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Direito Sucessório e os Aspectos Processuais Direito Sucessório Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria MARIA CLARA DONATO MILENA BARBOSA DE MELO AUTORIA Maria Clara Donato Sou bacharel em Direito, com bolsa integral pelo ProUni, pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FACISA), Campina Grande/ PB. Pós-Graduanda em Inteligência Policial pela FCE. Fui bolsista no programa “Santander Universidades”, tendo a oportunidade de ser aluna do Cursos Internacionales na Universidad de Salamanca, na cidade de Salamanca, Espanha, obtendo a certificação do nível Avanzado em Espanhol. Participei do Grupo de Estudos em Sociologia da Propriedade Intelectual – GESPI – da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) com Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Centro de Ensino Superior e Desenvolvimento (CESED) e Fundação Pedro Américo (FDA) e do Núcleo de Estudos em Direito Internacional (NEDI). Sou pesquisadora na área do Direito Internacional, Ciências Políticas, Relações Internacionais e Direitos Humanos. Me alegro muito em também poder estar presente nesta disciplina e espero poder auxiliar bastante em seus estudos. Milena Barbosa de Melo Possuo graduação em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (2004). Doutora em Direito Internacional pela Universidade de Coimbra. Mestre e Especialista em Direito Comunitário pela Universidade de Coimbra. Atualmente sou Professora Universitária e Conteudista. Como jurista atuo principalmente nas seguintes áreas: Direito à Saúde, Direito Internacional público e privado, Jurisdição Internacional, Direito Empresarial, Direito do Desenvolvimento, Direito da Propriedade Intelectual e Direito Digital. Desse modo, fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Direito Sucessório: Noções e Conceituação .................................... 10 Noções Gerais e Conceituação Inicial .............................................................................10 Dos Sucessores ................................................................................................................................ 13 Da Morte ................................................................................................................................................ 14 Teoria Geral do Direito Sucessório .......................................................20 Contexto Histórico ........................................................................................................................ 20 Fontes ......................................................................................................................................................22 Princípios ...............................................................................................................................................23 Efeitos ......................................................................................................................................................25 Ações de Herança no Direito Sucessório ..........................................29 Terminologias Essenciais ..........................................................................................................29 Herança Jacente e a Herança Vacante ..........................................................................33 Herança Jacente ...........................................................................................................35 A Herança Vacante ......................................................................................................35 Aspectos Processuais do Direito de Sucessão ............................... 37 A Petição de Herança...................................................................................................................37 Do Inventário e Partilha .............................................................................................................. 40 7 UNIDADE 01 Direito Sucessório 8 INTRODUÇÃO Uma das principais funções do Direito das Sucessões está na sua função de legislar e reger as relações no que concerne à transmissão dos patrimônios de uma pessoa logo após a sua morte, de forma a garantir o norteamento das partes envolvidas no processo, bem como evitar que ocorram graves conflitos de interesse. Cabe ressaltar que as origens de tal Direito podem ser observadas a partir da Antiguidade, estando sempre vinculadas à ideia de continuidade familiar. Assim como todo o restante do Direito, as matérias de competência sucessória foram evoluindo para acompanhar as necessidades sociais, como também amparar os novos litígios que foram surgindo no decorrer de sua evolução. Assim, nesta primeira unidade, iremos identificar os conceitos básicos ligados ao Direito Sucessório, explicar sua teoria geral, bem como a ação de petição de herança e os aspectos processuais atrelados à referida disciplina. Direito Sucessório 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar os conceitos básicos acerca do Direito Sucessório. 2. Aplicar a Teoria Geral do Direito Sucessório. 3. Impetrar ações de petição de herança. 4. Enunciar os aspectos processuais pertinentes à matéria. Então, agora, convido você a ingressar nesta jornada em busca da ampliação dos nossos conhecimentos. Vamos lá? Direito Sucessório 10 Direito Sucessório: Noções e Conceituação OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar as noções gerais e alguns conceitos referentes ao Direito sucessório. Além disso, será capaz de compreender os aspectos processuais pertinentes à matéria.. Noções Gerais e Conceituação Inicial O vocábulo “sucessão”, visto sob a ótica de seu sentido mais amplo, está ligado ao ato de assumir o lugar de outra pessoa, substituí-la, na titularidade de algo. Quando partimos para análise do vocábulo em seu sentido estrito, ou seja, aplicando-o ao campo do Direito, podemos associá-lo também ao ato de transferência de direitos, no entanto, aqui, ele assume o caráter da transmissão de patrimônio (passivo ou ativo) entre o de cujus e seus sucessores (GONÇALVES, 2014). Compreendemos como de cujus o sujeito de onde se origina a sucessão, do latim de cujus sucessione agitur – aquele ao qual se trata a sucessão – valendo ressaltar que o mesmo só se aplica às pessoas naturais, ficando de fora a pessoa jurídica, já que suas disposições ficam regulamentadas a partir dos estatutos reguladoresde patrimônio social. Dentro da nossa sociedade, é possível identificar diversas modalidades de transmissão de bens, principalmente entre vivos, um bom exemplo são os contratos de compra e venda e doações, além disso, consideram-se também as desapropriações, incorporações jurídicas etc. (COELHO, 2012). Entre tais formas de transmissão, cabe ao Direito Sucessório regular aquelas que estão vinculadas às pessoas físicas, mais especificamente, às transmissões por causa mortis. Deste modo, tendo como base o entendimento de que determinado patrimônio não pode existir sem dono, então, cessando a vida de seu titular, o mesmo deveria ter sua titularidade repassada imediatamente. Direito Sucessório 11 Figura 1 - Transmissão hereditária MORTE DO TITULAR PROPRIEDADE COM TITULAR TRANSMISSÃO HEREDITÁRIA Fonte: Elaborada pelas autoras (2021). Para a Gomes (2002, p. 20), pode-se compreender o Direito Sucessório como a parte do Direito “que regula a destinação do patrimônio de uma pessoa depois de sua morte”, ou seja, é o conjunto de normas que visa garantir a transferência de bens e obrigações de um sujeito em decorrência de seu falecimento. Ainda segundo a doutrina do Direito Sucessório, segundo Maximiliano (1942), podemos subdividir tal direito em uma vertente objetiva, que considera o conjunto de normas responsáveis por normatizar a transmissão dos bens e obrigações, e uma