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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOGRAFIA HUMANA E 
ECONÔMICA - CONCEITOS, 
TEORIAS E MODELOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Olga Lúcia Castreghini de Freitas 
 
 
 
2 
INTRODUÇÃO – GEOGRAFIA HUMANA E GEOGRAFIA ECONÔMICA – 
ORIGEM E TRAJETÓRIA 
A aula de hoje introduz alguns elementos importantes para o percurso que 
realizaremos visando compreender a importância da geografia humana e da 
geografia econômica no âmbito da geografia e, em especial, os principais 
conceitos, teorias e modelos explicativos utilizados nesses campos do 
conhecimento. 
Para tanto, faremos uma recuperação sucinta do que foi a trajetória da 
geografia para entender o movimento mais geral dessa área do conhecimento e 
que induziu, igualmente, o movimento interno das várias especialidades da 
geografia. 
Embora a geografia humana seja ampla e abarque uma variedade imensa 
de especializações e problemáticas, nessa disciplina haverá um enfoque especial 
na geografia econômica. 
O conceito de paradigma será basilar para compreendermos o citado 
movimento da ciência, ao longo do tempo. Após o quê, verticalizaremos esse 
conceito de modo a aplicá-lo à geografia para percebermos as diferentes 
trajetórias ocorridas ao longo do tempo. 
TEMA 1 – GEOGRAFIA – DE SABER POPULAR A CIÊNCIA 
Na atualidade, não temos dúvida em afirmar que a geografia é a ciência 
que tem como objeto de análise o espaço geográfico. Contudo, isso não foi 
sempre assim. Com o passar do tempo, novos desafios foram sendo colocados 
para a análise geográfica, como razão direta da maior complexidade do mundo, 
das inovações técnicas, das demandas sociais, das novas perspectivas 
metodológicas e das novas ferramentas de trabalho e compreensão do mundo. 
Nesse percurso, novos conceitos foram formulados e, por vezes, os 
mesmos termos passaram a ter novos significados. É fundamental entender que, 
embora certos termos permaneçam os mesmos ao longo da história da geografia, 
seus significados se alteraram, além de novos conceitos terem sido incorporados 
com maior força interpretativa no âmbito dessa ciência. 
Os conceitos não podem ser compreendidos descontextualizados de um 
tempo e um espaço específicos, pois são construções sociais e, como tais, seu 
 
 
3 
conteúdo é móvel em contextos espaço-temporais distintos. Isso será 
aprofundado na próxima aula. 
Vamos iniciar nosso percurso nesta disciplina por meio de uma introdução 
sobre a própria origem da geografia, sem o que não é possível entendermos o 
desenvolvimento dessas duas especialidades que intitulam a disciplina, 
respectivamente geografia humana e geografia econômica e seu escopo teórico-
conceitual. 
Antes de tratarmos dos conceitos e teorias, é preciso ressaltarmos que 
esses também estão diretamente relacionados aos vários períodos ou momentos 
em que se pode reconhecer a trajetória da geografia. 
Uma observação importante é que a geografia é uma ciência relativamente 
recente quando se toma a história da humanidade como referência. Foi apenas 
no final do século XIX que ocorreu a sistematização do conhecimento geográfico 
sob a denominação de geografia. 
Etimologicamente, a palavra de origem grega geographia pode ser 
decomposta em geo, que significa Terra, e graphien, que significa descrever ou 
descrição, resultando, assim, em descrição da Terra. Portanto, todos os 
fenômenos que se manifestavam na superfície da Terra poderiam se constituir em 
tema de interesse geográfico. 
Apenas em meados do século XX o espaço passa a ser reconhecido como 
principal preocupação dessa área do conhecimento, como será tratado na 
próxima aula. 
Contudo, do ponto de vista do saber geográfico procedente do senso 
comum, ou seja, daquilo que está presente intuitivamente na interpretação e 
interesse das pessoas, os conhecimentos geográficos remontam à Antiguidade e 
sua prática estava diretamente relacionada aos viajantes, exploradores, entre 
outros. 
Moraes (2002, p. 33-34) afirma que 
[...] até o final do século XVIII, não é possível falar de conhecimento 
geográfico, como algo padronizado, com um mínimo que seja de unidade 
temática, e de continuidade nas formulações. Designam-se como 
Geografia: relatos de viagem, escritos em tom literário; compêndios de 
curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de 
órgãos de administração; obras sintéticas, agrupando os conhecimentos 
existentes a respeito dos fenômenos naturais; catálogos sistemáticos, 
sobre os continentes e os países do Globo etc. Na verdade, trata-se de 
todo um período de dispersão do conhecimento geográfico, onde [sic] é 
impossível falar dessa disciplina como um todo sistematizado e 
particularizado. 
 
 
4 
Ainda para Moraes (2002, p. 34), 
A sistematização do conhecimento geográfico só vai ocorrer no início do 
século XIX. E nem poderia ser de outro modo, pois pensar que a 
Geografia como um conhecimento autônomo, particular, demandava um 
certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão 
suficientemente maturadas. Estes pressupostos históricos da 
sistematização geográfica objetivam-se no processo de avanço e 
domínio das relações capitalistas de produção. 
Portanto, é com a emergência do modo de produção capitalista que uma 
série de novos campos do conhecimento surgem, denominados de ciências 
modernas, e, em especial, as ciências humanas, no âmbito das quais a geografia 
passa a se inscrever. 
Isso está diretamente relacionado às novas demandas de leitura da 
realidade, ou seja: o mundo, em rápida transformação, estava a exigir novas 
possibilidade interpretativas para além daquelas oferecidas pelas ciências 
naturais e exatas. 
Alguns pressupostos foram fundamentais para que a geografia se 
transformasse num campo de conhecimento autônomo. Foram elas, de acordo 
com Moraes (2002): 
• conhecimento efetivo da extensão real do planeta; 
• existência de um repositório de informações, sobre variados lugares da 
Terra; 
• aprimoramento das técnicas cartográficas; 
• correspondência, no plano filosófico e científico, das transformações 
operadas nos níveis econômico e político. 
Assim, não podemos compreender o surgimento da Geografia como 
ciência, no séc. XIX, sem que se situe o processo de unificação de territórios 
originando os Estados-nação. A Alemanha é um exemplo emblemático: para sua 
unificação (ocorrida por volta de 1871), era imperioso que se construísse uma 
unidade territorial e de identidade capaz de unir fragmentos que eram, até então, 
dispersos e distintos, não constituindo uma visão nacional. 
É importante lembrar que os seus vários territórios eram independentes, 
em termos de decisões, culturas, línguas próprias (os dialetos de hoje), e a 
Geografia cumpriu papel relevante nesse processo, na medida em que 
representou a compreensão de processos espaciais, cruciais para a realidade de 
então. 
 
 
5 
Não foi por acaso que Humboldt (Alexandre Von Humboldt, conselheiro do 
rei da Prússia; naturalista e viajante) (Figura 1) e Ritter (Karl Ritter, tutor de uma 
família de banqueiros; filósofo e historiador) (Figura 2) passaram a ser 
considerados os “pais” da geografia, pois tiveram papel essencial na proposição 
da geografia como instrumento prático de viabilização das novas demandas 
daquele tempo. 
Figura 1 – Alexandre Von Humboldt (1769-1859) 
 
Créditos: Everett Historical/Shutterstock. 
Figura 2 – Karl Ritter (1779-1859) 
 
Crédito: Marzolino/Shutterstock. 
 
