verbo) de “grito”(substantivo)? Ou “boca”de “palavra”(“inim”)? Do mes- mo modo, como inserir as flexões de pessoa: eu falo, tu falas etc? Ou, ainda, como indicar tempo: eu falava, eu falo, eu falarei? Para tudo isso, um sistema puramente pictográfico se presta mal; é necessário introduzir sinais de abstração de vários tipos”. Segundo Margarida Salomão, linguista e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na história da escrita ocidental, existiu um momento em que os sinais ideogramáticos, os hieróglifos egípcios, se convencionalizaram e, a partir disso, existiu uma simplificação. Os ideogramas simplificados passaram a ser interpretados foneticamente na escrita fenícia e, depois, na grega, que é basicamente a que perdura até os dias de hoje. “A escrita é baseada na significação. O primeiro período da escrita ocidental foi ideogramático, escrevia-se uma representação da significação. E depois, para obter-se mais capacidade expressiva, para evoluir-se tecnologicamente, é que de fato passou-se a fazer análise fônica, e hoje, tem-se a escrita fonética, que é a mais prática de todas”, explica Salomão. Para a linguista, a invenção da escrita conferiu uma dimensão de poder aos povos que a possuíam, pela perspectiva de avanço tecnológico advinda dela. “A partir do momento que se tem a escrita, passa-se a ter uma memória social. E, na verdade, os avanços tecnológi- cos obtidos foram pautados ou tiveram como patamar a sistematização e organização dos conhecimentos, que passaram a ser, inclusive, coletivamente partilhados. E quanto maior a disseminação dessa memória social, mais rápida e mais violenta se tornou a evolução tecnológica e científica”, completa. Historicamente, junto com a escrita e logo no seu início, formou-se um grupo de especialistas da escritura, os chamados escribas. A cultura escribal foi uma das caracte- rísticas das sociedades do antigo Oriente Médio. Para Marcelo Rede, da USP, foi a classe dos escribas que conferiu grande longevidade à escrita cuneiforme, que perdurou por mais de três milênios. Mas, enquanto parte deles se dedicava ao registro das coisas cotidianas, como contabilidade e correspondência, outros se especializavam em textos de áreas es- pecíficas do saber, como textos literários, textos em medicina, matemática e astronomia. “Não é, portanto, apenas uma questão de ler e escrever, mas de domínio de um campo de saber”, completa Rede. Tal saber não era totalmente difundido pela população, mas privi- légio de poucos. Ainda assim, para além dos textos específicos redigidos pelos escribas, 33UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia a sociedade mesopotâmica parece ter tido um grande número de pessoas capazes de registrar a vida cotidiana, que está muito bem documentada nos escritos cuneiformes. “A tal ponto que os textos cuneiformes formam o maior conjunto unitário de registros escritos antes da invenção da impressão por Gutemberg”, explica o professor da USP. Entretanto, o aparecimento e a evolução da escrita não foi, e não é, uma carac- terística de todas as sociedades humanas. Mesmo com o aparecimento e a evolução de diversos tipos de escrita, ainda hoje temos muito mais línguas faladas (cerca de 7000), do que línguas escritas, que são algumas centenas. Com certeza, questões históricas se encontram na base da discrepância entre o número de línguas escritas e faladas, em especial a estrutura da sociedade em que a língua escrita é usada. O linguista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), José Pereira da Silva, explica que apesar de as razões para o surgimento da escrita não estarem totalmente esclarecidas, um dos fatores em comum na maioria das sociedades foi a existência da agricultura, da permuta ou do comércio, o que exigia um alto grau de complexidade de governança, em que havia uma necessidade prática do registro. “Esses primeiros documentos eram, quase sempre, registros de bens e indicação dos seus proprietários e herdeiros. A contabilidade foi, de início, a atividade mais documentada por escrito”, completa. Por isso, os povos cujas sociedades eram menos complexas, como os índios americanos, que antes da chegada dos europeus eram coletores e caçadores, não desenvolveram a escrita – afinal, não havia uma grande necessidade da mesma. E isso se repete para os povos coletores e caçadores ainda existentes no mundo. Se, por um lado, fatores históricos parecem predominantes para a invenção da escrita em uma sociedade, por outro lado, o grande número de línguas faladas com relação às escritas demonstra o grau de dificuldade da construção de um sistema de representação da fala. Na verdade, nossa expressão plena em um idioma exige habilidades distintas. A linguista Margarida Salomão, da UFJF, explica que o fato de sabermos ler em uma deter- minada língua, não significa que saibamos nos comunicar por ela escrevendo ou falando, ou que possamos compreendê-la através da audição. Ou seja, a escrita, a leitura, a fala e a audição são habilidades cognitivas distintas, muito embora relacionadas. Para termos competência em cada uma delas, é necessária a prática das diferentes habilidades. Além da exigência de diferentes habilidades cognitivas, e talvez por isso mesmo, as línguas faladas e escritas também evoluem por caminhos diversos: é fato que em nenhuma língua há total concordância entre sons e letras. Para Margarida Salomão, enquanto a fala, que é a experiência cognitiva primária, evolui no tempo morfológica e fonicamente, a escrita 34UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia fica presa à sua história, depende da ortografia vigente, que normalmente é conservadora. Sendo assim, a escrita sempre “fica para trás”, numa versão mais antiga da língua, o que gera a discrepância entre fala e escrita. “A escrita é datada historicamente. Como a língua prossegue mudando, do ponto de vista fônico, do ponto de vista morfológico, então a escrita é sempre uma versão mais velha da língua que se fala, e daí tem-se esse desacordo”, completa. Em relação à língua escrita, podemos dizer que, historicamente, as línguas escritas nem sempre “evoluíram”de uma forma pictórica para uma forma abstrata, como em uma série de etapas pré-determinadas que foram alcançadas paulatinamente. Em especial, podemos dizer que a história da escrita no Ocidente, da qual vimos falando até então, não reflete necessariamente a história de todas as línguas escritas. “A evolução do pictórico para os símbolos concretos dos hieróglifos, por exemplo, para os abstratos que representam os sons, não é tão generalizada como nos parece. Pois, no Oriente, a escrita ideográfica ainda permanece”, diz José Pereira, da UERJ. E, certamente, em países como Japão, China, as Coreias do Norte e do Sul, entre outros, a escrita ideográfica ainda é utilizada. Segundo explicação da linguista e professora da USP, Leiko Morales, a primeira aparição da escrita ideográfica ou logográfica chinesa é datada de meados do século VII, e tal maneira de registrar foi, depois, “exportada” pelo Japão, onde apareceu na literatura japonesa do século VIII. Para Morales, as principais causas que levaram ao aparecimento da escrita no Japão foram a necessidade de desenvolvimento e de ser reconhecido como uma nação pela China, o grande centro cultural asiático da época. “No começo, era apenas um emprego fonético dos logogramas, respeitando-seo som chinês; mas à medida que os japoneses iam dominando e compreendendo o significado dos logogramas, começaram a atribuir leituras para os símbolos e, a partir daí, começa toda a complexidade”, explica a pesquisadora. “A partir do século IX a X, já surgem os hiragana e katakana, que são fonogramas, conhecidos como silabários, pois cada letra representa um som”, continua. Nesse caso, a escrita ideográfica não foi nunca substituída, mas outros símbolos foram sendo acrescidos, conforme a necessidade. “Os pictóricos fazem alusão direta aos desenhos, depois estes passam a constituir partes de outros ideogramas ou logogramas mais complexos, mas não desaparecem em definitivo. Eles foram preservados e são uti- lizados até hoje”, completa. Dessa forma, no Japão, existiram desde o princípio múltiplas leituras dos mesmos ideogramas, por conta das traduções dos logogramas chineses. Na própria China, entretanto, as leituras dos logogramas podem ser diferentes, dependendo da época ou da região. Como ressalta Morales, “mesmo os sons chineses são vários, uma vez que houve incorporação de leitura de regiões e épocas diferentes, o que fez aumentar a multiplicidades de leitura sobre o mesmo ideograma”. 35UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia Certamente, a evolução da língua escrita é um tema de grande interesse. Nós, hoje, vivemos em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia e pela escrita, onde os re- lacionamentos, tanto pessoais quanto profissionais, vão muitas vezes se limitar ao contato via internet e onde as pessoas se “falam”apenas escrevendo. Além disso, os recursos da web oferecem uma grande oportunidade de disseminação e difusão da informação escrita. Nas palavras da professora Margarida Salomão, existe o “potencial para a universalização do conhecimento”. Entretanto, falar e escrever não são a mesma coisa. Enquanto vivemos em sociedade, todos aprendemos a falar, ainda bem jovens, tendo como instrutores as pes- soas próximas junto às quais crescemos. Por outro lado, a escrita tem que ser ensinada, normalmente em escolas, por pessoas que também foram treinadas para tal. Existe uma “formalidade”na aquisição da escrita, uma intencionalidade, uma vez que não aprendemos a escrever simplesmente convivendo com quem escreve. Essa intencionalidade também existiu na criação das línguas escritas e em sua evolução, para acompanhar o ritmo das sociedades e as várias modificações que a própria língua falada foi sofrendo. Não há dúvida de que a invenção dessa forma de expressão delineou a história do mundo desde a sua criação e propagação até alcançar a nossa condição atual, de “aldeia global”, na qual pessoas de culturas diversas e regiões muito distantes geograficamente entre si, podem se comunicar através do mesmo tipo de escrita numa mesma língua, que por sua vez também foi ainda mais disseminada. Dos desenhos pictóricos à era da informa- ção, a história da escrita é um capítulo fundamental na história da humanidade. Tudo que conhecemos hoje, que transforma e valoriza nosso mundo, os livros, os filmes, a internet, a ciência, entre tantas outras coisas, só existe devido ao sucesso dessa ferramenta. “Eu considero que a invenção da escrita tenha sido a mais importante de todas as evoluções tecnológicas da humanidade, porque sem ela, é muito difícil imaginar que as outras tives- sem acontecido”, conclui Salomão. Fonte: VALLE, Maíra; PANCETTI, Alessandra. A transformação do mundo pela escrita. ComCiência, Campinas, n. 113, 2009 . Disponível em <http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1519-76542009000900002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 13 ago. 2021. 36UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: História da escrita Autor: Steven Roger Fischer. Editora: Ed. Unesp. Sinopse: Este livro faz uma introdução à história da escrita sob uma visão atualizada. São foco de atenção às origens, funções e mudanças cronológicas dos mais importantes sistemas de escrita do mundo, atuais e extintos. As dinâmicas sociais das escritas são assim abordadas em todo o seu fascínio. FILME / VÍDEO Título: “O Nome da Rosa” Ano: 1980. Sinopse: É um filme baseado no romance escritor italiano Umber- to Eco e narra sobre a biblioteca do mosteiro que guardava obras não aceitas pela Igreja na Idade Média. Sinopse completa do filme pode ser encontrada em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-nome-da-rosa-sai- ba-como-utilizar-o-filme-no-vestibular/ VÍDEO Título:TV Escola: A História da Palavra – A Revolução dos Alfabetos Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=T4VFpLDucBI https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-nome-da-rosa-saiba-como-utilizar-o-filme-no-vestibular/ https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-nome-da-rosa-saiba-como-utilizar-o-filme-no-vestibular/ https://www.youtube.com/watch?v=T4VFpLDucBI 37 Plano de Estudo: ● Biblioteconomia: a primeira modernidade; ● Biblioteconomia moderna; ● Biblioteconomia contemporânea. Objetivos da Aprendizagem: ● Apresentar a evolução histórica da biblioteconomia e seus fundamentos; ● Discorrer sobre o surgimento da biblioteconomia enquanto área do conhecimento; ● Descrever o percurso da biblioteconomia e das bibliotecas na Antiguidade e na Idade Média; ● Contextualizar a Biblioteconomia na era moderna; ● Citar as características da Biblioteconomia na contemporaneidade. UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco 38UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 38UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia INTRODUÇÃO Prezado(a) Acadêmico(a)! Ao adentrarmos na história a fim de conhecermos sobre as raízes da bibliotecono- mia, enquanto área do conhecimento, podemos perceber que é impossível desvinculá-la do aparecimento das bibliotecas, haja vista, que ela surgiu da necessidade do homem em buscar formas adequadas, eficientes e eficazes de armazenar e preservar os acervos, bem como, disseminar a informação. Neste percurso, podemos perceber que o processo evolutivo da Biblioteconomia não se deu de forma igualitária em todos os países e que o seu desenvolvimento aconteceu em conformidade com os aspectos culturais, políticos e sociais percorridos pela humani- dade, ou seja, à medida que a sociedade evoluía a biblioteconomia se moldava e/ou se adaptava a estas transformações. A fim de sistematizarmos a compreensão do texto apresentamos a princípio a etimologia da palavra e dividimos o trajeto histórico em três períodos distintos: Antiguidade que compreende desde o início da civilização; Idade moderna que vai de 1453 até 1789, que corresponde ao período da invenção da Imprensa e o Renascimento e, por fim, Idade Contemporânea, a partir de 1789 até a atualidade. O caminho é longo, então, que tal iniciarmos a nossa caminhada pelo “túnel do tempo” das práticas biblioteconômicas? Seja bem-vindo(a) a evolução histórica da biblioteconomia e bons estudos! 39UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 39UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia 1. BIBLIOTECONOMIA: A PRIMEIRA MODERNIDADE Caro(a) Acadêmico(a)! Ao refletirmos sobre determinado assunto é importante conhecermos sobre a sua etimologia. Neste sentido, o vocábulo Biblioteconomia é derivado de três palavras gregas: biblion (livros); théke (caixa); nomos (regra) e ao juntarmos temos biblionthékenomos, ao qual substituiu o sufixo “os” por “ia” e temos a palavra biblioteconomia que, na opinião de Fonseca (2007, p. 1), corresponde ao “conjunto de regras de acordo com as quais os livros são organizados em espaços apropriados: estantes, salas, edifícios”. Mey (2004, p. 73), porém, alerta que a palavra grega “biblion” não se poderia referir a livros, uma vez que eles eram inexistentes para os gregos antigos; havia apenas rolos de papiro. O papiro, este sim, vinha da cidade fenícia de Biblos(hoje no Líbano), o que nominou o tipo de suporte em grego. Portanto, qualquer ligação entre o suporte e a profissão não se dá através da etimologia, mas através da própria imagem que se dá a nossas bibliotecas. O que se pode afirmar é se torna impossível pensarmos na Biblioteconomia desvin- culada da biblioteca, haja vista, que enquanto uma área do conhecimento ela está intima- mente ligada ao aparecimento das bibliotecas na humanidade, isto é, da necessidade de se organizar a informação com vistas à sua recuperação, surgiu a necessidade de se normatizar as atividades, encontrar regras de organização e, neste contexto, “nasce” a biblioteconomia. Ela surge, mas, precisamente na passagem da cultura oral para a cultura escrita. 40UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 40UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia De acordo com Mey (2004, p. 73), a Biblioteconomia “seria a coleta, organização e disseminação de livros. Muitos se perguntam se a mudança de termos acarretaria mu- dança na imagem da profissão, não a vinculando necessariamente a livros”. Será? Talvez sim, talvez não! O que se sabe é que desde as tabuinhas de argila até o livro impresso, sempre houve por parte do homem o desejo de se usar várias vezes a mesma informação que lhe fosse significativa, mas de que maneira poderia se fazer isso? Da resposta a este questionamento, surgiram “as primeiras evidências de organização de documentos segundo seus conteúdos, apontando esses processos e as bibliotecas primitivas da antiguidade que os realizavam como a origem do que depois foi denominado Biblioteconomia” (ORTEGA, 2004, p. 1). De acordo com Medeiros (2019, p. 84), desde a Antiguidade “alguns conceitos bási- cos da biblioteconomia já estão presentes como a organização, a preservação e a utilização das informações registradas para uso futuro, de pessoas que não se sabe quem são e nem em que época vivem ou viverão”. Sabe-se, porém, que os acervos eram organizados de forma rudimentar e sem uma sistematização, propriamente, dita. “Entre esses fazeres, na Antiguidade, estão as ações de organização e armazena- mento dos registros do conhecimento, de tabuinhas a rolos de papiro e pergaminho, assim como as ações de preservação dos mesmos. Tais atividades de organização podem ser vistas como os primeiros princípios da Biblioteconomia” (TANUS, 2018, p. 256). Ortega (2004), corrobora de que a origem dos princípios da Biblioteconomia data do terceiro milênio a.C, período em que se pode comprovar a existência das primeiras coleções organizadas de documentos. Essa primeira biblioteca primitiva foi descoberta em 1975, Trata-se da Biblioteca de Ebla, na Síria, cuja coleção era composta de textos administrativos, literários e científicos, registrados em 15 mil tábuas de argila, as quais foram dispostas criteriosamente em estantes segundo o tema aborda- do, além de 15 tábuas pequenas com resumos do conteúdo de documentos. A escrita era a cuneiforme, porém não no seu idioma original (o sumério), mas numa língua desconhecida a qual se chamou eblaíta (ORTEGA, 2004, p. 2). A autora supracitada, menciona que na civilização mesopotâmica, no segundo mi- lênio a.C, pode constatar “a organização de documentos acompanhada de representações para fins de recuperação: tábuas de argila eram protegidas por espécies de envelopes nos quais estavam dispostos resumos” (ORTEGA, 2004, p. 2). Podemos perceber que seria impossível organizar tantas tábuas de argila sem uma sistematização. A biblioteca de Nínive pertencente ao rei Assurbanipal II (668-627 a.C), também evidencia formas sistematizadas de organizar a informação. Esta instituição é considerada uma das mais majestosas da antiguidade. Seu acervo era composto por 41UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 41UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia blocos de argila cozida e escrita em caracteres cuneiformes que remontam o século IX a.C. e era “altamente organizada. As placas componentes de uma mesma obra eram reunidas num único bloco, no qual se punha um rótulo identificador do conteúdo” (BATTLES, 2003, p. 31); tinha, ainda, um catálogo no qual se registravam os títulos das obras e o número das placas. Na opinião de Pereira e Santos (2014, p. 16), essa descrição sucinta das obras pode ser considerada como o “embrião dos catálogos” Na opinião de Souza (2005), a biblioteca de Nínive foi a primeira coleção indexada e catalogada da história da humanidade. Ela ficou oculta durante séculos, mais precisa- mente, até em 1845, quando foi descoberta por Sir Henry Layard e, aproximadamente, 25.000 fragmentos, podem ser encontrados atualmente no Museu Britânico, em Londres. Battles (2003, p. 34), ressalta, ainda, que outros arquivos e bibliotecas espalhados pela Mesopotâmia exibiam níveis igualmente elevados de organização. Havia repositórios em que placas eram guardadas em cestas numeradas, com os títulos gravados nas bordas da argila para facilitar a identificação. Utilizavam-se, também, de potes, tabuinhas com fichas para identificar os textos, listas de títulos contendo as primeiras palavras do texto que se pressupõem que seriam os catálogos utilizados na época. Nos manuscritos e nos incunábulos medievais fazia-se uso de colofões. SAIBA MAIS Colofão é uma palavra derivada do grego kolophṓn e utilizado nos manuscritos e nos in- cunábulos medievais, nota final que fornece referências sobre a obra e indicações re- lativas à sua autoria, transcrição, impressão, lugar e data de sua feitura. Fonte: Dicionário Houaiss (2021). Ao refletirmos sobre organização de bibliotecas, não podemos deixar de mencionar sobre a Biblioteca de Alexandria que durante sete séculos (entre os anos de 280 a.C a 416 d.C), reuniu o maior acervo na Antiguidade. A organização física da biblioteca foi planejada com bastante esmero a fim de guardar seu imponente acervo. “As estantes no interior do edifício eram circundadas por colunatas abertas expostas a brisa, formando corredores cobertos que os estudiosos podiam utilizar para estudo ou discussão” (BATTLES, 2003, p. 68). Já a organização do acervo se dava da seguinte maneira: os rolos eram dispostos em pilhas e tinham etiquetas presas com o nome dos autores e títulos das obras e “nesse ínterim, apareceu a figura do bibliotecário, que preside ao funcionamento e à organização da instituição” (BARATIN; JACOB, 2000, p. 47). 42UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 42UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia Ser convidado para o cargo de bibliotecário-chefe em Alexandria era muito hon- roso e suas atribuições além de reorganizar as obras dos autores nas áreas humanas e filológicas cabia, ainda, a tutoria dos príncipes reais e orientá-los nas leituras, bem como, desenvolver o gosto por elas (BARATIN; JACOB, 2000). O primeiro bibliotecário a assumir o cargo na Biblioteca de Alexandria foi Zenódoto de Éfeso. A ele coube a responsabilidade de editar as obras de Homero, dividindo-a com a Ilíada e a Odisséia em vinte e quatro volumes (CHAUÍ, 2010). Outros bibliotecários de Alexandria se destacaram, tais como: Apolônio de Rodes, Erastótenes de Cirene, Aristarco de Samotrácia e Aristófanes de Bizâncio (MEY, 2004). Mas, o mais importante e sábio de todos foi Calímaco de Cirene (330-243 a.C.) que cata- logou o acervo da Biblioteca de Alexandria, em 120 volumes, criou um catálogo das obras existentes na biblioteca, os Pinakes, que é considerado o primeiro catálogo sistematizado de bibliotecas. Ele era composto por 120 rolos, organizados por assunto e por autor, os quais eram listados em ordem alfabética, com uma pequena biografia de cada um deles. Era dividido em oito seções temáticas: drama, oratória, poesia lírica, legislação, medicina, história, filosofia e “diversos” (FISCHER, 2006). Os pinakes serviram de modelo para outras bibliotecas em diferentes períodos históricos. Infelizmente a Biblioteca de Alexandria foi destruída pelo fogopor várias vezes, mas, conforme reporta Mey (2004, p. 12) ela “deixou-nos uma herança indelével, um exemplo a ser seguido, de busca do conhecimento e da intolerância. Certamente o homem moderno tem muito a aprender das lições de Alexandria [...]”. Nas palavras de Medeiros (2019, p. 59) O estudo tradicional das bibliotecas da Antiguidade compreende desde as suas origens até a queda do Império Romano do Ocidente. Nenhuma biblio- teca da Antiguidade encontra-se, hoje, em funcionamento, mas alguns de seus acervos chegaram até nós, como as tabuinhas de argila da Biblioteca de Ebla, que estão no Museu Britânico. Somente, por meio destes “vestígios” é que podemos conhecer sobre as bibliote- cas da antiguidade. Na Idade Média, entre os séculos V a XV d.C. as tabuinhas e papiros foram substituídos pelo pergaminho (suporte feito de pele de animal) que, além de ser mais resistente, possibilitava a escrita nos dois lados e a costura no dorso das páginas e recebia o nome de códex. É mister salientar de que a Idade Média não foi um período próspero para as bibliotecas, as quais, tinham como função guardar os livros e não disseminar a informação, pois “as bibliotecas medievais, são, na realidade, simples prolongamentos das bibliotecas antigas, tanto na composição, quanto na organização, na natureza e no fun- cionamento”, as mudanças sofridas são insignificantes, decorrentes apenas de pequenas divergências de ordem social (MARTINS, 2002, p. 71). 43UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 43UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia Nesta mesma esteira de pensamento, Tanus (2018, p. 264), alerta que embora, a materialidade dos suportes tenha melhorado nesse período medie- val, as bibliotecas continuaram fechadas em si mesmas, pois apenas uma par- cela reduzida da população tinha acesso a elas, reduzindo-as ‘depósitos’, um local onde mais se esconde do que se revela, assim como um local de silêncio. Segundo Martins (2002), na Idade Média encontramos três tipos de bibliotecas: as monacais, as particulares e as universitárias, entretanto, as grandes bibliotecas medievais se preocupavam com a guarda dos acervos e a atividades que se destacavam era a dos monges copistas, a quem cabia o armazenamento, acondicionamento, preservação e con- servação de livros. No início do período medieval, as bibliotecas monacais, tidas como espaço sagra- do, ficavam restritas aos mosteiros e aos conventos. De acordo com Milanesi (2002, p. 23) O acesso a esses acervos guardados nos mosteiros limitava-se aos que per- tenciam a ordens religiosas ou eram aceitos por elas. Ler e escrever eram habilidades quase exclusivas dos religiosos e não se destinavam a leigos. Os monges contabilizavam o seu capital pelo tamanho e qualidade de suas bibliotecas [...] De acordo com Martins (2002), os armários eram embutidos nas paredes, conti- nham diversas estantes de leitura para permitir o manuseio dos infólios e nas quais todos os livros eram acorrentados. Supõe-se que isto ocorria por medo que as obras valiosas fossem roubadas. FIGURA 1 - BIBLIOTECAS MEDIEVAIS Os mosteiros maiores tinham um Scriptorium, local em que o trabalho de copistas era distribuído aos monges, a quem cabia o “honroso” serviço de escriturário. No que diz respeito ao suporte da escrita, pode-se perceber uma evolução, pois, por volta dos anos 600, os monges anacoretas do Egito, por falta de outro tipo de material, utilizavam cacos de 44UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 44UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia cerâmicas ou ostracas para registrar as cópias de clássicos antigos, com o passar do tempo estes materiais utilizados para o registro da informação foram substituídos pelas tabuinhas cobertas de cera, as quais eram extremamente frágeis; qualquer esfregão desaparecia tudo que tinha sido nelas registrado. Posteriormente, no século IV, as obras dos mosteiros eram compostas por maços de folhas de papiro dobradas e, frouxamente, costuradas em uma capa de couro e, mais tarde, foram substituídos pelos palimpsestos, pergaminhos que foram raspados para serem utilizados como suporte para a escrita (BATTLES, 2003). As duas principais bibliotecas monacais foram a biblioteca de Cassiodoro e a biblioteca de um mosteiro sírio liderado por Moisés de Nisibis. As bibliotecas mais famosas da Idade Média, destacam-se as do Montes Altos, na Turquia, e a biblioteca Vaticana, estabelecida na Basílica de São João de Latrão, na época do Pará Hilário. No século IX surgem as bibliotecas capitulares, ligadas à igreja e as mais famosas são as das Catedrais de Chartres, Lyon, Reims, Cambrai, Rouen, Clermont (MARTINS, 2002). No que diz respeito às bibliotecas bizantinas, apesar de serem mantidas pelos monges, foram contaminadas pelo profano pelos próprios monges que fugiram para o Oci- dente. Martins (2002, p. 86), narra o fato da seguinte maneira: a fuga desses monges e desses sábios de Bizâncio para o Ocidente, trazen- do os seus manuscritos e os seus conhecimentos, por ocasião da tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, é que provocará a Renascença e, por consequência, o fim da Idade Média. O Studion e o Claustro de Santa Catarina, foram os mais famosos conventos bizantinos. No que diz respeito às bibliotecas particulares, tidas como espaços privilegiados mantidas pelos imperadores ou nobreza, eram grandes e imponentes. Algumas chegavam a ter, aproximadamente cem mil volumes e, em muitas delas, além de contar com copistas, também, tinha um bibliotecário a quem cabia a responsabilidade de organizar o acervo. Uma das bibliotecas que merecem destaque nessa época foi a de Carlos Magno “detentor de uma biblioteca com inúmeros livros ilustrados, e, Carlos V, da França, que chegou a reunir mil e duzentos volumes, um número considerável no seu tempo, que viria a constituir o acervo da Biblioteca Nacional de Paris” (TANUS, 2018, p. 266). Entre os séculos XIII e XV, com a expansão das universidades, criou-se uma de- manda de livros por parte dos estudantes e, também, um enorme avanço das bibliotecas universitárias. Era preciso encontrar uma forma de recuperar a informação de uma forma mais rápida e eficiente. Desta maneira, foi criado o primeiro catálogo unificado, o qual continha o nome dos autores e das obras e a indicação em qual biblioteca monacal ela se 45UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 45UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia encontrava armazenada. Nos fins do século XIII, as universidades instalam suas próprias bibliotecas, cujos acervos eram doados pelos leigos ricos e instruídos, nobres e mercado- res (BATTLES, 2003). Com as universidades, os livros pouco a pouco se distanciam do universo religioso, de objeto sagrado e se tornam como suportes para a pesquisa. Este fato impulsionou o aprimoramento de catálogos que auxiliariam na localização dos livros de forma mais rápida. Na opinião de Martins (2002), foi a partir da criação das bibliotecas universitárias é que o bibliotecário, como organizador da informação, surgiu de fato e, no Renascimento, consolidou o seu papel como disseminador do conhecimento. Após este passeio pelos primórdios da biblioteconomia, que tal conhecermos como ela se “comportou” na Idade Moderna? Então, vamos adiante!! 46UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 46UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia 2. BIBLIOTECONOMIA MODERNA Olá! Neste item vamos conhecer o percurso da Biblioteconomia na Idade Moderna, período que vai de 1453 até 1789, mas, precisamente, da eclosão da Revolução Francesa, perpassa pelo período da invenção da imprensa, dos grandes descobrimentos e o Renascimento. Conforme já pudemos observar que a gênese do trabalho biblioteconômico a prin- cípio foi organizar os registros. Este ato permitiu que a memória da humanidade fosse preservada, mas para que isto acontecesse foram necessárias pessoas especializadas, cujas funções iam além de preservar ainformação, mas, também a organizar de maneira que ela pudesse ser recuperada. Nas palavras de Milanesi (2002, p. 9), “essa atividade de buscar-o-que-foi-guardado e de guardar-o-que-foi-registrado (e de registrar-o-que-foi-ima- ginado) é a forma possível para manter viva a memória da humanidade, forma essa em constante aperfeiçoamento”. De acordo com Baratin e Jacob (2000), são poucos registros que se tem sobre a formação das bibliotecas humanistas, tanto no que diz respeito à formação de suas cole- ções, quanto aos métodos de aquisição e catalogação do acervo. Entretanto, é a partir do Renascimento que o bibliotecário assume, efetivamente, seu papel central de agente que organiza o acervo e contribui para a disseminação do conhecimento; “ele surge como um guia de ajuda na caminhada por um mundo novo e aberto” (MILANESI, 2002, p. 7). A ele cabia desde a disposição arquitetônica até a organização das bibliotecas como um todo. 47UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 47UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia Um acontecimento que revolucionou a história das bibliotecas e, consequentemente, da biblioteconomia ocorreu em 1440, com a invenção da prensa tipográfica por Gutenberg. É mister salientar que desde o século XI os chineses já conheciam os caracteres móveis (a prensa clássica não reutilizável), entretanto, com a imprensa, além de reduzir o tempo de reprodução do texto, diminuiu o custo do livro. “A imprensa e o papel acarretaram sensíveis mudanças no mundo da cultura: livros passaram a ser impressos e distribuídos, semeando frutos e vida e de morte” (ROSA, 1993, p. 118). De acordo com Tanus (2018, p. 257), A Idade Moderna teve como um dos marcos a imprensa dos tipos móveis, o que possibilitou a mudança da produção manual do livro para o impresso, e, com isso, uma maior circulação de livros e um aumento de leitores para além das Bíblias e do círculo religioso. O livro passa, então, a ser sentido como uma necessidade, a leitura e a escrita concomitantemente passam a ser re- queridas e valorizadas. As bibliotecas crescem agora rapidamente: os sistemas medievais de conservação dos livros em armários, arcas e estantes de tampo inclinado não são mais compatíveis com o número de livros impressos. Além disso, as reformulações sociais alteraram profun- damente suas funções: os processos de adequamento da biblioteca às necessidades da sociedade não acompanharam o mesmo esquema em todos os países; como seu serviço abrange as estruturas econômicas e culturais de uma mesma nação, as bibliotecas rece- beram incentivo nos lugares onde as escolhas políticas se fizeram tempestivamente. Uma das manifestações mais vistosas é a aparição gradual de diferentes tipos de bibliotecas, devido à origem e à função. SAIBA MAIS É mister salientar que antes do século XV, as bibliotecas eram particulares ou ligadas a instituições. Com o século XVI e os seguintes, surgem outras bibliotecas: as constituí- das como fundação e mantidas por dotação; as nacionais (em geral que derivam das reais); as circulantes, com pagamento de certa importância por parte do usuário; as filantrópicas, com base financeira mista; as públicas anglo-americanas, mantidas por contribuições fiscais. Fonte: as autoras 48UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 48UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia Desta maneira, a produção bibliográfica, em larga escala, possibilitou a difusão do conhecimento para as massas e, também, “gerou a necessidade de novas ferramentas de organização e recuperação das coleções, que cresciam vertiginosamente. Além dos catálo- gos e inventários que se especializaram nessa época, destacou-se o desenvolvimento das bibliografias a partir do século XVI” (SIQUEIRA, 2010, p. 58). O livro impresso possibilitou a difusão do conhecimento para as massas, principalmente, por meio das bibliotecas públicas que expandiam cada vez mais os seus acervos. REFLITA As bibliotecas públicas, na Idade Moderna, apesar do nome nem sempre significava que estavam abertas a toda população sem distinção. Na sua opinião, na atualidade todo cidadão tem, realmente, acesso à informação? Fonte: as autoras. Um marco considerável para a história das bibliotecas se deu em 1627, com a publicação da obra Advis pour dresser um bibliothéque, escrita por Gabriel Naudé, a qual formalizou as bases conceituais da Biblioteconomia e forneceu conceitos importantes, den- tre eles a ideia de ordem bibliográfica. Araujo, A. e Araujo, D. (2018, p. 5) corroboram que a Naudé está atribuído o status de ter sido, no período moderno, um dos primeiros a adquirir fama não somente como bibliotecário, mas como teórico das bibliotecas. Seu Advis pour dresser une bibliothèque (1627) torna-se o primeiro guia orgânico e coerente para a preparação de uma biblioteca ideal. O guia elaborado por Naudé instrui como deveriam ser escolhidos e distribuídos os livros em uma biblioteca. De acordo com Serrai e Sabba (2005, p. 80), o projeto de biblioteca que Naudé tinha em mente era distinguido por um ca- ráter estritamente ideal: Advis de fato expõe o modelo do que uma biblioteca tinha que ser em termos absolutos. É essencial recordar essa característica da idealidade concreta do desígnio naudeano: ingênua e apaixonada, límpida e ardente, inspirada nos axiomas das heurísticas mais rebeldes e, ao mesmo tempo, alimentada incessantemente por referências à matéria e à realidade bibliográfica. Assim, foram lançadas as bases da biblioteconomia moderna “não só em termos da definição de normas técnicas e operacionais destinadas ao bom funcionamento da instituição, mas também da abordagem cultural para a sua formação” (GUERRINI et al., 2008, p. 27). 49UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 49UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia Outro fato que merece destaque no desenvolvimento da Biblioteconomia foi a consolidação da biblioteca pública após a Revolução Francesa, no período de 1789 a 1799, que tinha como objetivo difundir a informação nos âmbitos da educação e cultura. De acordo com Siqueira (2010, p. 58), “nesse contexto, nasceu a Biblioteconomia, disciplina encarregada de organizar, administrar e cuidar da gestão de livros, bem como a figura do profissional bibliotecário; ao lado do arquivista, tornaram-se fundamentais para a consoli- dação institucional de arquivos e bibliotecas”. Esses profissionais são influenciados pelo desenvolvimento tecnológico e científico reinante no século XVIII, concentram sua forma- ção em dois aspectos: “um técnico (catalogação, classificação, paleografia) e outro voltado à aquisição de cultura geral (história, literatura, ciências)”. Assim, no final do século XVII, nasciam na Europa as primeiras associações profissionais de bibliotecários e arquivistas. Neste período há, também, uma valorização das bibliotecas, pois com a democra- tização da informação, as pesquisas científicas crescem vertiginosamente, “[...] a inovação intelectual, mais que a transmissão da tradição, é considerada uma das principais funções das instituições de educação superior e, assim, espera-se que os candidatos aos graus mais elevados façam contribuições ao conhecimento” (BURKE, 2003, p. 105). Aliás, a importân- cia da pesquisa no mundo acadêmico prevalece até os dias atuais e, as bibliotecas, sejam elas físicas, ou virtuais continuam como centros de excelência e suporte ao pesquisador. Pesquisar e produzir conhecimento são as trilhas que conduzem a humanidade para a contemporaneidade e qual o papel das bibliotecas e da biblioteconomia neste contexto? 50UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 50UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia 3. BIBLIOTECONOMIA CONTEMPORÂNEA Prezado(a) acadêmico(a) Chegamos a contemporaneidade, período que compreende de 1789 até aos dias atuais. E como será que a biblioteconomia se comporta neste período? A produção bibliográfica e a pesquisa científica crescente a partir dofinal do século XIX, bem como, o surgimento de diversos suportes, além, do livro impresso, sentiu-se a necessidade de se desenvolver novas técnicas para organizar e administrar a informação, pois a Bibliografia não atendia mais às necessidades biblioteconômicas da época. No século XIX, as bibliotecas públicas proliferaram rapidamente e as ideias demo- cráticas e o choque das ideologias políticas em meados deste século não podiam deixar de se refletir nas bibliotecas. Nessa época, “o burguês rico, imbuído de filantropia, com dó dos pobres, não podia deixar de se condoer com a falta de ‘pão espiritual’ em que vivia o trabalhador”. Este e outros chavões passaram a constituir uma espécie de propaganda, cujo slogan em voga era: “Abrir uma biblioteca é como fechar uma prisão.” (MORAES, 1983, p. 16) Foi o tempo das chamadas “bibliotecas populares”. Todo mundo parecia convencido da necessidade de ilustrar o operário, evitando, ao mesmo tempo, que ele se corrompesse com leituras perigosas. Dentro desse espírito abriram-se bibliotecas públicas por toda parte da Europa. Bibliotecas “cheias de livros de vulgarização científica, romances históricos, clássicos dos que são tidos como boa leitura, manuais de instrução técnica e profissional”. Bibliotecas, em suma, “munidas de obras escolhidas, ‘ao alcance do povo’, que a nata intelectual julgava destinadas a instruir ou divertir os operários” (MORAES, 1983, p. 16). 51UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 51UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia Entretanto, o surgimento das bibliotecas públicas gratuitas “contribuíram para re- forçar os temores da massificação da cultura”, e a burguesia se perguntava “se os padrões de leitura, ao se alastrarem entre os assalariados, diminuiriam o seu gosto pelo trabalho” (LOWENTHAL; FISKE, 1957 apud COHN, 1973, p. 61). Na fase inicial da divulgação dos hábitos de leitura, ficou bem marcada a afinidade entre a preocupação com a presença da “massa” e com a “massificação cultural” por um lado, e a expressão de interesses de classe, bastante primários, por outro. A preocupação com os efeitos da expansão dos meios impressos tinha se detido mais nos interesses sociais em jogo do que propriamente na área cultural. No caso das obras de ficção, eram evidentes as questões sociais, porém, no caso da imprensa periódica, surgiram questões políticas, que envolviam interesses e aspirações de classes, mais sujeitas ao controle governamental (SPERRY, 1991, p. 221). As conclusões ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa emigram para a In- glaterra e para os Estados Unidos da América. Entretanto, “na América, onde jamais existiu uma aristocracia verdadeiramente tradicional, como na Europa, encarou-se o problema de forma muito diversa” (MORAES, 1983, p. 16) Paralelamente ao movimento europeu das bibliotecas populares, desenvol- veu-se nos Estados Unidos um movimento bibliotecário, não encabeçado por uma elite humanitária, mas organizado espontaneamente pelo povo. A sua criação não partiu de uma aristocracia querendo socorrer o proletariado igno- rante, mas do próprio povo, que sentia necessidade de instruir-se, de adquirir uma cultura por meio da qual poderia subir socialmente. As bibliotecas ameri- canas surgiram, como as escolas, não doadas por uma elite ou por um gover- no benevolente, mas criadas pelo próprio povo, ávido de leitura, persuadido de que estava adquirindo um instrumento indispensável para a luta pela vida (MORAES, 1983, p. 16). As bibliotecas americanas nasciam, pois, sem o erro básico das europeias: a se- paração de bibliotecas para o povo e bibliotecas para as elites. Elas não eram, neste caso, doadas por uma classe, como uma esmola, a outra classe menos favorecida. Para Moraes, (1983, p. 16), “nunca houve nos Estados Unidos, a mentalidade bibliotecária humanitária”. Segundo Serrai (1975), por volta de 1850, nos Estados Unidos são promulgadas leis que autorizam o emprego de certa percentagem dos impostos na construção e ma- nutenção das bibliotecas públicas. É o primeiro passo para a realização de uma eficiente rede nacional de bibliotecas destinadas à consulta, à leitura e ao empréstimo para o grande público. A biblioteca toma seu lugar ao lado da escola e como integrante dela, sendo fator de grande relevo não somente na educação, mas também na formação da consciência cívica e comunitária dos jovens e dos adultos. 52UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 52UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia Do século XIX em diante, as bibliotecas adquirem sua fisionomia atual. E hoje em dia, abrir uma biblioteca não é mais fechar uma prisão. A biblioteca deixou de ser um “hospital de almas” para se tornar simplesmente uma oficina de trabalho, que pode ser utilizada por qualquer cidadão, ou ainda, conforme Serrai (1975, p. 158), “é um fenômeno ecológico, ou seja, representa apenas uma das formas que têm a função de favorecer a comunicação entre os homens”. E chegamos no século XX, devido ao avanço tecnológico, adentramos na Socie- dade da Informação e com ele veio uma explosão documental, jamais, vista na história da humanidade, o que implicou em se criar novas estratégias de organização e recuperação da informação, inclusive se obrigou a revisar o conceito de biblioteca, a qual passou de mero depósito de livros para um espaço “vivo” e circulante da informação (SILVA, 2013). Nesta corrida acelerada de se registrar e disponibilizar ao usuário toda informação relevan- te surgiram novos tipos de bibliotecas, dentre elas: a especializada, a qual foi influenciada pelos impactos pelos avanços da ciência e da tecnologia na sociedade pós-moderna. O papel dos bibliotecários nestas instituições deve ter por objeto oferecer a informa- ção a um público selecionado, haja vista, que ela atende a um usuário especializado em uma determinada área do conhecimento, pois a biblioteca especializada deve proporcionar “[...] qualquer conhecimento ou experiência que possa ser coletada, para avançar os trabalhos desta instituição e fazê-la, assim, atingir os seus objetivos” (FIGUEIREDO, 1979, p. 10). No século XX, outro fato que impulsionou a Biblioteconomia foi a incorporação das novas tecnologias da informação e comunicação (NTICs) aos seus afazeres, ou seja, as que a internet surge como uma aliada aos serviços biblioteconômicos. Santa Anna (2015, p. 1390), corrobora que A internet revolucionou os fazeres profissionais dos bibliotecários devido à sua capacidade de transferir a informação, facilitando seu acesso, rompen- do-se barreiras geográficas e temporais. O surgimento da internet, aliado à explosão bibliográfica, permitiu o renascimento de uma nova era na Bi- blioteconomia. Por meio da internet, os usuários tornam-se mais exigentes, utilizando os mecanismos do espaço digital a fim de conseguir acessar as informações necessitadas, em um espaço cada vez mais curto de tempo e a baixos custos. A partir de então as Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTIC), não só alterou o conceito de informação, como os serviços prestados pelas bibliotecas. Tudo pode ser acessado remotamente. Recuperar a informação é questão minutos, bastam os “clicks”. Vivemos na era das Bibliotecas Virtuais, mas o que são elas? De acordo com Rosetto (2002, p, 13), a biblioteca virtual é 53UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 53UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia aquela que contempla documentos gerados ou transpostos para o ambiente digital (eletrônico), um serviço de informação (em todo tipo de formato), no qual todos os recursos são disponíveis na forma de processamento eletrôni- co (aquisição, armazenagem, preservação, recuperação e acesso através de tecnologias digitais). Santa Anna (2015, p. 140), complementa que Essas modalidades de bibliotecas se caracterizam pela alta capacidade em processar a informação, criando vínculos de acesso ao usuário: trata-se de um processo reversivo, pois, diferentementedas bibliotecas com acervos im- pressos, em que o usuário precisa ir até a informação, as redes eletrônicas vão até o usuário, transferindo informações a toda parte do mundo. Catalogar e classificar já não é uma atividade solitária, pois as bibliotecas conecta- das em redes permitem ao bibliotecário a socialização dos serviços técnicos; “o acondicio- namento de estoques informacionais em formatos latentes, de modo que a informação pode ser armazenada, tratada, gerenciada e disseminada por meio das redes digitais” (SANTA ANNA, 2015, p. 140). Marcondes, Mendonça e Carvalho (2006, p. 174), corroboram que as tecnologias da informação trouxeram mudanças significativas aos serviços bibliotecários, pois possibilitou [...] um ambiente informacional amplo, global, de alcance nunca visto pelos antigos serviços bibliotecários, acostumados a trabalhar num ambiente de- limitado, com uma comunidade de usuários identificável, restrita e até mes- mo, conhecida pessoalmente. No novo ambiente e numa escala mundial, os usuários podem ter acesso a diferentes recursos, independentes de sua localização física. E como a biblioteconomia e bibliotecas se encontram nesse limiar do século XXI? A resposta a este questionamento nos é dado por Santa Anna, Gerlin e Siqueira (2013, p. 1), “como uma onda de transformações nos fazeres profissionais devido às novas estruturas de informação geradas com o avanço tecnológico, fato este que evidencia o início deste século como um período de transição, principalmente com a criação de novos registros de informação”. Nesta mesma esteira de pensamento, Santa Anna (2015, p. 151), complementa que A biblioteca do futuro, seja ela de qualquer modalidade: híbrida, digital e/ou virtual, embora tenda a se aproximar da virtualização, se caracterizará, no decorrer das décadas do século XXI, como um espaço diversificado, ofere- cendo produtos e serviços diferenciados a seus usuários, tendo em vistas as necessidades demandadas. Podemos perceber de que tal como a sociedade está em movimento, a biblio- teconomia não ficou estagnada no tempo e acompanha os avanços demandados pelos usuários, pela explosão documental, pelos artefatos tecnológicos diversificados, ou seja, as bibliotecas estão em constante evolução, pois se em 1985, em discurso no Encontro Nacional de Biblioteconomia e Informática, organizado pela Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal, Maciel proferiu as seguintes palavras 54UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 54UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia É significativa a função social do bibliotecário, que, além de atuar como destacado colaborador do homem da ciência, dos pesquisadores, dos inte- lectuais, dos estudantes, dos artistas, propicia as condições de acesso ao imenso tesouro das mais variadas formas de expressão da inteligência e da sensibilidade humanas (MACIEL, 1985, p. 10) Após transcorrerem trinta e seis anos destas palavras, é mister salientar que o profissional bibliotecário continua a desempenhar a função social do bibliotecário e, inde- pendente, do tipo de biblioteca em que atue: física e/ou virtual sempre tem por objeto a mediação do conhecimento para a razão de ser de suas atividades: o usuário. Assim, as Leis da Biblioteconomia, formuladas pelo indiano Shiyali Ramamrita Ranganathan (2009), continuam atuais neste limiar do século XXI: os livros são para usar; a cada leitor o seu livro; a cada livro o seu leitor; poupe o tempo do leitor e a biblioteca é um organismo em crescimento e de que as bibliotecas e a biblioteconomia, sofrem as influências da cultura e da política, bem como, refletem os padrões vigentes pela sociedade em cada período histórico vivenciado pela humanidade. 55UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 55UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade fizemos uma imersão pela Biblioteconomia desde a sua gênese e pudemos perceber que desde os primórdios da civilização, sempre houve a necessidade de se organizar os registros do conhecimento adquiridos pelo homem a fim de preservar a sua memória. Neste ínterim, surgem as bibliotecas como guardiãs do saber acumulado pela humanidade e, desde os tabletes de argila, dos rolos de papiro e pergaminho, dos livros impressos até os e-books, esta instituição teve por finalidade organizar, preservar e disseminar a informação, sempre tendo em vista o usuário a que serve. Pudemos, ainda, conhecer ainda as práticas biblioteconômicas e a evolução das bibliotecas, desde a Antiguidade, perpassamos pela Idade Média, chegamos à Idade Mo- derna e, neste período, cruzamos a Renascença e a invenção da imprensa e chegamos a contemporaneidade e aqui encontramos a Sociedade de Informação, em que há o domínio da internet em todos os segmentos da sociedade e que as bibliotecas não ficaram alheias às mudanças causadas explosão documental e pelas tecnologias da informação e comunicação. Esperamos que você tenha gostado desta nossa caminhada!!!! 56UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 56UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia LEITURA COMPLEMENTAR HISTÓRIA DA BIBLIOTECONOMIA Ao contrário do que muitos pensam a Biblioteconomia não é um curso novo e nem mesmo a profissão de bibliotecário é recente. Alguns autores da área dizem que a biblio- teconomia começou logo com o surgimento das bibliotecas. Entretanto vamos considerar aqui que a biblioteconomia surgiu com as primeiras evidências de organização de docu- mentos segundo seus conteúdos. No quadro abaixo é apresentado alguns exemplos de como funcionavam algumas bibliotecas no decorrer do tempo. Até a criação da imprensa, onde até então os “funcionários” das bibliotecas estavam preocupados realizar um trabalho de cópia de documentos que já existiam na biblioteca juntamente com a organização de coleções bibliográficas e administração de bibliotecas, sem, necessariamente, a preocupação de explorar seus conteúdos nem, tão pouco, agilizar o processo de comunicação da informação. Com a criação da imprensa os “funcionários” se vêm voltados a mudar essa função de serem copiadores. 57UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 57UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia Para facilitar o acesso a informação Melvil Dewey – no século XIX - cria o sistema de Classificação Decimal de Dewey tendo como objetivo organizar os acervos das biblio- tecas,assim facilitando a busca de informação. O termo “biblioteconomia” foi usado pela primeira vez em 1839 na obra intitulada “Bibliothéconomie: instructions sur l’arrangement, la conservation e l’administration des bibliothèques”, publicada pelo livreiro e bibliógrafo Léopold-Auguste-Constantin Hesse. Biblioteconomia - segundo FONSECA (1979), Biblioteconomia é o “conhecimento e prática da organização de documentos em bibliotecas”. Por organização entendem-se as atividades desenvolvidas na condução dos serviços prestados, os quais podem ser di- vididos em duas categorias: serviços-meio (processos técnicos) e serviços-fim (processos informativos). Ainda de acordo com o autor, o objetivo da biblioteconomia é a utilização das bibliotecas pelo maior número de interessados; sua finalidade é levar o conhecimento a todos os segmentos da sociedade; sua importância resulta da explosão bibliográfica; seu objeto são os documentos textuais dos quais existem exemplares múltiplos (difere, neste ponto, da arquivologia e da museologia, cujos objetos são exemplares únicos). Fonseca considera que são atribuições exclusivas da biblioteconomia: a democra- tização da cultura (o saber é para todos), através das bibliotecas públicas; a preservação e difusão do patrimônio bibliográfico da nação através da biblioteca nacional; o apoio docu- mental ao ensino e à pesquisa através das bibliotecas escolares e universitárias; o apoio à tomada de decisão, solução de problemas da sociedade, etc., através das bibliotecas especializadas. Fonte: Estetexto foi extraído de: HISTÓRIA da Biblioteconomia. [s.n.t.]. Disponível em: https://sites. google.com/site/histobiblio/historia-geral. Acesso em: 20 ago. 2021. https://sites.google.com/site/histobiblio/historia-geral https://sites.google.com/site/histobiblio/historia-geral https://sites.google.com/site/histobiblio/historia-geral 58UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 58UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Introdução à biblioteconomia Autor: Edson Nery da Fonseca. Editora: Briquet de Lemos. Sinopse: Este livro faz uma introdução à história da escrita sob uma visão atualizada. São foco de atenção às origens, funções e mudanças cronológicas dos mais importantes sistemas de escrita do mundo, atuais e extintos. As dinâmicas sociais das escritas são assim abordadas em todo o seu fascínio. FILME / VÍDEO Título: Agora Ano: 2009. Sinopse: Agora é um filme espanhol dirigido por Alejandro Ame- nábar, lançado na Espanha, em 9 de outubro de 2009. O filme é estrelado por Rachel Weisz e Max Minghella e relata a história da filósofa Hipátia, que viveu em Alexandria, no Egito, entre os anos 355 e 415, época da dominação romana. O filme relata a história de Hipátia, filósofa e professora em Alexandria, no Egito entre os anos 355 e 415 d.C. Única personagem feminina do filme, Hipátia ensina filosofia, matemática e astronomia na Escola de Alexandria, junto à Biblioteca. Resultante de uma cultura iniciada com Alexan- dre Magno, passando depois pela dominação romana, Alexandria é agitada por ideais religiosos diversos: o cristianismo, convive de forma tensa com o judaísmo e a cultura greco-romana. VÍDEO Título: 05 bibliotecas lendárias e misteriosas do mundo antigo! Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zw26Bedvg9k https://pt.wikipedia.org/wiki/Espanha https://pt.wikipedia.org/wiki/Alejandro_Amen%C3%A1bar https://pt.wikipedia.org/wiki/Alejandro_Amen%C3%A1bar https://pt.wikipedia.org/wiki/Espanha https://pt.wikipedia.org/wiki/9_de_outubro https://pt.wikipedia.org/wiki/Rachel_Weisz https://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Minghella https://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%A1tia https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria https://pt.wikipedia.org/wiki/Egito https://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3sofa https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria https://pt.wikipedia.org/wiki/Egito https://pt.wikipedia.org/wiki/Matem%C3%A1tica https://pt.wikipedia.org/wiki/Astronomia https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Alexandria https://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_de_Alexandria https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Magno https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Magno https://pt.wikipedia.org/wiki/Cristianismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Juda%C3%ADsmo https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_greco-romana 59 Plano de Estudo: ● Conceitos e Definições de documento; ● Origem e natureza da documentação; ● Finalidade da documentação; ● Teoria semiótica no campo da documentação. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a documentação, compreendendo sua origem e natureza; ● Compreender a importância e a finalidade da documentação; ● Identificar as contribuições da teoria semiótica para o campo da Documentação. UNIDADE III Documentação Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco 60UNIDADE III Documentação INTRODUÇÃO Prezado(a) Acadêmico(a) Nesta terceira unidade conheceremos a definição de documento e o quanto o seu conceito se ampliou ao longo do desenvolvimento social, científico e tecnológico da huma- nidade. Observaremos os principais aspectos relativos ao contexto da origem e natureza da Documentação, bem como sua finalidade em meio a crescente massa de documentos técnicos e científicos produzidos e a necessidade de sua organização, com vistas a torná-la acessível a todos os interessados. Identificaremos ainda as contribuições das teorias semióticas aos processos de significação, dimensionamento e tratamento da informação, com vistas ao desenvolvimento de consistentes e condizentes interpretações das constituições textuais (verbais e não ver- bais) para que o usuário possa compreender e construir sua própria interpretação. Veja! Já estamos na penúltima unidade da nossa disciplina, desejamos que tenha ótimos estudos e significativos aprendizados! Vamos lá concluir mais uma etapa! Bons estudos! 