vertente subjetiva, que caracterizada pelo direito do sujeito de suceder, ou seja, herdar tais bens e obrigações. Toda base do Direito sucessório se encontra fundamentada conforme o momento histórico em que está inserido o ato de suceder, abarcando a necessidade de se conservar um determinado patrimônio dentro de um grupo familiar. Analisando as regras de Direito Sucessório vigentes na maior parte do mundo moderno, podemos considerar que suas evoluções trouxeram equidade entre as partes envolvidas dentro do processo, ou seja, consideram-se os herdeiros no mesmo grau como aptos a receberem partes iguais da herança em questão (RODRIGUES, 2002). Assim, defende-se que a transmissão dos bens seria uma forma de assegurar a descendência e os valores de um determinado grupo, de forma a manter o avanço do trabalho e da economia. Direito Sucessório 12 Por outro lado, a doutrina socialista prega contra a instituição do Direito Sucessório sob alegação de que tal Direito viria a invalidar e eliminar os interesses e conveniências sociais vinculados à propriedade. Além disso, ele seria o responsável por contrariar os princípios da justiça e o interesse social (GONÇALVES, 2014). O fator em questão seria o principal responsável pela propagação da desigualdade social e pelo acúmulo das propriedades nas mãos de apenas algumas pessoas. Para tal grupo, o ideal hereditário deveria ser que os bens retornassem ao Estado para que este fosse o responsável por distribuí-lo perante a comunidade, derrubando assim a transmissão sucessória após a morte de um indivíduo. Analisando o Direito Civil como um todo é possível vincular a existência do Direito Sucessório com dois outros campos, o Direito das Coisas (que, assim como o sucessório, vai tratar das relações de conflitos de interesse no que diz respeito aos bens) e também o Direito de Família, uma vez que, de acordo com o Código Civil vigente, a transferência dos bens decorre da morte de uma pessoa e tais bens devem ser repassados dentro de sua família. Cabe destacar que, como regra (art.1.784 do CC), após a morte a herança deve ser transmitida aos herdeiros legítimos do de cujus, no entanto, o Código traz também a possibilidade da transmissão para os chamados herdeiros testamentários, ou seja, aqueles presentes dentro do testamento do falecido e que devem receber bens em reconhecimento ao desejo do titular de tais bens a serem herdados. Dessa forma, o Direito abre a oportunidade das pessoas físicas de disporem de seus bens para pessoas que não estão presentes em sua linha sucessória legítima. Ainda assim, deve-se considerar que, mesmo o titular tendo total controle para dispor de seus bens em vida, após a morte, cabe ao ordenamento jurídico assegurar que pelo menos uma parte da herança aos herdeiros legítimos do de cujus. Direito Sucessório 13 Dos Sucessores Em uma primeira análise, os principais sucessores são os familiares do falecido, devendo ser observado, tomando como referência o momento de sua morte, quem são aqueles considerados como sucessíveis, ou seja, aptos para herdar aquilo que lhe é de direito. Consideramos como sucessíveis os descendentes, ascendentes, cônjuge, companheiro e os colaterais até quarto grau; devendo estes observarem a ordem de vocação hereditária prevista no art.1.829 do Código Civil. Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I — aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II — aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III — ao cônjuge sobrevivente; IV — aos colaterais. (BRASIL, 2002) Desta forma, não havendo testamento, o restante dos parentes do de cujus ficam classificados como não sucessíveis, ou seja, não possuem legitimidade para herdar nenhum bem da herança. Cabe ressaltar que, em caso de ausência de testamento, bem como de parentes sucessíveis, os bens deixados pelo falecido são direcionados ao Estado. Tal tópico será melhor aprofundado na Unidade 2 desta disciplina. Direito Sucessório 14 Da Morte Logo no início do Código Civil, são nos apresentados os conceitos básicos a serem utilizados durante toda a legislação e, para uma melhor compreensão do Direito Sucessório, é preciso retornar até o princípio do Código, mais precisamente ao seu art. 6°, onde se determina que: Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. (BRASIL, 2002) Assim como o legislador optou por definir o início da vida, aqui temos também a definição de seu término, assim, fica estabelecido o fim da existência (personalidade) da pessoa natural determinado por sua morte, seja ela natural ou presumida. Uma vez estabelecida a morte de uma pessoa entende-se que, com ela, finalizam-se também os direitos e obrigações de natureza personalíssima, ou seja, aquelas que não podem ser executadas por terceiros como, por exemplo, o vínculo matrimonial, relações de parentesco, entre outros. Por morte real, compreende-se o momento onde são extintos os direitos de personalidade, ou seja, do óbito comprovado do indivíduo. Segundo a Legislação brasileira, mais especificamente a Lei nº 9.434/97, o critério jurídico para se estabelecer a morte real é a ocorrência da morte encefálica do indivíduo. Para a comprovação de tal ocorrência é necessária a existência de um atestado de óbito que declare a certeza do evento da morte. Esta documentação precisa ser lavrada por profissional médico registrado e é necessário que haja um corpo a ser analisado para a definição da causa da morte. Somente após a emissão do atestado é possível ser lavrada a Certidão de Óbito, através de um oficial de registro civil, para só então haver a liberação do corpo para sepultamento. Em suma, para a comprovação da morte real é necessária a existência de um corpo que, após análise de um médico devidamente registrado, receberá um atestado de óbito que, posteriormente, se tornará uma certidão de óbito. Mas, o que ocorre quando não há a presença de um corpo para atestar sua morte? Direito Sucessório 15 Por incrível que pareça, os casos de comprovação indireta de morte real são mais comuns do que imaginamos e, por isso, o art.7° do CódigoCivil determina que: Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. (BRASIL, 2002) Assim, nos casos de catástrofes naturais, incêndios, acidentes de avião, naufrágios, desabamentos, entre outros casos em que, mesmo não havendo corpos, é possível ter certeza de que a pessoa que estava presente no local não sobreviveu. Um exemplo desta determinação pode ser visto no caso do rompimento da barragem em Mariana (MG) onde, mesmo não sendo possível recuperar os corpos de todas as vítimas, houve o óbito comprovado de todos que estavam onde a barragem estourou ante a certeza da morte deles após tantos dias de resgate e buscas sem a localização de seus corpos. Outro caso em que se pode considerar a morte presumida é no caso dos desaparecidos durante uma guerra, deste modo, o legislador define que passados dois anos do fim da guerra sem que a pessoa retorne ou seu corpo seja encontrado existe a presunção de sua morte. Cabe destacar que Venosa (2010) compreende a elasticidade do termo “guerra”, devendo este também servir para revoluções internas e movimentos semelhantes. A Justificação Judicial de Morte Real também está prevista dentro da Lei de Registros Públicos, Lei n° 6.015/73, que em seu art. 66 define que: Art. 66 - Poderão os juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágios, incêndio, terremoto ou outra qualquer catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local Direito Sucessório 16 do desastre e não for possível encontrar o cadáver para exame. (BRASIL, 1973) Por fim, cabe registrar que nestes casos a declaração ausência deve ser requerida apenas após o fim das buscas e averiguações, cabendo também à sentença determinar a data do provável falecimento do ausente (CUNHA, 2015). Havendo a declaração de ausência se procede então a sucessão definitiva e o patrimônio deixado se tornam herança e pulando as outras etapas do processo que veremos mais na frente. Certo, mas, e nos casos onde não houve uma catástrofe e, ainda assim, não é possível ter o exame de um cadáver para atestar sua morte e, com isso, dar início aos trâmites sucessórios? Será que nos casos de desaparecimento ou sequestro os parentes da vítima ficam para sempre sem a comprovação de sua morte e, consequentemente, sem o direito de dispor dos bens materiais deixados por ela? Nestes casos, a comprovação da morte irá depender de outro instituto presente no Código Civil, em seus artigos 22 a 39, a Declaração de Ausência. Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. (BRASIL, 2002) A partir deste dispositivo podemos concluir que nos casos onde não se há notícias do paradeiro de alguém por um longo período e não havendo representante legal que possa administrar seus bens, cabe ao Juiz declarar sua ausência e nomear um curador. Desta forma, podemos entender que os efeitos da morte presumida como patrimoniais e, em alguns casos pessoais, visto que a mesma implica na viuvez do cônjuge do ausente, quando houver, entre outras coisas (CUNHA, 2015). Figura 2 - Fases do Processo de reconhecimento de ausência CURADORIA DE AUSENTES SUCESSÃO PROVISÓRIA SUCESSÃO DEFINITIVA Fonte: Elaborada pelas autoras com base em Cunha (2015). Direito Sucessório 17 Na fase de Curadoria de Ausentes, cabe aos interessados, inclusive ao Ministério Público, entrar com o pedido de Declaração de Ausência e Nomeação de Curador, com base no art. 25 do CC. Após tal solicitação proceder-se-á a arrecadação dos bens do ausente e a entrega destes ao curador determinado pelo Juiz, de forma que seja apenas administrados pelo prazo de um ano (quando não se deixou representante legal) ou de três anos (nos casos em que o ausente deixou um representante antes de se ausentar). Caso haja o retorno do ausente ou comprovação de sua morte real durante o prazo ocorre a cessação da curatela. Após os prazos citados – de um ou três anos – será aberta a fase de sucessão provisória, onde é iniciado o processo de inventário e partilha de bens. A partir de então o Código Civil, em seu artigo 28, concede o prazo de 180 dias para que haja o retorno do ausente, de forma que a sentença de sucessão provisória só possuirá efeito após a sua publicação na imprensa e decorridos 180 dias sem que o ausente retorne. Somente após este prazo é que pode ser a ausência presumida. Com isso, há a cessação da curatela e os bens do ausente são partilhados para serem administrados por seus herdeiros de maneira provisória e condicional, devendo ser prestadas garantias de que os bens serão restituídos caso haja o retorno do ausente – apenas para os casos em que os herdeiros não são descendentes, ascendentes ou cônjuge do ausente (CUNHA,2015). Vale ressaltar que dentro da fase de sucessão provisória os herdeiros ainda não possuem propriedade sobre os bens, tal fase serve apenas para lhes conferir a posse dos bens. Assim como na primeira fase, a sucessão provisória pode ser encerrada caso haja o retorno do ausente ou a comprovação de sua morte real. Além disso, no caso dos herdeiros necessários constituídos como sucessores provisórios é necessário destacar que estes terão direito a todos os frutos e rendimentos advindos dos bens sob sua posse, ou seja, caso haja o retorno do ausente seus herdeiros necessários não são obrigados a restituir os rendimentos obtidos com os bens em questão. Para os casos dos herdeiros não necessários, estes só possuem direito à metade dos frutos e rendimentos advindos dos bens do ausente (CUNHA, 2015). Direito Sucessório 18 Por fim, o art. 37 do Código Civil determina que após 10 anos da abertura da sucessão provisória, sem que o ausente retorne, há a declaração de sua morte presumida e, então, a sucessão provisória se torna definitiva e, a partir daí, os herdeiros passam a possuir domínio pleno sobre os bens recebidos. Cabe destacar ainda que, caso o ausente venha a retornar dentro de 10 anos desde sucessão definitiva, essa se torna inválida, obrigando os herdeiros a retornarem os bens ao seu devido dono no estado em que se encontram no momento do retorno ou o preço de suas vendas. Regressando após este prazo (21 ou 23 anos desde o início do processo) o ausente a nada mais terá direito. Mas, atenção, caso o ausente tenha mais de 80 anos e já se somem mais de 5 anos desde o seu desaparecimento é possível que seja requerido o processo de sucessão definitiva, pulando todas as outras fases do processo, como fica estabelecido no art.38 do Código Civil. Outro ponto que merece destaque é o fato de o matrimônio do ausente só é considerado dissolvido durante a sucessão definitiva, como previsto no art. 1.571 §1° do CC. Só então o cônjuge sobrevivente pode ser considerado viúvo. Neste caso a dissolução do matrimônio é dada como irreversível. No entanto, caso o cônjuge sobrevivente decida se casar antes de transcorrido todo este tempo do processo, tal ato pode ocorrer após um pedido de divórcio. Por fim, devemos destacar também o instituto da Comoriência, previsto no artigo 8° do Código Civil e que prevê as implicações jurídicas sucessórias para os casos de mortes simultâneas onde não se pode definir qual das pessoas morreu primeiro. Art. 8° Se dois ou mais indivíduos faleceremna mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. (BRASIL, 2002) Deve ficar claro que tal previsão, segundo Cunha (2015), é relativa e, portanto, admite prova em contrário. A comoriência é analisada e trazida em pauta quando se trata da morte simultânea de duas ou mais pessoas que possuem uma relação sucessória entre si. Ou seja, um acidente de carro onde falecem o marido e sua esposa e ambos não Direito Sucessório about:blank 19 deixam descendentes, neste caso a comoriência deve ser analisada para determinar quem serão os herdeiros para os bens deixados por ambos. RESUMINDO: Dentro da nossa sociedade, é possível identificar diversas modalidades de transmissão de bens, principalmente entre vivos, um bom exemplo são os contratos de compra e venda e doações, além disso, consideram-se também as desapropriações, incorporações jurídicas, etc. Dentre tais formas de transmissão, cabe ao Direito Sucessório regular aquelas que estão vinculadas às pessoas físicas, mais especificamente, às transmissões por causa mortis. Desse modo, o vocábulo “sucessão”, visto sob a ótica de seu sentido mais amplo um, está vinculado ao ato de assumir o lugar de outra pessoa – substituí-la – na titularidade de algo, em virtude da sua morte. Direito Sucessório 20 Teoria Geral do Direito Sucessório OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender a teoria geral do direito sucessório, bem como poderá identificar os princípios e fontes que embasam este ramo jurídico.. Contexto Histórico Assim como a maior parte dos ramos do Direito, a origem das sucessões remonta ao direito romano primitivo que, para Wilson (2004), o herdeiro era visto como “continuador” do de cujus, herdando os bens deste e assegurando a sobrevivência de seu grupo familiar e dando continuidade ao papel que o falecido exercia neste grupo e, já dentro do próprio direito romano era possível que os bens fossem transmitidos por meio da sucessão hereditária – através do primogênito do sexo masculino – ou através de testamento, onde o falecido indicava o seu “continuador” para receber o patrimônio deixado. No entanto, vale salientar que o conceito sucessório só passa a existir a partir do momento em que começa a individualização da propriedade. Até determinado momento histórico não havia o que se conhece como propriedade individual, mas sim a coletiva, pertencente aos grupos sociais e, nestes casos, a morte de um dos indivíduos não alteravam a