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<p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Introdução</p><p>www.cenes.com.br | 1</p><p>DISCIPLINA</p><p>A INTERVENÇÃO E AVALIAÇÃO</p><p>PSICOPEDAGÓGICA</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Introdução</p><p>www.cenes.com.br | 2</p><p>Sumário</p><p>Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2</p><p>Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3</p><p>1 Avaliação Psicopedagógica ----------------------------------------------------------------------------- 4</p><p>1.1 O que é o diagnóstico na psicopedagogia ------------------------------------------------------------------------- 6</p><p>1.2 Os tipos de diagnóstico ------------------------------------------------------------------------------------------------- 9</p><p>1.2.1 Situacional --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 10</p><p>1.2.2 Assistencial -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 10</p><p>1.2.3 Escolar -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 11</p><p>1.2.4 Modalidade de Aprendizagem ------------------------------------------------------------------------------------------------- 11</p><p>1.2.5 Transtorno de Aprendizagem -------------------------------------------------------------------------------------------------- 12</p><p>1.3 Etapas do diagnóstico------------------------------------------------------------------------------------------------- 13</p><p>1.3.1 Entrevista Familiar Exploratório Situacional (E.F.E.S.) ------------------------------------------------------------------- 14</p><p>1.3.2 Entrevista de Anamnese --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 14</p><p>1.4 Sessões lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças) ----------------------------------------------- 16</p><p>1.4.1 Provas e testes --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 16</p><p>1.4.2 Síntese diagnóstica ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17</p><p>1.4.3 Entrevista de devolução e encaminhamento ------------------------------------------------------------------------------ 17</p><p>2 Materiais e estratégias para intervenção psicopedagógica ---------------------------------- 18</p><p>2.1 Jogos de exercício ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 19</p><p>2.2 Jogos simbólicos -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 20</p><p>2.3 Jogo de regras ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21</p><p>2.4 Materiais lúdicos ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22</p><p>3 Técnicas de intervenção psicopedagógica --------------------------------------------------------- 23</p><p>3.1 O Psicodrama ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23</p><p>3.2 Livros sem texto -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25</p><p>3.3 A Caixa de Areia -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 26</p><p>3.4 Estimulação Cognitiva ------------------------------------------------------------------------------------------------ 27</p><p>4 Técnicas Expressivas Plásticas ------------------------------------------------------------------------ 29</p><p>5 A organização do portfólio do diagnóstico -------------------------------------------------------- 30</p><p>Referências ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 32</p><p>Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por marcadores.</p><p>Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e</p><p>DESCOMPLICADA pelo conteúdo.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Introdução</p><p>www.cenes.com.br | 3</p><p>Introdução</p><p>A Psicopedagogia tem por definição o trabalho com a aprendizagem, com o</p><p>conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e distorções. Realiza este trabalho</p><p>através de processos e estratégias que levam em conta a individualidade do</p><p>aprendente. É uma praxe, portanto comprometida com a melhoria doas condições de</p><p>aprendizagem. O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva</p><p>e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das</p><p>aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos</p><p>problemas que podem surgir.</p><p>Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática</p><p>docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da</p><p>própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis</p><p>perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da</p><p>comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover</p><p>orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos;</p><p>realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma</p><p>individual quanto em grupo.</p><p>Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de aprendizagem,</p><p>diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores,</p><p>estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológica, psicomotora.</p><p>fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem</p><p>e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo</p><p>esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da</p><p>pedagogia</p><p>O psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais, o</p><p>estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis com as</p><p>mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura envolver a equipe</p><p>escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das circunstâncias de</p><p>produção do conhecimento, ajudando o aluno a superar os obstáculos que se</p><p>interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à leitura do mundo.</p><p>A aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo e o meio,</p><p>da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Dentro dos aspectos</p><p>biológicos, a criança apresenta uma série de características que lhe permitem, ou não,</p><p>o desenvolvimento de conhecimentos. As características psicológicas são</p><p>consequentes da história individual, de interações com o ambiente e com a família, o</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 4</p><p>que influenciará as experiências futuras, como, por exemplo, o conceito de si próprio,</p><p>insegurança, interações sociais etc.</p><p>Portanto, a psicopedagogia, pode fazer um trabalho entre os muitos profissionais,</p><p>visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da criança, bem como</p><p>pode contribuir para que os alunos sejam capazes de olhar esse mundo em que vivem,</p><p>de saber interpretá-lo e de nele ter condições de interferir com segurança e</p><p>competência. Assim, o psicopedagogo não só contribuirá com o desenvolvimento da</p><p>criança, desde sua infância, como também contribuirá com a evolução de um mundo</p><p>que melhore as condições de vida da maioria da humanidade.</p><p>Então como a psicopedagogia pode ajudar no desenvolvimento de crianças durante</p><p>a educação infantil? A educação infantil precisa ser mais do que um lugar agradável,</p><p>onde se brinca. Deve ser um espaço estimulante, educativo, seguro, afetivo, com</p><p>professores realmente</p><p>e</p><p>diferenças, a análise e síntese tão importantes para o desenvolvimento de habilidades</p><p>de leitura/escrita e a percepção de transformações que permitem o trabalho com as</p><p>estruturas operatórias de pensamento.</p><p>Coleções como a editada pela Cia das Letrinhas- Por Dentro da Arte - apresentam</p><p>as obras de grandes pintores, de vários movimentos artísticos, com atividades lúdicas</p><p>a serem realizadas pelas crianças. São verdadeiros jogos e podem ser usados com</p><p>muito sucesso na intervenção psicopedagógica. Jogos como o "tetracores", ou</p><p>mosaicos em suas mais variadas formas, desenvolvem os aspectos acima</p><p>mencionados e devem ser utilizados com as crianças portadoras de dificuldades de</p><p>aprendizagem.</p><p>5 A organização do portfólio do diagnóstico</p><p>Segundo o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 2005), o portfólio é um tipo de papel</p><p>consistente, normalmente dobrado, utilizado para armazenar papéis ou quaisquer</p><p>materiais em seu interior. Destinado para guardar um conjunto específico de papéis</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>A organização do portfólio do diagnóstico</p><p>www.cenes.com.br | 31</p><p>ou manter coleções de alguma coisa. Na arquitetura, ele é utilizado para reunir os</p><p>trabalhos mais importantes do arquiteto pela amostragem de fotos, registro escrito</p><p>de detalhes com relação ao material, cores utilizadas e outras anotações.</p><p>Na educação, o portfólio, organizado pelo professor, costuma reunir os trabalhos</p><p>dos alunos durante a realização de algum projeto vivenciado pela turma, ou é</p><p>montado por cada aluno individualmente. Geralmente, ele é confeccionado no</p><p>formato de caixas, pastas e CD-ROM (denominado também de portfólios digitais).</p><p>Shores e Grace (2001) definem portfólio como uma coleção de itens que revela os</p><p>diferentes aspectos do crescimento e do desenvolvimento de cada aluno. Ele possui</p><p>amostras de desenhos, fotografias e comentários que poderão oferecer informações</p><p>sobre o processo de aprendizagem dos sujeitos. As autoras sugerem dez passos para</p><p>a construção do portfólio e enfatizam o envolvimento da família nesse trabalho, além</p><p>de solicitar ajuda na coleta de informações e na comunicação do trabalho</p><p>desenvolvido com os alunos.</p><p>O portfólio caracteriza-se como instrumento de avaliação, pois comunica o</p><p>processo de aprendizagem de cada sujeito e seu desenvolvimento. Proporciona,</p><p>também, conhecimento aos profissionais da educação e ao psicopedagogo, com</p><p>relação ao desenvolvimento humano e à criação de técnicas de observação e</p><p>adaptação de atividades para suprir as necessidades individuais de cada sujeito.</p><p>Shores e Grace (2001) distinguem três tipos de portfólio:</p><p>• O Portfólio Particular, que contém informações confidenciais de cada sujeito,</p><p>histórico médico, telefone dos pais, entrevista com algum familiar.</p><p>• O Portfólio de Aprendizagem, que contém anotações dos projetos em</p><p>andamento, diário de aprendizagem do sujeito. Nesse caso, cada sujeito poderá</p><p>realizar o próprio portfólio.