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<p>Universidade Federal do Oeste do Pará</p><p>Instituto de Saúde Coletiva</p><p>Bacharelado em Farmácia</p><p>Farmacologia I</p><p>Farmacocinética</p><p>A farmacocinética é o ramo da farmacologia que estuda o curso temporal da concentração</p><p>de fármacos no organismo, abordando os processos de absorção, distribuição, metabolismo</p><p>e excreção, comumente referidos pela sigla ADME. A compreensão desses processos é</p><p>essencial para o desenvolvimento e a aplicação clínica de medicamentos, pois influenciam</p><p>diretamente a eficácia e a segurança das terapias farmacológicas.</p><p>Absorção</p><p>A absorção de um fármaco refere-se ao processo pelo qual o medicamento entra na</p><p>corrente sanguínea a partir do local de administração. Este processo pode ocorrer através</p><p>de várias vias, como a oral, intravenosa, intramuscular, transdérmica, entre outras. A</p><p>eficácia da absorção depende de diversos fatores, incluindo a solubilidade do fármaco, sua</p><p>forma de administração, a presença de alimentos no trato gastrointestinal (para fármacos</p><p>orais) e as características químicas do fármaco, como lipossolubilidade e grau de ionização.</p><p>Um fármaco lipofílico, por exemplo, tende a ser mais facilmente absorvido por difusão</p><p>passiva através das membranas celulares, enquanto fármacos hidrofílicos podem necessitar</p><p>de mecanismos de transporte ativo para atravessar essas barreiras .</p><p>Distribuição</p><p>Uma vez absorvido, o fármaco é distribuído através do sistema circulatório para diversos</p><p>órgãos e tecidos. A distribuição é influenciada por fatores como o fluxo sanguíneo, a ligação</p><p>às proteínas plasmáticas, o volume de distribuição, e a afinidade do fármaco pelos tecidos.</p><p>Fármacos com alta afinidade por proteínas plasmáticas, como a albumina, tendem a</p><p>permanecer no compartimento vascular, o que pode limitar sua distribuição para os tecidos</p><p>alvo. Por outro lado, fármacos que se ligam fracamente às proteínas plasmáticas ou que</p><p>possuem alta lipossolubilidade podem se acumular em tecidos ricos em lipídios, como o</p><p>tecido adiposo, ou rapidamente se distribuir em tecidos bem vascularizados como o fígado e</p><p>os rins.</p><p>Metabolismo</p><p>O metabolismo de fármacos, principalmente realizado no fígado, envolve a</p><p>biotransformação de substâncias lipofílicas em compostos mais hidrofílicos para facilitar sua</p><p>excreção. Esse processo pode ocorrer em duas fases: as reações de fase 1, que incluem</p><p>oxidações, reduções e hidrólises, e as reações de fase 2, que envolvem reações de</p><p>conjugação, aumentando ainda mais a solubilidade em água do composto. O sistema</p><p>enzimático do citocromo P450 desempenha um papel crucial na metabolização de muitos</p><p>fármacos, e as variações genéticas nas enzimas desse sistema podem afetar</p><p>significativamente a resposta terapêutica e o perfil de segurança dos medicamentos .</p><p>Excreção</p><p>Finalmente, a excreção refere-se à eliminação dos fármacos e seus metabólitos do</p><p>organismo, principalmente através dos rins (via urina) e, em menor grau, pelo fígado (via</p><p>bile), pulmões (para fármacos voláteis), e glândulas sudoríparas. A excreção renal pode</p><p>envolver processos como filtração glomerular, secreção tubular ativa e reabsorção tubular</p><p>passiva. Fármacos não metabolizados ou parcialmente metabolizados podem ser</p><p>excretados inalterados na urina, especialmente aqueles que são hidrossolúveis. A taxa de</p><p>excreção é um fator determinante na duração de ação de um fármaco e influencia</p><p>diretamente a necessidade de ajustes na dosagem para manter níveis terapêuticos eficazes</p><p>.</p><p>A compreensão integrada da farmacocinética permite otimizar a administração dos</p><p>fármacos, ajustar doses de acordo com as características individuais dos pacientes, como</p><p>função renal e hepática, idade, e presença de comorbidades, além de prever interações</p><p>medicamentosas e minimizar efeitos adversos. Assim, o estudo da farmacocinética é</p><p>fundamental para a prática clínica, garantindo que os fármacos atinjam suas concentrações</p><p>eficazes nos locais de ação de maneira segura e eficiente.