situação do patrimônio, não cabendo o instituto da sucessão. Apenas quando o indivíduo passa a ser titular da propriedade é que se começa a gerar o interesse na sucessão. Outro ponto que vale ser debatido está no fato de que a ideia de sucessão passa a gerar um novo incentivo econômico ao trabalho, visto que os indivíduos passariam a se esforçar para construir um patrimônio que seria passado para os seus familiares ou membros de seu grupo, garantindo assim a sobrevivência e subsistência desses mesmo após Direito Sucessório 21 a sua morte. Desta maneira, a sucessão viria a proporcionar uma certa valorização do trabalho e do progresso econômico, o que acabaria por proporcionar e impulsionar o desenvolvimento da sociedade moderna. Ao mesmo tempo em que o Direito Sucessório surge para dar maior garantia aos indivíduos, garantindo a transmissão de seus bens aos seus familiares, ele também começa a desencadear o início da temida desigualdade social, fato este que também passou a ser considerado como algo que deturpava o sentido social da propriedade, já que ela perdia sua função social e passava a privilegiar apenas alguns. Além disto temos também um cunho religioso atrelado a origem das sucessões, visto que o herdeiro também era responsável pela continuidade do culto doméstico ao qual o falecido pertencia, garantindo a sua perpetuação (VENOSA, 2006), já que a sua extinção acarretaria não só no fim da felicidade familiar como também o fim do próprio grupo. A necessidade da continuação do culto para os romanos era tão forte que, para isso, há também a fortificação do instituto da adoção, para que houvesse alguma forma de continuidade após o fim da vida do patriarca. O primeiro da lista sucessória era sempre o primogênito do sexo masculino e, na ausência deste, a filha era considerada uma herdeira provisória, até que esta contraísse matrimônio e a herança passasse para a posse de seu marido. Até mesmo dentro do direito clássico é possível se visualizar o contorno dos institutos da sucessão hereditária (que era a mais comum e, consequentemente, a regra na maioria das civilizações) e também da sucessão testamentária que, ao mesmo tempo em que era bem aceita por alguns povos era também mal vista por outros que achavam desrespeitoso que o indivíduo ainda vivo pudesse testar e destinar o seu patrimônio após sua morte. Direito Sucessório 22 Quadro 1 - Direito Clássico e Sucessão CIVILIZAÇÃO SUCESSÃO HEREDITÁRIA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA Romanos X Regra Gregos X Permitida apenas na falta de herdeiros Sociedade Oriental Antiga X Não era aceito que o pai distribuísse o patrimônio ainda em vida Hebreus X X Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Gontijo (2008). A existência da herança também era de grande interesse aos credores da época, uma vez que, apesar da morte do indivíduo, havia em seu lugar um responsável a ser cobrado pelas dívidas deixadas pelo falecido. Além disso, segundo Gontijo (2008), na ausência de um herdeiro os bens também poderiam passar para a posse dos credores a fim de serem extintas as dívidas existentes. Fontes Antes de definirmos as principais fontes do Direito Sucessório é preciso destacar que o presente ramo possui fortes relações com outros ramos do Direito e que também são relevantes para este curso. Assim, quando falamos sobre a parte financeira atrelada a herança, principalmente aquela vinculada aos impostos, temos uma forte influência do Direito Tributário para reger tais relações. Além deste, o Direito Penal também é levado em consideração dentro da análise das causas de deserção e indignidade do herdeiro. Enquanto isto, o Direito Processual é o principal responsável por auxiliar no processo de inventário, abertura de ações referentes à herança, entre outras. Por fim, destaca-se o grande apelo Constitucional presente dentro do Direito Sucessório, visto que este encontra-se garantido dentro da Constituição Federal de 1988, em seu art.5°, inciso XXX, que objetiva da proteção ao instituto da sucessão para Direito Sucessório 23 que este seja realizado após a morte do sujeito, bem como visa a garantir que, na ausência de possíveis sucessores, caiba ao Estado receber a posse dos bens herdados. Partindo daquilo que vimos até aqui, devemos então concluir que o Direito Sucessório vai possuir duas fontes principais sendo a primeira delas a lei, que é a responsável por gerar o direito à sucessão, bem como promover os institutos necessários para que esta seja realizada de maneira justa e dentro dos parâmetros exigidos pelo legislador, ou seja, a primeira fonte emana da própria lei e, por isso, é chamada de sucessão legítima. Cabe destacar que este tipo de sucessão será aplicado nos casos de ausência de testamento, bem como nos casos em que há ausência, anulabilidade ou caducidade do mesmo, de forma que o patrimônio em questão seja passado aos herdeiros de acordo com a ordem de vocação hereditária presente no Código Civil. Enquanto isso, a segunda fonte do Direito Sucessório é a Vontade da pessoa, em outras palavras, tal direito também emana da vontade do indivíduo de dispor de seus bens para quem lhe convém, para que assim sejam repartidos após a sua morte. Neste caso, a própria vontade do indivíduo é capaz de gerar o direito a herdar. Neste caso temos a chamada sucessão testamentária. É necessário destacar que emambos os casos tais fontes possuem regras, conceitos e definições bastante particulares, que serão melhor exploradas na Unidade 2 deste material. Princípios Assim como todos os outros ramos, o Direito Sucessório também é regido por diversos princípios que existem para facilitar o processo de partilha do patrimônio deixado e que vão alinhar da melhor forma possível aquilo que está definido por lei e a própria vontade do de cujus. O primeiro princípio a ser explorado é o da Liberdade Limitada para Testar e que possui como principal objetivo proteger os sucessores legítimos/necessários de determinada herança, garantindo que recebam aquilo que lhes é de direito. Tal princípio deve ser aplicado nos casos em que há testamento de forma a restringir a liberdade do testador em dispor livremente de seus bens. Segundo o art. 1.846 do Código Civil “pertence aos herdeiros necessários (...) a metade dos bens da herança, constituindo Direito Sucessório 24 a legítima” (BRASIL, 2002). Desta forma, o legislador garante que os descendentes, ascendentes e o cônjuge tenham a sua parte da herança preservada, mesmo que o dono da mesma decida colocar outra parte dela em testamento. Exemplo: Maria é casada com José sob regime de comunhão de bens e possui um filho deste casamento. Maria e José possuem um patrimônio de 1 milhão de reais e, na hora de fazer seu testamento, Maria deseja dispor parte de seus bens para sua tia. Neste caso, 50% do patrimônio já pertence à José devido o regime de matrimônio e os outros 50% são de Maria. Destes 50% que ela possui – no caso R$500.000,00 – 50% (R$250.000,00) constitui a legítima, ou seja, a herança de seus herdeiros necessários (seu marido e seu filho) e somente os outros 50% de sua parte (R$250.000,00) podem ser deixados em testamento para quem ela desejar. Aqui, cabe destacar que, nos casos em que não existem herdeiros necessários, aplica-se o princípio da Liberdade Absoluta para Testar, ou seja, pode o dono do patrimônio dispor de sua totalidade da forma que desejar dentro do seu testamento como forma de evitar que seja aplicada a sucessão na ordem de vocação hereditária após o seu óbito. Exemplo: Joana não possui filhos e nem cônjuge. Durante sua vida ela acumulou um patrimônio no valor de R$800.000,00, no entanto, Joana não possui boas relações com seus irmãos e, para evitar que estes herdem o seu dinheiro após a sua morte, Joana decide deixar todos os seus bens em testamento para uma de suas