</p><p>• O Portfólio Demonstrativo, que é a versão condensada dos outros dois: tanto</p><p>os sujeitos, como os pais e professores podem escolher itens para a criação</p><p>desse portfólio, o qual poderá ser apresentado para outro profissional que</p><p>pretende conhecer o percurso já desenvolvido.</p><p>O portfólio oferece várias possibilidades para organizar informações de forma</p><p>significativa, que documentam o desenvolvimento e a aprendizagem. O sujeito</p><p>também pode selecionar o material junto com o profissional (professor,</p><p>psicopedagogo), proporcionando a autorreflexão sobre a própria aprendizagem,</p><p>análise e interpretação para a continuidade do processo.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Referências</p><p>www.cenes.com.br | 32</p><p>O portfólio enquanto instrumento de avaliação na educação é uma proposta</p><p>recente na área da educação e no campo da psicopedagogia também. O</p><p>levantamento bibliográfico sobre o tema da construção de portfólios oferece</p><p>subsídios para compreender a importância e urgência desse assunto para auxiliar no</p><p>atendimento psicopedagógico desde a sua avaliação diagnóstica, enquanto fonte de</p><p>informação e intervenção durante o processo de tratamento das dificuldades de</p><p>aprendizagem.</p><p>Referências</p><p>BOSSA, Nádia Aparecida. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.</p><p>2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.</p><p>COLL, César; MARTÍN, Emília. O construtivismo na sala de aula. 6. Ed. Itapecerica:</p><p>Editora Ática, 2006.</p><p>______. MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jesús. Desenvolvimento psicológico e educação:</p><p>transtornos do desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 2. ed. Porto</p><p>Alegre: Artmed, 2007.</p><p>FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas,</p><p>1991.</p><p>PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4. ed. Porto</p><p>Alegre: Artes Médicas, 1992.</p><p>RUBINSTEIN, Edith. A psicopedagogia e a Associação Estadual de Psicopedagogia de</p><p>São Paulo. In SCOZ, Beatriz Judith Lima (et al). Psicopedagogia: o caráter</p><p>interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987,</p><p>cap. 1.</p><p>VASCONCELLOS, Celso. Avaliação da aprendizagem: construindo uma práxis. In:</p><p>Temas em educação – 1º Livro da Jornadas de 2002. Futuro Eventos.</p><p>WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos</p><p>problemas de aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.</p><p>WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e a realidade. Rio de janeiro: Imago Edit, 1975.</p><p>FERREIRA, A.B de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 14. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Nova Fronteira, 2005.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Referências</p><p>www.cenes.com.br | 33</p><p>SHORES, E.; GRACE, C. Manual de portfólio: um guia passo a passo para o professor.</p><p>Porto Alegre: Artmed, 2001.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Referências</p><p>www.cenes.com.br | 34</p><p>Sumário</p><p>Introdução</p><p>1 Avaliação Psicopedagógica</p><p>1.1 O que é o diagnóstico na psicopedagogia</p><p>1.2 Os tipos de diagnóstico</p><p>1.2.1 Situacional</p><p>1.2.2 Assistencial</p><p>1.2.3 Escolar</p><p>1.2.4 Modalidade de Aprendizagem</p><p>1.2.5 Transtorno de Aprendizagem</p><p>1.3 Etapas do diagnóstico</p><p>1.3.1 Entrevista Familiar Exploratório Situacional (E.F.E.S.)</p><p>1.3.2 Entrevista de Anamnese</p><p>1.4 Sessões lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças)</p><p>1.4.1 Provas e testes</p><p>1.4.2 Síntese diagnóstica</p><p>1.4.3 Entrevista de devolução e encaminhamento</p><p>2 Materiais e estratégias para intervenção psicopedagógica</p><p>2.1 Jogos de exercício</p><p>2.2 Jogos simbólicos</p><p>2.3 Jogo de regras</p><p>2.4 Materiais lúdicos</p><p>3 Técnicas de intervenção psicopedagógica</p><p>3.1 O Psicodrama</p><p>3.2 Livros sem texto</p><p>3.3 A Caixa de Areia</p><p>3.4 Estimulação Cognitiva</p><p>4 Técnicas Expressivas Plásticas</p><p>5 A organização do portfólio do diagnóstico</p><p>Referências</p><p>preparados para acompanhar a criança nesse processo intenso</p><p>e cotidiano de descobertas e de crescimento.</p><p>Nessas condições, acreditamos que o Psicopedagogo é um grande contribuinte,</p><p>porque trabalha com o objetivo de realizar um diagnóstico, identificar as causas do</p><p>problema e intervir para desenvolver no sujeito o desejo de aprender.</p><p>1 Avaliação Psicopedagógica</p><p>A avaliação psicopedagógica é um dos componentes críticos da intervenção</p><p>psicopedagógica, pois nela se fundamenta as decisões voltadas à prevenção e solução</p><p>das possíveis dificuldades dos alunos, promovendo melhores condições para o seu</p><p>desenvolvimento.</p><p>Ela é um processo compartilhado de coleta e análise de informações relevantes</p><p>acerca dos vários elementos que intervêm no processo de ensino e aprendizagem,</p><p>visando identificar as necessidades educativas de determinados alunos ou alunas que</p><p>apresentem dificuldades em seu desenvolvimento pessoal ou desajustes com respeito</p><p>ao currículo escolar por causas diversas, e a fundamentar as decisões a respeito da</p><p>proposta curricular e do tipo de suportes necessários para avançar no</p><p>desenvolvimento das várias capacidades e para o desenvolvimento da instituição</p><p>(COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2007, p. 279).</p><p>A avaliação psicopedagógica envolve:</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 5</p><p>a) a identificação dos principais fatores responsáveis pelas dificuldades da</p><p>criança. Precisamos determinar se trata-se de um distúrbio de</p><p>aprendizagem ou de uma dificuldade provocada por outros fatores</p><p>(emocionais, cognitivos, sociais...). Isto requerer que sejam coletados dados</p><p>referentes à natureza da dificuldade apresentada pela criança, bem como</p><p>que se investigue a existência de quadros neuropsiquiátricos, condições</p><p>familiares, ambiente escolar e oportunidades de estimulação oferecidas</p><p>pelo meio a que a criança pertence;</p><p>b) o levantamento do repertório infantil relativo as habilidades acadêmicas e</p><p>cognitivas relevantes para a dificuldade de aprendizagem apresentada, o</p><p>que inclui: conhecimento, pelo profissional, do conteúdo acadêmico e da</p><p>proposta pedagógica, à qual a criança está submetida; investigação de</p><p>repertórios relevantes para a aprendizagem, como a atenção, hábitos de</p><p>estudos, solução de problemas, desenvolvimento psicomotor, linguístico,</p><p>etc.; avaliação de pré-requisitos e/ou condições que facilitem a</p><p>aprendizagem dos conteúdos; identificação de padrões de raciocínio</p><p>utilizados pela criança ao abordar situações e tarefas acadêmicas, bem</p><p>como déficits e preferências nas modalidades percentuais etc;</p><p>c) a identificação de características emocionais da criança, estímulos e</p><p>esquemas de reforçamento aos quais responde e sua interação com as</p><p>exigências escolares propriamente ditas.</p><p>Ela deve ser um processo dinâmico, pois é nela que são tomadas decisões sobre</p><p>a necessidade ou não de intervenção psicopedagógica. Ela é a investigação do</p><p>processo de aprendizagem do indivíduo visando entender a origem da dificuldade</p><p>e/ou distúrbio apresentado. Inclui entrevista inicial com os pais ou responsáveis pela</p><p>criança, análise do material escolar, aplicação de diferentes modalidades de atividades</p><p>e uso de testes para avaliação do desenvolvimento, áreas de competência e</p><p>dificuldades apresentadas. Durante a avaliação podem ser realizadas atividades</p><p>matemáticas, provas de avaliação do nível de pensamento e outras funções cognitivas,</p><p>leitura, escrita, desenhos e jogos. Inicialmente, deve-se perceber, na consulta inicial,</p><p>que a queixa apontada pelos pais como motivo do encaminhamento para avaliação,</p><p>muitas vezes pode não só descrever o “sintoma”, mas também traz consigo indícios</p><p>que indicam o caminho para início da investigação. “A versão que os pais transmitem</p><p>sobre a problemática e principalmente a forma de descrever o sintoma, dão-nos</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 6</p><p>importantes chaves para nos aproximarmos do significado que a dificuldade de</p><p>aprender tem na família” (FERNÁNDEZ, 1991, p. 144).</p><p>Segundo Coll e Martín (2006), avaliar as aprendizagens de um aluno equivale a</p><p>especificar até que ponto ele desenvolveu determinadas capacidades contempladas</p><p>nos objetivos gerais da etapa. Para que o aluno possa atribuir sentido às novas</p><p>aprendizagens propostas, é necessária a identificação de seus conhecimentos prévios,</p><p>finalidade a que se orienta a avaliação das competências curriculares.</p><p>Dentre os instrumentos de avaliação também podemos destacar: escrita livre e</p><p>dirigida, visando avaliar a grafia, ortografia e produção textual (forma e conteúdo);</p><p>leitura (decodificação e compreensão); provas de avaliação do nível de pensamento e</p><p>outras funções cognitivas; cálculos; jogos simbólicos e jogos com regras; desenho e</p><p>análise do grafismo.</p><p>Conforme Coll; Marchesi; Palacios (2007), a avaliação psicopedagógica irá fornecer</p><p>informações importantes em relação as necessidades dos seus alunos, bem como de</p><p>seu contexto escolar, familiar e social, e ainda irá justificar se há ou não necessidade</p><p>de introduzir mudanças na oferta educacional.</p><p>Depois de coletadas informações que considera importante para a avaliação, o</p><p>psicopedagogo irá intervir visando à solução de problemas de aprendizagem em seus</p><p>devidos espaços, uma vez que a avaliação visa reorganizar a vida escolar e doméstica</p><p>da criança e, somente neste foco ela deve ser encaminhada, vale dizer que fica vazio</p><p>o pedido de avaliação apenas para justificar um processo que está descomprometido</p><p>com o aluno e com a sua aprendizagem. “De fato, se pensarmos em termos bem</p><p>objetivos, a avaliação nada mais é do que localizar necessidades e se comprometer</p><p>com sua superação” (VASCONCELOS, 2002, p. 83).