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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS DEPARTAMENTO DE ELETRICIDADE CONVERSÃO DE ENERGIA PARTE II MATERIAIS E CIRCUITOS MAGNÉTICOS Prof. Rubem Cesar Rodrigues Souza MANAUS/AM Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 1 2. MATERIAIS E CIRCUITOS MAGNÉTICOS 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS DO PONTO DE VISTA MAGNÉTICO Todos os meios possuem propriedades magnéticas: posto na presença de um campo magnéticoH , estes ficam sujeitos a uma induçãoB . Vimos no capítulo anterior que o “vácuo” tem uma permeabilidade não nula (o = 4 x 10-7 H/m), e escrevemos sua lei constitutiva sobre a forma: HB o Para os outros meios, supomos que é possível escrever sua lei de forma similar HB , introduzindo sua “permeabilidade magnética” . NOTA Intensidade de magnetização ( I ) A intensidade de magnetização, chamada também de momento magnético unitário, vetor magnetização ou intensidade de magnetização que representa o incremento positivo ou negativo do valor de Bo, é expressa como: oBBI Substituindo a Bo pelo valor μoH temos a importante relação: IHB o que liga as três grandezas fundamentais: campo H, indução B e intensidade de magnetização I dos materiais magnéticos. A indução é dependente das duas primeiras. Por outro lado, lembrando de relações apresentadas anteriormente, tem-se: 1B1HHHI rorooro Esta relação estabelece a ligação entre a intensidade de magnetização, a indução magnética do vácuo e a permeabilidade relativa do material em exame. A sua unidade de medida é evidentemente aquela estabelecida para a indução, isto é, em Wb/m 2 . Sucetibilidade magnética ( ) Esta grandeza é definida pela relação Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 2 H I isto é, é a relação entre a intensidade de magnetização da substância e a respectiva intensidade magnética do campo. O seu valor é ligado à permeabilidade magnética do material por uma relação que se determina dividindo a relação oBBI por H e lembrando as expressões fundamentais. H I e H B Temos o e desta relação o Que indica que a sucetibilidade de um material é dada pela diferença entre sua permeabilidade absoluta e a do ar. Se no lugar de μ se coloca o produto μoμr tem-se a outra relação 1ro Que juntamente com a expressão o liga os parâmetros magnéticos de sucetibilidade, permeabilidade do ar e permeabilidade absoluta ou relativa do material. Quando os vetores H e B não são paralelos, é mais adequado caracterizar um meio, do ponto de vista magnético, por seu “vetor de imantação” relacionado ao campo H pela expressão: H [2–1] onde é a “sucetibilidade magnética” do meio. Para os materiais magnéticos ditos “perfeitos” os vetores eH são paralelos (caso frequente na realidade técnica). Considerando agora que um meio se “superpõe” ao vácuo, escrevemos sua lei constitutiva sobre a forma: H1HB oo fazendo = o (1 + ), tem-se: Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 3 HB [2– 2] Verifica-se também que a “permeabilidade relativa” de um material, o r aparece como igual a sua “sucetibilidade magnética” aumentada de um: r = 1 + [2–3] O estudo dos materiais magnéticos pode ser feito por meio da relação [2–2]; não obstante, é mais precisa a classificação dos materiais através da relação [2–1]. Assim, podemos classificar os materiais como: a) Materiais “paramagnéticos” (ver figura 2.1) quando tem uma sucetibilidade positiva, praticamente constante, e muito fraca. H 0 F Ferromagnético Paramagnético Diamagnético Figura 2.1 – Classificação dos materiais. Exemplos de materiais que se enquadram nessa categoria são: - O ar ( = + 3,8 X 10-7) - Oxigênio O2 ( = + 2 X 10-5) - O alumínio Al - A platina Pt b) Materiais “diamagnéticos” (ver figura 2.1), são aqueles que possuem sucetibilidade negativa, praticamente constante e muito fraca. Este é o caso da grande maioria dos materiais. Alguns exemplos são: - a água H2O ( = - 9 X 10 -6 ) - o bismuto Bi ( = - 1,5 X 10-4) - o cobre Cu. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 4 c) Materiais “ferromagnéticos” (ver figura 2.1) são aqueles que possuem sucetibilidade extremamente grande e variável. Estes materiais são raros, porém importantes para a Engenharia Elétrica. Podemos citar alguns exemplos: - o ferro Fe e a magnetita Fe3O4 - o cobalto Co - O níquel Ni - Algumas ligas (aço, ferroníquel, ferrites). Na prática, para os materiais paramagnéticos e diamagnéticos, podemos desprezar diante de 1 (devido a ordem de grandeza de ) e considerar que estes materiais são equivalentes ao “vácuo” do ponto de vista magnético (permeabilidade o). Este será o caso notadamente dos “entreferros” no interior das máquinas. Por outro lado, para os materiais ferromagnéticos, o 1 é que será desprezível diante de , e a será praticamente igual à permeabilidade relativa o r , atingindo normalmente valores da ordem de 5.000. 2.2 INTERPRETAÇÃO DA TEORIA DOS “DOMÍNIOS” Uma interpretação das propriedades magnéticas dos materiais é dada pela teoria moderna dos “domínios”. Segundo esta teoria, um material é constituído por um conjunto de pequenos domínios (da ordem de 10 -9 cm 3 ) no interior do qual todos os momentos magnéticos 1 , teriam a mesma orientação, e destes domínios resulta a ação do “campo molecular” (isto é, o campo resultante devido ao conjunto das órbitas eletrônicas das moléculas do material). Podemos assim, colocar em evidência as seguintes propriedades: a) Um material “não magnético” (figura 2.2), ou fracamente magnético (isto é, diamagnético ou paramagnético) possui os momentos magnéticos de seus “domínios” orientados aleatoriamente na presença de um campo H . 1 Como não existem monopolos magnéticos, isto é, partículas às quais se possa associar apenas um pólo magnético, a estrutura com efeitos magnéticos mais simples é uma partícula com um momento (de dipolo) magnético, ou seja, uma partícula que se comporta como um pequeno imã. Assim, o elétron, tem um momento magnético intrínseco, que se supõe associado ao seu spin. Por outro lado, como uma espira com uma corrente elétrica (convencional) tem um momento magnético com direção perpendicular ao plano da espira e sentido dado pela regra da mão direita, um elétron numa órbita atômica tem um momento magnético orbital perpendicular ao plano da espira mas com sentido contrário àquele dado pela regra da mão direita. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 5 H Figura 2.2 – Não magnético. b) Um material “ferromagnético” (figura 2.3) possui seus “domínios” orientados paralelamente ao campo H . H Figura 2.3 – Ferromagnetismo. c) Um material “antiferromagnético” (figura 2.4) possui os momentos magnéticos de seus “domínios” iguais e paralelos, mais opostos dois a dois (este é o caso do cromo Cr e do óxido de ferro FeO, por exemplo). H Figura 2.4 Antiferromagnetismo. d) Um material “ferri magnético” (figura 2.5) possui seus momentos magnéticos opostos dois a dois e paralelos, mais diferentes (este é o caso dos “ferrites”, que são particularmente interessantes em Engenharia elétrica, por serem praticamente isolantes; Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. RubemCesar Rodrigues Souza 6 os ferrites são compostos de fórmula geral XFe2O4, onde X designa um metal bivalente tal como Co, Ni, Cu e Zn). H Figura 2.5 – Ferrimagnetismo. OUTRA EXPLICAÇÃO2 Para se entender o comportamento magnético dos materiais, é necessário um exame microscópio da matéria. Um bom ponto de partida é a composição do átomo, que Bohr descreveu como constituído por um núcleo pesado e vários elétrons se movendo ao redor do núcleo em órbitas