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<p>Indaial – 2023</p><p>Pedagogia da educação</p><p>infantil</p><p>Prof.ª Cristina Danna Steuck</p><p>Prof.ª Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer</p><p>3a Edição</p><p>Copyright © UNIASSELVI 2023</p><p>Elaboração:</p><p>Prof.ª Cristina Danna Steuck</p><p>Prof.ª Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer</p><p>Revisão, Diagramação e Produção:</p><p>Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI</p><p>Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri</p><p>UNIASSELVI – Indaial.</p><p>Impresso por:</p><p>S842p</p><p>Steuck, Cristina Danna</p><p>Pedagogia da educação infantil. / Cristina Danna Steuck; Lúcia</p><p>Cristiane Moratelli Pianezzer. – Indaial: UNIASSELVI, 2023.</p><p>260 p.; il.</p><p>ISBN</p><p>ISBN Digital</p><p>1. Educação infantil. - Brasil. I. Pianezzer, Lúcia Cristiane Moratelli.</p><p>II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.</p><p>CDD 370</p><p>aPresentação</p><p>Falar da Educação Infantil normalmente nos emociona. Em primeiro</p><p>lugar, pela responsabilidade que temos nas mãos, em seguida, pela dedicação</p><p>e paciência que se fazem necessárias no convívio com crianças tão lindas,</p><p>frágeis e pequenas. Por fim, emociona-nos pela paixão que subitamente</p><p>nasce no peito quando olhamos nos olhos de uma criança.</p><p>Trabalhar com a Educação Infantil é simplesmente maravilhoso! Isso</p><p>não quer dizer que seja fácil... Normalmente, não é, justamente pela dedicação</p><p>exigida do profissional que lida com esta faixa etária para o desenvolvimento</p><p>e aprendizagem saudável dos educandos, em todos os aspectos.</p><p>Ao folhear, ler e estudar este Livro didático, você encontrará</p><p>materiais que poderão servir de suporte ou embasamento teórico para suas</p><p>ações enquanto educador. Você poderá, inclusive, refletir sobre o cotidiano</p><p>das instituições de Educação Infantil e valer-se de uma série de dicas a fim</p><p>de enriquecer sua prática pedagógica.</p><p>Para tanto, dividimos o livro de estudos em três unidades. Na</p><p>Unidade 1, nosso foco se voltará às teorias defendidas por importantes</p><p>teóricos, e faremos uma síntese sobre o papel da escola (Instituição de</p><p>Educação Infantil) e do professor dentro de cada uma das teorias.</p><p>Já na Unidade 2, abordaremos as questões que envolvem o espaço</p><p>físico, a rotina e o tempo na Educação Infantil. Além disso, conheceremos</p><p>como se dá o planejamento por parte do educador e como ele trabalha a</p><p>construção da autonomia e da identidade nas crianças, apoiados nos</p><p>documentos norteadores da Educação Infantil, dentre eles a Base Nacional</p><p>Comum Curricular (BNCC), com seus direitos de aprendizagem e</p><p>desenvolvimento, a partir dos campos de experiências.</p><p>Por fim, na Unidade 3, a nossa atenção se voltará sobre as múltiplas</p><p>linguagens na abordagem de Reggio Emília, a importância da afetividade</p><p>e das interações na Educação Infantil e o desenvolvimento de trabalhos</p><p>por meio da pedagogia de projetos, uma “nova” perspectiva na arte de</p><p>ensinar e aprender. Vale a pena conhecer cada detalhe desta pedagogia que</p><p>envolve as áreas do conhecimento e a comunidade escolar, em uma teia</p><p>de conhecimentos gerada a partir do interesse das crianças. Ainda nesta</p><p>unidade, serão abordadas questões pertinentes à avaliação e ao registro.</p><p>Por meio do estudo dos temas explanados neste livro, pretendemos</p><p>conduzi-lo na construção de conhecimentos e na busca incessante do “saber”,</p><p>acompanhado do “saber fazer”. Que nossas discussões teórico-práticas</p><p>ajudem você na compreensão do universo infantil.</p><p>Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para</p><p>você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há</p><p>novidades em nosso material.</p><p>Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é</p><p>o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um</p><p>formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.</p><p>O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova</p><p>diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também</p><p>contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.</p><p>Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,</p><p>apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade</p><p>de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.</p><p>Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para</p><p>apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto</p><p>em questão.</p><p>Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas</p><p>institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa</p><p>continuar seus estudos com um material de qualidade.</p><p>Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de</p><p>Desempenho de Estudantes – ENADE.</p><p>Bons estudos!</p><p>NOTA</p><p>Esperamos que você se sinta motivado a ir além dos escritos</p><p>deste livro, participando ativamente de todo o seu processo de ensino-</p><p>aprendizagem, por meio de outras ferramentas de apoio como o Ambiente</p><p>Virtual de Aprendizagem (AVA), trilhas de aprendizagens, fórum, enquete,</p><p>materiais de apoio... Enfim, sinta-se acompanhado e aplaudido durante toda</p><p>sua caminhada nesta Instituição.</p><p>Bons estudos e profundas reflexões!</p><p>Prof.ª Cristina Danna Steuck</p><p>Prof.ª Lúcia Cristiane Moratelli Pianezzer</p><p>Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela</p><p>um novo conhecimento.</p><p>Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro</p><p>que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá</p><p>contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,</p><p>entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.</p><p>Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.</p><p>Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!</p><p>LEMBRETE</p><p>sumário</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO</p><p>INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA ..................................................... 1</p><p>TÓPICO 1 — A PEDAGOGIA WALDORF........................................................................................ 3</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3</p><p>2 RUDOLF STEINER (1861-1925) ......................................................................................................... 3</p><p>3 A PEDAGOGIA WALDORF .............................................................................................................. 