 
6 
Saiba mais 
Como nossa preocupação nesse curso não é com a história da geografia, 
mas com elementos relacionados à geografia humana de modo geral, não 
adentraremos as especificidades da gênese da geografia como ciência moderna, 
o que poderá ser conhecido por meio da leitura de textos de diversos autores que 
contribuíram para a interpretação crítica desse momento histórico. Dentre eles, 
recomenda-se a leitura de: 
MORAES, A. C. R. de. A gênese da geografiamoderna. São Paulo: Hucitec; 
Edusp, 1989. 
_____. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 2002. 
PEREIRA, R. M. F. A. Da geografia que se ensina à gênese da geografia 
moderna. 120 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências da 
Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1988. 
Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/75444>. Acesso em: 
1 fev. 2019. 
TEMA 2 – RUPTURAS NO CONHECIMENTO – OS PARADIGMAS 
Desde o século XIX até o século XXI muita coisa mudou: o mundo se 
transformou, as pessoas também, assim como mudaram as perspectivas 
analíticas e metodológicas necessárias para a compreensão da sociedade. Isso 
não foi diferente com a ciência. Novas perspectivas emergiram e superaram as 
anteriores, num processo cíclico e desejável para o avanço do conhecimento. 
Nesse sentido, recorremos à proposição de Kuhn (1975), que nos oferece 
uma interpretação muito adequada desse processo ao formular o conceito de 
paradigma. Para o autor, paradigmas são “as realizações científicas 
universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e 
soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (Kuhn, 
1975, p. 13). 
Para Brunet, Ferras e Théry (1993, p. 365), paradigmas são o conjunto de 
problemáticas e seus métodos adotados por uma ciência em um momento dado, 
segundo uma das concepções do momento; grupo de questões julgadas centrais, 
ou dominantes, em uma ciência. 
Por essa compreensão, a ciência não se desenvolve de modo linear ou 
cumulativo, mas por rupturas ou revoluções, como denomina Kuhn (1975). Esses 
 
 
7 
momentos de rupturas promovem uma grande transformação naquilo que se 
considera o papel central de determinado ramo do conhecimento, seu temário, 
seus métodos e seus conceitos prioritários. 
Figura 3 – Paradigma como ruptura 
 
Crédito: Olivier Le Moal/Shutterstock. 
TEMA 3 – OS PARADIGMAS DA GEOGRAFIA 
Podemos afirmar que a geografia passou por diferentes paradigmas, que 
podem ser sintetizados com base nas seguintes denominações: geografia 
tradicional ou clássica; geografia teorética ou geografia quantitativa; geografia 
crítica ou radical; e virada cultural. 
3.1 Geografia tradicional ou clássica 
A geografia tradicional ou clássica é justamente aquela que apontamos nos 
parágrafos anteriores, muito influenciada pelo método positivista de análise, que 
tem como uma de suas principais características o monismo metodológico, ou 
seja, o pressuposto de que as ciências são regidas por um método único. Nesse 
caso, oriundo das ciências naturais, tendo em vista serem estas as mais 
desenvolvidas à época. De forte influência alemã e francesa, em especial pela 
adoção do método monográfico regional, tinha por características ser descritiva e 
preocupar-se, sobremaneira, com inventários. Ressaltamos que, nesse momento, 
essas características convergiam para as demandas de um mundo que estava 
sendo ainda conhecido e explorado. Assim, a catalogação dos fenômenos 
existentes na superfície terrestre era útil e necessária. A geografia era feita por 
naturalistas, exploradores, viajantes. Não havia a formação universitária em 
geografia, fato que só ocorre, no Brasil, no início do século XX. 
 
 
8 
Nesse momento, as sociedades geográficas têm papel importante no 
debate e na sistematização do conhecimento produzido. 
No Brasil, o processo de institucionalização da geografia é marcado por 
três fatos importantes: 
1. a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de 
São Paulo (USP), no ano de 1934, seguida, em 1935, pela criação da 
Universidade do Distrito Federal (atual Universidade Federal do Rio de 
Janeiro – UFRJ), sob forte influência da geografia francesa; 
2. a criação da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), no ano de 1934; 
3. a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano 
de 1936. Dessa maneira, teve início o processo de formação em geografia 
pela via do ensino superior, resultando na possibilidade de rompimento 
com a situação vigente anteriormente a esse período, quando aqueles que 
faziam geografia eram, na verdade, engenheiros militares, cartógrafos, 
advogados, historiadores, viajantes, entre outros profissionais. 
Saiba mais 
Recomenda-se o filme As montanhas da Lua (1990), que retrata a trajetória 
de dois “geógrafos” britânicos para encontrar as nascentes do rio Nilo, na África. 
O filme contribui para o conhecimento do contexto existente no século XIX, das 
dificuldades práticas das expedições até os debates para legitimar o 
conhecimento produzido. 
3.2 Geografia teorética ou quantitativa 
Também denominada de nova geografia, na medida em que propunha uma 
perspectiva distinta da anterior, a geografia teorética ou quantitativa prioriza a 
elaboração de teorias e modelos explicativos da realidade. Parte dos modelos que 
trabalharemos em aula futura são originários desse momento ou paradigma. Com 
ele, o neopositivismo tomado como referencial metodológico implicava a tentativa 
de matematização dos fenômenos, de modo a legitimar a condição de ciência, 
da geografia. Assim, uma importante influência da estatística e da matemática é 
observada, abstraindo-se a sociedade, por vezes reduzida meramente à noção 
de população. De forte influência anglo-saxônica, essa corrente se manifestou no 
Brasil no final dos anos de 1960 e, de modo mais expressivo, na década de 1970. 
 
 
9 
Saiba mais 
Para um contato mais próximo ao tipo de conhecimento produzido no 
âmbito desse paradigma, recomendamos a consulta aos seguintes textos: 
MENEZES, A. C. F.; MENEZES, W. C.; OLIVEIRA, E. X. G. Um modelo para 
estudo da difusão de emissoras de televisão nas cidades brasileiras: uma versão 
preliminar. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 37, n. 3, jul./set. 
1975, p. 56-72. 
NASCIMENTO, M. das G. de O.; BECKER, O. M. S. O uso da cadeia de Markov 
como instrumento de mensuração de uma distância funcional percebida entre 
lugares. In: FAISSOL, S. (Org.). Tendências atuais na geografia urbano-
regional: teorização e quantificação. Rio de Janeiro: IBGE, 1978. p. 217-224. 
3.3 Geografia crítica ou radical 
A geografia crítica ou radical se caracteriza pela ruptura com a forma 
anterior de pensar e fazer geografia, propondo uma crítica radical às concepções, 
modelos e práticas anteriores. Sua base metodológica é o materialismo histórico 
e a lógica dialética, utilizando, assim, de formas mais sofisticadas de reflexão e 
colocando a sociedade e suas demandas e problemas como centro da atenção 
dos geógrafos. Em especial, as condicionantes oriundas da economia foram 
ressaltadas. 
A realidade passa a ser lida por meio de contradições e os pares dialéticos 
têm papel essencial nesse momento. Assim, o subdesenvolvimento, por exemplo, 
só pode ser compreendido pela existência de seu oposto, o desenvolvimento, 
numa relação de dependência indissociável, pois um só existe em face do outro. 
No Brasil, foi na década de 1980 que essa perspectiva se fortaleceu e 
passou a orientar a maioria da produção acadêmica na geografia, embora 
correntes anteriores ainda fossem observadas, mas de modo residual. 
Metaforicamente, podemos dizer que a lógica dialética proporciona uma 
forma de raciocínio tal qual uma espiral na qual o ponto de chegada jamais será 
o de partida, tendo em vista a complexidade crescente que se incorpora ao 
pensamento, por meio da formulação de uma tese, confrontada com sua antítese 
e posterior alcance da síntese, que se revela como uma nova tese e assim 
sucessivamente. Logo, essa metáfora da espiral se contrapõe àquela do círculo 
que se fecha em si mesmo (Figura 4). 
 
 
10 
Figura 4 – A espiral e o círculo como metáforas 
 
Créditos: Yes - Royalty Free/Shutterstock. 
3.4 Virada cultural 
Embora a corrente crítica ainda seja muito importante na atualidade, 
sobretudo porqueé capaz de oferecer explicações acerca da realidade vigente no 
Brasil, a mudança do milênio se fez acompanhar, igualmente, de novas 
proposições e preocupações. 
Assim, para muitos autores, teríamos vivido, no final do século XX e início 
do XXI uma virada cultural, muito relacionada às proposições que afirmam 
estarmos num período de pós-modernidade, portanto, com transformações 
substanciais na forma de interpretação da realidade e com alteração no temário 
da própria geografia. 
A cultura passa a ser o fio condutor das novas narrativas que analisam os 
grupos sociais e possui relação direta com a determinação dos fenômenos 
políticos e econômicos. 
Saiba mais 
Para o aprofundamento dessa discussão, recomenda-se a leitura do texto: 
PEDROSA, B. V. O império da representação: a virada cultural e a geografia. 
Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. Disponível em: <https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/31750/22475>. Acesso 
em: 1 fev. 2019. 
 
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/31750/22475
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/31750/22475
 
 
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TEMA 4 – AS SUBDIVISÕES DA GEOGRAFIA 
Concomitantemente às transformações da geografia, e de modo a 
responder às demandas necessárias à sociedade dos vários tempos tratados 
anteriormente, também ocorreu o aprofundamento temático e emergiram novas 
especialidades, ao longo do tempo. 
Certos ramos, como são comumente denominadas essas especialidades, 
surgiram, outros assumiram um segundo plano nas preocupações da geografia. 
Assim, podemos pensar em alguns agrupamentos, que podem nos ajudar 
a entender “onde” se situam a geografia humana e a geografia econômica, nosso 
objeto de preocupação nessa disciplina. 
De modo amplo e em relação à escala, podemos apontar duas perspectivas 
de análise, na geografia: 
• geral; 
• regional. 
No campo temático, também podemos distinguir duas perspectivas: 
• geografia física; 
• geografia humana. 
Observe que preferimos utilizar a palavra distinguir e não dividir, isso 
porque não se pode entender a geografia “partida”, embora se deva reconhecer a 
distinção entre seus componentes temáticos e as especificidades que eles 
requerem. 
Dessa forma, são reconhecidos – dentre outros – como ramos da geografia 
física: 
• climatologia; 
• geomorfologia; 
• biogeografia; 
• hidrologia; 
• paleogeografia. 
Por sua vez, a geografia humana se desdobra em diversas especialidades, 
com destaque para: 
 
 
12 
• geografia urbana; 
• geografia rural ou agrária (a depender da perspectiva teórico-metodológica 
adotada e da ênfase pretendida na análise); 
• geografia da população; 
• geografia política; 
• geografia econômica, subdividida em: 
• geografia agrícola; 
• geografia industrial; 
• geografia dos transportes. 
Recentemente, emergiram outras especializações, em razão das novas 
problemáticas do mundo moderno. Entre outras, podemos citar: 
• geografia da internet e do ciberespaço; 
• geografia feminista; 
• geografia da inovação; 
• geografia do comércio. 
Esforços de totalização do conhecimento geográfico devem ser 
registrados. O mais relevante nos parece ser aquele que propõe uma geografia 
socioambiental, que considera que 
[...] a abordagem geográfica do ambiente transcende à desgastada 
discussão da dicotomia geografia física versus geografia humana, pois 
concebe a unidade do conhecimento geográfico como resultante da 
interação entre os diferentes elementos e fatores que compõem seu 
objeto de estudo. (Mendonça, 2002, p. 123) 
Expressa, assim, o reconhecimento da necessidade de superação da 
dicotomia entre geografia física e geografia humana, buscando uma perspectiva 
integradora. 
TEMA 5 – GEOGRAFIA HUMANA E GEOGRAFIA ECONÔMICA 
Nessa disciplina nos interessam mais de perto a geografia humana e a 
geografia econômica. Contudo, uma advertência é necessária: a geografia 
humana se constitui numa dimensão mais ampla e em seu âmbito encontra-se a 
 
