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Internacional. 
 
 
 
UNIDADE I 
MEIO AMBIENTE E SOCIEDADE: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM 
CONTEXTO 
 
Prof.ª Me. Rebeca Muceniecks 
 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
O objetivo desta unidade é possibilitar ao acadêmico a compreensão de que 
para refletir sobre educação ambiental é necessário analisar primeiramente o 
contexto no qual esta educação está inserida. Vivemos em uma sociedade 
específica, com um modo de produção e um modelo de desenvolvimento 
próprio, que precisam ser considerados em nosso estudo. 
 
Plano de Estudo 
Serão estudados nesta unidade os seguintes tópicos: 
1. Conceitos importantes para o estudo da Educação Ambiental. 
2. Sociedade capitalista e meio ambiente: uma relação problemática. 
3. Modelos de desenvolvimento. 
4. As três globalizações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
 
A preocupação com as atitudes que as pessoas têm em sua relação com o 
meio ambiente aumentou nas últimas décadas, alterando o padrão de 
comportamento e criando um ideal “politicamente correto” de como devemos 
agir para preservar a natureza e melhorar nossa relação com o planeta em que 
vivemos. Separar o lixo, não desperdiçar água, preferir produtos orgânicos, 
entre outros, são ações que passaram a ter uma valorização social e podem 
definir se uma pessoa é considerada “consciente” ou “negligente” em suas 
responsabilidades como cidadão. 
Diariamente observamos na mídia, o incentivo para a adoção de uma vida mais 
saudável e em harmonia com o meio ambiente, o estímulo para a mudança de 
hábitos e práticas que há apenas duas ou três décadas, não eram tão 
valorizados assim. O que será que mudou nas últimas décadas para que tais 
ações passassem a ter mais importância do que antes? Por que é mais grave 
poluir um rio hoje do que era na década de 1970? Será que na década de 1980 
não era importante reduzir o montante de lixo produzido? A emissão de gases 
tóxicos na atmosfera não era prejudicial ao planeta, trinta anos atrás? As 
pessoas passaram a ter conhecimentos mais profundos sobre o lugar onde 
vivem ou mudaram seu comportamento por influência da mídia? 
Para responder a estes questionamentos, é necessário que nós conheçamos a 
nossa sociedade e as mudanças pelas quais ela tem passado. É preciso que 
nós aprendamos a identificar os diversos sujeitos que atuam na sociedade 
(governos, grandes bancos, empresas multinacionais, movimentos sociais, 
sindicatos, grupos da sociedade civil organizada, entre outros), para assim 
entender que os rumos que a sociedade toma são resultado do embate entre 
os interesses destes diversos sujeitos. 
 
 
 
 
 
 
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1. CONCEITOS IMPORTANTES PARA O ESTUDO DA EDUCAÇÃO 
AMBIENTAL 
 
As sociedades e as pessoas que dela fazem parte estão sempre em 
transformação. Às vezes, a dinâmica estabelecida pelos homens em suas 
relações sociais contribui para a manutenção da ordem existente, enquanto, 
em outros momentos, busca sua superação. 
Os homens organizam sua vida de modo que possam satisfazer suas 
necessidades básicas, como se alimentar, ter o que vestir e onde morar. A 
forma como produzem para atender essas necessidades é o que caracteriza 
cada sociedade. Nossa sociedade é organizada pelo que chamamos de “modo 
de produção” capitalista. 
Você sabe o que é uma sociedade capitalista? É uma sociedade dividida em 
classes, baseada na apropriação privada dos meios de produção (ferramentas, 
local de produção, matéria-prima, entre outros) e organizada em torno do 
mercado. Os trabalhadores que não possuem os meios de produção vendem 
sua própria força de trabalho, para assim sobreviver. A produção é negociada e 
vendida pelo capitalista, mas os ganhos não são divididos com todos os que 
trabalharam. Para eles, uma pequena parcela é repassada em forma de 
salário, enquanto o grande montante fica para o dono do negócio. 
Nessa sociedade, tudo pode ser transformado em mercadoria, ou seja, pode 
gerar lucro, inclusive a educação e o meio ambiente. Para gerar lucro 
constante, esse sistema de produção destrói e desperdiça recursos naturais. 
Em uma sociedade desigual como essa, há uma disputa pela apropriação dos 
recursos naturais. Vamos pensar juntos: proprietários de terra julgam-se 
“autorizados” a usufruir dos elementos da natureza de acordo com sua 
vontade, o que acarreta em diversos problemas ambientais. 
É por isso que dizemos que a questão ambiental não é “neutra”, os seja, 
existem diversos interesses políticos e econômicos em jogo, quando discutimos 
sobre a preservação do meio ambiente. 
E o que seria o meio ambiente? 
A definição que usaremos para a continuação de nosso estudo será a de 
Chang (2004, p.1). De acordo com o autor, “[...] meio ambiente compreende 
 
