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Aula 3 - ENDIVIDAMENTO NO CONTEXTO
DO PLANEJAMENTO FINANCEIRO PESSOAL1
Introdução
O que é um Planejamento Financeiro Pessoal? FRANKENBERG2 define este procedimento
como “Estabelecer e seguir uma estratégia precisa, deliberada e dirigida para a acumulação
de bens e valores que irão formar o patrimônio de uma pessoa e de sua família”.
Nesta direção, somos capazes de entender esta importante peça em nossas finanças como
uma ferramenta útil para a gestão financeira pessoal. Para tanto, podemos fazer uso de
demonstrações financeiras pessoais3 como Balanços Patrimoniais e Fluxos de Caixa.
Os Balanços Patrimoniais listam os bens, direitos e obrigações de um patrimônio, o que nos
evidencia a realidade financeira de uma pessoa; vide exemplos:
● Indivíduo A: bens e direitos $ 100.000 e obrigações $ 30.000.
○ situação líquida de $ 70.000.
● Indivíduo B: bens e direitos $ 250.000 e obrigações $ 120.000.
○ situação líquida de $ 130.000.
Podemos perceber que, embora o indivíduo B tenha um patrimônio líquido maior do que o
indivíduo A, a sua proporção em relação aos bens e direitos (52%) é menor em termos
relativos do que o outro (70%).
Os Fluxos de Caixa listam a movimentação financeira (entrada e saída de dinheiro) durante
um período (em finanças pessoais, normalmente de um mês), além de considerar os saldos
anterior e final; vide exemplos:
● Indivíduo A: Renda $ 3.000 e gastos $ 2.700 / saldo anterior $ 500.
○ saldo final: 500 + 3.000 - 2.700 = 800.
● Indivíduo B: Renda $ 5.500 e gastos $ 5.400 / saldo anterior $ 100.
○ saldo final: 100 + 5.500 - 5.400 = 200.
Vemos acima que o indivíduo A gastou menos do que ganhou nesse mês (tendo um
superávit) e que o indivíduo B também gastou menos do que ganhou no mesmo período
(tendo também um superávit). Através da prática orçamentária, podemos, através do
controle, manter os gastos abaixo da renda. Repare que o saldo final é a interação do
superávit (ou do déficit) com o saldo anterior.
Saldo final = saldo anterior + entradas - saídas
Podemos estabelecer que o Planejamento Financeiro Pessoal é uma boa ferramenta para o
aumento contínuo do patrimônio líquido tanto pela acumulação de bens e direitos como pela
redução das obrigações.
3 Observadas as devidas adaptações das finanças corporativas para as finanças pessoais.
2 Vide Referências: 1999, p. 31.
1 Texto produzido pelo Coordenador da Disciplina de Finanças Pessoais - fevereiro de 2022.
2
Situação financeira ideal
Uma situação financeira ideal é aquela em que o nosso patrimônio líquido seja positivo e
crescente ao longo do tempo. Também podemos considerar para tal situação que o fluxo
de caixa seja superavitário com elevada frequência. Como visto anteriormente, o balanço
patrimonial e o fluxo de caixa devem ser usados para verificar a situação financeira.
Podemos visualizar graficamente os exemplos citados de maneira descritiva na introdução:
Balanço patrimonial:
Fluxo de caixa:
Nesta aula, o enquadramento do assunto endividamento no planejamento financeiro
pessoal se dá no sentido de manter superávits sucessivos para que haja sobra de dinheiro
durante o mês.
Com os superávits, podemos destinar recursos para a redução do endividamento que,
juntamente com os investimentos, elevam o valor do patrimônio líquido, que expressa a
riqueza pessoal.
É aconselhável, para a redução do endividamento, evitar fazer dívidas desnecessárias e,
sempre que possível, quitá-las antecipadamente, o que faz com que o valor da parcela seja
reduzido. Esse procedimento de extinguir dívidas antes das datas de vencimento faz com
que a velocidade da redução do passivo, e consequente elevação do patrimônio líquido,
seja maior.
3
Planejamento e controle das finanças pessoais
Um planejamento financeiro pessoal, basicamente, indica alguns objetivos a serem
atingidos e os recursos que deverão ser usados para isso. Precisamos ter uma boa ideia
do que queremos conquistar na vida e, partindo daí, determinar o quanto irão custar todos
os itens que o integram.
Esta ferramenta é um bom instrumento de gestão pessoal, pois tem condições de
considerar os itens do patrimônio (bens, direitos e obrigações), assim como seus fluxos
financeiros caracterizados como renda e gastos. É fortemente recomendado que sua
execução seja acompanhada de perto, de modo que possamos exercer o controle, ou seja,
checar se o que foi planejado está sendo atingido com o tempo.
Podemos dizer que nossa movimentação no caixa (o dinheiro que está em nossa carteira
ou em nossa conta corrente) funciona como se fosse uma empresa, cujo objetivo é de
obtenção de lucro nas operações. No caso das finanças pessoais, esse lucro não existe,
mas podemos fazer um paralelo com o superávit. Nosso fluxo de caixa precisa cumprir o
básico, ou seja, nossa renda deve ser bem administrada, de modo que haja sobra de
dinheiro durante o mês.
Considerando que estamos tratando sobre endividamento e como inseri-lo no planejamento
financeiro pessoal, demandamos estar atentos a alguns erros, como considerar o cheque
especial fazendo parte do salário e, em não quitando integralmente as dívidas do cartão de
crédito, por exemplo, proceder à postergação de seu pagamento, o que chamamos de
rolagem de dívida.
Quando temos uma coleção de dívidas, precisamos classificá-las, de modo que saibamos
com alguma precisão quais os credores para os quais temos que pagar tais obrigações,
quais os valores envolvidos em cada dívida e qual a taxa de juro vinculada a cada operação
de crédito. Esta informação sobre os juros da dívida deve nos ser dada pelos credores. Em
um procedimento de quitação antecipada de dívidas, devemos pagá-las por ordem
decrescente de taxa de juro.
Enfim, comprar a prazo, às vezes, será inevitável, pois nosso fluxo de caixa pode não
comportar um valor alto de dívida a ser paga ou, ainda, a necessidade de possuir algo pode
ser tão grande que não podemos aguardar um melhor momento financeiro para fazer a
compra. Porém, devemos nos esforçar para evitar esse parcelamento, pois não podemos
perder a visibilidade do gasto.
4
O endividamento no contexto do planejamento financeiro pessoal
Dificilmente iremos conseguir iniciar nossas vidas financeiras sem um nível de
endividamento mínimo que seja. Normalmente, nossa renda no começo da vida laboral é
baixa, pois não temos ainda experiência e outros componentes que fazem com que os
ganhos sejam mais altos.
Portanto, um nível mínimo de endividamento pode ser considerado como sustentável para
nossas finanças. Mas, qual seria esse nível para que possamos classificá-lo como
aceitável? Existe a percepção de que um comprometimento de 30% da renda mensal seria
um valor máximo viável. Entretanto, para alguns outros que estudam este assunto, um
empenho de 15% já seria um limite tolerável.
Assim, é importante que nossa carga de dívidas seja a menor possível. Às vezes, um
comprometimento de 30% para alguém que tenha apenas 1 filho seja menos agressivo do
que um comprometimento de 15% para alguém que tenha 3 filhos.
Conforme vimos na aula 2, existe uma equação da renda em que temos R = C + P, onde a
renda é igual a consumo + poupança. Quando estamos em uma situação de
endividamento, a esta equação, adicionamos o empréstimo e a equação fica R + E = C + P.
Ao somar uma quantia à renda para poder pagar o nosso consumo, essa importância
(empréstimo, ou endividamento) refere-se a um consumo feito no passado e que não foi
pago ainda.
Da mesma maneira, quando fazemos um gasto no presente sem o respectivo pagamento,
enviamos esta obrigação para o futuro; portanto, levar o desembolso do consumo para o um
tempo posterior geralmente implica em um desembolso acrescido de juro, o que contribui
para a diminuição do patrimônio líquido, pois ele conta como um gasto em nossas finanças.
O aumento do endividamento indica que estamos gastando mais do que o limite da renda,
assim como, quando estamos pagando dívidas no presente, significa que estamos
precisando consumir menos do que a renda disponível, para poder quitar a obrigação.Tendo a consciência de que cada caso é único, podemos considerar uma estratégia de
quitação antecipada, pois isso faz com que o fluxo de caixa no futuro fique com maior
possibilidade de destinar recursos para investimentos, quando o volume de obrigações
estiver muito baixo ou mesmo eliminado. Isso funciona como se estivéssemos fazendo um
investimento, pois, assim como este, contribui para o aumento do patrimônio líquido.
Em nosso planejamento financeiro pessoal, devemos saber lidar com a proporção de nosso
endividamento em relação aos nossos bens e direitos (balanço patrimonial), além de saber
manter os gastos mensais dentro da renda no mesmo período (fluxo de caixa), para que
haja frequentes superávits em nossa movimentação financeira.