</p><p>Utilizando-se do conhecimento das variáveis farmacocinéticas, os clínicos podem eleger</p><p>condutas terapêuticas ideais, incluindo via de administração, dosagem, frequência e</p><p>duração do tratamento.</p><p>1. Vias de administração de fármaco</p><p>A via de administração é determinada primariamente pelas propriedades do fármaco (p. ex.,</p><p>hidro ou lipossolubilidade, ionização) e pelos objetivos terapêuticos (p. ex., necessidade de</p><p>um início rápido de ação, necessidade de tratamento por longo tempo, ou restrição de</p><p>acesso a um local específico). As vias principais de administração de fármacos incluem a</p><p>enteral, a parenteral e a tópica, entre outras</p><p>1.1. Via enteral:</p><p>A administração enteral, (Enteral vem do grego enteron, intestino) ou administração pela</p><p>boca, é o modo mais seguro, comum, conveniente e econômico de administrar os fármacos.</p><p>O fármaco pode ser deglutido, por via oral, ou pode ser colocado sob a língua (sublingual)</p><p>ou entre a bochecha e a gengiva (bucal), facilitando a absorção direta na circulação</p><p>sanguínea.</p><p>1.2. Via oral</p><p>A administração de medicamentos por via oral é a mais utilizada, segura e econômica, além</p><p>de ser bastante confortável, sem apresentação de dor, por exemplo. No uso dessa via, os</p><p>medicamentos podem ter apresentação em comprimidos, cápsulas, pós ou líquidos; eles se</p><p>espalham pelo corpo principalmente através do intestino, assim como os alimentos, quando</p><p>comemos. Porém, a administração de medicamento por via oral não é indicada em</p><p>pacientes que apresentem náuseas, vômitos, que tenham dificuldade de engolir ou</p><p>desacordados, pois poderiam engasgar ou o medicamento não chegar ao intestino para ser</p><p>absorvido</p><p>1.3. Sublingual e bucal</p><p>Os medicamentos sublinguais são absorvidos rapidamente pela mucosa sublingual. Nessa</p><p>forma de administração, o medicamento (em comprimidos ou gotas) deve ser colocado</p><p>embaixo da língua e deve permanecer ali até a sua absorção total. Nesse período, não se</p><p>deve conversar nem ingerir líquidos ou alimentos. Os medicamentos administrados por essa</p><p>via promovem efeito sistêmico em curto espaço de tempo, além de se dissolverem</p><p>rapidamente, deixando pouco resíduo na boca. A administração sublingual tem várias</p><p>vantagens, incluindo facilidade de administração, absorção rápida, ultrapassagem do</p><p>ambiente gastrintestinal (GI) hostil e capacidade de evitar a biotransformação de primeira</p><p>passagem (ver discussão adiante). A via bucal (entre a bochecha e a gengiva) é similar à</p><p>via sublingual.</p><p>1.4. Via parenteral</p><p>A via parenteral introduz o fármaco diretamente na circulação sistêmica. Ela é usada para</p><p>fármacos que são pouco absorvidos no trato GI (TGI) (p. ex., heparina) e para os que são</p><p>instáveis no TGI (p. ex., insulina). Essa administração também é usada no tratamento do</p><p>paciente impos[1]sibilitado de tomar a medicação oral (paciente inconsciente) ou quando é</p><p>necessário um início rápido de ação. Além disso, as vias parenterais têm maior</p><p>biodisponibilidade e não estão sujeitas à biotransformação de primeira passagem ou ao</p><p>meio GI agressivo. Elas também asseguram o melhor controle sobre a dose real de fármaco</p><p>administrada ao organismo. Contudo, as vias parenterais são irreversíveis e podem causar</p><p>dor, medo, lesões teciduais e infecções. As três principais vias de administração parenteral</p><p>são a intravascular (intravenosa ou intra-arterial), a intramuscular e a subcutânea.</p><p>1.4.1 Intravenosa (IV)</p><p>A via intravenosa é aquela na qual a administração do medicamento é realizada</p><p>diretamente na corrente sanguínea por uma veia. A aplicação de medicamentos por essa</p><p>via pode variar desde uma única dose até uma infusão contínua, como aqueles</p><p>medicamentos que se dissolvem no soro e ficam pendurados ao lado da cama do paciente.</p><p>Por apresentar efeito mais rápido, é a primeira opção durante emergências. Outra</p><p>justificativa para a administração por essa via é que muitos fármacos não conseguem ser</p><p>absorvidos pelo intestino, sendo necessário o uso dessa via. Entretanto, é uma via em que</p><p>o paciente precisa de ajuda de profissional treinado para realizar esse procedimento</p><p>(enfermeiros e médicos). A via deve ser manipulada com muito cuidado, pois há chances de</p><p>infecção no local, podendo piorar o quadro do indivíduo. Alguns medicamentos, como</p><p>antibióticos ou os usados para o tratamento do câncer, são formulados apenas em</p><p>apresentações injetáveis.</p><p>1.4.2. Intramuscular (IM)</p><p>Fármacos administrados por via IM podem estar em soluções aquosas, que são absorvidas</p><p>rapidamente, ou em preparações especializadas de depósito, que são absorvidas</p><p>lentamente. As preparações de depósito, com frequência, consistem em uma suspensão do</p><p>fármaco em um veículo não aquoso, como o polietilenoglicol. À medida que o veículo se</p><p>difunde para fora do músculo, o fármaco precipita-se no local da injeção. O fármaco então</p><p>se dissolve lentamente, fornecendo uma concentração sustentada durante um período de</p><p>tempo prolongado.</p><p>1.4.3. Subcutânea (SC)</p><p>Esta via de administração, como a IM, oferece absorção por difusão simples e é mais lenta</p><p>do que a via IV. A injeção SC minimiza os riscos de hemólise ou trombose associados à</p><p>injeção IV e pode proporcionar efeitos lentos, constantes e prolongados. Esta via não deve</p><p>ser usada com fármacos que causam irritação tissular, porque pode ocorrer dor intensa e</p><p>necrose. Fármacos administrados comumente por via SC incluem insulina e heparina.</p><p>1.5. Outras</p><p>1.5.1. Vias inalatórias, oral e nasal</p><p>É a via que se estende desde a mucosa nasal até os pulmões. Pode ser utilizada para efeito</p><p>local (descongestionante nasal ou medicamento para asma) ou sistêmico (anestesia</p><p>inalatória). Tem a vantagem de realizar a administração em pequenas doses com rápida</p><p>absorção. A administração pode ser na forma de gás ou pequenas partículas líquidas</p><p>(nebulização) ou sólidas (pó inalatório). Essa via é bastante utilizada para problemas</p><p>respiratórios. Para esse uso, a administração é feita pela boca, utilizando a comunicação</p><p>existente entre pulmões e boca. Mas, como o medicamento está em forma de gás ou pó, ao</p><p>invés de engolir, como a comida, ele percorrerá o trajeto do ar da respiração, passando pela</p><p>traqueia até chegar aos pulmões.</p><p>1.5.2. Intratecal e intraventricular</p><p>A barreira hematencefálica retarda ou impede a entrada dos fármacos no sistema nervoso</p><p>central (SNC). Quando se desejam efeitos locais e rápidos, é necessário introduzir o</p><p>fármaco diretamente no líquido cerebrospinal. Por exemplo, a anfotericina B intratecal é</p><p>usada no tratamento da meningite criptocócica.</p><p>1.5.3. Tópica</p><p>A aplicação tópica é usada quando se deseja um efeito local do fármaco. Por exemplo, o</p><p>clotrimazol em pomada é aplicado diretamente na pele para o tratamento de infecções por</p><p>fungos.</p><p>1.5.4. Transdérmica</p><p>Esta via de administração proporciona efeitos sistêmicos pela aplicação do fármaco na</p><p>pele, em geral, por meio de um adesivo cutâneo. A velocidade de absorção pode variar de</p><p>modo acentuado, dependendo das características físicas da pele no local da aplicação e da</p><p>lipossolubilidade do fármaco. Essa via é usada com mais frequência para a oferta</p><p>prolongada de fármacos, como o fármaco antianginoso nitroglicerina, o antiemético</p><p>escopolamina e os adesivos de nicotina usados para facilitar a interrupção do hábito de</p><p>fumar.</p><p>1.5.5. Retal</p><p>Como 50% da drenagem da região retal não passa pela circulação portal, a</p><p>biotransformação dos fármacos pelo fígado é minimizada com o uso desta via. A vantagem</p><p>adicional da via retal é evitar a destruição do fármaco no ambiente GI. Ela também é útil se</p><p>o fármaco provoca êmese, quando administrado por via oral, ou se o paciente já se</p><p>encontra vomitando ou se está inconsciente. (Nota: a via retal é usada comumente para a</p><p>administração de antieméticos.) Com frequência, a absorção retal é errática e incompleta, e</p><p>vários fármacos irritam a mucosa retal.</p><p>2. Absorção dos fármacos</p><p>Denomina-se absorção quando um fármaco é transferido do seu local de administração</p><p>para a corrente sanguínea. Fatores como a as características químicas e da via de</p><p>administração podem influenciar a velocidade, a eficiência da absorção e a</p><p>biodisponibilidade.</p><p>2.1. Mecanismos de absorção de fármacos a partir do TGI</p><p>2.1.1. Difusão passiva:</p><p>A força motora de absorção passiva de um fármaco é o gradiente de concentração através</p><p>da membrana que separa dois compartimentos corporais. O fármaco se move da região de</p><p>concentração alta para o de concentração baixa.</p><p>2.1.2. Difusão facilitada</p><p>Alguns fármacos podem atravessar a membrana celular por meio de proteínas</p><p>transportadoras transmembranas especializadas que facilitam a passagem de moléculas</p><p>grandes. Essas proteínas sofrem alterações conformacionais, permitindo a passagem de</p><p>fármacos ou moléculas endógenas para o interior da célula, movendo-os de área de alta</p><p>concentração para áreas de baixa concentração.</p><p>2.1.3. Transporte ativo</p><p>Consiste em uma passagem que também envolve transportadores proteicos específicos</p><p>que atravessam a membrana. Esse tipo de transporte depende de energia e é movido pela</p><p>hidrólise de trifosfato de adenosina. Pode, também, mover um fármaco contra um grande</p><p>gradiente de concentração, contudo, é um processo saturável.</p><p>2.1.4. Endocitose e exocitose</p><p>Esses tipos de absorção são usados para transportar medicamentos muito grandes através</p><p>da membrana celular. Na endocitose, a célula envolve e engole as moléculas do</p><p>medicamento, levando-as para dentro através de uma vesícula. A exocitose, por outro lado,</p><p>é o processo de expulsão dessas substâncias para fora da célula, também utilizando</p><p>vesículas.</p><p>2.2. Fatores que influenciam absorção</p><p>2.2.1. Efeito do pH na absorção de fármacos</p><p>A maioria dos medicamentos é constituída por ácidos ou bases fracas. Medicamentos</p><p>ácidos (HA) liberam um próton (H+), resultando na formação de um ânion (A–). As bases</p><p>fracas (BH+) também podem liberar um próton (H+). No entanto, a forma protonada das</p><p>bases é geralmente carregada, e quando perdem o próton, formam a base não ionizada (B).</p><p>Um fármaco atravessa a membrana mais facilmente se estiver não ionizado. Assim, para os</p><p>ácidos fracos, a forma HA não ionizada consegue permear através das membranas, mas o</p><p>A– não consegue.</p><p>2.2.2. Fluxo de sangue no local de absorção</p><p>Os intestinos recebem mais fluxo sanguíneo do que o estômago, o que favorece a absorção</p><p>intestinal. Em casos de choque, o fluxo sanguíneo para os tecidos cutâneos é</p><p>drasticamente reduzido, diminuindo a absorção de medicamentos administrados</p><p>subcutaneamente.</p><p>2.2.3. Área ou superfície disponível para a absorção</p><p>Devido à presença de bordas em escova com microvilosidades, o intestino possui uma</p><p>superfície aproximadamente 1.000 vezes maior que a do estômago, tornando a absorção de</p><p>fármacos no intestino muito mais eficiente.</p><p>2.2.4. Tempo de contato com a superfície de absorção</p><p>Se um fármaco se move rapidamente pelo TGI, como em casos de diarreia intensa, sua</p><p>absorção é prejudicada. Por outro lado, qualquer atraso no transporte do fármaco do</p><p>estômago para o intestino reduz a velocidade de sua absorção.</p><p>2.2.5. Expressão da glicoproteína P</p><p>A glicoproteína P é uma proteína transportadora transmembrana que move diversas</p><p>moléculas, incluindo fármacos, através da membrana celular. Presente em tecidos como</p><p>fígado, rins, placenta, intestinos e capilares cerebrais, ela bombeia fármacos para fora das</p><p>células, reduzindo a absorção nas áreas onde é altamente expressa. Além disso, a</p><p>glicoproteína P está associada à resistência a diversos fármacos.</p><p>3. Biodisponibilidade</p><p>Biodisponibilidade representa a taxa e a extensão com que um fármaco administrado</p><p>alcança a circulação sistêmica.</p><p>3.1. Determinação de biodisponibilidade</p><p>A biodisponibilidade é avaliada comparando os níveis plasmáticos de um fármaco após</p><p>administração por uma via específica (como oral) com os níveis após administração</p><p>intravenosa (IV). Na administração IV, 100% do fármaco entra rapidamente na circulação.</p><p>Quando administrado oralmente, apenas parte da dose atinge o plasma. A área sob a curva</p><p>(ASC) da concentração plasmática ao longo do tempo mede a extensão da absorção do</p><p>fármaco. A biodisponibilidade oral é a relação entre a ASC após administração oral e a ASC</p><p>após administração IV, assumindo doses equivalentes.</p><p>3.2. Fatores</p><p>que influenciam a biodisponibilidade:</p><p>3.2.1. Biotransformação hepática de primeira passagem</p><p>Quando um fármaco é absorvido pelo trato gastrointestinal, ele primeiro entra na circulação</p><p>portal antes de chegar à circulação sistêmica. Se o fármaco é rapidamente metabolizado no</p><p>fígado ou na parede intestinal durante essa passagem inicial, a quantidade de fármaco</p><p>inalterado que atinge a circulação sistêmica diminui, um processo chamado</p><p>biotransformação de primeira passagem. Fármacos com alta biotransformação de primeira</p><p>passagem devem ser administrados em doses suficientes para garantir a quantidade</p><p>necessária de fármaco ativo no local de ação desejado.</p><p>3.2.2. Solubilidade do fármaco</p><p>Fármacos muito hidrofílicos têm baixa absorção porque não conseguem atravessar</p><p>membranas celulares ricas em lipídios. De forma paradoxal, fármacos extremamente</p><p>lipofílicos também são pouco absorvidos, pois não se dissolvem nos líquidos aquosos do</p><p>corpo, impedindo seu acesso à superfície celular. Para ser bem absorvido, um fármaco</p><p>deve ser principalmente lipofílico, mas com alguma solubilidade em soluções aquosas. Isso</p><p>explica por que muitos fármacos são ácidos fracos ou bases fracas.</p><p>3.2.3. Instabilidade química</p><p>Alguns fármacos, como a benzilpenicilina, são instáveis no pH gástrico. Outros, como a</p><p>insulina, são destruídos no TGI pelas enzimas digestivas.</p><p>3.2.4. Natureza da formulação dos fármacos:</p><p>Fatores como o tamanho da partícula, tipo de sal, polimorfismo cristalino e a presença de</p><p>excipientes podem influenciar a facilidade da dissolução e, por isso, alterar a velocidade de</p><p>absorção.</p><p>3.2.5. Bioequivalência</p><p>A bioequivalência indica que as formulações, quando administradas ao mesmo paciente e</p><p>no mesmo esquema de dosagem, resultam em concentrações equivalentes do fármaco no</p><p>plasma e nos tecidos.</p><p>4. Distribuição</p><p>Depois da absorção, a maioria dos medicamentos não se distribui de maneira homogênea pelo</p><p>corpo. Os medicamentos que se dissolvem em água (medicamentos hidrossolúveis) tendem a</p><p>permanecer no sangue e no líquido que envolve as células (espaço intersticial). Já os</p><p>medicamentos solúveis em gordura (medicamentos lipossolúveis) costumam se acumular em</p><p>tecidos adiposos. Além disso, alguns medicamentos se concentram principalmente em regiões</p><p>específicas do corpo; por exemplo, o iodo é especialmente armazenado na glândula tireoide,</p><p>uma vez que os tecidos naquela área possuem uma afinidade particular pelo medicamento e</p><p>uma capacidade de retenção elevada.</p><p>Existem medicamentos que se desprendem da corrente sanguínea de forma lenta, devido à sua</p><p>forte ligação com as proteínas que circulam no sangue. Outros medicamentos, por sua vez,</p><p>saem rapidamente do sangue e penetram em outros tecidos, pois possuem uma ligação mais</p><p>fraca com as proteínas sanguíneas. Muitas ou até todas as moléculas de um medicamento</p><p>presente no sangue podem se ligar a essas proteínas, sendo que a fração que está ligada</p><p>normalmente não apresenta atividade. À medida que a porção livre do medicamento se distribui</p><p>pelos tecidos e sua concentração na corrente sanguínea diminui, as proteínas sanguíneas</p><p>acabam por liberar gradualmente a fração ligada, funcionando, assim, como um reservatório de</p><p>medicamento na corrente sanguínea.</p><p>Além disso, a forma como um medicamento se distribui pode variar de uma pessoa para outra.</p><p>Por exemplo, indivíduos obesos podem acumular grandes quantidades de medicamentos</p><p>lipossolúveis, enquanto aqueles que têm um peso muito baixo podem armazenar apenas</p><p>pequenas quantidades. Mesmo que sejam magros, pessoas idosas podem reter quantidades</p><p>significativas de medicamentos lipossolúveis, já que a proporção de gordura corporal tende a</p><p>aumentar com a idade.</p><p>5. Metabolismo dos fármacos</p><p>O fígado é o principal órgão responsável pelo metabolismo de medicamentos. Embora a</p><p>biotransformação normalmente resulte na inativação de fármacos, alguns metabólitos podem</p><p>manter atividade farmacológica, muitas vezes superando a do composto original. Quando uma</p><p>substância que é inativa ou pouco ativa se transforma em um metabólito ativo, é chamada de</p><p>pró-fármaco, especialmente quando projetada para liberar a parte ativa de forma mais eficaz.</p><p>Os medicamentos podem passar por processos de biotransformação como oxidação, redução,</p><p>hidrólise, hidratação, conjugação, condensação ou isomerização. Independentemente do</p><p>método, o objetivo é facilitar a excreção. Embora as enzimas responsáveis por essas reações</p><p>estejam presentes em diversos tecidos, sua maior concentração ocorre no fígado. Os índices de</p><p>biotransformação podem variar entre os pacientes: alguns metabolizam medicamentos tão</p><p>rapidamente que não atingem níveis terapêuticos, enquanto outros apresentam um metabolismo</p><p>tão lento que doses normais causam toxicidade. Esses índices são afetados por fatores</p><p>genéticos, doenças concomitantes, especialmente hepatopatias crônicas e insuficiência</p><p>cardíaca avançada, e interações entre diferentes fármacos.</p><p>A biotransformação de muitos medicamentos envolve duas fases. Na fase I, ocorre a</p><p>modificação ou formação de novos grupos funcionais, através de reações como oxidação,</p><p>redução e hidrólise, que são não sintéticas. Já a fase II envolve a conjugação com substâncias</p><p>endógenas, caracterizando reações sintéticas. Os metabólitos gerados nas reações sintéticas</p><p>são geralmente mais polares, facilitando sua excreção pelos rins ou pelo fígado via bile, em</p><p>comparação com aqueles formados por reações não sintéticas. Alguns medicamentos podem</p><p>passar apenas pela fase I ou II, com a nomenclatura das fases refletindo a funcionalidade, não</p><p>uma ordem sequencial.</p><p>Os transportadores de fármacos no fígado, presentes nas células hepáticas, influenciam a</p><p>distribuição, o metabolismo e a eliminação dos medicamentos. Existem dois tipos principais: os</p><p>de influxo, que trazem moléculas para o fígado, e os de efluxo, que mediantes a excreção nos</p><p>fluidos sanguíneos ou na bile. Polimorfismos genéticos podem afetar a expressão e a função</p><p>desses transportadores, alterando a vulnerabilidade dos pacientes a efeitos adversos e danos</p><p>hepáticos induzidos por fármacos.</p><p>Para a maioria dos medicamentos, a taxa de biotransformação em uma via específica possui um</p><p>limite máximo. Contudo, em concentrações terapêuticas, geralmente apenas uma parte pequena</p><p>dos locais das enzimas metabolizadoras está ocupada, fazendo com que a taxa de</p><p>biotransformação aumente conforme a concentração do medicamento. Nesses casos,</p><p>classificados como eliminação de primeira ordem, a taxa de metabolismo se mantém como uma</p><p>fração constante do fármaco restante no organismo, significando que cada medicamento possui</p><p>uma meia-vida específica.</p><p>Adicionalmente, o citocromo P-450 (CYP450) é a enzima mais significativa da fase I da</p><p>biotransformação, uma superclasse de isoenzimas que catalisam a oxidação de uma ampla</p><p>variedade de fármacos. Os elétrons para essa reação são fornecidos pela NADPH-CYP450</p><p>redutase, que transfere elétrons do NADPH (forma reduzida do dinucleotídeo de nicotinamida e</p><p>adenina) para o citocromo P-450.</p><p>As enzimas do citocromo P-450 podem ser induzidas ou inibidas por vários fármacos e</p><p>substâncias, o que provoca interações que podem intensificar a toxicidade ou diminuir o efeito</p><p>terapêutico de outros medicamentos. Exemplos de interações específicas estão listados em</p><p>tabelas sobre substâncias que interagem com as enzimas do citocromo P-450.</p><p>Com o avanço da idade, a capacidade do fígado de realizar biotransformação por meio do</p><p>sistema do citocromo P-450 diminui em pelo menos 30%, devido à redução no volume e no fluxo</p><p>hepático. Como consequência, fármacos metabolizados por esse sistema podem alcançar</p><p>níveis mais altos e ter meias-vidas mais longas nos idosos. Em contraste, os neonatos</p><p>apresentam sistemas enzimáticos hepáticos parcialmente desenvolvidos, o que resulta em</p><p>dificuldade na biotransformação de vários medicamentos.</p><p>A glucuronidação, que é a reação mais frequente na fase II, ocorre exclusivamente no sistema</p><p>enzimático hepático microssômico. Os glucuronídeos gerados são excretados na bile e</p><p>eliminados</p><p>via urina. Esse processo de conjugação geralmente aumenta a solubilidade dos</p><p>medicamentos, facilitando sua excreção renal. A conjugação com aminoácidos, como glutamina</p><p>ou glicina, resulta em compostos que são rapidamente eliminados na urina, mas não são</p><p>amplamente excretados na bile. O envelhecimento não impacta a glucuronidação, mas em</p><p>recém-nascidos, essa conversão em glucuronídeos é lenta, o que pode levar a efeitos adversos</p><p>significativos, como ocorre com o cloranfenicol.</p><p>Além disso, a conjugação pode ocorrer através da acetilação ou sulfoconjugação. Os ésteres de</p><p>sulfato são polares e são prontamente excretados na urina, com o envelhecimento não afetando</p><p>esses processos.</p><p>6. Eliminação</p><p>Todos os medicamentos são eventualmente eliminados do corpo, seja na forma metabolizada</p><p>ou intacta. A maioria é eliminada pelos rins na urina, especialmente os hidrossolúveis, tornando</p><p>a dosagem dependente da função renal. Fármacos eliminados pela bile, produzida pelo fígado,</p><p>podem ser excretados nas fezes ou reabsorvidos.</p><p>A eliminação renal de medicamentos é influenciada por características dos fármacos, acidez</p><p>urinária, fluxo urinário, fluxo sanguíneo renal e saúde dos rins. Condições como hipertensão,</p><p>diabetes e envelhecimento podem afetar essa função. Pacientes com função renal reduzida</p><p>geralmente necessitam de doses menores para evitar efeitos colaterais.</p><p>Profissionais de saúde avaliam a função renal por meio de exames de creatinina, que refletem a</p><p>eficiência da eliminação renal. Alguns medicamentos também são eliminados pelo fígado</p><p>através da bile, e a dosagem deve ser ajustada se o fígado não funcionar adequadamente.</p><p>Além disso, medicamentos podem ser eliminados pela saliva, suor, leite materno e ar exalado,</p><p>com a excreção pelo leite sendo importante para a saúde do recém-nascido. A excreção de</p><p>anestésicos ocorre principalmente pelo ar expirado.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>https://extensao.cecierj.edu.br/material_didatico/sau2203/pdfs/aula03.pdf</p><p>Whalen, Karen. Farmacologia ilustrada [recurso eletrônico] / Karen Whalen, Richard</p><p>Finkel, Thomas A. Panavelil; tradução e revisão técnica: Augusto Langeloh. – 6. ed.</p><p>– Porto Alegre: Artmed, 2016.</p><p>https://extensao.cecierj.edu.br/material_didatico/sau2203/pdfs/aula03.pdf</p>

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