5</p><p>4 METODOLOGIA ............................................................................................................................... 12</p><p>5 PAPEL DO PROFESSOR NA ESCOLA WALDORF ................................................................... 15</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 17</p><p>AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19</p><p>TÓPICO 2 — A PEDAGOGIA MONTESSORI .............................................................................. 21</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21</p><p>2 MARIA MONTESSORI (1870-1952)............................................................................................... 22</p><p>3 CASE DEI BAMBINI (Casa das Crianças) .................................................................................... 25</p><p>4 METODOLOGIA ............................................................................................................................... 27</p><p>5 PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO MONTESSORI .................................................... 31</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................</p><p>Esforçou-se em criar materiais didáticos que</p><p>motivassem as crianças de tal forma a estimular um maior contato com a sua</p><p>própria consciência. Um de seus principais focos são as atividades independentes,</p><p>ou seja, cada criança escolhe o material com o qual irá trabalhar a cada dia. Para</p><p>Montessori (1966 apud RÖHRS, 2010), o indivíduo é o que é, não por causa dos</p><p>professores que ele teve, mas pelo que ele realizou sozinho.</p><p>De acordo com Montessori (1966 apud RÖHRS, 2010), as crianças percebem</p><p>intuitivamente o seu crescimento e o quanto de conhecimento adquiriram ao</p><p>realizarem cada atividade, manifestando esta consciência em forma de alegria,</p><p>felicidade. “Essa tomada de consciência sempre crescente favorece a maturidade.</p><p>Se damos a uma criança o sentimento de seu valor, ela se sente livre e seu trabalho</p><p>não lhe pesa mais” (MONTESSORI, 1966 apud RÖHRS, 2010, p. 28).</p><p>O material didático desenvolvido por Montessori tem a função de ajudar</p><p>a criança a crescer tranquilamente, a “crescer na paz”, adquirindo a tão esperada</p><p>responsabilidade, objetivo dos trabalhos de Montessori com as crianças. Os</p><p>materiais didáticos desenvolvidos por Montessori constituem-se em cinco grupos:</p><p>TÓPICO 2 — A PEDAGOGIA MONTESSORI</p><p>29</p><p>FIGURA 8 – MATERIAIS DIDÁTICOS MONTESSORI</p><p>FONTE: A autora</p><p>Entre os materiais didáticos desenvolvidos por Montessori, podemos</p><p>citar o Material Dourado. Você já deve ter ouvido falar dele. Ele é formado</p><p>geralmente por peças de madeira em formato de cubo, placa, barra e cubinhos</p><p>e é muito utilizado na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental</p><p>para ensinar as quatro operações fundamentais da matemática. No Caderno de</p><p>Metodologia e Conteúdos Básicos de Matemática, você conhecerá um pouco mais</p><p>sobre a utilização e a confecção deste material.</p><p>Você já ouviu falar nos materiais educativos Montessori? Quer conhecer</p><p>um pouco mais? Veja a nossa indicação de leitura:</p><p>Todos os materiais didáticos desenvolvidos por Montessori foram</p><p>metodicamente criados e padronizados, de tal forma que a criança que escolhesse</p><p>livremente brincar com um dos objetos, fosse conduzida, sem saber, a desenvolver-</p><p>se intelectualmente pelas situações previamente determinadas.</p><p>Indicação de leitura: MONTESSORI, M. Pedagogia científica: a descoberta da</p><p>criança. São Paulo: Flamboyant, 1965.</p><p>Este livro foi o primeiro escrito por Montessori. Ele relata a sua experiência e seu método,</p><p>desde o início da sua caminhada como professora.</p><p>DICAS</p><p>30</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Para cada um dos sentidos, havia um exercício que promovia o</p><p>desenvolvimento de todas as funções corporais. Esses exercícios eram praticados</p><p>em grupo e socializados através de uma discussão, reforçando seu aspecto social</p><p>de educação.</p><p>Quando a criança se encontra diante do material, ela responde com</p><p>um trabalho concentrado, sério, que parece extrair o melhor de sua</p><p>consciência. Parece realmente que as crianças estão atingindo a</p><p>maior conquista de que seus espíritos são capazes: o material abre</p><p>à inteligência vias que, nessa idade, seriam inacessíveis sem ele</p><p>(MONTESSORI, 1969, p. 197-198 apud RÖHRS, 2010, p. 23).</p><p>Desta forma, o professor deixa de ser o centro do processo educativo e passa</p><p>a agir de fora. Sua tarefa é observar cientificamente e descobrir as necessidadese</p><p>possibilidades dos alunos. De acordo com Montessori (1972, p. 38 apud RÖHRS,</p><p>2010, p. 22), “[...] para que [a criança] progrida rapidamente, é necessário que a</p><p>vida prática e a vida social estejam intimamente misturadas à sua cultura”.</p><p>FIGURA 9 – CRIANÇAS COM JOGOS NO JARDIM DA ESCOLA MONTESSORI</p><p>FONTE: <http://www.michaelolaf.net/montessori%20school%20outside.gif>. Acesso em: 16 abr. 2021.</p><p>Para Montessori (1965), a educação das crianças deve ser equilibrada desde</p><p>o início, produzindo impressões positivas de expectativa e comportamento, a</p><p>fim de desenvolver estruturas e esquemas com os quais novas experiências serão</p><p>confrontadas.</p><p>Para ser eficaz, uma atividade pedagógica deve consistir em</p><p>ajudar as crianças a avançar no caminho da independência; assim</p><p>compreendida, esta ação consiste em iniciá-la nas primeiras formas de</p><p>atividade, ensinando-as a serem autossuficientes e a não incomodar</p><p>os outros. Ajudá-las a aprender a caminhar, a correr, subir e descer</p><p>escadas, apanhar objetos do chão, vestir-se e pentear-se, lavar-se, falar</p><p>TÓPICO 2 — A PEDAGOGIA MONTESSORI</p><p>31</p><p>indicando claramente as próprias necessidades, procurar realizar a</p><p>satisfação de seus desejos: eis o que é uma educação na independência</p><p>(MONTESSORI, 1965, p. 71).</p><p>De acordo com Montessori (1965), existem momentos em que a criança está</p><p>mais receptiva a determinadas experiências (aprender a linguagem, ter domínio</p><p>das relações etc.), ao que chamou de períodos sensíveis na aprendizagem. Se</p><p>neste momento a criança receber a atenção necessária, o professor pode promover</p><p>períodos de aprendizagem intensa e eficaz. Caso o professor deixe passar este</p><p>momento, as possibilidades que a criança oferece serão para sempre perdidas.