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<p>14:37 9 de agosto de 2024</p><p>UM BREVE OLHAR SOBRE A HISTÓRIA</p><p>DO BNDES</p><p>Em 20 de junho de 2023, o BNDES completa 71 anos de existência. Fazendo as contas,</p><p>um leitor desavisado poderia supor que a criação do BNDE em 1952 (o “S” só viria trinta</p><p>anos depois) estaria associada às políticas nacionalistas. Essas políticas seriam</p><p>características do segundo Governo Vargas (1951-1954), que também levaram à criação da</p><p>Petrobras em 1953, ponto máximo da campanha “o petróleo é nosso”. Essa, porém, é uma</p><p>visão simplificada da nossa história. Longe de ser fruto de discussões em grupos</p><p>homogêneos de pensadores exclusivamente brasileiros, o Banco tem sua origem</p><p>atrelada a esforços de cooperação internacional, seja com o governo dos EUA, seja com</p><p>pensadores latino-americanos então reunidos na Comissão Econômica para a América</p><p>Latina e o Caribe (Cepal).</p><p>MENU</p><p>BLOG DO DESENVOLVIMENTO</p><p>Por: Lavinia Barros de Castro</p><p>08:00 20/06/2023</p><p>Desenvolvimento | Economia | Memória | Artigo |</p><p>09/08/2024, 14:37 Agência BNDES de Notícias - Um breve olhar sobre a história do BNDES</p><p>https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/blogdodesenvolvimento/detalhe/Um-breve-olhar-sobre-a-historia-do-BNDES/ 1/7</p><p>https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/index.html</p><p>https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/index.html</p><p>https://www.bndes.gov.br/</p><p>https://www.bndes.gov.br/</p><p>https://www.facebook.com/bndes.imprensa</p><p>https://x.com/bndes</p><p>https://www.youtube.com/user/bndesgovbr</p><p>https://www.linkedin.com/company/bndes</p><p>https://pt.slideshare.net/bndes</p><p>https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/misc/faleconosco</p><p>https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/blogdodesenvolvimento/detalhe/Um-breve-olhar-sobre-a-historia-do-BNDES/</p><p>https://www.facebook.com/plugins/like.php?href=https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/blogdodesenvolvimento/detalhe/Um-breve-olhar-sobre-a-historia-do-BNDES/</p><p>https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/blogdodesenvolvimento/detalhe/Um-breve-olhar-sobre-a-historia-do-BNDES/</p><p>As raízes da defesa de um Banco nacional para o financiamento do desenvolvimento do</p><p>Brasil estão, paradoxalmente, em uma recomendação feita por americanos. Trata-se da</p><p>chamada Missão Cooke,[1] cujo relatório final, em 1949, assim explicita: “No Brasil, o</p><p>principal obstáculo para o crescimento de empresas em larga escala tem sido a</p><p>dificuldade em obter capital para fins industriais” (p.339). A influência das ideias</p><p>estrangeiras continuou nos anos que se seguiram, levando à Missão Abbink, agora liderada</p><p>por um americano, John Abbink, e um notável brasileiro, Otávio Gouveia de Bulhões.[2]</p><p>Ali se enfatizava a necessidade de direcionar recursos para setores de elevada</p><p>produtividade e se admitia o baixo desenvolvimento do mercado de crédito e de</p><p>capitais como entrave ao desenvolvimento do país. Porém, a missão Abbink não</p><p>recomendava a criação de uma instituição de financiamento nacional porque, na visão dos</p><p>autores do relatório final, era necessário, antes, a formação de um mercado de títulos e de</p><p>um banco central.[3] Curiosamente, a história provaria que o caminho seria o inverso: o</p><p>BNDE foi criado antes do Banco Central (1964) e do desenvolvimento do mercado de</p><p>capitais no país. Ao contrário, o desenvolvimento desse mercado foi uma missão</p><p>adicionada ao Banco a partir dos anos 1970.[4] Frustrando expectativas do empresariado e</p><p>do governo brasileiro, porém, a Missão Abbink não resultou em nenhuma operação de</p><p>empréstimo, decepcionando aqueles que esperavam um “Plano Marshall para a América</p><p>Latina”.</p><p>Foi o recrudescimento da Guerra Fria, após a Revolução Chinesa (1949) e a Guerra da</p><p>Coréia (1950), que trouxe o sentido de urgência e levou ao estabelecimento de uma</p><p>comissão que elencasse projetos concretos de investimentos. Como fruto da Missão</p><p>Abbink, criou-se enfim a Comissão Mista Brasil Estados Unidos (CMBEU), em 1951.