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Apostila Civil III

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Civil III – Profº Fernando Fraga
 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
1.1 Conceito e gênese
1.2 Condições de validade dos contratos
1.3 Princípios fundamentais do direito contratual
Procedimentos de ensino
1.1. Conceito e gênese
 Conceito
- Orlando Gomes: negócio jurídico bilateral, ou plurilateral, que sujeita as partes à observância de conduta idônea à satisfação dos interesses que a regulam. (Contratos. 17.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. p. 10)
- Roberto Senise Lisboa: trata-se do ajuste de vontades por meio do qual são constituídos, modificados ou extintos os direitos que uma das pessoas tem, muitas vezes, em benefício de outra. (Manual de Direito civil. Vol. 3. 3.ed. São Paulo: RT, 2005. p. 41)
- Código Civil Italiano, art. 1.321. il contrato è l’acoordo di due ou più parti per costituire, regolare ou estinguere tra loro um rapporto giuridico patrimoniale. (o contrato é um acordo de duas partes ou mais, para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica patrimonial).
* O Código Civil Brasileiro não estabelece uma definição de contrato.
 
Estrutura do contrato
- Partes (bipolaridade da relação contratual: alteridade e composição de interesses).
Obs: art. 117, CC/2002: autocontrato.
 
- Objeto    - imediato (operação)
                 - mediato (bens jurídicos – materiais ou imateriais)
Teorias sobre a natureza jurídica do contrato
Objetivas:
- teoria normativa (Hans Kelsen): acordo de vontades que possui a função criadora do direito.
- teoria preceptiva (Oscar von Bülow): as cláusulas contratuais têm natureza de preceito jurídico.
 
Subjetivas:
- voluntarista (Savigny): a vontade é o fundamento dos contratos.
- declarativa (Sailleles): a vontade declarada por ambas as partes é o fundamento dos contratos.
 
A teoria que prevalece na doutrina é a teoria declarativa.
 
Evolução histórica
No Direito Romano o contrato era instituto solene. Distinguia-se a convenção (conventio) do pacto (pacta) e do contrato (contracto). O compromisso abrangia a mancipatio, a nexum e astipulatio. A obrigação de dar, fazer ou não fazer estabelecida na forma do compromisso assumia a denominação de contracto ou pacta vestia. A punição para o inadimplemento contratual acarretava responsabilidade patrimonial e corporal (a responsabilidade corporal foi abolida com a Lex Poetelia Papiria, de 326 a.C.).
 
Jusnaturalismo e Direito Canônico: princípio da fé jurada. Transformação da concepção de contrato – liberdade das formas. Prestígio ao consensualismo.
 
1804: Código Napoleão (Código Civil Francês). Liberalismo, igualdade formal e patrimonialismo. Contratos paritários. O código civil francês inspirou toda uma geração de códigos denominados oitocentistas.
 
Revolução Industrial: início da fase da despersonalização da obrigação. Contratos de adesão. Hipossuficiência x igualdade formal.
 
Dirigismo contratual (liberdade positiva e liberdade negativa). Publicização das relações de direito privado. A constitucionalização do direito civil e sua implicação nas relações contratuais. Cláusulas contratuais gerais. Justiça distributiva. O princípio da socialidade.
 
1.2. Condições de validade dos contratos
Os contratos, enquanto negócios jurídicos que são, desdobram-se em três planos distintos, conforme estudado em Direito Civil I: existência, validade e eficácia. (Sugere-se que aqui o professor faça uma breve revisão sobre os pressupostos de existência, requisitos de validade e fatores eficaciais).
 
Quanto à validade, os contratos seguem os mesmos requisitos do art. 104, CC:
- agente livre e capaz;
Consentimento, no sentido que passamos a analisar, significa a declaração de vontade de cada parte no contrato. O consentimento pressupõe declaração de vontade isenta de vícios (erro, dolo, coação) e esclarecida. Fala-se, então, em consentimento esclarecido, isto é, o declarante deve receber todas as informações relevantes a respeito do objeto e do conteúdo do contrato a ser celebrado, para que possa manifestar sua vontade com consciência.
 
O consentimento representa o acordo de duas ou mais vontades a respeito de uma relação jurídica sobre determinado objeto. O consentimento, para ser válido, deve recair sobre a existência e a natureza do contrato, o objeto e as cláusulas que o compõem.
 
- objeto lícito, possível e determinável;
O conteúdo do contrato por vezes é denominado de objeto do contrato. Seria a regulamentação dos próprios interesses pelos contratantes. É o conteúdo que possui caráter normativo hábil para criar, modificar ou extinguir relações jurídicas.
 
- forma adequada.
Em regra, a forma no direito contratual é livre (princípio do consensualismo). O estudo das espécies contratuais revelará a forma que cada contrato deve/pode assumir.
 
A forma representa a exteriorização do acordo de vontades. É o modo pelo qual o conteúdo do contrato é exteriorizado. A forma cumpre três funções: torna certa e isenta de dúvidas a manifestação de vontade; demonstra a existência de uma declaração de vontade apta a produzir efeitos jurídicos; e, por último, protege a boa-fé de terceiros.
 
 
Importante pontuar que a validade do contrato é determinada no momento de sua celebração, o que se faz relevante em contratos de trato sucessivo que foram aperfeiçoados durante a vigência do Código de 1916 e ainda produzem efeitos sob a égide do Código de 2002. Nesse caso, a validade será apurada conforme as regras do CC/16, mas os efeitos que ainda produzem deverão ser adequados ao CC/02, consoante esclarece o art. 2035,caput, CC:
 
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.
 
1.3 Princípios fundamentais do direito contratual
 
a) Liberdade de contratar. Autonomia da vontade. Pacta sunt servanda.
 
Autonomia da vontade x autonomia privada.
 
Em um primeiro momento, a liberdade de contratar está relacionada com a escolha da pessoa ou das pessoas com quem o negócio será celebrado, sendo uma liberdade plena, em regra (...) Em outro plano, a autonomia da pessoa pode estar relacionada com o conteúdo do negócio jurídico, ponto em que residem limitações ainda maiores à liberdade da pessoa humana. Trata-se, portanto, da liberdade contratual. (TARTUCE, Flávio. Direito civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. São Paulo: Método, 2006. p. 70).
 
Divergência doutrinária:  - autonomia privada (liberdade contratual) ≠ autonomia da vontade (liberdade contratual).
                                            - autonomia privada = autonomia da vontade
                                            - autonomia da vontade superada pela autonomia privada
 
 
A autonomia privada é o poder que os particulares têm de regular, pelo exercício de sua própria vontade, as relações que participam, estabelecendo-lhe o conteúdo e a respectiva disciplina jurídica. Sinônimo de autonomia da vontade para grande parte da doutrina contemporânea, com ela porém não se confunde, existindo entre ambas sensível diferença. A expressão autonomia da vontade tem uma conotação subjetiva, psicológica, enquanto a autonomia privada marca o poder da vontade no direito de um modo objetivo, concreto e real.(AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 5.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 348).
 
Pacta sunt servanda: princípio da força obrigatória dos contratos. No modelo induvidualista-liberal típico dos códigos oitocentistas, esse princípio era tomado como absoluto. No entanto, na concepção atual do direito civil, à luz dos preceitos constitucionais vigentes e dos próprios princípios consagrados pelo CC/2002, tal princípio foi relativizadocom vistas à melhor proteção da dignidade humana.
 
b) Liberdade de forma
 
No direito civil brasileiro vigora o princípio da liberdade das formas (princípio do consensualismo), através do qual é possível que o contrato seja celebrado pela simples manifestação da vontade. Os efeitos jurídicos do contrato serão gerados independentemente da forma pela qual a vontade se manifestou, a menos que a lei tenha estipulado forma específica (contratos formais). Logo, os contratos sem forma determinada pela lei são regra na legislação civil pátria.
 
c) Função econômica e social do contrato.
 
Referências legislativas: art. 421 e 2035, CC/2002.
 
