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DORENI RICARTES GUIMARÃES TASSO 1ª Ed. / Setembro / 2013 Impressão em São Paulo - SP ARTE E APRENDIZAGEM ARTE E APRENDIZAGEM Arte e Aprendizagem Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professora Responsável Kely Fabricia Pereira Nogueira Coordenadora Pedagógica de Cursos EaD Profª. Me. Maria Rita Trombini Garcia Projeto Gráfico e Diagramação Jacqueline Cruz Revisão Ortográfica Carlos Beltrão 1º Edição de 2013 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD Know How 2013 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. T214a Tasso, Doreni Ricartes Guimarães. Arte e aprendizagem. / Doreni Ricartes Guimarães Tasso. – São Paulo : Know How, 2010. 168 p. : 22 cm. IBSN: 978-85-63092-70-0 Inclui bibliografia 1. Arte. 2. Aprendizagem. 3. Educação. I. Título. CDD – 370.157 Sumário ApresentAção UnidAde 1 - Arte-edUcAção: constrUção do conhecimento UnidAde 2 - Arte-edUcAção nA edUcAção infAntil UnidAde 3 - Arte-edUcAção nAs séries iniciAis do ensino fUndAmentAl UnidAde 4 - o desenvolvimento criAtivo UnidAde 5 - edUcAção pArA A sensibilidAde UnidAde 6 - Arte hoje: compreensão pArA elAborAr propostA contemporâneAs pArA Arte sUgestões de filme sobre Arte e ArtistAs referênciAs 5 7 39 67 85 109 129 148 158 5 Parabéns! Você está recebendo o livro-texto da disciplina de Arte e Aprendizagem, construído especialmente para este curso, baseado no seu perfil e nas necessidades da sua formação. A finalidade des- te livro é disponibilizar aos alunos de EAD conceitos e exercícios referentes à Educação Contemporânea. Estamos constantemente atualizando e melhorando este material, e você pode nos auxiliar, encaminhando sugestões e apontando melhorias, via monitor, tutor ou professor. Desde já agradecemos a sua ajuda. Lembre-se de que a sua passagem por esta disciplina será também acompanhada pelo Sistema de Ensino EaD Know How, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Ambiente Virtual de Aprendizagem. Entre sempre em contato conosco quando surgir alguma dúvida ou dificuldade. Participe dos bate-papos (chats) marcados e envie suas dúvidas pelo Tira-Dúvidas. Toda equipe está à disposição para atendê-lo (a). Seu de- senvolvimento intelectual e profissional é o nosso maior objetivo. Acredite no seu sucesso e tenha bons momentos de estudo! Equipe EaD Know How Apresentação ARTE-EDUCAÇÃO: CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO Caro Aluno Nesta unidade, estudaremos a criatividade e a expressivi- dade como fundamento da condição humana. Você terá a oportu- nidade de refletir sobre a arte-educação nas escolas. Bom Estudo!!! 11 Passamos por um longo processo de transformação para nos tornamos um indivíduo completo. É na infância que presen- ciamos as manifestações mais espontâneas do ser humano. Na infância, atribuímos sentidos e significados ao nosso cotidiano e absorvemos os conhecimentos repassados a nós. Nessa fase, pode se construir castelos ou destruí-los, e são os “mais velhos” os res- ponsáveis por essa construção ou destruição. A Condição Humana Chegamos ao mundo dependentes e incompletos. Ao contrário dos demais seres, que nascem geneticamente prontos. Nós, ao contrário, precisamos nos construir e dar sentido à nossa existência nesse mundo. A nossa vivência, tanto individual como social, acontece por meio do aprendizado. As nossas características biológicas e físicas se fazem presentes quase sempre de forma regu- lar, mas o restante faz parte do processo de construção e aprendi- zagem trocado, apropriado e transformado ao longo das gerações, ou seja, é fruto da condição humana. A necessidade de estar sempre produzindo é uma caracte- rística social e cultural presente no humano. Se a aventura humana na Terra é resultado da complexidade crescente de nossas aptidões mentais e interações com a natureza e, se da relação “homem-meio” emergiu esse processo cultural, talvez seja indispensável perguntar sobre a nossa dívida para com outros processos, que foram inter- rompidos em favor de um projeto civilizatório excludente. As aventuras do homem na Terra só aumentam a com- plexidade de suas capacidades mentais em interação com a natu- reza. Se com a relação “homem-meio” surgiu o processo cultural, é imprescindível questionar sobre nossa dívida para com outros processos que foram interrompidos por um projeto civilizatório excludente. 1. Influências da Arte na Formação do Conhecimento 12 A transferência, reorganização e novos significados de diversas ordens (física, biológicas, psíquica, simbólica), asseguram a importância do processo educativo como intermediário dessa acumulação. Compete-nos visualizar como temos exercitado essa mediação; a partir de quais métodos de pensar, temos trocado e reorganizado informações? Quais moldes mentais usamos para transmitir conhecimentos, experiências e conteúdos interpreta- tivos? Com esta abertura crítica, necessita-se tomar consciência das condições de produção de conhecimento e discutir a educação como acesso à superação da disciplinaridade fechada, não comuni- cante para pensar a formação de educadores aptos em problemati- zar e articular os conteúdos da arte-educação. Adaptamos a natureza a um tipo de mundo estruturado por nós. Essa adaptação vem trazendo consequências calamitosas, pois a natureza é transformada, principalmente, a partir das neces- sidades econômicas do presente, sem que haja uma real preocupa- ção com o futuro. É válido lembrar que nossa condição nesse mun- do passa pelo que definimos como trabalho, ou seja, a antecipação mental visando à ação. Uma coisa é certa: teremos que tomar deci- sões que podem implicar em pequenos ou grandes impactos liga- dos, ao mesmo tempo, com questões pessoais e sociais. Precisamos levar a arte que hoje está circunscrita a um mundo socialmente limitado a se expandir, tornando-se patrimônio da maioria e elevando o nível de qualidade de vida da população.” Ana Mae Barbosa (1991: 6) 13 Explicar as possibilidades cognitivas do homem diante da necessária reconstrução de um conhecimento mais universal, com- plexo e dialogal. Estabeleçamos o início, sem a preocupação de um ponto zero. É fato que, apesar de integrante do sistema que constitui o meio ambiente, o homem dele se distingue pela capacidade de pro- duzir cultura e na construção da história. É como leitor concomi- tantemente objetivo e especulativo do sistema, que o homem vem respondendo aos problemas que lhe são postos. É também como formulador de cosmologias e imagens que temos dialogado, lido e reconstruído o mundo. A partir do contato com um mundo dado (ecossistema natural) e um mundo construído (códigos culturais e representa- ções) que a relação “cérebro-espírito” tem encontrado as bases e as condições para sua complexificação e para a produção do pen- samento, do conhecimento e da cultura. Somos seres, ao mesmo tempo, marcados pela necessidade prática e pela competência es- peculativa; seres racionais e míticos. Conforme diz E. Morin em O método III, “toda renúncia ao conhecimento empírico/técnico/ racional conduziria os humanos à morte”, mas igualmente “toda a renúncia às (nossas) crenças fundamentais desintegraria a socieda- de” (s d.,p.144). Nossa sobrevivência depende de vários componentes existentes na natureza. A busca de meios para sobrevivermos dá inicio ao processo de transformação da natureza, criamos o mun- do humano, o mundo da cultura e definimos a nossa condição de existência nesse planeta. O ser humano pode criar e expressar sua existência de diferentes formas. Por isso, o trabalho, a cultura, a so- ciedade e a educação são características exclusivamente humanas. Como ressalta Saviani (2008, p.13), (.) a natureza humana não é dada ao homem, mas é por ele pro- duzida sobre a base da natureza biofísica. Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencional- mente, em cadaindivíduo singular, a humanidade que é pro- duzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. 14 Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à iden- tificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que se tornem huma- nos e, de outro, concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir tais objetivos. Podemos definir, portanto, que a capacidade de transfor- mar a natureza é especificamente humana. Mais do que nos adap- tarmos a natureza, nos apropriamos dela de diferentes formas. Mais do que garantirmos nossa sobrevivência nesse mundo, neces- sitamos de criar e expressar a nossa condição de diferentes manei- ras, nos modos de organizar, de comer, de vestir, de comunicar, de registrar, de sentir, de divertir, de descobrir, entre outros. Luís Carlos Menezes escreve um fundamento que pode nos dispor a fazer dialogarem as competências de um educador ativo e inteiro diante do mundo: Há qualidades afetivas, sociais, práticas e éticas, como so- lidariedade, curiosidade, criatividade, iniciativa, expressivi- dade, sociabilidade. Interesse cultural, preferência artística, responsabilidade coletiva, respeito humano e tantas outras que não se podem restringir a quaisquer disciplinas, ainda 15 que possam ser promovidas dentro de qualquer disciplina. (Menezes, 2000, p.6). Essas qualidades citadas podem vir a configurar estados disposicionais do professor para uma organização mais orgânica do conhecimento. A esse respeito, vale a pena lembrar as palavras de Montaigne, contidas nos seus Ensaios: “Mais vale uma cabeça bem-feita do que uma cabeça cheia”. Já Edgar Carvalho afirma que o objetivo crucial da educa- ção hoje precisa pautar-se pela “sustentabilidade e pela preservação do capital cultural da humanidade” (p.6). Para reabilitar o diálogo “entre razão e sensibilidade” - de que fala Carvalho - e reaver as qualidades “afetivas, sociais, práti- cas e éticas” sublinhadas por Menezes, o professor talvez tenha de contemplar-se ao espelho de antigo sábio, para atualizar sua ima- gem em sintonia com os desafios da sociedade atual. Como seres humanos, temos a capacidade de pensar o passado, organizar o presente e planejar o futuro. Somos capazes de expressar sentimentos de diferentes formas (amor, amizade, alegria, tristeza, decepção, admiração e outros). Somos capazes de ambiguidades, tanto podemos construir maravilhas como destruir maravilhas, devastar florestas, cidades em nome de um desejo utó- pico e equivocado; expressarmos a nossa condição nesse mundo, nosso legado e nossa miséria através da música, da literatura, da pintura, da escultura, da arquitetura e demais formas expressivas, ou seja, somos capazes de criar e recriar o mundo a nossa volta, significando-o de diferentes e infinitas maneiras. 16 Entendermos a arte depende, portanto, da compreensão do que agora definiremos como cultura. 1.2. O que é Cultura? Quem nunca ouviu expressões como: “fulano é culto”, ou “aquele povo tem muita cultura”. Ou então: “Fulano não foi à escola, não tem cultura!”. O termo cultura é muito utilizado em nosso dia a dia. Entretanto, precisamos entender o que é cultura para assim desmistificá-la. É preciso entender esses conceitos (ou preconceitos), para então darmos sentidos correto a esta palavra. É corriqueiro definir de diferentes formas o conceito de cultura, como por exemplo: algo que encontramos na escola, nos livros, nas viagens, nos museus e em outros lugares. Ou, algo que possui valor destacado em comunidades a qual participo (família, igreja, partidos políticos e outros). Todavia, uma compreensão mais precisa do que é a cultura depende do fato de abrirmos mão de conceitos do senso comum (conjunto de opiniões ou ideias que são geralmente aceitas numa época e num local determinado). De- vemos a ultrapassar a dimensão imediata do real e compreender a origem e as diferentes conceituações que o termo cultura possui. Maria da Conceição Xavier cita em seu texto “Ensinar é 17 condição Humana” (12): Para Edgar Morin, o processo de com- plexificação da natureza, animado pela pulsão cognitiva que ul- trapassa o utilitarismo, sustenta-se numa estrutura antropológica pendular que comporta, simultânea e dialogicamente, uma biolo- gia, uma animalidade e uma humanidade do conhecimento. A cultura que é a marca da sociedade humana, é organizada/ organizadora pela via do veículo cognitivo que é a lingua- gem: a partir do capital cognitivo coletivo dos conhecimen- tos adquiridos, dos saberes fazeres apreendidos, das experi- ências vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. Assim se manifestam representações coleti- vas, consciências coletivas, imaginário coletivo. Assim a cultura não é nem superestrutura nem infraestrutu- ra, esses termos sendo impróprios numa organização recur- siva na qual o que é produzido e gerado torna-se produtor e gerador daquilo que o produz ou gera. (Morin, 1991, p.17) Percebe-se que esse conceito de cultura para Edgar Mo- rin, representa simbolicamente um megacomputador complexo que inscreve instruções, prescreve normas e comandos em cére- bros individuais, das sociedades arcaicas até as pós-industriais, e vem sendo construído, pouco a pouco, num itinerário intelectu- al múltiplo, desencadeado principalmente com a publicação de O paradigma perdido, em 1973. Neste livro, é enfatizado que a substituição da floresta pela savana, a ociosidade dos adolescentes, a copulação frontal, o fogo, a instauração da exogamia, o fim do nomadismo, a articulação da palavra, a aferição de significados, o exercício das trocas e do poder, a criação do mito e da ciência são, todos, sinalizações da relação natureza-cultura, medida pela impo- sição de problemas novos e instigantes. “A hominização teve como prelúdio uma desgraça ecológica, um desvio genético e uma dissi- dência sociológica” (Morin, 1997, p. 63). Nesse macro processo, a complexificação cerebral, instigada e alimentada pela relação cons- tante entre o homínida e o meio ambiente, desempenhou o papel 18 de “centro federativo-integrativo entre as diversas esferas cujas re- lações mútuas constituem o universo antropológico: a esfera ecos- sistêmica, a esfera genética, a esfera cultural e social e, claro, a esfera fenotípica do organismo individual” (Morin, 1979, p. 136). Entre o cérebro humano e o meio ambiente existe uma zona de ambi- guidade e incerteza. E é precisamente a faculdade de indecisão o ingrediente que, ao mesmo tempo limita e abre indefinidamente a possibilidade de conhecimento (Morin, 1979, p. 130-131). Em Caldas temos explicações para a origem do termo cul- tura e suas principais aplicações. Originalmente, esta expressão [cultura] vem do latim – co- lere – e significa cultivar. Com os romanos, na Antiguidade, a palavra cultura foi usada pela primeira vez no sentido de destacar a educação aprimorada de uma pessoa, seu interes- se pelas artes, pela ciência, filosofia, enfim, por tudo aqui- lo que o homem vem produzindo ao longo de sua história (CALDAS, 1986, p.11). Desde a Antiguidade (período histórico que vai desde o surgimento das primeiras civilizações até o século V) até os nos- sos dias, esse conceito vem se modificando. Verifica-se, na verdade, uma ampliação, pois hoje cultura não se refere apenas à educação aprimorada de uma pessoa, mas pode ser definido de diferentes formas. No dicionário encontramos que cultura é: O conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através da co- municação e cooperação entre indivíduos em sociedade. O conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, e que se manifestam em praticamente em todos os aspectos da vida: modos de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, institui- ções, valores espirituais, criações materiaise artísticas, entre 19 outros (HOLANDA, 2000). Observa-se na definição acima, que é presumível extrair- mos algumas conclusões. Observamos que: cultura envolve carac- terísticas humanas que são aprendidas no convívio em sociedade, pois são as características humanas que não são inatas, ou seja, que não nascem com os homens. Como já foi dito, o homem se difere ao nascer, pois ele é dependente e o seu desenvolvimento se dá em etapas, onde o convívio com meio em que vive é importante para que se estabeleçam trocas e aprendizagem. Todos os dias, aprende- mos comportamentos e atitudes fundamentais para que possamos sobreviver e conviver em sociedade. Por isso, identificar cultura ao ensino formal (escolar) não é equivoco. A comunicação e coopera- ção estabelecida entre indivíduos e grupos são importantes para o desenvolvimento da cultura. Ao definir cultura como o conjunto de códigos e padrões que estabelecem limites, que delimitam, que regulam a ação hu- mana, tanto do indivíduo quanto do coletivo, entende-se que o indivíduo estaria cotidianamente em contato com a cultura, que se manifesta em diversos contexto da vida, além da sala de aula. A cultura estaria presente, por exemplo, nos valores e normas parti- lhados socialmente, nas instituições sociais, nas expressões de reli- giosidade e manifestações artísticas. Essas definições revelam e enfatizam o caráter socializa- dor da cultura. Isto é, a cultura existe justamente por envolver um grupo de pessoas, por reunir e organizar a vida em sociedade. Mas, a ciência que melhor nos ajuda na compreensão do que é a cultura é a Antropologia, ou seja, a ciência que estuda as diversas culturas humanas. A definição mais curta de antropologia pode ser tirada do próprio sentido etimológico do termo: Anthropos, palavra grega que significa “homem” e Logia, que significa estudo 20 ou ciência. Logo antropologia é a ciência do homem. Vá- rias ciências tratam do homem e do seu comportamento, no entanto, o que a distingue das demais ciências sociais e hu- manas é o objetivo que nutre de estudar o homem como um todo (MELLO, 2001). É importante destacar que a antropologia busca respostas para as diferenças. Uma das primeiras definições de base científica de cultura (culture) foi elaborada em 1871, por Tylor, presente em seu livro intitulado “Cultura Primitiva”: Tomado em seu sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costu- mes ou qualquer outra capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (TYLOR, apud LARAIA, 2000, p.25). Também nessa definição notamos o caráter social do ter- mo destacado ao afirmar que este se refere às capacidades e hábitos adquiridos, isto é, aprendidos pelo homem em sociedade. A partir da análise das definições, podemos enfatizar as principais características da cultura: a) ela é simbólica; b) ela não é inata; c) a cultura necessita de uma linguagem; d) ela possui caráter social; e) ela constitui-se num importante instrumento de coesão social; f ) ela é dinâmica. 21 a) A Cultura é simbólica, pois sua organização acontece em torno de símbolos e signos, cujos significados são constitu- ídos pela sociedade, isto é, en- volve a elaboração e aceitação de padrões, normas, hábitos, costumes, histórias, cujo signi- ficado é partilhado pelos indi- víduos em sociedade. b) A cultura não é inata, pois é aprendida, isto é, os indivíduos não nascem portadores de cultura, mas eles aprendem as capacida- des, habilidades, hábitos e valores que são definidos pela sociedade como sen- do importantes. c) A Cultura pressupõe uma linguagem, ou seja, um instru- mento de comunicação. Atra- vés de sua língua acontecem suas trocas de vivências e a construção de uma identidade. Podemos observa bem esse fato na comunidade surda, onde sua primeira língua é a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais. 22 d) A cultura possui um ca- ráter social, isto quer dizer que ela se refere sempre a um grupo ao qual o indiví- duo faz parte. Não há cul- tura produzida por um in- divíduo isoladamente. Para que haja a reprodução da cultura, é essencial o enga- jamento dos indivíduos no grupo, na coletividade. e) A cultura é um instrumento de co- esão social, ou seja, um instrumento que mantém os indivíduos unidos em torno de determinados ideais que são socialmente constituídos. Isso significa que a cultura é um elemento indispen- sável à manutenção da ordem social, na medida em que envolve aprendizado de hábitos, normas, tradições, valores e comportamentos por parte dos in- divíduos. Assim sendo, esses hábitos, normas e tradições formam a estrutura da sociedade, promovendo um intenso processo de integração entre os indiví- duos. Nesse sentido a cultura é sociali- zadora, já que, mesmo indiretamente, colabora para o desenvolvimento da solidariedade social e cooperação entre os membros da sociedade. 23 f) A Cultura é dinâmica, isto é, está em constante movi- mento. Embora seu caráter socializador lhe confira certa estabili- dade, efetivamente ela muda o tempo todo, ainda que de maneira lenta, quase imperceptível. Isso quer dizer que, se por um lado, a cultura representa uma forma de manutenção da ordem social – já que por meio de tradições, hábitos, normas e costumes são difun- didos – por outro lado ela não impede as mudanças, as transfor- mações oriundas, principalmente dos processos de troca entre as diferentes culturas. Assim sendo, cultura e sociedade são indissociáveis. Não existe cultura fora da sociedade, bem como não existe sociedade sem cultura. O homem ao criar e se expressar no mundo, afirma, também, a sua identidade individual e social, sua condição nesse mundo, seus valores e, ao mesmo tempo, grande parte dos valo- res da sociedade em que vive. Por isso, ao compreendermos a arte como cultura, afirmamos o seu caráter social e necessário, sua fun- ção enquanto agende de produção, afirmação, reprodução e trans- formação da cultura e da sociedade. Mas afinal, como podemos definir a arte? 1.3. Arte O mundo da arte é concreto e vivo podendo ser obser- vado, compreendido e apreciado. Através da experiência artística o ser humano desenvolve sua imaginação e criação, aprendendo a conviver com seus semelhantes, respeitando as diferenças e saben- do modificar sua realidade. A arte dá e encontra forma e significa- do como instrumento de vida na busca do entendimento de quem somos, onde estamos e o que fazemos no mundo. Mas o que é Arte e para que ela serve? Definir o que é arte é uma tarefa difícil. Ao buscarmos essa resposta, nos deparamos com as mais variadas definições. O fato é que todo mundo sabe dar uma opinião sobre o que pode ser identificado como arte, sabe citar au- tores e obras famosas, como a Pietá, de Michelangelo, Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, a Nona Sinfonia, de Beethoven, o Davi, de Michelangelo e assim segue. Indiscutivelmente essas são obras de 24 arte. Para podermos responder a essas perguntas devemos, antes de tudo, saber que a arte é conhecimento. A arte é uma das primeiras manifestações da humanidade, uma das primeiras maneiras do ser humano marcar sua presença, criando objetos e formas (pintura nas cavernas, templos religiosos, roupas, quadros, filmes etc.) que representam sua vivência no mundo, comunicando e expressando suas ideias, sentimentos e sensações para os outros. Desta maneira, quando o ser humano faz arte, ele cria um objeto artístico que não precisa nos mostrar exatamente como as coisas são no mundo na- tural ou vivido, mas sim, como as coisas podem ser, de acordo com a sua visão. A função da arte e o seu valor, portanto, não estão no retrato fiel da realidade, mas sim, na representação simbólica do mundo humano. Ao identificarmos a arte como expressão da cultura, como “todo conjunto complexo dos padrões de comportamento, das crenças e instituições, valores espirituais e materiais transmi- tidos coletivamente (...)”, chegamos auma possível definição, ou seja, “(...) arte são certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo” (COLI, 2007). A arte, portanto, está presente em tudo que fazemos para agradar os nossos sentidos. Pietá. Michelangelo. Igreja de São Pedro, Vaticano, Itália. C. de 1500 25 São precisos três elementos para que a arte exista: o ar- tista, o observador e a obra de arte. O artista é aquele que cria a obra, partindo do seu conhecimento concreto, abstrato e indi- vidual transmitindo e expressando suas ideias, sentimentos, emo- ções em um objeto artístico (pintura, escultura, desenho etc.) que simbolize esses conceitos. Para criar a obra, o artista necessita conhecer e experimentar os materiais com que trabalha, quais as técnicas que melhor se encaixam em sua proposta de arte, e como expor seu conhecimento de maneira formal no objeto artístico. O outro elemento é o observador, que faz parte do público que tem o contato com a obra, partindo num caminho inverso ao do artista – observa a obra para chegar ao conhecimento de mundo que ela contém. Para isso, o observador precisa de sensibilidade, disponibilidade para entendê-la e algum conhecimento de história e história da arte, assim poderá entender o contexto em que a obra foi produzida, e fazer relação com o seu próprio contexto. Por fim, a obra de arte ou o objeto artístico, faz parte de todo o processo, indo da criação do artista até o entendimento e apreciação do ob- servador. A obra de arte guarda um fim em si mesma, sem precisar de um complemento ou “tradução”, desde que isso não faça parte da proposta do artista. É comum falar em arte referindo-se às obras consagradas que estão nos museus, às músicas eruditas apresentadas em gran- des espetáculos, ou ainda, aos monumentos existentes no mundo. Alguns consideram arte apenas o que é feito por artistas consagra- dos, enquanto outros julgam ser arte, também, as manifestações da cultura popular, como os romances de “cordel”, tão comuns no nordeste do Brasil. Para muitos, as manifestações da cultura de massa, como o cinema e a fotografia, não são arte, ao passo que outros admitem o valor artístico dessas produções, ou pelo menos de parte delas. Não são poucos os que, mesmo diante das obras expostas em even- tos artísticos famosos, sentem-se confusos a respeito do que veem (COSTA, 1999). 