</p><p>Novamente, porém, os recursos que, supostamente, viriam do Exim Bank americano e do</p><p>Banco Mundial para superar os “gargalos na infraestrutura econômica do país”</p><p>(principalmente em energia, portos e transportes) foram muito menores do que de início se</p><p>imaginara.[5] Embora decepcionante em termos de recursos, a CMBEU definiu um conjunto</p><p>amplo de projetos (41 projetos) que resultaram nos primeiros empréstimos concedidos pelo</p><p>Banco.</p><p>O olhar externo dos americanos, porém, não foi o único a influenciar o BNDES, como dito.</p><p>Ainda em 1953 foi criado um grupo de trabalho entre técnicos do BNDES e técnicos</p><p>latino-americanos da Cepal que ficou conhecido como Grupo Misto BNDE-Cepal. O</p><p>grupo era presidido por ninguém menos que Celso Furtado, considerado um dos mais</p><p>destacados intelectuais do país ao longo do século XX. O resultado final dos trabalhos foi</p><p>explicitado no relatório “Esboço de um Programa de Desenvolvimento para a Economia</p><p>Brasileira – 1955-1962” – que serviria de principal referência para o Plano de Metas do</p><p>governo Juscelino Kubitschek. No período JK, o BNDES presidiu o Conselho de</p><p>09/08/2024, 14:37 Agência BNDES de Notícias - Um breve olhar sobre a história do BNDES</p><p>https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/blogdodesenvolvimento/detalhe/Um-breve-olhar-sobre-a-historia-do-BNDES/ 2/7</p><p>Desenvolvimento e participou ativamente dos Grupos de Trabalho e dos Grupos</p><p>Executivos. Em termos de desembolsos, sua atuação esteve mais focada em projetos de</p><p>infraestrutura.</p><p>Após os “anos dourados” de Juscelino, no conturbado período político de 1960-1964, o</p><p>Banco deu uma guinada do “banco da infraestrutura” para o “banco da indústria”.</p><p>Novamente, sua atuação foi para além dos financiamentos. O Banco participou</p><p>intensamente de estudos que iriam permitir mais adiante um salto nos setores de</p><p>química, papel e celulose, siderurgia, fertilizantes e cimento.[6] Além disso,</p><p>funcionários do BNDE trabalharam arduamente para criação da Eletrobras, que ocorreu em</p><p>1962. Com o fim dos recursos do Fundo de Reaparelhamento, o Banco teve de se</p><p>reinventar e passou a administrar fundos, entre eles o Fundo de Financiamento para</p><p>Máquinas e Equipamentos (Finame) e o Fundo de Desenvolvimento Tecnológico e</p><p>Científico (Funtec). Para gerir esses recursos, foi criada em 1966 a Finame, subsidiária que</p><p>até hoje é peça fundamental para o financiamento de máquinas e equipamentos no país.</p><p>Por meio do Funtec, em parceria com o CNPq, o BNDE ajudou a desenvolver diversos</p><p>programas de pós-graduação no país, inclusive a Coppe-UFRJ. Aliás, a Finep, antes de ser</p><p>empresa pública (foi criada em 1967), era um Fundo de Financiamento de Estudos e</p><p>Projetos e Programas, administrado pelo BNDE. Esse fundo contava com recursos do BID</p><p>e do USAID. [7] O diálogo do BNDE com outros bancos de desenvolvimento e com outras</p><p>instâncias de governo sempre esteve presente na nossa história.</p><p>A partir de 1974, o BNDE passou a contar com os recursos do PIS-Pasep e isso permitiu</p><p>um salto nos volumes de empréstimos. Em linha com as diretrizes do II Plano Nacional de</p><p>Desenvolvimento (PND), o BNDE participou com recursos e com ideias dos grandes</p><p>empreendimentos realizados em bens de capital e insumos básicos. Já nos anos 1980,</p><p>coube ao Banco ajudar a recuperar empresas arrasadas pela crise econômica em que o</p><p>país estava submerso. Em 1982, a adição de uma simples letra “S” revelava um</p><p>amadurecimento institucional, mas também uma exigência da sociedade de incluir</p><p>preocupações sociais no cerne da estratégia do Banco. A partir da experiência dos anos</p><p>1980 com a recuperação de empresas estatais e acompanhando a mudança no modelo de</p><p>desenvolvimento do Brasil, coube ao BNDES assumir a liderança na agenda das</p><p>privatizações. Foi também nos anos 1990 que teve início o programa de apoio às</p><p>exportações. Nos anos 2000, vieram diversos programas de investimento (Programas de</p><p>Aceleração de Crescimento – PAC) e, posteriormente, atuação fundamental para o</p><p>financiamento de projetos de energia renovável e para Amazônia. Na pandemia, as</p><p>garantias fornecidas pelo FGI-Peac foram um importante instrumento para as micro,</p><p>pequenas e médias empresas (MPME). Nossa experiência de contribuições para políticas</p><p>públicas é, portanto, longa, passando desde momentos</p><p>em que desempenhamos papel</p><p>mais ativo (Plano de Metas, II PND e privatizações), como também momentos em que</p><p>nossas contribuições foram mais marginais, porém relevantes para o país.</p><p>09/08/2024, 14:37 Agência BNDES de Notícias - Um breve olhar sobre a história do BNDES</p><p>https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/blogdodesenvolvimento/detalhe/Um-breve-olhar-sobre-a-historia-do-BNDES/ 3/7</p><p>Onde estamos querendo chegar com a revisão dessa história? Em primeiro lugar, observar</p><p>que o “nacionalismo” que se poderia supor que marcou o início do BNDES nunca excluiu o</p><p>capital estrangeiro nem ideias estrangeiras, pelo contrário.[8] Em segundo lugar, que o</p><p>Banco sempre fez parte dos grandes planos de desenvolvimento vividos pelo país. Em</p><p>terceiro, que pelo BNDES passaram, ao longo da história, renomados economistas e</p><p>intelectuais das mais diversas escolas de pensamento econômico, que ajudaram a criar</p><p>uma tradição que perdura até hoje, de um banco que contribui para articulação de ideias e</p><p>para a construção de políticas públicas, em diversos campos.</p><p>Para constatar a pluralidade de ideias presente no BNDES, basta um simples olhar para o</p><p>rol de presidentes que o Banco já teve. São autores de diversas obras que discutem a</p><p>economia brasileira: Lucas Lopes, Roberto Campos, Eduardo Modiano, Antonio Barros de</p><p>Castro, Pérsio Arida, Edmar Bacha, Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Resende,</p><p>Carlos Lessa, Luciano Coutinho, Paulo Rabello de Castro, entre outros. Um grupo que</p><p>inclui dos mais renomados economistas ortodoxos aos mais heterodoxos. É por isso que</p><p>podemos dizer que, também no campo das ideias: ontem, hoje e sempre, pensou</p><p>desenvolvimento, pensou BNDES.</p><p>[1] A missão foi coordenada por Morris Llewellyn Cooke e seu relatório final dirigido ao</p><p>então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman.</p><p>[2] Otávio Gouveia de Bulhões foi um renomado economista, associado a correntes</p><p>monetaristas de pensamento econômico. Foi o representante do Brasil na Delegação do</p><p>Brasil à Conferência Monetária de Bretton Woods, além de ocupar interinamente o cargo de</p><p>Ministro da Fazenda na gestão do Ministro Eugênio Gudin.</p><p>[3] Ver RIBEIRO, T (2012). Disponível em: https://app.uff.br/riuff;/handle/1/16101. Acesso</p><p>em: 19 jun. 2023.</p><p>[4] De fato, em 1974, o Banco estabeleceu três subsidiárias para atuar no mercado de</p><p>capitais que depois se fundiram, em 1982, na BNDESPAR.</p><p>[5] Eram esperados inicialmente US$ 500 milhões de aporte de recursos. A solução</p><p>encontrada foi contar com recursos nacionais, em volumes muito menores do que o</p><p>esperado, e para isso foi criado um Fundo de Reaparelhamento Econômico, em 1953, a</p><p>partir de um adicional cobrado sobre o Imposto de Renda. Ver VIANNA, B. e VILLELA, A.</p><p>em GIAMBIAGI, F., VILLELA, A., BARROS DE CASTRO, L., HERMANN, J. (2007).</p><p>Economia Brasileira Contemporânea (1945-2004).</p><p>[6] Nos anos 1960, vale notar, quem liderava o departamento econômico do BNDES era o</p><p>professor Ignácio Rangel, renomado economista, que promovia debates sobre economia e</p><p>desenvolvimento regional entre os funcionários.</p><p>[7] Essas e outras histórias estão em BNDES: Um banco de história e do futuro. Disponível</p><p>em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/1785. Acesso em: 17 de jun. 2023.</p><p>09/08/2024, 14:37 Agência BNDES de Notícias - Um breve olhar sobre a história do BNDES</p><p>https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/blogdodesenvolvimento/detalhe/Um-breve-olhar-sobre-a-historia-do-BNDES/ 4/7</p><p>https://app.uff.br/riuff;/handle/1/16101</p><p>https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/1785</p>