</p><p>1.1 O que é o diagnóstico na psicopedagogia</p><p>Investigação é um termo utilizado por Rubinstein (1987), e que define a</p><p>psicopedagogia. O profissional desta área deve vasculhar cada “canto” da pessoa,</p><p>analisar o modo de como ela se expressa, seus gestos, a entonação da voz, tudo. O</p><p>psicopedagogo deve também enxergar não só o que essa criança mostra, mas saber</p><p>perceber que ela pode ter algum problema imperceptível que está dificultando sua</p><p>aprendizagem e saber conduzi-la para um outro profissional, como: psicólogos,</p><p>fonoaudiólogos, neurologistas etc., isso significa saber investigar os múltiplos fatores</p><p>que levam está criança a não conseguir aprender.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 7</p><p>O psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando solucioná-</p><p>las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta</p><p>fundamentalmente é investigar todo o processo de aprendizagem levando em</p><p>consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para valendo-se desta</p><p>investigação, entender a constituição da dificuldade de aprendizagem (RUBINSTEIN,</p><p>1987, p. 51).</p><p>Diagnosticar um distúrbio de aprendizagem é uma tarefa difícil e para fazê-lo de</p><p>modo preciso e eficiente há que se ter a participação de equipe interdisciplinar e</p><p>utilização de diferentes instrumentos para avaliação. Fernández (1991) afirma que o</p><p>diagnóstico, para o terapeuta, deve ter a mesma função que a rede para um</p><p>equilibrista. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que este</p><p>faça o encaminhamento necessário. É um processo que permite ao profissional</p><p>investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do</p><p>processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos. Esta investigação</p><p>permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de intervenções e da “escuta</p><p>psicopedagógica...” para que “se possa decifrar os processos que dão sentido ao</p><p>observado e norteiam a intervenção” (BOSSA, 2000, p. 24).</p><p>Diagnosticar nada mais é do que a constatação de que a criança possui algum</p><p>tipo de dificuldade</p><p>na aprendizagem, fato que normalmente só é detectado quando</p><p>ela é inserida no ensino formal. Porém, uma vez realizada essa constatação, cabe à</p><p>equipe investigar a sua causa e, para tanto, deve-se lançar mãos de todos os</p><p>instrumentos diagnósticos necessários para esse fim. O diagnóstico psicopedagógico</p><p>abre possibilidades de intervenção e dá início a um processo de superação das</p><p>dificuldades. O foco do diagnóstico é o obstáculo no processo de aprendizagem. É</p><p>um processo no qual analisa-se a situação do aluno com dificuldade dentro do</p><p>contexto da escola, da sala de aula, da família; ou seja, é uma exploração problemática</p><p>do aluno frente à produção acadêmica.</p><p>Durante o diagnóstico psicopedagógico, o discurso, a postura, a atitude do</p><p>paciente e dos envolvidos são pistas importantes que ajudam a chegar nas questões</p><p>a serem desvendadas. É através do desenvolvimento do olhar e da escuta</p><p>psicopedagógica, trabalhados e incorporados pelo profissional que poderão ser</p><p>lançadas as primeiras hipóteses acerca do indivíduo. Esse olhar e essa escuta</p><p>ultrapassam os dados reais relatados e buscam as entrelinhas, a emoção, a elaboração</p><p>do discurso inconsciente que o atendido traz.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 8</p><p>O objetivo do diagnóstico é obter uma compreensão global da sua forma de</p><p>aprender e dos desvios que estão ocorrendo neste processo que leve a um</p><p>prognóstico e encaminhamento para o problema de aprendizagem. Procura-se</p><p>organizar os dados obtidos em relação aos diferentes aspectos envolvidos no</p><p>processo de aprendizagem de forma particular. Ele envolve interdisciplinaridade em</p><p>pelo menos três áreas: neurologia, psicopedagogia e psicologia, para possibilitar a</p><p>eliminação de fatores que não são relevantes e a identificação da causa real do</p><p>problema. É nesse momento que o psicopedagogo irá interagir com o cliente (aluno),</p><p>com a família e a escola, partes envolvidas na dinâmica do processo de ensino-</p><p>aprendizagem. Também é importante ressaltar que o diagnóstico possui uma grande</p><p>relevância tanto quanto o tratamento, por isso ele deve ser feito com muito cuidado,</p><p>observando o comportamento e mudanças que isto pode acarretar no sujeito.</p><p>O diagnóstico psicopedagógico é visto como um momento de transição, um</p><p>passaporte para a intervenção, devendo seguir alguns princípios, tais como: análise</p><p>do contexto e leitura do sintoma; explicações das causas que coexistem</p><p>temporalmente com o sintoma; obstáculo de ordem de conhecimento, de ordem da</p><p>interação, da ordem do funcionamento e de ordem estrutural; explicações da origem</p><p>do sintoma e das causas históricas; análise do distanciamento do fenômeno em</p><p>relação aos parâmetros considerados aceitáveis, levantamento de hipótese sobre a</p><p>configuração futura do fenômeno atual e, indicações e encaminhamentos.</p><p>O diagnóstico não pode ser considerado como um momento estático, pois é uma</p><p>avaliação do aluno que envolve tanto os seus níveis atuais de desenvolvimento,</p><p>quanto as suas capacidades e possibilidades de aprendizagem futura. Por muitos</p><p>anos, era uma tarefa exclusiva dos especialistas, que analisavam algumas informações</p><p>dos alunos, obtidas através da família e às vezes da escola, e logo após devolviam um</p><p>laudo diagnóstico, quase sempre com termos técnicos incompreensíveis. A distância</p><p>existente no relacionamento entre os especialistas, a família e a escola impediam o</p><p>desenvolvimento de um trabalho eficiente com o aluno.</p><p>A proposta atual é que o diagnóstico seja um trabalho conjunto onde todas as</p><p>pessoas que estão envolvidas com o aluno devem participar, e não atuar como meros</p><p>coadjuvantes desse processo. Ele não é um estudo das manifestações aparentes que</p><p>ocorrem no dia a dia escolar, é uma investigação profunda, na qual são identificadas</p><p>as causas que interferem no desenvolvimento do aluno, sugerindo atividades</p><p>adequadas para correção e/ou compensação das dificuldades, considerando as</p><p>características de cada aluno. O diagnóstico não deverá somente fundamentar uma</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 9</p><p>deficiência, mas apontar as potencialidades do indivíduo. Não é simplesmente o que</p><p>este tem, mas o que pode ser e como poderá se desenvolver.</p><p>É de extrema relevância detectarmos, através do diagnóstico, o momento da vida</p><p>da criança em que se iniciam os problemas de aprendizagem. Do ponto de vista da</p><p>intervenção, faz muita diferença constatarmos que as dificuldades de aprendizagem</p><p>se iniciam com o ingresso na escola, pois pode ser um forte indício de que a</p><p>problemática tinha como causa fatores intra-escolares (BOSSA, 2000, p. 101).</p><p>Ao se instrumentalizar um diagnóstico, é necessário que o profissional atente para</p><p>o significado do sintoma a nível familiar e escolar e não o veja apenas em um recorte,</p><p>como uma deficiência do sujeito. Que o psicopedagogo, através do diagnóstico</p><p>acredite numa aprendizagem que possibilite transformar, sair do lugar estagnado e</p><p>construir. Que ele seja o fio condutor que norteará a intervenção psicopedagógica.</p><p>1.2 Os tipos de diagnóstico</p><p>Chamamos de diagnóstico psicopedagógico o processo de investigação de uma</p><p>queixa, que por sua vez nem sempre é um problema, mas que pode ser a origem de</p><p>uma investigação de distúrbios, transtornos ou patologias referentes à aprendizagem</p><p>humana, ou seja, tem como objetivo descobrir o que pode estar influenciando e</p><p>prejudicando bom desenvolvimento humano.</p><p>O psicopedagogo não é médico e ele faz SIM diagnóstico.</p><p>Quando falamos em diagnóstico devemos entender que este não é o resultado</p><p>e sim o processo, desta forma o psicopedagogo não pode dar o laudo daquilo que</p><p>ele tem como hipótese, mas ele realiza todo o processo de levantamento de hipóteses</p><p>e aplica métodos, técnicas e instrumentos científicos, por isso ele realiza</p><p>satisfatoriamente o diagnóstico de transtorno de aprendizagem. Depois de realizar o</p><p>diagnostico ele encaminha aos profissionais competentes para confirmar suas</p><p>hipóteses e assim fornecer um laudo ao seu aprendente. Entretanto, não cabe ao</p><p>psicopedagogo realizar o processo de diagnóstico de patologias e distúrbios como o</p><p>autismo, síndromes, transtorno de comportamento e distúrbios psiquiátricos sempre</p><p>lembrando que o campo de estudo do psicopedagogo é a aprendizagem.</p><p>Classificamos o diagnóstico psicopedagógico em cinco tipos:</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 10</p><p>a) Situacional</p><p>b) Assistencial</p><p>c) Escolar</p><p>d) Modalidade de Aprendizagem</p><p>e) Transtorno de Aprendizagem</p><p>1.2.1 Situacional</p><p>É o levantamento de informações acerca de uma queixa (problema/ narração de</p><p>um fato/ motivo de sofrimento/perda/dor/fracasso) em uma determinada situação</p><p>específica cujo objetivo é uma investigação rápida para conclusões imediatas e</p><p>planejamento para execução de curto prazo. Por exemplo: um psicopedagogo</p><p>trabalha em um consultório e recebe um cliente de outro psicopedagogo de uma</p><p>cidade vizinha que já realizou todo o processo de investigação de queixas anteriores</p><p>quanto a problemas na escola e o cliente já estava há um ano realizando terapia de</p><p>intervenção. Neste caso o psicopedagogo vai realizar um Diagnóstico Situacional, ou</p><p>seja, ele vai investigar naquele momento específico o que este aprendente necessita</p><p>dar continuidade na terapia, ou que processos do seu diagnóstico devem ser revistos</p><p>ou reavaliados.