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não só a biosfera, mas também a sociedade e a sua economia, onde as 
dinâmicas e lógicas intrínsecas de cada esfera são diferentes e frequentemente 
conflitam”. Essa definição nos mostra que o homem faz parte do meio ambiente 
e, por isso, discutir sobre ele não é apenas falar sobre a proteção de florestas, 
poluição da água ou preservação de espécies, mas refletir sobre as 
contradições sociais causadas pela concentração de riqueza de poucos contra 
a pobreza de muitos. 
Destacamos também a definição de Reigota (2012, p.36): 
 
Defino meio ambiente como: um lugar determinado e/ou 
percebido onde estão em relação dinâmica e em constante 
interação os aspectos naturais e sociais. Essas relações 
acarretam processos de criação cultural e tecnológica e 
processos históricos e políticos de transformações da natureza 
e da sociedade. 
 
Ao refletir sobre o meio ambiente em nossa sociedade capitalista, alguns 
autores vão além e chamam o contexto de destruição ambiental de crise da 
humanidade: “[...] um novo tipo de crise, [...] que começou com uma situação 
na qual a natureza, tratada sem a menor contemplação e atacada pelo homem 
no marco do capitalismo, reage agora de forma brutal” (CHESNAIS, 2008, p.2). 
Você deve ter reparado, nas últimas três décadas, como os desastres naturais 
têm aumentado e se tornado incontroláveis. Tremores de terra, furacões, 
tornados, tsunamis, tempestades e alagamentos, cada vez mais fortes e 
recorrentes. O aumento destas catástrofes é identificado por pesquisas 
científicas e nos alertam sobre o impacto das ações da humanidade no meio 
ambiente. 
No Brasil, podemos verificar os dados apurados por pesquisadores do Instituto 
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que indicam que “[...] a média de 
desastres ocorridos na década de 70 foi de 90 eventos por ano, saltando para 
mais de 260 eventos na década de 90” (MARCELINO, 2007, p.10). A pesquisa 
aponta como principais fatores para este considerável aumento: crescimento 
populacional, aumento dos bolsões de pobreza e acumulação de capital em 
áreas de risco. Ou seja, a ação do homem está diretamente ligada a esses 
eventos. 
 
