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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA NEUROPSICOLOGIA ............................... 4 
3 PSICOLOGIA COGNITIVA ....................................................................... 21 
3.1 Pesquisas em neuropsicologia cognitiva ............................................ 22 
3.2 Síndrome de gerstmann ..................................................................... 24 
3.3 Limitações .......................................................................................... 25 
3.4 Complexidade das funções cognitivas ............................................... 26 
4 DESENVOLVIMENTO HUMANO, ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL DO 
CÉREBRO E APRENDIZAGEM NO PENSAMENTO DE LURIA E DE VYGOTSKY 32 
5 LOCALIZACIONISMO............................................................................... 39 
5.1 A questão da localização das funções cerebrais ................................ 42 
5.2 Unidades funcionais de luria .............................................................. 47 
5.3 Neuropsicologia cognitiva e neurociências ......................................... 51 
5.4 Neuropsicologia e a natureza complexa............................................. 53 
5.5 Suposições teóricas ........................................................................... 56 
5.6 Suposição da modularidade ............................................................... 58 
5.7 A complexidade e os processos superiores ....................................... 58 
6 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA ....................................................... 60 
6.1 Aplicações .......................................................................................... 69 
6.2 Instrumentos brasileiros para avaliação neuropsicológica ................. 70 
7 O PAPEL DO NEUROPSICÓLOGO ......................................................... 72 
7.1 Neuroimagem ..................................................................................... 75 
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 77 
9 BIBLIOGRAFICA ...................................................................................... 80 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno 
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta 
, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse 
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. 
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão 
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA NEUROPSICOLOGIA 
 
Fonte: elianemiotto.com.br 
Sabe-se que o campo da psicologia é um conglomerado de teorias e métodos, 
oriundo de diferentes vertentes filosóficas, sociais e científicas. 
Atualmente, a história da psicologia pode ser traçada a partir de quatro 
diferentes vias: 
 Gnosiologia, 
 Psicopatologia 
 Romantismo 
 Neurologia. 
A via gnosiológica está associada à história clássica e mais conhecida da 
psicologia. O termo epistemologia é muitas vezes usado no sentido gnosiológico 
(gênese psicológica do conhecimento individual) pela influência anglo-saxônica, mas 
também é usado no sentido francês de filosofia da ciência (lógica do conhecimento). 
A história, por essa via, apresenta o desenvolvimento da psicologia como o 
estudo do intelecto e das relações entre intelecto e emoção. 
 O grande avanço desta via foi a difusão do método experimental para o estudo 
do intelecto e das emoções em sua gênese e expressão, a grande contribuição foi os 
estudos da aprendizagem. 
 
5 
 
A segunda via é claramente fisiológica e médica e tem por objetivo 
compreender e tratar as desordens psicopatológicas do intelecto e das emoções. 
O grande debate deste percurso ocorreu entre as explicações orgânicas e 
funcionais para as doenças mentais, com suas respectivas terapêuticas. A grande 
contribuição foi a psicoterapia. 
A terceira via também concentrou seus esforços no estudo do intelecto e das 
emoções, mas marcou sua contribuição no desenvolvimento de métodos alternativos 
ao método científico clássico, a saber, os métodos compreensivos ou interpretativos. 
A grande contribuição foi no campo da relação ética entre o pesquisador e os seus 
dados. A quarta via, ainda não tão desenvolvida nos compêndios de história da 
psicologia, caracterizou-se pelo estudo da relação entre distúrbios da fala e lesões 
cerebrais. A principal contribuição foi o estudo e o tratamento da afasia, e o debate 
sobre localização das funções cerebrais. 
 No momento, esta via está sinalizando para uma importante revisão nas 
relações entre psicologia e biologia e para novas possibilidades na integração entre 
psicologia experimental e psicologia clínica. 
As quatro vias mencionadas tiveram desenvolvimentos simultâneos, 
influenciando e opondo-se umas às outras, com pontos de intersecção aqui e ali, mas 
com impactos distintos em períodos distintos. 
O funcionalismo comportamental e o funcionalismo psicanalítico, 
representantes das duas primeiras vias, alcançaram destaque importante na primeira 
metade do século XX, sendo que a psicanálise avançou nas décadas seguintes, 
principalmente nos anos 70 e 80, graças ao impulso da psicanálise francesa. 
A terceira via teve sua vez nos agitados anos 60, deixando um legado ético 
importante que hoje sustenta os argumentos básicos da bioética. 
A quarta via vai incorporar importantes elementos da primeira via, é sensível 
aos argumentos da terceira via, e vai se constituir na mais importante contribuição da 
psicologia da segunda metade do século XX, que é neurocognição. 
O reconhecimento dos desenvolvimentos simultâneos de debates e avanços 
psicológicos deve-se muito à proeminência de uma determinada questão em um 
determinado tempo. 
Segundo Hearnshaw disse que por mais surpreendente que pareça, a 
colaboração entre medicina e psicologia só vai ocorrer a partir do século XIX, 
Hearnshaw (1987). 
 
6 
 
O autor indica motivos para este longo distanciamento. Entre os filósofos, a 
consciência ou alma, sustentada na razão divina, estava acima e fora do mundo 
material. A loucura devia-se a desequilíbrios do humor ou intrusão de forças 
sobrenaturais. Entre os médicos, pouco se sabia sobre a loucura, não havendo muito 
em que contribuir para o debate com os filósofos. 
De qualquer modo, aí está uma das facetas dos estudos históricos, as ênfases 
são muito marcadas pelos interesses da atualidade. A seguir, indicam-se as duas 
linhas paralelas entre psicologia e neurologia para destacar a aproximação destes 
dois campos, em plena metade do século XX. 
Relações entre Mente e Cérebro na História da Psicologia do Intelecto e 
da Emoção 
Diógenes de Apolônia (século IV a.C.) parece ter sido o primeiro a oferecer 
uma explicação unificadora para as funções fisiológicas, psíquicas e 
cósmicas: “Os homens e os outros seres animados vivem do ar, respirando-
o, e ali estão sua alma e inteligência... porque se lhe retiramos, morrem, e 
sua inteligência seextingue” (Diógenes, apud por Mueller, 1968, p. 24). 
No entanto, foi Alcmeão, um médico que viveu na cidade de Crotona na parte 
meridional da Itália em torno do século IV a.C., identificado como pertencendo à escola 
de Pitágoras, que tem sido considerado pelos historiadores como o fundador da 
psicologia fisiológica. 
Alcmeão fez algumas descobertas importantes em psicologia fisiológica. 
Identificou dois tipos de vasos no corpo humano as veias e as artérias, descobriu 
canais de passagens que unem os diferentes órgãos ao cérebro os nervos, e chamou 
atenção para as relações entre pensamentos, emoções e cérebro. Até então, 
pensamento e emoção estavam associados ao coração (Brett, 1953). 
Na medicina de Hipócrates (460-355 a.C.), o cérebro era considerado a parte 
mais importante do corpo e a sede da inteligência, mesmo que seja questionável a 
justificativa de que o cérebro é o meio pelo qual o ar comunica sua natureza. 
Demócrito (470-360 a.C.) localizou o pensamento no cérebro, a ira no coração 
e do desejo no fígado. Platão (428/7-347 a.C.) no Timeo descreveu a medula como a 
parte mais importante do corpo. Uma porção da medula era o cérebro e a outra, a 
medula espinhal. Cérebro e medula espinhal constituíam a força vital sobre a qual 
atuava a alma. 
 
7 
 
A parte racional da alma atuava sobre o cérebro e a irracional sobre a medula 
espinhal (Brett, 1953). Aristóteles (384-322 a.C.) recolocou erroneamente o coração 
como centro da vida, da sensação, do movimento e do calor. Ele desconhecia o 
sistema vascular e o cérebro foi descrito como ocupando uma função inferior no corpo, 
inclusive sobrecarregando o trabalho do coração. 
A última grande contribuição da Idade Antiga veio de Galeno (129-200 a.C.), 
cujas teorias sobre o corpo humano, com seus acertos e erros, dominaram a medicina 
por quatorze séculos. Para ele, os nervos originavam-se no cérebro e na medula e 
não no coração como ensinava Aristóteles. 
Os nervos seriam condutos que transportariam os fluidos secretados pelo 
cérebro e medula espinhal para a periferia do corpo. O cérebro seria a sede da 
sensação, do movimento e do intelecto. Galeno explicava que a sensação era a 
mudança qualitativa de um órgão sensitivo e a percepção, enquanto ação do cérebro, 
era a consciência dessa mudança. 
O desenvolvimento da tradição ético-religiosa, como dizia Brett (1953), que vai 
se estender por toda a Idade Média, inibiu os estudos de anatomia. Ao mesmo tempo, 
as invasões dos bárbaros enfraqueceram o Império Romano e destruíram a Biblioteca 
de Alexandria onde estavam depositados os estudos gregos sobre medicina. No 
obscurantismo ocasionado pelo cristianismo na Europa, coube aos árabes a 
preservação do material recuperado da Biblioteca de Alexandria. 
Segundo René Descartes, o primeiro filósofo moderno, foi também um 
anatomista. Ele era conhecedor da descrição completa do corpo humano oferecida 
por Vesálio em 1543, da descoberta da circulação do sangue por Harvey em 1628 e 
havia aceito o modelo mecânico vigente inspirado nas teorias físicas de Copérnico 
publicadas em 1453, na teoria da inversão das imagens da retina apresentada por 
Kepler em 1604 e nos estudos astronômicos de Galilei publicados em 1610. 
Quanto à relação mente-cérebro, ou melhor, alma-corpo, Descartes desprezou 
tanto a noção Aristotélica de alma como forma do corpo quanto à noção de alma como 
princípio de vida dos escolásticos. 
Ele definiu a alma como substância consciente ou pensamento. A alma era 
diferente do corpo por possuir uma natureza indivisível enquanto o corpo era sempre 
divisível. Embora diferentes, a alma interagia com o corpo, acreditava Descartes, 
através da glândula pineal, um pequeno órgão vestigial no cérebro. 
 
8 
 
Esse órgão foi escolhido por tratar-se de uma das poucas partes não 
duplicadas do cérebro. Descartes reestabeleceu a ontologia dualista de que 
alma e corpo eram constituídos por diferentes substâncias, uma teoria que se 
tornou crença comumente aceita por pensadores europeus (Brett, 1953 apud 
Hearnshaw, 1987). 
No século XVIII os esforços para a explicação da relação mente-cérebro 
prosseguiram com os trabalhos de David Hartley (1705-1757), de Albrecht von Haller 
(1707-1777) e do húngaro Porchaska (1749-1820) (Boring, 1950). Hartley recorreu à 
teoria das vibrações no Principia de Newton, publicado em 1687, para explicar a 
sensação como um processo físico. 
Assim, as alterações dos nervos, produzidas pela ação de um objeto sobre o 
organismo constituindo impressões eram para ele decorrentes de vibrações. Para 
tanto, nervos, medula espinhal e cérebro eram descritos como uniformes, 
homogêneos e formados por uma só substância. Haller interessou-se pelas 
localizações cerebrais, mostrando inicialmente que o córtex não era a sede da 
sensação nem causa exclusiva do movimento. 
A base da sensação e do movimento era a substância branca do cérebro e do 
cerebelo. Ademais, Haller definiu a memória como sendo a persistência das 
impressões sobre a substância cerebral. As circunvoluções do cérebro eram para 
aumentar o espaço disponível para a memória. Porchaska localizou as faculdades 
(imaginação, percepção, memória) no ponto terminal interno dos nervos. 
Segundo Lecours e Lhermitte, mesmo com os avanços decorrentes da 
pesquisa anatômica, os cientistas no século XVIII ainda consideravam o 
cérebro como um órgão homogêneo, que distribui energia vital para todas as 
partes do corpo, atuando conforme a vontade do indivíduo (Lecours & 
Lhermitte, 1983). 
Grande parte do século XIX é dominada pelo esforço de explicar o intelecto 
através da fisiologia dos sentidos. Bell (1774-1842) diferencia nervos sensórios e 
motores, Müller (1801-1858) apresenta sua teoria das energias específicas dos 
nervos, Helmholtz surpreende a comunidade científica com seus estudos avançados 
em ótica e audição, Weber (1795-1878) estuda a sensitividade da pele, e Fechner 
(1801-1887) desenvolve a fórmula matemática para medir o limiar sensorial. O esforço 
culmina com a inauguração da psicologia experimental por Wundt (1832-1920), com 
seu método de introspecção formal (Boring, 1950). 
 
9 
 
A revolução provocada pela teoria da evolução de Darwin, inicialmente 
publicada em 1859, reorienta a psicologia para o funcionalismo. A nova perspectiva 
reduz a pesquisa em psicofísica e nas relações entre neurologia e psicologia. Em 
contraste, incentiva os estudos funcionais do inconsciente com Freud e do 
comportamento com Thorndike, Watson e Skinner (Fraisse, 1970). 
Com o aparecimento das várias teorias e sistemas em psicologia, a relação 
mente cérebro assumiu os contornos que seguem (Marx & Hillix, 1979). O 
associacionista Thorndike (1874-1949) não deu importância ao problema por 
considerá-lo uma questão pertencente à filosofia. 
 Ele tratou a questão em um nível puramente ontológico. O estruturalista 
Titchener ficou entre o paralelismo defendido por seu professor Wundt, isto é, a mente 
não depende do corpo para ser estudada; e a concepção da experiência unitária na 
síntese mente-corpo. 
O funcionalista Watson negou o problema descartando a consciência. Os 
Gestaltistas mantiveram a posição do isomorfismo, isto é, uma correspondência 
reconhecível entre a organização da percepção e a organização do estado cerebral 
(Pribram, 1997). 
 E o funcionalista Freud (Jones, 1953) declarou-se um paralelista psicofísico, 
entendendo que os processos físicos não poderiam ocorrer na ausência dos 
processos fisiológicos, mas que os físicos precediam ao fisiológico. Esse período 
corresponde à primeira metade do século XX. 
As discussões sobre a relação mente-cérebro que se destacaram no contexto 
das escolas psicológicas foram representadas por Karl Spencer Lashley (1890-1958); 
com a sua preocupação em esclarecer as implicações de localização das funções 
cerebrais; pelos psicólogos da Gestalt com os conceitos de campo perceptual e 
isomorfismo;e Donald Olding Hebb (1904-1985) com sua teoria de montagens 
neurais. Lashley estudou a localização das funções cerebrais no contexto da 
aprendizagem de animais em situações experimentais de condicionamento. 
Os resultados reafirmaram os achados de Flourens realizados um século atrás. 
Na destruição de uma porção particular do córtex de um animal experimental, outra 
porção do córtex compensará a perda da função da área destruída 
(equipotencialidade). 
 
10 
 
A redução do desempenho é proporcional ao tamanho da porção destruída do 
córtex e não à localização da porção extirpada (função de massa). Embora os 
experimentos de Lashley estivessem no contexto experimental behaviorista, as 
investigações em neuropsicologia não eram consideradas importantes pelos líderes 
dessa escola. 
O próprio Lashley não foi um incentivador da pesquisa na área (Hilgard, 1987). 
Os psicólogos da Gestalt (Marx & Hillix, 1979) mostraram-se interessados em 
fisiologia desde o início. Max Wertheimer (1880-1943) declarou em seu célebre artigo 
de 1912 que a explicação do movimento aparente estava nos processos fisiológicos 
subjacentes. 
No entanto, os enunciados fisiológicos da Gestalt, serviram, principalmente, 
como modelos teóricos. O enunciado de que o campo fisiológico e o campo perceptual 
são paralelos em forma indica uma identidade, a exemplo da relação entre mapa e 
país. As posições dos psicólogos da Gestalt sobre as relações entre psicologia e 
fisiologia estimularam pesquisas e debates e reafirmaram a importância do 
desenvolvimento de tecnologias que permitissem observações mais acuradas dos 
eventos cerebrais. 
Segundo Hebb Hilgard, é reconhecido por sua teoria das montagens neurais. 
Para esta teoria, a relação funcional entre neurônios decorre da ativação 
conjunta de uma estrutura difusa de células no córtex, constituindo um 
sistema fechado, capaz de manter-se integrado por um breve tempo. O 
prosseguimento da ativação e a sua associação com outras redes, ocorrendo 
independente de estimulação externa, daria a base fisiológica para o 
pensamento, Hebb (Hilgard, 1987). 
A teoria, embora especulativa, foi importante para focalizar o problema da 
relação entre psicologia e fisiologia. A esta altura, a narrativa apresentada leva-nos 
para a segunda metade do século XX, onde grandes mudanças ocorrerão nos rumos 
da psicologia. Essa história será retomada mais adiante. 
Cabe então, retornar ao passado e acompanhar os desenvolvimentos da quarta 
via da história da psicologia, que por ser menos divulgada entre psicólogos será um 
pouco mais detalhada. 
Das Relações entre Afasia e Lesões Cerebrais à Neuropsicologia 
O argumento do desenvolvimento simultâneo, desde tempos remotos, das 
várias vias que levam à psicologia como conhecida hoje, encontra um belo exemplo 
na história da afasia, como apresentada por Benton (1971) em sua referência a 
 
11 
 
documentos antigos que atestavam o conhecimento da relação entre transtornos da 
linguagem e lesões cerebrais. 
Por exemplo, na Antiguidade, os médicos hipocráticos estavam cientes da 
inervação contralateral e da associação entre déficit motor no hemicorpo direito e 
transtorno da linguagem. É dito que Galeno afirmava que uma lesão na cabeça podia 
levar à perda da memória das palavras. 
Médicos renascentistas levantaram a hipótese, diante de um caso de afasia 
após lesão cerebral, de que o transtorno era provocado por fragmentos da calota 
craniana que penetrariam no cérebro. No entanto, o mais impressionante dos 
documentos mencionados por Benton (1971) é o trabalho Amnésia da Palavra do 
médico alemão Johann A. P. Gesner (1738- 1801). 
Segundo Benton, resume do seguinte modo a principal contribuição de 
Gesner: A ideação e a memória das palavras são duas coisas distintas: a 
ideação é evocada pela percepção dos objetos físicos e pela ação dos nervos 
sensoriais; a evocação das palavras segue a ideação que para ser produzida 
requer uma energia nervosa ou ação nervosa adicional. Por isso, é 
compreensível que certas enfermidades do cérebro afetem a memória verbal, 
deixando intacta a ideação, de tal forma que o paciente chegue a pronunciar 
o nome de um objeto, ainda que seja capaz de reconhecê-lo e de 
compreender o seu significado, Benton 1971. 
No final do século XVIII já se havia acumulado um razoável conhecimento sobre 
afasia. Na Rússia, em um trabalho datado de 1789, Bolotov descrevera um caso de 
transtorno orgânico da linguagem (Glozman, 1996), considerando-o como uma 
consequência da perda de memória. Em 1838, também baseado em um estudo de 
caso, Filippov apresentou a descrição de um paciente com um “mutismo 
extraordinário” (Glozman, 1996). 
No entanto, o interesse pela investigação das bases neurológicas da 
enfermidade era escasso. Coube a Franz Joseph Gall (1758-1828) reverter a situação, 
colocando a relação entre afasia e cérebro em primeiro plano, tornando-se assim um 
importante precursor da neuropsicologia. 
Gall é hoje nome popular na história da Psicologia por causa da doutrina da 
frenologia. Na verdade, o termo foi introduzido por seu aluno e colaborador Johann 
Gaspar Spurzheim (1776-1832) e utilizado por admiradores e críticos de Gall, como 
referência à doutrina que associava traços de caráter com saliências ou reentrâncias 
de pontos determinados do crânio (Boring, 1950). 
 
12 
 
Os estudos de Gall podem ser caracterizados como um daqueles pontos no 
quais as vias históricas se intercruzam. Gall era um anatomista e, portanto, 
conhecedor da fisiologia cerebral, um médico com experiência no atendimento de 
pacientes afásicos, e um seguidor da escola de psicologia escocesa das faculdades 
mentais. Trata-se de uma combinação de conhecimento fisiológico, conhecimento 
psicológico e prática clínica. 
Sua ontologia materialista indicava o cérebro como o substrato essencial para 
o exercício das faculdades, mostrando-se clara para ele a relação entre lesão frontal 
e transtornos afásicos. Esse episódio da história da ciência tem mais um 
desdobramento curioso. 
O principal oponente de Gall foi Pierre Flourens (1794-1867), um fisiologista 
que investigou a localização de funções cerebrais, possivelmente inspirado nos 
trabalhos de Gall, mas que veio a demonstrar que as explicações da frenologia 
estavam equivocadas. Os experimentos de Flourens mostraram que a remoção 
cirúrgica de partes do cérebro de pombos impedia a manifestação de determinadas 
funções apenas por um certo período. Com o passar do tempo, tais funções 
recuperavam-se espontaneamente. 
 Flourens encontrou evidências apenas para a localização das funções motoras 
no cerebelo e das funções vitais na medula, não havendo evidências para as 
localizações descritas pela frenologia. Essas conclusões deram início ao debate entre 
localistas e anti-localistas. 
Apesar dos acertos de Flourens e dos equívocos de Gall, a neuropsicologia, 
definida como o estudo do comportamento em relação à anatomia e fisiologia do 
cérebro (Lecours & Lhermitte, 1983), avançará pelas mãos dos seguidores de Gall e 
não por influência de Flourens, um autor pouco lembrado. 
Jean Baptiste Bouillaud (1796-1881), um dos mais fervorosos defensores das 
ideias de Gall, procurou demonstrar, através de provas anátomo-clínicas, como 
diferentes tipos de afasias estavam relacionados a distintas áreas no cérebro, 
especialmente em sua dimensão ântero-posterior (Benton, 1971). 
Um estudo anátomo-clínico publicado em 1861, por Pierre Paul Broca (1824-
1880), um aluno de Bouillaud, mostrou a relação entre lobo frontal esquerdo e 
linguagem. 
 
13 
 
 Suas conclusões, baseadas em avaliações clínicas e estudos anatômicos e, 
em particular, no estudo de dois pacientes e suas posteriores autópsias, são 
consideradas, atualmente (Nitrini, 1996), o marco inicial da neuropsicologia. 
Em 1865, broca associou o hemisfério esquerdo com a produção da fala e com 
a ideia de dominância manual (Lecours & Lhermitte,1983). 
Em 1874, no mesmo ano em que Wundt publicava Princípios da Psicologia 
Fisiológica, o neurologista alemão Carl Wernicke (1848-1905) descrevia a relação 
causal entre a lesão no primeiro giro temporal esquerdo e uma das formas clínicas da 
afasia, a afasia sensorial (Lecours & Lhermitte, 1983 apud Nitrini, 1996). 
O nome afasia sensorial foi escolhido por Wernicke para fazer contraste com a 
afasia motora descrita anteriormente por Broca. Conforme Wernicke, na afasia 
motora, os sujeitos falam pouco, mas compreendem a linguagem, enquanto na afasia 
sensorial a fala está preservada, mas a sua linguagem é inapropriada e a sua 
compreensão da linguagem dos outros está prejudicada. 
Wernicke considerou ainda a possibilidade de uma lesão afetar as fibras 
associativas que conectam o primeiro giro temporal ao terceiro giro frontal no 
hemisfério esquerdo, postulando, assim, a existência de um tipo de afasia no 
qual o paciente compreenderia a linguagem de outros e teria capacidade de 
produção, apesar de um distúrbio severo na repetição (Wernicke, apud 
Lecours & Lhermitte, 1983). 
Wernicke denominou este quadro de afasia de condução, em uma descrição 
diagnóstica válida atualmente (Beeson & Rapcsak, 1998). Uma vez que os centros 
relacionados à linguagem começavam a ser isolados, as associações entre eles – em 
termos de fibras nervosas, passaram a ser o foco teórico de atenção. 
Em torno desse localizacionismo revitalizado, um conjunto de autores, 
denominados associacionistas, centralizara seus interesses. Entre os 
associacionistas, destacam-se, além do próprio Wernicke, os trabalhos de Henry 
Charlton Bastian (1837-1915), Ludwig Lichteim (1845-1928) e Jean Martin Charcot 
(1825-1893), especialmente no que tange às conceitualizações teóricas na forma de 
diagramas (ver Figuras 1 e 2). 
 
14 
 
 
Fonte: ufrgs.br 
 
Fonte: ufrgs.br 
 
15 
 
Joseph-Jules Dejerine (1849-1917), a partir de investigações anátomoclínicas, 
ofereceu evidências relevantes aos argumentos teóricos dos diagram makers (Hécaen 
& Albert, 1978). 
Segundo Luria, paralelamente ao trabalho de Broca e Wernicke, foram 
descritas áreas cerebrais responsáveis por funções não linguísticas. Por 
exemplo, em 1855, o neurologista italiano Panizza relatou uma importante 
descoberta: cegueira permanente desenvolvida em indivíduos com uma 
lesão na região occipital (Luria, 1966). 
Esta descoberta foi posteriormente reforçada pela observação de que animais 
com tais lesões, embora retivessem a visão, perdiam formas mais complexas de 
percepção visual. Em 1881, Munk observou em cachorros que as destruições de 
áreas occipitais dos hemisférios cerebrais produziam um fenômeno característico: o 
animal mantinha a habilidade para ver e evitar objetos, mas não conseguia reconhecê-
los (Luria, 1966). 
Também no século XIX, o caso de Phineas Gage, um paciente com alterações 
comportamentais decorrentes de lesão frontal, foi descrito por John M. Harlow (1848-
1849, citado em Damásio, 1996). Sem maior atenção da comunidade científica na 
época, este caso foi posteriormente retomado no trabalho de Damásio, Grabowski, 
Frank, Galaburda e Damásio (1994). 
Apesar da importância desses trabalhos, por longo tempo, as funções não 
linguísticas foram desprestigiadas. Haja visto que o estudo dos distúrbios de 
linguagem estava relacionado com o hemisfério dominante, enquanto que os 
distúrbios não-linguísticos, como percepção visual, atenção e percepção do corpo e 
do espaço, ao hemisfério era não dominante. Em parte, o predomínio dos estudos das 
afasias manteve-se devido o debate gerado pelos globalistas. 
A posição globalista, contrária às ideias localizacionistas e associacionistas, 
sustentava a noção da linguagem como um processo dinâmico oriundo da integração 
funcional do cérebro (Hécaen & Albert, 1978). 
Durante a primeira metade do século XX, a pesquisa sobre afasia foi 
influenciada pelos trabalhos do neurologista inglês Hughlings Jackson (1835-1911) e 
Sigmund Freud (1856- 1939), mas, sobretudo pelas contribuições de Pierre Marie 
(1853-1940). 
Na posição de Marie, a afasia era concebida como uma desordem de natureza 
intelectual – bem como uma desordem unitária, e não como um distúrbio primário da 
 
16 
 
linguagem. Assim, ele não reconhecia a existência de diferentes áreas cerebrais 
relacionadas tanto à linguagem, como a outras funções cognitivas, abandonando a 
noção de centros. 
Esta perspectiva era defendida por dois dos mais proeminentes neurologistas 
da época: Constantin von Monakow, que oferecia argumentos anátomo-fisiológicos e 
Kurt Goldstein (1878- 1965), que, influenciado pela teoria Gestalt, defendia a ação 
unitária do organismo na direção de sua atualização (Luria, 1966; Lecours, Cronck, & 
Sébahoun-Balsamo, 1983). 
Uma importante mudança conceitual esboçou-se a partir da iniciativa de 
Théophile Alajouanine, um aluno de Pierre Marie, que percebeu a necessidade da 
pesquisa neuropsicológica incorporar outras disciplinas além da medicina: a 
psicologia e a linguística. 
Alajouanine, um neurologista, em um esforço de pesquisa conjunta com André 
Ombredane (psicólogo) e Marguerite Durand (linguista), publicam em 1939 Le 
Syndrome de Désintégration Phonétique dans l’Aphasie (Desintegração fonética na 
afasia), inaugurando o campo da neolinguística e da neuropsicologia (Lecours, 
Cronck, & Sébahoun-Balsamo, 1983). 
Segundo Hécaen e Albert, essas duas áreas científicas têm um objetivo 
comum o estudo das relações entre funções mentais e estruturas cerebrais 
sendo a neolinguística um dos capítulos da neuropsicologia com maior 
expressão em termos de número de investigações, pelo menos nos primeiros 
anos de sua história. 
Paralelamente, na Rússia, outro capítulo fundamental da neuropsicologia 
estava sendo escrito. Desde o trabalho seminal de L. Bolotov em 1789, passando por 
um intenso período de interesse na pesquisa sobre afasia, a neurologia e psicologia 
russas destacaram-se pela sua contribuição não somente na descrição dos sintomas, 
mas também na explicação dos mecanismos psicofisiológicos subjacentes aos 
transtornos da linguagem (Glozman, 1996). 
Em um período posterior, ainda fortemente influenciado pela tradição fisiológica 
de Sechenov (1829-1905) e Ivan P. Pavlov (1849-1936), Lev Vygotsky (1896-1934) 
procurou uma alternativa às posições localizacionistas e globalistas. 
Vygotsky considerou as funções corticais superiores em três princípios 
centrais: 
 Relacionamentos interfuncionais, plásticos e modificáveis; 
 
17 
 
 Sistemas funcionais dinâmicos como resultantes da integração de 
funções elementares; e, 
 Ah reflexão da realidade sobre a mente humana (Hécaen & Albert, 
1978). 
Orientada pelo pensamento de Vygotsky e profundamente enraizada na 
tradição russa de pesquisa em neurologia, a obra de Alexander Romanovich Luria 
(1902-1977) que se delineia a partir da década de 20, possui uma conotação singular 
para a neuropsicologia. 
Luria concebia uma ciência que mantinha, ao mesmo tempo, consonância com 
a fisiologia e a neurologia, sem depender integralmente destas (Cole, 1992) e, mais 
importante, sem nunca perder de vista a perspectiva humanista na compreensão e 
entendimento das condições clínicas estudadas (Luria, 1992). 
Ainda outra grande contribuição de Luria refere-se às inovações metodológicas 
propostas no exame clínico: técnicas aparentemente simples, mas orientadas pela 
sua visão das funções corticais superiores, ou seja, Luria propõe um modelo teórico 
que dirige o trabalho neuropsicológico. 
Na concepção de Luria, “desde uma perspectiva da localização sistemática das 
funções, consideramos os processos corticais superiores como sistemas funcionais 
complexos dinamicamente localizados” (Luria, 1966, p. 468). O principal enfoque de 
Luria era a associação entre o hemisfério dominante (esquerdo) e as afasias. Mas nos 
anos 60, a neuropsicologia começa a questionar adominância absoluta do hemisfério 
esquerdo para a linguagem, produzindo trabalhos em populações especiais, como 
canhotos, bilíngues, crianças e analfabetos (Parente & Lecours, 1988). 
 O foco passou então a busca de fatores biológicos (como dominância manual, 
desenvolvimento e sexo) e fatores sociais (como aquisição de uma segunda língua, 
aquisição da escrita e tipo de escrita) que poderiam determinar a dominância do 
hemisfério esquerdo para a linguagem e, consequentemente, a organização cerebral 
das demais funções cognitivas. 
Ainda na década de 1960, outro conjunto de estudos começa a surgir 
inspirado pelos trabalhos sobre lateralização realizados por Myers e Sperry 
(1953, citado em Sidtis & Gazzaniga, 1983) em animais com secção do corpo 
caloso (Zaidel, 1983). Dentre esses trabalhos, destacam-se aqueles 
realizados com pacientes comissurectomizados, demonstrando a 
especificidade funcional de cada hemisfério (Gazzaniga, Bogen, & Sperry, 
1962, apud Sidtis & Gazzaniga, 1983). 
 
18 
 
Esses pacientes eram capazes de nomear uma figura apresentada no campo 
visual direito – que seria processada pelo hemisfério esquerdo, mas não conseguiam 
dizer o nome quando a mesma figura era apresentada do outro lado e, portanto, 
processada pelo hemisfério direito. Juntamente com uma série de estudos 
experimentais em sujeitos normais, envolvendo a apresentação visual taquistoscópica 
e escuta dicótica, surgiu a investigação sobre assimetrias cerebrais. 
Os resultados desses trabalhos foram interpretados por teorias bastante 
divergentes. Um modelo estrutural propunha que o hemisfério esquerdo participa da 
linguagem enquanto que o direito, de funções visuais (Kimura, 1961). 
Segundo Bradshaw e Nettleton, em oposição, surge um conjunto de teorias 
propondo a atuação dos dois hemisférios no mesmo processamento, mas 
com pesos diferentes. São os modelos de polaridade que postulam que a 
diversidade de funções do hemisfério esquerdo com relação ao direito 
poderia ser explicada pela distinção de processamento analítico/holístico 
(Bradshaw & Nettleton, 1983). 
Por outro lado, Kinsbourne (1973, 1978) propôs que a assimetria hemisférica 
pode ser explicada por mecanismos de controle atencionais: estímulos verbais 
ativariam o hemisfério esquerdo enquanto que os viso espaciais estimulariam o direito. 
Uma última posição sugeria que as diferenças hemisféricas seriam quantitativas e não 
qualitativas, de forma que ambos hemisférios teriam os mesmos recursos, mas com 
organização distinta. Sendo assim, uma organização mais eficiente do que a outra 
determinaria a assimetria hemisférica para uma tarefa específica. 
 Por exemplo, para Sergent (1982a, 1982b) o predomínio perceptual do 
hemisfério direito decorre do fato de que este hemisfério tem maior rapidez para o 
processamento visual inicial (frequência espacial e contraste). 
Apesar da falta de consenso teórico, as funções cognitivas não linguísticas são 
novamente investigadas e valorizadas pela neuropsicologia. Faltava, entretanto, 
nesse emaranhado de propostas antagônicas, um modelo teórico forte para 
fundamentar as associações entre estruturas cerebrais e processos mentais. 
O Encontro da Neuropsicologia com a Psicologia Cognitiva 
A partir da década de 1950 nos Estados Unidos, em oposição ao behaviorismo, 
desenvolve-se a psicologia cognitiva, com especial ênfase na teoria de 
processamento da informação. 
Em 1956, os trabalhos de George Miller sobre as limitações da capacidade do 
pensamento humano, especialmente sobre as limitações da memória de curto-prazo, 
 
19 
 
foram um marco influente no estudo dos processos e representações mentais 
(Thagard, 1998). 
Além disso, sua associação com Jerome Bruner, na fundação do Centro de 
Estudos Cognitivos em Harvard, em 1960, ajudou a delinear os contornos da nova 
abordagem (Schultz & Schultz, 1998). Já em Massachusetts, no MIT, John McCarthy 
e Marvin Minsky fundaram, em associação, o primeiro laboratório de pesquisas em 
inteligência artificial (Teixeira, 1998). 
O batismo do campo e a difusão da teoria nos meios acadêmicos vieram com 
o livro Psicologia Cognitiva publicado por Ulric Neisser, em 1967 (Sternberg, 2000). 
Na mesma década de 1960, Karl H. Pribram (n. 1919) um médico neurologista que 
trabalhou com Lashley no laboratório de Robert M. Yerkes (1876-1956), entre os anos 
de 1946-48, alcança proeminência no campo da psicologia fisiológica. 
Sua principal contribuição (Hilgard, 1987) foi integrar uma enorme quantidade 
de dados dispersos sobre o funcionamento dos centros superiores do cérebro. Os 
trabalhos de Pribram e de seus colaboradores tornaram-se conhecido através do livro 
Planos e Estrutura do Comportamento (Miller, Galanter, & Pribram, 1960). 
As posições de Pribram, baseadas em dados empíricos, alteraram o conceito 
de um organismo humano passivo e dependente da estimulação ambiental, defendido 
pelos behavioristas. Ele recolocou neste organismo o lugar da iniciativa, das 
expectativas e da intenção. Os processos cerebrais e os processos psicológicos não 
foram descritos nem como idênticos e nem como paralelos. 
 Esses processos são integrados não por áreas de associações, como se 
acreditava, mas por padrões de sistemas intrínsecos divisíveis em áreas sensoriais 
específicas. Ademais, ele acrescentou que as representações espaciais no cérebro 
podem ser estudadas através de modelos holográficos (ver Pribram, 1997; Pribram & 
Carlton, 1986). 
Holograma é um método utilizado para obtenção de imagens 
tridimensionais através de raios laser. Esses estudos permitiram que Pribram 
reafirmasse o conceito de isomorfismo da Gestalt, mostrando que realmente 
ocorre uma identidade entre a geometria cerebral e a geometria da mente. 
Pribram (1992) resumiu a questão do seguinte modo: 
 “É o corpo e suas funções sensitivas receptoras, suas glândulas, e seus 
músculos que causam movimentos que são ontologicamente 
 
20 
 
responsáveis pelo isomorfismo percepção-cérebro. Na extensão que 
estas funções corporais tornam-se representadas no cérebro, para essa 
extensão ocorre o isomorfismo. Mas o cérebro tem outras alternativas 
de sistemas de processamento os quais são anisomórficos com 
experiência, embora eles possam corresponder a aspectos não 
sensoriais da realidade física. ” 
São essas alternativas que providenciam a atual fronteira para exploração, 
tanto na física quanto na psicobiologia. O encontro da neuropsicologia com a 
psicologia cognitiva, entretanto, estava reservado à Inglaterra, a partir das publicações 
de Marshall e Newcombe (1973) sobre os distúrbios de escrita provocados por lesão 
cerebral. Logo após, outras funções cognitivas foram estudadas através do paradigma 
do processamento da informação. 
Por exemplo, Warrington e Taylor (1978), Warrington e James (1986) e Parente 
e Tiedemann (1990) observaram que o processamento de uma imagem envolveria a 
participação do hemisfério direito na categorização perceptual (diferentes posições, 
por exemplo, uma cadeira de lado), enquanto que a participação do esquerdo seria 
na categorização semântica (determinado tipo de imagem, por exemplo, uma cadeira 
de praia). 
Segundo Eysenck e Keane, parece razoável supor que a neuropsicologia 
cognitiva, especialmente em relação à ênfase no desempenho de pacientes 
com lesão cerebral, tornou-se uma disciplina mais relevante após os 
psicólogos cognitivos terem desenvolvido um conjunto de explicações 
coerentes sobre a cognição humana normal (Eysenck & Keane, 1994). 
As relações entre as duas disciplinas são de ordem bidirecional. Se a psicologia 
cognitiva é capaz de prover modelos sobre o funcionamento mental, então a 
neuropsicologia cognitiva possui a capacidade de testar a aplicabilidade desses 
modelos (Hécaen & Albert, 1978). Historicamente, essa verificação ocorreu 
primariamente em pacientes com lesões cerebrais. 
Por outro lado, as informações obtidas através do estudo depacientes (ou 
grupos de pacientes) oferecem a oportunidade para que novos modelos teóricos sobre 
a cognição possam ser esboçados (Eysenck & Keane, 1994). Também é possível 
afirmar que as técnicas e os modelos neuropsicológicos humanos tornaram-se 
progressivamente sofisticados com o surgimento da neuropsicologia cognitiva como 
uma disciplina científica (Rao, 1996). 
 
21 
 
Conceitualmente, a neuropsicologia cognitiva atual pode ser considerada como 
uma das disciplinas que compõe a tentativa de síntese representada pela 
neurociência cognitiva como uma possibilidade de uma moderna ciência da mente 
(Kandel & Kupfermann, 1997). A neuropsicologia refere-se, então, ao estudo das 
relações entre cognição e comportamento humano e as funções cerebrais 
preservadas ou alteradas. Embora possa existir um certo consenso quanto a uma 
definição geral do campo, não é possível identificar uma abordagem metodológica 
hegemônica. 
Embora a linguagem tenha sido a área mais amplamente estudada em 
neuropsicologia, diversos outros tópicos veem sendo enfatizados nesses 
últimos trinta anos, tais como: 
 Atenção, percepção visual e auditiva e memória. Influenciada pelos 
avanços da bioquímica, a neuropsicologia interessa-se pelos substratos 
orgânicos das emoções, reconsiderando funções de áreas sub-corticais 
e corticais e reanalisando as consequências de lesões pré-frontais 
(Damásio, 1996, Fuster, 1997). 
3 PSICOLOGIA COGNITIVA 
Os construtos responsáveis pela fundamentação teórica da neuropsicologia 
foram em grande parte constituídos a partir da convergência de algumas ciências: 
medicina (neurologia e neuroanatomia), fisiologia e neuroquímica – disciplinas estas 
frequentemente citadas em parágrafos introdutórios acerca dos primórdios da 
neuropsicologia. Contudo, outra disciplina viria juntar-se a estas, a psicologia. 
Após ter transcendido às suas origens filosóficas, a psicologia, então 
puramente comportamental, foi reconhecida como ciência, e aos poucos, estabeleceu 
novos ramos de estudo. Em meados do século XX, as pesquisas em psicologia 
solidificavam-se na área da percepção, fisiologia e cognição, sem, contudo, deixar de 
sofrer certa influência das antigas raízes filosóficas. 
O funcionalismo, por exemplo, havia colocado os processos de pensamento 
em foco, enquanto o pragmatismo de William James, a aprendizagem e a memória; e 
os princípios associacionistas de Hermann Ebbinghaus, tinham sido essenciais para 
consolidar a sistematização experimental. 
 
22 
 
Skinner, um dos mais famosos psicólogos comportamentais, não havia inserido 
estruturas ou processos internos para explicar o comportamento. 
Pelo contrário, enfatizava as relações estabelecidas com o meio ambiente e a 
utilização do paradigma “estímulo resposta” (importante para a explanação de uma 
série de processos psicológicos). 
As lacunas deixadas provocavam insatisfação, mas também o espaço para 
novas ideias. Novas teorias passaram a levar em conta a possível mediação cerebral 
para o comportamento, bem como a existência de células e fibras nervosas 
interagindo entre si e formando redes complexas. 
Embora nesta época a compreensão destes fenômenos fosse difícil e limitada, 
estes grupos mostravam-se cada vez mais engajados na busca de respostas. Parte 
dos psicólogos encaminharam suas pesquisas para a psicologia da forma, Gestalt 
salientando a percepção; parte incrementaram a psicologia fisiológica; outros 
passaram a utilizar metáforas e modelos de caixas “boxologia” para explicar o 
funcionamento cognitivo, solidificando, mais tarde, a chamada psicologia cognitiva. 
O funcionamento do computador e o uso de terminologia relacionada à 
informática (processamento de informação, codificação, decodificação, entre outros) 
levaram ao uso de analogias para a compreensão do cérebro. 
Modelos de atenção e de memória de curto prazo, respectivamente 
apresentados por Broadbent (1958) e Atkinson & Shiffrin (1968), exemplificam as 
tendências mencionadas. 
A psicologia cognitiva passou a ser definida como um ramo da psicologia que 
busca explicar cientificamente o processamento da atenção, a aprendizagem, a 
memória, a visão, a linguagem, o pensamento, entre outras funções complexas. 
Enquanto a neuropsicologia, a princípio, se ocupava da localização do substrato 
anatômico destas funções cognitivas, a partir do desempenho observado em 
indivíduos acometidos por danos cerebrais. 
3.1 Pesquisas em neuropsicologia cognitiva 
Como os neuropsicólogos cognitivos entendem o sistema cognitivo? 
De maior importância é a descoberta de dissociações, que ocorrem quando um 
paciente desempenha uma tarefa de modo normal (tarefa X), mas é deficiente em uma 
 
23 
 
segunda tarefa (tarefa Y). Por exemplo, pacientes amnésicos têm desempenho quase 
normal em tarefas de memória de curto prazo, mas são deficientes em muitas tarefas 
de memória de longo prazo. É tentador (mas perigoso) usar tais achados para 
argumentar que duas tarefas envolvem módulos de processamento diferentes e que 
o módulo ou os módulos necessários para realizar tarefas de memória de longo prazo 
foram danificados pela lesão cerebral. 
Por que precisamos evitar extrair conclusões amplas das dissociações? 
Um paciente pode ter bom desempenho em uma tarefa, mas mau desempenho 
em uma segunda tarefa pelo simples fato de esta ser mais complexa. Assim, as 
dissociações podem refletir diferenças na tarefa em complexidade, em vez do uso de 
módulos diferentes. 
Os neuropsicólogos cognitivos defendem que a solução para os problemas 
mencionados está em encontrar dissociações duplas. Uma dissociação dupla entre 
duas tarefas (X e Y) é exibida quando um paciente tem um desempenho normal na 
tarefa X e um nível deficiente na tarefa Y, enquanto outro paciente exibe o padrão 
oposto. Se é encontrada uma dissociação dupla, não podemos concluir que os 
achados ocorreram porque uma tarefa é mais difícil que outra. Por exemplo, vimos 
que pacientes com amnésia apresentam memória de longo prazo prejudicada e 
memória de curto prazo intacta. 
A dissociação dupla aqui envolvida sugere fortemente que existe uma distinção 
relevante entre memória de curto prazo e de longo prazo e que elas envolvem 
diferentes regiões no cérebro. 
A abordagem baseada nas dissociações duplas tem suas limitações. Em 
primeiro lugar, ela está baseada na suposição (que pode estar incorreta) de que 
existem módulos separados. Em segundo, as dissociações duplas podem geralmente 
ser explicadas de várias maneiras e, assim, fornecem evidências indiretas de módulos 
separados subjacentes a cada tarefa (Davies, 2010). Em terceiro lugar, é difícil decidir 
quais das inúmeras dissociações duplas na literatura são teoricamente importantes. 
Finalmente, consideremos as associações. Uma associação ocorre quando um 
paciente é deficiente na tarefa X e também na Y. As associações são muitas vezes 
tomadas como evidência de uma síndrome (conjuntos de sintomas ou deficiências em 
geral encontradas juntas). 
 
24 
 
Entretanto, há uma falha decisiva na abordagem baseada na síndrome. Pode 
ser encontrada uma associação entre as tarefas X e Y porque os mecanismos dos 
quais elas dependem são adjacentes no cérebro em vez de depender do mesmo 
mecanismo subjacente. A síndrome de Gerstmann é um exemplo disso. Essa 
síndrome é definida por quatro sintomas muito diferentes: problemas na identificação 
dos dedos; dificuldades na realização de cálculos; escrita deficiente; e desorientação 
esquerda-direita. É improvável que os mesmos mecanismos ou módulos estejam 
envolvidos em todas as quatro tarefas. O que é muito mais provável é que esses 
quatro sintomas dependam de mecanismos diferentes que são anatomicamente 
adjacentes no cérebro. 
3.2 Síndrome de gerstmann 
É um distúrbio neurológico raro caracterizado por lesões no giro angular do 
hemisfério cerebral dominante (geralmente o hemisfério esquerdo). O giro angularsitua-se no lobo parietal, próximo ao lobo temporal. Nomeado em homenagem a Josef 
Gerstmann, pode eventualmente mudar de nome para Síndrome angular por 
recomendação da comunidade científica. 
 
Fonte: auladeanatomia.com 
 
Fonte: blogspot.com 
 
25 
 
Causa: 
A lesão geralmente é causada por isquemia cerebral, traumatismo ou AVC no 
local. Os prejuízos na capacidade de leitura e reconhecimento costumam ser bastante 
incapacitantes, principalmente nas áreas educacionais e profissionais. 
Sinais e sintomas: 
Essa síndrome é caracterizada por quatro sintomas principais 
 Disgrafia/agrafia: dificuldades/incapacidade de se expressar pela 
escrita 
 Discalculia/acalculia: dificuldade/incapacidade de compreender 
matemática 
 Agnosia digital: a incapacidade de distinguir os dedos na mão 
 Desorientação em relação à esquerda e direita 
 
Não há cura para a síndrome de Gerstmann, o tratamento é apenas sintomático e 
psicoeducativo. Terapia ocupacional e psicológica pode ajudar a diminuir a dificuldade 
em ler, escrever e calcular. Calculadoras e processadores de texto podem ajudar a 
contornar esses problemas. Os neurologistas e neuropsicologo são os profissionais 
capacitados para reabilitação. 
3.3 Limitações 
Quais são as limitações da abordagem da neuropsicologia cognitiva? 
Em primeiro lugar, a suposição central de que o sistema cognitivo é 
fundamentalmente modular é razoável, mas parece muito forte. Os sistemas 
modulares tendem a ser relativamente inflexíveis e fundamentados no processamento 
serial. Todavia, o processamento cognitivo humano é conhecido por sua flexibilidade 
e suas amplas interações por todo o cérebro. 
 Segundo Patteson e Plaut, se a suposição da modularidade é equivocada, 
isso tem implicações para toda a empreitada da neuropsicologia cognitiva 
(Patterson & Plaut, 2009). 
Em segundo lugar, outras suposições teóricas importantes também parecem 
muito extremas. Por exemplo, pesquisas com neuroimagem fornecem apenas apoio 
modesto à suposição de modularidade anatômica. 
 
26 
 
Além disso, há poucas (ou nenhuma) evidências que apoiem a suposição de 
uniformidade da arquitetura funcional. 
Em terceiro lugar, presume-se que o desempenho cognitivo dos pacientes 
proporciona evidências diretas referentes ao impacto da lesão cerebral em sistemas 
cognitivos previamente intactos. No entanto, parte do impacto da lesão cerebral pode 
ser camuflada porque os pacientes desenvolvem estratégias compensatórias 
enquanto se recuperam. 
Por exemplo, pacientes com alexia pura (condição que envolve problemas 
graves de leitura) leem palavras por meio da estratégia compensatória de identificação 
de cada letra separadamente. Também existem complicações resultantes de 
alterações no funcionamento cerebral durante o processo de recuperação (Cus et al., 
2011). Em outras palavras, muitos pacientes exibem considerável plasticidade neural 
após uma lesão cerebral (Overgaard & Mogensen, 2011). 
Em quarto lugar, historicamente, os neuropsicólogos cognitivos demonstraram 
pouco interesse em termos relativos nos detalhes do funcionamento cerebral e na 
neurociência cognitiva. Isso parece paradoxal, uma vez que eles focam pacientes com 
lesão cerebral. Entretanto, achados da neurociência cognitiva estão cada vez mais 
sendo combinados proveitosamente com os da neuropsicologia cognitiva. Por 
exemplo, isso foi feito com respeito à memória de reconhecimento. 
Em quinto lugar, tem havido muita ênfase em estudos de caso isolado. Alguns 
(p. ex., o famoso paciente amnésico HM) tiveram merecidamente um impacto enorme. 
No entanto, existem limitações reais com estudos desse tipo, e a abordagem do 
estudo de caso que fornece uma fonte mais rica de dados. 
3.4 Complexidade das funções cognitivas 
É de particular interesse da neuropsicologia o estudo das funções cognitivas 
(Dalgalarrondo, 2008), porém, ao abordar sua complexidade, torna-se necessário 
compreender, em primeiro lugar, o que é função. 
Os estudos pioneiros de Luria (1981) sobre os fundamentos da neuropsicologia 
como ciência fazem referência ao conceito de função, situando o termo no campo 
sistêmico, tendo em vista que função, quando se trata da análise do comportamento 
 
27 
 
humano, não diz respeito exclusivamente à “função de um tecido” em particular, como 
afirmaram os primeiros estudos de localização das zonas corticais. 
Na verdade, quando se aborda o termo “função” na neuropsicologia, a 
referência está direcionada para um conjunto de movimentos que envolve as ações 
dos indivíduos, ou seja, seu comportamento como todo. 
Nesse sentido, as abordagens que envolvem as atividades mentais/cognitivas, 
como formas conscientes de representação, são resultantes de um conjunto de 
funções, que, por sua vez, englobam outras tantas funções menores, específicas, que 
na totalidade de suas interações levam o indivíduo a pensar, agir e inserir-se no 
mundo social. 
Ao acreditar que o homem, em sua percepção e ação, sua memória, fala e 
pensamento, faz uso de um sistema altamente complexo de zonas do córtex cerebral 
que funcionam em concerto, Luria (1981) postula um novo conceito de função, 
exercida por sistemas funcionais que visam à execução de uma determinada tarefa 
(Cosenza, Fuentes e Mally-Diniz, 2008). 
De acordo com sua teoria, as funções mais elementares podem ser localizadas, 
mas os processos mentais geralmente envolvem zonas ou sistemas que atuam em 
conjunto, embora se situem, frequentemente, em áreas distintas e distantes do 
cérebro (Cosenza, Fuentes e Mally-Diniz, 2008). 
Segundo Luria (1981), o sistema funcional complexo estaria organizado 
de acordo com as seguintes premissas: 
 Os processos mentais complexos, como a linguagem, pensamento, 
memória, abstração, praxias, gnosias, etc., não estão “prontos” no 
adulto, não são fenômenos fixos, derivados mecânicos de uma área 
cerebral que entra em ação, independentes do desenvolvimento do 
indivíduo. Eles são, de fato, construídos durante a ontogênese, por meio 
da experiência social, ou seja, pela interação intensa e contínua da 
criança com seus pais e seu meio social. Essa interação é que permite 
ao indivíduo adquirir todas as suas funções cognitivas, como memória, 
linguagem, pensamento, reconhecimento, etc. 
 Do ponto de vista cerebral, as funções e os processos mentais 
complexos são organizados em sistemas que envolvem zonas cerebrais 
distintas, cada uma delas desempenhando um papel específico no 
 
28 
 
sistema funcional, agindo e interagindo em concerto. Tais zonas, na 
maior parte das vezes, estão em áreas diferentes e, em geral, distantes 
uma das outras no cérebro. Embora distantes, agem de forma 
coordenada para produzir uma função mental complexa. 
 A lesão de uma das áreas cerebrais implicada em determinada função 
mental superior pode acarretar a desintegração de todo o sistema 
funcional. Portanto, a perda de uma função particular pode informar 
pouco sobre a sua localização. Muito mais relevante que uma área 
cerebral circunscrita são os sistemas funcionais complexos, constituídos 
por redes neuronais amplas e dinâmicas. 
Dessa forma, a teoria dos sistemas funcionais, elaborada por Luria (1981), é 
composta por três unidades: a unidade de atenção, que corresponde ao sistema 
reticular; a unidade sensorial e a unidade de planejamento, ambas englobando as 
áreas primárias, secundárias e terciárias do córtex cerebral. 
As áreas primárias (de projeção) são aquelas que recebem impulsos da 
periferia ou os enviam; as secundárias são as áreas de associação, onde as 
informações são processadas ou programadas; e as terciárias são zonas de 
superposição, que dão origem aos processos mentais mais complexos, tais como 
planejar ou monitorar o comportamento. 
Assim, o processo de codificação ou recepção das informações que chegam 
ao nosso cérebro exige a completa integridade das zonas corticais dos analisadores 
correspondentes,que deverão ser capazes de dividir as informações em pistas 
elementares, modalmente específicas (visuais, auditivas ou táteis), selecionar as 
pistas relevantes, e, por fim, reuni-las sem empecilhos em estruturas integrais 
dinâmicas. 
Segundo Luria (1981) foi enfático ao afirmar que as ações voluntárias, ou 
seja, os comportamentos humanos, são sistemas funcionais constituídos por 
uma complexa “constelação dinâmica” de zonas cerebrais, que trabalham de 
forma coordenada, cada uma dando sua contribuição para o todo, (Luria, 
1981). 
A partir do momento em que os processos mentais humanos passaram a ser 
compreendidos como sistemas funcionais de alta complexidade, e não como 
localizados em estreitas e circunscritas áreas do cérebro, houve um avanço na 
neuropsicologia, já que apontou para questões até então ignoradas. 
 
29 
 
Ou seja, como o cérebro é capaz de se organizar em unidades, que 
desempenham processos como “obter”, “processar”, “armazenar” as informações, e 
programar, verificar e regular as atividades mentais. 
Além de Luria, Vygotsky (1987) também se dedicou ao estudo das funções 
psicológicas superiores tipicamente humanas e ambos revelaram a existência de 
múltiplos conceitos entrelaçados, implícitos no desenvolvimento e na aprendizagem 
humana. 
Enquanto Luria (1981) propôs a teoria dos sistemas funcionais, Vygotsky 
(1960) denominou a construção de sistemas funcionais complexos humanos de 
princípio da organização extra cortical das funções mentais complexas. 
Esse termo sugere que todos os tipos de atividade humana consciente são 
sempre formados com o apoio de ajudas ou instrumentos auxiliares externos (Luria, 
1981), ou seja, com a ajuda do ambiente. 
Segundo Vygotsky, para eles, o processo de construção do conhecimento 
supõe a integração das sensações, percepções e representações mentais. 
Sendo assim, o cérebro pode ser visto como um sistema aberto, que está em 
interação constante com o meio, e que transforma suas estruturas e 
mecanismos de funcionamento ao longo desse processo de interação 
(Vygotsky, 1987). 
Nessa perspectiva, é impossível pensar no cérebro como um sistema 
fechado, com funções pré-definidas, que não se alteram no processo de relação 
do homem com o mundo: 
“Desde o princípio, compartilhávamos a opinião de que nem a psicologia 
subjetiva nem as tentativas de reduzir a atividade consciente como um todo a 
esquemas simplistas baseados nos reflexos que representam um modelo satisfatório 
da psicologia humana. Era necessária uma nova síntese das vertentes parciais 
existentes até então. ” (Luria, 1992). 
Ainda que seja complexa a compreensão do que é uma função, a 
neuropsicologia cognitiva parte de um pressuposto chamado modularidade (Capovilla, 
2007). Esta se refere à independência funcional entre diferentes processamentos, ou 
seja, o desenvolvimento ou o prejuízo de determinados componentes cognitivos não 
afeta a totalidade do sistema cognitivo (Fernandes, 2003). 
 Assim sendo, os diferentes módulos cognitivos apresentam especificidade de 
domínio, isto é, processam informações específicas. 
 
30 
 
Nesse sentido, uma lesão ou disfunção cerebral determinada pode levar a uma 
alteração específica, e não genérica, do funcionamento cognitivo. 
A ideia de que o cérebro consiste em unidades funcionais individuais, 
chamadas módulos, implica que os processos mentais estão de alguma forma 
compartimentados e, por isso, operam de modo relativamente independente uns dos 
outros, processando somente um tipo específico de informação – corporal, visual, 
auditiva, linguística, etc. (Candioto, 2008). 
No entanto, sabe-se que (Nitrini, 2003): 
 O comprometimento de uma função complexa (como a nomeação, por 
exemplo) por uma lesão focal não localiza a função na região afetada. 
Informa-nos apenas que essa região participa do sistema ou da rede de 
conexões relacionadas à função comprometida. 
 Lesões focais em outras regiões que façam parte do sistema podem 
comprometer diferentes aspectos desta mesma função. A análise 
detalhada do distúrbio poderá fornecer informações sobre a contribuição 
específica de cada uma das regiões na organização da função, em 
condições normais. 
 Lesão de uma única região pode afetar diversas funções. 
Outro pressuposto da neuropsicologia cognitiva além da modularidade é a 
dissociação. Através dela, podem-se verificar situações em que um indivíduo 
apresente desempenho alterado numa dada tarefa A, mas desempenho intacto numa 
tarefa B. Um exemplo clássico de dissociação é encontrado no paciente K.F. que, 
após uma lesão cerebral, apresentou desempenhos em memória de curto prazo 
seriamente alterados, enquanto que sua memória de longo prazo permaneceu intacta 
(Eysenck e Keane, 1994). 
De acordo com Capovilla, um problema das dissociações deriva da 
impossibilidade de determinar se as duas tarefas em que houve dissociação 
são fenômenos específicos, independentes, ou se simplesmente uma delas 
é mais difícil que a outra, Capovilla (2007). 
Já o isomorfismo, o terceiro pressuposto da neuropsicologia, refere-se ao 
pressuposto da universalidade do sistema cognitivo funcional (Fernandes, 2003), ou 
seja, de que os módulos cognitivos são universais a todos os indivíduos e 
correspondem, de forma aproximada, aos mesmos sistemas neurológicos. 
 