Art. 421. A liberdade de contratar deve ser exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
 
Orlando Gomes: A função econômico-social do contrato foi reconhecida, ultimamente, como a razão determinante de sua proteção jurídica. Sustenta-se que o Direito intervém, tutelando determinado contrato, devido à sua função econômico-social. Em conseqüência, os contratos que regulam interesses sem utilidade social, fúteis ou improdutivos não merecem proteção jurídica. Merecem-na apenas os que têm função econômico-social reconhecidamente útil. (Contratos. 17.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. p. 20)
 
Gustavo Tepedino: Tal como observado em relação à propriedade, em que a estrutura interna do direito é remodelada de acordo com sua função social, concretamente definida, e que se constitui em pressuposto de validade do exercício do próprio domínio, também o contrato, uma vez funcionalizado, se transforma em um instrumento de realização do projeto constitucional. (...) Disto decorre que a norma do art. 421 não pode ser compreendida apenas como uma restrição ocasional à liberdade contratual – como se o direito subjetivo de contratar fosse, em si mesmo, essencialmente absoluto, embora sujeito a restrições externas – mas, antes, o próprio conceito de contrato deve ser reformulado à luz da função social que lhe é cometida. (Código civil interpretado: à luz da constituição federal. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 10)
 
De uma forma ampla, a inserção do princípio da função social do contrato no Código de 2002 está relacionada à revolução copernicana do direito privado. Por outro lado, tal princípio é exigência de uma das diretrizes estruturantes do CC/2002, qual seja, o princípio da socialidade. Traduz a ruptura com o regime individualista da codificação civil anterior e a consagração de um regime com um comprometimento social, inspirado em preceitos constitucionais como a justiça social, a solidariedade social, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e a redução das desigualdades sociais como preceitos de ordem constitucional.
 
O princípio da função social do contrato está contido em uma cláusula geral que se revela vinculante, sobretudo do ponto de vista axiológico, pois permite sejam permeados valores constitucionais a orientar a autonomia contratual. Impõe deveres referentes a interesses extracontratuais socialmente relevantes.
 
Enunciado n° 21, I Jornada de Direito Civil: A função social do contrato, prevista no CC 421, constitui cláusula geral, a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito.
 
Enunciado n° 22, I Jornada de Direito Civil: A função social do contrato, prevista no CC 421, constitui cláusula geral, que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas.
 
Enunciado n° 23, I Jornada de Direito Civil: A função social do contrato, prevista no CC 421, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.
 
Críticas à letra do art. 421. Sugestão de alteração: a liberdade contratual será exercida noslimites da função social do contrato.
 
O Código Civil, art. 2.035, p. único, atribui à função social caráter de norma cogente:
 
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.
 
O parágrafo único do art. 2.035, CC/2002 consagra o chamado princípio da retroatividade motivada ou justificada, elevando a função social do contrato ao patamar de norma deordem pública e, por isso, é aplicável não apenas aos contratos celebrados a partir da vigência do código de 2002, mas também aos contratos celebrados ainda sob a égide do CC/1916 cuja execução se projetou para depois do CC/2002. O princípio da retoratividade motivada é um princípio anexo ao princípio da função social do contrato.
 
d) principio da probidade e boa-fé contratual.
 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
 
O princípio da boa-fé objetiva também está contido em uma cláusula geral e, como tal, se revela vinculante, sobretudo do ponto de vista axiológico, pois permite sejam permeados valores constitucionais a orientar a autonomia contratual. Impõe deveres referentes a interesses extracontratuais socialmente relevantes.
 
Enunciado n° 27, I Jornada de Direito Civil: Na interpretação da cláusula geral da boa-fé objetiva, deve-se levar em conta o sistema do CC e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos.
 
Boa-fé subjetiva x boa-fé objetiva. Princípios da eticidade e da socialidade. Tutela da confiança.
 
A boa-fé objetiva pode ser compreendida como a exigência de conduta leal, proba, dos contratantes, tomada a partir de um enfoque social. Há ínsita relação da boa-fé objetiva com os deveres de conduta (deveres anexos, deveres secundários, deveres laterais), eis que a boa-fé objetiva:
 
Obriga as partes a terem comportamento compatível com os fins econômicos e sociais pretendidos objetivamente pela operação negocial. No âmbito contratual, portanto, o princípio da boa-fé impõe um padrão de conduta a ambos os contratantes no sentido da recíproca cooperação, com consideração aos interesses comuns, em vista de se alcançar o efeito prático que justifica a própria existência do contrato. (Código civil interpretado: à luz da constituição federal. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 16)
 
Judith Martins-Costa (A boa-fé no Direito privado: sistema e tópica no processo obrigacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999) exemplifica os deveres anexos:
- dever de cuidado e respeito em relação ao outro contratante;
- dever de segurança;
- dever de prestação de contas;
- dever de omissão de segredo;
- dever de esclarecimento de informação;
- dever de agir dentro da confiança;
- dever de lealdade e probidade;
- dever de colaboração (cooperação);
- dever de ser razoável e agir com bom senso e eqüidade.
 
Violação positiva do contrato: violação dos deveres de conduta. A violação positiva do contrato, embora não prevista expressamente na legislação civil brasileira, decorre da boa-fé objetiva como fonte de deveres de conduta (análise da obrigação como uma relação jurídica complexa), e vem sendo aceita pela doutrina pátria, conforme entendimento consolidado na I Jornada de Direito Civil:
 
Enunciado n° 24, I Jornada de Direito Civil: Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no CC 422, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.
 
Menezes Cordeiro atenta para o fato de a violação positivade contrato atualmente também estar relacionada ao cumprimento imperfeito do contrato.
 
Extensão do princípio: envolve toda a conclusão do contrato, incluindo, assim, as fases pré-contratual (culpa in contrahendo) e pós-contratual (culpa post factum finitum).
 
Enunciado n° 25, I Jornada de Direito Civil: O CC 422 não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual.
 
Enunciado n° 26, I Jornada de Direito Civil: A cláusula geral contida no CC 422 impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento legal dos contratantes.
 
Funções da boa-fé objetiva: a doutrina aponta que a boa-fé objetiva apresenta função tríplice, a saber:
 
- função interpretativa (boa-fé enquanto cânone interpretativo-integrativo): as relações jurídicas decorrentes do contrato devem ser interpretadas à luz da boa-fé. Tal mandamento se direciona tanto às partes envolvidas no contrato quanto ao magistrado. A função interpretativa está contida no art. 113, CC.
 
- função criadora de deveres jurídicos (boa-fé enquanto norma criadora de deveres jurídicos): a boa-fé objetiva é fonte dos deveres de conduta (deveres anexos, deveres secundários, deveres laterais). Nesse sentido, v. Clóvis Couto e Silva (A Obrigação como Processo)
 
- função de controle (boa-fé enquanto norma de limitação ao exercício de direitos subjetivos): a boa-fé objetiva, combinada com a disciplina jurídica do abuso de direito (art. 187, CC/2002) para considerar ilícitos os atos atentatórios à boa-fé objetiva e, por isso, proibir sua execução (Menezes Cordeiro: exercício inadmissível de direitos subjetivos). Ex: teoria dos atos próprios (venire contra factum proprium, tu quoque, supressio, surrectio  e duty to mitigate the loss).
 
Obs: Há autores (e.g. Cláudia Lima Marques) que visualizam a equivalência material dos contratos como outra função autônoma da boa-fé objetiva.
 
e) outros princípios importantes: dignidade da pessoa humana; relatividade dos efeitos contratuais; equilíbrio contratual; atipicidade (art. 425, CC/2002).
Interpretação e Formação dos Contratos 
1.4. Interpretação dos contratos
A operação interpretativa pressupõe  controvérsia instaurada e não resolvida entre os contratantes a respeito do conteúdo do contrato, no momento de sua execução.
 
A controvérsia sobre o sentido exato e a respectiva extensão e intensidade dos efeitos do conteúdo do contrato decorre da utilização de palavras ou frases confusas, obscuras ou dotadas de significado ambíguo.
 
Instaurada a controvérsia, paralisam-se os efeitos do contrato e, consequentemente, a sua execução, cabendo ao Poder Judiciário dirimir a controvérsia, declarando com força vinculativa para as partes o sentido da palavra, frase ou cláusula controversa.
 
Espécies.
A interpretação contratual é dita declaratória quando tem como único escopo a descoberta da intenção comum dos contratantes no momento da celebração do contrato. É chamada de integrativa ou construtiva quando objetiva o aproveitamento do contrato, mediante o suprimento das lacunas e pontos omissos deixados pelas partes.
 
A integração contratual preenche, pois, eventuais lacunas encontradas nos contratos, complementando-os por meio de normas supletivas, especialmente as que dizem respeito à sua função social, ao princípio da boa-fé, aos usos e costumes do local, bem como buscando encontrar a verdadeira intenção das partes, às vezes revelada nas entrelinhas.
 