específicas. Uma investigação mais apurada revela que o átomo de qualquer substância experimenta um torque quando colocado num campo magnético; isso é chamado de momento magnético. O momento magnético resultante de um átomo depende de três fatores – a carga positiva do núcleo girando no seu eixo, a carga negativa do elétron girando no seu eixo e o efeito dos elétrons se movendo em suas órbitas. O momento magnético dos movimentos de rotação e translação do elétron excede, em muito, o da rotação do próton. Contudo, esse momento magnético pode ser afetado pela presença de um átomo adjacente. Consequentemente, se dois átomos de hidrogênio se combinam para formar uma molécula de hidrogênio, decorre que a rotação do elétron, a rotação do próton e os movimentos de translação dos elétrons de cada átomo se opõem entre si de forma que um momento magnético resultante igual à zero deveria ser obtido. Embora o resultado esteja próximo disso, experiências revelam que a permeabilidade relativa do hidrogênio não é igual a 1, mas é ligeiramente inferior à unidade. Em outras palavras, a reação molecular é tal que, quando o hidrogênio é o meio, ocorre uma pequena redução no campo magnético, em comparação com o vácuo. Esse comportamento ocorre porque há um movimento que altera todas as cargas rotativas em relação à direção do campo e o efeito desta mudança é o aparecimento de um campo oposto ao campo aplicado, independentemente da direção do movimento de rotação ou translação. Materiais nos quais esse efeito se manifesta são diamagnéticos, por razões óbvias. Além do hidrogênio, outros materiais que possuem essa característica são a prata e o cobre. Continuando com a molécula de hidrogênio, vamos supor que a seguir se retire um elétron da mesma, criando-se, então, um íon de hidrogênio. Evidentemente, deixa de existir a completa neutralização dos movimentos de rotação e translação dos elétrons. Na realidade, quando um campo magnético é aplicado, o íon fica orientado de tal forma que seu momento magnético total se alinha com o campo, desta forma provocando um pequeno 2 Toro, V.D. Fundamentos de Máquinas Elétricas. Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. – LTC, Rio de Janeiro – RJ, 1999. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 7 aumento na densidade do fluxo. Este comportamento é descrito como paramagnetismo e é característico de materiais como o alumínio e a platina. Materiais paramagnéticos têm permeabilidade relativa ligeiramente superior à unidade. Até este ponto estudamos os elementos cujas propriedades magnéticas diferem apenas ligeiramente da do vácuo. Na realidade, a grande maioria dos materiais se situa nessa categoria. Contudo, existe uma categoria de materiais – principalmente ferro e suas ligas com níquel, cobalto e alumínio – para os quais a permeabilidade relativa é muitas vezes maior que a do vácuo. Estes materiais são chamados ferromagnéticos e são de grande importância na engenharia elétrica. Podemos perguntar, nesse ponto, porque o ferro (e suas ligas) é tão mais magnético do que ou outros elementos. Essencialmente, a resposta é fornecida pela teoria do domínio do magnetismo. Como todos os materiais, o ferro tem estrutura cristalina, com os átomos dispostos numa estrutura espacial. Contudo, os domínios são partículas sub-cristalinas de tamanhos e formatos variados, contendo cerca de 10 15 átomos num volume de aproximadamente 10 -9 centímetros cúbicos. O fator característico do domínio é que os momentos magnéticos dos átomos que o constituem estão todos alinhados no mesmo sentido. Desta forma, num material ferromagnético, não apenas deve existir um momento magnético devido a uma rotação não neutralizada de um elétron em uma órbita interna, mas também a rotação resultante de todos os átomos vizinhos no domínio deve ser paralela. Poderia parecer, pela explicação dada até este ponto que, se o ferro for composto de domínios completamente magnetizados, então ele deveria estar no estado de completa magnetização ao longo do corpo material mesmo sem aplicação de uma força magnetizante. Na realidade, esse não é o caso, porque os domínios atuam independentemente, e, para uma amostra de ferro não-magnetizado, estes domínios são alinhados aleatoriamente em todas as direções, de forma que o momento magnético total é zero na amostra. Quando todos os domínios estão alinhados, o ferro é dito saturado – não há mais aumento na densidade de fluxo acima daquela do vácuo para qualquer aumento adicional na força magnetizante. Grandes elevações de temperatura numa amostra de ferro magnetizante trazem uma redução na sua capacidade de magnetização. O aumento da temperatura reforça a agitação existente entre átomos até que, na temperatura de 750 o C, a agitação é tão intensa que destrói o paralelismo existente entre os momentos magnéticos dos átomos vizinhos do domínio e, desta forma, faz com que ele perca sua propriedade magnética. A temperatura na qual isso ocorre é chamada o ponto de “curie”. 2.3 DADOS NUMÉRICOS As propriedades de um material ferromagnético são geralmente representadas por sua “curva de magnetização” B(H). A figura 2.6 representa esta curva B(H) para 3 materiais ferromagnéticos utilizados correntemente em eletrotécnica (aço-silício, aço fundido doce e ferro), onde se pode observar as três seguintes zonas: - Uma pequena parábola inicial (Oa ou Ob) que possui pouco interesse prático, porque decorre de um valor muito pequeno do campo H, e que depende de estados anteriores. - Uma zona sensivelmente linear, na vizinhança dos pontos de inflexão (a e b) onde a inclinação da curva é máxima. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 8 - Um cotovelo, seguido por um prolongamento assintótico, neste caso a indução aumenta muito pouco com relação ao aumento dado para o campo (B ultrapassa raramente os valores na ordem de 1,8 a 2 T). Esta zona corresponde a “saturação” do material, onde consideramos que seus campos estão orientados paralelamente à H . Figura 2.6 – Curva de magnetização. A figura 2.7 representa a permeabilidade relativa em função da indução, r(B) para os 3 materiais considerados. Podemos deduzir essa curva da anterior, porque a permeabilidade é representada pela inclinação da curva B(H) em cada ponto. A permeabilidade inicia crescendo, passa por um valor máximo (na vizinhança dos pontos a e b) e tende então para um valor muito pequeno, quando o material está saturado. Figura 2.7 – Permeabilidade relativa em função da indução r(B). aço silício aço doce ordinário 1000 2000 3000 H (A.e/m) B (T) 1,5 1 0,5 Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 9 Por exemplo, para o aço fundido doce, a permeabilidade relativa máxima é da ordem de 2.200 na vizinhança do ponto “a” e corresponde aos seguintes valores do campo e da indução: (r)max 2200 H 110 A.e/m B 0,3 T Para o aço-silício, na vizinhança do ponto b, temos: (r)max 5200 H 60 A.e/m B 0,4 T Certos materiais possuem permeabilidade relativa máxima extremamente elevada, por exemplo: - Ferro eletrolítico (r)max 15.000 - Ferroníquel (r)max 80.000 2.4 CANALIZAÇÃO DO FLUXO PARA OS MATERIAISFERROMAGNÉTICOS A importância dos materiais ferromagnéticos em Engenharia Elétrica decorre do fato que estes são capazes, graças a sua permeabilidade elevada, de canalizar e de capturar em seu núcleo o fluxo de toda indução devido as correntes situadas em sua vizinhança, e em particular enroladas ao redor de um eixo. Consideremos um circuito elétrico bobinado imerso no ar, e o mesmo circuito bobinado ao redor de um núcleo ferromagnético (Figura 2.8 a e b). Nos dois casos, os campos H nos pontos M1 e M2 são da mesma ordem de grandeza (no caso a, ele depende de parâmetros geométricos da bobina, no caso b, ele depende do comprimento do núcleo). 