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Professor(a) Esp. Priscila Bertoncello Pagliari Barauna INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Isabelly Oliveira Fernandes de Souza Jéssica Eugênio Azevedo Louise Ribeiro Marcelino Fernando Rodrigues Santos Vinicius Rovedo Bratfisch PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos Carlos Firmino de Oliveira Hugo Batalhoti Morangueira Giovane Jasper Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Henrique Moraes dos Anjos Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP B227i Barauna, Priscila Bertoncello Pagliari Interações medicamentosas / Priscila Bertoncello Pagliari Barauna. Paranavaí: EduFatecie, 2024. 85 p.: il. Color. 1. Medicamentos - Interações. 2. Psicotrópicos – Efeitos colaterais. 3. Medicamentos I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23. ed. 615.7045 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas do banco de imagens Shutterstock . 3 AUTORA Professor(a) Esp. Priscila Bertoncello Pagliari Barauna • Especialista em Citologia Clínica com Ênfase em Citopatologia Ginecológica (Centro Universitário Ingá). • Graduação Bacharelado em Biomedicina (Unicesumar). • Docente do curso de Biomedicina, modalidade EaD da UniFatecie. Possuo experiência como Analista Clínica, responsável técnica em laboratório de Patologia Clínica, atuando na realização de exames laboratoriais e emissão de laudos em diferentes áreas das análises clínicas. Atualmente sou Professora do curso de Biomedicina – EaD do Centro Universitário Fatecie – UniFatecie. Informações e contato: Currículo Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/8944554440097119 Professor(a) Esp. Priscila Bertoncello Pagliari Barauna http://lattes.cnpq.br/8944554440097119 4 APRESENTAÇÃO Olá, Aluno (a)! Seja bem-vindo à disciplina de Interações Medicamentosas. Essa disciplina será de relevante importância em sua formação acadêmica. Na unidade I, conheceremos a disciplina de Interações Medicamentosas, introduzindo conceitos e aspectos gerais que envolvem a disciplina, conhecendo um pouco sobre o que são as reações adversas a medicamentos (RAMs) e suas classificações. Em seguida introduziremos as interações medicamentosas e suas classificações, relacionando esses assuntos à importância do uso racional de medicamentos pela população e seu impacto na saúde pública do país. Na unidade II, iniciaremos contextualizando os princípios do modo de ação e resposta farmacológica de um fármaco no organismo, momento este em que relembraremos o conceito de receptor e quais os eventos desencadeados após sua ligação com o fármaco e o seu local de ação na célula, fazendo relação entre a dose e a resposta clínica do medicamento. Serão abordados, também nesse momento, os tipos de receptores farmacológicos e o mecanismo de ação dos fármacos. Na unidade III, estudaremos as principais classes de medicamentos existentes e prescritas na sociedade, para conseguir entender posteriormente algumas interações medicamentosas já documentadas que são importantes na farmacologia. No tópico três serão abordados os conceitos e contextualização das interações fármaco-alimento e fármaco-etanol. Para finalizar essa unidade, estudaremos os possíveis cuidados dos profissionais diante das interações medicamentosas. Na unidade IV, finalizaremos com o estudo dos tipos de reações adversas aos fármacos e sua possível toxidade. Além disso, será aprofundado o conteúdo sobre hepatotoxidade e nefrotoxidade. Espero que todos estejam tão entusiasmados quanto eu com todos esses assuntos. Garanto que você não vai se arrepender. Bons estudos! 5 SUMÁRIO Toxidade dos fármacos Principais classes de medicamentos na interação medicamentosa Alterações bioquímicas das respostas farmacológicas Introdução a interações medicamentosas Professor(a) Esp. Priscila Bertoncello Pagliari Barauna CONCEITOS E TERMINOLOGIA USADOS EM JULGAMENTO1UNIDADEUNIDADE PLANO DE ESTUDO 7 Plano de Estudos • Reações Adversas a Medicamentos (RAMs); • Princípios e Aspectos Gerais das Interações Medicamentosas; • Classificação das Interações Medicamentosas; • Relevância ao Uso Racional de Medicamentos. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar os tipos de reações adversas que podem ocorrer; • Compreender os tipos de Interações medicamentosas; • Determinar a relevância ao uso racional de medicamentos pela sociedade. INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 8 INTRODUÇÃO A farmacovigilância é uma disciplina científica dedicada a identificar, avaliar e prevenir efeitos colaterais e problemas associados ao uso de medicamentos. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a função da farmacovigilância é detectar, analisar e acompanhar eventos adversos relacionados aos medicamentos após sua comercialização, com o objetivo de assegurar que os benefícios desses produtos superem os riscos associados. Existem protocolos de gerenciamento de riscos para os medicamentos, que estabelecem a necessidade de documentos com evidências científicas referentes a segurança do produto. Sendo um assunto de elevada importância na saúde pública, os efeitos adversos a medicamentos devem ser estudados. A interação entre medicamentos é um dos tipos mais comuns de reações que ocorrem com frequência, caracterizadacomo um fenômeno que se manifesta quando os efeitos de um medicamento são alterados devido à administração simultânea de outro medicamento ou alimento. Esse fenômeno pode levar à diminuição, neutralização ou potencialização dos efeitos de um dos medicamentos. Nos ambientes hospitalares, é comum a prescrição de múltiplos medicamentos para um mesmo paciente, o que aumenta a probabilidade de ocorrência de interações medicamentosas. Essas interações representam um sério problema de saúde pública, pois podem estar associadas ao aumento das internações hospitalares, dos custos médicos e do tempo de internação. Portando, prezado (a) aluno (a), desejo a você uma boa leitura e aprendizado. INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 9 Olá, caro estudante! Vamos iniciar nossa disciplina, que é de grande importância na atualidade da sociedade. Nessa primeira unidade, contextualizaremos as reações adversas a medicamentos, enfatizando as interações entre medicamentos e suas diferentes formas de classificação; relacionando com a importância do uso racional de medicamentos. Você sabia que reações adversas a medicamentos podem ocorrer? E que elas são um problema de saúde pública em todo o mundo? Você já utilizou dois ou mais medicamentos ao mesmo tempo? Ou já ouviu falar que alimentos podem aumentar, retardar ou diminuir a absorção de alguns medicamentos? Nesta unidade será possível conhecer a resposta dessas perguntas, entre outras. Você observará que será possível prever a ocorrência de reações adversas a medicamentos e de interações farmacológicas entre dois ou mais medicamentos, entre medicamentos e álcool ou entre medicamentos e alimentos. O uso de medicamentos é essencial para o tratamento e controle de muitas doenças. Contudo, nenhum medicamento é totalmente isento de riscos. Todos, em algum nível, podem provocar reações adversas (LIMA, 2017). Você sabe o que significa reações adversas a medicamentos (RAM)? Reações adversas a medicamentos (RAMs) são definidas como qualquer resposta prejudicial, indesejada e não intencional que ocorre quando medicamentos são usados em doses comuns para prevenção, diagnóstico, tratamento de doenças ou modificação de funções fisiológicas em seres humanos (MODESTO et al., 2016). Representam um dos graves desafios de REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS (RAMS)1 TÓPICO INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 10 saúde pública global, sendo responsáveis por inúmeras hospitalizações, prolongamento do tempo de internação e, em casos extremos, por óbitos (PINHEIRO, 2011). O idoso é vulnerável a reações adversas a medicamentos (RAM) devido a vários fatores que o caracterizam: peculiaridades farmacocinéticas e farmacodinâmicas, presença de múltiplas enfermidades, consumo de um grande número de medicamentos e os tipos de medicamentos receitados. Em suma, o envelhecimento, por si só, é um fator de risco para diversas doenças, o que gera a necessidade de cuidados adicionais e implica no uso de muitos medicamentos, aumentando, assim, o risco de RAM (LIMA, et al., 2017). Na sociedade atual, a grande disponibilidade de fármacos é grande nas farmácias. Dessa forma, a automedicação está cada vez mais sendo praticada pelas pessoas. Em alguns países com sistemas de saúde pouco desenvolvidos, a farmácia é frequentemente a primeira escolha para resolver problemas de saúde, e a maioria dos medicamentos consumidos pela população é adquirida sem a necessidade de receita médica. Atualmente, as RAMs são categorizadas em seis tipos, baseando-se em suas origens e características (AIZEINSTEIN, 2011). QUADRO 1: CLASSIFICAÇÃO DAS RAM EM RELAÇÃO ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS E OCORRÊNCIAS Tipo de Reação Características Exemplo A (aumento) Relacionado à dose; Comum; Relacionado a um efeito farmacológico da droga; Esperada; Baixa mortalidade. Efeitos tóxicos: intoxicação digitálica; síndrome serotoninérgica com ISRSs. Efeitos colaterais: efeitos anticolinérgicos de antidepressivos tricíclicos. B (bizarro) Não relacionado à dose; Incomum; Não relacionado a um efeito farmacológico da droga; Inesperada; Alta mortalidade Reações imunológicas: hipersensibilidade à penicilina. Reações idiossincráticas: porfiria aguda, hipertermia maligna, pseudoalergia (ex.: rash em uso de ampicilina). C (crônico) Relacionada à dose e ao tempo de uso; Incomum; Relacionada ao efeito cumulativo do fármaco. Efeitos tromboembólicos com o uso de anticoncepcional, Infarto agudo do miocárdio com Rofecoxibe. INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 11 D (atraso) Relacionada ao tempo de uso; Incomum; Normalmente relacionada à dose; Ocorre ou aparece algum tempo, após o uso do medicamento. Teratogênese (ex.: adenocarcinoma associado ao dietilestilbestrol); Carcinogênese; Discinesia tardia. E (fim do uso) Ocorre durante a abstinência. ocorre logo após a suspensão do medicamento. Síndrome de abstinência a opiáceos; isquemia miocárdica (suspensão de alfa bloqueador). F (falha) Falha inesperada da terapia; Comum; relacionada à dose; frequentemente causada por interação medicamentosa. Dosagem inadequada de anticoncepcional oral, particularmente, quando utilizados indutores enzimáticos. Fonte: Adapatado de Aizenstein (2011). Existem métodos para monitorar a ocorrência de reações adversas após a comercialização de medicamentos. O principal e mais utilizado é a notificação espontânea. Administrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Notivisa-Medicamento é um sistema online que registra e armazena notificações espontâneas de casos suspeitos e confirmados de reações adversas a medicamentos (RAM). Anvisa, o órgão regulador de medicamentos no Brasil, utiliza este sistema como o principal banco de dados sobre RAM e outros eventos adversos no Sistema Nacional de Farmacovigilância (SINAF) (MOTA, 2021). INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 12 Entre os fatores contribuintes para as reações adversas a medicamentos (RAM), destacam-se as interações medicamentosas ou farmacológicas. Essas interações referem- se às alterações nos efeitos de um fármaco devido ao uso simultâneo ou recente de outro fármaco, alimento, bebida ou agente químico. A prescrição de vários medicamentos é uma prática comum na terapia. No mercado nacional, atualmente, existem aproximadamente 1.500 substâncias farmacêuticas, com cerca de 5.000 nomes comerciais diferentes, distribuídos em cerca de 20.000 formas e embalagens distintas (SECOLI, 2001). A interação entre esses medicamentos pode levar a modificações nos seus efeitos individuais. Se a alteração for qualitativa, a resposta farmacológica pode ser diferente dos efeitos esperados do medicamento isolado. Se a alteração for quantitativa, a resposta final pode ser maior, menor ou até mesmo inexistente (AIZENSTEIN, 2016). A terapia múltipla é normalmente aconselhada em várias situações, como no tratamento da hipertensão arterial, com o emprego de fármacos β-bloqueadores, diuréticos e inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA); da asma, com o emprego de agonistas β-adrenérgicos e expectorantes; nas dores espasmódicas no trato gastrintestinal, com o emprego de fármacos antimuscarínicos associados a analgésicos (LARINI, 2011). As consequências das interações entre medicamentos podem incluir o aumento do efeito terapêutico, a diminuição da eficácia, o surgimento de reações adversas ou até mesmo a ausência de qualquer alteração no efeito desejado. Portanto, essas interações PRINCÍPIOS E ASPECTOS GERAIS DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS2 TÓPICO INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 13 podem ser benéficas, resultar em respostas adversas inesperadas durante o tratamento, ou ter pouca relevância clínica (SECOLI, 2001). A periodicidade de reações adversas ocasionadas por interações medicamentosas é incerta e varia de acordo com o desenho do estudo, a populaçãoexaminada (incluindo idosos, crianças) e se os pacientes são ambulatoriais ou hospitalizados - estes últimos geralmente fazem uso de um maior número de medicamentos (JACOMINI, 2011). INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 14 A classificação e compreensão das interações farmacológicas com base no modo e no local onde ocorrem permitem prever, identificar e evitar seu surgimento. Portanto, essas interações podem ser categorizadas como farmacodinâmicas ou farmacocinéticas. As interações farmacodinâmicas acontecem quando os efeitos de um medicamento são alterados pela presença de outro medicamento no mesmo local de ação ou sistema fisiológico, resultando em uma mudança na resposta do paciente ao outro medicamento. A seguir, os tipos de mudanças de respostas, devido às interações farmacodinâmicas e suas características (PEREIRA,2010). 