 
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2. SOCIEDADE CAPITALISTA E MEIO AMBIENTE: UMA RELAÇÃO 
PROBLEMÁTICA 
 
A educação deve ser concebida, em cada sociedade, para atender interesses 
sociais e individuais ao mesmo tempo. Para que a dinâmica social não seja 
excludente, a combinação desses interesses deve ser o ponto de partida para 
a elaboração dos conteúdos de ensino, das práticas pedagógicas e da relação 
da escola com a comunidade (SANTOS, 1999, p.1). 
Ofilósofo húngaro Mészaros (2007, p.7) explica que no capitalismo não é isso 
o que ocorre. De acordo com ele, a educação tem servido para fornecer 
conhecimento e mão de obra para a produção. A educação capitalista cria e 
propaga “[...] um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, 
como se não pudesse haver nenhum tipo de alternativa à gestão da sociedade 
[...]”. 
O que isso significa? Significa que uma das principais funções da educação, 
dentro da lógica do capital, é produzir o máximo de conformidade ou consenso 
que puder, para garantir a manutenção da ordem posta. Essa conformidade 
também se estende às práticas ambientais. 
Na década de 1970, o capitalismo mundial enfrentou uma grave crise. Para 
superar essa crise e manter-se como forma de organização da sociedade, ele 
precisou se reestruturar. Para isso, houve um grande incentivo para a 
aceleração do desenvolvimento de novas pesquisas e tecnologias, em uma 
velocidade e proporção que antes não eram conhecidas. 
As áreas das telecomunicações e da informática podem nos mostrar como 
esse avanço foi evidente: hoje você tem a possibilidade de estudar em uma 
modalidade conhecida como “educação à distância”, pois existe uma tecnologia 
que permite a interação entre alunos, tutores e professores, mesmo que estes 
estejam em tempos e lugares diferentes. As barreiras causadas pela distância 
e pelas fronteiras entre os países passaram a ser derrubadas! 
Esses avanços permitiram às indústrias mudar a forma de produzir, pois, com o 
uso de novas tecnologias, todo o processo podia ser feito de maneira mais 
rápida e eficiente. Outra consequência desse progresso foi a integração 
 
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econômica: as economias dos diversos países do mundo ficaram interligadas 
de tal maneira que, quando uma delas entra em crise, todas as outras podem 
ser afetadas. 
Também faz parte desse novo momento do capitalismo a desregulamentação 
do comércio entre os países, a liberdade de movimento para mercadorias e a 
superação, pelo menos teórica, das fronteiras nacionais para as pessoas. Ou 
seja, esse processo é o fenômeno que conhecemos popularmente como 
globalização. 
Para Santos (2005, p.23), “a globalização é, de certa forma, o ápice do 
processo de internacionalização do mundo capitalista” e só pode ser 
compreendida na análise articulada do estado das técnicas disponíveis e do 
estado da política. O autor afirma que o uso das técnicas (da tecnologia) está 
sempre interligado ao uso político que se faz das mesmas. 
A evolução técnica-científica alcançada nas últimas décadas poderia permitir 
que as pessoas ampliassem seu acesso ao conhecimento produzido 
historicamente em relação ao planeta, ao meio ambiente, às sociedades 
existentes, às pessoas que compõem cada realidade. Entretanto, a simples 
difusão de notícias não informa realmente as pessoas. 
Explicando melhor: boa parte das pessoas da atualidade tem acesso à internet, 
aos noticiários e outras mídias que trazem uma gama enorme de informações e 
causam a sensação de que estamos “conectados”, “antenados”. Entretanto, os 
meios de informação são propriedade privada, o que faz com que as 
informações também sejam propriedade privada. As empresas e Estados que 
se apropriam dos meios de informação têm o poder de selecionar e manipular 
os dados que alcançam a população, alterando o imperativo de “informar” para 
“convencer”. 
Que fique claro que o progresso da ciência não é a razão para o crescente 
distanciamento entre ricos e pobres! Ao contrário, o aumento da concentração 
de riqueza nas mãos de pequena parcela da população mundial reforça o 
argumento anteriormente defendido de que o uso das técnicas (da tecnologia) 
nunca ocorre separado de intenção e ação política (SANTOS, 2005). 
De acordo com Santos (1999, p.3), a realidade da globalização em curso 
coloca em risco os princípios fundamentais da educação, substituindo-os por 
 
