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CAO – Crim 
Boletim Criminal Comentado n°142, 6/2021 
(semana nº 2) 
 Procurador-Geral de Justiça 
Mário Luiz Sarrubbo 
 
Secretário Especial de Políticas Criminais 
Arthur Pinto Lemos Junior 
 
Assessores 
Fernanda Narezi P. Rosa 
Ricardo José G. de Almeida Silvares 
Rogério Sanches Cunha 
Valéria Scarance 
Paulo José de Palma (descentralizado) 
Danilo Orlando Pugliesi (descentralizado) 
 
Artigo 28 e Conflito de Atribuições 
Marcelo Sorrentino Neira 
Manoella Guz 
Roberto Barbosa Alves 
Walfredo Cunha Campos 
 
Analistas Jurídicos 
Ana Karenina Saura Rodrigues 
Victor Gabriel Tosetto 
 
 
Boletim Criminal Comentado 142- Junho 
2021 
 
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SUMÁRIO 
ESTUDOS DO CAO-CRIM.......................................................................................................................3 
1-Tema: Agravo de Execução Penal- Indeferimento da inicial - Execução da multa.............................3 
2- Tema: Destinação de valores referentes a condenações penais e acordos......................................3 
3- Tema: Pacote Anticrime. Vetos derrubados. Existe vacatio legis para os dispositivos 
reincorporados?....................................................................................................................................4 
4- Tema: Lei 14.164/21: Altera a Lei 9.394/96 para incluir conteúdo sobre a prevenção da violência 
contra a mulher nos currículos da educação básica, e institui a Semana Escolar de Combate à 
Violência contra a Mulher.....................................................................................................................5 
STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM.......................................8 
DIREITO PROCESSUAL PENAL:...............................................................................................................8 
 1-Tema: Trâmite direto entre ministério público e polícia. Possibilidade?..........................................8 
DIREITO PENAL:.....................................................................................................................................9 
1-Tema: Agravamento de regime por uma só circunstância negativa se enquadra na 
discricionariedade do juiz.....................................................................................................................9 
2- Tema: Execução penal. Progressão de regime. Alterações promovidas pela Lei n. 13.964/2019 
(Pacote Anticrime). Diferenciação entre reincidência genérica e específica. Ausência de previsão dos 
lapsos relativos aos reincidentes genéricos. Lacuna legal. Integração da norma. Aplicação dos 
patamares previstos para os apenados primários. Retroatividade da lei penal mais benéfica. Tema 
1084....................................................................................................................................................11 
MP/SP: decisões do setor art. 28 do CPP............................................................................................14 
1-Tema: Revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial - confirmação............................14 
 
 
 
 
 
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ESTUDOS DO CAOCRIM 
1- Tema: Modelo de Agravo de Execução Penal- Indeferimento da inicial - Execução da multa 
Clique aqui 
 
2- Tema: Destinação de valores referentes a condenações penais e acordos. 
STF- DECISÃO DA ADPF N. 569/DF 
Em 1º. de junho de 2021, no julgamento da ADPF 569/DF, relatada pelo ministro Alexandre de 
Moraes, foi confirmada a decisão proferida liminarmente, em fevereiro de 2021, conforme segue: 
“que os valores ou bens provenientes dos efeitos da condenação criminal ou de acordos observem 
os estritos termos do art. 91 do Código Penal, do inciso IV do art. 4º da Lei 12850/13 e do inciso I do 
art. 7º da Lei 9613/98; CABENDO À UNIÃO a destinação de valores referentes a restituições, multas 
e sanções análogas decorrentes de condenações criminais, colaborações premiadas ou outros 
acordos realizados, desde que não haja vinculação legal expressa e ressalvado o direito de demais 
entidades lesadas; VEDANDO-SE que seus montantes sejam distribuídos de maneira vinculada, 
estabelecida ou determinada pelo Ministério Público, por termos de acordo firmado entre este e o 
responsável pagador, ou por determinação do órgão jurisdicional em que tramitam esses 
procedimentos”. - ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 569 DISTRITO 
FEDERAL 
Clique aqui para ter acesso a decisão 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
O Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça - CNPG, deliberando a respeito de estudo 
elaborado pelo Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal – GNCCRIM, 
ratificou a nota explicativa abaixo elaborada quando da decisão cautelar proferida pelo Ministro do 
Supremo Tribunal Federal, Rel. Alexandre de Moraes, em 10.2.2021, nos autos da ADPF no 569/DF, 
cuja determinação, ictu oculi, reclama esclarecimentos oportunos, a fim de que sejam 
expressamente decotados do respectivo decreto judicial os acordos de não persecução penal, as 
transações penais e as suspensões condicionais do processo. 
Clique aqui para ter acesso ao estudo. 
 
 
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Menu_Pecas/Execucao_pecas/Execucao_Pecas_Razoes/AGR%201009902-43.2020.8.26.0071%20-%20Indeferimento%20da%20inicial%20-%20execu%C3%A7%C3%A3o%20da%20multa.doc
http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15346592466&ext=.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/justicapenalnegociada/NOTA%20EXPLICATIVA%20GNCCRIM%2001-2021.pdf
 
 
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3- Tema: Pacote Anticrime. Vetos derrubados. Existe vacatio legis para os dispositivos 
reincorporados? 
O Pacote Anticrime, que trouxe diversas alterações na legislação penal e processual penal, foi 
encaminhado à sanção presidencial no final de 2019, convertendo-se na Lei 13.964/2019. 
O projeto de lei previa uma nova qualificadora do crime de homicídio (art. 121, § 2º, VIII, do CP), 
com a seguinte redação: 
 Art. 121. Matar alguém 
 §2º. Se o homicídio é cometido: 
 (...) 
 VIII- com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido 
 Pena- reclusão de 12 (doze) a 30 (trinta) anos 
 
