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Debate sobre os 
conceitos de proteção 
internacional da 
pessoa humana
 
SST
Zolotar, Márcia
Debate sobre os conceitos de proteção internacional da 
pessoa humana / Márcia Zolotar 
Ano: 2020
nº de p.: 12
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
3
Debate sobre os conceitos 
de proteção internacional 
da pessoa humana
APRESENTAÇÃO
Nesta unidade, estudaremos a importância da organização de normas 
internacionais que protejam os direitos humanos. Veremos que, ao longo da 
histórica, buscou-se criar normas de proteção ao indivíduo que o resguardassem 
dentro e fora do seu Estado nacional. A construção de uma tutela que garantisse, ao 
menos, o mínimo de garantias protetivas a ele foi possível por meio da construção 
de Acordos e Convenções entre países. 
Também será possível verificar que os sistemas normativos internacionais não 
surgem com o objetivo de superar os ordenamentos jurídicos nacionais, mas para 
complementá-los, agregando valores à proteção da dignidade humana pelos poderes 
estatais. Por fim, faremos uma discussão sobre a participação do Brasil em alguns 
acordos internacionais, verificando o reflexo de tais normas no atual cenário brasileiro.
NOÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS
Os direitos humanos correspondem a um amplo conjunto de direitos direcionados 
ao ser humano e sua essência se baseia na existência da própria subsistência 
da vida humana. Logo, basta ser humano para possuir tais direitos. Assim, eles 
assumem a finalidade de salvaguardar a pessoa, nas diversas situações, da forma 
mais ampla possível.
De forma histórica, a reflexão da construção de um ordenamento jurídico 
internacional ocorre no pós-Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e intensificam-
se no contexto do término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Outro 
marco histórico é o julgamento do alto escalão do partido Nazista no Tribunal de 
Nuremberg pelos atos praticados durante os conflitos.
4
Filme: O Tribunal de Nuremberg 
Sinopse: retrata o julgamento do staff do Partido Nazista e suas 
justificativas quando da violação de direitos humanos. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qRw1gIp8J_s
Saiba mais
Buscando estabelecer um conceito para os Direitos Humanos, Peres Luño (1995) 
leciona que:
É o conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, 
concretizam as exigências de dignidade, liberdade e igualdade humanas, 
as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos 
jurídicos em nível nacional e internacional. (PERES LUÑO, 1995, p. 38 
[tradução nossa])
Conforme enfatizamos, o conceito de direitos humanos é resultado de um processo 
histórico e de constante evolução, aplicado a sua sistematização e aos demais 
ramos: direito humanitário e direito dos refugiados. Ou seja, enquanto existir a 
necessidade de proteção em um mundo globalizado e de constantes mudanças, 
haverá, em contrapartida, uma obrigação de atualização dos sistemas e da 
normatização. 
A figura a seguir nos faz refletir sobre a necessidade de proteger os direitos 
humanos, independentemente, do Estado Nacional a que a pessoa pertença. Assim, 
o objetivo final das três vertentes da proteção internacional da pessoa humana é 
um só: salvaguardar os direitos humanos. 
https://www.youtube.com/watch?v=qRw1gIp8J_s
5
Proteção internacional da pessoa humana
#PraCegoVer: ilustração em tons de amarelo, laranja e verme-
lho com inúmeras mãos abertas.
Fonte: Deduca (2020).
No Brasil, o primeiro texto constitucional a trazer a tutela da dignidade humana foi 
a Constituição Federal da República Brasileira de 1988 (CFRB/88), que já em seu 
art. 1º, estabelece a dignidade humana como um dos fundamentos da república 
brasileira (BRASIL, 1988).
VERTENTES PROTETIVAS DO SER 
HUMANO
Thomas Buergenthal (2000) compreende que o direito humano é aquele que se aplica 
na hipótese de guerra, no intuito de fixar limites à atuação do Estado e assegurar a 
observância de direitos fundamentais. Ou seja, para o autor, corresponde ao conjunto 
de direitos que são oponíveis aos Estados, enquanto os direitos humanitários, para 
esse autor, são definidos como o ramo do Direito dos Direitos Humanos que se aplica 
aos conflitos armados internacionais e, em determinadas circunstâncias, aos conflitos 
armados nacionais (BUERGENTHAL, 2000 [tradução nossa]). Essas áreas devem ser 
vistas a partir de um aspecto de convergência.
Ainda para parcela da doutrina, considera-se que haveria uma terceira vertente de 
proteção e a próxima figura demonstra a sistematização desse pensamento.
6
Vertentes dos Direitos Humanos
Direitos Humanos Direitos 
Humanitários
Direitos dos 
Refugiados
Proteção Internacional da 
Pessoa Humana
Fonte: Elaborada pela autora (2020).
As três vertentes da proteção internacional dos direitos humanos devem ser entendidas 
como complementares e convergentes, visto que a maioria dos instrumentos 
internacionais existentes se aplicam, de forma acessória, aos direitos mencionados.
Essa íntima relação entre essas vertentes do direito é da seguinte forma entendida 
por Piovesan (2013):
Hoje é amplamente reconhecida a inter-relação entre o problema dos 
refugiados, a partir de suas causas principais (as violações de direitos 
humanos) e, em etapas sucessivas, os direitos humanos. Assim, devem 
os direitos humanos ser respeitados antes do processo de solicitação 
de asilo ou refúgio, durante ele e depois dele (na fase final das soluções 
duráveis). (PIOVESAN, 2013, p. 257)
Levando em consideração a classificação anterior, Piovesan (2013) conceitua o 
termo refugiados como aquele que sofre perseguição, entre outras coisas, por 
motivos de raça, religião, nacionalidade, participação em determinado grupo social 
ou opiniões públicas. Percebe-se que a intolerância ocorre por características 
individuais ou exercício do que deveria ser considerado direitos individuais. Outro 
ponto é que o refugiado não pode ou não quer ser protegido ou se submeter às 
normas do seu país de origem.
Ou seja, refugiados são indivíduos que, por algum motivo, são perseguidos e têm 
como única opção, para resguardar sua vida, deixar seu Estado nacional e buscar 
proteção de outra nação. 
A origem de todos esses direitos é a violação a direitos e garantias fundamentais do 
ser humano e a incapacidade do Estado de servir como garantidor desses direitos.
7
A princípio, os direitos dos refugiados surgem na forma de direito ao asilo. 
Posteriormente, esse direito é ampliado e passa a figurar como uma obrigação 
dentro da Liga das Nações Unidas. Com o tempo, ao passo que vão surgindo novas 
necessidades de tutela para os refugiados, percebe-se que é preciso um órgão 
direcionado para cuidar dessa demanda. Assim, a Organização das Nações Unidas 
(ONU) cria um conjunto de comissões como o Alto Comissariado das Nações 
Unidas para Refugiados (ACNUR).
O Brasil, apesar de não ser um membro permanente do Conselho, é signatário desde 
a constituição da Organização. Todavia, a garantia de asilo sempre é uma matéria 
controvérsia quando do exame dos Textos Constitucionais, visto que, ora o constituinte 
opta por resguardar direitos aos refugiados, ora é omisso no tratamento da matéria. 
Nesse sentido, vejamos os exames dos documentos normativos:
• Constituição de 1824 – a primeira carta brasileira foi redigida pelo Conselho 
do Estado e não contemplava o direito de asilo. O objetivo principal, naque-
le momento, era estabelecer uma nação soberana e seu reconhecimento no 
plano internacional;
• Constituição de 1891 – à semelhança da Constituição anterior, não previa ex-
pressamente o direito de asilo. Tal fato, contudo, não impediu sua aplicação 
no episódio da Revolta da Armada, em 1894, quando corvetas portuguesas 
concederam asilo a 493 revoltosos;
• Constituição de 1934 – marcou o início de uma nova ordem política no país, 
com a derrota da Revolução Constitucionalista, de 1932. Previa expressa-
mente o direito de asilo, em seu Capítulo II, Art. 113, § 31 (BRASIL, 1934);
• Constituiçãode 1937 – foi considerada um verdadeiro retrocesso na histó-
ria constitucional e política brasileira. O direito de asilo foi retirado do texto 
constitucional (BRASIL, 1937);
• Constituição de 1946 – o direito de asilo voltou a figurar na Carta Magna, no 
Art. 141, § 33, em face das retomadas dos princípios contemplados na Cons-
tituição de 1934 (BRASIL, 1946);
• Constituição de 1967 – muito embora o cenário político não fosse favorável à 
democracia, o direito de asilo foi mantido na forma determinada no Art. 150, 
§ 19 (BRASIL, 1967);
• Constituição de 1969 – manteve-se a redação dada pela Constituição de 1967;
• Constituição de 1988 – 1ª constituição democrática, promulgada após 20 
anos de ditadura militar. O direito de asilo vem previsto, expressamente, no 
Art. 4º, X da CF/88 (BRASIL, 1988).
8
A Revolta Armada (1891-1894) ocorreu no Rio de Janeiro e foi 
deflagrada pela Marinha do Brasil, que bombardeou a capital com 
navios de guerra – encouraçados. A revolta teve início com a 
renúncia de Deodoro da Fonseca, em 1891.
Saiba mais
POLÍTICAS INTERNACIONAIS E 
INTERVENÇÕES HUMANITÁRIAS NA 
CONTEMPORANEIDADE E O QUADRO 
BRASILEIRO
As políticas internacionais e intervenções humanitárias adquirem uma maior 
relevância durante o período da chamada Guerra Fria. Após o fim da 2ª Guerra 
Mundial, ficou claro que os esforços das Organizações das Nações Unidas não 
estavam sendo suficientes para tratar da massiva violação de direitos humanos.
Muitos foram os casos de violação a tais direitos, por parte das autoridades 
estatais, que ocorreram nesse período. Destaque para os casos ocorridos em 
Bósnia-Herzegovina (1990-1992), Somália (1992), Ruanda (1994) e Haiti (1994 e 
2004), que são exemplos de violações diretas por parte da autoridade estatal. 
Filme: Hotel Ruanda
Sinopse: o enredo aborda os conflitos políticos entre os hutus e 
tutsis, quando mais de 1 milhão de ruandeses perderam suas vidas. 
Trailer disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=3wf8prFBpIM.
Saiba mais
https://www.youtube.com/watch?v=3wf8prFBpIM
https://www.youtube.com/watch?v=qRw1gIp8J_s.
9
O Conselho de Segurança das Nações Unidas surge com o objetivo de manter a paz 
e tem o papel decisório diante da possibilidade de intervenções humanitárias nos 
países. Compondo o Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos, recebe críticas 
de autoridades nacionais locais por possivelmente violar direitos à soberania, não 
intervenção e autodeterminação dos povos quando de suas ações nesses locais.
Assim, merece destaque o art. 1 da Carta da ONU que, em seu art. 1º, estabelece os 
propósitos das Nações Unidas: 
Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, 
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os 
atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios 
pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito 
internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que 
possam levar a uma perturbação da paz [...]. (ONU, 1945)
A responsabilidade do Conselho de Segurança é determinada no art. 24 da Carta da 
ONU, in verbis:
A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas, seus 
Membros conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade 
na manutenção da paz e da segurança internacionais e concordam que no 
cumprimento dos deveres impostos por essa responsabilidade o Conselho 
de Segurança aja em nome deles [...]. (ONU, 1945)
O Brasil mantém sua participação em intervenções humanitárias desde 1957. De 
1989 a 2006, contribuiu com 20 dessas operações, com contingentes militares, 
com apoio à população civil e como facilitador do diálogo político. Sua atuação no 
Timor Leste, Moçambique e Angola foi marcante, assim como merece destaque a 
intervenção no Haiti, ao assumir o controle das tropas da ONU (2004-2006). 
