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Departamento de Direito MONITORAMENTO DAS POLÍTICAS DE JUSTIÇA TRANSICIONAL E A LUTA PELA MEMÓRIA PÚBLICA SOBRE A DITADURA MILITAR NO GOVERNO BOLSONARO Aluno: Pedro Levy da Cunha Orientador: José María Gomez Introdução A Justiça de transição são os processos normativos, intervenção de instituições internacionais e políticas aplicadas pelo estado após a transição de um regime autoritário para uma democracia (ou um conflito armado para um período de paz). Essas medidas possuem o fim de buscar a memória, verdade, justiça, reparação e não repetição das violações de direitos humanos cometidas durante o regime autoritário (ou conflito interno). No caso brasileiro, o Estado Democrático de Direito se inicia com a proclamação da Constituição de 1988,e, uma ano depois, seu teste pratico com as primeiras eleições democráticas, entretanto, a diferença de outros países vizinhos, o processo de transição política (caracterizado, pelo elevado continuado político das elites do antigo regime e tutela militar ostensiva e, ao mesmo tempo que, por baixo, desencadeava-se uma diversificada dinâmica democratizadora da sociedade civil) não foi acompanhado de um processo de justiça de transição. Ao contrário, este último surgirá tardia, lenta e trucada (por causa do bloqueio da justiça, em função da lei de anistia de 1979) a meados da década de 1990, centrado em uma política discreta de reparação de perseguidos políticos da ditadura militar e implementado por meio de duas comissões especificas: a Comissão Especial de Morto e Desaparecidos Políticos (1995) e a Comissão de anistia (2001). Tanto é assim que só se assistira avanços mais significativos em matéria de reparação, verdade e memória entre os anos de 2007 e 2014, alcançando seu ponto culminante com a instauração e funcionamento da Comissão Nacional da Verdade entre os anos de 2012 e 2014, cabe salienta, no entanto, que desde o final de o primeiro governo de Dilma Rousseff, a justiça transicional sofreu estagnação, seguida de desmonte, durante o governo de Michel Temer, até chegar ao ápice de um política de uma política sistemática de destruição com a posse de Jair Bolsonaro para a presidência da república. A atual pesquisa busca monitorar as destruições, ataques e retrocessos da justiça de transição dentro do governo de Jair Bolsonaro recolhendo declarações, gestos e medidas do atual governo que apontassem ataques contra essa política, além de celebrações do golpe e da ditadura e inédita participações de militares em cargos civis entro do governo. Metodologia Departamento de Direito A pesquisa, iniciada em 2019 teve como metodologia elegida a coleta de notícias nas versões online de jornais de grande circulação dentro do país como a Folha de São Paulo, o Globo e o Estadão, além de jornais mundiais em suas versões brasileiras, como o El País e a BBC. Nessas versões online foram escolhidas palavras- chaves como “ditadura” e “militares” para realizarem um filtro de notícias nas ferramentas de busca de cada site, chegando assim a um primeiro resultado bruto com um universo de milhares de notícias. Após a leitura das manchetes, as notícias que se enquadravam no escopo de análise de (i) papel das forças armadas na democracia no Brasil; (ii) exaltação do golpe militar; (iii) exaltação das violações de direitos humanos; (iv) exaltação das ditaduras, em modo geral; e (v) desmontes da Justiça de Transição foram lidas em sua completude e destacadas para uma planilha de Excel com a data da notícia, veículo de onde foi coletada e um pequeno resumo do que foi noticiado. No total, 66 notícias foram postas na planilha de Excel Resultados O ano de 2019, primeiro ano do atual governo, foi o mais movimentado em relação aos ataques à justiça de transição, com isso a maior parte dos dados coletados é referente a esse ano. Já nos anos 2020 e 2021 há menos informações coletadas, essa queda provavelmente está relacionada com a pandemia do coronavírus e o foco nacional no combate ao vírus. Entretanto, os ataques e retrocessos vistos nos anos de 2020 e 2021 são significativos. É importante para compreender o biênio 2020-2021 um breve resumo das medidas, gestos e declarações contra a justiça de transição ocorridas no ano de 2019. Em fevereiro, Bolsonaro elogiou o ex-ditador paraguaio Stroessner em uma visita oficial ao país vizinho “porque do outro lado havia um homem com visão, um estadista que sabia perfeitamente que seu país, o Paraguai, só poderia continuar progredindo se tivesse energia” em elogio ao ditador paraguaio Alfredo Stroessner 1. No dia 27 de março foi publicada a portaria n° 376, que modificou o regimento interno da Comissão de Anistia. A comissão passou a ter um mínimo de 9 integrantes (antes eram 20), o número de representantes do Ministério da Defesa