Submetido ao crivo do Presidente da República, referido dispositivo legal, assim como diversos 
outros, foi vetado, em 24 de dezembro de 2019. 
A Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) entrou em vigor em 23 de janeiro de 2020. 
Os vetos foram encaminhados ao Parlamento em 26 de dezembro de 2020, mas, apenas quando 
transcorrido quase um ano e meio depois, o Congresso Nacional, no dia 19 de abril de 2021, 
derrubou o veto presidencial relacionado à nova qualificadora do homicídio (no total, foram 
derrubados 16 vetos). 
Derrubado o veto, houve a promulgação das partes vetadas da Lei 13.964/19 (inclusive referente à 
nova qualificadora), em 30 de abril de 2021. 
Com a promulgação, nasceu no ordenamento jurídico penal uma nova qualificadora do crime de 
homicídio. 
Mas o surgimento dessa qualificadora não se deu como lei autônoma e independente: ao contrário, 
como a qualificadora do homicídio estava inserida originariamente na Lei 13.964/19 (Pacote 
Anticrime), foi reincorporada ao referido diploma legislativo. 
Sendo reintroduzida a qualificadora à Lei 13.964/19, foi seguida a disposição geral dessa lei que 
trata do prazo da vacatio legis de 30 dias (art. 20 da Lei). 
 
 
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O prazo de 30 dias de vacância da lei contou-se da data da promulgação da nova qualificadora, qual 
seja, do dia 30 de abril de 2021. 
E qual o prazo que entrou então em vigor a nova qualificadora? 
Devemos seguir as prescriçõesdo art. 8º, § 1º da Lei Complementar n. 95/98, que estipula que a 
contagem do prazo para a entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância será 
procedida com a inclusão da data da publicação e do último dia de prazo, entrando em vigor no dia 
subsequente à sua consumação integral. 
Como a data da publicação da nova qualificadora ocorreu em 30 de abril de 2021, contando-se o 
prazo de trinta dias, a vacância se exauriu em 29 de maio de 2021, mas a norma penal só entrou em 
vigor no dia subsequente à consumação integral desse prazo, ou seja, no dia 30 de maio de 2021. 
Sendo assim, só poderão ser oferecidas denúncias por emprego de arma de fogo de uso restrito ou 
proibido relacionados a fatos ocorridos a partir do dia 30 de maio de 2021. 
Clique aqui para assistir o vídeo do autor do estudo, Dr. Walfredo Cunha Campos, assessor do PGJ 
com atuação no Setor do art. 28 do CPP. 
 
4- Tema: Lei 14.164/21: Altera a Lei 9.394/96 para incluir conteúdo sobre a prevenção da 
violência contra a mulher nos currículos da educação básica, e institui a Semana Escolar de 
Combate à Violência contra a Mulher. 
Prevê o art. 8º., IX, da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) a inserção, nos conteúdos programáticos 
de todos os níveis escolares, do ensino sobre direitos humanos, envolvendo, ainda, noções sobre a 
igualdade entre as pessoas e a abordagem da violência contra a mulher. 
Sempre alertamos que a tarefa não seria fácil e certamente levaria tempo para se perceber a 
importância da norma programática em comento. Os cursos de Direito que, prioritariamente, 
deveriam abordar os direitos humanos, ainda ignoram, em sua maioria, essa disciplina em seus 
currículos. Com efeito, o Conselho Nacional de Educação e a Câmara de Educação Superior 
editaram a Res. 9, de 29 de setembro de 2004, na qual estabelecem dois eixos para o curso de 
graduação em Direito: um de formação fundamental e outro de formação profissional. Em nenhum 
deles é feita qualquer menção ao ensino dos direitos humanos. Na prática, aproveitam-se as aulas 
de direito constitucional para que, de passagem, se teçam alguns comentários sobre tão relevante 
tema. 
A justificativa para essa postura do Estado vem bem apanhada por Antônio Alberto Machado, ao 
advertir que “essa política de massificação do ensino jurídico explica também a natureza da grade 
https://mpspbr.sharepoint.com/:v:/s/g_caocrim/Ef1AlyWhsPtHtDORYXsl1X0B0bKGTy-GHuUd2ZK-oZpIqg?e=vcMZTq
 
 
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curricular das faculdades de direito que tendem a privilegiar matérias e disciplinas tecnológicas, em 
detrimento daquelas que apresentam um conteúdo mais humanitário e reflexivo. Tais opções 
curriculares podem ser entendidas até mesmo como parte da estratégia de despolitização do 
jurista e atrofia do seu senso crítico”.1 
Ora, se o curso de direito vem dando pouca importância à disciplina que aborda os direitos 
humanos, o que se aguardar dos demais cursos de ensino superior e mesmo dos currículos 
escolares, por exemplo, do ensino fundamental? 
Lembremos, ainda, que a Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, tornou obrigatória, nos 
estabelecimentos de ensino fundamental e médio, a inclusão de disciplina versando sobre História 
e Cultura Afro-Brasileira. 
Quanto à violência doméstica, projetos tramitavam na Câmara dos Deputados, no sentido de 
alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para a inclusão de matéria com conteúdos 
relacionados à prevenção de todas as formas de violência, inclusive a doméstica e familiar, contra 
mulher, crianças e adolescentes, desde o ensino básico. Agora temos a norma. A Lei 14.164/21, 
vigente desde a data da sua publicação, anuncia: 
Art. 1º O art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educacao 
Nacional), passa a vigorar com a seguinte redação: 
"Art. 26. ................................................................................................................. 
§ 9º Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção de todas as formas de violência 
contra a criança, o adolescente e a mulher serão incluídos, como temas transversais, nos currículos 
de que trata o caput deste artigo, observadas as diretrizes da legislação correspondente e a 
produção e distribuição de material didático adequado a cada nível de ensino. 
................................................................................................................................" (NR) 
Art. 2º Fica instituída a Semana Escolar de Combate à Violência contra a Mulher, a ser realizada 
anualmente, no mês de março, em todas as instituições públicas e privadas de ensino da educação 
básica, com os seguintes objetivos: 
I - contribuir para o conhecimento das disposições da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei 
Maria da Penha); 
II - impulsionar a reflexão crítica entre estudantes, profissionais da educação e comunidade escolar 
sobre a prevenção e o combate à violência contra a mulher; 
 