</p><p>Outra situação típica para ser executado são trabalhos com periferia, igrejas,</p><p>hospitais e ONG. Estes locais possuem uma clientela heterogênea com permanência</p><p>indeterminada e inconstante onde o psicopedagogo não pode manter uma rotina</p><p>extensa de atendimentos e necessita trabalhar diante de uma situação de resultados</p><p>mais rápidos para intervenções de caráter mais paliativos.</p><p>1.2.2 Assistencial</p><p>É o levantamento de informações realizados</p><p>dentro de instituições cujo objetivo</p><p>é assistencial (como os NAICAS, CRAS, Centro de tratamento de reabilitação de</p><p>drogas, presídios, casa de menores infratores e outros).</p><p>Neste tipo de diagnóstico você tem um público diferenciado que nem sempre há</p><p>uma queixa formalizada e que o psicopedagogo deverá investigar as necessidades</p><p>dos aprendentes assistidos por aquela instituição.</p><p>Paramos aqui para fazer uma observação. O campo Assistencial é promissor e</p><p>abrangente para o psicopedagogo, onde estão surgindo indicações e concursos cada</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 11</p><p>vez mais para esta área, contudo devemos nos preocupar com as formações</p><p>acadêmicas que são pobres em sua maioria, pois nada trazem em suas matrizes</p><p>curriculares acerca deste assunto.</p><p>Para trabalhar com o Diagnóstico Assistencial é necessário conhecer mais acerca</p><p>deste público, quem são seus usuários, como funcionam estas instituições, como</p><p>trabalhar com as equipes multidisciplinares que encontramos nestes ambientes? São</p><p>dificuldades encontradas por aqueles que já estão nesse mercado.</p><p>1.2.3 Escolar</p><p>É o levantamento de informações acerca das dificuldades no processo ensino-</p><p>aprendizagem dos aspectos escolares especificamente dos alunos de uma turma, ou</p><p>de toda a escola. Este tipo de Diagnóstico é mais centrado nas dificuldades de leitura,</p><p>escrita, de conhecimentos matemáticos e de adaptação a metodologia de ensino. Este</p><p>Diagnóstico tem o objetivo de ajudar diretamente o aluno e seu processo de</p><p>desenvolvimento escolar. Onde o Psicopedagogo poderá avaliar suas dificuldades e</p><p>encontrar caminhos que lhe levem a superar junto com a equipe escolar e a família.</p><p>Dentro deste Diagnóstico é possível identificar possíveis transtornos e patologias</p><p>comportamentais ou neurobiológicas que o aluno possa ter adquirido ou já ter</p><p>nascido e não ter sido identificado. Nestes casos o psicopedagogo deverá encontrar</p><p>os meios de como orientar a família para um tratamento da(as) patologias e auxiliar</p><p>os professores e coordenação com métodos ou recursos que possam facilitar ou até</p><p>mesmo superar os obstáculos encontrados pelo aprendente na sala de aula ou os</p><p>professores no ato de ensinar a este aluno.</p><p>1.2.4 Modalidade de Aprendizagem</p><p>O Diagnóstico Modalidade de Aprendizagem é um tipo de Diagnóstico que</p><p>pode ser usado de forma Situacional, em ambientes Clínicos, Hospitais, Escolas,</p><p>Empresas etc, porque ele visa identificar como o sujeito em aprendizagem APRENDE</p><p>qual seu MODO DE APRENDER e qual seus bloqueios que possam estar NAQUELE</p><p>MOMENTO (modalidades patogênicas de aprendizagem) dificultando/atrasando ou</p><p>até impedindo seu desenvolvimento normal.</p><p>Este diagnóstico leva em consideração que todos aprendemos de formas</p><p>diferentes do qual classificamos em três principais formas: visual, auditivo e</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 12</p><p>cinestésico. Desta forma cada MODO de aprender influencia na forma como esse</p><p>processo se desenvolve e principalmente da relação com quem ensina. Este tipo de</p><p>Diagnóstico traz os conceitos trabalhados por Sara Pain e Alicia Fernandez que</p><p>sintetizam os conceitos de Jean Piaget sobre assimilação e acomodação. Desta forma</p><p>neste tipo de Diagnóstico o psicopedagogo deve compreender "Como se dá o</p><p>processo de aprendizagem humana”, "Como aprendemos".</p><p>Quando compreendemos o processo de assimilação e acomodação chegamos</p><p>nos resultados dos problemas que podem SER causadores de dificuldades escolares,</p><p>ou de outras aprendizagens. Levantando as hipóteses das modalidades patogênicas e</p><p>de suas combinações que são: hiperacomodativa, HiperAssimilativa, (Hipoassimativa</p><p>e HipoAssimilativas. Através deste tipo de diagnóstico o psicopedagogo poderá</p><p>elaborar um projeto de intervenção especifico na modalidade patogênica que</p><p>necessita de ajustes.</p><p>1.2.5 Transtorno de Aprendizagem</p><p>O Diagnóstico Transtorno de Aprendizagem é específico para uma queixa de</p><p>dificuldade de leitura, déficit de atenção, hiperatividade, dificuldades de cálculos, ou</p><p>seja, uma queixa que por muitas vezes o cliente já tem uma linha de pesquisa ou até</p><p>um outro diagnóstico. Desta forma o psicopedagogo vai aplicar primeiramente testes</p><p>e instrumentos que confirmem ou refutem este diagnóstico.</p><p>Este tipo de diagnóstico é indicado para casos de:</p><p>• Dislexias</p><p>• Disortografias</p><p>• Disartrias</p><p>• Discalculias</p><p>• DDA</p><p>• TDAH</p><p>Ressaltamos que o Psicopedagogo é um profissional que de acordo com a</p><p>Associação Brasileira de TDAH pertence ao quadro multidisciplinar do diagnóstico do</p><p>TDAH, sendo este profissional de suma importância junto com outros como o</p><p>neurologista e o psiquiatra. O profissional de psicopedagogia identificando qualquer</p><p>um dos sintomas destes transtornos neurobiológicos que afetam a aprendizagem</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 13</p><p>diretamente deve fazer os encaminhamentos necessários para o laudo médico</p><p>(neurologista /neuropediatra) , uso de medicação ou terapia psicológica ou</p><p>fonoaudiológica assim como realizar a elaboração de um projeto de intervenção cuja</p><p>finalidade é intervir nas dificuldades de aprendizagem desse sujeito portador deste</p><p>transtorno a fim de que ele possa superar/aprender estratégias de conviver com tais</p><p>patologias.</p><p>Ressaltamos desta forma que o Diagnóstico não é algo simples, ou uma única</p><p>fórmula pronta encontrada em um manual. Mas sim, possibilidades diferentes de</p><p>atuação psicopedagógicas com objetivos centrados na investigação dos problemas</p><p>de aprendizagem de um ou mais sujeitos em qualquer local visando encontrar</p><p>soluções que amenizem/eliminem os problemas encontrados.</p><p>1.3 Etapas do diagnóstico</p><p>O diagnóstico psicopedagógico é composto de várias etapas que se distinguem</p><p>pelo objetivo da investigação. Desta forma, temos a anamnese só com os pais ou com</p><p>toda a família para a compreensão das relações familiares e sua relação com o modelo</p><p>de aprendizagem do sujeito; a avaliação da produção escolar e dos vínculos com os</p><p>objetivos de aprendizagem escolar; a avaliação de desempenho em teste de</p><p>inteligência e viso-motores; a análise dos aspectos emocionais por meio de testes e</p><p>sessões lúdicas, entrevistas com a escola ou outra instituição em que o sujeito faça</p><p>parte; etc. Esses momentos podem ser estruturados dentro de uma sequência</p><p>diagnóstica estabelecida.</p><p>Existem diferentes modelos de sequência diagnóstica, sendo que nos deteremos</p><p>no modelo desenvolvido por Weiss (1992). As etapas que compõem o modelo e o</p><p>caracterizam:</p><p>1. Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S.);</p><p>2. Entrevista de anamnese;</p><p>3. Sessões lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças);</p><p>4. Provas e Testes (quando necessário);</p><p>5. Síntese diagnóstica – Prognóstico;</p><p>6. Entrevista de Devolução e Encaminhamento.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 14</p><p>Estas etapas podem ser modificadas quanto a sua sequência e maneira de aplicá-</p><p>las, de acordo com cada prática psicopedagógica.</p><p>1.3.1 Entrevista Familiar Exploratório Situacional (E.F.E.S.)</p><p>Visa a compreensão da queixa nas dimensões da escola e da família, a captação</p><p>das relações e expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar, a</p><p>expectativa em relação ao psicopedagogo, a aceitação e o engajamento do paciente</p><p>e de seus pais no processo diagnóstico e o esclarecimento do que é um diagnóstico</p><p>psicopedagógico. Nesta entrevista, pode-se reunir os pais e a criança. É importante</p><p>que nessa entrevista sejam colhidos dados relevantes para a organização de um</p><p>sistema consistente de hipóteses que servirá de guia para a investigação na próxima</p><p>sessão.</p><p>1.3.2 Entrevista de Anamnese</p><p>É uma entrevista, com foco mais específico, considerada como um dos pontos</p><p>cruciais de</p><p>um bom diagnóstico, visando colher dados significativos sobre a história</p><p>do sujeito na família, integrando passado, presente e projeções para o futuro,</p><p>permitindo perceber a inserção deste na sua família e a influência das gerações</p><p>passadas neste núcleo e no próprio.</p><p>Na anamnese, são levantados dados das primeiras aprendizagens, evolução</p><p>geral do sujeito, história clínica, história da família nuclear, história das famílias</p><p>materna e paterna e história escolar. O psicopedagogo deverá deixá-los à vontade “...</p><p>para que todos se sintam com liberdade de expor seus pensamentos e sentimentos</p><p>sobre a criança para que possam compreender os pontos nevrálgicos ligados à</p><p>aprendizagem” (Weiss, 1992, p. 62). A história vital nos permitirá “...detectar o grau de</p><p>individualização que a criança tem com relação à mãe e a conservação de sua história</p><p>nela” (PAÍN, 1992, p. 42).</p><p>É importante iniciar a entrevista falando sobre a gravidez, pré-natal, concepção.</p><p>“A história do paciente tem início no momento da concepção e vêm reforçar a</p><p>importância desses momentos na vida do indivíduo e, de algum modo, nos aspectos</p><p>inconscientes de aprendizagem” (WEISS, 1992, p. 64). Algumas circunstâncias do parto</p><p>como falta de dilatação, circular de cordão, emprego de fórceps, adiamento de</p><p>intervenção de cesárea, “costuma ser causa da destruição de células nervosas que não</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 15</p><p>se reproduzem e também de posteriores transtornos, especialmente no nível de</p><p>adequação perceptivo-motriz” (PAÍN, 1992, p. 43). É interessante perguntar se foi uma</p><p>gravidez desejada ou não, se foi aceito pela família ou rejeitado. Estes pontos poderão</p><p>determinar aspectos afetivos dos pais em relação ao filho.