01) Em situações onde dois ou mais medicamentos são administrados juntos e produzem o mesmo efeito farmacológico. Por exemplo, a combinação de trimetoprima e sulfametoxazol é benéfica, pois esses medicamentos atuam em diferentes etapas do metabolismo bacteriano, resultando em um aumento do espectro bacteriano e da atividade antimicrobiana, levando de um estado bacteriostático para bactericida. Por outro lado, a interação aditiva pode ser prejudicial, como no caso da coadministração de depressores do sistema nervoso central (SNC), cujos efeitos variam desde a redução das habilidades psicomotoras até o coma e a morte. O etanol é um importante depressor do SNC. 02) Antagonismo. A combinação de medicamentos pode resultar na diminuição do efeito, por exemplo, através da competição ou do bloqueio dos receptores. Quando a levodopa, usada no tratamento da doença de Parkinson, é administrada em conjunto com antipsicóticos, que podem causar parkinsonismo como efeito colateral, o efeito da levodopa é reduzido. Da mesma forma, hipoglicemiantes CLASSIFICAÇÃO DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS3 TÓPICO INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 15 têm seu efeito reduzido quando administrados junto com glicocorticoides. Por outro lado, o antagonismo pode ser benéfico quando uma substância é utilizada como corretivo e como antídoto. 03) Alterações no equilíbrio hidroeletrolítico. A sensibilidade do miocárdio aos glicosídeos digitálicos pode ser aumentada, levando a uma maior toxicidade dos glicosídeos devido à redução das concentrações plasmáticas de potássio, causada por diuréticos como a furosemida. Interações farmacocinéticas podem acontecer quando um medicamento altera o processo pelo qual outro é absorvido, distribuído, metabolizado ou excretado. FIGURA 1: INTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS Fonte: adaptada de Vidotti (2010). As interações farmacêuticas ocorrem in vitro, ou seja, antes da administração dos fármacos no organismo, quando dois ou mais medicamentos são misturados em uma mesma seringa, equipo ou outro recipiente. Medicamentos administrados por infusão contínua são especialmente suscetíveis a essas interações, especialmente quando utilizados de forma concomitante e em uma única via. Essas interações podem ser resultado de reações químicas ou físico-químicas que causam alterações visíveis, como mudanças de cor, consistência (no caso de sólidos), opalescência, turvação, formação de cristais, floculação ou precipitação, e podem estar ou não associadas a mudanças na atividade farmacológica. Além disso, a formação de novos compostos (ativos, inócuos ou tóxicos), a diminuição da atividade ou inativação de um ou mais dos medicamentos originais e o aumento da toxicidade de um ou mais desses medicamentos também podem ocorrer. (SECOLI, 2001). As interações medicamento x alimento, ocorre quando medicamentos são tomados junto com alimentos, o que pode ter implicações clínicas significativas. No entanto, muitas dessas combinações não resultam em interações ou produzem interações sem INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 16 importância clínica. Alguns medicamentos são preferencialmente tomados com alimentos, seja para aumentar a absorção ou para reduzir a irritação gástrica; por outro lado, há medicamentos cuja disponibilidade e eficácia são reduzidas se tomados com alimentos. Nestes casos, é recomendado tomar os medicamentos com o estômago vazio, ou seja, uma hora antes ou duas horas depois das refeições. (KATZUNG, 2013). Você já ouviu falar que o uso de medicamentos associado ao uso de álcool pode produzir interações como diminuição ou potenciação do efeito do fármaco? O risco causado pelo uso simultâneo de medicamentos e bebidas alcoólicas são muitas vezes desconhecidos e desta forma ignorados por parte da população. Existem tipos de medicamentos que, quando utilizados juntamente com álcool, podem ter seus efeitos intensificados ou diminuídos. Isso ocorre porque o álcool pode modificar a atividade e a expressão das enzimas microssomais do citocromo P4502E1, que são responsáveis por metabolizar o álcool e certos medicamentos que utilizam essa mesma via metabólica. (OLIVEIRA NETO, 2018). O Quadro 2 mostra as principais interações entre medicamento x álcool abordado na literatura: QUADRO 2: PRINCIPAIS INTERAÇÕES ÁLCOOL X MEDICAMENTOS Classe Terapêutica Fármacos Efeitos do uso concomitante com o álcool AINEs Paracetamol Aumento da irritação gástrica com risco de hemorragias, úlceras, hepatotoxicidade. Naproxeno Nimesulida Antidepressivos IMAO Selegilina Aumento do efeito hipotensor, tontura ou vertigem após doses relativamente pequenas de bebidas alcoólicas. Moclobemida Tranilcipromina Anti-hipertensivos Captopril Efeito hipotensor exacerbado. Ingestão de baixas quantidades de álcool permite redução das doses de captopril e do enalapril. Enalapril Atenolol INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 17 Antimicrobianos Tinidazol Uso desmoderado do álcool causa hepatotoxicidade da isoniazida, redução dos efeitos sob ingestão aguda, efeito antabuse. Izoniazida Sulfametoxazol + Trimetoprima Barbitúricos Fenobarbital Exacerbação dos efeitos centrais do fármaco, risco de depressão respiratória sob consumo crônico do álcool. Pentobarbital Tiopental Benzodiazepínicos Diazepam Aumento dos efeitos depressores dos fármacos e do álcool. Alprazolam Midazolam Hipoglicemiantes Glibenclamida Ocasiona alterações e dificuldades no controle glicêmico. Glimepirida Metformina Fonte: Oliveira Neto (2018, p. 23). Conforme Lança (2014), as interações medicamentosas são as principais causas de eventos adversos associados ao uso de medicamentos, resultando em problemas para o paciente que frequentemente podem ser graves e irreversíveis. INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 18 Caro aluno, você já ouviu em falar em uso racional de medicamentos? O uso racional de medicamentos (URM) é considerado um dos elementos fundamentais recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para as políticas de medicamentos. O processo compreende a prescrição adequada, a disponibilidade adequada e a preços acessíveis, a dispensação em condições apropriadas e o consumo de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade dentro do período de tempo indicado. A promoção do uso racional de medicamentos é uma das metas principais da Organização Mundial de Saúde (ESHER, 2017). Segundo a Who (2010), mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de maneira inadequada, e mais de 50% dos pacientes os utilizam de forma incorreta. De acordo com AQUINO (2008), pelo menos 35% dos medicamentos adquiridos no Brasil são resultado de automedicação. Essa realidade sugere que os brasileiros enfrentam dificuldades para acessar recursos como consultas médicas, muitas vezes esperando dias ou até meses para conseguir atendimento especializado. Além disso, a baixa renda também contribui para o aumento da automedicação. A prática de utilizar medicamentos sem orientação médica pode resultar em sérias consequênciaspara a saúde individual e coletiva, incluindo casos de intoxicação e até morte (DOMINGUES et al., 2017). No Brasil, o uso inadequado de medicamentos é atribuído à polifarmácia, ao uso indiscriminado de antibióticos, à prescrição sem seguir diretrizes, à automedicação inadequada e à ampla disponibilidade comercial de uma variedade excessiva de medicamentos. O uso excessivo, insuficiente ou inapropriado de medicamentos prejudica a população e resulta em RELEVÂNCIA AO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS4 TÓPICO INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 19 desperdício de recursos públicos. Para o usuário, fazer escolhas racionais proporciona maior garantia de benefícios terapêuticos (eficácia e segurança) a um custo menor, contribuindo para a integralidade do cuidado com a saúde. (WANNMACHER, 2012). A resistência bacteriana aos antibióticos é uma das principais preocupações mundiais. Este é um fenômeno natural que surge da pressão seletiva exercida pelos antibióticos, mas que tem se expandido rapidamente devido à utilização inadequada desses medicamentos. Existe uma ligação muito clara entre o consumo de antibióticos e níveis mais elevados de resistência microbiana (LOUREIRO et al , 2016). O desenvolvimento de diabetes mellitus induzido por corticosteroides ocorre devido a um aumento anormal nos níveis de glicose no sangue, sendo uma condição que se manifesta principalmente em indivíduos predispostos. Fatores de risco incluem o uso prolongado e em altas doses de glicocorticoides, idade avançada, alto índice de massa corporal (IMC), intolerância prévia à glicose, histórico familiar de diabetes gestacional ou tipo 2, entre outros. Pacientes tratados com glicocorticoides têm maior probabilidade de desenvolver diabetes mellitus, seja já diagnosticado ou não. A hiperglicemia induzida por corticosteroides é uma complicação frequente entre pacientes em tratamento com essa classe de medicamentos, ocorrendo especialmente em doses elevadas ou uso prolongado. Essa condição pode aumentar significativamente a morbimortalidade associada ao seu uso. Tanto em ambientes hospitalares quanto em uso ambulatorial contínuo, é essencial o acompanhamento para diagnóstico precoce e tratamento adequado, visando minimizar os impactos dessa complicação em pacientes diabéticos e não diabéticos. Fonte: Salviano et al. (2020). SAIBA MAIS Existem algumas práticas institucionais relacionadas à terapia com medicamentos que minimizam ao máximo as interações medicamentosas. Você tem conhecimento de que é responsabilidade do enfermeiro estabelecer os horários de administração dos medicamentos e seus intervalos? Fonte: o autor (2024). REFLITA INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 20 A utilização de medicamentos é de grande importância para a população, já que promove a prevenção, recuperação, tratamento e cura de várias doenças e morbidades. Contudo, é necessário que ocorra uma conscientização da população em relação ao uso desses medicamentos, já que problemas associados a eles podem ocorrer. No ambiente hospitalar protocolos devem ser adotados aos profissionais da área da saúde, por se tratar de um ambiente com ampla utilização de medicamentos, tornando- se um grande alvo para incidência de interações medicamentosas. Dessa forma, a fim de evitar erros ou ocorrências que possam interferir na terapia do paciente, é importante que o farmacêutico atue na revisão da prescrição médica e acompanhe a farmacoterapia do paciente, buscando identificar possíveis interações medicamentosas. CONSIDERAÇÕES FINAIS INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 21 Caro aluno, um exemplo de interação medicamentosa muito comentada entre as mulheres da sociedade são as interações entre antibióticos e anticoncepcionais orais. Para ficar mais pode dentro do assunto, leia o trabalho referenciado a seguir, realizado em um Centro Universitário de Minas Gerais: Fonte: RAFAEL, Fernanda Aparecida. interação Medicamentosa entre Antibióticos e Anticoncepcionais: e Importância da Assistência Farmacêutica. 2019. 32 f. TCC (Bacharelado) - Curso de Farmácia, Centro Universitário Atenas, Paracatu, 2019. LEITURA COMPLEMENTAR INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 22 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Fundamentos para o uso racional de medicamentos. • Autor: Moacyr Luiz Aizenstein. • Editora: Elsevier. • Sinopse: A prática do Uso Racional de Medicamentos usa o conhecimento baseado em evidências para a prevenção, manutenção e recuperação da saúde e contribui para a melhoria da qualidade e da expectativa de vida da população. O objetivo do livro é ajudar a compreender melhor a interação medicamento- paciente. FILME/VÍDEO • Título: Interações medicamentosas em 4 perguntas. • Ano: 2018. • Sinopse: Leandro Paez, farmacêutico do Grupo DPSP (Drogaria São Paulo e Drogarias Pacheco), responde algumas dúvidas da população em relação a interações medicamentosas. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=_4BfVeyn9oE. WEB • Sinopse: Esse material é um guia, contendo as interações medicamentosas dos principais antibióticos e antifúngicos de um hospital de Cuiabá, no estado do Mato Grosso. Esse material pode ser estudado, auxiliando os profissionais da área da saúde, melhorando a saúde da população. • Link do site: https://encurtador.com.br/lU02x INTRODUÇÃO A INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUNIDADE 1 https://www.youtube.com/watch?v=_4BfVeyn9oE https://encurtador.com.br/lU02x Professor(a) Esp. Priscila Bertoncello Pagliari Barauna ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICAS2UNIDADEUNIDADE PLANO DE ESTUDO 24 Plano de Estudos • Princípios do mecanismo de ação e da resposta farmacológica de um medicamento; • Relação entre a dosagem e a resposta clínica do medicamento; • Tipos de Receptores Farmacológicos; • Mecanismos de Ação dos Fármacos. Objetivos da Aprendizagem • Reconhecer os princípios do mecanismo de ação e da resposta farmacológica de um medicamento. • Distinguir entre medicamentos de ação agonista e aqueles de ação antagonista. • Descrever a relação entre a dosagem e a resposta clínica do medicamento. ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 25 Olá, caro (a) aluno (a)! Daremos início à Segunda Unidade da disciplina de Interações Medicamentosas. Para compreendermos a relação entre a dose e o efeito da droga, assim como seus mecanismos de ação, é essencial entendermos a farmacodinâmica. Esta nos proporciona uma base científica segura para a seleção e utilização de fármacos, permitindo-nos compreender como e por que podem ocorrer as interações medicamentosas. Nesta unidade, começaremos contextualizando os princípios do modo de ação e da resposta farmacológica de um fármaco. Abordaremos os componentes macromoleculares responsáveis pelos efeitos farmacológicos dos fármacos no organismo. Em seguida, discutiremos os tipos de receptores e seus respectivos mecanismos de ação, o que nos possibilitará entender, de maneira mais específica, os mecanismos de ação de um fármaco nos próximos tópicos. Bons estudos! INTRODUÇÃO ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 26 A maioria dos efeitos dos medicamentos no corpo ocorre devido à forma como interagem com grandes moléculas chamadas receptores. Essas interações modificam a atividade dos componentes biológicos envolvidos, provocando mudanças bioquímicas e fisiológicas que definem a resposta ao medicamento. (BRUM, 2018). Portanto, é de extrema importância compreender os procedimentos pelos quais um fármaco interage com o receptor, desencadeando uma resposta farmacológica ou tóxica. Esse conhecimento constitui a base para o uso racional e terapêutico dos fármacos. Segundo Katzung (2023), o conceito de receptor refere-se a um componente de uma célula ou organismo que interage com um medicamento, desencadeando uma série de eventos que resultam nos efeitos observados desse medicamento. Essa ideia temimplicações práticas significativas para a elaboração de medicamentos e para as decisões terapêuticas na prática clínica, as quais podem ser resumidas da seguinte maneira: Os receptores têm papel fundamental na relação quantitativa entre a dose ou concentração de medicamentos e seus efeitos farmacológicos. A capacidade do receptor de se ligar a um medicamento determina a quantidade necessária para formar complexos significativos de medicamento-receptor, ao passo que o número total de receptores pode limitar o efeito máximo que um medicamento pode alcançar. Os receptores desempenham um papel crucial na determinação da seletividade da ação de um fármaco. O tamanho, formato e carga elétrica molecular de um fármaco influenciam se, e com que afinidade, ele se ligará a um receptor específico entre os diversos sítios de ligação quimicamente distintos disponíveis em uma célula, tecido ou organismo. PRINCÍPIOS DO MODO DE AÇÃO E RESPOSTA FARMACOLÓGICA DE UM FÁRMACO1 TÓPICO ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 27 Consequentemente, modificações na estrutura química de um fármaco podem causar aumentos ou reduções significativas na afinidade por diferentes classes de receptores, resultando em alterações nos efeitos terapêuticos e tóxicos. Os receptores facilitam as atividades de substâncias farmacológicas chamadas agonistas e antagonistas. Além disso, muitos ligantes naturais, como hormônios e neurotransmissores, regulam a função dos receptores ao atuarem como agonistas, ativando diretamente o receptor quando se ligam a ele. Alguns agonistas ativam um receptor específico para desencadear todas as suas funções biológicas, enquanto outros podem seletivamente promover uma função do receptor em detrimento de outra. O local onde um fármaco se une ao receptor é chamado de sítio de ligação. Cada sítio possui características químicas únicas determinadas pelas propriedades específicas dos aminoácidos que o compõem. A estrutura tridimensional, a forma e a reatividade do sítio, assim como as características intrínsecas, forma e reatividade do fármaco, determinam como o fármaco se posiciona em relação ao receptor e influenciam a intensidade da ligação entre essas moléculas. A interação fármaco-receptor ocorre devido a múltiplas interações químicas entre as duas moléculas, algumas das quais são relativamente fracas, como as forças de van der Waals, enquanto outras são muito fortes, como as ligações covalentes. A combinação dessas interações confere a especificidade da interação fármaco-receptor como um todo (GOLAN, 2014). ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 28 Existem quatro tipos principais de receptores: canais iônicos ativados por ligantes, receptores acoplados a proteínas G, receptores ligados a enzimas e receptores intracelulares (Figura 1). FIGURA 1: MECANISMOS DE SINALIZAÇÃO TRANSMEMBRANA Fonte: Adaptada de Whalen (2016). Os canais iônicos regulados por ligantes, conhecidos como receptores ionotrópicos, são proteínas de membrana que possuem um sítio de ligação localizado no domínio extracelular. São frequentemente receptores nos quais neurotransmissores de ação TIPOS DE RECEPTORES FARMACOLÓGICOS2 TÓPICO ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 29 rápida exercem seus efeitos, como o receptor nicotínico da acetilcolina e os receptores glutamatérgicos do tipo NMDA. Os Receptores acoplados à proteína G, também chamados de receptores metabotrópicos ou receptores heptaelicoidais de membrana, são receptores de membrana que se conectam a sistemas efetores intracelulares por meio de proteínas G. Este tipo de receptor é amplamente distribuído e inclui receptores para diversos hormônios e neurotransmissores que desencadeiam respostas mais lentas, como o receptor muscarínico da acetilcolina e os receptores adrenérgicos da epinefrina. Os receptores ligados a enzimas, também conhecidos como receptores ligados a cinases, constituem uma ampla e diversificada família de receptores de membrana que respondem principalmente a mediadores proteicos. Este grupo inclui receptores para insulina, várias citocinas e fatores de crescimento. Os receptores intracelulares são responsáveis por regular a transcrição gênica. Eles estão localizados dentro da célula, o que significa que seus ligantes precisam penetrar na célula para interagir com eles. Esta categoria inclui receptores para hormônios esteroides, hormônio da tireoide, bem como compostos como ácido retinóico e vitamina D. Quando o complexo fármaco-receptor é formado, se inicia as alterações na atividade bioquímica da célula, por meio de um processo chamado transdução de sinal (Figura 2). Segundo Whalen (2016), os fármacos atuam como sinais, e seus receptores atuam como detectores de sinais. Os receptores transduzem o reconhecimento de um agonista ligado iniciando uma série de reações, que resultam em uma resposta intracelular específica. ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 30 FIGURA 2: O RECONHECIMENTO DE UM FÁRMACO PELO RECEPTOR INICIA A RESPOSTA BIOLO ́GICA ] Fonte: Adaptada de Whalen (2016). Caro aluno, você se recorda que um tipo de interação medicamentosa são as interações em nível farmacodinâmico? Um grande número de drogas provoca seus efeitos por meio da ativação de receptores específicos. Quando duas drogas são administradas simultaneamente, a ativação do receptor por uma delas pode amplificar ou reduzir a resposta do receptor à segunda (SILVA, 2010). ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 31 Caro aluno, agora que você compreendeu informações relevantes sobre os receptores farmacológicos, vou interrogá-lo: Já se perguntou como um medicamento interage com as células do organismo para produzir um determinado efeito farmacológico? Já notou que alguns pacientes relatam que o uso do medicamento não produz mais o efeito desejado? Já teve dúvidas se a administração de dois ou mais medicamentos pode ser feita no mesmo horário? Durante o estudo dos conceitos farmacodinâmicos, você perceberá que é possível prever a ocorrência de interações farmacológicas entre medicamentos que atuam nos mesmos tipos de receptores ou nas mesmas vias de transdução da resposta para produção do efeito farmacológico. Assim, será possível evitar interações que poderiam potencializar ou anular as respostas devido à associação desses fármacos. O entendimento desses conceitos é fundamental para o sucesso no tratamento terapêutico dos pacientes. A relação entre a dose (ou concentração) de um fármaco e a resposta do organismo pode ser quantificada pela farmacodinâmica do mesmo. Em muitos casos, essa relação está diretamente associada à ligação do fármaco aos receptores. Portanto, é plausível assumir que a resposta a um fármaco é proporcional à concentração de receptores que estão ligados (ocupados) pelo fármaco (GOLAN, 2014). A resposta a um determinado fármaco pode ser modificada devido a doenças ou devido à administração prévia desse composto. Os receptores são dinâmicos e tanto seu número quanto sua função podem ser regulados para cima ou para baixo por fatores endógenos e exógenos. (BRUM, 2018). RELAÇÃO ENTRE A DOSE E A RESPOSTA CLÍNICA DO FÁRMACO3 TÓPICO ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 32 De acordo com Katzung (2023), as respostas do fármaco podem ser influenciadas por diferentes fatores: • Nas curvas de concentração-efeito e na ligação de agonistas aos receptores, mesmo em pacientes ou animais intactos, as respostas a doses baixas de um fármaco geralmente aumentam em proporção direta à dose. No entanto, à medida que as doses são aumentadas, o aumento da resposta diminui; eventualmente, podem ser alcançadas doses em que nenhum aumento adicional da resposta é observado. • O acoplamento receptor-efetor e os receptores de reserva estão relacionados ao processo geral de transdução,que conecta a ocupação dos receptores pelo fármaco com a resposta farmacológica. A eficiência relativa do acoplamento ocupação-resposta é em parte determinada no próprio receptor; os agonistas totais tendem a desviar o equilíbrio de conformação dos receptores de forma mais acentuada do que os agonistas parciais. • Antagonistas competitivos e irreversíveis ligam-se aos receptores, porém não os ativam; sua ação principal é reduzir os efeitos dos agonistas que normalmente ativam os receptores. Embora tradicionalmente se acredite que os antagonistas não tenham efeito funcional na ausência de um agonista, alguns deles exibem atividade “agonista inversa”, diminuindo a atividade do receptor abaixo dos níveis basais observados na ausência de qualquer agonista. Os fármacos antagonistas são divididos em duas classes, dependendo se atuam competitivamente ou irreversivelmente em relação a um agonista presente simultaneamente. • Agonistas parciais: alguns compostos são capazes de produzir uma resposta máxima (a maior resposta que o tecido é capaz de dar), enquanto outros (agonistas parciais) produzem apenas uma resposta submáxima. ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 33 O impacto da ligação do fármaco ao receptor é crucial, pois desencadeia uma série de eventos bioquímicos e/ou fisiológicos no organismo. Essa ligação pode ativar ou inibir o receptor, levando a uma resposta específica. Ao decorrer deste tópico, exploraremos os mecanismos de ação dos fármacos, o que nos permitirá entender como a ligação do fármaco produz uma alteração bioquímica e/ou fisiológica no organismo. O conhecimento do mecanismo de ação do fármaco é fundamental, pois pode ajudar a evitar interações medicamentosas e proteger o paciente de efeitos adversos decorrentes dessas interações. Como discutimos na Unidade I, essas interações podem ser farmacocinéticas, envolvendo alterações na absorção, metabolização ou excreção do fármaco, ou farmacodinâmicas, onde a resposta ao fármaco principal é modificada por outro fármaco. As células respondem a uma variedade de sinais, alguns originados externamente ao organismo, enquanto outros são gerados internamente. Os sinais internos podem ser descritos dependendo de como alcançam seu alvo; assim, algumas moléculas sinalizadoras são transportadas por longas distâncias pelo sangue, enquanto outras têm efeitos locais(BRUM, 2018). Na maioria das vezes, a sinalização transmembrana é realizada por alguns mecanismos moleculares distintos. Cada tipo de mecanismo foi adaptado, ao longo da evolução, a partir de famílias diferentes de proteínas, com o objetivo de facilitar a transdução de uma ampla variedade de sinais. Essas famílias de proteínas englobam receptores localizados na superfície celular e dentro da célula, além de enzimas e outros componentes que desencadeiam, amplificam, coordenam e finalizam a sinalização pós- receptor por meio de segundos mensageiros químicos no citoplasma. MECANISMOS DE AÇÃO DOS FÁRMACOS4 TÓPICO ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 34 A farmacogenômica é o campo da ciência que investiga a interação entre os genes e os medicamentos. Através da análise de regiões específicas do DNA, é possível obter informações sobre como um paciente metaboliza determinados fármacos, bem como prever o perfil de resposta ao tratamento. A farmacogenômica também visa reduzir a incidência de eventos adversos aos medicamentos (EAM). As pesquisas nesta área têm se concentrado na identificação de genes que influenciam predisposições para doenças, modulam as respostas aos fármacos, afetam a concentração e a atividade desses medicamentos, e estão associados a reações adversas. Fonte: Stein et al. (2020). REFLITA O estudo “Riscos da interação droga-nutriente em idosos de instituição de longa permanência” investigou os potenciais riscos dessa interação entre medicamentos e nutrientes em idosos que residem em instituições de longa permanência. A pesquisa envolveu 73 participantes, com coleta de dados realizada em 2008 por meio da análise de prontuários, histórico dietético e avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC). Os resultados indicaram que os medicamentos mais comuns pertenciam aos sistemas nervoso e cardiovascular, representando 66% das prescrições. Dos 375 medicamentos prescritos, 166 mostraram algum tipo de interação, sendo que 32,0% dessas interações diminuíam a absorção dos fármacos na presença de cafeína, e 14,3% reduziam a absorção de vitamina B12. O artigo alertou para o impacto negativo da polifarmácia na absorção de nutrientes, potencialmente aumentando o risco de desnutrição em idosos. Destacou-se a necessidade essencial da equipe de saúde realizar uma avaliação detalhada dos medicamentos administrados, além de considerar a dietoterapia e as interações entre medicamentos, visando otimizar a terapêutica e melhorar as condições nutricionais dos idosos. Fonte: PEIXOTO, Jéssica Sereno et al. Riscos da Interação Droga-Nutriente em Idosos de Instituição de Longa Permanência. Revista Gaúcha de Enfermagem, Maringá, v. 3, n. 33, p. 156-164, fev. 2012. SAIBA MAIS ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 35 O conhecimento da farmacodinâmica é de suma importância para compreender