1M i m i f 2M ' 1M ( b )( a ) Figura 2.8 – Canalização do fluxo. Consideremos a indução: Em um ponto tal que M1, ou M’1, no ar, vale: HB o Em um ponto M2, no interior do núcleo, ele vale: Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 10 HHB ro Deve-se observar que r é muito grande. Dado isso, r alcança facilmente o valor de 1.000, donde vemos que o fluxo da indução no ar é aproximadamente 1000 vezes menor que o fluxo no interior do material. Na prática, podemos considerar que grande parte do fluxo é canalizado para o interior do núcleo. 2.5 CRIAÇÃO DO CAMPO NO INTERIOR DE “ENTREFERROS” Uma outra aplicação importante dos materiais ferromagnéticos, devido a sua aptidão de capturar o fluxo, é a possibilidade de criar campos magnéticos importantes no interior de “entreferros”. Consideremos um núcleo de seção constante S, de permeabilidade suposta constante, onde temos uma pequena abertura de comprimento “e” (Figura 2.9). i n e l fH eH r Figura 2.9 – Campo em um entreferro. Ao longo da linha de indução , o campo magnético assume dois valores diferentes, tal que (de acordo com o teorema de Ampère): i.ne.Hl.H ef [2–4] Por outro lado, se admitirmos que o fluxo se conserva no interior do núcleo (incluindo o entreferro), a indução S B é a mesma no ferro e entreferro: ef BB ou eofro HH [2-5] As duas relações [2-4] e [2-5] permitem calcular os campos: Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 11 el in H el in H r re r f [2-6] Vimos que o campo mantido no interior do entreferro, He, é r vezes maior que o campo no ferro, Hf. Tudo se passa como se concentrássemos no pequeno espaço do entreferro o campo da corrente i. A indução B (que é a mesma) pode ser calculada a partir da seguinte relação: in l e B ro [2-7] OBSERVAÇÃO: Na prática, a permeabilidade relativa r não é constante (esta é uma função de B, que depende do estado de saturação do núcleo). Podemos utilizar diretamente a relação [2-7] para calcular B, ou as relações [2-6] para calcular He e Hf. 2.6 LEI DOS CIRCUITOS MAGNÉTICOS: ANALOGIA DE HOPKINSON Quando um circuito magnético comporta diversos “meios” e diversas excitações (como no caso dos materiais de permeabilidade ou de seções diferentes), existe uma relação entre os fluxos que circulam no interior dos diferentes trechos e as f.m.m. que lhe são aplicadas. Para facilitar o equacionamento do circuito, podemos utilizar uma analogia, chamada analogia de HOPKINSON, a qual permite utilizar o mesmo procedimento de cálculo utilizado em circuitos elétricos para os circuitos magnéticos, considerando as quantidades equivalentes. Seria suficiente aplicar a lei de KIRCHOFF. Para introduzir esta analogia, consideremos um circuito simples, com uma malha, constituído de 3 materiais diferentes, de permeabilidade 1, 2 e 3 (Figura 2.10). Os campos magnéticos H1, H2 e H3, criados pela f.m.m. nas 3 partes, são relacionados pela lei de Ampère: inlHlHlH 332211 [2-8] Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 12 i n 1 2 3 1H 2H 3H Figura 2.10 – Circuito não homogêneo com uma malha. Podemos escrever essa relação de outra forma, introduzindo o fluxo que atravessa o circuito. Este fluxo é o mesmo por todo o núcleo, a indução será a mesma se admitirmos a seção constante: 332211 HHH S B da relação [2-8] se pode escrever: in S l S l S l 3 3 2 2 1 1 escrevendo em função da relutância, tem-se: in321 [2-9] A forma da última relação sugere uma analogia com um circuito elétrico com uma malha (Figura 2.11), onde a f.e.m. E será semelhante à f.m.m. ni, que teria 3 resistências R1, R2 e R3 em série, semelhante respectivamente à ,e, 321 que serão percorridas por uma corrente I semelhante ao fluxo : EIRRR 321 Generalizando, a analogia de Hopkinson consiste em substituir um circuito magnético pelo seu análogo elétrico, utilizando a tabela de correspondência a seguir: Quantidade magnética Quantidade elétrica Força magnetomotriz n i (A-espiras) (A-e) Força eletromotriz E (V) Fluxo (Wb) Corrente I (A) Relutância S l 1 (A/Wb) Resistência S l R R () Potencial magnético U = ni - U (A-e) Potencial elétrico V = E - RI V (V) Malha magnética Malha elétrica Nó magnético Nó elétrico Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 13 ni + - 1 3 2 Figura 2.11 – Circuito elétrico “análogo”. É necessário notar que esta analogia é somente um guia, e não a expressão dos fenômenos físicos tendo um significado real. Ela é útil quando podemos admitir que a permeabilidade é constante, isto é, que a relutância é também constante e não varia mais em função do fluxo (da mesma forma que, em um circuito elétrico, se a resistividade é constante, a resistência também é, e não varia mais em função da corrente). A seguir apresentaremos dois exemplos de utilização desta analogia. EXEMPLO: CIRCUITO COM DOIS MEIOS DE PERMEABILIDADE CONSTANTE Considere o circuito magnético da Figura 2.12, suposto de permeabilidade relativa constante r = 2 000. O segmento do lado direito possui um entreferro de espessura BC = 0,3 mm, e no ramo esquerdo tem-se uma corrente contínua de 0,8 A em um circuito de 1.000 espiras. Solicita-se calcular a indução B1 no entreferro. 0,3 mm A E D B C F Seção 12 cm2 Seções 10 cm2 CD = 40 cmDFA = 80 cm AED = 30 cm 0,8 A AB = 40 cm n = 1.000 Figura 2.12. Exemplo de circuito com dois meios. A aplicação da analogia mostra que este circuito se comporta como um circuito elétrico desenhado na figura 2.13, onde e21 e, representam respectivamente as relutâncias dos ramos DFA ou AB + CD (mesmo comprimento 80 cm, e mesma seção 10 cm 2 ), AED (ramo central) e BC (entreferro). Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 14 Suas equações deduzidas da lei de Kirchoff, são: 22211in [2-10] 1e122 [2-11] + - 21 2 1 1 1 2 e A D Figura 2.13 – Circuito elétrico “análogo”. Podemos calcular as relutâncias que se supõem constantes: Wb/A10x38,2 10x10x10x4 10x3,0 Wb/A10x95,9 10x12x2000x10x4 3,0 Wb/A10x18,3 10x10x2000x10x4 8,0 5 47 3 e 4 472 5 471 A relação [2-11] permite obter: 2 = 5,6 1, da relação [2-10] obtemos ni = 800: 1 = 0,3 x 10 -3 Wb 2 = 1,68 x 10 -3 Wb O que permite deduzir a indução T4,1 S B 2 2 2 no interiordo ramo central AD, e a indução 1 1 1 S B , no entreferro (igual, além disso, à indução no ferro do ramo da direita): B1 = 0,3 T [2-12] Neste exemplo, o cálculo é simples porque as relutâncias são constantes (uma vez que a indução B é proporcional ao campo H). Estudaremos mais adiante o mesmo circuito compreendendo a não linearidade da curva de magnetização B(H). Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 15 2.7 CÁLCULO DOS CIRCUITOS MAGNÉTICOS O “cálculo” de um circuito magnético significa a determinação da f.m.m. necessária para produzir um determinado fluxo em uma parte da carcaça, ou então a determinação do fluxo que é produzido por uma f.m.m. dada (problema inverso). Em geral, as dimensões geométricas do circuito são dadas, bem como a natureza do material, isto é “sua curva de magnetização”, sob a forma B(H), sobre a forma r(B) ou então, sob a forma (ni). 2.7.1 Primeira categoria de cálculo: conhecendo , calcular ni Para calcular a f.m.m. a partir do fluxo, se deve seguir o seguinte procedimento: a) Calcular as induções nas diversas partes do circuito, que dependem de suas seções e dos fluxos que as atravessam: ... S B S B 2 2 2 1 1 1 b) Calcular os campos, a partir das induções, dada pela relação conhecida B(H) (no material), dada por o B H (no ar). c) Calcular as f.m.m. “parciais” H1l1, H2l2, ... necessárias para magnetizar as diferentes partes. 