1. Ministério Público – Democracia e ensino jurídico. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 109. 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/394701353/art-1-da-lei-14164-21
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11691973/artigo-26-da-lei-n-9394-de-20-de-dezembro-de-1996
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035083/lei-de-diretrizes-e-bases-lei-9394-96
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035083/lei-de-diretrizes-e-bases-lei-9394-96
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035083/lei-de-diretrizes-e-bases-lei-9394-96
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/394701347/art-2-da-lei-14164-21
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/394701341/art-2-inc-i-da-lei-14164-21
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/394701334/art-2-inc-ii-da-lei-14164-21
 
 
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III - integrar a comunidade escolar no desenvolvimento de estratégias para o enfrentamento das 
diversas formas de violência, notadamente contra a mulher; 
IV - abordar os mecanismos de assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar, 
seus instrumentos protetivos e os meios para o registro de denúncias; 
V - capacitar educadores e conscientizar a comunidade sobre violência nas relações afetivas; 
VI - promover a igualdade entre homens e mulheres, de modo a prevenir e a coibir a violência 
contra a mulher; e 
VII - promover a produção e a distribuição de materiais educativos relativos ao combate da 
violência contra a mulher nas instituições de ensino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/394701329/art-2-inc-iii-da-lei-14164-21
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/394701324/art-2-inc-iv-da-lei-14164-21
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/394701320/art-2-inc-v-da-lei-14164-21
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/394701315/art-2-inc-vi-da-lei-14164-21
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/394701310/art-2-inc-vii-da-lei-14164-21
 
 
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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM 
DIREITO PROCESSUAL PENAL: 
1-Tema: Inquérito policial. Trâmite direto entre ministério público e polícia. Possibilidade? 
PESQUISA PRONTA- STJ 
No julgamento do RHC 88.570, a Sexta Turma afirmou que, "nos termos da jurisprudência do 
STJ, admite-se o trâmite direto do inquérito entre o órgão acusador e a polícia, em atenção ao 
princípio da duração razoável do processo". O recurso é da relatoria do ministro Sebastião Reis 
Júnior. 
Clique aqui 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
Apesar de o artigo 10 do CPP determinar a remessa do inquérito concluído ao juiz competente, há 
tempos crescente doutrina vem sustentando que o disposto no § 1°, nesse tanto, nãoteria sido 
recepcionado pela Constituição em vigor que, ao adotar francamente o sistema acusatório (art. 
129, inc. I da CF), não mais cogitou dessa intermediação. 
Seria permitido, assim, o trâmite direto do inquérito policial entre polícia e Ministério Público. É 
nesse sentido que vem se posicionando a jurisprudência. 
Deve ser lembrado que a Lei 13.964/19, ao mesmo tempo que introduziu no nosso ordenamento o 
juiz das garantias, fomentou o trâmite direto do inquérito policial entre polícia e Ministério Público. 
Ressalvada a hipótese do indigitado preso, foi essa a tese que norteou o legislador no PACOTE 
ANTICRIME, como se percebe da leitura dos arts. 3º.-A e ss, todos suspensos liminarmente pelo STF 
no julgamento das ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305. 
Se e quando implantado esse sistema, não haverá mais discussão: o trâmite será direto entre a 
polícia e o Ministério Público, como determina a lei. De tal forma que, elaborado o relatório, ao 
invés da remessa dos autos “ao juiz competente”, como previsto no § 1° acima, o inquérito será 
enviado diretamente ao “parquet”. O mesmo deverá ocorrer em pedidos de prorrogação do prazo 
de conclusão do inquérito de indigitado solto. 
 
 
 
https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisa_pronta/toc.jsp?livre=@docn=%27000007008%27
 