e dos anistiados aumentou e os conselheiros individualmente puderam elaborar pareceres conclusivos (antes só tinham poder de realizar votos e a turma, que foi extinta, elaborava o parecer). As decisões da Comissão passaram a serem enviadas para análise e decisão final da ministra Damares Alves, inclusive das decisões já realizadas pela comissão e que estavam em fase recursal2. No dia 29 de julho, Bolsonaro declarou que "Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele" 3. O mês de agosto, começa com a exoneração de 4 dos 7 membros da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos. Um decreto substituiu a presidenta da Comissão, juntos com 1 <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/02/26/internacional/1551213499_127441.html> Aceso em: 20/10/2019 2 <https://brenocosta.substack.com/p/brasil-real-oficial-011> Acesso em 23/11/2019 3 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/07/se-presidente-da-oab-quiser-saber-como-pai-dele- desapareceu-na-ditadura-eu-conto-diz-bolsonaro.shtml> Acesso em: 13/11/2019 Departamento de Direito alguns membros muito vinculados às vítimas da ditadura. A reestruturação ocorreu após os membros da comissão criticarem as declarações de Bolsonaro sobre o presidente da OAB. A Comissão passou a atender os interesses do governo Bolsonaro. Em setembro, o presidente ofendeu a memória do pai da ex-presidente chilena Michele Bachelet "Senhora Michele Bachelet, se não fosse o pessoal do [Augusto] Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba.” Em outra declaração marcada pelo revisionismo4. Após o breve relato dos ocorridos em 2019, o ano de 2020 começa com o então Ministro da Educação, Abraham Weintraub, que justificou a ausência de questões sobre a ditadura no ENEM do ano anterior afirmando que o tema é “controverso”, foi a primeira vez desde 2009 que nenhuma questão que abordasse a ditadura esteve presente no exame5. No mês seguinte, o Presidente da República ironizou os pedidos de anistia, ao sair do Palácio da Alvorada. Bolsonaro declarou que "Isso é papo. A maioria é tudo cascata para ganhar indenização” demonstrando desprezo pela reparação de anistiados políticos e utilizando a retórica de que as indenizações se enquadravam como corrupção6. No final do mês, Bolsonaro ainda compartilho com amigos um vídeo convocando a população para uma manifestação antidemocrática que ocorreria nos dias subsequentes7. Já em março do mesmo ano, ocorreram mais ataques à justiça de transição por razão do aniversário do golpe de 1964. Bolsonaro comemora o golpe com seus simpatizantes8 e faz um discurso revisionista em sua conta de Facebook "A verdade: o Marechal foi eleito de acordo com a Constituição e não houve golpe em 31 de março"9. O Ministério da Defesa expediu a ordem do dia de 31 de março com a seguinte mensagem revisionista "o movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira (...) As instituições se moveram para sustentar a democracia, diante de pressõesde grupos que lutavam pelo poder. As instabilidades recrudesciam e se disseminavam sem controle (...) A sociedade brasileira, os empresários e a imprensa entenderam as ameaças daquele momento, se aliaram e reagiram"10 Em abril, no dia nacional do exército, o chefe do poder executivo discursou em frente ao quartel-general do exército para uma manifestação que exigia uma 4 <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/04/politica/1567617364_180672.html> Acesso em: 15/11/2019 5 < https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/01/weintraub-defende-ausencia-de-ditadura-no-enem- e-diz-que-tema-nao-e-pacificado.shtml?origin=uol > Acesso: 03/03/2021 6 <https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-encontra-ex-soldado-do-regime-militar-critica-pedidos-de- anistia-cascata-para-indenizacao-24279115> Acesso em: Acesso em: 05/06/2021 7 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/02/ato-com-grupos-autoritarios-e-incentivado-por- deputados-bolsonaristas-e-gera-repudio.shtml> Acesso em: 05/06/2021 8 <https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-se-refere-ao-aniversario-do-golpe-militar-de- 1964-como-grande-dia-da-liberdade,70003254693> Acesso em: 03/07/2021 9 <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/03/31/bolsonaro-volta-a-negar-que-nao- houve-golpe-militar-em-1964.htm> Acesso em: 03/08/2020 10 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/golpe-de-64-e-marco-para-a-democracia-brasileira-diz- defesa.shtml> Acesso em: 03/08/2021 https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/01/weintraub-defende-ausencia-de-ditadura-no-enem-e-diz-que-tema-nao-e-pacificado.shtml?origin=uol https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/01/weintraub-defende-ausencia-de-ditadura-no-enem-e-diz-que-tema-nao-e-pacificado.shtml?origin=uol Departamento