os mecanismos pelos quais um determinado medicamento produzirá seu efeito terapêutico após a administração. Através desse estudo, podemos antecipar a ocorrência de interações medicamentosas durante a administração conjunta de alguns fármacos ou medicamentos, uma vez que tais interações podem prejudicar a saúde do paciente. Na prática, lidar com interações medicamentosas é complexo, pois, além das várias possibilidades teóricas de interferência entre os medicamentos, fatores relacionados ao indivíduo (como idade, constituição genética, estado fisiopatológico e tipo de alimentação) e à administração do medicamento (dose, via, intervalo e sequência de administração) influenciam na resposta do tratamento. Os estudos farmacodinâmicos contribuem para o uso racional de medicamentos, trazendo benefícios à saúde dos pacientes. Isso ocorre porque é possível alcançar o efeito terapêutico desejado sem redução de eficácia ou ocorrência de toxicidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 36 Caro aluno, trago a referência bibliográfica, para realizar uma leitura complementar de um artigo científico, que avaliou o conhecimento das interações medicamentosas de enfermeiros que atuam em unidades de terapia intensiva de adultos, de três hospitais públicos de Goiás. Através desse conteúdo, espero que perceba a importância do entendimento das interações medicamentosas, na prática profissional. Fonte: FARIA, Leila Márcia Pereira de. Interação medicamentosa: conhecimento de enfermeiros das unidades de terapia intensiva. Acta Paulista Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 24, n. 2, p. 264-270, out. 2011. LEITURA COMPLEMENTAR ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 37 MATERIAL COMPLEMENTAR FILME/VÍDEO • Título: Aula de Farmacologia | Tipos de interações medicamentosas | Farmacologia Fácil | Prof. José. • •Ano: 2022. • Sinopse: Neste vídeo, o professor de farmacologia irá explicar sobre os tipos de interações medicamentosas (interações farmacocinéticas e interações farmacodinâmicas, etc). • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=8DXzmFgzSEE. LIVRO • Título: As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman e Gilman. • Autor: Laurence L. Brunton. • Editora: Artmed. • Sinopse: esse é um dos livros mais completos em assuntos de farmacologia. Contém desde os princípios gerais da farmacologia (farmacocinética, farmacodinâmica), até assuntos muito específi- cos (neurofarmacologia; modulação das funções pulmonar, renal e cardiovascular; inflamação, imunomodulação e hematopoiese etc.), em todas as unidades contêm imagens, gráficos e tabelas importante a cada tema. ALTERAÇÕESBIOQUÍMICAS DAS RESPOSTAS FARMACOLÓGICASUNIDADE 2 https://www.youtube.com/watch?v=8DXzmFgzSEE Professor(a) Esp. Priscila Bertoncello Pagliari Barauna PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA3UNIDADEUNIDADE PLANO DE ESTUDO 39 Plano de Estudos • Classificação de medicamentos; • Interações Medicamentosas entre medicamentos; • Interações fármaco-alimento e fármaco-etanol; • Cuidados dos profissionais da saúde para evitar as interações medicamentosas. Objetivos da Aprendizagem • Compreender as principais classes de medicamentos; • Conceituar e contextualizar as interações entre medicamentos; • Estabelecer a importância das interações fármaco-alimento e fármaco-etanol; • Determinar cuidados dos profissionais da saúde para evitar as interações medicamentosas. PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 40 Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo à Unidade III da disciplina de Interações Medicamentosas. Chegamos ao momento de avançar um pouco mais em nosso conhecimento através do estudo das classes medicamentosas. Daremos enfoque aos fármacos mais importantes ou usados pela população e seus efeitos farmacológicos. No primeiro tópico, em classificação de medicamentos iremos conhecer as principais classes de medicamentos utilizadas pela população e seus efeitos. No segundo tópico, estudaremos algumas possíveis interações medicamentosas quando administrados concomitantemente com outro fármaco e seus efeitos. No terceiro tópico, vamos dar destaque às interações fármaco-alimento e interações fármaco-etanol, sempre lembrando que não são apenas os medicamentos que podem interagir entre si. Por fim, no quarto e último tópico abordaremos cuidados que os profissionais da saúde devem adotar para evitar possíveis interações medicamentosas. Desejo a você acadêmico, bons estudos e que essa unidade acrescente no seu conhecimento nessa disciplina tão importante para sua formação! INTRODUÇÃO PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 41 Caro aluno, nesse tópico estudaremos a classificação dos medicamentos, quanto sua ação, visto que existem outras formas de classificá-los, como apresentação, forma, entre outros. É de elevada importância esse tipo de conhecimento pelos profissionais de saúde, para poder realizar uma prestação de assistência adequada, pois ao administrar um medicamento, o profissional deve saber identificar além da ação do fármaco, suas possíveis reações adversas. Sabemos que existe uma quantidade enorme de medicamentos disponíveis no mercado, mas abordaremos, apenas os principais ou mais utilizados. • Medicamentos Vasopressores: sua ação está relacionada à elevação da pressão arterial sistêmica, através da vasoconstrição. Exemplo: dopamina, noradrenalina e adrenalina. • Medicamentos Inotrópicos: apresentam ação sobre a energia de contração das fibras musculares. Exemplo: dobutamina e milrione. • Medicamentos Vasodilatadores: agem expandindo os vasos sanguíneos, principalmente as arteríolas. Exemplos: Nitroprussiato de sódio e a nitroglicerina. O primeiro tem ação imediata, após a administração, apresentando efeitos em artérias e veias. É indicado em casos de hipertensão arterial sistêmica, pós- operatório de cirurgia cardíaca, etc. • Medicamentos Anticoagulantes: agem prolongando o tempo de coagulação ou impedindo a sua ocorrência. Exemplos: varfarina, heparina e ácido acetilsalicílico (AAS). CLASSIFICAÇÃO DE MEDICAMENTOS1 TÓPICO PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 42PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 • Medicamentos Analgésicos e Antipiréticos: são medicamentos que agem no combate da dor (analgésicos) e no controle da temperatura corpórea (antipiréticos). Exemplos: dipirona e paracetamol. • Medicamentos Antiácidos: são indicados nos casos de acidez gástrica, úlceras, duodenite, esofagite, gastrite etc. Exemplos: Hidróxido de alumínio, ranitidina e omeprazol. • Medicamentos Antiarrítmicos: são medicamentos indicados ao tratamento de arritmias cardíacas. Exemplos: amiodarona, digoxina, atropina, propranolol. • Medicamentos Anticonvulsivantes: são indicados ao tratamento de crises convulsivas. Exemplos: ácido valproico, fenobarbital, fenitoína. • Medicamentos Antieméticos: são indicados no caso de náuseas, refluxo gastroesofágico e êmese. Exemplos: Metoclopramida. • Medicamentos Antifúngicos: são indicados nos casos de candidíase vaginal, candidíase cutânea ou sistêmica, candidíase do trato gastrointestinal etc. Exemplo: Fluconazol. • Medicamentos Anti-hipertensivos: os anti-hipertensivos devem reduzir tanto a pressão arterial como os eventos associados. Os diuréticos tiazídicos foram a primeira classe de medicamento com a qual se teve comprovada diminuição de pressão e de eventos cardiovasculares. Exemplos: captopril e enalapril. No quadro 1 presente neste tópico, mostra-se os tipos de anti-hipertensivos e suas interações com alguns medicamentos. 43PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 QUADRO 1: ANTI-HIPERTENSIVOS – INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS Fonte: Ribeiro (2010). • Medicamentos Anti-histamínicos: são indicados nos casos de alergia. Exemplo: prometazina. • Medicamentos Broncodilatadores: agem expandido os brônquios e assim, facilitando a respiração do paciente. Exemplo: Aminofilina e Sulfato de terbutalina. • Medicamentos corticoides: têm sido amplamente utilizados no tratamento de uma ampla gama de doenças desde sua introdução na prática clínica há 60 anos. São considerados os mais potentes agentes anti-inflamatórios conhecidos. Seu uso tem contribuído significativamente para a redução da morbimortalidade 44PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 em indivíduos com doenças graves, tais como doenças autoimunes, processos alérgicos, transplantes de órgãos, insuficiência adrenal, hiperplasia adrenal congênita, entre outras (ALVES, 2008). • Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides: são um conjunto diversificado de medicamentos que compartilham a capacidade de regular a inflamação, aliviar a dor e combater a febre. • Medicamentos diuréticos: atuam estimulando a excreção de íons sódio, cloro ou bicarbonato, que são os principais eletrólitos presente no fluído extracelular. Exemplo: Furosemida. 45 O envelhecimento populacional e a adoção por grande parte da população de um estilo de vida mais sedentário, com hábitos alimentares com excesso de sódio, açúcares e gordura, contribuem para um aumento das doenças crônicas como, hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, que muitas vezes coexistem, exigindo na maioria dos casos, a prescrição de mais de um medicamento (SANTOS, 2019). Abaixo segue algumas interações medicamentosas já documentadas que são importantes: • Fármacos redutores de ácido: os antiácidos podem adsorver fármacos no trato gastrintestinal, reduzindo, assim, a sua absorção. Alguns antiácidos (p. ex., hidróxido de alumínio) alcalinizam a urina e alteram a excreção de fármacos sensíveis ao pH urinário. Antagonistas H2 e inibidores da bomba de prótons podem alterar a absorção de fármacos que requerem acidez gástrica para dissolução. Exemplos: Antivirais: [P] redução da absorção de antivirais que requerem ácido para dissolução, incluindo atazanavir, fosamprenavir, indinavir, nelfinavir, rilpivirina. Antifúngicos azólicos: [P] absorção gastrintestinal reduzida de itraconazol, cetoconazol e posaconazol, devido ao aumento do pH gástrico. Digoxina: [NP] redução da absorção gastrintestinal da digoxina. Ferro: [P] redução da absorção gastrintestinal do ferro com antiácidos contendo cálcio. • Alopurinol: inibição de enzimas hepáticas metabolizadoras de fármacos. O febuxostate também inibe o metabolismo da azatioprina e da mercaptopurina. Exemplos: Anticoagulante oral: [NP] aumento do efeito hipoprotrombinêmico. Azatioprina: [P] redução da desintoxicaçãoda azatioprina, o que resulta no aumento da sua toxicidade. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ENTRE MEDICAMENTOS2 TÓPICO PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 46PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 • Anticoagulantes Orais: sensíveis à indução e à inibição de CYP2C9 (varfarina), CYP3A4 (apixabana, rivaroxabana) e glicoproteína-P (apixabana, betrixabana (não disponível no Brasil), dabigatrana, edoxabana, rivaroxabana). Alto grau de ligação da varfarina às proteínas plasmáticas. Anticoagulação alterada por fármacos que afetem a síntese ou o catabolismo de fatores da coagulação. Exemplos: Paracetamol: [NP] comprometimento da síntese de fatores da coagulação em doses mais elevadas. Amiodarona: [P] inibição da eliminação do anticoagulante. Antivirais: [P] amprenavir, atazanavir, boceprevir, darunavir, delavirdina, indinavir, ledipasvir, nelfinavir, paritaprevir, ritonavir, saquinavir e telaprevir podem diminuir a eliminação de apixabana, betrixabana, dabigatrana, edoxabana, rivaroxabana e, talvez, varfarina. • Antidepressivos tricíclicos e heterocíclicos: inibição da captação do transmissor nos neurônios 5-HT e NE. Os efeitos antimuscarínicos podem ser aditivos aos de outros fármacos antimuscarínicos. Sensíveis à indução e à inibição do metabolismo via CYP2D6, CYP3A4 e outras enzimas do complexo enzimático CYP. Exemplos: Barbitúricos: [P] aumento do metabolismo de antidepressivos. Bupropiona: [NP] redução do metabolismo de antidepressivos. Carbamazepina: [NP] aumento do metabolismo de antidepressivos. • Ferro: liga-se a fármacos no trato gastrintestinal, reduzindo a sua absorção. Exemplos: Metildopa: [NE] redução da absorção de metildopa. Micofenolato: [P] redução da absorção de micofenolato. Quinolonas: [P] redução da absorção de ciprofloxacino e outras quinolonas. Tetraciclinas: [P] redução da absorção de tetraciclinas; redução da eficácia do ferro. Hormônios tireoidianos: [P] redução da absorção de tiroxina. • Rifampicina: indutora (potente) das enzimas hepáticas microssomais envolvidas no metabolismo de fármacos e da glicoproteína-P. Interações semelhantes observadas com rifabutina. Exemplos: Corticosteroides: [P] aumento do metabolismo hepático dos corticosteroides; redução do efeito dos corticosteroides. Mexiletina: [NE] aumento do metabolismo da mexiletina; redução do efeito da mexiletina. Sulfonilureias hipogliceminantes: [P] aumento do metabolismo hepático da tolbutamida e, provavelmente, de outras sulfonilureias metabolizadas no fígado (incluindo clorpropamida). • Salicilatos: interferência com a excreção renal de fármacos submetidos à secreção tubular ativa. A excreção renal de salicilatos depende do pH urinário quando são utilizadas altas doses. O ácido acetilsalicílico (mas não outros salicilatos) interfere na função plaquetária. Em doses elevadas, os salicilatos têm atividade hipoglicemiante intrínseca. Exemplos: Corticosteroides: [P] aumento da eliminação de salicilatos; possível efeito tóxico aditivo sobre a mucosa gástrica. Heparina: [NP] maior tendência a sangramento com ácido acetilsalicílico, mas provavelmente não com outros salicilatos. Metotrexato: [P] redução da depuração renal do metotrexato; aumento da toxicidade do metotrexato (principalmente em doses antineoplásicas). 47 Os nutrientes são substâncias químicas presentes nos alimentos que fornecem energia, promovem o crescimento, desenvolvimento e a manutenção da saúde e vida. Sua falta pode causar alterações químicas ou fisiológicas características. Eles englobam carboidratos, proteínas, lipídios, minerais, vitaminas, fibras e compostos com propriedades funcionais, os quais podem interagir com os medicamentos administrados simultaneamente (LIMA et al., 2017). Para a preservação das funções reguladoras e energéticas do organismo, é necessária a ingestão do alimento, por meio do qual os nutrientes são transportados, em quantidade e qualidade adequadas (SANTOS, 2018). Porém, é importante notar que os nutrientes também podem interagir com os medicamentos, o que representa um desafio significativo na prática clínica devido às mudanças na relação risco/benefício do uso do medicamento. Essas interações são especialmente relevantes, porque a maioria dos medicamentos é administrada por via oral, o que facilita essa interação com os nutrientes. Os nutrientes têm o potencial de alterar os efeitos dos medicamentos ao interferir nos processos farmacocinéticos, como absorção, distribuição, metabolismo e excreção, resultando em comprometimento terapêutico (MOURA, 2002). Há quatro tipos de interações entre medicamentos e nutrientes que podem ser classificados com base em sua natureza e nos mecanismos envolvidos: • Tipo I: as interações que resultam na inativação do fármaco ou do nutriente ocorrem devido a processos como hidrólise, oxidação, neutralização, precipitação ou complexação. INTERAÇÕES FÁRMACO- ALIMENTO E FÁRMACO-ETANOL3 TÓPICO PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 48PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 • Tipo II: as interações que influenciam a absorção podem modificar a biodisponibilidade do fármaco ou do nutriente. • Tipo III: as interações que modificam a distribuição, o transporte e a penetração no tecido alvo podem afetar tanto o fármaco quanto o nutriente. • Tipo IV: interações que modificam a eliminação ou o clearence de fármacos ou de nutrientes por antagonismo, aumento da modulação renal e/ou da eliminação entero-hepática. Dessa forma, a quantidade e o tipo de comida consumida podem influenciar na absorção da droga no trato gastrointestinal, podendo diminuí-la, retardá-la, aumentá-la ou não afetá-la, dependendo da interação entre o alimento e a droga. Em certos casos, é recomendado administrar os medicamentos com o estômago cheio para evitar ou minimizar a irritação da mucosa intestinal. Assim, o momento da ingestão do medicamento, seja em jejum, antes, durante ou após as refeições, pode ser crucial para alcançar a terapia desejada. O etanol altera processos fisiológicos e também interage com vários fármacos, especialmente os que atuam no sistema nervoso central. A associação com metronidazol, cetoconazol, cefalosporinas e sulfonilureias pode causar reações tipo dissulfiram, provocando palpitações, rubor, náusea e vômitos. A associação de álcool com fármacos antidiabéticos, como as sulfonilureias e insulina, provoca hipoglicemia por diminuírem a neoglicogênese. Fármacos metabolizados pela CYP2E1 (isoenzima que metaboliza o etanol) quando associados ao etanol causam aumento da concentração plasmática de ambos por competição no processo de biotransformação. A ingestão crônica de etanol induz ao aumento da concentração de CYP2E1 (por indução enzimática), levando a um maior metabolismo de fármacos que sofrem a ação desta isoenzima (AIZENSTEIN, 2016). 49 A maioria das pesquisas sobre interações medicamentosas se concentra em pacientes hospitalizados, muitas vezes com doenças específicas ou em uso de medicamentos específicos. No entanto, é importante observar que a maior parte dos usuários de medicamentos está no âmbito ambulatorial, onde o paciente é responsável pelo medicamento e seu uso (SANTOS, 2019). Os profissionais que trabalham na área da saúde precisam entender sobre interações medicamentosas para praticar cuidados para evitá-los na prática clínica. Segundo Secoli (2001) segue alguns cuidados: • Organizar os horários das prescrições de forma a evitar a administração simultânea de vários medicamentos intravenosos. • Abster-se de combinar diferentes medicamentos na mesma solução ou recipiente. • Evitar administrar medicamentos com efeitos tóxicos semelhantes, como aminoglicosídeos e anfotericina B, ao mesmo tempo. • Quando possível, utilizar vias de infusão distintas para medicamentos com compatibilidade desconhecida. • Preferencialmente, optarpela administração em bolus sempre que aplicável. • Ficar atento a possíveis alterações na reconstituição do fármaco, como turvação, precipitação ou mudança de cor. • Realizar a limpeza dos dispositivos intravenosos após a administração de medicamentos. CUIDADOS DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE PARA EVITAR AS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS4 TÓPICO PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 50PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 • Consultar o manual de incompatibilidade fornecido pela instituição. • Recorrer ao farmacêutico em caso de dúvidas sobre a compatibilidade entre os medicamentos. • Evitar a administração simultânea de vários comprimidos sempre que possível. • Abster-se de triturar comprimidos ou abrir cápsulas, quando possível. • Manter um intervalo de aproximadamente duas horas entre a administração de antiácidos e outros medicamentos, quando viável. Buscar a orientação de um farmacêutico é uma abordagem muito sensata em situações onde há a necessidade de administrar vários medicamentos simultaneamente e há preocupações com possíveis interações medicamentosas. Os farmacêuticos têm um profundo conhecimento sobre os diferentes medicamentos, suas interações e como otimizar a administração para evitar ou minimizar essas interações. Eles podem fornecer orientações específicas sobre horários de administração, possíveis efeitos adversos decorrentes de interações entre os medicamentos e até mesmo sugerir alternativas, se necessário. Assim, ao trabalhar em conjunto com profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, os farmacêuticos desempenham um papel crucial na segurança e eficácia do tratamento medicamentoso. 51 Atualmente, as potenciais interações entre fármacos e plantas medicinais e/ ou medicamentos fitoterápicos são objetos de inúmeros estudos. Esse artigo traz informações sobre as principais interações entre produtos elaborados com valeriana ou alho foram localizadas, avaliadas e sistematizadas. Verificou- se que tais plantas podem alterar os perfis farmacocinéticos e/ou farmacodinâmicos de diversos fármacos, podendo provocar consequências graves aos pacientes. A valeriana pode aumentar os efeitos adversos dos benzodiazepínicos, reduzir a biodisponibilidade dos fármacos metabolizados pelo sistema P450-CYP3A4 e provocar hemorragias graves quando utilizada juntamente com anticoagulantes orais e antiplaquetários. O alho pode aumentar a biodisponibilidade dos relaxantes musculares, potencializar os efeitos terapêuticos e adversos dos hipoglicemiantes, provocar hemorragias quando administrado juntamente com anticoagulantes orais e antiplaquetários e reduzir a biodisponibilidade dos anti-retrovirais inibidores de protease. Fonte: ALEXANDRE, R. F. Potenciais interações entre fármacos e produtos à base de valeriana ou alho. Revista Brasileira de Farmacognosia, Florianópolis, v. 3, n. 18, p. 455-463, set. 2008. SAIBA MAIS Interação entre Paracetamol e Repolho: o uso concomitante de paracetamol e repolho pode resultar em diminuição da eficácia do fármaco. Recomendações: a administração de paracetamol em jejum. Para alívio da dor rapidamente, deve evitar tomar paracetamol com alimentos, especificamente se forem ricos em carboidratos. Fonte: MUNIZ, Thais Renata. Interações Fármaco-Alimento/Nutriente. Disponível em: https:// abre.ai/j51s. REFLITA PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 https://abre.ai/j51s https://abre.ai/j51s 52 O sucesso terapêutico e a segurança de qualquer tratamento são determinados pela integração entre as prescrições baseadas em evidências com o conhecimento dos fatores que podem determinar as respostas em um paciente individualizado. Individualizar a terapêutica requer não somente a compreensão básica da farmacocinética e da farmacodinâmica, como também a compreensão do modo como múltiplos fatores individuais podem modificar a farmacocinética e a farmacodinâmica em um paciente. Medidas devem ser adotadas para que possa haver o uso racional de medicamentos, essas que devem ser adotadas desde a prescrição do medicamento, dispensação e administração. Então todas as pessoas envolvidas nessas etapas devem estar treinadas e conscientes, no caso do paciente, que é possível evitar as reações adversas que possam causar malefícios devido seu uso. CONSIDERAÇÕES FINAIS PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 53 Eventos adversos por interações medicamentosas potenciais em unidade de terapia intensiva de um hospital de ensino. Esse artigo avaliou a existência de interações medicamentosas potenciais na unidade de terapia intensiva de um hospital, com foco nos antimicrobianos. Através de estudo transversal, que analisou prescrições eletrônicas de pacientes da unidade de terapia intensiva de um hospital de ensino, avaliando potenciais interações medicamentosas relacionadas aos antimicrobianos, entre 1º de janeiro e 31 de março de 2014. O consumo dos antimicrobianos foi expresso em dose diária definida por 100 pacientes-dia. A busca e a classificação das interações foram realizadas com base no sistema Micromedex®. Foram analisadas prescrições diárias de 82 pacientes, totalizando 656 prescrições. Do total de medicamentos prescritos, 25% eram antimicrobianos, sendo meropenem, vancomicina e ceftriaxona os mais prescritos. Os antimicrobianos mais consumidos, segundo a metodologia de dose diária definida por 100 pacientes-dia, foram cefepime, meropenem, sulfametoxazol + trimetoprima e ciprofloxacino. A média de interações por paciente foi de 2,6. Entre as interações, 51% foram classificadas como contraindicadas ou de gravidade importante. Destacaram-se as interações altamente significativas (valor clínico 1 e 2), com prevalência de 98%. Conclusão: com o trabalho verificou-se que os antimicrobianos são uma classe frequentemente prescrita na unidade de terapia intensiva, apresentando elevada quantidade de interações medicamentosas potenciais, sendo a maior parte das interações considerada altamente significativa. Fonte: ALVIM, Mariana Macedo. Eventos adversos por interações medicamentosas potenciais em unidade de terapia intensiva de um hospital de ensino. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, Juiz de Fora, v. 27, n. 4, p. 353-359, 2015. LEITURA COMPLEMENTAR PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 54 MATERIAL COMPLEMENTAR FILME/VÍDEO • Título: cresce o número de denúncias por venda de remédios controlados sem receita. • Ano: 2023. • Sinopse: vídeo realizado na cidade de São Paulo, em que o Conselho Regional de Farmácia, evidenciou o aumento de 32% em 2023 das denúncias recebidas. Entre os medicamentos está o Zolpidem, usado no tratamento para insônia. Esse medicamento pode provocar dependência química e um dos efeitos colaterais mais graves é o sonambulismo. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=xHPuZE0pasU. • WEB • Sinopse: Este é um guia prático de medicamentos, que apresenta desde a prescrição do medicamento, abordando alguns conhecimentos básicos da farmacologia, como farmacocinética e farmacodinâmica. E seus subsequentes capítulos irão tratar dos fármacos usados em áreas específicas da saúde, como: ginecologia, pediatria, oncologia, gastroenterologia, oftalmologia, reumatologia etc. • Link do site: https://abre.ai/j51T LIVRO • Título: Fármacos e Medicamentos. • Autor: Lourival Larini. • Editora: Artmed. • Sinopse: apresenta os principais fármacos e/ou medicamentos de uso no mercado brasileiro. Abrangendo desde os princípios gerais dos fármacos, passando pela farmacocinética e farmacodinâmica, abordando suas propriedades, mecanismos de ação terapêutica, as doses recomendadas, reações adversas, entre outros aspectos importantes sobre fármacos utilizados no tratamento de diferentes problemas de saúde. PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSAUNIDADE 3 https://www.youtube.com/watch?v=xHPuZE0pasUhttps://abre.ai/j51T Professor Esp. Priscila Bertoncello Pagliari Barauna TOXIDADE DOS FÁRMACOS4UNIDADEUNIDADE PLANO DE ESTUDO 56 Plano de Estudos • Reações adversas aos fármacos; • Toxidade de fármacos; • Processos comuns de dano e morte das células causados por toxinas; • Hepatotoxidade e Nefrotoxidade. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar os efeitos adversos relacionados com a ação dos medicamentos; • Compreender os problemas que podem ocorrer após o uso de fármacos; • Estabelecer a importância do conhecimento dobre danos teciduais que medicamentos podem causar, especificamente, hepáticos e renais. TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 57 Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo à Unidade IV da disciplina de Interações medicamentosas. Na primeira parte, será abordada a variedade de reações adversas aos fármacos, enfatizando os diferentes tipos de respostas negativas que os medicamentos podem provocar no organismo humano. Em seguida, será discutida a toxidade dos fármacos, explorando os mecanismos pelos quais substâncias químicas podem causar danos ao corpo quando administradas em doses inadequadas ou sob condições específicas. O terceiro tópico se concentrará nos mecanismos gerais de lesão e morte celular induzidos por enzimas, proporcionando uma compreensão mais profunda de como certos processos bioquímicos podem resultar em danos celulares irreversíveis. Por fim, o quarto tópico abordará especificamente a hepatotoxicidade e nefrotoxicidade, destacando os efeitos adversos que os medicamentos podem ter sobre o fígado e os rins, órgãos vitais para o metabolismo e a eliminação de substâncias no corpo humano. A introdução destaca a importância crítica de compreender esses aspectos para a saúde pública, dada a incidência significativa de doenças e até mesmo mortes relacionadas ao uso inadequado de medicamentos. Esses conhecimentos são essenciais não apenas para a prática clínica, mas também para políticas de saúde que visem mitigar os riscos associados ao uso de medicamentos, promovendo assim um ambiente mais seguro e informado para pacientes e profissionais de saúde. Bons Estudos! INTRODUÇÃO TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 58 1.1 Efeitos adversos relacionados à ação farmacológica conhecida do medicamento Muitos efeitos adversos relacionados às ações farmacológicas conhecidas do medicamento são previsíveis, pelo menos quando tais ações são bem compreendidas. Algumas vezes, esses efeitos são conhecidos como reações adversas do tipo A (“aumentada”), estando relacionados com a dose e a suscetibilidade individual. Por exemplo: ocorre hipotensão postural com antagonistas do receptor α1-adrenérgico, sangramento com anticoagulantes, sedação com ansiolíticos e assim por diante. Em muitas situações, esse tipo de efeito indesejado é reversível, e o problema pode muitas vezes ser resolvido com o ajuste da dose para obter um equilíbrio mais favorável entre eficácia e segurança. Às vezes, tais efeitos são graves (p. ex., sangramento intracerebral causado por anticoagulantes e coma hipoglicêmico provocado pela insulina) e, em alguns casos, não são facilmente reversíveis, como, por exemplo, a dependência causada por analgésicos opioides. Alguns outros efeitos adversos relacionados com a principal ação de um medicamento resultam em eventos discretos, e não em sintomas graves, e pode ser difícil detectá-los. Por exemplo, os fármacos que bloqueiam a ciclo-oxigenase-2 (COX-2) (incluindo “coxibes”, como rofecoxibe, celecoxibe e valdecoxibe, bem como anti-inflamatórios não esteroides [AINE] convencionais) aumentam o risco de infarto agudo do miocárdio (IAM) de forma dose-dependente. Esse potencial era previsível a partir da capacidade dos fármacos em inibir a biossíntese de prostaciclinas e aumentar a pressão arterial sanguínea, e os estudos preliminares forneceram um sinal para tais problemas. Foi difícil provar esse efeito, e somente REAÇÕES ADVERSAS AOS FÁRMACOS1 TÓPICO TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 59TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 quando alguns estudos controlados com placebos foram realizados para outra indicação (na esperança de que inibidores da COX-2 pudessem prevenir câncer de intestino) é que se pôde confirmar, sem sombra de dúvida, a ação pró-trombótica. 1.2 Efeitos adversos não relacionados à ação farmacológica conhecida do medicamento Efeitos adversos não relacionados com a principal ação farmacológica podem ser previsíveis quando um fármaco é tomado em doses excessivas, como, por exemplo, hepatotoxicidade provocada por paracetamol, ou zumbido induzido por ácido acetilsalicílico, ou, então, quando a suscetibilidade aumenta, como no caso de gravidez, ou por alteração predisponente, tal como a deficiência da glicose-6-fosfato desidrogenase ou uma mutação no DNA mitocondrial. Reações imprevisíveis, não relacionadas com o efeito principal do fármaco (às vezes designadas como reações idiossincráticas, ou tipo B, de bizarras, segundo a classificação de Rawlins e Thomson), com frequência são iniciadas por um metabólito quimicamente reativo, e não pelo fármaco original. Exemplos desse tipo de RAF, que muitas vezes são de natureza imunológica, incluem dano hepático e renal induzido pelo fármaco, supressão da medula óssea, carcinogênese e desenvolvimento fetal deficiente. Os efeitos adversos imprevisíveis, raros, porém graves, foram mencionados em capítulos anteriores, incluindo anemia aplásica associada ao cloranfenicol e anafilaxia com uso de penicilina. Em geral, são graves – caso contrário, não seriam reconhecidas –, e sua existência é importante para se estabelecer a segurança dos fármacos. A natureza imprevisível dessas reações significa que o ajuste do regime terapêutico recomendado (p. ex., utilizando uma dose mais baixa) pode não as prevenir. 60 TOXIDADE DE FÁRMACOS2 TÓPICO TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 A presença de uma vasta diversidade de medicamentos contribui para o surgimento de questões relacionadas a esses produtos, representando um desafio para a saúde pública tanto em nações desenvolvidas quanto em países em desenvolvimento, como o Brasil. Outros elementos que desempenham um papel significativo nesse cenário incluem: a falta de regulamentação eficaz da propaganda de medicamentos, a acessibilidade facilitada a medicamentos mediante prescrição médica, a ausência de normas específicas para embalagens seguras, a escassez de iniciativas para promover a atenção farmacêutica e os padrões de consumo de medicamentos pela população, que abrangem a automedicação, o uso excessivo e indiscriminado, especialmente de psicotrópicos e antibióticos. Diversas circunstâncias podem resultar em intoxicação, como exposição profissional ou acidental, abuso, tentativas de suicídio e homicídio (NOBREGA, 2015). Os medicamentos representam o principal agente tóxico responsável por intoxicações em seres humanos no Brasil, ocupando o primeiro lugar nas estatísticas do SINITOX desde 1994. Entre as classes de medicamentos que mais causam intoxicações em nosso país estão os benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos e anti-inflamatórios. Cerca de 44% dessas intoxicações foram classificadas como tentativas de suicídio e 40% como acidentes. Notavelmente, as crianças menores de cinco anos (33%) e adultos entre 20 e 29 anos (19%) são os grupos etários mais afetados pelas intoxicações por medicamentos (BORTOLETTO, 1999). Dessa forma, caro aluno, falarei um pouco mais especificamente dessas classes abaixo: 61TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 2.1 Ansiolíticos e Tranquilizantes • Benzodiazepínicos: os benzodiazepínicos são uma classe de medicamentos com propriedades farmacológicas, como ansiolíticas, sedativo-hipnóticas e/ou anticonvulsivantes, cujos efeitos tóxicos parecem decorrer da sua ação direta sobre o Sistema Nervoso Central. Geralmente, esses fármacos são absorvidos rapidamente quando administrados por via oral. No entanto, algunsdeles, como o clordiazepóxido e o oxazepam, podem levar horas para atingir concentrações sanguíneas máximas. A maioria dos benzodiazepínicos é metabolizada no fígado por oxidação e/ou conjugação, resultando na formação de metabólitos, muitos dos quais possuem atividade farmacológica. A eliminação desses medicamentos ocorre principalmente pelos rins. Os medicamentos podem ser classificados em diferentes grupos com base na sua meia-vida de eliminação: • Ação muito curta: Midazolam (Dormonid) • Ação curta: Alprazolam (Frontal), Lorazepam (Lorax, Mesmerim), Oxazepam (Clizepina) • Ação longa: Clordiazepóxido (Psicosedin, Limbitrol, Relaxil), Diazepam (Calmociteno, Diazepan, Diempax, Kiatrium, Valium), Flurazepam (Dalmadorm, Lunipax) Na intoxicação aguda por benzodiazepínicos, a absorção de uma dose excessiva geralmente provoca sintomas como sedação, sonolência, fala arrastada, visão dupla, dificuldade na fala, falta de coordenação motora e confusão mental. Também podem ocorrer depressão respiratória e queda da pressão arterial. Embora na maioria dos casos a evolução seja benigna, há relatos de situações graves, como intensa depressão respiratória, coma e até óbito, especialmente quando os benzodiazepínicos de ação muito rápida são administrados por via intravenosa. Crianças, idosos e pacientes com insuficiência cardiorrespiratória são mais sensíveis aos efeitos tóxicos desses medicamentos, e o consumo simultâneo de álcool e barbitúricos pode amplificar esses efeitos. • Fenotiazínicos: os derivados da fenotiazina, inicialmente desenvolvidos para uso como antissépticos urinários e anti-helmínticos, constituem um dos grupos mais importantes de medicamentos utilizados no tratamento de diversas condições neurológicas. Eles possuem uma ampla gama de efeitos farmacológicos, incluindo ação sedativa e potencialização dos efeitos de sedativos, narcóticos e anestésicos; capacidade antiemética; regulação da temperatura corporal; bloqueio dos receptores colinérgicos e adrenérgicos (tipo alfa); propriedades 62TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 anti-histamínicas e anti-serotonínicas; alívio de coceira (antipruriginoso); e efeitos analgésicos, entre outros. Essas características são responsáveis pelas chamadas reações colaterais, que se tornam mais pronunciadas em casos de intoxicação. Devido à sua eficácia terapêutica significativa, os derivados da fenotiazina são amplamente consumidos e generalizados, com uma tendência crescente. Isso resulta em um aumento no número de casos de intoxicação como consequência. Os derivados da fenotiazina podem ser classificados em três grupos: • Derivados Piperazínicos: flufenazina (Anatensol, Motival), trifluoperazina (Stelazine, Stelapar), perfenazina (Mutabon). • Derivados Alifáticos: clorpromazina (Amplictil), promazina (Metilsedor), levomepromazina (Neozine). • Derivados Piperidínicos: tioridazina (Melleril). Esses grupos variam em eficácia por miligrama e na tendência de causar efeitos colaterais específicos. Em geral, quanto mais eficaz o fenotiazínico, maior a propensão a causar reações extrapiramidais. Por outro lado, quanto menos eficaz, maior a propensão a causar efeitos autonômicos secundários, sedação ou convulsões. Os derivados da fenotiazina são geralmente bem absorvidos pelo trato gastrointestinal e também por via parenteral. Após a absorção, são rapidamente distribuídos pelos tecidos; 70% da dose administrada é prontamente eliminada da circulação portal pelo fígado. • Clínica da intoxicação aguda: os perigos envolvem comprometimento cardiovascular e depressão do sistema nervoso central (SNC). A síndrome neuroléptica maligna, que pode ser fatal, pode ocorrer mesmo com doses terapêuticas e após poucos dias de uso. Outros sinais e sintomas incluem sonolência, constrição da pupila, aumento ou diminuição da pressão arterial, batimentos cardíacos acelerados, dificuldade para urinar, boca seca, ausência de transpiração, sintomas neurológicos anormais, convulsões, coma, falha respiratória, prolongamento do intervalo QT, arritmias e desregulação da temperatura corpórea. Butirofenonas e Tioxantenos são classes de neurolépticos amplamente utilizados na psiquiatria. No grupo das Butirofenonas, incluem-se o droperidol (Droperidol), haloperidol (Haldol, Haloperidol), penfluridol (Semap), pimozide (Orap). Estes medicamentos exercem um forte antagonismo dopaminérgico central e têm uma baixa ação anticolinérgica. No grupo dos Tioxantenos, temos o tioxeno (Navane). 63TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 De maneira geral, esses medicamentos são bem absorvidos quando administrados por via oral, porém sofrem metabolização durante a passagem inicial pelo fígado. Eles têm uma alta ligação a proteínas plasmáticas. A metabolização ocorre no fígado e a eliminação é principalmente através da urina. • Clínica da intoxicação aguda: Sistema Nervoso Central (SNC): Rigidez e espasmos musculares, sintomas de pseudoparkinsonismo, distonias, acatisia, discinesia tardia persistente, agitação ou depressão, cefaleia, confusão, vertigem, síndrome neuroléptica maligna. Sistema Cardiovascular (SCV): Hipotensão ortostática, taquicardia. • Antidepressivos Tricíclicos: os antidepressivos tricíclicos (ADT) são conhecidos por seu potente efeito sedativo e são amplamente utilizados no tratamento da depressão melancólica e, em alguns casos, da depressão atípica. Exemplos de ADT incluem: • Amitriptilina (Tryptanol, Limbitrol) • Amineptina (Survector) • Imipramina (Tofranil) • Nortriptilina (Motival) Esses medicamentos são rapidamente absorvidos quando administrados por via oral e apresentam uma alta ligação a proteínas plasmáticas. Eles passam por metabolismo no fígado e sua eliminação ocorre principalmente pelos rins ao longo de vários dias. Os efeitos adversos dos derivados da fenotiazina podem incluir tontura, comprometimento da função cognitiva, fraqueza, fadiga, desencadeamento de psicose ou mania, tremores, aumento do apetite, ganho de peso, sudorese, dor de cabeça, boca seca, constipação, retenção urinária, visão turva e agravamento do glaucoma. Na clínica da intoxicação aguda por derivados da fenotiazina, podem ser observados sintomas como letargia, coma ou convulsões, frequentemente acompanhados por prolongamento do intervalo QRS no eletrocardiograma (ECG). Inicialmente, pode ocorrer excitação seguida de coma, com subsequente depressão respiratória, diminuição dos reflexos (hiporreflexia), hipotermia e hipotensão. Além disso, os efeitos anticolinérgicos podem ser proeminentes. 2.2 Anticonvulsionantes • Barbitúricos: os depressores não seletivos do sistema nervoso central (SNC) têm efeitos que incluem a depressão do córtex sensorial, redução da atividade motora 64TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 e alteração da função cerebelar. Sua ação, principalmente quando combinada, é capaz de potencializar a ação inibitória sináptica mediada pelo GABA. Esses medicamentos não possuem efeito analgésico. Eles podem induzir uma gama de efeitos, desde excitabilidade e sedação leve até incoordenação motora e coma profundo. Em doses terapêuticas elevadas, podem resultar em anestesia. O uso prolongado pode levar ao desenvolvimento de tolerância e dependência. Divididos em três grupos conforme o início e a duração dos efeitos: • Duração curta: Pentobarbital, Secobarbital; • Duração intermediária: Amobarbital, Butabarbital; • Duração longa: Fenobarbital, Mefobarbital, Prominal. • Clínica da intoxicação aguda: sintomas de depressão do sistema nervoso central (SNC) e cardiovascular podem incluir coma e uma variedade de manifestações. • SNC: Sonolência, letargia, confusão, delírio, dificuldade na fala, diminuição ou perda de reflexos, ataxia, nistagmo (movimentos involuntários dos olhos), hipotermia e depressão respiratória. • Sistema Cardiovascular (SCV): Hipotensão, taquicardia e potencial desenvolvimento de choque. • Gastrointestinal: diminuição do tônus e motilidade, podendo ocorrercompactação de comprimidos. Complicações graves podem levar ao óbito devido à insuficiência cardiorespiratória ou à depressão dos centros medulares vitais. • Carbamazepina: são anticonvulsivantes com discretos efeitos sedativos, utilizados no tratamento da neuralgia do trigêmeo. A absorção desses medicamentos por via oral é lenta e irregular, e eles possuem propriedades anticolinérgicas que podem causar diminuição da motilidade intestinal. São metabolizados no fígado e excretados principalmente pela urina, com uma pequena quantidade eliminada pelas fezes. A utilização prolongada desses medicamentos pode resultar em uma variedade de reações colaterais e secundárias, tais como diplopia (visão dupla), distúrbios visuais, sonolência, parestesias (sensações anormais na pele), distúrbios de equilíbrio, leucopenia (diminuição de glóbulos brancos), neutropenia, erupções cutâneas, entre outros. Exemplos de nomes comerciais desses anticonvulsivantes incluem: Tegretol, Tegretard. 65TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 A clínica da intoxicação aguda por esses medicamentos inclui distúrbios neurológicos causados pela depressão do sistema nervoso central (SNC), tais como: • Ataxia (falta de coordenação motora) • Nistagmo (movimentos oculares involuntários) • Oftalmoplegia (paralisia dos músculos oculares) • Midríase (pupila dilatada) • Taquicardia sinusal (aumento da frequência cardíaca) Em casos mais graves, a intoxicação pode evoluir para: • Mioclonias (contrações musculares rápidas e involuntárias) • Convulsões • Coma • Parada respiratória Esses sintomas refletem o impacto significativo desses medicamentos no sistema nervoso central e cardiovascular durante a intoxicação aguda. • Fenitoínas: são medicamentos utilizados há muito tempo como anticonvulsivantes e, mais recentemente, via parenteral, no tratamento de distúrbios do ritmo cardíaco. A absorção por via oral é lenta e irregular, especialmente em grandes doses, podendo ser ainda mais demorada. Esses medicamentos são metabolizados no fígado e excretados principalmente pelos rins. Exemplos de nomes comerciais de fenitoínas incluem: Epelin, Fenitoína, Dialudon, Hidantal. A clínica da intoxicação aguda por fenitoínas apresenta os seguintes sintomas: • Nistagmo, que inicialmente é horizontal e depois pode tornar-se vertical. • Sonolência progressiva. • Ataxia (falta de coordenação motora). • Diplopia (visão dupla). • Disartria (dificuldade na articulação das palavras). • Tremores. • Distúrbios do comportamento. • Confusão mental. • Náuseas, vômitos. • Hirsutismo (crescimento excessivo de pelos). 66TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 Coma profundo não é comum na intoxicação aguda por fenitoínas. São consideradas reações de hipersensibilidade, que podem incluir eritema multiforme, síndrome de Stevens- Johnson, febre, doença do soro, discrasias sanguíneas e insuficiência renal. Também podem ocorrer reações paradoxais, como aumento das convulsões sem outros sinais de intoxicação aguda. A toxicidade cardíaca é frequente após infusão intravenosa rápida ou ingestão de doses muito grandes, e pode manifestar-se como arritmias, bradicardia sinusal, fibrilação atrial, bloqueio incompleto do ramo direito e hipotensão arterial. Casos mais graves podem evoluir para fibrilação ventricular, assistolia e óbito. • Ácido Valproico: o ácido valproico e o valproato de sódio são medicamentos sintéticos que não possuem relação química com a maioria dos anticonvulsivantes. Exemplos de nomes comerciais incluem: Depakene, Valpakine, Valprin. A absorção por via oral é rápida, com os níveis máximos no sangue geralmente alcançados entre 1 a 4 horas após a ingestão. Esses medicamentos têm uma ligação significativa às proteínas plasmáticas. Eles são metabolizados no fígado e excretados principalmente pelos rins. Clínica da intoxicação aguda: a clínica da intoxicação aguda por ácido valproico e valproato de sódio pode incluir os seguintes sintomas neurológicos e complicações: • Distúrbios neurológicos como confusão mental, sonolência intensa, torpor e coma. • Hiperatividade, movimentos mioclônicos (contrações musculares rápidas e involuntárias) e convulsões. Embora rara, a evolução fatal pode ocorrer devido à depressão respiratória e parada cardíaca, especialmente em casos graves de intoxicação aguda. Intoxicação crônica: o uso crônico de ácido valproico está associado ao desenvolvimento de hepatotoxicidade e à Síndrome de Reye em alguns casos. Os distúrbios hepáticos podem variar desde uma simples elevação dos níveis de transaminases sem sintomas até quadros mais graves caracterizados pela Síndrome de Reye. Este quadro inclui necrose hepática centrolobular, hiperamonemia e encefalopatia. Além disso, também foi descrita hepatite tóxica fulminante e irreversível em casos de intoxicação grave por ácido valproico, sem apresentação da Síndrome de Reye. 67TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 Crianças com menos de 2 anos, especialmente aquelas submetidas a terapia anticonvulsivante múltipla que inclui ácido valproico, têm maior risco de desenvolver lesão hepática. O tratamento desses casos inclui a interrupção imediata da droga e medidas sintomáticas e de suporte para o manejo da hepatotoxicidade e complicações hepáticas. 2.3 Descongestionantes • Descongestionantes Nasais: os descongestionantes nasais tópicos, que apresentam riscos de intoxicação aguda, geralmente contêm um agente simpatomimético isolado ou em combinação com anti-histamínicos e antibióticos. Eles são utilizados para promover a vasoconstrição e reduzir o edema e a congestão das mucosas nasal e ocular. O uso desses medicamentos deve ser controlado em pacientes com hipertensão, diabetes e hipertireoidismo. O uso crônico desses descongestionantes pode causar congestão de rebote nas mucosas, o que significa que o sintoma original de congestão nasal pode piorar após a interrupção do medicamento. Alguns dos simpatomiméticos mais comuns encontrados nesses produtos são: • Oximetazolina (Afrin). • Fenoxazolina (Aturgil). • Nafazolina. • Tirotricina (Efedran, Nasoinstil). • Cloreto de sódio, benzalcônio (Rinosoro, Sorinal, Nasoflux, Sorine). • Nafazolina, difenidramina, neomicina (Penetran, Alergotox Nasal, Suspirin). • Outros agentes também podem estar presentes em diferentes formulações. É importante seguir as orientações médicas e as instruções de uso para evitar complicações decorrentes do uso excessivo ou prolongado desses medicamentos nasais. Clínica da intoxicação aguda: a intoxicação aguda pode ocorrer por ingestão ou aplicação nasal de doses excessivas. No caso da nafazolina, a intoxicação, que é a mais comum, pode provocar náuseas, vômitos, dores de cabeça, rubor facial, sudorese, irritabilidade, inquietação, aumento da pressão arterial e problemas cardíacos como extra- sístoles e outras arritmias. Em casos graves, pode ocorrer depressão do sistema nervoso central (SNC), hipotermia, bradicardia, dilatação das pupilas, sonolência, coma e problemas respiratórios, como respiração irregular ou bradipneia com episódios de apneia. Em 68TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 lactentes pequenos, podem ocorrer reações de aparente hipersensibilidade após aplicação tópica de doses normais do medicamento, resultando em sonolência, letargia e respiração lenta durante algumas horas. • Descongestionantes Sistêmicos: conhecidos também como antigripais, são amplamente utilizados no tratamento de resfriados, gripes e infecções das vias aéreas superiores. Apesar de suas formulações variadas, a maioria inclui simpatomiméticos e anti-histamínicos. Alguns exemplos de descongestionantes sistêmicos e seus principais componentes são: triprolidina, pseudoefedrina (Actifedrin); pirilamina, cloridrato de efedrina (Benegrip); clorfeniramina, vitamina C (Benegrip Xarope Infantil); clorfeniramina, metoxifenamina (Cheracap); cinarizina, fenilefrina, pentoxiverina (Coldrin); dextroclorfeniramina, cloridrato de fenilefrina(Coristina D); cloridrato de fenilefrina, carbinoxamina (Gripenil); maleato de dimetindeno, trietilrutina, vitamina C, paracetamol, cloridrato de fenilefrina (Trimedal); Bialerge; Descon; Naldecon. A intoxicação é comum, principalmente em crianças, devido ao uso generalizado e à falsa impressão de segurança. Apesar das doses relativamente baixas dos componentes, intoxicações graves podem ocorrer. Casos de abuso para obtenção de efeitos psíquicos e sensoriais também são relatados. A absorção pelo trato gastrointestinal é irregular, com metabolismo hepático e intestinal, e excreção renal. • Clínica da intoxicação aguda: o quadro tóxico varia conforme a composição relativa dos simpatomiméticos e anti-histamínicos. Os distúrbios causados por doses excessivas dos principais componentes incluem: sonolência, dores de cabeça, tonturas, vômitos, taquicardia ou bradicardia, palpitações, bloqueio A-V, hipertensão arterial, tremores, distúrbios neuropsíquicos como inquietação, irritabilidade, agressividade, confusão mental, convulsões, alucinações e até quadros paranoides. 2.4 Testes de toxidade Testes de toxicidade são realizados em animais com novos fármacos para identificar riscos potenciais antes de sua administração em humanos. Esses testes abrangem diversas espécies e envolvem a aplicação do fármaco por longos períodos, com monitoramento contínuo de anomalias fisiológicas e bioquímicas. Ao término dos experimentos, os animais são submetidos a exames detalhados para detectar qualquer anomalia geral ou histológica. Esses testes utilizam doses muito superiores aos limites terapêuticos esperados para determinar quais tecidos ou órgãos podem ser alvos de efeitos tóxicos do fármaco. Testes de recuperação são realizados para avaliar a reversibilidade dos efeitos tóxicos, com 69TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 atenção especial para mudanças irreversíveis, como carcinogênese e neurodegeneração. A premissa é que os efeitos tóxicos observados em animais sejam semelhantes aos que poderiam ocorrer em humanos. No entanto, há variações significativas entre espécies, especialmente nas enzimas que metabolizam fármacos. Isso significa que um metabólito tóxico formado em uma espécie pode não ser formado em outra, tornando os testes de toxicidade em animais nem sempre modelos confiáveis. Um exemplo é o pronetalol, o primeiro antagonista de receptor β-adrenérgico sintetizado, que não foi desenvolvido devido à carcinogênese em camundongos. Posteriormente, descobriu-se que a carcinogênese ocorria apenas na linhagem testada, mas outros β-bloqueadores já estavam em desenvolvimento. Os efeitos tóxicos podem variar de insignificantes a extremamente graves, podendo impedir o desenvolvimento futuro do composto. Níveis intermediários de toxicidade são mais aceitáveis em fármacos destinados a doenças graves (como AIDS ou cânceres), e a decisão de prosseguir ou não com o desenvolvimento é frequentemente difícil. Quando o desenvolvimento continua, a segurança do fármaco deve ser monitorada, concentrando-se no sistema identificado como possível alvo de toxicidade pelos testes em animais. A segurança de um fármaco, que é o oposto da toxicidade, só pode ser confirmada com seu uso em seres humanos. 70 MECANISMOS GERAIS DE LESÃO E MORTE CELULAR INDUZIDAS POR TOXINAS3 TÓPICO TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 Concentrações elevadas de fármacos ou seus metabólitos podem causar necrose; entretanto, a morte celular programada é cada vez mais reconhecida como igualmente ou mais importante, especialmente na toxicidade crônica. A necrose envolve a desintegração das membranas celulares e o extravasamento de enzimas que acabam digerindo a célula. Por outro lado, a apoptose é um processo de morte celular programada em que as células ativam enzimas que degradam o DNA nuclear e as proteínas nucleares e citoplasmáticas (KUMAR, 2018). Metabólitos quimicamente reativos podem formar ligações covalentes com moléculas-alvo ou modificá-las por meio de interações não covalentes. O fígado tem um papel fundamental no metabolismo dos fármacos, expondo os hepatócitos a altas concentrações de metabólitos recém-formados. Além disso, os fármacos e seus metabólitos polares são concentrados no líquido tubular renal conforme a água é reabsorvida, fazendo com que os túbulos renais estejam expostos a concentrações mais altas do que outros tecidos. Além disso, os mecanismos vasculares renais são críticos na manutenção da filtração glomerular e vulneráveis a fármacos que interfiram no controle da contratilidade arteriolar aferente e eferente. Vários medicamentos hepatotóxicos também são nefrotóxicos, um exemplo é o paracetamol. Em consequência, lesões hepáticas ou renais são motivos comuns para o abandono do desenvolvimento de fármacos durante os testes de toxicidade, e os testes de patologia química de lesões hepáticas (em geral, devido aos níveis de transaminases medidos no plasma ou no soro sanguíneo) e função renal (geralmente pela concentração de creatinina) são rotineiros. 