sobrinhas e, por não existirem herdeiros necessários, ela possui a liberdade de dispor de 100% do seu patrimônio. Outro princípio muito importante é conhecido como Saisine e estabelece a transmissão do direito de herança aos herdeiros automaticamente no exato momento da morte do de cujus. Cabe ressaltar que, exceto no caso dos legatários (aqueles que recebem algo específico – como, por exemplo, uma casa deixada em testamento), o princípio em questão transfere apenas o direito de herdar, não sendo definido ainda o que será herdado. Tal princípio está estabelecido dentro do art. 1.784 do Código Civil que declara que sendo “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários” Direito Sucessório 25 (BRASIL, 2002). Por abertura de herança entende-se a ocorrência do óbito do indivíduo que possuía determinado patrimônio a ser herdado. VOCÊ SABIA? Dependendo das normas do sistema alguns países podem optar pela não adoção do princípio Saisine. Um exemplo disto é a Argentina. Neste caso, havendo a morte do indivíduo não há herdeiros até que os mesmos entrem com a ação declaratória de herança e, somente após uma sentença positiva desta é que os interessados podem entrar com a ação de inventário para divisão dos bens, assim, os bens ficam sem um dono até que seja feito o inventário. Por fim, temos o princípio da Comoriência, já discutido anteriormente. Este princípio é levado em análise nos casos onde duas pessoas, sendo uma sucessora da outra, morrem simultaneamente, não se podendo confirmar quem morreu primeiro. Assim, presume-se que morreram ao mesmo tempo. Tal princípio está previsto no art. 8° do Código Civil. VOCÊ SABIA? Para o direito romano, nos casos de mortes ao mesmo tempo e sendo as pessoas de sexos diferente, definia-se que a mulher teria morrido primeiro que o homem e, em sendo as vítimas do mesmo sexo, era considerado como o primeiro a falecer aquele que fosse mais velho. Efeitos Além das classificações já apresentadas dentro deste tópico, podemos ainda dividir o instituto das sucessões quanto aos efeitos desta, assim, podemos ter as sucessões a título universal que são aquelas onde o patrimônio do de cujus é transferido em sua totalidade ou em parte indeterminada (sendo essa ativa ou passiva) para os herdeiros, ou seja, neste caso não há nenhuma subdivisão dos bens. Direito Sucessório 26 Já no caso das sucessões a título singular, temos os casos em que o testador opta por transferir objetos determinados de seu patrimônio para os denominados legatários. Cabe salientar que neste tipo de herança aquele que a recebe não está sujeito a ser atingido pelas dívidas ou encargos decorrentes da herança. Este tipo de herança apenas pode ser determinado por meio de testamento. Um exemplo para melhor ilustrar tal caso é quando um avô decide, através de seu testamento, deixar sua casa de praia para um determinado neto que, por sua vez, se tornará legatário deste bem. Quadro 2 - Efeitos da Sucessão TIPO DE SUCESSÃO UNIVERSAL SINGULAR Legítima Sempre Não admite Testamentária Cabe quando o testador define um indivíduo para lhe suceder totalmente Cabe quando o testador define um indivíduo para receber coisa determinada (legatário) Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Diniz (2013). Antes de partirmos para o próximo tópico de estudo, é necessário deixar alguns pontos bem claros para evitar quaisquer dúvidas no decorrer da nossa aprendizagem. É necessário que se fique definido que o objeto principal da sucessão é a herança deixada decorrente da morte de um indivíduo. Para tanto é necessário que não se confunda sucessão e herança, uma vez que o primeiro é o ato jurídico responsável através do qual há a substituição de alguém pelo de cujus no que diz respeito aos seus direitos e obrigações, enquanto herança é o conjunto de direitos e obrigações que são passados do de cujus para alguém. Além disso, deve ficar claro que o herdeiro não é representante do de cujus, uma vez que a sucessão diz respeito aos bens e relações jurídicas patrimoniais, não tocando o que diz respeito à pessoa do falecido. Direito Sucessório 27 Neste tópico, também conversamos sobre o contexto histórico do Direito Sucessório, vimos sua origem nascer junto com o surgimento da propriedade privada e que, além do cunho econômico trazido por este instituto tempos também uma base religiosa, onde cabia ao herdeiro propagar a manutenção do culto deixado por seus antepassados. É importante lembrar também que existem vários aspectos que podem ser utilizados para classificar a sucessão, como as suas fontes, que são a lei (através do qual a sucessão é feita obedecendo a ordem de vocação hereditária) ou a vontade do indivíduo (que acontece quando a pessoa tem interesse em deixar testamento, desta maneira, sua vontade gera o ato jurídico da sucessão, onde está obedece aquilo determinado pelo de cujus ainda em vida) e também os seus efeitos, que podem ser vistos quando temos a sucessão à título universal (onde se herdam os bens como num todo) ou à título singular (acontece quando o de cujus deixa um legatário, ou seja, um indivíduo que virá a herdar uma parte específica e definida da herança, como uma casa, por exemplo). Por fim, para compreender bem o assunto que estamos nos aprofundando cada vez mais, precisamos ter em mente os princípios que regem o instituto das sucessões.Figura 3 - Princípios da Sucessão Liberdade Limitada para testar Liberdade Absoluta para testar Saisine Comoriência Havendo herdeiros necessários o testador deve respeitar a quota da legítima (50%). Não havendo herdeiros necessários o testador pode dispor livremente de seu patrimônio. Transmissão automática da herança assim que é aberta a sucessão. Havendo a morte simultânea de duas pessoas, sendo uma sucessora da outra, considera-se que morreram ao mesmo tempo. Fonte: Elaborada pelas autoras (2021). Direito Sucessório 28 RESUMINDO: Sabemos que o conceito sucessório só passa a existir a partir do momento em que começa a individualização da propriedade. No entanto, ao mesmo tempo em que o Direito Sucessório surge para dar maior garantia aos indivíduos, garantindo a transmissão de seus bens aos seus familiares, ele também começa a desencadeando o início da temida desigualdade social, fato este que também passou a ser considerado como algo que deturpava o sentido social da propriedade, já que ela perdia sua função social e passava a privilegiar apenas alguns. Quando falamos sobre a parte financeira atrelada a herança, principalmente aquela vinculada aos impostos, temos uma forte influência do Direito Tributário para reger tais relações. Além deste, o Direito Penal também é levado em consideração dentro da análise das causas de deserção e indignidade do herdeiro. Enquanto isto, o Direito Processual é o principal responsável por auxiliar no processo de inventário, abertura de ações referentes à herança, entre outras. Por fim, destaca-se o grande apelo Constitucional presente dentro do Direito Sucessório, visto que este encontra-se garantido dentro da Constituição Federal de 1988. Observa-se, portanto, a variedade constante dentro do Direito Sucessório e que, para cada situação, há uma previsão na legislação. Direito Sucessório 29 Ações de Herança no Direito Sucessório OBJETIVO: Muito além de uma divisão de transmissão patrimonial após a morte, é preciso ter atenção as siglas e denominações na matéria do direito sucessório. Sendo assim, vamos estudar os conceitos para que você entenda apropriadamente. Avante! Terminologias Essenciais Como você pode perceber nos capítulos anteriores, o Direito das Sucessões tem seus vocábulos específicos. Nesse sentido, importante se faz expor cada terminologia para que se compreenda o assunto da maneira adequada. - Autor da herança ou de cujus: É o indivíduo que faleceu e deixou patrimônio aos seus sucessores. Ressalta-se