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Simone Pereira Machado CHOQUE A hipoperfusão tecidual pode estar presente na ausência de hipotensão. Choque seria a associação de hipotensão com anormalidades relacionadas a hipoperfusão tecidual. É um sintoma e sua causa base deve ser identificada e tratada FISIOPATOLOGIA DO CHOQUE A ABORDAGEM DO ENFERMEIRO NOS ESTADOS DE CHOQUE INCLUI PELO MENOS SETE PROCEDIMENTOS: Controlar a glicemia capilar Verificar o monitor multiparamêtrico Coletar exames laboratoriais Realizar oxigenoterapia Verificar a dor e realizar o controle Determinar o decúbito, sempre de acordo com o tipo de choque (hipovolêmico, cardiogênico e circulatório) Realizar acesso venoso calibroso CHOQUE HIPOVOLÊMICO CHOQUE HIPOVOLÊMICO - DEFINIÇÃO Ocorre quando o volume intravascular é depletado em razão de hemorragia, vômitos, diarréia, desidratação e perdas para o terceiro espaço. A principal causa é a hemorragia por trauma – as manifestações clínicas decorrem da perda > a 40% do volume plasmático. Todo doente vítima de trauma e hipotenso até prova contrária está hipovolêmico. O tratamento da causa base é primordial e muitas vezes com intervenção cirúrgica de urgência. O objetivo terapêutico é a restauração do volume intravascular e da perfusão/oxigenação tecidual. TRAUMA T R A U M A TRAUMA ACIDENTES TRAUMÁTICOS PERDA DE SANGUE MAIOR 40% ↓ PRÉ CARGA REDUÇÃO DO RETORNO VENOSO TAQUICARDIA ↓ PERFUSÃO CORAÇÃO E CÉREBRO Hipotensão e queda do DC ADRENALINA e CORTISOL PELE FRIA E PEGAJOSAPALIDEZ CUTANEO-MUCOSA OLIGÚRIA CONFUSÃO MENTAL QUADRO CLÍNICO E HEMODINÂMICO PAS < 90 mmHg/ PAM > 65 mmHg PVC baixa PCP baixa RVS elevada Índice cardíaco baixo História de vômito, diarréia ou trauma Hipotensão Taquicardia Palidez cutânea,enchimento capilar lento e pulsos finos Sudorese fria Taquipnéia → insuficiência respiratória Oligúria/Anúria Alterações do estado de consciência – agitação, confusão, sonolência ou coma. PERDA ESTIMADA DE VOLUME BASEADA NA CONDIÇÃO INICIAL DO DOENTE classe I classe II classe III classe IV PERDA SANGUE (ml) ATÉ 750 ml 750-1500 ml 1500-2000 ml >2000 ml PERDA SANGUE (%) ATÉ 15% 15-30% 30-40% >40% PULSO <100 >100 >120 >140 P.A. normal Normal ou pouco ↓ <80 mmHg < 70mmHg PRESSÃO DE PULSO Normal ou aumentada diminuida diminuida diminuida F.R. 14-20 20-30 30-40 >40 DIURESE >30ml/h 20-30ml/h 5-15ml/h despresível ESTADO MENTAL Normal ou ansioso ansioso confuso letárgico REPOSIÇÃO VOLÊMICA Cristalóide Cristalóide Cristalóide e sangue Cristalóide e sangue TRATAMENTO Visa a reposição volêmica o mais rápido possível. Atenção para idosos e cardiopatas. Empiricamente repõe-se 3 ml de solução eletrolítica para cada 1 ml de perda estimada. Ringer lactato é preferível, pois em casos de grandes volumes o SF 0,9% pode causar acidose hiperclorêmica . Está contra-indicado o uso de soluções glicosadas. A expansão com colóides (albumina e hidroxietilamido) mostrou-se tão benéfica quanto os cristalóides, porém de maior custo. Sempre que possível deve-se usar sangue tipo específico, caso contrário usa-se tipo “O” negativo. Inicialmente estão contra-indicadas drogas vasoativas ficando reservada para os casos sem resposta a reposição de volume. CHOQUE CARDIOGÊNICO CHOQUE CARDIOGÊNICO - DEFINIÇÃO Falência do coração como bomba devido disfunção do músculo cardíaco A principal causa é o infarto do miocárdio – estima-se que seja necessário a perda de 40% da massa ventricular para a instalação do choque. A mortalidade gira em torno de 70-80%. Outras causas são miocardites, cardiomiopatias, doença de Chagas, doenças valvares, arritmias, etc. O tratamento da causa base é primordial e a correção do distúrbio deve ser feita tão logo haja condições clínicas. A angioplastia é o melhor tratamento para o IAM. QUADRO CLÍNICO E HEMODINÂMICO PAS < 90 mmHg PCP > 18 mmHg Índice cardíaco baixo < 2,2 l/min/m² RVS elevada Acentuada redução da fração de ejeção do VE Hipotensão Taquicardia Palidez cutânea, enchimento capilar lento e pulsos finos Sudorese fria Taquipnéia e insuficiência respiratória Sinais de Congestão Pulmonar – estertores pulmonares Turgência jugular Alterações do estado de consciência – agitação, confusão, sonolência ou coma. TRATAMENTO Suporte circulatório mecânico com balão intra-aórtico CHOQUE OBSTRUTIVO CHOQUE OBSTRUTIVO - DEFINIÇÃO OCORRE EM SITUAÇÕES EM QUE EXISTE OBSTRUÇÃO MECÂNICA AO ENCHIMENTO OU ESVAZIAMENTO DO CORAÇÃO. Tamponamento pericárdico/cardíaco Embolia pulmonar Pneumotórax hipertensivo O alívio da obstrução é o único tratamento possível. A manutenção do volume intravascular é fundamental para o tratamento, podendo temporariamente melhorar o débito cardíaco e a hipotensão. As drogas inotrópicas e vasopressoras tem pouca importância no tratamento final. PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO Presença de ar sob pressão na cavidade pleural que leva ao colapso pulmonar e de estruturas vizinhas. Ocorre devido a lesão de vias aéreas de maior calibre e lacerações do parênquima pulmonar. Forma-se um mecanismo valvular onde o ar entra na cavidade pleural na inspiração e não sai na expiração devido à elasticidade da parede da lesão. O ar se acumula e a hipertensão pleural desvia e comprime o mediastino, o coração,o pulmão contralateral e os vasos sanguíneos. Evolução rápida para insuficiência respiratória e choque. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO O quadro é de instalação rápida e de extrema gravidade, cujas medidas devem ser tomadas de imediato, sem exames complementares. Dor torácica Dispnéia intensa e cianose Desvio da traquéia a nível cervical Desvio do ictus cardíaco Murmúrio vesicular abolido Hipertimpanismo à percussão Turgência jugular Hipotensão arterial e taquicardia Ocasionalmente enfisema sub-cutâneo TAMPONAMENTO PERICÁRDICO/CARDÍACO Acúmulo de líquido ou sangue no saco pericárdico de forma rápida com elevação da pressão que promove compressão das câmaras cardíacas e restrição diastólica. Ocorre devido a: Trauma torácico aberto ou fechado Infiltração neoplásica Pós cirurgia cardíaca Doenças auto-imunes Hipotireoidismo Insuficiência renal com uremia Processos infecciosos agudos QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO A instalação do quadro varia de acordo com a etiologia. O diagnóstico diferencial é feito com pneumotórax hipertensivo Na maioria dos casos também não há tempo para exames complementares. Tríade de Beck – choque, turgência jugular e hipofonese de bulhas. Dispnéia intensa e palidez cutânea Acentuação do pulso paradoxal (> 15 mmHg) Elevação da pressão venosa na inspiração (sinal de Kussmaul) ECG mostra complexos QRS de baixa voltagem Rx Tx mostra ↑da área cardíaca em forma de “moringa” Ecocardiograma mostra líquido no pericárdio e sinais de restrição diastólica ECOCARDIOGRAMA DERRAME PERICÁRDICO TRATAMENTO EMBOLIA PULMONAR É a impactação de material dentro dos ramos do leito arterial pulmonar e que na maioria das vezes são coágulos sanguineos provenientes dos MMII e pelve, podendo ser também em decorrência de céls neoplásicas, gotículas de gordura, líquido amniótico e bolhas de ar. Fatores de maior risco são: Idade avançada Cirurgia ortopédica de bacia, quadril e MMII Politraumatismo Grande queimado História prévia de TVP/TEP Internações prolongadas QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO Obstrução aguda do leito vascular pulmonar com sobrecarga e falência do VD. Quadro de início súbito Dor torácica, dispnéia e hemoptise. Tosse seca e sudorese fria. Taquicardia e hiperfonese de B2 Arritmia supraventricular e ventricular Síncope e morte súbita. Redução do MV na área afetada Estertores pulmonares Menos frequentemente o atrito pleuralCINTILOGRAFIA PULMONAR RAIO X TÓRAX TRATAMENTO A terapêutica específica visa desobstruir o leito pulmonar, seja por medicação ou cirúrgicamente. Dobutamina reduz a pressão capilar pulmonar devido vasodilatação. Para a dissolução do trombo podemos dispor rt-PA em 2 horas (Alteplase,Actilyse). Heparinização plena deve ser mantida após terapia fibrinolítica por no mínimo 5 dias. Anticoagulação oral com warfarin. Embolectomia a céu aberto ou por cateter. CHOQUE DISTRIBUTIVO CHOQUE DISTRIBUTIVO DEFINIÇÃO Os quadros distributivos são aqueles em que existe uma inadequação entre demanda tecidual e oferta local de oxigênio devido a alterações do tônus e/ou da permeabilidade vascular. Tem como seu exemplo clássico o choque séptico. Infecção – invasão tecidual por microorganismo que determina lesão local por ação direta e sistêmica (endotoxinas). Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) – sinais de uma resposta inflamatória generalizada caracterizada por taquipnéia, taquicardia e alteração da temperatura. Sepse – foco infeccioso + SIRS Choque séptico – hipotensão arterial severa não responsiva a volume, necessitando uso de vasopressores podendo levar a SDMO QUADRO CLÍNICO E HEMODINÂMICO NA SEPSE PAS < 90 mmHg PVC normal ou baixa PCP baixa ou normal RVS baixa Índice cardíaco ↑, normal ou ↓ FASE INICIAL OU HIPERDINÂMICA (CHOQUE QUENTE) Extremidades quentes e ruborecidas PA normal ou discretamente reduzida Taquicardia e pulsos amplos Febre e sintomas constitucionais gerais Taquipnéia e alcalose respiratória Confusão mental Débito urinário normal QUADRO CLÍNICO E HEMODINÂMICO NA SEPSE FASE AVANÇADA OU HIPODINÂMICA (CHOQUE FRIO) Extremidades frias e vasoconstrição arterial PA muito baixa Taquicardia e pulsos filiformes Insuficiência respiratória Acidose metabólica Obnubilação progressiva e coma Débito urinário reduzido TRATAMENTO NA SEPSE Antibioticoterapia de amplo espectro Identificação e tratamento específico do foco infeccioso, com intervenção cirúrgica precoce se necessário. Reposição volêmica intensiva com cristalóides e colóides. Hb e Ht normais para manter a oferta de O2. Noradrenalina – droga de escolha para elevar PA e RVS. Dobutamina – usada quando há sinais de comprometimento da função do VE. Oxigenação adequada através de suporte ventilatório mecânico. Terapia dialítica se necessário Suporte nutricional adequado QUADRO CLÍNICO E TRATAMENTO EM OUTRAS FORMAS O choque neurogênico ocorre em decorrência de trauma raquimedular, anestesias peridurais ou raquidianas, lesões extensas do SNC e por drogas bloqueadoras autonômicas. Hipotensão com bradicardia. TRM - extremidades quentes acima da lesão e frias abaixo e diversas alterações sensitivo-motoras. Responde a infusão rápida de cristalóides. Menos frequentemente usa-se noradrenalina e atropina. Pode ser necessário o uso de marcapasso cardíaco temporário se não houver resposta às drogas. CLASSIFICAÇÃO DO CHOQUE EM FUNÇÃO DOS PERFIS HEMODINÂMICOS Tipos de Choque PCP DC RVS Cardiogênico Hipovolêmico Distributivo Obstrutivo Tamponamento cardíaco Embolia Pulmonar ↑ ↓ ↓ ou normal ↑ ↓ ou normal ↓ ↓ ↓, normal, ↑ ↓ ↓ ↑ ↑ ↓ ↑ ↑ DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM PARA PACIENTES EM ESTADO DE CHOQUE Perfusão tecidual ineficaz Alteração do débito cardíaco Deficiência do volume de líquidos e eletrólitos Padrão respiratório ineficaz Comprometimento da troca gasosa Comprometimento da ventilação espontânea Comprometimento da mobilidade física Nutrição desequilibrada: Menor que as necessidades corporais Dor aguda Medo e ansiedade