</p><p>Posteriormente é importante saber sobre as primeiras aprendizagens não</p><p>escolares ou informais, tais como: como aprendeu a usar a mamadeira, o copo, a</p><p>colher, como e quando aprendeu a engatinhar, a andar, a andar de velocípede, a</p><p>controlar os esfíncteres etc. A intenção é descobrir “em que medida a família</p><p>possibilita o desenvolvimento cognitivo da criança – facilitando a construção de</p><p>esquemas e deixando desenvolver o equilíbrio entre assimilação e acomodação...”</p><p>(WEISS, 1992, p. 66).</p><p>É interessante saber sobre a evolução geral da criança, como ocorreram seus</p><p>controles, aquisição de hábitos, aquisição da fala, alimentação, sono etc., se ocorreram</p><p>na faixa normal de desenvolvimento ou se houve defasagens. Se a mãe não permite</p><p>que a criança faça as coisas por si só, não permite também que haja o equilíbrio entre</p><p>assimilação e acomodação. Alguns pais retardam este desenvolvimento privando a</p><p>criança de, por exemplo, comer sozinha para não se lambuzar, tirar as fraldas para não</p><p>se sujar e não urinar na casa, é o chamado de hipoassimilação (PAÍN, 1992), ou seja,</p><p>os esquemas de objeto permanecem empobrecidos, bem como a capacidade de</p><p>coordená-los.</p><p>Por outro lado, há casos de internalização prematura dos esquemas, é o</p><p>chamado de hiperassimilação (PAÍN, 1992), pais que forçam a criança a fazer</p><p>determinadas coisas das quais ela ainda não está preparada para assimilar, pois seu</p><p>organismo ainda está imaturo, o que acaba desrealizando negativamente o</p><p>pensamento da criança. É interessante saber se as aquisições foram feitas pela criança</p><p>no momento esperado ou se foram retardadas ou precoces.</p><p>Saber sobre a história clínica, quais doenças, como foram tratadas, suas</p><p>consequências, diferentes laudos, sequelas também são de grande relevância, bem</p><p>como a história escolar, quando começou a frequentar a escola, sua adaptação,</p><p>primeiro dia de aula, possíveis rejeições, entusiasmo, porque escolheram aquela</p><p>escola, trocas de escola, enfim, os aspetos positivos e negativos e as consequências</p><p>na aprendizagem. Todas estas informações essenciais da anamnese devem ser</p><p>registradas para que se possa fazer um bom diagnóstico.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 16</p><p>1.4 Sessões lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças)</p><p>São fundamentais para a compreensão dos processos cognitivos, afetivos e</p><p>sociais, e sua relação com o modelo de aprendizagem do sujeito. A atividade lúdica</p><p>fornece informações sobre os esquemas do sujeito. Winicott expressa assim sua</p><p>opinião entre o brincar e a autodescoberta: “é no brincar, e somente no brincar, que</p><p>o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral:</p><p>e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu” (1975, p. 80).</p><p>Neste tipo de sessão, observa-se a conduta do sujeito como um todo, colocando</p><p>também um foco sobre o nível pedagógico, contudo deve-se ter como postulado que</p><p>sempre estarão implicados o seu funcionamento cognitivo e suas emoções ligadas ao</p><p>significado dos conteúdos e ações. Para Paín (1992), podemos avaliar através do</p><p>desenho, a capacidade do pensamento para construir uma organização coerente e</p><p>harmoniosa e elaborar a emoção.</p><p>1.4.1 Provas e testes</p><p>As provas e testes podem ser usadas, se necessário, para especificar o nível</p><p>pedagógico, estrutura cognitiva e/ou emocional do sujeito. O uso de provas e testes</p><p>não é indispensável em um diagnóstico psicopedagógico, representa um recurso a</p><p>mais a ser utilizado quando necessário. É uma complementação que funciona com</p><p>situações estimuladoras que provocam reações variadas.</p><p>Existem diversos testes e provas que podem ser utilizados num diagnóstico,</p><p>como as provas de inteligência (WISC é o mais conhecido, porém de uso exclusivo de</p><p>psicólogos, CIA, RAVEN); provas de nível de pensamento (Piaget); avaliação do nível</p><p>pedagógico (atividades com base no nível de escolaridade, E.O.C.A.); avaliação</p><p>perceptomotora (Teste de Bender, que tem por objetivo avaliar o grau de maturidade</p><p>visomotora do sujeito); testes projetivos (CAT, TAT, Desenho da família; Desenho da</p><p>figura humana; Casa, árvore e pessoa - HTP, também são de uso de psicólogos); testes</p><p>psicomotores e jogos psicopedagógicos. “As provas operatórias têm como objetivo</p><p>principal determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do</p><p>desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela</p><p>criança” (WEISS, 1992, p. 106).</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Avaliação Psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 17</p><p>1.4.2 Síntese diagnóstica</p><p>“Uma vez recolhida toda a informação (...) é necessário avaliar o peso de cada</p><p>fator na ocorrência do transtorno da aprendizagem” (PAÍN, 1992, p. 69). A síntese</p><p>diagnóstica é o momento em que é preciso formular uma única hipótese a partir da</p><p>análise de todos os dados colhidos no diagnóstico e suas relações de implicância, que</p><p>por sua vez aponta um prognóstico e uma indicação. Essa etapa é muito importante</p><p>para que a entrevista de devolução seja consciente e eficaz. É a resposta mais direta à</p><p>questão levantada na queixa. Faz-se uma síntese de todas as informações levantadas</p><p>nas diferentes áreas. É uma visão condicional baseada no que poderá acontecer a</p><p>partir das recomendações e indicações.</p><p>1.4.3 Entrevista de devolução e encaminhamento</p><p>É o momento que marca o encerramento do processo diagnóstico. “... Talvez o</p><p>momento mais importante desta aprendizagem seja a entrevista dedicada à</p><p>devolução do diagnóstico, entrevista que se realiza primeiramente com o sujeito e</p><p>depois com os pais” (PAÍN, 1992, p. 72). É um encontro entre sujeito, psicopedagogo</p><p>e família, visando relatar os resultados do diagnóstico, analisando todos os aspectos</p><p>da situação apresentados, seguindo de uma síntese integradora e um</p><p>encaminhamento. É uma etapa do diagnóstico muito esperada pela família e pelo</p><p>sujeito e que deve ser bem conduzida de forma que haja participação de todos,</p><p>procurando eliminar as dúvidas, afastando rótulos e fantasmas que geralmente estão</p><p>presentes em um processo diagnóstico. Não é suficiente apresentar</p><p>apenas as</p><p>conclusões. É necessário aproveitar esse espaço para que os pais assumam o problema</p><p>em todas as suas dimensões.</p><p>Weiss (1992) orienta organizar os dados sobre o paciente em três áreas:</p><p>pedagógica, cognitiva e afetivo-social, e posteriormente rearrumar a sequência dos</p><p>assuntos a serem abordados, a que ponto dará mais ênfase. É necessário haver um</p><p>roteiro para que o psicopedagogo não se perca e os pais não fiquem confusos. Tudo</p><p>deve ser feito com muito afeto e seriedade, passando segurança. Os pais, assim,</p><p>muitas vezes acabam revelando algo neste momento que surpreende e acaba</p><p>complementando o diagnóstico.</p><p>É importante que se toque inicialmente nos aspectos mais positivos do paciente</p><p>para que o mesmo se sinta valorizado. Muitas vezes a criança já se encontra com sua</p><p>autoestima tão baixa que a revelação apenas dos aspectos negativos acaba</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Materiais e estratégias para intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 18</p><p>perturbando-o ainda mais, o que acaba por inviabilizar a possibilidade para novas</p><p>conquistas. Depois, deverão ser mencionados os pontos causadores dos problemas</p><p>de aprendizagem.</p><p>Posterior a esta conduta deverá ser mencionada as recomendações como troca de</p><p>escola ou de turma, amenizar a superproteção dos pais, estimular a leitura em casa</p><p>etc; e as indicações que são os atendimentos que se julgue necessário como</p><p>fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista etc.</p><p>2 Materiais e estratégias para intervenção psicopedagógica</p><p>Quando o psicopedagogo está dirigindo sua atuação para o atendimento às</p><p>dificuldades de aprendizagem precisa selecionar os materiais, as técnicas e as</p><p>estratégias mais adequadas para cada caso. Existem muitas opções no mercado, mas</p><p>nem todas estão disponíveis com facilidade ou trazem instruções bem formuladas, de</p><p>modo a facilitar esta escolha.</p><p>Por isso, serão apresentados alguns dos materiais cujo uso foi atestado em clínicas</p><p>psicopedagógicas durante muitos anos de prática, assim como as estratégias de</p><p>intervenção que mais se adaptam aos tipos mais comuns de dificuldades de</p><p>aprendizagem que normalmente são atendidos pelos profissionais da</p><p>psicopedagogia.</p><p>Partindo do princípio de que o homem é múltiplo em suas formas de expressão e</p><p>de interpretação da realidade, podemos falar de um homo sapiens, de um homo faber</p><p>e também de um homo ludens, pois o brincar, em todas as suas formas, é tão antigo</p><p>quanto a própria humanidade. Alícia Fernández lembra que "aprender é quase tão</p><p>lindo como brincar" e que aprender e brincar ocupam o mesmo espaço transicional</p><p>no qual razão e emoção, objetividade e subjetividade se encontram. Para jogar o</p><p>homem precisa exercitar uma lógica e uma ética, pois não basta apenas jogar bem</p><p>para ganhar, mas é preciso ganhar com dignidade.