</p><p>5 PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO MONTESSORI</p><p>Maria Montessori tentou criar uma ciência da educação, cuja abordagem</p><p>constituía-se numa ciência da observação, exigindo de todos os participantes do</p><p>processo educativo uma formação nesses métodos, permitindo maior controle e</p><p>verificação científica.</p><p>Montessori pensou num educador diferente: “No lugar da palavra, [ele</p><p>deve] aprender o silêncio; no lugar de ensinar, ele deve observar; no lugar de se</p><p>revestir de uma dignidade orgulhosa que quer parecer infalível, se revestir de</p><p>humildade”. (MONTESSORI, 1976, p. 123 apud RÖHRS, 2010, p. 24).</p><p>FIGURA 10 – MONTESSORI COM AS CRIANÇAS</p><p>FONTE:<https://i0.wp.com/users.posobie.info/mt/a8b101cdaea317a4e98729df4b7b47e6.jpg>.</p><p>Acesso em: 16 abr. 2021.</p><p>Para Montessori, cada criança leva dentro de si as potencialidades do</p><p>homem que virá a ser um dia, podendo desenvolver, assim, suas capacidades</p><p>físicas, emocionais, intelectuais e espirituais ao máximo.</p><p>32</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>A Pedagogia Científica leva em consideração uma escola que permite o</p><p>desenvolvimento das manifestações espontâneas e da personalidade da criança.</p><p>“[...] deve surgir uma pedagogia do estudo individual do escolar, isto somente será</p><p>possível graças à observação de crianças livres, isto é, de crianças observadas</p><p>e estudadas em suas livres manifestações, sem nenhum constrangimento</p><p>(MONTESSORI, 1965, p. 25, grifos no original).</p><p>Para que isto aconteça, tornava-se necessário:</p><p>“[...] despertar na consciência do educador o interesse pelas manifestações</p><p>dos fenômenos naturais em geral, levando-o a amar a natureza e sentir a</p><p>ansiosa expectativa de todo aquele que aguarda o resultado de uma</p><p>experiência que preparou com cuidado e carinho” (MONTESSORI,</p><p>1965, p. 13, grifos no original).</p><p>Montessori entende o trabalho do professor como o de um guia:</p><p>[...] ensinando o manuseio do material, a procura de palavras exatas,</p><p>orientando cada trabalho; guia ao impedir qualquer desperdício de</p><p>energia ou, eventualmente, restabelecendo o equilíbrio. Verdadeiro</p><p>guia no caminho da vida, ele não instiga nem estanca; satisfaz-se</p><p>com sua tarefa ao indicar a esse valioso peregrino, que é a criança, o</p><p>caminho certo e seguro (MONTESSORI, 1965, p. 88).</p><p>De acordo com Montessori (2003), tornar-se um “professor Montessori” é</p><p>tornar-se um alegre observador, e livrar-se da onipotência.</p><p>Se o professor puder realmente penetrar no prazer de ver as coisas</p><p>nascendo e crescendo sob seus próprios olhos e puder vestir-se com</p><p>o traje da humildade, muitos prazeres – que são negados àqueles que</p><p>assumem infalibilidade e autoridade diante de uma classe – estarão</p><p>reservados a ele (MONTESSORI, 2003, p. 123).</p><p>Para Montessori (2003), o professor torna-se vencedor ao renunciar ao</p><p>poder e à autoridade, atingindo uma paciência, um imenso interesse em assistir,</p><p>a paciência de um cientista.</p><p>O mestre há de ter não só a capacidade de um preparador de</p><p>laboratório, como também o interesse de um observador ante os</p><p>fenômenos naturais. Segundo nossa metodologia, deverá ser mais</p><p>”paciente” que “ativo”; e sua paciência se alimentará de uma</p><p>ansiosa curiosidade científica e de respeito pelos fenômenos que há</p><p>de observar, é necessário que o mestre entenda e viva seu papel de</p><p>observador [...]. (MONTESSORI, 1965, p. 69).</p><p>E então, caro acadêmico, você observa as crianças com as quais trabalha</p><p>ou convive no seu dia a dia? Que tal exercitar-se para isto? Afinal, esta é uma</p><p>qualidade importante ao educador! Inicie observando as crianças que lhe são</p><p>mais próximas: filhos, sobrinhos ou primos – não apenas no sentido de olhá-las,</p><p>mas, sim, de percebê-las e compreendê-las.</p><p>TÓPICO 2 — A PEDAGOGIA MONTESSORI</p><p>33</p><p>Você, acadêmico, já conhecia os materiais didáticos propostos por Montessori?</p><p>Utiliza algum deles em suas aulas? Quais? De que forma?</p><p>UNI</p><p>34</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Montessori nasceu em 1870, na Itália, onde concluiu o curso de medicina.</p><p>Sempre se interessou pelo ensino de crianças com deficiência. Faleceu em</p><p>1952, com 81 anos.</p><p>• As casas das crianças eram espaços adaptados ao tamanho da criança, de forma</p><p>a desenvolver o senso de responsabilidade de cada uma.</p><p>• O papel do professor é ajudar a criança a avançar na própria independência,</p><p>estimulando-a a realizar, sozinha, as tarefas do dia a dia.</p><p>• Montessori criou o programa com exercícios da vida diária, para que as</p><p>crianças pudessem vivenciar a vida real realizando atividades do cotidiano.</p><p>• Os exercícios propostos por Montessori estimulavam a paciência, a exatidão e</p><p>a repetição, reforçando a concentração da criança.</p><p>• Montessori criou diversos materiais didáticos, com o intuito de motivar a</p><p>criança a ter maior contato com a sua própria consciência.</p><p>• Os materiais didáticos de Montessori constituem-se em cinco grupos: material</p><p>sensorial; material de linguagem; material de matemática; material de ciências</p><p>e material de conteúdo adulto.</p><p>• Todos os materiais criados por Montessori, que a criança pode escolher livremente,</p><p>fazem com que ela, mesmo sem saber, desenvolva-se intelectualmente.</p><p>• Para Montessori, o professor deixa de ser o centro do processo educativo e</p><p>passa a agir de fora, observando.</p><p>• Existem períodos sensíveis de aprendizagem, aos quais o professor deve</p><p>estar atento, a fim de estimular a criança para o aprendizado ao qual está</p><p>mais sensível. Se o professor deixar passar este período, esta possibilidade de</p><p>intervenção estará para sempre perdida.</p><p>• Para Montessori, ser um professor Montessori é tornar-se um alegre observador</p><p>e livrar-se da onipotência. Deve renunciar ao poder da autoridade, atingindo</p><p>uma intensa paciência e um imenso interesse em assistir.</p><p>35</p><p>1 Para Montessori, o professor tem um papel importante. Qual é esse papel?</p><p>2 De que forma a criança aprende na educação Montessori?</p><p>3 Montessori nasceu em 1870, na Itália. Sua formação profissional era em:</p><p>a) ( ) Psicologia.