2.7.1.1 Se o circuito não comporta somente uma malha, a f.m.m. total será igual a soma das f.m.m. parciais: ...lHlHin 2211 [2-13] A seguir tem-se um exemplo. EXEMPLO: CIRCUITO MAGNÉTICO DE UM DÍNAMO COM 4 PÓLOS Considere o circuito magnético da Figura 2.14, onde a armadura é de aço silício e cuja a carcaça e os núcleos (onde estão enroladas as bobinas indutoras de campo, todas em série) são em aço doce. As dimensões são dadas, é conhecido o número de espiras de cada bobina n = 1200, e pede-se calcular a corrente de excitação necessária para criar um “fluxo por pólo” de 0,06 Wb. As curvas de magnetização B(H) são dadas (Figura 2.6) e admitiremos que seja possível desprezar as fugas de fluxo. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 16 Figura 2.14 – Circuito indutor de um dínamo de 4 pólos. Considere uma linha de fluxo entre dois pólos adjacentes, tal que ABCDEF: o fluxo de 0,06 Wb que circula no entreferro CD (fluxo por pólo) se divide em duas partes iguais, à esquerda ao longo de EF, e à direita ao longo de EH. O fluxo que circula no interior da armadura, ao longo de EF é de 0,03 Wb, sendo igual na parte AB da carcaça. Por outro lado, na parte BC do núcleo, o fluxo é 0,06 Wb, pois se acrescenta o fluxo vindo do circuito da direita. Este é o fluxo criado pelo núcleo sobre cada pólo (“fluxo por pólo”). Conhecendo as seções das diferentes partes, podemos calcular as induções: No entreferro T75,0 08,0 06,0 B Na armadura T5,1 02,0 03,0 B Na carcaça T86,0 035,0 03,0 B No núcleo T33,1 045,0 06,0 B Calculamos os campos, considerado para cada parte da curva de magnetização correspondente ao material (ver figura 2.6). Entreferro )ar(m/Ae000.597BH o Armadura )silícioaçodocurva(m/Ae600.2H Carcaça )doceaçodocurva(m/Ae560H Núcleo )doceaçodocurva(m/Ae900.1H AB = 50 cm BC = 15 cm CD = 0,3 cm EF = 20 cm Entreferro 800 cm2 Carcaça 350 cm2 aço doce ordinário Núcleo polar 450 cm2 aço doce ordinário Armadura 200 cm2 aço silício Bobina indutora do campo 1200 espiras por pólo. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 17 Calculamos então, as f.m.m. parciais necessárias para magnetizar cada parte, conhecendo seus comprimentos: Entreferro Ae580.310x3x000.597x2lH 3 Armadura Ae5202,0x600.2lH Carcaça Ae2805,0x560lH Núcleo Ae57015,0x900.1x2lH Aplicando a relação [2-13] calculamos a f.m.m.: 950.4570280520580.3in Ae Como consideramos um circuito com dois pólos adjacentes, é preciso, por pólo, 2.475 Ae. E como cada bobina comporta 1.200 espiras, é necessária uma corrente “induzida” (denominada de corrente de “campo”): A06,2 200.1 475.2 if [2-14] Podemos observar que a indução criada ao nível de entreferro não tem uma forma senoidal ao longo da armadura. Entretanto, a forma no interior dos “núcleos”, que comportam uma zona de “expansão polar” (ver figura 2.14), permite uma aproximação (considerando que o entreferro tenha uma seção de 800 cm 2, desde que os “núcleos” tenham uma seção de 450 cm 2 ). 2.7.1.2 Se o circuito estudado comporta várias malhas, a f.m.m. total será calculada a partir das f.m.m. parciais, fazendo o cálculo passo a passo a partir do fluxo dado. É interessante introduzir o “potencial magnético” U que é comum a vários ramos, assim como mostra o exemplo a seguir. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 18 EXEMPLO: CIRCUITO COM DUAS MALHAS, DE PERMEABILIDADE VARIÁVEL (Figura 2.15) 0,3 mm A E D B C F Seção 12 cm2 Seções 10 cm2 CD = 40 cmDFA = 80 cm AED = 30 cm i = ? AB = 40 cm n = 1.000 Figura 2.15 – Circuito com duas malhas, permeabilidade variável. Retomamos o circuito magnético do parágrafo 2.6 supondo agora que se trata de folhas em aço doce, cuja curva de magnetização B(H) é conhecida (ver figura 2.6). Supondo ainda, que a indução no interior do entreferro vale B1 = 0,3 T, e que a bobina comporta 1.000 espiras. Determine a corrente “i” de excitação correspondente. Os valores numéricos B(H) são dados: B (T) 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 H (A/m) 50 80 110 160 220 300 380 490 600 760 980 1300 1700 2400 3300 4700 7500 11500 Como as relutâncias são variáveis, a analogia de Hopkinson não é mais interessante, é preciso calcular a f.m.m. por intermédio dos 4 campos H, H1, H2 e He respectivamente criados nos ramos da esquerda, da direita, no ramo central e no entreferro. Introduzindo o potencial magnético U entre os pontos A e D, podemos escrever duas equações do circuito da seguinte forma: UlHin [2-15] eHlHlHU e1122 [2-16] Calculamos agora os campos de ramo em ramo, deduzindo as induções a partir de B(H), e deduzindo ainda as induções do fluxo: Sendo possível conhecer agora o fluxo 1 no ramo da direita (a seção constante de 10 cm 2 ): Wb10x3,0SxB 3111 A indução B1 = 0,3 T sendo a mesma no entreferro e no ferro do ramo da direita, permite deduzir os campos He e H1: Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 19 ))H(Btabelaacomacordode(m/Ae110H )arno(m/Ae000.239 B H 1 o 1 e Cujo potencial magnético U, de acordo com [2-16], vale: e.A1607288eHlHU e11 Para calcular o campo H, é necessário conhecer o fluxo no ramo da esquerda, e por conseqüência calcular o fluxo 2 no ramo central. O campo H2 vale: m/e.A534 3,0 160 l U H 2 2 A indução correspondente vale B2 = 0,84 T (de acordo com a tabela, interpolando entre 0,8 e 0,9 T). Deduzimos: Wb10x01,110x12x84,0S.B 34222 O fluxo no ramo esquerdo vale: Wb10x31,1 321 Deduzimos a indução B1 = 1,31 T (superfície constante 10 cm 2 ), e o campo: H = 1.770 A.e/m (a partir da tabela, por interpolação)Podemos agora calcular a f.m.m. necessária, a partir de [2-15]: n i = H l + U = 1.415 + 160 = 1.575 A.e Cuja corrente de excitação necessária, pois a bobina comporta 1.000 espiras, vale: i = 1,575 A [2-17] OBSERVAÇÃO: Podemos observar, comparando com o exemplo do parágrafo 2.6 onde conseguimos obter a mesma indução no entreferro B1 = 0,3 T com somente i = 0,8 A, que é necessária uma corrente consideravelmente maior quando consideramos a saturação do núcleo. 2.7.2 Segunda categoria de cálculo: dado n i, determinar o Esta segunda categoria de problemas é mais delicada. De fato, parece impossível determinar o fluxo a partir de uma relação do tipo: ...in 21 porque as relutâncias ...21 dependem da permeabilidade, isto é das indutâncias, portanto, do fluxo, que é desconhecido. De outra forma, se considerarmos uma relação do tipo: ...lHlHin 2211 os campos ...,,H,H 21 dependente das induções, isto é do fluxo que é desconhecido. É necessário então, resolver o problema por aproximações sucessivas (ou por interação), supondo conhecido a priori um valor do fluxo, qualquer. Calculamos a f.m.m. correspondente ao valor inicial escolhido para o fluxo, e comparamos com o valor da Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 20 f.m.m. dado. Deduzimos um segundo valor de fluxo, mais provável, e recalculamos a f.m.m., etc., até que a diferença entre a f.m.m. calculada e a f.m.m. dada seja inferior à 5%, ou outra precisão fixada anteriormente. Se o circuito tem somente uma malha, podemos determinar simultaneamente os valores de ni e que satisfazem a lei do circuito. EXEMPLO: “INDUTOR” com entreferro Seja um circuito magnético conectado, possuindo um entreferro, e excitado por uma corrente de 1,3 A circulando em uma bobina de 1.000 espiras (figura 2.16). Calcular a indução B no interior do entreferro, sabendo que a “permeabilidade relativa” do ferro varia, em função de B, segundo a tabela seguinte (ver figura 2.7): B (T) 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 r 480 350 300 250 200 150 120 110 90 50 1 mm 1,3 A n = 1.000 + - B 20 cm Figura 2.16 – Indutor com entreferro. Introduzindo as “relutâncias”, a lei do circuito permite escrever: S e S l in oro f ainda, introduzindo a indução B (supondo que a superfície S é constante): B el in oro f seja, com os valores numéricos dados: B1 200 63,1 r [2-18] Observa-se que B e r, relacionados pela relação r(B) da tabela dada, devem satisfazer simultaneamente esta equação; procede-se então, fazendo ensaios, a priori: Para B = 0,6 T: 4,11 150 200 6,0 Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 21 O valor encontrado é inferior ao valor 1,63, assim utiliza-se o valor superior no novo cálculo. Para B = 0,7 T: 87,11 120 200 7,0 Obteve-se, portanto, um valor superior à 1,63. Dessa forma, através da interpolação dos dois valores, obtêm-se: T65,0B 2.8 FENÔMENO DE HISTERESE Quando submetemos um material ferromagnético a um campo alternado (variando entre dois valores opostos com certa freqüência), ele pode produzir um fenômeno chamado de “histerese”, decorrente do fato dos “campos” do metal apresentar certa constante de tempo antes de se orientar (de outra forma, existe um retardo entre a aplicação do campo e a aparição da indução). 2.8.1 Análise do fenômeno Considere um circuito bobinado sobre uma carcaça ferromagnética toróidal (figura 2.17) alimentado por uma fonte de tensão “v” senoidal. Após alguns fenômenos transitórios, é estabelecido um regime permanente caracterizado pelo fato de, para o mesmo valor do campo H em um elemento d, a indução B assume dois valores diferentes, um para o semi-período crescente (ponto a, figura 2.18), e outra para o semi-período decrescente (ponto b, figura 2.18). Diz-se que o material se colocou sobre um “ciclo de histerese”, representado pela curva B(H) durante um período T. Para estudar esse fenômeno, aplicamos a Lei de Faraday, que fornece a f.e.m. nos bornes do circuito: dt d ne Figura 2.17 – Bobina toroidal. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 22 Figura 2.18 – Ciclo de histerese. Se desprezarmos a resistência do circuito, bem como as perdas de fluxo (indutância de fuga l), a fonte “v” compensará a cada instante esta f.e.m., seja: dt d ntcosEev Podemos calcular por integração o fluxo criado pelo circuito no interior do núcleo, que varia igualmente de forma senoidal: tsen n E Se a seção S é constante, a indução B no núcleo vale: tsen Sn E B Verifica-se que o valor máximo desta indução está relacionado com o valor eficaz da f.e.m. pela expressão: Sf2n E2 Sn E B efmax que se pode escrever: maxef BSfn44,4E [2-20] Assim, a tensão nos bornes de um indutor (próximo de sua f.e.m., na prática), é proporcional ao valor máximo da indução no núcleo e também a freqüência da fonte. Quanto a corrente “i” que circula no circuito, podemos calcular a partir do campo H no núcleo, aplicando o teorema de Ampère ao longo da linha de indução média: H n l )H(fi [2-21] H (A.e/m) B (T) 1 5 2 3 6 4 a b Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 23 Considerando a forma do ciclo de histerese (figura 2.18), esta corrente tem uma forma periódica não senoidal. Podemos determinar a forma de variação da corrente seguindo ponto a ponto sobre a figura 2.18 os valores assumidos para o campo H, quando descrevemos o ciclo fazendo variar B de forma senoidal (pontos 1 a 6 sobre a figura 2.18, assim como na figura 2.19). Figura 2.19 – Variações de v, e i ao longo do ciclo de histerese. Quando B é nulo (ponto 1), o campo tem certo valor não nulo, chamado “campo remanente”. Quando B atinge seu valor máximo (ponto 2), o campo atinge também seu valor máximo. Quando o campo torna-se nulo (ponto 3) a indução não é nula, ela é chamada “indução remanente”. Quando a indução torna-se nula (ponto 4), o campo apresenta um valor oposto não nulo. O resto do ciclo é simétrico (pontos 5 e 6). O resultado da histerese é então, de defasar a corrente “i” (ou o campo H) adiantando com relação ao fluxo (ou a indução B). Entretanto, a expressão de “i” não é simples: se chamarmos de o ângulo correspondente à defasagem entre “i” e o , chamado de “ângulo de avanço histerético”, e se desenvolvermos uma série de Fourier, “i” terá somente harmônicos ímpares: ...)t(3senI)t(senIi 3m [2-22] Representamos sobre a Figura 2.19, a “fundamental” (im), e a “harmônica de terceira ordem” (i3) de tal sorte que sua soma representa a cada instante a corrente “i”. De fato, as amplitudes dos harmônicos podem assumir valores bastante elevados, mesmo se o i ou H Ø ou B v ou e t t t Fundamental harmônicos Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 24 material está pouco saturado. Por exemplo, em porcentagem da amplitude máxima total da corrente, a fundamental pode atingir 40%, a 3 a . harmônica 25%, a 5 a . harmônica 15%, etc. 2.8.2 Representação da bobina por um circuito equivalente Supondo que a corrente “i” na bobina se reduz a sua componente fundamental im (chamada, na prática, “corrente de magnetização”), podemos representar o diagrama de fasores do circuito como na Figura 2.20. A f.e.m. E está defasadade 90 o com relação ao fluxo , e Im está defasado do ângulo (“ângulo de avanço histerético”) com relação ao fluxo . ERI mI TI 90 Figura 2.20 – Diagrama de fasores. O fato de ser diferente de zero significa que existe uma componente ativa da corrente, IR em fase com E, ou então que a corrente Im não é inteiramente reativa. Podemos representar o conjunto bobina mais núcleo por um circuito elétrico equivalente, tal como o apresentado na figura 2.21, composto de uma resistência R e uma indutância T em paralelo, respectivamente percorrida pela corrente ativa IR e a corrente reativa IT. V R TE RI TI mI Figura 2.21 – Circuito elétrico equivalente. A potência elétrica ativa consumida no circuito que representa as perdas devido à histerese, vale: RmH IEcosIEP [2-23] Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 25 A reatância T e a resistência R estão definidas em função da corrente Im, da tensão E e da potência consumida PH, pelas seguintes expressões: senI E T m [2-24] H 2 m P E cosI E R [2-25] OBSERVAÇÃO: O esquema da figura 2.21 é válido somente se o fio da bobina tem uma resistência desprezível e se não houver indutância de fuga. 2.8.3 Fórmulas práticas de perdas Podemos exprimir as perdas histeréticas de outra forma, considerando a energia fornecida pela fonte para magnetizar o toróide ferromagnético. A expressão [1-56] informa que a energia elementar por elemento de volume d do toróide, vale, para uma variação dB de indução considerando o campo H constante: dBH d dW d a energia elementar por elemento de volume fornecida pela fonte durante um período é representada pela superfície do “ciclo histerético” B(H): período1 dBHd dW Onde: é a área do ciclo de histerese dada por [J/m 3 /ciclo] Se designarmos por V o volume do toróide, a energia fornecida por período vale: VW e a potência correspondente para uma freqüência “f” vale: VfPH [2-26] Supondo (figura 2.22) que a superfície do ciclo , varia com o quadrado de indução máxima, Bmax, seja 2 maxH B a relação [2-26] permite escrever: 2 maxHH BVfP [2-27] Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 26 Figura 2.22 – Variação de em função de Bmax. Na expressão [2-27], H é um coeficiente característico da forma do ciclo e das perdas por histerese. Acontece igualmente, nos materiais ferromagnéticos, perdas “por corrente de FOUCAULT”, que correspondem à circulação de correntes induzidas na própria massa do metal. Para reduzi-las, utilizamos um empilhamento de placas laminadas isoladas de pequena espessura (chapas). Podemos demonstrar que, no caso de uma chapa de espessura “e”, suas perdas por correntes de Foucault são determinadas pela relação: 2 max 22 EE BeVfP [2-28] As relações [2-27] e [2-28] mostram que, para um mesmo valor de indução máxima, as perdas histeréticas variam proporcionalmente com a freqüência, enquanto que as perdas por correntes de Foucault variam proporcionalmente com o quadrado da freqüência. Nas máquinas, as perdas por histerese e correntes de Foucault constituem um fenômeno não desejável. Procura-se reduzi-las escolhendo um material cujo ciclo seja o mais estreito possível: “aço doce” para a carcaça (estator) da máquina girante, “aço de silício” com fraco teor de silício (2 a 3%) para as armaduras do indutor (rotor) de máquinas de corrente contínua, “aço a grão orientado”com alto teor de silício (4 a 5%) para as chapas de transformadores. 