26 Visitantes no Museu do Vidro em Nova York, Estados Unidos. Vivemos em um mundo que modifica a paisagem natural por um cenário criado pelo homem, onde existe um número muito grande de produtos, informações e principalmente imagens. Para que possamos conviver diariamente com essa produção infinita de forma agradável, devemos aprender a avaliar essa “paisagem”, sua função, sua forma e seu conteúdo. Isso exige o uso de nossa sen- sibilidade estética. Esta é uma exigência para podermos deixar de ser observadores passivos e nos tornarmos espectadores críticos, participantes e exigentes. A palavra estética vem do latim aísthesis, que significa sen- sação, sentimento. Analisa o complexo das sensações e dos sentimentos, investiga sua integração nas atividades físicas e mentais do homem, debruçando-se sobre as produções (ar- tísticas ou não) da sensibilidade, com o fim de determinar suas relações com o conhecimento, com a razão e a ética. Daí formularmos as seguintes questões: nossos juízos de va- lor e preferência quanto às coisas sensíveis são meramente subjetivos e arbitrários? As regras do gosto seriam meras convenções, normas impostas pela autoridade de grupos e indivíduos? Ou haveria no gosto um elemento racional ou 27 uma capacidade autônoma de perceber e julgar? (Rosen- field, 2006). Nos dias de hoje existe a exigência por um conhecimento geral de mundo e uma suscetibilidade acentuada para entendê-lo. As artes permitem que se desenvolva o espaço das mais diversas atividades. Dê uma olhada em seu entorno ou faça um passeio pela cidade para se dar conta de que as obras de arte não estão reserva- das aos espaços tradicionais – galerias, museus e teatros. Provavel- mente, você encontrará um grupo de teatro de rua se apresentan- do. Nas grandes cidades se convive com obras de arte expostas em outdoors, pinturas de artistas em edifícios e grafite em muros. A arte contemporânea permite que o artista busque alternativas para mostrar sua arte. Quase todos os espaços e atividades apresentam, de algu- ma forma, questões estéticas e artísticas que precisam ser entendi- das. Essa presença da arte em novos ambientes, em formas inusita- das, invadindo nosso dia a dia, abre aos artistas um campo imenso da atuação profissional (COSTA, 1999). Não é mais possível pensar em arte como uma produção restrita a determinados espaços. Ela está presente em nosso coti- diano, adentrando os mais diversos locais. Cabe a nós compreen- dê-la, como expressão desse mundo, como um elemento da nossa cultura, como expressão da subjetividade humana, mas também, como expressão da história, da cultura, da sociedade. Principal- mente, como expressão da diversidade humana. 28 1.4. Cultura, Arte e Diversidade Nota-se que a arte expressa a diversi- dade humana de forma subjetiva, porém consi- dera as possibilidades do homem manifestar sua interpretação do mun- do que o rodeia. Povos diferentes encontram maneiras distintas de estabelecer sua relação com a natureza e com os sentimentos humanos. O ser humano não é uma ilha, ele é capaz de viver em so- ciedade e isso faz com que seja indispensável que o homem busque apreender a cultura da sociedade em que vive. Portanto, socializar, compartilhar regras de convivência, modos de ser, de aprender, de fazer, de transformar e de se expressar no mundo faz com que o homem interaja com seu meio. Como cultura, a arte é simbólica, ou seja, expressão dos símbolos e signos, cujos significados são estabelecidos pela socie- dade, isto envolve a elaboração e aceitação de padrões, normas, hábitos, costumes, histórias, cujo significado é partilhado pelos indivíduos em sociedade. Como cultura, a arte não é inata, mas criada, aprendi- da pelo homem na vida em sociedade. Assim, a arte tem um valor social na medida em que os homens definem e compartilham as características que fazem de um som, de um texto, de uma escultu- ra, de uma imagem e outros, algo que possua valor artístico reco- 29 nhecido. Por isso, talvez, seja tão difícil definir o que é que arte e existam tantas polêmicas a respeito dessa questão. Como cultura, a arte é uma linguagem, ela é uma ferra- menta de comunicação, é uma forma de dizer sobre o mundo e os sentimentos humanos. A arte sempre pressupõe uma mensagem. Ela sempre diz alguma coisa e nunca é imune ao olhar humano. Como cultura, a arte possui um caráter social, isto quer dizer que ela se refere sempre ao meio no qual o indivíduo faz par- te. A arte expressa a criatividade e a interpretação de um indivíduo ou grupo de indivíduos. Se não existe homem sem cultura e se a cultura é socialmente compartilhada, o artista é sempre um ser cul- tural e social e isso sempre refletirá em sua arte. Como cultura, a arte é um instrumento de coesão social, ou seja, um instrumento que mantém os indivíduos unidos em tor- no de determinados ideais que são socialmente constituídos. Isso significa que a arte pode ser utilizada como um elemento da manu- tenção da ordem social, na medida em que pode retratar e dizer so- bre os hábitos, as normas, as tradições, os valores e comportamen- to dos indivíduos. A arte contribuiu na socialização de uma forma de viver e pensar o mundo. Por exemplo, uma peça de teatro que fala sobre o amor entre duas pessoas, nos diz muito sobre como os homens lidam e expressam os seus sentimentos e como, na socie- dade que vivemos, parte desses sentimentos são vivenciados. Como cultura, a arte é dinâmica, isto é, está em constante movimento. Se por um lado a arte pode representar uma forma de manutenção da ordem social – já que difundetradições, hábitos, normas e costumes – por outro lado ela não impede as mudanças, pelo contrário, a arte pode expressar o desejo e a necessidade da mudança. A necessidade de romper com a tradição e os costumes e de anunciar o desejo de se construir uma sociedade diferente. A arte é tão dinâmica que, talvez, muito do que se considera arte hoje, não seria considerada arte se estivéssemos na Idade Média. Hoje já parece quase impossível pensar a arte afastada da tecnolo- gia, da vida urbana, da indústria, pois estes representam os novos 30 ambientes dominantes dos homens. Arte, cultura e sociedade são indissociáveis. Cabe a nós refletirmos e compreendermos sobre o papel da arte na sociedade em que vivemos. Nesta unidade, você pôde compreender que, como um fato da sociedade, a arte manifesta sua cultura, seus valores, suas técnicas, sua moral, sua capacidade de inventar e reinventar a vida. Como manifestação da cultura e expressão da nossa condição hu- mana, a arte simboliza a capacidade do homem de expressar e de criar o mundo à sua volta. Viver é uma arte, a arte de se reinventar e de significar a nossa existência individual e social. Isso nos inte- gra à sociedade, isso marca a nossa distinção em relação aos demais seres da natureza. A arte é uma das provas incontestáveis de que o homem é diverso e de que essa diversidade pode ser manifestada de muitas maneiras. Arte é cultura. Síntese da Unidade Exercício de Fixação Leio o texto abaixo e responda às questões. Ilusão e Arte Artigo de Mauro Andriole A relação entre a Arte e a Ilusão é absolutamente indisso- lúvel. Se o artista é tomado por um desejo de realização do Belo a partir de sua interioridade, na qual um objeto se eleva à paradigma da Beleza, é porque não há freios nesta experiência, vivida de fato, 31 que o impeçam de justificar seu propósito artístico. E assim, o ímpeto criador encontra seu curso livre para a realização da obra, mesmo que ela retenha apenas a Ilusão de ser o objeto que lhe dá um sentido aparente, pois, tanto quanto o Mito, a obra só alcança seu significado verdadeiramente na representação de si mesmo, por mais que isto pareça impossível ao olhar leigo. Só há sentido na criação quando a Ilusão a que o artista está acometido, suspende seu domínio lógico, ou seja, quando as bases de sua realidade ordinária, da objetividade intrínseca que fun- damenta sua razão, se sublimam ante o que é extraordinário, assim alargando, por assim dizer, os limites da noção de realidade. Daí, dizermos que o domínio da Arte é autônomo, e sua lógica - se é que este termo é o adequado para isto - consiste em algo mais do que o possível e o impossível, aquilo que, instaurando novas bases, cria o meio e a forma da realidade inefável tal como o paradigma da realidade. A autonomia do artista está justamente em sua utopia, neste sonho e desejo de realizar a tradução desse universo inefável para uma linguagem compreensível à razão, porém, quando o faz, ela fala numa língua liberta de meios exclusivos, e ultrapassa todo e qualquer senso comum. E, desta forma, mais do que traduzir seu desejo, o artista constitui uma linguagem perfeita, porque sua forma é universal por excelência, seu discurso visa e deve atender a ne- cessidades independentes de quaisquer fatores culturais, políticos, filosóficos ou religiosos, dizendo seu conteúdo a todos que a con- templem. É neste sentido que se identifica com o Mito, porque ao atingir este poder de Iludir, continua representativa e significativa indefinidamente no tempo. Temos, portanto, que é na Arte que a dimensão extraordi- nária se manifesta abertamente. Isto ocorre porque esta é a nature- za da Arte. A Obra de Arte verdadeira é uma realidade perfeita em si mesma, independente da autoria, da data ou da técnica escolhida para sua materialização. 32 Manifesta no mundo, ela torna-se potência pura, inesgotá- vel em seu poder de indução. Trata-se da realização de um Cosmo, que atravessa os limites da fugacidade sensorial e se instala na ma- téria e na consciência, trazendo para o plano real, as ideias de eter- nidade, imortalidade e universalidade. Nesse sentido é que a Arte é a manifestação da Beleza Suprema, é nela que o espírito humano busca o que lhe sobrepassa e ao mesmo tempo lhe confere uma dis- tinção entre todos os outros animais. No entanto, a Arte revela este poder de persuasão através da Ilusão, porque despida de seu significado emocional, reduz-se a matéria amorfa. Não há Arte que resista em seu esplendor to- tal quando posta à indiferença e mediocridade humanas. Restará apenas uma sombra sem um corpo que lhe justifique, e o mesmo se pode dizer daquele que desce até onde a luz da obra de Arte não pode lhe alcançar. De fato, a comunicação de um conteúdo através da Obra, só pode se dar plenamente quando os fatores culturais colaboram para isto. De modo que, o mesmo conteúdo seja lido por povos distintos, sob formas distintas, ou até mesmo, anulado em sua inte- gridade, quando ela não encontra similitude no seio da sociedade. Não podemos desprezar as diferenças entre a percepção de civilizações ancestrais diante do objeto de Arte moderno, como ocorre com os povos indígenas isolados da cultura branca - caso dos aborígenes australianos ou dos ianomâmis do norte da América do Sul - diante do quais, a foto de uma paisagem, não representa mais do que um pedaço de papel colorido, e jamais “alguém ou uma paisa- gem”; reagem distanciando-se largamente da noção moderna do que é uma reprodução de espaço e tempo, fato que nos chega de imediato devido a formação cultural que nos dá bases para isto. Por outro lado, a despeito desse caso específico, há casos em que as barreiras culturais não impedem o fenômeno da Ilusão, e este é o nosso interesse. É exatamente quando os limites da cultu- ra cessam sua influência sobre a apreensão do conteúdo da Obra, quando a Ilusão recai igualmente sobre qualquer homem, que o fe- 33 nômeno artístico se modifica, e distingue-se da forma como apre- sentava-se antes. Tudo se altera com o advento da imagem virtual, criada recentemente pela manipulação dos recursos tecnológicos. A imagem digital de um peixe, vista num monitor, será sempre percebida igualmente em sua integridade, por qualquer homem contemporâneo? Será que ela dirá seu conteúdo, até mesmo para o homem isolado deste tipo de representação tecnológica? Chega- mos a Ilusão plena? Talvez. Mas antes de discutirmos essa questão, precisamos entender em que contexto o artista também se modifi- cou diante de tais recursos. Será que a conquista do espaço virtual modificou o artista em seu desejo de realizar a tradução da Beleza? Por que este desejo estaria relacionado às mudanças que os meios técnicos sofreram? Aparentemente, não há como dissociar a apre- ensão sensorial, dos meio disponíveis para representá-la. Daí, toda transformação nos meios geraria uma alteração na percepção do que pode ou não ser representado pelo artista. No entanto, o modelo ideal, que condiciona o gesto cria- dor, não é suficientemente rígido para permitir uma só resposta. Podemos arriscar, que no mais das vezes, estas transformações vem para cercear práticas artísticas consideradas antigas, em detrimen- to das inovações do aparato técnico, que desvelam a cada tentativa do artista, uma nova chance para saciar sua ânsia de realizar a obra. Mas de que modo o meio pode condicionar a apreensão do desejo criador se ele só é posto em uso posteriormente? O que quero dizer, é que nada pode limitar o desejo de re- presentação a parâmetros fixos, de modo que a descoberta que vem à luz sob outros meios, ganha contornos novos incessantemente, de outro modo, nem poderíamos chamá-la de descoberta verda- deiramente. E durante esse processo criativo investigativo, as for- mas desveladas são por si mesmas muito mais eficazes para o curso que a obra tomará, do que a própria ideia original de onde partiu o gesto. Seria algo como a obrada obra, pois a cada experimentação, a cada nova investida, o modelo sofre mutações para ajustar-se a esse todo. E isto se revela igualmente na realização artística, desde a primeira mancha pré-histórica numa caverna até chegar ao nosso 34 click do mouse contemporâneo. Mas esta seria uma condição inevitável ou natural? O ar- tista é refém da técnica ou é senhor dela no momento da criação da Obra? Na verdade, o foco do artista nunca dependeu totalmente do meio que dispunha para executar sua Obra, ao menos, não há ra- zões para esta limitação, mas, pelo contrário, ao nos deparamos com Obras colossais, como as esculturas de Michelangelo, por exemplo, é difícil duvidar do quanto este gênio realmente estava seguro de sua realização antes de golpear o mármore. Contudo sua segurança se encontrava enraizada profundamente em seu desejo criador, subli- mando qualquer dúvida quanto ao modo de realizá-la. O desafio diante da realização da Obra, já é parte da primeira etapa do processo criativo, sobre isto não precisamos ter dúvidas. Mas em que instante a Ilusão permeia esse empreendimento criador? Ora, durante todo o tempo, pois o artista parte de uma impossibilidade:, ele pretende consagrar um instante expressivo na matéria amorfa, ignorando os limites físicos, e inaugurando um novo tempo com este espaço, ele desoculta o espaço extraordiná- rio, como dissemos antes. O gesto iluminado na obra escultórica está absolutamente transcorrendo em nossa apreensão, e permane- ce petrificado a despeito do que sentimos como verdadeiro! Isto é extraordinário! Temos que ter em mente, que o termo extraordinário visa a distinção do que é o ordinário, no sentido do que não se insere na ordem do dia comum, e transcende o sentido que tem a produção de bens de consumo, intrinsecamente efêmeros por necessidade merca- dológica. A Obra situa-se no extremo oposto dessa natureza de obje- tos, e só pode nascer de uma necessidade igualmente extraordinária, que abranja esse sentido transcendental, que é imanente na Arte. Dizemos que a Ilusão recai sobre todo artista e sobre a Arte, porque é justamente esse universo que o coloca em questão sobre o que é a realidade. De fato, nossa noção de realidade se funda, quase em sua 35 totalidade, na crença de que conhecemos as coisas tal como elas são. Mas o que diríamos acerca dos que ignoram nossas descobertas mo- dernas, hoje tão corriqueiras, como as pilhas ou a luz fosforescente? Não precisamos recuar muito para percebermos que a re- alidade atual era uma ficção, ou talvez nem isso sequer, pois nem havia a possibilidade de imaginar tais conquistas, já que o desejo que as motivou não pulsava nas veias humanas. Será que é possível crer que alguém desejasse um aparelho para exercitar a corrida e que não ocupasse espaço na casa? Uma esteira pareceria uma boa ideia em 1800? Só se servisse para trans- portar cargas pesadas talvez. Mas para alguém correr sobre ela? E assim, o mesmo poderíamos dizer sobre inúmeros objetos que hoje são imprescindíveis, como o abridor de latas, as lâminas descartá- veis, os filtros de papel para o aspirador de pó, etc., etc. e etc. O desejo humano se transformou, e com ele, a realidade assumiu contornos definidos para a época e para as crenças vigentes. Então, o que é a realidade de fato? Esta é uma pergunta que não impede o artista de crer que contribui de algum modo para desocultar faces misteriosas do espírito humano, e abre seu Cosmo para todos, como se ele fosse verdadeiramente o de todos nós. Sua obra é Iludir-se de que não há ilusões mas apenas realidade. O Autor Mauro Andriole é artista plástico, estudioso de filosofia, sobretudo de temas que convergem para a ciência e a metafísica. Sobre sua produção atual de gravuras, ele diz: Traba- lho simultaneamente em dois temas absolutamente interligados: PHYSIS - que trata da questão grega da “natureza das coisas”, e Po- vos Ancestrais do Brasil - seguindo um caminho do coração junto à mitologia e sabedoria do Índio brasileiro. Responda: 1) Qual a importância da arte na construção do conheci- mento? Qual a relação entre a arte e a ilusão? 2) O espaço virtual e as novas tecnologias modificaram o 36 conceito de “beleza” para o artista? 3) Você concorda com o texto acima? Justifique sua resposta. ARTE-EDUCAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Caro Aluno, Seja bem-vindo (a) à nossa segunda unidade. Esta unida- de será dedicada a uma importante reflexão sobre a função da arte no universo da criança. Você terá a oportunidade de entender me- lhor as relações da arte com a criança. Boa reflexão! 43 Como expõe Read a apreciação não se adquire através de contemplação passiva, porém, os sentidos da criança só podem ser ampliados “através da ação, e a ação requer espaço, não o espaço restrito de uma sala ou de um ginásio, mas o espaço da natureza” (READ, 1956, p.306). [.] liberdade no seu sentido mais óbvio: liberdade de movi- mento, liberdade para vaguear [.]. Os sentidos da criança só podem ser educados através da ação, e a ação requer espaço – não o espaço restrito de uma sala ou de um ginásio, mas o espaço da natureza constante. (READ, 1958, p. 360). Para Fischer: "A arte pode elevar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser íntegro total. A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como transformá-la, aumentando a determinação de torná-la mais necessária para a humanidade. A arte é uma realidade social. A so- ciedade precisa do artista, este supremo feiticeiro, e tem o direito de pedir-lhe que ele seja consciente de sua função social. Mesmo o mais subjetivo dos artistas trabalha em favor da sociedade, pelo simples fato de descrever sentimentos, relações e condições que não haviam sido descritos anteriormente [.], representa um im- pulso na direção de uma nova comunidade cheia de diferenças e tensões, na qual a voz individual não se perde em uma vasta unis- sonância." (in A necessidade da arte, pp. 56-57). 2.1. Educação Infantil É importante lembramos que a Lei Nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996 estabelece as diretrizes 2. A Função Social da Arte para a Criança 44 e bases da educação nacional em seu Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, inte- lectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30. A educação infantil será oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. Art. 31. Na educação infantil a avaliação far-se-á median- te acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao en- sino fundamental. Essa informação não poderia ser deixada de lado, para ini- ciarmos nosso tema. A Educação Infantil é um campo recente da Educação Formal cujo surgimento se vincula aos movimentos so- ciais decorrentes da Revolução Industrial. Régis de Moraes descre- ve a industrialização da seguinte maneira, em seu livro intitulado "Educação Contemporânea: olhares e cenários", da Coleção Edu- cação em debate, (2003, p.79): “De 1750 a 1850 aproximadamen- te, ocorreria propriamente uma revolução tecnológica, marcada por grande surto inventivo que trouxe à vida sociocultural imensas e seguidas transformações. Propriamente, do final do século XVIII em diante, deu-se uma Revolução Industrial principalmente carac- terizada por evoluções da Revolução Comercial, tanto quanto pela fusão entre avanços científicos e progressos tecnológicos.” Esse advento da Revolução Industrial determinou um novo modelo de família. A admissão de mulheres nas indústrias trouxe modificações com relação ao cotidiano das famílias. Um 45 novo modelo de família denominado conjugal aparece, pois a mu- lher assume um novo papel socialdevido a sua entrada no mercado de trabalho. Este novo papel social fez com que as mulheres, de uma maneira mais geral, se preocupassem com a educação de seus fi- lhos, contribuindo para a ocorrência de reivindicações através de movimentos sociais em prol de um novo espaço educativo, voltado para uma educação compensatória. A Educação Infantil de cunho assistencialista, prevista para esse novo espaço, envolveu na sua maioria, o atendimento às famílias pobres, cuja estruturação familiar possuía semelhanças com a família de Portinari descrita neste trecho de sua biografia: Nasceu no dia 30 de dezembro de 1903, na cidade de Brodowski, (.), filho de Batista Portinari e Dominga Torquato Portinari, hu- mildes imigrantes italianos que educaram seus doze filhos com se- veros padrões morais e religiosos (.). Logo que foi para a escola já começou a se transformar num artista (.), a única preocupação de Candinho era comprar uma caixa de lápis de cor para dar vida aos seus desenhos. Mas com que dinheiro?" (2005, p.11) Esse vínculo assistencialista esteve presente no âmbito in- fantil aqui no Brasil e em vários países da Europa, desencadeando expectativas voltadas para a superação da miséria, da pobreza e da negligência das famílias. Froebel e Montessori desenvolveram tra- balhos educativos significativos nesse âmbito com relação às fave- las. Na Alemanha (Berlim), Froebel iniciou os jardins da infância, ao mesmo tempo que, na Itália, Montessori desenvolveu trabalhos nas pré-escolas e McMillan se preocupou com a estimulação cog- nitiva, a assistência médica e dentária de maneira a compensar as deficiências das crianças. De uma educação a princípio assistencialista, surge uma Educação Infantil com duas preocupações essenciais voltadas para o cuidar e o educar as crianças decorrentes dos interesses da socie- dade industrial. 