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propostas que valorizam a profissionalização precoce e a fragmentação da 
formação. Para o autor, as noções clássicas de democracia, cidadania, 
república e individualidade “[...] constituem matéria predileta do marketing 
político, mas, graças a um jogo de espelhos, apenas comparecem como 
retórica, enquanto são outros os valores da nova ética [...]”. 
Este autor está nos explicando que, para manter a ordem existente, que 
privilegia uma parte da população em detrimento de todo o restante, as forças 
políticas que mantêm o capitalismo fazem uso de palavras esvaziadas de seu 
real significado. Palavras que nos fazem pensar em uma sociedade igualitária, 
porém, utilizadas apenas para o convencimento de que a ordem posta pode ser 
eficiente e justa. 
Nas últimas quatro décadas, o uso do conjunto de tecnologias avançadas pelos 
atores hegemônicos da sociedade capitalista (os governos dos países centrais, 
as grandes multinacionais e bancos de financiamento), demonstra a utilização 
predatória do meio ambiente e a interferência contínua sobre a natureza, 
visando o progresso e indicando o risco real de um esgotamento ambiental. 
De acordo com o economista francês Chesnais (2001), os grandes grupos 
industriais se interessam pelos países em desenvolvimento por três motivos 
específicos. O primeiro foco de interesse é fazer uso do mercado interno de 
alguns desses países. O segundo interesse é o de conseguir mão de obra de 
base, disciplinada e qualificada, em países que muitas vezes não possuem 
uma legislação trabalhista consolidada. Sem as exigências legais, não terão 
que se preocupar com direitos e investimentos na condição de vida da 
população – é a famosa mão de obra barata. 
O terceiro motivo para o interesse de grupos industriais nos países em 
desenvolvimento é o fornecimento de matérias-primas, ainda que os países 
ricos tenham diminuído o grau de dependência desse provimento mediante a 
utilização de recursos tecnológicos. Novos materiais são criados em 
laboratórios como produto da inteligência humana, permitindo que os homens 
utilizem não apenas o que está disponível na natureza, mas, como afirma 
Santos (2005), primeiro concebam os objetos que desejam usar, para depois 
produzir artificialmente a matéria-prima indispensável a sua fabricação. 
 
 
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Em resumo, o que explicamos até aqui é que, além dos efeitos nefastos do 
capitalismo para a classe trabalhadora e para a grande maioria da população, 
esse modo de produção promove a depredação dos recursos naturais e a 
poluição industrial, pois visa sempre o lucro. 
Foster (2007) é um sociólogo que busca entender as relações entre sociedade 
e meio ambiente. Este autor aponta que a relação destrutiva que existe entre o 
capitalismo e o ambiente não foi identificada somente agora, mas é discutida 
por analistas da sociedade desde o início do século XIX. Estes estudiosos 
evidenciavam como as mudanças no modo de produção transformavam a 
relação da humanidade com a natureza. 
Sobre a relação entre a humanidade e a natureza, Foster (2007) destaca a 
concepção trazida de Karl Marx (1848-1883), chamada de fratura metabólica. 
Esta concepção sugere que a lógica do capital, de sucessiva acumulação, 
resultaria em uma ruptura no metabolismo entre a sociedade e a natureza. 
Marx desenvolveu esse conceito a partir da ciência biológica, influenciado pelo 
trabalho de Liebig (1803-1873), um importante químico da sua época, que 
analisava a contradição ecológica da agricultura capitalista industrializada, em 
que as condições naturais de reprodução do solo eram destruídas. 
Como resultado dessa reflexão, Marx aplicou oconceito de metabolismo para a 
análise das relações socioecológicas, destacando que toda vida se baseia em 
processos metabólicos entre os organismos e seu ambiente. Foladori (2001, 
p.2) explica que este conceito marxiano de “metabolismo social” é central para 
o materialismo histórico: 
 
Marx entende por metabolismo social, o processo por meio do 
qual a sociedade humana transforma a natureza externa e, ao 
fazê-lo, transforma sua natureza interna. A ação de transformar 
a natureza externa constitui o processo de trabalho, e seu 
efeito sobre a natureza interna se manifesta na forma como se 
estabelecem as relações sociais de produção. 
 