que, para o direito das sucessões, somente importa o indivíduo que falece e deixa relações jurídicas patrimoniais; - Sucessor (herdeiro ou legatário): é a pessoa, podendo ser física ou jurídica, que dará continuidade às relações jurídicas patrimoniais do de cujus em razão da sua morte, ganhando a titularidade. O sucessor pode receber o patrimônio transmitido a título universal ou singular. Quando o beneficiário adquire o patrimônio a título universal, chama-se herdeiro (Erbe, em língua germânica). A expressão “herdeiro” emana do latim hereditas, relacionando com herus, significando proprietário, dono. O herdeiro, portanto, é aquele que continuará as relações patrimoniais, titularizando um percentual do total transmitido. É o exemplo do sucessor que recebe vinte, trinte ou quarenta por cento do patrimônio do autor da herança (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 57). - Herdeiro legítimo e herdeiro testamentário: Ocorre quando o herdeiro, ou o sucessor a título universal, recebe o patrimônio por conta da vontade expressa do de cujus (testamentário) ou recebe o patrimônio por força de lei (legítimo). Direito Sucessório 30 SAIBA MAIS: Os arts. 1.829 e 1.790 do Código Civil aduzem que são os herdeiros legítimos os descendentes, os ascendentes, o cônjuge sobrevivente, os colaterais até o quarto grau e o companheiro sobrevivente. Nesse sentido, os herdeiros legítimos não podem ser excluídos por vontade do de cujus, de modo que são herdeiros necessários, isto é, “Todo herdeiro necessário é um herdeiro legítimo, mas nem todo herdeiro legítimo é um herdeiro necessário” (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 58). Ainda, há a divisão entre sucessão legítima necessária e sucessão legítima não necessária ou facultativa, sendo os primeiros os indivíduos que não podem ser preteridos pela vontade do titular e a segunda, podem ser excluídos da herança. Figura 4 - Entenda o direito de herança Se o falecido não tem herdeiros e nem deixou testamento, a herança ficará em poder do Estado. É preciso pagar imposto sobre o valor recebido de herança. Sogros, genros, noras e enteados não estão incluídos na sucessão legítima, mas podem ser incluídos no testamento. Os filhos concebidos dentro ou fora do casamento, assim como os adotados têm os mesmos direitos. Regime de união estável dá direito à parte do que foi adquirido durante a união. O regime de casamento escolhido influencia no direito de herança. Fonte: Elaborada pelas autoras com base em Lanhi (2016). Direito Sucessório 31 - Herdeiro universal: quando o herdeiro é único, o patrimônio é transferido em sua integralidade. Figura 5 - Sucessão do de cujus COMPANHEIRO SOBREVIVENTE Ficará com quinhão igual ao do filho, calculado só sobre os bens adquiridos onerosamente na constância da convivência. AUTOR DA HERANÇA (Sem prejuízo de eventual meação nos bens) Filho comum Filho só do falecido Qualquer outro parente seja ascendente ou colateral até 4° grau Nenhum colateral COMPANHEIRO SOBREVIVENTE Ficará com quota equivalente a 50% do quinhão do filho mas incidindo só sobre os bens adquiridos onerosamente na constância da convivência. COMPANHEIRO SOBREVIVENTE Receberá 1/3 do total da herança, ou seja, há direito sucessório sobre todos os bens do acervo hereditário. COMPANHEIRO SOBREVIVENTE Receberá 100% da herança. Fonte: Elaborada pelas autoras com base em Cielo (2011). - Herança e espólio: trata-se do É o conjunto de relações jurídicas, ativas e passivas, patrimoniais pertencentes ao falecido e que foram transmitidas aos seus sucessores, por conta de sua morte, para que sejam partilhadas. (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 73) Sendo assim, a herança compreende a todos os bens de uma pessoa, bem como seus direitos e obrigações. As relações jurídicas não patrimoniais (existenciais, personalíssimas) não serão transmitidas com o falecimento do titular, extinguindo-se automaticamente (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 73). Direito Sucessório 32 Observa-se, portanto, que integra a herança o patrimônio passivo e ativo do de cujus, assim como os bens, débitos, créditos, aplicações financeiras, os valores a serem adquiridos. Ressalta-se: Em nosso ordenamento jurídico, a herança é tratada como um bem jurídico imóvel (CC, art. 80), indivisível e universal (CC, art. 91), mesmo que composta somente de bens móveis, divisíveis e singulares (seria o exemplo de uma herança composta, somente, por dinheiro). Esse caráter universal (universitas juris) da herança se caracteriza pela abrangência de todo o ativo e o passivo deixados pelo morto e se mantém até a partilha, mesmo que sejam múltiplos os herdeiros. (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 74) No entanto, apesar da formação de um condomínio pro indiviso, é preciso explicar que a herança não é um direito real uma vez que são institutos diferentes. Assim, forma-se o espólio, que representa a herança e disposto por meio de um inventariante (se já houver nomeação ou por administrador provisório, art. 613 do Código Civil). Esse instituto tem a capacidade de dar o título a relações jurídicas que envolviam o de cujus, como relações consumeristas, trabalhistas, previdenciárias, entre outras. EXEMPLO: Um exemplo para espólio: Se uma pessoa que faleceu deixando uma dívida não paga, o credor, então, deverá ajuizar ação de cobrança contra o espólio do morto,com vistas a retirar de sua herança o valor necessário à quitação do débito. - Herança e meação: Preliminarmente, informa-se que herança não se confunde com meação, uma vez que, esta última, é direito próprio do cônjuge ou companheiro sobrevivente. Nesse caminho, professor Carvalho (2014) explica que é: Comunicação dos bens inter vivos advinda do regime patrimonial aplicável ao casamento ou à união estável do hereditando, sendo efeito oriundo do estatuto patrimonial da família e não fazendo parte da sucessio causa mortis. (CARVALHO, 2014, p. 56) Direito Sucessório 33 Por outro lado, a herança é o que já afirmamos: o patrimônio pertencente ao de cujus e que será transmitido aos seus sucessores. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça já reconheceu, em um de seus julgados, a diferença entre meação e herança: Em processo de inventário, a toda evidência, a meação do cônjuge supérstite não é abarcada pelo serviço público prestado, destinado essencialmente a partilhar a herança deixada pelo de cujus. Tampouco pode ser considerada proveito econômico, porquanto pertencente, por direito próprio e não sucessório, ao cônjuge viúvo. (BRASIL, 2011) Sendo assim, é preciso que haja a separação, no inventário, a meação do consorte uma vez que não será objeto de transmissão sucessória. Herança Jacente e a Herança Vacante A sucessão pode ser de duas formas: sucessão testamentária e sucessão legítima. No entanto, há casos em que o de cujus não tem testamente e tampouco herdeiros conhecidos, de modo que o seu patrimônio será arrecadado e nomeado um curador especial, Administrará e guardará os bens até que sejam entregues ao sucessor que se habilitar, posteriormente, ou até que seja declarada a sua vacância, sendo arrecadados pelo Poder Público. (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 283) Direito Sucessório 34 Figura 6 - Relembrando os Tipos de herança Aquela que se transmite por ato de última vontade, em testamento válido ou em codicilo. Ocorre quando o falecido não deixa testamento, nem cônjuge e herdeiros conhecidos, ficando a herança a cargo de um curador. Quando o ausente não se manifesta ou não há herdeiros ou interessados, os bens arrecadados passam ao domínio do Município ou da União. Domínio e posse dos bens são transmitidos aos herdeiros conforme vocação legal. Legítima Testamentária Jacente Vacante Fonte: Elaborada pelas autoras com base em Cielo (2019). Nesse caminho, aduz o art. 1.819 do Código Civil: Art. 1819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância. (BRASIL, 2002) Ainda mais, o processo de herança vacante e jacente pode se originar da conversão de um inventário onde não se localiza herdeiro ou legatário. Nestes casos, o Código de Processo Civil determina que a competência para julgamento de herança jacente e vacante é o do último domicílio do autor da herança. Vamos entender melhor no próximo subtópico. Direito Sucessório 35 Herança Jacente Diz-se herança jacente quando o indivíduo falece sem deixar testamento e sem deixar herdeiros conhecidos. Nos dizeres do renomado professor Paulo Nader (p. 107), “constitui a herança jacente uma universalidade jurídica, cuja titularidade provisoriamente é desconhecida, mas seu objeto deve ser alvo da proteção do Estado”. Sendo desta forma, a herança jacente recebe tutela jurídica de um curador especial (sendo total incumbência deste), até que se habilite um sucessor ou que seja recolhida pelo Poder Público. Essa curadoria é função institucional típica da Defensoria Pública, nos termos do art. 4°, VI, da Lei Complementar n°. 