 
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DIREITO PENAL: 
1-Tema: Agravamento de regime por uma só circunstância negativa se enquadra na 
discricionariedade do juiz 
STJ- PUBLICADO EM NOTÍCIAS DO STJ 
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu o entendimento de que a 
presença de uma única circunstância judicial negativa pode justificar o agravamento do regime 
inicial de cumprimento da pena e a vedação da pena substitutiva, a depender da análise do 
caso pelo julgador. 
Segundo o relator, ministro Sebastião Reis Júnior, a lei reservou uma margem de 
discricionariedade para o magistrado, que, considerando o tamanho da pena e alguma das 
circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do Código Penal, pode manter ou agravar o 
regime inicial de cumprimento, bem como avaliar se a substituição por penas restritivas de 
direitos é cabível no caso, diante dos critérios do artigo 44, III. 
Acompanhando o voto do relator, o colegiado negou os embargos de divergência opostos por 
um condenado por crime de responsabilidade contra acórdão da Quinta Turma, o qual – 
mesmo excluindo duas das três circunstâncias negativas e reduzindo a pena para dois anos, 
cinco meses e dez dias – manteve o regime inicial semiaberto e a vedação da pena substitutiva. 
Nos embargos, a defesa alegava que a Sexta Turma teria solução diversa para casos em que há 
apenas uma circunstância negativa, com julgados nos quais não se agravou o regime inicial, 
nem se vedou a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos. 
Discricionariedade 
O ministro Sebastião Reis Júnior lembrou que o artigo 33, parágrafo 3º, do Código Penal dispõe 
que a determinação do regime inicial de cumprimento da pena observará os critérios 
estabelecidos no artigo 59, ou seja, terá por base as circunstâncias judiciais. 
"O que se verifica é um espaço conferido pelo legislador à discricionariedade do magistrado, 
que, considerando a pena e as circunstâncias judiciais, deve fixar um regime mais adequado ao 
apenado, de modo a individualizar a pena", declarou. 
Diante da existência de circunstância judicial avaliada negativamente na primeira fase do 
cálculo da pena – ressaltou o ministro –, a jurisprudência do STJ tem considerado válidos tanto 
"o agravamento do regime inicial de pena para aquele imediatamente mais gravoso" como a 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm#art59
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm#art44
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm#art33%C2%A73
 
 
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fixação do regime com base no tamanho da pena, conforme a escala prevista na legislação, 
"ainda que a segunda solução seja bem menos usual, pois geralmente verificada quando a 
conclusão da instância ordinária é no sentido da suficiência do regime estipulado". 
Individualização da pena 
Segundo o ministro, o mesmo entendimento pode ser verificado com relação à substituição da 
prisão por penas restritivas de direitos. 
Ele apontou que, além dos pressupostos objetivos previstos nos incisos I e II do artigo 44 do 
Código Penal, o legislador conferiu um espaço de discricionariedade ao magistrado, 
especificadamente no inciso III (requisito subjetivo), estabelecendo a necessidade de serem 
consideradas as circunstâncias judiciais para se verificar se a substituição da pena é 
recomendável ou suficiente no caso. 
Ao rejeitar os embargos de divergência, o relator afirmou que a orientação adotada no acórdão 
da Quinta Turma – pela legalidade do recrudescimento do regime e da vedação da pena 
substitutiva com base na valoração negativa do vetor culpabilidade – e aquela extraída dos 
julgados da Sexta Turma não se excluem, mas coexistem na jurisprudência do STJ, pois 
encontram guarida na discricionariedade que a lei assegura ao magistrado e estão em 
harmonia com o princípio da individualização da pena. 
O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial. 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
O art. 59 do Código Penal estabelece diversas circunstâncias que o juiz deve analisar na primeira 
fase de aplicação da pena, oportunidade em que se impõe a pena-base. Partindo dos patamares 
abstratamente cominados para o crime – em sua forma simples ou qualificada –, o juiz considera 
fatores importantes para a individualização da pena: culpabilidade, antecedentes, conduta social, 
personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime e comportamento da 
vítima. 
Mas sempre que o juiz optar por aumentar a pena se baseando em alguma circunstância do art. 59 
é imprescindível que demonstre concretamente o fundamento para a exasperação. Não é 
suficiente que simplesmente se refira à “maior culpabilidade” ou que somente mencione as 
consequências do crime, pois estas referências genéricas impedem que se diferenciem as 
circunstâncias supostamente mais graves daquelas inerentes ao tipo penal e que já são 
consideradas pelo legislador para a cominação da pena abstrata. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art33%C2%A72
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm#art44i
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm#art44iii
 
 
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A lei não estabelece parâmetros específicos para o aumento da pena-base pela incidência de 
alguma circunstância de gravidade, mas, respeitados os limites mínimo e máximo abstratamente 
cominados ao delito, convencionou-se que o aumento pode consistir em 1/6 (um sexto) para cada 
circunstância negativa. E, também aqui, para que o juiz imponha aumento maior deve explicar por 
que as circunstâncias são ainda mais graves: 
“O entendimento desta Corte firmou-se no sentido de que, na falta de razão especial para afastar 
esse parâmetro prudencial, a exasperação da pena-base, pela existência de circunstâncias judiciais 
negativas, deve obedecer à fração de 1/6, para cada circunstância judicial negativa. O aumento de 
pena superior a esse quantum, para cada vetorial desfavorecida, deve apresentar fundamentação 
adequada e específica, a qual indique as razões concretas pelas quais a conduta do agente 
extrapolaria a gravidade inerente ao teor da circunstância judicial.” (AgRg no HC 460.900/SP, j. 
23/10/2018). 
 
2- Tema: Execução penal. Progressão de regime. Alterações promovidas pela Lei n. 13.964/2019 
(Pacote Anticrime). Diferenciação entre reincidência genérica e específica. Ausência de previsão 
dos lapsos relativos aos reincidentes genéricos. Lacuna legal. Integração da norma. Aplicaçãodos 
patamares previstos para os apenados primários. Retroatividade da lei penal mais benéfica. 
Tema 1084. 
INFORMATIVO 699- STJ - RECURSOS REPETITIVOS 
É reconhecida a retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V, da Lei n. 13.964/2019, 
àqueles apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem resultado 
morte, não sejam reincidentes em delito de natureza semelhante. 
Informações do Inteiro Teor: 
A Lei n. 13.964/2019, intitulada Pacote Anticrime, promoveu profundas alterações no marco 
normativo referente aos lapsos exigidos para o alcance da progressão a regime menos gravoso, 
tendo sido expressamente revogadas as disposições do art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072/1990 e 
estabelecidos patamares calcados não apenas na natureza do delito, mas também no caráter da 
reincidência, seja ela genérica ou específica. 
Evidenciada a ausência de previsão dos parâmetros relativos aos apenados condenados por crime 
hediondo ou equiparado, mas reincidentes genéricos, impõe-se ao Juízo da execução penal a 
integração da norma sob análise, de modo que, dado o óbice à analogia in malam partem, é 
imperiosa a aplicação aos reincidentes genéricos dos lapsos de progressão referentes aos 
sentenciados primários. 
 