Em 13 anos de trabalho no Haiti, o Brasil enviou 37 mil militares e encerrou sua 
missão humanitária apenas em 2017.
10
FECHAMENTO
Os direitos humanos devem ser compreendidos como a proteção das garantias 
mais essenciais de um indivíduo, englobando um conjunto de direitos que são 
ampliados, ao longo do tempo, conforme as novas necessidades humanas. 
Atualmente, há um conjunto de Acordos e Convenções Internacionais que visam a 
proteção desses direitos, para além do Estado nacional de uma pessoa. 
Em nossos estudos, averiguamos que os direitos humanos, o direito humanitário 
e o direito dos refugiados, bem como toda a sua sistemática de proteção e os 
respectivos órgãos, foram criados logo após a 1ª Guerra Mundial e, de forma mais 
permanente, no fim da 2ª Guerra Mundial.
Ao analisar a segunda metade do século XX, vimos que foi nesse momento que 
se iniciaram os debates sobre as intervenções humanitárias e seus principais 
objetivos. Apesar das duas grandes guerras mundiais terem devastado territórios 
e ocasionarem a perda de milhões de vidas, suas consequências foram essenciais 
para repensar o limite de poder estatal face ao indivíduo. 
Ainda vimos que a Organização das Nações Unida foi fundamental para a 
sistematização e construção de documentos, em nível internacional, de preservação 
dos direitos humanos. Mais do que apenas uma entidade que dispõe de poder 
normativo, a ONU atua diretamente com a assistência a países que passam por 
situações de conflitos, embora, alguns desses atos sejam criticados por aqueles 
países que sofrem intervenções.
Por fim, foi possível aprender que a proteção mínima dos refugiados aconteceu de 
forma gradual, sendo importante lembrar que os sujeitos que estão nessa condição 
não é por ato voluntário, mas buscando garantir apenas sua sobrevivência, com 
destaque para o Brasil que, ao longo da história, deu asilo a inúmeras pessoas. 
Atualmente, a CFRB/88 estabelece o princípio da dignidade humana como um de 
seus fundamentos, o que ratifica, ainda mais, seu compromisso com as pessoas em 
situação de refúgio. 
11
Referências
BRASIL. Constituições Brasileiras [1824] – Volume I. 3. ed. Brasília : Senado 
Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2012. 105 p. Disponível em: 
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137569/Constituicoes_
Brasileiras_v1_1824.pdf?sequence=5. Acesso em: 10 set. 2020.
______. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm. 
Acesso em: 11 set. 2020.
______. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1934. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm. Acesso em: 15 
set. 2020.
_____. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm. Acesso em: 15 
set. 2020.
_____. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm. Acesso em: 15 
set. 2020.
______. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm. 
Acesso em: 15 set. 2020.
______. Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/emc01-69.htm. 
Acesso em: 11 set. 2020.
_____. Constituição Federal da República Brasileira de 1988. Brasil: Senado Federal, 
Gráfica do Senado Federal, 2020.
BUERGENTHAL, T. International human rights. 2. ed. Minnesota: West Publishing, 2000. 
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137569/Constituicoes_Brasileiras_v1_1824.pdf?sequence=5
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137569/Constituicoes_Brasileiras_v1_1824.pdf?sequence=5
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/emc01-69.htm
12
PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, estado de derecho y constitución. 5. ed. 
Madrid: Editora Tecnos, 1995. 
ONU. Organização das Nações Unidas. Carta das Nações Unidas de 1945. 
Disponível em: https://nacoesunidas.org/carta/cap1/. Acesso em: 19 set. 2020.
PIOVESAN, F. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São 
Paulo, Saraiva, 2013.
https://nacoesunidas.org/carta/cap1/
Teoria e prática 
constitucional 
SST
Azevedo, Simone
Teoria e prática constitucional / Simone Azevedo
Local: 2020
nº de p. : 14
Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
Teoria e prática 
constitucional 
3
Apresentação
O Judiciário se expandiu, muitas vezes, em razão da omissão do Legislativo, para 
legislar sobre matérias que lhe trazem certo desconforto. O crescimento e expansão 
de bancadas conservadoras dificulta o debate de temas polêmicos, mas que são de 
grande interesse social ou de grupos sociais.
Em razão disso, foi possível observar nos últimos anos um papel atuante do 
Judiciário, em especial do Supremo Tribunal Federal (STF) em decisões de temas 
que tiveram grande impacto social e que chegaram à Suprema Corte alicerçados em 
direitos e garantias fundamentais constitucionais. Veja, nesta unidade, o julgamento 
de três desses temas.
Conceito
As constituições devem ser interpretadas em razão das necessidades e mutações 
sociais. A esse trabalho do judiciário, dá-se o nome de exegese, que pode ser 
compreendida como uma técnica que buscará o real significado dos textos 
constitucionais. Essa função é de extrema importância na medida em que o Texto 
Maior é critério de validade para as demais normas do ordenamento jurídico.
A atual teoria da hierarquia constitucional estabelece esse 
documento como o fundamento de validade das demais normas 
do ordenamento jurídico.
Saiba mais
O grande desafio do jurista é decifrar o verdadeiro alcance e a abrangência das 
normas constitucionais e, por consequência, das demais normas do 
ordenamento jurídico. Nesse sentido, o desenvolvimento da atividade de 
hermenêutica leva em consideração a história, as ideologias, as realidades 
socioeconômicas, políticas, entre outras, do Estado, a fim de definir o real 
significado do Texto Maior.
4
Todavia, essa abertura não dá ao magistrado o poder de deliberar livremente sobre 
a aplicação e a interpretação constitucional. Existe um grupo de normas no qual o 
Constituinte deixou de forma clara qual a tutela deverá ser concedida pelo poder 
estatal.
Em regra, as normas que necessitam da atividade de interpretação 
são os chamados princípios que estão ligados aos direitos 
fundamentais em suas cinco dimensões.
Atenção
Por exemplo, não há dúvidas que, conforme o art. 18 da Constituição Federal de 
1988, Brasília será a capital federal. Todavia, quando da aplicação do art. 5º, como é 
possível delimitar qual o valor da igualdade?
O princípio da igualdade deve ser interpretado em seu sentido 
material e formal.
Saiba mais
Nesse sentido, a técnica da interpretação deverá levar em consideração todo o sis-
tema. E, em caso de antinomia normativa, deve-se buscar a solução para o aparente 
conflito por meio da interpretação sistemática orientada pelos princípios constitucio-
nais.
Métodos de interpretação
A interpretação das normas constitucionais é um conjunto de métodos que são 
desenvolvidos pela doutrina e jurisprudência com base em critérios sistemáticos 
com base filosófica, metodológica, epistemológica, entre outros. Apesar de serem 
5
técnicas em sua essência distintas, podem ser utilizados de forma complementar. A 
figura a seguir traz os principais métodos de interpretação.
Métodos de interpretação
Fonte: Elaborada pela autora (2020).
Principais casos de alteração da 
interpretação constitucional
Casamento homoafetivo
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o reconhecimento de união 
estável entre pessoas do mesmo sexo demonstra na prática o constitucionalismo 
contemporâneo. Esse posicionamento da Suprema Corte foi resultado do 
Julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de 
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132.
Antes da análise dessa decisão, é importante destacar que a publicação da 
Resolução nº 175, de 14 de maio de 2013, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 
autorizando a celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em 
casamento entre pessoas de mesmo gênero, representou um avanço em direção à 
legalização dessa forma de união.
O relator das duas ações foi o ministro Ayres Britto, que, por meio de seu voto, 
manifestou ser necessário fazer uma interpretação conforme a Constituição para 
6
o artigo 1.723 do Código Civil, que define a união estável como aquela “[...] entre
o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família” (BRASIL, 2002). Em seu
voto, a ministra Cármen Lúcia destaca que o reconhecimento da união estável
homoafetiva concretiza o princípio da dignidade da pessoa humana:
[...] Tanto não pode significar, entretanto, que a união homoafetiva, 
a dizer, de pessoas do mesmo sexo seja, constitucionalmente, 
intolerável e intolerada, dando azo a que seja, socialmente, alvo 
de intolerância, abrigada pelo Estado Democrático de Direito. 
Esse se concebe sob o pálio de Constituição que firma os seus 
pilares normativos no princípio da dignidade da pessoa humana, 
que impõe a tolerância e a convivência harmônica de todos, com 
integral respeito às livres escolhas das pessoas. (STF - ADPF: 132 
RJ, Relator: Min. AYRES BRITTO, Data de Julgamento: 05/05/2011, 
Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-198 DIVULG 13-10-2011 
PUBLIC 14-10-2011 EMENT VOL-02607-01 PP-00001)
Curiosidade
Essa decisão do STF reflete os ideais do constitucionalismo democrático na medida 
em que busca o respeito e a efetivação dos direitos fundamentais, em especial 
os de liberdade, igualdade e dignidade. Seu fundamento e objetivo foi o respeito à 
dignidade da pessoa humana, que se tornou após a Segunda Guerra Mundial um dos 
grandes consensos éticos.
Uso de células-tronco embrionárias em pesquisas
Outro caso difícil que exigiu uma solução pelo STF foi a Ação Direita de 
Inconstitucionalidade 3510-0/600 ajuizada pela Procuradoria-Geral da República 
contra o art. 5º da Lei nº 11.105/2005, a Lei de Biossegurança.
7
Você conhece a definição de casos difíceis? Já se deparou em 
algum momento com algum caso parecido?
Veja a definição de Barroso (2017): casos difíceis são 
aqueles que, devido a razões diversas, não têm uma solução 
abstratamente prevista e pronta no ordenamento, que possa 
ser retirada, não têm uma prateleira de produtos jurídicos. Que 
argumentações e justificativas um juiz poderia utilizar em casos 
desse tipo?
Curiosidade
Nessa ação, o STF julgou a constitucionalidade das pesquisas com células-tronco 
embrionárias à luz da proteção à vida humana por ocasião da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade 3510/DF, ajuizada pela Procuradoria-Geral da República contra 
o art. 5º da Lei nº 11.105/2005. A Suprema Corte decidiu pela constitucionalidade
dessa lei em respeito à autonomia da vontade, ao planejamento familiar, à vida digna
e à liberdade de expressão científica, desde que observadas cautelas na condução
das pesquisas e na realização das terapias, que já estariam previstas ne referida lei.
Segundo a Procuradoria da República em sua petição inicial, a utilização em 
pesquisas ou terapias de células-tronco embrionárias coletadas de embriões para 
fertilização in vitro – mas que seriam descartados depois – violaria o direito à vida e 
o princípio da dignidade humana, respectivamente protegidos nos arts. 1º, inciso III,
e 5º, caput, da Constituição Federal de 1988.
O fundamento é que o início da vida aconteceriacom a formação 
do zigoto, de modo que, ao autorizar a pesquisa com células-tronco 
embrionárias, a Lei de Biossegurança seria inconstitucional por 
não se respeitar o direito à vida garantido ao embrião.
Atenção
8
Inicialmente, cumpre ressaltar que a decisão da Suprema Corte não definiu o 
momento inicial da vida humana. Nesse sentido, o voto da ministra Ellen Grace aduz:
Não há por certo, uma definição constitucional do momento inicial 
da vida humana e não é papel desta Suprema Corte estabelecer 
conceitos que não estejam explícita ou implicitamente plasmados 
na Constituição Federal. Não somos uma Academia de Ciências. A 
introdução no ordenamento pátrio de qualquer dos vários marcos 
propostos pela Ciência deverá ser um exclusivo exercício de 
opção legislativa, passível, obviamente, de controle quanto a sua 
conformidade com a Carta de 1988. (STF - ADI: 3510 DF, Relator: 
Min. AYRES BRITTO, Data de Julgamento: 29/05/2008, Tribunal 
Pleno, Data de Publicação: DJe-096 DIVULG 27-05-2010 PUBLIC 
28-05-2010 EMENT VOL-02403-01 PP-00134)
Curiosidade
Ainda, segundo a ministra Ellen Grace, o embrião criopreservado não pode ser 
classificado como pessoa. Destacou, também, que a ordem jurídica nacional atribui 
a qualificação de pessoa ao nascido com vida e que a utilização para recuperação da 
saúde não agride a dignidade humana.
