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1 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS 1 Sumário INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3 PROJETOS: PLANEJAMENTO PARA SOLUCIONAR PROBLEMAS....................... 6 A EXECUÇÃO E ACOMPANHAMENTO DE UM PROJETO INSTITUCIONAL ......... 9 PROJETOS SOCIAIS PARTICIPATIVOS ................................................................ 13 MODELO DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS PARTICIPATIVOS.................................................................................................... 16 REFERÊNCIAS: ....................................................................................................... 25 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Segundo definição da ONU: um projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo dados (apud COHEN; FRANCO, 1999, p. 85). Uma maneira clara de se fazer uma distinção entre um projeto e outras formas de planejamento é considerá-lo como uma tentativa de solucionar um problema, de preencher uma necessidade. Ou seja, os projetos: “Pode-se dizer, portanto, que um “projeto social” é um planejamento para solucionar um problema” ou responder a uma carência social. Numa época em que os recursos públicos destinados à área social escasseiam e as demandas, em contrapartida, aumentam, a exigência por uma gestão “eficaz, eficiente e efetiva” dos projetos e programas sociais é categórica. No entanto, é necessário o desenvolvimento de uma cultura voltada para a elaboração, o monitoramento e a avaliação, que compreenda tais processos não apenas como etapas subsequentes destinadas à definição das metas, acompanhamento do cronograma e do fluxo de caixa e checagem dos resultados. Com vistas à captação de recursos e posterior prestação de contas junto aos financiadores, mas sim como “práticas adequadas ao aperfeiçoamento do processo de tomada de decisão na gestão dos projetos”, em especial na área social. 4 Neste sentido, a atenção de uma maneira geral, e em especial entre as agências financiadoras tem se voltado para a efetividade das ações e não apenas para a eficiência e eficácia no cumprimento das metas. Importam saber se, para além de uma utilização conscienciosa dos recursos, as ações contribuíram para uma mudança positiva na situação-problema enfocada pelo projeto. Além disso, os financiadores de projetos na área social, ao analisarem as propostas, buscam indicativos claros de que o proponente conhece o contexto no qual pretende atuar, tem condições de criar alternativas para reverter ou amenizar a situação-problema enfocada e tem uma noção realista de qual é o esforço necessário e de quanto custa à intervenção. Para o enfrentamento das questões sociais precisamos mais do que vontade de acertar. A competência técnica para propor, conduzir e avaliar intervenções no campo social deve ser buscado, seja através da capacitação dos executores, seja por meio da contratação de consultoria externa ou da cooperação técnica de especialistas. Isto não implica, contudo, na construção de alternativas ambiciosas ou complexas aos problemas sociais em foco. Muitas vezes as soluções simples e originais são mais realistas e adequadas. Todavia, a competência técnica não descarta, pelo contrário, deve buscar compreender e incorporar, o conhecimento acumulado pelos próprios beneficiários e demais atores que vivenciam e estão a “driblar” cotidianamente a situação- problema. 5 É neste sentido que os métodos participativos de planejamento, gestão e avaliação de projetos na área social têm merecido destaque na literatura sobre o tema. As metodologias participativas enfatizam a importância do envolvimento dos beneficiários e demais atores, que podem ser possíveis parceiros ou grupos de pressão, na estruturação e durante todo o desenvolvimento do projeto. O sucesso da intervenção, ou seja, a efetividade de sua contribuição para a solução ou melhoria da situação-problema enfrentada, depende da compreensão e do consentimento dos atores sociais envolvidos quanto aos propósitos do projeto, e, consequentemente, do empenho dos mesmos na concretização de seus objetivos. Isto só é possível de uma maneira ética a partir da participação efetiva dos atores sociais em especial dos beneficiários em todo o processo de desenvolvimento do projeto, desde sua elaboração até a avaliação de seus impactos. Sendo assim, a efetividade de toda e qualquer ação transformadora no campo social está atrelada a uma “dimensão técnica”, dada pelas competências exigidas não só no planejamento, quanto na implementação e na avaliação dos projetos sociais. Mas também requer uma visão crítica capaz de questionar a todo o momento o sentido do nosso agir. O compromisso ético exige que as nossas ações tenham resultados efetivos; que possam contribuir para a transformação positiva das condições sociais; e que estejam comprometidas com os anseios do público-alvo. Esta é a “dimensão ética” subjacente aos projetos sociais. 6 PROJETOS: PLANEJAMENTO PARA SOLUCIONAR PROBLEMAS Projetar significa planejar algo que se pretende realizar no futuro, sendo que um projeto distingue-se de outras formas de planejamento como o planejamento estratégico de uma instituição ou uma simples programação de atividades rotineiras por ser fechado, isto é, tem começo, meio e fim previsíveis e programados. Além disso, também são estabelecidos previamente o público-alvo do projeto, ou seus beneficiários, as atividades a desenvolver e os recursos necessários tempo, dinheiro, equipamentos e pessoas. Em alguns casos, o propósito do projeto é estabelecer uma nova iniciativa, sem prazo para terminar. Mas, mesmo assim, o projeto compreenderá todas as ações levadas a cabo para implementar essa iniciativa, para colocá-la em funcionamento. Segundo definição da ONU: um projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo dados (apud COHEN; FRANCO, 1999, p. 85). 7 “Pode-se dizer, portanto, que um “projeto social” é um planejamento para solucionar um problema” ou responder a uma carência social. A experiência dos avaliadores de programas e projetos sociais mostra que uma grande deficiência neles frequente é a debilidadena definição e estruturação do problema alvo da intervenção. É bastante comum nos depararmos com projetos bem redigidos e lastreados pelas melhores intenções, mas que não deixam claro qual a situação-problema que está sendo enfrentada. Em decorrência disto os objetivos são geralmente múltiplos e inconsistentes, quando não são concorrentes entre si. A precária definição do problema e a discrepância dos objetivos deixam margem a um alto grau de arbitrariedade no estabelecimento das metas e, por consequência, uma grande dificuldade na gestão e avaliação do projeto. Contudo, o planejamento para solucionar um problema só é eficaz se parte de uma percepção acurada da realidade, de forma que se possa distinguir entre potencialidades e riscos de nossos possíveis cursos alternativos de ação. A confrontação com a situação-problema, porém, é uma condição necessária, mas não necessária e suficiente para a formulação de um projeto viável. Para isso é preciso haver a firme crença/perspectiva de uma possibilidade de mudança na situação atual, considerada indesejável, de modo a se lograr um novo estado futuro, que se deseja atingir. Para caracterização da situação-problema é necessário reunir informações atualizadas, que possam descrevê-la em termos quantitativos e qualitativos. Para isso, precisamos de “indicadores” que possam auxiliar na construção do cenário do projeto com maior precisão. Além disso, é preciso também reunir informações que permitam responder com clareza certas questões como: quem é o público-alvo? O que ele pensa? Como 8 ele vive? Quais são os seus desejos e necessidades? Neste sentido, o desejado é que se obtenham informações e impressões de “primeira mão” junto ao público-alvo. O ambiente no qual se desenvolvem os projetos sociais é caracterizado pela presença de diversos atores, isto é, de pessoas, grupo de pessoas ou instituições que têm alguma influência na situação avaliada ou que sofrem suas consequências. Os atores são sujeitos ou objetos da realidade considerada e, portanto, apresentam interesses distintos e às vezes concorrentes. Para alguns, a situação pode não ser encarada como problemática, por serem menos afetados, por ignorância de suas consequências ou por terem alguma vantagem em que ela se mantenha. Esses agentes sociais procuram fazer com que seus valores sejam considerados pelo projeto. Neste sentido, quanto maior for à participação dos atores sociais tanto os que exercem uma influência sobre a situação-problema como os que são vítimas dos seus infortúnios no desenvolvimento do projeto, maior será a possibilidade de sucesso. Além de garantir maior coerência ao projeto, o respeito pela cultura e posição de cada um dos atores envolvidos contribui para uma validação dos resultados esperados e um compromisso do grupo com os objetivos estabelecidos pelo projeto. Etapas do planejamento Se pensarmos o projeto como iniciativa para solucionar um problema, pode- se dizer que a fase de “elaboração” compreenderá as três etapas a seguir: 9 1- “Identificar um problema, uma carência, uma situação sentida como deficiente”. Para isso é preciso organizar as informações disponíveis sobre a situação, reunir-se com outros interessados e tentar caracterizar o problema de vários pontos de vista. Quando se percebe a existência de vários problemas, é preciso decidir a quais, por sua importância ou pela maior facilidade de solução, vai se dar prioridade. 2- “Pensar em como solucionar o problema ou carência e nas ações que poderiam contribuir para mudar essa situação”. As diferentes alternativas de solução imaginadas têm que ser analisadas para saber se são viáveis. Em seguida, têm que ser comparadas, a fim de se escolher a melhor. 3- Escolhida uma solução, parte-se para “programar em detalhes o que vai ser feito, o que se espera que aconteça como resultado de nossa ação e o que se necessita agenciar e disponibilizar” de modo a assegurar a realização disso. A EXECUÇÃO E ACOMPANHAMENTO DE UM PROJETO INSTITUCIONAL Uma vez socializado e aprovado o projeto, as linhas de ação, objetivos e principais atividades, o projeto já se encontra em execução, é o momento de elaboração de cronograma de ação, indicação dos responsáveis em cada uma das atividades; orçamento detalhado. 10 Faz parte também desta fase o plano de acompanhamento da execução, avaliações periódicas, para realinhamento das ações, e para composição da avaliação final. Para confecção do cronograma o quadro deve conter todas as atividades e seus detalhes para que não haja surpresas desagradáveis com o cumprimento dos prazos, principalmente nos projetos que contenham duas ou mais linhas de ações, com objetivos diversos, pois como já foi observado no momento da elaboração, os desdobramentos dos resultados esperados geram outras tantas atividades correlacionadas, que precisam ser colocadas em ordem lógica de execução. O quadro possa a ser simplificado, a princípio e depois trabalhado com maiores detalhes em quadros de resultados. Para as instituições que elaboram Planos Operativos Anuais (POA) o cronograma dos projetos será adicionado aos POAs de cada grupo ou setor responsável pelas atividades. Exemplo do quadro de cronograma inicial: O acompanhamento da execução do projeto prevê atividades distintas, cada uma com sua importância, pois é o conjunto de todas as atividades que compõe a possibilidade do projeto ser bem sucedido, e dos objetivos serem alcançados. A equipe técnica institucional, normalmente fica encarregada das atividades que demandam ações cotidianas, não só de realização, mas também de controle dos recursos, compras, infraestrutura, prestação de contas, relações institucionais com parceiros, etc. 11 Dependendo do porte da instituição encontra-se equipes maiores ou menores, porém o mais importante é que os papeis sejam definidos e pactuados para que nenhuma área da execução fique descoberta. Além do acompanhamento cotidiano do projeto é parte significativa as avaliações periódicas e final. O processo de avaliação e sistematização de todo percurso do projeto são ferramentas que possibilitam à instituição criar novos conhecimentos. A cultura institucional fica enriquecida à cada projeto finalizado, avaliado e sistematizado, ignorar esta fonte seria desperdiçar parte dos esforços empreendidos por toda a equipe, pois em novas oportunidades este acumulo será uma base sólida para a