</p><p>Por isso, o jogo é um material por excelência da intervenção psicopedagógica, na</p><p>medida em que possibilita o exercício destas lógicas racionais e afetivas necessárias</p><p>para a ressignificação dos aspectos patológicos relacionados com a aprendizagem</p><p>humana. Existe no jogo, contudo, algo mais importante do que a simples diversão e</p><p>interação. Ele revela uma lógica diferente da racional. O jogo revela uma lógica da</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Materiais e estratégias para intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 19</p><p>subjetividade, tão necessária para a estruturação da personalidade humana, quanto a</p><p>lógica formal das estruturas cognitivas.</p><p>O jogo carrega em si um significado muito abrangente. Ele tem uma carga</p><p>psicológica, porque é revelador da personalidade do jogador (a pessoa vai se</p><p>conhecendo enquanto joga). Ele tem também uma carga antropológica porque faz</p><p>parte da criação cultural de um povo (resgate e identificação com a cultura). O jogo é</p><p>construtivo porque ele pressupõe uma ação do indivíduo sobre a realidade. É uma</p><p>ação carregada de simbolismo, que dá sentido à própria ação, reforça a motivação e</p><p>possibilita a criação de novas ações.</p><p>O psicopedagogo utiliza o jogo diferentemente dos demais profissionais, porque</p><p>o vê como uma técnica que permite a articulação de aspectos objetivos e subjetivos,</p><p>necessários para que a aprendizagem aconteça sem problemas. Na intervenção</p><p>psicopedagógica o jogo pode ser utilizado em suas três formas, de acordo com a</p><p>teoria de Piaget.</p><p>• Jogos de exercício: 0 A 2 anos - período sensório-motor;</p><p>• Jogos simbólicos: 2 A 7 anos - período pré-operatório;</p><p>• Jogos de regras: a partir do período operatório concreto.</p><p>Estas delimitações etárias estão, logicamente, sujeitas à alterações em função das</p><p>diferenças individuais.</p><p>2.1 Jogos de exercício</p><p>A principal característica da ação exercida pela criança no período sensório motor</p><p>é a satisfação de suas necessidades. Pouco a pouco, porém, ela vai ampliando seus</p><p>esquemas, adquirindo cada vez mais a possibilidade de garantir prazer por intermédio</p><p>de suas ações. Passa a agir para conseguir prazer. O prazer é que traz significado para</p><p>a ação. Piaget observou as condutas das crianças pequenas e delas depreendeu que</p><p>havia um objetivo na repetição incessante das mesmas ações: divertir e servir como</p><p>instrumento de realização de um prazer em fazer funcionar, exercitar estruturas já</p><p>aprendidas. Este tipo de brincadeira dá à criança um sentimento de eficácia e poder.</p><p>O jogo de exercício é definido por ele como característico desta fase sensório-</p><p>motora. Entretanto, o ser humano não deixa de jogá-lo só porque cresce e se torna</p><p>adulto. A cada nova aprendizagem ele volta a utilizar jogos de exercícios, necessários</p><p>à formação de esquemas de ação úteis ao seu desempenho, pois o jogo de exercício</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Materiais e estratégias para intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 20</p><p>não objetiva a aprendizagem em si, mas a formação de esquemas de ação, de</p><p>condutas, de automatismo. Por isso, jogá-lo só é necessário para este fim, pois fica</p><p>cansativa e enfadonha a repetição de ações já interiorizadas.</p><p>2.2 Jogos simbólicos</p><p>Este tipo de jogo predomina dos 2 aos 7 anos de idade, ou seja, no período pré-</p><p>operatório de pensamento. No jogo simbólico a criança já é capaz de encontrar o</p><p>mesmo prazer que tinha anteriormente lidando agora com símbolos. É a época do</p><p>"faz de conta", da representação, do teatro, das histórias, nas quais uma coisa</p><p>simboliza outra: um pedaço de pau "vira" cavalo; vestir uma capa transforma em</p><p>super-homem; representar o papel de mãe ao brincar de bonecas, dentre outros</p><p>exemplos.</p><p>Os jogos simbólicos têm as seguintes características: liberdade total de regras (a</p><p>não ser aquelas criadas pela própria criança); desenvolvimento da imaginação e da</p><p>fantasia; ausência de objetivo (brincar pelo prazer de brincar); ausência de uma lógica</p><p>da realidade; assimilação da realidade ao "eu" (a criança adapta a realidade a seus</p><p>desejos. EX: se presencia uma briga entre os pais, vai brincar de casinha e resolve o</p><p>conflito por meio dos bonecos.</p><p>A criança é capaz deste jogo porque já estruturou sua função simbólica, ou seja,</p><p>já produz imagens mentais, já domina a linguagem falada, que lhe possibilita usar</p><p>símbolos para substituir os objetos. Quando joga jogos simbólicos ela tem a</p><p>possibilidade de vivenciar aspectos da realidade muitas vezes difíceis de elaborar : a</p><p>vinda de um irmãozinho, a perda de um genitor, a mudança da escola. Pode lidar com</p><p>as situações desejantes ( ser um super-homem), penosas ( separação dos pais ), com</p><p>situações do passado, enfrentar problemas do presente e antecipar consequências de</p><p>ações no futuro. Ela pode fazer tudo isso, sem riscos, porque nada é real, tudo é</p><p>fictício.</p><p>O adulto que observa e interage com a criança no jogo simbólico pode perceber</p><p>como ela está elaborando sua visão de mundo, como lida com seus problemas, quais</p><p>são seus sonhos ou suas preocupações. Por isso, o jogo simbólico é tão importante</p><p>na intervenção psicopedagógica dirigida para as dificuldades de aprendizagem.</p><p>Como o período pré-operatório se estende dos 2 aos 7 anos, tendo, portanto,</p><p>uma duração mais longa, verificamos que o jogo simbólico sofre modificações à</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Materiais e estratégias para intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 21</p><p>proporção que a criança vai progredindo em seu desenvolvimento, rumo à intuição e</p><p>à operação.</p><p>Evolução dos Jogos Simbólicos</p><p>Inicialmente a criança pratica ela mesma a ação: faz de conta que dorme, faz de</p><p>conta que come etc., não lida com objetos como se estes tivessem vida: Ex.: não usa</p><p>uma vassoura como cavalo.</p><p>Em seguida, a criança fará dormir, comer, ir e vir, outros objetos que não ela</p><p>própria, transformando simbolicamente um objeto em outro. EX.: uma caixa vazia é</p><p>um carro; por volta dos 4 anos a criança vai se aproximando, cada vez mais, de uma</p><p>imitação da realidade. Ex.: todas as casas desenhadas têm que ter janelas e telhados.</p><p>À proporção que vai entrando no subperíodo intuitivo do período operatório</p><p>concreto, os jogos tendem a seguir cada vez mais uma tendência imitativa na qual a</p><p>busca de coerência com a realidade, a articulação entre os diversos conjuntos de</p><p>objetos já se faz sentir. Ex.: jamais brincar com uma boneca muito grande numa</p><p>caminha pequena.</p><p>2.3 Jogo de regras</p><p>Os jogos de regras são o coroamento da experimentação da criança com as</p><p>transformações a que ela chegou quando atingiu a reversibilidade de pensamento</p><p>operatório concreto. Neles existe o prazer do exercício, o lúdico do simbolismo, a</p><p>alegria do domínio de categorias espaciais e temporais, os limites que as regras</p><p>determinam, a socialização de condutas que caracteriza a vida adulta. Os jogos de</p><p>regras são, segundo Piaget, "a atividade lúdica do ser socializado".</p><p>Um jogo de regras pressupõe uma situação problema, uma competição por sua</p><p>resolução e uma premiação advinda desta resolução. As regras orientam as ações dos</p><p>competidores, estabelecem seus limites de ação, dispõem sobre as penalidades e</p><p>recompensas. Elas são as "leis" do jogo. Ao jogar jogos de regras as crianças assimilam</p><p>a necessidade de cumprimento das leis da sociedade e das leis morais da vida.</p><p>Para ser enquadrado como um jogo de regras são necessárias as seguintes</p><p>características: que haja um objetivo claro a ser alcançado; que existam regras</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Materiais e estratégias para intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 22</p><p>dispondo sobre este objetivo; que existam intenções opostas dos competidores; que</p><p>haja a possibilidade de cada competidor levantar estratégias de ação.</p><p>Os jogos de regras são necessários para que as convenções sociais e os valores</p><p>morais de uma cultura sejam transmitidos a seus membros. As estratégias de ação, a</p><p>tomada de decisão, a análise dos erros, lidar com perdas e ganhos, replanejar as</p><p>jogadas em função dos movimentos do adversário, tudo isso é fundamental para o</p><p>desenvolvimento do raciocínio, das estruturas cognitivas dos sujeitos. O jogo provoca</p><p>um conflito interno, a necessidade de buscar uma saída, e desse conflito o</p><p>pensamento sai enriquecido, reestruturado e apto a lidar com novas transformações.</p><p>2.4 Materiais lúdicos</p><p>Partindo-se do princípio de que o jogo é inerente ao ser humano, qualquer</p><p>material pode ser usado para esta função. Até uma parte do corpo, como fazem os</p><p>bebês, que brincam com suas próprias mãos e pés. Contudo, na evolução histórica da</p><p>humanidade, houve a criação de instrumentos que possibilitam aos homens novas</p><p>maneiras de interação com o meio. Assim surgiram os brinquedos e os jogos</p><p>estruturados, ampliando as formas de brincar.</p><p>Em um consultório psicopedagógico é importante que existam jogos à</p><p>disposição da criança para que ela possa usá-los em suas brincadeiras, permitindo ao</p><p>terapeuta a observação de sua modalidade de brincar, de maneira a transcender para</p><p>a compreensão de sua modalidade de aprendizagem. Assim ele poderá encaminhar o</p><p>trabalho para a ressignificação dos vínculos patológicos com a realidade e o exercício</p><p>pleno da autoria de pensamento de seu cliente.</p><p>Saber o que comprar, que tipo de jogo usar para cada caso, é um dos desafios</p><p>ao profissional da aprendizagem. Não há como comprar todos os jogos disponíveis</p><p>no mercado, nem necessidade disso. Importante que o psicopedagogo possua alguns</p><p>jogos de exercícios, materiais simbólicos e jogos de regras, para atender à diversidade</p><p>de desenvolvimento humano. Que tais materiais sejam de boa qualidade e resistentes</p><p>às brincadeiras, pois nada é mais frustrante do que a criança estar brincando e o</p><p>brinquedo quebrar ou se danificar enquanto ela o utiliza.