</p><p>b) ( ) Pedagogia.</p><p>c) ( ) Educação Especial.</p><p>d) ( ) Medicina.</p><p>4 Para Montessori, o papel do professor consistia em:</p><p>a) ( ) Ajudar a criança em todas as suas atividades.</p><p>b) ( ) Limitar as atividades das crianças, sob sua condução direta.</p><p>c) ( ) Ajudar a criança a avançar no caminho da própria independência.</p><p>d) ( ) Servir a criança, poupando-a dos perigos.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>36</p><p>37</p><p>TÓPICO 3 —</p><p>UNIDADE 1</p><p>A PEDAGOGIA FREINET</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Você já ouviu falar em Freinet ou na Pedagogia do Bom Senso? E na</p><p>Pedagogia do Trabalho ou na Pedagogia do Êxito? É bem provável que já tenha</p><p>ouvido falar nas aulas-passeio (ou estudos de campo), na troca de correspondências</p><p>entre escolas ou nos cantinhos pedagógicos, certo? Estas atividades foram</p><p>desenvolvidas por Freinet e encontram-se difundidas em milhares de escolas.</p><p>Será que Freinet foi um professor tradicional? O que você pensa a respeito? Você</p><p>conhece os conceitos e atividades desenvolvidas por ele?</p><p>Em vez de considerar, como faz a escola tradicional, que a criança nada</p><p>sabe e que ao educador cabe ensinar-lhe tudo – o que é pretensioso e</p><p>irrealizável – partimos, para o nosso ensino, das tentativas naturais à</p><p>ação, à criação, ao amor do belo, à necessidade de se exprimir e de se</p><p>exteriorizar. Ajudamos o indivíduo a realizar-se e a apurar, pela ação, o</p><p>seu sentido artístico e latente [...] nele preservamos e cultivamos o seu</p><p>sentido literário, poético, científico, matemático; e, com este expediente,</p><p>vamos sempre mais alto e mais longe [...]. (FREINET, 1977, p. 237).</p><p>Bem longe de ser um educador tradicional, Freinet foi um observador</p><p>sensível e atencioso. Percebeu que a escola existente na época era muito autoritária</p><p>e insensível com os alunos e procurou formas de aproximar a escola do dia a</p><p>dia das crianças. Abandonou os manuais escolares tradicionais e criou um novo</p><p>modo de trabalho junto com os seus alunos, procurando responder às indagações</p><p>que surgiam no cotidiano, nas diferentes áreas do conhecimento. Freinet sugeriu,</p><p>através de suas publicações, que alunos e professores criassem seus próprios</p><p>textos e fichas de estudo para a aplicação das aulas.</p><p>Freinet foi um professor bastante ativo e preocupado com a educação.</p><p>Realizou diversos estudos e pesquisas, publicou diversos artigos e debates,</p><p>viajou muito em busca de novidades, procurando sempre inovar suas práticas</p><p>pedagógicas.</p><p>E então, acadêmico, vamos estudar um pouco mais sobre a vida de Freinet?</p><p>2 CÉLESTIN FREINET (1886-1966)</p><p>Para entendermos Freinet um pouco melhor, vamos nos apoiar nos textos</p><p>de Elias (2008), Sampaio (1989) e Oliveira (2005).</p><p>38</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>FIGURA 11 – FREINET</p><p>FONTE: <http://manual.websiteatschool.eu/en/intro.html>. Acesso em: 27 maio 2021.</p><p>Célestin Freinet nasceu em 15 de outubro de 1896, na cidade de Gars,</p><p>região de Provença no sul da França. Sua infância e juventude foi no campo, em</p><p>uma área rural, em meio aos valores e comportamentos do homem do campo, o</p><p>que influenciou sua atividade na pedagogia. Seus primeiros estudos foram em</p><p>uma escola sem muitos recursos e com métodos pedagógicos tradicionais.</p><p>Na adolescência, mudou-se para Nice a fim de cursar o Magistério. Entre</p><p>os anos 1914 e 1918, no período da Primeira Guerra Mundial, Freinet alistou-se no</p><p>exército, interrompendo seus estudos no magistério. Em 1914, lutou na guerra e</p><p>foi prejudicado pelos gases tóxicos utilizados no campo de batalha. Ganhou baixa</p><p>do exército, pois os gases afetaram seus pulmões para o resto da vida.</p><p>Antes de concluir o Curso Normal, iniciou suas atividades como professor</p><p>adjunto na aldeia de Bar-sur-Loup, em 1920, onde desenvolveu algumas das suas</p><p>principais técnicas: a aula-passeio e o livro da vida. Entre 1921 e 1924, fundou</p><p>uma cooperativa de trabalho junto com os aldeões e deu início às primeiras</p><p>correspondências entre as escolas. Preocupado com a qualidade do ensino e</p><p>engajado em conhecer novas práticas:</p><p>Freinet visita escolas consideradas de vanguarda da pedagogia mundial,</p><p>de Petersen, em Iena; de Altona, em Hamburgo; escolas soviéticas</p><p>vanguardistas e politécnicas; as escolas de Decroly e de Montessori,</p><p>respectivamente, na França e Itália; e a Casa dos Pequeninos, criada por</p><p>Claparède, em Genebra. (ELIAS, 2008, p. 25).</p><p>Envolvido pelas ideias da Escola Nova e influenciado pelos teóricos que</p><p>debatiam uma nova concepção de educação, infância e escola, Freinet trabalhou</p><p>ativamente com seus alunos de forma a construir práticas pedagógicas vivas.</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET</p><p>39</p><p>Em 1927, suas ideias e práticas já eram bastante conhecidas e divulgadas</p><p>para além da sua escola e aldeia. Naquele mesmo ano, fundou a Cooperativa</p><p>do Ensino Leigo, visando ao desenvolvimento e intercâmbio dos instrumentos</p><p>pedagógicos criados por ele. Mais ou menos por esta época, casou-se com Élise,</p><p>uma artista plástica que havia vindo trabalhar</p><p>com ele meses atrás. Editou o livro</p><p>“A Imprensa na Escola” e criou a revista “La Gerbe” (o ramalhete), contendo</p><p>poemas infantis. Mudou-se para Saint-Paul de Vence, com Élise, sua parceira e</p><p>divulgadora ativa dos seus trabalhos.</p><p>Nesta mesma época, Freinet participou de um Congresso Internacional</p><p>de Educação em Tours, publicando o primeiro número da Biblioteca de</p><p>Trabalho, composto por brochuras escritas por seus alunos e o fichário escolar</p><p>cooperativo. Em 1932, o movimento educacional iniciado por Freinet já havia</p><p>conquistado adeptos na Espanha e Bélgica. Entre 1933 e 1939, Freinet intensifica</p><p>a troca de correspondência entre escolas, tornando-se alvo de desconfianças dos</p><p>conservadores franceses e, por causa disto, é exonerado da função de professor</p><p>em Saint-Paul de Vence, mas continuou trabalhando na cooperativa.