Seria, portanto, um modo de aplicação do direito pelo qual o órgão jurisdicional, mediante o recurso à lei, à analogia, aos costumes, aos princípios gerais do direito ou à equidade, cria norma supletiva, que completará, então, o contrato, que é uma norma jurídica individual.
 
Princípios básicos
Nos contratos e demais negócios escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) conduz, em regra, à descoberta da intenção dos pactuantes. Parte-se, portanto, da declaração escrita para se chegar à vontade dos contratantes (interpretação subjetiva), alvo principal da operação.
 
Quando determinada cláusula mostra-se obscura e passível de dúvida, alegando um dos contratantes que não representa com fidelidade a vontade manifestada na celebração da avença, e tal alegação resta demonstrada, deve prevalecer a declaração em detrimento da literalidade do texto, pois, nos termos do art. 112 do CC/2002, nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
 
Dois princípios hão de ser observados sempre na interpretação dos contratos: o da boa-fé (art. 113, já estudado na semana anterior) e o da conservação do contrato. 
 
Segundo o princípio da conservação ou aproveitamento do contrato, entende-se que se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que possa produzir algum efeito, pois não se deve supor que os contratantes tenham celebrado um contrato carecedor de qualquer utilidade.
 
Esse princípio informa a denominada conversão substancial do negócio jurídico. Assim, p.ex., se as partes celebraram um pretenso contrato de compra e venda de imóvel sem atenção às formalidades exigidas por lei, pode-se considerar o negócio como uma promessa de compra e venda, que não exige forma solene, para se aproveitar a vontade das partes.
 
Ainda segundo o Código Civil, art. 114, os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. São aqueles negócios que envolvem uma liberalidade, como na doação. Devem ter interpretação estrita, pois representam renúncia de direitos.
 
Regras esparsas no código civil. Súmulas.
 
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva.
Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.
Art. 1.899. Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.
 
STF, Súmula 454. Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar a recurso extraordinário.
STJ, Súmula 181. É admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto a exata interpretação de clausula contratual.
 
Critérios práticos para interpretação dos contratos
(Maria Helena Diniz – Tratado teórico e prático dos contratos)
 
* a melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo como vinham executando o contrato, de comum acordo;
* deve-se interpretar o contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o devedor;
* as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em conjunto com as demais;
* qualquer obscuridade é imputada a quem redigiu a estipulação, pois, podendo ser claro, não o foi;
* na cláusula suscetível de dois significados, interpretar-se-á em atenção ao que pode ser exeqüível (princípio da conservação do contrato);
* em relação aos termos do contrato, considerar-se-á que, por mais genéricos que sejam, só abrangem os bens sobre os quais os interessados contratarem e não os de que não cogitaram;
* nas cláusulas duvidosas, prevalecerá o entendimento de que se deve favorecer quem se obriga;
* nos contratos gratuitos, a interpretação deve proceder-se no sentido de fazê-lo o menos pesado possível para o devedor; nos onerosos, deve-se buscar interpretar de modo a alcançar um equilíbrio eqüitativo entre os interesses das partes;
* na dúvida entre a gratuidade e a onerosidade do contrato, presumir-se-á esta e não aquela;
* nas convenções que tiverem por objeto uma universalidade de coisas, compreendem-senela todos os bens particulares que a compõem, mesmo aqueles de que os contraentes não tiverem conhecimento;
* no contrato de locação que apresentar dúvidas, resolver-se-á contra o locador;
* no contrato seguido de outro, que o modifica parcialmente, a interpretação deverá considerar ambos como um todo orgânico.
 
Unidade 2 - A FORMAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
 
2.1 A formação dos contratos
Fases da formação do contrato:
 
1. negociações preliminares (puntuação): nesta fase ocorrem as tratativas para a celebração do contrato. Não há vínculo jurídico entre os negociantes, portanto, a não conclusão do contrato não gera responsabilidade civil contratual. Na fase de puntuação pode ser elaborada minuta contratual.
 
A fase negociatória, por definição, destina-se apenas a conversações tendentes à eventualconclusão de um contrato e à definição de seu conteúdo, conversações que recebem nas línguas italiana, francesa e alemã os nomes de trattative, pouparlers e Verhandugen, respectivamente.(TELLES, Inocêncio Galvão. Manual dos contratos em geral. 4.ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2002. p. 203)
 
Obs: a responsabilidade civil pré-contratual, fundada na culpa in contrahendo (ilegítima frustração de um contrato esperado), é excepcional, cabendo diante da hipótese de violação da boa-fé objetiva. A doutrina diverge se é hipótese de responsabilidade aquiliana ou de uma outra espécie de responsabilidade civil, situada em um meio termo entre a responsabilidade contratual e a extracontratual..
 
Na verdade, há uma responsabilidade pré-contratual, que dá certa relevância jurídica aos acordos preparatórios, fundada no princípio de que os interessados na celebração de um contrato deverão comportar-se de boa-fé e nos arts. 186 e 927 do Código Civil que dispõe que todo aquele que, por ação ou omissão, culposa ou dolosa, causar prejuízo ao outrem fica obrigado a reparar o dano.(DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. vol. 3. São Paulo: Saraiva. 2002. p. 46)
 
Em alguns sistemas de Direito positivo, a responsabilidade civil extracontratual está expressa na codificação, a exemplo do Código Civil Português, que em seu art. 227, n° 1, assim dispõe: quem negoceia com outrem para a conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente causar à outra parte.
 
2. Policitação (proposta ou oblação): fase em que é feita a oferta por parte do proponente para que o solicitado emita seu consentimento. A proposta é uma declaração unilateral de vontade receptícia, estando sujeita à aceitação da outra parte para que produza seus efeitos.
 
Vontade contratual: vontade formada a partir da convergência dos interesses das partes negociante, após o consentimento do oblato sobre a proposta do proponente.
Sujeitos da proposta:  -   proponente, policitante ou solicitante: aquele que faz a oferta.
 - solicitado, policitado ou oblato: aquele para quem a proposta é direcionada.
 
 
Requisitos da proposta:   - séria
                                         - completa
                                         - clara
                                         - dirigida à pessoa a quem se destina
 
 
A proposta pode ser feita:
A) Quanto à presença dos contratantes    - entre presentes (inter praesentes)
                                                                  - entre ausentes (inter absentes)
 
O critério utilizado pela lei é o da presença jurídica e não o da presença física, como se extrai do art. 428, I, CC, que considera presente a pessoa que utiliza telefone ou meio de comunicação semelhante para contratar. Assim é que presentes são aqueles em que a aceitação pode ser feita imediatamente à proposta. Se o oblato precisar de prazo para aceitar, a proposta será considerada entre ausentes.
 
Os contratos eletrônicos podem ser tanto entre presentes quanto entre ausentes:
 
Nessa linha de raciocínio, poderemos considerar, mutatis mutandis, entre presentes, o contrato celebrado eletronicamente em um chat (salas virtuais de comunicação), haja vista que as partes envolvidas mantêm contato direto entre si quando de sua formação, e, por outro lado, entre ausentes, aquele formado por meio de envio de mensagem eletrônica (e-mail), pois, nesse caso, medeia um lapso entre a emissão da oferta e a resposta. (GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: contratos. Tomo I. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 89).
B) Quanto à validade:    - com prazo
                                    - sem prazo           
 
 
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
 
Princípio da vinculação ou da obrigatoriedade da proposta: a proposta feita pelo policitante é obrigatória. Tal princípio, contudo, comporta exceções, previstas na segunda parte do art. 427 e no art. 428, ambos do Código Civil/2002.
 
Em assim sendo, o princípio da vinculação será afastado nas seguintes hipóteses:
a) quando na proposta estiver facultado ao policitante o direito de retratação. Esta hipótesenão é admitida nos contratos de consumo.
b) quando for da natureza da proposta ou quando as circunstâncias do caso assim determinarem. Obscuridade da legislação.
c) se a retratação chegar antes ou ao mesmo tempo que a proposta.
d) nas propostas entre presentes feitas sem prazo, quando o oblato não aceita imediatamente (contratos com declaração consecutiva).
e) nas propostas entre ausentes, quando há tempo razoável (prazo moral) para a chegada da resposta do oblato (contratos com declaração intervalada).
f) quando a proposta é feita com prazo (proposta entre ausentes) e a aceitação não é expedida em tempo hábil.
 
Oferta ao público
 
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário não resultar das circunstâncias ou dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.
 
Oferta x proposta.
 
Contraproposta: considerada uma nova proposta, havendo, pois inversão da polaridade da relação inicial (o policitante passa a ser policitado e vice-versa).
 