61UNIDADE III Documentação 1. DOCUMENTO: DEFINIÇÕES E CONCEITOS Caro(a) Acadêmico(a)! Iniciamos nosso percurso pelo conteúdo previsto nesta unidade identificando as diferentes definições e concepções atribuídas ao termo documento. Para isso, partimos da compreensão de que embora a gênese do termo esteja associada a registro escrito ou ilustrado que possa ser transmitido em formatos diversos, a partir do século XX surgem novas concepções, expandindo o conceito de documento para itens diversos, além dos textuais e imagéticos. Essa expansão inicia-se com um importante pensador e estudioso da área da documentação, Paul Otlet (1868-1944), que traz valiosas contribuições ao estudo da área ao considerar que os documentos consistem não apenas em palavras escritas ou impressas, mas, também, objetos, figuras e ilustrações, partituras musicais, entre outros elementos que tenham valor probatório e que ‘documentem’ algo (RAYWARD, 2018). Na biblioteconomia duas correntes se sobressaem na concepção de documento a partir do século XX: a corrente pragmática e a corrente funcionalista. A corrente prag- mática, desenvolvida especialmente por Jesse Shera (1972) nos Estados Unidos destaca o caráter intencional do documento e o limita aos registros gráficos, sobretudo, textuais e audiovisuais (SMIT, 2008). 62UNIDADE III Documentação Já a corrente funcionalista estabelecida Paul Otlet e Suzanne Briet, consideram o documento como um objeto concreto, pelo qual a “informação, [e] o conteúdo, ganham forma no plano comunicacional e [sejam] simultaneamente o suporte que possibilita a sua circulação” (COUZINET, 2009, p. 13). E, ainda, que possibilite a “guarda e preservação, por representar alguma ação humana ou algum detalhe da natureza”.(SMIT, 2008, p. 12). Assim, Otlet e Briet “trabalharam a noção de documento a partir de novas possibilidades, o que abriu precedentes para pensá-lo como informação fixada em diferentes tipos de suporte e a partir do seu papel social”. (MURGUIA, 2011, p. 45). Nessa perspectiva, Otlet ao adotar a expressão “unidade documentária” amplia a concepção de documento, empregando-o como termo genérico, que denota coisas infor- mativas, armazenáveis e recuperáveis, incluindo tanto objetos naturais e artefatos, que denotam atividades humanas, quanto modelos construídos para representar ideias, como trabalhos de arte e textos. O documento assume, então, uma função informativa e passa a ter suportes diversos, além do papel. (BUCKLAND, 1991). As definições trazidas pela União Francesa dos Organismos de documentação con- cebem o documento como: “toda base de conhecimento fixada materialmente e suscetível de ser utilizada para consulta, estudo ou prova” (BRIET, (2016, p. 1). Assim, o documento é a evidência (prova) de um fato, que pode ser compreendido, conforme aponta Briet (2016, p.1), todo indício concreto ou simbólico, conservado ou registrado com os fins de representar, reconstruir ou provar um fenômeno físico ou intelectual. “[Então...] são documentos as fotografias e os catálogos de estrelas, as pedras em um museu de mineralogia, os animais catalogados e expostos em um Zôo. A autora destaca ainda, que em tempos de múltiplas e aceleradas formas de co- municação, o menor acontecimento científico ou político, quando levado ao conhecimento público, pode assumir características de documento, neste sentido não se restringe a texto, mas ao acesso à evidência. Buckland (1997) atribui ao documento quatro características: materialidade: apenas objetos e sinais físicos; intencionalidade: pretende-se que o objetoseja tratado como evi- dência; os objetos devem ser processados: eles devem ser transformados em documentos; e a atitude fenomenológica: o objeto deve ser percebido como documento. Meyriat (2016, p. 241) compreende documento como “um objeto que dá suporte à informação, serve para comunicar e é durável”. Nesse conceito duas noções são in- separáveis: natureza material - o objeto que serve de suporte conceitual - o conteúdo da comunicação, a informação. Ultrapassando a ideia de que necessitaria ser um registro escrito, nesse aspecto o autor supracitado lembra que os documentos escritos são apenas um caso privilegiado, pois a escrita é o meio mais utilizado para comunicar uma mensagem, reconhecendo que inúmeros outros objetos podem se tornar documentos. 63UNIDADE III Documentação Na concepção Meyriat (2016) a vontade do emissor não é suficiente para que um objeto se constitua em documento. Para ilustrar essa afirmação, o autor cita o seguinte exemplo: Um jornal diário é feito para suportar e transmitir informações; mas se o com- prador o usar para embrulhar os legumes, por exemplo, o jornal se transfor- ma numa embalagem rudimentar e não é mais um suporte de informação. Ele pode transformar-se novamente se o destinatário do pacote colocar os olhos sobre o conteúdo e tomar conhecimento de algumas notícias (MEYRIAT, 2016, p. 242). Para o autor a vontade de obter uma informação torna-se um elemento necessário para que um objeto seja considerado documento, pois é no momento em que se busca a in- formação em um objeto, cuja função original é prática ou estética, que se faz um documento. Menezes (1998), complementando a ideia de que documentos devem ser com- preendidos a partir de sua relação com terceiros, destaca que categorias específicas de objetos são documentos desde sua origem, ao serem projetados para registrar a informa- ção, no entanto, qualquer objeto pode funcionar como documento. Acrescenta, ainda, que o documento de nascença pode fornecer informações jamais previstas em sua programação. Usando como exemplo uma caneta, o autor comenta: Se ao invés de se usar uma caneta para escrever, lhe são colocadas ques- tões sobre o que seus atributos, informam a respeito de sua matéria prima, respectivo processamento, à tecnologia e condições sociais de fabricação, forma, função, significação, etc.- este objeto utilitário está sendo empregado como documento (MENESES, 1998, p. 95). Buscando esclarecer o que seria ou não documento, Briet (2016) enumera seis objetos, destacando em quais situações seriam documentos. QUADRO 1 - EXEMPLOS DE DOCUMENTOS E NÃO DOCUMENTOS Objetos Documentos Estrela no céu Não Foto de estrela Sim Uma pedra no rio Não Uma pedra no museu Sim Um animal selvagem Não O animal no zoológico Sim Fonte: elaborado pelas autoras a partir de Briet (2016) Nesse aspecto, o que faz de um objeto documento não é a carga de informação a ele atribuída e pronta para ser extraída, mas, sim a sua relação com um terceiro, externo a seu horizonte original. Assim, para um objeto ser considerado como um documento é essencial que haja “a vontade de se obter uma informação”, ainda que a intenção de seu criador tenha sido outra. Nesta concepção o documento torna-se o produto da vontade de informar ou a de se informar (LOUREIRO; LOUREIRO, 2013, p. 4). 64UNIDADE III Documentação SAIBA MAIS Paul Marie Ghislain Otlet (1868 - 1944) nasceu em 23 de agosto de 1868, em Bruxelas, na Bélgica, foi autor, empresário, visionário, advogado e ativista da paz. É um dos “pais” da ciência da informação, uma área que ele inicialmente chamava de “documentação”. Otlet criou a Classificação Decimal Universal, um dos exemplos mais proeminentes de documentação facetada. Foi responsável pelo desenvolvimento de uma ferramenta de recuperação de informação inicial, o “Répertoire Bibliographique Universel” (RBU), que utilizava cartões de índice de 3x5 polegadas, usado comumente em catálogos de biblio- tecas em todo o mundo (agora em grande parte substituído pelo advento do catálogo de acesso público online (OPAC). Otlet escreveu inúmeros ensaios sobre como coletar e organizar o conhecimento do mundo, culminando em dois livros, o Traité de Documen- tation (1934) le Monde: Essa d’universalisme (1935), frequentemente citados na área. Fonte: Sintetizado de Otlet [20??]: https://stringfixer.com/pt/Paul_Otlet. Acesso em: 20 set. 2021. https://stringfixer.com/pt/Index_card https://stringfixer.com/pt/OPAC https://stringfixer.com/pt/OPAC https://stringfixer.com/pt/Trait%C3%A9_de_Documentation https://stringfixer.com/pt/Trait%C3%A9_de_Documentation https://stringfixer.com/pt/Paul_Otlet 65UNIDADE III Documentação 2. ORIGEM E NATUREZA DA DOCUMENTAÇÃO Caro(a) Acadêmico(a)! Para compreendermos a respeito da origem e natureza da documentação é preciso ter em mente que este termo foi adotado inicialmente em 1903 por Paul Otlet, em um artigo intitulado ̀ Les Sciences bibliographiques et la documentation’, contemplando “[...] o proces- so de fornecimento de documentos ou referências dos mesmos àqueles que precisam de informação que eles contêm”. Otlet destaca que a documentação se refere a um corpo de conhecimento denominado ciências bibliográficas, composto pela produção, fabricação de material, distribuição, registro estatística, conservação e utilização, incluindo compilação, impressão, publicação, venda, bibliografia e biblioteconomia (ORTEGA, 2009, p. 4). A documentação caracteriza-se então, como um campo do conhecimento que busca sistematizar elementos e fundamentar a prática de tratamento de documentos e informação com vistas a sua recuperação. Pressupõe a atividade profissional de coleta, gerenciamento, tratamento e difusão de informações em diferentes suportes de informação. Surge num cenário em que a principal forma de registro do conhecimento é a imprensa periódica, cuja publicação se dava de forma irregular, o que dificultava a obtenção de uma visão clara e concisa das produções de uma determinada área do conhecimento, tendo em vista o volume e a dispersão desta produção. A documentação 66UNIDADE III Documentação foi assim a solução encontrada para resolver o problema da desordem que acometia a produção de documentos. Importante considerar que a documentação se desenvolve em um contexto particular de crescente valorização da informação como insumo de alto valor econômico, político, social e cultural e do conhecimento como status social, atrelado a alterações no modo de produção, aumento no volume de informações e de proliferação de periódicos voltados à circulação de informação científica e tecnológica, gerando um caos documentário (BRADFORD, 1961). Origina-se então, da necessidade de se ordenar os processos de adquirir, preser- var, resumir, organizar e proporcionar acesso a documentos de diferentes espécies. Surge da constatação de uma lacuna existente entre o preparo de um registro de atividade e seu acesso por parte daquele que pode usá-lo como base para uma nova realização. Sua aplicabilidade se dá na resolução dos problemas de organização da informação especia- lizada, publicados em suportes diversos, periódicos, relatórios, patentes entre outros, ou seja, suportes diferentes do livro. Trata-se de um movimento de cientistas, pesquisadores, bibliotecários e bibliógrafos, do final do séc. XIX que buscava alternativas para organizar a crescente massa documental produzida no período, conforme defende Bradford (1961). O desenvolvimento da prática da documentação está relacionado à publicação de periódicos de resumos da literatura científica corrente, por meio do qual os pesquisadores poderiam identificar as produções já realizadas acerca do seu objeto de estudo. Os perió- dicos de “resumos” foram a primeira iniciativa prática de colocar a informação registrada ao alcance dos pesquisadores. Construíram-se, portanto, no início da arte de tornar acessível a grande massa de informaçõesregistradas. (BRADFORD, 1961). Sua natureza está vinculada à arte de coletar, classificar e tornar acessíveis os re- gistros das atividades intelectuais. Desenvolve-se no intuito de se constituir em uma “chave mestra” capaz de colocar em ordem o caos documentário que emergiu no final do séc. XIX e dessa forma contribuir para o progresso da sociedade, pois este depende do acesso à informação registrada. Foi amplamente adotada na Europa, para denotar um conjunto de técnicas necessárias para o manuseio/organização/controle da explosão documentária. Pode ser definida como: O processo pelo qual o documentalista pode colocar ante o especialista cria- dor a literatura existente sobre o campo de sua investigação, a fim de que ele possa tomar pleno contato com as realizações anteriores em seu terreno, e dessa forma, evitar a dispersão de seu esforço na realização de uma tarefa já executada (BRADFORD, 1961, p. 68). 67UNIDADE III Documentação Nesta perspectiva de Juvêncio (2018, p. 35) a documentação abrange não apenas textos manuscritos e impressos, mas tudo que possa ser empregado como meio da promoção intelectual e de transmissão das aquisições do homem no domínio da inteligência. “É a reunião e a coordenação de todos os documentos, conjunto que representará a experiência universal”. Observa-se, portanto, que a classificação é a base fundamental do processo de documentação. Contudo, os primeiros processos de classificação eram muito rudimentares e sua evolução se deu de forma lenta. A primeira iniciativa de classificação destinada ao uso dos livros e, não apenas, à sua venda é a publicada por Conrad Gessner, em 1948, na forma de índice de assuntos da sua Bibliotheca Universalis, com o título: Pandectarum sive partitionun universalium libri XXI. Isso significa dizer que até meados de 1840 nenhuma biblioteca possuía instrumentos adequados para verificar ou levantar no seu acervo, infor- mações sobre um determinado assunto. Somente em 1873, com Melvil Dewey é que surge a ideia de classificação normatizada, dotada de notação decimal e de índice alfabético dos símbolos, para ordenação dos livros nas bibliotecas. A partir de então, os bibliotecários passaram a, além de coletar os registros impressos do esforço e do pensamento humano, a tornar acessível a informação sobre um assunto particular (BRADFORD, 1961). A partir de 1920 a documentação se consolida como termo geral englobando a bibliografia e serviços de informação especializada, contudo, vários fatos anteriores foram significativos para sua constituição e fortalecimento. O quadro abaixo sintetiza os principais eventos que marcaram o movimento da Documentação. 68UNIDADE III Documentação QUADRO 3 – SÍNTESE HISTÓRICA DOS EVENTOS DA DOCUMENTAÇÃO Ano Evento Catálogo das bibliotecas – bibliografia 1548 Conrad Gessner: Índice de assuntos (Bibliotheca Universalis) 1841 Princípios gerais para elaboração de catálogos de assuntos, por Panizzi (Catalogue of Printed Books in the library of the British Museum) 1859 Destaque aos catálogos por assuntos, por Edward Edward (Handbook of Library Economy) 1873 CDD e Relative Index por Melvil Dewey, introduzida na Inglaterra e 1893 (adotada pela Biblioteca Pública de Ashton-under-lyne) 1903 Publicação de artigo Les Sciences bibliographiques et la documentation, abordando o fornecimento de documentos ou referências destes àqueles que precisam da informação neles contida. 1985 Conferência Internacional de bibliografia – IIB e Repertório Bibliográfico universal Criação por Paul Otlet e La Fontaine do Serviço “Répertoire Bibliographique Universel” (RBU) ou “Universal Bibliographic Repertory”. Documento que 1895 possuía 400.000 entradas, chegando posteriormente em 15 milhões. A RBU buscava disponibilizar uma síntese (fichamento) dos assuntos promovendo uma rede conceitual que possibilitasse o acesso à informação. Primeiramente utilizou-se da CDD como instrumento de classi- ficação, posteriormente Paul Otlet e La Fontaine desenvolveram o próprio sistema de classificação, denominado Classificação Decimal Universal - CDU em 1905, como fer- ramenta do processo organizacional, gerencial, de classificação e acesso à informação. 1895 Fundação do Instituto Internacional de Bibliografia - IIB 1931 Instituto Internacional de Documentação – IID 1934 Publicação do tratado da documentação – representando a amplitude e complexidade em que se insere o objeto da documentação: o livro, o documento, a informação registrada. 1937 Federação Internacional de Documentação - FID O Congresso Mundial de Documentação Universal, realizado em Paris marca a maturidade da documentação em diversos aspectos como: padronização e sistemas de classificação, normalização da catalogação e da bibliografia, produção de instrumentos com as fontes do trabalho intelectual (anuários, repertórios, guias bibliográficos etc.), elaboração de terminologia da documentação, adoção de novos suportes (microfilmes) e reconhecimento de diversos tipos de informação especializada (Cartográfica, meteorológica e administrativa) 1988 Federação Internacional de Informação e Documentação - FID 2002 Dissolução da FID. Fonte: adaptado de Bradford (1961) e Pieruccini (2020). A ideia da Documentação se disseminou por diversos países, além Bélgica, onde teve origem: ● França - destacou-se como normalização e documentação (1895 – 1937, com destaque para Suzanne Briet; ● Espanha - adotado para designar pesquisa, o ensino e a prática profissional – Ciencia de la documentacion. 69UNIDADE III Documentação ● Portugal - ciências documentais ● Estados Unidos - Desenvolvimento dos sistemas automáticos de armazena- mento e recuperação da informação. Duas vertentes: a) documentação e biblio- teconomia especializada; b) Documentação Information Retrieval – voltada aos estudos e atividades de armazenamento e recuperação da informação por meio de computadores. ● União Soviética - termo foi considerado polissêmico e substituído por Infor- matika – (informação + automática). Movimento que influenciou especialmente, países socialistas. ● Alemanha - Desenvolveu-se como Documentação e informação. As ideias de Otlet se disseminaram sustentadas, na importância da vida intelectual, “na possibilidade de sua transformação por meio de novos tipos de instrumentos e máquinas para administrar e comunicar conhecimentos e na necessidade de concretizar finalmente uma sociedade mundial nova e pacífica” (RAYWARD, 2018, p. 8). Importante lembrar que embora a Documentação possa ser considerada como um aspecto da Biblioteconomia difere desta, por ter o objetivo de tornar disponível a informação original registrada em artigos de periódicos, folhetos, relatórios, especificações de patentes entre outros materiais, cuja produção é frequente e volumosa, o que exige métodos mais precisos. Enquanto a biblioteconomia ocupa-se de todos os aspectos do tratamento dos livros e da informação. REFLITA Nesta unidade vimos que a documentação surgiu para tratar o grande volume de do- cumentos científicos, de forma a torná-lo acessível. Na atualidade vivemos situação semelhante em relação aos documentos eletrônicos, você acredita que os princípios da documentação ainda possam ser aplicados? Quais áreas ou disciplinas têm surgido para para tratar o grande volume de dados e documentos eletrônicos? Fonte: as autoras. 70UNIDADE III Documentação 3. FINALIDADE DA DOCUMENTAÇÃO Caro(a) Acadêmico(a)! Como vimos no tópico anterior, a documentação surge no intuito de promover a sis- tematização e o controle das publicações científicas, com vistas a sua recuperação. Desse modo, a documentação está relacionada ao ato de “Documentar [...] reunir, classificar e distribuir documentos de todos os gêneros em todos os domínios da atividade humana” (BRADFORD, 1961, p. 68, grifo nosso). Desenvolveu-se quando a técnica da biblioteconomia ainda estava em processo de evolução, buscando encontrar umaforma de organizar e repre- sentar a crescente massa de estudos individuais, divulgados nos periódicos de associações especializadas e outras publicações que se constituem em base para pesquisas posteriores. A primeira iniciativa de catálogo exaustivo de toda a literatura científica periódica trata-se da British Association, formulada por Joseph Henry, em 1855, em Washington, que evoluiu para o Catalogue of Scientific Papers, publicado pela Royal Society a partir de 1867. Importante destacar que esses catálogos de artigos seguiam a disposição alfa- bética por autores. Surgem em um contexto em que a produção científica aumentará de tal forma que se tornará impossível para um pesquisador levantar e ler toda literatura de sua área de atuação, necessitando-se assim de um novo tipo de publicação que pu- desse reunir e sumarizar essas publicações, permitindo a identificação das produções e uma visão do conjunto de publicações sobre um dado tema. O primeiro periódico desse tipo é Pharmaceutiques Zentralblatt e posteriormente Chemisches Zentralblatt, a partir de 1930 (BRADFORD, 1961). 71UNIDADE III Documentação Após esse periódico, surgem vários outros cobrindo várias áreas do conhecimento, fornecendo o resumo das publicações correntes, anotações curtas ou apenas referência. Dispondo de índices alfabéticos anuais de assunto, que podiam ser fundidos em índices quinquenais e decenais. Possibilitando verificar os trabalhos realizados num determinado setor nos últimos anos. A documentação corresponde a um corrente “teórico-prática composta por princípios e técnicas que promovam o foco na representação do conteúdo dos diversos documentos vi- sando a ações de promoção do uso da informação”. (ORTEGA, 2009, p. 60). A documentação buscava oferecer índices de assuntos que permitissem o acesso às informações específicas. Isso porque se acreditava que “[...] o acesso ao conhecimento por todos os povos levaria a uma maior compreensão da concepção da alteridade, no sentido do conhecimento das diferenças, o que possibilitaria a paz mundial” (ORTEGA, 2009, p. 62). Surge com a finalidade de coletar, processar, buscar e disseminar documentos, a partir da constatação da necessidade de tornar acessível a crescente quantidade de informação publicada, a partir da constituição de “[...] um todo homogêneo com essas massas ignorantes, são necessários processos novos, muito diferentes daqueles da antiga biblioteconomia, do modo como têm sido aplicados” (OTLET, 2018, p.5). A documentação buscava então reunir o conhecimento produzido e colocá-lo à disposição de um público cada vez maior por meio de instrumentos que permitem o acesso aos documentos armazenados. Nessa perspectiva os catálogos correntes, retrospectivos e coletivos constituíram-se em instrumentais documentários obrigatórios e em “[...] inter- mediários práticos entre os documentos gráficos e seus usuários. Esses catálogos de documentos são, eles próprios, documentos de segundo grau” (BRIET, 2016, p. 3). A partir da necessidade da organização rigorosa do trabalho documentário, surgem os centros e os serviços de documentação, que são as formas mais dinâmicas dos órgãos de documentação, em diversos países como (França, 1935, 1942; Grã-Bretanha, 1928; Países Baixos, 1937; Bélgica, 1947; Suíça, 1946), dando origem a uma nova profissão, a de documentalista, responsável pelo trabalho de documentação. Esse profissional deveria ter o domínio das técnicas, dos métodos e das ferramentas atinentes às práticas documen- tárias (BRIET, 2016). Otlet (2018, p. 5) defende que os objetivos ou finalidades “[...] da documentação organizada consistem em poder oferecer sobre qualquer espécie de fato e de conhecimento informações documentadas” atribuindo oito características para as informações produzidas e reunidas pela documentação: 1) universais quanto ao seu objeto; 2) corretas e verdadeiras; 3) completas; 4) rápidas; 5) atualizadas; 6) fáceis de obter; 7) reunidas antecipadamente e preparadas para serem comunicadas; 8) colocadas à disposição do maior número possível. 72UNIDADE III Documentação Para isso, de acordo com Otlet (2008, p. 6) a documentação é formada por sete partes que se mesclam e se combinam: a) Os documentos propriamente ditos, compreendidos como um conjunto de fatos ou ideias apresentados em formato de texto ou imagem e ordenados se- gundo uma classificação ou um plano determinado pelo objeto ou o propósito a que se propõem seus redatores; b) A biblioteca, englobando a coleção dos próprios documentos, cada um conser- vado em sua integridade individual; c) A bibliografia: é a descrição e classificação dos documentos, distinguindo-se entre a bibliografia de referências e a bibliografia analítica; d) Arquivo documentário: o arquivo, com suas pastas, incluindo as peças origi- nais e documentos menores na íntegra ou em partes; e) O arquivo administrativo: compreende todos os ofícios, cartas, relatórios, estatísticas e contas relativos a uma instituição; f) O arquivo histórico: composto por documentos antigos, comumente manus- critos e originais, relativos à administração de tempos passados e que com- preendem principalmente os documentos oficiais dos organismos públicos e os documentos privados de famílias e de estabelecimentos comerciais; g) Outros documentos, exceto bibliográficos e gráficos: a música, as inscrições lapidares, os processos relativamente recentes pelos quais se grava e se trans- mite a imagem da realidade em movimento e o pensamento falado. h) As coleções museográficas: amostras, espécimes, modelos, peças diversas, tudo que é útil para a documentação, mas que se apresenta como objetos tri- dimensionais. É a documentação objetiva, tratada como a da biblioteca e dos arquivos quanto à coleção, ao catálogo e à ordenação. i) A enciclopédia: compreende o trabalho de codificação e coordenação dos pró- prios dados. É resultado de extratos e transcrições de acordo com um plano de sistematização único. Para tratar diferentes tipos de documentos, Paul Otlet e Henri La Fontaine definiram a partir do Instituto Internacional de Bibliografia (IIB) e do Repertório Bibliográfico Universal (RBU) uma série de normas para registros bibliográficos, catalográficos internacionais, formatos de documentos, especialmente a ficha de 7,5 cm por 12 cm, além de mobiliários específicos. A Classificação Decimal de Dewey (CDD), publicada em 1976, nos Estados Unidos, foi utilizada para a classificação de documentos. A partir de uma revisão na CDD, desenvolveu-se um novo instrumento de classificação documentária, Classificação Decimal Universal, amplamente utilizado na Europa (ORTEGA, 2009). 73UNIDADE III Documentação Nesse aspecto, a documentação se constitui e se consolida como uma série de operações distribuídas entre diferentes pessoas e organismos incluindo: o autor, o copista, o impressor o editor, o livreiro, o bibliotecário, o documen- tador, o bibliógrafo, o crítico, o analista, o compilador, o leitor, pesquisador, o trabalhador intelectual; A documentação acompanha o documento desde o instante em que surge da pena do autor até o momento em que impressiona o cérebro do leitor; Ela é ativa ou passiva, receptiva ou dativa; está em toda parte onde se fale (Universidade), onde se leia (Biblioteca), onde se discuta (Sociedade), onde se colecione (Museu), onde se pesquise (Laboratório), onde se administre (Administração), onde se trabalhe (Oficina) (OUTLET, 1937, p.1). Embora a documentação desenvolva práticas próximas à biblioteconomia, a corrente de estudos estadunidense as distingue, classificando aquela como uma área denominada Information Retrieval ou Information Storage and Retrieval, compreendida como o conjun- to de estudos e atividades de armazenamento e recuperação de informação por meio de computadores, configurando como uma das principais origens da Ciência da Informação, em 1960, nos Estados Unidos. O novo termo Ciência da Informação seriamelhor definido e mais vantajoso que o anterior (Documentação), o qual em geral era utilizado em diferentes acepções, dificultando a compreensão e influenciando negativamente o desenvolvimento da disciplina científica. Importante lembrar que na União soviética, o termo adotado foi Infor- matika (informação + automática) para se referir à disciplina que estuda a estrutura e as propriedades da informação, as leis que regem a atividade científica e informativa, sua teoria, história, metodologia e meios de apresentação, registro, coleta, processamento, analítico sintético, armazenamento, busca e disseminação da informação científica (ORTEGA, 2009). A principal diferença apontada entre as disciplinas biblioteconomia, documentação e posteriormente Ciência da Informação reside no fato de a primeira estar relacionada a serviços de orientação da leitura, voltado à formação política, ideológica e cultural da sociedade, enquanto as últimas têm como foco a informação técnica e científica. Fato é que, ainda que haja colaboração entre estas disciplinas em virtude de seus fundamentos comuns, “[...] a documentação não pode ser entendida sem a exploração da construção da sua relação controversa com a biblioteconomia” (ORTEGA, 2009, p. 75). 74UNIDADE III Documentação REFLITA A partir dos conhecimentos construídos até aqui, da sua experiência de vida, e do con- texto atual repleto de tecnologia que permite grande produção e circulação de documen- tos no meio eletrônico, você acredita que a distinção entre biblioteconomia e documen- tação defendida Ortega (2009) ainda seja pertinente? Fonte: as autoras. 75UNIDADE III Documentação 4. TEORIAS SEMIÓTICAS NO CAMPO DA DOCUMENTAÇÃO Caro(a) Acadêmico(a)! Compreendidas as noções de documento e documentação e suas relações com a Bi- blioteconomia e Ciência da Informação, partimos agora para a verificação das contribuições da Semiótica para o estudo e trabalho no campo da informação e da documentação. Lembrando que estas áreas são compostas por um conjunto de disciplinas basilares que dão sustentação ao seu desenvolvimento teórico prático, por isso são consideradas interdisciplinares. Desse modo, uma das áreas que contribuem significativamente para desenvol- vimento da biblioteconomia, documentação e Ciência da Informação são as teorias da linguagem, em especial a semiótica, “compreendida como ciência dos signos na natureza e na cultura” (ALMEIDA, 2016, p. 2). A semiótica é definida por Santaella (1983, p. 13) como “a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e sentido”. Seu campo de abrangência é vasto, mas não indefinido e seu objetivo é descrever e analisar a forma como os fenômenos se constituem em linguagem. Na visão de Melo, D. e Melo, V. (2015, p. 25) a semiótica é uma disciplina fundamen- tada na fenomenologia, “[...] que investiga os modos como apreendemos os fenômenos que se apresentam à percepção e à nossa mente”. A fenomenologia busca então apresentar as categorias formais e universais dos modos como os signos são apreendidos pela mente. 76UNIDADE III Documentação Moura (2006) qualifica a semiótica como uma filosofia dos signos, ou essência genuína do signo, o seu modo de ser e a sua estrutura básica. Para esta disciplina todo o pensamento se dá em signos. Assim, os gestos, as ideias, as cognições e até o próprio homem são considerados entidades semióticas. Lara (2006, p. 20) destaca que a semiótica contribui para a melhor compreensão da linguagem documentária, destacando que: [...] enquanto modo de organização de um conjunto de signos (um sistema estrutural que constitui uma unidade em si mesma e que apresenta seme- lhanças e diferenças por oposição à linguagem natural e à linguagem arti- ficial), bem como suas características e forma de funcionamento enquanto sistema semiótico. Importante esclarecer que signo, na visão de Peirce corresponde aquilo que, sob certo aspecto “representa algo para alguém, está no lugar de alguma outra coisa sob algum aspecto ou capacidade. A principal característica do signo é que ele é sempre institucional, estabelecido por convenção, o que o diferencia de um sinal” (LARA, 2006, p. 20). Na área da informação e documentação, duas perspectivas teóricas da semiótica se destacam, representadas por Ferdinand Saussure, na França e Charles Sanders Peirce, nos Estados Unidos. Na visão de Saussure, o processo de interpretação deve considerar como ponto de partida o fato social subjacente a todo ato de fala, ou seja, a língua. Nessa perspectiva, a língua é considerada um produto social da faculdade de linguagem, constituindo-se num conjunto de convenções adotadas pelo corpo social que possibilita a comunicação, intera- ção e compreensão entre os indivíduos (LARA, 2006). Enquanto que para Peirce, “o conceito fundamental é o de semiose, ou o processo onde alguma coisa funciona como signo, ou seja, significa, e que compreende o signo, ou representamen, o interpretante e o objeto, ao qual se acrescentou depois o intérprete e o contexto” (DASCAL, 1978 apud LARA, 2006, p. 18). Embora se considere certa con- vergência entre as duas perspectivas, permitindo, observar a organização dos sistemas semiológicos ou semióticos e o funcionamento dos signos nos processos de comunicação e interpretação, elas deram origem a duas correntes distintas de estudos na área: a escola Americana, em decorrência dos estudos de Peirce e a escola Europeia descendentes das pesquisas de Saussure. (LARA, 2006). Na semiótica Peirceana, o signo é uma estrutura complexa, composta por três ele- mentos conectados que perpassam o pensamento: a) o fundamento, propriedade do signo que o habilita a funcionar como tal; b) Objeto, algo que está fora do signo, mas possibilita a sua interpretação, através da mediação; c) Interpretante, signo adicional, resultado do efeito que o signo produz em uma mente interpretativa. (SANTAELLA, 2005). 77UNIDADE III Documentação O signo, a depender da sua relação com o objeto e interpretante pode ser, o a) imediato, interno ao signo, ou seja, é a maneira como um signo em particular indica ou repre- senta o objeto que está fora dele; b) Dinâmico, que determina o signo e ao que se aplica, ou seja, todo o contexto dinâmico que circunda o signo. Da mesma forma, o interpretante pode ser: a) imediato resultante do efeito que o signo produz na mente de seus intérpretes e b) final decorrente do efeito que o signo produzirá na mente (SANTAELLA, 2005). O fundamento, primeiro elemento do signo em sua relação com ele mesmo, comanda a primeira divisão dos signos, a saber: quali-signo (qualidade); sin-signo (existente concreto) legi-signo (leis da natureza em geral). Na relação entre signo e objetos temos: o ícone, que representa o objeto e as qualidades que possui; o índice, fruto da relação sin-signo com o objeto e símbolo que se dá da relação legi-signo objeto. A terceira classificação diz respeito aos interpretantes e suas relações com o objeto, formando o interpretante remático, dicente e o argumento. Considerando as combinações entre esses nove tipos de signos, Peirce chegou a dez classes de signos e das combinatórias entre as dez tríades, resultaram 66 classes de signos. O quadro 4 abaixo sintetiza as possibilidades de classificação dos signos semióticos. QUADRO 4 - CLASSIFICAÇÃO DOS SIGNOS SEMIÓTICOS POR PEIRCE Categorias O signo em relação a si mesmo (significação) O signo em relação ao objeto (objetivação) O signo em relação ao interpretante (interpre- tação) Primeiridade Quali-signo Ícone Rema Secundidade Sin-signo Índice Dicente Terceiridade Legi-signo Simbólico Argumento Fonte: adaptado de Almeida; Silva; Vertuan, 2011, p. 11. Em relação ao processo de percepção do signo, a semiótica de Peirce, se dá em três fases distintas:Primeiridade, Secundidade Terceiridade, conforme o quadro abaixo: QUADRO 5 - FASE DA PERCEPÇÃO DO SIGNO 1 Primeiridade Input Visual - o sentir: percepção primária, o signo é percebido pelos elemen- tos que mais suscitam a emoção, sensação e sentimento, como as cores, as formas e as texturas. 2 Secundidade Insight Representacional - o reagir: percepção secundária, o signo é decom- posto em relações/associações e percebido como mensagem. 3 Terceiridade o pensar: percepção final, onde a leitura é simbólica, num contexto amplo de significações Fonte: Melo, D. e Melo, V. (2015, p. 26). 78UNIDADE III Documentação Em síntese, Peirce, destaca que o conhecimento humano pode ser representado a partir da relação triádica entre: fundamento, objeto, interpretante; em que são estabele- cidos três níveis de relações fundamentais a) significação ou primeiridade – onde o signo se relaciona consigo mesmo; b) objetivação ou secundidade – na relação do signo com o objeto, faz referência ou indicação à algo, c) interpretação ou terceiridade – relacionando signo e interpretante, suscitado interpretações diversas a depender do contexto e da vivên- cia do sujeito interpretante (SILVA, J. e SILVA, A., 2012, p. 3). Na perspectiva de Peirce, “a informação, no âmbito da Documentação e da Ciência da Informação, é um signo construído intencionalmente para funcionar como elemento de comunicação documentária” (LARA, 2006, p. 23). Portanto, a linguagem documentária, analógica, a língua e seu funcionamento, aparece como um “signo que exerce a função de comunicação e significação dos sistemas documentários, representando as estruturas significantes que articulam pelo conjunto de suas relações, um sistema único e autônomo dotado de significado (LARA, 2006). Importante considerar que o que distingue a linguagem natural da linguagem ar- tificial é o fato da primeira corresponder a signos linguísticos de semiose (significação) ilimitada, onde o sentido e o significado da comunicação depende da experiência colateral ou cultural do sujeito interpretante. A segunda, por sua vez, caracteriza-se pela formalidade e ausência de segunda articulação, remetendo a significados unívocos que pressupõem o conhecimento de regras próprias e explícitas do objeto e contexto da comunicação. Nessa perspectiva, a Linguagem documentária tem o propósito de criar condições para que os signos intencionalmente construídos orientem a interpretação segundo os objetivos previamente estabelecidos, evitando assim, a semiose aleatória. A linguagem do- cumentária seria então a ‘língua tradutora’ que vai indicar as possibilidades interpretativas dos seus termos, seja por meio de associações, definições, explicações e exemplificações. Isso significa dizer que a construção dos significados na linguagem documentária se dá sob condições controladas de acordo com os objetivos visados (LARA, 2006). Na biblioteconomia e Documentação a semiótica corrobora nos processos de sig- nificação, constituindo-se num importante elemento do dimensionamento e tratamento do seu objeto de estudo, a informação. Isso porque as atividades na área requerem frequentes processos de interpretação e significação, especialmente as relacionadas à organização e representação do conhecimento, que preveem a interpretação e ressignificação de diferentes visões de mundo, que serão representadas por estruturas conceituais (linguagem documen- tária). O que demanda a utilização de diferentes métodos para interpretar as constituições textuais (verbais e não verbais) de forma que um terceiro elemento (o usuário) possa reco- dificar essa interpretação, por meio de uma interpretação própria (BARROS; CAFÉ, 2012). 79UNIDADE III Documentação Dessa forma, a semiótica contribui significativamente para a formação dos conceitos necessária à construção dos sistemas de organização do conhecimento e, por conseguinte, para processo de comunicação científica, que passa pela significação e representação do significado de um determinado signo, por um interpretante (BARROS; CAFÉ, 2012). 80UNIDADE III Documentação CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade conhecemos os diferentes conceitos atribuídos ao termo documento. Percebemos o quanto essa denominação se ampliou a partir dos estudos de Otlet, podendo ser atribuída a diferentes objetos, a depender do seu contexto e significado. Vimos o quanto a Documentação, enquanto atividade teórico-prática foi importante para o desenvolvimento dos sistemas de classificação, representação e organização da informação e como ela se relaciona com a Biblioteconomia. Constatamos que a origem da Documentação está relacionada à grande quantida- de de documentos técnicos e científicos produzidos e a necessidade de sua organização, de forma a torná-los acessível a quem interessar. Sua finalidade era coletar, processar, buscar e disseminar documentos diversos a partir de técnicas previamente estabelecidas, que pressupunham a publicação de catálogos e bibliografias que pudessem relacionar os documentos produzidos em um determinado campo do saber. Por fim, verificamos que Biblioteconomia e a Documentação se relacionam com a semiótica e que os conhecimentos dessa área são fundamentais para os processos de significação, dimensionamento e tratamento da informação, uma vez que essas atividades requerem frequentes processos de interpretação e significação e representação por es- truturas conceituais (linguagem documentária), demandando consistentes e condizentes interpretações das constituições textuais (verbais e não verbais) para que o usuário possa compreender e construir sua própria interpretação. Para melhor aprofundamento do assunto, recomendamos a consulta aos materiais sugeridos na leitura complementar, em especial os filmes, pois abordam de forma mais detalhada os temas estudados nesta unidade. Esperamos que seu percurso conosco te- nha sido significativo, e que seu aprendizado tenha contribuído para o conhecimento dos fundamentos da área. Agora, partimos para a elaboração das atividades avaliativas e na sequência iniciaremos nossa última unidade. Bons estudos e até breve! 