2.9 IMÃS PERMANENTES Um “imã permanente” é um material magnético “duro”, magnetizado previamente, cuja “indutância remanente” é a maior possível. Consideremos um material cujo “o ciclo de histerese” é muito largo (figura 2.23) e que foi submetido a ciclos alternativos até a saturação (ponto S) durante um tempo bastante grande. Quando interrompemos a corrente de excitação o campo H torna-se nulo, mas a indução B continua igual a um valor não nulo Br. Isto significa que o material é capaz de enviar um fluxo magnético não nulo no espaço; temos assim, um “imã permanente”. Bmax 3 Bmax 2 Bmax 1 B(T) H(Ae/m) 3 2 1 Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 27 H S B uHcHmaxH uB rB reta de magnetização max B T3,0divisão1:B m/Ae000.1divisão1:H costípivalores M Figura 2.23 – Funcionamento de um imã permanente. 2.9.1 Circuito de utilização do imã permanente Como os imãs são constituídos de materiais bastante duros, particularmente difíceis de usinar, isto faz com que sejam utilizados em forma geométrica simples: cilíndricos, cúbicos, paralelepípedos e etc. Um imã tem, por conseqüência, sempre um “entreferro” constituído pelo conjunto do espaço entre seu pólo N e seu pólo S. Na prática se utiliza os imãs permanentes para criar um campo no entreferro de dimensão pequena: isso leva então, a canalizar o fluxo na direção do entreferro através do material ao contrário bastante “mole” (de grande permeabilidade e de relutância desprezível), aos quais se dá a forma que se deseja. A figura 2.24 mostra um “circuito de utilização” para um imã em “ferradura” e a figura 2.25 para um imã de “peças polares”. material duro S SN N imã imã L l seção uniforme H N S He material mole Figura 2.24 – Imã em “ferradura” Figura 2.25 – Imã em “peças polares”. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 28 Seja B e H a indução e o campo no interior do imã, de comprimento L, e He o campo no entreferro de comprimento l (admiti-se que o campo no interior do material macio é nulo). Supondo o fluxo conservativo, e a seção S do circuito constante (figura 2.25), a indução é a mesma em todas as direções, seja: eoH S B [2.29] Por outro lado, o teorema de Ampère aplicado ao circuito (sem f.m.m., ni = 0) se escreve: 0lHLH e [2.30] Estas duas relações mostram que a indução e o campo dentro do imã são associados pela relação: H l L B o [2-31] No gráfico B(H) (figura 2.23) esta equação representa uma reta de inclinação negativa (igual à l L o ), dita “reta de desmagnetização”. O ponto de funcionamento do imã é representado pelo ponto M de interseção da curva de histerese com esta reta: ele é sempre situado no quadrante superior da esquerda (B > 0, H < 0). 2.9.2 Problema prático do imã: volume mínimo Na prática, para criar um campo Ho no interior de um entreferro de volume Vo dado por meio de um imã, é útil determinar o volume V que deve ter o imã. Utiliza-se para isso uma relação entre esse volume V e o “dobro da densidade de energia” BH do imã (ver relação de definição [1-50]). Multiplicando a relação [2-31] por H, tem-se: 2 o H l L BH [2-32] Aplicando-se o teorema de Ampère tem-se: oo H L l H0lHLH [2-33] Substituindo [2-33] em [2-32], tem-se: 2 oo H L l l L BH 2 oo H L l BH [2-34] Multiplicando e dividindo [2-34] pela área da seção transversal S, tem-se: Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 29 2 oo o H V V BH Portanto, BH HV V 2 ooo [2-35] Assim, o volume V do imã é inversamente proporcional ao produto BH. Em particular esse volume será mínimo quando o produto BH for máximo. Porém, ao representarmos a variação de B em função do produto BH , se obtém uma curva cuja forma é mostrada na figura 2.26, onde se pode observar que BH apresenta um máximo para certo valor de B, igual à Bu. O imã deverá ser calculado de forma que seu ponto de funcionamento M (figura 2.23) corresponde ao máximo de BH , isto é B = Bu. Esta condição determina a “inclinação da reta de desmagnetização” e consequentemente L se é conhecido l. B |BH| rB uB maxuu BHHB Figura 2.26 – Variações do produto da energia BH. EXEMPLO DE CÁLCULO DE UM IMÃ (FIGURA 2.27) l = 4 mm Peça polar Seção S S = 3 cm2 l Figura 2.27 – Exemplo de cálculo. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 30 Desejamos fabricar um imã com peças polares para se obter uma indução Be = 0,5 T no interior de um entreferro de comprimento l = 4 mm e de seção S = 3 cm 2 . Conhecemos as características do material escolhido, por meio de sua curva de histerese, os valores correspondem ao máximo do produto BH: Bu = 0,9 T maxuu HB = 31.500 J/m 3 Solicita-se calcular as dimensões (seção S e comprimento l) do imã. (Despreze a relutância das peças polares bem como os fluxos de fuga). Supondo que o imã funciona no máximo de BH , a conservação do fluxo é expressa por: sBSB eu onde se deduz a seção do imã: 2 u e cm667,13x 9,0 5,0 sx B B S A equação de “reta de desmagnetização” é: H S s l L B o onde se deduz o comprimento L, sabendo m/e.A000.35 9,0 31500 B HB HH u uu u m10x56,4 10x5,3x10x3x10x4 10x667,1x10x4x9,0 Hs SlB L 2 447 43 uo u 32 cm6,7Vcm667,1Scm56,4L 2.9.3 Dados numéricos Os materiais utilizados para fabricar imãs permanentes são geralmente aços duros (isto é, com alto teor de carbono), contendo porcentagem variável de Titâneo Ti, Cobalto Co, Níquel Ni, Alumínio Al, e por isso chamados de TICONAL ou ALNICO. Utiliza-se também ferrites duros, interessante porque são isolantes. O quadro abaixo fornece, para 3 materiais duros, os valores numéricos da indução remanescente Br, do Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 31 campo remanente Hc, do máximo do produto da energia maxuu HB , com seus correspondentes valores de indução e do campo Bu e Hu. Tipo de imã Br ( T ) cH (A.e/m) Bu ( T ) maxuu HB (J/m 3 ) uH (A.e/m) ALNICO 5% Cobalto 0,85 45.000 0,7 19.000 27.000 TICONAL E 1,1 56.000 0,9 31.500 35.000 TICONAL G 1,3 50.000 1,05 45.000 43.000 Os imãs permanentes são utilizados em muitos aparelhos industriais, associados a seus circuitos de utilização: tem-se um imã em aço duro A, de forma simples, cujo fluxo é canalizado por um aço mole B, o qual foi dada à forma adequada, e este produz uma indução no entreferro C. A figura 2.28 mostra um tipo de imã utilizado em alto-falante, onde o entreferro é anular e a indução radial. A C B N S Figura 2.28 – Imã de alto-falante. A figura 2.29 mostra um tipo de imã utilizado nos telefones, cuja forma circular é imposta devido a limitações de espaço. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 32 Figura 2.29 – Imã de telefone. 