80/94 – Lei Orgânica da Defensoria Pública. Inexistindo Defensor Público lotado na comarca, o juiz nomeará um curador – que não necessariamente tem de ser advogado, inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 285 Assim, no momento em que um herdeiro se apresenta, a qualquer tempo, cessará automaticamente a jacência da herança. A Herança Vacante Nos casos em que a localização do herdeiro é frustrada, a herança se tornará vacante. Sobre este assunto, disciplina o Código Civil: Art. 1820. Praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei processual, e decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante. (BRASIL, 2002) E, ainda, o Código de Processo Civil: Art. 743. Passado um ano da primeira publicação do edital e não havendo herdeiro habilitado nem habilitação pendente, será a herança declarada vacante. (BRASIL, 2002) Assim, observa-se que a guarda e a administração da herança são transmitidas para o Estado (Poder Público). Direito Sucessório 36 A jacência, portanto, funciona como espécie de fase preliminar da vacância, com visível caráter transitório, sem, contudo, haver uma relação implicacional, uma vez que habilitando-se algum herdeiro, não haverá herança vacante (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 287). RESUMINDO: Sabemos que o direito sucessório é um instituto próprio, com legislação específica e com denominações únicas. Neste capítulo, estudamos sobre autor da herança, sucessor, herdeiro legítimo e testamentário, herdeiro universal, herança e espólio, herança, meação e herança jacente e vacante. Direito Sucessório 37 Aspectos Processuais do Direito de Sucessão OBJETIVO: Havendo omissão, ou controvérsia sob a qualidade de herdeiro, o indivíduo que pretende ser reconhecido como tal, poderá recorrer aos trâmites processuais especiais do Direito Sucessório. Vamos estudar quais são? Vamos juntos!. A Petição de Herança Com inspiração na legislação italiana, portuguesa e argentina, o Código Civil de 2002 tratou sobre a ação de petição de herança, confirmando o que já vinha sendo praticado na jurisprudência e lecionado pela doutrina. Nesses moldes, aduz o seu art. 1824: Art. 1824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da herança ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua. (BRASIL, 2002) No entanto, destaca-se que nem sempre quem se apresenta nos autos do inventário judicial ou extrajudicial é o verdadeiro herdeiro, legal ou testamentário. Nesses casos, a herança será apreendida por quem não é, de fato, o sucessor. A regra geral, conforme os professores Farias e Rosenvald (2018) é que Considerada a regra da transmissão automática da herança por força de saisine (transmissão ipso iure), percebe-se que os herdeiros recebem todo o patrimônio do falecido, com a abertura da sucessão, no exato instante da morte do titular. Posteriormente, através da partilha, judicial ou extrajudicial, será fixado o respectivo quinhão de cada herdeiro. (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 252) Direito Sucessório 38 Sendo assim, no inventário tradicional ou comum (art. 610 do Código de Processo Civil), prevê a possibilidade ao indivíduo que julgar ser herdeiro, o direito de habilitar-se nos autos do procedimento sucessório, antes da partilha, oportunizando-se o prazo de 15 (quinze) as partes, para, ao fim, o magistrado julgar pela habilitação ou não. Sendo assim, nesses casos, é de extrema importância a petição de herança como medida cabível como forma de se obter o reconhecimento na qualidade de herdeiro, assim como os bens, rendimentos e acessórios da herança. Exemplo corriqueiro de utilização da ação de petição de herança encontra-se na hipótese daquele que, não registrado pelo genitor já falecido, propõe uma ação de investigação de paternidade post mortem cumulada com petição de herança, com o propósitode obter o reconhecimento do seu status familiae (por meio da declaração de filiação) e, consequentemente, do seu direito à herança, através da petição de herança (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 253). Assim, existem os pressupostos do Direito das Sucessões para a elaboração da petição de herança. Sendo eles: Direito Sucessório 39 Figura 7 - Direito das sucessões - Nascituros - Prole eventualPressuposto fático Coexistir (art. 1798, CC) Sobreviver (exceções art. 1.851, CC) Exceções Pressuposto jurídico Vínculo Legal Testamentário - Parente - Cônjuge - Companheiro - Herdeiro - Legatário - Descendente - Ascendente Pressuposto negativo Não ser Indigno (art. 1.814, CC) Deserdado (art. 1.961 e 19.92, CC) Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Cruz (2016). Direito Sucessório 40 Salienta-se que o legislador determina que a ação deverá ser dirigida em face de quem afirma a qualidade de herdeiro (possessor pro herede) quanto em face de terceiro que tenha bens da herança sem título jurídico. Sobre isso, Carvalho (2019) Aduz a doutrina ser necessária uma posse atual, pois, se no momento da propositura da demanda, a posse estiver com outro em face deste é que deverá ser intentada a petitio hereditatis. (CARVALHO, 2019) Diz-se que a petição de herança é uma ação universal em face do caráter de universalidade de direitos da herança, por ser a herança composta pela coletividade dos bens, em sua universalidade, transmitidos pelo de cujus, e não por bens específicos. Do Inventário e Partilha Remonta a doutrina que no direito romano, o inventário era considerado como um mecanismo de proteção dos herdeiros, Apresentando a finalidade específica de separar o patrimônio transmitido pelo falecido e aquele já pertencente ao herdeiro anteriormente. (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 532) No entanto, esse instituto não é exclusivo do Direito das Sucessões, de modo que é encontrado no procedimento de falência, no divórcio ou dissolução de união estável, uma vez que é necessário para o levantamento de bens dos interessados. Sendo assim, para a atualidade, o inventário, no Direito das Sucessões, é o processo, administrativo ou judicial, que faz o levantamento e descrição das relações jurídicas patrimoniais que serão transmitidas pelo falecido. Vejamos: Direito Sucessório 41 Figura 8 – Inventário - Com testamento - Sem acordo na partilha - Herdeiros menores Com o falecimento, abre-se o direito sucessório: os herdeiros tem um prazo de 60 dias, contados à partir do óbito para abrir o inventário dos bens deixados pelo falecido; JUDICIAL EXTRAJUDICIAL O representante do espólio será nomeado e prestará compromisso de desempenhar o cargo, porém, até que este seja escolhido, será escolhido um administrador provisório. Se ao menos um dos herdeiros é menor de 18 anos ou é incapaz ou se existe testamento, será obrigatório o inventário judicial, neste caso, nomeia-se um inventariante. Procedimento administrativo (feito em cartório) os bens do falecido passam para seus sucessores através de escritura pública. O juiz nomeará como inventariante: I – O cônjuge ou companheiro desde que estivessem convivendo ao tempo da morte; II – O herdeiro que estiver na posse da administração do espólio, caso não haja cônjuge ou companheiro sobrevivente ou estes não possam desempenhar tal função; III – Qualquer outro herdeiro. Sobrepartilha é uma nova partilha, realizada após a amigável ou a judicial. Ficam sujeitos os bens sonegados, os descobertos após a primeira partilha e os bens litigiosos. Foro competente: Local do último domicílio do falecido. É indispensável a contratação de advogado. Legitimidade para requerer abertura de inventário: I – O administrador provisório do espólio (art. 987 CPC) O requerimento será instruído com a certidão de óbito do autor da herança Legitimidade concorrente: O cônjuge; O herdeiro; O legatário; O testamenteiro; O cessionário do herdeiro ou do legatário; O credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança, o síndico da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge; O Ministério Público, caso haja herdeiros capazes; A Fazenda Pública, quando tiver interesse. REQUISITOS INDISPENSÁVEIS Maioridade Capacidade de todos os interessados. Consenso quanto Inexistência de testamento O inventariante tem um prazo de 20 dias, contados da data de seu compromisso para prestar as PRIMEIRAS DECLARAÇÕES. Nela deve constar: 1. Identificação do morto e circunstâncias da morte; 2. Nomeação e identificação dos herdeiros e do cônjuge/ companheiro sobrevivente, com indicação de regime de bens; 3. Relação completa e individualizada de todos os bens que formam a herança, com discriminação de seus respectivos valores. Fonte: Elaborada pelas autoras (2021). Direito Sucessório 42 Sendo desta forma, prescreve o art. 1785 do Código Civil que “A sucessão se abre no lugar do último domicílio do autor” (BRASIL, 2002). Ainda mais, o art. 48 do Código de Processo Civil estabelece que O foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento das disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu. (BRASIL, 2002) Sobre este assunto, a jurisprudência é pacífica. Faria (2019) explica: A 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, no julgamento do Conflito de Competência n°. 2003.008.00102, relatado pelo Des. Amaury Arruda de Souza, assim decidiu na vigência do CPC revogado: Conflito negativo de competência. Inventário. Competência do Juízo suscitado. Conflito negativo de competência. Inventário. A competência para o processo sucessório é relativa, por sua natureza territorial, pelo que não pode ser declarada de ofício. Inaplicabilidade no art. 96, incisos I e II, do CPC. Caso de duplo domicílio. Procedência do conflito para declarar competente o Juízo suscitado. (FARIA, 2019) Entretanto, ressalta-se que o juiz não pode, de ofício, declinar a competência proceder com o inventário em qualquer das comarcar onde o falecido tiver bens. O inventário é um procedimento especial tendente a apurar o patrimônio transmitido automaticamente, pelo falecido, pagando as dívidas deixadas, recolhendo o tributo incidente na espécie e, em arremate, promovendo a partilha entre os sucessores (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 533). O ordenamento jurídico, através do art. 1.787 do Código Civil, “(...) regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela” (BRASIL, 2002). Aqui, portanto, trata-se da distinção que deve ser feita entre a data da abertura da sucessão com a data da abertura do inventário. Além disso, Faria (2019) explica: A abertura do inventário poderá ocorrer no momento em que os herdeiros desejarem. Ninguém será excluído da Direito Sucessório 43 sucessão por não ter sido aberto o inventário do autor da herança no prazo legal. Os herdeiros sofrerão uma penalidade: a imposição de uma multa sobre o valor do imposto de transmissão causa mortis, nos termos da lei tributária estadual. (FARIA, 2019) Aliás, se ocorrer demora na abertura dos autos, a lei aplicável será a vigente na data do óbito e não a que estiver vigente na época da abertura. Sobre este assunto, a 1ª Turma do STJ decidiu, por unanimidade o seguinte: Inventário – Filha adotiva – Abertura da sucessão antes do advento da nova carta. Pretendida habilitação, na qualidade de herdeira, no inventário dos adotantes. Indeferimento colocado no fato de a abertura da sucessão haver ocorrido antes do advento da nova Carta, que eliminou o tratamento jurídico diferenciado entre os filhos legítimos e adotivos, para fins sucessórios. A sucessão regula-se pela lei vigente à data da sua abertura,não se aplicando a sucessões verificadas antes de seu advento a norma do art. 227, §6º da Carta de 1988, que eliminou a distinção, até então estabelecida pelo Código Civil (Art. 1.605 e §2°) entre filhos legítimos e adotivos, para esse efeito (julgamento no RE n° 217.473-8- SP, publicado em 09/04/1999, Relator: Min. Ilmar Galvão). No entanto, é preciso salientar que o art. 10 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro estabelece que “A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que era domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens” (BRASIL, 1943). De mais a mais, há diferentes procedimentos de inventário. A legislação processual estabeleceu um procedimento bifásico e padrão para o inventário, sendo o primeiro escalonado e dividido em duas partes: inventário, que individualiza os bens; e partilha, que é a divisão. O procedimento básico abrevia como forma de atender situações sem complexidade (Como o inventário extrajudicial). Há, ainda, o procedimento tradicional de inventário, rito mais complexo ditado pelo Código de Processo Civil; o arrolamento sumário, também conhecido como “arrolamento amigável” é possível quando todos os herdeiros forem maiores e capazes e estiverem de acordo quanto à Direito Sucessório 44 partilha (previsão no art. 659 do Código de Processo Civil); o arrolamento comum, que ocorre nos casos em que a soma dos bens deixados pelo falecido for igual ou inferior a mil salários-mínimos, não justificando a escolha de um processo mais exauriente. Por fim, há o inventário extrajudicial, que surgiu por meio da lei n°. 11.441/2007 e sancionou por meio do art. 640 do Código de Processo Civil, tornando possível o inventário por vias de cartório, sem a atuação de um juiz. Sobre isso, O inventário consensual se tornou possível na esfera administrativa, através de escritura pública, quando as partes interessadas forem maiores e capazes e dês que estejam acordes (isto é, não exista conflito de interesses). (FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 544) RESUMINDO: Estudamos que, ocorrendo o óbito, encontra-se aberta a sucessão e a partir desse momento, serão apresentadas as pessoas relacionadas pela lei, com capacidade sucessória. Para tanto, é preciso ter capacidade sucessória por lei ou testamento. Direito Sucessório 45 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Código Civil. Brasília, DF: Congresso Nacional. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 07 jun. 2020. BRASIL. 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Direito Sucessório about:blank about:blank about:blank Direito Sucessório: Noções e Conceituação Noções Gerais e Conceituação Inicial Dos Sucessores Da Morte Teoria Geral do Direito Sucessório Contexto Histórico Fontes Princípios Efeitos Ações de Herança no Direito Sucessório Terminologias Essenciais Herança Jacente e a Herança Vacante Herança Jacente A Herança Vacante Aspectos Processuais do Direito de Sucessão A Petição de Herança Do Inventário e Partilha