A Constituição de 1988 tutela de forma expressa a proteção à 
dignidade humana já em seu art. 1º.
Saiba mais
O ministro Joaquim Barbosa também acompanhou integralmente o voto do 
relator pela improcedência da ação, ressaltando que a permissão para a pesquisa 
com células embrionárias prevista na Lei de Biossegurança não recai em 
inconstitucionalidade. Ele exemplificou que, em países como Espanha, Bélgica e 
Suíça, esse tipo de pesquisa é permitido com restrições semelhantes às já previstas 
na lei brasileira, como a obrigatoriedade de que os estudos atendam ao bem comum, 
que os embriões utilizados sejam inviáveis à vida e provenientes de processos de 
9
fertilização in vitro e que haja um consentimento expresso dos genitores para o uso 
dos embriões nas pesquisas. 
Atualmente, a Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, versa sobre 
Biossegurança, e a Resolução nº 510 do Ministério da Saúde 
estabelece os patamares para pesquisas envolvendo seres 
humanos.
Saiba mais
A decisão do STF, ao julgar improcedente a ação direta de inconstitucionalidade, 
analisou que a Lei de Biossegurança estaria respeitando direitos fundamentais 
previstos na Constituição Federal, posto que quando se trata de “direitos da pessoa 
humana” e até dos “direitos e garantias individuais” como cláusula pétrea, refere-
se a direitos e garantias do indivíduo-pessoa que se faz destinatário dos direitos 
fundamentais “à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, 
entre outros direitos e garantias igualmente distinguidos com o timbre da 
fundamentalidade (como direito à saúde e ao planejamento familiar).
10
O caso também era difícil pelas razões usuais. Havia uma 
ambiguidade de linguagem relativa ao enquadramento ou não de 
um embrião congelado no conceito de vida, para fins de proteção 
constitucional. Também estava presente uma colisão de normas: 
para quem entendia que se tratava de uma vida potencial, sua 
preservação se chocava com o interesse dos pesquisadores e 
dos portadores de doenças cuja cura pudesse ser alcançada 
por essa linha de pesquisas. Por fim, havia um desacordo moral: 
preservar o embrião, em nome do direito à vida, ou destiná-lo à 
ciência, diante da constatação de que ele jamais seria implantado 
em um útero materno. Por maioria de votos, o Supremo Tribunal 
Federal declarou a constitucionalidade da lei, entendendo que 
um embrião congelado e sem perspectiva de implantação em um 
útero materno não constituía vida para fins constitucionais. Como 
consequência, considerou legítimas as pesquisas com células-
tronco embrionárias, mesmo que importassem na destruição do 
embrião. (STF - ADI: 3510 DF, Relator: Min. AYRES BRITTO, Data de 
Julgamento: 29/05/2008, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-
096 DIVULG 27-05-2010 PUBLIC 28-05-2010 EMENT VOL-02403-01 
PP-00134).
Curiosidade
Aborto praticado até o terceiro mês de gestação
Outro caso emblemático decidido pelo STF que merece destaque foi o julgamento 
sobre a possiblidade de ser praticado o aborto até o terceiro mês de gestação, a 
partir de um pedido de habeas corpus.
Destaca-se que não houve a legalização do aborto no Brasil, apenas 
se considerou que o aborto praticado no referido caso não deveria 
ser considerado crime.
Saiba mais
Tratou-se de habeas corpus, com pedido de concessão de medida cautelar, impetrado 
em face de acórdão da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, que não conheceu 
11
do HC 290.341/RJ, de relatoria da Ministra Maria Thereza de Assis Moura. Os 
indivíduos que mantinham uma clínica de aborto foram presos em flagrante em 
março de 2013 pela prática do crime de aborto e formação de quadrilha, por terem 
provocado aborto em gestante com o consentimento desta. 
Em seguida, foi concedida a liberdade provisória, em 2013, pelo Juízo da 4ª Vara 
Criminal da Comarca de Duque de Caxias/RJ. Entretanto, a mesma vara criminal, em 
2014, proveu recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público do Estado 
do Rio de Janeiro para decretar a prisão preventiva dos pacientes, com fundamento 
na garantia da ordem pública e na necessidade de assegurar a aplicação da lei penal.
Assim, a defesa impetrou habeas corpus no Supremo Tribunal de Justiça, que embora 
seu mérito não tenha sido examinado pelo acordão, que assentou não ser ilegal o 
encarceramento na hipótese.
Os fundamentos do habeas corpus impetrado foram: não estão 
presentes os requisitos necessários para decretar prisão 
preventiva, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal. 
Nesse sentido, sustentaram que:
• os pacientes são primários, com bons antecedentes e têm
trabalho e residência fixa no distrito da culpa;
• a custódia cautelar é desproporcional, já que eventual con-
denação poderá ser cumprida em regime aberto; e
• não houve qualquer tentativa de fuga dos pacientes duran-
te o flagrante.
• Daí o pedido de revogação da prisão preventiva, com expe-
dição do alvará de soltura.
Atenção
Por unanimidade, os ministros do STF, como mencionado, entenderam que as 
prisões dos réus não se sustentavam. Para tanto, fundamentaram seus votos 
em alguns princípios constitucionais como o da igualdade, dos direitos sexuais e 
reprodutivos, da autonomia e do direito à integridade física e psíquica da gestante. 
Entenderam que a criminalização do aborto, no caso em discussão, era incompatível 
12
com os direitos fundamentais, entre os quais, os direitos sexuais e reprodutivos à 
autonomia da mulher, a integridade física e psíquica da gestante e o princípio da 
igualdade.
Conforme observou o ministro Barroso em seu voto, com o qual concordou a maioria 
dos ministros, a criminalização do aborto produz uma discriminação social, uma 
vez que o aborto inseguro tem um efeito perverso nas mulheres mais pobres e 
vulneráveis. Assim, esclareceu o ministro:
Por fim, a tipificação penal produz também discriminação social, 
já que prejudica, de forma desproporcional, as mulheres pobres, 
que não têm acesso a médicos e clínicas particulares, nem podem 
se valer do sistema público de saúde para realizar o procedimento 
abortivo. Por meio da criminalização, o Estado retira da mulher a 
possibilidade de submissão a um procedimento médico seguro. 
Não raro, mulheres pobres precisam recorrer a clínicas clandestinas 
sem qualquer infraestrutura médica ou a procedimentos precários 
e primitivos, que lhes oferecem elevados riscos de lesões, 
mutilações e óbito. (HABEAS CORPUS 124.306 RIO DE JANEIRO 
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO)
Curiosidade
Observa-se, pois, que o julgamento do STF reconheceu os direitos sexuais e 
reprodutivos das mulheres, o direito e à integridade física e psíquica da gestante, 
para que, dessaforma, possa se proporcionar à mulher o seu acesso pleno à saúde, 
nos termos garantidos na Constituição Federal de 1988.
Fechamento
A partir da análise desses julgados apresentados, é possível notar um papel atuante 
do Judiciário em diversas matérias. As decisões se fundamentam e se pautam 
em argumentos técnicos com base na Constituição, mas é inegável o seu caráter 
político ou reflexos políticos sociais relevantes.
De um lado, é verdade que muitas decisões representam um importante avanço 
no reconhecimento de direitos de minorias, como, por exemplo, a legalidade do 
13
casamento homoafetivo. Mas uma dúvida importante que remanesce é: até onde 
pode ir o Judiciário? Muitas vezes se comemoram vitórias progressistas e sociais 
importantes conseguidas via Judiciário, mas a questão é: e se o Supremo Tribunal 
Federal for composto por uma maioria de membros de vieses autoritários e contrário 
ao reconhecimento de direitos? 
14
Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário 
Oficial da União, 11 jan. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/l10406.htm#capituloiiextincaocontrato. Acesso em: 22 set. 2020.
Defesa dos direitos 
coletivos e difusos
 
SST
Raulino, Cátia
Defesa dos direitos coletivos e difusos / Cátia Raulino 
Ano: 2020
nº de p.: 12
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
3
Defesa dos direitos 
coletivos e difusos
Apresentação
Desde a promulgação do Código de Defesa do Consumidor, em 1990, vemos que 
a sociedade brasileira tem experimentado uma onda de processos coletivos e 
transindividuais, apresentando grandes desafios ao Poder Judiciário. Direitos 
advindos de violações do meio-ambiente, das relações de consumo, de práticas 
de bioética e direitos humanos têm sido apresentado aos tribunais em diversas 
instâncias.
Assim, os direitos coletivos e difusos são a grande novidade dos últimos anos no 
processo civil brasileiro, principalmente quando consideramos as ações advindas, 
como por exemplo, da Lei da Ação Popular –nº4717/65 e da Lei da Ação Civil 
Pública – nº 7.437/85. E é sobre isso que falaremos nesta unidade. Bons estudos!
Defesa dos interesses e direitos 
coletivos dos consumidores em juízo
De acordo com Cavalieri (2011, p.121):
Os direitos coletivos também têm titularidade indeterminável, todavia, 
os titulares são identificáveis, pois tais direitos estão identificados a um 
grupo, categoria ou classe de pessoas. Só são beneficiados os indivíduos 
pertencentes ao grupo, categoria ou classe, sendo que o resultado 
da demanda atinge a todos de modo uniforme. Eventual benefício ao 
patrimônio do indivíduo será reflexo.
Aqui, diferentemente dos direitos individuais, há claros grupos de determinados 
indivíduos como beneficiados pela proteção consumerista.
Sobre a tutela coletiva, assim como a tutela dos direitos difusos, temos 
regulamentações e uma base legal muito parecida.
4
Há uma lei específica que disciplina a regra dos direitos difusos 
e coletivos, que é a chamada Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 
7347/85). Essa será a lei básica que disciplinará de forma ampla a 
proteção de direitos coletivos.
Atenção
Wambieret al. (2015, p.87) fala sobre a relação entre a Lei de Ação Civil Pública 
(LACP)e o Código de Defesa do Consumidor (CDC):
Percebe-se, claramente, que com a edição do Código de Defesa do 
Consumidor acabou por crescer o âmbito de utilidade da ação civil pública. 
Com o disposto no seu art. 21 ela passou a abranger vasto segmento que 
precedentemente não encontrava cobertura normativa nem a indicação 
de legitimados para a tutela.
Já a LACP, em seu art. 1º, deixa clara essa proteção ao consumidor:
Art. 1º  Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação 
popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais 
causados:(Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).[ ...] ll - ao 
consumidor; [...] (BRASIL, 1985)
Essa mesma lei tutelará outros direitos coletivos e difusos. A ação civil pública 
poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação 
de fazer ou não fazer. Continuando na seara desta ação, ela tornará possível o 
ajuizamento de pedido cautelar objetivando evitar danos ao consumidor.
Os legitimados para propor a ação civil pública são os mesmos legitimados que já 
vimos na proteção aos direitos individuais homogêneos. Neste caso, temos ainda a 
previsão de substitutos na ação, caso um dos legitimados a abandone por qualquer 
motivo.