</p><p>Depois de algum tempo, com a ajuda de doações, Freinet abre a sua</p><p>própria escola: a Escola de Vence, mas o Ministério da Educação não areconhece</p><p>oficialmente, por não seguir os métodos pedagógicos da época. Apesar</p><p>disto, Freinet trabalha arduamente criando o Conselho Cooperativo (gestão</p><p>participativa), os jornais murais, a imprensa escolar, as fichas autocorretivas, a</p><p>correspondência escolar, os ateliers de arte, as aulas-passeio e o Livro da Vida</p><p>(mais à frente, nos aprofundaremos mais em cada uma destas metodologias).</p><p>Junto a Romain Rolland, Freinet lança o movimento Frente da Infância.</p><p>Com o início da Segunda Guerra Mundial, Freinet é preso e vai para o</p><p>campo de concentração de Var, onde adoece novamente do pulmão. Neste período,</p><p>em que passou preso, Freinet aproveitou para dar aulas aos seus companheiros</p><p>de prisão e escrever suas obras pedagógicas. Élise se esforça em libertá-lo e, após</p><p>um ano, finalmente consegue. Ao sair, Freinet passa a integrar o Movimento da</p><p>Resistência Francesa.</p><p>Escola Nova é um movimento em prol da renovação do ensino, que foi</p><p>especialmente forte na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século</p><p>XX. Este movimento é contra ensino tradicional centrado no professor e nos materiais</p><p>didáticos prontos, propondo uma educação mais ativa e centrada no aluno. No Brasil, este</p><p>movimento tornou-se mais visível a partir da década de 1930, como Manifesto dos Pioneiros</p><p>da Educação Nova (1932). Para conhecer um pouco mais sobre este movimento no Brasil,</p><p>acesse: https://educador.brasilescola.uol.com.br/gestao-educacional/escola-nova.htm</p><p>NOTA</p><p>40</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Após o final da Segunda Guerra, Freinet e Élise reorganizam a escola</p><p>e a cooperativa em Vence. Entre 1947 e 1956, Freinet cria o Institut Coopératif</p><p>de l'École Moderne (ICEM), em português, Instituto Cooperativo da Escola</p><p>Moderna, e lança uma campanha em nível nacional em favor da reforma do</p><p>número máximo de alunos em sala de aula: 25, algo que antes girava em torno de</p><p>40 alunos. No ano seguinte, seus seguidores fundam a Federação Internacional</p><p>dos Movimentos da Escola Moderna (FIMEM), que atualmente reúne educadores</p><p>de mais de 40 países.</p><p>A partir dos anos 1950, a Pedagogia Freinet já estava consolidada e, ao</p><p>falecer, em 1966, com 80 anos, Freinet já era reconhecido mundialmente como</p><p>crítico da escola tradicional e reformulador das teorias da Escola Nova.</p><p>3 A PEDAGOGIA FREINET</p><p>Célestin Freinet foi professor primário durante quase toda a sua vida,</p><p>desenvolvendo sua teoria com base na sua prática pedagógica. Isto o torna</p><p>diferente de outros teóricos ou pensadores da educação, que apenas pensaram</p><p>sobre a escola sem vivenciar o dia a dia da sala de aula.</p><p>As propostas pedagógicas de Freinet, desenvolvidas conjuntamente com</p><p>as crianças, visavam desenvolver o gosto pelo trabalho, pela escola e torná-las</p><p>cidadãos críticos e conscientes do seu meio social. De acordo com Elias (2008,</p><p>p. 13), Freinet “[...] propõe a edificação de uma escola prazerosa, onde a criança</p><p>queira estar, permanecer, onde o coração, a afetividade e as emoções predominem,</p><p>onde haja alegria e prazer para descobrir e aprender”.</p><p>E aí, acadêmico? Ficou curioso ou apaixonado por Freinet? Quer conhecer um</p><p>pouco mais sobre ele? Assista ao filme Célestin Freinet, da Coleção Grandes Educadores,</p><p>Edições Paulinas.</p><p>Sinopse: Célestin Freinet foi um dos maiores educadores do século XX. Pedagogo</p><p>humanista, autodidata, político e sindical, sintetizou em sua obra as aquisições da psicologia</p><p>e da pedagogia, tornando-as aplicáveis às práticas cotidianas em classe. A Pedagogia</p><p>Freinet é um conjunto original de propostas teóricas, instrumentos e técnicas assentadas</p><p>em alguns princípios e eixos pedagógicos: cooperação, livre expressão, responsabilidade,</p><p>solidariedade, comunicação e documentação. Freinet, através de seu método natural de</p><p>aprendizagem, deixa um importante legado para a formação de seres íntegros, sociais e</p><p>políticos, capazes de trilhar seus destinos individual e socialmente na construção de uma</p><p>sociedade democrática e pacífica.</p><p>FONTE: <http://cineaprendizagem.blogspot.com.br/2010/08/celestin-freinet.html>. Acesso</p><p>em: 16 maio 2021.</p><p>DICAS</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET</p><p>41</p><p>Freinet entendia que a educação deveria proporcionar à criança a</p><p>realização de um trabalho existente na vida real. Para realizar suas propostas</p><p>de ensino, Freinet pesquisava de que forma a criança pensava e como construía</p><p>o conhecimento. Por meio da observação sabia de que forma, quando e como</p><p>intervir na aprendizagem da criança e despertar nela a vontade deaprender.</p><p>No seu Livro de Notas, que veio a substituir o Diário de Guerra, Freinet</p><p>anotava todos os dias tudo o que ouvia dos alunos, os termos repletos</p><p>de poesia, as observações e gestos originais e espontâneos, tudo, enfim,</p><p>que o ajudasse a conhecer melhor a personalidade de cada criança, seus</p><p>sucessos e insucessos. Otimista, vê na ação educativa o motor condutor</p><p>do progresso social e moral da sociedade (ELIAS, 2008, p. 23).</p><p>Para Sampaio (1989), a Pedagogia Freinet veio atender à necessidade vital</p><p>da criança de chegar ao seu pleno desabrochar como um indivíduo autônomo,</p><p>um ser responsável socialmente, codetentor e coedificador de uma cultura.</p><p>Sua pedagogia centrava-se em quatro eixos:</p><p>FIGURA 12 – EIXOS DA PEDAGOGIA FREINET</p><p>FONTE: A autora</p><p>A prática pedagógica de Freinet tem por base a cooperação entre</p><p>educadores, entre estudantes e entre ambos. Freinet acreditava tanto no trabalho</p><p>cooperativo que criou diversas cooperativas, como vimos anteriormente, lançando</p><p>o movimento pedagógico cooperativo. Freinet (1975, p. 21) dizia que ele e seus</p><p>companheiros haviam “rompido o círculo do individualismo estéril".</p><p>Sua proposta pedagógica unia a cooperação do trabalho coletivo e a</p><p>valorização da produção individual da criança, ou seja, respeitava o ritmo da</p><p>criança, mas fazia com que ela percebesse que pertencia a um grupo e que sua</p><p>produção tinha valor não apenas para si, mas também para o grupo no qual</p><p>convivia, podendo ser inclusive ampliada e modificada com o auxílio dos colegas.