tomada de decisões. A contribuição de uma sistematização bem elaborada e publicada tem também benefícios sociais, uma vez que outras instituições podem se valer das vivencias ali registradas e considera-las em novas propostas. A avaliação bem elaborada é aquela pactuada com antecedências desde a elaboração do marco lógico. Leve-se em conta que a avaliação também prevê atividades e necessita da reserva de meios: infra estrutura, recursos humanos e financeiros, que precisam ser considerados no orçamento final. Pode-se distribuir uma pesquisa ao longo períodos predeterminados: semestral ou anual, levando-se em conta as condições dos diferentes segmentos do projeto responderem à estas pesquisas sem causar transtorno ao andamento da rotina cotidiana de trabalho. Os menores custos podem ser conseguidos com a execução de questionários online (ofereceremos uma lista destes sites ao final do nosso caderno), onde é possível colher os dados da pesquisa sem trabalhos de tabulação, e os resumos são ofertados já por categorias. 12 Outra ferramenta possível é a pesquisa participante, em que os próprios técnicos da instituição elaboram um trabalho etnográfico de sua observação nos locais onde as atividades se desenrolam. Porém, a possibilidade é que se instituam“diários de bordo” ou registros das anotações das impressões de diferentes atores, de diferentes segmentos, envolvidos no projeto. O ideal é que existam duas ou mais técnicas e que estas possam se complementar possibilitando uma visão mais abrangente da realidade vivida no campo de ação. Lembrar que uma das partes mais importantes da avaliação são as reuniões de devolutiva dos resultados, sempre é importante a socialização de todas as informações obtidas, pois os maiores interessados são os próprios beneficiários. Na impossibilidade de que estas reuniões sejam amplas e pessoalmente, é possível se organizar reuniões virtuais em cascata, e garantir o espaço institucional para a socialização com cada segmento envolvido. Quanto maior a proximidade dos executores e coordenadores do projeto com o público envolvido, maior serão as chances dos objetivos serem alcançados e mais sólido o conhecimento gerado pela experiência. O acompanhamento da execução do projeto estará a cargo de uma equipe técnica e de um coordenador responsável. A equipe técnica pode ser composta de diferentes setores da instituição, como pedagógico, administrativo, comunicações, equipe multidisciplinar em outras áreas, ou o acompanhamento será efetivado por uma quantidade menor de profissionais, o que irá determinar configuração é o porte da instituição, e a magnitude do projeto. O coordenador será aquela ou aquele que assinará os relatórios narrativos e financeiros como responsável final. 13 PROJETOS SOCIAIS PARTICIPATIVOS Projetos que se caracterizam por serem sociais em geral buscam de alguma forma por desenvolvimento social (numa perspectiva de inclusão social, melhoria das condições de vida e trabalho e promoção dos direitos humanos) e, talvez por isso, seja tão difícil estabelecer prazos, metas e custo para eles. Por outro lado, se o caminho que pode levar ao desenvolvimento não for dividido em esforços temporários, planejados, executados e controlados, dificilmente ações concretas serão tomadas rumo a esse objetivo maior. Hoje já se fala muito de projetos sociais, ou seja, de projetos que se propõem a resolver problemas da sociedade. No entanto, a participação da comunidade em projetos dessa natureza nem sempre é objetivada e, quando é, nem sempre se consegue a contento. Um projeto social não resolve um problema para sempre. Para que ele seja de fato resolvido, as pessoas devem continuar agindo mesmo após o seu encerramento. Nesse momento, não estarão mais os consultores na comunidade e os moradores deverão garantir a sustentabilidade das ações. Por isso, é importante valorizar o diálogo, a linguagem comum, a capacitação, o pensamento coletivo. Um projeto usual muitas vezes requer soluções técnicas e o beneficiário quer apenas que seja dado um fim no problema, não lhe importando como. Um projeto social, por sua vez, é como uma dieta: garante o emagrecimento em um determinado 14 prazo, mas, após o seu fim, se o devido cuidado não for tomado, os quilos extras retornam novamente e se anula assim todo o esforço inicial. Portanto, é comum que projetos sociais participativos sejam projetos multiplicadores, ou seja, projetos que ao longo da sua execução geram novas necessidades, objetivos e, consequentemente, geram novos projetos. Daí, ser natural a existência de Programas de Projetos Sociais, estes sim abrangendo seus projetos. Um projeto normalmente é concebido a partir de uma visão de oportunidade, seja para melhorar uma realidade, seja para resolver algum problema. No caso de projetos sociais participativos, prega-se que toda a concepção, planejamento, execução e avaliação sejam feita com a participação do que o PMBOK chama de stakeholders e que o SOLTEC chama de atores sociais. Os stakeholders ou os atores sociais são os indivíduos ou organizações que estarão em algum momento envolvidos no projeto e/ou cujos interesses são afetados pelo seu desenvolvimento. Assim, para um projeto social participativo começar a dar certo, é importante um bom entendimento da necessidade, do objetivo e do contexto por todos os interessados. No SOLTEC, é comum planejar atividades que estimulem a consciência crítica da comunidade envolvida, de modo que a essência do projeto seja construída de maneira coletiva, a partir de reuniões de discussão sobre os problemas vividos. No caso particular da PAPESCA, após uma série de reuniões individuais e com pequenos grupos para reconhecimento local e de alguma sistematização de dados, organizamos reuniões coletivas com todos os atores interessados de modo a construir coletivamente uma árvore de problemas com as pessoas que são de fato afetadas por eles. Métodos participativos como esse se utilizados desde o momento da concepção do projeto aumentam as chances de seu sucesso, com as pessoas da comunidade se sentindo também parte da equipe e não apenas como meros objetos de estudo ou como clientes que esperam um resultado pronto ao final do processo. 15 Priorizados os problemas e definidos os objetivos, deve-se, desde o início, procurar responder regularmente se está valendo à pena a realização do projeto. “O que se precisa entender é que participar é fazer política e esta depende das relações de poder percebidas. Que participar é uma prática social na qual os interlocutores detêm conhecimentos que, apesar de diferentes, devem ser integrados. Que o conhecimento não pertence somente a quem passou pelo processo de educação formal, ele é inerente a todo ser humano. Que se uma pessoa é capaz de pensar sua experiência, ela também é capaz de produzir conhecimento. Que participar é repensar o seu saber em confronto com outros saberes. Participar é fazer com e não para”. (TENÓRIO, 1990). Essa pergunta, quando feita frequentemente, permite que contratempos sejam rapidamente identificados, de modo a orientar uma tomada de decisão coletiva sobre mudanças, seja em algumas atividades, seja no escopo do projeto ou até mesmo colocar em jogo a sua continuidade sem que se percam mais esforços. Ao elaborar a proposta de projeto, documento que será utilizado para a obtenção de patrocínio/ apoio ou para a autorização do início do projeto. Existem formatos variados para este documento de acordo com a instituição de fomento. Seja qual for o formato exigido, esse documento é de tal importância, que sua qualidade pode determinar o sucesso ou o fracasso do projeto, por conter as condições para a sua realização e revelar a maturidade dos envolvidos (Cartilha didática de Gerenciamento de Projetos para o Terceiro Setor, 2005). Com a proposta bem formatada, já se pode pleitear os recursos financeiros necessários para a realização do projeto. Autorizado o início do projeto, a grande preocupação passa a ser gerenciar coletivamente o seu execução, garantindo que as 16 “promessas” colocadas na proposta do projeto sejam cumpridas e que os resultados sejam alcançados. No âmbito deste trabalho, não chegaremos a discutir problemas de gerenciamento de projetos. No entanto, conforme já visto uma proposta bem planejada, estruturada e consistente, minimizam consideravelmente os problemas gerenciais futuros. Daí a importância de se pensar nos processos de iniciação e de planejamento para projetos sociais e participativos. MODELO DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS PARTICIPATIVOS De acordo com Keller, 1998, apud Paim, 2002, os modelos de referência são modelos elaborados a partir de processos considerados como as melhores práticas do mercado. Podem ser entendidos como representações conceituais de um sistema ou processo e funcionam como documentos padrão que podem ser utilizados por diferentes organizações com o mesmo objetivo ou na padronização de processos de uma mesmaorganização. 17 Para Paim, 2002, os modelos de referência podem ser divididos em modelos específicos para um segmento da indústria; modelos de referência na implantação de sistemas de informação e modelos de referência na metodologia de projetos, que é o tipo de modelo a ser construído neste trabalho. Como as metodologias podem ser descritas por meio de etapas sequenciadas, é possível modelar os processos segundo as melhores práticas do meio. Ao considerar o que é exigido por instituições de fomento como FINEP, CNPq e Petrobras, o que é escrito por especialistas no campo dos projetos sociais participativos e também a experiência do SOLTEC na elaboração de projetos dessa natureza, busca selecionar as práticas que entende como as mais recomendáveis, mapeando-as sob a forma de processos sequenciados para que se consiga elaborar um projeto social participativo. A ideia do modelo de referência construído a seguir é guiar as pessoas na elaboração de seus projetos. Pensando nisso, foram mapeados os processos que seriam necessários desde o momento em que surge a intenção de se elaborar o projeto até o instante em que um documento contendo toda a sua proposta é enviado a um órgão de fomento. Chegou-se assim a 10 processos principais: - Conhecimento da Realidade Local; - Prospecção de Oportunidades; - Tomada de Decisão Coletiva quanto à essência do Projeto; - Estudo de Viabilidade; - Definição da Metodologia de Execução do Projeto; - Programação de Prazos e de Gastos; - Definição dos Indicadores e da Sistemática de Acompanhamento e de Avaliação; - Adequação do Projeto à estrutura proposta pela Instituição de Fomento; - Análise de Consistência; - Envio do Projeto. 18 Esses processos estão esquematizados no fluxograma a seguir. Figura 1: Fluxo dos processos do modelo de referência Para um melhor entendimento do modelo proposto, estão descritas a seguir as atividades que compõem cada um desses processos. 1.) Conhecimento da realidade local: i. Definir a área geográfica (bairro, município, estado) com a qual se deseja trabalhar; ii.Levantar dados e informações preliminares, buscando caracterizar o que se quer estudar; iii. Definir público possivelmente atendido (direta ou indiretamente) com a iniciativa; iv. Identificar lideranças, instituições e pessoas-chave na comunidade; v. Elaborar e aplicar roteiros de entrevista individuais; vi. A partir dos entrevistados, identificar novas pessoas e realizar novas entrevistas; vii.Retornar a cada um dos entrevistados para confirmar informações e socializar novos dados obtidos no processo; 19 viii.Convocar reuniões coletivas com grupos afins; ix. Consolidar relatórios de entrevistas individuais e coletivas; x. Convocar reunião geral com todos os interessados; xi. Estimular o processo de formação da consciência crítica e autocrítica da comunidade; xii.Discutir coletivamente os problemas que incomodam a comunidade; xiii.Identificar potencialidades locais e qualidades do público atendido que poderão contribuir para o sucesso das iniciativas; xiv.Construir a árvores de problemas; xv.Construir a árvore de soluções; xvi.Definir coletivamente a lista de prioridades a partir das árvores construídas. 2.) Prospecção de oportunidades: i.Identificar instituições locais/ regionais que podem vir a se tornar parceiras da iniciativa; ii. Conversar com representantes das instituições identificadas; iii. Convidá-los para participar das reuniões coletivas; iv. Pesquisar instituições de fomento; v. Pesquisar editais e chamadas públicas relacionados ao que tiver sido construído coletivamente em termos de problemas e soluções. 3.) Tomada de decisão coletiva quanto à essência do projeto: i.Fazer o cruzamento da lista de prioridades comunitárias e das oportunidades identificadas; ii. Selecionar o problema-foco a ser enfrentado e transformado com o projeto; iii. Discutir os elementos que têm contribuído para a sua manutenção; iv. Refletir sobre como se pretende agir e enumerar melhorias esperadas; 20 v. Definir objetivos gerais do projeto; vi. Definir objetivos específicos a serem alcançados; vii.Verificar quem tem o interesse de estar trabalhando na construção do projeto; viii.Montar equipe de trabalho; ix. Organizar-se para dar início à construção do projeto. 4.) Estudo de viabilidade: i.Fazer o mapeamento dos recursos (humanos, financeiros, materiais e tecnológicos) necessários; ii. Fazer o mapeamento dos recursos já existentes; iii. Pelo cruzamento das duas atividades anteriores, listar os recursos a serem solicitados; iv. Pesquisar o valor dos recursos a serem solicitados; v. Comparar o valor dos recursos a serem solicitados com os limites orçamentários e de cronograma colocados; vi. Pensar na viabilidade do projeto em termos técnicos, econômicos, financeiros, gerenciais, sociais e ecológicos; vii.Identificar limitações; viii.Pensar em alternativas para driblar as limitações; ix. Adequar a previsão orçamentária inicial com os limites orçamentários a serem obedecidos, priorizando ou abrangendo necessidades. 5.) Definição da metodologia de execução do projeto: i.Internalizar os conceitos adotados (participação, gestão social, metodologia participativa, projeto social participativo etc.); ii. Pensar nas formas de atração e de integração do público atendido; iii. Definir os principais procedimentos; iv. Pesquisar técnicas e instrumentos e definir aqueles que serão empregados; v. Definir como será feita a articulação entre as etapas; 21 vi. Desmembrar os objetivos específicos em atividades condizentes com as limitações detectadas no Estudo de Viabilidade; vii.Refletir sobre a natureza e sobre as principais funções da equipe. 6.) Programação de prazos e de gastos: i.Definir prazos para a realização das atividades; ii. Construir plano de trabalho para a equipe do projeto; iii. Construir a matriz de interdependência recursos - atividades; iv. Com base na matriz e nos prazos definidos para as atividades, construir o cronograma físico-financeiro do projeto. 7.) Definição de indicadores e sistemática para acompanhamento e avaliação do projeto: i.Construir um sistema de indicadores para acompanhar e avaliar atividades, resultados e impactos do projeto; ii. Definir meios de verificação para estes indicadores. 8.) Adequação do anteprojeto à estrutura proposta pela instituição de fomento. 9.) Análise de consistência: i.Convidar pessoas que não tenham participado diretamente da construção do projeto para auxiliar nessa etapa; ii. Estudar os antecedentes do projeto: a idéia ou problema identificado; iii. Ler o diagnóstico a fim de observar o nível de aprofundamento dos dados e informações levantados; iv. Pré-avaliar: as informações sobre o público beneficiário, a justificativa, os objetivos; a metodologia; a programação; os órgãos direta ou indiretamente envolvidos; os recursos (humanos, materiais, financeiros e tecnológicos); metodologia de acompanhamento e avaliação do projeto; 22 v. Fazer as alterações necessárias; vi. Se for possível, colocar em anexo as informações relevantes que tenham ficado fora da estrutura do formulário da instituição de fomento a que se está solicitando os recursos. 10.) Envio de Projeto. Conclusão “Desenvolvimento não é um processo com cronograma fixo nem com rota preestabelecida. Seu trajeto é muito mais parecido com o de um veleiro do que com o de um trem”. (PFEIFFER, 2005). Portanto, o autor coloca a dificuldade de trabalhar com projetos sociais participativos. Em geral, projetos dessa natureza têm por objetivo maior o desenvolvimento social, com uma perspectiva de geração de trabalho e renda, de inclusão social e de promoção de direitos humanos. Trabalhar com perspectivas tão pretensiosaspara projetos de curto e médio prazo não é simples e, por conta disso, muitas vezes esses projetos se tornam multiplicadores para garantir a sua sustentabilidade e chegar mais perto do que se almeja. Porem, é natural que ocorram dificuldades tanto pelo lado das organizações que querem trabalhar com esse tipo de projeto, quanto pelo lado das pessoas que 23 esperam ter seus problemas solucionados com essas iniciativas e também pelo lado das instituições que as financiam. Um primeiro ponto a ser colocado é o de que as pessoas que sofrem com os problemas não podem esperar que eles fossem resolvidos por uma organização que mal conhece sua realidade. Por isso, elas devem integrar a equipe do projeto. Um segundo ponto é o de que as instituições que financiam esse tipo de projeto fazem o investimento para gerar resultados positivos para a comunidade e devem cobrar que essa integração aconteça, pois só ela é capaz de tornar o projeto um gerador de impactos mesmo após o término de seu prazo. Dentro dessa perspectiva, é importante que as pessoas das comunidades se apropriem dos seus projetos, tendo responsabilidades sobre o seu planejamento, sobre a sua execução e sobre a sua continuidade. De nada adianta que organizações externas entrem em uma comunidade, implementam nela um projeto durante um prazo pré-definido, quando forem embora, todo o esforço for pedido por falta de continuidade. Nesse sentido, pesquisadores e atores da comunidade devem se unir para buscar no conhecimento a mudança. Assim, a elaboração de projetos sociais participativos, considerando todas as atividades desde o momento em que se tem a intenção de se fazer um projeto até tê-lo pronto para se pleitear financiamento. Com isso, percebem que, para as organizações solicitantes, esse processo é fundamental, pois muito mais do que criar um documento para atender as exigências das instituições de fomento, ele tem o objetivo maior de planejar a implementação do projeto, fornecendo elementos metodológicos que guiarão as ações do projeto e também as orientações necessárias para o seu acompanhamento e avaliação. 24 Por conta disso, ao mesmo tempo em que as instituições de fomento devem buscar criar uma linguagem comum em seus manuais de preenchimento e em seus formulários, para facilitar a participação das pessoas da comunidade, elas também devem aumentar a exigência por projetos que, desde a sua concepção, incluam esses atores. Desse modo, os problemas e ideias privilegiados nesses projetos serão definidos por quem realmente sofre com eles e por quem pode dar continuidade a suas ações em longo prazo. Estão todos, instituições de fomento, organizações solicitantes e atores sociais, nesse mesmo veleiro que busca o desenvolvimento. 25 REFERÊNCIAS: PAIM, R. - Engenharia de Processos: Análise do Referencial Teórico-Conceitual, Instrumentos, Aplicações e Casos – 2002 - Dissertação de mestrado em Engenharia de Produção – COPPE/UFRJ – Rio de Janeiro, RJ. p.95-142. PMI RJ - Cartilha didática de Gerenciamento de Projetos para o Terceiro Setor. Distribuída no Seminário de Gerenciamento de Projetos para o Terceiro Setor. Rio de Janeiro, RJ, novembro de 2005. SEMINÁRIO DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS PARA O TERCEIRO SETOR – Organizado pelo PMI RJ - Rio de Janeiro, RJ, novembro de 2005. COHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de projetos sociais. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. CURY, Thereza Christina Holl. Elaboração de projetos. In: ____. Projeto Gestores: módulo 3. [S.l.]: Associação de Apoio ao Programa Comunidade Solidária, [s.d.]. Mimeografado. PFEIFFER, 2005). TENÓRIO, F. “(Re)Visitando o conceito de Gestão Social” – Em: LIANZA,S; ADDOR, F. (org.) Tecnologia e Desenvolvimento Social e Solidário –– Porto Alegre, RS, Ed. UFRGS, 2005. p.151-171. TENÓRIO, F. “O Mito da Participação” – Em: Revista de Administração Pública, vol.24, n. 3, maio/julho, FGV, Rio de Janeiro, RJ, 1990. Roteiros de Elaboração de Projetos consultados: Chamada Pública MCT/FINEP/MDS - Empreendimentos Solidários Agroalimentares - 01/2005; Seleção Pública 2005 Programa Petrobras Fome Zero; Edital CT-Agro/CT-Hidro/MCT/CNPq nº 019/2005 - Apoio a Projetos de Extensão e Disponibilização de Tecnologias para Inclusão Social nos Temas "Água e Alimentação Humana e Animal".