 
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Ainda que provavelmente não tenha sido essa a intenção do legislador, é irrefutável que de lege 
lata, a incidência retroativa do art. 112, V, da Lei n. 7.210/1984, quanto à hipótese da lacuna legal 
relativa aos apenados condenados por crime hediondo ou equiparado e reincidentes genéricos, 
instituiu conjuntura mais favorável que o anterior lapso de 3/5, a permitir, então, a retroatividade 
da lei penal mais benigna. 
Dadas essas ponderações, a hipótese em análise trata da incidência de lei penal mais benéfica ao 
apenado, condenado por estupro, porém reincidente genérico, de forma que é mister o 
reconhecimento de sua retroatividade, dado que o percentual por ela estabelecido - qual seja, de 
cumprimento de 40% das reprimendas impostas -, é inferior à fração de 3/5, anteriormente exigida 
para a progressão de condenados por crimes hediondos, fossem reincidentes genéricos ou 
específicos. 
Desse modo, para os fins previstos no art. 1.036 do Código de Processo Civil, fixa-se a seguinte tese: 
É reconhecida a retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V, da Lei n. 13.964/2019, 
àqueles apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem resultado 
morte, não sejam reincidentes em delito de natureza semelhante. 
Processo: REsp 1.910.240-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 
26/05/2021, DJe 31/05/2021. (Tema 1084) 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
Levando em conta a finalidade reeducativa da pena, a progressão de regime consiste na execução 
da reprimenda privativa de liberdade de forma a permitir a transferência do condenado para 
regime menos rigoroso (mutação de regime), desde que cumpridos determinados requisitos. 
A disciplina da progressão de regime foi bastante alterada pela Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime), 
que reuniu no art. 112 da Lei de Execução Penal oito incisos nos quais são detalhadas as regras para 
que condenados possam gradativamente retomar sua liberdade. 
A mudança na disciplina da matéria tem levado a alguns questionamentos a respeito das frações de 
pena que devem ser cumpridas, especialmente nos casos de indivíduos reincidentes condenados 
pela prática de crimes hediondos. 
Até a edição da Lei 13.964/19, a progressão de regime em crimes hediondos e equiparados era 
disciplinada na própria Lei 8.072/90. O condenado tinha de cumprir 2/5 da pena, se primário, ou 
3/5, se reincidente. Como a lei não explicitava que a reincidência devia ser em crime hediondo, o 
STJ havia firmado a orientação de que, reincidente o condenado, a fração de cumprimento era de 
3/5 independentemente da natureza do crime. 
 
 
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Atualmente, no entanto, os incisos do art. 112 da LEP que tratam da progressão do condenado por 
crime hediondo são expressos sobre a reincidência específica nessa espécie de crime. Há uma 
lacuna em relação ao reincidente não específico, isto é, que cumpre pena por crime hediondo, mas 
que tenha sido condenado antes por infração penal de outra natureza. 
A Terceira Seção do STJ firmou a orientação de que o condenado por crime hediondo que seja 
reincidente só deve cumprir a fração maior para a progressão se a reincidência for específica. Caso 
contrário, deve cumprir a fração correspondente ao condenado primário, tendo em vista que a lei 
não traz regra própria para sua situação: 
“A Lei n. 13.964/2019, intitulada Pacote Anticrime, promoveu profundas alterações no marco 
normativo referente aos lapsos exigidos para o alcance da progressão a regime menos gravoso, 
tendo sido expressamente revogadas as disposições do art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072/1990 e 
estabelecidos patamares calcados não apenas na natureza do delito, mas também no caráter da 
reincidência, seja ela genérica ou específica. 
Evidenciada a ausência de previsão dos parâmetros relativos aos apenados condenados por crime 
hediondo ou equiparado, mas reincidentes genéricos, impõe-se ao Juízo da execução penal a 
integração da norma sob análise, de modo que, dado o óbice à analogia in malam partem, é 
imperiosa a aplicação aos reincidentes genéricos dos lapsos de progressão referentes aos 
sentenciados primários. 
Ainda que provavelmente não tenha sido essa a intenção do legislador, é irrefutável que de lege 
lata, a incidência retroativa do art. 112, V, da Lei n. 7.210/1984, quanto à hipótese da lacuna legal 
relativa aos apenados condenados por crime hediondo ou equiparado e reincidentes genéricos, 
instituiu conjuntura mais favorável que o anterior lapso de 3/5, a permitir, então, a retroatividade 
da lei penal mais benigna. 
Dadas essas ponderações, a hipótese em análise trata da incidência de lei penal mais benéfica ao 
apenado, condenado por estupro, porém reincidente genérico, de forma que é mister o 
reconhecimento de sua retroatividade, dado que o percentual por ela estabelecido – qual seja, de 
cumprimento de 40% das reprimendas impostas -, é inferior à fração de 3/5, anteriormente exigida 
para a progressão de condenados por crimes hediondos, fossem reincidentes genéricos ou 
específicos. 
Desse modo, para os fins previstos no art. 1.036 do Código de Processo Civil, fixa-se a seguinte tese: 
É reconhecida a retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V, da Lei n. 13.964/2019, 
àqueles apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem resultado 
morte, não sejam reincidentes em delito de natureza semelhante” (REsp 1.910.240/MG, j. 
26/05/2021). 
 