</p><p>De acordo com Elias (2008, p. 42):</p><p>42</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>[...] a Pedagogia Freinet pode ser vista como uma prática coletiva, uma</p><p>vez que tem por objetivo maior o desenvolvimento da compreensão</p><p>crítica da realidade e a ação participativa na transformação, segundo</p><p>as necessidades de todos. Portanto, o sujeito da ação coletiva e da</p><p>educação não é o indivíduo, mas o conjunto de pessoas que participam</p><p>do processo.</p><p>Segundo Sampaio (1989), a Pedagogia Freinet conseguia esta cooperação</p><p>por desenvolver as seguintes capacidades:</p><p>FIGURA 13 – CAPACIDADES DESENVOLVIDAS PELA PEDAGOGIA FREINET</p><p>FONTE: A autora</p><p>Para garantir o desenvolvimento destas capacidades, Freinet criou diversas</p><p>técnicas, que veremos no próximo item, e as Invariantes Pedagógicas, que darão</p><p>suporte para o professor utilizá-las.</p><p>No item “Papel do Professor na Escola Freinet”, veremos um pouco mais sobre</p><p>as invariantes pedagógicas propostas</p><p>por Freinet.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET</p><p>43</p><p>Freinet trabalha com uma proposta que privilegia a aprendizagem por</p><p>meio de experiências. Para ele, se a criança acertar um experimento, irá repeti-lo</p><p>por diversas vezes até avançar com a cooperação do professor. De acordo com Elias</p><p>(2008, p. 47):</p><p>As características da Pedagogia Freinet [...] são a cooperação, a</p><p>comunicação compartilhada e a tomada de decisões. Empenhada</p><p>numa atividade que a requisite física e psicologicamente, a criança é</p><p>naturalmente disciplinada, concentra-se nas atividades e se realiza, ao</p><p>descobrir suas potencialidades.</p><p>Na proposta de Freinet, a relação professor/aluno é muito importante no</p><p>processo de aprendizagem da criança. Além disso, o professor não deve nunca</p><p>ignorar o aspecto político e social da comunidade onde a escola está inserida, pois</p><p>sua pedagogia deve preocupar-se com a formação de um ser social atuante e crítico.</p><p>Sua trajetória, portanto, enquanto professor primário, leva-o a</p><p>estabelecer um paralelo entre educação e política. Centrado na ideia</p><p>do trabalho, valoriza o homem, o coletivo, o homem da periferia e das</p><p>classes trabalhadoras, considerando ser necessário levar o educando a</p><p>construir a própria realidade histórico-social (ELIAS, 2008, p. 14).</p><p>Para Freinet (1975), o professor deve mesclar seu trabalho com a vida em</p><p>comunidade, criando associações, conselhos, eleições, enfim, instigando diversas</p><p>maneiras de participação e colaboração para a formação do aluno, direcionando</p><p>sua pedagogia em defesa da fraternidade, do respeito e do crescimento cooperativo</p><p>e feliz da sociedade.</p><p>A sua proposta pedagógica exige uma postura frente à vida que difere</p><p>de tudo o que se ensinava nas escolas. Na prática, procurava seguir o</p><p>empenho dos alunos e transformá-los pelo trabalho, por uma vivência</p><p>coletiva, permeada pelo meio ambiente, pela ação. Para ele, a liberdade</p><p>faz parte do aprendizado histórico-social (ELIAS, 2008, p. 17).</p><p>FIGURA 14 – CRIANÇAS BRINCANDO/APRENDENDO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3gzymsk>. Acesso em: 4 set. 2020.</p><p>44</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Freinet sempre deu muita importância ao trabalho que, para ele, é o</p><p>centro das atividades escolares, fazendo com que a criança exerça o seu poder e</p><p>cresça por meio dele. Por isso sua teoria é muito conhecida como Pedagogia do</p><p>Trabalho. De acordo com Elias (2008, p. 46):</p><p>O trabalho é o grande princípio, o motor e a filosofia de sua pedagogia</p><p>[...], que parte da atividade para chegar às outras aquisições. Para ele,</p><p>influenciado pela filosofia marxista, a escola pretendida e pensada é a</p><p>escola do trabalho, perfeitamente integrada no processo geral da vida:</p><p>a criança torna-se sujeito e o professor, aquele que orienta, estimula e</p><p>facilita a aprendizagem. O trabalho permite aos homens se estruturar</p><p>e educar ao mesmo tempo em que transformam a natureza.</p><p>Para Freinet (1975), o aprender deveria passar pela experiência de vida</p><p>e isso só é possível pela ação, através do trabalho, que engloba a pesquisa, a</p><p>documentação e a experimentação. O trabalho desenvolve o pensamento lógico e</p><p>inteligente. Nele, o ser humano se exprime e se realiza.</p><p>Não significa educação pelo trabalho manual e sim a união entre</p><p>intelectualidade e manipulação, pensamento e ação; o desenvolvimento</p><p>do pensamento até o lógico e inteligente ocorre a partir de ocupações</p><p>materiais. E, para chegar ao valor educativo do trabalho, propõe</p><p>inicialmente a observação, em seguida a expressão, depois a</p><p>experimentação; o valor educativo destas operações está noresultado da</p><p>união das três (FREINET apud GADOTTI, 1997, p. 177).</p><p>De acordo com Elias (2008), a sala de aula é um lugar que convida ao trabalho,</p><p>e Freinet distingue quatro etapas educativas: pré-ensino, jardins de infância, escola</p><p>maternal e infantil e escola elementar, que veremos no quadro a seguir:</p><p>QUADRO 4 – ETAPAS EDUCATIVAS DA EDUCAÇÃO FREINET</p><p>PERÍODO FAIXA ETÁRIA DEFINIÇÃO METODOLOGIA</p><p>Período de</p><p>pré-ensino</p><p>Do nascimento</p><p>até por volta dos</p><p>dois anos</p><p>É o período da</p><p>prospecção por</p><p>tentativa, quando</p><p>a criança procura</p><p>familiarizar-se</p><p>com o mundo.</p><p>Para esse período é</p><p>previsto atividades</p><p>em parques, jardins</p><p>públicos e espaços</p><p>livres, nos quais as</p><p>crianças possam ter</p><p>contato direto com a</p><p>natureza através de</p><p>experiências tateantes</p><p>Período</p><p>correspondente</p><p>ao jardim de</p><p>infância</p><p>Dos 2 aos 4 anos</p><p>É o período de</p><p>adaptação ou</p><p>arrumação, no</p><p>qual a criança não</p><p>se contenta em</p><p>conhecer</p><p>Nesse período que</p><p>precede a educação</p><p>sistemática,</p><p>o educador deve</p><p>deixar a criança</p><p>entregue a múltiplas</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET</p><p>45</p><p>por simples</p><p>curiosidade.</p><p>experiências, as quais</p><p>serão como que ensaios</p><p>preparatórios para que</p><p>atinja por si a eficiência</p><p>social, antes de atingir a</p><p>etapa seguinte</p><p>A escola</p><p>maternal e</p><p>infantil</p><p>Dos 4 aos 7 anos</p><p>É o período</p><p>em que a</p><p>criança inicia a</p><p>ordenação de sua</p><p>personalidade.</p><p>Nesse período tem</p><p>início a educação</p><p>sistemática. Para</p><p>chegar a esta etapa a</p><p>criança já conquistou</p><p>o meio em que vive</p><p>adquirindo diversas</p><p>experiências, iniciando</p><p>agora o período do</p><p>trabalho: o trabalho-</p><p>jogo e o jogo-trabalho.