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<p>- ' ,</p><p>Educação e1n . _</p><p>..</p><p>Di.c.eitos Hu111a.nos: -,</p><p>fundamentos</p><p>... ... J .</p><p>teó.c~co-llleiodolópicos -·</p><p>;</p><p>. ..</p><p>.I ••</p><p>... -</p><p>. . ,</p><p>-</p><p>•</p><p>•</p><p>I 111•1 llj•lll \ l i I " I 1111 'llll</p><p>\ ''1"".1"' ''" d" 111.111 ""I' I I I ' 111 ' I ' ,. ,, I 111 111111 lllt I I I" 111111 h l i 111 111 111 ' t ltllll.lt\llltlll i l,h!j'll\l•lt ll l ltllt l d cc</p><p>E 24</p><p>CBPB/BC</p><p>!\ti I ' .!.1 ~ I · I li I</p><p>UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA</p><p>Reitor</p><p>Rô!ll11lo Soam Polari</p><p>Vice-reitor</p><p>Maria Yara Campos Matos</p><p>EDITORA UNIVERSITÁRIA</p><p>Diretor</p><p>José Ltiz da SiiL•a</p><p>Vice--diretor</p><p>Jo.ré Augusto dos Santos h"/ho</p><p>Cap a: Hossein A/be11</p><p>Editoração E letrônica: Femando Barbosa</p><p>Normalização de do cd.· cumentos: ~~ wne Toscano Ca/dino de Carvalho</p><p>Tiragem desta edição: 10.000 exemplares</p><p>Impresso no Brasil</p><p>D ados Internacionais de catalogação na Publicação</p><p>Educação em Direitos H r d</p><p>i\üria Godoy Silveir~~~I~~s~ - u~l ame_nros ~eórico-metodológicos/ Rosa</p><p>513</p><p>, . Joao Pessoa. Editora Umversitária 2007</p><p>~ , .</p><p>lSBN: 978-85-7745-147-X</p><p>, . 1. Ed~caçào - Direitos Humanos. l. Dias Adelaide Al - .</p><p>Lucia de Pauma Guerra UI AI l'.I . l '. . ves. I! Ferreira,</p><p>Maria de Nazaré Tavare~. V. .Tí~~~ar, ana ~ulza Pereira de. IV Zenaide,</p><p>CDU 37:342.7</p><p>I· I)J'J'< lRt\ UNTVERSITAIUA/UFPB</p><p>( """ p, " 1"1 5081 - Cidade Universitária Jo-\\Ww.ufpb.br/cdito ra ' - ao Pessoa - Paraíba - Brasil CEP 58.051-970</p><p>h" k11o" dcpr'>siro legal</p><p>O contclido dos artigos é de inlcira rcsponsabili'dad d · · ( e os autores</p><p>S t1111 .'11io</p><p>I'H t •: t1ÁC:t<> ...................................................................................... 9</p><p>t' lti •:S t•:N'I'A<;Ã<> .. ..................................... .... ... .. ........................ . 13</p><p>IN l 'ltü l)UÇÃ() ............................................................................ 15</p><p>I ( .O NTEXTUAl J ZAÇÃO H ISTÓRICA DA EDUCAÇÃO</p><p>I• M l) IRE ITOS H UMANOS .......... ... ............................... ............. 27</p><p>I - O Brasil rumo à sociedade justa ..... .. ..................... ........ .. ..... 29</p><p>I )rt/1110 de /1 breN Dallari</p><p>2 - A his tória e o fardo da vida: depois do genocídio, antes do</p><p>1)ús colonial .... .. ......... .. ... ............... ..... .. ...... ...... .. ..... .... .. .... ........... 51</p><p>I :fio ChaJJes Flores</p><p>~ - Contexto histórico e educação em direitos humanos no</p><p>Brasil: da clitadura à atualidade ...................... ............ .' ................... 75</p><p>I ~111ir Sader</p><p>4 - E ducação em direitos humanos e tratados internacionais d e</p><p>di rcitos humanos ........................... ... ..... ......... ............... ........ ..... 85</p><p>I ..Jtciano Mariz Maia</p><p>5 - Fundamentos e marcos jurídicos da educação em direitos</p><p>luunanos ............................... ... ............................. ...... ......... ..... 103</p><p>Antonio Maués</p><p>eaulo Wryl</p><p>li PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS</p><p>I IUMANOS .............................. .. ...................................... ......... .... 117</p><p>1 - D ireitos humanos no Brasil: abrindo portas sob neblina .... ... . 119</p><p>Solon Eduardo Annes Viola</p><p>2 - Memória e educação em direitos humanos ...................... .. 135</p><p>Ltícia de Fátima Guerra Ferreira</p><p>3 - Memória, verdade e educação em direitos humanos .... ... .. 157</p><p>Marco Antônio Rodrigues Barbosa</p><p>4 - Sujeito de direitos humanos: questões abertas e em construção .. 169</p><p>Paulo César Carbonari</p><p>5 - Sujeito, autonomia e moral .................... ......... ............... .... . 187</p><p>Marconi Pequeno</p><p>6 - O valor do homem e o valor da natureza. Breve Reflexão</p><p>Sobre a Titularidade dos Direitos Morais ..................................... 209</p><p>Eduardo Ramalho Rabenhorst</p><p>7 - Direitos humanos: Sujeito de direitos e direitos do sujeito ..... 231</p><p>Theophilos Rijiotis</p><p>8- Educação em/para os direitos humanos: entre a</p><p>universalidade e as particularidades, uma perspectiva histórica ...... 245</p><p>Rosa Maria Godqy Silveira</p><p>9 - Pós-graduação em direitos humanos: dificuldades em</p><p>compatibilizar lógicas diversas ...... ............................................... 275</p><p>Maria Luiza Pereira de Alencar Mqyer Feitosa</p><p>10 - Educação em direitos humanos: um discurso .................... 295</p><p>Eni Puccinelli Orlandi</p><p>11 - Educação e metodologia para os direitos humanos: cultura</p><p>democrática, autonomia e ensino jurídico ........ .. ........................... 313</p><p>Eduardo C. B. Bittar</p><p>12 - Direitos humanos: desafios para o século XXI ......... ........... 335</p><p>Maria Victon·a Benevides</p><p>13 - Direitos humanos do trabalhador: para além do paradigma</p><p>da declaração de 1998 da O.I.T. ................................................... 351</p><p>Maria Aurea Baroni Cecato</p><p>14 - Educação e trabalho: uma questão de direitos humanos ...... 373</p><p>Aldary Rachid Coutinho</p><p>111 A CONFIGURAÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO EM</p><p>DIREITOS HUMANOS .................... ...... .................................... 397</p><p>1 - Educação em direitos humanos: desafios atuais ................ ... 399</p><p>Vera Maria Candau</p><p>2 - O estado nas políticas educacionais e culturais em direitos</p><p>humanos: o papel a ser desempenhado pela escola (pública) ........ 413</p><p>Alexandre Antonio Gili Nader</p><p>3 - Educação popular em direitos humanos ........................... 429</p><p>José Francisco de Melo Neto</p><p>4 - Da educação como direito humano aos direitos humanos</p><p>. ' . d . 441 como pr1nc1p1o e ucauvo .................................. · .............. · ...... ·</p><p>Adelaide Alves Dias</p><p>5 - Direito humano à educação no Brasil: uma conquista para</p><p>todos/as? .............................................. ......... ........... ................. 457</p><p>Susana S acavino</p><p>6 - Uma idéia de formação continuada em educação e direitos</p><p>humanos ........ ............... ................... ............ ........ ... ............ ...... 469</p><p>José Sérgio Fonseca de Carvalho</p><p>7 - Educar em direitos humanos, o desafio da formação dos</p><p>educadores numa perspectiva interdisciplinar ....... .............. ... 487</p><p>Celma Tavares</p><p>AUTORES .... .................................... ................................... ... ...... 505</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>3 - Memória, verdade e educação em direitos humanos</p><p>Marco Antônio Rodrigues Barbosa</p><p>Introdução</p><p>A memória, por ser registro de fato ou acontecimento histórico</p><p>,. mesmo psicológico, individual e coletivo, exerce função primordial na</p><p>t·volução das relações humanas: é a base sobre a qual a sociedade pode</p><p>.dirmar, redefinir e transformar os seus valores e ações. Por isso, ao</p><p>' uscitar a memória, é imprescindível analisar a história e as características</p><p>psicológicas que conformam o processo de constituição da identidade de</p><p>11111 povo, a qual pressupõe, por sua vez, a imagem que se tem de si e da</p><p>n 1lctividade da qual se fa7. parte.</p><p>Resgatar a memória consiste, portanto, em elucidar o que é</p><p>111consciente e irracional, passando-os à consciência para transcendê-los.</p><p>\ inda que nefasta e resultado de atrocidades humanas, segundo Antônio</p><p><,;i ndicio, em sua análise sobre a literatura, "( ... ) é ela (a memória), não</p><p>()utra, que nos exprime. Se não for amada, não revelará sua mensagem; e</p><p>~l· não a amarmos, ninguém o fará por nós" (CÂNDIDO, 2006).</p><p>Nã~ se trata, corn efeito, de alterar o que é fato consumado: as</p><p>n pcriências negativas são um instrumento útil à redefinição de valores.</p><p>Trata-se, sim, de empreender a tarefa, individual e coletiva, de resgatar</p><p>·' memória e de revelá-la, tal e como ela é, a fim de não se repetirem os</p><p>tnl·smos erros anteriores. E isto cabe à sociedade como um todo, a cada</p><p>11111 de seus membros, e, sobretudo, aos educadores em seus respectivos</p><p>t·spaços de atuação. Essa é a contribuição essencial para a geração atual e</p><p>'• legado que se pode e se deve deixar às futuras gerações.</p><p>É no contexto dessas afirmativas que se insere a importância de</p><p>n·avivar a memória histórica relativa à ditadura militar, que vigorou no</p><p>l ~ras il durante 21 anos. E existe essa</p>
<p>]a emergência de l11tas tranmacio11air por valores e remrso.r</p><p>qlle, pela .rttcl nahrreza, são tão globaú como o próprio plailela c</p><p>aos quaJs eu chamo, recorrendo ao direito internacional</p><p>o patrimót~io col'!mm da hllmamdarle. Trata-se de Palore.r ot;</p><p>remrso.r qtte apenas f azem .rentido mquanto reportados ao globo na</p><p>.lf~a totaltdade: a SNstelltabilirlade da vida humana na terra. por</p><p>ex:mplo, ou os lemas a!IJbtmtais da proteção da camada de</p><p>ozoruo, da preservação da Antártida, da biodiversidade</p><p>ou dos fundos marinhos. Todos esses temas referem-se a</p><p>recHrsos que, pela sua 1/aftlreza deveJiam sergendos por fideicomissos</p><p>da ordem mtemaetonal, em nome das gerações presmte.r e }itlllras.</p><p>(SAl'-JTOS, 2006, p. 441 , grifo nosso).</p><p>. A ~on~ta;aç~o dessas novas (?) forças que convivem na e com a</p><p>,l~ ~~ ~_baliza~ao Sl~temica, aponta outra socialização culttJral: as experiências</p><p>~ .' ~ .'~as sao ~ult1plas. ~ t~anscendem os limites da própria globalização</p><p>:-. lstetruca; trus expenenctas têm na exploração e na d. . . -. . ' Jscrurunaçao</p><p>uma tes~Jtura histórica em comum e incomum; um horizonte de luta;</p><p>compartilhado;. problemáticas que repercutem sobre os seres humanos</p><p>l' l1 lJuanto espéc1e Em síntes . · . . . . e. ttma outra unzversa/zdade vai se construindo rrJais</p><p>rtiJJclflgetlte e ttntversalista. J</p><p>. . Ess~ globalização contra-hegemônica reúne milhares de complexos</p><p>s<_>~ t aJs (socled~des nacionais, grupos subnacionais, pessoas envolvidas em</p><p>' h_tc~-~~-tes mo_v1,~en_tos ~~ciais identitários), irrompidos na História seja em</p><p>J_l ' < >ccssos mats a~ tlgos da modernidade (o proletariado, por exemplo) ou</p><p>t m processos mats recentes ou mais visibil izados, como as mulheres e os</p><p>g:tys, entre tantos outros casos. Essa irrupção, a um só tempo, é produzida</p><p>2<>0</p><p>JH l.t glnh: ilJ z:l ~;to d,t t lll' l t: lllfÍIJ z:t~·ao dos n\Odos dl' vid:1 dm chamados</p><p>gJlljlOS fmdieionais (índios, camponcs<.;s, etc.) c pela li bcraçao de novas</p><p>l111 ~·n s socia is " novos atores c.1ue entram em cena" -, decorrentes da</p><p>Jll <>pna mcrcantilização globalizada, c.1ue alimenta as diferenças, como já</p><p>l111 n.Jc:.:rido, para delas se beneficiar duplamente: pela expropriação dos</p><p>'\·spaços recônditos" , até então, infensos ou relativamente protegidos da lei</p><p>d11 valor; c pelas implicações que a potencialização da diversidade acarreta,</p><p>IH> tocante à fragmen tação da luta dos adversários contra-hegemônicos.</p><p>Contudo, talvez à crescente arrogância da burguesia, de só olhar</p><p>p:t ra o seu umbigo e ficar "tocando harpa enquanto Roma arde em</p><p>chamas" (i\PPLE, 1998), tenha escapado (ou seja impossível enxergar) a</p><p>t·\ pressão de resistência contida nestes movimentos. As "fúrias"14 soltas</p><p>pelo capitalismo escapam ao controle que, por inúmeras vezes, a burguesia</p><p>tl· nwu que fosse total e, outras inúmeras vezes, tornou totalitário (como</p><p>na ditadura militar brasileira) para conter a manifestação da dissidência,</p><p>da oposição, da contestação. Se o mercado é atraente, todos querem ter</p><p>acesso ao mesmo: não o conseguindo, mata-se por um tênis importado.</p><p>Se a liberdade é tão apregoada, todos querem usufruí-la: não podendo,</p><p>exprimem-se com e pela violência. Se a propriedade é o cânone societário,</p><p>todos querem dela dispor: não dispondo, ela é invadida, assaltada, roubada.</p><p>Se a sociedade capitalista proporciona "o melhor modo de vida jamais</p><p>existente", todos querem vivê-lo: não alcançando, inventam outros modos</p><p>de vida, a " desordem" que os inclua, mesmo perigosamente, como o</p><p>tráfico de drogas.</p><p>Aí, também, a cultura, retomando Yudice (2004), é um recurso.</p><p>Os comra-hegemônicos se situam, pode-se dizer, no entre-lugar entre o</p><p>sistema vigente e um sistema utópico que, embora não exista como tal,</p><p>aponta virtualidades e irrupções. Eles sempre tiveram irrupções, mesmo</p><p>que pouco fulgurantes.15 Ao tempo em que disputam inclusão social</p><p>14 As "fúrias", na mitologia romana, ou E rínias, para os g regos, personificaYam a</p><p>vingança contra os mortais, torturando as almas pecadoras. Alecto, a implacável, castigava</p><p>os delitos morais; i\Iegaira, personificando o rancor, a inveja, a cobiça e o ciúme, castiga</p><p>a infidelidade; Tisífone vingava os assassinatos e enlouquecia a vítima.</p><p>15 Os termos irmpçào e jitlg11rarào aludem a Walter Benjamin, cuja alegoria sobre o Angel11s</p><p>Novus inspirou Santos (2006, capítulo T) a examinar a necessidade de uma nova teoria da</p><p>História. Para Benjamin, a memória, o passado, irrompe e fu lgura em um momento de</p><p>perigo, podendo servir de fonte do inconformismo.</p><p>26 1</p><p>llt l solll 'l'\ IH'Il t" l:t, v:dendo st· das dif e t't' ll ' I ~</p><p>1' n~·no de reivindic'\Ç'to , .. 1 . , . ~ · ' 1 ttllttl':tiS cnn1o :tl).\llllH'IIfn</p><p>' ' ru es <..! 1 a publrcn l' ' I ' . . I . .