2.10 CIRCUITOS ACOPLADOS LINEARMENTE. DIVERSAS INDUTÂNCIAS 2.10.1 Definições De modo geral, podemos considerar todas as máquinas elétricas como circuitos “acoplados móveis”, isto é, um conjunto de bobinas percorridas por correntes (indutor e induzido), tendo um circuito magnético comum, e cuja geometria pode variar. É necessário então, definir de forma precisa, as “indutâncias” destes diversos circuitos. De fato, no caso onde a geometria da máquina não é variável, as indutâncias podem eventualmente variar em função do valor das correntes (por causa do fenômeno de saturação, veja parágrafo 1.7.3), e, no caso onde a geometria da máquina é variável, estas indutâncias variam não somente em função do valor das correntes mais também, em função da posição da armadura ou do rotor (na realidade são estas variações que produzem o acoplamento ou a força eletromagnética, neste caso (ver parágrafo 1.5.1)). As definições dadas nesse parágrafo dizem respeito a circuitos acoplados linearmente, isto quer dizer que os fluxos são proporcionais as correntes (curvas de magnetização F semelhantes a retas). Consideremos dois circuitos elétricos, acoplados de forma qualquer (figura 2.30) tendo respectivamente n1 e n2 espiras, percorridas por correntes i1 e i2, e chamemos de 1 e 2 os fluxos produzidos por estes circuitos. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 33 circuito magnético qualquer + -+ - 1n 1i 2i 1f 2f 2n 2m 1m Figura 2.30 – Representação geral de 2 circuitos acoplados. O fluxo 1 é constituído, em geral, de uma parte m1 que atravessa o circuito 2, e de uma parte f1 que não atravessa o circuito 2 (na figura 2.30, este fluxo f1 é representado como o fluxo de flui no ar, mas ele pode igualmente representar um fluxo que atravessa uma outra parte do circuito magnético, mas sem atravessar o circuito 2: ver exemplo do parágrafo 2.12.3). Acontece o mesmo para o fluxo 2 produzido pelo circuito 2. Tem-se então: 2f2m2 1f1m1 [2-36] podemos ver que o “fluxo mútuo” definido como o fluxo comum que atravessa ao mesmo tempo os dois circuitos vale: 2m1mm [2-37] Igualmente podemos ver que os fluxos que atravessam respectivamente os circuitos são constituídos dos fluxos produzidos por ele mesmo 1 ou 2, e de uma parte do fluxo produzido pelo outro circuito, m2 ou m1. Designando-se estes fluxos totais por 1t e 2t, tem-se: 1m2t2 2m1t1 [2-38] ou ainda, considerando a definição anterior do “fluxo mútuo” m: m2ft2 m1ft1 [2-39] Observação: Os sinais ( + ) que aparecem nas relações [2-37], [2-38] e [2-39] correspondem às polaridades de corrente e ao sentido dos enrolamentos da figura 2.30. Seria necessário colocar um sinal ( - ) caso fosse invertido o sentido da corrente i2 ou o sentido dos enrolamentos do circuito 2. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 34 2.10.2 As oito indutâncias de dois circuitos acoplados Para os dois circuitos acoplados, se defini as oito indutâncias seguintes, em função do fluxo definido anteriormente: Indutância de magnetização do circuito 1 1 1m 11 i nT [2-40] Indutância de magnetização do circuito 2 2 2m 22 i nT Indutância de “fuga” do circuito 1 1 1f 11 i nl [2-41] Indutância de “fuga” do circuito 2 2 2f 22 i nl Indutância “própria” do circuito 1 1 1 11 i nL [2-42] Indutância “própria” do circuito 2 2 2 22 i nL Indutância “mútua” do circuito 1 2 2m 11 i nM [2-43] Indutância “mútua” do circuito 2 1 1m 22 i nM Estas definições são um pouco arbitrárias, pois supomos que os fluxos são proporcionais as correntes, o que não é sempre verdadeiro para os fluxos de “fuga”, o que ocorre unicamente na zona linear da curva de magnetização, para o fluxo de magnetização. Da mesma forma que para um único circuito (ver parágrafo 1.7.2) as indutâncias próprias, são relacionadas às indutânciasde fuga e de magnetização pelas seguintes relações: 222 111 TlL TlL [2-44] Na relação [2-43], não é imediatamente evidente que as indutâncias mútuas M1 e M2 são iguais, assim como poderíamos prever a partir da fórmula de Neumann [1-41]. Podemos fazer o seguinte raciocínio simples: qualquer que seja o circuito ele apresenta a cada instante uma relutância m na passagem do fluxo comum m. Aplicando o Teorema de Ampère ao campo H1 que seria criado pela corrente i1 sozinha, supondo que a corrente i2 seja nula (m2 = 0): 1mmm111 lHin Da mesma forma, se aplicarmos o Teorema de Ampère com (i1 = 0) tem-se: 2mmm222 lHin Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 35 deduz-se a partir das relações de definições [2-43]: m 21 2 2m1 1 nn i n M e m 12 1 1m2 2 nn i n M As duas indutâncias mútuas M1 e M2, são iguais: designando seu valor comum por M: M1 = M2 = M [2-45] 2.10.3 Relações entre indutâncias e a razão do número de espiras Algumas vezes é útil, em particular, para transformadores e motores de indução, expressar as indutâncias de fuga e magnetização em função da indutância mútua M e da razão entre os números de espiras dos circuitos acoplados. Temos como efeito: 2 1 n n a [2-46] Obtêm-se, a partir das relações [2-40] e [2-45]: MaM n n i nT 2 2 1 1 1m 11 a M M n n i nT 1 1 2 2 2m 22 a M T MaT 2 1 [2-47] Fazendo o quociente e o produto dessas duas relações obtém-se: 2 2 1 a T T [2-48] 21TTM [2-49] Podemos igualmente expressar as duas indutâncias de fuga numa outra forma, por meio das indutâncias próprias: Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 36 De acordo com as relações [2-44]: L1 = l1 + T1 = l1 + aM L2 = l2 + T2 = l2 + M/a a M Ll aMLl 22 11 [2-50] EXEMPLO: Conhecem-se as duas indutâncias de fuga e a indutância mútua de dois circuitos acoplados numa carcaça magnética com n1 = 500 espiras e n2 = 50 espiras: l1 = 6 H l2 = 0,03 H M = 12 H Calcular as indutâncias próprias L1 e L2 dos circuitos, e as indutâncias de magnetização T1 e T2. De acordo com [2-44]: T1 = 120 H T2 = 1,2 H De acordo com [2-41]: L1 = 126 H L2 = 1,23 H 2.11 COEFICIENTE DE ACOPLAMENTO E DE DISPERSÃO Quando dois circuitos são acoplados, é útil definir dois coeficientes k e , denominados de “coeficiente de acoplamento” e “coeficiente de dispersão” que caracterizam as trocas mútuas de fluxo entre os circuitos. De fato, se não há fugas, o fluxo mútuo m seria igual à soma dos fluxos produzidos 1 + 2, e pode ser interessante saber de quanto nos afastamos do caso ideal. Assim, foi definido, para cada circuito, as percentagens úteis dos fluxos por meio dos “coeficientes de fuga”(ver [1-45]): 2 2 2 2m 2 1 1 1 1m 1 L T k L T k O “coeficiente de acoplamento” k, é definido como a média geométrica dos coeficientes de fuga de cada circuito: 21 2 21 21 21 2 LL M LL TT kkk [2-51] Vejamos que expressando a indutância mútua M, por meio da indutância própria L1 e L2 e de seu coeficiente k, temos: Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 37 21LLkM [2-52] O coeficiente de acoplamento excelente para um transformador (da ordem de 0,95), é bastante superior do que para um motor de indução (da ordem de 0,60). O “coeficiente de dispersão” é definido pela seguinte relação: 2k1 [2-53] Podemos expressá-lo em função das 2 indutâncias próprias e da indutância mútua: 21 2 21 LL MLL [2-54] Quando o acoplamento entre os dois circuitos é perfeito, tem-se: 0 1k 2.12 EXEMPLO DE ACOPLAMENTO 2.12.1 Duas bobinas em série Consideramos (figura 2.31) duas bobinas percorridas pela mesma corrente i, supondo que o acoplamento seja perfeito (k =1, sem fluxo de fuga). B (a) A i 1L 2L B (b) A i 1L 2L Figura 2.31 – Duas bobinas em série. Se L1 e L2 são as indutâncias próprias de cada bobina, a indutância equivalente às duas bobinas entre A e B, depende da forma de conexão das mesmas. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 38 Caso cada fluxo mútuo seja adicionado ao fluxo próprio de cada bobina (caso mostrado em a, figura 2.31), tem-se, com k =1: 22121AB LLM2LLL [2-55] Caso cada fluxo mútuo se subtraia do fluxo próprio de cada bobina (caso b, figura 2.31), tem-se: 22121AB LLM2LLL [2-56] Pode-se, em particular, zerar a indutância de um bobinamento tal como na figura 2.31b, tomando o mesmo número de espiras para as duas bobinas (L1 = L2). 2.12.2 Acoplamento por “dispersão” Consideramos dois circuitos bobinados de resistência desprezível, de indutância próprias e mútua L1, L2 e M, cujo um é alimentado por uma fonte alternada (circuito 1, figura 2.32) e cujo outro está em curto-circuito (circuito 2, figura 2.32). curto circuito 1L 2L 1i 2iM e Figura 2.32 – Acoplamento por “dispersão”. Caso o circuito 2 esteja suficientemente afastado do circuito 1, não há influência mútua e a Lei de Faraday se escreve simplesmente para o circuito 1: dt di Le 11 Colocando agora o circuito 2 em curto-circuito próximo ao circuito 1, ocorrerá uma troca de fluxo entre os dois circuitos, e uma corrente induzida i2 circulará no circuito 2. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 39 As Leis de Faraday se escreverão da seguinte forma, designando por M a indutância mútua: dt di M dt di L0 dt di M dt di Le 12 2 21 1 Calculamos então, a indutância equivalente do circuito 1. Eliminando i2 entre as duas equações precedentes obtêm-se: dt di L MLL e 1 2 2 21 introduzindo o coeficiente de dispersão dos dois circuitos (ver [2-54]): dt di Le 11 esta equação mostra que o efeito da presença do circuito 2 sobre o circuito 1 é de modificar sua indutância própria L1 para transformá-la em 1L . Esta indutância 1L chama-se “indutância de dispersão”. 2 2 21 1disp L MLL LL [2-57] Ela tem um papel importante na teoria dos motores de indução com o rotor em curto-circuito (é ela que intervém na expressão do acoplamento eletromagnético). 2.12.3 Acoplamento em um circuito magnético qualquer Dois circuitos elétricos podem estar acoplados em uma carcaça magnética qualquer, por exemplo, sobre esta que está desenhada na figura 2.33, comportando três ramos. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 40 15 cm + - - + 500n1 2000n2 1i 2i 30 cm 2cm4seção 30 cm A B Figura 2.33 – Acoplamento em um circuito com 3 ramos. Podemos teoricamente calcular diretamente as “indutâncias” dos circuitos, pois estes são, de fato, parâmetros geométricos relacionados às “relutâncias” das diversas partes do circuito magnético(ver [1-36]). A título de exemplo, supondo que o circuito magnético da figura 2.33 seja de permeabilidade constante r = 2000, que os números de espiras sejam respectivamente n1 = 500 e n2 = 2000 e que as fugas de fluxo no ar sejam desprezíveis (entretanto, todo o fluxo produzido pelo circuito 1 não atravessa o circuito 2, pois uma parte chamada f1 deste fluxo passa no ramo central). Pede-se calcular as indutâncias próprias e mútuas L1, L2 e M e os coeficientes de acoplamento e de dispersão. As dimensões sendo dadas se pode calcular diretamente as relutâncias dos ramos da direita e da esquerda: Wb/e.A10x3 10x4x10x4x10x2 3,0 S l 5 473 ro 21 e a relutância do ramo central: Wb/e.A10x5,1 2 51 c O circuito equivalente de Hopkinson é desenhado como na figura 2.34, com notações que correspondem aquelas do parágrafo 2.10.1 e 2.10.2. Podemos ver que para calcular os diferentes fluxos é preciso isolar as fontes. Suprimindo n2i2, por exemplo, obtêm-se o circuito equivalente desenhado na figura 2.35, cujas equações são: + - 1 C A B 22in 11in 12 2m1 1m2 2f1f + - 1 C A B 11in 1 1m 1f 1 Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 41 Figura 2.34 – Circuito análogo geral. Figura 2.35 – Circuito análogo com somente uma fonte. 1m11fc 1m11fc11fc1111in Deduz-se: c 2 1 1 11 1m 1c 11 1f 2 in 2 in Obtêm-se então, de acordo com as fórmulas de definições [2-40] e [2-41]: H208,0 10x12 10x25 2 n i nT H416,0 10x6 10x25 2 n i nl 5 4 c 2 1 1 2 1 1 1m 11 5 4 1c 2 1 1 1f 11 De acordo com a fórmula de definição [2-43] da indutância mútua M2 (igual à M), ou ainda de acordo com a relação [2-47]: H832,0 n n xT i nM 1 2 1 1 1m 22 Pode-se calcular da mesma forma as indutâncias do circuito 2, suprimindo a fonte n1i1, no circuito de Hopkinson: )overificaçã(H832,0M H34,3T H67,6l 1 2 2 Os valores solicitados são, de acordo com [2-44]: H832,0M H01,10LH624,0L 21 Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 42 O coeficiente de acoplamento vale: H333,0 24,6 832,0 LL M k 21 e o coeficiente de dispersão vale: 889,0k1 2 O acoplamento assim realizado não é naturalmente muito bom, por causa do ramo central no qual passa uma parte importante dos fluxos. 2.12.4 Amplificador magnético Utiliza-se algumas vezes carcaças magnéticas com três ramos (tal como aqueles da figura 2.33) como núcleo em alguns tipos de “amplificadores magnéticos”. Podemos explorar então, o fato de que a permeabilidade r pode variar em um grande intervalo de acordo com a f.m.m. de excitação, passando da zona não saturada onde r é praticamente constante e muito grande a zona de saturação onde r pode ser da ordem de 10 a 100 vezes mais fraco (figura 1.7). O núcleo do amplificador magnético suporta dois enrolamentos (figura 2.36): Figura 2.36 – Amplificador magnético. 1. Um “circuito de potência” percorrido por uma corrente alternada i1, alimentada por uma fonte alternada v1, comportando a metade de suas espiras n1/2 no ramo da esquerda e a outra metade n1/2 no ramo da direita, bobinado de tal sorte que os fluxos alternativos 1/2 sejam a cada instante direcionados no mesmo sentido ao longo da carcaça. Circuito de controle Circuito de potência v1 i1 i1 i2 Z Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 43 2. Um “circuito de controle” percorrido por uma corrente contínua i2, que podemos ajustar através de um reostato R, e cujas espiras n2 estão no ramo central. Podemos variar a potência consumida nas cargas Z do circuito de potência ajustando o reostato do circuito de controle. Constata-se, de fato que: a) Os dois circuitos estão totalmente desacoplados: nenhum fluxo alternativo 1 devido a corrente i1 passa no ramo central (pois, qualquer que seja a alternância a diferença do potencial magnético entre A e B é nula, se as relutâncias dos ramos da direita e da esquerda são iguais). Não há, por consequência, nenhuma f.e.m. induzida no circuito de controle. b) O fluxo 2 devido à corrente contínua i2 se divide em duas partes iguais ao longo dos ramos da direita e da esquerda, e saturam mais ou menos o núcleo. A indutância dinâmica L1 do circuito de potência (alternada) varia de acordo com o estado de saturação. A figura 2.35 mostra as variações do fluxo alternado 1, superposto ao fluxo contínuo 2, para dois valores n2i2 de excitação da corrente de controle: - Quando o núcleo não está saturado (f.m.m. n2i2 fraca, ponto a da figura 2.37), a indutância L1 tem um valor grande e a corrente i1 tem um valor pequeno (em valor eficaz 2 1 22 1 1 LZ v I ) - Quando o núcleo está saturado (f.m.m. n2i2 é grande, ponto b da figura 2.37), a indutância L1 é praticamente nula e a corrente i1 tem um valor que depende somente de Z (em valor eficaz Z V I 11 ). Tudo se passa como se o núcleo não exista mais. Conversão de Energia I – Parte II Prof. Dr. Rubem Cesar Rodrigues Souza 44 2.37 – Fluxo no núcleo. A figura 2.38 evidencia como varia a corrente i1 no circuito de potência em função da f.m.m. de controle. Mostramos que, na prática industrial, os amplificadores magnéticos não são utilizados exatamente como está descrito aqui. Neles se acrescenta outros circuitos destinados a melhorar seu desempenho (circuito de “feed-back” para a potência e circuito de polarização para a “linearidade”). min max 1i 2i2n Figura 2.38 – Variação da corrente i1 em função da f.m.m. de controle.
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