46 Estas preocupações influenciaram as contribuições dos Pioneiros da Escola Nova e se fizeram presentes nas classes de Educação Infantil. Pois, tais intelectuais eram militantes, "tinham clareza do momento político que estavam vivendo, porém eram idealistas, românticos; queriam uma reforma educacional a serviço de um Brasil moderno." (FARIA, 1999, p.85) Com isso, as novas concepções educacionais trazidas pelos especialistas foram inerentes às exigências industriais e re- sultantes dessas contribuições revolucionárias sobre o desenvolvi- mento da criança, envolvendo os cuidados, as etapas e a formação do novo cidadão. Algumas contribuições inovadoras eram resultantes das preocupações com os cuidados com a saúde e a nutrição da crian- ça, decorrentes do alto índice de Mortalidade Infantil ocorridos até o século XVII. Mediante algumas contribuições renovadoras, resultan- tes das novas concepções preocupadas em estabelecer o que e o como ensinar na infância, ocorreu "uma desvalorização de outros modos de educação da criança antes existentes." (CRAIDY e KA- ERCHER, 2001, p.14) Com a sociedade burguesa (final do século XVIII e iní- cio do século XIX) se generalizou o modo de ver a infância como categoria peculiar da sociedade, a "criança (se tornou) uma figura da coletividade, dotada de necessidades próprias, merecedora de atenção e destinatária, por excelência, das intervenções educati- vas." (BECCHI apud FARIA, 1999, p.56) As preocupações com o relacionamento criança-adulto são inerentes à contínua reconstrução do termo infância, ou seja, "a reconstrução do passado da vida infantil nos constrange a con- frontarmos com uma série de problemas, de ocultamentos, de ope- rações ideológicas e societárias que no presente ainda não foram resolvidas." (BECCHI apud FARIA, 1999, p.58). Isto ocorre, pois, este termo se faz singular e reflete as di- 47 ferentes organizações sociais (classes, camadas e grupos sociais), culturas e governos advindos dos diferentes momentos históricos. A Educação Infantil, por isso, não pode ser vista como um novo modo de educação sem que se conheça outro ou outros mo- dos de educação já existentes, mesmo que estes estejam em proces- so de desvalorização devido às novas ideias e correntes que surgem. Um modo de educação já existente era a Educação Dual, que tinha como condicionante o papel social que a criança iria exer- cer na sociedade, cuja relação estrita se devia à ascensão da burguesia e a sua permanência como classe social dirigente e dominante. Na Educação Dual, os educadores educavam seus educan- dos através da transmissão de conhecimentos. Essa educação tradi- cional era influenciada por concepções que viam a criança como um ser primitivo, irracional e não pensante - até o século XVIII. Essas concepções comungavam as ideias da corrente em- pirista (Locke, Berkeley e Hume) que argumentava que o conhe- cimento deveria ser internalizado pelo indivíduo através dos senti- dos. Neste sentido, os educadores transmitindo os conhecimentos, iriam "escrevendo" as experiências educativas à medida que os edu- candos iriam crescendo (KAMII, 2002, p.16). Durkheim releva essas características empiristas, quan- do afirma que "a ação do educador (.), baseia-se na passividade da criança - considerada como uma tábula rasa "por condição natural" - e no poder do educador - dada a sua superioridade em matéria de experiência e cultura." (GROPPO, 2005, p.8). Em contrariedade à Educação Dual nesse novo âmbito educativo, as pesquisas de estudiosos, como Sigmund Freud, Jean Piaget, Lev S. Vygotsky, Sônia Kramer e Maria Montessori, se vol- taram para uma concepção de infância única. Bem mais próximas das ideias da corrente racionalista (Descartes, Spinoza e Kant), es- tas pesquisas resultaram em teorias que influenciam a Educação Infantil até os dias atuais. 48 Ao receber abordagens em várias vertentes com relação ao desenvolvimento moral (conduta da criança), ao desenvolvi- mento psicológico (pensamento da criança) e ao desenvolvimen- to pedagógico (aprendizagem da criança), fundamentadas numa concepção única de infância, estabeleceu-se um padrão de desen- volvimento para a criança na Educação Infantil. Esse padrão estabelecido vinculava-se a várias teorias, en- tre as quais, podem-se destacar as teorias sobre o desenvolvimento moral, cuja preocupação, talvez - não tão explícita para toda a so- ciedade - era a formação de um novo cidadão (trabalhador) apro- priado para as novas exigências sociais. Essas teorias nortearam a formação de valores, como a disciplina e o condicionamento à rea- lização de tarefas desde a infância. Todavia, as crianças que não se "enquadravam" neste pa- drão esperado eram consideradas "privadas culturalmente". Bourdieu fez con- tribuições semelhantes com relação ao "capital cultural", voltadas para a importância de se estabelecer um padrão, como ocorreu com esses moralistas, afirmando que: “Cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas, certo capital cultural e certo ethos, sistema de valores implícitos e profundamente interioriza- dos, que contribui para definir, entre outras coisas, as atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar. A herança cultural, que difere, sob dois aspectos, segundo as classes sociais, é responsável pela diferença inicial das crianças diante da experiência escolar e, consequentemente, pelas taxas de êxito". (1998, pp.41 e 42) Surgem nesta época, teorias interessadas em descrever a natureza moral das crianças. Algumas ideias defendidas diziam que a educação poderia "proteger" a criança e traçar um destino social (justificativa para a intervenção dos governos e da filantro- pia para transformá-las de crianças (principalmente, as pobres) em sujeitos desejados pela sociedade industrial). Em outras teorias fundamentadas no pensamento e aprendizagem da criança: as teorias epistemológicas (sócio inte- 49 racionista), as teorias psicanalíticas (freudianas) e as teorias psico- lógicas (sócio histórica) aparecem também, essa preocupação com um padrão para as crianças. Jean Piaget, o principalrepresentante da teoria episte- mológica, trouxe contribuições baseadas em etapas do desenvol- vimento da criança, estabelecia determinadas características para a criança em determinada etapa de desenvolvimento, respeitando a idade cronológica de acordo com o meio em que ela vive. Sigmund Freud começa suas contribuições à estrutura do pensamento ressaltando posteriormente a importância do id (o que está presente no inconsciente), do ego (o que é consciente) e do superego (restrição devido as convenções sociais). Lev. S. Vygotsky, o principal representante da teoria psi- cológica, trouxe contribuições sobre a zona de desenvolvimento da criança. Tais contribuições (ao mesmo tempo refletidas e em contradição com as ideias de Piaget) revolucionariam as épocas posteriores (atualmente, é um dos teóricos mais pesquisados na Educação Infantil), atribuindo ao educador a característica de me- diador dos conhecimentos (presente nos PCNs). Sendo impulsionada por essas ideias, por uma concep- ção única de infância, principalmente no século XX, difundiu-se muitas contribuições dos especialistas em congressos nacionais e internacionais, ampliando as pesquisas sobre a criança e a infância e, ocasionando o crescimento da Educação Infantil. Segundo Faria, na segunda metade do século XIX e co- meço do século XX, são realizados muitos congressos e confe- rências nacionais e internacionais sobre a infância, a pobreza, o operariado, mulher, patrocinados tanto pela classe operária como pela burguesia, assim como já existia muita publicação sobre esses temas. (p.95, 1999) A Educação Infantil é, a princípio, um direito das mulhe- res trabalhadoras, mas seu surgimento recebeu muitas contribui- ções nacionais e internacionais como se percebe pela afirmação de 50 Faria. No Brasil, este novo âmbito, se constituiu em escolas públi- cas (para os filhos das mulheres trabalhadoras das indústrias) e em escolas privadas (para os filhos dos burgueses). Além de, no início, também existirem algumas iniciativas de Educação Infantil nas in- dústrias, embora não obtivessem muito êxito. Portanto, "(.) a preocupação com a infância na Europa e nos EUA assume determinadas características que permitem um incremento na produção intelectual nessa área (.) que marcam uma nova fase na pesquisa sobre a criança pequena." (CARVA- LHO & BERALDO apud FARIA, 1999, p.58) A Educação Infantil, devido as novas concepções, teve in- fluências revolucionárias dos especialistas pertinentes às ideias de outra corrente (racionalista) que transformou essa educação com- pensatória numa dimensão educativa em que se modifica a relação entre educadores e educandos. Se comparada com a Educação Dual - baseada na trans- missão de conhecimentos já existente -, se percebe que com as no- vas concepções, a Educação Infantil se fundamenta, em contrapar- tida, na construção de conhecimentos pelos educandos através de desafios alcançáveis oportunizados pelos educadores. Pode-se dizer que o Modelo Construtivista é valorizado nas práticas pedagógicas desde o surgimento deste espaço educa- tivo com instrumentos sobre o lúdico adequados a essa nova con- cepção de infância. Esse Modelo Construtivista transformou a função dos educadores. Pois, os educadores têm, nesta época, a função de re- alizar uma ação educativa, promovendo experiências desafiadoras e contendo brinquedos adequados às manifestações de cada faixa etária (que constitui a infância devido às inovações teóricas trazi- das pelos especialistas) e em contrapartida, buscar formar um indi- víduo produtivo e adequado às exigências sociais. Esse restrito, mas indispensável resgate histórico da Educação Infantil, faz com que se acredite na abertura de novos 51 caminhos realizados por essa nova educação, embora esteja con- dicionada à sociedade industrial e à construção de novos padrões capitalistas. Por isso, para que essa educação se faça diferente e transcenda a manutenção das desigualdades sociais é necessário que seja respeitada a “Cultura Popular”, fazendo com esta seja o ponto de partida para uma educação emancipadora. No Brasil são pioneiras as preocupações no âmbito da educação. Paulo Freire é um exemplo, suas experiências tiveram uma aplicação emancipatória em Educação Popular desde 1960, principalmente com o florescimento das Comunidades Eclesiais de Base e com a eclosão dos movimentos sociais. Uma educação emancipadora precisa resgatar uma causa popular presente na mobilização das mulheres trabalhadoras pelo direito de ter uma educação para seus filhos no âmbito infantil, ao invés de privilegiar o atendimento às exigências da elite econômica de um país. 2.2. Função Social da Arte “Veja bem, a primeira função social da arte é a arte mesma. 2soas, ela dá alegria, ela enriquece a vida das pessoas. Então a arte foi uma das coisas que o homem criou pra inventar o seu mundo, porque o ser humano é um ser cultural, ele não é um ser estritamente natural. Ele nasce da natureza, mas, ele vive no mundo da cultura, quem vive na natureza é macaco, onça, jacaré… o homem vive no mundo da cultura. A cida- de é inventada pelo homem, é uma coisa complexíssima, já imaginou quanta coisa existe, quanto equipamento existe pra essa cidade funcionar? É uma invenção extraordinária do ser humano, onde ele vive. É o mundo dele, que ele criou. Então a arte é parte desse mundo, ela não é a verdade, ela não tem por função dizer a verdade verdadeira que ninguém viu, pelo contrário, o Picasso diz: “a arte é a mentira mais verdadeira que a verdade”. É mentira quando o Drummond diz: “Como aqueles primitivos que carregam consigo o maxilar inferior dos seus mortos, eu te carrego comigo, tarde de maio”, é men- 52 tira, mas, é lindo né! Então tá aí a função da arte, o cara lê isso e ele fica feliz, a vida dele é mais rica. A arte não tem uma única função, mas, basicamente ela faz parte da construção do mundo imaginário de que o homem necessita pra viver, pra existir, pra construir a sua vida Ferreira Gullar Nereide Schilaro Santa Rosa, em seu texto Arte e raízes: tradição e atualidade da cultura popular nos diz que a função social da arte fica clara à medida que ela transforma e nos traz o conhe- cimento do mundo, não um conhecimento abstrato, mas afetivo e real. O artista percebe o mundo e cria formas sensíveis para inter- pretá-lo. Podemos perceber nas crianças a possibilidade de investi- gar fatores relacionados à transmissão da cultura no brinquedo. A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social, aprendem-se as formas, o vocabulário típico, os tipos de interações condizentes, as regras, o momento de enunciá-las etc.. A investigação de tais cate- gorias e dos fatores envolvidos em sua produção é importante para uma melhor descrição da brincadeira e da ocorrência de aprendi- zagem em situação natural e também para criar indicadores para a compreensão das relações entre os membros dos grupos de crian- ças, da socialização, da constituição do sujeito e da transmissão da cultura. Ao se aproximar da cultura popular, o artista serve de me- diador entre o objeto bruto e a representação, entre o que observa- mos e sentimos com nossos sentidos e o pensamento. As imagens, como as brincadeiras, nos fazem pensar e tornar o mundo repleto de significados, alargando a sua abrangência. A criança atribui sig- nificados ao mundo real por meio de brincadeiras como o artista o faz por meio de sua obra que é lida e compreendida pelos especta- dores. Evidentemente que esses significados dependem de fatores e valores de determinada época. A criança busca “temas” e através de desenho, brincadeiras representam seu entorno. Artistas podem buscar temas idênticos, no entanto, o tratamento dado é transfor- mado e representado de acordo com sua leitura e linguagem. A cor, o volume, o espaço, o peso, a luz permitem essa abrangência e dão 53 condições ao artista elaborar sua produção. De qualquer forma, o "artista cria o que poderia ser". O meio, o suporte,as técnicas e es- tilos compõem a linguagem da obra, o projeto do artista. O artista cria, então, obras de arte que são símbolos, atribuindo significados a fatos, imagens, formas - as quais muitas vezes, são inspiradas na cultura popular. As manifestações culturais só podem ser compreendidas na medida em que foram situadas em suas relações com o contex- to socioeconômico e a estrutura sociocultural de que fazem par- te. Florestan Fernandes nos diz que "o folclore abrange todos os elementos culturais que constituem soluções usuais e costumei- ramente admitidas e esperadas dos membros de uma sociedade, transmitidas de geração a geração por meios informais". O fato fol- clórico é sempre atual e tradicional na medida em que estabelece relações com um conjunto de elementos que o faz diferenciarem dos outros. Como a arte, os elementos culturais, nossas raízes, ga- nham novos significados de acordo com o contexto social. A lin- guagem, lendas, brinquedos, brincadeiras, festas, artesanato, pro- fissões, crenças fazem parte de uma ação social organizada. De tal forma que a cultura acaba se constituindo um conjunto de sistemas de símbolos que articulam significados novos a cada reelaboração. Nesse processo, corre-se o risco de aspectos serem perdidos ou de- saparecerem, ou então, que aconteça uma adaptação aglutinando novos elementos modificados e restaurados. É a escola o primeiro espaço formal onde se dá o desen- volvimento de cidadãos, ela deve entrar em contato sistematizado com o universo artístico e suas linguagens: artes visuais, teatro, dança, música e literatura. Ao longo dos anos, muito se tem falado e escrito sobre a necessidade da inclusão da arte na escola de forma mais efetiva. Desde 1971, pela Lei 5692, a disciplina Educação Artística torna- se parte dos currículos escolares. Muitas experiências têm aconte- cido, mas no contato direto com professores, diretores de escola 54 e coordenadores pedagógicos, as intenções parecem apontar para um caminho interessante, mas é no confronto com a prática peda- gógica no campo da arte que se nota a grande distância entre teoria e prática. Muitos equívocos são cometidos e a questão passa batida na maioria das vezes em que se questiona as vivências com a arte. A criança a sua maneira desenha, brinca, mancha, risca, constrói, desconstrói, se encanta como um artista e algumas vezes também não é compreendido em seu tempo. Transformar um fragmento de vidro em uma joia rara, rabiscos em dragão alado, pensamen- tos em formas. Buscar o dizível no invisível. Modos singulares de ver, sentir, expressar e (re)inventar o mundo. A criança, depois de desenhar uma série de formas e riscos (des)ordenados, diz: olha eu desenhei eu, mamãe, a casa e o papai e super-homem. Faz-de- conta! Picasso reúne um guidão e o selim de uma bicicleta: cabeça de touro. Assemblage, ressignificações de objetos. Arte! A arte faz de conta. Crianças, artistas, fazem de conta que um rabisco, um objeto, um fragmento, um pensamento se trans- forme em outra coisa. Tanto as crianças, quanto os adultos que persistem em desarticular a ordem estabelecida do mundo, com- partilham de um pensamento parecido, no sentido de que ambos propõem simulacros ou fingem que uma coisa é outra coisa. Artis- tas e crianças, percebem o mundo e dão sentido a ele através de for- mas singulares. Utilizam seus sentidos de forma mais aguçada do que a maioria dos adultos que deixaram para trás esta capacidade humana de ver, imaginar e simbolizar. A arte na área social desempenha papéis importantes ao estimular o indivíduo ao aperfeiçoamento, a equidade e ao moti- var uma sociedade melhor, que corrobora para autoconhecimento, evidenciando as peculiaridades de um determinado grupo. Sabemos que relações entre a sociedade e a arte é objeto de estudo da sociologia da arte. A sociologia, como ciência que estuda os fatos sociais, as ações sociais e as relações sociais, procura mostrar a relação entre as manifestações artísticas de uma socie- dade numa determinada época e a maneira como os homens nela vivem e pensam. 55 Nas roupas, nos edifícios, na literatura, estão inscritos os valores da sociedade, seus hábitos e nas roupas, nos edifícios, na literatura, estão inscritos os valores da sociedade, seus hábitos e sua mentalidade. Os índios brasileiros, por exemplo, assim como os jo- vens de hoje, tatuam e pintam o corpo para identificar seus grupos étnicos, bem como para destacar a importância social de seus membros. Cada traço desse desenho tem um significado próprio e uma forma com sentido (COSTA, 1999). “Existe uma sabedoria própria ao espírito que produz a com- preensão - de si e do outro – e é produzida pela compreensão. A compreensão de si comporta a autoanálise, a autocrítica e tende a lutar sem tréguas contra as ilusões interiores e a men- tira para si mesmo: comporta o ´trabalhar pelo bem pensar‘ que evita as ideias unilaterais e as concepções mutiladas e ten- ta imaginar a complexidade humana” (MORIN, 2005) Quando falamos em arte estamos nos referindo a essa pre- ocupação de entender o papel da arte na sociedade, a função social do artista e das expressões artísticas, o sentido do som e da imagem num determinado contexto social, o processo de consagração ar- tística, a dinâmica do processo artístico e a relação existente entre 56 a arte consagrada e a de vanguarda. Essas e outras preocupações constituem o objeto dessa ciência relativamente nova, que tem cer- ca de cem anos, que é a sociologia da arte. Essa ciência parte de certos princípios relativos à determi- nada forma de pensar o fazer artístico, a linguagem, a comunicação e até mesmo o conhecimento. Não é a única. Como vimos, existem outras ciências que estudam a arte, como a psicologia, a história e a filosofia. Cada uma delas trouxe importantes contribuições para o estuda da arte, mas privilegiamos aqui as contribuições que a an- tropologia e a sociologia trazem, especialmente porque estamos abordando a arte enquanto manifestação da cultura e com uma função social importante. 2.3 Arte e Cultura Popular no Mundo da Crian;a O que a indústria cultural percebeu mais tarde (e Ador- no constatou, pessimistamente), é que cultura de massa possuía a capacidade de absorver em si os antagonismos e propostas críticas, em vez de combatê-los. Desta forma, a cultura de massa alcançaria a hegemonia, elevando ao seu próprio nível de difusão e exaustão qualquer manifestação cultural, e assim tornando-a efêmera e des- valorizada. No contexto da indústria cultural são totalmente distintos e independentes os conceitos de “popular” e “popularizado”, já que o grau de difusão de um bem cultural não depende mais de sua classe de origem para ser aceito por outra. A grande alteração da cultu- ra de massa foi transformar todos em consumidores que, dentro da lógica iluminista, são iguais e livres para consumir os produtos que desejarem. Dessa forma, pode haver o “popular” (i.e., produto de ex- pressão genuína da cultura popular) que não seja popularizado (“que não venda bem”, na indústria cultural) e o “popularizado” que não seja popular (vende bem, mas é de origem elitista). O que seria popular? A que grupos ou classe social pode- ríamos associar cada um desses conceitos? Haveria um critério de valor para separar esses conceitos, isto é, seria possível ou correto compará-los e julgá-los. A questão da existência de uma cultura 57 popular significa falar, simultaneamente, em religião, em arte, em ciências populares? “Cultura popular é aquela criada pelo povo e apoiada numa concepção do mundo toda específica e na tradição, mas em permanente reelaboração mediante a redução ao seu contexto das contribuições da cultura ‘erudita’, porém mantendo sua identidade” (Cultura popular in Feira Nacional da Cultura Popular, SESC, 1976). Na verdade, definir cultura popular representa uma polê- mica que sociólogos, antropólogos, historiados e outros estudiosos da cultura mantêm.E, se essa polêmica existe, é possível concluir que há várias definições de “popular”. No enfoque que Renata Mei- relles dá em seu texto BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DA CULTURA POPULAR: REFLETINDO A POÉTICA DA INFÂNCIA, mostra a infância cercada de sutilezas e devaneios, de momentos de extrema subjetividade e encantamentos. Fala de sugestões de Bachelard para que façamos uma poética-análise das situações vividas, diz ele que a “poético-análise deve devolver-nos todos os privilégios da imaginação”. Pensando que é na imaginação que alçamos voos e nos tornamos possuidores de nós mesmos. A universalidade dentro da diversidade sugere que des- confiemos dos conceitos de épocas passadas para criarmos novos paradigmas. Conceitos que antes eram úteis podem hoje bloquear um entendimento global do ser humano. O tempo de se apropriar da nossa criança real - e não ideal - é agora. Uma aproximação da cultura própria da infância e para uma busca em reconhecer uma identidade que lhe é própria. Isso significa aceitar que a criança é uma produtora e divulgadora de sua cultura, e que o brincar é seu canal de comunicação com o seu presente e seu passado. 