5
Uma parte importante dessa previsão legal é a possibilidade de o próprio juiz 
comunicar ao Ministério Público ocorrências que legitimam a ação (art. 7º, 
LACP/85).
A profunde seus estudos sobre a questão do ônus probatório no 
novo Código de Processo Civil a partir da leitura do link: http://
www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_
leitura&artigo_id=18185.
Saiba mais
A Ação Civil Pública tem por objetivo reprimir ou mesmo prevenir danos ao meio 
ambiente, ao consumidor, ao patrimônio público, aos bens e direitos de valor 
artístico, estético, histórico e turístico, por infração da ordem econômica e da 
economia popular etc., podendo ter por objeto a condenação em dinheiro ou o 
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Princípios dos processos coletivos
Neste tópico, estudaremos os princípios das ações coletivas, 
Princípio da não-taxatividade: É totalmente proibido limitar as hipóteses em que 
será possível propor ação coletiva.
A base legal do princípio é o art. 129, III, da Constituição Federal, 
no título Outros interesses difusos e coletivos e no art. 5º, XXXV: 
“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito” (BRASIL, 1988).
Complementa o art. 1º, IV, da Lei da Ação Civil Pública: “qualquer 
outro interesse difuso ou coletivo”. 
Saiba mais
Com isso, as limitações levadas a efeito tanto pela legislação infraconstitucional 
quanto pela jurisprudência são inconstitucionais.
Princípio do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito do processo 
coletivo: Por este princípio, deve o Poder Judiciário flexibilizar todos os 
pressupostos de admissibilidade processual para que possa enfrentar o mérito do 
processo coletivo e, assim, reafirmar a sua função social: tornar mais fácil o acesso 
à justiça, afinal, as ações coletivas são ações de interesse social. 
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=18185
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=18185
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=18185
6
Um determinado juiz, em vez de extinguir a ação coletiva por 
ilegitimidade da parte autora, publica editais convidando outros 
legitimados para assumirem o polo ativo da ação.
Neste caso, temos o interesse jurisdicional na ação. O próprio 
juiz compreende que outras coletividades ou grupos devem estar 
presentes na referida ação.
Reflita
Princípio da presunção da legitimidade “ad causam” ativa pela afirmação de direito 
coletivo: De acordo com este princípio, basta a afirmação de direito coletivo para 
que esteja automaticamente presumida a chamada legitimidade para a causa. No 
que tange ao Ministério Público (MP), a aplicação do princípio decorre da própria 
Constituição, pois nossa carta magna atribui legitimidade coletiva institucional, 
bastando se tratar de direito social para, naturalmente, restar configurada a 
legitimidade do parquet.
Princípio da disponibilidade motivada da ação coletiva: Se durante o curso do 
processo aquele que possui a legitimidade resolver desistir da ação, os motivos 
deverão estar presentes e fundamentados. O princípio determina que é necessária 
a análise da desistência. Se for considerada infundada, caberá ao MP assumir a 
titularidade do feito se a ação houver sido originariamenteproposta por qualquer 
dos legitimados concorrentes (art. 5º, §3º, LACP). 
Princípio da máxima prioridade da tutela jurisdicional coletiva: A prioridade se 
justifica, pois os julgamentos coletivos acabam por atingir uma enorme gama 
de indivíduos e de questões, o que acaba por tornar mais célere a justiça nesse 
sentido.
Princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva comum: Por tal 
princípio, busca-se o aproveitamento máximo da prestação jurisdicional coletiva, 
para que com isso novas demandas sejam evitadas, principalmente as realizadas 
individualmente pelo consumidor e que possuem a mesma causa de pedir. É o que 
se observa do sistema da extensão in utilibus da coisa julgada coletiva prevista no 
art. 103, § 3º, do CDC, em que fica garantido ao titular do direito individual, caso 
demonstre a procedência da sentença coletiva, de utilizá-la seu processo individual 
(transporte in utilibus).
7
Princípio do ativismo judicial ou da máxima efetividade do processo coletivo: 
Este princípio se refere ao novo papel a ser desempenhado pelos magistrados. 
De acordo com Cavalieri (2011, p. 111), “nas demandas coletivas, o próprio papel 
do magistrado modifica-se, enquanto cabe a ele a decisão a respeito de conflitos 
de massa, por isso mesmo de índole política”. Essa opinião, porém, é controversa. 
Lenio Streck ou Eros Grau são duas boas sugestões de contraponto.
O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) mantém 
o portal atualizado sobre os direitos coletivos, não apenas 
os consumeristas. Confira em: http://www.cnmp.gov.br/
direitoscoletivos/.
Saiba mais
Princípio da máxima amplitude da tutela jurisdicional coletiva: São totalmente 
cabíveis quaisquer tutelas do direito individual no direito coletivo: preventivas, 
repressivas, condenatórias etc. Da mesma forma, podem ser utilizados também 
todos os ritos e medidas eficazes previstos no sistema processual em casos 
envolvendo consumidores.
Princípio da obrigatoriedade da execução coletiva: art.15 da LACP e art. 16 da 
Lei da Ação Popular (LAP). Comprovada a desídia dos outros legitimados ativos, 
caberá ao parquet a promoção da execução coletiva. Dessa forma, ajuizada a ação 
coletiva e julgada procedente, é dever do Estado, por mekko– por meio do MP –, 
dar efetivação ao direito. O autor precisará executar a sentença proferida em ação 
coletiva em 60 dias, senão o MP o fará.
Princípio da universalidade da jurisdição: Estas ações desejam atingir muitos 
interessados. Sua finalidade só pode ser atingida a contento se partirmos da “ótica 
dos consumidores da justiça”. Ou seja, para atingir a real eficácia para a qual 
foram criadas, quanto maior a coletividade ou coletividades atingidas, maior é o 
cumprimento de sua função jurisdicional.
Princípio da economia processual: Segundo este princípio, o processo coletivo 
atinge a um só tempo os ideais de redução do custo econômico, em materiais e 
pessoas, já que temos uma menor quantidade de processos individuais, uma maior 
uniformidade e uma maior rapidez gerada pelos precedentes coletivos.
http://www.cnmp.gov.br/direitoscoletivos/
http://www.cnmp.gov.br/direitoscoletivos/
8
Princípio da adequada representação: Está diretamente ligado aos seguintes 
princípios: da segurança jurídica, do devido processo legal coletivo, da efetividade e 
da tutela coletiva, pois procura fazer com a coletividade presente na ação seja bem 
representada em sua demanda, quer dizer, por um legitimado ativo ou passivo que 
efetivamente exerça o direito coletivo em sua plenitude e guie o processo com boa 
técnica e probidade.
Defesa dos interesses e direitos difusos 
dos consumidores em juízo
Podemos afirmar que os direitos difusos são caracterizados pela indeterminação 
dos titulares, indivisibilidade do direito (o objeto do direito não pode ser cindido 
– ou atende a toda sociedade ou não atende ninguém) e sua origem meramente 
factual. Assim como nos direitos coletivos, os difusos são protegidos em juízos 
através da ação civil pública.
Antes de adentrar nessa especificidade, Cavalieri (2011) nos lembra que muitas 
vezes em ocorrências em que os direitos difusos são desrespeitados, os 
consumidores podem também individualmente buscar a tutela de seus direitos em 
juízo. Vejamos o exemplo usado pelo autor em seu livro:
“Digamos que um vendedor de remédios anuncie um medicamento 
milagroso que permita que o usuário emagreça 5 kg por dia apenas 
tomando um comprimido, sem nenhum comprometimento à sua 
saúde. Seria um caso de enganação tipicamente difusa, pois é 
dirigida a toda comunidade. Agora, é claro que uma pessoa em 
particular pode ser atingida e enganada pelo anúncio: ela vai à 
farmácia, adquire o medicamento, ingere o comprimido e não 
emagrece. Ou pior, toma o comprimido e fica intoxicada. Nesse 
caso, esse consumidor particular tem um direito individual próprio, 
que também, obviamente, está protegido. Ele, como titular de um 
direito subjetivo, poderá exercer todos aqueles direitos garantidos 
na Lei n. 8.078/90. Poderá, por exemplo, ingressar com ação de 
indenização por danos materiais e morais.” (CAVALIERI, 2011, p. 
111)
Reflita
9
Perceba que, no caso citado, um direito difuso foi desrespeitado, porém o 
consumidor teve a possibilidade de ver seu direito individual ligado a esse 
desrespeito devidamente tutelado, independente da propositura de demanda 
coletiva.
Ainda sobre os direitos difusos, eles são tutelados via ação civil pública, portanto 
vamos continuar estudando pontos importantes desta ação em continuidade ao 
que já vimos na defesa dos direitos coletivos.
Vejamos então o que ocorrerá quando o MP determinar a inexistência de 
fundamento para a propositura:
Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as 
diligências, se convencer da inexistência de fundamento para 
a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos 
autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o 
fundamentadamente.
§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação 
arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta 
grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério 
Público.
§ 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, 
seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, 
poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas 
ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou 
anexados às peças de informação.
§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e 
deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme 
dispuser o seu Regimento.
§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de 
arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério 
Público para o ajuizamento da ação. (BRASIL, 1985)
Citação
10
Todo esse procedimento que será realizado para possibilitar o arquivamento 
garante que as autoridades do MP não arquivem por motivos pessoais, já que a 
decisão de arquivamento deve ser homologada. Por outro lado, se o MP, no curso 
de suas funções na ação civil pública, solicitar quaisquer informações ou provas e 
isso foi omitido ou retardado na busca de um arquivamento, teremos aí um crime 
caracterizado (art. 10,LACP/85).
Na ação civil pública, para evitar maiores danos as partes, o juiz poderão ainda 
conferir o chamado efeito suspensivo aos recursos, protegendo, portanto, o 
consumidor de danos maiores.
No que tange aos efeitos da coisa julgada, veja como a LACPtratou da questão:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da 
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado 
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer 
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-
se de nova prova. (BRASIL, 1985)
A LACP, originariamente, foi criada para regular a defesa em juízo de direitos difusos 
e coletivos. A figura dos direitos individuais homogêneos surgiu a partir do CDC, 
como uma terceira categoria equiparada aos primeiros,porém ontologicamente 
diversa.
Distinguem-se os conceitos de eficácia e de coisa julgada. A coisa 
julgada é meramente a imutabilidade dos efeitos da sentença.
Atenção
O art. 16 da LAP, ao impor limitação territorial à coisa julgada, não alcança 
os efeitos que propriamente emanam da sentença. Os efeitos da sentença 
produzem-se erga omnes – para além dos limites da competência territorial do 
órgão julgador. Recurso Especial improvido.
11
Conclusão
Nesta unidade, estudamos uma matéria que é de suma importância para os 
operadores jurídicos, pois uma parte da temática sobre direito do consumidorse 
dedica aos casos de direitos coletivos, difusos e individuais homogêneos. 
A consolidação desses direitos se apresenta com uma roupagem mais social na 
busca da concretização do acesso à justiça, facilitando o exercício da cidadania e 
da concretização de um dos fundamentos da república: o princípio da dignidade 
humana.
12
Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Lei de Ação Civil Pública. Diário Oficial 
da União, 25 jul. 1985.
CAVALIERI, S. Programa de Direito do Consumidor. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
WAMBIER, T. A. A. et al. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil: 
artigo por artigo. São Paulo: Ed. RT, 2015.