 
13 
geografia econômica. Portanto, temos uma questão de ordem a considerar na 
análise de ambas. 
A geografia humana se preocupa, de modo geral, com a expressão 
espacial dos grupos sociais em suas mais diversas dimensões. Tem, portanto, um 
amplo espectro de preocupações. 
Seu temário é amplo e abrange questões relacionadas às populações, 
migrações, religiões, cidades, modos de vida, atividades econômicas, consumo, 
transporte, agricultura, entre outras, sempre na perspectiva de sua compreensão 
como elementos essenciais à constituição do espaço geográfico, conceito que 
será desenvolvido oportunamente. 
Pela natureza e diversidade de problemáticas, não se faz geografia 
humana sem que se busquem elementos em uma gama variada de outras 
disciplinas, com ênfase em: sociologia, economia, urbanismo, antropologia, 
ciência da comunicação, demografia. 
Assim, o conhecimento geográfico é também caracterizado pelo diálogo 
com as demais áreas do conhecimento. Não se trata de afirmar que a geografia 
é, ela própria, interdisciplinar, mas que o conhecimento por ela produzido depende 
em muito daquilo que é tratado por outras disciplinas. 
A geografia econômica, por sua vez, preocupa-se, segundo Small e 
Witherick (1992, p. 128), “com a distribuição das actividades económicas e com 
os factores e processos que afectam a sua ocorrência no espaço”. Trata-se de 
uma definição ampla, mas que permite compreender os principais elementos 
constitutivos dessa especialidade. Assim, setores como o agrícola, o industrial e 
o de transportes são considerados como núcleo duro desse ramo. 
Benko e Scott (2004, p. 152) afirmam que a tarefa atribuída à geografia 
econômica contemporânea “consiste em descrever a organização espacial da 
economia, e em particular, esclarecer as maneiras pelas quais a geografia 
influencia o funcionamento econômico do capitalismo”. Foi somente após os anos 
de 1950 que ela se afirma como campo de pesquisa do escopo da geografia. 
Com os fundamentos tratados na aula de hoje, esperamos que as bases 
da conformação do pensamento geográfico estejam claras, de modo que 
possamos prosseguir e nos aprofundar sobre seus conteúdos teóricos e 
analíticos, com o enfoque na geografia humana e da geografia econômica como 
ramos do conhecimento geográfico e diretamente dependentes do movimento 
maior dessa disciplina. 
 
 
14 
5.1 O que virá nas próximas aulas... 
Após essa visão ampla da geografia, de modo a situar as duas 
especialidades de nosso interesse, respectivamente geografia humana e 
geografia econômica, nas próximas aulas vamos abordar as bases conceituais 
desse campo do conhecimento, com ênfase nos conceitos de espaço, região, 
território, paisagem e lugar. Teorias e modelos também farão parte de nossas 
preocupações, assim como a discussão das bases de dados e fontes de 
informação, em especial daquelas disponíveis no Brasil, ressaltando os temas 
mais recorrentes na pesquisa atual. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
BENKO, G.; SCOTT, A. J. La géographie économique: traditions et turbulences. 
In: BENKO, G.; STROHMAYER, U. (Org.). Horizons géographiques. Paris: 
Éditions Bréal, 2004. p. 151-192. 
BRUNET, R.; FERRAS, R.; THÉRY, H. Les mots de la géographie: dictionnaire 
critique. Montpellier: La Documentation Française, 1993. p. 365. 
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 
1975. 
MENDONÇA, F. de A. Geografia socioambiental. In: MENDONÇA, F. de A.; 
KOZEL, S. (Org.). Elementos de epistemologia da geografia contemporânea. 
Curitiba: Ed. UFPR, 2002. p. 121-144. 
AS MONTANHAS da Lua. Direção: Bob Rafelson. EUA: TriStar Pictures, 1990. 
136 min. 
MORAES, A. C. R. de. A gênese da geografia moderna. São Paulo: Hucitec: 
Edusp, 1989. 
_____. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 2002. 
PEDROSA, B. V. O império da representação: a virada cultural e a geografia.Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. 
PEREIRA, R. M. F. A. Da geografia que se ensina à gênese da geografia 
moderna. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências da 
Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1988. 
Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/75444>. Acesso em: 
1 fev. 2019. 
SMALL, J.; WITHERICK, M. Dicionário de geografia. Lisboa: Publicações Dom 
Quixote, 1992.

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