71 HEPATOTOXIDADE E NEFROTOXIDADE4 TÓPICO TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 Muitos medicamentos terapêuticos podem causar danos ao fígado, que se manifestam clinicamente como hepatite ou, em casos menos graves, apenas em alterações detectadas em testes laboratoriais (KATZUNG, 2023). O dano hepático induzido por medicamentos pode ser hepatocelular, refletido pelo aumento das transaminases oxaloacética (TGO) e pirúvica (TGP), ou colestático, evidenciado pelo aumento das bilirrubinas (especialmente da direta), fosfatase alcalina e gama-glutamil transferase (G-GT) (BERTOLAMI, 2005). De acordo com Bertolami (2005), existem seis tipos de alterações hepáticas induzidas por medicamentos: I. Reações de alta energia envolvendo as enzimas do citocromo P-450 podem perturbar a homeostase do cálcio intracelular, resultando na ruptura das fibrilas de actina na superfície dos hepatócitos e eventual lise celular. II. Medicamentos que afetam as proteínas de transporte na membrana canalicular podem interromper o fluxo biliar, ligando-se ou inativando a proteína exportadora de sais biliares. A ruptura dos filamentos de actina ocorre perto dos canalículos, especializados na excreção biliar. Esse processo causa colestase, mas geralmente provoca pouca agressão celular. Este mecanismo é comum na toxicidade hepática associada ao uso de fibratos. III. Os medicamentos são geralmente moléculas pequenas, portanto, raramente induzem respostas imunológicas. Contudo, durante a biotransformação, reações de alta energia podem formar produtos inativos, resultantes da ligação covalente dos medicamentos a enzimas. Essas moléculas, grandes o suficiente para servir como alvos imunológicos, podem migrar para a superfície dos hepatócitos e induzir a formação de anticorpos, levando à citotoxicidade mediada por anticorpos. 72TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 IV. Induzir respostas citolíticas diretas por células T pode desencadear uma cascata de eventos onde a resposta secundária das citocinas pode causar inflamação adicional e hepatotoxicidade mediada por neutrófilos. V. A morte celular programada (apoptose) pode ocorrer pela agressão imuno- mediada, com a destruição de hepatócitos pelas vias do TNF e da Fas. Estas funcionam como gatilho para a cascata de caspases, que levam à contração das células e fragmentação da cromatina nuclear. VI. Quando os medicamentos causam danos às mitocôndrias, seja por inativação ou ligação a enzimas respiratórias, ou ao DNA mitocondrial, isso desregula a oxidação dos ácidos graxos e a produção de energia celular. Como consequência, ocorre estresse oxidativo, acompanhado pelo aparecimento de metabolismo anaeróbico, acidose lática e acúmulo de triglicérides nas células, levando à esteatohepatite. A superdosagem de paracetamol continua sendo uma causa frequente de morte devido ao autoenvenenamento (KATZUNG, 2023). Quando em doses tóxicas, as enzimas que realizamas reações de conjugação habituais ficam saturadas, levando as oxidases de funções mistas a converterem o paracetamol no metabólito reativo N-acetil-p- benzoquinona imina (NAPBQI). A hepatotoxicidade do paracetamol é maior em pacientes cujas enzimas P450 foram ativadas, como no caso de consumo crônico e excessivo de álcool. O estresse oxidativo derivado da depleção do GSH é importante por levar à morte celular. A regeneração de GSH a partir de GSSG depende da disponibilidade de cisteína, de modo que sua disponibilidade intracelular pode ser um fator limitante. A acetilcisteína ou a metionina podem ser substituídas pela cisteína, aumentando a disponibilidade de GSH; são utilizadas no tratamento de pacientes com intoxicação por paracetamol. A nefrotoxicidade induzida por fármacos é uma situação clínica comum: AINE e inibidores da enzima conversora de angiotensina estão entre as causas mais frequentes de precipitação da insuficiência renal aguda, em geral, causada pelas principais ações farmacológicas desses fármacos. Os fármacos nefrotóxicos são frequentemente bem tolerados em indivíduos saudáveis, mas podem causar insuficiência renal em pessoas idosas ou crianças, ou naqueles com doença renal concomitante (KATZUNG, 2023). Portanto, é crucial monitorar a função renal dos pacientes que fazem uso de medicamentos potencialmente nefrotóxicos. Esses fármacos podem causar lesão renal aguda ou crônica, dependendo do nível de interferência do medicamento no tecido renal. A lesão renal aguda é caracterizada pela perda rápida e repentina da função dos rins, enquanto a lesão crônica é marcada pela perda gradual e irreversível da função renal (MELLO et al., 2021). O Quadro 1 apresenta os principais fármacos nefrotóxicos e seus respectivos mecanismos de nefrotoxicidade. 73TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 QUADRO 01: PRINCIPAIS FÁRMACOS NEFROTÓXICOS E SEUS RESPECTIVOS MECANISMOS DE NEFROTOXICIDADE Mecanismos de Nefrotoxidade Classe Terapêutica e Medicamentos Nefrite Intersticial Aguda Anti-hipertensivos (hidroclorotiazida, clortalidona, indapamida, furosemida, bumetanida, piretamida) Antibacterianos (sulfadiazina, sulfametoxazol, cefalosporinas, penicilinas, quinolonas, rifampicina) Antivirais (aciclovir, indinavir) Medicamento hipouricemiante (alopurinol) Anti-inflamatórios não esteroidais Contrastes radiológicos Medicamentos que atuam no trato gastrointestinal (ranitidina, omeprazol, pantoprazol, lansoprazol)Antineoplásico (cisplatina) Nefrite Instersticial Crônica Estabilizador do humor (lítio) Imunossupressores (ciclosporina, tacrolimus) Antineoplásicos (carmustite, semustite) Glomerulonefrite Antibacterianos (penicilinas) Estabilizador do humor (lítio) Anti-inflamatórios não esteroidais Antineoplásico (interferon alfa) Antibacterianos (aminoglicosídeos, rifampicina)Antivirais (cidofovir, tenofovir) Toxidade Tubular Renal Antifúngico (anfotericina B) Contrastes radiológicos Antineoplásicos (ciclofosfamida, cisplatina, lenalidomida, metotrexato) Microangiopatia Trombótica Imunossupressores (ciclosporina, tacrolimus) Antineoplásicos (bortezomibe, vincristina) Antiagregantes plaquetários (clopidogrel, ticlopidina) 74 Fármacos de diversas classes são detectados no ambiente aquático nos últimos anos, principalmente devido ao lançamento de esgoto não tratado ou à remoção incompleta durante as etapas de tratamento de esgoto. A presença desses compostos químicos, mesmo em baixas concentrações (na faixa de ng/L a µg/L), tem levantado preocupações sobre os impactos na biota aquática. Embora os efeitos na saúde humana, especialmente os relacionados à exposição crônica, ainda sejam pouco conhecidos ou controversos, os efeitos adversos sobre organismos aquáticos são cada vez mais reconhecidos. Fonte: SOUZA, Cássia Cabral. Ensaios toxicológicos aplicados à análise de águas contaminadas por fármacos. Eng Sanit Ambient, Ouro Preto, v. 25, n. 2, p. 217-228, abr. 2020. REFLITA Validação de metodologia analítica e estudo de estabilidade para quantificação sérica de paracetamol Neste estudo, foi proposto um método analítico para quantificação sérica do paracetamol utilizando espectrofotometria visível a 430 nm. O processo envolve a desproteinização da amostra, seguida pela reação do acetaminofeno com nitrito de sódio, formando 2,4-nitro-4-acetaminofenol, que assume uma coloração amarela em meio alcalino. Fonte: SEBBEN, Viviane Cristina et al. Validação de metodologia analítica e estudo de estabilidade para quantificação sérica de paracetamol. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Porto Alegre, v. 46, n. 2, p. 143-148, abr. 2010. SAIBA MAIS TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 Alteração da hemodinâmica Intraglomerular Anti-inflamatórios não esteroidais Contrastes radiológicos Imunossupressores (ciclosporina, tacrolimus) Nefrolitíase Antiepilépticos (topiramato, zonisamida) Mecanismos Desconhecidos Antivirais (atazanavir) Fonte: adaptado de Mello (2021). 75 As intoxicações por fármacos ocorrem com maior frequência do que muitas pessoas imaginam, sendo um problema recorrente, especialmente em serviços de emergência. Este fenômeno pode resultar de diversos fatores, incluindo uso inadequado de medicamentos, overdose acidental, interações medicamentosas inesperadas e até mesmo tentativas de autoenvenenamento. As situações de intoxicação por fármacos requerem atenção urgente devido aos riscos significativos à saúde do indivíduo, que podem incluir comprometimentos físicos graves, efeitos neurológicos e até óbito. A área da Toxicovigilância é importante à prevenção e gerenciamento dessas intoxicações. Ela é responsável por implementar ações que busquem reduzir ou eliminar a exposição a substâncias químicas perigosas, incluindo medicamentos. A Toxicovigilância visa identificar, avaliar e mitigar os riscos associados ao uso de fármacos e outras substâncias químicas, protegendo assim a saúde pública. Uma das principais funções da Toxicovigilância é reconhecer os efeitos tóxicos dos medicamentos. Isso envolve a identificação precoce dos sinais e sintomas de intoxicação, a análise das causas subjacentes e a implementação de medidas preventivas. Além disso, essa área se dedica à educação e conscientização dos profissionais de saúde e do público sobre os perigos potenciais dos medicamentos. Isso inclui fornecer informações sobre o uso seguro de medicamentos, a importância de seguir as dosagens prescritas e os riscos de automedicação. CONSIDERAÇÕES FINAIS TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 76 Prevenção de nefrotoxicidade por contraste com solução de bicarbonato - resultados preliminares e revisão da literatura Resumo Introdução: A ocorrência da nefropatia induzida por contraste tem aumentado concomitantemente com o aumento do uso deste para diagnóstico e tratamento. Sua prevalência na população em geral é reduzida, porém, cresce de maneira significativa em indivíduos com fatores de risco como diabetes e histórico prévio de doença renal. Diversas estratégias têm sido empregadas na tentativa de evitar a nefropatia por contraste. Hidratação com solução salina, contraste de baixa osmolaridade ou iso-osmolar e infusão de bicarbonato de sódio são consideradas as mais eficazes. Objetivo: O propósito deste estudo é examinar a literatura relevante sobre a prevenção da nefropatia por contraste e investigar inicialmente a eficácia da hidratação com bicarbonato de sódio a 1,3% comparada à hidratação com cloreto de sódio a 0,9% na prevenção da toxicidade renal por contraste em pacientes com alto risco de desenvolvê-la. Materiais e métodos: A literatura foi examinada através de uma pesquisa sistemática na base de dados PubMed utilizando os termos bicarbonato, nefrotoxicidade, contraste e insuficiência renal aguda. Além disso, foram incluídos 27 pacientes com diabetes mellitus e/ou doença renal crônica pré-existente, diagnosticados com câncer. Resultados: Nenhum dos pacientes apresentou nefropatia porcontraste, definida como um aumento de 0,5 mg/dL ou 25% na creatinina basal. Conclusão: A revisão da literatura indica fortemente que o uso de bicarbonato de sódio é eficaz na prevenção da nefropatia por contraste. Em relação ao estudo randomizado e controlado, tanto o soro fisiológico quanto o bicarbonato de sódio demonstraram eficácia semelhante na prevenção da toxicidade renal induzida por contraste. No entanto, devido ao número limitado de pacientes, conclusões definitivas não podem ser tiradas. Palavras-chave: meios de contraste, bicarbonato de sódio, insuficiência renal aguda, cloreto de sódio. Fonte: SILVA, Ricardo Gonçalves da et al. Prevenção de nefrotoxicidade por contraste com solução de bicarbonato - resultados preliminares e revisão da literatura. Jornal Brasileiro de Nefrologia, São José do Rio Preto, v. 3, n. 32, p. 292-302, 2010. LEITURA COMPLEMENTAR TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 77 MATERIAL COMPLEMENTAR FILME/VÍDEO • Título: Take your pills • Ano: 2018 • Sinopse: Este documentário vivencia os aspectos positivos e negativos de vários usuários de medicamentos controlados (como Adderall, Ritalin e Vyvanse). Mas não apenas sob a perspectiva desses usuários, a obra também aborda opiniões de especialistas no assunto. Enquanto assiste, o espectador também conhece os motivos que levaram essas pessoas a utilizarem as substâncias e a evolução do uso ao longo da trajetória de cada um. LIVRO • Título: Manual de Toxicologia Clínica • Autor: Kent R. Olson • Editora: Artmed • Sinopse: Manual de Toxicologia Clínica, 6ª edição, contém informações para o diagnóstico e tratamento de emergências relacionadas a fármacos e produtos químicos. Esta nova edição possui um índice abrangente com nomes genéricos, químicos e comerciais, tornando-se um recurso essencial para situações do dia a dia. TOXIDADE DOS FÁRMACOSUNIDADE 4 78 CONCLUSÃO GERAL Querido (a) aluno (a), As informações que compartilhei são fundamentais para o seu desenvolvimento profissional. Apesar de nem todas as interações medicamentosas serem prejudiciais, é importante estar ciente dos riscos ao combinar sem intenção prévia dois ou mais efeitos terapêuticos. Após concluir todas as unidades da nossa apostila de Interações Medicamentosas, concluímos que é muito difícil lembrar todas as possíveis combinações de medicamentos que podem causar interações. Também foi possível entender que as interações não acontecem apenas entre fármacos, mas podem ocorrer através do uso concomitante entre fármaco e etanol e até mesmo entre fármaco e nutrientes. A disseminação da informação sobre essas interações, especialmente entre os profissionais de saúde, e os danos que podem causar é fundamental para garantir a segurança dos pacientes. Neste cenário, é relevante realizar monitoramento farmacológico, especialmente em pacientes com maior predisposição, para aumentar os benefícios do tratamento com medicamentos e reduzir complicações decorrentes dessas combinações medicamentosas. Ao final deste material, você estará não apenas familiarizado com o conhecimento técnico e científico, mas também terá adquirido uma visão ampla e integrada, preparando- se para enfrentar os desafios complexos e interconectados encontrados na prática clínica. Assim, esta disciplina desempenha um papel importantíssimo na formação de profissionais capacitados a oferecer cuidados de saúde de alta qualidade, baseados em fundamentos sólidos, compreensão abrangente e um compromisso com a excelência profissional. Espero ter contribuído para o seu desenvolvimento. 79 REFERÊNCIAS AIZENSTEIN, M. L. Fundamentos para o uso Racional de Medicamentos. Grupo GEN, 2016. E-book. ISBN 9788595151710. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca. com.br/#/books/9788595151710/. Acesso em: 19 abr. 2024. AIZENSTEIN, Moacyr L. Fundamentos para o uso Racional de Medicamentos. Grupo GEN, 2016. E-book. ISBN 9788595151710. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca. com.br/#/books/9788595151710/. 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