</p><p>hcunogenei%açno hcg, . . r ' s .lo su< urn )Indo cli:tnl <.' d .l</p><p>cmontca, al!l'mando as difcrcn . . I</p><p>o seu reconhecimento (YUDICF· · ças c ur nndo pn1.1</p><p>cultura é " recurso para det . .J· 2004, p. 44-45). Neste prismn, . I</p><p>• < ermmat o valor de um - "</p><p>t:mnnctpação, sustentand a açao , no caso, pnrn ·'</p><p>I . o um novo alargamento h. t , . . d</p><p>c e Cidadania uma ve;'.</p><p>0</p><p>. • . l S 011co a concep~·:to</p><p>• • ' < • 1ue as extgenClas origin . .</p><p>dtreuos convencionais à .d d . _ a.ts para gualtficaç~o do ~-.</p><p>I < Cl a arua nao eram bas d . .</p><p>cu tura1 de pertencimento ul , ea as no rclatJ vlslllo</p><p>" . a c turas especificas (SANTOS 200 )</p><p>uni versalismo" homogeneiz d b • ' 4 ' mns no . a or urgues. !: direção do Estado, cada vez mais e . . . .</p><p>n.:gulaçao e do controle " . . d . ' P nele pata o pnnctpto d:t</p><p>' vigian o e purundo" N I . di .</p><p>:t segurança particular . d , . . . o p ano 10 vJdual, apd:t</p><p>, VJ.a con orrumos pnvad d</p><p>llllola, no altar da ordem dare 1 - . < os, on e se aprisiona. f .;</p><p>U . .' gu açao, a liberdade e a emancipação</p><p>m e ouao conJunto - global.iza - h • .</p><p>contra-hegemônica - s çao egemomca e globafi%açan</p><p>. e entrecruzam nas P • · di .</p><p>discursivas porém 0 d. . .. ratJcas scurs1Vas c não</p><p>' ' gue as tstlngue como P .</p><p>cul tura, é 0 sentido d d ' romessas realizadoras d:t</p><p>e ca a uma. Para a glob li - . • .</p><p>de educar na e para a m d . - a zaçao ststerruca, tratn st•</p><p>erca onzaçao nas rela - . .</p><p>l' entre os seres hum . . çoes sociais com a nature%:t</p><p>. anos, para a globalização co t h</p><p>rnverso, a desmercadorização a d . . - n ra- egemônica, é ',</p><p>conversão como bens P 'bli ' espnva~z~çao dessas relações e a sun</p><p>u cos, para a espeCle.</p><p>, . Portanto, não se trata mais de um e .</p><p>po lttlcos no mesmo mar h ' , . mbate entre dOls projetos</p><p>, co Istonco de uma raci lid d .</p><p>moderna, como foi o co fi lib . ona a e mstrumental</p><p>n ronto eralismo-sociali 1</p><p>agora, está posto entre duas . - d sm o rea. O cmbat t"</p><p>. Vlsoes e mundo duas[. d •</p><p>socJetária.'6 Com valoração d'f. . d '. ormas e mganiY.açiio</p><p>Duas concepcões e~~:nc~a a~·~n:gn.ada à vid.a (existência).</p><p>m nforme já referida , é ~ 1 b 'd e 1 a arua. A Cidadania libernf</p><p>' VlS um ra a por uma óti . 'd' '</p><p>rgnora as condições d · . . . ca JUtl 1ca formal <-flll'</p><p>esiguaJs entre os tnd1Vídu . '</p><p>os, no contrato soctal, c, l' lll</p><p>I(, O . socialismo, na sua emergência ara a . . .</p><p><"lllancJpacionisca. !vias em sua concreu· p- his~ona, representava (se) uma lllopta</p><p>I . zaçao em vanas exp . , . I</p><p>' (' llonuna de socialismo real) wr ' , cnencJas 1iscóricas (o l fll l' Sl'</p><p>I . . · ' nou preponderante a mesm 1 · · · '</p><p>H<>g•essrsta, mecanarrativa (o futu . a ogtca lllstrumcnlnl, line:lt'</p><p>< <" • . ro como realidade e redenç- d •</p><p>no caouco) em detrimento da lógica di 1. . A , ao e um pa:;sado ava liado</p><p>I · · · a eoca. te mesmo o ·</p><p>< os contranos pela símese foi simplif d 1 . movime nto de supnn~·:ln</p><p>dt :tlú ico, substituído este últim rca o pe a ortodoxtzação do mate rialismo hislnt in ,</p><p>' o, por um deternumsm r · o, quase •:11 al1 s1110 da lli~ 1111111 .</p><p>262</p><p>I dtll ii \ Ri t I ttl 11111 llttN lltlttllltt ttM lillld ll itl l llllt~ ll ltl ll' ll llll'i lldltl ttllil'IIM ----</p><p>fl ' ll l ]HIS 111~1 is recentes, por uma ÓLica. cco</p>
<p>nomicista, inclusiva no mercado</p><p>{tH'Ill nss in'l para todos), exclusiva nas outras dimensões societárias,</p><p>1 ' ll l'IO a da parLicipação política, a da igualdade socioeconômica e a do</p><p>ll '<'on hecimento cultural. A Cidadania pós-liberal ou contra-liberal se</p><p>I'' opõe como conjugação de todas as propostas de inclusões liberais, e,</p><p>.1-.s im, a ultrapassa, dai podermos denominá-la de multidimensional. Na</p><p>IH 111 perspectiva, o princípio do mercado se subordina ao princípio da</p><p>1 omunidade: o seu foco está no substantivo (Cidadania) e não no adjetivo</p><p>(l1beral, etc.) .</p><p>Por conseguinte, as possibilidades, para os Direitos H umanos, em</p><p>11111 c outro lado, também, não são as mesmas. Na globalização sistêmica,</p><p>'' mercado e a acumulação capitalista são os limites à universalidade dos</p><p>direitos. Não se pode perder de vista que a Cultura de Direitos Humanos</p><p>t ' o seu alargamento ocorreram por dentro das próprias sociedade liberais</p><p>c, neste sentido, a liberdade de expressão, no âmbito de um Estado de</p><p>I ) ircito, foi conquista valiosa da Humanidade, que não se pode desprezar.</p><p>Po rém, é preciso relembrar que a ocorrência dos direitos, pós-revoluções</p><p>burguesas, não se deu sem fortes lutas, especialmente, das classes</p><p>1 rabalhadoras. Além do mais, o contexto histórico recente é diferente,</p><p>pois a derrota do socialismo real, somada à reestruturação produtiva do</p><p>capi talismo, através de políticas neoliberais, enfraqueceram as classes</p><p>1 rabalhadoras, desgastaram suas formas de lutas e levaram seus movimentos</p><p>:1 um descenso. N a globalização contra-hegemônica, por muito recente, a</p><p>inclusão e a emancipação são possibilidades abertas à universalização -</p><p>o processo instituinte da universalidade -, mas há várias ponderações a</p><p>serem feitas quanto à virtualidade de uma outra socialização, por analogia,</p><p>denominada de socialização contra-hegemônica.</p><p>Socialização para os Direitos Humanos- uma universalidade</p><p>situada</p><p>Queiramos ou não, estamos sendo socializados, de diversas</p><p>maneiras, por este e neste tempo de águas revoltas em que as gerações</p><p>mais vel has aí ind uíd:1 :1 11 nssn , assistem, aturdidas, à desestabilização e</p><p>dcsco nst ruça o dos t <li H <"1/ 1111, v.do n·s, signos com que foram educadas; em</p><p>ljlll' as gl.' ra ~· c >l'S 11 11111• "' '"~ ' .. 1111n ' 'dtt t': l< lns nesta "opção" s i~têm i ca posta</p><p>I ll llln 111111 ,11 IIH \ II IÍ\'c.: l d 1• l ,d lll,ll ll' ÍI ,I llll l ,1 lll i iÍi o'> pro d tl l ' il'Í itlll' \ l 1-, 1 ,</p><p>1</p><p>ck t'SII'anh:tnl c.: lllo. ' l't .tl ll'l\t' l's:tli zantlo as lou xa:-. ~<.' 1.11 IOil:ti s, h:i o:-, l ltH 'iit</p><p>l' l111egam, conf ol'llll :-. trlll1L'Ilt l', ao " inc.:vitavc:l ", <.' hr't os <.ltl <.' n.pl'vs~ . 11 , 1</p><p>inronf o l'mismo, muit as vezes, sem dil'ecionamento e sem ultr:tpnss1111111</p><p>os limites atomizadores do individualismo exacerbado na/da soc i<.·dnclt</p><p>atual.</p><p>Sem saudosismo, posto que também cometemos eqLIÍvocos, lll.l '!</p><p>:ts g<.: rações anteriores, especialmente a dos anos sessenta, tinhan"l Ltlop1•1.,</p><p>r omo horizontes ele expectativas. E ter uLopias é salutar aos indivíduo-.</p><p>e às sociedades como sinalização de possibilidades de produzil'e111 ,</p><p>cria tivamente, a sua existência. l'v1esmo tendo sido acometidas da síodro 11H</p><p>o i i11''1Ísta de um progresso sem fim, havia, para estas gerações, a perspect j, .1</p><p>d t.: futuro, de projeto.</p><p>A saturação de futuro talve;,: tenha feito estas geraçôes IH'</p><p>eSlluccerem do presente (daquele presente histórico) pesado e cinzento d:t</p><p>ditadura militar, salvo aqueles jovens que, recém-saídos da auolescência,</p><p>pegaram em armas porque não viam futuro naquele presente tenebroso<.'</p><p>I c.:ntaram atalhar o tão sonhado futuro, para que este chegasse antes c s<.:</p><p>prcsentificasse.</p><p>O tempo histórico atual é muito diferente.</p><p>Mais uma vez, a vigorosa reflexão de Boaventura Santos (2006) nos</p><p>socorre, desta vez para responder a uma célebre pergunta: Qtte jazer?17</p><p>Buscando compreender o processo constitutivo da modernidade</p><p>)</p><p>o aut~r o interpreta à luz de uma equação entre raízes e opções, que se</p><p>combtnaram na construção de uma concepção de identidade e de</p><p>I ransformação social. Para Santos, a modernidade se erigiu como um</p><p>período de opções, a exemplo da Reforma religiosa, da teoria racionalista</p><p>do direito natural, do Iluminismo, do contrato social, do romantismo, que</p><p>acabaram se convertendo em raízes que, por sua vez, abriram outras opções.</p><p>No entanto, o tempo presente desestabiliza a equação e vulnerabiliza</p><p>as fo rmas de sub jetividade e sociabilidade, tais como o trabalho, a</p><p>sexualidade, a cidadania, o ecossistema, produzindo a explosão de raízes</p><p>t' opções. Com a globalização sistêmica, as opções se multiplicam a ponto</p><p>I ~ Referência ao livro de Lênin, do mesmo nome, publicado em 1902. Na obra, 0 autor</p><p>1 nr1ca o que denomina de economismo do movimento social-democrata russo e debate</p><p>' lucstõcs de ordem prática para a revolução socialista, no âmbito do lmpério Tzarista.</p><p>264</p><p>d1 ~~· Vltgcnd nt rcnt l' l11 dirl· Jt o a ampliaçao das opço c.:s; c 111 contraponto,</p><p>11., lcll :tlis1nos as tcrrito rializaçoes de identidades, as singularidades, as</p><p>gc ltl·:tlogia s <..: ~1s mc.: mórias multiplicam, ilimitadamente, as raízes. Algumas</p><p>d1·ssas raízes adqui rem tal seiva que " sustentam opções dramáticas</p><p>1 ~o r d i ca i s", reduzindo as opções, a exemplo do fundamentalismo de</p><p>1111·tT:tdo e, rcativamente, o islâmico. Certas opções são transfo rmadas,</p><p>11n posilivamente, em raízes, a exemplo da Cultura hege~ônic.a . E~fim,</p><p>"cada um é livre para criar as raízes que quiser e reproduztr ao mfiruto as</p><p>..,11:rs opções" (SANTOS, 2006, p. 66). . , .</p><p>E m tal contexto de desestabilizações, diz Santos, torna-se d1flcü</p><p>1</p><p>a· n s~1 r a transformação social porque se em baralha a distinção entre passado</p><p>c t'uturo, em decorrência da pretensa eternização ou prolongamento do</p><p>1</p><p>m.:sente, engolindo os tempos retrospectivo e prospectivo. O determinismo</p><p>prcscntista da compulsão das escolhas para o mercad~ p_ro~L~z um</p><p>" nevoeiro epistemológico" em que a burguesia "opõe-se a H tstorJa sem</p><p>saber que é história" e decre ta " o fim da História sem nele imaginar o seu</p><p>f 1111" (SA NTOS, 2006, p. 67). O cânone histórico da modernidade entra</p><p>em turbulência: duas de suas mega-raízes, a ciência e o direito, estabelecem</p><p>um hiato entre o indivíduo e o E stado; a explosão de raízes associada</p><p>a políticas identitárias se territorializando, pode implicar em guetização,</p><p>1 ribalismo, refeudalização, bloqueando as próprias raízes. O excesso de</p><p>di ferenças pode levar à indiferença (SANTOS, 2006, p. 67-68) .</p><p>Retomando a problemática dos Direitos Humanos, à luz desta</p><p>reflexão de Santos, sobre raízes e opções, pode-se interpretar a Cultura de</p><p>direitos tendo se constituído e instituído como opção na modernidade e se</p><p>convertendo em raiz no mundo ocidental. Porém, na contemporaneidade,</p><p>esta Cultura vem sendo desestabilizada pela Globalização hegemônica,</p><p>especialmente, no que tange aos direitos socioeconômicos e mesmo os</p><p>políticos, se pensarmos na fragilização das democracias represent~tlvas</p><p>frente aos g randes conglomerados econômicos, entre os qurus se</p><p>potenciaüza, sobremaneira, a mídia. As opções identitárias transit~m em</p><p>movimentos de enraizamento. A Cultura de Direitos Humanos, vmcada</p><p>pela raiz da Cultura de direitos, se configura, também, como opção em</p><p>busca de enraizamento universalista.</p><p>. - . ' . ;l</p><p>Quais as possibilidades para esta direçao soc1etana.</p><p>265</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>Três dificuldades principais interceptam o processo de construção</p><p>desta universalidade. Primeiramente, o poderio da "universalidade", ou</p><p>melhor, a glabalização do mercado. Complementarmente, a potencialização</p><p>dos discursos e práticas de diferenças, que podem levar à incomunicabilidade</p><p>e multiplicar as fragmentações do tecido social. E, adicionalmente, um</p><p>movimento que se cruza com a problemática das diferenças culturais,</p><p>mas não as recobre, não é a mesma coisa:</p>
<p>as expressões culturais recentes</p><p>cujo referencial político, a despeito de um certo grau, maior ou menor, de</p><p>ocidentalização, não é o Estado de Direito liberal burguês europeu/norte</p><p>americano. Pode-se identificar três vetores de socialização cultural que,</p><p>embora possam vir a se cruzar no percurso dos Direitos Humanos, não</p><p>são ou não podem ser o seu percurso pleno: a globalização sistêmica, pelo</p><p>aviltamento dos direitos que vem processando e a unidimenssionalidade</p><p>reducionista que vem conferindo à cidadania; o diferencialismo, se em</p><p>cxtremação, pelo reducionismo culturalista da Cidadania e o conseqüente</p><p>esvaziamento ela percepção da desigualdade; as sociedades sem estado de</p><p>Direito, pela subsunção do indivíduo a um coletivo que, de fato, é outro</p><p>particularismo hegemônico, ou pela ignorância do Ocidente quanto aos</p><p>princípios ele dignidade da pessoa em outros contextos históricos não-</p><p>< >cidentais.18</p><p>Buscando outras possibilidades, voltemos ao que nos propõe</p><p>Snntos.</p><p>Vislumbrando potencialidades no que identifica e denomina como</p><p>r I , d ,. 19</p><p>lflo<l~o.r Mrrocos pos- uamtas , presentes nestes nossos tempos, acrescidos das</p><p>1 1 11 wvp<;<"ies de patrimônio comum da humanidade e de patrimônio cultural</p><p>1 l l:tl t~ r: il (Idem: p. 80), Santos propõe um complexo trabalho reA exivo</p><p>1 n111 1111plicações sobre a ação política a ser reinventada, politizando o</p><p>I H Veja s<.:, a respeito, Santos (2006), capítulo 13: Por uma concepção inlcrcul iLi ral do~</p><p>I l i l l'll os llum anos.</p><p>1'1 " I ·:~ i t·~ cúdigos barrocos pós-dualistas são formações discursivas c.; pc.; rlorm~liv~s LI !I<'</p><p>il ll il loll:ll11 nl ravés da intensificação c da m estiçagem: l ixistç in iL:nsif<cnçao sc.;llliWL' Llll l'</p><p>11111:1 d:<<b rtlcrência, ação ou id<:nlificação social OLI cu liuml ~ rcprcscnl nd:tt', pol' l !llllo,</p><p><'X I ~ I : I p :1ra nlém dos seus limi1 c.;s :l iLWis J ... J l ·:x isl c mcsliÇ:Ig<'lll s1·m1w1• ' lll\' duus 11\ l</p><p>I IHIIN rdn1~ 11rins, :1çot s Oll i<i t' llli ficn ~·ot:s sociais o u culium is nu i (HII l i i HI ~ Hl' lliÍNi tll lll l l 1111</p><p>Hl llll t' lj li' l l ! ' ll ,\1 1\ H iid J10 1ll o l ' til' l !li lllodn \jll \' IIH IIOVII ~ ll' i t' I I' IH IIIH du( !'1111' 11(!' 1111 ~</p><p>p 11 11<11 1'11111 1 11 Hllll lt t' ll\ 1 1 ~1 1 111Í , Itl. " (:-ii\ N ' i '( ),'i, liJIJ(t, p . (til)</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>que a modernidade não politizou, codificando o que ela não canonizou</p><p>(SANTOS, 2006, p. 71).</p><p>Criticando aciclamente o presentismo celebrado por certas</p><p>tendências pós-modernas e o apaziguamento intelectual, o conformismo</p><p>c a passividade decorrente da repetição homogênea do presente pela</p><p>globalização hegemônica, o autor conclama para a necessidade de</p><p>recuperamos e construirmos a capacidade de espanto, de modo a traduzi-la em</p><p>incoriformismo e rebeldia.</p><p>Nesta seqüência de proposição, apresenta as linhas gerais de uma</p><p>nova teoria da História que dê conta da temporalidade atual, a que a</p><p>teoria ela História da modernidade não tem mais condições de oferecer</p><p>respostas. Essa proposta do sociólogo, segundo o nosso entendimento,</p><p>implica uma outra socialização cultural mais compatível com os princípios</p><p>dos Direitos Humanos, na medida em que' visa ao aprofundamento elas</p><p>energias emancipatórias, à criação de uma nova teoria e uma nova prática</p><p>' ' inconformista, desestabilizadora e rebelde". (SANTOS, 2006, p. 82)</p><p>Esse intento implica, segundo o autor, em três níveis de atuação:</p><p>1° nível: epistemológico</p><p>Significa desconstruir o cânone histórico ela modernidade, com</p><p>a sua respectiva subrepresentação e subcodificação do passado e a</p><p>sobrerepresentação de um futuro fatalista. Reconstruí-lo e representá-lo no</p><p>sentido da compreensão de que as perdas pretéritas não foram inevitáveis,</p><p>mas resultantes de escolhas de agentes humanos, entre alternativas</p><p>disponíveis, escolhas essas que causaram sofrimento e opressão. Deste</p><p>tnodo, o passado pode retomar a sua capacidade de irrupção e fulguração,</p><p>criando potenciais de indignação, elaborando imagens desestabilizadoras</p><p>sobre "um presente indesculpável" (SANTOS, 2006, p. 83) que não foi</p><p>r c( I i ITÚ do pelo futuro, como o cânone moderno nos s u bj etivou. Um pas sacio,</p><p>por1anto, que, ao invés de ruínas, reanime os mortos para possibilitar que</p><p>se reani mem os vivos do presente, que andam meio mortos-vivos no</p><p>l l' i n p o da repc1 i ç~ o.</p><p>Ass ino, l ~ o:1 Vl' l11 t ll'!l Snn 1o s propõe um outro conteúdo para a razão.</p><p>\ 1111( I:III V,I h11111,111,1, jllll~ I' 11.11 I ljll;dillll' l tdl'l,l ,th"l•ll t</p><p>dl' pmgtt·s~o. l ' lllll: pod1· lund:tt o pnnupto d.t l'' l ll'l.llt~.t</p><p>jpotsj o inconi"ormismo 1: a utopta da \Oill:ldt· (S,\N'I'< >S</p><p>? • - 006. p. H3)</p><p>~ ra~ionalidadc cognitivo-instrumental deve ser penetrada p01</p><p>uma rnctonaltdade moral-prática e estético-expressiva.</p><p>, ~ idéia ~base de Santos, em termos epistemológicos, é a de qtt('</p><p>llrto hr1 .r~ IIJJJa ;orma de conhecimento, mas várias (SANTOS, 2006, p. 85). 1\</p><p>concepçao ocJdental sobre as relações entre ignorância c conhecimento l'</p><p>uma seqü~ncia lóg~ca (da ignorância para o conhecimento) e temporal (do</p><p>p:ts~ado~Jgnorâncl~ p~ra o futuro=conhccimemo), que o sociólogo refuta,</p><p>dtsttngumd.o os do~s upos de conhecimento constitutivos Jo paradigma</p><p>da modermdade ocidental: o conhecimento-regulação e o conhecimento</p><p>emancipação, que já abordamos anteriormente.</p><p>.!\ superação do paradigma estará em elaborar teorias sobre 0 que nos</p><p>llllt' JJiaz.r do que o q11e nos separa (Idem, p. 84). Além de exercer a crítica</p><p>~obr~ a "resoluçã.o" dada pela modernidade à equação raízes-opções, que</p><p>'_mpllc?u en: mwtas teorias e práticas de separação, o autor alerta que</p><p>~ prcc1so CU!dado com as formulações da globalização hegemônica que,</p><p>tnversamente, pro.movem teorias e imagens de totalidade (da espécie,</p><p>do m~~do, d~ um:erso), ignorando as diferenças e as desigualdades. É</p><p>llt·re.rsano desoctdentaltzar o pensaJ)Jento sobre a transjotmação social.</p><p>Esse ponto da reflexão de Santos é fundamental ao debate sobre</p><p>a u.niversa.lidade~ dos Direitos Humanos. O autor chama a atenção para</p><p>mats uma ~nv.ersao ~ue se processa na globalização sistêmica: a par daquela</p><p>referente a c1dadarua, já assinalada (da concepção de cidadão abstrato e</p><p>universal para uma concepção neoliberal de um cidadão concreto mas</p><p>consu~dor), ao mesmo tempo, o sistema busca subjetivar o ~osso</p><p>pcrtenclmento universal nos termos da espécie, mundo, universo ... Desde</p><p>tlue a espécie, o mundo e o universo tenham a identidade do sistema. No</p><p>frigir dos ovos, as duas tendências se confluem. Como diz Santos (Idem:</p><p>H4), "uma comunidade imaginada da Humanidade no seu todo" que a</p><p>dcsestoriciza. '</p><p>Assim, coloca-se para a Cultura dos Direitos Humanos a tarefa</p><p>de construir uma epistemologia que, a um só tempo, quebre a concepção</p><p>26H</p><p>d 1 11.11:1 .., j ~ll'lllira Sl ' ll1 inrorrt•t· t' tll pn rltculn ri~nH>s l jliL' a I ornem,</p><p>l)'lt.tl tl ll'lllt', imposs ívl'L</p><p>2" nfvcl: metodológico</p><p>Significa romper a arrogância discursiva do Eu-sujeito da</p><p>11 11 >de rn ida de ocidental, que ignora, silencia e/ ou hierarquiza (hierarquizou)</p><p>c, , lt scu rso do Outro, mediante a contraposição de uma hermenêutica dia tópica,</p><p>1 1110 princípio-base é: todas as mlturas são incompletas (SANTOS, 2006, p.</p><p>K<>).</p><p>Ú preciso cometer um epistemicídio, Santos é radical e contundente.</p><p>I •.pislemicídio do paradigma ocidental, assim como este, em relações</p><p>dvsiguais de trocas culturais, "matou" muitos conhecimentos de outras</p><p>1 11lluras, disso se valendo como condição para o genocídio de povos</p><p>1 ntH.juistados pelos agentes do colonialismo e neocolonialismo.</p><p>Nesta dimensão, refletindo sobre os Direitos Humanos,</p><p>1111 crrogamos: será preciso o epistemicídio do paradigma ocidental de</p><p>, l>nhecimento ou, nos servindo de uma metáfora do próprio autor, melhor</p><p>snia canibalizá-lo pelos rituais "dos de baixo"? Pois na vertente liberal</p><p>, ksle paradigma está contida, é-lhe subjacente, a Cultura de direitos</p>
<p>e, não</p><p>n:clusivamente20</p><p>, a Cultura de Direitos Humanos.</p><p>E ntão, nesse caso, em outra socialização cultural, jogaremos a água</p><p>do banho com a criança dentro? D esperdiçaremos as experiências, de que</p><p><, próprio autor acusa a razão indolente?</p><p>3° nível: do governo humano</p><p>Significa transpassar as teorias hegemônicas de [pretensa] uruao</p><p>c as teorias contra-hegemônicas de [pretensa] emancipação, pois que, da</p><p>perspectiva "dos de baixo", elas convergem para a sua exclusão e a sua</p><p>segregação social.</p><p>A imagem desestabilizadora, neste nível, é a de que vivemos num</p><p>apartheid global sem entradas nem saídas, sendo necessária uma atitude cética</p><p>contra variantes do universalismo que ignoram os desiguais; a identificação</p><p>20 Neste caso, estamos aludindo ao faro de que a Cultura de Direitos H umanos não se</p><p>institui apenas por diretrizes liberais. O socialismo também influiu neste processo.</p><p>269</p><p>I l l, l.dH 1111111111(1! d1 llllttl.tll''l 1' 1111(' f! I~ ~~~ I fl1111 1 11 1-!,lt ,d , d1• llllldll .t,</p><p>lllt'<,i llll lt ,t\t lldll lt oll lt' II ,I:O. lllt' llliti ~ t' t'Sjl.lt l.ll 't, dhjllll M' dl' t ' llll':td.t :O.</p><p>1</p><p>s.1ld.1s; t' o t otn hate :1 toda ptl' lt·nsno de Vl't'd:tdt• :thsolut:t. San tos propo</p><p>1</p><p>,</p><p>ltn :dntt'llle, llo\ as ronstdaçoes de idt·las, emoçot:s, st:ntirnt·ntos cl</p><p>1</p><p>t"ip:tnto t' indignaçao, paixôcs. 1\ construção de uma SLtbjetividadc qut: n:to</p><p>dl'sperd it't· cxpcri~ncia s c pleni li que as açôcs de novos scn tidos. Rcali %t'</p><p>1</p><p>,</p><p>lllO~Im~nto das p.rcscnças (cânonc) para as ausências (o tiUC ficou ocul to,</p><p>t•xrt:nt nco c margmaJ no passado), que construa as emergências (a irrupçao</p><p>do 1/(JI'()) .</p><p>I ~s tas considerações do sociólogo, de um lado, dialogam com a</p><p>proposta de l ~ducação em Direitos Humanos no wcante à emergêncin</p><p>de uma outra socialização (nova socialização cultural) em que a razão Sl'</p><p>nutre de conteúdos trans-canônicos, incorporando elementos estético</p><p>t·~prcss ivos e moral-práticos. A indignação e o inconformismo foram,</p><p>:tltnal, uma opção vigorosa da Cultura de direitos e da Cultura de Direitos</p><p>I I u manos, em suas respectivas emergências.</p><p>Contudo, há complexas problemáticas pendentes a enfrentar na</p><p>sua socialização: tendo a Cultura de direitos e, de certo modo, a Cultura</p><p>d<.: Direitos Humanos, se transformado de opções em raízes, que perigam</p><p>apodrecer pelo excesso de formalização, como evitar essa ossificação</p><p>rcgulatória? E, ainda: sendo a Cultura de Direitos Humanos uma formulação</p><p>eu ropéia com forte marca ocidental, como construi-la sem incorrer em</p><p>Ltma razão arrogante que, neste caso, reiteraria o particularismo e não</p><p>socializaria para a sua universalidade?</p><p>Considerações Finais</p><p>. Tom~ndo por base de síntese destas reflexões o princ1p10</p><p>da umversalidade dos Direitos Humanos e sua pendulação com as</p><p>panicularidades, uma educação que socialize a Cultura em/para os Direitos</p><p>I lu manos requer, primeiramente, uma visão abrangente sobre a trajetória</p><p>dcs~a cultura, problematizando o presente histórico. Poi o que intentamos</p><p>realizar, com a contribuição de alguns expressivos pensadores da chamada</p><p>alta modernidade.</p><p>Por esse percurso, vai se evidenciando o conjunto das forças em</p><p>presença, suas possibilidades e limitações em termos da socialização</p><p>270</p><p>1 ttilt l l':d pt~· l t'llt itd ll. ' l ':ullhl' l ll l'VIdt•llt Hl Hl ' :1 lll'l l 'Ml ld:ldl• tk t'lli1 S (I'll~' :tcl 1k</p><p>11111:1 nutt :t tL·krL· ntia l·pis tt'11Wiogk:t p:tr:t viabilizar a Cultura dos Di rei tos</p><p>I ltlln:liH>!i bem como outras formas de açao concreta.</p><p>I ~mbora a Cultura de direitos tenha emergido no e constnúdo o</p><p>p.1r:1digma da modernidade ocidental, a Cultura de Direitos Humanos, tal</p><p>< 1 >1no começa e se formaliza no século XX, já representa uma ultrapassagem</p><p>da primeira. Seja quanto ao seu alcance sociocultural, seja também na</p><p>.thrangência das dimensões da vida humana contempladas.</p><p>Portanto, é a partir do corpo da própria doutrina sistematizada dos</p><p>I )irei tos Humanos que devemos, assim é nosso entendimento, aprofundar</p><p>a cons trução de uma epistemologia de sustentação para sua práxis. Pois</p><p>Lluc, depois da subsunção do vetor emacipacionista do Iluminismo ao seu</p><p>vetor regulatório, é essa Cultura de Direitos Humanos que se apresenta,</p><p>no presente histórico, como cultura da vertente da emancipação.</p><p>Mas esse aprofundamento, para potencializar o seu duplo alcance,</p><p>territorial-cultural e dimensional, necessita de um diálogo em triplo</p><p>movimento:</p><p>A- da Cultura dos Direitos Humanos com a própria globalização</p><p>sistêmica: não podemos fingir que ela não existe, ela está aí e é</p><p>portentosa. Precisamos conhecer os seus topoi, como diz Santos</p><p>(2006, p. 86-87) e o que eles limitam a Cultura dos Direitos Humanos;</p><p>examinar suas estratégias de globalização e aprender as possibilidades</p><p>de dar-lhes um novo conteúdo.21</p><p>B- da Cultura dos Direitos Humanos, com os próprios movimentos</p><p>identitários que se multiplicam na globalização sistêmica ou contra</p><p>sistêmica: também nelas identificar o que significa potenciais de</p><p>fragmentação, de conflituaüdade e incomunicabilidade e o que tais</p><p>identidades possibilitam de articulação, entendimento e comunicação.</p><p>A desocultação do passado que jazeu em ruínas diante do futuro</p><p>progressista que o superaria, tem por intuito, conforme propõe</p><p>Santos, identificar experiências vividas alternativas, com potenciais</p><p>21 Não se pode .ignorar a presença do mercado. A Cidadania, na sua versão mais at1.1al,</p><p>passa por ele, mas não deve confinar-se ao mesmo A Cidadania, na substância do seu</p><p>significado, é bem mais ampla e deve subordinar o mercado. E não o inverso.</p><p>271</p><p>"t'J:I dl· Jut.t ('Clllll.l ,t.._ i ll'gl'll10111:t:t~IH'S l' 1Hlll1Clgl' lll /, l ~·o(.'S I ttltul,ti ~ l'il j I</p><p>dl' l'OI1VI\ I.'IH'I:I ( it- di ktTil ~':tS;</p><p>C- da Cultura dos Direitos Humanos consjgo própria: nes:-..1</p><p>Cult ura, já estão inscritas, concomitant emente, a univcrsalidatk l' :t :-;</p><p>part icularidaclcs (em termos). O que nos une, não pode ignorar o 1.11w</p><p>nos separa. D e igual modo, o que nos separa, não pode ignornr n</p><p>que nos une. Caso contrário, estaremos reiterando uma conccpçn1,</p><p>c uma prática abstratas de uma universalidade apenas discursiva; ou</p><p>concepções e práticas concretas de particularidades fechadas c de</p><p>pouco alcance para a superação ou minimização da dcsigualdacl1.·</p><p>c da discriminação. A Cultura dos Direitos Humanos, sem dúvidn,</p><p>empreendeu um avanço considerável dos últimos anos 80 para cá, no</p><p>que se refere a instrumentos normativos, expressando experiências d1:</p><p>acordos interculturais.22 A construção de uma socialização pertinem~.:</p><p>dos Direitos Humanos implica relevar as conquistas de direitos já</p><p>acumuladas considerando os processos de seu alargamento, ao longo</p><p>da História, e refletindo sobre a perspectiva de novos alargamentos.</p><p>Referências</p><p>1\PPLE, Michael. Política cultural e Educação. São Paulo: Cortez,</p><p>1998.</p><p>BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Tradução de Fernando</p><p>Thomaz. 8 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.</p><p>CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: São Paulo: Paz e Terra,</p><p>1999.</p><p>DE.LEUZE, Gilles. Sobre as Sociedades de Controle. Post- scriptum. In</p><p>Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 219- 226.</p><p>PRlGOTIO, Gaudêncio. Educação e a crise do capitalismo real. 4</p><p>cd. São Paulo: Cortez, 2000.</p><p>GIDDE S, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge</p><p>Zahar, 2002.</p><p>22 Não abordamos esse processo normativo, pois ele é objeto de ou tros textos deste</p><p>livro.</p><p>272</p><p>1 \NN I, ( )( t.tVIIl. 'J'coriat~ da Globnlizaç: o. Rio de J:ttH:iro: CiviliY.aç:lo</p><p>I lt . t ~ tktnt, I <)<J5.</p><p>.., \ N'l'< >S, t ~o~vcntu ra. Conhecimento prudente para uma vida</p><p>dtccntc: um discurso sobre as ciências revisitado. São Paulo: Cortez,</p><p>I(){ )ti,</p><p>_ __ . A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São</p><p>P.tulo: Cortez, 2006.</p><p>\ 1 1 l) l CE, George. A conveniência da cultura: us.os da cul~ra na era</p><p>p,lobal. Tradução de Marie-Anne Kremer. Belo Honzonte: Editora da</p><p>li I :MG, 2004.</p><p>273</p>
<p>necessidade premente de dar voz ao</p><p>lJIIl' ficou imanente e obscuro, submerso no ambiente de rivalidade entre</p><p>.ts duas superpotências (União Soviética e Estados Unidos), que dividia o</p><p>tnundo em dois blocos, e da censura emanada pela D outrina de Segurança</p><p>Nariom1l.</p><p>(•: pt'l'\ Íso tJIIl' a gl'l':tç~o ntunl e as futurns tcn ham plcn :~ consciência</p><p>d1• qtt(' :IS dit.tdill ,l'l, IJIIIti lJIIl' l' lJIII' IH' j : t !I pt t' II'X IO d1· lJIIl' l'>l' voJh:tm, S:tO</p><p>muüo parecidas: não LOieram opositorcs, ccrcei ~r1n ns liberdades, ccnsun1 111</p><p>a imprensa, violam os direitos humanos, prendem, torturam c matam. 1•:</p><p>também fundamental que essas gerações formem a convicção inabaláVl'l</p><p>de que o surgimento das ditaduras pode ter muitas causas e, entre elas, esta</p><p>quase sempre a descrença na democracia e a crença ilusória em promessa:;</p><p>milagrosas.</p><p>Conforme expressou José Augusto Lindgren Alves (2007), "o</p><p>restabelecimento do sistema democrático de direito- dos direitos políticos</p><p>e a mobilização da sociedade na busca de novos padrões inspirados mr</p><p>ética - permitiu revelar a verdade". Foi possível, assim, verificar com muito</p><p>mais clareza o estado deplorável dos direitos humanos e o grau de ameaça</p><p>que isso significa à instabilidade tanto domésti.ca quanto internacional.</p><p>Não se mostrou, na sua integralidade, entretanto, o que realmente</p><p>se passou nesse período ditatorial. Resistências internas em abrir os</p><p>arquivos da ditadura ainda continuam a existir e têm gerado controvérsias</p><p>no âmbito do Estado. A solução desse quadro dependerá da perspicácia</p><p>e da vontade política de equacionar esse impasse, porquanto inarredável</p><p>como direito.</p><p>Ao se enfrentar o desafio atual de mitigação do passado e das</p><p>presentes violações aos direitos humanos, é preciso passar da abstenção e</p><p>da tolerância à atuação proativa: a educação em direitos humanos- formal</p><p>e informal - passa indissociavelmente a exercer papel fundamental nesse</p><p>processo. Segundo Maria Victoria Benevides (1998),</p><p>a educação para a cidadania democrática consiste na</p><p>formação de uma consciência ética que inclui tanto</p><p>sentimento como a razão; passa pela conquista de corações</p><p>e mentes, no sentido de mudar mentalidades, combater</p><p>preconceitos, discriminações e enraizar hábitos e atitudes</p><p>de reconhecimento da dignidade de todos, sejam diferentes</p><p>ou divergentes; passa pelo aprendizado da cooperação ativa</p><p>e da subordinação do interesse pessoal ou de um grupo ao</p><p>interesse geral, ao bem comum.</p><p>Evolução e situação dos direitos humanos</p><p>A consciência universal sobre a importância dos direitos humanos</p><p>alcançou, hodiernamente, um patamar nunca antes atingido. Até então</p><p>158</p><p>11111 t.c pr·o<:l:unarn rn cm tno allO e born som esses direitos, embora com</p><p>1 IIII.I H ddin içocs lluHnlas sejam as várias opiniões interpretativas.</p><p>S<..: os direitos humanos, em sua origem, têm um conteúdo</p><p>lrldlvidLrHiisla, dirigido essencialmente a respeitar a liberdade, a segurança</p><p>1 .1 int<.:gridadc física do ser humano, de tal sorte que o Estado não</p><p>lll lt'l'lerissc na esfera da liberdade da pessoa humana, com o correr dos</p><p>11 11 IH e como produto de novas exigências da vida em sociedade, esse</p><p>'t lll t'<..: iLO, paulatinamente, passou a integrar novas áreas de promoção e</p><p>pt o i cção sociais, podendo, nesse sentido, ser definido como:</p><p>o conjunto de faculdades e instituições que, em cada</p><p>momento histórico, tornam concretas as exigências da</p><p>dignidade, da liberdade e da igualdade humanas, as quais</p><p>devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos</p><p>jurídicos em nível nacional e internacional (LUNO, 1979,</p><p>p. 43 ).</p><p>A esse propósito, a Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos</p><p>l lumanos, realizada em Viena em 1993, consagrou a indivisibilidade e</p><p>ltl lcrdependência de todos os direitos humanos, superando a dicotomia</p><p>1tlwlógica que separava os direitos civis e políticos dos econômicos,</p><p>sociais e culturais, conforme a lógica da bipolaridade. Permitiu, ainda,</p><p>:1 consolidação do marco internacional dos direitos humanos, sob um</p><p>(' 11 foque universal, ultrapassando as noções tradicionais de soberania e</p><p>Interesses e dando visibilidade às normas cogentes - tais como os Pactos</p><p>Internacionais dos D ireitos Civis e Políticos e dos Direitos Econômicos,</p><p>Sociais e Culturais, em vigor a partir de 197 6.</p><p>A vigência de um sistema internacional dos direitos humanos</p><p>garantiu à humanidade a existência de valores transcendentes à vontade,</p><p>criando tutela contra violações maciças desses direitos pelos Estados e</p><p>lambém normas de ordem programática, a fim de conferir a aplicabilidade</p><p>de seus princípios e seu pleno exercício. Tal sistema corresponderia</p><p>atualmente à melhor tradução do que seja o bem comum. Segundo</p><p>ensinamento de Fabio Konder Comparato (1989, p.45) "o bem comum,</p><p>hoje, tem um nome: são os direitos humanos, cujo fundamento é,</p><p>justamente, a igualdade absoluta de todos os homens, em sua comum</p><p>condição de pessoas".</p><p>159</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>O povo, no exercício de seu poder soberano e cidadania, estabelece</p><p>em que consiste o bem comum: deve realizar e promover a dignidade da</p><p>pessoa humana (no sentido republicano, inciso III, do art. 1°, da Constituição</p><p>Federal de 1988), esta considerada como um dos fundamentos do Estado</p><p>Democrático de Direito, do qual exsurgem todos os direitos humanos, ou</p><p>todos os direitos fundamentais reconhecidos. Para Marçal Justen Filho,</p><p>"( ... ) o princípio da dignidade humana desempenha em relação ao direito</p><p>e ao Estado uma função que se poderia dizer transcendental. Equivale não</p><p>apenas a afirmar que ocupa posição de superioridade quanto aos demais</p><p>princípios e valores - o que significaria sua transcendência em relação aos</p><p>demais."GUSTEN FILHO, 2005, p.14)"</p><p>Sobre a dignidade humana, asseverou Fábio Konder Comparato:</p><p>O homem como espécie, e cada homem em sua</p><p>individualidade, é propriamente insubstituível: não tem</p><p>equivalente, não pode ser trocado por coisa alguma. Mais</p><p>ainda: o homem é não só o único ser capaz de orientar suas</p><p>ações em função de finalidades racionalmente percebidas c</p><p>livremente desejadas, como é, sobretudo, o único ser, cuja</p><p>existência, em si mesma, constitui um valor absoluto, isto é,</p><p>um fim em si e nunca um meio para a concepção de outros</p><p>fins. É nisto que reside, em última análise, a dignidade</p><p>humana (COMPARATO, p. 1998, p. 72-73).</p><p>Todavia, ao mesmo tempo em que atualmente se reconhecem</p><p>os direitos humanos, se universaliza o seu sistema e se superam</p><p>paulatinamente óbices ao seu exercício, eles, paradoxalmente, continuam</p><p>sendo sistematicamente violados, apesar das mudanças políticas ocorrid~s</p><p>especialmente no Brasil e do advento da democracia formal, que, emborn</p><p>negociada, parecia, a princípio, ter encerrado um ciclo de violências e abertc ></p><p>novos caminhos para o respeito àqueles direitos. E apesar da retomada dn</p><p>ordem democrática, os brasileiros assistem à contínua agressão a serl':i</p><p>humanos sob a tutela do Estado e se vêem diante da dolorosa perda d:t</p><p>mern<'>ria do país.</p><p>A educação ética em direitos humanos</p><p>/\ 1\.' tlS:lO l' l111"\." O CITSC<.: I1( <.: intt"I"!'H!ll Jllllt dt11 1lllH illllll:t110S ~· Sll:l</p><p>lt ' i1t ' l ;tdn v1oln~·nn Íllljl<H "I11 11111:1 : 1~:111 t 1l11t 1[1 \ 1 111 llll.tiH 1\lc• dt• v: d olt'!l</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>etlcos e sempre fundamentada na verdade e na memona históricas,</p><p>visando a contribuir à difusão desses direitos, à sua compreensão e à</p><p>sua efetiva realização, em prol de todos os cidadãos e, especialmente,</p><p>em prol dos pobres e excluidos socialmente, de sorte que estes possam</p><p>modificar a situação que os oprime. Até porque, no Brasil, certamente</p><p>não nos mesmos níveis ocorridos no período ditatorial, que são a marca</p><p>registrada da ditadura, ainda se tortura e se mata sob a guarda do Estado</p><p>- não os prisioneiros políticos, mas os cidadãos comuns, socialmente</p><p>marginalizados.</p><p>Os direitos contidos na Declaração Universal e nos sistemas</p>
<p>normativos, doméstico e internacional, relativos à matéria, são uma</p><p>conquista da humanidade, que conclama uma luta contínua para estabelecê</p><p>los firmemente na consciência dos indivíduos e dos povos. Para dar-lhes</p><p>efetiva vigência, impõe-se a todos a responsabilidade - c, especialmente,</p><p>aos integrantes das instituições escolares - de respeitá-los, praticá-los e</p><p>divulgá-los.</p><p>Nesse sentido, o engajamento das instituições escolares em</p><p>favor de uma formação geral que resulte no preparo para o</p><p>exercício da cidadania e se empenhe na promoção de uma</p><p>conduta fundada em princípios éticos de valorização dos</p><p>direitos e deveres fundamentais da pessoa dei:mu de ser um</p><p>assunto restrito de especialistas e profissionais da educação</p><p>para se constituir em uma questão de interesse público</p><p>(CARVALHO, 2007).</p><p>Segundo]. M. Azanha (1995),</p><p>sem este esforço institucional, o aperfeiçoamento isolado</p><p>de docentes nãó garante que eventual melhoria do</p><p>professor encontre na prática as condições propícias para</p><p>uma melhoria do ensino( ... ).</p><p>1•: como acrescenta outro estudioso:</p><p>Uma escola é uma entidade social; não mera reunião</p><p>de indivíduos com diferentes papéis. Trata-se, pois, da</p><p>prcp~ração de profissionais cujo trabalho será sempre</p><p>lig:tdo :t uma insiÍILt ição com práticas, valores e princípios</p><p>~~.·din H" tll itdos no longo d ~.: sun ~.:x i s 1 ê nc in histórica, na qual</p><p>lld</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>se forja um ethos que poderíamos denominar "mundo</p><p>escolar" ou "vida escolar"( .. . ) (CARVALHO, 2007).</p><p>E esse processo educativo deve ser interdisciplinar e permanente,</p><p>tanto no âmbito informal quanto formal, desde o ensino fundamental</p><p>ao superior, para tornar todos esses direitos realidade prática. Somente</p><p>um compromisso social para dar efetividade aos direitos humanos e</p><p>uma pedagogia ativa podem enfrentar a problemática da violência ainda</p><p>existente, onde ainda vigoram flagelos, tais como o da tortura, o de um</p><p>sistema carcerário iníquo, o do trabalho escravo e da pobreza.</p><p>Deve-se também contemplar a complementaridade entre a</p><p>universidade pública e a rede pública, segundo estudo sobre educação</p><p>e direitos humanos, realizado no âmbito da Faculdade de Educação da</p><p>USP /SP. Esse estudo sugere que a aproximação entre esses dois setores</p><p>deve fundar-se na co-responsabilização por um programa</p><p>de formação continuada, do qual ambas as partes envolvid~s</p><p>podem se beneficiar. Não se trata, pois, nem de um programo</p><p>que "leva produtos" intelectuais da universidade, nem dt</p><p>uma encomenda de "serviços"(CARVALHO, 2007) .</p><p>Ressalte-se que o direito à educação é um direito humano fundamenta~</p><p>reconhecido como tal na Declaração Universal dos Direitos Humano!'</p><p>(1948, art. 26) e no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, SociaiH</p><p>e Culturais (PIDESC, 1966, art. 13). Entre outros, figura, na Constituiçã<></p><p>Federal de 1988, como direito social (art. 6°) e, também, como direito cul llfrrtl</p><p>(art. 205 a 214) . A Lei 9.394/96, por sua vez, estabelece as diretrizes ~·</p><p>bases da ação educativa em nível nacional.</p><p>A educação ética nas escolas, ainda conforme leciona o Professot</p><p>José Sergio Fonseca de Carvalho em excelente artigo por ele coordenad1 1</p><p>e constante desse livro, deve desenvolver-se com a observância de qual n 1</p><p>princípios:</p><p>(; I</p><p>(1) "o foco preferenciaJ da fo rmilção conti nuada <i l'Vt' Mt 1</p><p>a cultura ins titucionill e não il consciência individu 11 l dt;</p><p>p ro fessor"; (2) " as atividades do pro~r:im: i visam :t ti l l'•</p><p>a fo rmação int<.: ll'C ill:d do Pmll·ssor do qu\' a d il 11 ~ 111 ;</p><p>dl' rt•n trsos t(•cniros t' d1• Jl i'OtTdim('n l o~ tl t· \' ll Stno": ( I)</p><p>" n•, l't• ltt ~' III'K \' 1\lt t' 11 iiiii \' 1 ' 1 ~ 1 \ J.idt • )li d ili t li I' li ll ' t it Jll ililh 1i</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>não devem ser concebidas como prestação de serviço</p><p>(da primeira à Segunda), mas corno oportunidade de</p><p>fecundação mútua e preservação das particularidades"; <.:</p><p>(4) "a educação em D ireitos H umanos deve impregnar o</p><p>cotidiano escolar por meio de sua ternatização curricular c</p><p>do fomento de práticas escolares em con sonância curricu lilr</p><p>e do fomento de práticas escolares em consonância com</p><p>seus princípios". (CARVALH O, 2007) .</p><p>Acresce, ainda segundo o ensinamento desse eminente Professor,</p><p>l JUC essa educação ética deve desenvolver-se com base no "ideal de uma</p><p>n lucação que se empenhe em formar e aprimorar a conduta dos jovens"</p><p>(C:/\RVALH O, 2007) dando-se prioridade ao processo de conscientização,</p><p>1 lc forma que as pessoas compreendam que a liberdade de uns não é</p><p>11:1da sem a liberdade de todos; a liberdade não é nada sem a igualdade; a</p><p>Igualdade deve estar no coração e na cabeça de cada um e não pode ser</p><p>1 ()mprada ou imposta (RIBEIRO, 1981, p. 312-313).</p><p>Essa ação educativa deve ser promovida, nas escolas ou fora</p><p>tl t' las, no nosso entendimento, com estrita preservação da verdade e da</p><p>tncmória, através da formação problematizadora em direitos humanos</p><p>1 k educadores e educandos, baseada, fundamentalmente, na utilização</p><p>til' múltiplas formas, tais como publicações, teatro, vídeos, seminários,</p><p>lll lt'rnet, debates, palestras, conferências e pesquisas, dando-se ênfase</p><p>1.1tn bém à cultura institucional de sua formação continuada e ao fomen to</p><p>, j, práticas em consonância com os princípios já referidos. Ademais,</p><p>wpi la-se: há de se visar à "formação intelectual do professor do que de</p><p>ltTt trsos técnicos e procedimentos de ensino", criando-se "oportunidades</p><p>dt· ref lexão e compreensão de aspectos do mundo contemporâneo que</p><p>lt 'lll 11rofunda repercussão na tarefa educativa" (CARVALHO, 2007).</p><p>, ·~ preciso combater o processo de alienação e desconhecimento do</p><p>l'·'ssado. I ~ a educação, inclusive a extra-curricular e extra-escolar, também</p><p>, 1 11 1 ~ i s 1 c ciYI um instrumento eficaz que, coma ajudados agentes-educadores,</p><p>r 111 tl itos c não erud itos, possibilita aos setores pop ulares descobrirem</p><p>1111 \':ts I ormas de luta c de resistência. Cri am, com essa ajuda, outros meios</p><p>tlt .l~st>c i :H.: i on i smos corno sinclicalos, movimentos populares, associ:1<;an</p><p>tlt ll tnradon:s. I ·~s s es g rupos, por gvlnrvnt l'd ttcadorcs enLrc as pr<'>prinH</p><p>111 •1:otl:tK do povo, pmmovvm tllll l,l' ~ ll ll . tt, c>''s vivas de apn .. ·nd ir.agcm,</p><p>tl ll i dl l ~ llld t > :1 pnt li r t p:t ~': lo l ' n1 ~,1111 11 I1 1JHIJ111hll ''"'·</p><p>td</p><p>< > dt·se rwol\ inlt'nto <k·ss:t : r ~·no <·dr rc. rti \.1, < <Hll .1 pr·cs1·r \,t~.l" 1</p><p>verdade c da mcm<'>ria hist óricas,~ impresc indt \t' l, pors, ;til1d:r hojl·, p.rt ,</p><p>como o Brasil se defrontam com dcsdobram <.: ntos innccit :'t Vl'is c :trHt< 11 ,111, ,</p><p>1</p><p>para o século XXI, consistente no modo comodista <.: idcolo~tt,, ,1</p><p>resolver as seqüelas causadas pela repressão desencadeada pelos gm 1 111, 1</p><p>da doutrina de segurança nacional- onde se forja a não revelação ela Vl' l d 1tl,</p><p>e se aceita a continuidade da violência em todos os seus aspccLos.</p><p>A verdade e a memória no processo educativo</p><p>A restauração da memória das violências praticadas na dit:rrl11r r</p><p>militar é transcendente no tempo c no espaço: a repressão ainda vi)' l•r 1</p><p>e continua a incidir, atualmente, sobre os .integrantes das classes so</p><p>1</p><p>,r.rr</p><p>menos favorecidas. Ela, aliás, é um ponto comum aos países lat i111 ,</p><p>americanos, vítimas da Doutrina de Segurança I acional, com mais 1</p><p>111</p><p>menos .intensidade no Brasil. Contudo, vigora com formas bast:11 r[1</p><p>semelhantes, na medida em que os golpes militares, que se abateram, 111 1</p><p>an~s 1960 e 1970, como um pesadelo sustentado na ideologia da segllrtt111 ,</p><p>naczona~ estabeleceram o regime de terror, do medo que segrega, angustr 1</p><p>e paralisa o ser humano, despojando-o do sagrado direito de ser livre</p><p>1</p><p>pio~, .p~rmiti.n_d? uma violência .inusitada do Estado, praticada por for~·: r</p><p>poliCJats e milie1as privadas.</p><p>Consterna e admira a persistência, ainda hoje, da tentativa d.r</p><p>desconstituição da memória,</p>
<p>através de um discurso conservador</p><p>procedimento, este sim, deseducativo e contrário aos valores éticos e ao~</p><p>direito~ humanos -, sobretudo em parte da chamada classe política, ondt·,</p><p>essenctalmente, deveria prevalecer o compromisso com a dignidade dn</p><p>pessoa humana e com a verdade. Até porque o homem público não dew</p><p>e não pode se eximir da verdade, nem pode cultivar o segredo.</p><p>Entretanto, infelizmente, constata-se aí, como ensina Hannah</p><p>Arendt, (2006) que verdade e política não se dão bem uma com a outra:</p><p>na política, tudo deveria necessariamente depender da conduta pública <:</p><p>da consciência de que o compromisso com a verdade é um direito que</p><p>deve. ser considerado como sagrado, como forma de fazer prevalecer a</p><p>dtgmdade humana e a justiça.</p><p>164</p><p>l•: rn 1 ,u· lt·rtl t' ll'i'•l' dl' dotrtor ado, l'aulo dt· ' J':11 so l)~:t:- l,l.llrl.l\1</p><p>Jt llr11 1 11 .., 111:r <Jlll' a puhltcid:td<.: ron:- tr tu i :r ga rantia certa da mornlid:tdc</p><p>Ir 11 ,lt 1, IH 1rlllll' a d<:claraçao pt.'rb lica d<.: uma ação injusla a torna por si</p><p>'"' '"·' 1111pnttidtvd. Para ch:, a publicidade Lcm ~dupla função <.1<.:. r<.:v<.:lar</p><p>1 lllll'" '' ~·' da açao c de torná la impraLicávcl. I ~ a verdade, advtnda da</p><p>1'11 1rlu td:tdc, lJUC impede a injustiça. Como tal, trata-se de uma exi~ência</p><p>11 , 1 ..,..,,1ria para tornar possível uma prática política adequada aos dttamcs</p><p>Ir 111111 :d c ;I prevalência da dignidade da pessoa humana, esta considerada</p><p>1, ,111 ,1 1, ve tor essencial para a definição do bem comum do povo, como o</p><p>11111 lt-n essencial do qual emanam todos os direitos humanos, ou todos os</p><p>.it 11 rtns l·u ndamcntais reconhecidos na Constituição (KLAUTAU FILI fO,</p><p>'111 )( 1).</p><p>( ~onlraditoriamcnte, há um espantoso e persistente discurso de parte</p><p>lj'l trfrrativa da mídia que erige no antagonismo aos direitos humanos u1~</p><p>ti• ,., o.,nrs pilares de sustentação. Cada vez mais, a exemplo do que ocorna</p><p>11, 1.., rdos da ditadura, despem-se as máscaras e clamam-se por ações duras,</p><p>11 111 1·..,sivas, defendendo-as ou justificando-as, bem como os assassinatos c</p><p>,, •ttlll'a:- contra despossuídos, marginalizados e miseráveis do país.</p><p>1 ~sse desprezo aos direitos humanos demonstra a fragilidade da</p><p>1111 rnc'>ria coletiva das lutas pela democracia no Brasil. Ainda que a transição</p><p>l'11lll ica tenha ocorrido, embora sem a efetiva punição dos assas.sinos c</p><p>t1111 uradores, não se justifica essa proemi nência crescente desse dtscurso,</p><p>'I'"' tem em sua origem protagonistas e apoiadores do regime mi~tar .c</p><p>'I'~~"· in felizmente, ganha até mesmo segmentos políticos e profissJOnats</p><p>, 1111· h a viam sido vítimas da violência repressiva. . .</p><p>No Brasil, após passadas mais de duas décadas do térmmo do regtme</p><p>111 tmitário, ainda não se restaurou por .inteiro a verdade,não se revelou</p><p>J•ll'namente o conteúdo da memória, fundamental para .a ação e?~c~tiva</p><p>1,1 rmanente em direitos humanos, apesar de existêncJa de . J~ctattvas,</p><p>1 11 .., como o Prtjeto Brasil Nunca Mais, coordenado pela Arqwdiocese de</p><p>s.rr 1 Paulo, que re\'elou depoimentos de presos perante a Justiça Militar,</p><p>, 111 processos políticos que tramitaram entre abril de 1964 e março de</p><p>11171) bem como o livro Direito à Memória e à Verdade, recém-lançado pela</p><p>...,,.cr~taria Nacional de Direitos Humanos. Tanto assim é que ainda não</p><p>'' 1ram totalmente disponibilizados a qualquer cidadão os assim chamados</p><p>rll'rf!fiJ;os da ditadura, o que impede a consolidação da memória, co~o .um</p><p>processo educativo imprescindível, viola preceitos básiCos de direttos</p><p>165</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>fundamentais e ignora os anseios da cidadania pela construção de umn</p><p>memória coletiva e pelo acesso a informações estruturais para as vidas</p><p>individuais de milhares de cidadãos brasileiros.</p><p>Conclusão</p><p>A reconstituição da memona, fundada na verdade, é, portan to,</p><p>um instrumento necessário e inafastável. Ela é um elemento constituint l'</p><p>do sentimento de identidade, tanto individual como coletivo, na med id:1</p><p>em que é também um fator extremamente importante do sentimen 1 n</p><p>de continuidade e de coerência de uma p essoa ou de um grupo em sun</p><p>reconstrução de si. As coisas realmente passam e não conseguimos recupení</p><p>las, se não houver um compromisso de preservação da memória, atravl'~</p><p>de um processo educativo interdisciplinar que vise ao aperfeiçoamcntt~</p><p>intelectual dos professores de qualquer disciplina, com base em princíp i< >:.</p><p>e valores éticos e que objetive também o fortalecimento das instituições 1</p><p>iniciativas de ensino, formais ou informais, vislumbrando-se, no primcirn</p><p>aspecto, a complementaridade entre universidade pública, a rede públicn 1</p><p>particular de ensino, tanto em nível primário quanto secundário.</p><p>Segundo Norberto Bobbio, (1997,.p 53-54)</p><p>O grande patrimônio do ser humano está no tnLII1dl •</p><p>maravilhoso da m emória, fonte inesgotável de reflcxcw</p><p>sobre nó s mesmos, sobre o universo em que vivemos, s o h 11</p><p>as p essoas e os acontecimentos gue, ao longo elo caminlttt,</p><p>atraíram nossa atenção" ( ... ) "O mundo do passado é atplt• lt</p><p>no qual, recorrendo a nossas lembranças, podem os buN!"It l</p><p>refúgio dentro de nós mesmos, debruçar-nos sobn; 11111</p><p>m esmos e nele reconstruir nossa identidade ( ... )"</p><p>E is aí a relação essencial entre verdade, memória e ecluc~1 ~·: t 1 t</p><p>em di reitos humanos, sendo imperioso ressaltar que a restau raç~o ti 1</p><p>verdade é necessária para a perpetuação da memória. Para tanto, impo tl,l</p><p>l' lll desvendar, esclarecer, lembrar. Urge que assim seja, como urn :111 1</p><p>h i ~ 1 <'>rico, como uma homenagem aos que 1om h aram c deram suas vitl:t</p><p>pda democracia, como um processo ~·dura livn vr11 c l irT i l o~ hum ~t n os.</p><p>Para os g regos, um homem nWI'I'c ' qtr .1r1dc 1 1 1 t 'M P lt'l't' tll l' vive· !Jll:l tll lt•</p><p>I I lv t lllll': llll , ' 1'v 1· :t l'l'SS O :1 V!' l'<l:t d (', Jli'I 'SI I \ I l 1 I 111111 1111 11 111! ' 11101 Í:i l l ÍHII II II 1</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>co letiva são atitudes indispensáveis, como ponto de partida e de chegada</p><p>em uma educação em direitos humanos. É a verdadeira forma de redefinir</p><p>o passado, refletir o presente e pro jetar o futuro. Lembrar, desvendar e</p><p>esclarecer são anseios da cidadania, afinal somos aquilo que lembramos,</p><p>não para alimentar o ódio e a raiva, mas para ter consciência e para criar</p><p>uma racionalidade capaz de sublimar a tragédia que é a bestialidade da</p><p>violência.</p><p>Referências</p><p>/\LVES,José Augusto Lindgren. Os Direitos Humanos como tema</p><p>global. São Paulo: Perspectiva, 2007.</p><p>1\ RENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva,</p><p>~006.</p><p>t\ ZANHA, J.M. Educação: Temas Polêmicos. São Paulo: Martins</p><p>I ;ontes, 199 5.</p><p>1\1 ~NEVIDES, Maria Victoria, Democracia de iguais, mas diferentes In</p><p>1\0 RBA, Ângela et alli (orgs.). Mulher e Política. Gênero e Feminismo</p><p>110 Partido dos Trabalhadores. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,</p><p>1 <)98. p. 137- 152. Também disponível em: <http: / /~d.hne~.org.br/</p><p>,1 i rei tos/ militantes/ mariavictoria/ mariavitoria_democrae1a1gums.html</p><p>1 · h 1 tp:/ / www2.fpa.org. br/ portal/ modules/ wfdownloads I viewcat.</p><p>Jlhp?op=&cid=63>. Acesso em: 2007.</p><p>li< H3BIO, Norberto. O Tempo da Memória. De senectude e outros</p><p>1·•;critos autobiográficos. 9 ed. Rio de Janeiro: Campus; 1997.</p><p>c  NDlD O, Antônio. Formação da Literatura Brasileira: momentos</p><p>ti<'cisivos, 1750-1 880. 10 ed. Rio de Janeiro: Ouro Azul, 2006.</p><p>c J\ R V!\ 1,1 1 O, José Sérgio Fonseca de. Podem a ética e a cidadania ser</p><p>, 1 ~ ~ inad~1s? In: C!\RV!\LH O, José Sérgio Fonseca de (Org.) Educação,</p><p>, ldadania c direitos humanos. Petrópolis: Voses, 2004.</p><p>c 1\ I{Vt\ I.II O, .J osé Sérgio Po nseca de (coord .. ) Uma idéia em</p><p>lt ~llll : t ~·no cnn1 in uadn em d ireitos humanos. l n: STI"VETR!\, R. M. G .</p><p>1 t .ti. Hdut·aç~o c;m dirci toH hunutnoH: fundame ntos t·córico</p><p>IIH' Ioc lolúglcoti . jnntt Jlc•tHitlll: l •:tl itr> l.t l lni vt·t'l·ii lnttll / IJI•' PI\, 2007.</p>
<p>COM P/\R/\TO, Pabio Konder. Para viver a dcmocracin. Sao i>:w lo:</p><p>Brasiliense, 1989.</p><p>____ . Fábio Konder, Fundamentos dos Direitos Humanos. In</p><p>MARCÍLIO, Maria Luiza e PUSSOLI, Lafaiete (orgs.) Cultura dos</p><p>Direitos Humanos. São Paulo: LTr, 1998. p. 53-74.</p><p>JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São</p><p>Paulo: Saraiva, 2005.</p><p>KLAUTAU FILHO, Paulo de Tarso Dias. O Princípio da Veracidade</p><p>e o Direito à Verdade do Cidadão Perante o Poder Público. 2006,</p><p>Tese (Doutorado em Direito). Departamento de Filosofia e Teoria Geral</p><p>do Direito, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2006.</p><p>LUNO, Antonio Enrique Pérez. Los derechos humanos:</p><p>significación, estatuto jurídico y sistema. Sevilla: Universidade de</p><p>Sevilla, 1979.</p><p>RIBEIRO, João Ubaldo, Política: quem manda, por que manda, como</p><p>manda. Ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.</p><p>168</p><p>8- Educação em/ para O!; direitos humanos:</p><p>c nt n .: a universalidade e as particu laridades, uma perspectiva</p><p>histórica</p><p>Rosa Maria Godqy Silveira</p><p>Introdução: a E ducação como socialização de uma Cultura de/</p><p>para os Direitos Humanos</p><p>Um dos temas mais candentes, senão o principal, dos Direitos</p><p>I I umanos diz respeito às possibilidades de seu alcance espaço-cultural.</p><p>I ·:m outros termos, o princípio de sua universalidade.</p><p>H oje, com a Globalização e seus desdobramentos societários,</p><p>se coloca, com mais intensidade, a problemática de como sensibilizar</p><p>sociedades, culturas, grupos sociais, para a perspectiva teórico-prática dos</p><p>Direitos Humanos, que comporta determinada(s) visão(visões) de mundo,</p><p>de sociedade, de ser humano, e ações conseqüentes à(s) mesma(s), entre as</p><p>lJuais a intervenção na Educação.</p><p>Os processos educativos, constituindo dinâmicas de socialização da</p><p>Cultura, abrangem, sob as mais diversas formas, todos os seres humanos,</p><p>c visam , pois, transmitir-lhes as experiências culturais vividas enquan to</p><p>conjunto das relações humanas com a N atureza c enlre os membros</p><p>da espécie, de modo a possibilitar-lhes a produção e reprodução dc sua</p><p>existência.</p><p>Assim concebida, é inerente à Cultura, o seu núcleo constilutivo,</p><p>configurar-se como uma produção coletiva, que a torna um patr in1tmio</p><p>da Humanidade, bem como uma relação entre ação e refl exão de modo</p><p>que os processos de seu fazer-se (as práticas sociais), simultaneamcntc,</p><p>são processos de seu representar-se, se auto-interpretando no seu fazer</p><p>se (os saberes) . Assim, a socialização educativa deste acervo patrimonial,</p><p>enquanto tal (dos seus códigos, normas, regras, representações, signos),</p><p>operam sobre os sujeitos - produtores de cultura - como virtualidadcs</p><p>para a construção de identidades acerca deles próprios e de outros sujeitos,</p><p>portanto, também da coletividade que integram e de outras coletividades.</p><p>E m síntese: a socialização cultural é uma atividade constante, da duração</p><p>245</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>da vida das pessoas, e, para além delas, das sociedades, o que confere à</p><p>Educação a sua característica de processo permanente.</p><p>E ntão, a primeira ilação a extrair - óbvia do ponto de vista lógico,</p><p>mas complexa na sua concretização - é que a educação em Direitos</p><p>Humanos comporta processos socializadores de uma Cultura em Direitos</p><p>Humanos, que a disseminem nas relações e práticas sociais, no sentido</p><p>de capacitar os sujeitos (individuais e coletivos) para a defesa e promoção</p><p>desta cultura.</p><p>Aí, o tema se converte em dilema.</p><p>D e um lado, porque, historicamente, os processos educativos desde</p><p>a c~n:tituição de sociedades estratificadas, não têm se configurado' como</p><p>socialização do patrimônio cultural da espécie, visto não se apresentarem</p><p>como socialização do patrimônio cultural para a espécie. Se a Cultura é uma</p><p>produção coleti:a, sua apropriação tem sido privada, levada a efeito por</p><p>segm~ntos soc1a1s par~c.ulares que, por seu turno, a reinterpretam segundo</p><p>seus l~teresses e ~~c1alizam a sua perspectiva privatista de representar,</p><p>orga~12ar e. :ra~srmtlr a Cultura. Desse esvaziamento ou sucção do sentido</p><p>coletl~o, alias, e _que emergiram as representações de direitos e as ações</p><p>para 1mplementa-los. Nestes termos, a disputa sociocultural se reveste</p><p>como uma disputa simbólica em torno dos signos e representações dos</p><p>bens culturais (BORDIEU, 2005). '</p><p>Em out~o prisma, a Cultura, por enraizar-se espacial e</p><p>temporalmente, e plural. Se todos os seres humanos a produzem, a sua</p><p>ancorage~ concreta.no tempo e no espaço a torna diversificada, múltipla .</p><p>.Melhor dizendo, p01s, culturas, que se especificam mas se intercambiam</p><p>pelo contacto entre as sociedades, povos, grupos sociais, em fluxos e trocas</p><p>os m~s ~versos, variadas formas de recepção e apropriação cultural,</p><p>co~b~nat~nas cu~turais, no âmbito de um espectro que pendula de uma</p><p>soctahzaçao coletiva a uma socialização privatizante.</p><p>A perspectiva dos Direitos Humanos, desde a sua formalização</p><p>representactonal explícita, após a 2•. Guerra Mundial, vem se esbatendo</p><p>em suas dimensões teóricas e práticas, entre um horizonte univcrsali%antc:</p><p>e~ ~ue s: propõe como uma cultura para a espécie humana, post·o que os</p><p>d1re1tos sao configurados como patrimônio de todos, c as terri torialicl ack-s</p><p>de culturas específicas, que não só apon tam dirt·rcnt cs rnanciras de</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>recepcionar os Direitos Humanos, mas, em muitas sociedades, manifestam</p><p>refratividade aos mesmos.</p><p>Porém, tendo emergido, historicamente, também como uma Cultura</p><p>específica, convém examinarmos, ainda que de forma sintética, a trajetória</p><p>dos direitos até a sua elaboração como perspectiva de socialização cultural,</p><p>de âmbito efetivamente universal, como Direitos Humanos.</p><p>Modernidade e Cultura de Direitos: de Particularidade a</p><p>"Universalidade" particularista</p><p>Boaventura de Souza Santos, em obra recentemente publicada no</p><p>Brasil (2006), ao analisar a questão dos Direitos Humanos no mundo de</p><p>globalização contemporânea, caracteriza este último processo, em curso,</p><p>comportando duas vertentes, uma hegemônica e outra, contra-hegem?nica,</p><p>identificando, na primeira (sistêrnica), dois sub-processos: o de localismos</p><p>globalizados e o de globalismos localizados.</p><p>Se nos valermos da interpretação do sociólogo português para</p><p>0 exame do percurso dos direitos, podemos qualificar a base histórica</p><p>da Cultura de direitos como um localismo que remonta à chamada</p><p>modernidade, ou modernidade clássica, nos séculos XVII-XVIII,</p><p>\' nraizando-se nas revoluções liberais da Inglaterra e da França; na</p><p>l'xperiência das treze colônias inglesas da América do Norte, processo</p><p>lormativo dos Estados Unidos da América; e espraiando-se por alguns</p><p>lllllt os países europeus (Bélgica, Grécia, Alemanha, Itália, entre outros).</p><p>Nessa época, ainda não são Direitos Humanos, mas direitos civis e pol.íti ~o t1,</p><p>1 odificados na inglesa Bill of Rights e na francesa Declaração dos D trt' tl ttK</p><p>dll li ornem e do Cidadão, que buscavam assegurar, juridicamente, di tTtloti</p><p>1 Hlt'a os membros de seus respectivos Estados Nacionais, consignando n~</p><p>t nmo cidadãos.</p><p>1\. expansão do ideário liberal e sua concepção de cicladat1i:t ,</p><p>ltHit ssociávcl da própria expansão do capitalismo, repercutiu sobre p~u· t cs</p><p>,1,, 1 •: uropa c elas Américas, no século XIX, e, tonificado pelo impcri~ 1 ism< I</p><p>t•ttmpn t sobre a Africa c a Asia, a parLir de meados deste mesmo século,</p><p>11 hl' lt modelo ck: 1 ~s tado Modcrno c de cid::~dani.a foi se cris t a li z~tnd o ~·</p><p>1111•wand 11 impor st' <.:m scus r onl<l t·nos: dt: rnocrfuico liberal, cnpit nlis tn ,</p><p>ltt ,til< n, tnnst ulinn, <'t islttn, N t'IIHII t'o la lt istó rk :t, qu t• ~ t' prolo ngn pr lo</p><p>'I/</p><p>~t' < tdo \\, .1 < ult 111 .1 qut· o t' l1 \ oi w, v. 11 .idqtllllllllt, dI 'I< 111 ~ 1 vidade l' p1 n ttt'a ,.</p><p>pn•tt'l ls:tt11L'Iltt· lllliw rsali%antt:s, cuja pc rst:.l<'lll 1,1 ,tf<' .1 atu :tl idnde pt:t' llll'Í :t</p><p>IL'PI't:s<.:ntnçocs arrogan tes tais como H d<.: l .'ukuy:ut l. l, dt·cr<.:</p>
<p>tando o " lim dn</p><p>ll istória" para as sociedades que estiverem fo ra d<.:s tt: modl'lo de sociedatk</p><p>liberal burgttesa, ou a de George Bush, em seu monocórdico discurso dt•</p><p><!U <.: "os I ~s taclos Unidos estão no Iraque para defender a democracia".</p><p>I ,iberal, por certo.</p><p>Neste front de disputa simbólica, a Cultura burguesa ocidental, com</p><p>o s<.:u con teúdo político codificado no Estado de Direito, reuniu os q1.1c</p><p>pcnsa:am_Jpensam universalizar os direitos liberais, de modo a atingirem</p><p>os m~us dlVersos povos, sociedades e segmentos sociais.</p><p>Contudo, esta pretendida "universalidade" cultural se conformava c</p><p><.: n formava nos limites do seu localismo de origem. A socialização educativa</p><p>l iUC empreendeu para derrubar a socialização educativa teocêntrica</p><p>med_ieval,_ na própria Europa, constituiu-se em uma nova socialização</p><p>pa~·ttculansta para educar as nações e os seus respectivos membros na/ para</p><p>a Cultura dos seus portadores, significando que a burguesia se assenhoreava</p><p>do poder. Se a bandeira da Cidadania dos revolucionários liberais e a sua</p><p>luta "em nome da Nação" possibilitaram a consignação de direitos para</p><p>certos segmentos sociais, antes excluídos pelo Antigo Regime, sobretudo</p><p>pa ra a própria burguesia, esteve bem distante, no entanto, de um~</p><p>socialização universal da Cultura como patrimônio da espécie, mesmo nos</p><p>próprios países de origem do liberalismo. A desigualdade socioeconômica</p><p>dos contratantes, na entrada do Estado liberal para o contrato social,</p><p>~nulava, nas práticas sociais concretas, a abrangência de um dos principais</p><p>I unclamentos do liberalismo: a liberdade. Não bastasse esta restrição, os</p><p>agentes do liberalismo criaram mais anteparos à liberdade, através de outros</p><p>procedimentos normativos, a exemplo do voto censitário. Assim, o outro</p><p>grande princípio basilar liberal foi se hegemonizando como fundante:</p><p>0</p><p>t_lircito à propriedade privada, para cuja defesa milhões de pessoas dela</p><p>foram excluídas.</p><p>Mais longe ainda desta universalização estavam as idéias liberais</p><p>Lluando de sua disseminação por outros continentes, no seu rebatiment;</p><p>un sociedades de profundas assimetrias socioeconômicas, decorrentes</p><p>da colonização, formalizando-se como garantia de uma sociedade de</p><p>privilégios, entre os quais o educacional, que assegurava, circularmente, a</p><p>24H</p><p>11 1 , 1 11 u t t' ll ~' :to dt•ssns pi't:rmg:t ttvns dt· t xtlusno. Caso do l ~msil, apc'>:-. :t Sll:\</p><p>tt lt onomia polftica.</p><p>Tanto não era universal a própria Cultura liberal burguesa (embora</p><p>,\'isim se arrogando c, por isto mesmo, arrogante), que, ao _lo?go_ da</p><p>lttotl<.:rn ic.ladc, vão emergindo e se constituindo formas de reststenCia -</p><p>,1 cx<.:mplo das lutas das classes trabalhadoras européias no_ s_éculo XIX</p><p>v das lutas anticoloniais no século XX - de grupos soctats e povos</p><p>l'xciuídos daquela Cultura, mas nela socializados, em termos, porque</p><p>porLadores, também, de outras práticas culturais. A~é que se elabo:o~ uma</p><p>inl <.:rpretação/proposição antagônica ao modelo libe~al ~ o soctalis~o/</p><p>comunismo - , buscando superá-lo em sua abrangencta soctopolíttca,</p><p>inclusive, recusando e pretendendo abolir o Estado de Direito por</p><p>w nsiderá-lo lócus da dominação burguesa.</p><p>Contrapondo a concepção de sociedade de classes à de_ cidadania</p><p>liberal de necessidade proletária à de liberdade burguesa, de dttadura do</p><p>prolet~riado à de democracia formal representativa, o fr~nt so~ia~sta</p><p>não só contribuiu para alargar os direitos para a esfera soc1oeconom1ca,</p><p>no âmbito dos próprios Estados Liberais (século XIX), .como :oi a_~</p><p>ponto de empalmar, revolucionariamente, o poder, em muttos patses, )a</p><p>no século XX. Contudo, o socialismo também se converteu em outro</p><p>par ticularismo ou localismo com intenções universalizantes, na medida</p><p>em que seus agentes o pretenderam internacional, exp~rtado ~~~o</p><p>modelo para outras sociedades bastante diferenciadas da Untão Sovteuca.</p><p>'fambém o impuseram, internamente, às sociedades em que tomaram o</p><p>poder, mediante um processo com vistas à homo~e?eização cul:u~al que,</p><p>novamente, não socializou a Cultura como patnmoruo da especte, mas</p><p>como privilégio de uma nomenklatura. 1 Ao pretenderem representar o</p><p>proletariado, os agentes socialistas ignoraram a diversidade interna ~es~e</p><p>segmento social e as suas particularidades, invocando-o como referencta</p><p>universalizante.</p><p>Pode-se dizer, então, que estas duas principais correntes político</p><p>ideológicas em confronto, desde o século XIX até qua~e o final do ~éculo</p><p>passado, em suas experiências concretas, foram loca~smos globali~ad~'s</p><p>que padeceram da "síndrome da superação progress1va e progressista</p><p>Em outras palavras: a "solução" pretendida em cada um dos fronts em</p><p>1 Em russo, a burocracia ou a casta dirigente da União Soviética.</p><p>249</p><p>Educação em Dire itos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>di~p.uta se ~a~ea~a em pressupostos homogeneizadores daquilo que, nas</p><p>pratlcas soc1rus, e uma relação complexa, articulada mas contraditória. Os</p><p>seres humanos tanto constituem uma identidade enquanto tais e, portanto,</p><p>portam uma unicidade que, se não realizada, é passível de sê-lo, quanto,</p><p>? or s~:s.particularidades socioculturais, são permeados por configurações</p><p>1dent1tanas específicas, não plenamente redutíveis a uma homogeneização</p><p>cultural. D e certo modo, ambas as formas de pensamento e ação criaram . ,</p><p>com vanantes, representações universalizantes que modelariam a sociedade</p><p>e seus processos socializadores como formas, linear e progressivamente,</p><p>tidas como superiores, que superariam as particularidades.</p><p>Cultura de Direitos Humanos: uma Universalidade em</p><p>construção, para a espécie</p><p>Obviamente, os direitos, formulados desde o século XVII até a</p><p>a:ualidade, ainda longe de esgotarem as suas possibilidades de abrangência2,</p><p>sao humanos. Porque construídos, historicamente, por seres humanos.</p><p>Mas a formulação Direitos Humanos, emergente no século XX, se</p><p>distingüe das elaborações anteriores por sistematizar uma perspectiva mais</p><p>ampla dos direitos, para além das experiências liberais e das lutas socialistas</p><p>~orporificada nos seus princípios de universalidade, integralidade:</p><p>mterdependência, indivisibilidade e inviolabilidade. .</p><p>Essa universalidade se postula para toda a espécie humana,</p><p>expressando uma Cultura que transversalize as particularidades culturais.</p><p>A ~arca e o marco de abrangência desta representação é a Declaração</p><p>Uruversal dos Direitos Humanos, de 1948.</p><p>Várias experiências históricas forneceram substrato para a</p><p>condensação dessa proposta de cunho universalista: a trajetória de lu ta</p><p>por direitos ao longo da modernidade, a carnificina da Primeira Guerra</p><p>Mundial, o totalitarismo nazifascista, o genocídio dos judeus, as bombas</p><p>atômicas lançadas pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nakasáki</p><p>impactaram sobre a consciência social da época (década de quarenta)</p><p>a tal ponto que foram criados organismos supranacionais para não só</p><p>2 Uma vez disseminada a Cul tura de direitos c, no século XX, a Cuhura de Dirl·i r o~></p><p>Hum_anos, entend:mos que a existência humana pode propic iar n rc mari:..:açno c</p><p>11</p><p>p tH</p><p>1111</p><p>de vanas outras areas em qul: ~c idcnrifiquc dcsig unldndcs c l'Xclusocs</p><p>110</p><p>roc·</p><p>111</p><p>11 c•</p><p>1</p><p>)</p><p>sorinlizaç:lo dn Cuhurn p:trn n t•spC:Tic.</p><p>) ~ ~~</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>rm rdcnarem, geopoliticamente, o mundo, após o conflito ~é~co, <.:</p><p>gn ircm as relações entre os vários países, como também para co~b1rem n</p><p>1 11 11.:rgência de concepções e experiências análogas ao etnocentnsmo do</p><p>111 Reich e dos fascismos italiano e nipônico. Foi neste difícil e complexo</p><p>c nnt cxto que se formalizou a representação dos Direitos H~manos como</p><p>ru1ivcrsais. Um marco relevante para a Humanidade, na medida em que os</p><p>11irl' itos passavam, de forma inédita, até então, a ser codificados, jurídico</p><p>pnliticamente, com um alcance espaço-cultural para a espécie humana.</p><p>Atravessando a D eclaração de 1948, outros processos, contudo,</p><p>c• encontravam em curso: o</p>
<p>totalitarismo stalinista na União Soviética,</p><p>, ,., vários movimentos de libertação nacional nos continente asiático <.:</p><p>rir inmo e a Guerra Fria.</p><p>Apesar de sua aprovação por unanimidade, a D ecla.ração de 19483, na</p><p>lrrtplementação dos seus princípios encontrou enorme dific_uldade p~rgu<.·</p><p>'''·' formalização jurídico-política não se acompanhou da mstau~açao d<.:</p><p>'""a Cultura de Direitos Humanos que, largamente, se dissemmasse <.:</p><p>,lc s!-le sustentação à perspectiva sinalizada naquele documen.to. A Cul.turn</p><p>11t · 1 ) irei tos H umanos era mais intenção, desejo, vontade política de mtutos,</p><p>'i'W a vislumbravam como uma virtualidade para construir um mundo</p><p>dr lncntc e melhor, e [porque] sem conflitos, do que uma ação efetiva. ,</p><p>Além disso, a chamada Guerra Fria, que pautou a agenda do pos</p><p>1.,1,1·rra até o inicio dos anos de 1990, criou enormes barrei:as à universalidad<.:</p><p>1 liC ' Icndida pelos Direitos Humanos em sua Declara7ao de. 1948,. tendo</p><p>, .r.1 sido secundarizada e subsurnida pelas pretensoes uruversalizanl<:s</p><p>d, cada uma das particularidades em confronto: a liberal e a socia listn</p><p>1, ,11. Na multiplicidade de conflitos que se sucederam nesse jogo de p~>lkr</p><p>l,tp11 1a ri:~.ado, enormes violações de Direitos Humanos fora~ .comcuda~.</p><p>1 rll ; r ~ delas se valendo, inclusive, da retórica da defesa dos due1tosl</p><p>Mas, no mesmo período, acentuando-se na década de 1960, OLrt :<>K</p><p>I''' H l'Ssos históricos sinalizavam novas mudanças societá.rias,_ em scnt.tdo</p><p>, ,,, , 1nci pacion ista: o longo processo de lutas ~e descoloruzaçao na_ Á!-> t:t t '</p><p>''" A f'rica, a resistência contra o apartheid na Africa do Sul, o M.ovtmenlo</p><p>Nc·" 1•0 nos EsLados Unidos, o mov imento feminista e a revolta da JUVcn t udc·</p><p>,, - I</p><p>, t1111:rnti l em vários países in(k ti ram fortemente sobre a questao t n~</p><p>1 >r 11·rt os l lumanos. Tam h(•m em t nlll c·x tos ck supressão bnrl ~li do I •:stnclc 1</p><p>Educação em Direitos Hu n fu d</p><p>I anos: n amentos teórico-metodológicos</p><p>de Direito, como os recrimes militares na Am, . L .</p><p>di . ~:>· enca atma com</p><p>ur r-se a resistência aos Estados dit t . . d ' eçava a</p><p>dos Direitos Humanos. a onrus, ten o por bandeira a defesa</p><p>Globalização h A •</p><p>. . egemontca e Cultura: a "univers lid ,</p><p>parttculansta de uma Cidadant'a red . . a ade uctontsta</p><p>Desde a década de 1970 b , ..</p><p>discursividade vigorosas ' tam em começa a adgumr visibilidade e</p><p>Globalização o . um ~utro complexo processo a gue se denomina de</p><p>. ' u seJa, o movimento de a1arg - . .</p><p>capitalista intensificado P 1 . . - amento terntona1 do mercado</p><p>' e a constltutçao de grand , 1 econômicos multinacionais t d cs cong omerados</p><p>. ' en o como suporte d</p><p>tnformacionais e de te1eco . - O po erosas redes</p><p>murucaçoes s modos de vid</p><p>valores vão se transformand b . . a, os costumes, os</p><p>0 so o Impacto de um padr- 1 1 detentores do capital globali d b . ao cu tura gue os</p><p>za o uscam Impor e ho .</p><p>particularidades socioculturais . . . . mogeneiZar sobre as</p><p>nacwna!s regtonals loc . b d</p><p>se apropriem para mercantiL , 1 E ' ' rus, em ora estas</p><p>za- as. ngendra se a arg ·t d</p><p>sociedade em rede (CASTELLS, 1999) ue - -· . ~l etura e uma</p><p>continentes sob b . , g se terntonaliza em todos os</p><p>. ~ re as ases antenormente fincadas pelo col . li</p><p>ncocolorualismo atingindo m , orua smo e o</p><p>' esmo paises e culturas ant . , .</p><p>mais imunes ao modo d .d . . . es lnacessivets ou</p><p>e VI a cap1talista CUJO P a· 1 .</p><p>(e uropeu e norte- · ) . ' ar cu ansmo ociden tal amencano va1 expand · d ,</p><p>c abrangência aparentement . ali 1n o seus tentaculos em sentido</p><p>A e uruvers zantes.</p><p>Humanidade, em outros tempos . , .</p><p>his tó ricas de convivên . d , . ' Ja passara por expenências</p><p>Cla e vanas culturas sob 1 t'lllico E stado ou fede d , . ' o contro e de um</p><p>' ran o vanos Estados D t</p><p>multiculturalidade o Imp , . R . es acaram-se, por sua</p><p>' eno omano na Antig üidad · s I - ·</p><p>f{omano-G ermânico da Id d M'd. ' . , . e, o acro mpeno</p><p>\ ' a e e la aos IrucJos do século XIX· I , .</p><p>1 ustro-llúngaro do século XIX , . . , o mpeno</p><p>. , "' ao termmo da Pnmcira G ~r . .</p><p>f ·.s tas cxr criências combi d r . . • . uerra Jy undral.</p><p>naram, e tormas dr stmtas d. . I I</p><p>v unifi cação política. ' • ' tvcrs tc ac c cultur::~ l</p><p>t\ l:rs :1 cxr criência de multiculturalism< - . . ' .</p><p>()(' ld t·nt al, é processo in ' r d ), ~ pa_r trr cLr modcrntdack</p><p>' ' l ~ t o. cc rto e c a lcance tcrrrtorral c culturnl jamais</p><p>< ktavio fanni ( f <J<) S) •1 •</p><p>lll"l'!'' l<lcl I . . , pontn tlll l' n C lo l >aliz:r~·nn, nos lt' l' lllos d<·</p><p>' ' l lll ' \1'11 Sl' ('S I • I I .</p><p>. . . t ll < l' ll l n 1111t•rrc>ntin t· llt :rlllH'11fl', it l'l lt rd ,rlrdo</p><p>11111</p><p>' •'</p><p>Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos</p><p>territorialidades particularistas (nacionais e subnacionais) em fluxos</p><p>comerciais e produtivos, ou nos termos de uma poütica internacional</p><p>hierarquizada, é processo que se configura, desde o início da modernidade,</p><p>com a formação do capitalismo e a ins tauração do colonialismo europeu,</p><p>especialmente nas Américas e em algumas partes da Ásia e África.</p><p>Prossegue com o neocolonialismo, igualmente de países europeus, sobre</p><p>quase todo o continente africano e boa parte do asiático, e se apro funda</p><p>com o imperialismo norte-americano sobre vastas partes do mundo.</p><p>Embora todos estes momentos diferentes e peculiares do</p><p>movimento do capitalismo, durante a modernidade, tenham contribuido</p><p>rara uma organização societária mundializante, a Globalização presente,</p><p>por comparação a suas bases modernas e mesmo contempo râneas</p><p>(séculos XIX e XX), não lhe é decorrência linear. Comporta características</p><p>específicas, abrindo uma temporalidade que suscita polêmicas: seria uma</p><p>outra duração estrutural e de longo alcance, não mais modernidade, a</p><p>chamada pós-modernidade? Ou uma duração média, conjuntural, outra</p><p>etapa da estrutura moderna, ainda modernidade?</p><p>A Globalização do tempo presente se distingue por carregar</p><p>tI i fcrenciais em relação ao passado, em sua configuração e na potencialização</p><p>dos seus efeitos.</p><p>Uma dessas diferenças está contida no processo de acumulação</p><p>capitalista. Não apenas o mercado se extravasa, assumindo maior liberdade</p><p>c, portanto, poder, por comparação ao período anterior aos anos de 1970,</p><p>q ue se demarcava- na Europa e, mais restritivamente, nos Estados Unidos</p><p>por um Estado intervencionista (o chamado Welfare State) no contexto</p><p>do capitalismo monopolista. Mediante poüticas desregulamentadoras e</p><p>.rn tipro tecionistas, a circulação do capital se otirniza. A crise de acumulação</p><p>t ln década de 1970, rebaixando as taxas médias de lucros, desencadeia</p><p>11m agudo processo de reestruturação das forças produtivas capitalistas,</p><p>1 c 1m a absorção de novos materiais e processos, que trazem profundas</p><p>1111plicaçõcs c1uantitativas e qualitativas para o mundo do trabalho.</p><p>1:. 111 ou tras palavras, o capital e sua persona se apropriam, agora,</p><p>' l:rtluilo t ju C, de forma cscamOI"cadora, denominam de capital humano4</p><p>:</p><p>I ( .rp ll .rii HIIWII ln: 11 tt•olin d n 1 ''i""" h llll \111 111, 111 1 hojo dns t<:or ins do desenvolvimento,</p><p>!111 llll l't l lltldtt pt tt "'"1\'''1'" 1 ""'"'"'"" I'"' ' ll rt·~tdn t Sdtttl t.-, nn~ , tt\ o~ d1· 11)'\(), S1111</p><p>ll lt llltl lt I t 11' 11 11 1111 'I" tttlltl tdl tt lll1111 lo I dllt 11 lto lj ll rlrt lt 11 111 ll ll ll ttll t 11 ,qulid.ult</p><p>dt pnh dt•it' l't'lll n. pHlprr .ulo nst•rwr gi:~ ~ Ir h 11 d,rH ll ll l s~. r -. dt· lr:tlmlhadon•~-t,</p><p>t'\.llllldo fool l'S dl' t' IH.:rgia da nnltll't'.t.:t t' t rl.rdn t'11 t• rgias rnec:\nicn~>,</p><p>rnlonr zn m os <.:~n.:bros humanos, ou seja, a~ t'lll'l'gias 111l' l1tais, em esferas de..·</p><p>r n:ui vidade antes preservadas do avassalamento mercantiJj%ador. ob um</p><p>rnodt: lo wyotista\ implementam-se medidas para aumentar a vclocidac..l<:</p><p>de..· giro do capital e diminuir os seus "desperdicios". O foco do processo</p><p>produtivo desloca-se, não mais contemplando, apenas, a esfera da produção</p><p>dt: mercadorias nas fábricas, mas</p>
<p>se ampliando para a esfera do consumo,</p><p>ag regando a marca de uma "qualidade total" aos produtos, de acordo</p><p>com os perfis dos consumidores. Vai-se corporificando, en tão, o mercado</p><p>srgmentado, ou seja, diferenciado segundo as peculiaridades socioculturais</p><p>(valores, gostos, aspirações etc.) da clien tela. O núcleo da acumulação -e</p><p>t'slc é o terceiro diferencial em relação a outras temporalidades capitalistas</p><p>vai se transferindo para a es fera dos bens imateriais, transformando-os</p><p>t' rn mercadorias. Os chamados bens materiais, de outra destinação (para a</p><p>.-.obrcvivência, como os alimentos, a moradia, o vestuário; ou para o poder,</p><p>< on1o os produtos bélicos), são discursivamente invisibilizados como se</p><p>n:1o mais fossem produzidos. Cria-se, até, uma [falsa] representação dos</p><p>hcns culturais como algo desmaterializado, enquanto o processo de sua</p><p>mcrcantilização, ao convertê-los em valor de troca e em acumulação, cada</p><p>VC% mais, lhes confere materialidade. 6</p><p>Vários processos interconexos possibilitam compreender o fato da</p><p>Cultura alçar-se como o filão da acumulação capitalista atual. Entre outros,</p><p>a própria lógica do(a) mercado/acumulação, já referida, buscando sempre</p><p>novos nichos de consumo, invadindo "recessos ainda recônditos da vida"</p><p>(YÚDICE, 2004, p. 44) . Mais além, a sociedade contemporânea pós</p><p>St:gunda Guerra Mundial e, sobretudo, pós-anos setenta, se complexifica e se</p><p>diversifica, como resultado tanto de processos de âmbito socioeconôrnico,</p><p><le tr~ b~lho e de produção. Para aprofundamento a respeito do assunto, cf., Gaudêncio</p><p>h igoto (2000).</p><p>'í "li>yo tismo: Nome derivado da Fábrica Toyota, no J apão. Passou a designar um modo</p><p><k· o rgani7.ar a produção capitalista, conjugando: aumento da produtividade, produção de</p><p>drvcrsos modelos de produtos, mecanização flexível, qualificação multifunciona1 de mão</p><p>de obra, con trole da qualidade total, sistema just in time (estoques planejados). Estes</p><p>Prrnd pios foram sistematizados por Taichii Ohno.</p><p>c, Veja se o caso da Cultura Popular, que vem sendo apropriada pelo mercado, materializada</p><p>vr11 livros, CDs, etc.</p><p>~==</p><p>I IIIU H\ tHI t 111 lfll f' IIU-., lllllllrllltllll llltltiHIIII 111"" 11 Pllt ti IIU IIHIIIIIIJi';" ;;''=o;"====</p><p>torno os inr ensos tl<..:s locamcntos dcmogr{dicos intcrcondtin~dn ta~s ~~l~::~a</p><p>I fil 1 • lasses trabalhadoras evl 0 a ti l· obra c a mudança c. o per ' c. as c '. . . , - d d de</p><p>- . talistas - reestruturaçao o merca o</p><p>para elas, nao para os capl nho mais olitico-ideológico-cultural,</p><p>11 abalho, c1uanto de processos de cu P - do socialismo real)</p><p>. I . de' cada do século passado (a desestruturaçao 11:1 u uma .</p><p>. . - d · lo XXI (o terronsmo).</p><p>c na mauguraçao o secu . di d sem re culturais.</p><p>São todos processos culturais, melhor zen o, p</p><p>·usta ostos complementar ou subordinadamente, como. _as</p><p>Não J P ' . . . dernas construíram entre as vanas dicotomizações eplstemologlcas mo aditivo da</p><p>. - d vida humana concebendo a Cultura como um</p><p>drmensoes a . , exclusivamente culturais, como certas politica ou da economia; tampouco, , d 7</p><p>. 1. . . adernas vem representan o.</p><p>lcndências eplstemo oglcas pos-m d t as dimensões societárias</p><p>A Cultura transborda por to as as ou r</p><p>porque se torna conveniência. Conveniência porque recurso:</p><p>. · mais do que uma nova [ ] a cultura co mo recurso e multo . • .</p><p>~~rcadoria, ela é o eixo de uma nova estrutura eplste~ca</p><p>ai a ideologia e aquilo que Foucault denommou</p><p>na qu . · - d normas e</p><p>sociedade disciplinar (isto é, a lmposlçao e . . . .</p><p>instituições como a educacional, a médica ou ps~qu~atrlca</p><p>etc.), são absorvidas por uma racionalidade economlca ~u</p><p>I . o-ica de tal forma que o gerenciamento, a conservaçao,</p><p>eco Oo- ' I ' seus</p><p>d. "b . -o e o investimento em cu tura e o acesso, a lstrl mça . . 4 13)</p><p>resultados tornam-se prioritános. (YUDICE, 200 , P· .</p><p>t "a noção de cultura como recurso pressupõe seu Para este au or, · · d 1 ltura</p><p>. ue não era caractenstlca a a ta cu gerenciamento, uma perspectlva q l. . , (Idem P 11) E</p><p>da cultura cotidiana no sentido antropo oglco ' . . .</p><p>nem . " ltura é conveniente para todos: incluídos e excllildos, arremata. . .. a cu</p><p>h emônicos e contra-hegemônicos".</p><p>eg . tili. - da Cultura ao convertê-la em uma nova Assim a mercan zaçao ' d 1</p><p>necessidade d~ consumo, mas agora com~ va:or de tr~-:~:::~a~te~~:~~</p><p>sistemas informacionais e de telecomuntcaçoes, vru,bal . al Nem</p><p>constituindo uma Cultura que se propoe - como glo e umvers .</p><p>. - . i tas de mundo de sociedade, de História, certas</p><p>7 Como reação a vlsoes econorruc s . ' erdimensionamento da esfera</p><p>. _ . d as (nem todas) mcorrem no sup . . _. .</p><p>mterpretaçoes pos-mo ero . - d vida (a olitica a economia, as propn~s</p><p>cultural, a um ponto que as outras dimensoes a p ,</p><p>questões mais sociais) subsomem.</p><p>255</p><p>ult a l'ldt ~ 11 •1: ! )01~111 1: ll it.o rnais t ircltlls ' IÍI.t 11 M'g11W11tos das t' litl·s; 1Wn1</p><p>t ul tu t;t cot tdtnna, lornltzada, <.fuase loca lista, dos homens comuns; nen1</p><p>t ultura de tWtss·ts 1.,0 · • ~ · 1 · . . . . . ' · ·' ·: l<.fUC nao maJs pac. ro n1zada para vastos segmentos</p><p>soctals mc.l! ferencJados. Cultura de massas segmcn t"c.l" t" l</p><p>, •• • • • , ' << n , n VC% possamos</p><p>.tssJm c~u actcnza-la. Comporta um pad .- · · , . _ rao c, ao mesmo tempo, dtstJnções</p><p>ll.l s ~t a produçao c consumo, segundo segmentos sociais diferenciados,</p><p>1 ~1pl! cando ~a~ueles dois _processos denominados por Boaven tura Santos</p><p>(~00~) de _Jocaltsmos globalzzados e de globalismos localizados. o mercado é</p><p>0</p><p>;)a~lrao uruficad~r, a referência balizadora, sob a aparência da diversidade:</p><p>,, C ultura negocJa por meio desta moeda da d' 'd d . " · . . 1vers1 a e, o consumtsmo</p><p>tnvadJU as formas de negociação da identidade" (YUDICE 2004 13</p><p>l' 20) ._ Dos seus particularismos europeu ocidental e nort~-ame;i~~no</p><p>~lo?ahza-se e, como ~lo~alismo, se localz·za em milhares de lugares. Ma;</p><p>·'. Cul~ura, como p~tr:m~ruo da espécie, nessa ó tica, é subsumida pela</p><p>( .ultura como patnmoruo privado, que beneficia, em última instância</p><p>apenas parcelas minoritárias da espécie. '</p><p>, . ~m s!ntese, a Cultura global instituinte significa um novo processo</p><p>~!c ~octalizaçao, ou uma portentosa e nova socialização cultural, a atin ir</p><p>socJe?ades, povos, grupos sociais, distribuída de duas maneiras: cultu!s</p><p>a:1t~normente socializadas de modo diverso, não estruturadas segundo a</p><p>logtca d~ merca~o, mas c~ns~tuindo modos de vida que os implicados</p><p>na dJr~çao do ststema capitalista visam desconstruir (não sem antes se</p><p>;~ propnarem de muitos dos seus elem entos que lhes são conveniente.f); ou</p><p>culturas estruturadas .se?u~do uma etapa anterior do próprio capitalismo,</p><p><.fu e aqueles agentes ststemtcos visam atualizar.</p><p>. Nestes cont~rnos, a Globalização sistêmica, s~ja enquanto globalismo</p><p>loralzzado o:t como localzsmo globalz·zado, da perspectiva de uma Cultura de Direitos</p><p>ll!fm~n~~ e negadora da universalidade porque correia de transmissão de uma concepção</p><p>r{'(I!ICZOntsta nas formulacões/ representarões sociaú de Cidad.anz·a 0 cJ·d d-</p><p>. ' . . r · . a ao, antes</p><p><.: nquadrado, pelo capitalismo liberal segundo uma 0• tl·ca · ·di ·</p><p>. ' JUf1 SC1Sta</p><p>co~~ dete~tor ~e uma presumida igualdade perante a 1ei9, continua send;</p><p>umdimenswnalizado, desta feita, numa ótica economicista, como sujeito</p><p>H Veja-se a apropriação da bioctiversidade do Terceiro Mundo empreenctid 1</p><p>I ti. · · · . , . ' a pe os grupos</p><p>mu nacwnrus ongtnanos de países desenvolvidos.</p><p>I) N- . .</p><p>ao ~rec~~~os sau: do exemplo das práticas da J ustiça brasileira, para apontarmos</p><p>~,·omo linaod a Igualdade dos cidadãos perante a lei, mesmo que tal igualdade este)· a</p><p>orma za a.</p><p>256</p><p>.</p><p>llt ii GIIIltidnt, ~·/ ou , tlll tll:l u tk:t t t dt t tt :d i~ t :t, totno Stt jci to d~: dir<.: it o :'t</p><p>dli1 t l 'll~·a , tflll' t amb~.:m ca rrega a ~ un reprcsen t:tçno como consumidor.</p><p>' l':tis perspectivas escamoteiam a dimensão política de desigualdade</p><p>, l'\rlusao sociais 111, v isíveis em amplíssimos segm entos</p>
<p>da H umanidade,</p><p>1 lllll tmpli caçõcs na redução de direitos historicamente assegurados em</p><p>1, 1, dcs<.:ncadeada pelas politicas neoliberais.</p><p>Com efeito, a G lobalização sistêmica realiza um movimento inverso</p><p>,11 , da modernidade clássica: se esta buscou homogeneizar as diferenças</p><p>'•'H iocul turais" pela representação de um abstrato Cidadão universal,</p><p>lltl t' ocultava o particularismo liberal burguês, na atualidade, na chamada</p><p>.!11:1 modernidade (GIDDENS, 2002), a representação do cidadão pela</p><p>~~ ·gm cntação/heterogeneização, enquanto consumidor ou culturalmente</p><p>dt l'crenciado, oculta a desigualdade no acesso ao mercado e o interdito à</p><p>, xprcssão das culturas não-hegemônicas. Analogia entre os dois tempos,</p><p>1.10 somente a da mesma ocultação do particularismo (neo)liberal burguês.</p><p>Nao por acaso, o ideário da emancipação social, que havia sido uma linha</p><p>1 k trajetória instauradora da própria modernidade liberal, passa a ser,</p><p>rciterativamente, representado e desqualificado como utopia irrealizável.</p><p>Globalização contra-hegemônica e Cultura: a possibilidade</p><p>de uma efetiva universalid ade mediante uma Cidadania</p><p>mul tidimensional</p><p>Para Boaven tura Santos (2006), a temporalidade atual é de</p><p>presentificação ou alargamento do presen te sobre o passado e o futuro. A</p><p>teoria do " fim da História" significa, para o autor, o máximo de consciência</p><p>possível de uma burguesia cujo domínio se expressa em uma repetição</p><p>:1utomática e infinita do tempo, o tempo que é seu, de reprodução do</p><p>capital. À medida que assumiu o poder e foi se consolidando como classe</p><p>dominante, a burguesia foi, também, se esquecendo e se distanciando</p><p>de sua luta contra a ordem feudal e os antigos adversários (estamentos</p><p>1 O Estamos nos referindo a certos movimentos ctiferencialistas em que um culturalismo</p><p>r:~clical coloca ênfase na identidade, secundarizando a percepção da desigualdade e da</p><p>l:xclusão.</p><p>1 L A propósito, Deleuze (1 992) remarca que foi a modernidade, com o capitalismo e o</p><p>1 ·:s tado Nacio nal, que apagou as diversidades, inversamente à flexibilidade com que tem</p><p>~ ido ctiscursivamente qualificada o tempo presente.</p><p>257</p><p>ptl v dt•t•,lildm do 1\ttllg o l{l'niltll': llnhll ' I ) Jl . I ·.. ,..., . l I I lO . ll!'l lt' II()IIIH'IItl'</p><p>lllllliiHI o ilt ' ll outi'O g rande advt:rs{llio, j:t d .l III< Hil'l'nidndl· isto t ' 'I '</p><p>rl:ts.ilt'!'l trabalhadoras, ao tkrrotar o socialismo IIT:tll . Pan.:c<.: ; "<,>r·t .'.,:!'I</p><p>SO~ II' i "t · 1 I' • "n • , lS .11 . . ' " <.: so )<.:rana <. lanl<.: d<.: si m <.:sma ca I " , . , '' <.a v<.:z m,us au to-c<.:ntrada.</p><p>1\ globalização econômica é o processo através do tlll!d</p><p>"'" dado fenômeno OI/ entidade local collseg/le d!fimdiNe globa/men/r</p><p>[!oca!tsmo globali.z:ado 7 e aofi · • 1</p><p>J · · • · . '1 ' aze-tO, aaqutre a capaCidade de r/es{~IIJ/1 '</p><p>11!11 fenomeno Olf enfldade lival como local (SANTOS, 2002 ). 86</p><p>gnfo nosso). ' I •</p><p>Convencida pois de · c · . , , . ' ' seu tnunLo, a burguesia quer eternizar o</p><p>lf~ J <.: s<.:n tCe, r~tro~tlva e prospectivamente, canibalizando o passado c o</p><p>uturo. ambaliza 0 próp · ·a · · lib . n o 1 eano eral e sua própria teoria da Histó .</p><p>nla medida em que uma de suas idéias-mestras- o passado como tempn;</p><p><.o caos desordem e r í f ..</p><p>1</p><p>. . .' , , una que o uturo (progresso, revolução, evolução)</p><p>te<. ttnma - e destrUlda p 1 • · . or e a propna no movimento de abandono</p><p>~rogre~~lvo da acepção de transformação social e de emancipação O</p><p>ulLlr~ Ja chegou ~ tem um nome: sociedade de mercado de consu.mo</p><p>c ~llc ~~formação. As sociedades, aos grupos sociais, aos i~divíduos que</p><p>ne a nao se enquadrarem (des) alifi 1 . ' qu ca como ocais, presos ao passado</p><p>e Ignorantes. Aos e~quadrados, designa-os de globais, sintonizados</p><p>com o presente e, logicamente, com o futuro (uma vez ue o futuro ,</p><p>presente), dotados de saber. O sujeito do discurso arrog;ao seu discu;s:</p><p>~~~al~~rt~ de verdade, enquanto deprecia, quando não ignora, o discurso</p><p>da Ass~, a regulação vai canibalizando a emancipação. Ao lon o</p><p>. mo~ermdade, a regulação do mercado e do Estado sobre u· am g</p><p>pnnCiplO da comunidade (SANTOS 2004) P J</p><p>0</p><p>. ' e, na sua etapa contemporânea</p><p>ma1s recente a regulação do d b</p><p>( l</p><p>.b li ' merca o so repuja o princípio do Estado</p><p>nco 1 era smo) Parece · · d " . , . . ser o ap!ce a universalidade global" sem</p><p>adversanos na arena histórica uma vez que - diz o . , 1 : . . d ' soc1o ogo - os propnos</p><p>venci os (trabalhadores e povos do Hemisfério Sul) tamb, - d . o futur em nao esejam</p><p>o, que era o progre~so, e, no entanto, trouxe a sua própria derrota.</p><p>Apesar do gramsclano cenário12 que traça do tempo</p><p>mesmo S t (200</p><p>6</p><p>) . presente o</p><p>. an os vislumbra possibilidades históricas, constituícÍas</p><p>~~~;::·ic(:~ Gramsci a frase de que devemos ser pessimistas na análise e otimistas na ação</p><p>258</p><p>110 ~ lll l' d<.: lln111 tt t:t dl· ( .!o!lldtztt(llll tlllllt rt h(t~t 'llltJttitrt, ou s<.: ja, o conjunto d<.:</p><p>p1m l'ssos de r<.:sistC:: ncia contm os globali smos localizados e os localismos</p><p>~·.loh:tlizndos do sistcn1a hegcmônico (ldem, p. 439). Uma espécie de</p><p>v,lobalizaçao alternativa, "a partir de baixo".</p><p>I\ discursividadc hcgemônica, mesmo com os poderosos meios de</p><p>1 nmunicação a seu dispor e a seu favor, não consegue ocultar, por inteiro,</p><p>as profundíssimas contradições do sistema. Basta assistir o noticiário</p><p>tvk visivo, em que, diariamente, as vísceras da desigualdade, da exclusão, da</p><p>violência são expostas. A volatilidade desses acontecimentos não consegue</p><p>:tpagar a sua repetição .</p><p>Na inauguração do século XXI, a 11 de setembro de 2001, o</p><p>Inusitado da história é transmitido ao vivo, entrando na tela de milhões</p><p>d<.: casas pelo mundo afora: o terrorismo islâmico. Abalando a arrogância</p><p>burguesa do Ocidente. E dando um recado: o Outro está aí. Pior, no</p><p>coração do capitalismo.</p><p>O Outro nunca deixou de emitir sinais durante toda a História e,</p><p>pois, durante a modernidade, embora eles não pudessem ser amplificados,</p><p>como as falas sistêmicas, por não disporem dos mesmos meios de</p><p>comunicação e transmissão de suas mensagens. Mas estava aí.</p><p>O mesmo processo que engendra o domínio capitalista, engendra o</p><p>seu avesso. O Outro. A contradição. À lógica da acumulação, corresponde</p><p>a expropriação. À inclusão de muitos, a exclusão de muitos mais. De</p><p>modo que o passivo dessa experiência, no mesmo momento triunfante</p><p>da burguesia, tira a sustentação do seu discurso e rouba a cena: são</p><p>milhões de miseráveis, de pessoas famintas, de trabalhadores que perdem</p><p>o emprego ou trabalham em condições sub-humanas, de negros e índios</p><p>roubados de suas culturas, de camponeses expropriados de suas terras, de</p><p>mulheres, gays e lésbicas discriminados, e, até, de idosos conspurcados de</p><p>sua dignidade, de crianças e adolescentes usurpados do seu futuro. E o</p><p>cortejo do sanatório geraP vai engrossando .</p><p>É este cortejo que engendra a luta contra-hegemônica.</p><p>Santos continua sua chave de leitura e interpretação, configurando</p><p>os dois processos constitutivos desta Globalização contra-hegemônica: o</p><p>cosmopolitismo insurgente e subalterno e o património comum da humanidade.</p><p>13 Alusão à música Sanatório Geral (1984), de Francis l-lime, letra de Chico Buarquc de</p><p>Holanda.</p><p>259</p><p>()I O~ lllopnlrfl 'd llll III Slll g l ' llfl'</p><p>'." ' ' t.Oil ~ l~ l t' 11:1 ~~· ~IS i l'IH l:t II ,IIISII.IIIOil,illlll' llf l ' <ll g.lllfl.ldll</p><p>~ 011 '~ .:1 os ~<:cdJsmos gloh:dJ/:tdos l ' <>S gloi>:dl s 1 tu 1~</p><p>_oc.a il~ados. l ra la se de '"" tti !IJIIII/o l'rt.rlo ,. lll'lur!t~titl'li dr</p><p>1/llmiltl'll.i, IIIOI'IIJIN!/o.r e Ol;l!,riiiÍtf' (Õt•.r qm• f>m1illlfllll " l11/a 1'/JIIIIfl 11</p><p>e.wl11sr/o, a rlimimtitaçrlo .rocial I' ti r!e.rln11i'rlo ,1111/;iel!la/ prod11N 1rt,</p><p>11</p><p>f>ela ,~lobahzarão neoliberal, recorrendo r1 m1imlrtpõr•.r lnmmm1~~1m 1</p><p>lornada.r po.rsíveis pela re!•olllçào das temologia.r de Liljônllrl( fiO l' di'</p><p>CO!lllllltmçào (SANTOS, 2006, p. 441, g rifo noss~>) .</p><p>Por sua vez, o patrimônio comum da humanidade compreende</p><p>f ...</p>