 
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MP/SP: decisões do setor do art. 28 do CPP 
1-Tema: Revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial - confirmação 
 
 
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, ART. 28 
Autos n.º 1500xxx-6x.202x.8.26.04x8– MM. Juízo da 3ª Vara da Comarca de Penápolis 
Autora do fato: C.E.S. 
Assunto: revisão de pedido de arquivamento de inquérito policial - confirmação 
 
 
Cuida-se de procedimento investigatório instaurado para apurar suposto crime de 
homicídio doloso tentado (art. 121, caput, na forma do art. 14, II, do CP) perpetrado por C.E.S., 
tendo por vítima C.C.A.S., fato este ocorrido no dia 3 de janeiro de 2020, por volta das 22 horas e 30 
minutos, à Rua Doutor Mario Sabino, Bairro Jardim, na cidade e comarca de Penápolis. 
Segundo narra o boletim de ocorrência de fls. 3 e 4, a indiciada C. e a vítima C.C. tiveram 
uma discussão, e a indiciada, utilizando-se de um punhal, desferiu um golpe nas costas da ofendida, 
que foi socorrida, recebendo atendimento médico pronto e eficaz, o que impediu a consumação do 
crime. 
Ângela M.V.A., mãe da vítima, afirmou que em contato com as testemunhas Leiae Talita 
soube que sua filha, após uma discussão com a indiciada, foi atingida por um punhal, sendo 
socorrida até o hospital e, submetida à cirurgia, se restabeleceu (fls. 6). 
G.M.G., prima da vítima C.C., relatou que sua prima era amásia de Rodolfo, vulgo “Tatão”; a 
vítima teria apurado que o seu amásio estaria mantendo “um caso” com a indiciada C.E.. No dia do 
ocorrido, a ofendida foi até a casa da indiciada “para tirar satisfação”; a ofendida C.C. mandou, 
antes, uma mensagem em áudio para a testemunha relatando que “tinha achado” a indiciada, e 
 
 
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que ela estava com uma faca na mão. Logo depois, a vítima mandou outra mensagem em áudio 
dizendo que tinha sido atingida. No pronto socorro, onde a vítima estava sendo atendida, em 
conversa com ela, lhe foi relatado que havia sido atingida pela indiciada. Soube que o 
desentendimento entre indiciada e ofendida ocorreu porque a autora estaria mantendo uma 
relação amorosa com Rodolfo, que era amásio da vítima. Não presenciou, contudo, os fatos (fls. 7). 
T.F.S., testemunha presencial, disse que, no dia dos fatos, em conversa com a vítima, ela lhe 
relatou que o amásio dela estaria mantendo uma relação amorosa com a indiciada; ouviu uma 
conversa de telefone entre a indiciada e a vítima, onde as duas trocavam ofensas. A ofendida lhe 
pediu uma “carona” para leva-la até a casa da indiciada. C.C. desceu da moto, que era conduzida 
pela testemunha Talita, na frente da casa da indiciada; neste momento, observou a indiciada C. E. 
com um punhal na mão; a vítima foi ao encontro da indiciada e foi atingida por um golpe de punhal. 
A indiciada teria tentado correr atrás da vítima, mas foi impedida pelo irmão dela (irmão da 
indiciada). Conduziu a vítima C.C. até o hospital, onde passou por cirurgia. Afirma que, no local dos 
fatos, não houve discussão entre vítima e indiciada, e que a indiciada teria “partido para a 
agressão” (fls. 8). 
C.C.A.S., vítima, esclareceu ser amásia de R.S., vulto “Tatão”; disse que “clonou” o celular 
de R., apurando que a indiciada C.E. estaria mantendo um relacionamento amoroso com seu 
amásio; encontrou as imagens da indiciada, que não conhecia antes, no próprio celular de Rodolfo. 
Chegou a ligar para a indiciada, trocando ofensas com ela. Dirigiu-se até a casa da indiciada porque 
tinha a intenção de mostrar as mensagens trocadas entre C.E. e R. Quando chegou, acompanhada 
de uma amiga, na casa da autora, C.E. já veio ao seu encontro, com um punhal na mão; afirma que 
virou para correr e foi atingida nas costas; correu e foi perseguida pela indiciada (fls. 9). 
R.E.S., irmão da indiciada, asseverou que no dia do ocorrido sua irmã estava recebendo 
ameaças, via celular, da vítima; a ofendida dizia que “iria pegar” (a indiciada). Algum tempo depois, 
a vítima foi até a casa da indiciada, desceu da motocicleta em que era a garupa; sua irmã ficou 
desconfiada que a indiciada estivesse armada; a vítima então atravessou a rua e “já foi para cima de 
C.E.; não viu sua irmã agredindo a vítima. Soube que o desentendimento entre as duas era por 
“causa de homem” (fls. 10). 
 