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Técnicas de intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 23</p><p>3 Técnicas de intervenção psicopedagógica</p><p>Várias técnicas podem ser utilizadas pelo psicopedagogo quando está intervindo</p><p>junto às dificuldades de aprendizagem. São destacadas aqui algumas que têm seu uso</p><p>mais difundido, por sua amplitude: o psicodrama, a caixa de areia, estimulação</p><p>cognitiva, as técnicas expressivas plásticas, que utilizam atividades artísticas em suas</p><p>diversas modalidades e a informática.</p><p>3.1 O Psicodrama</p><p>O médico romeno, Moreno, foi o criador do psicodrama. Ele foi um estudioso do</p><p>comportamento grupal, dando ênfase às relações estabelecidas entre os</p><p>componentes dos grupos por meio do método role-playing ou jogo de papéis. O</p><p>psicodrama foi uma inovação nas técnicas terapêuticas do século passado, pois</p><p>introduziu recursos da representação teatral, com a vivência de personagens nos</p><p>processos de tratamentos psicológicos, por meio da catarse (descarga emocional). O</p><p>termo "psicoterapia de grupo" passou a ser utilizado após as experiências de Moreno</p><p>com a expressão de sentimentos e emoções em um clima de espontaneidade</p><p>associado a uma situação de representação.</p><p>Não se trata de representar como em um teatro, repetindo indefinidamente em</p><p>cada apresentação as mesmas falas, mas de viver um papel que é único na vida de</p><p>cada pessoa e que pode ser o catalizador de interpretações que libertem o sujeito de</p><p>seus problemas. O método psicodramático aborda os conflitos que surgem nas</p><p>relações interpessoais e é baseado em um setting grupal que conta com a presença</p><p>do terapeuta, que assume o papel de diretor de cena e os pacientes que atuam tanto</p><p>como protagonistas como público. A relação entre realidade e fantasia é bastante</p><p>trabalhada nesta técnica, que usa os papéis para a expressão das diversas</p><p>possibilidades identificatórias que o ser humano possui e as múltiplas dimensões</p><p>psicológicas do eu em relação ao mundo interno e externo de cada um.</p><p>Para utilizar o psicodrama como técnica terapêutica o profissional deve possuir</p><p>formação teórica e metodológica adquirida em cursos específicos. Existem atualmente</p><p>várias associações que congregam os profissionais que atuam com psicodrama. Elas</p><p>reúnem as informações a respeito de cursos, bibliografia, editam material a respeito e</p><p>divulgam a técnica junto ao público.</p><p>Alícia Fernández levou o psicodrama para a psicopedagogia, utilizando-o como</p><p>técnica de intervenção junto a crianças e adultos. Segundo esta autora montar "cenas",</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Técnicas de intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 24</p><p>dramatizar os fatos que ocorrem ou ocorreram no passado em situações vividas pelas</p><p>pessoas auxilia na ressignificação dos motivos ou motivações das dificuldades de</p><p>aprendizagem. Em sua opinião as crianças são as mais beneficiadas com esta técnica</p><p>porque ela lhes permite a expressão de pensamentos e vivências com mais facilidade</p><p>do que o desenho e a escrita, que exigem competências que elas, muitas vezes, não</p><p>possuem.</p><p>Os profissionais que não possuem formação específica em psicodrama, nem por</p><p>isso precisam</p><p>deixar de usar técnicas dramáticas em suas intervenções. A simples</p><p>mudança de papéis "trocando de lugar" com o terapeuta já é uma grande experiência</p><p>para ambos, pois permite ao cliente a vivência da situação terapêutica sob outro</p><p>ângulo e ao psicopedagogo a experimentação de suas hipóteses de trabalho,</p><p>alterando o comportamento usual da criança.</p><p>"O psicodrama ajuda a criança que nos consulta a habitar um lugar,</p><p>estabelecendo "residências provisórias", quer dizer, cenas. Se até o simples desenhar</p><p>sobre um papel é estruturante do sujeito, quanto mais o psicodramatizar, que é um</p><p>certo desenhar o jogador e jogar o desenhado. A montagem de uma cena, o decidir</p><p>que esse almofadão vai ser uma "porta" e colocá-lo em um lugar e esse outro será</p><p>uma "cama" e colocá-lo em outro lugar, também facilita a ressignificação. Tratando-</p><p>se de uma cena da vida real, a maioria das vezes é difícil para a criança, com problemas</p><p>de aprendizagem, relatá-la. Não somente pelo empobrecimento da linguagem, mas</p><p>também porque não pode estabelecer a distância necessária entre a cena e ela mesma</p><p>como relatora da cena."</p><p>O que se pode recomendar é que estas situações de dramatização não sejam</p><p>planejadas, mas que possam surgir durante o tratamento a partir das demandas do</p><p>cliente. É preciso que o terapeuta tenha a sensibilidade para identificar o melhor</p><p>momento para dar início a uma cena, a uma representação de faz de conta, usando</p><p>para isso os materiais que têm à sua disposição em seu consultório. As técnicas</p><p>dramáticas ou psicodramáticas não exigem materiais estruturados, pois são baseadas</p><p>em improvisações.</p><p>Com crianças, além das cenas, o psicopedagogo também pode utilizar músicas</p><p>dramatizadas, brinquedos cantados e mímicas, que são altamente vitalizadoras e</p><p>facilitam a expressão daquelas que têm mais dificuldades na área da linguagem. Livros</p><p>de histórias que abordam conteúdos de contos de fadas, mitos, relatos folclóricos e</p><p>fábulas são outro material de grande aplicação na intervenção psicopedagógica</p><p>porque permitem que aspectos projetivos surjam na sessão, pois as crianças se</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Técnicas de intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 25</p><p>identificam com os personagens e podem nutrir por eles sentimentos de afeição ou</p><p>medo. Como existe muita oferta no mercado, o psicopedagogo deve ter critério em</p><p>sua escolha atentando para os seguintes aspectos:</p><p>3.2 Livros sem texto</p><p>• Que permitem a criação e a autoria de pensamento.</p><p>• Livros cujo texto sofreu alguma mudança: como por exemplo, a história dos três</p><p>porquinhos relatada pelo lobo, que permite a diversificação de pontos de vista,</p><p>pela criança.</p><p>• Livros cujo texto permitem à criança a percepção de mudanças, como "Vice-</p><p>Versa ao Contrário", da editora Cia das Letrinhas, que apresenta histórias</p><p>clássicas reescritas e adaptadas à novas situações.</p><p>• Livros que trabalham conteúdos latentes presentes no universo infantil, como</p><p>"Macaquinho", de Ronaldo Simões Coelho, editora Lê ou "O Equilibrista", de</p><p>Fernanda Lopes de Almeida, editora Ática.</p><p>• Livros que apresentam situações vivenciadas pela criança e que podem servir</p><p>para o terapeuta abrir espaços de discussão a seu respeito, como aqueles da</p><p>coleção "Coisas da Vida", da Editora Artes Médicas, ou o "Primeiro Livro da</p><p>Criança sobre Psicoterapia", de Marc Nemiroff, da mesma editora.</p><p>• Livros que possuem interatividade com a criança: como aqueles que</p><p>apresentam o personagem "Ninoca", da editora Ática, ou aqueles que são</p><p>verdadeiras charadas, nos quais não há ponto de início para a leitura e o leitor</p><p>transita por suas páginas como deseja. Estes últimos são muito apreciados pelos</p><p>pré-adolescentes.</p><p>Quando a criança apresenta dificuldades de expressão verbal ou de "entrar"</p><p>neste mundo imaginário da representação corporal, o psicopedagogo pode usar</p><p>bonecos ou fantoches para as cenas. O uso do boneco como fonte de representação</p><p>é utilizado desde épocas muito remotas. Ele substitui o real.</p><p>Os fantoches são bonecos animados pela manipulação e podem ser de vários</p><p>tipos: fantoches de dedo, marionetes de madeira, fantoches de vara, dentre outros.</p><p>Não importa como é feita a manipulação, mas sim o fato de que o fantoche é um</p><p>boneco que tem uma concretude presentificada pelo movimento que a manipulação</p><p>lhe dá. Para conhecer uma abordagem de intervenção psicopedagógica com</p><p>fantoches, leia técnicas dramáticas ou psicodramáticas são muito indicadas quando a</p><p>hipótese de trabalho está relacionada com a estrutura desejante, possibilitando</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Técnicas de intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 26</p><p>situações que permitem à criança reviver aspectos de sua realidade que possam ter</p><p>sido traumáticos ou reavivar situações inconscientes relacionadas com situações de</p><p>aprendizagem, deixando claros para o psicopedagogo os vínculos estabelecidos com</p><p>os objetos.</p><p>As chamadas 'Bonecas Waldorf, cuja confecção é baseada na pedagogia de</p><p>mesmo nome, são totalmente diferenciadas pelo fato de respeitarem e estimularem a</p><p>imaginação da criança. Longe de reproduzir 'fielmente' as particularidades da figura</p><p>humana, deixam para a fantasia infantil a atividade criadora, simplesmente sugerindo</p><p>possibilidades, por exemplo, de fisionomia.</p><p>As bonecas são confeccionadas de forma artesanal, com a utilização (inclusive</p><p>no enchimento) de materiais inteiramente naturais: malha e tecidos de puro algodão,</p><p>feltro de lã e fios de lã pura de carneiro. Este critério visa familiarizar a criança com o</p><p>mundo natural por meio de seus materiais, nos quais ela aprende a reconhecer cor,</p><p>textura, forma, peso, etc. Além disso, o manuseio da boneca é agradável e</p><p>aconchegante, motivando uma ligação estreita e carinhosa com ela. Como cada</p><p>boneca é feita manualmente e seu rosto é pintado à mão (com um mínimo de traços),</p><p>cada uma adquire um aspecto individual e único. Os modelos e tamanhos procuram</p><p>atender à necessidade das crianças em cada faixa etária, adequando-se, em</p><p>complexidade, às diversas fases do desenvolvimento infantil.