58 A importância do brincar na educação infantil já foi tema de várias pesquisas, pressupostos teóricos não faltam para provar isto. Cada teoria com seu foco específico, seu campo de observa- ção, mas existe uma unanimidade na valorização da brincadeira no desenvolvimento da criança. Ficam então as perguntas: Por que ainda se encontram tantas escolas que restringem os espaços físi- cos e temporais do brincar? Que brincadeira é essa a que estamos então nos referindo? Chamar um brincar poético, um brincar regido por es- truturas além das nossas famosas “cognitivas, afetivas e sociais”, um brincar que restabelece uma unidade de ser dentro de uma diversi- dade de estar. Os poetas e as crianças podem nos auxiliar a ampliar nossos campos do imaginário, a conseguir observar a inteligência sensível do ato de brincar e ao construir escolas onde a brincadeira aconteça de fato. De qualquer forma, devemos lembrar que o espaço que a sociedade reserva de maneira explícita aos elementos tradicional- mente relacionados a cada uma das culturas é bastante diferenciado. A tentativa de compreender arte e cultura popular no país implica em conhecer a organização político-econômico-cultural do país, suas regras, suas contradições. Afinal, essas definições e a compreensão do que pode ser considerado popular e erudito se transforma na medida em que as relações sociais, políticas, cultu- rais e econômicas vão se modificando. Um exemplo, o arroz carreteiro: prato comum aos peões que levavam as tropas de gado. Eles usavam o charque (carne sal- gada) em suas idas e vindas, como alimento não perecível. Junto com o arroz abundante na região sul, preparavam essa refeição tra- dicional. Claro que nas estâncias o arroz com charque era também prato usual pela sua simplicidade e sabor. Com o passar do tempo ele deixou de ser uma típica comida de peões e passou também a ser prato regional em alguns estados brasileiros, sendo servido não só nos restaurantes simples como nos requintados. Para compreender as brincadeiras e seus significados na 59 educação e formação das crianças, é necessário acompanhar as eta- pas de transformação dos seus elementos. Podemos afirmar então, que a arte popular é atribuída à produção estética de uma parte da população que não é formal- mente intelectualizada, nem urbana, nem industrial. A arte popu- lar possui como principais características: • ser geralmente anônima, pois é resultado de várias co- laborações que passam de geração em geração ao longo do tempo, geralmente feita oralmente; • apresentar visão de mundo de um determinado grupo social, ou seja, o conteúdo da tradição cultural e folclóri- ca expressa os sentimentos comuns de uma coletividade; • desenvolver-se dentro de convenções tradicionais; • ter como maior público apreciador pessoas de seu pró- prio grupo ou comunidade; • resistir às influências dos modismos ditados pela elite dirigente. A arte popular pode ser considerada o retrato de uma na- ção, pois guarda características peculiares e genuínas do povo que formou esse grupo durante anos. Muitas pessoas acreditam que esse tipo de arte é produto apenas de pessoas que vivem na zona rural ou de povos imigrantes. No entanto, grande parte da popu- lação que vive na zona urbana, de grandes cidades, é composta de pessoas que vieram do interior ou de outros países, incorporando à cidade manifestações de suas culturas. Vamos refletir sobre brinquedo e criança que são palavras estreitamente associadas. Todas as sociedades reconhecem o brincar como parte da infância. Os primeiros registros desse reconhecimen- to, obtido por meio de escavações arqueológicas, advêm do período em que nossa espécie ainda tinha como modo de sobrevivência bá- sico a caça e a coleta (Frenzel, 1977). O mesmo não se pode dizer acerca das palavras “cultura” e “criança”. Salvo algumas exceções, o 60 fenômeno cultura foi frequentemente tratado como uma proprie- dade do adulto. Quando se faz alusão ao termo patrimônio cultu- ral, geralmente se remete a aspectos da cultura adulta como prédios, danças, comidas típicas, vestuário e artefatos artesanais. Carvalho e Beraldo (1989) afirmam que este tipo de visão impediu que se vis- se a riqueza das interações criança-criança, pois o que poderia uma criança incompetente oferecer a outra igualmente incompetente? Essas autoras enfatizam o interesse pelo estudo das interações crian- ça-criança, partindo do pressuposto de que elas são de alta priorida- de motivacional para os sujeitos envolvidos. A ligação entre “cultura” e “criança” é claramente percebi- do nos jogos e brincadeiras tradicionais e populares, especialmen- te aquelas desenvolvidas em rua. A modalidade “jogo tradicional infantil” possui características de anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação, mudança e universalidade (Kishi- moto, 1993). Apesar de os jogos tradicionais caracterizarem uma cultura local (Friedmann, 1990), é interessante a existência de certos padrões lúdicos universais, mesmo observando diferenças regionais, como variações nas designações, nas regras e em suas for- mas de utilização. Piaget (1977) viu as regras do jogo de bola de gude como um fenômeno da moralidade, o que possibilitava o estudo do de- senvolvimento moral da criança pela observação da maneira como ela lida com essas regras. Para tanto descreveu de forma minuciosa as regras dessa brincadeira em Neuchâtel, na Suíça. É surpreenden- te a semelhança entre algumas regras encontradas por Piaget e as encontradas em Belém no jogo de peteca (Pontes & Galvão, 1992, 1997), e em outras regiões do Brasil (Neto, 1977). É evidente o caráter dinâmico da manutenção de tais normas, o que parece ser um paradoxo, mas, como Laraia (1986) sustenta, qualquer sistema cultural está num contínuo processo de mudança, ou seja, a conservação é sempre algo relativo, depende da dimensão de tempo e do sistema cultural a ser considerado. É certo, entretanto, que o fenômeno cultural também pode mostrar uma estabilidade considerável no decorrer do tempo e no espaço 61 (Cavalli-Sforza; Feldman, Chen & Dornbush, 1982). A impressão leiga é de que o jogar e o brincar são ensi- nados como normalmente os adultos ensinam a outro adulto um jogo, de modo sistemático e diretivo. Ao ensinar-se uma nova mo- dalidade de jogar baralho, por exemplo, utiliza-se de dicas verbais, sistemáticas, sequenciais (por passos) e de exemplos: “o jogo inicia quando…”, “ganha quem…”. A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social (Brou- gère, 1997). Aprendem-se as formas, o vocabulário típico, as re- gras e o seu momento de enunciá-las, as habilidades específicas requeridas para cada brinquedo e os tipos de interações condi- zentes. Acredita-se que a investigação dessas e de outras categorias de eventos seja importantenão só para uma melhor descrição da brincadeira e da ocorrência de aprendizagem em situação natural, mas também para a compreensão dos processos de transmissão da cultura da brincadeira, assim como das relações entre os membros do grupo e do desenvolvimento infantil. Para Cavalli-Sforza e colaboradores (1982), “a transmis- são cultural é o processo de aquisição de comportamentos, ati- tudes ou tecnologias através de estampagem, condicionamento, imitação, ensino ativo e aprendizagem ou a combinação desses elementos” (p. 19). Nesse modelo, quando a transmissão ocorre dos pais para a criança, ela é denominada de vertical; quando é feita entre membros da mesma geração (adulto-adulto, criança- criança), denomina-se de horizontal, e é chamada oblíqua quando se dá entre não parentes de gerações diferentes. Tomasello e colaboradores (1993) distinguem três tipos de aprendizagem cultural: a aprendizagem imitativa, a aprendiza- gem instruída e a aprendizagem colaborativa. Na aprendizagem imitativa o aprendiz internaliza algo da estratégia comportamen- tal do demonstrador, podendo ocorrer dentro ou fora do contexto pedagógico. Quando o ensino está envolvido no processo, pode ocorrer a aprendizagem instruída, essencialmente Vygotskyniana, na qual aprendizes internalizam as instruções e as usam subse- 62 quentemente para autorregular sua atenção, sua memória e outras funções cognitivas. A aprendizagem colaborativa não envolve a transmissão - no sentido clássico - do mais experiente para o apren- diz. Por definição, a situação consiste de pares que colaboram para construir algo novo e diferente do que a díade possuía antes de a interação iniciar. Para os autores, este processo realça o espírito in- ventivo e conduz à evolução cultural. Em uma minoria dos casos, a aprendizagem colaborativa pode contribuir para a manutenção de tradições culturais. Portanto, qualquer transmissão de um elemento cultural só pode ocorrer dentro de um contexto social. A cultura da brin- cadeira é um fenômeno de grupo. É só em um conjunto de sujeitos que mutuamente se regulam, que uma brincadeira tradicional se mantém e é repassada com uma identificação própria e com um modo de organização típico. Nesse sentido, parte-se do pressupos- to de que entender a organização social de um determinado grupo é um fator essencial para se estudar a transmissão da cultura. Percebe-se que a arte e a brincadeira podem ser um grande aliado na educação infantil. Síntese da Unidade Resumindo, a arte colabora na formação e construção intelectual das crianças permitindo ao indivíduo, um melhor con- vívio em sociedade. Atribuindo sentido a sua existência individual e social, podendo interferir, em suas escolhas. Mais, a arte pode cumprir a função social de estabelecer o lugar de cada um de nós na sociedade e, até mesmo, interferir naquilo que definimos como arte. Afinal, será que a arte e as brincadeiras de ruas são tão im- portantes quanto à arte em locais como museus, galeria de artes? Por ser desigual, a sociedade expressa essa desigualdade nas formas de expressão artística e na desigualdade da apropriação da arte. A 63 distinção entre arte popular e brincadeiras é a prova de que são fer- ramentas importantes na educação. A arte e as brincadeiras podem cumprir a função de reproduzir as desigualdades e contribuir na formação e educação das crianças. A criança que brinca com bone- ca refaz a própria vida, corrigindo-a a sua maneira, e revive todos os prazeres ou conflitos, resolvendo os, compensando-os. Ou seja, completando a realidade com a ficção. ( Jean Piaget) Exercício de Fixação Leia e responda. Sobre o brincar A desconsideração da escola em relação aos conhecimen- tos adquiridos pela criança e sua vivência antes do ingresso na ins- tituição constitui um dos males educacionais. Freire (1995, p. 43) destaca que a escola pensa estar educando para o aprendizado dos símbolos, e estes, representados pelos números, letras e outros si- nais, são reconhecidos socialmente. No entanto, esquece-se que as crianças não deixaram de ter seu mundo particular (sua rua, sua casa, seu clube) ao ir à escola, cujos símbolos precedem os univer- sais, através de imagens criadas por elas como forma de represen- tação do real. E acrescenta que estes constituiriam o dispositivo mais forte de proteção do ser humano. Assim, quando a criança se entrega ao faz-de-conta, passa a aprender, na visão do autor, aquilo que mais deve ser aprendido entre os humanos: a simbolizar. Por- tanto, afirma o autor (1989, p. 13), “negar a cultura infantil, é no mínimo, mais uma cegueira do sistema escolar”. O principal motivo da ocorrência do furto do lúdico na infância, alerta Marcellino (1996, p. 37), talvez seja o fato de con- siderar a criança como um adulto em miniatura, cuja finalidade única seria a sua preparação para o futuro. Porém, como lembra, 64 “o mundo do brinquedo, em essência, não se prende à preparação sistemática para o futuro, mas à vivência do presente, do agora”. Assim, torna-se necessário entender a criança como produtora de cultura, oportunizando a ela tempo e espaço necessários para essa produção, assegurando-lhe o direito de brincar, possibili- tando diversificadas vivências e contribuindo para sua formação como ser humano participante da sociedade em que vive. Embora se fale em entender a criança como “criança” e não como “adulto em potencial”, atenta Marcellino (1997), o que se observa é que a instrumentalização da infância vem acontecendo frequentemente, desrespeitando a faixa etária da criança e afastando cada vez mais o brincar e a ludicidade de sua prática diária, sendo a escola um dos contribuintes dessa instrumentalização. Questões: 1. Pode existir ligação entre o “aprender” e o “brincar”. De que forma? 2. Quais as contribuições que as brincadeiras trazem à educação infantil? 3. Quais as relações estabelecidas entre cultura popular e as brincadeiras? ARTE-EDUCAÇÃO NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Caro Aluno Nesta unidade iremos conhecer a arte- educação na nas séries iniciais do ensino fundamental. Boa aula!!! 71 Que tipo de arte existe nas escolas? A arte se transfor- mou? Como diretores de escola, coordenadores e professores de- vem se preparar para entender a arte como ramo do conhecimento em pé de igualdade com as outras disciplinas dos currículos escola- res? O ensino da arte deve estar em consonância com a contempo- raneidade? A concepção de arte no espaço implica numa expansão do conceito de cultura? Essas são perguntas cujas respostas serão desenvolvidas nesta unidade. 3.1. Arte - Educação Qual o seu Papel Social O ensino de Arte no Brasil já teve várias orientações teó- rico-metodológicas. Em alguns momentos históricos, houve do- minância de uma ou outra corrente. Atualmente, correntes diver- sas coexistem nas escolas brasileiras pela pluralidade de posições e pelas limitações, muitas vezes, impostas aos professores e aos arte educadores em particular. Pensando a análise feita por Libâneo (1985) das correntes pedagógicas no ensino brasileiro, vemos que a tendência idealista- liberal – tradicional, renovada e tecnicista - é que mais informa o ensino de Arte no Brasil atual. O substrato dessa tendência é ver na escola a função de resolver/manter problemas sociais através de uma postura não crítica da inserção do sujeito no mundo. No ensino de Arte, a centralidade do professor e os modelos de repro- dução naturalista como método (Tradicional), a auto expressão como processo de liberação do indivíduo e o aluno como centro do processo pedagógico (Renovada), ou o papel central de um pla- no pelos manuais e livros didáticos, com objetivos descolados do horizonte docente e de seus alunos (Tecnicista), forma um espec- tro não crítico idealista-liberal com presença marcante nas esco- las fundamentais brasileiras. Por outro lado, a tendência realista- 3. Arte-Educação 72 progressista – libertadora libertáriae crítico-social dos conteúdos – tem uma influência concreta menor no ensino em geral e no de Arte em particular, embora sejam concepções preponderantes no debate pedagógico. Quanto à estrutura curricular, o mais comum no ensino de Arte é não se ter uma teia organizadora da arte-educação nas escolas. Em muitas, nem a obrigatoriedade da existência deste en- sino é cumprida. Em outras, o ensino de Arte poderia se chamar de casual, pois a área (Artes Plásticas, Música, Artes Cênicas, etc.) que será trabalhada é de acordo com o professor que chegar, sua atuação será definida mais pelo critério horário/dia do que efeti- vamente por uma estrutura curricular pensada, com articulação e significação próprias de uma área específica do conhecimento hu- mano, que tem sua presença na escola exatamente pela importân- cia histórico-cultural para a humanidade e pela potencialidade de desenvolvimento humano (em todas as dimensões) que o ensino de Arte pode proporcionar. Apesar do predomínio dessa situação, muitas escolas (particulares e públicas) articulam o ensino de Arte, qualifican- do sua presença no currículo escolar. Há um esforço de pensar o ensino de várias linguagens artísticas para que o aluno se aproprie de seus conceitos fundamentais, desenvolva capacidade criadora dentro das linguagens artísticas e se relacione de forma mais inten- cional e qualificada com as obras de arte que estão em seu contexto espaço-temporal mais próximo ou distante. A existência dessas es- colas aponta para a possibilidade e necessidade de debater o ensino de Arte no ensino fundamental. Nos últimos anos, fora essas experiências de escola ou de redes inteiras com presença significativa da arte no currículo, o que veio colaborar pela abrangência geográfica de circulação e pelo caráter de oficialidade na expansão desse debate e reafirmar a necessidade de pensar o ensino de Arte mais cuidadosamente foi o documento do Ministério da Educação, ligado a sua Secretaria de Ensino Fundamental. O título do documento: os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para a Arte (Brasil, 1997). Por 73 mais que se trate de um documento oficial, traçado dentro de uma política conhecida por todos, que tem limitações de várias ordens e sobre o qual poderia rebater várias afirmativas, é necessário admi- tir que veio contribuir no debate da questão do ensino da Arte, por estimular importantes publicações da área (Martins, 1998). Os PCNs acompanharam a LDB/1996, mas mesmo an- tes desses fatos institucionais várias escolas se propuseram a criar novas formas pedagógicas. O ensino de Arte não pode ser visto como mera atividade, o estatuto da Arte no currículo deve ser de disciplina, pois tem objeto específico de estudo e um discurso estético articulado por suas diferentes linguagens ao longo da história. A atuação polivalente não é a mais recomendada ao arte educador. Sendo sua especificidade educativa uma linguagem ar- tística, nada melhor do que poder atuar nela, mantendo em seu fazer pedagógico a abertura de diálogos inter e transdisciplinares. As metodologias específicas de cada arte educador devem ser res- peitadas, mas também problematizadas através do debate com seus pares e com o todo da escola, com intuito de buscar um trabalho interdisciplinar mediado. As salas de aula devem potencializar ao máximo esse fa- zer, portanto o ideal são as salas ambiente, em que o arranjo singu- lar da linguagem, dos alunos e professor possa se traduzir na mate- rialidade do ambiente. Portanto, ensinar/aprender Arte nas séries iniciais do Ensino Fundamental, requer a clareza de dois pontos fundamen- tais: Arte é área do conhecimento humano, patrimônio histórico e cultural da humanidade; Arte é linguagem, portanto, um sistema simbólico de representação. A escola - local privilegiado onde os saberes acumulados pelo homem e aqueles que serão produzidos coletivamente são compartilhados na busca da construção do ci- dadão consciente, participativo, crítico, sensível e transformador da sociedade - não se completa se não contemplar em seu currículo o ensino competente nas linguagens artísticas. O professor de sé- 74 ries iniciais deve ter como foco principal o desenvolvimento das competências da leitura e da escrita, tem o dever de possibilitar às crianças o acesso também à leitura e produção de textos nas lingua- gens não verbais, matéria-prima do universo da Arte. Manipular, organizar, compor, significar, decodificar, in- terpretar, produzir, conhecer imagens visuais, sonoras e gestuais e corporais são requisitos indispensáveis ao cidadão contemporâ- neo. A leitura de mundo, o letramento, vão além do texto escrito. Como afirmam os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Arte é um modo privilegiado de conhecimento e aproximação entre in- divíduos de culturas diversas; favorece o reconhecimento de seme- lhanças e diferenças, num plano que vai além do discurso verbal. Entendemos como objeto de conhecimento da Arte o próprio universo da Arte. No ensino fundamental o foco dos es- tudos artísticos está centrado em algumas de suas linguagens: a música, o teatro, a dança e as artes visuais, vistas como “um tipo de conhecimento que envolve tanto a experiência de apropriação de produtos artísticos quanto o desenvolvimento da competência de configurar situações mediante a realização de formas artísticas. Ou seja, entendemos que aprender Arte envolve não apenas uma atividade de produção artística pelos alunos, mas também a con- quista da significação do que fazem, por meio do desenvolvimento da percepção estética, alimentada pelo contato como fenômeno artístico visto como objeto de cultura por meio da história e como conjunto organizado de relações formais. (PCN – Artes). Desta forma, de acordo com as Propostas Curriculares para o Ensino da Artes e os Parâmetros Curriculares Nacionais - MEC, são eixos articuladores do processo de ensino e aprendizagem em Arte: 1. Produção em Arte: o fazer artístico. 2. Fruição: apreciação significativa da Arte e do universo a ela relacionado. 3. Reflexão: a Arte é produto da história e da multiplici- dade das culturas humanas. Além do fazer e do apreciar arte, é de fundamental impor- 75 tância a contextualização da obra de arte; todo o panorama social, político, histórico cultural em que foi produzida; como ela se in- sere no momento de sua produção e como esse momento se reflete nela. Pensar a Arte como objeto de conhecimento. É a história da produção artística. De que outra forma ter acesso à compreensão, por exemplo, da “Guernica” de Picasso? Além do conhecimento da história das Artes, obras, auto- res, artistas, intérpretes, dramaturgos, coreógrafos, movimentos ar- tísticos, estilos, gêneros, etc., essa reflexão também inclui o conhe- cimento específico de cada linguagem artística, de seus elementos, regras de composição, estilos, técnicas, materiais, instrumentos. Também é objeto de estudo a divulgação da produção artística: museus, galerias, teatros, apresentações musicais e coreográficas, a mídia, jornais, revistas, emissoras de rádio, TV., assim como as profissões relacionadas a todo o universo da Arte. Fazendo Arte, expressamos quem somos como nos sentimos como pensamos; damo-nos a conhecer ao outro. “Como a matemática, a história e as ciências, a arte tem do- mínio, uma linguagem e uma história. Se constitui, portanto, num campo de estudos específicos e não apenas em meia ativi- dade [.] A arte-educação é epistemologia da arte e, portanto, é a investigação dos modos como se aprende arte na escola de 1° grau, 2° grau, na universidade e na intimidade dos ateliers. Talvez seja necessário para vencer o preconceito, sacrificarmos a própria expressão arte-educação que serviu para identificar uma posição e vanguarda do ensino da arte contra o oficialismo da educação artística dos anos setenta e oitenta. Eliminemos 76 a designação arte-educação e passemos a falar diretamente de ensino da arte e aprendizagem da arte semeufemismos, ensino que tem de ser conceitualmente revisto na escola fundamental, nas universidades, nas escolas profissionalizantes, nos museus, nos centros culturais a ser previsto nos projetos de politécnica que se anunciam. (Ana Mae Barbosa 1991) 3.2 A Abordagem da Arte no Ensino Fundamental Segundo proposta geral dos Parâmetros Curriculares Na- cionais, Arte tem uma função tão importante quanto a dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem. A área de Arte está relacionada com as demais áreas e tem suas especificidades. A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensa- mento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas. (PCN, 1997, p. 15). O co- nhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão do mundo na qual a dimensão poética es- teja presente: a arte ensina que é possível transformar conti- nuamente a existência, que é preciso mudar referências a cada momento, ser flexível. Isso quer dizer que criar e conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é condição fundamental para aprender. (Ibidem, p. 19). Ao abordar a caracterização da área de Arte, o PCN (1997) destaca que o ser humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos a sua volta, da sonorida- de instigante da poesia, das criações musicais, das cores e formas, 77 dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida. Quando trata a Arte como objeto de conhecimento, os Parâmetros Curriculares Nacionais (Ibidem, p. 26) afirmam que, “O universo da arte caracteriza um tipo particular de conhecimen- to que o ser humano produz a partir das perguntas fundamentais que desde sempre se fez com relação ao seu lugar no mundo”. Dessa forma, de acordo com a visão do mesmo, entende-se que a manifestação artística tem em comum com o conhecimento científico, técnico ou filosófico seu caráter de criação e inovação. Essencialmente, o ato criador, e qualquer dessas formas de conhe- cimento, estrutura e organiza o mundo, respondendo aos desafios que dele emanam, num constante processo de transformação do homem e da realidade circundante. O produto da ação criadora, a inovação, é resultante do acréscimo de novos elementos estruturais ou da modificação de outros. Regido pela necessidade básica de ordenação, o espírito humano cria continuamente sua consciência de existir por meio de manifestações diversas. Para a Secretaria Educação Fundamental (1997), Apenas um ensino criador, que favoreça a integração entre a aprendizagem racional e estética dos alunos, poderá contribuir para o exercício conjunto complementar da razão e do sonho, no qual conhecer é também maravilhar-se, divertir-se, brin- car com o desconhecido, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar duro, esforçar-se e alegrar-se com descobertas. A imaginação criadora permite ao ser humano conceber situações, fatos, ideias e sentimentos que se realizam como imagens internas a partir da manipulação da linguagem. É essa capacidade de formar imagens que torna possível a evolução do homem e o desenvolvimento da criança; visualizar situações que não existem, mas que podem vir a existir abre o acesso a possibilidades que estão além da experiência imediata. 78 “A emoção é movimento, a imaginação dá forma e densi- dade à experiência de perceber, sentir e pensar, criando imagens in- ternas que se combinam para representar essa experiência” (PCN, 1997, p. 30). Assim, entende-se que a faculdade imaginativa está na raiz de qualquer processo de conhecimento, seja científico, ar- tístico ou técnico. A flexibilidade é o atributo característico da ati- vidade imaginativa, pois é o que permite exercitar inúmeras com- posições entre imagens, para investigar possibilidades e não apenas reproduzir relações conhecidas. Segundo o PCN, no caso do conhecimento artístico, o domínio do imaginário é o lugar privilegiado de sua atuação: é no terreno das imagens que a arte realiza sua força comunicativa. Portanto, a partir dessas referências, situa-se a área de Arte dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais como um tipo de conhecimento que envolve tanto a experiência de apropriação de produtos artísticos (que incluem as obras originais e as produções relativas à arte, tais como textos, reproduções, vídeos, gravações, entre outros) quanto o desenvolvimento da competência de confi- gurar significações por meio da realização de formas artísticas. Ou seja, considera-se que: (.) aprender arte envolve não apenas uma atividade de pro- dução artística pelos alunos, mas também a conquista da sig- nificação do que fazem, pelo desenvolvimento da percepção estética, alimentada pelo contato com o fenômeno artístico, visto como objeto de cultura através da história e como con- junto organizado de relações formais. (Ibidem, p. 32) A aprendizagem artística envolve, dessa forma, um con- junto de diferentes tipos de conhecimentos, que visam à criação de significações, exercitando fundamentalmente a constante pos- sibilidade de transformação do ser humano. “Além disso, encarar a arte como produção de significações que se transformam no tem- po e no espaço permite contextualizar a época em que se vive na 79 sua relação com as demais” (Ibidem, p. 33). Cabe destacar aqui os objetivos gerais de Arte para o En- sino Fundamental de acordo com os Parâmetros Curriculares Na- cionais (1997, p. 39), que dizem: No transcorrer do ensino fundamental, o aluno poderá de- senvolver sua competência estética e artística nas diversas modalidades da área de Arte (Artes Visuais, Dança, Músi- ca, Teatro), tanto para produzir trabalhos pessoais e grupais quanto para que possa, progressivamente, apreciar, desfrutar, valorizar e julgar os bens artísticos de distintos povos e cultu- ras produzidos ao longo da história e na contemporaneidade. Nesse sentido, segundo o PCN, o ensino de Arte deverá organizar-se de modo que, ao final do Ensino Fundamental, os alu- nos sejam capazes de: • expressar e saber comunicar-se em artes mantendo uma atitude de busca pessoal e/ou coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a sensibilidade e a reflexão ao realizar e fruir produções artísticas; • interagir com materiais, instrumentos e procedimentos variados em artes (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro), experi- mentando-os e conhecendo-os de modo a utilizá-los nos trabalhos pessoais; • edificar uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a pró- pria produção e a dos colegas, no percurso de criação que abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções; • compreender e saber identificar a arte como fato his- tórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo respeitando e podendo observar as produções presentes no entorno, assim como as demais do patrimônio cul- tural e do universo natural, identificando a existência de 80 diferenças nos padrões artísticos e estéticos; • observar as relações entre o homem e a realidade com interesse e curiosidade, exercitando a discussão, indagan- do, argumentando e apreciando arte de modo sensível; • compreender e saber identificar aspectos da função e dos resultados do trabalho do artista, reconhecendo, em sua própria experiência de aprendiz, aspectos do processo percorrido pelo artista; • buscar e saber organizar informações sobre a arte em contato com artistas, documentos, acervos nos espaços da escola e fora dela (livros, revistas, jornais, ilustrações, diapositivos, vídeos, discos, cartazes) e acervos públicos (museus, galerias, centros de cultura, bibliotecas, fonote- cas, videotecas, cinematecas),reconhecendo e compreen- dendo a variedade dos produtos artísticos e concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias. (PCN, 1997, p. 39) Síntese da Unidade Nesta unidade você conheceu as relações entre a arte e a educação no ensino fundamental séries iniciais. Também, conhe- ceu sobre as visões positivas e negativas acerca do ensino de Arte e a influência na formação e no desenvolvimento do aluno. Desta- cam-se os aspectos relacionados à abordagem da Arte no Ensino Fundamental segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais 81 Leia e responda. Texto 1 Autor: Raimundo da Silva Santos Júnior (juruti) Em: 26 de abril de 2008 Importância das Artes no Ensino Fundamental Na consciência da existência de uma ilimitada corrente de teorias que norteiam a educação escolar, esta que tem valores ideo- lógicos pré-definidos, sentimos necessário discutir sobre As Artes na Escola. Artes que se tem ausentado da atual prática educacional e se tornado para nós um assunto que merece bastante atenção, por ter uma importância muito significativa na formação integral do educando. As Artes libertam a alma, proporcionam representar o mundo e seus conflitos, permitem a criança recriar os aconteci- mentos. “Essa manifestação da linguagem, o dom de recriar para si, de forma inovadora, as imagens que as outras pessoas nos apresen- tam, é o que fundamenta a arte.” (BRONOWISKI.1998,pg.27). Reconhecendo o riquíssimo valor da história para a com- preensão dos fatos sociais que marcam os nossos dias, não pode- mos deixar de elucidar que a educação do povo brasileiro, desde o início da grande exploração, esteve distribuída em dois polos, o que é comum das sociedades ditas “civilizadas”. De um lado uma escola para formar os filhos dos colonizadores, com a finalidade de tornar-lhes dominantes sobre uma grande maioria marginalizada, e de outro uma escola que preparava indivíduos para serem incapa- citados de ver além da aparência. O Objetivo da escola dos dominantes era educar para o Exercício de Fixação 82 poder, para dominar, e para isso acontecer seria necessário forjar no homem uma postura que lhe distinguisse dos demais, aí é que entrava as Artes como base da formação dessa estrutura. O dominante necessitava estar enquadrado nas atividades artísticas e heroicas da sociedade, seu nome deveria ser conhecido dos seus dominados, ele deveria ser visto pelos outros como alguém supe- rior em todos os níveis, em especial na sua expressão artística. Chama- mos isto hoje de popularidade, era necessário tornar-se popular. A escola dos dominados, instituída pelos dominantes, ti- nha como objetivo educar para a obediência ao trabalho, ensinar assuntos que preparassem urgentemente tais alunos para a leitura, escrita, resolução de continhas, isso era o que eles precisavam. Se- ria desperdício ensinar-lhes as Artes, isto que não estavam sendo preparados para a expressão artística, nem tampouco para admi- nistrar, mas sim para o mero trabalho braçal. Vejamos o que diz Porcher: Não há dúvida de que até uma época recente a arte sempre teve na sociedade uma conotação aristocrática, enquanto exercício de lazer e marca registrada da elite. As muralhas estéticas defi- niam o território fechado de uma certa forma de ócio elegante. Mas esse lazer ocioso, essa utilização do tempo livre não foram dados a todos por igual dentro da sociedade: constituíram-se em privilégio das classes sociais favorecidas, que foram também as classes sociais dominantes. (1982, p.13). Como profissionais é necessário reconhecermos prin- cipalmente a realidade de que as nossas ações são fruto de influ- ências externas do meio, e com isso começar a pensar seriamente sobre a nossa prática educacional: a quem estamos favorecendo? Quem são os grandes pensadores do Sistema de Ensino Público Fundamental? Quais são seus objetivos a serem alcançados? Estas perguntas são necessárias para que possamos en- 83 tender melhor sobre o problema da falta de valorização as Artes no Ensino Público, em especial no ensino público fundamental. Se analisarmos, compreenderemos que estamos favorecendo uma ideologia burguesa, que tem sido estruturada dentro da própria escola pública, tendo em vista evitar que os filhos dos proletários possam conhecer a história das Artes no Brasil e por conseguinte tomem espaço no “poder”. A realidade acima mencionada é o fator principal para que a classe dominante mantenha sua grandiosa vantagem em relação aos dominados. Referindo-se à desigualdade social como produto do meio Porcher afirma: A sensibilidade estética, o dom, o talento, a abertura para o mistério das Artes não se repartem por igual entre as cate- gorias sociais. As classes favorecidas abundam em indivíduos detentores dessas capacidades; as classes sociais mais baixas, pelo contrário, só possuem tais indivíduos em proporção re- duzida. “Tudo se passa como se o dom gratuito do talento e do acaso, do gênio não fossem na realidade nem gratuitos nem fortuitos, mas claramente determinados pelo critério so- ciológico”. (1982, p.14) Questões: 1) Após leitura do texto reflita sobre as problemáticas propostas e responda: como profissionais, é necessário re- conhecermos que as nossas ações são frutos de influências externas? Por quê? 2) Quem são os grandes pensadores do Sistema de Ensino Público Fundamental? 3) Quais são seus objetivos a serem alcançados como educador? O DESENVOLVIMENTO CRIATIVO Caro Aluno Seja bem-vindo (a) à nossa segunda unidade. Esta unida- de será dedicada a uma importante reflexão sobre a função da arte no universo da criança. Você terá a oportunidade de entender me- lhor as relações da arte com a criança Bons Estudos!!! 89 No glossário de seu livro, Edwards (1987, p. 217) consi- dera que criatividade é “A capacidade de encontrar novas soluções para um problema ou novas formas de expressão; o ato de dar exis- tência a algo novo para o indivíduo”. Ao tratar a respeito do universo da criatividade, Haetin- ger (2005) aborda a criatividade como a capacidade humana de ge- rar novas ideias ou ações. Ele afirma que essa capacidade indepen- de do nível ou classe social, mas depende do meio no qual o sujeito está inserido. Esse conceito pode ser melhor entendido a partir das quatro categorias definidas por Rodhes (Apud: KNELLER, 1978, [s.p.]), que destaca: 1. Do ponto de vista da pessoa que está criando, a ação criativa é fisiológica e tem como base os temperamentos humanos, os hábitos e as atitudes criativas. 2. Os processos mentais criativos englobam a percepção, a mo- tivação, o pensamento, a aprendizagem e a comunicação. 3. A criatividade está associada às relações entre homens e aos fatores ambientais e culturais. Portanto, é fruto da interação entre homens/objetos/meio. 4. A criatividade pode ser definida em virtude de seus produ- tos: pinturas, conceitos, teorias, invenções, esculturas, poemas, filmes, etc. Mas estas são as formas estereotipadas das ações criativas. Kneller (1978) lembra ainda que as distintas definições de criatividade estão sempre relacionadas ao conceito de novidade ou inovação. Assim, a ação criativa é a própria essência da trans- formação e das mudanças, tanto exteriores ao ser, quanto internas. 4. Conceito de Criatividade 90 Mas também é possível compreender a criatividade como a base do ato de liberdade, ou melhor, da ação libertadora, pois a criação associa-se à formação do senso crítico. Segundo Haetinger (2005, p. 134), “A criatividade está presente em cada um de nós. Todos temos a mesma capacidade cria- dora”. Mas ele argumenta que essa capacidade é potencializada ou minimizada de acordo com nossas interações com o meio cultural, o qual pode ou não oferecer estímulos às atitudes e aos atos criativos. O autor ainda complementa que, o que potencializa a criatividade são as nossas vivências. Em seu livro destaca que, “Criatividade – Capacidade criadora, inventividade, capacidade degerar novas ideias. Associada a vivências e meio ao qual o indi- víduo está inserido” (Ibidem, p. 15). Analisando os processos criativos, Haetinger (2005) aponta que estes estão relacionados à inteligência e, mais especifi- camente, que eles se originam nos pensamentos divergentes. Nosso intelecto abrange o pensamento (uma ideia em si) e o seu “backup”, ou seja, a memória que armazena experiências, informações e conceitos registrados desde a vida intrauterina. O pensamento abrange a cognição (o entendimento de uma ideia), a produção (ideia global e sua execução prática), e a ava- liação (a qual reúne parâmetros críticos que influenciam em nossa autoimagem e autoestima). (Ibidem, p. 135) Ainda ressalta que a produção intelectual é feita por meio de pensamentos convergentes e divergentes. Haetinger (2005, p. 135) considera que, “Pensamento convergente é o pensamento direto, é a saída lógica e padrão para os problemas com os quais nos deparamos. Já o pensamento diver- gente ou lateral é um modo único e criativo de pensar”. Ele explica que a criatividade surge justamente no âmbito do pensamento di- vergente e se desenvolve a cada vez que procuramos saídas alterna- 91 tivas e inovadoras para determinadas ações. Ainda nesta mesma linha de considerações, o autor con- clui que: O pensamento divergente, a criatividade e o senso crítico estão associados sob a forma de um triângulo equilátero (todos os lados são iguais e de igual responsabilidade com o todo). As- sim, a criatividade só se aprimora quando exploramos nosso pensamento lateral e senso crítico simultaneamente. Portanto, ser criativo requer o discernimento da realidade e daquilo que é importante para cada um de nós. Também é preciso olhar o mundo a nossa volta com muito interesse e curiosidade, levan- tando novas ideias e possibilidades. (Ibidem, p. 136) Segundo Masi (2003, p. 699), “Criar, de fato, significa iluminar aquilo que antes estava escuro, dar forma àquilo que an- tes era caótico, gerar aquilo que nunca antes havia sido criado nem gerado, antecipar o futuro, produzir o porvir”. Ao referir-se a tal assunto, Masi (2003) avalia aspectos da criatividade. Para Masi, a criatividade é surpreendente, pois responde ao desejo de ir além do insólito, de surpreender-se e de surpreender, dando expansão ao ermos, aos instintos que impelem a fugir aos limites impostos pelo pensamento consciente, secundário, lógico e dedutivo. E completa que, “Proceder somente segundo a razão, como a sociedade industrial nos induziu a fazer, não é uma con- quista, mas uma redução, porque nos castra da emotividade”. (Ibi- dem, p. 703) Outro aspecto levantado por Masi (2003) seria que a cria- tividade é duplamente universal. O autor entende que é universal porque a alegria de criar é dada a todos, uma vez que todos criam, ainda que nem todos cheguem a fazer obras-primas, a elaborar novos paradigmas, a inventar instrumentos revolucionários ou a 92 descobrir novos mundos. Mas a criatividade é universal também porque ninguém cria do nada, cada um utiliza os materiais depositados em seu pró- prio inconsciente. E, uma vez que o inconsciente é universal, as obras realizadas por um criativo despertam sintonias e resso- nâncias também em outros. Na maior parte dos casos, o criati- vo experimenta prazer tanto em criar uma obra surpreendente como em constatar que ela provoca-nos outros uma surpresa análoga à sua própria. (Ibidem, p. 703) O mesmo autor continua, apontando que a criatividade também é doadora de paz. Considera que, “É terapêutica, por- que ajuda a esquecer outros problemas, a aplacar outras tensões, a sublimar pulsões destrutivas, a reduzir a sensação de inutilidade, mediocridade, isolamento, a fugir da monotonia cotidiana e das preocupações imediatas” (Ibidem, p. 704). E acrescenta também que, outras vezes, ao contrário, os processos criativos conseguem distrair, divertir, isolar do mundo hostil, separar da banalidade. Masi (2003) finaliza seu livro enfatizando que a criativi- dade é impertinente e suave, como descrito no último parágrafo: A lição talvez mais autêntica que levo dessa longa viagem pela criatividade é que ela não tem regras: nasce indiferen- temente em almas precoces ou senis, cultas ou primitivas, e pode assumir as formas mais diversas, às vezes tempestuosas, às vezes aplacadas, às vezes aparentemente simples, às vezes supostamente complexas. A sua força está na surpresa da sua multiplicidade, das suas infinitas e imprevisíveis direções. (Ibidem, p. 705) Também Hallawell (1994, p. 51), ao analisar o processo criativo a partir da arte, destaca que, “Em primeiro lugar, para ter 93 ideias é preciso pensar”. No entanto, o autor considera que muitas pessoas ignoram essa obviedade, porque a preguiça mental assola o homem moderno, acostumado às ideias padronizadas. Segundo ele, a liberdade de poder pensar o que e como quiser pode assustar, por causa desse condicionamento intelectual. Portanto, o primeiro passo é criar uma atitude crítica em relação à realidade a sua volta. Questione tudo, inclusive a si mesmo ou especialmente a si mesmo! Pergunte-se o que o interessa, do que você gosta, o que o preocupa e por quê. Desenhe criticamente, pensando, questionando seus senti- mentos, suas emoções e suas reações, e, aos poucos, as ideias surgirão. (Ibidem, p. 51) A exemplo de Haetinger (2005), Hallawell (1994, p. 52) acredita que, “A realidade de cada pessoa é moldada pela sua cultu- ra, educação, experiência e personalidade, e é por isso que a reali- dade de cada pessoa é única”. O autor acrescenta ainda que, “É preciso ter consciên- cia de que o pensamento humano é um processo contínuo, e que as ideias de hoje são uma consequência das ideias do passado. O pensamento criativo é evolutivo, dotado de insights, mas nunca é totalmente novo” (Ibidem, p. 52). E completa dizendo que, “De- vemos estar sempre cientes de que estamos criando interpretações da realidade, e não a realidade propriamente dita” (Ibidem, p. 56). Hallawell (1994) caracteriza o processo criativo enfati- zando que toda obra de arte, seja ela visual ou de qualquer outra expressão, evolui da mesma forma, em quatro estágios: concepção, materialização, interpretação e reinterpretação. Dessa forma, pri- meiro a ideia é concebida, depois materializada, para ser interpre- tada em seguida. O processo criativo só se completa quando a obra é reinterpretada pelo espectador. Para uma melhor compreensão sobre o assunto, cabe ci- 94 tar ainda, entre tantos outros existentes, mais alguns conceitos de criatividade, como por exemplo, que, “Criatividade é encontrar soluções onde todos só veem problemas, encontrar meios onde to- dos só veem escassez, encontrar um sorriso onde os outros só veem tristeza” (FABIO, 2000, s.p). Ou que, “Criatividade é um com- portamento produtivo, construtivo, que se manifesta em ações ou realizações, não necessitando ser, prioritariamente, um fenômeno ímpar no mundo, mas deve ser basicamente, uma contribuição do indivíduo” (LOWENFELD & BRITTAIN, 1977, s.p). Também Rogers (1978, s.p), que afirma que, “Criatividade é a emergência na ação de um produto relacional que provém da natureza única do indivíduo, por um lado, e dos materiais, acontecimentos, pesso- as e circunstâncias de sua vida, por outro”. Criatividade é o processo de apresentar um problema à mente com clareza (ou seja, imaginando-o, visualizando- -o, superpondo-o, meditando, contemplando, etc.), e logo originar ou inventar uma ideia, conceito, noção ou esquema segundo linhas novas ou não convencionais; supõe estudo e reflexão mais do que ação. A criatividade resulta da combi- nação de processos ou atributos que são novos para o cria- dor. (VERVALIN, 1980, s.p) Criatividade é o processo de fazer e comunicar conexões significativas e novas para nos ajudar a pensar muitas pos- sibilidades; para nos ajudar a pensar e experienciar de várias formas, usando diferentes pontos de vista; para nos ajudar a pensarnovas e inusitadas possibilidades; e para nos guiar no processo de gerar e selecionar alternativas. (ISAKSEN & TREFFINGER, 1985, s.p) Criatividade é um atributo dos sistemas sociais que fazem julgamento sobre os indivíduos. A criatividade é o produto da interação entre três subsistemas: o domínio, a pessoa e o campo. O domínio representa a cultura onde um deter- minado comportamento tem lugar. O campo é composto por indivíduos que conhecem as regras do domínio e que decidem se o desempenho do indivíduo é criativo ou não. 95 A pessoa é o indivíduo que assimilou as regras do domínio, encontrando-se pronto para imprimir no campo suas varia- ções individuais. (CZIKSZENTMIHALYI, 1988, s.p) 4.2. Arte e Criatividade De início é interessante destacar o pensamento de Edwar- ds (1987), que ao escrever sobre o seu método de como desenhar com o lado direito do cérebro e explorar a criatividade, afirma que todo indivíduo é dotado de potencial criativo para exprimir-se através do desenho e seu objetivo é proporcionar-lhe os meios de liberar esse potencial, de ter acesso, a um nível consciente, à sua capacidade inventiva, intuitiva e imaginativa – capacidade esta que talvez tenha permanecido dormente e inexplorada em decorrência de nossa cultura verbal e tecnológica e nosso sistema educacional. A autora entende que, ao desenhar, a pessoa recorrerá in- tensamente a uma parte de seu cérebro que é quase sempre obscu- recida pelos intermináveis detalhes do cotidiano, que a partir desta experiência de explorar a criatividade, o indivíduo desenvolverá a capacidade de perceber as coisas de uma maneira nova, em sua to- talidade, de descobrir configurações e possibilidades ocultas para novas combinações. “Soluções criativas para problemas pessoais ou profissionais tornar-se-ão acessíveis através de novas maneiras de pensar e novas formas de utilizar todo o poder do seu cérebro” (EDWARDS, 1987, p. 16). O potencial do lado criativo e imaginativo do seu cérebro é quase ilimitado; e, através do desenho, você pode vir a co- nhecer esse potencial e fazer com que os outros o conheçam. Através do desenho, você se torna visível. Como disse o pin- tor alemão Albrecht Dürer: “O tesouro que você ajuntou secretamente em seu coração se tornará evidente em seu tra- balho criativo”. (Ibidem, p. 17) 96 Quando o artista está vivo em qualquer pessoa, qualquer que seja o seu tipo de trabalho, ela se torna uma criatura in- ventiva, pesquisadora, ousada e expressiva. Torna-se interes- sante aos olhos de outras pessoas. Perturba, agita, esclarece e abre o caminho para uma melhor compreensão. Quando aqueles que não são artistas estão procurando fechar o livro, ele o abre e mostra que ainda há um grande número de pági- nas possíveis. Robert Henri (In: Ibidem, p. 17) Para Edwards (1987), conquistando acesso àquela parte do cérebro que funciona de maneira conducente ao pensamento criativo e intuitivo, aprendemos aquilo que é fundamental às artes visuais: como pôr no papel o que vemos diante de nossos olhos. Depois, adquirimos a habilidade de pensar de forma mais criativa em outras atividades. Jerome Bruner (In: Ibidem, p. 27), nos diz que, “Há algo de extravagante no ato de criar, embora a tarefa seja séria. E é igualmen- te extravagante escrever a respeito desse ato, pois se há um processo silencioso, é o processo criativo. Extravagante, sério e silencioso”. Já Arthur Koestler (In: Ibidem, p. 38), considera que, “Todo ato criativo requer. uma nova inocência de percepção, livre da catarata da crença tradicional”. Segundo Edwards (1987), uma pessoa criativa é aquela capaz de processar, sob novas formas, as informações de que dis- põe – os dados sensoriais comuns acessíveis a todos nós. O escritor precisa de palavras, o músico precisa de notas, o artista precisa de percepções visuais e todos precisam de certo conhecimento das técnicas de sua arte. Mas o indivíduo criativo percebe intuitiva- mente possibilidades de transformar dados comuns em uma nova criação que transcende a mera matéria-prima. Haetinger (2005), ao focar seu trabalho no universo cria- tivo infantil, identifica que, o caráter questionador que marca a nova geração demonstra um alto grau de criatividade que norteia o 97 seu senso crítico e aproveita essa colocação para ressaltar a impor- tância da criatividade ao longo da vida humana. Esta afirmação determina duas coisas: a primeira, que é pre- ciso trabalhar a criatividade desde cedo para ampliar sua ação no pensamento humano. A segunda, que o jovem cria- tivo que tenha verdadeiramente desenvolvido o seu senso crítico poderá manter sua criatividade crescendo mesmo na idade adulta. (HAETINGER, 2005, p. 15) A música e a dança como modalidades do ensino de Arte são apontadas por Haetinger (2005) em seu trabalho, quando o autor menciona a música associada à dança no contexto escolar. “É por meio desse tipo de prática que inserimos a dança no universo da criança. Então, parece-nos evidente a exploração desse estímu- lo quando buscamos facilitar o desenvolvimento das capacidades motoras e da criatividade de nossas crianças”. (Ibidem, p. 50) A dança é uma das formas de expressão fundamentais para o desenvolvimento psicomotor. Isso porque, quando alguém dança, está necessariamente controlando e coordenando seus movimentos corporais associados ao pensamento. O resultado desta atividade é o exercício físico e mental relacionado ao prazer e a alegria. O mesmo autor enfatiza que, na escola, podemos traba- lhar com vários tipos de dança e entre eles, a Dança Criativa. A dança criativa está presente em muitas circunstâncias da re- alidade escolar. As próprias crianças, em suas brincadeiras no pátio da escola, inventam “coreografias” e dançam as músicas da moda ao seu jeito. Naquele momento, elas estão dançan- do livremente e explorando sua criatividade. A observação do universo infantil é sempre a maior fonte de dados para um educador consciente de sua função. (Ibidem, p. 50) 98 Segundo Haetinger, a dança criativa é uma dança não coreográfica, realizada a partir de estímulos sonoros (música e/ou ruídos). Ao praticá-la, a dança cria movimentos livremente ou a partir da provocação de um mediador. Deste modo, a dança criati- va parte de uma brincadeira infantil e se manifesta quando a crian- ça usa seu próprio corpo para brincar e se movimentar ao ritmo de uma música ou som. “Nos ambientes de educação, o educador pode trabalhar a dança criativa provocando reações e interpretações por parte das crianças. Através de brincadeiras que envolvem situações e sons es- pecíficos, o professor estimula a criança a dançar e usar sua imagi- nação”. (Ibidem, p. 51) De acordo com Marques (2003), a dança criativa “sugere que as aulas de dança devem permitir e incentivar os alunos a expe- rimentar, explorar, expandir, colocar seu eu no processo de confi- gurações de gestos e movimentos” (Ibidem, p. 140). Haetinger (2005) também menciona o teatro, outra modalidade do ensino de Arte, como atividade estimuladora da criatividade infantil. O autor reforça que, na educação, a motrici- dade relaciona-se intensamente com a expressão dramática, pois, quando a criança está desenvolvendo suas habilidades, ela conjuga ações com seu corpo, sua imaginação, seu poder de imitação e de representação. Estas práticas consistem em formas de expressão fundamentais para seu desenvolvimento. É brincando de faz de conta, imitando gestos e expressões faciais e representando situações que a criança explora sua imaginação e expressão corporal. O poder imaginativo da criança faz com que ela crie e recrie constantemente o seu universo, traçando relações entre a realidade e a fantasia. (Ibidem, p. 57) Para Haetinger (2005), este elo entre o real e o imaginá- 99 rio é muito importante para as vivências infantis. Como faz notar um renomado pesquisador da expressão dramática na infância e no universo escolar, que afirma que, “o jogo dramático infantil é umaforma de arte por direito próprio; não é uma atividade inventada por alguém, mas sim o comportamento real dos seres humanos” (SLADE, 1978, p. 17). Do mesmo modo, Haetinger (2005) salienta que, “É nes- te tipo de atividade que a criança se expressa espontaneamente. Por meio do jogo dramático, ela inventa, pensa, lembra, ousa, experi- menta, comprova, relaxa e faz relações com o mundo que a cerca”. (Ibidem, p. 58) A expressão dramática deve ser valorizada e correlacio- nada com as atividades de desenvolvimento infantil. Isto pode ser feito, por exemplo, quando se propõe caminhadas imaginativas ou brincadeiras com fantoches e máscaras. Todos os jogos que traba- lham com a fantasia são importantíssimos às descobertas infantis. Ao destacarmos a expressão dramática na educação, propor- cionamos meios para a criança vivenciar diferentes papéis e ampliar sua imaginação e criatividade de modo prazeroso e alegre. E, indo além do momento presente, oportunizamos que ela se torne futuramente um adulto com iniciativa e auto- nomia. (HAETINGER, 2005, p. 59) Na opinião de Gesteira (1996, p. 46) ao referir-se sobre a prática do teatro na escola, enfatiza: “Os educadores podem inserir o teatro de bonecos na escola, estimulando a criatividade e a poe- sia, aguçando o senso crítico dos alunos, espelhando a realidade e tornando-a, desse modo, passível de transformações, a partir da influência artística”. A propósito, Haetinger (2005) explica que, quando se propõe um jogo, além dos objetivos cognitivos a serem alcança- dos, espera-se que as crianças sejam capazes, entre outras coisas, 100 de criar e explorar a criatividade, uma vez que o jogo proporciona o desenvolvimento do pensamento criativo e divergente, gerados pela criatividade. Desse modo, os alunos podem inovar e descobrir formas para se relacionar com a aprendizagem. Portanto, os jogos artísticos, como o próprio nome diz, são aqueles que operam com as competências artísticas. Entre eles, destacam-se as atividades de artes plásticas, como desenhos, gra- vuras, recortes, colagens, maquetes, móbiles, trabalhos com tintas, esculturas, massa de modelar, dobraduras, quadros, mosaicos, más- caras, vitrais, entre outras; as atividades teatrais são os jogos dra- máticos, peças, dramatizações, improvisações teatrais, fantoches, mímicas, teatro de sombras, etc.; as musicais são montagens de instrumentos, ritmos, canto, composição, paródias, coral, dicção; e a dança, em todos os seus gêneros e de todas as épocas, atividades de expressão corporal, de ritmo e movimento, faz parte dos jogos expressivos. No contexto escolar, Haetinger (2005) acredita que a cria- tividade pode transformar a relação do sujeito com o conhecimento. As atitudes e as ações criativas correspondem a meios para a compreensão e alteração da realidade. Todo ato criativo ex- pressa a percepção que alguém tem do mundo, de uma ideia ou situação. O indivíduo necessariamente usa o seu entendi- mento da dimensão real para criar algo novo. (Ibidem, p. 128) Ainda nesta mesma linha de considerações, Haetinger (2005) diz que a criatividade potencializa a imaginação humana e, consequentemente, modifica o método pelo qual as pessoas lidam com a informação e o processamento da mesma. A importância da criatividade como método é ressaltada por Rogers na seguinte afirmação: “a sobrevivência dos povos depende da capacidade cria- dora do homem” (Apud: KNELLER, 1978, p. 19). Em outras palavras, Haetinger (2005, p. 132) menciona que, 101 O processo criativo está intimamente relacionado ao exercí- cio da imaginação. Os jogos e brincadeiras que estimulam a autoexpressão, a descoberta e o poder de imaginação explo- ram a criatividade e permitem que alunos e professores se expressem de modo global e potencializem suas habilidades e capacidades. Também ao desenvolver sua própria criativida- de, o educador passa a compreendê-la e adquire parâmetros para proporcionar experiências criativas aos seus educandos. Quando trabalhamos em grupo, a imaginação e a curio- sidade de cada participante é ressaltada e compartilhada. E quem consegue se expressar junto aos outros, se adapta melhor às cir- cunstâncias e à troca de experiências. Por isso é muito importante que se possibilite vivências co- letivas na escola. Elas oportunizam que o educando revele- -se aos outros e a si mesmo. Através da expressão criativa em grupo, o aluno conta com um meio de expressão espontânea e reformula constantemente seus pensamentos, o que possibili- ta novas atitudes e ideias. (Ibidem, p. 133) Segundo o mesmo autor, dentro do universo escolar, a prá- tica de atividades criativas leva professores e alunos a compreender e aceitar as formas e os padrões de comportamento pessoal e social; a ter autoconfiança; a resolver situações inéditas, aplicando conheci- mentos e habilidades adquiridas anteriormente; a analisar, avaliar e reavaliar seu comportamento como indivíduos de um grupo. Haetinger (2005, p. 137) sustenta que: “Em virtude des- ses fatores, é muito importante proporcionarmos experiências criativas aos alunos”. A exemplo de Kneller (1978), que enfatiza que a criação associa-se à formação do senso crítico, Haetinger também reforça que, “As práticas que associam arte, elementos lú- 102 dicos, movimento e vivências coletivas contribuem com a criativi- dade e com o desenvolvimento do senso crítico”. (Ibidem, p. 137) De acordo com o mesmo autor, todo tipo de atividade cria- tiva só acontece em um ambiente de liberdade, no qual todos têm as condições ideais para se expressar autenticamente, sem restrições ou imposições. Sobre esse aspecto o autor também destaca a postura da escola frente ao processo de desenvolvimento da criatividade. De fato, “Aos educadores cabe lembrar: a criança não aprende nem cria por imitação”. (Ibidem, p. 137) Promover práticas criativas não significa estabelecer regras para a realização de brincadeiras ou tarefas. Você pode cola- borar com o processo criativo de seus educandos oferecendo um ambiente de aceitação, integração e liberdade, deixando- -os realizar livremente suas atividades e brincadeiras e per- mitindo que eles sempre expressem sua imaginação e o seu próprio mundo de faz de conta. (Ibidem, p. 137) Ainda referindo-se aos educadores, Haetinger (2005, p. 138) conclui que: Sua função é organizar o meio, os recursos e os instrumentos didáticos para a criação; é criar um ambiente favorável em que a criança sinta-se segura e acolhida para atuar; é estimular a expressão da subjetividade dos alunos, sem indicar-lhes possí- veis erros ou o melhor modo de fazer as coisas. Eles descobri- rão por si próprios, explorando objetos e vivendo diferentes situações. Também Machado [s.d.], ao analisar o papel do professor de Arte, alude que o educador é extremamente importante nesse processo, pois é ele que está sempre presente, observando o desen- volvimento de cada criança, orientando-o e direcionando-o. 103 Na opinião de Lowenfeld & Brittain (Apud: MACHA- DO, [s.d.]), o professor deve ter sempre em mente que não se deve impor padrões e regras a serem seguidos, estabelecer algo suposta- mente correto, “bonito” ou “feio”. “Essas seriam restrições à capa- cidade criadora e, consequentemente, inibiriam a expressão indivi- dual da criança e sua autoafirmação”. E continua, “É preciso ajudar as crianças desenvolver a confiança na autoafirmação, propiciada pela expressão artística”. (Ibidem, [s.p]) No ponto de vista de Machado [s.d.], em seu artigo sobre o desenho infantil – o desenvolvimento da criatividade e da per- cepção visual – a autora argumenta que: O desenho infantil deve ser estimulado não com a intenção de ensinar as técnicas para as crianças, mas pelo fato de este ser um importante processo de aprendizagem. É a oportuni- dade dela se expressar, de expor de forma concreta seus pen- samentos e sentimentos. À medida que a criança desenha, ela aprende, pois assim ela organiza e concretiza seus pensamen- tos. Ao mesmotempo em que lhe dá autoconfiança por estar construindo e se expressando livremente. Na visão da mesma autora, a criatividade infantil tem ori- gem e reflexo no próprio desenho. A partir dele a criança aumenta sua percepção e isso desenvolve sua criatividade, que vai se refletir no próprio desenho. A respeito disso, Machado [s.d.] conclui que: Sabemos que a importância da criatividade vai muito além do próprio desenho. É das ideias mais inusitadas e criativas que nascem as grandes ideias que vão melhorar a nossa sociedade e gerar melhores condições de vida, com mais conforto e efi- ciência. Por isso devemos quebrar as barreiras que nos foram impostas desde a nossa infância. Não devemos inibir nossas ideias diferentes, nossa livre-expressão. Maior será a criativi- dade de um projeto quanto mais pura for a expressão pessoal, livre das barreiras. Somos todos diferentes uns dos outros. 104 Não pensamos e, principalmente, não nos expressamos da mesma forma. Devemos aceitar essas diferenças e enfatizá-las, a fim de realizar um trabalho mais autêntico. Para Hohl (2003), ao tratar sobre o desenvolvimento da criatividade infantil, as crianças criativas precisam, antes de mais nada, ter o valor dos seus talentos reconhecidos, dando-lhes con- dições para lidar com as provações e fracassos que surgirão natural- mente ao longo da vida. O autor avalia que, “se tiverem encoraja- mento e permissão para explorar, experimentar e testar suas ideias através de projetos de sua própria iniciativa, assumindo responsa- bilidades, encontrarão provações e fracassos, podendo enfrentá-los sem dificuldade”. O processo criativo deve desenvolver as potencialidades das crianças, utilizando os recursos que favorecem não só a aqui- sição de conhecimento, mas sobretudo, a expansão e a afirma- ção da personalidade do educando, podendo ser desenvolvida capacidade criadora e canalizada para as diversas atividades e setores da realização pessoal. (Ibidem, [s.p]) Cabe citar Barroso, Borges & Silva (1996, p. 16), que ao escreverem o artigo Arte sem graça, a respeito de que o uso de modelos prontos no ensino de Arte empobrece a imaginação da criança, destacam que: “A prática de dar figuras para colorir ou desenhos para copiar não estimula a criatividade da criança. Pior, inibe sua capacidade de expressão e lhe indica um caminho fácil (e pobre) da criação: repetir fórmulas conhecidas”. E continuam, dizendo que: “O questionamento, a indagação, a compreensão da pesquisa, eis o caminho da criação. Devem-se propiciar condições para que os alunos criem. Massificar não educa, porque esse pro- cesso implica em respostas prontas”. (Ibidem, p. 16) As mesmas autoras alertam que: “Os professores devem 105 expressar o desejo de mudar a sociedade por meio de uma pedago- gia orientada para a criatividade”. (Ibidem, p. 19) Síntese da Unidade Nesta unidade você pôde refletir sobre a relação entre a arte, criatividade e a escola. Também conheceu alguns conceitos so- bre criatividade. Conclui-se, portanto, que a arte é reflexiva é imune ao aos valores, ideias, práticas políticas e tendências de seu tempo. Exercício de Fixação Leia e Responda: Marcel Duchamp Outra questão abordada por Marcel Duchamp é o fato de que o resultado do ato criativo, a obra de arte, é um processo que ele chama de “mediúnico”, ou seja, que comporta mais do que o elemento racional, ou em suas palavras, dá “consciência no plano estético sobre o que está fazendo”, um componente subjetivo, até inexplicável, sendo considerado como um “embate” a relação entre esses dois elementos durante o ato criador. Afirma ele: O resultado desse conflito é uma diferença entre a intenção e a sua realização, uma diferença de que o artista não tem consciência. (.) Em outras palavras, o “coeficiente artístico” pessoal é como que uma relação aritmética entre o que per- 106 Responda: Vamos pensar a arte, então, como um ponto de vista sobre a realidade, um olhar. Esse olhar, no entanto, nunca é neutro, mas um modo de apreender, de representar o real. A arte nos ensina que o mundo pode ser visto e dito por diferentes ângulos e pers- pectivas. Para Duchamp, o ato criador não é praticado somente por uma pessoa, já que os significados da obra de arte serão acres- cidos pelo espectador/leitor, reconfigurando e reconstruindo, ao longo do tempo, novas maneiras de olhar o objeto artístico. manece inexpresso embora intencionado, e o que é expresso não intencionalmente. Analisando a afirmação de Marcel Duchamp, podemos tecer algumas considerações em relação ao seu entendimento so- bre o ato criador. Primeiramente, o crítico-artista admite que é difícil decifrar esse processo, mesmo levando em conta a sua con- sideração de que o objeto artístico é criado a partir de um elemen- to racional e outro subjetivo. Este último, do qual nem o próprio criador tem consciência, representa a verdadeira singularidade do artista e da obra de arte, dando margem às interpretações do leitor e suas possíveis contribuições de significado. 107 Se o ato criador não é praticado por somente uma pessoa, qual é seu olhar para obra de Duchamp? EDUCAÇÃO PARA A SENSIBILIDADE Caro Aluno Bem-vindo à nossa quinta unidade. Esta unidade será dedicada a uma importante reflexão sobre a função da Educação para sensibilidade. Você terá a oportunidade de compreender as relações entre Educação e sensibilidade. Também compreenderá a importância de se ensinar a sensibilidade estética. Bom Estudo! 113 A educação sensível tem como embasamento a compre- ensão do corpo e o brincar como a linguagem da criança. É uma educação que permite trazer a fluência do que a criança possui de dentro para fora, possibilitando a manifestação e o reconhecimen- to do impulso de vida. Para Faya Ostrower: “a sensibilidade é uma porta de entrada de sensações (.). Uma grande parte da sensibilidade, a maior parte talvez, incluindo as sensações internas, permanece vinculada ao inconsciente (.). Uma outra parte porém, também participando do sensório chega ao nosso consciente. Ela chega de modo articulado, isto é, chega em formas organizadas” (1996: 12). No texto “O olho e o espírito”, Maurice Merleau-Ponty delineia a poética do olho. Para Merleau-Ponty, “instrumento que se move por si mesmo, meio que inventa seus fins, o olho é aquilo que foi sensibilizado por um certo impacto do mundo e o restitui ao visível pelos traços da mão”, ou seja, podemos dizer que o olho é a principal ferramenta do artista. É ele que fará com que “sua visão se [faça] gesto” uma vez que o artista plástico pensa e sente com a matéria que dará forma ao, como diz Merleau-Ponty, espírito. “É essa animação interna, essa irradiação do visível que o pintor pro- cura sob os nomes de profundidade, de espaço, de cor”. Podemos verificar no texto de Maurice Merleau-Ponty, considerações, na perspectiva do pintor, “o olho vê o mundo, e o que falta ao mundo para ser quadro, e o que falta ao quadro para 5. Educação para a Sensibi- lidade - O Olho que Vê e o Espírito que Escreve 114 ser ele próprio e, na paleta, a cor que o quadro espera; e vê, uma vez feito, o quadro que responde a todas essas faltas, e vê os quadros dos outros, as respostas outras a outras faltas”. Esse ponto de vista do pintor em relação ao mundo e o que deste poderia transformar- se em pintura corresponde, guardadas as devidas especificidades. Isso evidência na medida em que poderíamos reescrever o trecho acima conforme o ponto de vista da gaúcha Beatriz Viégas-Faria da seguinte forma: o olho vê o quadro, e o que falta ao quadro para ser poesia, e o que falta à poesia para ser ela mesma, e, na página em branco, a palavra que o poema aguarda; e, uma vez feito, lê o poe- ma que corresponde a todas essas faltas, e vê os poemas dos outros, as respostas a outras faltas. Essa modificação com fins explicativos das palavras de Merleau-Ponty mostra que uma filosofia do olho não se aplica somente ao pintor,mas a todos que apreciam a arte e, consequentemente, extraem subjetividade a partir da visão. “O pintor, qualquer que seja, enquanto pinta, pratica uma teoria mágica da visão. Ele precisa admitir que as coisas entram nele ou que (.) o espírito sai pelos olhos para passear pelas coisas, uma vez que não cessa de ajustar sobre elas sua vidência”. Entretanto, não é somente o olho que é inerente ao ofí- cio do artista, mas também o espírito, ou seja, esse instrumento subjetivo que difrata as coisas do mundo apreendidas no olhar, transformando-as em sensações e materializando-as em arte. Considerando essa filosofia do olhar do artista, Merleau- Ponty observa que “teria muita dificuldade de dizer onde está o quadro que olho. Pois não o olho como se olha uma coisa, não o fixo em seu lugar; meu olhar vagueia nele como nos nimbos do Ser, vejo segundo ele ou com ele mais do que o vejo”. “A arte não é cons- trução, artifício, relação industriosa a um espaço e a um mundo de fora. É realmente o “grito inarticulado” (.) “que parecia a voz da luz”. E, uma vez ali, ele desperta na visão ordinária das forças ador- mecidas um segredo de preexistência”. Do texto de Merleau-Ponty fica a ideia de que o olho, mais do que um sentido aparentemen- te passivo, exerce influência vital na atividade do pintor, uma vez que se constitui como o instrumento que possibilita materializar 115 o espiritual, ou seja, a subjetividade, a qual parece que só pode ser transcrita de forma metafórica, ou melhor, artística. O que é cap- tado pelo olho do espectador na obra transforma-se em poesia. Entretanto, para que isso aconteça, devemos nos encantar com as imagens, além de enxergar as pinturas, o que de fato, se constituiu no elemento motivador da criação poética. Esse cenário do ato criativo deve ser analisado, tendo como base uma teoria. Muitas vezes, diante de um quadro famoso, ou de uma ópera comovente, ficamos admirados com o talento do artista, sua criatividade e desenvoltura. Ao mesmo tempo, nos sentimos um pouco medíocre diante desse talento, como se seu valor fosse re- sultado de um dom pessoal e intransferível, uma espécie de predes- tinação para a arte. O refinamento do senso estético depende também do acesso às informações e à educação formal, com a finalidade em dar aos indi- víduos uma tendência para as artes, seja para uma profissionalização, ou simplesmente, para que ele desenvolva uma sensibilidade voltada para o universo das artes e possibilidades de expressão artística. Portanto, fica aqui o questionamento: o ensino de arte permite o acesso aos bens culturais e a sua interpretação em am- biente escolarizado? O ensino de arte, através do estudo da His- tória da Arte, permite ao aluno, o conhecimento da arte através do domínio dos códigos de decifração estética? Os códigos de decifração estética são necessários para desvelar os significados e sentidos presentes na obra de arte? As questões levantadas apontam para uma discussão que ganha importância na atual metodologia de ensino da arte, fundada no estudo da História da Arte e das referências estéticas relativas à sua contextualização e ao fazer artístico. Tal proposta consta nos Pa- râmetros Curriculares Nacionais de Arte, nos diferentes ciclos. E através do corpo a criança estabelece uma relação de vinculo e afeto, aprendendo a sentir o que faz sentido na relação consigo, com os pais, educadores, amigos, com mundo e vida. 116 Segundo Paulo Machado: “O ser humano deve ser visto como energia que se expressa vi- vamente na criança. É importante aprender a ver a educação em sua expressão que se manifesta no olhar, postura, movimenta- ção, ritmo, harmonia, criatividade e leveza, que indica as trans- formações que estão acontecendo.” “A educação da sensibilidade busca a afirmação simultâ- nea da natureza e a graça, da iminência e da transcendência, do ho- mem e de Deus.” (Ferreira Santos, 2004 : 13), na busca da ligação com a dimensão divina. Sobre o papel do professor, é importante ter consciência do poder que tem nas mãos e do uso que possa fazer disso. É ne- cessário passar pelo processo de autoconhecimento, em que reveja sua história pessoal, reavalie suas limitações e virtudes para poder atuar com as crianças, levando em conta a direção interna de cada uma delas. A educação deve ser compreendida com a vivência de um processo de autoconhecimento e é através das experiências signifi- cativas nas diversas linguagens expressivas e artísticas que se elabo- ra e constrói sua identidade pessoal, grupal e cultural. Educar, etimologicamente quer dizer ‘trazer dentro para fora’. “Na sociedade indígena, educar é arrancar de dentro para fora, fazer brotas os sonhos e, às vezes, rir do mistério da vida” (Munduruku, 2005: 31). “A infância é um campo de batalha entre a intencionali- dade do plano biológico, que impulsiona a criança a partir de ser interior e de nossas intenções ansiosas, que pressionam externa- mente.” (Pearce, 1989: 11). Para Comênio (1592 – 1670), “a educação dos homens deve começar na primavera da vida, pois a meninice é o equiva- 117 lente da primavera, a idade juventude do verão, a idade adulta do outono e a velhice do inverno.” (apud Gadotti, 2004: 81). 5.1 Arte é Aprendizado Podemos perceber que a arte se diferencia em cada épo- ca e que ela é a combinação de muitas presenças: quem faz, quem vê e sente e quem apoia. Portanto a sociedade tem in- fluencia direta nas artes e em como são divulgadas e apreen- didas pelos artistas. Você já viu alguma imagem e ficou na dúvi- da se ela era ou não uma obra de arte? Quais foram as imagens? Como você faria para distinguir a imagem de um cartaz de filme de cinema de uma tela pintada, o que seria arte? Você sabe o que é arte e para quê ela serve? Para podermos responder a essas pergun- tas devemos novamente perceber a importância de saber que a arte é conhecimento. Como vimos, a arte é uma das primeiras manifestações em que o ser humano pôde marcar sua presença, criando objetos e formas (pintura nas cavernas, templos religiosos, roupas, quadros, filmes etc.) que representam sua vivência no mundo, comunicando e expressando suas ideias, sentimentos e sensações para os outros. Desta maneira, quando o ser humano faz arte, ele cria um objeto artístico que não precisa nos mostrar exatamente como as coisas são no mundo natural ou vivido, e sim, como as coisas po- dem ser, de acordo com a sua visão. A função da arte e o seu valor, portanto, não estão no retrato fiel da realidade, mas sim, na repre- sentação simbólica do mundo humano. 118 Cada sociedade possui seus próprios valores morais, re- ligiosos, artísticos entre outros. Isso forma o que chamamos de cultura de um povo. Mas uma cultura não fica isolada, além disso, sofre influências de outras. Portanto, nenhuma cultura é estática. Elas são dinâmicas, mutáveis. A arte tem se manifestado de modos e finalidades diversas ao longo dos tempos. Na Antiguidade, em diferentes lugares a arte era vislumbrada em manifestações e for- mas variadas, seja na Grécia, no Egito, na Índia, na Mesopotâmia ou lugares pouco conhecidos e reconhecidos. Pintura na tumba de Nefertari. Oferenda à deusa Ísis. Bahri, Egito. C. 1279-1212 A.C (dinastia 19) Os grupos sociais veem a arte de um modo diferente, cada qual segundo a sua função. Nas sociedades indígenas e africanas originais, por exemplo, a arte não era separada do convívio do dia- a-dia, mas presente nas vestimentas, nas pinturas, nos artefatos, na relação com o natural e o sobrenatural, onde cada membro da co- munidade podia exercer uma função artística. Somente no séc. XX a arte foi reconhecida e valorizada por si, como objeto que possibilita uma experiência de conheci- mento estético. 119 Nota-se que, a vocação é importante para a prática artís- tica, mas sozinha não é suficiente para o desenvolvimento e a pro- fissionalização do artista. Como em qualquer outra atividade, essas habilidades inatasrepresentam um potencial que dever ser ajusta- do às condições objetivas da profissão. O artista precisa se integrar a um universo de ideias, propostas e princípios, além de estabele- cer um conjunto de relações e de participar de uma comunidade promotora da arte, composta por pessoas (empresários e críticos), espaço e instituições (teatros, galerias, secretarias e ministérios). Mas, as formas de aprendizagem artísticas são importan- tes não só para o desenvolvimento pessoal do artista como para o próprio processo de renovação da arte. Ao mesmo tempo em que a arte consagra e difunde certos princípios, promove o debate, a experimentação e a crítica de onde surgem propostas de renova- ção. Existe uma necessidade de repetição e renovação da arte. Os velhos modelos estéticos são substituídos por novos, adequados ao momento vivido. Assim, o aprendizado é necessário para se tornar um artis- ta, para produzir arte associada ao seu tempo, também é preciso que o público participe desse processo, esteja adequadamente formado e informado. É assim, que ele amplia sua sensibilidade e pode estar em sintonia com a arte e os critérios de julgamento artístico. Como se adquire o gosto por determinada forma de arte? Para se ter uma opinião formada é preciso que se observe e que se tenham informações e até treinamento para não julgar de for- ma errada. É preciso aprender a ver e a ouvir, entender as formas de representação, fazer uma leitura para assim interpretamos de maneira que possamos nos emocionar. A sensibilidade nasce com indivíduo, é preciso aprimorar nossa capacidade estética, para que entremos em contato mais íntimo com a produção artística. Exemplo: Uma pessoa diante de uma pintura renascentista repre- sentando a última ceia de Cristo, seguramente a obra mais conhe- cida do Ocidente. Se o observador não conhecer essa passagem da 120 Bíblia que relata a criação do sacramento da comunhão por Jesus Cristo, verá na pintura apenas a representação de um banquete, no qual alguns homens se reúnem em torno de um convidado espe- cial. Se ele, entretanto, estiver informado sobre a história bíblica, saberá apreciar a maneira como artista representou Jesus, uma di- vindade para os cristãos. Terá, então, uma emoção diferente e mais rica de significados. Agora, se essa pessoa entender um pouco de história da arte, saberá ver, por exemplo, como o artista cuidou da perspectiva e da disposição das figuras em torno da mesa, de forma ordenada e regular (COSTA, 1999, p.60-61) Uma simples leitura da obra permite uma apreciação es- tética. Porém, a partir de informações mais completas, abre-se um enorme leque de possibilidades de contemplação. A cada nova in- formação, nossa sensibilidade se aprimora tornando-nos cada vez mais aptos a uma completa fruição estética. Isso mostra a impor- tância dos educadores fornecerem informações para que os edu- candos tenham argumentos em suas apreciações. Enfim, o nosso aprendizado artístico e o desenvolvimen- to da sensibilidade se inicia quando ainda somos crianças, junto à nossa família, quando entramos em contato com certo gosto que se traduz na forma de dispor os móveis e objetos, com a preferên- cia por determinadas cores ou por certo tipo de música. Tudo isso faz parte do universo cultural de nossos pais, da família em meio à qual crescemos. Aprendemos a valorizar certas “linguagens” ou formas de expressão pelas quais comunicamos ideias e sentimen- tos. Essas “linguagens” têm haver com nossa localidade, origem e classe social. A escola é fundamental para ampliar nossas referências estéticas e para estimular nossas aptidões, ajudando a definir ta- lentos e gostos. A escola não pode ficar indiferente à importância da sensibilidade na construção do conhecimento, bem como à im- portância da empatia e do prazer no processo de aprendizagem, devendo ainda reconhecer que o gosto pelo contato com as pesso- as e com os próprios objetos e a satisfação pela descoberta fazem um papel determinante. 121 Educar para a sensibilidade envolve o sentimento e a ra- zão, implica o pensamento e igualmente sensações, emoções e a capacidade própria de cada um para “sentir o acontecer” dessas sensações, dessas emoções, podendo desse processo resultar apren- dizagem e transformação. Educar com inteligência pressupõe um educar com sensibilidade. Para que a sensibilidade apareça, é preciso realizar ativi- dades para desenvolver o raciocínio. Tornando os educandos mais receptivos a outras áreas do saber e mais sociável na interação com o ser humano. A arte para essa sociedade de consumo torna-se uma po- derosa aliada na questão da satisfação de uma necessidade estética, impondo modos de viver, pensar e agir através de filmes e progra- mas veiculados pela televisão e pelo cinema. E a esse respeito, Duarte Jr (2000, p.152), observa que: Em suma, o que se procura apontar aqui, com relação ao saber sensível, é que sua desvalorização ao longo dos tempos moder- nos sofreu um vigoroso incremento em nossa contemporanei- dade, e do modo mais paradoxal. Isto é; na medida em que a sociedade industrial sistematizou e ampliou esse seu ramo de negócios conhecido como “indústria cultural”, visando a pro- duzir e vender quinquilharias pretensamente estéticas, e os próprios artistas se deixaram iludir pelas promessas da razão instrumental e de sua filha direta, a tecnologia, destituindo a própria arte de seu aspecto sensível,[.] a educação da sensibi- lidade humana passou sistematicamente a perder espaço no cotidiano das pessoas. Ao pretender (falsamente) “estetizar” a realidade urbana, a indústria cultural e os artistas que se co- locaram a seu serviço rebaixaram o nível de qualidade de seus produtos oferecidos ao público como obras de arte e passaram a difundir a versão de que tido em nosso entorno possui uma dimensão intrinsecamente estética, de talheres a aeroportos, de canetas descartáveis a shoppings centers[.] 122 Deve-se considerar o fato de que a arte, além de possibi- litar que conheçamos os nossos sentimentos, propicia o desenvol- vimento destes, aprimorando-os pela convivência com a arte. Esse conhecimento deve servir de ponto de partida para uma atividade superadora, que busque novas percepções e novos olhares sobre o mundo e a vida. No entanto, a arte que não se render ao fim apontado pela sociedade capitalista, é considerada supérflua, pois não reverte lucro e tampouco auxilia no processo de manutenção do sistema vigente. Tornando a arte, através desse discurso, algo supérfluo à vida da maioria da população, ela fica então restrita ao privilégio de uma elite que pode adquiri-la para enfeitar as suas paredes, en- quanto que a arte como linguagem e expressão de pensamentos e ideais, fica à margem de qualquer tentativa de torná-la necessária ao homem. No âmbito da educação, a questão do supérfluo também suplanta a do necessário, pois a arte no currículo das escolas fre- quentemente fica relegada à condição de disciplina voltada ao tra- balho recreativo, visando o passatempo e destituída de conteúdos próprios e significativos. A partir das considerações precedentes, estabelece-se a relação da arte no processo de humanização e mostra o quanto a sociedade capitalista tem se utilizado da arte para fins de mercado nas duas últimas décadas do século XX, descaracterizando-a de sua origem na atividade humana, enquanto uma necessidade esté- tica e expressiva. E é essa a arte que está disponível para a maioria da po- pulação: uma arte que visa manipular consciências em prol de um ideário capitalista, no qual os homens consomem produtos artísti- cos desprovidos de uma real estética e tem no artista e na arte um mundo inacessível e distante. 123 Para Vásquez (1978, p. 294) Na sociedade capitalista, há milhões de homens com os quais um verdadeiro artista não pode dialogar. Para milhões de ho- mens, romperam-se as pontes que deveriam colocá-los em rela- ção com a arte.[.] Deste fato, ou seja, do fato de que,na socie- dade burguesa – como manifestação profunda da hostilidade do capitalismo à arte – o artista se divorcie necessariamente das massas, já que não pode descer ao nível delas, nem estas querem ou podem elevar-se ao nível da arte; do fato de que o artista não pode aspirar hoje a compartilhar a sua mensagem como os milhões de seres humanos que o capitalismo mantém em sua condição de homens-coisa; deste fato histórico – divorcio real, efetivo, entre as artes e a massa – alguns deduzem que a arte de nosso tempo deve ser necessariamente uma arte minoritária, para iniciados ou eleitos. Uma educação pautada no adestramento tem por objetivo a homogeneização da opinião pessoal, para que a elite dominante possa continuar como detentora da hegemonia. Isso impossibilita aos alunos o desenvolvimento de um olhar crítico sobre a realidade. Diante deste quadro, é importante ressaltar que o ensino da Arte na escola deve ser provido de uma fundamentação teóri- ca que possibilite a compreensão desta linguagem como forma de expressão e de comunicação das ideias, ideais e sentimentos e, que por ser uma linguagem dos homens, não pode ser entendida sepa- radamente do contexto histórico no qual foi produzida. É sob esse ângulo que o trabalho com Arte na escola vai possibilitar o desvelamento do olhar, fazendo com que o acesso e o contato com os conhecimentos artísticos propiciem uma prática social viva e transformadora. Se a Arte é importante na escola, é porque o é fora dela. Nunca deixa de ser um conhecimento produzido pelo homem no 124 seu percurso histórico, onde este homem busca incessantemente na arte, respostas para os seus questionamentos. Para FISCHER, (1976, p.12) Milhões de pessoas leem livros, ouvem música, vão ao teatro e ao cinema. Por quê? Dizer que procuram distração, diverti- mento, a relaxação, é não resolver o problema. Por que distrai, diverte e relaxa o mergulhar nos problemas e na vida dos ou- tros, o identificar-se com uma pintura ou música, o identificar- -se com os tipos de um romance, de uma peça ou filme? Por que reagimos em face dessas irrealidades’ como se elas fossem a realidade intensificada? [.] E se alguém nos responde que alme- jamos escapar de uma existência insatisfatória para uma exis- tência mais rica através de uma experiência sem riscos, então uma nova pergunta se apresenta: por que nossa própria exis- tência não nos basta? Por que esse desejo de completar nossa vida incompleta através de outras figuras e de outras formas? {.} É claro que o homem quer ser mais do que ele mesmo. Quer ser um homem total. Finalmente, devemos considerar o fato de que a arte, além de possibilitar que conheçamos os nossos sentimentos, propicia o desenvolvimento desses, aprimorando-os pela convivência com as manifestações de arte, pois “quanto maior é o contato com a arte, maior a bagagem Simbólica para ‘representar’ e, consequente- mente, compreender as minúcias do sentimento.” (DUARTE JR, 2000, p.106) Na relação com a educação, as discussões sobre a neces- sidade de privilegiar a expressão individual se deparam com a vi- são de arte predominante nas escolas, permeada ora por um tec- nicismo exacerbado onde o que importa é um saber fazer sem o compromisso com uma fundamentação teórica, ora por uma ideia 125 equivocada de dom e de talento, onde se exclui qualquer possibili- dade de desenvolvimento da capacidade de criação artística. A isso soma-se também a ausência de uma metodologia que direcione o trabalho educativo, pautado na proposta de que arte não deve ser ensinada, mas expressada através de propostas voltadas à livre- expressão. Contudo, alguns movimentos já se fazem sentir em algu- mas discussões na área, voltadas a ampliar o acesso à compreensão da Arte enquanto produção humana, permitindo que o homem compreenda o mundo em que vive e que nele participe ativamente. Apesar de o quadro parecer desanimador, muitos educa- dores vêm lutando para alterar essa (des)ordem, discutindo a edu- cação e o papel da escola na sociedade contemporânea. Eles salien- tam que o trabalho com a aprendizagem dos sentidos, que envolve o trabalho com o sensível, vai implicar numa tomada de consci- ência por parte dos professores, alunos e todos os integrantes do processo educacional, inclinando-se à necessidade de se trabalhar a arte numa práxis superadora, que busque novas percepções e no- vos olhares sobre o mundo e a vida. Síntese da Unidade Nesta unidade você pôde refletir sobre a relação entre a arte e a educação, compreendendo a importância do aprendizado para a arte e para o desenvolvimento da sensibilidade estética. 126 Exercícios de Fixação Leia e responda. O ensino de arte na escola contribui para que o sentido da vida seja vivenciado na aprendizagem escolar. Este sentido é cons- tituído pela existência do homem juntamente com os sentidos que são provocados nas relações com o meio. Portanto, permitir que a arte seja compreendida na escola contribui para que desperte nos alunos o significado da vida. A educação da sensibilidade pela arte é uma forma de evitar que se agrave a visão unilateral do mundo que o homem contemporâneo passa a ter em virtude do impacto tecnológico; de restituir uma visão humanista globalizadora que compense o cres- cente prestígio da especialização em campo cada vez mais restrito, turvando a perfeita integração do homem consigo mesmo e com a sociedade. Pode, também, a arte constituir-se em instrumento de restauração de características humanas básicas, como a iniciati- va, a autonomia e a individualidade. A integral formação da alma (LOUREIRO, 2002, p.15). A arte na educação proporciona reconhecer que a forma- ção humana é inseparável das condições socioambientais em que o homem se encontra, porque é por meio dos processos formativos desempenhados a partir da mediação com o meio externo que o ho- mem desenvolve a sua formação psíquica. Segundo Read (1958), a educação pela arte deve atender diretamente às necessidades e con- dições atuais dos indivíduos, porque somente desta forma a arte pos- sibilitará ajustar os sentidos dos indivíduos com o mundo. Sendo assim, a arte torna-se um canal pelo qual o indivíduo pontua as suas condições de vida, a sua sobrevivência e a sua posição social por meio da exteriorização e reflexão dos seus sentimentos. Atividade: 127 1) Escreva um texto de opinião sobre “Educação para a sensibilidade” pela Arte. ARTE HOJE: COMPREENSÃO PARA ELABORAR PROPOSTA CONTEMPORÂNEA PARA ARTE Caro Aluno Nesta unidade você vai refletir sobre as relações entre a arte e a educação, ou seja, como a arte pode contribuir positiva- mente em nossa vida e na educação. Após verificações sobre as mais diversas manifestações da arte, e sua influência em nossa vida, o foco se dará na elaboração de uma Proposta do Ensino da Arte. Bom Estudo! 133 Nas unidades anteriores desta disciplina observamos que umas das justificativas para a existência da arte é o papel que ela de- sempenha no sentido de nos ajudar a compreender a nós mesmo e o mundo a nossa volta. Como seres humanos, precisamos atribuir sentido a nossa existência, procurando explicá-la e expressá-la de diferentes formas. Após, discussões e reflexões realizadas a respeito de temas apresentados sobre as relações entre a educação, arte, cultura e a so- ciedade, surgiram implicações importantes que configuram a pro- fundidade desses campos. Um momento de estímulo à arte e desco- bertas, evidenciando o sentimento que a Arte provoca em você. 6.1. A Arte de Viver e de Interpretar o Mundo A Arte é sempre criada dentro de um contexto, social, intelectual, político, econômico e emocional. A chave para a com- preensão da arte é compreender as circunstâncias que rodearam a sua criação. Toda Arte é conceitual se o artista teve uma ideia que ganhou forma na obra de arte. Ele tinha algo original para nos mostrar, algo para se comunicar. Vivemos em um mundo natural, mas também social,cul- tural e nossas emoções, nossos sonhos, nossa atitude, nossos ges- tos, enfim, nosso modo de ser e fazer expressam a capacidade que temos (como ser humano) de dar significados a esse mundo e a nós mesmos. A Arte pode ser admirada por leigos ou por intelectuais, pois ela só tem sentido quando interpretada por cada um de nós. Pegue a Mona Lisa, por exemplo, considerada como uma grande obra de arte. Mas o que a torna única? O que a diferencia da arte do século XVII? Existem milhares de retratos, o que a fez ser es- pecial? Para entender o que a torna especial, é necessário que se conheça o contexto do início do século XVII. Para isso é preciso 6. A Arte e Vida 134 conhecer as inovações que Vinci fez, que conceito novo ele incor- pora em seu trabalho, quais os métodos novos que utilizou nessa pintura. Os artistas desafiam as convenções de sua época, buscam novas técnicas, novos materiais, novas ideias, destacando sua im- portância e sua obra. Os impressionistas desafiaram convenções do século XIX, trouxeram novas ideias sobre como nós enxergamos e nos relacionamos com o mundo. No início do século XX, os surrealistas mudaram o que era considerado assunto apropriado para a arte, utilizando imagens oníricas e as criações da imaginação em vez do mundo objetivo. Os pintores abstratos em meados do século XX defen- deram a ideia de que o que faziam era uma pintura e, portanto ARTE. É possível desconstruir totalmente e ainda ter uma pin- tura, fazer ARTE? Você pode fazer arte a partir da cor e da forma sozinho, sem conteúdo reconhecível? As mudanças que a arte provoca são sempre, em algum as- pecto, uma reação contrária aos modos de fazer e ver precedentes. A arte, em algum aspecto, busca mudanças de direção, mas geral- mente apontadas para o futuro. Entender o que é reagir contra o que se segue depois é importante para a interpretação de qualquer obra de arte. Para você entender a arte é preciso olhá-la como parte de uma história, uma viagem através de ideias e emoções. Algumas obras de arte têm um apelo imediato, quer se trate de um assunto agradável ou uma utilização equilibrada de cor e forma. Mas mui- tas obras de arte não são tão fáceis de apreciar. É preciso um traba- lho mais investigativo para descobrir o que o artista está tentando dizer e que novas ideias estão sendo mostradas. Isto é o que faz a arte tão instigante e desafiadora. É sempre forçando os limites do que é aceitável. Não se preocupe se você não consegue entender a arte de hoje, você não está sozinho. Vários grandes artistas não foram apreciados em seu próprio dia. O crítico de arte do século XIX, John Ruskin acusa John McNeill Whistler de "jogar um pote de 135 tinta na cara do público.". Hoje, Whistler é considerado um impor- tante pintor. Ruskin, com suas ideias antiquadas e idealista da arte, desapareceu nas sombras da história. Estamos acostumados a pensar Vincent Van Gogh como um grande artista, mas ele nunca vendeu um quadro enquanto vi- veu. O reconhecimento de seu trabalho só chegou após sua morte. A arte é apenas algo criado pelas pessoas. Se as pessoas criam, então elas podem entender e apreciar. Arte enriquece nossas vidas em formas, são mais do que imagens bonitas em nossas pa- redes. Ela narra através da história e nos permite fazer parte dessa viagem. Portanto, quando você visita uma galeria, você não deve apenas olhar as obras expostas, você tem que olhar para o mundo todo ao mesmo tempo e ver onde elas se encaixam ou qual foi a intenção do artista. A arte tem vida própria. Em vez de abordar a resposta emocional do espectador da arte, devemos centrar sobre a natureza da interpretação. O mistério da arte e da beleza que ela retrata está apenas nos olhos de quem a vê. Não só o artista planeja o caminho, mas sua obra será interpretada por muitos que se sentem atraídos por ela. A arte é sempre criada dentro de um contexto, social, in- telectual, política, econômico e emocional. A chave para a com- preensão da arte é compreender as circunstâncias que rodearam a sua criação. A arte começa por revelar o artista para você, mas acaba por revelar-lhe a si mesmo. É a capacidade de ver as coisas como o artista se propõe e não como parecem ser. Muitas vezes você pode descobrir isso através de símbolos ocultos, por isso mes- mo é importante fazer uma leitura daquilo que se vê, consideran- do alguns aspectos relevantes de nossa História. Observamos que para interpretar, o artista deve ter conhecimento e experiência de seu mundo, e o expectador deve observar a obra cuidadosamente para interpretá-la e tentar identificar o período, contexto em que o trabalho foi criado. Pensar a arte como tudo que lhe faz pensar, admirar e 136 até mesmo estranhar o mundo que vive. Pense a arte como uma perspectiva, uma maneira de interpretar o mundo diferentemente daquela que lhe é estimulado em seu cotidiano, muitas vezes repe- titivo e sem significado. Seja o seu próprio crítico de arte e faça da aula de Artes uma arte de ensinar o seu aluno a aprender a enxergar o mundo mediado pelos olhos do artista e das obras de arte; faça o seu aluno compreender que a arte não lhe é exterior, mas própria da sua condição humana. Enfim, aproxime o seu aluno da arte. Mostre a ele que: A Poesia informa que: Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e, portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso. Fernando Pessoa A Poesia também é princípio: Conformar-se é submeter-se e vencer é conformar-se, ser vencido. Por isso toda a vitória é uma grosseria. Os vencedores perdem sempre todas as qualidades de desalento com o presente que os levaram à luta que lhes deu a vitória. Ficam satisfeitos, e satisfeito só pode estar aquele que se conforma, que não tem a mentalidade do vencedor. Vence só quem nunca consegue. Fernando Pessoa 137 Uma pintura impressionista nos faz ter sensações: 138 Uma pintura provoca nosso imaginário: Uma pintura provoca reflexões: 139 As fotos (como as de Sebastião Salgado) fala sobre nossas dife- renças culturais e sociais: 140 Filme nos mostra a vida: Um filme pode nos levar a refletir de outra maneira: Uma novela pode retratar os temas de nosso cotidiano: 141 Uma música provoca nossa imaginação A Casa Composição: Vinicius de Moraes Era uma casa muito engraçada Não tinha teto, não tinha nada Ninguém podia entrar nela, não Porque na casa não tinha chão Ninguém podia dormir na rede Porque na casa não tinha parede Ninguém podia fazer pipi Porque penico não tinha ali Mas era feita com muito esmero Na rua dos bobos numero zero Um museu encanta com sua arquitetura e nos transmite conhecimento: Museu de Arte Contemporânea de Niterói 142 Um museu nos apresenta história: Museu do Louvre na França Um museu de Memórias: Museu de Arte Sacra 143 Um dança marca a identidade cultural de um povo e região Folclore Regional A arte nos projeta para a vida 144 A natureza inspira a Arte “Quero aprender com aqueles que sabem ver a beleza em Tudo.” Fernando Pessoa Lembrando que a linguagem da arte na educação tem um papel fundamental, envolvendo os aspectos cognitivos, sensíveis e culturais. Pouco tempo atrás o aspecto cognitivo não era considera- do na educação infantil e não estava integrada na educação básica. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96 veio garantir este espaço à educação infantil, bem como o da arte neste contexto.Para compreender a arte no espaço da educação infantil no momento atual, mesmo que brevemente, é preciso situar o pa- norama histórico das décadas de 80 e 90. Os referenciais que fun- damentavam as práxis do profissional da educação infantil eram os Cadernos de Atendimento ao Pré-escolar (1982), criados pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC. Com relação à arte na educação, os pressupostos eram muito mais voltados à recreação do que às articulações com a arte, a cultura e a estética. Como exemplo, é possível citar a ênfase em exercícios bidimensionais que priorizavam desenhos e pinturas chapadas. Ou seja, os conceitos 145 sobre arte resumiam-se a simples técnicas. Na década de 90, o MEC lança o Caderno do Professor da Pré-Escola, com uma abordagem contextualista, na qual a arte deixa de ser tratada apenas como atividade prática e de lazer, in- corporando o ato reflexivo. Apesar dessas transformações, a arte permanecia ainda com foco em abordagens psicológicas e temá- ticas. A arte na educação infantil nesta década ainda buscava uma consistência teórica, conceitual e metodológica. A partir de 2000 as discussões reflexivas sobre a arte na educação infantil ganham novos espaços na literatura, nas propos- tas curriculares e especialmente na pesquisa. O planejamento no currículo, a partir da perspectiva sis- têmica, pressupõe como método de trabalho no quais professores “apresentam objetivos educacionais gerais, mas não formulam ob- jetivos específicos para cada projeto ou atividade de antemão. Em vez disso, formulam hipóteses sobre o que poderia ocorrer com base em seu conhecimento das crianças e das experiências anterio- res.” (RINALDI: 1999,113). Hoje, a arte na educação infantil está em processo de ruptura e transformação, exigindo um comprometimento com os aspectos cognitivos, sensíveis e culturais de tudo o que a envolva, principalmente das políticas educacionais e dos cursos de Forma- ção de Professores, especialmente as Licenciaturas em Arte. Cabe então, a todos os profissionais que atuam direta ou indireta- mente com o ensino da arte, uma reflexão não somente dos proces- sos de sala de aula, mas também sobre suas ações como cidadãos, protagonistas de uma história. É na ação do arte educador que podemos reverter o qua- dro e tornar o ensino da arte uma prática significante para quem dela participa. Através de investimentos na formação e na qualifi- cação de profissionais é que a arte deixará de ser mero complemen- to pedagógico de outras disciplinas, ou um meio utilizado para organização de festas. Nada contra a festa, pelo contrário, uma proposta centrada na arte não pode deixar de lado o seu aspecto 146 “festeiro”, lúdico, mágico. Nesse sentido, o evento deve ser pensado como momento de criação estética, articulado com os elementos específicos inerentes às linguagens artísticas. Assim, os eventos que reproduzem eventos convencionais, pré-estruturados pelos adul- tos e desvinculados das crianças, devem ser evitados em favor dos eventos elaborados e modificados em parceria com educadores e educandos, mantendo-se a intensidade do processo e a novidade dos resultados. Síntese da Unidade Nesta unidade você pôde refletir sobre a relação entre a educação, a arte e a vida. A intenção foi provocar o seu sentido esté- tico, crítico e lhe fazer compreender a arte em suas múltiplas mani- festações, dimensões e possibilidades. A arte integrada à cultura e à sociedade. Assim lhe fornecendo mais informações para a elabora- ção de uma proposta contemporânea para o ensino da Arte. Exercício de Fixação Depois de conhecer um pouco mais sobre as relações en- tre a arte, a cultura e a sociedade, faça uma reflexão sobre: 1)Como a arte está presente em sua vida? 2) Se você é professor (a), qual a concepção de arte que você passa para o seu aluno? 3) Como essa disciplina lhe ajudou a compreender as re- lações entre arte-educação, cultura e sociedade? O Carteiro e o Poeta (Il Postino - Itália /Bélgica: 1994) Direção: Michael Radford. Filme poético sobre a extremidade da poesia. Mario (Massimo Troisi) é um carteiro que, ao fazer amizade com o gran- de poeta Pablo Neruda (então exilado político), vira seu carteiro particular e acredita que ele pode se tornar seu cúmplice para con- quistar o coração de uma donzela. Descobre, assim, a poesia que sempre existiu em si, assemelhando-se às descobertas de verdade pelos meios dialéticos de Sócrates-Platão. O filme se passa em uma ilha na costa italiana. O Sorriso de Mona Lisa (EUA : 2003). Direção: Mike Newell Katharine Watson ( Julia Roberts) é uma recém-graduada professora que consegue emprego no conceituado colégio Welles- ley, para lecionar aulas de História da Arte. Incomodada com o conservadorismo da sociedade e do próprio colégio em que traba- lha, Katharine decide lutar contra estas normas e acaba inspirando suas alunas a enfrentarem os desafios da vida. Frida (Frida - EUA: 2002). Direção: Julie Taymor Frida Kahlo (Salma Hayek) foi um dos principais nomes da história artística do México. Conceituada e aclamada como pintora, ela teve também um casamento aberto com Diego Rivera (Alfred Molina), seu companheiro também nas artes, e ainda um controverso caso com o político Leon Trostky (Geoffrey Rush) e com várias outras mulheres. No Amor e na Guerra (In Love and War - EUA: 1996). Direção: Richard Attenborough Sugestão de Filmes Sobre Arte e Artistas Em 1918, Ernest Hemmingway, viveu uma história de amor, durante a Primeira Guerra Mundial. Ernest se alistou para lutar na guerra e rapidamente descobriu seus horrores. Com a per- na gravemente ferida e com o risco de ser amputada, Ernest encon- tra a ajuda da enfermeira austríaca Agnes que prometeu convencer os médicos a tentar outro tratamento e cuidar dele durante o pro- cesso. Amor e paixão florescem entre o jovem soldado e a enfer- meira, que acha o rapaz jovem demais para casar. Ernest encontrou em Agnes uma musa que foi a base para várias obras. Os Amores de Picasso (Surviving Picasso – EUA: 1996). Direção: James Ivory, baseado em livro de Arianna Stassi- nopoulos Hoffington. Mistério de Picasso (Mistérios de Picasso, de 1955) Direção : Henri-Georges Clouzot Documentário de Henri-Georges,onde expõe o momen- to criativo de Picasso. Um momento único de pura criatividade. Linhas e traços se entrelaçam em pura criatividade. Pollock (Pollock - EUA: 2000). Direção: Ed Harris Em agosto de 1949, a revista Life publicou em sua capa uma manchete dizendo: "Jackson Pollock: Será ele o maior artis- ta vivo dos Estados Unidos?". Já conhecido no mundo da arte de Nova York, Pollock agora passava a ser conhecido nacionalmente como a primeira celebridade americana no mundo das artes plás- ticas e seu estilo corajoso e radical de pintura ditava os rumos da arte moderna. Mas os tormentos que atingiam Pollock em toda sua vida e que o ajudaram no início de carreira a criar sua arte origi- nal começaram a afligi-lo cada vez mais. Lutando contra si mesmo, Pollock entrou então numa espiral decadente que fez com que des- truísse seu casamento, sua promissora carreira e sua própria vida. Agonia e Êxtase (The Agony and the Ecstasy - EUA: 1965). Direção: Carol Reed Charlton Heston e Rex Harrison interpretam duas das personalidades mais marcantes da Renascença neste drama histó- rico baseado no best-seller de Irving Stone ambientado no início do Século XVI. Quando o Papa Júlio II (Harrison) encomenda a Michelangelo (Heston) a pintura do teto da Capela Sistina, o artista recusa a princípio. Virtualmente forçado por Júlio a fazer o trabalho, ele acaba por destruir sua obra e foge de Roma. Quando recomeça a pintura, o projeto se torna uma batalha de vontades alimentada pelas diferenças artísticas e de temperamento que são o ponto central deste filme. Indicado ao Oscar de Melhor Foto- grafia e também citado como um dos melhores filmes do ano pelo National Board of Review, Agonia e Êxtase é uma fantásticadramatização da luta por trás de uma das maiores obras-primas do mundo. Tanto a história quanto o filme são tocantes e fascinantes. Rumo ao Paraíso (Paradise Found - Austrália / Ingla- tera / Alemanha / França: 2003). Direção: Mario Andreacchio Paris, 1874. Paul Gauguin (Kiefer Sutherland) é um bem- sucedido corretor de ações, que vive feliz ao lado de sua bela es- posa Mette (Nastassja Kinski) e seus quatro filhos. Colecionador de quadros, ele resolve abandonar sua profissão ao ter um de seus trabalhos elogiados por Camille Pissarro (Alun Armstrong), um bom pintor que ainda não tinha tido seu trabalho reconhecido. Entretanto esta opção de Gauguin faz com que ele e sua família passem privações. A chegada da pobreza obriga Mette a partir com os filhos para Copenhague, em busca de ajuda da família. Gauguin resolve segui-los para retomar a vida nos negócios mas, insatisfeito, volta à França decidido a partir rumo ao Taiti para aprimorar sua arte. Lá encontra o conflito entre nativos e colonizadores, que o inspira a realizar algumas de suas melhores obras. Um Lobo Atrãs da Porta (Wolf at the Door - Fran- ça/Dinamarca: 1986). Direção: Henning Carlsen Os principais momentos de sua vida, o pintor simbolis- ta Paul Gauguin passou no Taiti, em busca de elementos que pu- dessem aliviar o fardo de carregar uma vida sem nenhum sentido. Neste Gauguin – Um Lobo Atrás da Porta sequer há uma sequên- cia filmada no Taiti. O filme já começa em Paris, em 1883, com a volta do pintor e sua primeira exposição de telas com nativas nuas. Certo do reconhecimento de crítica e público, ele vê sua obra re- duzida a uma dimensão íntima. A partir da derrocada, Gauguin procura tingir sua vida com outras cores, refugiando-se no amor de sua esposa e no de uma outra jovem, Judith, com quem passa alguns bons momentos do filme discutindo vida e felicidade. Até resolver leiloar o restante de sua obra e voltar ao Taiti. O “lobo” do título se refere à fábula do encontro entre um cão bem alimentado, porém, preso a uma coleira, e um lobo esfomeado, mas livre. O di- retor Henning Carlsen tenta vestir em Gauguin a imagem do lobo, mas incorre num grande equívoco. A volta a Paris, em busca de um reconhecimento artístico, representa a dependência do pintor da aprovação da crítica e do público parisienses. Gauguin não era tão livre assim. Um elenco de bons atores ameniza problemas do filme. Donald Sutherland convence como Gauguin. E, quando Max Von Sydow aparece encarnado no dramaturgo August Strindberg o fil- me cresce. Embora contando a vida de Gauguin pela metade. Modigliani PAIXÃO PELA VIDA (Modigliani – EUA: 2004). Direção: Mick Davis Ele revolucionou o mundo das artes como um cometa, dançando sobre as mesas, embriagado de paixão pela vida. Inspira- do pelo amor e consumido pela obsessão. Ele é o famoso pintor ita- liano Amedeo Modigliani (Andy Garcia), um gênio criativo que viveu e absorveu a charmosa Paris do início do século 20 com uma atração incontrolável pela beleza. Sempre com a mesma intensida- de, o judeu Modigliani amou a católica Jeanne Hebuterne (Elsa Sylberstein) e odiou o genial Pablo Picasso (Omid Djalili). Sua obra inesquecível e sua vida atribulada são agora retratadas neste lançamento imperdível da Universal Pictures. Camille Claudel (Camille Claudel - França: 1988) A força e a grandiosidade de seu talento estavam na ver- dade em um lugar muito incômodo: entre a figura legendária de Rodin e a de seu irmão que se tornou um dos maiores expoentes da literatura de sua geração. E não é difícil ler que as questões de gêne- ro permeiam esse lugar menor dedicado a Camille. Seu gênio sufo- cado por dois gigantes, sua vida sufocada por um abandono, suas forças e sua lucidez esgotadas por uma relação umbilical com seu mestre e amante. Uma relação da qual não conseguiu desvencilhar- se, consumindo sua vitalidade na vã tentativa de desembaraçar-se desse destino perverso. Camille Claudel, sua forte personalidade, sua intransigência, seu gênio criativo que ultrapassou a compreen- são de sua época, como afirma o personagem de Eugène Blot no filme, permanecerá ainda e sempre um Sumo Mistério. Sombras de Goya (Goya’s Ghosts – Espanha: 2006). Direção: Milos Forman O pintor espanhol Francisco Goya (Stellan Skarsgärd) encara um escândalo quando sua maior musa, Inés (Natalie Port- man), é acusada de heresia pelo monge Lorenzo ( Javier Bardem) e enviada à prisão. Goya (Goya en Burdeos - Espanha: 1999). Direção: Carlos Saura. Cinebiografia de Francisco José de Goya y Lucientes, gê- nio da pintura espanhola, enfocando o período em que Goya viveu exilado em Burdeos, no fim de sua vida. Rembrant (Rembrandt – Inglaterra: 1936). Direção: Alexander Korda. No ano de 1642, em Amsterdan, o grande pintor Rem- brandt Van Rijin (Charles Laughton) desfruta de uma vida cheia de fama e fortuna, mas com a morte de sua esposa/musa, seu tra- balho encontra a escuridão. Falido e desolado, ele encontra con- solo nos braços de uma bela jovem, Hendrickje (Elsa Lanchester), uma empregada de sua casa. Agora, oferecida uma segunda chan- ce a ele no amor, Rembrandt irá tomar coragem e superar os seus demônios? O premiado e excepcional ator Charles Laughton nos presenteia com uma atuação maravilhosa e convincente de um dos maiores pintores da história da arte. Alejadinho (O Aleijadinho – Brasil: 2000). Direção: Geraldo Santos Pereira Além de revelar a intimidade do artista, sua formação de escultor e arquiteto, o filme também enfatiza o relacionamen- to amoroso de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, com a bela Helena, os conflitos políticos com o pai, a amizade com o In- confidente Cláudio Manoel da Costa, através de quem conhece detalhes da revolta Histórica da Inconfidência Mineira, além da misteriosa doença que adquire aos 47 anos de idade. Doença que o aflige pelo resto da vida, e que apesar de enormes sofrimentos, não o impede de trabalhar até os 76 anos, com os instrumentos que seus três fiéis auxiliares lhe amarram nas mãos. Aleijadinho vive os dois últimos e dolorosos anos de sua vida, entrevado num quarto, levando-o, nos momentos de desespero a "apostrofar o Cristo que ele tanto amara e esculpira em obras imortais, pedindo que sobre si pusesse os seus divinos pés." Van gogh (Vincent & Theo – França /Holanda/Ingla- terra: 1990). Direção: Robert Altman Basquiat, Traços de Uma Vida (Basquiat – EUA:1996). Direção: Julian Schnabel Em 1981, um jovem artista ( Jeffrey Wright) das ruas é descoberto por Andy Warhol (David Bowie) e tem uma ascensão meteórica, tornando-se uma estrela no mundo das artes. Mas este sucesso repentino e inesperado terá um preço muito alto. CARRINGTON, Dias e Paixão (Carrington - Inglaterra: 1995). Direção: Christopher Hampton. Em 1915, na Inglaterra, começa a nascer o amor de Dora Carrington (Emma Thompson), uma pintora conceituada, por Lytton Strachey ( Jonathan Pryce), um escritor assumidamente gay e 15 anos mais velho. Este encontro cria uma profunda afeição, que marcará suas vidas por 17 anos, mas enquanto ele namora ra- pazes ela se envolve com outros homens, mas sem nunca deixar de amá-lo. A trajetória de Carrington e a força deste amor criam o fio condutor da história. Moça com Brincos de Pérolas (Girl with a Pearl Earring - Inglaterra: 2003). Direção: Peter Webber Em pleno século XVII vive Griet (Scarlett Johansson), uma jovem camponesa holandesa. Devido a dificuldades financei- ras, Griet é obrigada a trabalhar na casa de Johannes Vermeer (Co- lin Firth), um renomado pintor de sua época. Aos poucos Johan- nes começa a prestar atenção na jovem de apenas 17 anos, fazendo dela sua musa inspiradora para um de seus mais famosos trabalhos: a tela "Girl with a Pearl Earring". Amadeus (Amadeus –EUA: 1984). Direção: Milos Forman Após tentar se suicidar, Salieri (F. Murray Abraham) con- fessa a um padre que foi o responsável pela morte de Mozart (Tom Hulce) e relata como conheceu, conviveu e passoua odiar Mozart, que era um jovem irreverente, mas compunha como se sua música tivesse sido abençoada por Deus. Minha Amada Imortal (Beloved Immortal - EUA: 1994). Direção: Bernard Rose. Viena, 1827. Ludwig Von Beethoven (Gary Oldman) morre e um grande amigo do compositor, Anton Felix Schindler ( Jeroen Krabbé), decide cumprir o último desejo do maestro, que deixava em testamento tudo para a "Amada Imortal", sem especifi- car o nome desta mulher. Assim empreende uma jornada tentando encontrá-la, encontrando em sua procura um retrato desconheci- do de Beethoven. Villa Lobos, Uma Vida de Paixão (Villa Lobos - Brasil: 2000) Direção: Zelito Viana. Cinebiografia de Heitor Villa-Lobos, o mais importante compositor das Américas. A história começa com Villa, já velho, saindo para um concerto de gala no Teatro Municipal, onde seria homenageado. É a última vez que o maestro sai de casa com vida. Seu olhar é febril e atento e a partir desta cena e de outras do mes- mo concerto vão surgindo lembranças de sua vida. Eclipse de uma Paixão (Total Eclipse - Inglaterra/ França/Itália/Bélgica: 1995). Direção: Agnieszka Holland. Arthur Rimbaud (Leonardo DiCaprio), "o poeta dos senti- dos", como ficou conhecido, revolucionou a poesia do final do sécu- lo XIX e continua influenciando escritores e surpreendendo leitores até hoje. O filme foca o turbulento período de produção literária de Rimbaud, que coincide com o tempo em que viveu apadrinha- do por outro grande poeta, Paul Verlaine (David Thewlis). Mas a admiração de um escritor pelo outro vai além, faz com que ambos de apaixonem, para desespero da mulher de Verlaine (Romaine Bo- hringer). Esse triângulo amoroso explosivo e provocante proporcio- na a DiCaprio e Thewlis, duas atuações corajosas e vibrantes. O Pianista (Le Pianiste – França: 2002). Direção: Ro- man Polanski O pianista polonês Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody) interpretava peças clássicas em uma rádio de Varsóvia quando as primeiras bombas caíram sobre a cidade, em 1939. Com a invasão alemã e o início da 2ª Guerra Mundial, começaram também restri- ções aos judeus poloneses pelos nazistas. Inspirado nas memórias do pianista, o filme mostra o surgimento do Gueto de Varsóvia, quando os alemães construíram muros para encerrar os judeus em algumas áreas, e acompanha a perseguição que levou à captura e envio da família de Szpilman para os campos de concentração. Wladyslaw é o único que consegue fugir e é obrigado a se refugiar em prédios abandonados espalhados pela cidade, até que o pesade- lo da guerra acabe. Velvet Goldmine (Velvet Goldmine - Inglaterra: 1998). Direção: Todd Haynes Em 1971, o glam rock invade o mundo da música britâni- ca, provocando uma verdadeira revolução, não apenas na música, mas também nos costumes da sociedade. O ícone do movimento é Brian Slade ( Jonathan Rhys-Meyers), roqueiro que leva garotas e rapazes a pintarem as unhas, usarem batom e explorarem sua se- xualidade. Incapaz de lidar com a fama adquirida, Brian forja sua própria morte, com a farsa sendo descoberta logo depois. Anos mais tarde, um jornalista inglês (Christian Bale) começa a investi- gar seu desaparecimento. Nunca te vi, Sempre te Amei (84 Charing Cross Road – EUA: 1986) Direção: David Hugh Jones. Uma história de amor e gosto pelos livros, Nunca Te Vi, Sempre Te Amei apresenta os ganhadores do Oscar Anne Bancroft e Anthony Hopkins atuando de forma excepcional. Helen Hanff (Bancroft), uma escritora mal humorada, envia uma carta a uma pequena livraria de Londres, solicitando algumas obras inglesas clássicas raras. Frank Doel (Hopkins), o discreto vendedor inglês de livros, atende a seu pedido, iniciando uma troca de cartas como- vente e graciosa entre dois continentes por duas décadas. A aspere- za de Hanff contrasta com o comportamento pomposo britânico de Doel, mas o amor mútuo aos livros forma entre eles um elo que se intensifica com o passar dos anos. Suas cartas íntimas e altamen- te detalhadas descrevendo seus sonhos, esperanças, sofrimentos e alegrias nos faz mergulhar no universo de suas vidas, e eles acabam desenvolvendo uma amizade notável e duradoura. Wilde (Wilde – Reino Unido: 1997). Direção: Brian Gilbert Biografia do primeiro homem moderno: Oscar Wilde, gênio, poeta, dramaturgo. O filme trata da história de vida desse artista inglês, que sofreu grande tormento com a descoberta de seu homossexualismo devido sua obsessão por Lord Alfred Douglas ( Jude Law). Após a perseguição legal pelo pai de Lord Douglas, o Marquês de Queensberry (Tom Wilkinson), Oscar Wilde (Ste- phen Fry) se recusa a partir do país e é condenado à dois anos de prisão. O filme é bem vide digno e trata, além das paixões e angús- tias de Wilde, da devoção de Constance ( Jennifer Ehle), sua espo- sa, que apesar de tudo, continua firme ao seu lado até o fim. Entre- laçadas à envolvente história do artista, a biografia traz algumas de suas memoráveis frases, tornando o filme uma ótima chance para quem tem curiosidade sobre as pérolas do poeta e não tem muita paciência com os livros e peças escritos pelo mesmo. One Plus One (One Plus One – Inglaterra: 1968). Di- reção: Jean-Luc Godard Em 1968, os Rolling Stones estavam no auge de sua carrei- ra e Jean-Luc Godard já era o cultuado diretor do cinema francês e tomado uma direção política revolucionária na sua carreira. Dessa união se faz 2 filmes: No 1º. "Sympathy for the Devil" (Simpatia pelo Demônio), com 100 min e intervenção do produtor, há um pouco mais de ênfase aos superstars, Rolling Stones, onde criam a sua últi- ma grande canção "Sympathy for The Devil", para o fabuloso álbum "Beggar's Banquet". No 2º. "One Plus One" (Um Mais Um), com 97 min, e corte do diretor, numa série de vinhetas abstratas, Godard põe a prova temas diversos como raça, pornografia, a contracultura dos "Panteras Negras", a ironia das entrevistas de celebridades, a mú- sica, o papel da mídia, a liberação das mulheres, etc. 158 ABRAMOVICH, Fanny. O professor não duvida! Duvida? São Paulo: Editora Gente, 1998. ADORNO, Theodor, HORKHEIMER, Max. Dialética do es- clarecimento: fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. ______. Indústria Cultural e Sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. ALMEIDA, Maria Conceição Xavier. Ensinar a Condição Huma- na. EccoS revista cientifica, Dezembro, ano/vol.2,n.002. Centro Universitário Nove de Julho. São Paulo, Brasil pp.9-26, 2000. AZEVEDO, Heloiza de Aquino. Candido Portinari, filho do Brasil, orgulho de Brodowski. 4a ed. São Paulo: Árvore do Saber Edições e Centro de Estudos Pedagógicos, 2005, VOL. 2. 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