de Direito intervenção militar e fechamento de instituições democráticas como Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal11. No mês posterior, Bolsonaro recebeu no Planalto o tenente-coronel reformado do exército Sebastião Curió, ex-agente da ditadura responsável por graves violações de direitos humanos no período, principalmente na guerrilha do Araguaia12. Ainda em maio, o presidente apoiou novamente atos antidemocráticos que estavam ocorrendo no país "Tenho certeza de uma coisa, nós temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia, e pela liberdade. E o mais importante, temos Deus conosco (...) Peço a Deus que não tenhamos problemas essa semana. Chegamos no limite, não tem mais conversa, daqui pra frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição, ela será cumprida a qualquer preço, e ela tem dupla mão"13. Poucas semanas depois, após um imbróglio sobre o possível confisco do celular de Bolsonaro, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Heleno, ameaçou o Supremo Tribunal Federal ao afirmar que "O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os Poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional"14 Em junho, o Presidente homenageou Médici no lançamento de um plano econômico15. No mês seguinte, Bolsonaro fez uma visita à Bagé (RS) cidade natal do ex-ditador e foi recebido no antigo carro do militar16. No mês seguinte, a então secretária de cultura Regina Duarte minimizou os desaparecidos políticos da ditadura militar afirmando que "Cara, desculpa, na humanidade não para de morrer gente. Se você falar de vida do lado tem morte (...) não quero arrastar um cemitério de mortos nas minhas costas, sou leve, to viva, estamos vivos. Vamos ficar vivos. Por que olhar para trás? Não vive quem fica arrastando cordéis de caixões"17 Já no feriado do Dia da Independência, o chefe do poder executivo fez um discurso oficial marcado pelo revisionismo histórico da ditadura, o discurso foi veiculado em rádio e televisão "Nos anos 60, quando a sombra do comunismo nos ameaçou, milhões de brasileiros, identificados com os anseios nacionais de preservação 11 https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/04/19/bolsonaro-discursa-em-manifestacao-em-brasilia- que-defendeu-intervencao-militar.ghtml 12 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/bolsonaro-recebe-no-planalto-militar-responsavel- por-repressao-a-guerrilha-do-araguaia-na-ditadura.shtml 13 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/ato-pro-bolsonaro-em-brasilia-tem-carreata-e- xingamentos-a-moro-stf-e-congresso.shtml 14 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/general-heleno-fala-em-consequencias-imprevisiveis- se-celular-de-bolsonaro-for-apreendido.shtml 15 https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/06/bolsonaro-faz-homenagem-a-medici-ao-anunciar- r-236-bi-no-plano-safra-2020-2021.shtml 16 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/07/tem-medo-do-que-enfrenta-diz-bolsonaro-sobre- mortes-pelo-coronavirus.shtml 17 https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/05/regina-duarte-da-chilique-ao-vivo-na-tv-ao-ouvir- criticas-a-sua-gestao.shtml Departamento de Direito das instituições democráticas, foram às ruas contra um país tomado pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada. (...) Vencemos ontem, estamos vencendo hoje e venceremos sempre"18. Poucos dias depois o Vice-Presidente Mourão elogiou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra afirmando que "O que posso dizer sobre o homem Carlos Alberto Brilhante Ustra, ele foi meu comandante no final dos anos 70 do século passado, e era um homem de honra e um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados. Então, muitas das coisas que as pessoas falam dele, eu posso te contar, porque eu tinha uma amizade muito próxima com esse homem, isso não é verdade."19 No último mês de 2020, Bolsonaro foi entrevistado para o canal de seu filho no Youtube e elogiou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra e seu livro. Na entrevista o Presidente afirma que "(O livro) narra fatos, como os presos... não era preso político, não... terroristas eram tratados no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo, tratados com toda a dignidade, inclusive as presas grávidas. (...) Não tem como fugir disso aqui, como nós nos livramos do comunismo naquele momento, não tem que se envergonhar disso, é história com H, não é historinha contada pela esquerda, deveria ser leitura obrigatória, pessoas que queiram saber da verdade, o que foi aquele período pré-64 e um pouquinho depois do 64 também"20. No final do mesmo mês, Jair Bolsonaro ironizou as torturas sofridas por Dilma Rousseff na ditadura militar afirmando "Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio X"21. Já no 18° dia de 2021, o Presidente declarou: "Por que sucatearam as Forças Armadas ao longo de 20 anos? Porque nós, militares, somos o último obstáculo para o socialismo. Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não apoiam"22. No mês seguinte, Bolsonaro participou da entrega de centenas de títulos de terras de famílias remanejadas para a construção da base espacial de Alcântara. Nesse evento o Presidente elogiou a ditadura afirmando que "Isso aqui nasceu em 1983, mais uma das grandes obras dos cinco presidentes militares que tivemos no Brasil. Grandes 18 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/09/em-pronunciamento-na-tv-bolsonaro-diz-defender- democracia-mas-celebra-golpe-de-1964.shtml> Acesso em: 07/03/2021 19 <https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/10/governo-bolsonaro-lidou-muito-bem-com-a- pandemia-diz-mourao.shtml> Acesso em:07/03/2021 20 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/12/ditadura-tratou-presos-com-dignidade-afirma-bolsonaro-em-video.shtml> Acesso em: 14/03/2021 21 <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/12/28/bolsonaro-diz-que- aguarda-raio-x-de-dilma-apos-tortura-durante-ditadura.htm> Acesso em: 14/03/2021 22 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/01/quem-decide-se-um-povo-vai-viver-democracia-ou- ditadura-sao-as-forcas-armadas-diz-bolsonaro.shtml> Acesso em 21/03/2021 Departamento de Direito obras ao longo de 21 anos, onde vivi um regime de... Um pouco diferente do que vivemos hoje, mas com muita responsabilidade com o futuro do país"23. No dia seguinte, Eduardo Bolsonaro (filho de Jair) comentou sobre o veto de captação de recursos via Lei Rouanet do Instituto Vladimir Herzog. O deputado afirmou que "Se fossem dar Rouanet para um Instituto de nome Brilhante Ustra diria é ideologização e etc. O governo é técnico, ponto. Aplica a lei"24. Ainda nesse mês, Bolsonaro deu uma declaração de ameaça à democracia. “Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim não seria este o regime que nós estaríamos vivendo. E, apesar de tudo, eu represento a democracia no Brasil. Nunca a imprensa teve um tratamento tão leal e cortês como o meu. Se é que alguns acham que não é desta maneira é porque não estão acostumados a ouvir a verdade (...) nós vivemos em um país livre, esta liberdade vale mais que a própria vida para cada um de nós. Tenho certeza que, junto às Forças Armadas e as demais instituições do governo, tudo faremos para cumprir a nossa Constituição para fazer com que a nossa democracia funcione e a nossa liberdade esteja acima de tudo"25. Ainda nesse mês, o General Villas Boas elogiou alguns torturadores da ditadura “Encontrei excelentes instrutores, como o capitão Bizerril e o tenente Garlipp, respectivamente, meus comandantes de companhia e de pelotão”26. Em março, uma reportagem da Folha de São Paulo revelou que o número de militares em cargos de direção de empresas estatais foi multiplicado por 10 no atual governo27. Nesse mês, diversos ativistas foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional por críticas ao governo28. Já no final do mesmo mês, o General Braga Neto reafirmou seu revisionismo comemorando "O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março (...) a Marinha, o Exército e a Força Aérea acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a Pátria, garantir os Poderes constitucionais, e seguros de que a harmonia e o equilíbrio entre esses Poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso país (...) As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País, enfrentando os desgastes para 23 <https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pouco-diferente-de-hoje-diz-bolsonaro-sobre- ditadura-militar,70003613860> Acesso em 12/06/2021 24 <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/02/eduardo-bolsonaro-compara- ustra-a-herzog-e-diz-que-veto-a-instituto-e-tecnico.shtml> Acesso em 13/04/2021 25 <https://oglobo.globo.com/brasil/se-tudo-depender-de-mim-nao-seria-este-regime-diz-bolsonaro- 24891463> Acesso em 21/06/2021 26 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/02/general-villas-boas-se-refere-a-coronel-acusado-de- crimes-na-ditadura-como-excelente-instrutor.shtml> Acesso em: 21/06/2021 27 <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/03/bolsonaro-multiplica-por-10-numero-de- militares-no-comando-de-estatais.shtml> Acesso em 26/06/2021 28 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/delegado-intima-felipe-neto-a-depor-por-chamar- bolsonaro-de-genocida.shtml> Acesso em: 26/06/2021 e <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/03/quatro-ativistas-que-protestavam- contra-bolsonaro-sao-detidos-na-pf-em-brasilia-diz-deputado.shtml > Acesso em 26/06/2021 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/delegado-intima-felipe-neto-a-depor-por-chamar-bolsonaro-de-genocida.shtml