A afirmação acima pode ser encontrada também no seguinte trecho: “O 
trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, [...] em que o homem, 
por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a 
natureza” (MARX, 1985, p.149). A ruptura metabólica, ou seja, a separação 
 
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entre o homem e a natureza, produz o que chamamos de alienação, pois o 
homem perde o acesso aos recursos naturais necessários para garantir a sua 
reprodução. 
Foster (2007, p.11) adverte que o princípio da fratura metabólica é complexo e 
tem uma aplicação muito ampla, entretanto, ressalta a necessidade de uma 
restauração metabólica, ou seja, de uma restauração da natureza, por meio de 
uma produção sustentável, diferente da existente no modo de produção 
capitalista. “A única resposta para a destruição ecológica do capitalismo é 
revolucionar as nossas relações produtivas de uma forma que permita uma 
restauração metabólica”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3. MODELOS DE DESENVOLVIMENTO 
 
Essas constatações sobre o sistema de organização da sociedade capitalista 
nos levam à reflexão sobre o modelo de desenvolvimento que vem sendo 
colocado em prática nas últimas décadas, com ampla participação das 
empresas multinacionais, de alguns governos e de agências internacionais. 
Para compreendermos o modelo de desenvolvimento atual, vamos 
primeiramente pensar: o que significa o vocábulo “desenvolvimento”? O 
dicionário Silveira Bueno (1988) define o termo, de uma maneira muito 
simplista, da seguinte forma: 
1. “Ação ou efeito de desenvolver”; 
2. “Crescimento”. 
O termo “desenvolvimento” constantemente tem seu significado entendido 
como equivalente a “crescimento econômico”, isto é, crescimento dos meios de 
produção, aumento da produtividade, evolução das tecnologias e maior 
acúmulo de riquezas. Said (2005) alega que essa é uma interpretação 
equivocada, pois confunde desenvolvimento com modernidade e progresso. 
Se o conceito de desenvolvimento corresponde à ideia de progresso, este 
termo, por sua vez, é compreendido como sinônimo de dominação da natureza. 
Nessa perspectiva, ser desenvolvido é ser tudo aquilo que se afasta da 
natureza para evidenciar os constructos humanos, como a valorização do 
urbano, do industrializado e a banalização do campo. Quanto maior fosse a 
capacidade de uma sociedade de dominar a natureza, fazendo uso irrestrito de 
seus recursos, mais desenvolvida ela seria (PORTO-GONÇALVES, 2006). 
A partir do século XVIII, a concepção de progresso está de tal forma arraigada 
no pensamento das pessoas, sendo constantemente assimilada como 
desenvolvimento, que não apenas os que defendem o padrão de produção e 
consumo capitalista assumem esse conceito. Os opositores do capital também 
fizeram esta relação por muito tempo. 
Porto-Gonçalves (2006) considera que a tendência de igualar desenvolvimento 
e progresso está presente de modo a compor um projeto civilizatório, tanto por 
defensores dos princípios mercadológicos quanto por aqueles que se 
 
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denominam socialistas: 
 
Um socialismo que também permanecia produtivista, com sua 
ideia de oferecer para todos aquilo que o capitalismo oferecia 
somente para alguns. É conhecida a proposta do secretário 
geral do Partido Comunista Francês, Georges Marchais, de 
que todos tinham direito ao automóvel o que, na verdade, longe 
do socialismo, só nos levaria todos ao congestionamento 
(PORTO-GONÇALVES, 2006, p.62). 
 