81UNIDADE III Documentação LEITURA COMPLEMENTAR Um visionário belga idealizou a internet no fim do século 19 Por Daniel Junqueira publicado em 26 de maio de 2014 14:09 A internet é algo relativamente recente, tendo sido desenvolvida na segunda me- tade do século 20. Mas décadas antes da sua criação, um visionário belga idealizava algo muito parecido com o que viria a se tornar a internet. Paul Otlet era um visionário que, no fim do século 19, já pensava em maneiras de armazenar informações que poderiam ser acessadas por qualquer pessoa no mundo. Em 1895, Otlet apresentou sua ideia de uma “biblioteca universal” para dar acesso a livros para qualquer pessoa no mundo. Criada em parceria com Henri La Fontaine – um senador belga que anos depois ganhou um Prêmio Nobel da Paz – o projeto da biblioteca universal era bastante ambicioso para a época, com o objetivo de catalogar todas as infor- mações publicadas no mundo. Eles ganharam apoio do governo belga e colocaram o plano em prática – chegaram a armazenar 15 milhões de entradas usando um sistema chamado Classificação Universal Decimal. O projeto chegou a ser lançado comercialmente, e qual- quer pessoa poderia fazer um pedido por alguma informação para recebê-la via telégrafo. Décadas mais tarde, nos anos 1930, Otlet ainda perseguia o sonho de organizar as informações do mundo. Ele idealizou então os “telescópios elétricos” que dariam acesso instantâneo a livros, filmes, gravações de áudio e fotos. Isso envolvia uma rede internacio- nal de conhecimento. Em um livro de 1935, ele ilustrou como seria essa rede: https://gizmodo.uol.com.br/author/djunqueira/ 82UNIDADE III Documentação Infelizmente, esta visão de Otlet não saiu do papel – ao menos não enquanto ele estava vivo. Na década de 1940, a invasão nazista naBélgica acabou com o sonho de Otlet, que morreu em 1944. Mas a humanidade conseguiu criar essa rede idealizada por Otlet, no que viria décadas mais tarde ser chamada de “internet”. Você pode ler mais sobre a fascinante história do visionário belga neste belo artigo do The Atlantic (em inglês). [The Atlantic via Engadget] Fonte: JUNQUEIRA, 2014. http://www.theatlantic.com/technology/archive/2014/05/in-search-of-the-proto-memex/371385/ http://www.theatlantic.com/technology/archive/2014/05/in-search-of-the-proto-memex/371385/ http://www.theatlantic.com/technology/archive/2014/05/in-search-of-the-proto-memex/371385/ http://www.engadget.com/2014/05/23/the-concept-for-the-internet-came-from-a-belgian-in-1895/?ncid=rss_truncated 83UNIDADE III Documentação MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: As Contribuições de Paul Otlet para a Biblioteconomia Autor: Ana Maria Pereira; Márcia Silveira Kroeff; Elisa Cristina Delfini Correa (orgs.) Editora: Ed ACB Sinopse: Este livro Reúne textos que buscam elucidar alguns resultados do trabalho que Paul Otlet promoveu ou propiciou à bi- blioteconomia, destacando que mesmo com as facilidades trazidas pelas tecnologias, ainda buscamos soluções para problemas que também foram vivenciados e abordados por Otlet, no século XIX, entre eles, a quantidade de informação e de dados disponíveis; as dificuldades em identificar um formato de descrição de recursos e de metadados; as limitações das ferramentas de armazenamento, de busca, de recuperação e de disseminação; e a definição de modelos para administrar e interpretar o capital intelectual coletivo. LIVRO Título: Tratado de Documentação Autor: Paul Otlet Editora: Briquet de Lemos Sinopse: Apresenta a teoria e a prática da documentação de Paul Otlet. Traz importantes colaborações para a compreensão dos termos documento e documentação. LIVRO Autor: Suzanne Briet Título: O que é Documentação Editora: Brasiliense Sinopse: Este livro desenvolve os conceitos de Documento e do- cumentação a partir de Paul Otlet. Apresenta vários que auxiliam na compreensão e aplicação dos conceitos na área de biblioteco- nomia e documentação. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5389052/ mod_resource/content/1/O_que_%C3%A9_a_documenta%- C3%A7%C3%A3o_Parapublicar.pdf. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5389052/mod_resource/content/1/O_que_%C3%A9_a_documenta%C3%A7%C3%A3o_Parapublicar.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5389052/mod_resource/content/1/O_que_%C3%A9_a_documenta%C3%A7%C3%A3o_Parapublicar.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5389052/mod_resource/content/1/O_que_%C3%A9_a_documenta%C3%A7%C3%A3o_Parapublicar.pdf 84UNIDADE III Documentação LIVRO Autor: Carlos Cândido de Almeida Título: Semiótica documental: aspectos contextuais, teóricos e interdisciplinares Editora: Cultura Acadêmica Sinopse: O livro pretendeu conhecer as abordagens e as linhas semióticas constantes do campo da Documentação na Espanha. Para tanto, sustentou-se que a orientação semiótica dos estudos espanhóis em Documentação ainda requeriam um tratamento abrangente e sistematizado. Entre os resultados, destacam-se a convergência da maior parte dos teóricos com temas semióticos vinculados à Linguística e a necessidade de refundação de uma Semiótica documental, seguindo as diretrizes de Izquierdo Ar- royo. Entende-se que as abordagens semióticas possuem um potencial para fomentar os estudos da linguagem no campo da organização do conhecimento, contribuindo assim para a reflexão epistemológica da Ciência da Informação no Brasil. LIVRO Autor: Lucia Santaella Título: O que é Semiótica Editora: Brasiliense Sinopse: Este livro é um passeio pela mais jovem das ciências humanas, a Semiótica, tendo como guia seu criador, Charles San- ders Peirce. O trajeto proporcionará uma visão panorâmica dos principais fundamentos, das particularidades e fronteiras desta teoria geral dos signos. Convém lembrar que, apesar de o cami- nho ser difícil, as belezas do lugar são muitas e é bom permanecer com os olhos bem abertos, pois além de escondidas, elas passam muito rapidamente. FILME / VÍDEO Título: O homem que queria classificar o mundo Ano: 2002. Sinopse: Documentário sobre a trajetória do autor, empresário, visionário, advogado e ativista belga Paul Otlet. Trata-se do pai da ciência da informação e da documentação (áreas com as quais ele contribuiu por meio da criação da CDU - Classificação Decimal Universal). No documentário, o diretor percorre o pensamento de Otlet para organizar o mundo do conhecimento e a tentativa de construir uma “Cidade Mundial” (Mundaneum) que serviria como depósito para informações de todo o mundo. 85 Plano de Estudo: ● O panorama da Biblioteconomia no Brasil; ● O Bibliotecário no Brasil; ● Desafios contemporâneos da profissão. Objetivos da Aprendizagem: ● Contextualizar sobre o panorama da Biblioteconomia no Brasil; ● Caracterizar quem é o bibliotecário brasileiro; ● Identificar os desafios profissionais enfrentados pelo bibliotecário na contemporaneidade. UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco 86UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil INTRODUÇÃO Prezado(a) acadêmico(a)! Nos textos anteriores vimos como a Biblioteconomia foi se consolidando enquanto área do conhecimento e iniciou timidamente da necessidade de preparar mão-de-obra qualificada para guardar e preservar a memória da humanidade desde os primórdios da civilização. Frente ao exposto, nesta nossa unidade, vamos conhecer sobre o panorama da Biblioteconomia no Brasil. Nesse sentido, iniciaremos o nosso percurso pela história dos surgimentos dos primeiros cursos no país e qual a motivação para que eles fossem implan- tados. Discutiremos sobre as funções e as atividades do bibliotecário que são permeadas por um código de ética que rege sua conduta profissional. Por fim, conheceremos quais os desafios do profissional da informação na contemporaneidade. Temos certeza de que estão ansiosos(as) para iniciarmos a nossa caminhada, então vamos em frente e bons estudos! 87UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 1. O PANORAMA DA BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL Caro(a) Acadêmico(a)! Que tal conhecermos sobre a trajetória da Biblioteconomia brasileira? E para iniciarmos nossa caminhada, nada melhor do que visualizarmos a imagem da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, pois é lá se encontram as raízes do curso de Biblioteconomia no país. Antes, porém, é necessário retrocedermos no tempo e lembrarmos de que a instalação das bibliotecas no Bra- sil acontece muito antes do surgimento da Biblioteconomia, enquanto área do conhecimento e como um campo para habilitar profissionais. Vejamos como tudo isto aconteceu! De acordo com Castro (2000, p. 43), “a trajetória das bibliotecas no Brasil iniciou-se com as ordens religiosas dos Beneditinos, Franciscanos e Jesuítas”, bem antes, da criação da Bibliote- ca Nacional, “gênese do movimento fundador do campo de ensino da Biblioteconomia no Brasil”. Sobre a instalação das bibliotecas no país, Fonseca (1979, p. 17), informa que “em 1546 os Carmelitas já dispunham de um curso de teologia em Olinda: curso que não funcionaria sem biblioteca”. Já para Moraes (1979, p. 1), a instrução e os livros chegaram ao Brasil a partir da metade do século XVI, após a instalação, em 1549, do Governo-Geral em Salvador, na Bahia. Essa data marca o “começo da vida administrativa, econômica, política, militar, espiritual e social do país”. 88UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil SAIBA MAIS O primeiro livro a entrar no Brasil foi trazido pelo padre franciscano Henrique de Coimbra, que o “abriu sobre um altar improvisado no Ilhéu da Coroa Vermelha de Porto Seguro, para com ele celebrar a primeira Missa em território brasileiro, em 26 de abril de 1500” Fonte: Fonseca, 1979, p. 17. No século XVII, outras ordensreligiosas, dentre elas, os Capuchinhos, os Merce- dários e os Oratorianos começaram a se estabelecer no Brasil com suas bibliotecas, pois as bibliotecas conventuais foram, até a segunda metade do século XVIII, os centros de cultura e formação intelectual dos jovens brasileiros que iam completar seus estudos em Portugal. Leite (apud MORAES, 1979, p. 1), corrobora que “a Igreja, foi a única educadora do Brasil até fins do século XVIII, representadas por todas as organizações religiosas do Clero Secular ao Clero Regular que possuíam casas no Brasil”, entretanto, ainda no final desse século, os religiosos foram substituídos por professores régios, os conventos, como centros de cultura e ensino, começaram a decair, o mesmo acontecendo com as bibliotecas conventuais, que neste período entraram em decadência. Ao se referir às primeiras bibliotecas no país, Milanesi (1986, p. 65), tece o seguinte comentário: elas não nasceram públicas mas, como o ensino, privadas e com uma direção ferreamente dirigida: a catequese, o aprimoramento do espírito missionário. Os livros que faziam parte desse arsenal religioso espalhado pelas primei- ras povoações e colégios eram apropriados ao objetivo: fundamentalmente obras litúrgicas ou de amparo doutrinário ao trabalho apostólico, sempre sob o respaldo do colonizador. A maior parte da população daquela época era analfabeta, incluindo parte da popu- lação vinda da corte. Estas bibliotecas eram inadequadas às características primitivas da colônia, mas certamente convenientes do ponto de vista do colonizador. Este panorama só é modificado com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, pois com o Príncipe Regente, veio de Lisboa a célebre coleção de Diogo Barbosa Machado, a qual serviu de ponto de partida para a Biblioteca Nacional de nossos dias. Com a corte, veio também o maquinário para que se instalasse aqui a primeira imprensa. Em 1811, o Conde dos Arcos funda a primeira biblioteca pública. Três anos mais tarde, a Biblioteca Real instalada no Rio de Janeiro, no hospital dos Terceiros Carmelitas, abre as suas portas à população fluminense. “E aqui termina o período medieval das bibliotecas brasileiras” (MORAES, 1983, p. 18). 89UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil De acordo com Silva (2010, p. 34), O príncipe D. João nomeou logo dois bibliotecários para tomarem conta da Biblioteca Real: frei Gregório José Viegas e o padre Joaquim Damaso. Am- bos desempenharam suas funções até voltar para Lisboa, frei Gregório em 1821 e o padre Damaso em 1822, não querendo aderir à independência. Este último levou consigo os Manuscritos da Coroa e alguns outros papéis. Mas a Biblioteca Real ficou definitivamente no Rio de Janeiro. Quando em 1825, Portugal e o Império do Brasil assinaram um tratado onde era reconhecida a Independência, nosso governo pagou a Portugal a quantia de 2 milhões de libras esterlinas pelos bens portugueses deixados aqui. Entre esses bens estava mencionada a biblioteca. No Segundo Reinado, “é a fase das bibliotecas dos liceus literários, das sociedades beneficentes, dos gabinetes de leitura” (MORAES, 1983, p. 18). Com a República, as alte- rações políticas, econômicas e sociais do período repercutiram inevitavelmente na forma como se desenvolveram a literatura, a imprensa e as bibliotecas brasileiras. As ideias libe- rais, advindas dos novos tempos, contribuíram para o incentivo da criação de bibliotecas. É nesse contexto, que o curso de Biblioteconomia foi implantado no país pelo Decreto 8.835 de 11 de julho de 1911, o qual estabeleceu a criação do primeiro curso de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o qual “tinha por ob- jetivo sanar as dificuldades existentes na biblioteca, há gerações, quanto à qualificação de pessoal” (CASTRO, 2000, p. 53), entretanto, as aulas só iniciaram em abril de 1915, devido a desistência dos inscritos, na época, funcionários da própria escola. Mueller (1985), informa que o objetivo principal do curso era a formação de pessoal especializado para exercer as atividades na Biblioteca Nacional e que o referido curso funcionou entre os anos de 1915 a 1922, quando foi suspenso e só retomou em 1931. REFLITA Em 11 de julho de 2011 o curso de Biblioteconomia no Brasil comemorou seu cente- nário. Na sua opinião, as pessoas que procuram realizar o referido curso são apenas funcionários que já atuam na área? Fonte: as autoras. Por muitos anos, os cursos de Biblioteconomia no Brasil estiveram restritos ao eixo Rio-São Paulo. Nesse último local, instalou-se em 1929, no Mackenzie College, o Curso Elementar de Biblioteconomia, o qual era voltado para funcionários da biblioteca, professores e pessoal que atuavam nas bibliotecas em outras instituições, porém, este curso encerrou suas atividades em 1936 por ocasião do Curso de Biblioteconomia do De- partamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, que por questões políticas é fechado e só é reaberto, em 1940, na Escola Livre de Sociologia e Política. 90UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil Os ensinamentos das escolas de Biblioteconomia dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro eram totalmente diferentes. Em São Paulo, essencialmente técnica, era influenciada pela Columbia University e, no Rio de Janeiro, seguiam os moldes da escola francesa École de Chartes que tinha uma visão conservadora e enciclopedista. Este fato permaneceu até 1944, quando estas diferenças entre os conteúdos ministrados se dis- siparam (CASTRO, 2000). De 1911 até 1940, foram criados quarenta de dois cursos de Biblioteconomia no país, desses, doze fecharam nos anos posteriores, mas os trinta cursos restantes, distribuídos em todas as regiões brasileiras, continuaram em funcionamento (JOB; OLIVEIRA, 2006, p. 260). Mueller (1985), faz uma síntese história do curso de Biblioteconomia no Brasil des- de a sua criação até 1982 e menciona que em 1944, o curso da Biblioteca Nacional foi reformulado sob a orientação do professor do curso e seu diretor entre 1944 e 1948, Josué Montello. A reforma implicou em uma mudança nos objetivos do curso, pois não mais se limitaria a formar profissionais para a Biblioteca Nacional, mas, oferecendo formação básica, estaria preparando pessoas para qualquer tipo de biblioteca (MUELLER, 1985, p. 5). Após a reforma, a Biblioteca Nacional começou a ofertar, também, cursos em nível fundamental e cursos avulsos. Segundo a autora supracitada na década de 1950, dois fatos merecem atenção: a expansão no número de cursos de biblioteconomia no país e a luta dos bibliotecários para se firmarem como uma classe profissional de nível superior. Outro fato marcante do período, foi a realização do Primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteco- nomia e, a partir de então, o referido evento tem se repetido a cada dois anos sob o título de Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD), com temáticas que refletem o contexto da profissão e em locais diferentes e, em 2019, já estava na 29ª edição. A década de 1960 é marcada pelo reconhecimento da profissão de bibliotecário, em 1962, bem como, pelo estabelecimento de um currículo mínimo para o curso de Bi- blioteconomia no país. Na década de 1970, a instabilidade política reinante no país não interferiu no crescimento dos cursos e, em 1971, tinha dezessete funcionando, dos quais onze novos cursos foram instalados entre 1970 e 1977. Foi nesta década, também, que se iniciou o primeiro curso de mestrado, ministrado pelo Instituto Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (IBBD), intitulado Mestrado em Ciência da Informação. Na década de 1980, já existiam no país vinte e nove cursos em funcionamento, nas diversas regiões do País e cinco cursos de mestrado. O ensino de Biblioteconomia no Brasil, dos primórdios até 1982, pode ser visualizado na figura 1, a qual foi elaborada a partir do texto de Mueller (1985). 91UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil FIGURA 1 - ENSINO DE BIBLIOTECONOMIANO BRASIL, DESDE A SUA CRIAÇÃO ATÉ 1982 Fonte: Mueller, 1985. Na visão de Castro (2000), dentre as perspectivas que as dimensões educativas da Biblioteconomia brasileira podem ser compreendidas, duas merecem destaque: a profissional que engloba desde a formação até os estudos de mercado de trabalho e a técnica, diz respeito aos métodos de influência, ensino humanista e ensino pragmático e inclui as formas de controle, processamento, armazenamento da informação, o uso das novas tecnologias e as linguagens documentárias. No que diz respeito ao ensino da Biblioteconomia Castro (2000), divide em cinco fases. A fase I corresponde ao período de 1879 a 1928, se inicia com o movimento orga- nizado pela fundação da Biblioteconomia no Brasil, sob a liderança da Biblioteca Nacional e teve influência humanística francesa. A fase II, de 1929 a 1939, houve o predomínio do modelo pragmático americano (São Paulo) em relação ao modelo humanista francês (Rio de Janeiro). Na fase III, de 1940 a 1961, houve a consolidação e a expansão do modelo pragmático americano. A fase IV, de 1962 a 1969, os fatos marcantes deste período foram a regulamentação da profissão de bibliotecário, a promulgação do código de ética profissio- nal e a criação do Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) e, por último, a fase V que compreende o período de 1970 a 1995 e é marcado pela paralisação do crescimento quan- titativo das escolas de graduação e dos cursos de pós-graduação. Nesse período, busca-se a maturidade teórica da área a partir de novas abordagens emprestadas de outros campos do saber. As fases propostas pelo autor supracitado são mais detalhadas no quadro 1. 92UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil QUADRO 1 – FASES DO ENSINO DA BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL FASE I: 1879-1928 Movimento fundador da Biblioteconomia no Brasil de influência humanista francesa, sob a liderança da Biblioteca Nacional; 1879 Realização do primeiro concurso para bibliotecário durante a gestão de Ra- miz Galvão; 1911 Criação na Biblioteca Nacional do primeiro Curso de Biblioteconomia no Brasil, durante a gestão de Manoel Cícero Peregrino da Silva; 1915 Início das atividades do Curso da Biblioteca Nacional; 1923 Paralisação do curso da BN, quando é estabelecido, no Museu Histórico Nacional, o Curso Technico com a finalidade de formar bibliotecários, pa- leógrafos, arquivistas e arqueólogos FASE II: 1929-1939 Predomínio do modelo pragmático americano em relação ao modelo huma- nista francês; 1929 Criação do curso do Instituto Mackenzie, marca do início da influência téc- nica americana; 1931 Retomada do curso da Biblioteca Nacional; 1935 Encerramento do curso do Mackenzie; 1936 Criação do curso do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo, por Rubens Borba de Moraes; 1939 Fechamento do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo. FASE III: 1940-1961 Consolidação e expansão do modelo pragmático; 1940 Transferência do Curso da Prefeitura Municipal de São Paulo para a Escola Livre de Sociologia e Política – ELSP; 1942 Início da expansão do campo do ensino pelo país, sendo criados cursos: Bahia (1942), Escola de Filosofia Sedes Sapientiae (SP) (1944). Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1945), Porto Alegre (1947), Departa- mento de Documentação e Cultura da Prefeitura Municipal do Recife (1947) e na Escola Nossa Senhora do Sion (SP) (1948); 1944 Reforma do curso da BN durante a gestão de Rodolfo Garcia (1933-1945); 1954 Criação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD). 1958 Definição da Biblioteconomia como profissão liberal e de nível superior 1961 Criação da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB). FASE IV: 1962-1969 Uniformização dos conteúdos pedagógicos e regulamentação da profissão; 1962 Promulgação da Lei 4084. Aprovação do primeiro currículo mínimo de Bi- blioteconomia; 1963 Primeiro Código de Ética do Bibliotecário; 1965 Criação do Conselho Federal de Biblioteconomia. FASE V: 1966-1995 Paralisação do crescimento quantitativo das escolas de graduação e cres- cimento quantitativo dos cursos de pós-graduação; busca da maturidade teórica da área a partir de novas abordagens tomadas por empréstimo de outros campos do saber. Fonte: Castro (2000). 93UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil Em 1985, Muller refletindo sobre o futuro da Biblioteconomia no Brasil, menciona que “a evolução do ensino de Biblioteconomia no Brasil tem progredido de maneira rápida, impulsionada por fatores internos e externos à biblioteca” e reconhece de que havia alguns problemas a serem resolvidos, um currículo mínimo (que estava na época em discussão), mas o “mais importante talvez seja o entendimento da profissão, ou seja, a definição do profissional que se deseja formar para o Brasil de hoje e do futuro a curso e a médio prazo” (MUELLER, 1985, p. 13). Transcorridas mais de três décadas destas palavras, será que este contexto foi alterado. Vejamos!!!! No ano de 1996, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), n. 9.394, a qual no Art 53, assegurou autonomia para as Instituições de Ensino Superior (IES) criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educa- ção superior previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino; fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes e estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão, dentre outras funções (BRASIL, 1996). Em 2001, são estabelecidas as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Bibliote- conomia, a qual menciona que a formação do bibliotecário deve proporcionar ao acadêmico o desenvolvimento de determinadas competências e habilidades e o domínio dos conteúdos da Biblioteconomia. Além de preparados para enfrentar com proficiência e criatividade os problemas de sua prática profissional, produzir e difundir conhecimentos, refletir criticamente sobre a realidade que os en- volve, buscar aprimoramento contínuo e observar padrões éticos de conduta (BRASIL, 2001). São estas diretrizes que norteiam as ações dos cursos de Biblioteconomia e a formação do profissional bibliotecário no país. O referido documento determina, ainda, as competências e habilidades esperadas do egresso e subdivide em geral e específicas: As competências gerais desejadas são: ● gerar produtos a partir dos conhecimentos adquiridos e divulgá-los; ● formular e executar políticas institucionais; ● elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos; ● utilizar racionalmente os recursos disponíveis; · desenvolver e utilizar novas tecnologias; ● traduzir as necessidades de indivíduos, grupos e comunidades nas respectivas áreas de atuação; ● desenvolver atividades profissionais autônomas, de modo a orientar, dirigir, assessorar, prestar consultoria, realizar perícias e emitir laudos técnicos e pareceres; ● responder a demandas sociais de informação produzidas pelas transformações tecnológicas que caracterizam o mundo contemporâneo (BRASIL, 2001, p. 32) 94UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil As específicas discriminadas no referido documento, são: ● Interagir e agregar valor nos processos de geração, transferência e uso da informação, em todo e qualquer ambiente; ● Criticar, investigar, propor, planejar, executar e avaliar recursos e produtos de informação; ● Trabalhar com fontes de informação de qualquer natureza; ● Processar a informação registrada em diferentes tipos de suporte, mediante a aplicação de conhecimentos teóricos e práticosde coleta, processamento, armazenamento e difusão da informação; ● realizar pesquisas relativas a produtos, processamento, transferência e uso da informação (BRASIL, 2001, p. 32-33). Conforme podemos perceber as competências e habilidades atribuídas ao egresso do curso, são abrangentes e diversificadas. É mister salientar que passados 110 anos da implantação do curso de Bibliote- conomia da Biblioteca Nacional, a graduação é oferecida nas habilitações licenciatura e bacharelado, tem duração de quatro anos e é possível cursar tanto na modalidade presen- cial quanto à distância. De acordo com dados do último Censo de Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 2019, há registrados 41 cursos e, neste quantitativo, incluem-se todos os cursos, sejam aqueles em atividade, quanto os que estão em extinção e/ou em processo de descredenciamento voluntário. Aqui, também, percebemos um diferencial, pois, por muitos anos, os cursos de Biblioteconomia foram ofertados somente presencialmente, entretanto, com a expansão da educação à distância (EaD) no país e com a Lei Federal nº 12.244 de 2010 que até 2020, todas as instituições de ensino públicas e privadas do país deveriam ter uma biblioteca com pelo menos um livro por aluno, a procura pelo curso de Biblioteconomia aumentou, especialmente, na EaD. Após esta trajetória sobre a Biblioteconomia no Brasil, que tal conhecermos qual é o perfil ou quem é o profissional bibliotecário no país? 95UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 2. O BIBLIOTECÁRIO NO BRASIL O bibliotecário no Brasil é uma pessoa graduada em curso superior de bacharelado e/ou licenciatura em Biblioteconomia que, após registrar-se no conselho de classe da cate- goria, se encontra habilitado para desempenhar as funções profissionais inerentes à área. É mister salientar que o termo bibliotecário começou a ser utilizado pela Biblioteca Nacional, a partir de 1824, por aprovação do segundo dispositivo legal, denominado Artigos Regulamentares para o Regimento da Bibliotheca Imperial e Pública, elaborado pelo frei An- tônio de Arrábida. Esse documento, “após a Independência do Brasil, troca-se a denominação Biblioteca Real por Biblioteca Imperial e o administrador geral, até então chamado Prefeito ou Zelador, passou a chamar-se Bibliotecário” (CASTRO, 2000, p. 50), entretanto, só houve troca no nome, porque as atribuições permaneceram as mesmas que o profissional realizava antes do referido documento, ou seja, “preocupação acentuada na ampliação do acervo em detrimento de sua organização e conservação” (CASTRO, 2000, p. 50). Nascimento e Martins (2017, p. 46) ilustram que Conquanto o curso ter surgido no Brasil em 1911, a profissão de Bibliotecário só foi reconhecida e regulamentada como profissão, no ano de 1962, ou seja, 51 anos após a implantação do primeiro curso de formação profissional. A profissão foi legalizada pela lei 4.084 de 30 de junho do ano já citado, instituí- da pelo então presidente da república, João Goulart. A referida lei, dentre outros aspectos, discriminava as atribuições dos bacharéis em Biblioteconomia da seguinte forma: 96UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil Art 6º São atribuições dos Bacharéis em Biblioteconomia, a organização, di- reção e execução dos serviços técnicos de repartições públicas federais, es- taduais, municipais e autárquicas e emprêsas particulares concernentes às matérias e atividades seguintes: a) o ensino de Biblioteconomia; b) a fiscalização de estabelecimentos de ensino de Biblioteconomia reconhe- cidos, equiparados ou em via de equiparação; c) administração e direção de bibliotecas; d) a organização e direção dos serviços de documentação; e) a execução dos serviços de classificação e catalogação de manuscritos e de livros raros e preciosos, de mapotecas, de publicações oficiais e seriadas, de bibliografia e referência (BRASIL, 1962). Estas foram as primeiras atividades definidas por lei para o graduado em Biblio- teconomia. Em 25 de junho de 1998, a lei acima supracitada foi atualizada pela Lei n. 9.674, que em seu art. 1º, parágrafo único, reza que “a designação ‘Bibliotecário’, incluída no Quadro das Profissões Liberais, Grupo 19, da Consolidação das Leis do Trabalho, é privativa dos Bacharéis em Biblioteconomia” (BRASIL, 1998), ou seja, o bibliotecário é reconhecido como profissão liberal e, na última versão da Classificação Brasileira de Ocu- pações (CBO), encontra-se categorizado na família dos Profissionais da Informação (JOB; OLIVEIRA, 2006). No país, não há um consenso sobre quais profissões deveriam ser inseridas como profissionais da informação. Constituem o núcleo deste grupo os bibliote- cários, os arquivistas, os mestres e doutores em ciência da informação e a Biblioteconomia é a mais antiga destas áreas (MUELLER, 2004). A este respeito Targino (2010, p. 45), tece a seguinte consideração explica que “todos os bibliotecários são ou deveriam ser profis- sionais da informação, mas nem todos os profissionais da informação são bibliotecários. A eles, somam-se documentalistas, arquivistas, museólogos, administradores”. SAIBA MAIS A CBO não é lei, é uma portaria do Ministério do Trabalho. Não regulamenta profissões e nem cria cargos, não representa aspirações de uma categoria de trabalhadores, é descrição de atividades de diferentes profissões, uma nomenclatura. Não é garantia de que as profissões ali descritas sejam regulamentadas e nem é esta sua preocupação. As atividades refletem a realidade do grupo que representa em termos de atividades desempenhadas nos diversos ambientes em que se faz presente o trabalhador. Fonte: Job e Oliveira (2006, p. 268) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm 97UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil Santos (1996, p. 5), reconhece o bibliotecário como um profissional da informação e assim se manifesta: “entende-se todos aqueles indivíduos que, de uma forma ou outra, fazem da informação o seu objeto de trabalho, entre os quais, arquivistas, museólogos, administradores, analistas de sistema, comunicadores, documentalistas e bibliotecários”. O objeto de trabalho do bibliotecário é explicitado na Resolução CFB nº 207/2018, a qual aprova o Código de Ética e Deontologia do Bibliotecário brasileiro, que fixa as normas orientadoras de conduta no exercício de suas atividades profissionais Art. 4º – O objeto de trabalho do bibliotecário é a informação, artefato cultural aqui conceituado como conhecimento estruturado sob as formas escrita, oral, gestual, audiovisual e digital, por meio da articulação de linguagens natural e/ ou artificial (CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2018). De acordo com o Guia do Estudante (2019), cujo conteúdo tem por intuito discrimi- nar sobre as profissões a fim de orientar os sujeitos na escolha de determinada profissão, menciona que “o bibliotecário domina técnicas de classificação, organização, conservação e divulgação do acervo de bibliotecas ou centros de documentação”. O referido documento, complementa, ainda que Este graduado é responsável por organizar, conservar e divulgar acervos de bibliotecas e centros de documentação, cuidando da classificação de livros, papéis e arquivos digitais. Trabalha como um administrador de dados, catalogando e armazenando li- vros e informações, buscando sempre o melhor e mais ágil sistema de con- sulta possível (GUIA DO ESTUDANTE ABRIL, 2019). É importante mencionar que a profissão do bibliotecário ultrapassa os espaços físicos de uma biblioteca, em 1996, Coelho Neto já chamava atenção para este fato, o papel do Bibliotecário na sociedade está se alterando devido às novas tec- nologias de informação e comunicação. Novas formas de trabalhar surgiram porque novas ferramentas foram criadas para o controle, organização e dis- seminação da informação. O profissional não está mais limitado ao espaço físico da biblioteca; agora ele trabalhacom vários suportes em que a informa- ção está registrada, onde o usuário passa a ser o foco principal e não mais o acervo, ao mesmo tempo que a disseminação passa a ter mais importância que a preservação da informação (COELHO NETO, 1996, p. 5). Concordamos com Coelho Neto (1996), mas, chamamos a atenção para o alerta de Mueller (1989) de que os bibliotecários devem incorporar novas atividades sem abandonar as ditas tradicionais, como: a preservação do conhecimento humano; a organização da infor- mação para sua posterior recuperação; a educação, o suporte à educação formal, ao estudo e à pesquisa; o fornecimento ao usuário de fontes e materiais que supram as necessidades de informação deste; além do planejamento e da administração de recursos informacionais, haja vista, que o bibliotecário auxilia na construção do conhecimento, ou seja, seu objeto principal de trabalho é gerenciar a informação, independente do suporte e/ou do local em que ela esteja armazenada, pois conforme explicita o Art. 2º da Resolução CFB 207/2008 98UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil Art. 2º – A profissão de Bibliotecário tem natureza sociocultural e suas princi- pais características são a prestação de serviços de informação à sociedade e a garantia de acesso indiscriminado aos mesmos, livre de quaisquer embar- gos (CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2018). Assim, as mudanças processadas no campo da ciência e da tecnologia e a incorpo- ração dos princípios da Documentação na Biblioteconomia brasileira passa- ram a exigir um bibliotecário mais dinâmico e participativo e, principalmente, especializado, isto é, que conhecesse as principais fontes do campo em que atuava, suas terminologias e o modo como o mesmo estruturava-se, enquan- to espaço de construção de saber (CASTRO, 2000, p. 121). Outros fatos que exigiram uma nova postura no fazer bibliotecário, especialmente, a partir da década de 1990, foi a explosão documental e a expansão das tecnologias da informação e comunicação, que modificou as relações profissionais e passou a exigir um profissional mais dinâmico e com domínio das ferramentas digitais. A respeito das TICs, Araujo (2005, p. 115), destaca sua importância, pois “pela primeira foram feitas tecnologias que criam e fornecem informações. Essas tecnologias desenvolvem três funções de pro- cessamento de informação: memória, computação e controle. Isso aumenta, em muito, a capacidade humana de processar dados para produzir informação”. Este novo cenário, exigiu que o bibliotecário adquirisse um novo perfil e, a partir de então, ele assumiu uma nova denominação: profissional da informação, haja vista, que suas atividades não se limitam apenas ao ambiente físico das bibliotecas e a organização e preservação dos acervos, mas, o foco de suas atividades centraliza no gerenciamento da informação. Frente ao exposto, o trabalho bibliotecário não se restringe apenas aos recintos de uma biblioteca, mas, sim em qualquer instituição que necessite catalogar documentos para acessá-los de forma rápida, eficiente e eficaz. É incontestável que a tecnologia causou imenso impacto nas bibliotecas e nas atividades desempenhadas pelo bibliotecário, mas ela não eliminou a necessidade do tra- balho humano, pois, os sistemas informatizados são concebidos, mantidos e alimentados pelos seres humanos. Isto significa que as tecnologias vieram para auxiliar o homem, não para substituí-las, então o dito popular que a profissão do bibliotecário seria extinta com o advento das TICs não passa de um mito, haja vista, que o graduado em Biblioteconomia deve ter formação humanística, científica, técnica e cultural, de modo a desempenhar atividades intelectuais, traduto- ras das necessidades informacionais de indivíduos, grupos e comunidades, e mediadoras do uso e da apropriação da informação, tanto em contextos tradicionais quanto virtuais, em bibliotecas, centros de documentação ou in- formação, centros culturais, serviços ou redes de informação e na gestão do capital intelectual, da inovação, da memória e do patrimônio cultural, entre outros. A observação de padrões éticos de conduta, a reflexão crítica sobre o seu papel social, a criatividade na resolução de problemas e a preocupação com seu aprimoramento profissional devem sublinhar o desempenho de suas atividades (INEP, 2009, p. 11). 99UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil Frente ao exposto, o campo de atuação do profissional bibliotecário é amplo e abrangente, pois, além de poder desempenhar suas atividades nos diversos tipos de biblio- tecas, pode, ainda, trabalhar em outros locais, tais como: centros de pesquisas; editoras; associações; escritórios; museus; provedores de internet, dentre outros. O Guia das Profis- sões (2021, [n.p.]), complementa que atualmente é bastante comum este profissional se ocupar da criação e ma- nutenção de arquivos digitais. É crescente a necessidade das empresas de manterem arquivos digitais de documentos antes apenas impressos. Esta ação tem o objetivo de preservar o documento original, liberar espaço físico ou disponibilizar estes documentos para um maior número de pessoas de forma mais rápida. A Resolução CFB 207/2008 acrescenta que, Art. 3º – A atuação do bibliotecário fundamenta-se no conhecimento da mis- são, objetivos, áreas de atuação e perfil sociocultural do público alvo da insti- tuição onde está instalada a unidade de informação em que atua, bem como das necessidades e demandas dos usuários, tendo em vista o desenvolvi- mento dos indivíduos e da sociedade (CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTE- CONOMIA, 2008). Cabe ressaltar de que a profissão de bibliotecário é instituída por entidades repre- sentativas, dentre elas destacam-se o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), que incorpora os Conselhos Regionais de Biblioteconomia (CRB), que tem por intuito fiscalizar o exercício e zelar pela ética profissional; a Federação Brasileira de Associações de Biblio- tecários (FEBAB), que juntamente com as Associações Estaduais, que objetivam promover a atualização profissional, por meio de eventos, cursos, publicações, dentre outros e os sindicatos que tem por objetivo defender o profissional por meio da legislação dos fóruns trabalhistas e negociam junto às instituições (privadas ou estatais), o piso salarial dos pro- fissionais e demais benefícios que a lei propicia aos trabalhadores (JOB; OLIVEIRA, 2006). Após este preâmbulo sobre o bibliotecário no Brasil, quais os desafios a serem enfrentados por este profissional na contemporaneidade? Vejamos!!!! 100UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 3. DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DA PROFISSÃO A partir do século XX, a profissão do bibliotecário, tal como as demais profissões, foi diretamente impactada pelos avanços das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), pois os usuários cada vez mais buscam recuperar a informação de forma rápida e de qualidade, isto demanda alterações no perfil do profissional. Assim, o alerta de Walter e Baptista (2007, p. 30), de que é muito interessante como o aspecto visual e comportamental dos biblio- tecários realmente permeia o imaginário popular, associando a profissão a mulheres, em geral idosas e, especialmente, com dois adereços principais, como uma espécie de marca registrada, que são os indefectíveis óculos e o famigerado coque nos cabelos, além de uma postura geralmente antagônica e pouco receptiva para os usuários, provavelmente em gesto que indique um enfático pedido de silêncio. A imagem do bibliotecário tal como descrita há muito tempo se alterou e, neste limiar do século XXI, a figura estereotipada propagada pela mídia de que a profissão era exercida, em sua maioria por mulheres, que usam óculos, geralmente mal-humoradas e que a regra máxima era silêncio no recinto das bibliotecas, deve ter totalmente, eliminada e imagens como a figura abaixo não devem fazer parte de bancos de imagens quando buscamos gravuras sobre o perfil do bibliotecário.101UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil FIGURA 1 - IMAGEM REPRESENTATIVA DO ESTEREÓTIPO DO BIBLIOTECÁRIO Uma das funções a ser desempenhada pelo bibliotecário na contemporaneidade é a de agente de transformação social. De acordo com Pires (2012), ele “deve assumir como agente transformador com o seu enfoque informacional e consequentemente com as mudanças ocorridas na sociedade”. O referido autor menciona, ainda, que “os bibliotecários do terceiro milênio precisam desenvolver de forma condizente a disseminação da informa- ção como forma de fornecer aos seus consulentes informações relevantes para que os mesmos possam usá-las de maneira eficiente”, haja vista, que “o profissional da informação tem assumido funções diversas, como: agente educacional, social, cultural; promovendo a competência no uso da informação, além disso, desenvolvendo nos usuários o aprendizado através do estímulo à leitura”. No papel bibliotecário enquanto agente de transformação social, não podemos esquecer da função educativa a ser desempenhada por este profissional, levando em con- sideração que o Brasil tem uma das taxas de analfabetismo mais elevadas. De acordo com a Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua divulgada pelo IBGE (2019), o país tem, aproximadamente, 11,3 milhões de pessoas analfabetas com mais de quinze anos de idade. Baptista (2006, p. 25-26), menciona que “o grande contingente de analfabetos e co- munidades carentes, isoladas e sem acesso às comodidades básicas, tais como alimento, moradia, água, luz etc., provoca uma distorção entre o que as comunidades desfavorecidas precisam e o que a biblioteca pública tem para oferecer”. A autora supracitada alerta que “por formação, o bibliotecário é altamente qualifica- do para desempenhar o papel social que promova a cidadania em comunidades carentes. Porém, são poucos os que se interessam pela área, já que não há retorno quanto à remu- neração, e a infra-estrutura oferecida é desfavorável para uma atuação efetiva” (BAPTISTA, 2006, p. 29). O que fazer para alterar esta situação? A resposta a este questionamento nos é dado por Cunha (2019) de que combater a redução do analfabetismo no país, “ninguém pode ficar de fora”. Segundo o autor, 102UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil o bibliotecário não pode continuar passivo, ele deve pressionar todos os níveis de atuação governamental (municipal, estadual e federal), das instituições privadas e organizações do Terceiro Setor. Essa pressão deve ser voltada para a melhoria e ampliação das políticas públicas voltada ao combate do analfabetismo. É claro que, além disso, o profissional deve mostrar a importância das bibliotecas públicas e escolares como locais ade- quados para receberem os futuros cidadãos que poderão ler e escrever. Há, portanto, um longo caminho a ser percorrido pelo bibliotecário e suas entidades profissionais (CUNHA, 2019, p. 662). A tarefa é árdua, mas é possível, haja vista, o bibliotecário tem executado no decor- rer de sua trajetória as tarefas de organizar e disseminar a informação. Na disseminação ou mediação da informação, “o bibliotecário tem se aproximado dos papéis desempenhados pelos educadores, assistentes sociais e outros que desempenham, funções na área educa- cional/social” (BAPTISTA, 2006, p. 27). Para Tarapanoff, Suaiden e Oliveira (2002, p. 3), um dos grandes desafios para o bibliotecário é a alfabetização em informação, ou seja, cabe ao profissional da informação buscar alternativas de educar a si próprios e aos outros para a sociedade da informação. “Uma pessoa alfabetizada em informação é aquela que reconhece a necessidade da infor- mação; organiza-a para uma aplicação prática; integra a nova informação a um corpo de conhecimento existente; usa a informação para solução de problemas e aprende a aprender” Frente ao exposto, a função do profissional da informação vai além de ensinar os usuários como utilizar a biblioteca, haja vista, que o objetivo da alfabetização em informa- ção é “criar aprendizes ao longo da vida, pessoas capazes de encontrar, avaliar e usar a informação eficazmente para resolver problemas ou tomar decisões” (TARAPANOFF; SUAIDEN; OLIVEIRA, 2002, p. 3). Os autores supracitados explicitam que “os bibliotecários e profissionais da informação devem, assim como os professores, tornarem-se animadores da inteligência coletiva dos cidadãos e dos estudantes, oferecendo ferramentas intelectuais para que os indivíduos cooperem e produzam conhecimentos em grupo”. Neste sentido, “é necessário que o profissional da informação atue como um mediador entre o mundo digital e a capa- cidade real de entendimento do receptor da informação, garantindo a efetiva comunicação e a satisfação da necessidade informacional do usuário dessa tecnologia” (TARAPANOFF; SUAIDEN; OLIVEIRA, 2002, p. 4). É preciso inovar e “a inovação passa a acontecer nas bibliotecas quando estas percebem que somente os registros informacionais bibliográficos já não atenderão uma sociedade conectada, participativa e com acesso rápido e vasto a uma variedade de recursos” (PRADO; CAVAGLIERI, 2016, p. 95). A inovação perpassa pela busca de conhecimento e aprimoramento constante, aberto a mudanças, conforme disse Valentim em 1995 103UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil o bibliotecário precisa reencontrar seu caminho para processar a mudança de paradigma. Ousadia é essencial! Mudança não é fácil de se executar, requer persistência, tolerância, determinação e o mais importante, dá condi- ções para a reflexão e o debate. Estar sintonizado com o novo paradigma é fundamental para o profissional da informação. O terceiro milênio vai exigir isso (VALENTIM, 1995, p. 5-6). Após transcorrido mais de vinte e cinco anos as sábias palavras da professora continuam ecoando. Só mencionar que o bibliotecário é agente de transformação social não basta, é preciso “fortalecer no bibliotecário seu papel de agente transformador da so- ciedade, oferecendo, por meio de produtos e serviços de pesquisas, ações e projetos, uma maior abrangência da sua prática profissional. É necessário sair dos espaços seguros de informação e desbravar o caminho para aqueles que não têm acesso” Frente ao exposto, é mister salientar que o bibliotecário deve não só dominar as ferramentas da informática, contribuir para o compartilhamento da informação com os outros profissionais da informação, fazer partes de redes de relacionamento, cooperação, catalogação cooperativa. O bibliotecário precisa, acima de tudo, desenvolver o papel social que a ele é atribuído, ser agente de transformação de forma efetiva e propiciar que a infor- mação transmutada em conhecimento atinja a todo cidadão independentemente de onde a biblioteca em que atua esteja inserida. Seja realmente um agente de mudança social! 104UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil CONSIDERAÇÕES FINAIS O papel da biblioteca e dos profissionais que nela atuam é determinado pelo uso da informação registrada e pela importância desta na vida das pessoas. Uma vez que a informação se altera e a comunicação evolui, juntamente com os valores morais, hábitos, avanços tecnológicos, estrutura social, desenvolvimento nacional, também mudam, em cada sociedade, as expectativas em relação às bibliotecas e aos bibliotecários. Frente ao exposto, nesta unidade refletimos sobre o percurso da Biblioteconomia no Brasil desde os primórdios da criação do primeiro curso que visava a formar o profis- sional para atuar nas bibliotecas. Neste sentido, no segundo momento apresentamos o perfil do bibliotecário no país e, por último, discutimos sobre os desafios do profissional da informação na contemporaneidade. Foi um prazer tê-lo(a) conosco!!! 105UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil LEITURA COMPLEMENTAR QUEM É O PROFISSIONAL BIBLIOTECÁRIO? O bibliotecário é um profissional de nível superior que atua no mercado de trabalho com uma visão ampla eobjetiva da sociedade e de seus variados segmentos. Como administrador e disseminador de informação, habilita-se a adequar métodos e técnicas de sua profissão às necessidades específicas de seu trabalho, sabendo valer-se dos melhores recursos da Informática, Reprografia e da Microfilmagem, entre outros, para agilizar e otimizar suas funções. O uso instrumental do Marketing, para difundir a importância da leitura e os benefí- cios do uso da informação a todos os tipos de usuários e promover a formação cultural do país, são importantes papéis do Bibliotecário, enquanto agente social. O bibliotecário está habilitado a executar planejamento de serviços bibliotecários, planejamento físico de bibliotecas e centros de documentação e informação, organização de acervos (bibliográficos ou não), de serviços técnicos e administrativos ligados à docu- mentação, avaliação, assessoria, consultoria, ensino, fiscalização técnica, normalização de documentos, análise de trabalhos técnicos e científicos, organização de bases de dados virtuais, de intranets, de documentação para processos de certificação de qualidade, ava- liação de conteúdo da Internet, entre outras. O bibliotecário é capaz de atuar em qualquer função que vise a organização e obtenção de informações e como gestor da informação e do conhecimento para atender às necessidades de informação da sociedade. O bibliotecário economiza tempo e recursos para seus clientes, colocando ao seu alcance informações já selecionadas, precisas e de fundamental importância para o suces- so das organizações. Fonte: CRB-10. Quem é o profissional bibliotecário? Porto Alegre, 2021. Disponível em: http://www. crb10.org.br/nbiblio.htm . Acesso em: 15 set. 2021. 106UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil LEITURA COMPLEMENTAR SETE NOMES IMPORTANTES NA BIBLIOTECONOMIA Conheça a história de sete personalidades importantes para a profissão Bibliotecário: Adelpha de Figueiredo: uma das primeiras Bibliotecárias brasileiras. Formou-se pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, sendo a primeira diretora da Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade, em 1926. Edson Nery da Fonseca: Bibliotecário e professor universitário brasileiro. Fun- dador de cursos de Biblioteconomia de graduação e pós-graduação, também participou da fundação da Universidade de Brasília (UnB), sendo responsável pela implantação da Biblioteca Central e do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD). Inezita Barroso: aluna destaque da primeira turma da graduação em Bibliotecono- mia da Universidade de São Paulo (USP) Manuel Bastos Tigre: considerado o primeiro Bibliotecário por concurso no Brasil, exercendo a profissão por 40 anos. O dia 12 de março, Dia do Bibliotecário, foi instituído em sua homenagem. Shiyali Ramamrita Ranganathan: matemático e Bibliotecário na Índia, considera- do o pai da Biblioteconomia no país. Foi professor de Biblioteconomia por aproximadamente 40 anos e autor do livro “The Five Laws of Library Science” (1931), abordando as cinco leis da Biblioteconomia, fundamentais para o exercício da profissão. Zila Mamede: importante Bibliotecária brasileira responsável por reestruturar as duas maiores Bibliotecas de Natal (RN): a Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Biblioteca Pública Estadual Câmara Cascudo. Também participou do Conselho Federal de Biblioteconomia Laura Russo: desenhou a primeira versão do Código de ética Profissional do Bibliotecário. Também foi a primeira presidente da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB) e do Conselho Federal de Biblioteconomia. Pelos seus trabalhos na Biblioteconomia brasileira, recebeu títulos honoríficos nos Estados Unidos e Alemanha. Fonte: CRB-6. Dia do bibliotecário: sete nomes importantes na Biblioteconomia. Boletim Eletrônico do CRB-6, Belo Horizonte, 10 mar. 2020. Disponível em: https://crb6.org.br/boletim-eletronico-crb-6/dia-do- -bibliotecario-sete-nomes-importantes-na-biblioteconomia/. Acesso: 15 set. 2021. https://crb6.org.br/boletim-eletronico-crb-6/dia-do-bibliotecario-sete-nomes-importantes-na-biblioteconomia/ https://crb6.org.br/boletim-eletronico-crb-6/dia-do-bibliotecario-sete-nomes-importantes-na-biblioteconomia/ https://crb6.org.br/boletim-eletronico-crb-6/dia-do-bibliotecario-sete-nomes-importantes-na-biblioteconomia/ 107UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: História da biblioteconomia Autor: Augusto Cesar Castro Editora: Thesaurus Sinopse: Resultado da tese do autor, defendida na Universida- de de Brasília (UnB), o livro, publicado pela Editora Thesaurus, retrata a trajetória da biblioteconomia diante de vários aspectos, contemplando o desenvolvimento das bibliotecas, em especial, a Biblioteca Nacional, ensino de biblioteconomia (incluindo a construção curricular), órgãos de classe, além dos fundamentos históricos, políticos e institucionais da profissão e atuação profis- sional do bibliotecário. Certamente é uma das obras mais densas e completas sobre o desenvolvimento histórico da biblioteconomia e não somente pela narrativa em si, mas pelo teor crítico, rigoroso e consistente com que trata a história da área. LIVRO 2 Título: Uma análise sobre a identidade da biblioteconomia brasi- leira: perspectivas históricas e objeto de estudo. Autor: Jonathas Luiz Carvalho Silva. Editora: Baluarte. Sinopse: A obra, originada de dissertação, toca numa das ques- tões mais negligenciadas pela Biblioteconomia: a construção da identidade biblioteconômica.A obra divide-se em cinco capítulos principais. Nos quais o autor busca resgatar um pouco da trajetória histórica da Biblioteconomia 108UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil FILME / VÍDEO Título: “O Bibliotecário” Ano: 2004 Sinopse: Para se ser um bibliotecário, tem de se conhecer profun- damente o Sistema Decimal Dewey, ser especialista em Internet e, se formos o novo bibliotecário Flynn Carsen (Noah Wyle), ter de salvar o mundo! Wyle (E.R.) lidera um excelente elenco numa divertida e fantástica aventura recheada de acção e efeitos especiais passada à volta do mundo partindo da biblioteca Metropolitan até à selva Amazóni- ca passando pelos Himalaias. Carsen, um estudante brilhante, consegue um emprego como bibliotecário, mas que, no entanto, se revela ser afinal um emprego muito especial: ser o guardião de maravilhosos tesouros como, entre outros, a espada Excalibur e a Caixa de Pandora, guardados numa zona secreta do edifício. É então que a Irmandade da Serpente, uma seita que busca o domínio do mundo, rouba da biblioteca uma das três partes da mágica Lança do Destino. Apenas Flynn, ajudado por uma bonita guarda-costas, tem os conhecimentos para travar aquele plano maquiavélico. Mas terá ele fibra de herói? Vai ter de a encontrar, pois terá de ultrapassar armadilhas mortais ou precipícios gelados em cada passo do seu caminho. FILME / VÍDEO 2 Título: Desafios da profissão do bibliotecário Ano: 08 de maio de 2015 Sinopse: O vídeo é uma entrevista com dois profissionais bibliote- cários realizada pela TV PUC Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Blc6r_52Wsc 109 REFERÊNCIAS ALENCAR, Elisvânia Rodrigues de; OLIVEIRA, Antonia Eugenia de. O novo perfil do biblio- tecário: uma análise sobre suas habilidades. In: Anais do Encontro Universitário Da UFC No Cariri, 3., 2011, Juazeiro do Norte, CE. ALMEIDA , M. W. ; SILVA, K. A. P.; VERTUAN, R. E. Sobre a categorização dos signos na Semiótica Peirceana em atividades de Modelagem Matemática. Revista eletrónica de investigación em Educacion em Ciencias, Tandil [Argentina], v. 6 n. 1 jul. 2011. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/266595742Sobre_a_ categorizacao_dos_sig- nos_na_Semiotica_Peirceana_em_atividades_de_Modelagem_Matematica/link/546c8a- 500cf2c4819f21a536/download. Acesso em: 29 set. 2021. ALMEIDA, C. C. de. 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Neste material fizemos uma caminhada pelos fundamentos que regem a Bibliote- conomia, assim vimos os conceitos atribuídos a ela e a sua relação com a Documentação e a Ciência da Informação. Tivemos a oportunidade de perceber que a Biblioteconomia está voltada à organização e a administração de bibliotecas e outras unidades de informação, desenvolvendo ações de seleção, aquisição, organização e disseminação de publicações sob diferentes suportes físicos e desenvolve suas atividades técnicas e normativas na perspectiva de proporcionar o acesso à informação. Estudamos, também, como se deu o processo da escrita e o surgimento das bibliotecas no primórdio da civilização. Seguindo em frente fizemos uma imersão pela Biblioteconomia desde a sua gênese e pudemos perceber que desde os primórdios da civilização, sempre houve a necessidade de se organizar os registros do conhecimento adquiridos pelo homem a fim de preservar a sua memória.Pudemos, ainda, conhecer sobre as práticas biblioteconômicas e a evolução das bibliotecas, desde a Antiguidade até chegarmos a contemporaneidade e aqui nos de- paramos com a Sociedade de Informação, em que há o domínio da internet em todos os segmentos da sociedade e que as bibliotecas não ficaram alheias às mudanças causadas explosão documental e pelas tecnologias da informação e comunicação. Continuando a caminhada conhecemos os diferentes conceitos atribuídos ao termo documento e o quanto a Documentação, enquanto atividade teórico-prática foi importante para o desenvolvimento dos sistemas de classificação, representação e organização da informação e como ela se relaciona com a Biblioteconomia. Constatamos que a origem da Documentação está relacionada à grande quantidade de documentos técnicos e científicos produzidos e a necessidade de sua organização, de forma a torná-los acessível a quem interessar. Verificamos que a Biblioteconomia e a Documentação se relacionam com a semiótica e que os conhecimentos dessa área são fundamentais para os processos de significação, dimensionamento e tratamento da informação. 122 Para concluir nosso percurso refletimos sobre a Biblioteconomia no Brasil desde os primórdios da criação do primeiro curso, conhecemos sobre o perfil do bibliotecário no país e, por último, discutimos sobre os desafios do profissional da informação na contemporaneidade. Esperamos que você tenha gostado de percorrer conosco pelos trajetos encanta- dos da Biblioteconomia. Nossos agradecimentos e até uma próxima oportunidade! +55 (44) 3045 9898 Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR www.unifatecie.edu.br UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia UNIDADE II Evolução Histórica da Biblioteconomia UNIDADE III Documentação UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil