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EduFatecie E D I T O R A HEMATOLOGIA CLÍNICA E HEMOTERAPIA Professora Dra. Érica Benassi Zanqueta REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Geani Andrea Linde Colauto DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Caroline da Silva Marques Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Jéssica Eugênio Azevedo Kauê Berto PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO André Dudatt Carlos Firmino de Oliveira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO Carlos Eduardo da Silva DE VÍDEO Carlos Henrique Moraes dos Anjos Yan Allef EDITORA-CHEFE Prof. Dra. Denise Kloeckner Sbardeloto EDITOR-ADJUNTO Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme ASSESSORIA JURÍDICA Prof. Dra. Letícia Baptista Rosa FICHA CATALOGRÁFICA Tatiane Viturino de Oliveira Zineide Pereira dos Santos REVISÃO ORTOGRÁFICA Prof. Esp. Bruna Tavares Fernandes SECRETÁRIA Mariana Bidóia Machado Yasmin Cristina de Miranda Andretta SETOR TÉCNICO Fernando dos Santos Barbosa FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP Z31h Zanqueta, Érica Benassi Hematologia clínica e hemoterapia / Érica Benassi Zanqueta. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 94 p.: il. Color. ISBN 978-65-5433-027-5 1. Hematologia. 2. Sangue – Tratamento. 3. Anemia. 4. Leucemia. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23 ed. 616.15 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas do banco de imagens Shutterstock. 2022 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2022. Os autores. Copyright C Edição 2022 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ https://unifatecie.edu.br/ https://editora-edufatecie.unifatecie.edu.br/ 3 AUTORA Professora Dra. Érica Benassi Zanqueta Biomédica, mestre e doutora em Ciências Farmacêuticas, atuante na docência desde 2018. Sou uma apaixonada por pesquisa, curiosidades, análises clínicas, estética e desenvolvimento de fármacos e cosméticos. Também sou especialista em educação à distância e gosto de atender aos meus alunos sempre de forma humanizada, enfatizando que essa é a base do profissional de saúde. ● Graduação: Biomedicina (UNICESUMAR - 2012); ● Mestrado: Ciências Farmacêuticas - Microbiologia de Produtos Naturais e Sintéticos (Universidade Estadual de Maringá - 2014); ● Doutorado: Ciências Farmacêuticas - Microbiologia de Produtos Naturais e Sintéticos (Universidade Estadual de Maringá - 2018); ● Atuante na docência desde 2019 na UNIFAMMA - Maringá - PR; ● Coordenadora de cursos da saúde presencial e EaD desde 2019 na UNIFAMMA - Maringá - PR; ● Experiência em informática em saúde e suporte ao cliente; ● Produtora de materiais didáticos para cursos da saúde e pós-graduação em saúde. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/1191279307741987 http://lattes.cnpq.br/1191279307741987 4 Olá pessoal, sejam bem vindos! Nesta apostila apresentarei a vocês os conceitos gerais sobre hematologia e hemo- terapia, assuntos fundamentais para qualquer profissional de saúde. Espero que possamos ter uma conversa fluida, conceituando vocês sobre os principais pontos acerca destes deste tema que tem impacto direto sobre saúde, cuidado e diagnóstico de doenças. Ahh, e depois dessa disciplina vocês não verão mais o hemograma com os mesmos olhos, rsrsrs. Na unidade I vou apresentar a vocês os conceitos básicos sobre hematologia, enfa- tizando os termos técnicos que utilizaremos na apostila e na vida acadêmica e profissional de vocês. Primeiramente, vamos falar sobre a composição do sangue e como as células sanguíneas são formadas. Já na unidade II vamos conversar sobre o hemograma e aqui preparem-se para pensar em números e valores de referência. Para uma melhor avaliação dos parâmetros hematológicos, vamos conversar sobre os índices hematimétricos, alterações nas hemá- cias, leucócitos e plaquetas. Em seguida, na unidade III vamos falar das anemias. E não pensem vocês que só reposição de ferro ‘sara’ uma anemia. Vamos ver a fisiopatologia dos principais grupos de anemia, bem como diagnóstico e tratamento. Por fim, na unidade IV, vamos fechar com chave de ouro falando sobre as leucemias e banco de sangue. Ou seja, ao final da apostila, vocês estarão “craques” em sangue e em hemograma. O que, com certeza, fará diferença na vida profissional de vocês. Aproveito para convidá-los a conferir todos os materiais de apoio que vou disponi- bilizar por aqui, pois eles irão complementar seus estudos e melhorar, cada vez mais, seu conhecimento em microbiologia e imunologia. Fiquem bem e bons estudos! APRESENTAÇÃO DO MATERIAL SUMÁRIO 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Composição do sangue; • Órgãos do sistema hematopoiético; • Eritropoiese; • Leucopoese e plaquetopoese. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar o que é o sangue e quais seus componentes principais; • Estabelecer quais órgãos e tecidos fazem parte do sistema hematopoiético; • Compreender as etapas principais da formação e maturação das células sanguíneas. 1UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO ÀINTRODUÇÃO À HEMATOLOGIAHEMATOLOGIA Professora Dra. Érica Benassi Zanqueta 7 Olá pessoal, tudo bem com vocês? Espero encontrá-los bem! Hoje daremos início à jornadade conhecimento dos componentes do sangue. Acredito que muitos de vocês já se questionaram sobre: como são as células do sangue? Porque ele é vermelho? Como ele transporta oxigênio? Como os machucados e sangra- mentos se curam? Apesar de parecerem perguntas bastante infantis, são questionamentos necessá- rios para a compreensão da fisiologia humana. Conhecer quais são os componentes do sangue e como eles são formados é a base para o entendimento da fisiopatologia de muitas doenças, bem como, para o estabelecimento de sua terapia. Vamos dar início a essa unidade falando um pouco sobre quais são os componen- tes do sangue: células, soro, plasma… Em seguida qual a função do sangue? Como as células sanguíneas são formadas? Você sabia, caro estudante, que temos alguns tecidos especializados em maturar e desenvolver as células sanguíneas? Pois é, todos esses assuntos serão abordados nesta unidade. Será uma conversa inicial e introdutória sobre a composição básica do sangue e formação de suas estruturas. Aproveitem! INTRODUÇÃO UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Podemos definir o sangue como um tecido fluido, alojado nos vasos sanguíneos do sistema circulatório, formado por duas partes distintas: o plasma (parte líquida) e as células (parte sólida). O plasma é o componente mais abundante do sangue, formado basicamente por água, proteínas, íons, nutrientes e metabólitos celulares. Já as células dividem-se em três categorias distintas: células vermelhas - ou hemácias- que são responsáveis pela troca gasosa; células brancas - leucócitos - que são responsáveis pela defesa do organismo; e plaquetas, que participam da coagulação do sangue. Todas essas estruturas permanecem distribuídas de forma homogênea no organismo, contudo, quando coletamos o sangue, é possível separar tais componentes através do processo de centrifugação, conforme des- crito na Figura 01. Vale ressaltar que as células sanguíneas (estruturas sólidas) podem ser chamadas de elementos figurados (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). 1 COMPOSIÇÃO DO SANGUE UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA TÓPICO FIGURA 01 - PLASMA E ELEMENTOS FIGURADOS VISUALIZADOS NO SANGUE APÓS CENTRIFUGAÇÃO Fonte: Zago, Falcão e Pasquini (2013). O plasma é a parte líquida do sangue total. Ou seja: quando pensamos no sangue fluido, que corre nos vasos sanguíneos, a parte líquida, que dá viscosidade a ele, é o plas- ma. Ele é composto por cerca de 90% de água e os outros 10% restantes são proteínas, íons, nutrientes, metabólitos celulares e gases dissolvidos. Todas essas moléculas são importantes para manter o pH sanguíneo bem como seu equilíbrio osmótico. E dentre as proteínas, a mais importante e abundante é a albumina, que mantém os níveis de líquidos no sangue (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). Já as hemácias (eritrócitos ou glóbulos vermelhos) são células especializadas em levar oxigênio aos tecidos, devido à presença da proteína hemoglobina em sua estrutura. Elas têm formato bicôncavo, com diâmetro bem pequeno (7-8 μm) e não contém mitocôndria e núcleo quando maduras (Figura 02). Essa ausência de núcleo garante que as hemácias terão mais espaço para armazenar a proteína hemoglobina em seu interior, garantindo um transporte de oxigênio eficiente. E a ausência de mitocôndrias, em seu estágio mais maduro, impede que elas utilizem o oxigênio que está sendo transportado para realizar a respiração celular (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). 9UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA FIGURA 02 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS HEMÁCIAS Fonte: WIKIMEDIA COMMONS. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/37/Red_Blood_Cell.jpg/640px-Red_Blood_Cell.jpg. Acesso em 03 jun. 2022. As hemácias tem um tempo de vida médio de 120 dias. Quando elas entram em processo de senescência (envelhecimento) elas são deslocadas para o fígado e o baço, para serem degradadas, ao mesmo tempo que novas células são produzidas na medula óssea. Pensem que essa produção ocorre a todo momento e é controlada pelo hormônio renal eritropoietina, que é liberado pelos rins quando há baixos níveis de oxigênio circulante (LORENZI, 2006). Os leucócitos (glóbulos brancos) representam um conjunto de células muito variado em tamanho e formato (Figura 03) e estão em menor número que as hemácias, somando menos de 1% do total de células sanguíneas. Este grupo heterogêneo de células está envolvido com a resposta imunológica, participando ativamente da defesa do organismo contra vírus, fungos e bactérias. Seu diâmetro é maior que os eritrócitos e apresentam núcleo e mitocôndria (LORENZI, 2006). O núcleo, aliás, é uma das principais estruturas utilizadas para distinguir uma célula da outra. 10UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/37/Red_Blood_Cell.jpg/640px-Red_Blood_Cell.jpg FIGURA 03 - REPRESENTAÇÃO DOS GLÓBULOS BRANCOS (LEUCÓCITOS) Fonte: Adaptado de WIKIMEDIA COMMONS. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thum- b/1/1f/Blausen_0909_WhiteBloodCells.png/640px-Blausen_0909_WhiteBloodCells.png. Acesso em 03 jun. 2022. Como vocês puderam conferir na Figura 03, alguns leucócitos apresentam grânulos em seu interior, este grupo é chamado de granulócitos, e compreende os eosinófilos, basófilos e neutrófilos. Já os monócitos e linfócitos compreendem o grupo dos agranulócitos, por não apresentarem esses grânulos em seu citoplasma. Tais granulações são importantes para a citotoxicidade destas células durante a resposta imunológica (LORENZI, 2006). Por fim, representando o último (mas não menos importante) componente do sangue, temos as plaquetas (ou trombócitos), que são fragmentos de célula envolvidos com o processo de coagulação (Figura 04). Elas derivam de células precursoras, chamadas de megacariócitos, cujo processo de maturação envolve a fragmentação citoplasmática em pedaços, formando cerca de 2000-3000 plaquetas, com diâmetro de 2-3 μm (LORENZI, 2006). 11UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1f/Blausen_0909_WhiteBloodCells.png/640px-Blausen_0909_WhiteBloodCells.png https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1f/Blausen_0909_WhiteBloodCells.png/640px-Blausen_0909_WhiteBloodCells.png FIGURA 04 - ESQUEMATIZAÇÃO DE PLAQUETAS NÃO ATIVADAS E ATIVADAS (QUANDO OCORRE O PROCESSO DE COAGULAÇÃO) Fonte: Adaptado de WIKIMEDIA COMMONS. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ thumb/d/d5/Blausen_0740_Platelets.png/640px-Blausen_0740_Platelets.png. Acesso em 03 jun. 2022. Essas pequenas estruturas circulam nos vasos sanguíneos na sua forma inativa e, quando ocorre lesão, as plaquetas são ativadas e migram para o local da ferida. Desta forma, elas conseguem emitir sinais para outras plaquetas, atraindo-as para o local da lesão formando um pequeno tampão e dando início ao processo chamado de cascata de coagulação, que veremos mais adiante (LORENZI, 2006). Por isso, cada vez que você tira a casquinha do seu machucado, as plaquetas ficam furiosas, pois esse processo deve recomeçar novamente. 12UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d5/Blausen_0740_Platelets.png/640px-Blausen_0740_Platelets.png https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d5/Blausen_0740_Platelets.png/640px-Blausen_0740_Platelets.png . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Agora que já entendemos quais as principais células do sangue, vamos falar sobre os locais em que elas são formadas, maturadas e destruídas - o TECIDO HEMATOPÓIÉ- TICO. O sistema fagocítico mononuclear tambémfaz parte do tecido hematopoiético e é responsável por eliminar as células que não estão mais funcionais, bem como, aquelas que já entraram no processo de envelhecimento (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). Os órgãos hematopoiéticos (no qual as células sanguíneas são produzidas) podem ser classificados em primários e secundários. Os primários são a medula óssea e o timo, e os secundários, os linfonodos e o baço. É importante ressaltar que a produção e maturação das células do sangue segue uma hierarquia e um fluxo muito preciso, desde a célula tronco, até as células maduras circulantes na corrente sanguínea. Sendo assim, quaisquer falhas nesse sistema ou nesse fluxo, pode gerar doenças graves, que comprometem a vida do paciente (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). Além da divisão dos órgãos, em primários e secundários, o tecido hematopoiético também pode ser dividido de acordo com uma hierarquia, baseada no local de formação das células mielóides e linfóides. Sendo assim, podemos citar os tecidos mielóide e linfóide (geração, diferenciação e maturação das células) e sistema fagocítico mononuclear (des- truição ou remoção de células). O tecido mielóide é composto pela medula óssea, que está presente na epífise de ossos longos e nos ossos curtos e chatos (Figura 05). Este é o local em que são formados os diferentes tipos de células que compõem o sangue (plaquetas, eritrócitos e leucócitos). 2 ÓRGÃOS DO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA TÓPICO FIGURA 05 - FÊMUR REPRESENTANDO OS OSSOS QUE CONTÉM TECIDO MIELÓIDE (MEDULA ÓSSEA) Fonte: STATIC BIOLOGIANET. Disponível em: https://static.biologianet.com/2020/10/medula-ossea-vermelha-amarela.jpg. Acesso em: 03 jun. 2022. Já o tecido linfóide divide-se em linfóide primário e linfóide secundário. O primário é formado pela medula óssea e pelo timo, em que ocorre a linfopoiese e a maturação dos linfócitos B (medula) e linfócitos T (timo). Já o tecido linfóide secundário é constituído pelos linfonodos, baço e tecidos linfóides associados às mucosas, como apêndice, placas de Peyer, amígdalas e adenóides. Nesses locais, os linfócitos são ativados ao entrarem em contato com os antígenos, possibilitando que executem suas funções específicas (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). Por fim, temos o sistema fagocítico mononuclear, que é responsável pela manu- tenção do sistema hematopoiético, pois elimina as células que não tem mais utilidade na corrente sanguínea. É formado pelos macrófagos (cujo nome varia de acordo com cada região). Estes macrófagos teciduais são importantes pois são células capazes de fagocitar outras células ou componentes que não tem mais função ou são nocivos ao organismo. 14UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA https://static.biologianet.com/2020/10/medula-ossea-vermelha-amarela.jpg . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Você já deve ter ouvido falar em células-tronco, certo? Esse grupo de células quase mágico é encontrado na medula óssea e tem a capacidade de se diferenciar em qualquer tipo de célula sanguínea. contudo, esse processo de diferenciação não é aleatório, ele ocorre mediante caraterísticas (estímulos), tais como: capacidade de auto-renovação; capacidade de gerar múltiplos tipos celulares; capacidade de reconstruir o sistema hema- topoiético (Figura 06). FIGURA 06 - PROCESSO DE HEMATOPOIESE, EVIDENCIANDO TODAS AS POSSIBILIDADES DE CÉLULAS A SEREM FORMADAS A PARTIR DE UMA CÉLULA TRONCO PLURIPOTENTE Fonte: ESCOLA EDUCAÇÃO. Disponível em: https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2020/05/Hematopoiese.png. Acesso em: 03 jun. 2022. 3 ERITROPOIESE TÓPICO 15UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2020/05/Hematopoiese.png A eritropoiese é o processo de produção e maturação das hemácias, que ocorre na medula óssea (tecido mielóide) a partir da célula tronco mielóide. Vale ressaltar que, na vida embrionária ou em pacientes com graves anemias, esse processo também pode ocorrer no fígado ou baço, recebendo o nome de eritropoiese extramedular (HOFFBRAND; MOSS, 2013). O processo envolve uma série de alterações que as células sofrem, até chegar em seu estado máximo de maturação. Sendo assim, podemos dividir o processo em três etapas distintas (Figura 07). A primeira etapa é a diferenciação, em que uma célula tronco pluripotente recebe estímulos e se diferencia em célula tronco mielóide. Em seguida, caso haja estímulo de Fator Estimulador de Colônia de Granulócitos, IL-3 e na presença de eritropoietina, esta célula irá se diferenciar em eritrócito. Em seguida, esta célula irá sofrer uma série de divisões (mitoses) para aumentar sua população. FIGURA 07 - PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO, PROLIFERAÇÃO E MATURAÇÃO DOS ERITROBLASTOS Fonte: Adaptado de BLOG UAI DIVAS. Disponível em: https://uaidivas.files.wordpress.com/2017/05/eritrograma-anclivepa-2011-8-728.jpg. Acesso em 03 jun. 2022. Por fim, temos a maturação, nos quais as células sofrerão uma série de mudanças em seu citoplasma, culminando com a enucleação, adição de hemoglobina e diferenciação final em eritroblastos (Figura 08). A perda do material genético (enucleação) consiste na etapa final de maturação celular. Note que, a célula perde bastante de seu tamanho e com a perda do núcleo, essa redução é acentuada, tornando-a menor ainda. É importante frisar que esse processo é estimulado pela presença de vitamina B12 e folatos (HOFFBRAND; MOSS, 2013). 16UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA https://uaidivas.files.wordpress.com/2017/05/eritrograma-anclivepa-2011-8-728.jpg. Outra observação importante a se fazer é com relação ao citoplasma que se torna menos basofílico (azulado) conforme as células amadurecem. Isso ocorre pois, conforme a célula vai se tornando madura, os processos de duplicação do DNA, transcrição e tradução também diminuem, havendo redução dos ácidos nucleicos dentro da célula (por isso a mudança de cor do citoplasma). FIGURA 08 - ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DECORRENTES DA ERITROPOIESE Fonte: Disponível em: https://lh6.ggpht.com/_STDVFQGESJI/TcV7wCtAwmI/AAAAAAAACYY/rFzgN_W_sIk/1655%5B4%5D.jpg?imgmax=800. Acesso em 03 jun. 2022. Por fim, quando essa célula passa de eritroblasto ortocromático para reticulócito, é possível verificar em seu citoplasma alguns resquícios do material genético restante após a enucleação. Contudo, na hemácia madura, esse material genético já não é mais visível. Este processo de enucleação é concomitante ao ganho de hemoglobina, tornando a célula definitivamente madura. 17UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA https://lh6.ggpht.com/_STDVFQGESJI/TcV7wCtAwmI/AAAAAAAACYY/rFzgN_W_sIk/1655%5B4%5D.jpg?imgmax=800. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Os leucócitos são o grupo de células sanguíneas conhecido como glóbulos bran- cos. Eles têm um período de vida muito curto na corrente sanguínea e a utilizam para migrar para os locais de infecção tecidual. As células compreendidas entre os leucócitos são os neutrófilos, linfócitos, basófilos, eosinófilos e monócitos, sendo que cada um deles tem sua função específica na célula. Todos são produzidos e maturados na medula óssea, permanecendo por poucos dias na corrente sanguínea, até serem recrutados pelos tecidos para cumprirem sua função imunológica. Quando analisamos as características estruturais e funcionais dos leucócitos, podemos dividir o processo de produção celular em granulopoiese (produção dos granu- lócitos - neutrófilos, eosinófilos, basófilos) e agranulopoiese (produção dos agranulócitos - monócitos e linfócitos). Cada uma dessas células possui uma função específica, sendo que os neutrófilos, eosinófilos e monócitos são consideradascélulas fagocíticas, portanto, com grande importância na mediação da imunidade inata e adaptativa (HOFFBRAND; MOSS, 2013). É possível perceber que, em ambos os processos, há múltiplas alterações estruturais nas células, permitindo que elas saiam de blastos/células não diferenciadas, até células maduras e funcionais. 4 LEUCOPOESE E PLAQUETOPOESE TÓPICO 18UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA FIGURA 09 - ESQUEMA EVIDENCIANDO TODO O PROCESSO DE LEUCOPOIESE Fonte: Rodrigues e Oliveira (2017). Os granulócitos originam-se de células tronco mieloides multipotentes (assim como as hemácias), que dão origem a células tronco unipotentes e bipotentes, que, mediante estímulos químicos, darão origem aos neutrófilos, eosinófilos e basófilos, que são células que apresentam, além dos grânulos, núcleo multilobulado. Já os linfócitos e monócitos não apresentam nem grânulos e nem núcleo multilobulado, contudo, seu processo de maturação também depende de estímulos químicos e ocorre na medula óssea (HOFFBRAND; MOSS, 2013). Mais do que decorar a ordem de maturação de cada leucócito, caro aluno, desejo que você entenda a seguinte linha de raciocínio: vamos considerar que os neutrófilos, eosinófilos, basófilos e linfócitos são as células maduras (adultas) e as demais, são as células imaturas (quase como adolescentes e crianças). E mais, vamos pensar nas infec- 19UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA ções e inflamações como pequenos focos de guerra. Quando há uma guerra, recrutamos os adultos ou as crianças? Se você pensou em adultos, está correto. Agora, quando os soldados adultos e preparados não estão dando conta da guerra, os mais jovens come- çam a participar das batalhas, certo? Pois é, com as nossas células de defesa funciona da mesma forma: em condições normais apenas as células adultas estão presentes na corrente sanguínea. Apenas em condições anormais, veremos os precursores presentes na circulação. Portanto, quando formos estudar as doenças leucocitárias, vocês verão os nomes dos precursores novamente. Por fim, o último processo de produção que vamos estudar é a trombopoiese, que são todas as etapas de formação e maturação das plaquetas. Este processo é bem simples e mediado pela liberação de trombopoietina, citocina que medeia as modificações que ocorrem no citoplasma do megacariócito maduro, liberando as plaquetas no plasma sanguíneo (Figura 10). Ou seja, aqui temos um processo que tem início na medula óssea e em outros tecidos hematopoiéticos e finaliza na corrente sanguínea (HOFFBRAND; MOSS, 2013). FIGURA 10 - ESFREGAÇO SANGUÍNEO, CUJAS SETAS ESTÃO INDICANDO AS PLAQUETAS ‘MADURAS’ (LEMBRANDO QUE PLAQUETAS SÃO PORÇÕES CITOPLASMÁTICAS DE MEGACARIÓCITOS) Fonte: Adaptado de WIKIMEDIA COMMONS. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ thumb/3/3c/Blood-rbcs_and_thrombocytes2.jpg/640px-Blood-rbcs_and_thrombocytes2.jpg Acesso em 17 jun. 2022 20UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3c/Blood-rbcs_and_thrombocytes2.jpg/640px-Blo https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3c/Blood-rbcs_and_thrombocytes2.jpg/640px-Blo 21UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA Você já deve ter ouvido falar que o AAS tem a capacidade de ‘afinar’ o sangue, certo? Pois é, o mecanismo de ação é a inibição da enzima cicloxigenase (COX). Nas plaquetas, essa enzima é capaz de reduzir a produção de tromboxano, que favorece a agregação plaquetária. Ou seja, quem toma AAS tem suas plaquetas fazen- do uma menor agregação plaquetária, o que faz parecer que o sangue é mais fino. O problema associado à utilização contínua deste medicamento são os sangramentos excessivos. Portanto, se você conhece alguém ou faz uso regular de AAS, fique sempre de olho nos seus exames e faça consultas regulares ao seu médico. Fonte: MANCINI, Natália. AAS na trombocitemia essencial: por que e quando usar?. Revista ABRALE ONLINE. Jun. 2021. Disponível em: https://rockcontent.com/br/talent-blog/referencia-bibliografica-abnt/#:~:text=Para%20fazer%20a%20re- fer%C3%AAncia%20de,data%20de%20publica%C3%A7%C3%A3o%20da%20obra. Acesso em: 21 jun. 2022. https://rockcontent.com/br/talent-blog/referencia-bibliografica-abnt/#:~:text=Para%20fazer%20a%20ref https://rockcontent.com/br/talent-blog/referencia-bibliografica-abnt/#:~:text=Para%20fazer%20a%20ref 22UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA A doação de medula óssea é um processo rápido e importante que pode salvar muitas vidas. Para se cadastrar como doador, basta procurar o hemocentro de sua cidade, fazer seu cadastro documental e doar uma pequena amostra de sangue. A partir daí, o laboratório irá avaliar seu sangue e, quando houver compatibilidade de um doador, você será chamado. Doação de medula óssea salva vidas. Fonte: TUDO sobre Medula Óssea. Associação da Medula Óssea (AMEO). Disponível em: https://ameo.org. br/paciente/tudo-sobre-medula-ossea/. Acesso em: 21 jun. 2022. https://ameo.org.br/paciente/tudo-sobre-medula-ossea/ https://ameo.org.br/paciente/tudo-sobre-medula-ossea/ 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado aluno, nesta unidade vocês foram apresentados ao incrível e microscópico mundo do sangue. Apesar de ser um tecido líquido, é riquíssimo em funções e processos bioquímicos importantes para a manutenção da homeostasia. Eu sei que são muitos nomes, formatos e funções diferentes que ao longo das demais unidades serão mais explorados. Para que entendam as unidades seguintes, é importante que relembrem os nomes e funções das células sanguíneas. No laboratório clínico, a análise quali e quantitativa das células sanguíneas é primordial para o correto diagnóstico de doenças e determinação do prognóstico. Portanto, na próxima unidade, vamos discutir os principais parâmetros do hemogra- ma, afinal estudar hematologia envolve compreender um hemograma (e ajudar todo mundo da família a ler seus exames) e dar início à fisiopatologia das doenças hematológicas. Para isso, os conceitos abordados aqui no começo devem estar sedimentados e sem dúvidas. Até a próxima unidade. UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA 24 LEITURA COMPLEMENTAR NEGRI, J. L. Metabolismo do ferro e eritropoiese. Ciência News. Disponível em https://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/revista_virtual/hematologia/ hemato26.pdf. Acesso em 03/06/2022. UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA https://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/revista_virtual/hematologia/hemato26.pdf https://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/revista_virtual/hematologia/hemato26.pdf 25 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Laboratório de Hematologia: Teorias, Técnicas e Atlas. Autor: Márcio Antonio Wanderley de Melo, Cristina Magalhães da Silveira. Editora: Rubio. Sinopse: Ricamente ilustrado, contando com mais de 850 imagens, Laboratório de Hematologia – Teorias, Técnicas e Atlas apresenta de modo didático, prático e objetivo o universo complexo das alterações e das doenças hematológicas, sejam estas benignas ou neoplásicas. Além disso, mostra o caminho adequado para a realização dos exames solicitados nesta área, desde o cadastro e a coleta do material até a análise final e a liberação do laudo. A coleta adequada para exames hematoló- gicos, a qualidade em hematologia e as técnicas hematológicas manuais e automatizadas com imuno-hematologia e coagu- lação, além do estudo que aborda todas as alterações que ocorrem em hemácias, leucócitos e plaquetas e da profunda análise citomorfológica nos líquidos biológicos, são abordadas de maneira prática e dinâmica. Útil a todos os profissionais en- volvidos com o diagnóstico laboratorial em Hematologia, o livro coloca-se como um importante aliado do estudo e da consulta na bancada de laboratório. FILME / VÍDEO Título: A Inventora: à procura de sangue no vale do silício. Ano: 2019. Sinopse: Com uma nova invenção que prometia revolucionar os testes sanguíneos, Elizabeth Holmes tornou-se a bilionáriamais jovem do mundo, é vista como o próximo Steve Jobs. Po- rém, apenas dois anos depois, sua empresa multibilionária é dissolvida. UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À HEMATOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Índices hematimétricos; • Alterações morfológicas das hemácias; • Alterações na série branca; • Hemostasia e síndromes hemorrágicas. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar os principais ítens do hemograma; • Compreender as principais alterações das hemácias; • Compreender quais são as principais alterações sofridas na série branca; • Elucidar os conceitos de hemostasia e o risco das síndromes hemorrágicas; • Estabelecer a importância da correta avaliação do hemograma. 2UNIDADEUNIDADE HEMOGRAMAHEMOGRAMA Professora Dra. Érica Benassi Zanqueta 27 INTRODUÇÃO Olá pessoal, tudo bem com vocês? Espero encontrá-los bem! Bom, na nossa última conversa, mostrei a vocês os tópicos iniciais sobre a hema- tologia. Conversamos sobre a composição do sangue, quais são as células, sua morfologia e fisiologia. Tudo isso é necessário para pensarmos em utilizar as informações presentes no sangue para diagnosticar um paciente. O hemograma é um exame pedido praticamente cada vez que o médico entra em contato com um novo paciente. Isso é muito válido, pois ele traz uma visão integral do paciente, que se complementa com a avaliação clínica. Sendo assim, os valores que lemos no exame não são aleatórios. Vocês já devem ter notado que o hemograma em geral é dividido em eritrograma (ou série vermelha); leucograma (ou série branca) e plaquetas, certo? E que a coleta de sangue sempre é realizada no tubo de tampa roxa (com EDTA). Para a realização do exa- me, podem ser utilizadas técnicas manuais e automatizadas, a depender da estrutura do laboratório e demanda pelo serviço. E, por mais que a tecnologia e a automação auxiliem muito a vida do laboratorista, algumas técnicas manuais são consideradas padrão ouro para a contraprova de resultados alterados. Portanto, não devemos confiar apenas nas máquinas para realizar o diagnóstico hematológico. Comentei no parágrafo anterior sobre o anticoagulante padrão para o hemograma: em 99,9% das vezes é utilizado o EDTA como anticoagulante de escolha para a análise hematológica. E a escolha dos anticoagulantes tem efeito direto sobre o resultado dos exames. Mas, você sabe porque utilizamos o EDTA? Pois ele é um quelante de cálcio, que interfere no processo de coagulação sanguínea, sem causar nenhum dano estrutural às células, mantendo sua morfologia durante o exame. Além disso, o transporte e arma- zenamento da amostra devem ser realizados corretamente, evitando que alterações de temperatura, pressão ou stress mecânico danifiquem as células. São muitos detalhes e é um exame super completo e complexo. Sendo assim, a partir dos conhecimentos que irão adquirir nesta unidade estarão aptos a interpretar um hemograma corretamente e sempre com pensamento e análise crítica. UNIDADE 2 HEMOGRAMA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Quando pensamos num hemograma, na nossa cabeça vem um papel com os dados do paciente e do laboratório no cabeçário, seguidos de várias linhas com nomes e números variados. Numa primeira olhada, parece fácil realizar sua interpretação, pois, sempre estão descritos os valores de referência para cada parâmetro avaliado. Portanto, parece simples dizer que algum parâmetro está acima ou abaixo do esperado. Contudo, alguns analitos são derivados de outros pontos importantes do exame e, para uma análise completa devemos lembrar da constituição e função de algumas células, como as hemácias. A primeira etapa do hemograma é o eritrograma, que avalia quali e quantitativa- mente as hemácias, através da contagem total de células (He), dosagem da concentração de hemoglobina (Hb) e cálculo do hematócrito (Ht). A partir destes dados, são calculados os índices hematimétricos (VCM, HCM, CHCM e RDW). Tudo isso é necessário pois apenas a alteração na contagem global das hemácias não tem impacto clínico, sendo necessárias as informações constantes nos itens citados anteriormente. Como já conversamos na introdução desta unidade, as análises hematológicas podem ser realizadas de modo manual ou automatizado. Hoje em dia, apenas laboratórios muito pequenos e com pouco fluxo de pacientes realizam todo o processo de forma manual. A grande maioria utiliza equipamentos automatizados que realizam as análises com base nas metodologias de impedância ou absorbância (Figura 01): o equipamento percebe a passagem de cada célula através de um campo eletromagnético, permitindo a detecção da célula juntamente às suas propriedades biofísicas, gerando um sinal, que será detectado pelo equipamento (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA - SBPC, 2020). 1 ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS TÓPICO UNIDADE 2 HEMOGRAMA FIGURA 01 - PRINCÍPIO BÁSICO DA DETECÇÃO DE CÉLULAS HEMATOLÓGICAS ATRAVÉS DE ANALISADORES AUTOMATIZADOS Fonte: Zago, Falcão e Pasquini (2013). Os eritrócitos circulantes, são células pequenas, com corpo bicôncavo, que, em sua forma madura, apresentam-se de forma anucleada e repletas de hemoglobina em seu interior (Figura 02). Essa hemoglobina é responsável por carregar as moléculas de oxigênio em seu grupamento Heme, que é constituído por ferro. Desta forma, quando pensamos numa hemácia, todos esses detalhes devem estar bem sedimentados. Após a coleta sanguínea em tubo contendo EDTA, as hemácias são contadas e a quantidade de células é determinada em µL (microlitro) ou mm³ (milímetro cúbico). A quantidade normal de eritrócitos, assim como outros parâmetros do eritrograma, varia de acordo com o sexo e idade do indivíduo (SBPC, 2020). 29UNIDADE 2 HEMOGRAMA FIGURA 02 - MOLÉCULA DE HEMOGLOBINA CONTIDA NO INTERIOR DAS HEMÁCIAS, EVIDENCIANDO O GRUPAMENTO HEME, EM QUE O OXIGÊNIO SE LIGA Fonte: Adaptado de DEPOSIT PHOTOS. Disponível em:https://st2.depositphotos.com/2852841/6509/v/450/deposi- tphotos_65091197-stock-illustration-structure-of-human-hemoglobin-molecule.jpg. Acesso em 17 jun. 2022. Pensando que no interior das hemácias encontra-se a molécula de hemoglobina, que também é imprescindível ser dosada. Ela é importante para a determinação das anemias, por exemplo, visto que cada hemácia tem uma concentração adequada de hemoglobina em seu interior. A quantidade normal de hemoglobina varia, principalmente, de acordo com o sexo e idade do indivíduo. Além disso, esse parâmetro também pode variar de acordo com a popu- lação estudada, região geográfica, etnia entre outros (SBPC, 2020). Aqui, a concentração é descrita em g/dL (gramas por decilitro). O próximo parâmetro a ser avaliado é o hematócrito, que consiste na proporção de glóbulos vermelhos dentro do sangue total. Na unidade anterior vimos que o sangue é composto por plasma e elementos figurados e, dentre estes elementos, as hemácias são asmais abundantes. Portanto, este é um valor importante para avaliar a viscosidade sanguínea (se o sangue possui mais ou menos células), bem como a volemia do paciente. Da mesma forma que os demais parâmetros ele varia de acordo com idade e gênero do indivíduo. 30UNIDADE 2 HEMOGRAMA https://st2.depositphotos.com/2852841/6509/v/450/depositphotos_65091197-stock-illustration-structure https://st2.depositphotos.com/2852841/6509/v/450/depositphotos_65091197-stock-illustration-structure A partir desses dados, é possível calcular os índices hematimétricos, que são valores derivados da contagem global de hemácias, sua concentração de hemoglobina e proporção no sangue circulante. Todos os parâmetros e valores de referência foram aqui descritos com base no material disponibilizado pelo PNCQ, intitulado “valores de referência hematológicos para adultos e crianças” (2020). Volume Corpuscular Médio (VCM): este parâmetro avalia o tamanho médio das hemácias. Portanto, resultados acima do valor de referência indicam MACROCITOSE, e abaixo, MICROCITOSE. Para o cálculo, utiliza-se a seguinte fórmula: VCM = (Hematócrito ÷ Eritrócitos) x 10 VALOR DE REFERÊNCIA: 92 ± 9 fL. Observação: aqui a unidade de medida é o fentolitro. Hemoglobina Corpuscular Média (HCM): este parâmetro refere-se à quantidade média de hemoglobina no número total de eritrócitos. A hemoglobina, além de ser peça fun- damental no transporte de oxigênio e estoque de ferro no organismo do paciente, também é quem dá a pigmentação às hemácias. Sendo assim, valores abaixo da referência indicam HIPOCROMIA, e acima, HIPERCROMIA. Para o cálculo, utiliza-se a seguinte fórmula: HCM = (Hemoglobina ÷ Eritrócitos) x 10 VALOR DE REFERÊNCIA: 29,5 ± 2,5 pg. Observação: aqui a unidade de medida é picograma. Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM): este parâmetro refere-se à quantidade de hemoglobina contida em cada eritrócito e seu cálculo baseia-se em todos os anteriores. É um valor importante, pois, quando acima dos valores de referên- cia, indica uma condição clínica chamada de esferocitose. Para o cálculo, utilizam-se as seguintes fórmulas: CHCM = (Hemoglobina ÷ Hematócrito) x 100 VALOR DE REFERÊNCIA: 33 ± 1,5 % ou g/dL Observação: valores acima de 36% devem ser investigados. 31UNIDADE 2 HEMOGRAMA Red Cell Distribution Width (RDW): este parâmetro surgiu junto com a automação, portanto, em locais em que a avaliação do hemograma é 100% manual, não é avaliado. Ele indica a variabilidade no volume dos eritrócitos, evidenciando se a população celular está ou não homogênea. Devemos sempre nos lembrar que, por mais homogênea seja uma amostra celular, as células podem ter uma variação de tamanho aceitável. Portanto, apenas os valores acima da referência são levados em consideração para a clínica, sendo esta variação nomeada como ANISOCITOSE e a unidade de medida é a porcentagem. VALOR DE REFERÊNCIA: 12,8 ± 1,2 %. 32UNIDADE 2 HEMOGRAMA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Vamos pensar num paciente adulto saudável: considerando um volume de 2000 ml de sangue, cerca de 800 g do total será hemoglobina. Mas, qual a importância disso? A hemoglobina é a proteína que dá estrutura e função às hemácias e, desta forma, tem papel primordial na fisiologia destas células. Para que essa proporção se mantenha dentro do normal, a produção e maturação destas células a nível medular devem acontecer em ritmo normal e, para isso, os níveis de estimuladores e diferenciadores devem estar dentro da normalidade também. Já sabemos que a hemoglobina é responsável por manter a morfologia e fisiologia normais das hemácias. Quando um paciente sai da normalidade e entra em algum estado patológico, essa proporção pode se alterar e as hemácias podem apresentar formatos diferentes do convencional, afetando também a sua função. A seguir vamos conhecer al- gumas das principais alterações observadas nas hemácias e, durante o curso, vocês serão expostos a esses termos novamente, quando abordarmos as doenças hematológicas. Ah, e as alterações morfológicas encontradas num esfregaço sanguíneo, damos o nome de POIQUILOCITOSE. 2 ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DAS HEMÁCIAS TÓPICO UNIDADE 2 HEMOGRAMA - Codócitos ou Hemácias em alvo: a hemácia apresenta uma alteração estrutural, gerando uma dupla concavidade em seu interior. Essa alteração estrutural é em função da hemoglobina que tem um arranjo diferente no interior da célula, apresentando-se como uma porção central, dando a impressão de um alvo. Esta morfologia é comumente encontrada em pacientes com hemoglobinopatias, talassemias, hepatopatias, pacientes esplenectomi- zados e na anemia ferropriva (FAILACE; FERNANDES; FAILACE, 2009). - Esferócitos: aqui as hemácias têm sua concavidade diminuída, ou seja, parecem estar mais ‘redondas’ (lembrando que as hemácias apresentam sua biconcavidade pois per- dem o núcleo em seu processo de maturação). Ao microscópio, é possível ver células mais densas (mais cheias) e tem um diâmetro menor. Podem estar correlacionadas com doenças genéticas, alterando as proteínas de membrana celulares, bem como estão presentes em casos de anemia hemolítica autoimune (FAILACE; FERNANDES; FAILACE, 2009). - Eliptócitos/ovalócitos: são eritrócitos que se apresentam com formato mais ovala- do, causado por problemas genéticos na produção de proteínas do citoesqueleto. Pacientes com a condição da eliptocitose hereditária, a maioria das hemácias apresenta-se desta forma. Porém, alguns pacientes com patologias que afetam a produção de hemoglobina também podem apresentar tais morfologias celulares (FAILACE; FERNANDES; FAILACE, 2009). - Estomatócitos: são eritrócitos cujo halo central apresenta-se com formato seme- lhante a uma boca (stoma), podendo ser, na maioria das vezes, um artefato que aparece durante a produção do esfregaço sanguíneo. Também pode aparecer em pacientes com hepatopatias, em recém-nascidos e na estomatocitose hereditária, que é um tipo de anemia autoimune muito rara (FAILACE; FERNANDES; FAILACE, 2009). - Drepanócitos ou hemácias em foice: como o próprio nome já diz, as hemácias aqui apresentam-se com formato semelhante a uma foice. Tal efeito é visualizado quando o paciente apresenta a presença de Hemoglobina S no interior das células, que se precipita na membrana, alterando sua conformação. - Dacriócitos: são hemácias que apresentam o formato de gota ou lágrima. Tal condição é comum em pacientes que apresentam mielofibrose, pois a hematopoiese é extramedular e o trajeto percorrido pelas hemácias durante sua produção pode alterar sua conformação. Pode também ser encontrado nas talassemias, anemias hemolíticas e em pacientes esplenectomizados (FAILACE; FERNANDES; FAILACE, 2009). - Equinócitos: são hemácias que apresentam várias espículas regularmente distribuídas, devido à irregularidade de membrana. Quando visualizadas no esfregaço sanguíneo, pode ser artefato, mas, pode estar presente em pacientes com hiperuricemia, tratamento com heparina IV, hipotireoidismo e após transfusões sanguíneas (FAILACE; FERNANDES; FAILACE, 2009). 34UNIDADE 2 HEMOGRAMA - Acantócitos: são hemácias também com membrana irregular, mas, com espículas irregularmente distribuídas. Da mesma forma que os equinócitos, in vitro pode ser apenas um artefato do esfregaço, contudo, in vivo pode decorrer de hepatopatias, diminuição da função do baço e esplenectomia (FAILACE; FERNANDES; FAILACE, 2009). - Esquizócitos: no laboratório brincamos que são as hemácias esquisitas. São eri- trócitos fragmentados, cheios de irregularidades na membrana. Geralmente são causados por traumas mecânicos, pacientes com válvulas cardíacas artificiais, pacientes queimados ou que utilizam fármacos antioxidantes. Caso as alterações sejam expressivasno esfre- gaço, o paciente apresentará sintomas condizentes com anemias hemolíticas. Tais células também estão presentes em pacientes com coagulação intravascular disseminada, púrpura trombocitopênica trombótica e síndrome hemolítico-urêmica (FAILACE; FERNANDES; FAILACE, 2009). A imagem a seguir (Figura 03) apresenta algumas das alterações mais frequentes nas hemácias. FIGURA 03 - PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ENCONTRADAS NAS HEMÁCIAS, TANTO EM PACIENTES SAUDÁVEIS QUANTO EM PACIENTES PATOLÓGICOS As setas azuis indicam dacriócitos (hemácias em gota ou lágrima); as setas verme- lhas, as hemácias em alvo; as setas verdes, os equinócitos; a seta amarela, os acantócitos. Fonte: Adaptado de ASH Image Bank. Disponível em: https://imagebank.hematology.org/atlas-images/list. Acesso em 19 jun. 2022. Se você observar esses esfregaços com bastante atenção, será possível ver ainda esferócitos e esquizócitos. Mas, deixo essas células para vocês tentarem encontrar sozi- nhos e já treinaram o olho nos esfregaços sanguíneos. 35UNIDADE 2 HEMOGRAMA https://imagebank.hematology.org/atlas-images/list. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Como estamos estudando ao longo desta unidade, o hemograma é o exame que expressa as condições gerais do indivíduo, em um determinado momento da vida. É um exame completo que traz uma avaliação quantitativa das diferentes células encontradas no sangue periférico. Além disso, no rodapé do exame, pode trazer informações qualitativas, que descrevem características especiais das células que podem auxiliar no diagnóstico de diversas patologias (LORENZI, 2006). A parte do hemograma que avalia apenas os leucócitos é chamada de leucograma e, assim como para o eritrograma, existem faixas normais que os valores podem oscilar, que são os chamados “valores de referência”. Aqui também podemos contar com o auxílio dos equipamentos automatizados para contagem de leucócitos, contudo, vale ressaltar que a contagem manual dos ainda é muito utilizada e, muitas vezes, feita como contraprova da eficiência do equipamento. A contagem manual do número total de leucócitos é realizada na câmara de Neubauer e recebe o nome de contagem global de leucócitos. Além disso, com auxílio de corantes é possível corar todos os leucócitos e diferenciá-los entre si pela morfologia nuclear, sendo esta a contagem diferencial de leucócitos. Essa contagem recebe o nome de contagem diferencial de leucócitos. Quando pensamos nos valores de referência para a série branca (Figura 04), é possível perceber que as células presentes em maior proporção são os neutrófilos, seguidos dos linfócitos e monócitos. Os eosinófilos e basófilos apresentam um valor de referência bem baixo, podendo ser considerado 0 em muitos laboratórios de análises clínicas. E o que isso quer dizer? Quer dizer que essas células permanecem circulantes em pequena quantidade e que seu aumento só ocorre em situações específicas. 3 ALTERAÇÕES NA SÉRIE BRANCA TÓPICO 36UNIDADE 2 HEMOGRAMA FIGURA 04 - VALORES DE REFERÊNCIA DO LEUCOGRAMA DESDE O NASCIMENTO ATÉ A IDADE ADULTA Fonte: Programa Nacional de Controle De Qualidade - PNCQ, 2020. Analisando a Figura 15 podemos perceber, também, que há um valor médio de leucócitos totais em cada faixa etária. Mas, isso não quer dizer que um valor dentro da normalidade estará exatamente sobre essa média. Quando avaliamos um leucograma, esperamos que os valores para um paciente saudável estejam dentro da faixa do valor de referência. Se tivermos um valor para o paciente abaixo da referência, tem-se uma LEUCOPENIA. Já se os valores estiverem acima, recebe o nome de LEUCOCITOSE. É importante lembrar que em ambas as situações qualquer tipo de leucócito pode estar tanto aumentando quanto diminuído. A leucopenia está associada à redução da produção celular pela medula óssea. desta forma, o reflexo desta perda da capacidade da medula produzir mais leucócitos é a leucopenia. Os diferentes tipos de leucócitos podem estar diminuídos, podendo receber as seguintes denominações (LORENZI, 2006): - Neutropenia: redução dos neutrófilos circulantes; - Leucocitose: redução dos leucócitos circulantes; - Monocitose: redução dos monócitos circulantes; - Eosinofilia: redução dos eosinófilos circulantes; - Basofilia: redução dos basófilos circulantes. 37UNIDADE 2 HEMOGRAMA Já a leucocitose está mais associada a estímulos que fazem a medula produzir mais células, como por exemplo infecções virais e bacterianas. Desta forma, em função de cada tipo celular que pode estar aumentado, podemos ter as seguintes situações (LORENZI, 2006): - Neutrofilia: aumento dos neutrófilos circulantes; - Leucocitose: aumento dos leucócitos circulantes; - Monocitose: aumento dos monócitos circulantes; - Eosinofilia: aumento dos eosinófilos circulantes; - Basofilia: aumento dos basófilos circulantes. Como vimos anteriormente, esse aumento circulante de leucócitos geralmente está associado a condições que super estimulam a produção celular pela medula óssea. Em geral, a neutrofilia ocorre quando há infecções bacterianas; a leucocitose, em infecções virais; a monocitose, em geral quando há quadros inflamatórios intensos (a maioria das infecções também traz consigo inflamações); eosinofilia, em quadros alérgicos e infecções parasitárias; e basofilia, em quadros alérgicos intensos. Em alguns casos a neutrofilia pode ser tão acentuada que a medula óssea não con- segue produzir e maturar os neutrófilos a tempo, liberando na corrente sanguínea, células imaturas. Nestes casos temos uma leucocitose + neutrofilia + desvio à esquerda (Figura 05). FIGURA 05 - SEQUÊNCIA DE MATURAÇÃO DOS NEUTRÓFILOS, EVIDENCIANDO QUAIS CÉLULAS VEM ‘À ESQUERDA’ DE SUA LINHAGEM Fonte: Santos et al. (2016). Desta forma, quanto mais acentuada for a infecção, mais precursores jovens es- tarão presentes na circulação sanguínea. E qual o problema dessa reação? Essas células imaturas ainda não estão prontas para exercer suas funções. Sendo assim, elas são uma resposta da medula às infecções, contudo, sua ação não é tão eficaz quanto a de um neutrófilo maduro. 38UNIDADE 2 HEMOGRAMA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Definimos como hemostasia a cascata de reações fisiológicas que acontecem após a lesão de um vaso sanguíneo. Para compreender melhor tais eventos, devemos admitir que, dentro do vaso sanguíneo, o sangue é líquido. Contudo, caso haja uma lesão vascular, este sangue não pode escorrer para fora do vaso, pois o paciente entraria em choque hipo- volêmico por hemorragia. Para conter esses danos ocorridos em função da lesão vascular, o sangue coagula e o vazamento é estancado (HOFFBRAND; MOSS, 2013). Tradicionalmente, a hemostasia é separada em hemostasia primária e secundária em função da ordem dos eventos que ocorrem. E sua ativação pode ser classificada didati- camente como via intrínseca e extrínseca. Essa divisão é apenas didática, pois os eventos ocorrem em cascata, ou seja, não seguem um passo-a-passo exato. Contudo, o modelo de ativação da cascata de coagulação, dividido em hemostasia primária e secundária tem caído em desuso, pois diversos erros foram identificados nesta maneira de descrever o processo. Mas, antes de entender como a cascata de coagulação ocorre, vamos pensar em qual é a organização do sangue dentro do vaso sanguíneo e do vaso dentro dos tecidos (Figura 06). No tecido conjuntivo subendotelial (que está em torno dos vasos sanguíneos), existem diversas estruturas que lhe são intrínsecas, como as fibras de colágeno e elastina, membrana basal e o Fator von Willebrand. Já no endotélio, temos receptores celulares e teciduais,como o receptor de proteína-C. Já o sangue contém diversas moléculas que são ativadas e inibidas no decorrer da cascata. 4 HEMOSTASIA E SÍNDROMES HEMORRÁGICAS TÓPICO UNIDADE 2 HEMOGRAMA FIGURA 06 - ORGANIZAÇÃO DO TECIDO, EVIDENCIANDO A ESTRUTURA DO ENDOTÉLIO, COMPONENTES CIRCULANTES NA CORRENTE SANGUÍNEA, BEM COMO ORGANIZAÇÃO DO TECIDO CONJUNTIVO Fonte: Hoffbrand e Moss (2013). Vamos considerar, então, que o nosso paciente cortou a mão. Sendo assim, houve lesão de tecido conjuntivo da pele e da célula endotelial e o sangue que estava correndo livre dentro do vaso sanguíneo, agora está extravasando. Para ficar mais didático, vamos dividir esse processo em fases de iniciação, amplificação e propagação. - Iniciação: a partir do momento que o sangue entrou em contato com as células que produzem o fator tecidual, damos início à cascata de coagulação propria- mente dita. Esse contato ocorre apenas em casos de traumas na parede dos vasos sanguíneos (‘corte’) e alguns processos inflamatórios. O fator VII vai se ligar ao fator tecidual (TF), ativando-o e formando um complexo que ativa os fatores IX e X. O fator Xa ativa o fator V e permite a conversão de protrombina em trombina, em baixa quantidade (HOFFBRAND; MOSS, 2013); - Amplificação: aqui temos início a adesão plaquetária, que é coordenada pelas glicoproteínas Ia/IIs e pelo fator de von Willebrand. A trombina formada anteriormente aumenta a adesão plaquetária e ativa os fatores V, VIII e XI. As plaquetas, agora ativadas, liberam fator V, que se transforma em Va. Ao final do processo, as plaquetas possuem em sua superfície os fatores Va, VIIIa e IXa (pensem nesse ‘azinho’ como ativado!) (HOFFBRAND; MOSS, 2013); - Propagação: aqui haverá a formação de complexos nas superfícies das pla- quetas ativadas. o complexo VIIIa/IXa ativa o fator X, que soma sua atividade ao fator Va, intensificando a produção de trombina (HOFFBRAND; MOSS, 2013). 40UNIDADE 2 HEMOGRAMA Toda essa cascata de eventos ocorre simultaneamente e, ao final dela, temos a formação de um trombo de fibrina bastante estável (Figura 07). Contudo, é necessário que haja um controle para que essas reações não ocorram de forma exacerbada e obstrução do fluxo sanguíneo. Lembrem-se que a função da coagulação é apenas reter o sangramento. Sendo assim, a própria cascata de coagulação possui seus anticoagulantes próprios, que evitam a coagulação disseminada, tais como: inibidor da via do fator tecidual; proteína C; proteína S e antitrombina III. Outra importante proteína encontrada é a plasmina, que tem a função de quebrar a rede de fibrina e também pode agir sobre a molécula de fibrinogênio. FIGURA 07 - ETAPAS DA CASCATA DE COAGULAÇÃO, EVIDENCIANDO O INÍCIO COM A LESÃO VASCULAR E TERMINANDO COM A FORMAÇÃO DO TAMPÃO DE FIBRINA ESTÁVEL Fonte: Hoffbrand e Moss (2013). Não vou negar que esse é um processo que dá um nó na cabeça. Mas, lembrem-se que a ideia da coagulação é formar um tampão de fibrina estável o suficiente para evitar o extravasamento sanguíneo. E que esses eventos devem ser controlados, evitando uma coagulação disseminada e interrupção do fluxo sanguíneo, ok? 41UNIDADE 2 HEMOGRAMA Agora vamos para outro detalhe… Essa cascata de coagulação pode ser ativada de forma intrínseca e extrínseca. Basicamente, as duas vão culminar com a formação do tampão de fibrina. Contudo o pontapé inicial das duas é diferente. A via intrínseca é iniciada com a ativação do fator XII pelo contato com o colágeno subendotelial; já a via extrínseca, da coagulação é desencadeada pela liberação de fator tecidual (HOFFBRAND; MOSS, 2013). Agora, mediante tudo isso que vocês viram, apenas através do hemograma e da contagem de plaquetas é possível inferir que um paciente tenha problemas de coagulação? A resposta é… CLARO QUE NÃO! A coagulação é um processo que envolve sim as pla- quetas e as suas particularidades, contudo, envolve diversos fatores e cofatores, além de proteínas e demais sinalizadores celulares. Ou seja, a falha em qualquer um desses pontos que abordamos aqui pode levar o paciente a ter uma doença relacionada à coagulação. Essa falha na coagulação é o que caracteriza as DOENÇAS HEMORRÁGICAS, que nem sempre tem diagnóstico simplificado, podendo ser diagnosticadas ao acaso ou em eventos críticos (hemorragias em cirurgias, por exemplo). As doenças hemorrágicas podem ser classificadas em dois grupos, de acordo com a falha na hemostasia que desencadeia a doença: podem ocorrer como resultado da disfunção ou diminuição dos níveis de plaquetas (por exemplo: púrpura); podem ocorrer pela redução ou ausência completa de um dos fatores necessários para a ativação da coagulação, independente do número plaquetário. Esse defeito pode ser herdado pelos pais (coagulopatia genética - hemofilia e doença de von Willebrand) ou adquiridas (SAL- MOIRAGHI, s. d.). A hemofilia é a mais conhecida das coagulopatias e é causada pela presença de um gene anormal, presente no cromossomo X, que leva à deficiência de fator VII (hemofilia A) ou fator IX (hemofilia B). Já a doença de von Willebrand ocorre em função da deficiência quali ou quantitativa do fator homônimo, sendo a mais comum, contudo, no Brasil é subnotificada (SALMOIRAGHI, s. d.). 42UNIDADE 2 HEMOGRAMA 43UNIDADE 2 HEMOGRAMA 43 Nesta unidade começamos a entender um pouco mais sobre o hemograma e suas particularidades. Você, caro aluno, deve ter notado que para cada parâmetro avaliado temos um valor de referência, que é a faixa de valores que correspondem à normalidade. Mas, você também pode procurar esses valores na internet e encontrar variações dentro do que estudamos nesse período, certo? CERTÍSSIMO! Isso ocorre, pois cada la- boratório pode ter o seu próprio valor de referência. Sabe porque? Porque eles são calculados com base na média da população saudável e, se pensarmos, a população saudável pode ter pequenas variações entre regiões, países, etnias e culturas. Portanto, não se espante se você encontrar duas referências com valores diferentes, assim como é normal na mesma cidade dois laboratórios terem valores um pouco diferentes um do outro: a população saudável daquela região ou microrregião é distinta. Fonte: VALORES de referência para exames laboratoriais: o que é considerado normal?. YOUHEAL, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3VPjPe9. Acesso em: 21 jun. 2022. REFLITA O hemograma é o exame mais solicitado na área da saúde e o motivo é apenas um: ele consegue avaliar o estado geral do paciente de modo rápido e fácil. Dentre os parâmetros do hemograma, avaliamos tanto a série branca, quanto a vermelha. Sendo assim, se o paciente chegou com febre e fraqueza, o médico pode olhar, por exemplo, se ele está com os valores hematimétricos corretos e correlacionar ou descartar com uma anemia. O mesmo vale se ele chegou com febre: o médico já avalia a série branca e possíveis infecções. Um único exame: múltiplas avaliações. Fonte: PINHEIRO, Chloé. Para que serve o hemograma, o popular exame de san- gue. VEJA SAÚDE, 2017. Disponível em: h t t p s : / / s a u d e . a b r i l . c o m . b r / m e d i c i n a / p a - ra-que-serve-hemograma-exame-de-sangue/#:~:text=Para%20avaliar%20a%20sa%- C3%BAde%20de,podem%20ser%20detectadas%20com%20ele. Acesso em: 21 jul. 2022. #REFLITA# 44UNIDADE 2 HEMOGRAMA O hemograma é o exame mais solicitado na área da saúde e o motivo é apenas um: ele consegue avaliar o estado geral do paciente de modo rápido e fácil. Dentre os parâmetros do hemograma, avaliamos tanto a série branca, quanto a vermelha. Sendo assim, se o paciente chegou com febre e fraqueza, o médico pode olhar, por exemplo, se ele está com os valores hematimétricos corretos e correlacionar ou descartar com uma anemia. O mesmo vale se ele chegou com febre: o médico já avalia a série branca e possíveis infecções. Um único exame: múltiplas avaliações. Fonte: PINHEIRO, Chloé. Para que serve o hemograma, o popularexame de sangue. VEJA SAÚDE, 2017. Disponível em: https://saude.abril.com.br/medicina/para-que-serve-hemograma-exame-de-sangue/#:~:text=Para%20ava- liar%20a%20sa%C3%BAde%20de,podem%20ser%20detectadas%20com%20ele. Acesso em: 21 jul. 2022. https://saude.abril.com.br/medicina/para-que-serve-hemograma-exame-de-sangue/#:~:text=Para%20avaliar https://saude.abril.com.br/medicina/para-que-serve-hemograma-exame-de-sangue/#:~:text=Para%20avaliar 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezados alunos, chegamos ao fim de mais uma unidade abordando os principais conceitos em hematologia. Nossa jornada teve início compreendendo a composição do sangue e, aqui, com- preendemos quais os principais analitos do sangue, do ponto de vista clínico. A partir de agora vocês já são capazes de nomear as principais alterações estruturais e numéricas que acometem o hemograma e começam a relacioná-las com as doenças hematológicas. Creio que para todos ficou claro o motivo pelo qual os médicos sempre solicitam hemogramas aos seus pacientes, independente do estado fisiológico, nutricional, idade, gênero ou patologia de base. O hemograma é o exame que permite fazer mais correlações clínicas com o paciente que está sendo assistido pela equipe de saúde. Por isso, independente qual seja a sua atuação junto à equipe multidisciplinar que cuidará do paciente, é imprescindível que compreenda a complexidade deste exame e analise todos os pontos importantes acerca dele. Nas próximas unidades vamos falar propriamente sobre as doenças hematológicas e a consolidação dos conhecimentos aqui adquiridos será fundamental. Um abraço e vejo vocês em breve. UNIDADE 2 HEMOGRAMA 46 LEITURA COMPLEMENTAR PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DE QUALIDADE. Manual de coleta em laboratório clínico - 3ª edição - PNCQ. Disponível em: https://pncq.org.br/wp-content/ uploads/2020/05/PNCQ-Manual_de_Coleta_2019-Web-24_04_19.pdf. Acesso em 20 jun. 2022. PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DE QUALIDADE. Recomendações do ICSH para a padronização da nomenclatura e da graduação das alterações morfo- lógicas no sangue periférico: parte 1. Disponível em: https://pncq.org.br/uploads/2015/ qualinews/edicaoSET/HEMATOSCOPIA_Fleury.pdf. Acesso em 20 jun. 2022. PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DE QUALIDADE. Recomendações do ICSH para a padronização da nomenclatura e da graduação das alterações morfo- lógicas no sangue periférico: parte 2. Disponível em: https://pncq.org.br/uploads/2015/ qualinews/dez/ICSH%20Parte%202%20e%203.pdf. Acesso em 20 jun. 2022. 46UNIDADE 2 HEMOGRAMA https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PNCQ-Manual_de_Coleta_2019-Web-24_04_19.pdf https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PNCQ-Manual_de_Coleta_2019-Web-24_04_19.pdf https://pncq.org.br/uploads/2015/qualinews/edicaoSET/HEMATOSCOPIA_Fleury.pdf. https://pncq.org.br/uploads/2015/qualinews/edicaoSET/HEMATOSCOPIA_Fleury.pdf. https://pncq.org.br/uploads/2015/qualinews/dez/ICSH%20Parte%202%20e%203.pdf. https://pncq.org.br/uploads/2015/qualinews/dez/ICSH%20Parte%202%20e%203.pdf. 47 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Hemograma: manual de interpretação Autor: Renato Failace, Flavo Beno Fernandes, Rafael Failace. Editora: Artmed. Sinopse: Com a 6ª edição, este clássico da Artmed e seu autor batem recordes de longevidade: a obra, um quarto de século; o autor, 60 anos de atividade como médico, laboratorista e professor. O Hemograma persiste inigualável como fonte diária de consulta em clínica e semiologia laboratorial para médicos e estudantes de Medicina e em tecnologia e interpretação para bioquímicos, biomédicos e técnicos de laboratório. FILME / VÍDEO Título: O Paciente Ano: 2018 Sinopse: Os últimos dias da vida de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil eleito pelo colégio eleitoral no Congresso Nacio- nal depois da ditadura militar. Toda a expectativa da população brasileira e a doença de Tancredo, que depois de 39 dias de internação, morreu no dia 21 de abril de 1985, nunca sendo empossado. UNIDADE 2 HEMOGRAMA 48 WEB • Atlas digital de hematologia, com imagens reais de esfregaço sanguíneo • Link do site: https://editora.pucrs.br/edipucrs/acessolivre/livros/atlas-de-histologia/sangue.html UNIDADE 2 HEMOGRAMA https://editora.pucrs.br/edipucrs/acessolivre/livros/atlas-de-histologia/sangue.html . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Anemias microcíticas e Hipocrômicas; • Anemias normocíticas e normocrômicas; • Anemias macrocíticas megaloblásticas e não- megaloblástica; • Policitemias. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar os principais grupos de anemias; • Correlacionar os achados laboratoriais com os tipos de anemia; • Compreender os diferentes sinais e sintomas de cada tipo de anemia; • Estabelecer a importância do correto diagnóstico e tratamento de cada subtipo da doença. 3UNIDADEUNIDADE ANEMIASANEMIAS Professora Dra. Érica Benassi Zanqueta 50 INTRODUÇÃO As anemias são um grupo de doenças caracterizadas pela diminuição da população total de hemácias. Avaliando o hemograma de pacientes com anemia, nota-se que, em todos os tipos, há um queda na concentração de hemoglobina, sendo geralmente menor que 12 g/dL em mulheres e 13 g/dL em homens. Nas mulheres, a exceção é o período gestacional, onde a gestante pode passar por carência nutricional e os limites caem cerca de 10%. Independente do tipo de anemia, o diagnóstico inclui avaliação clínica e laboratorial e, na avaliação clínica, os sintomas mais característicos são palidez mucocutânea, astenia, cansaço, falta de ar, fraqueza e palpitações. Devemos lembrar que uma das principais funções dos eritrócitos é o transporte de oxigênio. Sendo assim, quando esse transporte falha, o paciente apresenta sintomas referentes à essa baixa oxigenação. A investigação laboratorial tem como base o hemograma do paciente: o hematócri- to, dosagem de hemoglobina e contagem global de eritrócitos são importantes para avaliar o grau da anemia; os índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) avaliam o tamanho médio das hemácias - se estão normocíticos, microcíticos ou microcíticos; já o RDW, avalia se o paciente apresenta reticulocitose. Enfim, aqui já é possível vocês perceberem que a in- terpretação das anemias correlaciona-se diretamente com a compreensão do hemograma, abordado na unidade passada. Já a classificação das anemias geralmente se dá conforme a morfologia celular: de acordo com o conteúdo médio de hemoglobina (se normocrômicas ou hipocrômicas) e tamanho médio das hemácias (macro, micro ou normocíticas). Nesta unidade vamos estudar as principais síndromes anêmicas e, para facilitar a compreensão e estudo, vamos abordá-las de acordo com a classificação morfológica. Bons estudos! UNIDADE 3 ANEMIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 As anemias podem ser classificadas de acordo com vários critérios, dentre eles a classificação laboratorial e a fisiopatológica, que se complementam. A classificação labo- ratorial baseia-senos resultados dos índices hematimétricos (VCM e HCM), resultando em três tipos de anemias: normocítica/normocrômica, microcítica/hipocrômica e microcítica. Quando se tem informações clínicas do paciente, a classificação torna-se mais fácil. Con- tudo, na maioria das vezes, a análise clínica do paciente não é acessada pelo laboratório. Sendo assim, é importante lembrar que, para que qualquer tipo de anemia ocorra, há uma patologia por trás. Nas anemias microcíticas e hipocrômicas, os valores dos índices hematimétricos estão reduzidos em função de alguns fatores: deficiência de ferro, hemor- ragias crônicas, diagnóstico prévio de talassemias e anemia sideroblástica. Neste tópico iremos discutir as anemias por deficiência de ferro e talassemias. Para complementar o estudo de vocês, deixei mais materiais sobre as talassemias e a anemia sideroblástica como leitura complementar. 1.1 Anemia ferropriva Este tipo de anemia se desenvolve de forma devagar, pois, para os sintomas ficarem evidentes, é preciso que os estoques de ferro no organismo do paciente estejam esgotados. Pensando numa pessoa que consegue fazer uma alimentação básica, este nutriente estará disponível na dieta do paciente, não havendo a necessidade de reposição. Contudo, quando há doenças de base, esses estoques tendem a baixar (BRITO et al., 2021). 