31 
 
Esse pressuposto possibilita a pesquisa neuropsicológica por meio do método 
de caso único (Capovilla, 2007). 
De fato, um grande número de pesquisas em neuropsicologia cognitiva tem 
sido conduzido com caso único, como, por exemplo, o caso de Leborgne, de Broca, 
que, levou à descoberta da área de Broca. Outro exemplo foi o caso H.M., de Scoville 
(Andrade e Santos, 2004), que foi um paciente de referência no estudo da memória. 
 A principal crítica ao estudo de grupos baseia-se na impossibilidade de haver 
duas lesões exatamente iguais, em tamanho e em local (Capovilla, 2007). 
Está claro que, atualmente, a visão predominante (Nitrini, 2003) é a de que as 
funções superiores, tais como atenção, memória, linguagem, entre outras, organizam-
se como sistemas funcionais complexos. 
Esse modelo propõe que uma função complexa não depende de um “centro”, 
mas da ação em concerto de diversas regiões conectadas entre si. Por ora, vimos, 
superficialmente, quão complexa é uma função mental. No entanto, para que seja 
possível compreender as funções cognitivas, resta ainda entender o conceito de 
cognição e sua problemática com relação à emoção. 
Muitas vezes, a cognição é definida como o ato de pensar (Gazzaniga e 
Healtherton, 2005). Nesse contexto, a psicologia tem privilegiado uma separação 
entre os domínios cognitivos e emotivo. 
De acordo com Rocha e Kastrup (2009), a emoção é vista, algumas vezes, 
como um sinal de descontrole, em que é ativada uma dimensão primitiva, instintiva e 
irracional. Esta dimensão instintiva pode inclusive levar o homem a cometer atos de 
violência. 
Tal modo de pensar teve efeitos sobre a psicologia, em seu entendimento da 
emoção como um impulso que deve ser controlado pela inteligência, e sobre sua 
indicação de que as pessoas devem aprender a gerenciar e disciplinar as emoções, 
bem como as situações que as ocasionam. 
Diante disso, Rocha e Kastrup (2009) afirma que a emoção passa a ser 
considerada como avaliação cognitiva de um fato social. A emoção torna-se cognição, 
no sentido em que consiste num julgamento que fazemos sobre o mundo. Implica uma 
avaliação pelo sujeito da significação do acontecimento vivido. 
 
32 
 
A emoção julga o mundo como agradável ou desagradável, como bom ou mau, 
segundo um sistema de valores. Nesse sentido, a emoção é considerada passiva, 
sujeita às ações dos estímulos do meio. 
E é este o ponto de crítica das autoras. Rocha e Kastrup (2009) afirmam que a 
emoção é o movimento que nos predispõe a agir, ou seja, ela não é pura passividade. 
Dessa forma, embora a emoção e a cognição possam ser apresentadasseparadamente, por questão de didática, elas são unidas e, portanto, a emoção não 
pode ser ignorada ou menosprezada pela neuropsicologia. 
 Ao avaliar a cognição, ou melhor, as funções cognitivas do indivíduo, torna-se 
fundamental avaliar suas emoções. 
4 DESENVOLVIMENTO HUMANO, ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL DO CÉREBRO 
E APRENDIZAGEM NO PENSAMENTO DE LURIA E DE VYGOTSKY 
Em uma minuciosa revisão das contribuições de Luria e Vygotsky sobre 
maturação, organização funcional do cérebro e desenvolvimento humano é possível 
assinalar para uma trama conceitual intricada e complexa que serve de referência 
para a compreensão da construção de repertórios de habilidades e de conhecimento, 
bem como do papel da aprendizagem nesse processo. 
Estes autores constituem – se em uma referência inicial sobre o tema, não 
esgotando o repertório contemporâneo e as eventuais redefinições que estão surgindo 
ao longo do amadurecimento do campo. 
Luria apresenta uma alternativa à questão das localizações cerebrais. Em 
primeiro lugar, distingue a função como funcionamento de um tecido particular e a 
função como sistema funcional complexo. 
Refere que os processos mentais, que incluem sensações, percepção, 
linguagem, pensamento, memória não podem ser considerados simples faculdades 
localizadas em áreas particulares e concretas do cérebro, mas como sistemas 
funcionais complexos (Luria, 1980). 
Evidentemente, estes sistemas funcionais complexos foram inicialmente 
movimentos manipulativos que, depois, se condensaram, adquirindo o caráter de 
ações mentais internas. 
 
33 
 
 Então, além disso, baseados e mediatizados por ajudas externas encontram-
se ligados a imagens do mundo exterior, sendo assim impossível pensar que possam 
ser localizados em áreas precisas e restritas do cérebro. Devem antes se organizar 
em sistemas de zonas que trabalham de modo combinado, em papéis diferentes, e 
até mesmo distanciados (Luria, 1973). 
Segundo Vygotsky, a expressão localização dinâmica é mais apropriada para 
estes processos mentais complexos do que a localização espacial restrita. 
Por isso, a tarefa implica não tanto em descobrir áreas precisas de 
localização cerebral para cada uma dessas atividades mentais, mas quais 
grupos de zonas de trabalho do cérebro são responsáveis pela sua execução 
(Vygotsky,1984). 
Importa destacar que não se trata de faculdades, mas de unidades ou sistemas 
funcionais complexos que, portanto, não estão localizados em áreas delimitadas do 
cérebro, mas que têm lugar através da participação de grupos de estruturas cerebrais 
que trabalham de modo integrado na organização desse sistema. 
Na percepção, por exemplo, pode- se constatar uma forma de ilustrar essa 
atividade integrada. A primeira unidade funcional proporciona o tom cortical 
necessário. A segunda realiza a análise e síntese da informação recebida. A terceira 
se ocupa dos movimentos da busca que dão à conduta perceptiva seu caráter ativo 
(Luria 1973). 
A dinâmica do comportamento humano compreende a interconexão de 
múltiplas redes de informação dispersas pelo corpo: (pele, músculo, articulações e 
vísceras) e centrais (mielencefálicas, metencefálicas, mesencefálicas, diencefálicas e 
telencefálicas), que retratam a existência de um sistema sensorial na base do 
desenvolvimento e da aprendizagem. 
As sensações como puras informações integradas devem estimular e ativar, 
em um todo funcional as células nervosas iniciando o processo neurológico, que 
culmina nas respostas macro, micro, oro e grafomotoras sendo as três últimas funções 
tipicamente humanas. 
O desenvolvimento evolutivo dos seres humanos exige a organização das 
sensações para fornecer ao cérebro as informações referentes ás condições do corpo 
como universo intra-somático e do envolvimento como universo extra- somático, com 
os quais produz uma motricidade adaptativa e flexível. Trata-se de uma complexa 
integração e associação intraneurossensorial, que reflete a tendência evolutiva do 
processo informativo (Luria, 1996). 
 
34 
 
Segundo Luria, filogeticamente, a integração sensorial está na base da 
evolução da motricidade e do cérebro dos vertebrados. A expansão das áreas 
sensoriais e associativas expressa a questão e, no ser humano, explica 
porque o mesmo é único na comunicação não-verbal e verbal, e único em 
seu índice de encefalização (Luria,1973). 
Ontogenicamente, a integração sensorial da espécie humana inicia – se no 
útero materno, como pré-requisito do desenvolvimento e da aprendizagem. Prolonga 
extra-uterinamente através das aquisições que transitam entre os gestos, a visão e as 
palavras (Luria,1996). Compete ao cérebro organizar um sistema de comunicação de 
milhares de dados, para que as respostas adaptativas integrem repertórios de 
conhecimento dos indivíduos. 
 Assim, o sistema nervoso somático fornece o Input e o Output ao cérebro, e 
constitui na realidade, uma extensão passiva do sistema nervoso central, quer dizer, 
uma comunicação corpo-cérebro, cérebro – corpo, deixando a função de regulação 
para o sistema nervoso central (Luria,1973). 
O processo de construção do conhecimento evoca que as sensações devem 
integrar-se em esquemas de ação, o que requer a participação de percepção e a 
estruturação das representações mentais. 
Desse modo, o homem tem a capacidade de agir sobre o mundo, acomodar – 
se a ele, diferenciar – se qualitativamente, e não apenas captá-lo passivamente. As 
sensações encontram- se na base do processo de construção do conhecimento, e 
são conduzidas centrípetamente ao cérebro, e não mais a outros órgãos (Luria 1980). 
Desde os órgãos internos, chamados de interoceptores; dos órgãos motores, 
táteis, cinestèsicos e vestibulares, denominados de proprioceptores, até os órgãos 
captadores de informações, como a visão e a audição, tidos como telerreceptores, 
todas as informações devem ser organizadas em termos de tráfego de integração 
sistêmica no cérebro. 
Segundo Luria, a partir daí integram-se também sistemas funcionais intra e 
interneurossensoriais, que se encontram na base de aprendizagem e do 
desenvolvimento, tais como: o jogo, a imitação, a linguagem, o desenho, a 
leitura, a escrita, o cálculo, funções mentais humanas (Luria,1980). 
Pode – se compreender esse processo especificando aspectos da formação da 
linguagem. Para chegar à integração de fonemas, optemas e grafemas, produtos 
finais da integração sensorial subjacente a linguagem, o ser humano necessita 
integrar múltiplas informações táteis, cenestésicas, como tocar, manipular, levar à 
 
35 
 
boca, dentre outras. Integra também informações vestibulares, como a gravidade e a 
motricidade, além de informações proprioceptivas que compreendem os músculos e 
as articulações. Essas integrações encontram-se na gênese da construção de um 
modo próprio de comunicação não-verbal e verbal implícitos em todas as práticas 
relacionadas com segurança, conforto tônico e tátil como competências motoras 
(Vygotsky 1984). 
Existe uma relação intricada e permanente entre motricidade e linguagem, a 
gênese das competências motoras origina competências comunicativas. Ambas 
decorrem da coordenação binocular para explorar, identificar e manipular objetos. 
Segundo Vygotsky, o desenvolvimento direciona – se ao domínio da 
gravidade, inicialmente com a cabeça, depois com o tronco e, posteriormente 
com a postura bípede, revelando a filogênese do sistema nervoso vertebrado 
em sua ontogênese motora própria e pessoal, através da apropriação de uma 
segurança gravitacional, que direciona ao mundo simbólico. Entretanto, antes 
de apropriar dos símbolos cada indivíduo necessita conquistar o seu corpo 
como um instrumento de liberdade gravitacional, espacial e de comunicação 
emocional (Vygotsky,1987). 
Com base na integração sensorial e na mielinização, o ser humano conquista 
seu próprio corpo, fazendo dele o espaço de sua imaginação e o continente de sua 
ação, como uminstrumento vital para seu desenvolvimento cognitivo-emocional. A 
autoestima possui relação direta com esse processo. 
Dele emerge também a planificação motora encarregada de dar aos gestos e 
ás mímicas a atenção, a coordenação, o controle e a intencionalidade, que pré-figura, 
em termos não verbais, a emergência da linguagem propriamente dita. O processo de 
organização e de integração das sensações no sistema nervoso constitui o triunfo 
adaptativo, filogenético e ontogenético da espécie humana (Luria 1982). 
A atividade, a inatividade, o silêncio, os olhares acusam significações 
comunicativas importantes, uma vez que a comunicação pode ocorrer sem palavras, 
como na linguagem de sinais, empregada pelos deficientes auditivos. Em algumas 
situações, as mensagens não-verbais são mais significativas do que as palavras. Em 
outras, contradizem, e reiteram mensagens verbais (Vygotsky, 1984). 
No processo de comunicação, a motricidade está implícita na linguagem como 
se fosse sua sombra. Algumas partes do cérebro encarregam-se de controlar o corpo 
e sua motricidade. Outras se disponibilizam para as imagens, símbolos e conceitos. A 
encefalização na espécie humana emerge da riqueza de padrões de ação. 
 
36 
 
Estes, por sua vez resultam de uma maior sinergia dos receptores sensoriais, 
de onde emergiram sistemas de controle de organização neurológica (Luria, 1982). 
Os órgãos dos sentidos, que são a visão, o tato, o gosto, o olfato, a audição 
constitui sistemas sensoriais, canais de mensagens. Por ocasião do nascimento, cada 
ser humano possui capacidades inatas para enviar mensagens não-verbais que lhe 
são cruciais para satisfazer necessidades básicas e afetivas. Como os sistemas 
sensoriais encontram-se na base das organizações perceptivas e das atividades 
mentais, importa compreender esse papel no processo (Luria,1996). 
O tato constitui um meio extraordinário de comunicação, porque se encontra 
espalhado por toda a pele. 
Segundo Klaus e Kennel, temperatura, pressão, dor, posturas, movimentos, 
dentre outros são processados por sensores táteis e cinestesicos. A 
proprioceptividade promovida superiormente superou as áreas motoras 
corticalmente, fornecendo-lhes profundidade associativa, integrativa e, 
consequentemente, poder expressivo e intencional. Com o tato, o ser humano 
inicia a exploração do mundo interno e externo. A forma como a mãe acaricia, 
toca, explora, tem importância no despertar da vigilância e da reciprocidade 
do bebê para a comunicação e para a interação, assumindo um papel 
essencial na autoconfiança e auto segurança (Klaus e Kennel,1982). 
O sentido do olfato é um potente meio de comunicação, profundamente 
associado a situações de prazer, desprazer e sobrevivência. Efetivamente, o olfato 
está ligado ao mundo dos cheiros, potentes meios de orientação espacial a noite, ou 
quando a visão está afetada, como no paradigma dos deficientes visuais. 
Com ele, pode-se construir mapas territoriais e topográficos que permitem 
deambulações na escuridão e planificações mentais das ações. O olfato, ligado a 
audição desencadeia processos de atenção seletiva e comparativa. O odor entra 
diretamente no cérebro sem passar pelo tálamo, por isso, evoca recordações e 
associações fortes. Muitas mensagens são emitidas ou recebidas mais rapidamente 
pelo cheiro, do que por expressões vocais, gestuais ou verbais (Luria,1966). 
O gosto lida com substâncias químicas e os seres humanos evidenciam 
preferências por sabores de determinados alimentos sólidos ou líquidos, aos quais 
estão associadas situações positivas de interação e de satisfação. 
 O gosto representa um canal de comunicação não-verbal de grande 
importância na comunicação, pois em torno da mesa a dinâmica interativa é de grande 
importância, pela dimensão afetiva e gregária que ela subentende (Luria, 1973). 
 
37 
 
A audição é o órgão especializado para receber vocalizações, 
filogeneticamente, a audição se caracteriza por ser um sentido pluridirecional. 
Ininterrupto e sequencial. Trata-se de um sistema sensorial de fundo, básico para a 
compreensão situacional, para a compreensão da linguagem falada (Luria, 1973). 
A visão assume um papel de vigilância, de alerta, de atenção e de prontidão 
para a comunicação, maior do que outro órgão dos sentidos pode desempenhar. 
Filogeneticamente, a visão é um telerreceptor unidirecional, descontínuo (Os olhos 
podem fechar) e simultâneo, um sentido de figura básico para lidar com ângulos, 
linhas distâncias, profundidades, diferentes intensidades luminosas, diferentes 
perspectivas, posições, orientações e projeções virtuais ímpar para analisar e 
simplificar, é o sentido do espaço. 
Segundo Vygotsky, com 125 milhões de células fotorreceptoras instaladas na 
retina, cones e bastonetes ligados ás células corticais específicas, permitindo 
uma análise e síntese verdadeiramente extraordinárias, a visão desempenha 
um papel primordial no desenvolvimento motor e linguístico ao longo da 
caminhada do homo sapiens (Vygotsky,1987). 
O sistema visual é o mais completo dos sentidos, o que já foi referido pelo 
artista plástico Leonardo da Vinci, resultante de uma hierarquia composta pelos 
seguintes subsistemas de aprendizagem: antigravídico (postura e vestibular), corporal 
(lateralização e direcionalidade), somatognósico (identificação) e, finalmente, 
linguístico (Vygotsky,1987). 
No contexto do desenvolvimento humano não são apenas as palavras que 
entram em jogo. As vocalizações, os gestos, as mímicas, as expressões faciais, os 
movimentos da cabeça, os olhares, as posturas, os odores, a motricidade, os 
desenhos ocorrem em combinações que enriquecem e modelam a comunicação 
humana, sendo essenciais na dinâmica existente entre desenvolvimento e 
aprendizagem, enriquecendo repertórios de domínios e de conhecimento. 
Os primórdios da linguagem, a proto e a pré- linguagem são compreensíveis à 
luz da integração das associações sensório-motoras precedentes, onde o gesto 
exprime emoções de modo singular (Luria, 1973). 
Em outra dimensão de caráter neuropsicológico, a linguagem verbal, que define 
a preferência funcional do hemisfério esquerdo é antecedida pela linguagem não-
verbal, que pertence ao hemisfério cerebral direito. 
 
38 
 
 Pessoas com lesões no hemisfério esquerdo podem exibir vestígios de 
gestualidade, que podem ser bem aproveitados em sua reabilitação, por evidenciarem 
integridade funcional no hemisfério direito (Luria, 1980). 
O hemisfério direito é eminentemente postural e gestual (não-simbólico), 
enquanto o hemisfério esquerdo é linguístico e simbólico, evocando que o controle 
postural e gestual deve se automatizar antes que as funções integrativas superiores, 
como a linguagem possam se desenvolver (Vygotsky, 1987). 
A especialização hemisférica requer que, evolutivamente, o hemisfério direito 
assuma a liderança das atividades não-verbais, como os gestos, a postura, as 
brincadeiras, as imitações, a integração motora. Gradativamente, ao longo do 
desenvolvimento humano, o hemisfério esquerdo transcende esta dimensão a fim de 
se projetar e disponibilizar para as atividades linguísticas verbais e cognitivas mais 
complexas (Luria,1980). 
O controle postural revela a integridade de importantes centros e circuitos 
neurológicos, sem os quais a aprendizagem não pode operar de modo eficaz. A 
evolução cultural e o desenvolvimento do cérebro como órgão de comunicação e de 
aprendizagem, como sistema aberto, traduz a complexidade do desenvolvimento 
humano. 
O desenvolvimento do cérebro decorre filogeneticamente da síntese integrada 
e sistemática das adaptações, em uma complexa organização evolutiva (Luria,1976). 
Luria (1980) e Vygotsky (1984,1987) dedicaram-se ao estudo das funções 
psicológicas superiores tipicamente humanas, com suporte biológico do 
funcionamento psicológico. Estas contribuições revelam a existência de múltiplos 
conceitos entrelaçados,implícitos no desenvolvimento e na aprendizagem humana. 
O processo de construção do conhecimento supõe a integração das sensações 
percepções e representações mentais. O cérebro é um sistema aberto, que está em 
interação constante com o meio, e que transforma suas estruturas e mecanismos de 
funcionamento ao longo desse processo de interação. 
Nessa perspectiva, é impossível pensar o cérebro como um sistema fechado, 
com funções pré-definidas, que não se alteram no processo de relação do 
homem com o mundo (Luria,1976 apud Vygotsky,1987). 
A transformação da natureza produzida pela motricidade construtiva única da 
espécie humana, mediatizada pelos instrumentos que ela própria imaginou e criou 
 
39 
 
está na origem da consciência, o verdadeiro mistério que explica os diferentes modos 
de comunicação (Popper,1977). 
Porque sai dos limites do subjetivo, a motricidade projeta formas objetivas de 
vida social. A consciência, ao pressupor uma evolução do cérebro como espaço 
interior dos seres humanos emerge das ações concebidas como intencionalidade para 
a resolução dos problemas (espaço exterior) na relação com os outros e com os 
objetos, relações essas geradoras, inicialmente, de uma dinâmica inter-psicológica e, 
posteriormente, de uma dinâmica intrapsicologica, com o que se tem de conceber 
também o aparecimento de novas formas de comunicação e de aprendizagem. 
A motricidade intencional desencadeadora de tais relações e interações se 
reflete e se duplica sobre os objetos sociais e, ao se interiorizar sobre as formas de 
sistemas funcionais de auto regulação, modifica a própria estrutura do cérebro. 
Gestos, mímicas, imitações como expressões não-verbais vão permitir ao cérebro, 
órgão da evolução, a multiplicidade de suas expressões verbais. Estas substantivam 
sua evolução biológica, que antecede e sustenta a evolução cultural e tecnológica, 
integrando desenvolvimento humano e aprendizagem na base do processo de 
construção do conhecimento (Luria,1980; Vygotsky,1987). 
Segundo Luria, os estudos de Vygotsky lançaram as bases para uma nova 
ciência: a neuropsicológia, que envolve disciplinas de neurologia, psiquiatria, 
psicologia, fonoaudiologia, linguística e outras correlatas, e que tem como 
objetivo estudar as inter-relações entre as funções humanas e sua base 
biológica (Luria,1980). 
Tratam – se de estudos importantes para profissionais e docentes de diferentes 
áreas do conhecimento, especialmente a educação e as artes, para uma 
compreensão mais ampla dos processos implícitos na aprendizagem humana. 
5 LOCALIZACIONISMO 
Os neuropsicólogos, ou mesmo o casal Antônio e Hanna Damásio, não são os 
primeiros na história a buscar uma relação entre o corpo e as funções mentais. 
De fato, mesmo os povos antigos já notavam a influência do mundo físico no 
mundo imaterial de suas experiências subjetivas. Fosse através de lesões de guerra 
que traziam sequelas comportamentais, através de estudos com trepanação (método 
rudimentar de neurocirurgia) em sujeitos vivos, ou ainda analisando cadáveres de 
 
40 
 
pessoas ou animais, era evidente a ingerência do corpo sobre a mente, se não em 
todos os aspectos, pelo menos em alguns. 
Segundo Cosenza, Fuentes, & Malloy-Diniz, o Grego Aristóteles (século IV 
a.C.), por exemplo, postulava que a mente se encontrava no coração, 
restando ao cérebro a tarefa de resfriar o sangue (Cosenza, Fuentes, & 
Malloy-Diniz, 2008). 
Para seu conterrâneo Hipócrates (século V a.C.) e demais seguidores da teoria 
dos humores, no entanto, o fígado era o órgão central para a experiência emocional 
humana; não é à toa que até hoje utilizamos expressões como cólera (do grego kholé, 
“bile”) e melancolia (do grego melás, “negro”, associado com kholé). 
Já Galeno (séculos I e II a.C.), médico e fisiologista romano, foi um dos 
primeiros estudiosos a defender que o cérebro era responsável pela imaginação, 
memória e inteligência (Castro & Landeira-Fernandez, 2012). 
Para ele, era também o cérebro que controlava os movimentos do corpo, 
através de um sistema periférico de nervos. Entretanto, influenciado pela teoria 
humoral, Galeno acreditava que os humores (como a própria melancolia) misturavam-
se à força vital presente no sangue, e que era tarefa do cérebro separá-los, de forma 
a agir racionalmente e distribuir a força vital por todo o corpo. 
Em outra tentativa de explicação, Descartes (séculos XVI e XVII) formulou um 
modelo mecanicista do corpo humano, postulando a glândula pineal, cuja função era 
então um mistério, como sede da alma e local de convergência das naturezas 
materiais e imateriais do ser humano (Cosenza et al., 2008). 
Apesar dessa interpretação equivocada – provavelmente resultado das 
pressões religiosas e do medo da Inquisição – Descartes teve muitos méritos na 
elaboração de seu modelo de sistema nervoso, que contemplava o córtex cerebral 
como fundamental para as operações mentais. 
Sua visão dualista (ou seja, que define mente e corpo como sendo de naturezas 
diferentes) manteve grande influência no pensamento ocidental, apesar do pouco 
crédito dado à hipótese da glândula pineal. Depois de Descartes, as portas do cérebro 
foram abertas, e muitos médicos, filósofos e fisiologistas passaram a estudar e a 
desenvolver teorias sobre o cérebro e sua importância para o comportamento e a 
experiência humana. Uma dessas abordagens, embasada em escassos achados 
científicos, foi a frenologia. 
 
41 
 
A frenologia, fundada por Franz Gall no século XVIII, assentava-se em alguns 
princípios básicos (Castro & Landeira-Fernandez, 2012): todo comportamento teria 
origem no cérebro, o qual seria um órgão de regiões altamente especializadas e 
independentes, podendo até ser chamadas de órgãos diferentes. Além disso, esses 
órgãos estariam associados a funções específicas: a frenologia foi capaz de aventar 
35 diferentes regiões no córtex, como o “órgão da religiosidade” ou o “órgão da morte”, 
que seria mais desenvolvido em assassinos. 
Entretanto, a premissa menos defensável da frenologia era de que as regiões 
do cérebro crescem na medida em que são utilizadas, dilatando a caixa craniana e 
tornando possível investigá-las através de uma meticulosa inspeção manual na 
cabeça do indivíduo. Ainda que tenha atraído grande interesse popular, a frenologia, 
graças à impossibilidade de demonstrar os fundamentos científicos de suas 
avaliações, caiu em desuso rapidamente. 
Segundo Pinheiro, além do descrédito científico com relação à frenologia, 
surgiam correntes de pensamento globalista, que encaravam o cérebro como 
um órgão completo e com funções gerais: entre os principais nomes dessa 
vertente estava o fisiologista Marie-Jean-Pierre Flourens (Pinheiro, 2005). 
Pode-se dizer que ele antecipou o que hoje se conhece como plasticidade 
cerebral, que é a capacidade do cérebro de, após um dano, reorganizar-se e 
desempenhar as funções prejudicadas com auxílio das áreas cerebrais 
remanescentes. 
Karl Lashley também foi um expoente do globalismo, tendo postulado 
 Que uma lesão se torna mais grave pelo volume de tecido atingido 
(princípio da ação de massa) e não pela localização do dano e 
 Que outras áreas do cérebro assumiriam as funções das regiões 
lesionadas (princípio da equipotencialidade) (Cosenza et al., 2008). 
Apesar da forte oposição apresentada pelos defensores do globalismo, surgiam 
evidências a favor de algumas hipóteses localizacionistas: algumas das principais 
foram os relatos do médico anatomista Paul Broca, em 1861, a respeito de seus 
pacientes com problemas de fala. 
O caso mais clássico de Broca, o “Paciente Tan”, ficou famoso por sua 
característica mais marcante: o paciente só conseguia dizer a sílaba “tan” (Castro & 
Landeira-Fernandez, 2012). 
 
42 
 
 Após a morte desse paciente, broca localizou em seu cérebro uma lesão 
significativa em um ponto no lobo frontal do hemisfério esquerdo – região hoje 
conhecida comoÁrea de Broca. 
Avaliando outros pacientes, broca constatou um padrão: lesões nessa região 
do cérebro não prejudicavam os movimentos, o pensamento ou a compreensão da 
linguagem, mas comprometiam severamente a produção da fala. Logo, conjecturou 
que aquela porção do cérebro era responsável pela palavra falada. 
Além da importância de seus achados para a compreensão dos processos 
linguísticos, broca colaborou também para a elaboração da lateralização das funções 
cerebrais, uma vez que lesões localizadas na mesma região embora no hemisfério 
direito não tivessem as mesmas repercussões (Sadeghi, Allard, Prince, & Labelle, 
2000). O debate localizacionismo-globalismo perdurou muito tempo, mas perdeu força 
graças aos acertos por parte de cientistas dos dois lados da questão. 
A expressão de uma postura sintética que combinasse elementos 
localizacionistas e globalistas foi sendo desenvolvida, e pode ser atribuída a um 
cientista que soube aproveitar as oportunidades de uma época terrível para 
desenvolver a ciência do cérebro. 
5.1 A questão da localização das funções cerebrais 
Apesar dos avanços propiciados pelos estudos anatômicos, o século XVIII 
ainda foi marcado pela visão do cérebro como um órgão homogêneo, cuja função era 
distribuir energia para todo o corpo, segundo a vontade do indivíduo. É também nesse 
século que as teorias localizacionistas começaram a ganhar força, merecendo 
destaque a de Albrecht von Haller (1707-1777). Segundo esse autor, a base da 
sensação e do movimento estaria na substância branca do cérebro e do cerebelo. 
Entretanto, em se tratando de teorias localizacionistas, Franz Gall (1757-1828) 
é, sem dúvida, aquele que melhor representa essa corrente de pensamento. No 
século XIX, quando as tentativas de se explicar o intelecto pela fisiologia dos sentidos 
eram a tônica, Gall lançou o que veio a ser denominado mais tarde de Frenologia. 
Segundo o autor, o cérebro seria constituído por 35 regiões, que conteriam as 
faculdades intelectuais e os comportamentos emocionais (tais como generosidade, 
coragem, instintos matrimoniais, amor sexual, etc). 
 
43 
 
O maior desenvolvimento de um (ou mais) desses comportamentos resultaria 
em proeminências no cérebro que, por sua vez, possibilitaria identificar as diferenças 
individuais (Figura). 
Mapa Frenológico de Gall 
 
Fonte: pepsic.bvsalud.org 
Em oposição à Frenologia de Gall, Marie-Jean-Pierre Flourens lançou na 
mesma época (1823) a teoria que veio a ser conhecida como teoria do Campo 
Agregado. Utilizando o método de ablação experimental em animais (pássaros 
principalmente), que consiste em destruir partes do sistema nervoso e testar os déficits 
sensoriais e motores causados pela destruição, ele comprovou o papel do cerebelo 
nos movimentos motores, comprovando a hipótese levantada por Bell e Magendie. 
Concluiu o autor que não existiam regiões cerebrais únicas para comportamentos 
específicos. Ao contrário, sugeriu que todas as regiões do cérebro participariam de 
cada função mental, em especial as regiões cerebrais do telencéfalo 
Essas duas correntes de pensamento ganharam adeptos de várias áreas de 
atuação que, por sua vez, levaram a cabo a discussão da localização ou não das 
funções mentais complexas até mais ou menos a metade do século XX. 
Na linha localizacionista, destacam-se os trabalhos desenvolvidos pelo médico 
cirurgião Paul Broca e pelo neurologista e psicólogo Karl Wernicke. Broca, em 1861, 
descreveu o caso de um paciente que tinha lesão na região da parede posterior do 
lobo frontal (Figura). 
 
44 
 
Embora esse paciente não apresentasse qualquer problema motor em sua 
língua, boca ou cordas vocais, ele era incapaz de falar gramaticalmente em frases 
completas, ou de expressar seu pensamento por escrito (afasia motora). Tais achados 
levaram broca a concluir que a função da linguagem estaria localizada nesta região 
específica. A importância desse trabalho é tanta que, atualmente, ele é considerado o 
marco inicial da neuropsicologia. 
Lesão produzida no lobo frontal que resultou em afasia motora 
(modificando de Bear et. Al.2002) 
 
Fonte: pepsic.bvsalud.org 
Wernicke, por outro lado, descreveu, em 1876, casos de lesões da parte 
posterior do lobo temporal. Contrariamente ao paciente de Broca, os pacientes de 
Wernicke tinham capacidade de falar, porém eram incapazes de compreender o que 
falavam (afasia sensorial). 
Concluiu, então, que o programa motor, responsável pela execução da fala, 
estaria na área apontada por Broca, enquanto o programa sensorial estaria na área 
por ele descrita. 
Esse pesquisador sugeriu, ainda, o seguinte modelo de organização cerebral 
para a linguagem: a percepção inicial da fala seria decodificada em áreas sensoriais 
(visuais ou auditivas), em seguida, a informação seria processada no giro angular; 
posteriormente, iria para a região posterior do lobo temporal, onde a linguagem seria 
 
45 
 
associada a um significado e, por fim, iria para a região posterior do lobo frontal, que 
se encarregaria de transformar a sensação sensorial em representação motora. 
Mais recentemente, o chamado modelo Wernicke-Geschwind procura explicar 
como se dá o processamento da palavra falada e da palavra escrita nas diversas áreas 
cerebrais relacionadas à linguagem. 
Retornando à questão da localização, outras pesquisas desenvolvidas à época 
do debate também relatavam a localização de outras funções em áreas específicas 
do cérebro, tais como a do neurologista Panizza, que descreveu, em 1855, casos de 
indivíduos com cegueira permanente após lesão na região occipital, e de John M 
Harlow (1848-1949), que descreveu o conhecido caso de Phineas Gage, paciente que 
passou a apresentar alterações comportamentais após sofrer lesão na região frontal. 
Paralelamente a essas questões, as investigações histológicas davam um salto 
de qualidade com as descobertas do médico italiano Camilo Golgi e do histologista 
Santiago Ramon y Cajal. O primeiro desenvolveu o método de coloração por prata, 
que possibilitou a identificação ao microscópio de toda estrutura do neurônio (corpo 
celular, dendritos e axônios). 
Ramon y Cajal, por outro lado, utilizou o método desenvolvido por Golgi e 
demonstrou que o tecido neural era uma rede de células, e não uma massa contínua, 
como se acreditava até então. 
As investigações farmacológicas também davam a sua contribuição ao 
demonstrar a natureza química da comunicação entre as células neurais, merecendo 
destaque os trabalhos desenvolvidos por Claude Bernard (França), Paul Ehrlich 
(Alemanha) e John Langley (Inglaterra). 
Ainda na linha localizacionista, Korbinian Broadman, anatomista alemão, 
reforçou essa teoria quando se inspirou nos trabalhos de Wer-nicke e Broca e 
diferenciou, no início do século XX, 52 áreas funcionalmente distintas (Figura) no 
córtex cerebral. 
Esquema cerebral onde se visualiza as áreas citoarquitetônicas de 
Broadman 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862010000100012#f7
 
46 
 
 
Fonte: pepsic.bvsalud.org 
Entretanto, apesar das evidências apresentadas, os adeptos da linha do campo 
agregado continuavam a questionar a validade do princípio da localização nas 
atividades mentais complexas. 
Karl Spencer Lashley (1890-1958), por exemplo, estudou a aprendizagem de 
animais em situações experimentais e, do mesmo modo que Flourens, concluiu que 
quando uma parte do cérebro animal era lesada, outra parte compensava a perda da 
função destruída e essa compensação estava relacionada com o tamanho da lesão, 
e não com a localização da mesma. 
Pelo que se depreende da literatura, parece ser consenso que a resposta a 
esse conflito (localização ou não das funções mentais) só começou a tomar novo rumo 
com as investigações de Alexander Ramanovich Luria (1902-1977) em pacientes com 
lesão do sistema nervoso central. 
Em seu trabalho, Luria demonstrou que as funçõessuperiores organizam-se 
em sistemas funcionais complexos, ou seja, não há participação de apenas uma área 
específica do cérebro, mas sim da ação de várias áreas. Além disso, preconizou Luria 
que cérebro está organizado em três unidades funcionais principais, cuja atuação "em 
concerto" possibilita qualquer tipo de atividade mental (Figura). 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
Unidades funcionais segundo Luria 
 
Fonte: pepsic.bvsalud.org 
5.2 Unidades funcionais de luria 
Primeira unidade funcional: 
Como se sabe, toda e qualquer atividade é desencadeada por algum tipo de 
estímulo físico. Esse estímulo, por sua vez, desencadeia um fluxo de corrente elétrica 
que trafega através de conexões neuronais, até atingir o córtex cerebral. É esse órgão 
extremamente complexo que se encarrega de processar a informação e enviar a 
resposta através das vias eferentes. 
Entretanto, no caso de funções mentais complexas, a primeira condição para o 
processamento adequado da informação no cérebro é a necessidade de o sujeito 
estar em estado de vigília. É a primeira unidade funcional que se encarrega de regular 
o tono, a vigília e os estados mentais do indivíduo. 
Dissertando sobre essa primeira unidade funcional, Luria atribuiu a Pavlov o 
mérito de não só ter inferido que a atividade organizada no homem dirigida a metas 
requer a existência de um nível ótimo de tono cortical, como também de ter 
estabelecido três leis neurodinâmicas que caracterizam esse tono. A primeira 
estabelece que a intensidade da resposta depende da intensidade do estímulo. 
A segunda refere que a resposta a um estímulo que requer que 
haja concentração dos processos nervosos e equilíbrio entre a excitação e inibição e, 
a terceira está relacionada com a mobilidade dos processos nervosos, característica 
que possibilita ao indivíduo mudar facilmente de uma atividade para outra. 
 
48 
 
Todos esses atributos (intensidade, concentração e mobilidade dos processos 
nervosos) são inibidos durante o sono, ou no estado que o precede. Interessante 
destacar que o tono cortical diminuído perturba a relação entre excitação e inibição, 
levando à perda da mobilidade e, consequentemente, prejudicando o processamento 
da informação. 
Posteriormente às inferências de Pavlov, descobriu-se que no cérebro há uma 
estrutura cerebral específica denominada de formação reticular, que é responsável 
pela manutenção do estado ótimo do tono cortical. Essa estrutura, constituída por uma 
rede nervosa de neurônios interconectados, situa-se no subcórtex e no tronco cerebral 
e tem como característica a geração de sinais gradativos (e não do tipo tudo-ou-nada) 
que modulam o sistema nervoso. 
As fibras da formação reticular formam dois sistemas: o sistema reticular 
ascendente e o sistema reticular descendente. O primeiro (sistema reticular 
ascendente) faz conexões com o tálamo, o núcleo caudado, o arquicórtex e com o 
córtex (Figura) e tem como função a ativação do córtex e a regulação do estado de 
sua atividade. 
Já o segundo (sistema reticular descendente) tem fibras que correm no sentido 
oposto, ou seja, partem do neocórtex e seguem para o arquicórtex, o núcleo caudado, 
os núcleos talâmicos, as estruturas mais baixas no mesencéfalo, no hipotálamo e no 
tronco cerebral. Assim, ao mesmo tempo que os sistemas da primeira unidade 
mantêm o tono cortical, eles próprios são influenciados pelo córtex. 
Esquema cerebral demonstrando a atuação da formação reticular 
 
Fonte: pepsic.bvsalud.org 
 
49 
 
Segundo Luria, diversos experimentos em animais e em humanos 
demonstraram que lesões e/ou estimulação na formação reticular levam a um ou mais 
destes estados: diminuição pronunciada do tono cortical, estado de sono pronunciado, 
estado de coma, mudanças sucessivas no estado de humor (depressão, indiferença, 
euforia), distúrbios de consciência, distúrbios de memória, etc. 
 Podemos concluir que a primeira unidade funcional não tem qualquer relação 
direta com a recepção, com o processamento das informações externas, ou com a 
formação de intenções de comportamentos complexos (dirigidos a metas). Sua única 
atividade é regular o estado da atividade cortical e o nível de vigilância, essencial para 
toda e qualquer função cortical superior. 
Segunda unidade funcional 
Contrariamente à primeira unidade, a segunda unidade funcional é responsável 
pela recepção, análise e pelo armazenamento das informações. 
Do ponto de vista histológico, essa região é formada por neurônios isolados, 
que recebem impulsos individualizados e transmitem informações por meio de sinais 
do tipo tudo-ou-nada. 
Quanto à sua localização, situa-se nas regiões laterais do neocórtex, sobre a 
superfície convexa dos hemisférios, ocupando as regiões occipital (visual), temporal 
(auditiva) e parietal (sensorial geral). 
A característica principal dessa unidade é que a mesma possui grande 
especificidade modal, já que está adaptada para a recepção de informações visuais, 
auditivas, vestibulares ou sensoriais gerais. 
A organização da sua estrutura é hierárquica, formada pelas áreas primárias 
(ou de projeção), que recebem e analisam as informações vindas do exterior; pelas 
áreas secundárias (ou motoras de ordem superior), que codificam e convertem as 
informações, e pelas áreas terciárias (de associação), que coordenam o 
funcionamento dos vários grupos analisadores. 
Nas áreas primárias, formadas por neurônios aferentes da lâmina IV, há grande 
especificidade de funções. Os neurônios do sistema visual, por exemplo, respondem 
somente aos estímulos estritamente visuais, como gradação da cor, movimento e 
formas dos objetos. 
Nas áreas secundárias ocorrem a recepção, a análise e o armazenamento das 
informações que chegam do mundo externo. Entretanto, esta área age em conjunto 
 
50 
 
com as zonas terciárias (ou de superposição), que contribuem para a conversão da 
percepção concreta em pensamento abstrato, para a memorização da experiência e 
para o armazenamento da informação. 
Terceira unidade funcional 
A terceira unidade funcional, responsável pela programação, regulação e 
verificação da atividade consciente do homem, está localizada nas regiões anteriores 
dos hemisférios, anterior ao giro pré-central. 
Existem duas diferenças básicas entre a terceira unidade funcional, eferente, e 
a segunda unidade funcional, aferente. 
 A primeira diferença diz respeito à organização hierárquica, ou seja, enquanto 
na segunda unidade os processos seguem uma via ascendente (da zona primária 
para as secundárias e terciárias), na terceira unidade, os processos seguem uma via 
descendente: começam nos níveis mais altos das zonas terciárias e secundárias, 
onde os programas motores são planejados, e vão para as estruturas pré-motoras e 
motoras primárias, que enviam os impulsos para a periferia. A segunda diferença é 
que na terceira unidade não existem zonas analisadoras modalmente específicas, 
como ocorre na segunda unidade funcional. As áreas pré-motoras são as áreas 
secundárias desta terceira unidade funcional. 
Embora exibam o mesmo tipo de organização morfológica, do tipo vertical 
estriado, elas apresentam mais camadas superiores de células piramidais pequenas. 
Assim, a estimulação de partes das áreas pré-motoras resultará em grupos de 
movimentos organizados (como o giro dos olhos, da cabeça, de todo o corpo, 
movimento de preensão das mãos, etc) e não em movimentos isolados, como ocorre 
na área motora primária. 
Porém, são nos lobos frontais, mais precisamente na região pré-frontal, que 
são executadas as tarefas mais importantes da terceira unidade, já que 
desempenham papel decisivo na formação de intenções e de programas de regulação 
e verificação das formas mais complexas do comportamento humano. 
A principal característica da região pré-frontal é que ela faz conexões com todas 
as demais áreas do córtex, assim como com os níveis mais inferiores do cérebro(núcleos mediais, ventrais, pulvinar do tálamo, etc). Devido à natureza bidirecional 
destas conexões, a região pré-frontal é capaz de não só receber e sintetizar as 
 
51 
 
informações recebidas, como também de organizar os impulsos eferentes, de modo 
que é capaz de regular toda a estrutura cerebral. 
Como complemento, vale apenas reforçar que o córtex pré-frontal exerce papel 
essencial na regulação do estado de atividade, o que o torna capaz de proceder a 
modificações, segundo as intenções e os planos formulados. 
Estudos em animais que tiveram o córtex pré-frontal lesado ou extirpado 
demonstraram que esta região é essencial para o comportamento planejado dirigido 
a metas, para a síntese dos movimentos dirigidos, para a emissão de respostas 
retardadas e para a regulação e verificação dos comportamentos. 
No homem, obviamente, experiências desse tipo são limitadas e normalmente 
os estudos que analisam as sequelas de pacientes lesionados comprovam que o 
córtex pré-frontal é a principal área da atividade consciente do homem. Entretanto, 
não é demais enfatizar que os processos mentais necessitam do funcionamento e da 
participação combinada de áreas individuais do cérebro. 
Em síntese, a teoria de Luria propõe que a primeira unidade funcional regula o 
tono, a vigília e os estados mentais; a segunda unidade obtém, processa e armazena 
as informações que chegam do mundo exterior e a terceira unidade se encarrega de 
programar, regular e verificar a atividade mental. Uma das características comuns das 
unidades funcionais é que elas possuem estrutura hierarquizada, contendo cada uma 
delas áreas primárias (motoras de projeção), áreas secundárias (motoras superiores) 
e terciárias (áreas de associação). Essas três unidades atuam em conjunto e 
possibilitam a realização de funções corticais complexas. 
5.3 Neuropsicologia cognitiva e neurociências 
Até por volta de 1970 a psicologia cognitiva não tinha ainda um entrosamento 
com a neuropsicologia, continuava utilizando modelos computacionais para explicar o 
processamento de informações cognitivas (incluindo percepção e controle motor), 
embora com premente necessidade de ampliar sua metodologia em virtude do tempo 
cada vez maior para tanger novas respostas. 
Além disso, estava exposta tanto ao reconhecimento de seu corpo teórico, 
quanto as críticas por causa da “boxologia” e ausência de um modelo humano. Não 
tardou para a psicologia cognitiva ser levada a unir seu modelo computacional a 
 
52 
 
investigação da organização funcional das habilidades cognitivas, por meio de 
elaboração de testes em indivíduos normais, no entanto sem um caráter clínico. 
Talvez por ser o resultado da convergência de várias ciências, a 
neuropsicologia tardou em oferecer formação direcionada aos profissionais 
interessados, bem como em reunir e organizar um corpo teórico específico. 
Aliás, a construção de conceitos imprescindíveis a prática clínica foi enriquecida 
a partir do desenvolvimento de pesquisas científicas - por exemplo, agregando 
questões relacionadas às dissociações observadas entre pacientes com lesões 
cerebrais distintas - e também a partir da construção de testes neuropsicológicos 
voltados à investigação de pacientes com acometimentos múltiplos ou de pessoas 
provenientes de diferentes culturas. 
Seguindo o pressuposto de que, processos psicológicos podem ser 
investigados por exames não-invasivos, pelos procedimentos padronizados e 
normatizados, capazes de descrever, com certa fidedignidade, como as habilidades 
mentais se comportam após algum tipo de lesão cerebral; ou mesmo assessorando 
estudos comparativos transculturais. 
Por outro lado, ao longo dos anos, a neuropsicologia esteve estruturada sobre 
o estudo de casos únicos (Leborgne de Broca; HM de Scoville e Milner), dependente 
de uma observação cuidadosa do comportamento exibido pelo paciente; e, muitas 
vezes, guiada pelas estruturas provenientes da psicologia cognitiva. 
Nos anos 80, tornou-se insustentável que neuropsicologia e psicologia 
cognitiva se mantivessem distantes e alheias. O encontro entre as áreas proporcionou 
que se abrisse um canal de comunicação que beneficiasse a todos, em decorrência 
deste surgiram eventos, publicações e pesquisas em conjunto. 
Desde então, a parceria denominada Neuropsicologia Cognitiva tem 
incrementado a demanda de produções a partir das trocas de informações, material 
teórico e experiência clínica. Sem perder o perfil tradicional, a neuropsicologia 
mantém-se estudando a localização e organização funcional, bem como a ação 
dinâmica de seus componentes; e a psicologia cognitiva, mais do que o nível de 
análise teórica ganhou maior clareza e agilidade na comprovação de suas hipóteses. 
As neurociências englobam: o estudo da neuroanatomia; neurofisiologia; 
neuroquímica e as ciências do comportamento (psicofísica, psicologia 
cognitiva, antropologia e linguística). Estas áreas de estudo tiveram o maior 
período de isolamento entre si até por volta de 1970 (Kandel, Schwartz, apud 
Jessel, 2000). 
 
53 
 
Atualmente, poucas mudanças ocorreram em termos de objetos de estudo, 
contudo, os neurocientistas têm atuado de forma mais sincronizada e harmoniosa, 
“monitorando” os resultados entre si. Esta mudança de atitude tem gerado rapidez e 
aumento do conhecimento sobre o cérebro e do controle que ele exerce sobre o 
comportamento (Beatty, 1995). A formação de grupos interdisciplinares parece ser 
uma tendência viável para a ciência do novo milênio. 
No livro Neuropsychology the neural basis of cognitive function -
Neuropsicologia a base neural da função cognitiva (1992) foi discutido temas acerca 
das funções cognitivas e suas desordens, sobre plasticidade neuronal, os avanços da 
bioquímica, o desenvolvimento de novas drogas; a ação de neurotransmissores, além 
de técnicas de neuroimagem. 
Esta estruturação ilustra que a neuropsicologia tem colaborado amplamente 
para a evolução efetiva das neurociências, na medida em que instrumentaliza outras 
áreas de investigação. 
5.4 Neuropsicologia e a natureza complexa 
Quando destronado o modelo linear por conta das revoluções no campo 
científico moderno, surge uma lacuna epistemológica (MARIOTTI, 2010), logo se 
fazendo necessário o emprego de uma nova filosofia que possa abranger os muitos 
signos do campo humano, não apenas os tópicos neuroanatômicos ou 
neurofisiológicos, mas, sobretudo os produtos resultantes desse elaboradíssimo 
processamento, a saber, a própria concepção de mente e pensamento. 
Segundo Mader-Joaquim, o estudo contínuo das neurociências faz parte da 
formação dos psicólogos clínicos e de outros profissionais da área da saúde. 
Compreender a complexidade do funcionamento cerebral é absolutamente 
necessário para o bom desenvolvimento da prática clínica. A história do 
desenvolvimento das neurociências está calcada nas contribuições dos 
cientistas em todas estas áreas. (MADER-JOAQUIM, 2011). 
Os avanços expressivos que marcaram o campo das neurociências, têm sua 
origem nas últimas quatro décadas, especialmente com o surgimento de novas 
tecnologias e instrumentos eficazes para o diagnóstico de patologias relacionadas ao 
cérebro bem como novas intervenções clínicas ou cirúrgicas destas doenças 
(MIOTTO et al., 2011), e também destacando a neuropsicologia. 
 
54 
 
A neuropsicologia é uma ciência do século XX, que se desenvolveu inicialmente 
a partir da convergência da neurologia com psicologia, com a finalidade de investigar 
as modificações comportamentais resultantes de lesão cerebral (KANDEL et al., 
1998). Por mais que seu surgimento se dê em virtude de uma aproximação com a 
neurologia, é somente com a expansão das neurociências que a neuropsicologia se 
apropria da identidade de ser elo entre psicologia e as mais variadas ciências da 
mente/cérebro. 
Se por um lado, se reconheça que a neuropsicologia é uma linha da psicologia 
que se aproximaou dialoga com as neurociências, vale identificar a escola psicológica 
que fundamenta e embasa a prática neuropsicológica, tal escola é a cognitiva. 
Segundo Miotto (2007), a base da neuropsicologia atual é fortemente influenciada pela 
psicologia cognitiva, que tem por objetivo, estudar os processos cerebrais e 
psicológicos em indivíduos normais incluindo memória, linguagem, pensamento e 
funções perceptivas. Tal união se dá em Oxford, Inglaterra, após os estudos 
publicados por John Marshall e Frida Newcombe, na década de 1970. 
É uma disciplina do conhecimento preocupada em formular as possíveis 
relações existentes entre funcionamento do sistema nervoso central (SNC), 
por um lado, e as funções cognitivas e o comportamento, por outro, tanto nas 
condições patológicas quanto normais (OGDEN, 1996 apud COSENZA et al., 
2008). 
Para Gil (2002), a neuropsicologia tem por objeto de estudo, os distúrbios 
cognitivos e emocionais, bem como o estudo dos distúrbios da personalidade 
provocados por lesões no cérebro, que é órgão do pensamento e, portanto, a morada 
da consciência. De certo modo (MADER-JOAQUIM, 2011) preocupa-se com a 
emaranhar organização cerebral e suas relações com o desenvolvimento normal. 
Por mais que seja uma disciplina cientificamente nova (KOLB & WISHAW, 
1995). Não é possível precisar quando as primeiras construções epistemológicas a 
respeito de tal ciência de fato surgiram, o que se pode afirmar, é que as bases dessa 
emergente disciplina, se confundem com as primeiras tentativas do homem primitivo 
em localizar os recônditos da alma, bem como as raízes dos comportamentos e das 
emoções. 
A neuropsicologia tem como objeto de estudo as relações entre as funções do 
sistema nervoso e o comportamento humano. Entende-se como neuropsicologia o 
estudo das perturbações das funções mentais superiores devido a alterações 
 
55 
 
cerebrais. Para a neuropsicologia o cérebro é visto como um todo, no qual as suas 
áreas são interdependentes e se encontram inter-relacionadas. 
A neuropsicologia atual preocupa-se com os temas clássicos da psicologia 
como a atenção, a aprendizagem, a percepção e a memória. Os procedimentos 
modernos de investigação cerebral (eletroencefalograma, tomografia 
computadorizada, ressonância magnética funcional) ultrapassaram a relevância da 
avaliação neuropsicológica na localização das funções mentais (Hamdan, Pereira, & 
Riechi, 2011). 
Esta área apoia-se na influência que existe entre os modelos cognitivos e os 
modelos neurais. Os modelos cognitivos provêm de áreas, como a Psicologia 
Cognitiva, a Linguística, a Psicolinguística e a Neuropsicolinguística, enquanto que os 
modelos neurais surgem a partir da biologia, como por exemplo, o modelo de Luria, 
(Haase, et al., 2012). 
Assim, podemos entender a neuropsicologia como uma disciplina científica que 
trata das relações cérebro, mais precisamente das funções cognitivas e das suas 
bases biológicas (Rodrigues, 1993, cit. in Haase, et al., 2012). É também uma ciência 
de caráter interdisciplinar, preocupada em estabelecer uma relação entre os 
processos mentais e o funcionamento cerebral, baseando-se no conhecimento das 
neurociências (Seron, 1982, cit. in Haase, et al., 2012). 
A avaliação é indispensável em Neuropsicologia. É de ressaltar que os 
objetivos da avaliação neuropsicológica não correspondem aos objetivos da avaliação 
psicológica (Haase, et al., 2012). Uma avaliação Neuropsicológica só é realizada de 
maneira adequada quando se detém o conhecimento clínico a respeito do 
funcionamento cerebral, bem como das diferentes manifestações comportamentais 
(Pawlowski, 2011). 
 Desta forma, um profissional em neuropsicologia, efetua uma revisão dos 
conhecimentos, selecionando-os e aplicando-os de forma alcançar um entendimento 
acerca da relação do cérebro e das funções mentais e cognitivas (Haase, et al., 2012). 
O neuropsicólogo exerce a sua função, essencialmente, através da avaliação 
(exame neuropsicológico) e do tratamento (reabilitação neuropsicológica) das 
consequências que as disfunções do sistema nervoso podem causar. Disfunções 
essas, que podem ser originadas a partir de um desenvolvimento anormal do sistema 
 
56 
 
nervoso (p. ex., Dislexia) ou ser adquiridas ao longo da nossa vida (p. ex., Demências) 
(Consenza, Fuentes, & Malloy-Diniz, 2012). 
A Avaliação Neuropsicológica Clínica corresponde à aplicação dos 
conhecimentos da Neuropsicologia que tornam possível examinar e intervir 
no comportamento humano, relacionando-o com funcionamento normal ou 
deficitário do sistema nervoso central. É vista também enquanto análise 
sistemática dos distúrbios de comportamento (e da cognição) que se fazem 
acompanhar de alterações da atividade cerebral normal, por motivos de 
doença, lesão, disfunção ou modificações experimentais (Lezak et al., 2004, 
apud in Haase, et al., 2012). 
As aplicações da neuropsicologia têm-se desenvolvido, à medida que os 
conhecimentos das disciplinas que lhe estão agregadas também aumentam. Cada 
vez mais a neuropsicologia procura dar resposta a problemas envolvidos na prática 
clínica de neurologia, psicologia, psiquiatria, pedagogia, geriatria, etc. O seu leque de 
atuação tem vindo a ser alargado a outras áreas do conhecimento, como a filosofia e 
as ciências exatas (Consenza, Fuentes, & Malloy-Diniz, 2012). 
Devido à importância da neuropsicologia atualmente, psicólogos, psiquiatras, 
educadores, neurologistas e neurocirurgiões, bem como profissionais que lidam 
constantemente com sujeitos portadores de problemas cognitivos, dispõe dos seus 
recursos para uma atuação mais eficaz (Toni, Romanelli, & Salvo, 2005). 
5.5 Suposições teóricas 
As principais suposições teóricas da neuropsicologia cognitiva têm sido 
discutidas frequentemente ao longo dos anos (p. ex., Davies, 2010). 
Focaremos aqui a descrição muito clara de Coltheart (2001). Uma suposição 
importante é a modularidade, significando que o sistema cognitivo consiste de 
inúmeros módulos ou processadores que operam de forma relativamente 
independente ou separada. Presume-se que os módulos exibem especificidade do 
domínio (eles respondem apenas a determinada classe de estímulos). Por exemplo, 
pode haver um módulo de reconhecimento de rostos que responde somente quando 
é apresentado um rosto. 
A suposição de modularidade é correta? Esse tema é muito controverso. 
Provavelmente, a posição da maioria é de que o sistema cognitivo humano exibe 
 
57 
 
alguma modularidade, mas os neuropsicólogos cognitivos frequentemente exageram 
a sua importância. 
A segunda maior suposição da neuropsicologia cognitiva é a da modularidade 
anatômica. De acordo com essa suposição, cada módulo está localizado em uma área 
específica do cérebro. 
Por que essa suposição é importante? É mais provável que os neuropsicólogos 
façam progresso ao estudarem pacientes com lesão cerebral limitada a um único 
módulo. Tais pacientes podem não existir se não houver modularidade anatômica. 
Suponha que todos os módulos fossem distribuídos em grandes áreas do cérebro. 
Se assim ocorresse, a maioria dos pacientes com lesão cerebral sofreria lesões 
na maioria dos módulos. Em consequência, seria impossível calcular o número e a 
natureza dos módulos que eles teriam. 
Existem evidências de alguma modularidade anatômica no sistema de 
processamento visual. No entanto, existe muito menos apoio para a modularidade 
anatômica com tarefas mais complexas. Por exemplo, Duncan e Owen (2000) 
identificaram que as mesmas áreas dentro dos lobos frontais eram ativadas quando 
se realizavam tarefas complexas muito diferentes. Os achados de Yarkoni e 
colaboradores (2011) também são relevantes. Em mais de 3 mil estudos, áreas 
cerebrais como o córtex pré-frontal dorsolateral e o córtex cingulado anterior foram 
ativadas em 20% deles, apesar da grande diversidade das tarefas envolvidas 
A terceira suposição principal é o que Coltheart (2001,p. 10) denominou 
“uniformidade da arquitetura funcional entre as pessoas”. Essa suposição é 
importante, pois pode ser vista se considerarmos as consequências caso ela seja 
falsa. Nesse caso, não conseguiríamos usar os achados de pacientes individuais para 
tirar conclusões sobre a arquitetura funcional de outras pessoas. 
Ideias relacionadas também são comuns dentro da neurociência cognitiva. Por 
exemplo, tem sido alegado com frequência que o processamento da face em 
praticamente todas as pessoas depende muito da área facial fusiforme (Weiner & Grill-
Spector, 2012). Se houver grandes diferenças individuais na arquitetura funcional e 
nas áreas cerebrais envolvidas em dado processo cognitivo, isso complica 
enormemente a tarefa de compreensão da cognição humana. 
A quarta suposição é a da subtratividade. A ideia básica é que a lesão cerebral 
prejudica um ou mais módulos de processamento, mas não altera ou acrescenta nada. 
 
58 
 
Por que esta é uma suposição importante? Suponha que ela seja incorreta e os 
pacientes desenvolvam novos módulos para compensar os prejuízos cognitivos 
causados pela lesão cerebral. Isso complicaria muito a tarefa de aprendizagem acerca 
dos sistemas cognitivos intactos ao serem estudados pacientes com lesão cerebral. 
A suposição da subtratividade é por vezes incorreta. Frequentemente ocorre 
uma recuperação parcial do processo cognitivo prejudicado pela lesão cerebral (Cus 
et al., 2011). Essa recuperação dos processos cognitivos pode envolver a 
recuperação da função dentro da área lesionada ou o recrutamento de regiões 
cerebrais diferentes. 
5.6 Suposição da modularidade 
Geralmente, os sistemas de modularidade envolvem, de forma preponderante, 
o processamento serial, no qual o processamento dentro de um módulo é completado 
antes de ser iniciado no módulo seguinte. 
Em consequência, existe uma interação muito limitada entre os módulos. Há 
algum apoio à modularidade por parte da abordagem evolucionista. Espécies com 
cérebros maiores tendem a ter regiões cerebrais mais especializadas que podem 
estar envolvidas no processamento modular. 
A noção de que a cognição humana é bastante modular é mais difícil de 
conciliar com neuroimagem e outras evidências baseadas na atividade cerebral. O 
cérebro humano apresenta um nível moderadamente alto de conectividade (Bullmore 
& Sporns, 2012; ver a seguir). Isso sugere que existe mais processamento paralelo 
do que supõe a maioria dos neuropsicólogos cognitivos. 
5.7 A complexidade e os processos superiores 
Partindo do pressuposto que o reducionismo é a tendência em reduzir o 
complexo ao simples, sendo importante destacar que na cultura ocidental, nós nos 
condicionamos a pensar de tal modo, ou seja, de forma linear (WOOD JR & CALDAS, 
2001). 
Seria importante questionar se tal forma de avaliação poderia de fato ser 
aplicada no estudo do cérebro humano, o órgão que responde hierarquicamente, 
 
59 
 
como sendo a sede dos comportamentos mais elaborados do homem. A resposta a 
esse questionamento, provavelmente seria não. 
Damásio (1996), expressa sua dificuldade em aceitar que os resultados 
científicos, principalmente em neurobiologia, sejam algo mais do que aproximações 
provisórias para serem saboreadas por uns tempos e abandonadas logo que surjam 
melhores explicações. 
Pois o ceticismo relativo ao atual alcance da ciência, especialmente no que diz 
respeito à mente, não envolve menos entusiasmo na tentativa de melhorar as 
aproximações provisórias. 
Segundo Sanvito (1995). O complexo cérebro/mente é um sistema aberto, que 
tem a sua plasticidade (com grande variação comportamental) e que lida com a 
precisão/imprecisão, certo/ambíguo, completo/incompleto, ordem/desordem tendo, 
portanto, de desenvolver estratégias para a sua organização. 
E ao considerar a existência de sistemas, o método reducionista perde sua 
acuidade, sendo necessário um modo holístico para se aplicar a análise. Não obstante 
a isso, se pode compreender tais essencialidades. 
Segundo Luria Os processos mentais humanos são sistemas funcionais 
complexos e que eles não estão localizadas em estreitas e circunscritas áreas 
do cérebro, mas ocorrem por meio da participação de grupos de estruturas 
cerebrais operando em concerto, cada uma das quais concorre com sua 
própria contribuição particular para o arranjo desse sistema funcional (Lúria, 
1981). 
Damásio (2011) reforça as ideias de Luria, ao defender a concepção de que 
nenhum mecanismo isolado explica a consciência no cérebro, nenhum dispositivo, 
nenhuma região, característica ou truque pode produzi-la sem ajuda, do mesmo modo 
que uma sinfonia não pode ser tocada por um só músico, e nem mesmo por alguns 
poucos. Muitos são necessários. 
A contribuição de cada um é importante, mas só o conjunto produz o resultado 
que procuramos explicar. Em vez de confiar em áreas especializadas únicas 
(NICOLELIS, 2011), o cérebro humano escolhe realizar todas as suas árduas tarefas 
por meio do trabalho coletivo de grandes populações de neurônios distribuídos por 
múltiplas regiões cerebrais, também denominadas grids neurais. 
Talvez a complexidade da mente humana seja tal que a solução para o 
problema nunca possa vir a ser conhecida devido às nossas limitações intrínsecas. 
Quiçá nem sequer devêssemos considerar que existe um problema e devêssemos, 
 
60 
 
em vez disso, falar de um mistério, estabelecendo uma distinção entre as questões 
que podem ser adequadamente abordadas pela ciência e as que provavelmente nos 
iludirão sempre (DAMÁSIO, 1996, p.19) 
Na concepção de Nicolelis (2011), parte de nossa negligência em explorar a 
complexidade do cérebro pode ser explicada também pelas tremendas dificuldades 
experimentais envolvidas em registrar simultaneamente os sinais elétricos produzidos 
por grandes grupos de neurônios individuais, distribuídos por múltiplas regiões 
cerebrais. 
Em suma, o cérebro é um supersistema de sistemas. Cada sistema é composto 
por uma complexa interligação de pequenas, mas microscópicas, regiões corticais e 
núcleos subcorticais, que por sua vez são constituídos por circuitos locais, 
microscópicos, formados por neurônios, todos eles ligados, por sinapses. (DAMÁSIO, 
1996). 
Segundo Nicolelis, o cérebro humano se revela de tal modo, um escultor 
relativístico; um habilidoso artesão que levemente funde espaço e tempo 
neuronais num continuum orgânico que permite o criar tudo que somos 
capazes de ver e sentir como realidade, incluindo nosso próprio senso de ser 
e existir (NICOLELIS, 2011). 
De acordo com Freitas (2006). Compete ao cérebro organizar um sistema de 
comunicação de milhares de dados, para que as respostas adaptativas integrem 
repertórios de conhecimento dos indivíduos. 
A partir de centenas de bilhões de neurônios (NICOLELIS, 2011) e suas 
conexões, que conjuntamente proporcionam mudanças fisiológicas de milissegundo 
a milissegundo, o cérebro humano concebe um modelo arquétipo de um sistema 
complexo. 
6 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
A avaliação neuropsicológica é um método para se examinar o encéfalo por 
meio do estudo de seu produto comportamental (Lezak, Howieson & Loring, 2004) e 
é essencial não somente para a tomada de decisões diagnósticas, mas também para 
o desenvolvimento de programas de reabilitação (Ardila & Ostrosky-Solís, 1996). 
Assim, a avaliação embasada na neuropsicologia cognitiva busca ultrapassar 
tanto a mera classificação do indivíduo em relação a um grupo de referência, quanto 
 
61 
 
a mera descrição dos distúrbios apresentados, visando à “interpretação dos 
mecanismos a eles subjacentes” (Capovilla, 1998). 
Segundo Lezak et al. (2004), a avaliação neuropsicológica pode ser 
relevante para seis propósitos principais: 
 Diagnóstico; 
 Cuidados com o indivíduo; 
 Identificação de tratamentos necessários; 
 Avaliação dos efeitos de tratamentos; 
 Pesquisa e 
 Questões forenses. 
Em relaçãoao diagnóstico, o avanço das técnicas de neuroimagem e dos 
exames laboratoriais diminuiu significativamente a necessidade da avaliação 
neuropsicológica para o diagnóstico da maior parte das lesões e disfunções 
neurológicas. 
 Porém, esta avaliação ainda é crucial em determinados quadros, tais como as 
demências, traumatismos crânio-encefálicos menores ou certas encefalopatias, visto 
que estes não são facilmente detectados nas técnicas usuais. 
 Além disso, mesmo quando exames de neuroimagem detectam a presença de 
lesões, a avaliação neuropsicológica é fundamental para esclarecer os seus correlatos 
comportamentais, sendo ainda importante para o estabelecimento do prognóstico dos 
pacientes em determinados quadros e para a identificação precoce de certos 
distúrbios que, em seu estágio inicial, não apresentam alterações neurológicas óbvias. 
Em relação aos cuidados com o indivíduo, a avaliação neuropsicológica pode 
fornecer, aos membros de seu convívio familiar e social, informações importantes 
relativas às suas capacidades e limitações. 
Estas informações incluem capacidade de autocuidado, capacidade de seguir 
o tratamento proposto, reações às suas próprias limitações, adequação de sua 
avaliação de bens e dinheiro, dentre outras. 
Conhecer estes aspectos do paciente é fundamental para estruturar o seu 
ambiente, promovendo alterações se necessário, de forma que ele tenha condições 
ótimas de reabilitar-se e evitando possíveis problemas secundários, como atribuição 
exagerada de responsabilidade ou de atividades que não estejam ao seu alcance. 
 
62 
 
Além de informações aos cuidadores, a avaliação neuropsicológica pode 
auxiliar o direcionamento da reabilitação, ao fornecer tantos dados sobre as áreas 
deficitárias do indivíduo, quanto sobre as habilidades preservadas e o potencial para 
a reabilitação. 
 A avaliação serve, ainda, para verificar as mudanças do indivíduo ao longo das 
intervenções realizadas, sejam elas cirúrgicas, farmacológicas, psicológicas ou de 
outra natureza. Identificar tais mudanças, que podem ser positivas ou negativas, ajuda 
a rever as intervenções, redirecionando-as quando possível. 
Em relação à pesquisa, a avaliação neuropsicológica pode auxiliar a 
compreensão da atividade encefálica e da sua relação com o comportamento, 
contribuindo para o estudo de diversos distúrbios. 
A propósito, muitos dos testes inicialmente desenvolvidos para pesquisa têm 
se revelado úteis para a prática clínica, tendo seu uso ampliado na clínica para 
documentar o estado cognitivo dos indivíduos. 
Finalmente, em relação às questões forenses, a avaliação neuropsicológica 
tem sido requisitada em casos sobre perda de funções legais ou danos corporais, 
sendo útil para auxiliar decisões sobre a presença de possíveis danos neurológicos e 
cognitivos que estejam relacionados aos comportamentos em questão (Lezak et al., 
2004). 
Segundo Lezak, a avaliação neuropsicológica envolve o estudo intensivo do 
comportamento por meio de entrevistas, questionários e testes normatizados 
que permitam obter desempenhos relativamente precisos (Lezak, 1995). 
O dano cerebral é considerado um “fenômeno multidimensional mensurável e 
que requer uma abordagem de avaliação multidimensional” (Lezak, 1995). 
Diversas condições que podem afetar as consequências de um dano cerebral 
devem ser consideradas, tais como a natureza, extensão, localização e duração da 
lesão; as características físicas, de gênero e de idade do paciente; sua história 
psicossocial; e as individualidades neuroanatômicas e fisiológicas. 
Para o estudo neuropsicológico podem ser usados procedimentos de 
comparação estandardizada ou não. Nos procedimentos estandardizados, a 
avaliação do distúrbio é feita em relação a um padrão que pode ser normativo (ou 
seja, derivado de uma população apropriada) ou individual (derivado da história prévia 
do paciente e de suas características). 
 
63 
 
A avaliação neuropsicológica estandardizada tem sido grandemente 
influenciada pela psicometria (Groth-Marnat, 2000; Kristensen, Almeida & Gomes, 
2001; Mader, 1996). 
Conforme exemplificado por Wood, Carvalho, Rothe-Neves e Haase (2001), os 
passos no desenvolvimento de um instrumento de avaliação neuropsicológica devem 
seguir os critérios para desenvolvimento de instrumentos de avaliação psicológica em 
geral (Alchieri, Noronha & Primi, 2003), envolvendo a definição do construto 
psicológico a ser examinado, a operacionalização deste construto de forma a 
possibilitar a sua mensuração experimental e/ou psicométrica, e a verificação das 
características psicométricas do instrumento de avaliação neuropsicológica, que 
poderá envolver a análise dos itens, análise da precisão e da validade do instrumento. 
Assim, para conduzir de modo apropriado a avaliação neuropsicológica e, 
especialmente, a avaliação estandardizada normativa, é necessário dispor de 
instrumentos precisos, válidos e normatizados para uma determinada população. 
 É essencial, ainda, atentar às habilidades que sofrem grande influência de 
nível de escolaridade ou nível socioeconômico de modo a considerar, para 
comparação, o grupo específico ao qual o paciente pertence. 
 Em tais casos pode ser preferível conduzir uma avaliação estandardizada 
individual, e não normativa, para comparar as habilidades atuais do paciente 
neurológico com suas características anteriores à lesão cerebral. 
Além disso, a fim de estabelecer com precisão em que consistem os distúrbios 
que dificultam a realização de uma prova, é necessário não se limitar à execução 
estandardizada da prova, mas sim possibilitar a introdução de mudanças específicas 
na aplicação ao longo da avaliação (Ardila & Ostrosky-Solís, 1996). Aliás, a 
flexibilidade na aplicação dos instrumentos é um aspecto central da avaliação 
neuropsicológica (Lezak, 1995). 
Na avaliação neuropsicológica formal são administradas provas 
estandardizadas, mas, ao mesmo tempo, deve ser realizada uma observação 
detalhada das respostas gerais do paciente diante da prova e da situação de 
avaliação (Ardila & Ostrosky-Solís, 1996). Para tanto, paralelamente ao 
registro quantitativo das respostas, são feitos registros qualitativos da 
responsividade do paciente, reconhecimento de seus próprios erros, 
respostas emocionais e características de execução das tarefas, com ênfase 
no estudo intensivo de casos individuais (Caramazza & Martin, 1985; apud 
Kristensen et al., 2001). 
 
64 
 
Para proceder à avaliação neuropsicológica, o examinador deve planejar quais 
instrumentos usará em função de suas hipóteses sobre os distúrbios do paciente, 
levantadas a partir de informações coletadas, por exemplo, na entrevista inicial e nos 
procedimentos diagnósticos de outros profissionais. 
Usualmente o examinador inicia a avaliação com uma bateria neuropsicológica 
básica que aborde as principais áreas do funcionamento cognitivo, permitindo 
posteriores decisões sobre a necessidade de usar instrumentos mais específicos e 
refinados. 
As áreas usualmente avaliadas nas baterias neuropsicológicas básicas são 
atenção, processamento viso espacial, memória, funções linguísticas orais e escritas, 
cálculo, funções executivas, formação de conceitos, habilidades motoras e estado 
emocional (Lezak, 1995). Uma bateria básica não pretende ser exaustiva, devendo o 
examinador decidir, posteriormente, sobre a introdução de outros instrumentos de 
avaliação. 
Segundo Ardila e Ostrosky-Solís (1996), uma bateria de avaliação 
neuropsicológica deve ter as seguintes características: 
 Fundamento teórico sólido; 
 Permitir explorar funções básicas, isto é, formas fundamentais do 
comportamento, resultantes da atividade do sistema nervoso e, nesse 
sentido, afetadas o mínimo possível por fatores socioculturais e 
educacionais; 
 Ser aplicável com um mínimo de ajuda e instruções verbais, permitindo 
avaliação de pacientes com severos distúrbios de linguagem; Ter critérios de avaliação objetivos e bem definidos, possibilitando 
alguma quantificação de forma a permitir obter índices de validade e 
precisão; 
 Requerer um mínimo de recursos, aparatos e materiais para a aplicação. 
Segundo Golde, os resultados de crianças submetidas à avaliação 
neuropsicológica devem ser analisados ainda com maior cautela, 
considerando os fatores de desenvolvimento e ambientais envolvidos. 
Geralmente sua interpretação é mais complexa que a interpretação de 
resultados de adultos com lesões cerebrais, mas histórico de 
desenvolvimento normal. Outros métodos, tais como a observação clínica e 
o diagnóstico médico, devem ser conjuntamente considerados para a 
interpretação dos resultados, Golden 1991. 
 
65 
 
Os objetivos específicos de baterias de avaliação neuropsicológica 
infantil são: 
 Auxiliar a identificação de lesão cerebral em crianças com sintomas de 
etiologia incerta; 
 Avaliar a extensão e a natureza de dificuldades em crianças com lesões 
conhecidas de modo a traçar procedimentos de intervenção; 
 Avaliar os efeitos de estratégias de intervenção ou reabilitação sobre o 
funcionamento neuropsicológico; 
 Analisar o efeito de diferentes tipos de lesões em diferentes populações; 
e 
 Testar suposições teóricas sobre as relações entre comportamento e 
sistema nervoso, a fim de confirmar, expandir ou modificar modelos 
atuais sobre o funcionamento cerebral em crianças (Golden, 1991). 
Como em qualquer outro instrumento de avaliação psicológica, uma bateria de 
avaliação neuropsicológica infantil deve obedecer aos critérios de precisão e validade 
(Golden, 1991). As normas de um instrumento neuropsicológico para crianças podem 
ser traçadas para diferentes idades ou para diferentes níveis escolares (Lezak, 1995). 
Segundo Mäder (1996), os objetivos da avaliação neuropsicológica são 
basicamente auxiliar o diagnóstico diferencial, estabelecer a presença ou não de 
disfunção cognitiva e o nível de funcionamento em relação ao nível ocupacional, e 
localizar alterações sutis, a fim de detectar as disfunções ainda em estágios iniciais. 
Além disso, a avaliação neuropsicológica contribui para planejar o tratamento e para 
acompanhar a evolução do quadro em relação aos tratamentos medicamentoso, 
cirúrgico e de reabilitação. 
Nesse sentido, a avaliação neuropsicológica é essencial não somente para a 
tomada de decisões diagnósticas, mas também para o desenvolvimento de programas 
de reabilitação. 
Fuentes et. al. (2008) acreditam que as principais razões para se solicitar 
uma avaliação neuropsicológica são: 
Auxílio diagnóstico: 
 As questões diagnósticas geralmente buscam saber qual seria o 
problema do paciente e como ele se apresenta. Isso implica que seja 
 
66 
 
feito um diagnóstico diferencial entre quadros que têm manifestações 
muito semelhantes ou passíveis de serem confundidas. 
Prognóstico: 
 Com o diagnóstico feito, deseja-se estabelecer o curso da evolução e o 
impacto que a desordem terá no longo prazo. Este tipo de previsão tem 
a ver com a própria patologia ou condição de base da doença ou 
transtorno; quando há lesão, com o lugar, o tamanho e lado no qual se 
encontra e, nesse caso, devem ser considerados os efeitos à distância 
que elas provocam. 
Orientação para o tratamento: 
 Ao estabelecer a relação entre o comportamento e o substrato cerebral 
ou a patologia, a avaliação neuropsicológica não só delimita áreas de 
disfunção, mas também estabelece as hierarquias e a dinâmica das 
desordens em estudo. Tal delineamento pode contribuir para a escolha 
ou para mudanças nos tratamentos medicamentosos ou outros. 
Auxílio para planejamento da reabilitação: 
 A avaliação neuropsicológica estabelece quais são as forças e as 
fraquezas cognitivas, provendo assim um “mapa” para orientar quais 
funções devem ser reforçadas ou substituídas por outras. 
Seleção de pacientes para técnicas especiais: 
 A análise detalhada de funções permite separar subgrupos de pacientes 
de mesma patologia, possibilitando uma triagem específica de pacientes 
para um procedimento ou tratamento medicamentoso. 
Perícia: 
 Auxiliar a tomada de decisão que os profissionais da área do direito 
precisam fazer em uma determinada questão legal. 
Lezak, Howieson e Loring (2004) apontam ainda a relevância da avaliação 
neuropsicológica para os cuidados com o indivíduo. 
Nesse sentido, a avaliação neuropsicológica pode fornecer aos membros de 
seu convívio familiar e social informações importantes relativas às suas capacidades 
e limitações. Essas informações incluem a capacidade de autocuidado, capacidade 
de seguir o tratamento proposto, reações às suas próprias limitações, adequação de 
sua avaliação de bens e dinheiro, dentre outras. 
 
67 
 
Conhecer esses aspectos do paciente é fundamental para estruturar o seu 
ambiente, promovendo alterações, se necessário, de forma que ele tenha condições 
ótimas de reabilitar-se e evitando possíveis problemas secundários, como atribuição 
exagerada de responsabilidade ou de atividades que não estejam ao seu alcance 
(Mäder, 1996). 
De acordo com Capovilla (2007), para proceder à avaliação neuropsicológica, 
o examinador deve planejar quais instrumentos usará, em função de suas hipóteses 
sobre os distúrbios do paciente. 
Estas podem ser levantadas a partir de informações coletadas, por exemplo, 
na entrevista inicial e nos procedimentos diagnósticos de outros profissionais. 
Considerando a variação dos testes neuropsicológicos, tempo de aplicação e 
indicação, Mäder (1996) recomenda organizar um protocolo básico, com a 
possibilidade de complementar a avaliação com outros testes sobre as funções mais 
comprometidas, a fim de realizar um exame mais detalhado. 
Os métodos utilizados na avaliação neuropsicológica variam de acordo com a 
formação de base do profissional, os locais de treinamento e os materiais disponíveis, 
como testes, escalas, questionários, entre outros. Os métodos devem ser 
selecionados de acordo com as necessidades do examinador, no entanto, uma bateria 
básica não pretende ser exaustiva, devendo o examinador decidir, posteriormente, 
sobre a introdução de outros instrumentos de avaliação. 
A bateria neuropsicológica básica, então, aborda as principais áreas do 
funcionamento cognitivo, permitindo posteriores decisões sobre a necessidade de 
usar instrumentos mais específicos e refinados. 
Segundo Ardila e Ostrosky-Solís (1996), uma bateria de avaliação 
neuropsicológica deve ter as seguintes características: 
 Fundamento teórico sólido; 
 Permitir explorar funções básicas, isto é, formas fundamentais do 
comportamento, resultantes da atividade do sistema nervoso e, nesse 
sentido, afetadas o mínimo possível por fatores socioculturais e 
educacionais; 
 Ser aplicável com um mínimo de ajuda e instruções verbais, permitindo 
avaliação de pacientes com severos distúrbios de linguagem; 
 
68 
 
 Ter critérios de avaliação e objetivos bem definidos, possibilitando 
alguma quantificação, de forma a permitir obter índices de validade e 
precisão; 
 Ter critérios de avaliação e objetivos bem definidos, possibilitando 
alguma quantificação, de forma a permitir obter índices de validade e 
precisão; 
Segundo Lezak (1995), as áreas usualmente avaliadas nas baterias 
neuropsicológicas são: atenção, processamento viso espacial, memória, funções 
linguísticas – orais e escritas, cálculo, funções executivas, formação de conceitos, 
habilidades motoras e estados emocionais. Alguns autores são mais detalhistas ao 
discriminar quais habilidades e competências do indivíduo a avaliação 
neuropsicológica deve avaliar. 
 Miranda (2006), por exemplo, acredita que a avaliação neuropsicológica deve 
investigar as seguintes funções do indivíduo: atenção (dividida, sustentada e 
focalizada); flexibilidade cognitiva; memória (curto e longo prazo, verbal e visual); 
processos intelectuais (raciocínio,abstração e pensamento); funções motoras 
(movimentos, lateralidade, entre outros); funções visuais (percepção e discriminação); 
organização visuoespacial e organização visuoconstrutiva. 
Luria (1981) também ressaltou a importância da linguagem, ao afirmar que esta 
é um dos elementos organizadores mais importantes da atividade cerebral. A partir da 
linguagem, disse ele, todas as outras funções cognitivas superiores se organizam. A 
linguagem, por sua vez, é de forma inequívoca um fenômeno sociocultural, produzido 
e modificado historicamente. 
 Assim, o próprio funcionamento do cérebro, particularmente no que concerne 
às funções corticais superiores (linguagem, memória, pensamento, etc.), é organizado 
a partir das interações sócio familiares básicas e também do contexto sociocultural e 
histórico no qual o indivíduo se insere, desde os seus primeiros anos de vida 
(Dalgalarrondo, 2008). 
Diante da complexidade das funções cognitivas, os processos cognitivos 
(Sternberg, 2008), incluindo a linguagem, precisam ser estudados e analisados por 
meio de diversas operações convergentes, ou seja, de métodos variados de estudo 
que buscam um entendimento comum. 
 
69 
 
Quanto mais diferentes tipos de técnicas levarem à mesma conclusão, maior a 
confiança que se pode ter nessa conclusão. Isto explica a importância das várias 
fontes de informações, tais como: testes, exames médicos, inventários, questionários, 
entre outros. Essas fontes, podem ser quantitativas ou qualitativas. 
6.1 Aplicações 
Na realização de uma avaliação neuropsicológica deve-se levar em 
consideração duas regras, que nunca devem ser quebradas. 
São elas: 
 Tratar cada paciente como um indivíduo e; 
 Pensar sobre o que se está fazendo. 
Estas medidas se justificam pela diversidade de quadros neurológicos 
existentes, pelo perfil das habilidades comprometidas (ou não) de cada paciente, e 
pelos propósitos de cada avaliação. A complexidade destes aspectos requer, portanto, 
que a avaliação seja flexível, aberta e criativa. 
Como assinala Kajihara, sob a perspectiva neuropsicológica, a descoberta do 
sintoma não constitui o fim, mas o ponto inicial para o estudo das estruturas internas 
do distúrbio e identificação de seus fatores subjacentes. 
O exame neuropsicológico aplica-se, desta forma, a uma série de propósitos: 
auxílio em diagnósticos; suporte no manejo, cuidado e planejamento de programas de 
reabilitação; avaliação da eficácia de tratamentos; fornecimento de informações para 
propósitos jurídicos; e pesquisa. 
Complementarmente a estas aplicações, a avaliação neuropsicológica pode: 
ser aplicada como linha-de-base para monitorar alterações temporais associadas a 
doenças degenerativas, ou à recuperação de distúrbios cerebrais agudos; 
acompanhar os resultados clínicos de intervenções cirúrgicas, farmacológicas ou 
comportamentais; fornecer informações prognósticas quanto às alterações na 
qualidade de vida; na área forense, tornou-se um componente importante nos casos 
civis e criminais; determinar o estado afetivo e cognitivo do paciente para formular e 
delinear intervenções terapêuticas e de reabilitação . 
Em todas estas situações, o neuropsicólogo tenderá a cair em uma das duas 
categorias de questionamento: diagnósticas e descritivas. Questões diagnósticas 
 
70 
 
remetem o neuropsicólogo clínico à investigação da natureza das queixas e sintomas 
do paciente, quanto à sua etiologia e ao seu prognóstico; questões descritivas 
demandam a caracterização da condição dos pacientes. 
Independente do motivo do encaminhamento torna-se importante frisar que as 
informações e os achados só podem ser interpretados dentro de um contexto, onde 
tem relevância a idade, história de vida e escolaridade do examinando, portanto, a 
avaliação neuropsicológica exige uma abordagem multidimensional. 
6.2 Instrumentos brasileiros para avaliação neuropsicológica 
No Brasil, pesquisadores e clínicos que trabalham com avaliação 
neuropsicológica ainda se deparam com um problema bastante grave, a escassez de 
instrumentos precisos, validados e normatizados disponíveis para pesquisa e 
diagnóstico, embora as pesquisas em neuropsicologia tenham crescido e resultado 
em trabalhos valiosos. Nosso grupo de pesquisa tem trabalhado nesta área, com o 
desenvolvimento e a validação de instrumentos de avaliação e de procedimentos de 
intervenção. 
A seguir são apresentados, de forma sumariada, alguns dos instrumentos para 
avaliação neuropsicológica que nosso grupo de pesquisa tem desenvolvido no Brasil. 
Vários desses testes são informatizados, o que facilita o registro de parâmetros 
temporais como tempo de reação e duração da resposta. 
Alguns, inclusive, podem ser aplicados de modo remoto via Internet, 
possibilitando estudar diferentes amostras espalhadas por amplos territórios. Estudos 
buscando evidências de validade destes testes têm sido conduzidos com populações 
infantil e adulta, com e sem distúrbios neuropsiquiátricos, incluindo dislexia, transtorno 
de déficit de atenção e hiperatividade, e transtornos de ansiedade. 
Alguns instrumentos brasileiros destinam-se à avaliação de diferentes 
habilidades de linguagem oral. Por exemplo, para avaliar o vocabulário expressivo, 
isto é, quais palavras uma criança fala, está disponível a Lista de Avaliação de 
Vocabulário Expressivo, originalmente desenvolvida por Rescorla (1989) e adaptada, 
validada e normatizada para a população paulista por Capovilla e Capovilla (1998). 
Ela é destinada a crianças a partir de dois anos de idade, com o objetivo de avaliar 
possíveis atrasos de linguagem oral expressiva. 
 
71 
 
Segundo Capovilha, o vocabulário receptivo pode ser avaliado por meio do 
Teste de Vocabulário por Imagens Peabody, que já foi traduzido e adaptado 
para o português, com a disponibilização de dados de precisão, validade e 
normatização para idade entre 2 e 14 anos (Capovilla & Capovilla, 1998). 
Contém 125 pranchas de teste, em que o examinando deve selecionar, dentre 
quatro figuras alternativas, a que melhor corresponde à palavra falada pelo 
examinador. 
A nomeação de figuras pode ser avaliada por meio do Teste Infantil de 
Nomeação (Capovilla, Montiel, Macedo & Capovilla, no prelo), que possui as versões 
tradicional (em papel) e computadorizada. 
 O examinando vê desenhos de linha e deve pronunciar o seu nome em voz 
alta. Uma outra forma de avaliar nomeação, desta feita em conjunção com a 
habilidade de leitura, é por meio do Teste Informatizado de Nomeação de Figuras por 
Escolha (Capovilla, Viggiano, Raphael, Bidá, Capovilla, Neves & Mauricio, 2004), em 
que o examinando deve escolher, dentre quatro palavras escritas, a que melhor 
corresponde a uma figura. 
Temos desenvolvido, ainda, instrumentos para avaliar habilidades de 
metalinguagem, ou seja, de reflexão intencional sobre a linguagem. Dentre tais 
instrumentos encontram-se a Prova de Consciência Fonológica (Capovilla & 
Capovilla, 2004) e a Prova de Consciência Sintática (Capovilla, Capovilla & Soares, 
2004). 
Ainda em relação à linguagem oral, há o Teste de Repetição de Palavras e 
Pseudopalavras (Capovilla, em preparação), com base no teste de Gathercole e 
Baddley (1989). Para avaliar a fluência verbal, desenvolvemos uma versão 
informatizada do Teste de Fluência Verbal FAS, baseado em Benton e Hamsher 
(1989), que requer que o sujeito fale o maior número possível de palavras começadas 
com as letras F, A e S, tendo um minuto para cada letra. 
Em relação às habilidades de leitura, desenvolvemos o Teste de Competência 
de Leitura de Palavras - TCLP (Capovilla, Viggiano, Capovilla, Raphael, Mauricio & 
Bidá, 2004), que avalia o uso diferencial das estratégias de leitura pelo examinando. 
Paralelamente à avaliação do reconhecimento de palavras, há o Teste de 
Competência de Leitura de Sentenças (Capovilla, Viggiano, Capovilla, Raphael, Bidá, 
Neves & Mauricio, 2004) avalia as habilidades de compreensão.Ambos os testes 
estão disponíveis nas versões tradicional e computadorizada. 
 
72 
 
 A avaliação da escrita pode ser feita por meio da Prova de Escrita sob Ditado, 
que apresenta itens com diferentes características psicolinguísticas (Capovilla & 
Capovilla, 2004). 
Para avaliar a atenção, nosso grupo de pesquisa tem desenvolvido versões de 
alguns testes classicamente usados, tais como testes de cancelamento, Teste de 
Trilhas e Teste de Stroop. 
O Teste de Atenção por Cancelamento (Montiel & Capovilla, 2006a) possui três 
partes que avaliam atenção seletiva e atenção alternada, sendo a tarefa básica do 
examinando selecionar, em uma matriz de estímulos, aqueles semelhantes ao 
estímulo-alvo. O Teste de Trilhas – Partes A e B (Montiel & Capovilla, 2006b) objetiva 
avaliar aspectos de manutenção da atenção e capacidade de alternar entre estímulos 
relevantes. 
Está disponível, ainda, o Teste de Stroop Computadorizado nas versões neutra 
(Capovilla, Montiel, Macedo & Capovilla, 2005) e emocional (Montiel, Capovilla, 
Capovilla & Macedo, no prelo). 
A avaliação das funções executivas pode ser feita por meio do Teste de 
Geração Semântica (Capovilla, Cozza, Capovilla, Macedo & Dias, 2006), também 
informatizado, em que é solicitada a geração de um verbo semanticamente associado 
a um substantivo. Temos, também, uma versão da Torre de Londres, que requer a 
transposição das três esferas que o sujeito deve rearranjar, uma a uma, a partir de 
uma posição inicial fixa, de modo a alcançar diferentes disposições finais 
especificadas pelo aplicador. 
Para avaliar as habilidades aritméticas, temos a Prova de Aritmética (Capovilla, 
Montiel & Capovilla, 2006), que contém seis subtestes para avaliar diferentes 
habilidades relacionadas à matemática. Para avaliar o processamento visoespacial, 
desenvolvemos o Teste Imagética Baby (Lopes, Capovilla, Berberian, Capovilla & 
Macedo, 2006), um software que apresenta pares de figuras bidimensionais para o 
julgamento de identidade, requerendo rotação mental para a solução da tarefa. 
7 O PAPEL DO NEUROPSICÓLOGO 
O Neuropsicólogo hoje é um profissional que atua em diversas instituições, 
desenvolvendo atividades como diagnóstico, reabilitação, orientação à família e 
 
73 
 
trabalho em equipe multidisciplinar. Os principais locais onde o Neuropsicólogo é 
requisitado incluem: instituições acadêmicas (pesquisa, docência), hospitais 
(avaliações pré e pós-cirúrgica), juizados (avaliação e perícias), clínicas (avaliação, 
reabilitação e pesquisa), consultórios privados e atendimentos domiciliares 
(reabilitação). 
Além disso, fornece dados objetivos e formula hipóteses sobre o funcionamento 
cognitivo, atuando como auxiliar na tomada de decisões de profissionais de outras 
áreas, fornecendo dados que contribuam para as escolhas de tratamento 
medicamentoso e cirúrgico. 
A Neuropsicologia tem um histórico grande de estudo de indivíduos que tinham 
transtornos e sequelas que envolviam o cérebro e a cognição. Ainda hoje a grande 
parte da população que procura um Neuropsicólogo vem encaminhada por 
Psicólogos, Psiquiatras e Neurologistas. 
Essa população de pessoas que sofreram algum tipo de transtornos e/ou 
sequelas, é a grande maioria, entretanto existe uma pequena parcela que procura o 
Neuropsicólogo por preocupações de desempenho cognitivo, como por exemplo, um 
esquecimento, ou uma falta de concentração em atividades, gerando assim um campo 
que poderia ser chamado como "Neuropsicologia Preventiva" 
Em 2004 o Conselho Federal de Psicologia reconheceu a Neuropsicologia 
como especialidade da Psicologia (Resolução CFP Nº 002/2004), com isso algumas 
diretrizes sobre a Neuropsicologia foram escritas pela primeira vez de forma 
reconhecida por um órgão regulador do Psicólogo Brasileiro. 
Segundo o CFP existem 3 campos de atuações que são fundamentais na 
profissão do Neuropsicólogo: 
Diagnóstico: 
Através do uso de instrumentos (testes, baterias, escalas) padronizados para 
avaliação das funções cognitivas, o Neuropsicólogo irá pesquisar o desempenho de 
habilidades como atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, 
aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento da informação, 
visuoconstrução, afeto, funções motoras e executivas. Esse diagnóstico tem por 
objetivo poder coletar os dados clínicos para auxiliar na compreensão da extensão 
das perdas e explorar os pontos intactos que cada patologia provoca no sistema 
nervoso central de cada paciente. 
 
74 
 
A partir desta avaliação Neuropsicológica é possível estabelecer tipos de 
intervenção, de reabilitação particular e específica para indivíduos e/ou grupos de 
pacientes com disfunções adquiras ou não, genéticas ou não, primariamente 
neurológicas ou secundariamente a outros distúrbios (Psiquiátricos). 
Tratamento (Reabilitação): 
Com o diagnóstico em mãos é possível realizar as intervenções necessárias 
junto aos pacientes, para que possam melhorar, compensar, contornar ou adaptar-se 
às dificuldades. Essas intervenções podem ser no âmbito do funcionamento cognitivo, 
ou seja, no trabalho direto com as funções cognitivas (memória, linguagem, atenção, 
etc.) ou com um trabalho muito mais ecológico, no ambiente de convivência do 
paciente, junto de seus familiares, para que atuem como coparticipantes do processo 
reabilitatório; junto a equipes multiprofissionais e instituições acadêmicas e 
profissionais, promovendo a cooperação na inserção ou reinserção de tais indivíduos 
na comunidade quando possível, ou ainda, na adaptação individual e familiar quando 
as mudanças nas capacidades do paciente forem mais permanentes ou de longo 
prazo. 
Pesquisa: 
A pesquisa em Neuropsicologia envolve o estudo de diversas áreas, como o 
estudo das cognições, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o 
enfoque da relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral. Para tais 
pesquisas o uso de testes Neuropsicológicos é um recurso utilizado, para assim ter 
um parâmetro do desempenho do paciente nas determinadas funções que estão 
sendo pesquisadas. 
 Atualmente o uso de drogas específicas, para estimulação ou inibição de 
determinadas funções, tem sido usada com frequência para observar o 
comportamento e o funcionamento cognitivo dos sujeitos em dadas situações. 
 Outra técnica que muito tem contribuído nas Neurociências e com grande 
especificidade na Neuropsicologia é o uso de neuroimagem funcional por 
Ressonância Magnética (fMRI) e tomografia funcional por emissão de pósitrons (PET-
CT) que permitem mapear determinadas áreas relacionadas a atividades específicas, 
como por exemplo recordação de listas de palavras durante o exame. 
Portanto, fica claro que a Neuropsicologia é um campo de trabalho e de 
pesquisa emergente, tanto para a Psicologia, quanto para as Neurociências, 
 
75 
 
avançando e contribuindo de forma única para a compreensão do modo como 
pensamos e agimos no mundo. 
7.1 Neuroimagem 
O mérito como precursor da neuropsicologia poderia ser reclamado por vários 
cientistas desde os primórdios do localizacionismo, ainda na Grécia. Este conjunto de 
ideias que teve em Franz Josef Gall um de seus principais expoentes – entre os 
séculos XVIII e IX - ainda hoje tem seus adeptos, embora mais flexíveis e mais bem 
equipados. 
A localização de regiões cerebrais é objeto de muitos estudos de neuroimagem 
utilizando técnicas como Tomografia por Emissão de Pósitron (PET scan) e Imagem 
por Ressonância magnética funcional (IRMf), as quais possuem magnitude de 
resolução espacial, suficientemente alta para visualizar ação de massa relacionada à 
função cerebral. Mas ainda não possuem resolução temporal e oferecem apenas 
limitada informação quanto à dinâmica da atividade cortical. 
Por esta razão, alguns estudos complementam os dados de neuroimagem 
funcional com outras técnicas, por exemplo, Potencial Evocado e Eletrofisiologia 
Cognitiva(Clark et al., 2001). 
Em um estudo clássico com PET scan, Paulesu et al., (1993) mediram o fluxo 
sanguíneo cerebral em voluntários saudáveis em duas tarefas de ativação e suas 
respectivas condições-controle. 
Na primeira tarefa, os participantes foram instruídos a reverberar os estímulos 
silenciosamente e a lembrar-se dos estímulos (ou seja, após cada sequência a 
consoante-alvo aparecia e os participantes julgavam se a mesma estava presente na 
sequência prévia apresentada ou não). 
A condição controle seguiu o mesmo procedimento, mas com letras coreanas. 
Na segunda tarefa, era solicitado aos participantes o julgamento de rimas com 
consoantes em relação à consoante-alvo (letra B). 
A condição-controle era a similaridade de formas entre letras coreanas e a letra-
alvo coreana. Os resultados deste estudo demonstraram, pela primeira, vez a 
neuroanatomia do componente verbal da memória operacional em voluntários sadios, 
 
76 
 
isto é, como armazenador fonológico o giro supra marginal esquerdo (lobo parietal), 
enquanto o ensaio subvocal foi associado com a área de Broca (lobo frontal). 
A ressonância magnética funcional é outra técnica de mapeamento cerebral 
não-invasiva de ampla utilização, apropriada até para o uso em crianças. Tem sido 
empregada para localização de funções críticas (Logan, 1999), avaliação de 
correlatos neurais da plasticidade cerebral (Hertz-Pannier et al., 2000), bem como 
para examinar a relação entre função e estrutura no decorrer do desenvolvimento 
cognitivo cerebral (Nelson et al., 2000). 
Neuroimagiologia ajusta-se em duas grandes categorias: 
Imagem estrutural: 
 Que trata da estrutura do sistema nervoso e do diagnóstico de doença 
intracraniana bruta (grande escala) como tumor e lesão. 
Imagem funcional: 
 Que é usada para diagnosticar doenças metabólicas e lesões em uma 
escala mais fina (como a doença de Alzheimer) e também para 
pesquisas de psicologia neurológica e cognitiva e construção de 
interfaces cérebro- computador. 
A imagem funcional permite, por exemplo, o processamento de informações 
por centros no cérebro para serem visualizados diretamente. Esse processamento faz 
com que a área envolvida do cérebro aumente o metabolismo e "acenda" na 
varredura. Um dos usos mais controversos da neuroimagem tem sido a pesquisa 
sobre a "identificação do pensamento" ou a leitura mental. 
A neuropsicologia tem como preocupação constante se especializar cada vez 
mais para atender as necessidades do organismo, mesmo mediante as alterações 
originadas a partir do processo evolutivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Metabolismo
 
77 
 
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