https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/delegado-intima-felipe-neto-a-depor-por-chamar-bolsonaro-de-genocida.shtml https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/03/quatro-ativistas-que-protestavam-contra-bolsonaro-sao-detidos-na-pf-em-brasilia-diz-deputado.shtml https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/03/quatro-ativistas-que-protestavam-contra-bolsonaro-sao-detidos-na-pf-em-brasilia-diz-deputado.shtml Departamento de Direito reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos"29. Nesse mesmo período ocorreu a maior crise militar dos últimos 40 anos, quando os comandantes do exército, marinha e aeronáutica pediram demissão em protesto contra Bolsonaro30. Em junho, o presidente elogiou figuras da ditadura militar, como o ex- presidente Castello Branco "Uma pessoa que nos orgulha. Nós temos heróis no Brasil, sim. Como temos os Febianos, ex-combatentes. Temos Alysson Paulinelli na Agricultura. Também Castelo Branco, na Zona Franca de Manaus. A garantia desse mar verde devemos em grande parte a esse presidente, marechal Castelo Branco"31. No dia seguinte, O Globo relatou a alteração no código militar, via decreto, que permitiu que militares da ativa ocupassem cargos públicos por tempo indeterminado32. Em junho, após o Presidente da CPI da pandemia criticar os militares que participaram do caso de propina na compra de vacina, os comandantes militares e o Ministro da Defesa publicaram uma nota em tom de ameaça "[...} Por fim, as Forças Armadas do Brasil, ciosas de se constituírem fator essencial da estabilidade do País, pautam-se pela fiel observância da Lei e, acima de tudo, pelo equilíbrio, ponderação e comprometidas, desde o início da pandemia Covid-19, em preservar e salvar vidas. As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro"33. Já em agosto, no mesmo dia em que ocorreu uma votação no Congresso Nacional sobre o voto impresso, proposta defendida extensivamente pelo governo, tanques militares rondaram Brasília em um suposto ato de convite para a Operação Formosa34. Para além da planilha no Excel, também foram realizadas algumas parcerias. Uma dessas parceiras com o Coletivo Memória Verdade e Justiça RJ, importante entidade da sociedade civil na luta, em que foi construído o relatório “Cruzando a Linha” que expôs as referências que o atual governo fez sobre o golpe de 1964. Esse relatório está disponível para ser baixado além de uma versão reduzida no Instagram do Coletivo. A partir da aprovação do Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio (NDH) no edital da relatoria de justiça de transição da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a presente pesquisa foi incorporada aos trabalhos do NDH. Assim, desde 2020 foram realizadas reuniões semanais com professores vinculados ao NDH, como 29 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/como-ministro-da-defesa-braga-netto-assina-nota- chamando-golpe-de-64-de-parte-da-trajetoria-historica-do-brasil.shtml> Acesso em: 03/07/2021 30 <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/comandantes-das-forcas-armadas-pedem- demissao-em-protesto-contra-bolsonaro.shtml> Acesso em 03/07/2021 31 <https://oglobo.globo.com/economia/bolsonaro-classifica-ex-integrantes-da-ditadura-militar-como- herois-ao-lancar-programa-de-credito-rural-1-25072378> Acesso em: 05/08/2021 32 <https://oglobo.globo.com/brasil/decreto-de-bolsonaro-permite-que-militares-da-ativa-ocupem- cargos-publicos-por-tempo-indeterminado-1-25073978> Acesso em 20/08/2021 33 <https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/07/07/ministro-da-defesa-e-militares-repudiam-fala- de-presidente-da-cpi-da-covid.ghtml> Acesso em 20/08/2021 34 <https://oglobo.globo.com/politica/em-dia-de-votacao-de-pec-sobre-voto-impresso-bolsonaro-vai- participar-de-desfile-de-blindados-no-planalto-25147857> Acesso em: 20/08/2021 Departamento de DireitoCarolina de Campos Melo, Fernanda Pradal, Andrea Schiettini e José María Gomez, além de importantes pesquisadores e militantes de outras instituições a exemplo de Teresa Labruine, Carla Osmo, Eneá de Stutz e Almeida e Vera Vital Brasil. Em outubro será finalizado tal parceria com o envio do trabalho para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Objetivos O Objetivo da pesquisa PIBIC é analisar o negacionismo com os crimes de lesa humanidade, o revisionismo histórico e o apagamento oficial da memória pública sobre a ditadura militar brasileira que vêm sendo realizado desde a posse de Jair Bolsonaro. Além da produção de um material acadêmico que trate desse desmonte da justiça de transição, que vem ocorrendo nos últimos anos no Brasil, e assim, escancarar o deliberado apagamento das políticas de justiça de transição por parte do atual governo.