Esse modelo de desenvolvimento passou a ser criticado a partir da década de 
1960, ao mesmo tempo em que surgiam os primeiros movimentos de defesa do 
meio ambiente. A criação desses grupos não foi o suficiente para que a crítica 
ao modelo vigente e ao padrão de consumo exagerado alcançasse sucesso 
junto ao grande público. As discussões sobre o subdesenvolvimento dos 
países mais pobres levavam as pessoas a acreditarem que somente o 
“desenvolvimento/progresso” traria melhores condições de vida aos 
desfavorecidos. 
Vamos tentar entender melhor essa questão? Os países mais pobres eram 
considerados “atrasados”, subdesenvolvidos em relação aos países centrais do 
sistema capitalista. A compreensão vigente era de que esses países não 
alcançavam a riqueza, pois precisavam se desenvolver, precisavam se 
modernizar, igualar seu padrão de produção e consumo aos países mais 
industrializados. Riqueza seria todos terem acesso a um alto padrão de 
consumo. 
Entretanto, a busca pela superação das injustiças sociais entre as pessoas e 
os povos não significa tornar todos iguais a um único padrão dominante, um 
padrão estadunidense ou europeu, por exemplo. Na sociedade capitalista, ao 
invés de serem produzidas as mercadorias necessárias aos seres humanos, a 
produção é determinada de acordo com o interesse das empresas, pela lógica 
da constante expansão e lucro. As pessoas são sempre incentivadas a 
consumir. 
 
 
 
 
 
 
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Fique por dentro 
 
 
 
 
A HISTÓRIA DAS COISAS: A história das coisas é um documentário produzido por 
Annie Leonard, que analisa os efeitos devastadores dos atuais padrões de produção e 
consumo na sociedade capitalista. 
 
Acesse: http://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw 
 
 
 
A formação de um pensamento único leva-nos a crer que existem povos 
atrasados e outros adiantados “[...] como se houvesse um relógio que servisse 
de parâmetro universal” (PORTO-GOLÇALVES, 2006, p.64). 
Tendo como base o pensamento aristotélico, o Dicionário de Filosofia Nicola 
Abbagnano (2007, p.252) define desenvolvimento como “movimento para o 
melhor”. Considerando a gravidade dos problemas ambientais e sociais que 
enfrentamos, deveríamos nos movimentar em qual direção para alcançar a 
melhor qualidade de vida para toda a população? Em direção ao consumo? 
Princípios de preservação, ética e solidariedade, entre outros, seriam 
fundamentais para a mudança do paradigma de desenvolvimento presente na 
sociedade capitalista, que beneficia pequena parcela da população, enquanto 
muitos permanecem na pobreza. 
 
 
 
http://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw
 
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4. AS TRÊS GLOBALIZAÇÕES 
 
Em uma das últimas obras do geógrafo Milton Santos, “Por uma outra 
globalização”, em que analisa o mundo contemporâneo globalizado, o autor 
anuncia que vivemos em um “mundo confuso e confusamente percebido” 
(2005, p.17). O intenso progresso das ciências e das técnicas transmite uma 
imagem distorcida de realidade e, se quisermos entendê-la para além das 
aparências, devemos considerar três formas de apreensão da globalização. 
De acordo com Santos (2005, p.18) “O primeiro seria o mundo tal como nos 
fazem vê-lo: aglobalização como fábula; o segundo seria o mundo tal como ele 
é: a globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele pode ser: 
uma outra globalização”. Vamos examinar melhor essas três concepções de 
mundo. 
 
4.1. O mundo como nos fazem ver: a globalização como fábula 
O autor explica que inúmeras ideias equivocadas são repetidas 
incansavelmente para a população (por meio de mídias, governos, empresas, 
ONGs, etc.), até o ponto em que estas informações passam a ser consideradas 
como base sólida e verdadeira para a interpretação do mundo. 
Vamos citar dois exemplos: o primeiro é a noção de aldeia global, que quer 
fazer crer que a difusão instantânea de notícias informa as pessoas 
verdadeiramente. Essa noção não pode ser aceita sem considerarmos que os 
veículos de comunicação são propriedade privada e estão nas mãos poucos 
grupos empresariais. 
Moraes (2013, s/p) apresenta números, no mínimo, alarmantes: 
 
Os quatro maiores conglomerados de mídia latino-americanos 
– Globo do Brasil; Televisa do México; Cisneros da Venezuela; 
e Clarín da Argentina –, juntos, retêm 60% do faturamento total 
dos mercados latino-americanos. Para se ter uma ideia dos 
níveis recordes de concentração, basta saber que Clarín 
controla 31% da circulação dos jornais, 40,5% da receita da TV 
aberta e 23,2% da TV paga; Globo responde por 16,2% da 
mídia impressa, 54% da TV aberta e 44% da TV paga; Televisa 
e TV Azteca formam um duopólio, acumulando 69% e 31,37% 
da TV aberta, respectivamente. No Brasil, é aguda a 
 
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concentração na televisão aberta. De acordo com 
levantamento do projeto Os Donos da Mídia, seis redes 
privadas (Globo, SBT, Record, Band, Rede TV e CNT) 
dominam o mercado de televisão no Brasil. Essas redes 
privadas controlam, em conjunto, 138 dos 668 veículos 
existentes (TVs, rádios e jornais) e 92% da audiência televisiva. 
A Globo, além de metade da audiência, segue com ampla 
supremacia na captação de verbas publicitárias e patrocínios. 
 
Outra noção confusa é a da superação das barreiras de tempo e espaço. 
Todos estão interligados e o mundo está ao alcance das mãos. Mas será que 
todos podem realmente viajar o mundo todo? Todos têm acesso aos benefícios 
dessa nova forma de se relacionar das nações? 
O que podemos identificar é que as barreiras caíram sim, mas principalmente 
para os conglomerados empresariais, que podem livremente escolher os 
países em que querem estabelecer suas unidades de produção. Quais países? 
Aqueles que possuem leis trabalhistas, fiscais e ambientais frágeis, em que 
estarão autorizados a explorar bens naturais e mão de obra barata. 
Uma empresa internacional de grande porte, como a Boeing, por exemplo, 
utiliza para a construção de seus potentes aviões cerca de 7500 fornecedores 
localizados em 73 países diferentes. Para termos um exemplo brasileiro, 
destacamos a empresa têxtil Hering, que conta com pelo menos 4000 
fornecedores de países como China, Índia, Bangladesh, Indonésia, Tailândia, 
Vietnã, Uruguai, Peru e Taiwan. 
 
4.2. O mundo como é: a globalização como perversidade 
O resultado real da globalização, para a maior parte da humanidade, é o de 
perversidade nas mais variadas formas: desemprego, pobreza, fome, doença e 
desabrigo. 
Segue o paradoxo: é a concentração de riqueza de uns à custa da pobreza de 
muitos; desenvolvimento de tecnologias avançadas para a construção de 
habitações, mas que não são disponibilizadas ao grande público; avanços 
médicos que permanecem inacessíveis aos doentes que não podem pagar. 
Para completar o quadro da perversidade, há a adesão de comportamentos 
competitivos: “alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como 
os egoísmos, cinismos, a corrupção (SANTOS, 2005, p. 20)”. 
http://www.donosdamidia.com.br/
 
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Reflita 
 
“Tirania do dinheiro e tirania da informação são os pilares da produção da história 
atual do capitalismo globalizado. Sem o controle dos espíritos seria impossível a 
regulação pelas finanças” (SANTOS, 2005, p. 35). 
 
 
 
4.3. O mundo como pode ser: uma outra globalização 
A tecnologia produzida e utilizada para sustentar a globalização perversa pode 
ser utilizada para outros fins, em prol da humanidade como um todo e essa 
seria uma nova forma de globalização. 
Santos (2005) enumera alguns fatos que indicam a possibilidade dessa 
construção coletiva e, entre eles, destacamos a enorme mistura de povos, 
culturas e crenças em todos os continentes. Há uma grande concentração de 
pessoas vivendo em áreas cada vez menores, essa condição contribui para 
uma troca contínua de experiências e crescente dinamismo social. Santos 
(2005) chama esse fenômeno de sociodiversidade e o aponta como um motor 
de mudanças sociais. 
 
A nova paisagem social resultaria do abandono e da superação 
do modelo atual e sua substituição por um outro, capaz de 
garantir para o maior número a satisfação das necessidades 
essenciais a uma vida humana digna, relegando a uma posição 
secundária necessidades fabricadas, impostas por meio da 
publicidade e do consumo conspícuo (SANTOS, 2005, p.72). 
 
A intensa difusão de informações pelos meios de comunicação, que contribuem 
para a formação de um pensamento único e submisso ao sistema estabelecido, 
também pode servir de ferramenta para o desenvolvimento de um novo 
pensamento, que reverte os efeitos destruidores da globalização atual. Das 
grandes massas oprimidas podem surgir movimentos de resistência que se 
alastrem e alcancem cada vez porções maiores da sociedade. Apenas com 
esse movimento e interação será possível pensar em uma outra globalização. 
 
 
 
 
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Internacional. 
 
 
 
Indicação de leitura 
 
 
A GLOBALIZAÇÃO DA NATUREZA E A 
NATUREZA DA GLOBALIZAÇÃO 
 
Autor: Carlos Walter Porto-Gonçalves 
Idioma: Português 
Editora: Civilização Brasileira 
Assunto: Globalização 
Edição: 1ª 
Ano: 2006 
 
Resumo: A devastação ambiental e suas 
consequências para a humanidade vêm sendo 
amplamente estudadas por todos aqueles 
interessados na preservação do planeta. Nesta 
obra, Carlos Walter pretende discutir a natureza do 
processo de globalização e as contradições que 
ele gera no campo ambiental. 
 
Fonte: LIVRARIA MUNDO DA LEITURA, 2017 
 
 
 
POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO: DO 
PENSAMENTO ÚNICO À CONSCIÊNCIA 
UNIVERSAL 
 
Autor: Milton Santos 
Idioma: Português 
Editora: Record 
Assunto: Globalização 
Edição: 12 
Ano: 2005 
 
Resumo: Nesta obra, o geógrafo Milton Santos 
defende a idéia de que é preciso uma nova 
interpretação do mundo contemporâneo, uma análise 
multidisciplinar, que tenha condições de destacar a 
ideologia na produção da história, além de mostrar os 
limites do seu discurso frente à realidade vivida pela 
maioria dos países do mundo. A proposta deste livro é 
levar uma mensagem de esperança na construção de um novo universalismo, menos 
excludente. 
 
Fonte: RECORD, 2017 
 
 
 
 
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CONCLUSÃO 
 
Para finalizar esta primeira unidade de estudo, precisamos salientar que os 
problemas ambientais foram histórica e socialmente construídos. A noção de 
valor que a humanidade tem do meio ambiente representa a relação existente 
entre os homens na sociedade: é uma relação caracterizada pela dominação, 
do homem sobre outros homens e do homem sobre a natureza. 
A educação é uma ferramenta estratégica para o alcance dos objetivos da 
classe dominante e para a formação de bases consensuais, por isso ela é 
utilizada pelas agências internacionais e governosnacionais para garantir a 
manutenção do sistema. Em contrapartida, a educação – bem como a 
educação ambiental – é ferramenta para a conscientização e superação das 
graves contradições sociais que enfrentamos. 
Consideramos ser necessária a construção de uma política nacional de 
Educação Ambiental, uma política que contemple a luta daqueles que atuam na 
elaboração de alternativas ao modelo de desenvolvimento estabelecido. A 
educação ambiental pode e deve ser utilizada como uma das chaves para a 
transformação social, para a superação das relações de dominação e 
depredação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
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