1 ANEMIAS MICROCÍTICAS E HIPOCRÔMICAS TÓPICO UNIDADE 3 ANEMIAS A deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia, tanto que vocês já devem ter se deparado com o conhecimento popular de que, para curar uma anemia, basta fazer reposição com ferro, certo? Contudo, a causa mais comum da perda de ferro são sangra- mentos crônicos, em geral associadas a problemas gastrintestinais e menstruais. É comum também haver deficiência de ferro quando a mulher está gestando, por exemplo. E isso acontece pois há uma maior demanda de ferro em função da geração do bebê, sendo que a dieta se torna insuficiente para suprir essa necessidade. Por fim, outra causa comum é a dificuldade de absorção de ferro, devido aos problemas gastrintestinais, neste caso não associados aos sangramentos (BRITO et al., 2021). Você pode estar se perguntando: onde entra o ferro nessa história toda? A maior reserva de ferro no nosso organismo, é a molécula de hemoglobina, que se encontra no interior das hemácias. Sendo assim, caro aluno, quando nós temos uma hemácia MICRO- CÍTICA E HIPOCRÔMICA, indica que o conteúdo de hemoglobina em seu interior está reduzido e, consequentemente, o conteúdo de ferro também. Este mesmo ferro tem um complexo processo de metabolismo, que envolve diversos órgãos e proteínas, sendo o fígado e a medula óssea os tecidos mais importantes; e a transferrina uma das proteínas mais importantes, também, relacionada a esse processo (Figura 01). FIGURA 01 - DIAGRAMA COM TODAS AS ETAPAS ENVOLVIDAS NO METABOLISMO DO FERRO Fonte: UNIVERSIDADE DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS). 2020. Disponível em: https://www.ufrgs.br/colegiodeaplicacao/ wp-content/uploads/2020/09/102-Bioqui%CC%81mica-semana-26.pdf. Acesso em 30 jun. 2020. 52UNIDADE 3 ANEMIAS https://www.ufrgs.br/colegiodeaplicacao/wp-content/uploads/2020/09/102-Bioqui%CC%81mica-semana-26.pd https://www.ufrgs.br/colegiodeaplicacao/wp-content/uploads/2020/09/102-Bioqui%CC%81mica-semana-26.pd Desta forma, estão listados abaixo os principais fatores de risco para a anemia por deficiência de ferro: ● Baixa ingestão dietética. ● Má absorção: ○ Doença celíaca; ○ Gastrite atrófica; ○ Cirurgia bariátrica; ○ Uso de drogas; ○ Infecção por H. pylori. ● Perda sanguínea: ○ Menorragia; ○ Trauma; ○ Hemorragia digestiva; ○ Hemoptise; ○ Hematúria; ○ Hemodiálise. ● Alta demanda: ○ Infância e adolescência; ○ Gestação; ○ Uso de agentes estimuladores da eritropoiese. Os sintomas do paciente com anemia ferropriva são semelhantes aos demais tipos da doença e tendem a se desenvolver de forma gradual. A sintomatologia mais carac- terística é a fadiga, fraqueza e palidez (BRITO et al., 2021). Todos os sintomas ocorrem pois, com a queda na concentração de hemoglobina, ocorre falta de oxigenação tecidual e redução na concentração de hemácias nos tecidos. Esses achados clínicos, por mais que sejam inespecíficos, guiam o médico na escolha dos exames de sangue para o diagnóstico laboratorial da anemia. Desta forma, o primeiro exame a ser solicitado é o hemograma, que evidenciará queda na concentração de hemoglobina e índices hematimétricos alterados (microcitose e hipocromia). O exame mais preciso para determinar a deficiência de ferro é a dosagem de fer- ritina, proteína que está envolvida no transporte e absorção de ferro. Em geral, quando o paciente está com anemia ferropriva, a concentração de ferritina cai consideravelmente na corrente sanguínea e este achado auxilia no diagnóstico diferencial e correto manejo do paciente. O tratamento consiste na remoção do foco hemorrágico e suplementação com ferro, tanto intravenoso quanto via oral. Outra forma de tratamento é aumentar a ingesta de alimentos ricos em ferro e manter uma dieta balanceada. Por fim, caso o problema do paciente seja má absorção por problemas no trato gastrintestinal, deve tratar a patologia de base e seguir com a suplementação (BRITO et al., 2021). 53UNIDADE 3 ANEMIAS - Talassemias Como acabamos de estudar, a hemoglobina é fundamental para a estrutura das hemácias. Aqui vale lembrar que a hemoglobina é formada por quatro cadeias menores, conforme vimos nas unidades anteriores. Quando há algum problema genético que altera a sequência de aminoácidos dessas cadeias, haverá alterações estruturais na hemoglobina e, portanto, alterações nas hemácias. Além disso, há uma alteração nos tipos de hemoglobina que os seres humanos produzem ao longo da vida (Figura 02), sendo que o adulto normal produz, majoritariamente, hemoglobina A, formada por duas cadeias de globina alfa e duas de globina beta (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). FIGURA 02 - TIPOS DE HEMOGLOBINA PRODUZIDO PELOS SERES HUMANOS AO LONGO DA VIDA E SUA COMPOSIÇÃO Fonte: SLIDE PLAYER. Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/9518470/29/images/2/Composi%C3%A7%- C3%A3o+das+hemoglobinas.jpg. Acesso em 30 jun. 2022. As talassemias são, portanto, um grupo de doenças causadas pela alteração na síntese das globinas alfa e beta, causando desequilíbrio entre elas e variáveis graus de anemias hemolíticas, além de várias outras consequências patológicas. Elas podem ser classificadas de acordo com a cadeia de globina afetada: alfa-talassemia (afeta a cadeia alfa) e beta-talassemia (afeta a cadeia beta). A alfa-talassemia ocorre com maior frequência em negros e a a beta-talassemia é mais comum em pessoas com ancestrais do Mediterrâ- neo e do sudeste asiático (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). Aqui é válido lembrar que, devido à alteração morfológica na hemoglobina, haverá, também, microcitose e hipocromia. 54UNIDADE 3 ANEMIAS https://slideplayer.com.br/slide/9518470/29/images/2/Composi%C3%A7%C3%A3o+das+hemoglobinas.jpg https://slideplayer.com.br/slide/9518470/29/images/2/Composi%C3%A7%C3%A3o+das+hemoglobinas.jpg Além disso, as talassemias podem ser classificadas de acordo com a sintomatologia e/ou gravidade da doença em talassemia menor (sintomas leves); talassemia intermediária (sintomas leves a graves); talassemia maior (sintomas graves). Independente do tipo de talassemia, os sintomas são semelhantes, variando apenas sua intensidade(ZAGO; FAL- CÃO; PASQUINI, 2013): ● Alfa e Beta-talassemia menor: anemia leve, com poucos sintomas; ● Alfa-talassemia maior: os pacientes apresentam sintomas moderados a graves, incluindo fadiga, falta de ar, palidez, esplenomegalia (aumento do tamanho do baço); ● Beta-talassemia maior: também recebe o nome de anemia de Cooley, acarre- tando em sintomas graves, como fadiga, fraqueza, falta de ar, icterícia, úlceras de pele e cálculos biliares. Além disso, também há esplenomegalia e espessa- mento ósseo. Nainfância, afeta o crescimento, levando o paciente a apresentar uma puberdade tardia. O diagnóstico é realizado através de exames de sangue, como hemograma e ele- troforese de hemoglobina. No hemograma, os valores dos índices hematimétricos estão reduzidos e no esfregaço sanguíneo a anisocitose acentuada será visualizada. Na ele- troforese de hemoglobinas é possível diferenciar qual tipo de globina estará em maior ou menor proporção, sendo esta a melhor forma de diagnóstico diferencial (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). 55UNIDADE 3 ANEMIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 As anemias normocíticas e normocrômicas são o grupo de anemias mais difícil de ser diagnosticado, pois as alterações celulares são poucas e no hemograma, os índices hematimétricos mantêm-se normais. O que está reduzido neste caso é a hemoglobina sérica e a redução do número total de eritrócitos. Apesar desta nomenclatura, é possível encontrar no esfregaço sanguíneo dos pacientes afetados eritrócitos macro e microcíticos, além da cromia (cor relacionada ao conteúdo de hemoglobina) também variável (CANÇA- DO; CHIATTONE, 2002). Este tipo de anemia está correlacionado com outras doenças de base que não tem interferência na produção de hemoglobina. Vou apresentar aqui para vocês uma situação bem comum, correlacionada com a anemia normocítica e normocrômica (CANÇADO; CHIA- TTONE, 2002). Quando um paciente tem uma perda de grande volume de sangue, por exem- plo, durante um processo cirúrgico, se ele realizar um exame logo após a perda de sangue, ainda não haverá reflexo deste evento, e suas hemácias estarão com volume e cromia dentro da normalidade, mas, com uma quantidade de eritrócitos e hemoglobina reduzidas. Outras situações que podem levar ao quadro de anemia normocítica e normocrômica são: ● Doenças inflamatórias, pacientes idosos e pacientes com câncer, onde há pre- sença tanto de microcitose quanto macrocitose, em pequena proporção, com VCM e HCM normais; 2 ANEMIAS NORMOCÍTICAS E NORMOCRÔMICAS TÓPICO UNIDADE 3 ANEMIAS ● Doenças crônicas que afetam a medula óssea, em que há alterações na morfologia dos eritrócitos, como descrito nas doenças inflamatórias, além da presença de anisocitose intensa; ● Alimentação vegetariana/vegana restrita e pacientes que se submeteram à ci- rurgia bariátrica, onde pode haver alterações na morfologia dos eritrócitos, sem necessariamente diminuir ou aumentar os índices hematimétricos. A Anemia da Doença Crônica (ADC) é uma síndrome relacionada com o desen- volvimento de doenças infecciosas crônicas, inflamatórias ou neoplásicas, que tem como sintoma secundário o aparecimento de anemia normocítica e normocrômica. Aqui há uma redução sérica nos níveis de ferro e da capacidade total de ligação do ferro, contudo, o ferro medular esteja normal. Sendo assim, na medula há quantidades de ferro suficientes para produção de células de tamanho e coloração normal. O paciente com ADC apresenta a eritropoese normal ou levemente aumentada, devido à resposta medular inadequada (Figura 03). FIGURA 03 - EVENTOS RELACIONADOS À RESPOSTA MEDULAR E ERITROPOIESE DE PACIENTES COM ADC Fonte: Cançado; Chiattone (2002). 57UNIDADE 3 ANEMIAS O diagnóstico do paciente com ADC baseia-se, também, em exames laboratoriais, sendo que os parâmetros mais frequentes são (CANÇADO; CHIATTONE, 2002): ● Ferro sérico: diminuído ou normal; ● Transferrina sérica: diminuído ou normal; ● Índice de saturação de transferrina: diminuído ou normal; ● Ferritina sérica: normal ou aumentado; ● Receptor de transferrina: normal; ● Receptor de transferrina/log de ferritina: diminuído, em geral <1. 58UNIDADE 3 ANEMIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Como já discutimos nos tópicos anteriores, a hemoglobina é uma proteína im- portantíssima para o funcionamento das hemácias. Além do ferro, necessário para a sua produção, também é importante que haja vitamina B12 e ácido fólico suficientes para sua síntese. Quando há falta destes nutrientes, as hemácias ficam aumentadas, recebendo a denominação de macrocíticas (Figura 04). Em geral, as causas para as anemias ma- crocíticas são a baixa ingestão de nutrientes, alteração em sua absorção, necessidade metabólica aumentada ou grandes perdas. FIGURA 04 - ESFREGAÇO SANGUÍNEO EVIDENCIANDO A DIFERENÇA DE TAMANHO ENTRE HEMÁCIAS MACROCÍTICAS (SETAS) E HEMÁCIAS NORMAIS Fonte: ATLAS DE HEMATOLOGIA. Disponível em: https://hematologia.farmacia.ufg.br/p/7046-hemacias-macrociticas. Acesso em 02 jul. 2022. 3 ANEMIAS MACROCÍTICAS MEGALOBLÁSTICAS E NÃO-MEGALOBLÁSTICAS TÓPICO 59UNIDADE 3 ANEMIAS https://hematologia.farmacia.ufg.br/p/7046-hemacias-macrociticas. A macrocitose é manifestada no hemograma através do aumento do VCM e é uma condição patológica. As anemias macrocíticas podem ser classificadas como megaloblásticas e não megaloblásticas, e a vitamina B12 e o ácido fólico são moléculas não sintetizadas pelo organismo humano, sendo necessária sua ingestão na dieta. A falta desses nutrientes está correlacionada com a anemia megaloblástica, que será o primeiro tipo que iremos abordar. 3.1 Anemia megaloblástica A anemia megaloblástica resulta da alteração na síntese de DNA, devido à carência de vitamina B12 e ácido fólico (vitamina B9). Como consequência, as células hematológicas apresentam um núcleo maior e tamanho geral aumentado, sendo esta uma condição que afeta todas as linhagens sanguíneas. Esse processo de produção de células hematológicas alteradas recebe o nome de dispoese, o que torna a eritropoese ineficaz. Sendo assim, no hemograma deste paciente, além do VCM aumentado, indicando a macrocitose, é possível visualizar leucopenia e trombocitopenia, além da hipersegmentação dos neutrófilos e pre- sença de hemácias alteradas e cheias de inclusões. Contudo, como se trata de uma doença causada pela baixa ingestão de nutrientes, se o paciente também tiver baixa ingestão de ferro, a macrocitose pode não aparecer no esfregaço sanguíneo, dificultando o diagnóstico (MONTEIRO et al., 2019). O ácido fólico tem como principal função a síntese de precursores das bases púricas do DNA e para ser absorvido pelas células, depende da ação de uma enzima dependente de vitamina B12. Por isso, quando há deficiência de folatos, as células com alta taxa de divisão celular - como as células hematopoéticas - sofrem alterações na síntese de DNA, gerando o quadro de anemia megaloblástica. Já a vitamina B12, além de participar da conversão e absorção dos folatos, têm grande impacto na manutenção de neurônios no sistema nervoso central. Sendo assim, pacientes com deficiência de vitamina B12 apresentam, além da anemia megaloblástica, sintomas neurológicos e sua carência é especialmente importante para gestan- tes, pois, pode causar malformações no tubo neural de embriões (MONTEIRO et al., 2019). Como vocês puderam perceber, a deficiência de vitamina B12 tem maior impacto que a de folatos apenas. Contudo, como se trata de uma anemia carencial, quando está presente indica que o indivíduo tem uma alimentação pobre em nutrientes, onde não há in- gestão da quantidade correta de folatos (vegetais verde escuros) e vitamina B12 (alimentos de origem animal, em especial carnes). Portanto, as alterações hematológicas descritas anteriormente, estão correlacionadas mais especificamente com a concentração sérica reduzida de vitamina B12 (MONTEIRO et al., 2019). 60UNIDADE 3 ANEMIAS Além do hemograma, pode ser realizada a dosagem de vitamina B12 no sangue que é um teste barato, contudo, com baixa sensibilidade. Mesmo assim, quando há sinto- mas clínicos da hipovitaminose, a maioriados pacientes apresenta concentração sérica abaixo do valor de referência para este nutriente (MONTEIRO et al., 2019) Sendo assim, mesmo havendo limitações técnicas, quando o paciente é sintomático é um ótimo exame confirmatório das anemias megaloblásticas. 3.2 Anemias não megaloblásticas As anemias macrocíticas não megaloblásticas representam um quadro clínico secun- dário à diversas patologias, como as doenças hepáticas, etilismo, hipotireoidismo e falência medular. Elas diferenciam-se das anemias megaloblásticas pela discreta macrocitose, sem as alterações em hemácias e leucócitos descritas anteriormente, além do tamanho eritroci- tário aumentado. Sendo assim, não há hipovitaminose e o restabelecimento dos parâmetros hematológicos depende da supressão ou cura da doença primária. Sem a correta avaliação do paciente, ambos os casos são facilmente confundidos, levando a um manejo clínico ina- dequado e sem sucesso (MONTEIRO et al., 2019). 61UNIDADE 3 ANEMIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 A policitemia, também chamada de eritrocitose, é uma condição que culmina com o aumento da produção de eritrócitos pela medula óssea. Ou seja, o paciente irá apresentar um quadro totalmente diferente da anemia, com aumento populacional de hemácias na corrente sanguínea. Essa condição pode ser classificada em primária e secundária, de acordo com sua etiologia. Aqui, neste tópico vamos abordar especificamente a policitemia secundária, que é a condição mais comum encontrada nos laboratórios de análises clínicas (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). Contudo, para que vocês não fiquem órfãos de con- teúdo, deixei um material complementar sobre Policitemia Vera como leitura complementar para vocês estudarem. A policitemia primária é uma neoplasia mieloproliferativa, em que células anormais na medula óssea produzem um número exacerbado de todas as linhagens hematológicas. Essa condição também pode receber o nome de Policitemia Vera e é uma condição malig- na, que deve ser tratada como tal (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). Já a policitemia secundária ocorre como consequência à produção aumentada de eritropoetina pelos rins, levando à medula óssea a produzir mais eritrócitos. Diferente da policitemia primária, não é uma doença mieloproliferativa, contudo, é consequência de outros distúrbios que devem ser estudados (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). A privação de oxigênio é uma das principais causas da policitemia secundária e pode ser desencadeada por diversos fatores, tais como: tabagismo; DPOC (Doença Pul- monar Obstrutiva Crônica); defeitos cardíacos congênitos; intoxicação por monóxido de carbono; altitudes elevadas. Todas essas situações aumentam a síntese de eritropoetina 4 POLICITEMIAS TÓPICO 62UNIDADE 3 ANEMIAS (Figura 05) como forma de compensar a redução na concentração de oxigênio. O corpo interpreta que, havendo mais eritrócitos, a oxigenação tecidual compensará o estímulo ambiental. FIGURA 05 - EQUILÍBRIO ENTRE A SÍNTESE DE ERITROPOETINA E A PRODUÇÃO DE ERITRÓCITOS PELA MEDULA ÓSSEA Fonte: DOC PLAYER. Disponível em: https://docplayer.com.br/docs-images/106/170463254/images/194-0.jpg. Acesso em: 02 jul. 2022. Outras condições que também culminam com o aumento da síntese de eritrócitos é o tratamento com hormônios masculinos, que tem efeito direto sobre a síntese renal de eritropoetina; tumores e distúrbios genéticos que afetam a produção do hormônio. Além disso, problemas que reduzem a circulação sanguínea nos rins, os levam a interpretar que há hipóxia, devido à redução no fluxo sanguíneo, aumentando a produção de hemácias de forma compensatória (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). Outra condição bastante comum é a eritrocitose relativa, que é a impressão de que a população de hemácias é maior, devido ao menor volume de plasma no sangue. Essa redução pode estar relacionada a quadros de queimaduras, ingestão inadequada de líquidos, diarreia, vômito e administração de diuréticos (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). O diagnóstico é realizado através do hemograma, que evidenciará uma elevada contagem de eritrócitos. Mas, é importante ressaltar que, por se tratar de um distúrbio secundário, exames que identifiquem a doença de base são imprescindíveis para o trata- mento correto e melhora do paciente. Falando em tratamento, uma alternativa para reduzir a população de hemácias é a flebotomia, popularmente chamada de sangria, que é uma coleta de sangue volumosa que reduz a população eritrocitária. Além disso, quando o dis- túrbio está associado à falta de oxigenação, a oxigenoterapia pode ser indicada (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2013). 63UNIDADE 3 ANEMIAS https://docplayer.com.br/docs-images/106/170463254/images/194-0.jpg 64UNIDADE 3 ANEMIAS 64 O hemograma talvez seja o exame mais popular entre os médicos. Provavelmente você, enquanto paciente, já deve ter feito hemogramas em diversas fases da vida e pelos mais diversos motivos. Este exame avalia as condições e características de todas as células sanguíneas e sofre alterações em doenças inflamatórias e infecciosas. Ou seja, sua análise pode fornecer informações valiosas para o médico, permitindo que tome a conduta adequada para cada paciente. Fonte: BASE. Tudo o que você precisa saber sobre um hemograma. Disponível em http://www.labora- toriobase.com.br/noticias/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-hemograma#:~:text=Os%20riscos%20 do%20hemograma%20s%C3%A3o,geladas%20v%C3%A1rias%20vezes%20ao%20dia. http://www.laboratoriobase.com.br/noticias/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-hemograma#:~:text=O http://www.laboratoriobase.com.br/noticias/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-hemograma#:~:text=O http://www.laboratoriobase.com.br/noticias/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-hemograma#:~:text=O 65UNIDADE 3 ANEMIAS A anamnese é um processo extremamente importante antes do hemograma. Sempre que for realizar a coleta sanguínea de seu paciente, atente-se aos medicamentos que o paciente utiliza e às doenças prévias que ele apresenta. Saber as principais informações de saúde do paciente, é fundamental para a boa análise do exame e tomada de decisão adequada. Fonte: POMPEO, G. Qual a importância da minha anamnese para o meu paciente?. Disponível em : https://blog.jaleko.com.br/qual-a-importancia-da-minha-anamnese-para-o-meu-paciente/ https://blog.jaleko.com.br/qual-a-importancia-da-minha-anamnese-para-o-meu-paciente/ 66 CONSIDERAÇÕES FINAIS Queridos alunos, como vocês puderam perceber ao longo desta unidade, existem diversos tipos de anemias, desencadeados pelos motivos ainda mais diversificados. Sendo assim, quero que vocês tenham refletido que a anemia é o reflexo de múltiplos e complexos passos. Compreender o hemograma do paciente é o primeiro passo para o diagnóstico clínico correto e manejo do paciente de forma consciente. No laboratório de análises clínicas, muitas vezes não temos acesso à anamnese do paciente e nem ao seu histórico clínico, que fica nas mãos dos médicos e de toda a equipe de cuidados. Sendo assim, fazer a correta avaliação do hemograma é imprescindível para o diagnóstico do paciente. Eu costumo sempre dizer aos meus alunos nas aulas práticas e treinamentos, que os equipamentos disponíveis nos laboratórios de hematologia são sensacionais, contudo, eles ainda não substituem o olhar atento de um analista clínico. Não sintam-se intimidados com a mecanização e informatização na área da saúde, o profissional capacitado dentro do laboratório será cada vez mais valorizado, devido à sua capacidade de análise crítica de cada paciente. Sendo assim, estudem, leiam e procurem imagens acerca dos diferentes tipos de anemias que existem e não se limitem às principais que abordei aqui na apostila: existem muitos tipos de anemia a serem explorados e diagnosticados. A hematologiaé uma área riquíssima e que precisa de profissionais treinados e capacitados. Ah e antes que eu me esqueça: sulfato ferroso não trata todo tipo de anemia! E prego enferrujado não é suplementação para o tratamento das anemias (risos)! Brinca- deiras à parte, espero que vocês tenham gostado do material e gostem de passear pelo conteúdo. Um abraço e até a Unidade IV. 66UNIDADE 3 ANEMIAS 67 LEITURA COMPLEMENTAR MATOS, J. F.; DUSSE, L. M. S.; GOMES, K. B.; STUBERT, R. V. B.; FERREIRA, M. F. R.; MOREIRA, R. C. N.; FERNANDES, A. P. S. M.; FARIA, J. R.; CARVALHO, M. G. O hemograma nas anemias microcíticas e hipocrômicas: aspectos diferenciais. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, V. 48, N. 4, 2012. Disponível em: https:// www.scielo.br/j/jbpml/a/kRsgV3VzB5JbkYg5GxSZMrH/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 27 jun. 2022. GIGLIOTTI, P. Estudo do metabolismo do ferro. Disponível em: https://www.umc.br/artigoscientificos/art-cient-0075.pdf. Acesso em: 30 jun. 2022. GABRIEL, R. S. Anemias macrocíticas: uma abordagem geral. Disponível em: http://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/biblioteca-digital/hematologia/ serie_vermelha/anemia_vitamina_b12/9.pdf. Acesso em: 02 jul. 2022. LINARDI, C. C. G.; PRACCHIA, L. F.; BUCCHERI, V. Diagnosis and treatment of polycythemia vera: Brazilian experience from a single institution. São Paulo Medical Journal, v. 126, n. 1, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/spmj/a/jSRmYmQtdBCd- QzL4FwcfHjK/?format=pdf&lang=en. Acesso em: 02 jul. 2022. GALEIGO, F. P.; SANTOS, K. R. L.; CALÁBRIA, L. R.; MOREIRA, P. M. Anemia e senilidade. Disponível em: https://fug.edu.br/repositorio/2014-2/bioMed/ANEMIA%20 E%20SENILIDADE.pdf. Acesso em: 02 jul. 2022. 67UNIDADE 3 ANEMIAS https://www.scielo.br/j/jbpml/a/kRsgV3VzB5JbkYg5GxSZMrH/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/jbpml/a/kRsgV3VzB5JbkYg5GxSZMrH/?format=pdf&lang=pt https://www.umc.br/artigoscientificos/art-cient-0075.pdf http://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/biblioteca-digital/hematologia/serie_vermelha/anemia_vitamina_b12/9.pdf http://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/biblioteca-digital/hematologia/serie_vermelha/anemia_vitamina_b12/9.pdf https://www.scielo.br/j/spmj/a/jSRmYmQtdBCdQzL4FwcfHjK/?format=pdf&lang=en https://www.scielo.br/j/spmj/a/jSRmYmQtdBCdQzL4FwcfHjK/?format=pdf&lang=en https://fug.edu.br/repositorio/2014-2/bioMed/ANEMIA%20E%20SENILIDADE.pdf https://fug.edu.br/repositorio/2014-2/bioMed/ANEMIA%20E%20SENILIDADE.pdf 68 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Hemograma: manual de interpretação Autor: Renato Failace, Flavo Fernandes (Autor) Editora: Artmed Sinopse: Com a 6ª edição, este clássico da Artmed e seu autor batem recordes de longevidade: a obra, um quarto de século; o autor, 60 anos de atividade como médico, laboratorista e professor. O Hemograma persiste inigualável como fonte diária de consulta em clínica e semiologia laboratorial para médicos e estudantes de Medicina e em tecnologia e interpretação para bioquímicos, biomédicos e técnicos de laboratório. FILME / VÍDEO Título: O que nos move? Ano: 2015. Sinopse: Eronides saiu do Rio de Janeiro para defender os direitos das pessoas com anemia falciforme; Michely deixou o Paraná a fim de lutar pela população negra; Carlivan viajou do Maranhão com a tarefa de apoiar as demandas das pessoas com deficiência. O ponto de encontro dos três foi Brasília, mais especificamente a 15ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em dezembro de 2015. No mar de gente de todos os sotaques e bandeiras que se cruzam nos corredores de um evento dessa dimensão, o recém-lançado documentário “O que nos move”, do Selo Fiocruz Vídeo, destaca o vai-e-vem desses três delega- dos de modo a abordar a dinâmica por trás da aprovação de cada uma das recomendações do controle social para a saúde do Brasil. Link do vídeo: https://youtu.be/ociUUGBJRfA 68UNIDADE 3 ANEMIAS https://youtu.be/ociUUGBJRfA 69 WEB Vídeo aula sobre metabolismo do ferro: https://youtu.be/-s11HT8KT2A. Acesso em: 30 jun. 2022. Site com informações completas sobre hemoglobinopatias, inclusive talassemia: http://www.hemoglobinopatias.com.br/. Acesso em: 30 jun. 2022. Visão geral sobre as anemias: http://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/obste- tricia/anemias.pdf. Acesso em: 30 jun. 2022. 69UNIDADE 3 ANEMIAS https://youtu.be/-s11HT8KT2A http://www.hemoglobinopatias.com.br/ http://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/obstetricia/anemias.pdf http://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/obstetricia/anemias.pdf . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Visão geral das leucemias; • Leucemias agudas; • Leucemias crônicas; • Banco de sangue. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar os principais tipos de leucemias; • Compreender os aspectos fisiopatológicos e de diagnóstico das leucemias agudas; • Compreender os aspectos fisiopatológicos e de diagnóstico das leucemias crônicas; • Estabelecer os principais conceitos de banco de sangue. 4UNIDADEUNIDADE LEUCEMIAS LEUCEMIAS E BANCOSE BANCOS DE SANGUEDE SANGUE Professora Dra. Érica Benatto Zanqueta 71 A leucemia é uma doença maligna que afeta os leucócitos na medula óssea, de ori- gem desconhecida e tem como principal característica a substituição das células saudáveis por células anormais. Este processo tem início quando um precursor de leucócitos, ainda imaturo, sofre uma mutação genética, transformando-o numa célula cancerosa. Essa célula anormal não termina seu processo de diferenciação corretamente, multiplica-se mais rápido que o normal e morre numa taxa mais devagar do que deveria. Sendo assim, essas células mantêm-se vivas por mais tempo, alterando a proporção de células normais e funcionais. Contudo, por mais que o processo de doença seja único, existem mais de 12 tipos de leucemias, sendo os principais as leucemias mielóide aguda, mielóide crônica, linfóide aguda e linfóide crônica. Você deve estar se perguntando: onde o banco de sangue entra nessa história toda, professora? Os bancos de sangue regionais (públicos) fazem a coleta e análise do sangue dos doadores, registrando tudo no REDOME, um registro único e nacional. Assim, uma mesma pessoa pode ser tanto doadora de sangue quanto de medula, sendo o cadastro vinculado ao banco de sangue de cada cidade. Portanto, nessa unidade vocês aprenderão um pouco mais sobre as leucemias e a importância do banco de sangue. Até breve e bons estudos. INTRODUÇÃO UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 As leucemias são doenças malignas do sistema hematopoético, que afetam a medula óssea e os gânglios linfáticos, cuja principal característica é a multiplicação descontrolada de leucócitos e seus precursores. Na maioria dos casos, há envolvimento maciço da medula ós- sea e megalia dos demais órgãos que compõem o sistema hematopoético. Essa proliferação desregulada, leva à liberaçãode células imaturas para a corrente sanguínea, tanto hemácias quanto leucócitos, gerando quadros de anemia e imunodepressão. As causas da leucemia ainda são muito incertas, contudo já se sabe que existe correlação com predisposição gené- tica, bem como exposição crônica a produtos químicos e radiação (PUGGINA, 2020). De acordo com a sua evolução, a leucemia pode ser classificada como aguda ou crônica, sendo ainda subdividida de acordo com o tipo de célula que prolifera, como linfóide e mielóide. Sendo assim,temos quatro grandes grupos de leucemia: Leucemia Linfóide Aguda (LLA); Leucemia Linfóide Crônica (LLC); Leucemia Mielóide Aguda (LMA); Leucemia Mielóide Crônica (LMC). A gravidade da doença varia de acordo com a sua evolução, sendo as formas agudas as de mais difícil tratamento e pior prognóstico. O diagnóstico da doença é tanto clínico quanto laboratorial. Contudo, no início, o diagnóstico é difícil devido aos sintomas muito inespecíficos que o paciente apresenta, tais como cansaço, falta de apetite e febre. Ou seja, para o médico, tais sintomas não são indicativos de leucemia, portanto, o foco não será a busca pelos exames que consigam diagnosticar a doença corretamente. Portanto, conforme a doença avança, os sintomas vão se tornando mais característicos, como a dor óssea, caracterizada pela invasão que as células imaturas fazem na medula substituindo aquelas já maduras. Outro sintoma carac- terístico é o aparecimento de manchas vermelhas e arroxeadas pelo corpo, causadas pela redução do número de plaquetas (PUGGINA, 2020). 1 VISÃO GERAL DAS LEUCEMIAS TÓPICO UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE Conforme a doença avança, os sintomas iniciais de palidez e cansaço se acentuam, e o paciente fica extremamente prostrado, com pouca tolerância aos exercícios físicos. Caso a queda de plaquetas seja muito acentuada, o paciente pode apresentar, ainda, focos hemorrágicos. Sendo assim, caso ele apresente estes sintomas mais específicos somados ao hemograma alterado (indicando anemia e contagem de leucócitos alterada), a suspeita clínica se firma e o médico pode, enfim, solicitar o esfregaço de medula óssea, que é o exame mais específico (PUGGINA, 2020). O mielograma (Figura 01) é o exame laboratorial mais importante para o diagnós- tico da leucemia. Não me entendam mal: o hemograma é fundamental também, mas, é o mielograma que vai apresentar com certeza o tipo de leucemia que o paciente possui. Além disso, ele também é capaz de avaliar a eficácia do tratamento do paciente. Durante o tratamento do paciente são realizados vários mielogramas para acompanhamento. FIGURA 01 - ESFREGAÇO DE MEDULA ÓSSEA NORMAL Setas azuis indicam Eritroblastos basófilos; Seta magenta indica Metamielócito neutrófilo. As demais células são hemácias. Fonte: HISTOLOGIA. Disponível em: https://mol.icb.usp.br/index.php/10-16-sangue-e-hemocitopoese/. Acesso em: 07 jul. 2022. Outro procedimento realizado para acompanhar a evolução do paciente é a punção lombar, que consiste na aspiração e análise do líquor, que encontra-se entre as meninges (Figura 02). Além de analisar o líquor, a punção permite também que sejam injetados me- dicamentos diretamente nessa região, com a finalidade de impedir a migração de células leucêmicas para o sistema nervoso. Em geral, é realizada com anestesia local, sendo um processo rápido e praticamente indolor (PUGGINA, 2020). 73UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://mol.icb.usp.br/index.php/10-16-sangue-e-hemocitopoese/ FIGURA 02 - PUNÇÃO LOMBAR, EVIDENCIANDO A PRESENÇA DE LÍQUOR ENTRE AS MENIN- GES Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-epidural-nerve-block-injection-1106736023. Acesso em 29/07/2022. Independente do tipo de leucemia, o tratamento recomendado é a quimioterapia, que tem como objetivo destruir as células alteradas até o restabelecimento da população celular. Contudo, pesquisas recentes mostram que a quimio nem sempre é eficiente, podendo restar poucos clones alterados que podem se proliferar ao longo do tempo, restabelecendo a doença. Sendo assim, para ter maior taxa de sucesso, os médicos, em geral, realizam poliquimioterapia, que é a associação de dois ou mais medicamentos em ciclos ou fases, com o objetivo de remissão da doença (PUGGINA, 2020). E talvez você talvez esteja se perguntando: porque a quimioterapia faz cair cabelo? A resposta é simples… Porque por mais que ela tenha como objetivo atingir as células alte- radas, ela interfere em basicamente todas as células do organismo. Sendo assim, células saudáveis também são afetadas neste processo e perdem sua atividade normal. A primeira fase do tratamento (fase de indução) tem como objetivo atingir a remis- são da doença, levando à destruição do maior número possível de clones alterados, o que pode levar em torno de 1-2 meses após o início do tratamento. As fases seguintes também variam de acordo com o tipo de leucemia, sendo eles: consolidação (tratamento intensivo com novos quimioterápicos); reindução (repetição dos medicamentos usados na fase de indução) e manutenção (o tratamento é mais brando e contínuo por vários meses). A fase de consolidação dura de 2 a 3 semanas, enquanto a fase de manutenção deverá prolongar-se durante os 3 anos de tratamento. Muitas vezes o paciente precisará ficar internado, pois, como já falamos, é um tratamento agressivo que destrói não só as células alteradas, mas também aquelas saudáveis (PUGGINA, 2020). Coluna vertebral Coluna Nervo Anestésico epidural Anestésico espinhal 74UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-epidural-nerve-block-injection-1106736023 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 As leucemias agudas são doenças malignas primárias dos órgãos hematopoéticos, caracterizadas pela presença de blastos mielóides ou linfóides tanto na medula óssea, quanto na circulação sanguínea. Essa presença aumenta gradativamente e ao longo do tempo ocorre a substituição das células normais pelas alteradas, levando o paciente a complicações como anemia, infecções e hemorragias. As leucemias agudas tem uma grande diversidade de sintomas e células alteradas e diferem-se de acordo com a linhagem alterada, podendo ser linfóide (LLA) ou mielóide (LMA). Quando não tratadas, levam o paciente a óbito num período de poucos meses a um ano. 2.1 Leucemia Mielóide Aguda (LMA) A LMA é uma doença clonal, heterogênea e progressiva, causada por alterações nas células-tronco hematopoiéticas, em especial nos mieloblastos. Como resultado, os pacientes apresentam predomínio destas células imaturas na medula óssea, podendo ou não chegar à circulação periférica. A doença acomete principalmente adultos, em especial acima de 60 anos, sendo mais comum no sex. masculino. Representa 15-20% dos casos de leucemias infantis e 80% dos casos de leucemia nos adultos. Aqui mantém-se a causa desconhecida, contudo alguns pacientes relatam exposição a agentes químicos e físicos com ação mutagênica, bem como presença de outras doenças de base, como anemia de Fanconi, Síndrome de Down e Síndrome de Bloom (MARTINS; FALCÃO, 2000). 2 LEUCEMIAS AGUDAS TÓPICO UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE É uma doença de progressão muito rápida que, se não tratada, leva a óbito em poucos meses ou até mesmo em alguns dias. Os sintomas mais comuns são resistência diminuída às infecções; úlceras na região dos lábios e boca; aparecimento de equimoses e hemorragias; anemia, expressa por palidez, cansaço, falta de ar e palpitações. O trata- mento consiste naquele ciclo de medicações expresso no tópico anterior, sendo que as medicações utilizadas são mais tóxicas do que aquelas empregadas para leucemia linfóide e a taxa de sucesso varia entre 50-85% dos pacientes. O transplante de medula óssea é uma excelenteopção de tratamento, contudo, sua eficácia cai muito quando o paciente tem idade superior a 45 anos (MARTINS; FALCÃO, 2000). Como falamos anteriormente, a LMA é uma doença pleomórfica (Figura 03), ou seja, quando analisamos os esfregaços de medula óssea, as células leucêmicas podem apresentar diversas características. Para conseguir diferenciar a doença e estabelecer o melhor tratamento aos pacientes, o Grupo de Estudos Franco-Americano-Britânico (FAB) criou, em 1976, um sistema de classificação para a LMA baseado na características dos blastos ali presentes (MARTINS; FALCÃO, 2000). FIGURA 03 - ESFREGAÇOS DE MEDULA ÓSSEA, MOSTRANDO UMA MICROGRAFIA DE MEDULA NORMAL E AS DEMAIS COM AS ALTERAÇÕES DECORRENTES DA LMA Fonte: Adaptado de UNICAMP. Disponível em: https://anatpat.unicamp.br/lamhemo4.html. Acesso em: 07 jul. 2022. 76UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://anatpat.unicamp.br/lamhemo4.html A classificação da FAB evidenciou, ao longo dos anos, 08 tipos de LMA, classifi- cadas de M0 a M7 (Figura 04), sendo essa diferença baseada no número de blastos na medula óssea (> 30%) para confirmar o diagnóstico. Para que essa classificação fosse mais precisa, foi necessário fazer a correta identificação dos mieloblastos: mieloblastos tipo I: presença de citoplasma sem sinais de maturação, sem grânulos; mieloblastos tipo II: semelhantes ao tipo I, mas com presença de poucos grânulos; mieloblastos tipo III: com citoplasma granular, com núcleo central (MARTINS; FALCÃO, 2000). FIGURA 04 - FRAGMENTOS DE ESFREGAÇO DE MEDULA ÓSSEA DOS DIFERENTES TIPOS DE LMA CLASSIFICADOS PELA FAB Fonte: SUTORI. Disponível em: https://www.sutori.com/es/elemento/leucemia-mieloide-aguda-segun-la-clasificacion-franco-americana-britanica- -fab-73d8. Acesso em: 07 jul. 2022. Para entender melhor a figura 04, segue a diferenciação básica dos diferentes tipos de LMA propostos pela FAB: - M0: LMA com diferenciação mínima com 30% de mieloblastos tipo I; - M2: LMA com maturação; com mais de 30% de mieloblastos e 10% ou mais de granulócitos; - M3: Leucemia promielocítica aguda, com predomínio de promielócitos anômalos; - M4: Leucemia mielomonocítica aguda; com 30% de mieloblastos e linhagem monocítica de 20 a 80% , com eosinofilia; - M5: Leucemia monocítica aguda, apresentado acima de 30% de blastos e pre- domínio de linhagem monocítica (dentre as células não eritróides); - M6: Eritroleucemia; 30% mieloblastos (não-eritróides) e 50% das células são linhagem eritróide; - M7: Leucemia megacariocítica aguda; 30% de megacarioblastos identificados por imunofenotipagem ou atividade de peroxidase plaquetária por microscopia eletrônica. 77UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://www.sutori.com/es/elemento/leucemia-mieloide-aguda-segun-la-clasificacion-franco-americana-britanica-fab-73d8 https://www.sutori.com/es/elemento/leucemia-mieloide-aguda-segun-la-clasificacion-franco-americana-britanica-fab-73d8 Por fim, os pacientes com LMA apresentarão hemograma com acentuada leu- cocitose, devido à presença de muitos blastos também na corrente sanguínea, anemia, trombocitopenia e presença do bastonete de Auer (Figura 05). Tudo isso será consequência da proliferação desenfreada dos precursores mielóides (MARTINS; FALCÃO, 2000). FIGURA 05 - BASTONETE DE AUER INDICADO POR SETA EM MIELOBLASTO EM ESFREGAÇO SANGUÍNEO Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c0/Myeloblast_with_Auer_Rod_smear_2009-11-23. JPG/640px-Myeloblast_with_Auer_Rod_smear_2009-11-23.JPG. Acesso em 07 jul. 2022. 2.2 Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) A LLA é uma doença caracterizada pela proliferação clonal de linfoblastos, que são os precursores dos linfócitos T e B. Portanto, o paciente portador de LLA apresentará uma acentuada deficiência na proteção contra infecções, em especial infecções virais. Da mesma forma que vimos na LMA, aqui as células normais vão sendo substituídas progressivamente pelos linfoblastos alterados, levando à anemia e quadros hemorrágicos. Além da presença desses blastos na medula óssea e corrente sanguínea, essas células alteradas também podem estar presentes no líquor, causando graves danos ao encéfalo (SANTOS, 2016). Geralmente acomete crianças entre dois e cinco anos de idade, correspondendo a 80% das leucemias agudas em crianças, mais frequente em meninos de pele branca. Nos adultos, corresponde a 20% das leucemias agudas, sendo mais agressiva e letal em adultos do que em crianças, assim como vimos na LMA. O tratamento também é realizado através de quimioterapia, sendo os quimioterápicos utilizados para o tratamento da LLA menos agressi- vos que na LMA. Contudo, os efeitos colaterais também são observados e a alta taxa de óbito quando o paciente não recebe tratamento, também é alta (SANTOS, 2016). 78UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c0/Myeloblast_with_Auer_Rod_smear_2009-11-23. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c0/Myeloblast_with_Auer_Rod_smear_2009-11-23. Para que houvesse uma classificação adequada da LLA, a FAB também elaborou uma divisão morfológica para a doença, dividindo-a em LLA-L1; LLA-L2 e LLA-L3 (Figura 06). - LLA-L1: apresenta células pequenas, com núcleo de borda regulares, cromatina frouxa, sem nucléolos, pouco citoplasma e basofilia moderada; - LLA-L2: apresenta células grandes, heterogêneas, com núcleo de forma e tama- nho variáveis, citoplasma abundante e basofilia variável; - LLA-L3: apresenta células grandes, homogêneas, núcleo arredondado, vacuioli- zação citoplasmática e geralmente apresentam imunofenótipo B (linfócito de Burkitt). FIGURA 06 - DIFERENTES TIPOS DE LLA DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO FAB Fonte: Hilário; Hilário (2021). O hemograma deste paciente pode evidenciar anemia normocítica e normocrômica (VCM e HCM dentro dos valores de referência), com leucometria acima de 10.000 cél/ mm³. Contudo, esse valor pode ser superior a 100.000 cél/mm³ e até inferior a 4.000 cél/ mm³. Os blastos podem constituir grande parte da população celular e podem apresentar manchas nucleares, pois as células são muito frágeis e são destruídas durante a realização do esfregaço sanguíneo (SANTOS, 2016). 79UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 As leucemias crônicas são neoplasias originadas pela multiplicação de precur- sores hematopoiéticos granulocíticos ou linfocíticos da medula óssea. Sua característica mais comum, e que permite a diferenciação das leucemias agudas, é a capacidade de diferenciação do clone neoplásico, resultando na presença de células maduras, tanto na medula óssea quanto no sangue periférico. Sua evolução é lenta, porém, são resistentes aos quimioterápicos, tendo baixa taxa de cura. Da mesma forma que estudamos nas leu- cemias agudas, as leucemias crônicas são divididas de acordo com tipo celular presente, podendo ser classificadas como Leucemia Mieloide Crônica (LMC) e Leucemia Linfoide Crônica (LLC). A LLC é a mais comum e de maior importância clínica no Ocidente e a LMC confunde-se facilmente com outras doenças mieloproliferativas, sendo de difícil diagnóstico. 4.1 Leucemia Mielóide Crônica (LMC) A LMC é uma neoplasia caracterizada por leucocitose e presença de granulócitos em todos os estágios de maturação, tanto na medula óssea quanto na corrente sanguínea, sendo que na maioria dos casos está presente, também, o cromossomo Philadelphia (Ph). Este cromossomo é fruto da translocação recíproca dos braços longos dos cromossomos 9 e 22, originando o gene quimérico BCR-ABL (Figura 07). Essa translocação dá origem a expressão e tradução de uma oncoproteína com atividade tirosina-quinase aumentada, favorecendo a liberação de efetores de proliferação celular e inibidoresde apoptose da célula progenitora hematopoiética (BOLLMANN; GIGLIO, 2011). 3 LEUCEMIAS CRÔNICAS TÓPICO UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE FIGURA 07 - TRANSLOCAÇÕES CROMOSSÔMICAS QUE DÃO ORIGEM AO CROMOSSOMO PH Fonte: LABNETWORK. Disponível em: https://www.labnetwork.com.br/wordpress/wp-content/uploads/2017/03/biometrix-1.jpg. Acesso em: 08 jul. 2022. É o tipo de leucemia mais frequente na população mundial, correspondendo a cerca de 20% dos casos de leucemias, com incidência de 2.000 casos em cada 100.000 indiví- duos. Afeta especialmente pacientes entre 40-60 anos, principalmente aqueles do sexo masculino. A maioria dos pacientes já apresenta sintomatologia quando o médico inicia o diagnóstico, diferentemente das leucemias agudas que vimos anteriormente. O hemograma é a ferramenta mais eficaz para o diagnóstico da doença, visto que nos estágios iniciais da doença o esfregaço sanguíneo aponta aumento dos basófilos (basofilia) e trombocitose - mesmo quando o paciente mal apresenta sintomas (BOLLMANN; GIGLIO, 2011). A evolução da LMC tradicionalmente pode ser dividida em três fases: crônica, acelerada e blástica e a maioria dos pacientes é diagnosticada na fase crônica, que tem duração média de 3-5 anos, com poucos sintomas e hemograma com leucocitose e presen- ça de poucos blastos. Na fase acelerada, a maioria dos pacientes já estão em tratamento e apresentam uma piora na sintomatologia, quando deixam de responder à quimioterapia. Alguns podem apresentar esplenomegalia e hemograma com intensa leucocitose, eosi- nofilia, basofilia, anemia, trombocitopenia e elevado número de blastos. Devido à intensa sintomatologia, alguns pacientes podem apresentar, inclusive hepatoesplenomegalia. Por fim, a crise blástica é diagnosticada quando o paciente apresenta contagem de blastos e promielócitos acima de 30% no esfregaço sanguíneo e contagem diferencial. Em geral, den- 81UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://www.labnetwork.com.br/wordpress/wp-content/uploads/2017/03/biometrix-1.jpg tre os blastos, cerca de 75% são mielóides e 25%, linfóides. Essa diferenciação é possível de ser realizada com base na morfologia e marcadores celulares. Clinicamente, o paciente apresentará palidez, agravamento da hepatoesplenomegalia, equimoses, sangramento, falha orgânica, infecções e falta de resposta ao tratamento (BOLLMANN; GIGLIO, 2011) O diagnóstico diferencial da doença é realizado através do mielograma (Figura 08), juntamente à genotipagem do paciente, com a presença de cromossomo Ph. Na fase crônica, a hidroxiureia é capaz de controlar a contagem de leucócitos, contudo, apenas o uso de quimioterápicos não é capaz de reduzir a quantidade de clones, quando o paciente apresenta cromossomo Ph. O passo seguinte é a utilização de medicações capazes de levar ao controle citogenético da doença. Atualmente, este controle citogenético é realizado com a administração de imatinibe, pois é uma droga que inibe a atividade tirosina-quinase, apresentada pelos clones leucêmicos. Por fim, o transplante de medula óssea continua sendo o único tratamento curativo para a doença, contudo, é contra-indicado em pacientes com mais de 55 anos ou que apresentem comorbidades (BOLLMANN; GIGLIO, 2011) FIGURA 08 - ESFREGAÇO DE MEDULA ÓSSEA DE PACIENTE COM LMC Fonte: Adaptado de ANATPAT. Disponível em: https://anatpat.unicamp.br/lamhemo5.html. Acesso em 08 jul. 2022. 4.2 Leucemia Linfoide Crônica (LLC) A LLC é uma doença causada pela proliferação e acúmulo de linfócitos B, inicial- mente nos linfonodos e medula óssea e posteriormente para o sangue e demais órgãos hematopoiéticos. Apresenta maior prevalência em idosos, entre 60 e 80 anos, com im- portante fator de risco hereditário. A maioria dos pacientes é assintomático no início da doença, sendo que os principais sintomas apresentados são suor noturno, perda de peso e fadiga intensa. Clinicamente, os achados mais comuns são linfadenopatia, esplenomegalia e hepatomegalia (BORTOLHEIRO; CHIATTONE, 2008). 82UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://anatpat.unicamp.br/lamhemo5.html O hemograma dos portadores de LLC apresenta leucocitose variável, com predomínio de linfócitos semelhantes aos normais, com contagem de até 2% de prolinfócitos ou blastos. A leucometria é bastante variável, com valores de 10.000 a 150.000 cél/mm³, contudo, apesar da alta contagem de linfócitos, os pacientes são imunossuprimidos, pois, estas células não apresentam sua função corretamente (BORTOLHEIRO; CHIATTONE, 2008). A doença pode ser avaliada a partir de 02 critérios diferentes, que não estão as- sociados ao sistema FAB, sendo eles o Estagiamento de Raí e o Estagiamento de Binet, conforme mostrado a seguir (Figura 09). FIGURA 09 - ESTADIAMENTOS DE RAI E BINET PARA LLC E DESCRIÇÃO DE SEUS SINTOMAS LABORATORIAIS E CLÍNICOS Fonte: Adaptado de https://d3043uog1ad1l6.cloudfront.net/uploads/2021/02/Sem-titulo-14-4.png. Acesso em: 08 jul. 2022. A biópsia de medula é importante para o diagnóstico diferencial da LLC, pois ela apresentará um padrão celular de linfócitos pequenos e aparentemente normais, com pouca variabilidade morfológica. A imunofenotipagem é fundamental, pois cerca de 50% dos pacientes apresenta alterações cromossômicas, como a trissomia do cromossomo 12, presença de deleções e translocações do braço longo do cromossomo 13 (BORTOLHEIRO; CHIATTONE, 2008). 83UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://d3043uog1ad1l6.cloudfront.net/uploads/2021/02/Sem-titulo-14-4.png . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 Agora que finalizamos os estudos sobre as principais doenças do sangue, vamos falar um pouco sobre o banco de sangue, desde a coleta até a distribuição das bolsas para aqueles pacientes que precisam delas. Primeiramente, do ponto de vista técnico, compreende-se como sangue, componentes e hemoderivados todos aqueles produtos e subprodutos originados a partir de sangue venoso, placentário ou de cordão umbilical, in- dicados para diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças. A obtenção de todos esses produtos se dá através da doação de sangue, nos serviços de hemoterapia públicos e privados. Os procedimentos básicos envolvidos no processo são: captação dos doadores; coleta de sangue; testagem; processamento e armazenamento. Ao chegar no serviço de hemoterapia, o paciente fará seu cadastro e passará por uma consulta, em que será realizado um exame físico para verificar se o mesmo está apto a doar sangue. Em seguida, o doador é encaminhado à sala de coleta, que será realizada em con- dições assépticas e todo o processo será conduzido e assistido por um profissional de saúde habilitado e qualificado. Será realizada uma punção venosa única e o sangue será coletado em bolsas plásticas, fechadas e estéreis destinadas apenas para este fim (BRASIL, 2015). As bolsas utilizadas para a coleta de sangue contém anticoagulantes em quantida- des já previstas pelos fabricantes, para que não haja nenhum erro e interferência durante o processo. Em geral, as bolsas armazenam um volume de 405-495 mL de sangue e contêm 60-65 mL de anticoagulantes. Após a coleta de sangue, a bolsa é encaminhada para o setor de processamento (Figura 10), para a obtenção dos seguintes componentes: eritrocitários, 4 BANCO DE SANGUE TÓPICO UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE plasmáticos e plaquetários. A escolha de qual hemocomponente será produzido depende da demanda do setor. Este processo de fracionamento divide-se em várias etapas: recebimento, registro e pesagem do sangue total; descanso; preparação das bolsas para centrifugação; centrifugação; extração das fases separadas na centrifugação; finalização do processo e armazenamento dos hemocomponentes produzidos; liberação, rotulagem e armazenamento dos hemocomponentes (BRASIL, 2015). FIGURA10 - PROCESSAMENTO E OBTENÇÃO DE HEMOCOMPONENTES A PARTIR DE UMA BOLSA DE SANGUE TOTAL Fonte: COLSAN. Disponível em: https://www.colsan.org.br/site/area-tecnica/producao/introducao/. Acesso em: 08 jul. 2022. Como as células do sangue apresentam diferentes tamanhos e densidade, a cen- trifugação permite a separação do sangue total em camadas, assim como ocorre com os tubos de coleta de sangue total: as hemácias ficam depositadas no fundo da bolsa; acima delas, encontra-se a camada leucoplaquetária (buffy coat); e por fim, na porção superior da bolsa, encontra-se o plasma com plaquetas dispersas. Após a coleta de cada fase, as bolsas separadas são levadas para o armazenamento, enquanto são realizados testes de qualidade (sorológicos, moleculares e imuno-hematológicos). O concentrado de hemácias deve ser armazenado entre 2 ºC e 6 ºC, com estabilidade de 21 a 42 dias, a depender dos anticoagulantes e aditivos utilizados na bolsa. Os concentrados de plaquetas devem ser armazenados entre 20 ºC e 24 ºC, sob agitação constante e com prazo de validade de 3 a 5 dias. Já a estabilidade do plasma fresco congelado, depende da temperatura e da velocidade do congelamento, sendo o tempo máximo de congelamento de 2 horas até plasma atingir -30 ºC, com validade entre 12 e 24 meses. E, por fim, o plasma fresco congelado tem sua validade determinada a partir da data de doação, sendo válido por até 12 meses, se preservado entre -20 ºC e -30ºC e 24 meses se permanecer abaixo de -30 ºC (BRASIL, 2015). 85UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://www.colsan.org.br/site/area-tecnica/producao/introducao/ 86UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE No dia 25 de novembro é comemorado o Dia Nacional da Doação de Sangue. Mais do que incentivar a doação, a data é uma comemoração e uma homenagem aos doadores, que salvam tantas vidas. O mês de novembro foi escolhido por ser um mês com queda nos estoques de sangue e, portanto, a campanha aumenta as doações. Uma bolsa de sangue doada pode salvar pelo menos três outras vidas (ou até mais), sendo um processo quase indolor, rápido e que não compromete a saúde de quem está doando. Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doação de sangue. Ministério da Saúde. Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/sangue. Acesso em 29/07/2022. https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/sangue SAIBA MAIS No dia 25 de novembro é comemorado o Dia Nacional da Doação de Sangue. Mais do que incentivar a doação, a data é uma comemoração e uma homenagem aos doadores, que salvam tantas vidas. O mês de novembro foi escolhido por ser um mês com queda nos estoques de sangue e, portanto, a campanha aumenta as doações. Uma bolsa de sangue doada pode salvar pelo menos três outras vidas (ou até mais), sendo um processo quase indolor, rápido e que não compromete a saúde de quem está doando. Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doação de sangue. Ministério da Saúde. Dispo- nível em https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/sangue. Acesso em 29/07/2022. 87UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE O transplante de medula óssea é um procedimento que pode salvar a vida de um paciente com diversas doenças que afetam o sangue, como as leucemias. É um processo seguro, onde são realizados testes para compatibilidade do tecido, ataque da medula doente do receptor e em seguida recebimento da medula saudável. Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Tratamento do Câncer. Inca, 2022. Disponível em https://www.inca.gov.br/ tratamento/transplante-de-medula-ossea. Acesso em 29/07/2022. https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/sangue https://www.inca.gov.br/tratamento/transplante-de-medula-ossea https://www.inca.gov.br/tratamento/transplante-de-medula-ossea 88 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezados alunos, finalizamos essa unidade abordando a fisiopatologia e a impor- tância do diagnóstico laboratorial das leucemias. Essa neoplasia maligna é uma doença que causa danos progressivos à qualidade de vida do paciente. É importante salientar que seus aspectos clínicos são, em geral inconclusivos, sendo imprescindível que o analista clínico te- nha olhos treinados e lembre-se da morfologia das células maduras e imaturas para realizar os esfregaços de sangue e medula. A ação rápida do médico, com solicitação de exames e início da quimioterapia é fundamental para o sucesso do tratamento e sobrevida do paciente. Estima-se que mais de dez mil novos casos apareçam anualmente no nosso país, sendo a taxa de mortalidade bem alta. Portanto, todos os profissionais de saúde são importantes para diagnóstico e manejo dos pacientes, para que os pacientes tenham diagnóstico e tratamento precoce. UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE 89 LEITURA COMPLEMENTAR PRANKE, P. A importância de construir bancos de sangue de cordão umbilical no Brasil. Ciência e Cultura, v. 56, n. 3, 2004. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo. php?pid=S0009-67252004000300018&script=sci_arttext&tlng=en. Acesso em: 08 jul. 2022. PEREIRA, L. V. A importância do uso das células tronco para a saúde pública. Ciência e Saúde Coletiva, v. 13, n. 1, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/ Jxx3B5stXPw4L9t5LVrxszq/abstract/?lang=pt. Acesso em: Acesso em: 08 jul. 2022. HAMERSCHLAK, N. Leucemia: fatores prognósticos e genética. Jornal de Pediatria, v. 84, n. 4, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jped/a/ S44MFfwG3qwj6DtwMpYXg3d/?lang=pt. Acesso em: Acesso em: 08 jul. 2022. CHAUFFAILLE, M. L. L. F. Citogenética e biologia molecular em leucemia linfocítica crônica. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 27, n. 4, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbhh/a/CZPqjPJ7zFdDKQSXpwXy7xK/abstract/?lang=pt. Aces- so em: 08 jul. 2022. UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252004000300018&script=sci_arttext&tlng=en http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252004000300018&script=sci_arttext&tlng=en https://www.scielo.br/j/csc/a/Jxx3B5stXPw4L9t5LVrxszq/abstract/?lang=pt https://www.scielo.br/j/csc/a/Jxx3B5stXPw4L9t5LVrxszq/abstract/?lang=pt https://www.scielo.br/j/jped/a/S44MFfwG3qwj6DtwMpYXg3d/?lang=pt https://www.scielo.br/j/jped/a/S44MFfwG3qwj6DtwMpYXg3d/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbhh/a/CZPqjPJ7zFdDKQSXpwXy7xK/abstract/?lang=pt 90 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Meu amigo câncer Autor: Marília Toson. Editora: Burqui. Sinopse: ‘Marília sentia sono o dia inteiro. Dormia em lugares inesperados, de forma inesperada. Durante o show de Luciano Pavarotti e Roberto Carlos, no Beira-Rio, em 1998, ela adorme- ceu entre os colos da mãe e do namorado Rodrigo, “um moço de olhos azuis, que estudava Medicina em outra cidade”. Ma- rília em breve descobriria que sofria de uma doença terrível, a leucemia, na época quase uma sentença de morte: ela tinha apenas 20% de chances de sobreviver. Mas Marília sobreviveu. Tanto é que, vinte e dois anos depois, escreveu um relato sur- preendentemente doce a respeito da sua trajetória, que, não por acaso, intitulou de “Meu Amigo Câncer”. Neste livro, Marília demonstra um otimismo, uma resiliência e uma paciência ad- miráveis. Porque não foi apenas a doença que a abalou e à sua família. A folhas tantas, ela conta: “Sendo assim, nossa situação era a seguinte: eu seguia em tratamento da leucemia ainda, a osteonecrose estava surgindo, meus pais se separaram, minha amada avó materna faleceu, perdemos nossa única fonte de renda, que era a empresa, tivemos que assumir dezenas de dívidas e processos trabalhistas. O caos estava instalado em nossa família”. Ufa! Qualquer outro desistiria. Marília não de- sistiu. Seguiu em frente, venceu, casou-se com o moço de olhos azuis, teve filhos e escreveu um livro em que não há queixas nem ressentimentos, a ponto de ela chamar o câncer de amigo. É um livro que você deve ler. Vai lhe fazer bem.’ Davi Coimbra Jornalista e Escritor FILME / VÍDEO Título: Uma prova de amor Ano: 2009. Sinopse: Em UmaProva de Amor, Sara (Cameron Diaz) e Brian Fitzgerald (Jason Patric) são informados que Kate (Sofia Vassi- lieva), sua filha, tem leucemia e possui poucos anos de vida. O médico sugere aos pais que tentem um procedimento médico ortodoxo, gerando um filho de proveta que seja um doador compatível com Kate. Disposto a tudo para salvar a filha, eles aceitam a proposta. Assim nasce Anna (Abigail Breslin), que logo ao nascer doa sangue de seu cordão umbilical para a irmã. Anos depois, os médicos decidem fazer um transplante de medula de Anna para Kate. Ao atingir 11 anos, Anna precisa doar um rim para a irmã. Cansada dos procedimentos médicos aos quais é submetida, ela decide enfrentar os pais e lutar na justiça por emancipação médica, de forma a que tenha direito a decidir o que fazer com seu corpo. Para defendê-la, ela contrata Campbell Alexander (Alec Baldwin), um advogado que cuidará de seus interesses. UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE 91 Livro para cuidadores de crianças com leucemia. https://www.boldrini.org.br/assets/uploads/Joe-tem-leucemia.pdf WEB UNIDADE 4 LEUCEMIAS E BANCO DE SANGUE https://www.boldrini.org.br/assets/uploads/Joe-tem-leucemia.pdf 92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRITO, M. E. M. S.; COSTA, S. J.; MENDES, A. L. R.; LIMA, E. M. R. S.; SILVA, A. C. R.; ROCHA, L. R.; ALVINO, V. S.; RODRIGUES, A. E. F.; SILVA, I. P.; LOPES, L. A. S.; SILVA, R. C.; BARROS, L. S. R.; SANTANA, L. S. O. S.; SANTOS, D. O. Fisiopatologia, diag- nóstico e tratamento da anemia ferropriva: uma revisão de literatura. Revista de Casos e Consultoria, v. 12, n. 1, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/casoseconsultoria/ article/view/23523/13910. Acesso em: 25 jun. 2022. CANÇADO, R. D.; CHIATTONE, C. S. Anemia de doença crônica. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 24, n. 2, 2002. CHAUFFAILLE, M. L. L. F. Citogenética e biologia molecular em leucemia linfocítica crônica. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 27, n. 4, 2005. Disponível em FAILACE, R. FERNANDES, F. B.; FAILACE R. Hemograma: manual de interpretação. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. HAMERSCHLAK, N. Leucemia: fatores prognósticos e genética. Jornal de Pediatria, v. 84, n. 4, 2008. Disponível em HOFFBRAND, A. V.; MOSS, P. A. H. Fundamentos em Hematologia de Hoffbrand. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252004000300018&script=sci_art- text&tlng=en. Acesso em: 08 jul. 2022. https://www.scielo.br/j/csc/a/Jxx3B5stXPw4L9t5LVrxszq/abstract/?lang=pt. Acesso em: Acesso em: 08 jul. 2022. https://www.scielo.br/j/jped/a/S44MFfwG3qwj6DtwMpYXg3d/?lang=pt. Acesso em: Acesso em: 08 jul. 2022. https://www.scielo.br/j/rbhh/a/CZPqjPJ7zFdDKQSXpwXy7xK/abstract/?lang=pt.Acesso em: 08 jul. 2022. http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252004000300018&script=sci_arttext&tlng=en http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252004000300018&script=sci_arttext&tlng=en https://www.scielo.br/j/csc/a/Jxx3B5stXPw4L9t5LVrxszq/abstract/?lang=pt https://www.scielo.br/j/jped/a/S44MFfwG3qwj6DtwMpYXg3d/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbhh/a/CZPqjPJ7zFdDKQSXpwXy7xK/abstract/?lang=pt 93 LORENZI, T. F. Manual de Hematologia: propedêutica e clínica. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. MONTEIRO, M. D. FERREIRA, N. V.; MARINS, F. R.; ASSIS, I. B. Anemia megaloblástica: revisão da literatura. Revista Saúde em Foco, ed. 11, 2019. Disponível em https://portal. unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2019/10/082_ANEMIA-MEGALO- BL%C3%81STICA.pdf. Acesso em: 25 jun. 2022. PEREIRA, L. V. A importância do uso das células tronco para a saúde pública. Ciência e Saúde Coletiva, v. 13, n. 1, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/Jxx3B5stX- Pw4L9t5LVrxszq/abstract/?lang=pt PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DE QUALIDADE. Valores de referência he- matológicos para adultos e crianças. Disponível em https://pncq.org.br/wp-content/ uploads/2020/07/VRH2020.pdf. Acesso em: 20 jun. 2022. RODRIGUES, A. B.; OLIVEIRA, P. P. Hematologia e hemoterapia: conceitos essenciais para a assistência. São Paulo: Rideel, 2017. SALMOIRAGHI, C. C. L. Doenças hemorrágicas. Disponível em https://www.hemocentro. unicamp.br/doencas-de-sangue/doencas-hemorragicas/. Acesso em: 20 jun. 2022. SANTOS, F. M.; REIS, M. L. P.; JOSÉ, F. F.; GENGA, K. R.; BRAGA, W. M. T. SIC Clínica Médica: Hematologia, 2016. 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Tive o prazer de dividir com vocês o primeiro conteúdo que me encantou quando eu estava na graduação: o estudo das células do sangue. Demos início ao conteúdo abordando o que era o sangue e quais as células e demais estruturas que fazem parte dele, enfatizando a função de cada uma delas. Aqui é importante que vocês tenham em mente que o sangue percorre todo o nosso organismo e é quem mantém a nossa homeostase, ou seja nosso funcionamento em equilíbrio. Além de conhecer as células, falei com vocês sobre o processo de produção dessas células, que é concentrado na medula e em alguns outros órgãos do nosso sistema hematopoiético. Em seguida, falamos sobre o exame mais solicitado pelos médicos e que muitas vezes não é olhado com o respeito que merece: o hemograma. Destrinchamos cada pe- dacinho dele, abordando os aspectos referentes à série vermelha e branca, enfatizando a importância de cada parâmetro. Agora quando alguém da sua família pedir para você dar uma olhadinha no hemograma, estará apto a entender e correlacionar cada um daqueles parâmetros avaliados. E essa é a verdadeira importância de saber interpretar um hemo- grama: correlacionar os achados laboratoriais entre si e com a sintomatologia do paciente. Por fim, abordamos as principais anemias que podem acometer os seres humanos, sempre dando ênfase em quais parâmetros do hemograma estariam alterados. O mesmo fizemos com as leucemias, esse grupo de doenças tão complexo e com alta taxa de mor- talidade, por se tratar de uma doença neoplásica. Fechamos o conteúdo falando sobre o banco de sangue e conversamos sobre o processamento dos hemocomponentes. Muitos materiais complementares foram encaminhados a vocês e peço que leiam e absorvam o máximo de informações possível, pois, o hemograma é um dos exames mais simples e completos que temos na rotina laboratorial, pois ele fornece informações em tempo real sobre o estado de saúde do indivíduo naquele momento. Não é à toa que pacientes em estado grave, quando internados, tem seu sangue colhido e analisado quase que diariamente. Portanto, quero fazer um combinado aqui com vocês: daqui para frente, olharão ohemograma com o devido respeito que ele merece. Brincadeiras à parte, agradeço a oportunidade de ter estado com vocês e espero encontrá-los em breve, em nova disciplina. Até mais! ENDEREÇO MEGAPOLO SEDE Praça Brasil , 250 - Centro CEP 87702 - 320 Paranavaí - PR - Brasil TELEFONE (44) 3045 - 9898 ENDEREÇO CAMPUS SEDE Rodovia BR-376, 1000 KM 102 - Chácara Jaraguá CEP 87701 - 970 Paranavaí - PR - Brasil TELEFONE (44) 3045 - 9898 EduFatecie E D I T O R A Site UniFatecie 3: Site EduFatecie 3: Botão 11: Botão 10: Botão 9: Botão 8: Unidade 1: Unidade 2: Unidade 3: Unidade 4: UniFatecie: EduFatecie: