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Apostila_Introdução à Criminologia

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Introdução à Criminologia 
 
 
 
Índice 
 
Apresentação 02 
 
Contextualização 02 
 
Relevância 02 
 
Bibliografia 03 
 
Avaliação 05 
 
Aula 1 – Introdução ao estudo da criminologia 06 
 
Aula 2 – História da Criminologia 12 
 
Aula 3 - Teorias sociológicas do crime 19 
 
Aula 4 - Teorias sociológicas do crime II 27 
 
Aula 5 - Movimentos contemporâneos de política penal 36 
 
Aula 6 - Introdução ao estudo da Vitimologia 52 
 
Trabalho final 58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Apresentação: 
 
Você esta iniciando a disciplina Introdução à Criminologia. Esperamos que esse estudo 
possa contribuir para sua formação como profissional da área de Segurança Pública ou 
como estudioso do assunto. 
 
A proposta dessa disciplina é apresentar as principais correntes do pensamento 
criminológico. Inicialmente serão trabalhados os conceitos principais da criminologia 
clássica de Beccaria no século XVIII, logo após destaca-se o início dos estudos científicos 
sobre o perfil do criminoso de Lombroso e a sociologia criminal americana que inovou na 
metodologia utilizada, como também nas diferentes abordagens propostas. 
 
Em seguida serão analisadas as tendências que hoje permeiam os debates na 
criminologia contemporânea: a contração do direito penal e redução ou abolição das 
penas e em sentido oposto, a maximização do direito penal e das formas punitivas do 
Estado. Por fim a vitimologia será estudada como um novo caminho de redução dos 
processos de vitimização, como também prevenção do crime, a partir das pesquisas que 
hoje revelam o perfil e as formas de vitimização mais comuns na sociedade brasileira. 
Esperamos que esses estudos e pesquisas que você passa a conhecer, possam contribuir 
de fato para sua melhor compreensão dos problemas relacionados à violência, à 
criminalização e à criminalidade na sociedade brasileira, e mais ainda, que estimule a 
produção acadêmica e cientifica em diferentes regiões do país, permitindo assim maior 
troca entre os pesquisadores brasileiros. 
 
Contextualização: 
 
A disciplina Criminologia será neste curso estudada em diferentes contextos históricos. 
Sua origem tem início com os pensadores Iluministas (Ocidentais) do século XVIII e até 
os dias de hoje produz diferentes interpretações e possibilidades de discutir os fatores e 
atores envolvidos com os conflitos sociais. 
 
Relevância: 
A disciplina Criminologia é de fundamental importância para a formação do profissional e 
estudioso da área de Segurança Pública, pois permite uma análise das diferentes 
variáveis envolvidas com o fenômeno da criminalidade, além de permitir uma 
compreensão maior das questões sociais, políticas, econômicas e culturais da sociedade 
brasileira que estão associadas às diferentes formas de violência e manifestação do 
conflito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
ANITUA, Gabriel Ignácio. História dos pensamentos criminológicos. Rio de Janeiro: 
Revan / ICC, 2008. 
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do Direito penal: introdução à 
Sociologia do direito. Rio de Janeiro: Revan, 1997 
BECCARIA. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martins Claret, 2003. 
BELLI, Benoni. Tolerância Zero e a democracia no Brasil: visões da segurança 
pública na década de 90. São Paulo: Perspectiva, 2004. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão. Rio de Janeiro: Saraiva, 
2004. 
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança. Entre pombos e falcões. Rio de 
Janeiro: Lumen Júris. 2003 
DOTTI. René Ariel. Bases e Alternativas para o Sistema de Penas. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1998. 
GARCIA -PABLOS Molina. Antonio e Gomes. Luis Flavio. Criminologia. São Paulo: 
Revista dos Tribunais. 2002. 
 
SHECAIRA, Sergio Salomão. Criminologia. São Paulo: revista dos Tribunais, 2004. 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
 
CARVALHO, Salo. Pena e Garantias. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2003. 
COELHO, Edmundo Campos. A Oficina do Diabo e outros estudos sobre 
criminalidade. Rio de Janeiro: Record, 2005. 
 
HOLLANDA, Cristina Buarque de, Polícia e Direitos Humanos. Política de Segurança 
Pública no primeiro governo Brizola (Rio de Janeiro: 1983-1986). Rio de Janeiro: 
Revan , 2005. 
 
MISSE, Michel. Crime e Violência no Brasil Contemporâneo. Estudos de sociologia 
do crime e da violência urbana. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. 
 
PINTO, Nalayne Mendonça. Penas e Alternativas: Um estudo sociológico dos 
processos de agravamento das penas e de despenalização no sistema de 
criminalização brasileiro (1984-2004).Rio de Janeiro: UFRJ, PPGSA, IFCS, 2006. 
 
PASSETTI, Edson. Curso Livre de Abolicionismo Penal. Rio de Janeiro: Revan, 2004. 
 
THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. Rio de Janeiro: Forense, 2002. 
 
___________________. Quem são os criminosos. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1998. 
 
 
 
 
 
 
 
4/59
 
 
 
 WACQUANT, Loic. As prisões da Miséria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 
 
 WACQUANT, Loic. Punir os Pobres. Rio de Janeiro: Revan, 2001. 
 
WAISELFISZ, Jacobo Julio - Mapa da violência IV: os jovens do Brasil. Disponível 
em: http://www.brasilia.unesco.org/publicacoes/livros/mapaiv. Acesso em 4 de 
novembro de 2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Avaliação 
 
Em todas as disciplinas da pós-graduação online existem: 
 
Avaliação formativa 
Não valem ponto, mas são importantes para o aprofundamento e fixação do conteúdo: 
 
 Atividades de fixação: são atividades de passagem, presentes 
dentro das aulas; são testes contextualizados ao conteúdo 
explorado. 
 Exercícios de autocorreção: questões para verificação da 
aprendizagem; são essenciais, pois marcam a sua presença em 
cada aula; 
Avaliação somativa 
Formam a sua nota final nesta disciplina: 
 Temas para discussão em fórum: aprofundam e atualizam os temas 
estudados em aula, além de ser um espaço para tirar suas dúvidas. Sua 
participação vale ponto; 
 Prova em data especificada no calendário acadêmico do curso, que será 
realizada no seu Pólo; 
 Trabalho final da disciplina: O texto deve ser digitado em folha A4, letra 
arial ou times new 12, entre linhas 1,5. Desenvolver o tema em até 2 
laudas. Ao utilizar as citações diretas dos autores, não esquecer de colocar 
a referência, ex (SOUZA, 2008, p. 67). De mesma forma ao fazer 
paráfrase do autor coloque seu nome seguido do ano. Ex: Segundo Souza 
(2008) a criminologia... 
Colocar ao final do trabalho as referências consultadas conforme o modelo 
de bibliografia que consta da bibliografia geral do curso. 
 
Tema: No que consiste a Vitimologia (seu objeto e suas finalidades)? 
Podemos falar de vitimização de “grupos sociais” no Brasil? (Dê exemplos 
e analise casos de vitimização no Brasil) 
 
Orientações sobre a realização do trabalho podem ser obtidas com o professor on-line no 
Fórum de Discussão , no tópico Orientações do Trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 1: Introdução ao estudo da criminologia 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Explicar os fundamentos da disciplina criminologia; 
 
2) Compreender os objetos de pesquisa da criminologia; 
 
3) Iniciar o estudo da Teoria do controle social e da Teoria Utilitarista. 
 
Estudo dirigido da aula: 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção.Olá! Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina Introdução à Criminologia. 
 
É importante começar nosso curso esclarecendo quais os campos de estudo da 
criminologia. O delito, o delinqüente, a vítima e as formas de controle social são objetos 
de pesquisa que tradicionalmente pertencem aos estudos criminológicos, entretanto 
outras áreas de conhecimento também se direcionam para esse campo e dialogam com a 
Criminologia, a Sociologia, a Psicologia, a Psiquiatria, o Direito, o Serviço Social, e com 
os estudos sobre Segurança Pública. 
 
Dessa forma, a pesquisa e as trocas interdisciplinares sempre fizeram parte da 
criminologia e são muito valiosas, pois permitem compreender os acontecimentos e 
agentes sociais de forma mais integrada e dinâmica. Isso significa dizer que não 
podemos abrir mão dos estudos de outras áreas do conhecimento para ampliar nossas 
pesquisas e permitir um melhor entendimento dos fatos sociais que nos cercam. 
 
Alguns estudiosos ressaltam que o crime não é uma entidade em si, ele não existe antes 
da sua rotulação. Nesse sentido, sem a existência do objeto em si não existe a ciência, a 
 
 
 
 
 
 
 
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pesquisa. No entanto, sabemos que para existir crime é necessário que o grupo social 
defina algum, ou alguns comportamentos como ilícitos, e então passaríamos a ter o 
objeto. Pois é aí que entra nossa disciplina. Só estudamos o crime, o criminoso, a vítima 
e o controle social porque há uma prévia definição social do que seja o crime, não precisa 
nem mesmo ser uma definição legal/ jurídica, basta que os grupos sociais definam que 
determinado ato não será tolerado que já temos assim um comportamento ilícito e, 
portanto, passível de ser estudado. 
 
Bom estudo! 
 
DELITO 
 
 No direito penal, o crime é um conceito formal e normativo, ou jurídico-
formal, portanto estático. 
 
 Já para a Criminologia, representa um conceito social, moral, valorativo, 
empírico (real e dinâmico). O delito é uma construção social dos grupos e 
sociedades e por isso é relativo, ou seja, variável de cultura para cultura. 
 
 Interessa à Criminologia não apenas o conceito formal como também a 
imagem global do fato e de seu autor: a etiologia do fato real, sua 
estrutura, formas de manifestação, técnicas de prevenção, etc. 
 
 
DELINQUENTE 
 
 O delinqüente é examinado em suas interdependências sociais, como unidade 
biopsicossocial e não de uma perspectiva biopsicopatológica. Assim não se 
pretende analisar o criminoso como um portador de uma doença, nem por outro 
lado como fruto dos problemas sociais. Mas compreender que há fatores 
biológicos, psicológicos e sociais que interferem nas decisões e no comportamento 
do ator delinqüente. 
 
 Segundo a teoria clássica da Criminologia, que veremos mais adiante, os 
indivíduos escolhem suas ações, racionalizam e decidem, isso é chamado de 
 
 
 
 
 
 
 
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escolha racional. Por essa perspectiva não há diferença entre delinqüente e não 
delinqüente, pois sendo todos os indivíduos considerados iguais, qualquer um 
pode escolher como agir e sabe as conseqüências dos seus atos. 
 
 Mas para o positivismo criminológico, o infrator é um prisioneiro da sua própria 
patologia (determinismo biológico) ou de processos causais alheios ao mesmo 
(determinismo social). Veremos pesquisas onde os estudos dos criminosos se 
direcionaram para o diagnóstico dos fatores biológicos que definem seu 
comportamento, como também estudos que analisam os fatores sociais que 
direcionam as escolhas pessoais. 
 
Na criminologia contemporânea se discute a normalidade do delito e do 
delinqüente. Normalidade no sentido de compreender que em qualquer sociedade há 
rotulação de comportamentos como ilícitos e que também, em todas elas, haverá quem 
infrinja essas regras de proibição, pois, segundo Durkheim, o rompimento dessas regras 
é útil e necessário a qualquer grupo social, pois serve para reforçar as regras e lembrar 
da importância de cumpri-las. O que significa dizer que só lembramos o valor das regras 
sociais quando alguém as quebra e por isso ele afirma que o crime é normal em qualquer 
sociedade (não em taxas exageradas). 
 
VÍTIMA 
 
A Criminologia chama atenção para a necessidade de estudar o processo de vitimização 
que ocorre quando um crime é cometido. Durante muito tempo a vítima sofreu com o 
descaso e a desconsideração do seu sofrimento. 
 
 No processo penal há um abandono da vítima devido à sua neutralização e 
distanciamento. 
 
 A Vitimologia propõe uma interação entre autor e vítima, e seus estudos 
abarcam: os processos de vitimização; a propensão de determinados grupos ou sujeitos 
de se tornarem vítimas; as variáveis que interferem no processo (sexo, idade, gênero, 
classe); os danos que sofrem as vítimas; o comportamento das vítimas; os riscos de 
vitimização; a reparação de danos e a assistência a vítimas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONTROLE SOCIAL 
 
O controle social é entendido como um conjunto de instituições, estratégias e sanções 
sociais que pretendem promover e garantir o submetimento dos indivíduos aos modelos 
e normas comunitários. Para alcançar a conformidade ou a adaptação do indivíduo aos 
seus postulados normativos, serve-se a comunidade de duas instâncias de controle 
social: instâncias formais e informais. 
 
Duas instâncias de controle social: 
 
 Agentes informais: família, escola, profissão, opinião publica etc.. 
 Agentes formais: polícias, sistema judiciário, administração penitenciária etc. 
 
Segundo o Ian Taylor (1990), a teoria clássica da criminologia, que teve seus primeiros 
princípios pensados por Cesare Beccaria, é a teoria do controle social, que se caracteriza 
por fixar em primeiro lugar a forma como o Estado deve se posicionar frente ao 
delinqüente, para depois pensar nas atitudes que caracterizam a delinqüência e a base 
social do direito penal. Essa teoria, como já foi dito, tem suas bases na teoria do contrato 
social (também chamada de utilitarista) que se alicerça (segundo algumas interpretações 
muito criticadas por filósofos e cientistas políticos) em três hipóteses principais: a) 
postula o consenso entre homens racionais acerca da moralidade e da imutabilidade da 
distribuição dos bens; b) entende que todo comportamento ilegal, produzido em uma 
sociedade onde foi celebrado um contrato social, é essencialmente patológico ou 
irracional e característico de homens que, pelos seus defeitos pessoais, não podem 
celebrar contratos; c) tem como conseqüência das suposições anteriores o fato de que os 
teóricos do contrato social teriam um conhecimento especial dos critérios, para 
determinar o nível de racionalidade de um ato, esses seriam os de utilidade para 
sociedade, e é dessa idéia que surge a nome de teoria utilitarista ou utilitarismo. 
O utilitarismo, segundo Taylor (1990), não é uma teoria que pressupõe a igualdade dos 
indivíduos em todos os sentidos, e sim, que os homens são iguais na sua capacidade de 
raciocínio, já que essas idéias foram elaboradas numa sociedade fundada na propriedade 
privada, não poderia a igualdade ser considerada de forma total. Entende o autor que a 
teoria utilitarista foi baseada numa contradição entre a defesa da igualdade e a ênfase na 
propriedade, pois não presta atenção ao fato de que a carência de bens pode aumentar a 
 
 
 
 
 
 
 
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probabilidade de um homem cometer delitos, e as recompensas por não cometê-los 
podem estar apenas à disposição de quem já possui fortuna. 
Nesse sentindo, os teóricos utilitaristas nunca investiram no debate sobre a supremacia 
morale racional da burguesia, e sim, concentraram-se nas questões atinentes à 
legislação e ao destino que deveria ser dado aos delinqüentes, ou seja, nos problemas 
relacionados à administração do controle por parte do Estado (TAYLOR, 1990, p.23). 
A aplicação efetiva das premissas – contrato social e controle social – da escola clássica 
da criminologia tiveram dificuldades em adequar-se na realidade dos fatos da Europa do 
século XIX. As contradições se manifestaram quando tentaram implementar medidas 
penais universais, foi impossível omitir-se frente aos determinantes da ação humana e 
atuar como se o castigo e o encarceramento pudessem ser medidos de forma idênticas. 
Então, em razão da limitação dos princípios clássicos, no que diz respeito à concentração 
do foco no ato delitivo e o desdém pelas diferenças individuais entre os atores tidos como 
delinqüentes, advogados e penalistas da época imprimiram esforços e modificaram os 
princípios clássicos da época criando a escola neoclássica, que foi a base da maioria dos 
regimes jurídicos do Ocidente. 
Depois de termos conhecido o objeto da criminologia, na próxima aula, continuaremos 
trabalhando seus aspectos teóricos e históricos. 
 
 
 
 
Assista o vídeo proposto no ambiente on line e debata no Fórum de Discussão sobre 
o tema “Psicopatia e sua relação com a violência nas cidades”. 
 
 
A partir do estudo da aula, reflita como devem ser tratados, tanto pela ciência, quanto 
pelo Estado, os casos em que sociopatas cometem crimes? 
 
 
 
 
 
 
 
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Assista aos filmes O Iluminado, de Stanley Kubrick, e As duas faces de um crime, de 
Gregory Hoblit. 
 
 
 
Esta primeira aula procurou apresentar para você as possibilidades de pesquisa e 
compreensão da criminologia, analisando cada conceito-objeto de estudo. A partir desse 
primeiro momento, iremos fazer um percorrido histórico-teórico da Sociologia Criminal e 
da Sociologia. 
 
 
Depois de termos conhecido o objeto da criminologia, na próxima aula, continuaremos 
trabalhando seus aspectos teóricos e históricos. 
 
TAYLOR, Ian; WALTON, Paul; YOUNG, Jock. La nueva criminología: contribución a una 
teoría social de la conducta desviada. Buenos Aires: Amorrortu editores, 1990. 
PABLOS DE MOLINA, Antonio Garcia e GOMES, Antonio Flavio. Criminologia. São Paulo 
: RT. 2002. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 2: História da Criminologia 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1. Descrever as principais teorias sociológicas que estudam o fenômeno criminal, desde 
as formas de punição da Idade Média até a Biologia criminal e Psicologia criminal 
contemporânea. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula História da Criminologia. 
Na aula anterior, fizemos uma introdução ao objeto de estudo da criminologia e 
conhecemos os principais conceitos dessa matéria. A partir daí, iniciamos a abordagem 
histórico-teórica da Criminologia, que daremos continuidade nesta aula, onde 
estudaremos as Teorias: Escola Clássica, Escola Positiva – Etapa Cientifica da 
Criminologia, Positivismo Biológico (Determinismo biológico ). 
Bom estudo! 
Um pouco de História 
George Rushe e Otto Kirchheimer (2004) estudaram as formas de punição na estrutura 
social da Idade Média européia e perceberam que as penas e o sistema punitivo 
estiveram relacionados às demandas econômicas e sociais de ampliação ou redução da 
força de trabalho. 
 
Os autores ressaltam que até século XV as penas previstas na Europa ocidental eram a 
fiança, a indenização e os castigos físicos: mas, no século XVI, a escassez de mão-de-
obra tornou a exploração do trabalho necessária e por isso em 1596 foram criadas as 
casas de correção em Amsterdã, como o objetivo de disciplinar a força de trabalho e 
 
 
 
 
 
 
 
13/59
 
 
limpar a cidade dos vagabundos. Outras penas úteis eram as Galés (remadores dos 
navios mercantis); Deportação e Banimento para as colônias recém descobertas. 
 
Durante o século XVIII o aumento populacional e da pobreza teve como conseqüência a 
luta por direito ao trabalho dos homens livres, o que acarretou o retorno de métodos 
mais duros de punição: açoite, mutilações e pena de morte. O sistema inquisitorial 
utilizando-se da tortura e da confissão forçada foi amplamente utilizado e a busca pelos 
“hereges”, revelou-se uma forma cruel de punição e eliminação dos indesejáveis. Vale 
lembrar que a Igreja Católica detinha o poder de julgar e condenar em nome do Rei não 
apenas de crimes de heresia (judeus, bruxos, islâmicos, deficientes etc), como também 
crimes comuns. 
 
Para conhecer um pouco mais do que foi a Inquisição na Europa Medieval, faça uma 
pesquisa sobre o tema na Internet. 
 
Escola Clássica 
 
Cesare Beccaria (1738-1794), em sua obra Dos Delitos e das Penas, de 1764, se insurgiu 
contra as formas cruéis de punição, escreveu um livro em forma de protesto e acabou se 
tornando um dos maiores críticos da Inquisição, defendendo a abolição da pena de 
morte, da tortura e de outras penas desumanas. Observou que a prevenção do crime é 
mais importante do que a própria punição. 
 
Sob influência do Iluminismo e do Contratualismo francês (liberdade, Igualdade e 
Fraternidade) sua obra preconizou um novo Direito Penal em que todos os seres 
humanos sendo livres e iguais no Estado contratual devem ter direito a uma punição 
justa e proporcional ao delito cometido, porém, nunca ser privado de sua vida, o bem 
maior que o contrato social visa preservar. 
 
A discussão do Utilitarismo de Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-
1873) tambem marcou sua obra. Segundo o utilitarismo, os homens “agem sempre de 
forma a produzir a maior quantidade de bem-estar” (princípio do bem-estar máximo). 
Assim, entende-se ser o princípio da utilidade, aquele segundo o qual toda ação, 
qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função de sua tendência de 
aumentar ou reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação...” (Jeremy Bentham). 
 
 
 
 
 
 
 
14/59
 
 
Nesse sentido, se os homens calculam suas ações visando bem estar e redução dos 
prejuízos, a pena deve ser uma forma de coibir o bem estar e o prazer. Mas para tanto, é 
necessario que as formas punitivas sejam claras e públicas, ou seja, é necessário que 
todos conheçam os delitos e as penas previstas na forma de lei, a fim de calcular se 
vale ou não incorrer no ato delituoso. 
 
Beccaria se rebelou contra as arbitrariedades da Justiça Criminal da sua época e 
proclamou: 
 
 A atrocidade da pena opõe-se ao bem público 
 Os crimes e as penas devem ser previstas em lei 
 As penas devem ser proporcionais aos delitos 
 As penas devem ser moderadas 
 As acusações não podem ser secretas 
 Não se pode admitir a tortura por ocasião do processo 
 O objetivo da pena não é atormentar o acusado e sim impedir que ele reincida e 
servir de exemplo para outros 
 O réu jamais poderá ser considerado culpado antes da sentença condenatória 
(Devido Processo Legal) 
 Somente os magistrados podem julgar acusados 
 Aos juízes não deve ser dado interpretar as leis penais 
 Mais útil do que a repressão é a prevenção dos delitos 
 Não tem a sociedade o direito de aplicar a pena de morte nem de banimento 
 
“ É que para não ser um ato de violência contra o cidadão, a pena deve ser, de modo 
essencial, pública, pronta, necessária,a menor das penas aplicáveis nas circunstâncias 
dadas, proporcional ao delito e determinada pela lei” (Beccaria) 
 
Escola Positiva – Etapa (supostamente) Científica da Criminologia 
 
Durante o século XIX as pesquisas cientificas ganharam grande impulso devido à 
expansão do Estado laico e dos projetos relacionados à Revolução Industrial e Científica. 
O movimento Positivismo proclamava a Razão e Ciência como fontes do conhecimento e 
do progresso social. Através da observação dos fatos e da busca pelas leis naturais, 
diferentes áreas do conhecimento foram se desenvolvendo e divulgando seus resultados. 
 
 
 
 
 
 
 
15/59
 
 
 
Positivismo Biológico (Determinismo biológico ) 
 
Um famoso médico psiquiatra chamado Cesare Lombroso (1835- 1909) propôs-se a 
estudar o criminoso pela perspectiva biológica e comprovar a sua hipótese de que 
determinados indivíduos nascem com uma degenerescência genética que o direciona 
para um comportamento criminoso. Seu livro O Homem Delinqüente foi publicado em 
1876, tornando suas pesquisas mundialmente famosas. 
 
Seu grande valor foi inaugurar o método empírico de estudo do crime e do criminoso. 
Sua teoria do delinqüente nato foi formulada com base em 400 autópsias e 6.000 
análises de delinqüentes vivos. 
 
Segundo Lombroso, o delinqüente padece de uma série de estigmas degenerativos 
comportamentais, psicológicos e sociais. Usa a frenologia para suas análises: fronte 
esquiva e baixa, grande desenvolvimento dos arcos supraciliais, assimetria craniana, 
grande desenvolvimento das maças do rosto, orelhas em forma de asa, uso freqüente de 
tatuagens, insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, alta reincidência etc... 
 
Classificação Lombrosiana 
 Criminoso Nato: portador de patrimônio genético, degenerescência genética – 
atavismo 
 Criminoso louco: portador de perturbação mental – louco moral 
 Criminoso Profissional: Força do meio, não há patrimônio genético 
 Criminoso Primário: Fatores circunstanciais, a ocasião 
 Criminoso Passional: vitima do humor, nervosismo, paixão. 
 
As pesquisas contemporâneas discordam dos estudos de Lombroso que afirmaram o 
determinismo biológico do criminoso. Entretanto, o que seu trabalho revelou foi a 
necessidade de iniciar uma pesquisa empírica sobre quem eram os criminosos, seus 
hábitos, costumes, estilos de vida, meio social, problemas psicológicos e biológicos entre 
outros. Como falamos no início não há estudo hoje que defenda o determinismo, que 
afirme o determinismo biológico, ou psicológico, ou social, mas grande parte dos 
estudiosos concordam que é necessário estudar os fatores bio- psico- sociais que 
envolvem o fenômeno da criminalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
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Só para ilustrar um pouco a moderna criminologia que se pretende científica (mas que é 
questionada com severidade pelos que consideram as pesquisas sobre o ser criminoso 
uma reificação grosseira, preconceituosa e contrária ao próprio reconhecimento de que o 
crime é uma construção sócio-cultural e histórica, portanto variável e relativa, sendo, 
portanto, ele, o crime, o objeto legítimo de estudo, e não “o criminoso”, porque não 
existe “o ser-criminoso” correspondente a uma essência natural e invariável): vale 
conhecer aspectos estudados pela Biologia criminal e a Psicologia criminal 
contemporânea. 
 
Modelos de Análise de cunho biológico 
 
 Neurofisiologia: busca as anomalias cerebrais a partir da descoberta do eletro 
encefalograma e ressonância magnética. 
 Endocrinologia: Busca as disfunções hormonais em homens e mulheres. 
 Sociobiologia (Bioquímica): busca as influências externas: déficit de minerais e 
vitaminas; hipoglicemia; contaminação ambiental por chumbo, mercúrio; fatores 
térmicos, espaciais, urbanísticos e acústicos. 
 Genética Criminal: análise de famílias criminais, gêmeos; e malformação 
cromossômica. 
 
Modelos de cunho Psicológico 
 
 Psicanálise: estuda os conflitos psíquicos através da análise do inconsciente. 
Freud – os conflitos da infância reaparecem na fase adulta através de neuroses. 
 Psiquiatria: Catálogo das patologias CID 10 e DSM IV. 
 Sociopatia ou psicopatia - Personalidade anti-social. 
 Oligofrenia ; retardamento mental. 
 Personalidade Esquizotípica: Esquizofrenia - incapacidade de valorar a 
realidade. 
 Transtorno Bipolar - Psicose Maníaco-Depressiva. 
 Demência por deteriorização orgânico-cerebral (velhice). 
 Depressão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Transtorno por: 
 
 Dependência de álcool e drogas (síndrome de abstinência) 
 Transtorno por ansiedade 
 Transtorno sexual: exibicionismo, fetichismo, pedofilia, sadismo, masoquismo, 
voyeurismo 
 Transtorno de controle dos impulsos: cleptomania, piromania, ludopatia 
 
Você pode conhecer mais sobre essas patologias consultando na WEB o Diagnostic and 
Statistical Manual of Mental Disorders - DSM IV e também o CID 10. São catálogos 
médicos que classificam as características das doenças psiquiátricas e psicológicas. 
 
Finalizando, é preciso ter muito cuidado para não estigmatizar pessoas com alguma 
patologia ou mesmo com alguma característica física, como fez o estudo de Lombroso, 
porque o portador de alguma patologia não é um criminoso. Há exemplos de pessoas que 
viveram toda uma vida com problemas psiquiátricos e nunca infringiram nenhuma regra 
social, assim como muita gente sã perpetrou vários crimes. Por isso, caso se insista em 
estudar o criminoso ao invés do crime, é necessário um trabalho interdisciplinar, com 
diferentes profissionais, para identificar os fatores que contribuem para determinado 
comportamento. 
 
 
Leia o texto A tortura no Brasil e debata no Fórum de Discussão sobre a 
permanência da tortura no Brasil. Relembre casos que ocorreram e analise o porquê da 
tortura ainda ser um instrumento de revelação da “verdade” presente nas práticas 
policiais brasileiras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Identifique argumentos Lombrosianos que ainda persistem no nosso senso comum. 
Pense em situações onde eles aparecem. 
Procure um caso recente de uso da tortura no Brasil e identifique na obra de Beccaria 
as críticas a esta forma punitiva e seus argumentos. 
 
Assista aos filmes: 
Joana D'Arc, de Luc Besson. 
Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme. 
Os Miseráveis, de Billie August. 
 
Esta aula buscou recuperar um pouco da história da construção do direito penal 
moderno, identificando transição entre o modelo inquisitorial de punição e a expansão da 
ideologia iluminista das garantias individuais. 
Também é importante reconhecer que os trabalhos de Lombroso ampliaram a 
possibilidade da pesquisa empírica sobre o fenômeno criminal, contudo, hoje são 
duramente criticados pelo seu caráter essencialmente estigmatizante. 
 
 
Na próxima aula, estudaremos as principais teorias da Sociologia criminal. Conheceremos 
as Teorias de Enrico Ferri, de Durkheim e Robert Merton 
 
PABLOS DE MOLINA, Antonio Garcia e GOMES, Antonio Flavio. Criminologia. São Paulo: 
RT. 2002 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 3: Teorias Sociológicas do Crime 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1. Conhecer as teorias sociológicas que estudam o fenômeno criminal; 
2. Identificar as características da violência e da criminalidade na sociedade brasileira; 
1. Avaliar as possibilidades de intervenção social e política a fim de reduzir determinados 
crimes recorrentes relacionados a questões urbanas, econômicas e sociais. 
 
Estudo dirigido da aula: 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussãodesta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
Olá! Seja bem-vindo à aula Teorias sociológicas do crime. 
Nossa terceira aula tem como proposta analisar as teorias sociológicas que estudaram o 
crime e o comportamento criminoso. Importante lembrar que as pesquisas sociológicas 
iniciaram no final do século XIX junto com as pesquisas de abordagem biológica. Em 
verdade, a pesquisa sociológica também é fruto do Positivismo, grande incentivador do 
desenvolvimento científico na Europa. Então podemos dizer que no campo da 
criminologia temos agora uma abordagem positivista multifatorial onde o criminoso e seu 
meio serão analisados. 
Bom estudo! 
TEORIAS SOCIOLÓGICAS QUE ESTUDARAM A CRIMINALIDADE 
 
Enrico Ferri 
 
O Professor universitário Enrico Ferri (1865-1929) foi considerado o pai da moderna 
sociologia criminal. Tornou-se conhecido principalmente por sua teoria da criminalidade, 
 
 
 
 
 
 
 
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por seu programa político-criminal e sua tipologia criminal. Segundo Ferri o delito não é 
produto de uma patologia individual, mas como qualquer outro acontecimento natural, 
produto de diversos fatores: individuais, físicos e sociais. 
 
Sua tese é que o delito é um fenômeno social, com uma dinâmica própria e etiologia 
específica, na qual predominam fatores sociais. Em conseqüência, a luta contra o delito e 
sua prevenção devem ser concretizadas por meio de uma ação realista e científica de 
poderes públicos que se antecipe a ele e que incida com eficácia nos fatores 
criminógenos que o produzem, nas mais diversas esferas (econômica, política, 
legislativa, familiar, educativa, administrativa etc.), neutralizando-os. Ferri considerava 
serem três as causas do delito: biológicas (herança, constituição, etc); físicas (o 
ambiente, compreendendo as condições climáticas, como a umidade, o calor, etc); 
sociais (referente às condições ambientais ou mesológicas). 
 
O estudo da criminalidade como um fenômeno social como os outros permitiria aos 
cientistas antecipar o número de delitos em uma determinada sociedade, se contasse 
com os fatores antes citados. Em sua teoria dos substitutivos penais, sugeriu um 
programa político-criminal de luta e prevenção ao delito, dispensando o direito penal. A 
pena, conforme Ferri, seria ineficaz se não viesse precedida ou acompanhada das 
oportunas reformas econômicas, sociais, etc., orientadas por uma análise científica e 
etiológica do delito. 
 
Emile Durkheim 
 
A teoria formulada por Emile Durkheim (1858-1917), considerada uma explicação 
funcionalista da sociedade, foi formulada em um contexto de profundas mudanças 
sociais, com o enfraquecimento dos modelos tradicionais de sociedade e o fortalecimento 
das economias industrializadas no final do século XIX. Neste sentido, privilegia uma 
compreensão orgânica e sistêmica da sociedade, para a manutenção da ordem e da 
funcionalidade. 
 
Em relação ao fenômeno da criminalidade, Durkheim se posiciona contra as concepções 
naturalistas e positivistas que identificavam as causas da criminalidade nas forças 
naturais (clima, raça), nas condições econômicas e na densidade populacional de certas 
 
 
 
 
 
 
 
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regiões. Dessa forma, discorda dos criminologistas que estudam o crime como resultado 
da atuação de um fator de caráter patológico incontestável. 
 
Estudando os fenômenos normais e patológicos de uma sociedade, chega à conclusão da 
normalidade e utilidade do crime para a sociedade. Pois, segundo Durkheim, o crime não 
se observa só na maior parte das sociedades desta ou daquela espécie, mas em todas as 
sociedades de todos os tipos. Não há nenhuma em que não haja criminalidade. Mudam 
de forma, os atos assim qualificados, não são os mesmos em todos os lados; mas 
sempre, e em toda parte, existiram homens que se conduziram de modo a transgredir 
normas comunitárias ou a incorrer na repressão penal. 
 
Não há, portanto, fenômeno que apresente de maneira mais irrefutável todos os 
sintomas da normalidade, dado que aparece como estreitamente ligado às condições de 
qualquer vida coletiva. Transformar o crime numa doença social seria admitir que a 
doença não é uma coisa acidental mas que, ao contrário, deriva, em certos casos, da 
constituição fundamental do ser vivo. Isto seria eliminar qualquer distinção entre o 
fisiológico e o patológico. Pode, sem dúvida, acontecer que até o crime tome formas 
anormais; é o que acontece quando, por exemplo, atinge uma taxa exagerada. 
Efetivamente, não há dúvida de que este excesso é mórbido. O que é normal é 
simplesmente que exista uma criminalidade, contanto que atinja e não ultrapasse, para 
cada tipo social, um certo nível que talvez não seja impossível fixar de acordo com as 
regras precedentes. (DURKHEIM 2002, p. 82) 
 
O crime está presente em todas as sociedades, por isso não é algo patológico. O delito 
faz parte da vida coletiva, enquanto elemento funcional da fisiologia, e não da patologia 
da vida social. Somente em suas formas anormais, em caso de crescimento excessivo, 
pode ser considerado patológico. Então, classificar o crime entre os fenômenos de 
sociologia normal é afirmar que é um fator da saúde pública, uma parte integrante de 
qualquer sociedade sã. 
 
Nesse sentido, podemos resumir os postulados da teoria funcionalista em: 
 
1) As causas do desvio não devem ser pesquisadas nem em fatores 
bioantropológicos e naturais (clima, raça), nem em uma situação patológica da 
estrutura social. 
 
 
 
 
 
 
 
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2) O desvio é um fenômeno normal de toda a estrutura social. 
3) Somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do desvio é 
negativo para a existência e o desenvolvimento da estrutura social, seguindo-se 
de um estado de desorganização, no qual todo um sistema de regras de conduta 
perde valor (situação de anomia). Dentro dos seus limites funcionais, o 
comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o 
desenvolvimento sócio-cultural. 
 
O delito cumpre uma função na estrutura social, ele provoca e estimula a reação social, 
estabiliza e mantém vivo o sentimento coletivo que sustenta a conformidade às normas. 
“O Crime é necessário e está ligado às condições fundamentais de qualquer vida social, 
mas, precisamente por isso, é útil; porque estas condições de que é solidário são elas 
mesmas indispensáveis à evolução normal da moral e do direito”. (DURKHEIM 2002, p. 
86) 
 
Conclui, então, que o crime cumpre a função integradora e inovadora, e deve ser 
analisado como um fenômeno normal para o funcionamento da sociedade. Sendo a pena 
uma reação social e necessária, que atualiza os sentimentos coletivos que correm o risco 
de fragilização, recorda a vigência de certos valores e normas, e reforça a convicção 
coletiva sobre o significado dos mesmos. 
 
Além disso, o desvio individual torna possível a transformação e a renovação social, ou 
mesmo prepara o caminho para essas transformações. Ou seja, o criminoso não só 
permite a manutenção do sentimento coletivo em uma situação suscetível de mudança, 
mas antecipa o conteúdo mesmo da futura transformação. 
 
A análise funcionalista representa um marco na idéia de legitimação do castigo. A pena 
não é analisada sob o enfoque valorativo (seus fins), senão funcional (funções reais que 
a pena desempenha no sistema). A pena cumpre funções integradoras, é uma reação 
que reforça os sentimentos coletivos lesionados pelo crime, impedindo que se 
enfraqueçam, fortalece a consciência coletiva e a solidariedade social e devolve,ao 
cidadão honesto, sua confiança nos sistema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Robert Merton (Teoria da Anomia) 
 
O método funcionalista que Merton (1910-2003) aplica ao estudo da anomia permite 
interpretar o desvio como um produto da estrutura social, absolutamente normal como o 
comportamento conforme as regras. Os mecanismos de transmissão de estrutura social 
que produzem as motivações do comportamento conforme as regras e do 
comportamento desviante são da mesma natureza. 
 
Segundo Merton, em todo contexto sociocultural desenvolvem-se metas culturais. Estas 
expressam os valores que orientam a vida dos indivíduos em sociedade, representam 
motivações para o seu comportamento e são alcançadas através de meios socialmente 
estabelecidos. Trata-se de recursos institucionalizados ou legítimos que são socialmente 
prescritos. Existem também outros meios que permitem atingir estas metas, os quais são 
rejeitados pelo grupo social. A utilização destes últimos é considerada violação das regras 
em vigor. 
 
Merton observou, estudando a sociedade norte-americana, que a meta cultural mais 
importante é o sucesso na vida, abarcando riqueza e prestígio (american dream). Porém, 
apesar dessa meta cultural ser compartilhada por todos, existe uma impossibilidade 
desta ser atingida por uma grande parcela da população. A sociedade é estruturada de 
tal forma que os meios socialmente admitidos não permitem a todos os indivíduos 
alcançar a meta cultural. Disto resulta um desajuste entre os fins e os meios. Este 
desajuste propicia o aparecimento de condutas desviantes. O insucesso em atingir as 
metas culturais devido à insuficiência dos meios institucionalizados pode produzir o que 
Merton denomina anomia: manifestação de um comportamento no qual as regras do jogo 
social são abandonada ou contornadas. O indivíduo não respeita as regras de 
comportamento que indicam os meios de ação socialmente aceitos. Surge então o 
desvio, o comportamento desviante. 
 
Examinando a situação conflitiva que pode ser estabelecida entre as aspirações 
culturalmente prescritas (metas culturais) e o caminho socialmente indicado para atingi-
las (meios institucionalizados), Merton fez uma classificação dos tipos de 
comportamento. Trata-se do que o autor chamou de modos de adaptação, que exprimem 
o comportamento de indivíduos em face das regras sociais. Nesta classificação os 
 
 
 
 
 
 
 
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símbolos positivo e negativo são utilizados para indicar se os indivíduos aceitam ou não 
as metas e os meio socialmente estabelecidos. 
 
Modos de 
Adaptação 
Metas Culturais Meios 
Institucionalizados 
Conformidade + + 
Inovação + - 
Ritualismo - + 
Evasão - - 
Rebelião ± ± 
 
Conformidade: corresponde a resposta positiva, tanto aos fins quanto aos meios 
institucionais e, portanto, ao típico comportamento conformista. 
 
Inovação: corresponde à adesão aos fins culturais, sem o respeito aos meios 
institucionais. 
 
Ritualismo: corresponde ao respeito somente formal aos meios institucionais, sem 
persecução dos fins culturais. 
 
Evasão: corresponde a negação tanto dos fins culturais quanto dos meios institucionais; 
Rebelião: corresponde não a simples negação dos fins e dos meios institucionais, mas a 
afirmação substitutiva de fins alternativos, mediante meios alternativos. 
 
O comportamento criminoso típico corresponde ao segundo modelo, o da inovação. 
Partindo do principio segundo o qual o impulso para um comportamento desviante deriva 
da discrepância entre fins culturais e meios institucionais, Merton mostra como os 
estratos sociais inferiores estão submetidos, na sociedade norte-americana analisa por 
ele, à máxima pressão neste sentido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Leia o texto do Professor Michel Miss, acesse o Fórum de Discussão e debata sobre como 
no senso comum estamos acostumados a relacionar violência com pobreza, o que a caba 
por gerar uma constante criminalização dos pobres. 
 
 
 
Assista ao vídeo no ambiente on line de Loïc Wacquan. A partir do estudo desta aula, 
faça uma análise crítica de como se dá a relação entre pobreza e violência no Brasil. 
 
 
 
 Assista ao filme Zona do Crime, de Rodrigo Plá e Crash - No Limite, de Paul Haggis. 
 
Sugestões de boas leituras: 
MISSE, Michel. Crime e Pobreza: velhos enfoques, novos problemas. Disponível em: 
http://www.necvu.ifcs.ufrj.br/arquivos/CRIME%20e%20pobreza.pdf 
ZALUAR, Alba. Oito temas para debate. Violência e segurança pública. Disponível em: 
http://loki.iscte.pt:8080/dspace/bitstream/10071/378/1/38.02.pdf 
 
 
A terceira aula apresentou parte das teorias sociológicas que em muito contribuem para 
os estudos da criminologia. Perceba que temos muitas variáveis que estão presentes no 
fenômeno criminal, que influenciam diretamente na sua incidência, esses fenômenos 
devem ser estudados em diferentes contextos sociais. Entenda que uma teoria não exclui 
a outra, podemos realizar trabalhos de pesquisa e estudos que correlacionem diferentes 
variáveis e abordagens. 
 
Nesta aula, estudamos as teorias de Enrico Ferri, do sociólogo Emile Durkheim e de 
Robert Merton (Teoria da Anomia). Na próxima aula, continuaremos estudando as teorias 
criminológicas, são elas: da Escola de Chicago, Teoria Ecológica, Teorias subculturais, 
 
 
 
 
 
 
 
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Teoria da aprendizagem social ou da Associação Diferencial, Teoria do etiquetamento - 
Labeling Approach e a Teoria do Conflito. 
 
BARATTA. Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica ao direito penal. Rio de Janeiro: 
Revan, 2002. 
DURKHEIM. Émile. As regras do método sociológico. São Paulo. Martins Claret, 2002. 
MOLINA. Antonio Garcia-Pablos e GOMES, Luz Flavio. Criminologia. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2002. Pg. 194-196 
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: RT, 2004. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 4: Teorias Sociológicas do Crime II 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1. Conhecer as teorias sociológicas que estudam o fenômeno criminal; 
2. Identificar as características da violência e da criminalidade na sociedade brasileira; 
1. Avaliar as possibilidades de intervenção social e política a fim de reduzir determinados 
crimes recorrentes relacionados a questões urbanas, econômicas e sociais. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
Olá! Seja bem-vindo à aula Teorias sociológicas do crime II. 
Nesta aula, continuaremos estudando as teorias sociológicas relacionadas ao crime e ao 
comportamento criminoso. São elas: da Escola de Chicago, Teoria Ecológica, Teorias 
subculturais, Teoria da aprendizagem social ou da Associação Diferencial, Teoria do 
etiquetamento - Labeling Approach e a Teoria do Conflito. 
 
Escola de Chicago 
 
Berço da moderna sociologia americana, a Escola de Chicago se destacou pela inovação 
na metodologia de pesquisa social, caracterizando-se por seu empirismo e por sua 
finalidade pragmática, isto é, pelo emprego da observação direta em todas as 
investigações e pela finalidade prática a que se orientavam, partindo de um diagnóstico 
confiável sobre os urgentes problemas sociais da realidade norte-americana de seu 
tempo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A temática principal era uma sociologia da grande cidade, analisando o impacto dasmudanças sociais das grandes cidades (industrialização, (i)migração, conflitos) e 
interessada nos grupos e culturas minoritários, como o mundo dos desviantes e a 
morfologia da criminalidade. O crescimento populacional de Chicago explica o interesse 
da Escola. Em 1860 a cidade tinha 110 mil habitantes, e apenas cinqüenta anos depois, 
em 1910, cerca de dois milhões. Esta explosão demográfica implicava vários problemas 
familiares, morais, urbanos, etc. 
 
Teoria Ecológica 
 
O ponto de atenção das teorias ecológicas estudadas por autores como Park, Burgess, 
Mckenzie, Shaw, Mckay, etc, é a cidade como uma unidade ecológica. Suas teses fazem 
uma relação entre o processo de criação de novos centros urbanos e a criminalidade. A 
cidade produz delinqüência, concentrada em áreas específicas (delinquency areas). 
 
O efeito criminógeno dos aglomerados urbanos é explicado pelos conceitos de 
desorganização e contágio, bem como pelo debilitamento do controle social nesses 
centros. A deteriorização dos “grupos primários” (família), a superficialidade das relações 
interpessoais, a alta mobilidade, a perda das raízes, a crise dos valores tradicionais e 
familiares, a superpopulação, a tentadora proximidade às áreas comerciais e industriais 
onde se acumula riqueza e o enfraquecimento do controle social criam um meio 
desorganizado e criminógeno. 
 
O mérito das teorias ecológicas foi chamar atenção sobre o impacto criminógeno do 
desenvolvimento urbano, na forma como se deu nas cidades norte-americanas no 
princípio do século XX. 
 
Teorias subculturais 
 
As teorias subculturais surgiram na década de 1950 em reposta aos problemas da 
sociedade americana com minorias étnicas, políticas, raciais, culturais etc. Elas 
sustentam três idéias fundamentais: o caráter pluralista e atomizado da ordem social; a 
rotulação normativa da conduta desviada; e a semelhança estrutural, em sua gênese, do 
comportamento regular e irregular. 
 
 
 
 
 
 
 
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A ordem social neste modelo é um mosaico de grupos e subgrupos, fragmentados, 
conflitivos; onde cada grupo ou subgrupo possui o seu código de valores, que nem 
sempre coincidem com os valores majoritários e oficiais. A conduta delitiva para as 
teorias subculturais não seria produto da desorganização ou ausência de valores, mas o 
reflexo e expressão de outros sistemas de normas e de valores distintos: os subculturais. 
 
A teoria das subculturas criminais nega que o delito possa ser considerado como 
expressão de uma atitude contrária aos valores e às normas sociais gerais, e afirma que 
existem valores e normas específicos dos diversos grupos sociais. Estes valores são 
interiorizados pelos indivíduos através de mecanismos de interação e de aprendizagem 
no interior dos grupos e determinam o comportamento em concurso com os valores e as 
normas institucionalizadas pelo direito ou pela moral “oficial”. Não existindo, assim, um 
único sistema de valores. 
 
Dessa forma, não só a estratificação social e o pluralismo de grupos sociais, mas também 
as reações típicas de grupos socialmente impedidos do pleno acesso aos meios legítimos 
para a obtenção de fins institucionais dão lugar a um pluralismo de subgrupos culturais, 
caracterizados por valores, normas e modelos de comportamento alternativos aos 
predominantes. 
 
O estudo de Cohen sobre a delinqüência juvenil nas classes baixas concluiu que as áreas 
de delinqüência não são desorganizadas e carentes de controle social, mas terrenos nos 
quais vigoram normas distintas das oficiais. O conflito, segundo Cohen, é produzido 
quando os jovens de classes inferiores se identificam com as classes médias e 
interiorizam seus valores. Vinculados a uma posição social inferior, e em desvantagem, 
não poderão superar as demandas do grupo a que aspiram pertencer sem sofrer graves 
problemas de adaptação. O conflito, assim, admite três alternativas: a adaptação, a 
transação e a rebelião. 
 
Nesse sentido, a subcultura opera como evasão da cultura geral ou como reação negativa 
frente a ela. É uma espécie de cultura de recâmbio, que certas minorias marginalizadas, 
pertencentes às classes menos favorecidas, criam dentro da cultura oficial para dar vazão 
à ansiedade e à frustração que sentem ao não poderem participar, por meios legítimos, 
das expectativas que teoricamente são oferecidas a todos pela sociedade. A via criminal 
 
 
 
 
 
 
 
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é considerada um mecanismo substituto ante a ausência real de vias legítimas para fazer 
valer as metas culturais cujo alcance a sociedade nega às classes menos privilegiadas. 
 
A teoria das subculturas criminais demonstrou que os mecanismos de aprendizagem e de 
interiorização de regras e modelos de comportamento, que estão na base da 
delinqüência, não diferem dos mecanismos de socialização através dos quais se explica o 
comportamento normal. Essa investigação sociológica, com uma visão relativizante, 
permitiu mostrar que no interior da sociedade moderna existe uma estrutura pluralista 
com valores e regras produzidos por grupos diversos e antagônicos. 
 
Teoria da aprendizagem social ou da Associação Diferencial 
 
A década de 1960 viu surgir um grupo de teorias sociais sobre o crime, para as quais 
este é uma função das interações psicossociais do indivíduo e apenas um dos diversos 
processos de relacionamento vigentes na sociedade. Segundo Molina, podemos 
identificar orientação conceitual e analítica distinta das tradicionais no interior das teorias 
do processo social. 
 
Para a teria da aprendizagem social, o comportamento delituoso é aprendido do mesmo 
modo que o indivíduo aprende outras condutas ou atividades lícitas, em sua interação 
com pessoas e grupos, e mediante a um complexo processo de comunicação. O indivíduo 
aprende, assim, não só a conduta delitiva, mas também os próprios valores criminais, as 
técnicas comissivas e os mecanismos subjetivos de racionalização (justificação) do 
comportamento desviante. 
 
Edwin H. Sutherland contribuiu, nesse sentido, com a análise das formas de 
aprendizagem do comportamento criminoso, e da dependência desta aprendizagem face 
às várias associações diferenciais que o indivíduo tem com outros indivíduos do grupo. 
Desenvolveu uma crítica radical às teorias do comportamento criminoso baseadas em 
condições econômicas (pobreza), psicopatológicas e sociopatológicas. Essas teorias, 
segundo ele, são errôneas porque se baseiam em uma falsa amostra da criminalidade, a 
criminalidade oficial e tradicional, da qual estão excluídas algumas formas de 
criminalidade, como a do “colarinho branco”, cujos autores, salvo raras exceções, não 
são pobres. 
 
 
 
 
 
 
 
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Sutherland chegou à conclusão de que a conduta desviante não pode ser imputada a 
disfunções ou inadaptação do individuo das classes pobres, senão à aprendizagem efetiva 
dos valores criminais. A capacidade ou destreza e a motivação necessária(s) para o delito 
aprendem-se mediante o contato com valores, atitudes, definições e pautas de condutas 
criminais no curso dos processos de comunicação e interação dos indivíduos. 
 
O pressuposto da teoria da aprendizagem consiste na idéia de organização social 
diferencial, que se conecta com as concepções de conflito social. A associação diferencial 
é uma conseqüência lógica do principio de aprendizagem mediante associações ou 
contatos em uma sociedade pluralista e conflitiva. 
 
Teoria do etiquetamento - Labeling Approach 
 
Por volta dos anos 1970, ganhou destaque uma explicação interacionista do fato delitivo, 
cujo ponto de partida são conceitos de conduta desviante e reação social. Seus principaisrepresentantes são Garfinkel, Goffman, Eriksan, Becker, Shur e Sack. De acordo com a 
perspectiva interacionista, não se pode compreender o crime prescindindo da própria 
reação social, isto é, do processo social de definição ou seleção de certas pessoas e 
condutas, etiquetadas como delitivas. Delito e reação social são expressões 
interdependentes, recíprocas e inseparáveis. O desvio não é uma propriedade imanente à 
conduta, mas uma qualidade que lhe é atribuída por meio de complexos processos de 
interação social --processos esses seletivos e discriminatórios. 
 
A etiqueta colada ao delinqüente manifesta-se como um fator negativo que os 
mecanismos de controle social repartem com o mesmo critério de distribuição de bens 
positivos, levando em conta o status e o papel das pessoas. Portanto, as chances, ou os 
riscos, de ser etiquetado como delinqüente não dependem tanto da conduta, mas da 
posição do indivíduo na pirâmide social. 
 
Essa teoria parte da consideração de que não se pode compreender a criminalidade se 
não se estuda a ação do sistema penal, que a define e reage contra ela --começando 
pelas normas abstratas e seguindo até a ação das instâncias oficiais. Por isso, o status 
social de delinqüente pressupõe o efeito da atividade das instâncias oficiais de controle 
social da delinqüência. Nesse sentido, o “Labeling Approach” tem se ocupado 
principalmente com as reações das instâncias oficiais de controle social, e sob este ponto 
 
 
 
 
 
 
 
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de vista tem estudado o efeito estigmatizante da atividade da polícia, dos órgãos de 
acusação pública e dos juízes. 
 
O horizonte dentro do qual o “Labeling Approach” se situa é, em grande medida, 
dominado por duas correntes da sociologia americana: o interacionismo simbólico, de 
George Mead, e a etnometodologia, de Harold Garfinkel e outros, inspirada no filósofo 
fenomenólogo Alfred Schutz. Segundo o interacionismo simbólico, a sociedade é 
constituída por uma infinidade de interações concretas entre indivíduos, aos quais um 
processo de tipificação confere um significado independente, relativamente, de situações 
concretas, o qual se mantém e estende através da linguagem. Também segundo a 
etnometodologia, a sociedade não é uma realidade que se possa conhecer sobre o plano 
objetivo, mas produto de uma construção social, obtida através de um processo de 
definição e de tipificação por parte de indivíduos e de grupos diversos. 
 
Um importante estudo das identidades e das carreiras desviantes foi realizado por 
Howard Becker. Analisando a carreira dos usuários de maconha, nos EUA, Becker 
mostrou que a mais importante conseqüência da aplicação de sanções consiste numa 
decisiva mudança de identidade social do indivíduo, mudança que ocorre logo no 
momento em que é introduzido no status de desviante. 
 
Edwin Lemert prossegue ressaltando que a reação social ou a punição de um primeiro 
comportamento desviante acaba por gerar, através de uma mudança na identidade social 
do indivíduo assim estigmatizado, uma tendência a permanecer no papel social no qual a 
estigmatização o introduziu. Nesse sentido, a intervenção do sistema penal, antes de ter 
um efeito reeducativo sobre o delinqüente, determina uma consolidação da identidade 
desviante do condenado e seu ingresso em uma verdadeira e própria carreira criminosa. 
 
Corresponde ao “Labeling Approach” o mérito de ter ressaltado a importância da ação 
seletiva e discriminatória realizada pelas instâncias e mecanismos de seleção do controle 
social. Compreendendo o problema criminal como um processo social de definição e de 
seleção de certas pessoas e condutas etiquetadas como delitivas. 
 
 
Teoria do Conflito 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Segundo Marx e Engels, o processo de brutalização das relações sociais, intensificado 
pelo capitalismo industrial, atuou de forma negativa sobre a própria fibra moral da classe 
operária. Esse processo teria degradado tanto os homens que o crime passou a ser um 
índice de tal processo. Várias vezes os autores fizeram correlações diretas entre o 
capitalismo, a miséria social e o aumento das taxas de crimes. Uma idéia formulada por 
Engels poderia ser assim sintetizada: a propriedade privada aumentaria o grau de 
competição entre os indivíduos dentro do mercado de trabalho ou mesmo dentro da 
própria fábrica, o que contribuiria para degenerar a solidariedade entre eles e, 
conseqüentemente, aumentaria as tensões que resultariam em crimes. Por isso, 
afirmava, não deveriam ser os indivíduos a sofrer sanções e punições por isso. As 
condições sociais, por darem origem ao crime, é que deveriam ser responsabilizadas. 
 
De acordo com a análise marxista, o delito é sempre um produto histórico e contingente 
da sociedade capitalista. Essa concepção teórica contempla a ordem social como 
confrontação de classes antagônicas (burguesia X proletariado), por meio da qual uma 
delas se sobrepõe e explora a outra, servindo-se do direito e da justiça penal. O conflito 
inerente à sociedade capitalista é um conflito de classes, enraizado no modo de produção 
e na infra-estrutura econômica. 
 
As teorias marxistas do conflito apelam para a estrutura classista da sociedade capitalista 
e concebem o sistema legal como um mero instrumento a serviço da classe dominante 
para oprimir a classe trabalhadora. Os integrantes e agentes da justiça penal não 
estariam organizados para lutar contra o delito, mas para identificar e punir o segmento 
desviante dentre as componentes das classes trabalhadoras que constituem o objeto por 
excelência de seu controle. 
Seus principais postulados são: 
1) A ordem social da moderna sociedade industrializada não tem por base o 
consenso, mas o dissenso. 
2) O conflito não expressa uma realidade patológica, senão a própria estrutura e 
dinâmica do processo social. 
3) O Direito representa os valores e interesse das classes ou setores sociais 
dominantes. Não corresponde –como idealmente seria definido-- aos valores e à 
visão consensual gerada em harmonia pela sociedade. 
4) O comportamento delitivo é uma reação à desigual e injusta distribuição de poder 
e riqueza na sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
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As diferentes interpretações sociológicas sobre a definição e a “produção” do crime 
abriram um campo fértil de análises no campo jurídico para os estudos do crime, a 
criminologia. A sociologia criminal demonstrou que o crime e a pena estão relacionados 
aos fenômenos sociais e, ainda, que é a própria sociedade que cria o crime ao determinar 
as regras –as quais são escritas (segundo certa tradição sociológica, de corte marxiano) 
para a proteção das classes mais favorecidas e de seu patrimônio, sendo, dessa forma, 
direcionadas para criminalizar os comportamentos das classes baixas, rotuladas e 
etiquetadas como “perigosas”. 
 
Essas contribuições da sociologia para os estudos do crime permitiram que, a partir da 
segunda metade do século XX, duras e profundas criticas fossem dirigidas ao sistema 
penal das sociedades industriais. A crise das propostas de ressocialização dos criminosos 
e os infinitos problemas dos sistemas penais deram lugar a múltiplos e profundos 
debates acerca da inutilidade da pena e da forma seletiva e estigmatizante que 
caracterizaria, para as visões críticas, boa parte da atuação o sistema penal. 
 
 
http://novo.vivafavela.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=46306&sid=
87 
http://www.funkderaiz.com.br/2009_08_01_archive.html 
 
A partir das notícias nos links acima, o que você entende por criminalização de uma 
cultura do funk? Sabe-se que as letras das músicas se referem a temas como aviolência, a criminalidade, as práticas sexuais e drogas. Mas essa não é a realidade 
vivida pelas pessoas que criam e gostam do funk? A música não é a expressão de 
nossa realidade? Poderá ser entendido como crime alguém falar da realidade que vive? 
Vamos dialogar! Acesse o Fórum de Discussão e opine. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Identifique uma situação onde ocorreu a incriminação do individuo baseado na 
etiquetamento, ou seja, fatores como cor da pele, roupa, classe social foram 
determinantes para suspeição e incriminação. 
 
Leia: A Máquina e a Revolta, de Alba Zaluar 
 
Assista ao documentário Raízes da Violência (Behind the Hatred - The Root of 
Conflict). 
 
Esta aula deu seguimento à apresentação das teorias sociológicas que em muito 
contribuem para os estudos da criminologia. A proposta foi compreender qual a 
importâncias dessas teorias para entendermos o papel do crime na sociedade. Como já 
foi dito, uma teoria não exclui a outra, podemos realizar trabalhos de pesquisa e estudos 
que correlacionem diferentes variáveis e abordagens. 
 
Na próxima aula veremos os movimentos de política penal criminal contemporâneos. 
Conheceremos a proposta das Teorias do Garantismo e do Abolicionismo Penal 
representando uma perspectiva da garantia dos direitos fundamentais e a aplicação do 
direitos penal como ultima ratio. Eem outra perspectiva o recrusdecimento penal 
presentes nos movimentos de Lei e Ordem e Tolerância Zero. 
 
BARATTA. Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica ao direito penal. Rio de Janeiro: 
Revan, 2002. 
DURKHEIM. Émile. As regras do método sociológico. São Paulo. Martins Claret, 2002. 
MOLINA. Antonio Garcia-Pablos e GOMES, Luz Flavio. Criminologia. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2002. Pg. 194-196 
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: RT, 2004. 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 5: Movimentos contemporâneos de política penal 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1. Compreender as tendências contemporâneas que norteiam as políticas penais; 
2. Identificar como essas tendências tem produzido em nossa legislação penal alterações 
significativas; 
3. Analisar em que medida o discurso dos aparelhos repressivos do estado e o controle 
social realizado pelas instituições policiais são influenciados pelos argumentos punitivos 
ou garantistas na atualidade. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula. 
2. Participe do fórum de discussão desta aula. 
3. Realize a atividade proposta. 
4. Leia a síntese da sua aula. 
5. Leia a chamada para a aula seguinte. 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Olá! Seja bem-vindo à aula Movimentos contemporâneos de política penal. 
A proposta dessa quinta aula da disciplina de Introdução à Criminologia é analisar as 
principais tendências da política criminal contemporânea. Agora que você já conhece 
as principais teorias que analisam o fenômeno criminal, vamos conhecer os movimentos 
atuais de controle social da criminalidade através de duas corretes opostas: direito penal 
mínimo e direito penal máximo. 
Esses movimentos têm produzido impactos efetivos nas políticas penais, tanto na esfera 
legislativa como nas políticas de segurança pública. Importante ressaltar que sob 
orientações teóricas bastante distintas essas tendências estão sendo elaboradas em 
diferentes contextos sociais, políticos e econômicos. O movimento conhecido como Lei e 
Ordem é de orientação norte-americana, a abordagem crítica encontra seus principais 
adeptos na América Latina e tendência Abolicionista e Garantista na Europa Ocidental. 
Boa aula! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PENAL MÍNIMO 
 
Criminologia Crítica, Garantismo Penal e Abolicionismo 
 
A teoria crítica do direito penal teve sua origem nos anos 70 e surgiu na mesma época 
nos Estados Unidos e na Inglaterra, os dois primeiros movimentos que nasceram foram o 
da Universidade de Berkeley que se denominou Union of Radical Criminologists e o 
movimento inglês organizado em torno da National Deviance Conference. 
 
Segundo a perspectiva crítica, a criminalidade não é mais uma qualidade ontológica de 
determinados comportamentos e de determinados indivíduos, mas se revela, 
principalmente, como um status atribuído a determinados indivíduos, mediante uma 
dupla seleção: em primeiro lugar, a seleção dos bens protegidos penalmente e dos 
comportamentos ofensivos destes bens descritos nos tipos penais; em segundo lugar a 
seleção de indivíduos estigmatizados entre todos os que realizam infrações a normas 
penalmente sancionadas. Neste sentido, as classes subalternas são aquelas selecionadas 
negativamente pelos mecanismos de criminalização e as estatísticas indicam que a 
grande maioria da população carcerária é de extração proletária, de setores do 
subproletariado e, portanto, das zonas sociais marginalizadas. 
 
Uma das principais críticas ao direito penal burguês se refere ao mito da igualdade social, 
o mito liberal de que o direito penal protege a todos igualmente e de que a lei penal é 
igual para todos. Opostas a estas proposições, a abordagem crítica afirma que o direito 
penal não defende a todos e somente os bens essenciais, a lei penal não é igual para 
todos e o status de criminoso é distribuído de modo desigual entre os indivíduos. Dessa 
forma, o sistema penal de controle do desvio, revela assim, como todo direito burguês, a 
contradição fundamental entre igualdade formal dos sujeitos de direito e desigualdade 
substancial dos indivíduos. 
 
De acordo com a criminologia crítica, o direito penal tende a privilegiar os interesses das 
classes dominantes e a imunizar do processo de criminalização, comportamentos 
socialmente danosos típicos dos indivíduos a elas pertencentes, e ligados funcionalmente 
à existência da acumulação capitalista, e tende a dirigir o processo de criminalização, 
principalmente para formas de desvio típicas das classes subalternas. 
 
 
 
 
 
 
 
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Segundo Alessandro Baratta, as estratégias para uma política criminal das classes 
subalternas deve ser: 
* inserção do problema do desvio e da criminalidade na análise da estrutura geral 
da sociedade capitalista; 
* ampliação e reforço da tutela penal em áreas de interesse essencial para a vida 
dos indivíduos e da comunidade: saúde, segurança no trabalho, integridade ecológica, 
criminalidade econômica; 
* radical e corajosa despenalização, de contração ao máximo do sistema punitivo, 
com a exclusão, total ou parcial, de inumeráveis delitos de costumes, de moral, etc; 
aliviando a pressão negativa do sistema punitivo sobre as classes subalternas 
(despenalização significa também a substituição de sanções penais por formas de 
controle legal não estigmatizantes - sanções administrativas ou civis); derrubada dos 
muros dos cárceres e abolição da instituição carcerária. As etapas de aproximação desse 
objetivo podem ser constituídas pelo alargamento do sistema de medidas alternativas, 
pela ampliação da suspensão condicional da pena, pela introdução de formas de 
execução da pena detentiva em regime de semi-liberdade, assim como abertura do 
cárcere para a sociedade através de parcerias e associações com organizações civis. 
* Avaliação do papel da mídia e sua influência no senso comum no reforço aos 
estereótipos, que legitimam a ideologia das classes dominantes. Discussão ampla sobre o 
efeito da mass-media na indução do alarme social (Campanhas de lei e ordem). 
 
Estas propostas defendem um “direito penal mínimo”, negando a legitimidade do sistema 
penal, mas propondo uma alternativa mínima “que considera como mal menor 
necessário”. De acordocom Zaffaroni esta proposta deve basear-se na maximização do 
sistema de garantias legais, colocando os direitos humanos como objeto e limite da 
intervenção penal. O propósito é diminuir a quantidade de condutas típicas procurando 
penalizar somente as mais danosas, prescindindo bagatelas e fazendo cumprir 
rigorosamente as garantias legais. Segundo ele “o direito penal mínimo, é, de maneira 
inquestionável, uma proposta a ser apoiada por todos os que deslegitimam o sistema 
penal, não como meta insuperável e, sim, como passagem ou trânsito para o 
abolicionismo, por mais inalcançável que este hoje pareça” (ZAFFARONI, Eugenio Raul. 
Em busca das penas perdidas. Ob.Cit.. Pg. 106) 
 
Sobre a defesa do direito penal mínimo também escreve Ferrajoli, que defende o que 
ficou conhecido como Garantismo. Segundo ele a mínima intervenção significa que o 
 
 
 
 
 
 
 
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Estado deve intervir unicamente nos casos mais graves, protegendo os bens jurídicos 
mais importantes, sendo o direito penal o último recurso quando já cessaram as 
alternativas restantes. 
 
Concebe-se o programa político-criminal minimalista como estratégia para maximizar os 
direitos e reduzir o impacto penal na sociedade, diminuindo o volume de pessoas nos 
cárceres através de processos de descriminalização e despenalização. Trata-se de um 
critério de economia que procura obstaculizar a expansão penal, legitimando proibições 
somente quando absolutamente necessárias. Os direitos fundamentais, neste caso, 
corresponderiam aos limites do direito penal. 
 
Ferrajoli indica três classes de delitos que deveriam ser amplamente descriminalizadas 
sob o amparo constitucional. Em termos quantitativos, deveriam ser excluídos os delitos 
de bagatela (contravenções, delitos punidos com penas pecuniárias ou restritivas de 
direitos) que não justificariam o processo penal e muito menos a pena. Ao versar sobre 
as tipificações de condutas que não afetam bens jurídicos, como por exemplo, o consumo 
de drogas, o incesto, a sodomia e/ ou homossexualismo, Zaffaroni afirma que estas 
normas penais tutelam pautas éticas, normas morais, e não bens jurídicos. Confrontando 
com o pressuposto da laicização do direito penal, o autor se opõe a junção da moral com 
direito, e ainda a imposição de uma moral determinada. 
 
Para Ferrajoli, a deslegitimação do sistema penal não corresponde à idéia de 
irracionalidade de nossos sistemas penais vigentes e operantes, e a impossibilidade 
radical de legitimar qualquer sistema penal. Ele recusa essa radicalização afirmando que 
mesmo em uma sociedade mais democratizada e igualitária seria necessário um direito 
penal mínimo como meio de serem evitados danos maiores. O direito penal mínimo 
legitima-se unicamente através de razões utilitárias, ou seja, pela prevenção de uma 
reação formal ou informal mais violenta contra o delito, funcionando esse direito penal 
como um instrumento impeditivo de vingança. 
 
Esse pensamento se opõe à corrente de pensamento orientada para abolição das penas e 
dos sistemas penais. O grupo de pensadores que pode ser adstrito a essa orientação não 
se interessa por uma política criminal alternativa, mas sim, por uma alternativa à política 
criminal. O abolicionismo nega a legitimidade do sistema penal tal como atua na 
realidade social contemporânea e, como princípio geral, nega a legitimação de qualquer 
 
 
 
 
 
 
 
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outro sistema penal que se possa imaginar no futuro como alternativa a modelos formais 
e abstratos de solução de conflitos, postulando a abolição radical dos sistemas penais e a 
solução dos conflitos por instâncias ou mecanismos informais. 
 
Os chamados “abolicionistas” afirmam que o sistema penal só tem servido para legitimar 
e reproduzir as desigualdades e injustiças sociais, e o direito penal é considerado uma 
instância seletiva e elitista. São muitas as suas razões para abolir o sistema penal Aqui 
são listadas algumas delas: - vivemos numa sociedade sem direito penal, porque a cifra 
negra é altíssima; - o sistema é anômico, e o direito penal não protege a vida, a 
propriedade e nem as relações sociais, não atingindo seu intento; - o sistema é seletivo e 
estigmatizante, e visivelmente cria e reforça as desigualdades, é discriminatório; - o 
sistema penal é uma máquina para produzir dor inutilmente, a execução da pena é um 
meio de sofrimento e dor moral e física; - a pena de prisão é ilegítima, só se pode falar 
em pena quando há “acordo entre as partes”. Ela não reabilita o preso, ao contrário, 
causa efeitos devastadores sobre sua personalidade. 
 
Hulsman conclui ser o sistema penal um problema em si mesmo e, diante de sua 
crescente inutilidade na solução de conflitos, torna-se preferível aboli-lo totalmente como 
sistema repressivo. Sua proposta é substituição direta do sistema penal não por um 
macro-nível estatal, mas sim por instâncias intermediárias ou individualizadas de solução 
de conflitos que atendam às necessidades reais das pessoas envolvidas. Para ele os 
conflitos podem encontrar soluções efetivas entre as partes envolvidas através de 
modelos de solução de conflitos (mediação, conciliação) e propõe uma reconstrução de 
vínculos solidários de simpatias horizontais ou comunitárias, que permitam a resolução 
dos conflitos sem a necessidade de apelar para o modelo punitivo formalizado 
abstratamente. 
 
Importante citar ainda outros autores desta tendência: Mathiesen e Nils Christie. O 
primeiro vincula a existência do sistema penal à estrutura produtiva capitalista, sua 
proposta parece aspirar não apenas a abolição do sistema penal, como também a 
abolição de todas as estruturas repressivas da sociedade. Já Nils Christie acredita que a 
possibilidade de substituição dos indivíduos/papéis no sistema “orgânico”, torna os 
excluídos do mercado os candidatos ideais para o sistema punitivo, deste modo, 
centraliza sua argumentação em fundamentos éticos orientados a reduzir o sistema penal 
como sofrimento imposto às pessoas de modo intencional. 
 
 
 
 
 
 
 
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Essas teorias críticas surgidas no campo da criminologia, ainda que tenham representado 
importante avanço na discussão acerca dos sistemas penais, estiveram nos últimos anos 
circunscritas ao campo acadêmico e pouco poder de influência tiveram na alteração ou 
reformulação de leis penais nos últimos anos no Brasil. O único movimento que no Brasil 
ganhou notoriedade nos anos 90 por propor reavaliar a atuação do sistema jurídico foi o 
Movimento do Direito Alternativo. Este movimento propõe uma ruptura com o direito 
liberal/positivista que estrutura o “direito burguês” e mantém o esquema de dominação 
na sociedade capitalista. 
 
O que se pode notar no caso brasileiro, é que os argumentos na defesa de ideais de 
despenalização ou deslegitimação do direito penal assumidos por pesquisadores, juristas 
ou intelectuais são desconstruídos sob a tese da alta criminalidade brasileira. Frases do 
tipo “quem defende isso, nunca passou por um assalto!” ou “depois que você passar por 
isso você vai defender a pena de morte!” pode ser facilmente ouvida; pois esse é o tipo 
de discurso que constrói o medo e se confronta com todas as propostas 
descriminalizadoras e despenalizadoras que nos últimos anos foram produzidas, mas que 
surtiram pouco efeito na discussão e na produção da legislação penal brasileira. 
 
A importante contribuição das pesquisas nas ciências sociais de Cohen, Sutherland e 
Becker se reproduziram no Brasil em muitas outras pesquisas e trabalhos reveladores 
das formas criminalizadoras e seletivas que opera o sistema penal brasileiro (polícia, 
tribunais e cárceres), que atua na verdade sob

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