A discussão ou a modificação do conteúdo da proposta pelo policitado importa em nova proposta, desvinculando-se o policitante do conteúdo anterior. A alteração dos termos da proposta pode se dar: por acréscimo (adição) ou por restrição (LISBOA, Roberto Senise.Manual de direito civil: contratos e declarações unilaterais – teoria geral e espécies. 3.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 217)
 
3) Fase de Conclusão do Contrato
 
Aceitação – momento da formação do contrato
 
A aceitação faz com que a vontade contratual seja formada, fazendo com que o contrato seja concluído (eficácia da aceitação). O Código Civil adota, regra geral, a teoria da agnição (ou declaração), na modalidade expedição. É dizer, o contrato é formado no momento em que a vontade é expedida, independente do conhecimento imediato do policitante.
 
A adoção da teoria da agnição na modalidade expedição não é absoluta. Há hipóteses em que o Código Civil não reconhece a formação do vínculo contratual somente com a expedição da proposta (proposta entre ausentes), abraçando a teoria da agnição na modalidade recepção:
 
a) quando a retratação do oblato chegar antes da aceitação ou junto com esta. Nesse caso, a aceitação é considerada inexistente (art. 433, CC/2002).
b) quando o policitante tiver firmado compromisso de aguardar a resposta, fixando como o momento da conclusão o instante do recebimento da resposta.
c) quando a proposta não chegar no prazo convencionado.
 
Aceitação tácita: art. 432, CC/2002. Teoria dosilêncio circunstanciado.
 
É evidente, porém, que não têm qualquer respaldo legal as disposições incluídas em algumas propostas no sentido de que o silêncio do destinatário importará na formação do contrato. (TEPEDINO, Gustavo (org). Código civil interpretado: conforme a Constituição Federal. Vol. 2. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 48).
 
Aceitação tardia: a aceitação tardia, quando feita com adições, restrições ou modificações, importará em nova proposta (art. 431, CC/2002). No entanto, quando a aceitação é recebida fora do prazo por motivos imprevisíveis, o policitante deverá imediatamente informar o oblato, sob pena de responsabilizar-se por possíveis perdas e danos (art. 430, CC/02 – aplicação da teoria do duty the mitigate the loss).
 
Obs: nos contratos reais, o momento de formação do contrato é o da tradição da coisa.
 
Lugar da formação do contrato: em conformidade com o art. 435, CC/2002, o contrato se forma no lugar em que foi feita a proposta.
A FORMAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS (continuação)
2.2 Classificação dos contratos
2.3 Estipulação em favor de terceiros
2.4 Da promessa de fato de terceiro
Procedimentos de ensino
2.2. Classificação dos contratos
A. Contratos de Direito Comum e de Consumo
Quanto à qualidade dos sujeitos contratantes, os contratos podem ser:
 
a) Contratos de direito comum: são regulados pelo direito civil. São considerados contratos paritários, em decorrência do princípio da igualdade formal que informa o direito civil.
 
b) Contratos de consumo: são contratos cuja polarização se dá entre consumidor e fornecedor. Os contratos de consumo são regulados pelas normas do Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90).
O CDC, em seus arts. 2° e 3°, assim define consumidor e fornecedor:
 
Art. 2°. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
 
 
Assim, sempre que restar caracterizada relação de consumo (fornecimento de produto e/ou serviço a um consumidor), o contrato será de consumo e, por isso, reger-se-á pelas regras consubstanciadas no CDC.
 
B. Contratos Consensuais e Contratos Reais
Quanto ao momento do aperfeiçoamento do contrato, os contratos podem ser:
 
a) Contratos consensuais: são aqueles que se aperfeiçoam simplesmente pela declaração da vontade dos contratantes. Ex: contrato de compra e venda.
 
b) Contratos reais: são aqueles que, para se aperfeiçoarem, precisam da efetiva entrega da coisa (traditio rei). A declaração de vontade é elemento necessário, porém insuficiente, devendo ocorrer a entrega do bem para que o contrato seja celebrado. Ex: contrato de mútuo.
 
Obs: aperfeiçoamento é diferente de cumprimento.
 
C. Contratos Solenes
Quanto à forma, os contratos podem ser:
 
a) Solenes: aqueles cuja forma é determinada pela lei. Ex: compra e venda de imóvel cujo valor é supere em trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país (art. 108, CC/2002).
 
Insta observar que a desobediência à forma prevista em lei gera invalidade do negócio jurídico.
 
b) Não solenes: aqueles em que não há forma especial para sua celebração, seguindo, pois, o princípio da liberdade das formas (princípio do consensualismo). Ex: contrato de mandato.
 
Obs: parte da doutrina diferencia o contrato solene do contrato formal. Segundo esta linha de pensamento, os contratos solenes são aqueles em que há exigência de escritura pública para a sua celebração, como o contrato de compra e venda de imóvel cujo valor é supere em trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país. Por outro lado, os contratos formais são aqueles em que há regras especiais para sua formação, como a exigência de forma escrita. Neste sentido, Silvio Venosa.
 
 
D. Contratos Típicos e Atípicos
Quanto à tipicidade, os contratos podem ser:
 
a) Típicos: regulamentados por lei. Ex: contrato de transporte.
 
b) Atípicos: não regulamentados por lei. Ex: contratos eletrônicos.
 
Há parte da doutrina que não identifica como sinônimas as expressões típico e nominado, admitindo hipóteses de contratos nominados e atípicos, como p.ex. o contrato de locação de garagem ou estacionamento, previsto no art. 1°, parágrafo único, da Lei n° 8.245/90 (Lei de Locação).
 
E. Contratos de Direito Público e de Direito Privado
 
Contratos de Direito Público: são os contratos em que a Administração Pública figura em um dos pólos. São regidos pelas normas de direito público e, subsidiariamente, por normas de direito privado, no que não lhe for incompatível. Ex: contratos administrativos, contratos de gestão.
 
Contratos de Direito Privado: travados entre particulares e regidos pelas normas de direito privado. Os contratos de direito privado podem ser de direito comum, mercantis ou de consumo.
 
F. Contratos Bilaterais e Unilaterais
Quanto às obrigações recíprocas, os contratos podem ser:
 
a) unilaterais: impõem deveres a apenas uma das partes. Ex: contrato de doação.
Obs: atentar para os chamados contratos bilaterais imperfeitos.
 
b) bilaterais: impõem deveres recíprocos a ambas as partes. São chamados de contratos sinalagmáticos. Ex: contrato de locação.
 
c) plurilaterais (contratos plúrimos): há direitos e deveres recíprocos entre todos os sujeitos envolvidos no contrato. Ex: contrato de sociedade.
 
G. Contratos Onerosos e Gratuitos
 
Quanto ao sacrifício patrimonial das partes, o contrato pode ser:
 
a) Gratuito ou benéfico: é aquele em que só há sacrifício de uma das partes. Há uma prestação sem que haja uma contraprestação a ela correlata e proporcional. Ex: doação.
 
b) Oneroso: é aquele em que há sacrifício patrimonial de ambas as partes, de modo que inexiste uma prestação e uma contraprestação a ela correlata e proporcional. Ex: troca.
 
Todo contrato bilateral é oneroso, mas nem todo contrato unilateral é gratuito. Ex: mútuo feneratício, que é unilateral, porém oneroso, pois há pagamento de juros.
 
 
H. Contratos Comutativos e Aleatórios
 
Os contratos onerosos podem ser a) comutativos, quando ambas as partes sabem com exatidão suas prestações e contraprestações, e b) aleatórios, quando há a presença do risco (álea), que pode recair tanto na própria existência da coisa (contrato aleatório emptio spei – de coisa esperada), quanto na quantidade da coisa (contrato aleatório emptio rei speratae).
 
I. Contratos Principais e Acessórios
Quanto às relações recíprocas, os contratos podem ser:
 
a) Principais: são independentes, existindo por si só. Ex: contrato de compra e venda.
 
b) Acessórios: são aqueles que guardam uma relação de dependência com outro contrato, existindo em função dele. Ex: contrato de fiança, que é acessório a um contrato de mútuo.
 
Aplicação do princípio da gravitação jurídica.
 
Obs: contratos coligados. Os contratos coligados constituem situação intermediária entre os contratos principais e acessórios, pois se tratam de dois contratos principais por natureza, mas que, por vontade das partes, estão unidos por um nexo funcional. Ex: A compra de um terreno com imóvel para moradia (contrato principal) e a compra de outro terreno, vizinho, para área de lazer (contrato secundário).
 
O STJ tem entendido que, em sede de contratos coligados, o inadimplemento do contrato principal não enseja, necessariamente, a resolução do contrato secundário, como ocorreria se fosse contrato acessório,em consonância com o princípio da gravitação jurídica.
 
 
J. Contratos de Execução Imediata e de Execução Sucessiva
Quanto ao momento de seu cumprimento, os contratos podem ser:
 
a) de execução imediata (instantâneos): aqueles cujo vencimento ocorre concomitantemente com o aperfeiçoamento do contrato.
 
b) de execução diferida: são contratos a termo, que deverão ser adimplidos em sua totalidade na data do vencimento ajustada.
 
c) de execução continuada (execução sucessiva ou trato sucessivo): aqueles cuja execução se dará de forma periódica.
 
K. Contratos de adesão
Referências legislativas no Código Civil: arts. 423 e 424. Não há correspondência com o Código de 1916.
 
Características gerais
 
Conceito – art. 54, CDC: Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
 
O Código Civil não conceitua o contrato de adesão.
 
O contrato de adesão não é uma espécie contratual propriamente dita, pois nele podem conter diversas modalidades obrigacionais. É um método de contratação (MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. p. 58) cuja forma de aceitação de um dos contratantes se dá com a simples adesão a um conteúdo pré-estabelecido pelo outro contratante.
 
Os contratos de massa suprimem as negociações prévias, cabendo ao aderente aceitar ou recusar em bloco o regulamento contratual que lhe é apresentado. O traço essencial que os singulariza não é tanto a diferença econômica entre as partes, mas o poder de estabelecer unilateralmente as cláusulas que farão parte do instrumento contratual. (AMARAL JUNIOR, Alberto. Proteção do consumidor no contrato de compra e venda. p. 115)
 
Sujeitos: - predisponente ou estipulante – detém o poder negocial.
               - aderente – aceita cláusulas pré-estabelecidas, sem poder de alterá-las.
Características: - predisposição
 - unilateralidade
                        - rigidez
 
Obs: generalidade e indeterminação como características secundárias.
 
Interpretação
 
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
 
Qualquer obscuridade na redação das cláusulas de um contrato por adesão volta-se ao estipulante: a interpretação lhe é contrária, prestigiando sempre o aderente, que não teve poder de negociação no ato de celebração do contrato. Proteção do aderente no plano da formação do contrato de adesão.
 
O art. 47, CDC, é mais amplo, pois estabelece que as cláusulas contratuais serão interpretadas sempre de maneira mais favorável ao consumidor, independente de obscuridade ou ambigüidade da cláusula.
 
Abusividade das cláusulas
 
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
 
Proteção do aderente no plano do conteúdo negocial. O estipulante, por ter o poder de estabelecer unilateralmente as cláusulas contratuais, não pode impor ao aderente renúncia antecipada de direito decorrente das características essenciais do negócio que está celebrando.
 
A jurisprudência brasileira tem levado à nulidade cláusulas que contrariem não só o conceito de natureza, mas ainda a finalidade econômica do contrato, principalmente quando tal renúncia atinja o cerne mesmo daquele pacto. A lógica de tais decisões não se limita às relações de consumo, ainda que este tenha sido o seu cenário original; afinal, como já visto, o art. 422 também prescreve a necessidade de se preservar a boa-fé objetiva no âmbito dos contratos paritários. (TEPEDINO, Gustavo (org). Código civil comentado: à luz da Constituição Federal. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 31.)
 
As cláusulas abusivas são nulas (nulidade absoluta); isso não significa, porém, que necessariamente haverá nulidade de todo o contrato.
 
2.3. Estipulação em favor de terceiros
 
Princípio da relatividade dos efeitos contratuais: os contratos geram efeitos apenas entre as partes, nos limites impostos pela lei e pelo exercício da autonomia privada.
 
A regra geral é, portanto, que os contratos produzem efeitos tão-somente aos contratantes, excluindo todos aqueles alheios à avença. No entanto, situações há em que os efeitos do contrato alcançarão terceiros, tornando-os interessados na relação contratual. Tais efeitos podem lhes ser benéficos ou prejudiciais.
 
Quando maléficos (contrato em prejuízo de terceiros), pode o terceiro interessado opor-se, por legitimação ordinária ou extraordinária, para resguardar seus direitos. Ex: evicção.
 
É possível, porém, que os efeitos sejam em benefício do terceiro interessado, situação em que há estipulação em favor de terceiro.
 
Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação.
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não inovar nos termos do art. 438.
 
Roberto Senise Lisboa: a estipulação em favor de terceiro é o negócio jurídico por meio do qual se ajusta uma vantagem pecuniária em prol da pessoa que não o celebra, mas se restringe a colher seus benefícios. (Manual de Direito civil: contratos e declarações unilaterais: teoria geral e espécies. Vol. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 251.)
 
A gratuidade da relação entre o estipulante e o terceiro interessado (beneficiário), bem como entre o beneficiário e o promitente é característica fundamental da estipulação em favor de terceiro, de modo que é inadmissível a exigência de contraprestação por parte do terceiro interessado para que possa este receber os benefícios pactuados. A gratuidade, no entanto, não obsta a aposição de encargo ao terceiro.
 
Compensação: como os efeitos contratuais recairão sobre terceiros, não pode haver compensação entre o promitente e o estipulante. Todavia, há que ser considerada a possibilidade de compensação entre promitente e beneficiário.
 
Legitimação: deve ser observado eventual impedimento de o benefício ser recebido pelo beneficiário diretamente do estipulante.
 
Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor.
 
O terceiro interessado pode aceitar ou recusar o benefício que recebe. Uma vez aceitando, deve se submeter às regras contratuais. Ao direito de exigir o cumprimento da obrigação estipulada, concorrem, regra geral, o estipulante e o beneficiário. Entretanto, pode o estipulante determinar que tal direito seja exclusivo do beneficiário – nessa circunstância, o estipulante não pode mais praticar qualquer ato que importe em perda ou diminuição do direito subjetivo do terceiro interessado em receber o benefício ajustado.
 
Há, pois, dois momentos na estipulação em favor de terceiro:
a)    Antes da aceitação do beneficiário. Nesta fase, o estipulante pode revogar a qualquer tempo o benefício.
b)    Depois da aceitação do beneficiário. Nesta fase, a estipulação torna-se irretratável, excetuando somente a situação descrita no art. 438.
 
Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, indepedentemente da sua anuência e da do outro contratante.
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.
 
A possibilidade de substituição revela o caráter dispositivo da irretratabilidade da estipulação. Todavia, a substituição deve ser expressa.
 
 2.4. Promessa de fato de terceiro
 
Art. 439. Aquele que tiver prometido fato deterceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar.
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens.
Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.
 
A promessa de fato de terceiro é fonte de uma obrigação de fazer, qual seja, fazer com que uma pessoa integre relação jurídica com outra. Em outras palavras, o devedor tem a obrigação de convencer que terceiro celebre negócio jurídico (facere) com o credor. O adimplemento dessa obrigação, portanto, ocorre com a formação da relação jurídica entre o terceiro e o credor (da relação originária), motivo pelo qual o devedor (aquele que prometeu fato de terceiro) não se compromete com o cumprimento do negócio celebrado com o terceiro.
A FORMAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS (continuação)
 2.5 Dos vícios redibitórios
2.6 Da evicção
Procedimentos de ensino	
2.5. Dos vícios redibitórios
São defeitos ocultos que tornam a coisa imprópria para o uso a que é destinada ou que, se fossem conhecidos, impediriam a realização do contrato.
 
Os vícios redibitórios autorizam o comprador a rejeitar a coisa recebida e redibir o contrato (ação redibitória) ou a pedir o abatimento do preço pago (ação estimatória ou quanti minoris), nos termos do art. 442 do CC/2002. As ações destinadas a combater os vícios redibitórios são também chamadas de ações edilícias (redibitória ou estimatória).
 
Os defeitos aparentes ou de fácil constatação não autorizam o comprador a rejeitar a coisa recebida e redibir o contrato, ou pedir o abatimento do preço pago. Exige-se do comprador a diligência do homem médio, um mínimo de cuidado ao comprar a coisa.
 
A proteção contra os vícios redibitórios aplica-se a todos os contratos comutativos ou onerosos, bem como às doações gravadas com encargos, pois estas se assemelham àqueles (CC, 441).
 
O prazo para a propositura da ação é curto. O adquirente deve propor a ação em trinta dias, em caso de bem móvel, ou em um ano, no caso de imóvel, a contar da data da entrega efetiva (CC, 445). Nos termos do § 1º do referido artigo, quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis. Importante esclarecer que o prazo para manejo das ações edilícias é decadencial.
 
A responsabilidade por vícios redibitórios independe de culpa ou má-fé do vendedor, de modo que o desconhecimento de tais vícios não o isenta de responsabilidade. Nesse caso, o alienante deve restituir o preço recebido e as despesas efetuadas pelo comprador na celebração do contrato (CC, 443).
 
Contudo, caso o vendedor conhecesse os defeitos ocultos, a sua responsabilidade aumenta, podendo vir a ser condenado a restituir o preço recebido e a indenizar eventuais perdas e danos experimentados pelo comprador (CC, 443).
 
Na sistemática do Código Civil revogado, era permitido ao vendedor incluir uma cláusula excluindo sua responsabilidade por vícios redibitórios (art. 1.101 do CC/1916), o que não foi repetido pelo novo Código. Assim, segundo parte da doutrina, a partir da vigência do Código Civil de 2002 deve ser considerada nula a cláusula que isente a responsabilidade por vício redibitório.
 
Nas relações de consumo, as regras do vício redibitório são distintas. Vide o art. 18 da Lei nº. 8.078/90.
 
2.6. Evicção
A evicção é a perda total ou parcial de um bem em razão de sentença que o atribui a outrem por direito anterior ao contrato. A garantia contra a evicção é obrigação do alienante que deriva automaticamente do contrato. Assim, nos contratos onerosos pelos quais se transfere o domínio, posse ou uso, o alienante deve garantir o adquirente dos riscos da evicção e indenizá-lo na eventualidade de vir a perder o bem por força de sentença que reconheceu direito de outrem.
 
Na redação do art. 447 do novo Código Civil, menos restritiva do que aquela do Código revogado, pode-se considerar evicção, também, a perda do domínio do bem pelo implemento de condição resolutiva, pela apreensão policial de coisa furtada ou roubada em momento anterior à aquisição ou pela privação da coisa por ato inequívoco de qualquer autoridade. A única excludente prevista pelo CC/2002 para a responsabilidade pela evicção é a ciência por parte do comprador de que a coisa adquirida é alheia ou litigiosa.
 
Requisitos da evicção
a) a onerosidade da aquisição do bem, o que afasta a figura nos contratos gratuitos;
b) a perda, total ou parcial, da propriedade ou da posse da coisa alienada pelo adquirente;
c) sentença judicial com trânsito em julgado, reconhecendo a evicção, salvo as exceções mencionadas no parágrafo anterior (p.ex., apreensão policial).
 
Sujeitos
- alienante: sujeito que transfere a coisa;
- evicto ou evencido: adquirente da coisa;
- evictor ou evencente: sujeito que alega direito anterior ao do alienante.
 
Uma vez caracterizada a evicção, o adquirente tem direito de pedir a restituição integral do preço, a indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir, as despesas do contrato e a indenização dos prejuízos que resultem diretamente da evicção (CC, 450), incluindo as custas processuais e os honorários advocatícios.
 
A garantia da evicção pode ser renunciada pelo adquirente. Contudo, a eficácia da cláusula que exclui a evicção varia, conforme o adquirente tenha ou não real conhecimento do risco da evicção (CC, 449). Se o adquirente tinha conhecimento dos riscos da evicção e concordou com a cláusula exonerando a responsabilidade (cláusula de irresponsabilidade pela evicção ou cláusula non praestenda evictione), deve suportar os riscos (CC, 457).
 
A evicção pode ser total ou parcial. Neste último caso, pode o evicto optar entre a extinção do contrato e conseqüente indenização conforme o art. 450, CC, ou a manutenção do pacto com reembolso do que foi perdido ao evictor, mais eventuais perdas e danos.
 
Obs: dificuldade em precisar o conceito indeterminado ‘evicção parcial considerável’ contido no art. 455, CC.
 
Necessidade de denunciação da lide
O exercício dos direitos assegurados pela garantia contra a evicção depende de prévia comunicação do adquirente (evicto) ao alienante, que deve ser instrumentalizada através da figura da denunciação da lide (CC/2002, 456; CPC, art. 70, I). Nos termos do parágrafo único do art. 456 do CC/2002, não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos.
 
Entretanto, a jurisprudência tem suavizado o aparente rigor do art. 456, CC, entendendo que a denunciação da lide não é obrigatória, sendo somente necessária para que a restituição ao evicto pelo alienante seja feita no mesmo processo. Assim, ainda que o evicto não faça a denunciação da lide, ainda poderá ser indenizado através de ação própria. Sobre o tema, o STJ já se posicionou:
 
Direito civil e processual civil. Recurso especial. Compra e venda de imóvel rural. Evicção. Ação de indenização por perdas e danos. Denunciação da lide. Ausência de obrigatoriedade. Natureza da venda. Reexame de fatos e provas. Interpretação de cláusulas contratuais. Embargos de declaração. Ausência de omissão, contradição ou
obscuridade. Juros moratórios. Sucumbência recíproca.
- Para que possa exercitar o direito de ser indenizado, em ação própria, pelos efeitos decorrentes da evicção, não há obrigatoriedade de o evicto promover a denunciação da lide em relação ao antigo alienante do imóvel na ação em que terceiro reivindica a coisa. Precedentes.
- Adentrar na discussão sobre a naturezada venda, demandaria a incursão no campo de fatos e provas apresentados no processo, bem assim, a interpretação de cláusulas contratuais, expedientes vedados pelas Súmulas 5 e 7 do STJ.
- Não se conhece do recurso especial quando o Tribunal de origem decidiu fundamentadamente as questões necessárias ao deslinde da controvérsia, sem omissões, contradições, tampouco obscuridades no julgado, embora em sentido diverso do pretendido pelos recorrentes.
- Os juros moratórios são fixados a partir da citação, no patamar de 0,5% ao mês, até a data de 10/1/2003; a partir de 11/1/2003, o percentual dos juros moratórios incide à razão de 1% ao mês.
- Verificada a sucumbência recíproca, devem ser compensados os honorários advocatícios.
Primeiro recurso especial não conhecido. Segundo recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. Ônus sucumbenciais redistribuídos na lide secundária. 
(REsp 880698 / DF. Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI. TERCEIRA TURMA. DJ 23/04/2007 p. 268)
 
PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS. VEÍCULO IMPORTADO. EVICÇÃO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. AUSÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE.
1. Esta Corte tem entendimento assente no sentido de que "direito que o evicto tem de recobrar o preço, que pagou pela coisa evicta, independe, para ser exercitado, de ter ele denunciado a lide ao alienante, na ação em que terceiro reivindicara a coisa" (REsp 255639/SP, Rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Terceira Turma, DJ de 11/06/2001).
2. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no Ag 917314 / PR. Rel. FERNANDO GONÇALVES. QUARTA TURMA. DJe 22/02/2010)
 
Outra situação interessante da jurisprudência é a admissão da denunciação da lide per saltum, a qualquer alienante da cadeia dominial. Aliás, a denunciação per saltum é também autorizada pelo enunciado 29 da I Jornada de Direito Civil:
 
A interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao evicto a denunciação da lide de qualquer dos responsáveis pelo vício.
A FORMAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS (continuação)
2.7 Do contrato preliminar
2.8 Da extinção dos contratos
Procedimentos de ensino	
2.7. Do contrato preliminar
 
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.
 
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.
 
Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação.
 
Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos.
 
Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor.
 
Contrato preliminar, também conhecido como pré-contrato, promessa de contratar, contrato preparatório ou compromisso, é a convenção de que se valem as partes, em uma fase inicial de entabulamento de negócio, para obrigarem, ou uma delas, à outorga futura de um contrato definitivo. É fonte de uma obrigação de fazer, qual seja, celebrar um contrato definitivo.
 
Nos dizeres de Antônio Chaves, “objeto do contrato preliminar é a celebração de um futuro contrato que será solutório (resolutivo), uma vez que dá cumprimento às obrigações assumidas no contrato anterior, e ao mesmo tempo, constitutivo, pelas novas relações que dele resultarão em caráter definitivo”.
 
Em certos casos, o contrato preliminar, preenchendo determinados requisitos legais, essenciais do contrato definitivo visado, chega a confundir-se com ele, conferindo direito real sobre o objeto da contratação, a possibilitar a concretização negocial futura, por via judicial (adjudicação compulsória), como na hipótese do compromisso de compra e venda de imóvel para pagamento parcelado celebrado na forma dos arts. 1.417 e 1.418, CC/18.
 
O novo Código Civil cuidou das bases do contrato preliminar nos arts. 462 a 466, estabelecendo que, exceto à forma, deve ele apresentar-se com os mesmos requisitos essenciais do contrato definitivo, a ser celebrado (art. 462). Trata-se, portanto, de contrato não formal, mesmo sendo solene o contrato definitivo.
 
2.8. Extinção dos contratos
1. Modo normal de extinção do contrato.
O contrato, assim como as obrigações, possui um ciclo vital. Nasce do acordo de vontades, produz os efeitos que lhe são peculiares e extingue-se. Como nos ensina Humberto Theodoro Júnior, “o vínculo contratual é, por natureza, passageiro e deve desaparecer, naturalmente, tão logo o devedor cumpra a prestação prometida ao credor”.
A extinção do contrato se dá, via de regra, pela execução, seja instantânea (imediata ou diferida) ou continuada. O cumprimento da prestação libera o devedor e satisfaz o credor. Este é o meio normal de extinção do contrato. Sobre a prova do cumprimento (ou pagamento, como quer a lei civil), consulte o art. 320 do CC, que trata da quitação.
 
2. Modos anormais de extinção do contrato. Extinção do contrato sem cumprimento.
2.1. Causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato:
As causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato são: a) defeitos decorrentes do não-preenchimento de seus requisitos subjetivos (capacidade das partes e livre consentimento), objetivos (objeto lícito, possível, determinado ou determinável) eformais (forma prescrita em lei), que afetam a sua validade, acarretando a nulidade absoluta ou relativa do contrato; b) o implemento da cláusula resolutiva, expressa ou tácita; e c) o exercício do direito de arrependimento convencionado. Vejamos cada uma.
 
a) Nulidade absoluta e relativa.
A nulidade absoluta resulta da ausência de elemento essencial do ato, com transgressão a preceito de ordem pública, impedindo que o contrato produza efeitos desde a sua formação (ex tunc). O Código Civil enumera hipóteses de nulidade em seus artigos 166 e 167.
O pronunciamento da nulidade pode ser requerido em juízo a qualquer tempo, por qualquer interessado, podendo ser declarada de ofício pelo juiz ou sob provocação do Ministério Público (CC, 168).
Nos termos do art. 170 do CC/2002, se o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Seria a hipótese de contrato de compra e venda de imóvel celebrado sem a observância da forma prevista em lei, gerando a nulidade do contrato (CC, 166, IV); no caso, poderá o juiz considerar o contrato de compra e venda nulo como uma promessa de compra e venda, em atenção ao princípio da conservação do negócio jurídico. É a denominada conversão do negócio jurídico.
A nulidade absoluta é tratada com rigor pelo legislador civil. Assim, nos termos do art. 169 do CC/2002, o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.
A nulidade relativa ou anulabilidade resulta da imperfeição da vontade: ou porque emanada de um relativamente incapaz não assistido, ou porque contém algum dos vícios do consentimento (erro, dolo, coação etc.). Como pode ser sanada e até mesmo não argüida no prazo prescricional, não extinguirá o contrato enquanto não se mover a ação que a decrete, com efeitos ex nunc.
A anulabilidade, diversamente da nulidade, não pode ser argüida por qualquer das partes da relação contratual, nem declarada de ofício pelo juiz. Legitimado a pleitear a anulação é somente o contraente em cujo interessefoi estabelecida a regra (CC, 177). É de se notar que, enquanto a nulidade absoluta visa tutelar interesse público, pois houve violação de normas de ordem pública, a anulabilidade resguarda precipuamente o interesse das partes.
 
b) Cláusula resolutiva.
Na execução do contrato, cada contraente pode pedir a resolução do acordo, se o outro não cumpre as obrigações avençadas. Essa faculdade pode resultar de estipulação ou de presunção legal.
Quando as partes convencionam, diz-se que estipulam cláusula resolutiva expressa oupacto comissório expresso. Na ausência de estipulação, tal pacto é presumido pela lei, que subentende a existência da cláusula resolutiva. É a denominada cláusula resolutiva implícitaou tácita.
Em todo contrato bilateral ou sinalagmático presume-se a existência de uma cláusula resolutiva tácita, autorizando o lesado pelo inadimplemento a pleitear a resolução do contrato, com perdas e danos. Assim:
 
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
Nestes termos, o contratante pontual tem, diante do inadimplente, duas alternativas: pleitear a resolução do contrato ou exigir-lhe o cumprimento mediante execução específica (CPC, art. 461). Em qualquer das hipóteses, terá direito a indenização por perdas e danos.
Nos termos do art. 474 do CC/2002, a cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. Em ambos os casos, tanto no de cláusula resolutiva expressa quanto tácita, a resolução deve ser judicial, ou seja, precisa ser pronunciada pelo juiz. A sentença que reconhecer a cláusula expressa e o direito à resolução terá efeito meramente declaratório, ex tunc, portanto. Sendo a cláusula tácita, a sentença tem efeito desconstitutivo, dependendo de interpelação judicial, ou seja, a cláusula só produz efeitos após a interpelação.
 
c) Direito de arrependimento.
Desde que expressamente previsto no contrato, o arrependimento autoriza qualquer das partes a rescindir o ajuste, mediante declaração unilateral da vontade, sujeitando-se à perda do sinal, ou à sua devolução em dobro, sem, no entanto, pagar indenização suplementar. Estamos diante das arras penitenciais, previstas no art. 420 do CC/2002.
O direito de arrependimento deve ser exercido no prazo convencionado, ou antes da execução do contrato, se nada foi estipulado a respeito, pois o cumprimento do contrato implica em renúncia tácita do direito de arrepender-se. O Código de Defesa do Consumidor prevê hipótese especial de direito de arrependimento em seu art. 49, para os casos de contratação fora do estabelecimento comercial (por telefone, fax, internet). O prazo para o consumidor se arrepender é de 7 dias.
 
2.2. Causas supervenientes à formação do contrato.
Verifica-se a dissolução do contrato em função de causas posteriores à sua criação nas seguintes hipóteses: a) resolução, como conseqüência do seu inadimplemento voluntário,involuntário ou por onerosidade excessiva; b) resilição, pela vontade de um ou de ambos os contratantes; c) morte de um dos contratantes, se o contrato for personalíssimo; e d) rescisão, modo específico de extinção de certos contratos. Vejamos.
 
a) Resolução.
Nem sempre os contratantes conseguem cumprir com aquilo que foi avençado, em razão de situações supervenientes, que impedem ou prejudicam a execução do contrato. A extinção do contrato mediante resolução tem como causa a inexecução ou incumprimento por um dos contratantes.
Segundo Orlando Gomes, “resolução é um remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial”. O inadimplemento pode ser voluntário (culposo) ou involuntário (sem culpa).
 
a.1) Resolução por inexecução voluntária.
Decorre de comportamento culposo de um dos contratantes, com prejuízo ao outro. Produz efeitos ex tunc, extinguindo o que foi executado e obrigando a restituições recíprocas, sujeitando ainda o inadimplente ao pagamento de perdas e danos e da cláusula penal.
Entretanto, se o contrato for de trato sucessivo, como no caso de locação ou fornecimento de matéria prima, a resolução não produz efeito em relação ao pretérito, não se restituindo as prestações cumpridas. Há efeito ex nunc.
A resolução do contrato por incumprimento é subordinada à condição de que a falta não seja irrelevante ou de importância reduzida, levando-se em conta o interesse da parte que sofre seus efeitos. Seria absurdo se cada parte fosse legitimada a desembaraçar-se do contrato, tomando por pretexto toda a mínima e insignificante inexatidão na execução da outra parte (Enzo Roppo). Por outro lado, se uma parte sempre manifestou tolerância por uma certa margem de atraso ou de pagamento de valor inexato, pouco inferior ao convencionado, isto pode ter relevância para excluir a possibilidade de resolução do contrato por falta de cumprimento integral.
O juiz, ao avaliar tais circunstâncias caso a caso, deverá levar em conta os princípios da boa-fé e da função social do contrato, bem como as legítimas expectativas das partes em relação à complexidade econômica do negócio.
 
Exceção do contrato não cumprido.
Vem prevista no art. 476 do CC/2002, nestes termos: nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. A sede natural da exceção em comento encontra-se nos contratos bilaterais ou sinalagmáticos, que envolvem prestações recíprocas, atreladas umas às outras. Se uma das prestações não é cumprida, deixa de existir causa para o cumprimento da outra.
Repugna ao direito que o contratante inadimplente, nestas condições, pretenda compelir a outra parte a cumprir com a sua prestação. Caso o faça, sua pretensão será paralisada pelaexceptio non adimpleti contractus. Nenhuma das partes, sem cumprir o que lhe cabe, pode exigir da outra que o faça.
Para o manejo da exceção do contrato não cumprido é fundamental que, além de recíprocas, as prestações sejam simultâneas, pois, caso contrário, sendo diferente o momento da exigibilidade de cada prestação, não podem as partes invocar tais defesas. Quando as prestações não são simultâneas, mas sim sucessivas, a exceção não pode ser oposta pela parte a quem caiba prestar primeiro. Se não foi estipulado o momento da execução, entendem-se simultâneas as prestações.
Se um dos contraentes cumpriu apenas em parte, ou de forma defeituosa, a sua obrigação, quando se comprometera a cumpri-la integral e corretamente, cabível se torna a oposição, pelo outro, da exceção do contrato parcialmente cumprido, ou exceptio non rite adimpleti contractus. Diferencia-se da exceção non adimpleti contractus porque essa pressupõe completa e absoluta inexecução do contrato. Na prática, contudo, a primeira é abrangida pela segunda.
 
a.2) Resolução por inexecução involuntária.
A resolução pode também decorrer de fato não imputável às partes, como nas hipóteses de fato de terceiro ou de acontecimentos inevitáveis, alheios à vontade dos contraentes, denominados caso fortuito ou força maior, que tornam impossível o cumprimento da obrigação.
A inexecução involuntária caracteriza-se pela impossibilidade superveniente de cumprimento do contrato. Há de ser objetiva, ou seja, não dizer respeito à própria pessoa do devedor, pois deixa de ser involuntária se de alguma forma este concorre para que a prestação se torne impossível.
A impossibilidade deve ser, também, total, pois se a inexecução for parcial e de pequena proporção, o credor pode ter interesse em que, mesmo assim, o contrato seja cumprido. Por outro lado, há de ser definitiva, pois via de regra a inexecução temporária acarreta apenas a suspensão do contrato.
O inadimplente não fica, no caso de inexecução involuntária, responsável pelo pagamento de perdas e danos, salvo se expressamente se obrigou a ressarcir os prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, ouse estiver em mora (CC, arts. 393 e 399):
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.
 Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.
 
A resolução opera de pleno direito. Cabe a intervenção judicial para proferir sentença declaratória e obrigar o contratante a restituir o que recebeu. O efeito da resolução por inexecução decorrente do fato fortuito e da força maior é retroativo, da mesma forma como ocorre na resolução por inexecução culposa, com a diferença que, na primeira hipótese, o devedor não responde por perdas e danos. Todavia, deve restituir o que eventualmente tenha recebido, uma vez resolvido o contrato.
 
a.3) Resolução por onerosidade excessiva.
Os contratos devem ser cumpridos nos termos em que foram pactuados. Contudo, os negócios jurídicos podem sofrer as conseqüências de modificações posteriores das circunstâncias que os justificaram, com quebra insuportável da equivalência das prestações. Tal constatação deu origem ao princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva.
A partir da Idade Média, desenvolveu-se a teoria rebus sic stantibus, que presume, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e execução diferida, a existência implícita de umacláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. Se esta, no entanto, modificar-se em razão de acontecimentos extraordinários, como uma guerra, que tornem excessivamente oneroso para uma das partes o adimplemento de sua prestação, poderá esta requerer ao juiz que a isente da obrigação, total ou parcialmente.
O Código Civil de 2002 reconheceu o direito à alteração do contrato em situações específicas, dedicando uma seção, composta de três artigos, à resolução dos contratos por onerosidade excessiva. Assim:
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
 
Além de exigir que o acontecimento seja extraordinário, imprevisível e excessivamente oneroso para uma das partes, o dispositivo em apreço insere mais um requisito: o da extrema vantagem para a outra – o que limita ainda mais o âmbito de abrangência da cláusula. Critica-se a exigência de tal requisito, bem como o fato de não priorizar o dispositivo a conservação do contrato pela sua revisão, e sim determinar a sua resolução.
Os requisitos para a resolução do contrato por onerosidade excessiva são os seguintes: a)vigência de um contrato comutativo de execução diferida ou de trato sucessivo; b)ocorrência de fato extraordinário e imprevisível; c) considerável alteração da situação de fato existente no momento da execução, em confronto com a que existia por ocasião da celebração do contrato; d) nexo de causalidade entre o evento superveniente e a conseqüente onerosidade excessiva.
O contratante que estiver em mora quando da ocorrência dos fatos não pode invocar, em defesa, a onerosidade excessiva, pois, estando naquela situação, responde pelos riscos supervenientes, ainda que decorrentes de caso fortuito ou força maior (CC, 399).
Segundo o art. 479 do CC/2002, a resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato. Permite-se, portanto, dar solução diversa ao problema da onerosidade excessiva, por iniciativa de uma das partes, evitando assim a resolução do contrato.
Por último, prescreve o art. 480 do Código Civil: se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
 
b) Resilição.
A resilição não deriva de inadimplemento contratual, mas unicamente da manifestação de vontade, que pode ser bilateral ou unilateral. Resilir, do latim resilire, significa “voltar atrás”. A resilição bilateral é denominada distrato, que é o acordo de vontades que tem por fim extinguir um acordo de vontades anteriormente celebrado. A unilateral pode ocorrer somente em determinados contratos, pois a regra é a impossibilidade de um contraente romper o vínculo contratual por sua exclusiva vontade.
 
b.1) Distrato.
Nos termos do art. 472 do CC/2002, o distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato. Qualquer contrato pode cessar pelo distrato. É necessário, todavia, que os efeitos não estejam exauridos, uma vez que o cumprimento é a via normal de extinção. Contrato extinto não precisa ser dissolvido.
O distrato é, segundo Messineo, em substância, um caso de retratação bilateral do contrato, que se perfaz mediante um novo contrato (solutório e liberatório), de conteúdo igual e contrário ao do contrato originário e celebrado entre as mesmas partes do contrato que se irá dissolver. A sua eficácia é ex nunc, operando sem necessidade de pronunciamento judicial.
A exigência de observância da mesma forma do contrato, no distrato, deve ser interpretada com temperamento: o distrato deve obedecer à mesma forma do contrato a ser desfeito quando este tiver forma especial, mas não quando esta for livre.
 
b.2) Resilição unilateral: denúncia, revogação, renúncia e resgate.
A resilição unilateral pode ocorrer somente nas obrigações duradouras, contra a sua renovação ou continuação, independentemente do não-cumprimento da outra parte, nos casos permitidos na lei (p.ex., a denúncia prevista nos arts. 6º, 46, §2º. E 57 da Lei 8.245/91 – Lei do Inquilinato), ou no contrato, quando as partes tenham expressamente pactuado a possibilidade de resilição unilateral.
A obrigação duradoura é aquela que não se esgota em uma só prestação, mas supõe um período de tempo mais ou menos largo, tendo por conteúdo ou uma conduta duradoura (locação, arrendamento etc.) ou a realização de prestações periódicas (fornecimento de gás, de alimentação, de energia etc.). Nesses casos, a resilição unilateral é denominadadenúncia.
A resilição é o meio próprio para dissolver os contratos por prazo indeterminado. Se não fosse assegurado à parte o poder de resilir, seria impossível libertar-se do vínculo se o outro contratante não concordasse.
Cumpre mencionar ainda o contrato de mandato, no qual a resilição unilateral denomina-serevogação ou renúncia, conforme a iniciativa seja, respectivamente, do mandante ou do mandatário.
A resolução unilateral independe de pronunciamento judicial e produz efeitos ex nunc, não retroagindo. Para valer, precisa ser notificada à outra parte, produzindo efeitos a partir do momento em que chega ao seu conhecimento. Em princípio não precisa ser justificada, mas em certos contratos exige-se que obedeça à justa causa. Na hipótese, a ausência de justa causa não impede a resilição, mas obriga a parte a indenizar perdas e danos.
No ponto, deve-se ter em mente o art. 473 do CC/2002:
Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.
 
c) Morte de um dos contratantes.
A morte de um dos contratantes só acarreta a dissolução dos contratos personalíssimos,

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