ACESSO A DIREITOS 
NO BRASIL 
 
SST
FREITAS, Veronica Tavares de
Acesso a direitos no Brasil / Veronica Tavares de Freitas
Ano: 2020
nº de p. 13
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
3
ACESSO A DIREITOS 
NO BRASIL 
Apresentação
Neste momento, trataremos de um assunto relacionado ao acesso a direitos 
no Brasil. Estudaremos sobre o processo de formação dos direitos a partir de 
uma breve contextualização a partir do cenário mundial. Estudaremos ainda o 
procedimento histórico do desenvolvimento dos direitos no Brasil, como foram 
sendo estruturados e, o quanto que a sociedade civil organizada e a participação 
popular têm formidável função que em relação a luta pelos direitos. 
Estudaremos a respeito da conjuntura acerca da publicação da Constituição 
Federal que em 1988 e quais são os direitos assegurados por ela, e qual é o papel 
do Estado asseverado por ela. Também estudaremos quais foram as basilares 
leis que procederam da Carta Magna que afiança direitos a população, e, por fim 
estudaremos alguns dos considerados basais desafios alocados para a população 
no que diz respeito ao acesso aos direitos consolidados, e ainda qual deve ser o 
papel dos profissionais diante desses desafios. 
Ótimo estudo. 
BREVE CONTEXTO DOS DIREITOS 
SOCIAIS NO MUNDO
Os direitos sociais são assinalados no planeta, mais precisamente a partir da do 
século XIX, enquanto fruto das manifestações bancadas por operários que foram 
contratados para laborarem nas recém instaladas indústrias, a partir da alteração 
de produção manufatureira para a produção industrializada. 
Os proletários contratados pelos capitalistas, (donos das fábricas) faziam 
manifestações e também greves com a finalidade de alcançarem melhores 
qualidades nas condições do labor, como também buscavam conseguir a regulação 
dos direitos inerentes a trabalhadores como: sistematização de carga horária, visto 
que nessa época trabalhavam em média de 14h a 16h, direito a férias, descanso 
remunerado, salários dignos etc. Esses direitos foram os primeiros a serem 
conquistados pela população, em diversos países principalmente os desenvolvidos. 
4
Cabe ressaltar que a política econômica do momento era regulada 
na teoria clássica do liberalismo em que, perfilha que o Estado 
não carece interferir no mercado e que direitos sociais precisam 
ser mínimos sociais ou seja, atendimentos pontuais e focalizados, 
não necessitando de ser uma atenção integral ao cidadão. 
Atenção
Entretanto, com o advento do século XX, foi sendo percebido que essa base liberal 
estava alterando cada vez mais a condição de vida da população e, por conseguinte 
incidindo nas desigualdades sociais, levando as pessoas viverem em condições 
subumanas. Essa situação se agravou e cada vez mais gerou crises no sistema 
econômico, o que ocasionou uma depressão na economia em escala mundial, 
levando, por exemplo, a bolsa de valores de Nova York a perder seus ganhos 
acontecendo, portanto, a quebra dessa bolsa no ano de 1929. 
Conceito de liberalismo: Política econômica em que orienta a 
diminuição do Estado nas várias decisões, sobretudo nas áreas 
social e econômica; tendo como direcionamento para o campo 
social, políticas fragmentadas e por critério de elegibilidade, e 
na economia deixando o mercado ser livre e se auto regular sem 
interferência estatal. 
Atenção
Conforme Souza (2013), esse totalidade histórica e econômica, incluídos os 
diversos problemas que foram resultados da Primeira Guerra Mundial, alocam em 
alvo de abalançamento a efetividade da teoria liberal na economia, e acontecem de 
assumir uma nova referência teórica, difundida pelo economista britânico por John 
Maynard Keynes, teoria que ficou conhecida como Keynesianismo. 
Nessa concepção, a responsabilidade do Estado passa a ser basal visto que ele se 
coloca na condição de intervencionista e regulador do mercado. Essa mudança se 
fez necessário devido aos problemas da crise capitalista acima citada. 
Outra mudança que foi promovida por esse novo modelo econômico, é de que 
o Estado devesse se responsabilizar por sua população, provendo meios de 
atendimento as suas necessidades e demandas, assim surge o Estado de Bem 
5
Estar Social, em que o Estado sistematiza direitos e organiza políticas com ações 
que possam ofertas direitos sociais a população que deles necessitarem, levando 
condição de vida melhor para seus cidadãos. 
Por fim, cabe ressaltar que o Brasil não teve esse tipo de modelo de acesso 
a direitos, e alguns países que o estabeleceram até os atuais dias possuem 
esse sistema, mas com alterações que se fazem necessárias de acordo com a 
conjuntura social e econômica que estejam enfrentando. 
DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL E A 
CONSOLIDAÇÃO DESTES COM A 
PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL 1988 
No início do século XX, o Brasil encontrava-se estreando seu procedimento de 
desenvolvimento industrial, até o momento em questão, o país tinha sua única base 
econômica centrada na agricultura. 
Enquanto em outros países considerados desenvolvidos, já 
tinham promulgado a proteção social aos seus cidadãos; o 
Brasil nos elementares anos do século XX estava solidificando a 
industrialização, e ainda recebendo muitos imigrantes que tinham 
a finalidade de laborarem nessas indústrias ou com a agricultura.
Atenção
Cabe lembrar que até esse momento supramencionado, os primeiros exemplos 
de atenção a população no que diz respeito a necessidades sociais, aconteceram 
através da caridade cristã que era praticada pelas leigas e da filantropia muito 
exercida pelas santas casas de misericórdia, nesse compasso, o Estado se colocava 
completamente distante no que diz respeito a responsabilidade de prover ações que 
pudesse atender a população em suas necessidades humanas e sociais. 
Entretanto, devido não ter um sistema de proteção social reunido, ocorreram várias 
mobilizações e, por conseguintes manifestações por parte dos trabalhadores, em 
que reivindicavam que o Estado pudesse organizar e implementar políticas que 
viabilizasse o acesso da população a direitos. 
6
Temos como destaque enquanto primeira lei de regulação de 
algum direito promovido pelo o Estado, a Lei Eloy Chaves em 1923 
como resultado das manifestações por parte desses trabalhadores 
das primeiras indústrias no Brasil. No entanto, aqueles que não 
eram trabalhadores permaneceram desprovidos de qualquer tipo 
de direitos por parte do Estado brasileiro. 
Atenção
Outras ações que foram sendo implementadas no Brasil, no entanto, voltavam-se 
para a população trabalhadora que tivesse vínculoformal de trabalho e, que por sua 
vez, contribuía com a previdência social. No governo de JK cabe destacar que as 
ações de atenção a população que não tinha acesso aos direitos trabalhistas por 
encontrar-se em situação de desemprego etc, se fazia ainda através da caridade 
cristã promovida pela igreja. E, por parte do Estado, as ações tinham caráter 
focalistas e pontuais, e com a instauração do governo ditatorial militar, se agravou 
a situação, visto que mais pessoas se tornaram a margem da linha da pobreza ou 
abaixo dela.
Tal situação perdurou até meados da década de 1980 e com o acabamento 
oficial do governo autocrático militarista no ano de 1985, o Brasil passa a ter 
novamente a abertura política, a população brasileira volta a ter o direito de votar 
e muitas mobilizações populares e de profissionais das áreas de saude, educação, 
previdência social, assistência social, sindicatos, associações, artistas etc, foram 
desenvolvendo manifestações em várias partes do Brasil, conclamando direitos 
sociais que pudessem ser de caráter universal, e assegurasse condições de vida 
digna a população brasileira, e que o Estado fosse o principal responsável em prover 
esses direitos sem cobrar qualquer tipo de contribuições por parte dos cidadãos. 
Assim, essas várias mobilizações e manifestações de populares e outros 
segmentos da sociedade civil, pressionaram o Estado para desenvolver uma nova 
Constituição Federal e, em 1988 tivemos a promulgação da Carta magna e que 
assevera que os direitos sociais são fundamentais e dever do Estado e direito de 
todos os cidadãos.
Na carta magna, os direitos sociais estão dispostos no artigo 6º a educação, a 
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência 
social, a proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados. 
7
Principais legislações que asseguram os direitos sociais asseverados a partir da promulgação da 
Constituição Federal de 1988
Constituição 
Federal de 
1988
Lei orgânica da 
assistência social - 
LOAS - 8742/1993
Lei Maria da Penha - 
11.340/2006 
Estatuto da Criança 
e do Adolescente 
(Lei nº 8.069/1990)
Lei de Diretrizes e 
Base da Educação - 
LDB Nº 9394/1996
Estatuto da 
Igualdade Racial - 
Lei nº 12.288/2010 
Lei organica da 
saude - LOS - 
8.080/1990
Estatuto do idoso - 
Lei 10.741/2003
Estatuto da Pessoa 
com deficiência - 
Lei nº 13.146/2015
Fonte: Elaborada pela autora (2020).
Precisamos considerar que tais direitos foram conquistados muito recentemente 
e que a participação popular e dos organismos da sociedade civil foi fundamental 
para que tivéssemos uma nova constituição que assegurasse os direitos enquanto 
dever do Estado. É fundamental considerarmos os avanços que tivemos em termos 
de garantias constitucionais no que tange a direitos comparando com a realidade 
que até meados dos anos de 1980 permeava no país. 
Contudo devido as intensas desigualdades sociais que assolam o Brasil, 
esses direitos por mais que sejam garantidos em leis e políticas é crucial que 
os profissionais se coloquem como articuladores e viabilizadores de direitos 
continuamente para que o que está assegurado em leis possa se materializa e 
assim, contribuirmos para o acesso aos direitos sociais. 
DESAFIOS DE ACESSO A DIREITOS 
NO BRASIL
O Brasil permanece como um país de imensas desigualdades. No entanto, a Constituição 
de 1988 garante uma série de direitos à população do país. A Carta Magna, como também 
8
é conhecida a Constituição brasileira, foi construída como resultado do processo de 
redemocratização nacional, com a dissolução do último período ditatorial, sendo a base 
de todo o nosso ordenamento jurídico contemporâneo. 
Trata-se do pacto social do atual regime. Assim, são formuladas leis 
constantemente, acompanhando o desenvolvimento histórico da sociedade, mas 
nenhuma legislação pode contradizer o que está escrito na Constituição, e ela rege 
a ação de todo o poder público. 
O texto constitucional apresenta amplas garantias para a promoção da cidadania e 
da justiça social no país. Segundo seu texto (BRASIL, 1988):
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades 
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, 
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação
(...) Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no 
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos 
desta Constituição;
(...) VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo 
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da 
lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
(...) XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por 
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa 
9
e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta 
Constituição;
(...) XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação 
ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que 
a lei fixar;
(...) Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o 
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, 
a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, 
na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional 
nº 90, de 2015)
(...) Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios:
(...) V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, 
à tecnologia, à pesquisa e à inovação;  (Redação dada pela Emenda 
Constitucional nº 85, de 2015)
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas 
formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento 
alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das 
condições habitacionais e de saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, 
promovendo a integração social dos setores desfavorecidos
No entanto, apesar de contarmos com uma Constituição bastante avançada, a 
realidade brasileira segue com um enorme abismo social e dificuldade de acesso 
a A questão do acesso à saúde é um dos gargalos nacionais. Contamos com um 
dos sistemas mais avançados do mundo, no sentido de sua formulação, que é o 
Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a realidade brasileira é da dificuldade 
ao acesso de forma generalizada. Segundo pesquisa encomendada pelo Conselho 
Federal de Medicina (CFM) (2018), realizada pelo Datafolha em 2018, 89% dos 
brasileiros classificam a saúde (pública ou privada) como péssima, ruim ou regular. 
10
Essa é a avaliação de 94% dos cidadãos que possuem plano de saúde e por 87% 
dos que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). O tempo de espera é o 
maior problema identificado no SUS, incluindo-se também a dificuldade de acesso 
a exames ou cirurgias. Além disso, a má gestão do dinheiro público é também 
identificada como um gargalo nessa área por parte da população. 
O SUS
Baseia-se no princípio constitucional segundo o qual a saúde é direitos de 
todos e dever do Estado. É considerado um dos maiores sistemas de saúde 
pública de todo o mundo. 
O SUS
Prevê a participação integrada da União, dos Estados e municípios. É 
composto pela atenção primária, de média e alta complexidade, pelos 
serviços de urgência e emergência, pela atenção hospitalar,pela vigilância 
epidemiológica, sanitária e ambiental, e pela assistência farmacêutica. Os 
seus princípios são o da universalização da saúde, como um direito de todas 
as pessoas; a equidade, guiada pela perspectiva de reduzir desigualdades; 
e pela integralidade, considerando os indivíduos de forma integral, com a 
necessidade de articulação da saúde com outras dimensões sociais.
O acesso à saúde dialoga também com a garantia de uma gama de outros 
direitos, que afetam diretamente a saúde e o bem-estar da população. É o caso do 
saneamento básico. Tratamento de esgoto, água encanada, condições mínimas 
de moradia, tudo isso é garantido pela Constituição. No entanto, a situação da 
população segue alarmante. 
Outro problema grave de acesso a direitos é a educação. A sua disponibilidade 
de forma profundamente desproporcional para a população é estruturante das 
desigualdades sociais, refletindo-se nas condições de acesso a trabalho e mesmo 
na consciência de saber dos próprios direitos de cada um.
 O caso limite disso é a persistência do analfabetismo. Apesar de consideráveis 
avanços ao longo do último século, essa dura realidade ainda persiste para milhões 
de brasileiros. Em 2018, no Brasil, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos 
ou mais foi estimada em 6,8% da população, correspondendo a 11,3 milhões de 
analfabetos no país. 
11
O analfabetismo é uma situação grave de privação de direitos, dificultando a vida 
da população em muitos sentidos. Esse fenômeno se intensifica com os avanços 
tecnológicos atuais, sendo a informatização associada ao uso da escrita como um 
dos principais meios de acesso. 
Além disso, mesmo no caso dos alfabetizados, nota-se que a precariedade da 
formação dos brasileiros consiste em um desafio nacional profundo. Afinal, 
segundo dados do IBGE de 2018, 33,1% da população possui o nível de instrução 
apenas referente ao ensino fundamental incompleto.
Desafios e possibilidades
POSSIBILIDADES DE 
ENFRENTÁ-LO ATRAVÉS 
DA POSTURA CRÍTICA 
DO PROFISSIONAL E 
ORIENTANDO A POPULAÇÃO 
A RESPEITO DE COMO 
PARTICIPAR DOS ESPAÇOS 
DE DECISÃO 
DESAFIOS A EFETIVAÇÃO 
DOS DIREITOS SOCIAIS 
Fonte: Elaborado pela autora, (2020).
Destarte, o que queremos explicitar aqui é que os desafios são imensos e 
corroboram para a prática da desigualdade social que persiste no país, porém não 
podemos enquanto profissionais se colocar na condição de pessimistas olhando 
para a situação e apenas ficar nas lamentações. Por isso se faz necessário que 
a população seja cada vez mais sabedora dos seus direitos e da sua valiosa 
participação no controle social das políticas que efetivam direitos, para que possam 
propor, apresentar suas indagações e acompanhar as ações do poder público. 
Contudo, os profissionais que atuam no acesso a garantia de direitos precisa 
ter a compreensão do todo, reconhecendo o que foi de conquista, tendo acesso 
aos desafios e não se limitar a eles, ou seja, buscar enfrenta-los de forma crítica, 
analítica e promovendo ações de fortalecimento da população e estratégias para 
viabilizar o que é direito social. 
12
Fechamento 
Aprendemos sobre o processo de formação dos direitos, onde se originou as 
primeiras mobilizações e manifestações e o quanto que a participação da 
população é fundamental no procedimento de pressão do Estado para que ele 
possa assegurar os direitos inerentes a população. Estudamos também o processo 
histórico da formação dos direitos no Brasil, como eles foram sendo estruturados 
e, mais uma vez verificamos o importante papel que a sociedade e a população têm 
em relação a luta pelos direitos. 
Estudamos a respeito do contexto de promulgação da Constituição Federal que se 
deu em 1988 e quais são os direitos assegurados por ela, e que o Estado deve ser 
o principal responsável em prover esses direitos. Também estudamos quais foram 
as principais leis que derivaram da Constituição de 1988 para assegurar direitos a 
população, e, por fim estudamos alguns dos principais desafios colocados para a 
população no que tange o acesso aos direitos consolidados, e também qual deve 
ser o papel dos profissionais diante desses desafios. 
13
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado 
Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: <https://www.senado.leg.br/atividade/
const/con1988/con1988_08.09.2016/CON1988.asp>. Acesso em: 23 set. 2020.
BRASIL. Cartilha do Censo 2010: Pessoas com Deficiência. Brasília: SDH-PR/SNPD, 2012.
BRASIL. Agência IBGE. Mulher estuda mais, trabalha mais e ganha menos do que 
o homem. 28 mar. 2019. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/20234-mulher-estuda-mais-
trabalha-mais-e-ganha-menos-do-que-o-homem>. Acesso em: 23 set. 2020.
BRASIL. Agência IBGE. Munic: mais da metade dos municípios brasileiros não 
tinha plano de saneamento básico em 2017. 20 set. 2018. Disponível em: <https://
agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
noticias/releases/22611-munic-mais-da-metade-dos-municipios-brasileiros-nao-
tinha-plano-de-saneamento-basico-em-2017>. Acesso em: 23 set. 2020.
BRASIL. IBGE Educa. Conheça o Brasil. Disponível em: <https://educa.ibge.gov.br/
jovens/conheca-o-brasil/populacao/18317-educacao.html>. Acesso em: 23 set. 2020.
BRASIL Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde (SUS): estrutura, princípios 
e como funciona. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/sistema-unico-de-
saude.>. Acesso em: 23 set. 2020.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Imprensa destaca pesquisa encomendada pelo 
CFM ao Datafolha sobre a percepção do brasileiro sobre a saúde. 2018. Disponível 
em: <https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&
id=27701:2018-06-28-15-18-26&catid=3>. Acesso em: 23 set. 2020.
SOUZA, C.R. Seguridade Social: Reflexões sobre a trajetória histórica, limites e 
desafios. In: VI Jornada Internacional de Políticas Públicas, UFMA – Universidade 
Federal do Maranhão. 2013. 
Direitos Humanos 
no Brasil
 
SST
Rascke, K. L.;
Direitos Humanos no Brasil / Karla Leandro Rascke
Ano: 2020
nº de p.: 11 páginas
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
Direitos Humanos no Brasil
3
Apresentação
Os direitos humanos são processos não lineares oriundos de lutas emancipatórias 
que privilegiam a dignidade humana e a cidadania dos que estão em vulnerabilidade 
social.
Estes direitos humanos possuem caráter universal e são traduzidos pelos direitos 
fundamentais na órbita interna, ou seja, dentro do Ordenamento Jurídico Brasileiro. 
Sistemas internacionais de garantia 
dos direitos humanos
Após a 2ª Guerra Mundial, começou a estruturar-se um Sistema Global e Sistemas 
Regionais de Proteção aos Direitos Humanos. Paralelamente, declarações, tratados 
e instrumentos internacionais foram criados e ratificados, buscando proteger uma 
ampla gama de direitos humanos, tais como direitos políticos, civis, econômicos e 
culturais.
Há sistemas internacionais para a proteção 
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
Assim, foi instituído o primado da jurisdição internacional e o indivíduo passou a ser 
sujeito de Direito Internacional. Esse momento é lembrado por Piovesan (2015a, p. 197):
4
A necessidade de uma ação internacional mais eficaz para a proteção dos 
direitos humanos impulsionou o processo de internacionalização desses 
direitos, culminando na criação da sistemática normativa de proteção 
internacional quando as instituições nacionais se mostram falhas ou 
omissas na tarefa de proteger os direitos humanos.
O Sistema Regional de Proteção aos Direitos Humanos ao qual o Brasil pertence 
é o Sistema Interamericano, que já estudamos. Ele ratificou diversos Tratados 
Regionais e Internacionais relativos aos direitos humanos, transcritos em nossa 
Constituição Federal, como direitos fundamentais. 
Os direitos fundamentais estão definidos na Constituição Federal de 1988
Fonte: Deduca (2020)
Há relações entre oDireito Internacional e o Direito Interno, ou seja, como esses 
dois direitos comunicam-se. Atualmente, duas doutrinas tratam desse assunto: (i) 
doutrina dualista e (ii) doutrina monista. Vamos a elas:
Doutrinas
Doutrina dualista – esta doutrina, defendida por 
dois juristas
Triepel (Alemanha) e Anzillotti (Itália) entendem que o Direito Internacional e o 
Direito Interno são dois sistemas independentes. O primeiro regula somente a 
relação entre Estados; e o segundo, a relação entre os indivíduos e o Estado. Dessa 
5
forma, não poderiam ocorrer quaisquer conflitos entre eles, dado que as matérias de 
que tratam são completamente diversas. 
Os tratados internacionais representariam tão somente compromissos externos 
dos Estados, e não poderiam gerar, na ordem interna, compromissos. Há, porém, 
uma exceção a essa regra, caso o tratado fosse recebido pelo Direito Interno na 
forma de uma norma típica de Direito Interno, como uma lei, um decreto etc. Nessa 
hipótese, havendo conflito, configuraria uma dissecção entre normas internas e, não 
mais uma divergência entre tratado internacional e lei interna. 
Nas palavras de Mazuolli (2018, p. 34):
Para esta doutrina, as normas de Direito Internacional têm eficácia somente 
no âmbito internacional, ao passo que as normas no Direito interno só 
têm eficácia na ordem jurídica interna, de forma que, para o ingresso das 
normas internacionais provenientes de tratados no ordenamento jurídico 
pátrio, após a ratificação, far-se-ia necessário incorporar legislativamente 
o conteúdo desses instrumentos ao ordenamento jurídico interno (técnica 
da “incorporação legislativa).
Doutrina monista
Segundo essa doutrina, as duas ordens jurídicas (internacional e interna) coexistem, 
sendo que a ordem internacional tem primazia sobre a interna. Por esse raciocínio, 
a ratificação de um tratado por um Estado por si só obriga-o a cumprir as 
obrigações ali existentes, sem a necessidade de edição de uma lei interna. 
Esse entendimento, porém, não é unânime. Algumas correntes surgiram a partir 
desta ideia central:
Monismo nacionalista 
o Estado tem o poder discricionário de adotar ou não as regras determinadas 
em instrumento internacional. A ordem jurídica nacional é soberana.
Monismo internacionalista 
segundo essa corrente, o Direito Internacional é hierarquicamente superior 
ao Direito Interno de cada Estado e a ele deve subordinar-se. Em caso de 
6
conflito entre o Direito Internacional e o Direito Interno, o primeiro sempre 
deve prevalecer.
Monismo internacionalista dialógico 
aplica-se quando falamos de normas internacionais de direitos humanos. 
Nesse caso, deve prevalecer a norma mais benéfica como mais favorável ao 
ser humano.
Os direitos humanos são normas internacionais que advém de lutas 
emancipatórias em prol dos vulneráveis
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
Os direitos humanos dentro do 
ordenamento jurídico brasileiro
A Constituição de 1988, também chamada de “Constituição Cidadã”, foi a primeira 
constituição elaborada sob um Regime Democrático de Direito. As constituições 
anteriores de 1967 e 1969 foram outorgadas durante a ditadura militar que 
governou o país de 1964 a 1985.
Durante esse obscuro período do país, houve uma verdadeira crise de legitimidade e 
violações de direitos humanos; uma constante no cotidiano dos brasileiros.
7
O Brasil era abertamente criticado por organismos internacionais de direitos 
humanos pela prática de assassinatos, torturas, desaparecimentos e desrespeito à 
liberdade de expressão, dentre outros. Muitos desses casos foram, inclusive, objeto 
de denúncia a órgãos de proteção de direitos humanos regionais e globais, a nível 
internacional.
Sistema de Normas Internacionais
SISTEMA GLOBAL
ONU
SISTEMA REGIONAL
Ex.: OEA
Fonte: Elaborado pelo o autor (2020)
Flavia Piovesan (2013, p. 57) enfatiza a importância da Carta Magna:
A dignidade humana e os direitos fundamentais vêm a constituir os 
princípios constitucionais que incorporam as exigências de justiça e 
valores éticos, conferindo valor axiológico a todo o sistema jurídico 
brasileiro. Na ordem de 1988, esses valores passam a ser dotados de uma 
especial força expansiva, projetando-se por todo universo constitucional e 
servindo como critério interpretativo de todas as normas do ordenamento 
jurídico nacional.
A Constituição de 1988 trouxe uma nova perspectiva para a proteção e 
implementação dos direitos e garantias fundamentais que é uma materialização 
dos Direitos Humanos. 
Procurando ampliar a proteção dos direitos humanos em âmbito nacional, a 
Constituição conferiu um tratamento diferenciado aos Tratados Internacionais, 
conforme o determinado no Art. 5º, § 2º (BRASIL, 1988).
A Constituição reconheceu, de forma expressa, uma dupla fonte normativa: 
8
(i) o Direito Interno 
que determina, expressa e implicitamente, no texto constitucional, os Direitos 
Humanos; e
(ii) o Direito Internacional
por meio da ratificação de acordos internacionais de proteção aos Direitos 
Humanos. Os tratados internacionais passaram a ser fontes constitucionais 
com a mesma eficácia e igualdade dos direitos expressos ou implícitos na 
Constituição.
Os direitos humanos dentro da Constituição Federal
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
Flavia Piovesan (2013, p. 58) corrobora esse entendimento, conforme o trecho a 
seguir:
Logo, por força do 5º, §§1º e 2º da Carta de 1988 atribui aos direitos 
enunciados em tratados internacionais a hierarquia de norma 
constitucional, incluindo-os no elenco dos direitos constitucionalmente 
garantidos, que apresentam aplicabilidade imediata. A hierarquia 
constitucional dos tratados de proteção dos direitos humanos decorre da 
previsão constitucional do 5°, § 2º, à luz de uma interpretação sistemática 
e teleológica da Carta, particularmente da prioridade que atribui aos 
direitos fundamentais e ao princípio da dignidade humana.
9
Status dos direitos humanos na 
Constituição Federal de 1988
Por um longo período, esse status constitucional foi objeto de controvérsia 
doutrinária, em especial quanto aos Tratados Internacionais de Direitos Humanos. A 
Emenda 45, de 2004, teve o condão de resolver, de forma definitiva, essa questão ao 
acrescentar o §3º do art. 5º da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).
Essa Emenda determina que os tratados e convenções internacionais sobre 
direitos humanos aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois 
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às 
emendas constitucionais, passando a ter o status delas. Os Tratados de Direitos 
Humanos passam a situar-se no mesmo plano hierárquico das demais normas 
constitucionais.
Para finalizarmos essa relação entre Constituição de 1988 e Tratados Internacionais 
de Direitos Humanos, precisamos entender qual procedimento deverá ser adotado 
em caso de conflito entre as normas contidas neles. Seguem as possíveis 
situações:
Tratados Internacionais de Direitos Humanos
Compatibilização com o determinado na Constituição.
Complementação com os direitos previstos no texto constitucional.
Colisão com o ordenamento jurídico interno.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)
No primeiro caso, não haveria qualquer problema, tendo em vista que a Constituição 
Federal de 1988 prevê vários artigos cujo objeto é proteção aos direitos humanos, 
tais como os artigos 5º, III e LVIII (BRASIL, 1988), dentre outros; no segundo, embora 
ainda não existentes no ordenamento jurídico nacional, os Tratados Internacionais 
servem exatamente para preencher essa lacuna e auxiliar na efetividade na 
proteção aos Direitos Humanos; e, por fim, no terceiro, deparamo-nos com um difícil 
conflito. A solução, contudo, é dada pela prática adotada pela jurisprudência dos 
órgãos de supervisão internacional de direitos humanos. A regra nos é dada por 
Piovesan (2013, p. 73):
10
Logo, na hipótese de eventual conflito entre o Direito Internacional dos 
Direitos Humanos e o Direito interno, adota-se o critério da normamais 
favorável à vítima. Em outras palavras, a primazia é da norma que melhor 
proteja, em cada caso, os direitos da pessoa humana. A escolha da norma 
mais benéfica ao indivíduo é tarefa que caberá fundamentalmente aos 
Tribunais nacionais e a outros órgãos aplicadores do direito, no sentido 
de assegurar a melhor proteção possível ao ser humano.
Citamos, a título de exemplo da Constituição de 1988, que reflete a incorporação, 
no ordenamento jurídico interno, de direitos humanos consagrados em Tratados 
Internacionais ratificados pelo Brasil, artigos 1º, IV; 5º, III e XLVII; 22 da 
Constituição Federal de 1988, que serão entendidos na ordem interna como Direitos 
Fundamentais. 
Finalizamos este tópico lembrando você da relação entre o Direito Internacional e a 
ordem constitucional. Nas palavras de Flavia Piovesan (2015, p. 47-48):
O Poder Constituinte soberano, criador de Constituições, está hoje 
longe de ser um sistema autônomo que gravita em torno da soberania 
do Estado. A abertura do Direito Internacional exige a observância de 
princípios materiais de política e direitos internacionais tendencialmente 
informados do Direito interno. Daí a primazia da dignidade humana como 
paradigma e referencial ético, verdadeiro super princípio a orientar o 
constitucionalismo contemporâneo nas esferas local, regional e global, 
doando-lhe especial racionalidade, unidade e sentido.
Fechamento
Nesta Unidade, estudamos a estruturação dos Direitos Humanos e seus sistemas, 
global e regional. A influência e a interrelação entre o Direito Internacional e o 
Direito Interno, já que os Direitos Humanos transitam na órbita internacional e, 
quando adentram na legislação pátria, interna, passam a ser conhecidos como 
Direitos Fundamentais.
Estudamos os status dos Tratados Internacionais e a EC nº 45, de 2004 que 
determinou o rito e o acolhimento dos Tratados Internacionais que versam sobre os 
Direitos Humanos.
11
Referências
BRASIL. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988. 
______. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo 
Facultativo.
______. Emenda Constitucional nº 45, De 30 De Dezembro De 2004. 
DIÓGENES JUNIOR, J. E. N. Gerações ou dimensões dos direitos fundamentais? 
MAZZUOLI, V. O. Curso de Direito Internacional Público. Rio de Janeiro: Forense, 
2018. 
PIOVESAN, F. Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2013. 
______. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 6. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2015a. 
______. Direitos Humanos e Justiça Internacional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015b. 
SARLET, I. W. A Eficácia dos Direitos Fundamentais: Uma Teoria Geral dos Direitos 
Fundamentais na Perspectiva Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 
2018.
DIÁLOGOS 
INTERCULTURAIS
 
SST
ROCHA, Tania; VINICIUS, William
Diálogos interculturais / Tania Rocha; William Vinicius 
Ano: 2020
nº de p. 11.
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3
DIÁLOGOS INTERCULTURAIS
Apresentação
Neste momento, trataremos de um assunto extremamente importante na área de 
humanas que é os estudos relacionados a diálogos interculturais. Começaremos 
a estudar sobre a desigualdade e a orientação sexual, debatendo sobre o que é 
a homossexualidade, heterossexualidade e bissexualidade com base nos papeis 
socialmente atribuídos ao genero.
Na sequência iremos estudar sobre a diversidade religiosa contemplando o preceito 
da pluralidade. E, por fim, vamos conhecer sobre os espaços desenvolvidos para 
a construção de diálogos interculturais. Fique atento a todas as informações 
presentes aqui, e vamos juntos ao processo de conhecimento e aprendizagem a 
respeito da relevância desses assuntos.
Bons estudos. 
DESIGUALDADE E ORIENTAÇÃO SEXUAL
É frente a uma concepção democrática de educação que os debates ficam acirrados 
no contexto escolar, dando espaço para a compreensão da desigualdade e da 
orientação sexual. 
Apesar das lutas travadas entre a sociedade burguesa (que considera o gênero 
masculino superior ao feminino) e os movimentos sociais (em defesa do respeito às 
diferenças e condições de igualdade), ainda se percebe o masculino sobrepondo-
se ao feminino nas práticas sociais cotidianas. Tal perspectiva pode ser vista a 
partir das brincadeiras que cercam na escola meninos e meninas, dos tipos de 
brinquedos, dos papéis sociais que ambos assumem, reproduzindo a esfera familiar 
de relações desiguais entre o pai e a mãe.
Com certa frequência, à mulher cabe a dupla jornada, além do trabalho fora de 
casa, o trabalho doméstico, contando muito pouco com seu companheiro para 
dividir as tarefas. Tal situação está mais atrelada àquelas famílias cujas condições 
econômicas são efetivamente mais baixas, com nível mais baixo de escolaridade, 
na maioria das vezes, o que dá vazão ao preconceito.
4
Os papéis assumidos socialmente acabam por expressar as 
orientações sexuais estabelecidas como corretas e padronizadas, 
em que prevalece a heterossexualidade, em que o casal é constituído 
por uma pessoa de orientação sexual masculina e outra feminina.
Atenção
Entendemos que, com a liberdade sexual datada a partir dos anos 1980 e 1990, 
começa-se a descobrir o próprio corpo, que ultrapassa o mero mecanismo de 
produzir no modo capitalista para se autodescobrir como sujeito de direito e de 
prazer, trazendo discussões inerentes às dimensões da homossexualidade e 
às relações homoafetivas, à bissexualidade e à transexualidade, marcando as 
diferenças entre os conceitos de sexo, identidade e gênero como campos próprios e 
distintos da orientação sexual, tida como meramente biológica. 
Base genética
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
Nascemos biologicamente com um sexo, xx (feminino) ou xy (masculino), expresso 
corporalmente pelas genitálias e pelos cromossomos. Ainda podemos nascer sob a 
intersexualidade, uma manifestação diferenciada do nosso aparato biológico, devido 
às gônadas caracterizarem-se de forma a apresentar aspectos dos dois sexos, em 
que, por exemplo, o aparelho genital não é condizente com os cromossomos. 
5
No entanto, a orientação sexual é que determina a atração entre os sexos, 
direcionando para qual lado está orientada a sua sexualidade, ou seja, para o lado 
da homossexualidade, bissexualidade ou heterossexualidade.
Nesse contexto, a homossexualidade é a atração entre pessoas do mesmo 
sexo, a bissexualidade apresenta a disponibilidade de a orientação sexual 
estar tanto para o sexo oposto ao seu quanto para pessoas do mesmo sexo, 
já a heterossexualidade representa que tal atração une uma pessoa de sexo 
masculino e outra de sexo feminino.
A identidade de gênero está relacionada com a maneira como 
você se percebe e se constrói socialmente, independentemente 
do sexo. Nesse sentido, a pessoa pode ter mais afinidade com o 
jeito feminino ou masculino de ser e assim busca agir.
Atenção
Tal debate no interior escolar, rondando gênero, raça, desigualdade e 
orientação sexual, amplia visões frente ao conhecimento, lidando com a 
realidade de forma interdisciplinar, alargando com isso os horizontes do 
conceito de cidadania para todos.
[...] uma educação comprometida com uma nova ordem social precisa ser 
capaz de romper com conceitos universais e imperativos morais e investir 
em uma prática que respeite a subjetividade e proporcione ao indivíduo 
o exercício da liberdade. Esse compromisso implica na existência de 
um(a) novo(a) educador(a), de novos conteúdos programáticos, na 
ressignificação do processo de avaliação, enfim, em uma nova prática 
educativa (PASSOS; ROCHA; BARRETO, 2011, p. 36).
Por fim, é nesse processo em que as pessoas vão se construindo socialmente 
é que a escola deve se apresentar como uma interlocutora das representações 
da sociedade, temos que ser educadores atentos, a fim de sabermos como lidar 
com tais tensões, respeitando as culturas do feminino e do masculino, não como 
sobrepostas, mas como sendo diferenciadas.
6DIVERSIDADE RELIGIOSA
A diversidade religiosa vem sendo outro fator inerente a uma cultura inter, ou 
seja, onde existe um território – meio que permite o debate entre as muitas 
tensões da vida cotidiana.
Para Trigg (2016, p. 21) a diversidade religiosa tem um objetivo nítido:
[...] modelar cada vez mais as relações e as dinâmicas do ocidente na 
sociedade pós-secular, onde o sagrado não é facilmente marginalizável, 
ou até suprimível [...]. A ciência não substitui a fé, mas se integra com ela, 
pois a demanda pela verdade, pelo absoluto e pelo eterno nunca morre e 
só se torna mais premente à medida que o homem progride.
É, portanto, na pluralidade mundana, em termos de religiosidade, que nos 
deparamos com o ser humano em busca da fé. Tal fato configura várias 
expressões de Deus e sua pretensão de verdade única e absoluta. Sendo assim, 
as questões e crenças crescem e se reconstroem em termos de experiências de 
Deus, tendo tais práticas que codividir o mesmo território. Frente a tal situação 
que envolve filosoficamente o ser humano diante do mundo, percebemos 
inclusive respaldos políticos e com aspectos multifacetados de uma cultura 
impregnada no cotidiano de tal forma que os limites e as liberdades se esbarram 
em busca de diálogos sobre o tema.
Segundo Center, Mccollough e Larson (2016), o ocidente está focado no fanatismo 
religioso e em suas derivações fundamentalistas. Seja como for, tem culturalmente 
que incluir tal problemática no nível da respeitabilidade que cada indivíduo 
tem de expressar sua fé, tornando tais práticas inerentes ao espaço público e 
consequentemente ao espaço escolar.
Na escola, não podemos banalizar o relativismo que por vezes faz 
parte do conceito de religiosidade, mas devemos ser tolerantes e 
aprender com tais expressões da cultura e principalmente da fé 
que envolve a cidadania.
Atenção
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A participação do aluno em determinadas atividades pedagógicas que têm por 
cenário a diversidade religiosa deve ser considerada nos planejamentos e projetos 
dos educadores e educadoras. Devemos nos lembrar que o nosso país é laico, ou 
seja, tem uma posição neutra no campo religioso.
Nossa cultura abraça tal diversidade, e mesmo com a predominância do 
catolicismo, a diversidade nesse campo tem igualmente influências da 
forma como fomos historicamente colonizados. Nesse contexto, temos uma 
quantidade razoável de religiosidade: cristianismo, protestantismo, testemunhas 
de Jeová, espiritismo, budismo, islamismo, judaísmo e as religiões afro-
brasileiras, como o candomblé.
Uma estátua, ou um pequeno objeto, é miraculosamente encontrado num 
canto do solo, numa fonte de água cristalina, numa poça também cristalina, 
enfim. De imediato nem o padre nem a igreja intervêm na descoberta, que 
passa a ser uma constatação predominantemente leiga frente à instituição 
eclesiástica, mas que pertence, nas palavras do historiador Dupront, a um 
povo fiel que se dá a si mesmo, antes da disciplina eclesiástica, o objeto 
sacro de que tem necessidade (NASCIMENTO, 2009, p. 127).
O pensamento de Nascimento (2009) reflete o tanto de valor que o ser humano 
dá à imagem, ao rito, à simbologia atrelados às diversas religiosidades e que nos 
cabe debater, ampliando o leque de olhares para além do catolicismo e respeitando 
todas as expressões de fé. No candomblé, enquanto culto dos escravos africanos, 
existe um deus principal, distinto do deus cristão – Olorum ou Zambi (dono do céu). 
O filho desse deus é Oxalá, criador da humanidade, e temos os orixás (que são as 
divindades ou os santos), entre eles encontramos: Xangô, Oxum, Iansã, Iemanjá, 
entre outros.
Para aprofundar os seus conhecimentos sobre a formação cultural 
brasileira, assista ao filme “Caramuru – a Invenção do Brasil”, uma 
comédia com 85 minutos, lançada em 2000 pela distribuidora 
Columbia Pictures. Ele aborda que em 1º de janeiro de 1500 um 
novo mundo é descoberto pelos europeus, graças a grandes 
avanços técnicos na arte náutica e na elaboração de mapas.
Saiba mais
8
Por fim, ressaltamos que ampla parte da diversidade religiosa que temos no Brasil 
advém da Europa e do cristianismo, dos negros africanos e dos indígenas que 
trazem na base a pajelança, o Pajé, o que recebe o espírito de guias, de animais e 
de seres fantásticos (como a cobra-grande). Percebe-se que tamanha diversidade 
está envolta em ritos de passagem variados, crendices e superstições, imagens, 
amuletos e ainda promessas e simpatias, de acordo com Ortêncio (2004).
ESPAÇOS PARA A CONSTRUÇÃO DE 
DIÁLOGOS INTERCULTURAIS
É na proposição de planejamentos, currículos, projetos educativos, em que 
os debates possam vir e seus conceitos sejam construídos e desprovidos de 
preconceito, que estaremos efetivamente educando com qualidade e para a 
humanização, inserindo pessoas, seus estilos, jeitos de ser e de sentir o mundo. 
Sendo assim, passamos a compreender a escola como um espaço democrático que 
pode empreender diálogos interculturais.
Segundo Moreira (1997, p. 6), temos que: 
Com a perspectiva de atender aos desafios postos pelas orientações 
e normas vigentes, [...] olhar de perto a escola, seus sujeitos, suas 
complexidades e rotinas e fazer as indagações sobre suas condições 
concretas, sua história, seu retorno e sua organização interna.
Considerar o outro no projeto educativo da instituição escolar é uma atitude 
de humanização, de respeito e de atuar com a realidade em que os alunos se 
encontram, sem camuflagens, mas a partir do saber de que estamos lidando com 
sujeitos históricos, portanto, discentes construtores, e não reprodutores de uma 
moral preconcebida pelos meandros sociais. 
Moreira e Candau (2007, p. 28) indagam sobre a construção do 
currículo e fazem uma reflexão em que se retrata o currículo como 
sendo uma espécie de foto do momento histórico vivenciado 
coletivamente na sociedade. Os autores reconhecem que a escola 
democrática a ser constantemente construída passa por um 
currículo que não pode deixar de lado a cultura no processo de 
construir conhecimento e que a multiculturalidade e a diversidade 
devem ser contempladas nas bases curriculares das escolas. 
Atenção
9
Estar, portanto, educando dentro das realidades significa compreender que o 
currículo traz a vida para o interior da instituição escolar e que a vida não se 
traduz de maneira retilínea, mas dialética, com idas e vindas, com questões que 
necessitam de espaço e tempo apropriados para serem trabalhadas.
Considerando o campo da educação, tem-se que caminhar em direção 
às diferenças, a fim de desnudá-las e com isso reconhecer que não basta 
considerarmos a diversidade cultural, de gênero, de raça, de religiosidade, mas que 
temos que ter propostas pedagógicas efetivas e que provoquem mudanças.
Educação deve ser democrática e respeitar a interculturalidade
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
É nesse caldo cultural e na superação hierárquica do poder autoritário colocado nas 
relações sociais que se pode falar em educação democrática.
Ao lidarmos com as diferenças e com o respeito à interculturalidade não podemos 
desconsiderar, de acordo com Silva (2003), pontos imprescindíveis para o debate 
frente à cultura e ao currículo no interior escolar, como:
• Propostas pedagógicas de intervenção na realidade, a partir do conceito de 
multiculturalismo, com atividades e/ou projetos específicos que atendam e 
valorizem culturas indígenas e negras, sobretudo.
• A combinação de diferentes culturas convivendo em um único espaço e a 
percepção intercultural de processos de cruzamento constituindo novas cul-
turas e identidades deveriam ter mais respaldo no campo das pesquisas.
Tal reflexão, considerando os pontos acima, pode nos remeter à práxis que sugere 
luta por justiça social ou somente de convivência no mesmo espaço territorial. É o 
diálogo desafiador que pode suscitar uma comunicação real e interativa entre esses 
vastos processos de identidades híbridas/miscigenadas. 
10
Nesse processo de encontro é que se configura a interculturalidadenas práticas 
educativas e curriculares. Por isso, Morgado (2004, p. 117) diz que o currículo “é 
como sinônimo de um conjunto de aprendizagens valorizadas socialmente e como 
uma construção permanente e inacabada, resultante da participação de todos. Um 
espaço integrado e dialético, sensível à diferenciação”.
Fechamento 
Estudamos sobre sexualidade, genero, homossexualidade que é a atração entre 
pessoas do mesmo sexo, a bissexualidade apresenta a disponibilidade de a 
orientação sexual estar tanto para o sexo oposto ao seu quanto para pessoas do 
mesmo sexo, já a heterossexualidade representa que tal atração une uma pessoa de 
sexo masculino e outra de sexo feminino. Também foi possível apreendermos sobre 
a diversidade religiosa que vem sendo outro fator inerente a uma cultura inter, ou 
seja, onde existe um território – meio que permite o debate entre as muitas tensões 
da vida cotidiana. 
Toda diversidade religiosa que temos no Brasil advém da Europa e do cristianismo, 
dos negros africanos e dos indígenas que trazem na base a pajelança, o Pajé, 
o que recebe o espírito de guias, de animais e de seres fantásticos (como a 
cobra-grande). Contudo, é na proposição de planejamentos, currículos e projetos 
educativos, em que os debates possam vir e seus conceitos sejam construídos e 
desprovidos de preconceito, que estaremos efetivamente educando com qualidade 
e para a humanização, inserindo pessoas, seus estilos, jeitos de ser e de sentir 
o mundo. Sendo assim, passamos a compreender a escola como um espaço 
democrático que pode empreender diálogos interculturais.
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Referências
CENTER, H. K. G.; McCOLLOUGH, M.E.; LARSON, D.B. Handbook of Religion and 
Health. New York: Oxford University Press, 2016.
MORGADO, J. C. Educar no século XXI: que papel para o(a) professor(a)? In: 
MOREIRA, A. F. B; PACHECO, J. A.; GARCIA, R. L. (Org). Currículo: pensar, sentir e 
diferir. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
MOREIRA, A. F. B. (Org). Currículo: questões atuais. Campinas: Papirus, 1997.
MOREIRA, A. F. B; CANDAU, V. M. Indagações sobre o currículo: currículo, 
conhecimento e cultura. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, Secretaria da 
Educação Básica, 2007.
NASCIMENTO, M. R. do. Religiosidade e cultura popular: catolicismo, irmandade e 
tradições em movimento. Revista da Católica, Uberaba, v. 1. n. 2, p. 119-130, 2009

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