</p><p>Por intermédio da boneca a criança pode aprender a conhecer a si própria num</p><p>processo de 'espelhamento', a exercitar os relacionamentos sociais, a cuidar do</p><p>próximo etc. A boneca (ou boneco) também pode exercer o importante papel de</p><p>companheiro, de confidente. Por este motivo, é uma poderosa ferramenta para os</p><p>educadores. Com este foco, sua confecção deve respeitar os anseios interiores da</p><p>criança e ter qualidade para poder acompanhá-la por longos períodos.</p><p>3.3 A Caixa de Areia</p><p>O uso da caixa de areia com finalidades terapêuticas foi iniciado na Inglaterra por</p><p>Margareth Lowenfeld, psiquiatra freudiana que recebeu forte influência de Jung, e, em</p><p>1935, publicou um livro a respeito. A terapia na "caixa de areia" é um procedimento</p><p>não verbal criado por Dora Kalff, em Zurique e levado até a América por Estelle</p><p>Weinrib. De acordo com esta técnica os sujeitos criam cenas tridimensionais em uma</p><p>caixa de tamanho específico usando areia, água e várias miniaturas de elementos de</p><p>seu contexto sociocultural.</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Técnicas de intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 27</p><p>A caixa deve ter a forma retangular, medir 50cm por 75cm e 5 cm de altura e ter</p><p>o fundo pintado de azul. Pode ser de madeira ou papelão. As miniaturas podem ser</p><p>de qualquer material: plástico, chumbo, madeira, biscuit, etc... e incluírem elementos</p><p>do universo pessoal: elementos da natureza, objetos, veículos, animais, vegetais , etc.</p><p>A pessoa, com esse material, cria um cenário e coloca os personagens em cena.</p><p>O terapeuta não interpreta a cena até que esteja pronta, concluída. O princípio que</p><p>norteia o uso da caixa de areia é que existe, no inconsciente uma tendência para que</p><p>a psiquê se cure sozinha, desde que haja condições para isso. Este princípio foi</p><p>enunciado por Jung.</p><p>Por meio das produções na caixa de areia a mente se amplia e os conteúdos</p><p>latentes se tornam manifestos para o próprio cliente. As cenas representam o mundo</p><p>interior por intermédio de elementos do mundo exterior. Muitas cenas reproduzem</p><p>conteúdos oníricos, atingindo um nível bem profundo do inconsciente.</p><p>Dora Kalff iniciou sua prática com crianças, com uma abordagem não verbal, sem</p><p>interferir em seu processo de trabalho. Ela simplesmente observava o que acontecia</p><p>na sessão e percebeu que havia uma melhora significativa nos quadros de seus</p><p>clientes apesar de não haver interferido. Passando a usar o mesmo método com</p><p>adultos, descobriu que havia um processo semelhante ao das crianças.</p><p>A psicopedagoga Beatriz Scoz tem utilizado a caixa de areia com o objetivo de</p><p>permitir análises sobre as modalidades de aprendizagem em cursos de formação de</p><p>psicopedagogos. Ela incorporou à técnica original seu uso em pequenos grupos e o</p><p>registro fotográfico do processo de trabalho até sua finalização. Suas considerações</p><p>sobre a aplicação da caixa de areia no tratamento psicopedagógico foram publicadas</p><p>em: "Por Uma Educação Com Alma: a objetividade e a subjetividade nos processos de</p><p>ensino/aprendizagem". Editora Vozes, 2000.</p><p>3.4 Estimulação Cognitiva</p><p>Quando a problemática que afeta a criança está relacionada a um atraso no</p><p>desenvolvimento cognitivo que pode ser menos ou mais severo, o psicopedagogo</p><p>deve orientar seu trabalho para realizar atividades de estimulação da inteligência. Com</p><p>este objetivo pode utilizar a técnica de mediação da aprendizagem criada por Reuven</p><p>Feuerstein, psicólogo romeno de etnia judaica que criou o PEI- Programa de</p><p>Enriquecimento Instrumental - no contexto de sua Teoria da Modificabilidade</p><p>Cognitiva Estrutural. Para este autor, o ser humano é naturalmente um mediador de</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Técnicas de intervenção psicopedagógica</p><p>www.cenes.com.br | 28</p><p>conhecimentos e realiza esta função inconscientemente. Porém, em sua opinião, este</p><p>processo ganha mais vigor e consegue ser mais eficaz quando o sujeito passa a</p><p>realizá-lo conscientemente. Para aplicar o Programa que criou e cujo objetivo é o</p><p>desenvolvimento do potencial de aprendizagem contido em todo ser humano,</p><p>Feuerstein estipulou critérios de mediação que qualquer sujeito pode utilizar para ter</p><p>sucesso na transmissão de conhecimentos.</p><p>O PEI é um programa que exige uma formação específica para sua aplicação e</p><p>tem seus direitos autorais protegidos. A teoria da mediação da aprendizagem - EAM</p><p>- como toda proposição teórica, não pode ter seu uso restringido por tais mecanismos</p><p>jurídicos, pois é de domínio público. Sendo assim, é possível seu uso independente</p><p>do Programa, mas não o contrário. Quando uma criança passa por um processo</p><p>intencional e sistemático de mediação da aprendizagem ela desenvolve metacognição</p><p>e tem seu potencial ampliado, desenvolvendo cada vez mais sua cognição.</p><p>Outra técnica que pode ser utilizada para estimulação cognitiva de crianças é a</p><p>ginástica cerebral ou Brain Gym, baseada em princípios de educação cinestésica</p><p>utilizando os dois lados do cérebro.</p><p>A palavra educação deriva do latim "educare", que significa "trazer para fora".</p><p>Cinestesia deriva da raíz grega "Kinesis", que significa "movimento". Educação</p><p>cinestésica é um sistema criado para dotar pessoas de qualquer idade com o potencial</p><p>externalizado daquilo que está encerrado dentro de seu próprio corpo. A ginástica</p><p>cerebral é baseada na integração cerebral por meio de movimentos que remodelam</p><p>partes do cérebro que ficam inativas. As modificações no aprendizado e as</p><p>transformações no comportamento são, muitas vezes, imediatas e profundas.</p><p>Exercício: Movimentos Cruzados</p><p>Faça o CROSS CRAWL (engatinhar) e o SKIP-A-CROSS (salto cruzado). Com uma</p><p>música de fundo, coordene os movimentos de forma que o braço e a perna oposta</p><p>mexam ao mesmo tempo. Faça os movimentos para frente, para os lados, e para trás,</p><p>além de mover os olhos em todas as direções. Leve sua mão ao joelho oposto,</p><p>cruzando a linha divisória. Quando os seus hemisférios cerebrais trabalham juntos</p><p>desta forma, sua mente fica totalmente aberta para aprender novas informações.</p><p>Exercício: Bicicletas</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>Técnicas Expressivas Plásticas</p><p>www.cenes.com.br | 29</p><p>Faça o CROSS CRAWL SIT-UPS deitado numa superfície cômoda (colchonete ou cama).</p><p>Simule estar andando de bicicleta, enquanto toca o seu cotovelo no joelho da perna</p><p>oposta. Sua mente e corpo vão ficar bastante alertas!</p><p>Exercício: Botões Cerebrais</p><p>Faça os BOTÕES CEREBRAIS antes de ler ou usar a visão. Enquanto segure o umbigo,</p><p>esfregue firme logo abaixo da clavícula, para a direita e para a esquerda do esterno.</p><p>Pinte um oito deitado no teto com a ponta do nariz funcionando como um pincel. A</p><p>leitura nunca será cansativa e seus olhos vão deslizar pelos textos quando for ler.</p><p>Exercício: Botões Terra</p><p>Faça os BOTÕES TERRA para aumentar sua capacidade de calcular e lidar com</p><p>números. Mantenha dois dedos abaixo do lábio inferior, e descanse a outra mão na</p><p>extremidade superior do osso púbico. respire, elevando a energia para o centro do</p><p>corpo.</p><p>A antroposofia é uma corrente filosófica criada por Rudolf Steiner, em Viena, no</p><p>início do século XX. Parte de uma visão integral do homem e foi capaz de gerar</p><p>desdobramentos na medicina, na agricultura e na educação, esta última com a</p><p>Pedagogia Valdorf. Esta teoria sugere que a inteligência pode ser desenvolvida com</p><p>atividades tais como: estudo de biografias de personalidades famosas; análise de</p><p>fábulas, lendas e mitologias; poesias e história da arte; apresentações teatrais.</p><p>Para entender melhor a proposta antroposófica direcionada para o tratamento das</p><p>dificuldades de aprendizagem, leia o livro abaixo indicado, que traz uma série de</p><p>sugestões de atividades e exercícios para distintos problemas, como a dislexia, a</p><p>discalculia, a desatenção, dentre outros.</p><p>Leitura: "Problemas de aprendizagem", de Lucinda Dias, Editora Antroposófica, 1995.</p><p>4 Técnicas Expressivas Plásticas</p><p>As técnicas expressivas plásticas são aquelas que utilizam a livre criação, com</p><p>materiais apropriados, como lápis coloridos, aquarelas, tintas, argila, dobraduras,</p><p>A intervenção e avaliação psicopedagógica |</p><p>A organização do portfólio do diagnóstico</p><p>www.cenes.com.br | 30</p><p>recorte e colagens, etc. Este recurso permite ao psicopedagogo o trabalho com</p><p>conteúdos objetivos e subjetivos, matéria prima da intervenção, além de propiciar a</p><p>autoria de pensamento, objetivo principal da atuação psicopedagógica.</p><p>Muitos psicopedagogos possuem formação em arteterapia e podem fazer uso</p><p>desta técnica com muita propriedade. Outros, mesmo sem tal formação específica,</p><p>utilizam os recursos plásticos com bons resultados, atentando para os seguintes</p><p>aspectos, evidenciados por Sara Paín: a arte possibilita uma relação positiva com a</p><p>aprendizagem; a arte possibilita o trabalho com aspectos figurativos e operativos do</p><p>pensamento, integrando-os; a arte permite que o sujeito estabeleça relações com o</p><p>real, por meio dos materiais utilizados, e com o imaginário, por meio de suas criações;</p><p>a arte é expressão simbólica e remete o sujeito à sua cultura, dando significado à sua</p><p>existência; a arte possibilita o trabalho com as dificuldades de aprendizagem na</p><p>medida em que articula mecanismos presentes nos níveis afetivos e cognitivos.</p><p>Cristina Dias Alessandrini é a psicopedagoga brasileira que tem pesquisado a</p><p>aplicação dos recursos artísticos na intervenção psicopedagógica. Ela criou um</p><p>método que denomina Oficina Criativa, na qual usa a arte em seu trabalho. Além dela,</p><p>muitos outros terapeutas da aprendizagem têm descrito suas experiências com estes</p><p>materiais. Há livros e jogos que podem também integrar esta abordagem. Eles</p><p>provocam o desenvolvimento do senso estético, a percepção de semelhanças</p>