 
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Em seu interrogatório, a indiciada negou possuir relacionamento amoroso com Rodolfo, 
embora mantivesse contato com ele, por telefone. Recebeu, algum tempo antes dos fatos, ligações 
da vítima, proferindo ofensas contra si, porque ela (indiciada) estaria mantendo relacionamento 
amoroso com o marido dela (marido da ofendida). Foi ameaçada, dizendo a ofendida que “iria lhe 
pegar”. No dia do ocorrido, sua mãe ligou, por volta das 19 horas, e lhe contou que havia três 
moças na frente da casa dela (de sua mãe) “fazendo escândalo”; às 20 horas, a vítima lhe ligou 
dizendo que estava nas proximidades e que “daquele dia não passaria”. Por volta das 22 horas, viu 
a vítima na frente da casa; saiu para conversar com ela, mas “achou por bem pegar um punhal”; 
quando saiu, a ofendida C. já veio para cima, segurando e apertando seu pescoço; para se 
defender, desferiu um golpe contra a vítima, nas costas. Negou ter, depois do primeiro golpe, 
perseguido a vítima. Afirma, por fim, ter agido para se defender (fls. 11/12). 
Foram anexados prints de conversas por WHATSAPP, entre vítima e indiciada (fls. 17/21). 
M.F.E.S., mãe da indiciada, relatou que, no dia do ocorrido, por volta das 19 horas, estava 
na casa da vizinha O., quando três moças, na frente da casa da indiciada, passaram a gritar por C.E.. 
Uma delas dizia “eu sei que ela está aí dentro, eu sei que ela tá andando com meu marido”. Ligou 
então para sua filha para relatar o ocorrido. No dia seguinte, soube por sua filha que a vítima teria 
avançado contra ela e a segurado no pescoço, dizendo que “furou a menina com um canivete”, 
para se defender (fls. 22). 
Laudo de exame de corpo de delito de fls. 23/24, constando que a ofendida sofreu 
ferimento corto-contundente na região dorsal (fls. 24). 
O.B.S., vizinha da indiciada, informou ter ouvido, no dia do ocorrido, por volta das 20 horas, 
xingamentos de pessoas, dizendo “sai para fora, vagabunda, biscate, você tá dentro e não quer me 
atender”; presenciou a mãe da indiciada F. dizendo àquelas pessoas que sua filha não se 
encontrava lá; mesmo assim, as moças continuavam a xingar. Fátima ligou para a indiciada 
relatando o que estava acontecendo. A depoente saiu de sua casa, e quando voltou, por volta das 
22 horas, viu as mesmas moças na frente da casa da indiciada, e as três estavam, mais uma vez, 
xingando a autora. Não presenciou a agressão (fls. 32). 
 
 
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M.C.T.D., cunhada da indiciada, trouxe aos autos, em seu depoimento, que no dia dos fatos 
soube pela indiciada que três moças estavam lhe procurando, em sua casa, xingando-a. Por volta 
das 22 horas, uma moça chamou a indiciada para que saísse de sua casa; presenciou essa mulher 
descer da garupa de uma motocicleta. A vítima se aproximou da indiciada, como se quisesse agredi-
la; disse não ter presenciado o resto, porque seu filho pequeno começou a chorar e teve que o 
auxiliar. Algum tempo depois, a indiciada C.E. disse que tinha dado uma “cutucada” na vítima, 
porque tinha ficado com medo de ser agredida (fls. 33). 
Novamente ouvida, a mãe da vítima Â.M.V.A. informou que sua filha estaria morando na 
Bolívia e que ela “gostaria que este procedimento fosse arquivado” (fls. 42). 
Reprodução simulada dos fatos, encartada com fotos, a fls. 50/59. 
Relatado o inquérito policial (fls. 63/64), o Culto Promotor de Justiça requereu 
esclarecimentos e o retorno à delegacia de polícia (fls. 67/68). 
Novamente ouvida, G.M.G. confirmou seu depoimento anterior e disse que não possui mais 
as mensagens trocadas com a vítima, sua prima (fls. 73). 
R.E.S., mais uma vez ouvido, relatou que segurou sua irmã, a indiciada, após o golpe 
desferido contra a vítima, porque pensou que ela pudesse ir atrás da ofendida (fls. 74). 
O Douto Promotor de Justiça promoveu o arquivamento dos presentes autos de inquérito 
policial, após minucioso e detalhado relatório de todas as investigações, por fixar a compreensão 
de que estariam presentes todos os requisitos legais para o reconhecimento da legítima defesa (fls. 
78/87). 
O Douto Magistrado, contudo, dissentiu, reputando que os fatos deveriam ser melhor 
aclarados durante a instrução criminal, encaminhando o expediente a esta Procuradoria-Geral de 
Justiça, nos termos do art. 28 do CPP (fls. 88/89). 
Eis a síntese do necessário. 
 
 
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Com a máxima vênia do Culto Magistrado, razão assiste ao Douto Promotor de Justiça ao 
promover o arquivamento da investigação criminal. 
Pelo que se depreende de todos os elementos informativos coligidos a dinâmica dos fatos é 
a seguinte: a vítima descobriu que seu marido matinha um relacionamento extraconjungalcom a 
indiciada; conseguiu o telefone dela, e passou a xingá-la e ameaçá-la, como demonstram os prints 
das conversas por WhatsApp; além disso, passou a perseguir a vítima, indo até a residência dela, e 
produzindo algazarra e escândalo, em duas oportunidades, acompanhada de duas amigas. Não 
contente, voltou, uma terceira vez à casa da vítima, xingando-a novamente, e exigindo que a autora 
saísse da residência. Evidente que a versão de que a vítima pretendia apenas conversar com a 
indiciada para mostrar as conversas mantidas entre a indiciada e seu marido (da ofendida) não é 
verossímil, afinal, a vítima poderia acessar e remeter, por print de celular, tais conversas à 
investigada (até porque, segundo a própria vítima, ela teria clonado o celular de seu marido R.). A 
intenção, ao que parece, era mesmo, ao se dirigir com tanta insistência até a casa da indiciada, a de 
xingar e agredir a investigada, e não manter qualquer conversação, ou “mostrar” singelamente 
mensagens de celular. 
A vítima e a testemunha T.F. asseveraram que a indiciada teria agredido a ofendida nas 
costas, quando a vítima tentava correr; essa versão, contudo, é rechaçada pela indiciada, e pelo 
irmão desta, os quais, na reprodução simulada dos fatos, mencionam que as agressões se iniciariam 
por parte da ofendida, e não da investigada; compreensivelmente, cada uma das partes, e as 
testemunhas por elas indicadas, sustentam a narrativa que melhor viesse atender aos seus 
interesses, que, in casu, são antagônicos. 
No entanto, apesar desse aparente contrachoque insuperável de versões, certo que, como 
bem referido pelo Ilustre Promotor de Justiça, há fatos que são incontroversos: 
1º- a vítima xingava e ameaçava a indiciada; 
2º- a vítima, acompanhada de duas pessoas, compareceu, em três oportunidades, na casa 
da indiciada, xingando-a escandalosamente, e exigindo que saísse; 
 
 
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Nesse contexto, parece mais verossímil a versão de que a vítima teria iniciado a agressão 
contra a indiciada, a qual apenas se defendeu, usando do meio necessário (um punhal), 
moderadamente (um golpe). Afinal, não parece crível que a ofendida, tantas vezes e com tanta 
insistência, tivesse ido à casa da indiciada, senão por interesse de agredi-la, até porque 
aparentemente estava tomada de ira, quando soube que seu marido mantinha um relacionamento 
amoroso com a investigada. 
Diante desse quadro probatório, não há, de fato, justa causa para se iniciar a persecução 
penal em Juízo, com o peso de uma imputação de crime doloso contra a vida, porquanto a 
finalidade de uma investigação escorreita e detalhada como a documentada nestes autos é a de 
justamente evitar acusações penais em juízo temerárias, com elementos de convicção dúbios e 
incertos. 
Não se desconhece, é claro, que, sendo os fatos controvertidos - podem ter ocorrido ou 
não - deve-se iniciar a persecução penal em juízo; todavia, quando a prova é lacunosa e 
contraditória, e a versão do próprio investigado não é infirmada por qualquer outro elemento de 
persuasão, não há porque deixar de acolhê-la. 
Quanto à questão do ferimento nas costas, é perfeitamente possível que, havendo uma 
contenda, uma luta, entre as partes, durante as agressões, a vítima possa ser atingida nas costas 
(sem significar, contudo, que o golpe tenha sido desferido pelas costas). 
Ademais, a agressão - segundo o relato da indiciada - desferida pela vítima, com um 
capacete e depois com um tapa contra a investigada, pelo próprio movimento do corpo da 
ofendida necessário às agressões, possibilitaria que fosse atingida, em repulsa, pela indiciada, na 
parte lateral do seu corpo ou mesmo no dorso (da vítima). 
Como explica Walfredo Cunha Campos, na obra Tribunal do Júri, Teoria e Prática2: 
 
2 Walfredo Campos, Tribunal do Júri, Teoria e Prática, 7ª edição, 2021, Editora Mizuno, páginas 262/263. 
 
 
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“Ao juiz se impõe o dever de cotejar o arcabouço probatório 
coligido - normalmente através do inquérito policial - com a 
proposta acusatória vazada na petição inicial (denúncia ou queixa). 
Não basta perscrutar, apenas, a respeito da tipicidade do fato - 
normalmente o que menos esforço exige - necessário, ainda, 
pesquisar se o fato é ilícito, pois podem já existir evidências, no 
caderno inquisitivo, por exemplo, de que o indiciado tenha agido 
em legítima defesa ou estado de necessidade, situações essas que 
autorizam - e por uma questão de justiça - conclamam a rejeição da 
peça acusatória, por falta de justa causa. 
(...) 
O recebimento, às cegas, de uma denúncia - sem se aquilatar de sua 
solidez probatória - pode acarretar, além de um gasto inútil de 
recursos públicos, outro efeito mais grave ainda: a violação da 
dignidade da pessoa humana, um dos princípios fundadores do 
nosso ordenamento jurídico (art. 1º, III, da CF), impondo, ao 
acusado, que não mereceria ocupar o banco dos réus, as agruras do 
mais longo, demorado e complexo de todos os processos criminais 
que é o processo do Júri. Afinal, qual o sentido de se processar 
alguém por homicídio se se apurou - a toda evidência - que agiu, 
por exemplo amparado pela legítima defesa?!”. 
 
Num contexto tal, conclui-se que a promoção de arquivamento não é desarrazoada e 
alicerça-se em razoável leitura dos elementos de convencimento contidos no bojo do caderno 
investigatório. 
 
 
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Dessa sorte, eventual ação penal estaria, de fato, fadada à improcedência. Não se 
identifica justa causa para a propositura de ação penal, no caso concreto. 
Esta Procuradoria-Geral de Justiça, em situações tais, tem considerado a valoração dos 
elementos de prova feita pelo Promotor de Justiça natural, sempre que razoável e em consonância 
com o conteúdo do caderno investigatório, para reafirmar o princípio da independência funcional. 
Ante o exposto, sempre com a renovada vênia do Culto Magistrado, insiste-se na promoção 
de arquivamento formulada, por seus próprios e jurídicos fundamentos, com as ressalvas do art. 
18, do Código de Processo Penal. 
São Paulo, 28 de maio de 2021. 
 Mário Luiz Sarrubbo 
 Procurador-Geral de Justiça

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