A título de exemplo, vamos ver uma amostra de uma situação em que o indivíduo obteve
um superávit em seu fluxo de caixa mensal e decide realizar o pagamento antecipado de
alguns boletos cujos vencimentos estão no horizonte de um a três meses à frente. Vamos
perceber que os valores nominais das obrigações têm o seu valor reduzido em função de
ocorrer a quitação em data antecipada, pois, neste caso, o efeito do juro é menor.
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Supondo a movimentação financeira abaixo: (repare que precisamos descrever o fluxo de
caixa com os totais de origens e aplicações iguais; em função disso, descobrimos os
valores de superávit ou de déficit)
Renda 4.800
Gastos
● Alimentação / compras 1.900
● Transporte. 800
● Moradia 1.300
● Outros 100 4.100
● Superávit 700 4.800
Uma possível destinação dos $ 700 do superávit para a quitação antecipada de dívidas
poderia ser conforme segue: (suponha que esta pessoa tenha vários boletos a serem
pagos no valor de $ 210)
● Boletos que venceriam:
○ 1 mês à frente com valor de $ 210 e valor presente de $ 207,90
○ 2 meses à frente com valor de $ 210 e valor presente de $ 205,80
○ 3 meses à frente com valor de $ 210 e valor presente de $ 203,70
● Destinação para reforço do fundo de emergência: $ 82,60.
Visualizando a destinação do superávit de $ 700:
● Pagamento antecipado de três boletos: $ 617,40
● Reforço no fundo de emergência: $ 82,60
Ambas as destinações acima (redução de passivo e aumento de ativo) irão aumentar o
patrimônio líquido.
Através da gestão de um fluxo de caixa orientado para a geração de superávits, podemos
destinar recursos para a quitação antecipada de dívidas, além da quitação das obrigações
já previstas.
Com a redução do passivo em uma velocidade mais intensa, é provável que tais obrigações
cheguem ao fim ou fiquem num nível cada vez menor, abrindo espaço para a destinação de
recursos para os investimentos.
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Considerações finais
Nesta aula, vimos várias coisas:
● O planejamento financeiro pessoal é como uma estratégia para acumular bens e
valores para usufruto futuro e sua gestão deve ser feita com balanços patrimoniais e
fluxos de caixa.
● É mais importante ter um patrimônio líquido proporcionalmente maior do que em
termos absolutos.
● No fluxo de caixa, o saldo final é a interação do saldo anterior com as entradas e
saídas de dinheiro durante o mês.
● A situação financeira ideal é caracterizada por um patrimônio líquido positivo e,
também, por superávits mensais no fluxo de caixa.
● O endividamento no contexto do planejamento financeiro pessoal, basicamente,
refere-se à redução da carga de dívidas para o aumento do patrimônio líquido.
● Durante a execução do planejamento financeiro pessoal, devemos acompanhar as
movimentações patrimoniais e de caixa de perto.
● O lucro de uma empresa equivale ao superávit em nosso fluxo de caixa.
● Devemos quitar dívidas antecipadamente, começando pelas obrigações mais caras,
ou seja, as que possuem as maiores taxas de juro.
● O comprometimento máximo no mês com o pagamento regular de dívidas deve
situar-se em 15% da renda.
É sabido que o endividamento está ligado à forma como gerenciamos renda e gastos e não
ao nosso nível de renda. Portanto, devemos elevar nosso conhecimento financeiro para
administrar melhor nossas finanças. Quando pagamos taxas de juro maiores, normalmente
isso ocorre em função de baixo conhecimento sobre finanças pessoais.
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Referências
BARROS, Carlos Augusto Rodrigues de - EDUCAÇÃO FINANCEIRA E ENDIVIDAMENTO
- Monografia - ESADE, RS (sem identificação de data).
FRANKENBERG, Louis - SEU FUTURO FINANCEIRO - Rio de Janeiro, Campus, 1999.
GIARETA, Marisa - PLANEJAMENTO FINANCEIRO PESSOAL: Uma proposta de
controle de fluxo de caixa para orçamento familiar - Monografia - UFRS, 2011.
GRÜSSNER, Paula Medaglia - ADMINISTRANDO AS FINANÇAS PESSOAIS PARA
CRIAÇÃO DE PATRIMÔNIO - Monografia - UFRS, 2007.
PIRES, Valdemir - FINANÇAS PESSOAIS - Fundamentos e dicas - Piracicaba, Equilíbrio,
2007.
REDE GESTÃO - GESTÃO DAS FINANÇAS PESSOAIS - Informativo, 2007.

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