</p><p>A escola</p><p>elementar</p><p>Dos 7 aos 14</p><p>anos</p><p>É o período no</p><p>qual brincadeira</p><p>e trabalho se</p><p>confundem.</p><p>Freinet propõe para</p><p>essa faixa etária</p><p>outra organização da</p><p>classe, com oficinas</p><p>especializadas para</p><p>trabalhos manuais,</p><p>intelectuais e artísticos,</p><p>não deixando de lado</p><p>o trabalho junto à</p><p>natureza.</p><p>FONTE: Adaptado de Elias (2008)</p><p>A liberdade também é um aspecto importante nas práticas pedagógicas</p><p>propostas por Freinet, significando a capacidade de o ser humano vencer as</p><p>barreiras e obstáculos impostos pela vida. Em seus estudos, Freinet propôs que o</p><p>professor deveria almejar uma escola ideal, criativa e libertadora e estudar o que</p><p>impede a escola de ser assim.</p><p>Quer saber mais sobre a Pedagogia Freinet? Veja as nossas indicações de leitura:</p><p>• FREINET, C. Para uma escola do povo. São Paulo: Martins Fontes, 2001.</p><p>• FREINET, C. Pedagogia do bom senso. São Paulo: Martins Fontes, 2004.</p><p>DICAS</p><p>46</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>A proposta educacional de Freinet é uma educação que respeita acriança</p><p>como ela é, a diversidade, a individualidade de cada um, auxiliando na formação</p><p>da sua personalidade por meio da vivência de sua cidadania. Seu objetivo é formar</p><p>uma criança responsável, consciente dos seus atos e crítica na sua contribuição</p><p>para a sociedade. Sua metodologia parte do impulso criador da criança e de</p><p>técnicas adequadas, como veremos a seguir.</p><p>4 METODOLOGIA</p><p>A metodologia utilizada por Freinet baseia-se em diferentes técnicas</p><p>pedagógicas, criadas por ele, com o intuito de “[...] envolver todas as crianças no</p><p>processo de aprendizagem, respeitando seus direitos de crescer em liberdade,</p><p>independente das diferenças de caráter, inteligência ou meio social” (ELIAS,</p><p>2008, p. 13).</p><p>Foi com base nestas técnicas, que Freinet desenvolveu todo o seu trabalho</p><p>na educação. Vamos conhecê-las?</p><p>Cooperativa escolar: é uma forma de organização em que todos participam.</p><p>Professor e alunos realizam um acordo, definindo os princípios, objetivos e meios que</p><p>serão utilizados pelo grupo para alcançar as metas. Todas as atividades são realizadas</p><p>de forma cooperativa. O grupo, que contém um coordenador e um redator, reúne-se</p><p>para avaliar os objetivos alcançados e o que falta ser feito para alcançar as metas.</p><p>Planos de trabalho: são elaborados pelos professores e crianças, de forma</p><p>conjunta, a cada início de ano e geram grande motivação do grupo para a aprendizagem</p><p>do programa. O programa curricular que deve ser cumprido é apresentado às crianças</p><p>pelo professor, que explica os motivos de estudar tais conteúdos e propõe que seja</p><p>feito um plano mensal e semanal para cumprir o programa. Após a distribuição do</p><p>programa ao longo do ano, as crianças escolhem livremente quais</p><p>materiais e que</p><p>estratégias serão utilizadas para o alcance dos objetivos.</p><p>Texto livre: é a base da Pedagogia Freinet. São escritos, como o próprio</p><p>nome diz, de forma livre, sem cobranças em relação ao tema ou ao formato,</p><p>expressando a vontade da criança, sua curiosidade e o que ela considera mais</p><p>importante. Não há um momento específico para a produção do texto. Ele é escrito</p><p>espontaneamente, no momento em que a criança sentir vontade. De acordo com</p><p>Sampaio (1989), só assim o texto apresentará espontaneidade, vida, criação, ligação</p><p>íntima e permanente com o meio e a expressão profunda de cada criança ou jovem.</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET</p><p>47</p><p>FIGURA 15– CRIANÇA ESCREVENDO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3xvcGmM>. Acesso em: 13 ago. 2020.</p><p>O texto livre, porém, não nasce sozinho. A criança precisa ser estimulada</p><p>a produzir, percebendo que o que escreve é importante para as outras pessoas,</p><p>pais, comunidade e outras escolas para onde os jornais e cartas são enviados.</p><p>Assim, ela irá produzir seus textos com maior prazer e vontade.</p><p>Após a escrita individual, o grupo irá escolher um dos textos para ser:</p><p>[...] aperfeiçoado coletivamente, quer no que diz respeito à verdade do</p><p>conteúdo, quer na sua forma sintática gramatical e ortográfica. A obra</p><p>que depois é dada aos pequenos tipógrafos é o resultado do nosso</p><p>método natural de trabalho, que respeita o pensamento infantil, mas</p><p>contribui com seu auxílio técnico, enquanto espera que a criança esteja</p><p>em condições de caminhar pelo seu pé e de nos trazer textos e poemas</p><p>que só teriam a perder com a nossa intervenção (FREINET, 1974, p. 21).</p><p>Imprensa escolar: é um tipo de tipografia montada na escola, pelo meio da</p><p>qual os alunos imprimem seus próprios textos para envio aos pais, aos membros</p><p>da comunidade em geral e, por que não, para outras escolas</p><p>Para Freinet (1974), o uso da imprensa na escola é importante para a</p><p>valorização do registro do pensamento da criança e para que a criança desmistifique</p><p>o texto impresso que antes só via em revistas, livros e jornais. Além disso, o fato</p><p>de imprimir um texto para que outro o leia faz com que a criança tenha mais</p><p>responsabilidade com a qualidade do texto que produz, estabelecendo uma</p><p>relação íntima com este texto. É necessário que a criança planeje o espaço que o</p><p>texto ocupará graficamente, o tamanho e tipo da fonte a ser usado e a página em</p><p>que ele será impresso. A impressão do texto faz com que ele se torne algo concreto,</p><p>passível de manipulação.</p><p>Jornal na escola: para o jornal, a criança:</p><p>[...] não escreve apenas o que interessa a ela; escreve aquilo que, nos</p><p>seus pensamentos, nas suas observações, nos seus sentimentos e nos</p><p>seus atos é susceptível de interessar os seus camaradas e de vir a</p><p>interessar os seus correspondentes. (FREINET, 1974, p. 21).</p><p>48</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>O jornal permite a interação com a comunidade, com os pais e com outras</p><p>escolas, levando a produção gráfica e literária das crianças a diversos lugares.</p><p>É produzido de forma cooperativa, reunindo textos de diversas crianças. Sua</p><p>impressão é feita diariamente e reunida no formato de jornal, para ser enviado</p><p>mensalmente aos correspondentes da escola.</p><p>Correspondência entre escolas: de acordo com Sampaio (1989), a</p><p>correspondência abre a escola para a vida, e a vida se mistura com a vida das crianças.</p><p>É com a correspondência escolar que a criança faz a aprendizagem da</p><p>vida cooperativa, tão essencial na Pedagogia Freinet. A criança deve</p><p>contar com os outros e confiar neles. Uma classe se corresponde com</p><p>outra só depois de os professores terem se comunicado e organizado</p><p>os pares de alunos correspondentes. Os professores também trocam</p><p>correspondências e esse vínculo é demais importante. Após a</p><p>escolha dos pares, as crianças preparam o gráfico para identificar</p><p>os correspondentes e indicar a periodicidade das cartas enviadas</p><p>(SAMPAIO, 1989, p.195).</p><p>Além dos textos e imagens produzidos pelas crianças, a correspondência</p><p>contém informações sobre a região onde a escola está localizada, fitas com</p><p>gravações, presentes elaborados pela criança ou pela própria família, receitas</p><p>de comidas típicas e outras coisas sobre a sua comunidade que a criança tenha</p><p>interesse em compartilhar.</p><p>Livro da vida: é um documento em que ficam registrados todos os</p><p>acontecimentos importantes do grupo. Constitui-se de uma grande folha em que</p><p>podem ser coladas outras, conforme a necessidade. Nele, as crianças escrevem,</p><p>colam desenhos, notícias, fotos, recortes, registrando toda a evolução do grupo.</p><p>De acordo com Oliveira (2005, p. 10), o livro da vida:</p><p>[...] é o registro dos acontecimentos mais marcantes da classe. Nele,</p><p>o professor e/ou alunos inserem textos produzidos na classe como</p><p>também podem registrar um fato importante que ocorreu na turma</p><p>ou fora dela como um passeio, uma visita, atividade marcante vivida</p><p>pelo aluno, pelo grupo de alunos, pela família e pela comunidade. Este</p><p>registro vai se constituindo ao longo do ano como um diário da classe</p><p>ilustrado com desenhos, fotografias, relatos, depoimentos que passam</p><p>a fazer parte da memória do grupo.</p><p>Este documento pode ser lido tanto pelos colegas, quanto pelos pais. É o</p><p>que, nos dias de hoje, chamamos de portfólio, e que contém o registro de todas as</p><p>atividades desenvolvidas pela criança, demonstrando a sua evolução durante o</p><p>período que passou na escola.</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET</p><p>49</p><p>Fichário escolar: são fichas de assuntos específicos que são elaboradas pelas</p><p>crianças, substituindo os livros didáticos ou manuais. Os fichários apresentam</p><p>questões relacionadas à vida das crianças, propostas de atividades e formas</p><p>de utilização dos materiais. O fichário é classificado por assunto e reunido para</p><p>publicação e aquisição das outras escolas para uso em sala de aula. As escolas que</p><p>adquirem os fichários realizam a sua ampliação com as suas próprias experiências.</p><p>Jornal mural: é onde as crianças expressam seus anseios, desejos, críticas e</p><p>opiniões em relação ao funcionamento do grupo e da escola, sendo assinado por</p><p>elas. Configura-se em uma grande folha de papel dividida em três colunas (que</p><p>deve ser trocada semanalmente), com as frases: eu proponho, eu critico, eu felicito.</p><p>Fichário autocorretivo: são fichas individuais que propõem problemas</p><p>e apresentam soluções, favorecendo o ritmo próprio da criança na aquisição</p><p>do conhecimento e possibilitando que a criança se aproxime da Zona de</p><p>Desenvolvimento Proximal proposta por Vigotski. Fazem parte deste fichário:</p><p>• fichas-teste – apresentam problemas a ser resolvidos pelas crianças e permitem</p><p>avaliar seu desenvolvimento;</p><p>• fichas-correção – oferecem um trabalho complementar para as crianças que se</p><p>confundiram ou não souberam resolver as fichas-teste. São uma forma de as</p><p>crianças vencerem suas limitações individuais com o auxílio de alguém mais</p><p>experiente.</p><p>Biblioteca: para Freinet, é um centro de cultura onde estão disponíveis</p><p>todos os materiais produzidos pelas crianças, os materiais recebidos de outras</p><p>escolas ou da comunidade por meio da troca de correspondências, os livros, o</p><p>canto da impressora, do audiovisual, da leitura, um canto para exposições, um</p><p>escritório e uma sala para reuniões.</p><p>Cantos das atividades: Freinet divide o espaço escolar em cantos de trabalho</p><p>com atividades diferenciadas. Em cada canto, as crianças encontram omaterial que</p><p>necessitam e ao alcance de suas mãos de forma organizada. Há também uma bancada</p><p>ou mesa para a realização das atividades. Estes cantos absorvem um pequeno</p><p>número de crianças e estimulam a cooperação, já que elas deverão negociar entre</p><p>si para poder trabalhar no canto que mais lhe interessa. Com o grupo dividido em</p><p>grupos menores, o professor não consegue dar atenção a todos ao mesmo tempo,</p><p>fazendo com que cada grupo procure a solução para os problemas que enfrentam,</p><p>desenvolvendo a autonomia.</p><p>Fique atento! Na unidade 3 estudaremos um pouco mais sobre os portifólios.</p><p>ATENCAO</p><p>50</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Estudo do meio: é a ideia base da Pedagogia do Trabalho proposta por</p><p>Freinet. Como o próprio nome já diz, é o estudo do meio onde a criança vive, seja</p><p>ele físico ou social. Por meio dele, a criança é inserida em seu meio ambiente,</p><p>desenvolvendo um olhar crítico sobre as transformações que realiza nele. Por</p><p>meio de entrevistas e pesquisas de campo as crianças procuram documentos para</p><p>compor um registro ilustrado do local em que vivem. Sempre que fazem novas</p><p>descobertas, ampliam o registro já existente.</p><p>FIGURA 16 – ESTUDO DO MEIO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3q8uQrR>. Acesso em: 14 jun. 2012.</p><p>Aula-passeio: forma que Freinet encontrou para trazer a alegria e o</p><p>entusiasmo das crianças para a sala de aula, aproximando o trabalho em sala da</p><p>vida real das crianças e demostrando que a educação é muito mais eficiente se</p><p>baseada no prazer da criança.</p><p>Para Freinet (1976, p.24), a aula-passeio “[...] não era tempo perdido, pois</p><p>todas as disciplinas escolares tiravam proveito disso”. Nos passeios realizados</p><p>pela comunidade as crianças observavam os animais, as pedras, as plantas e</p><p>recolhiam pequenos objetos para levar à sala de aula.</p><p>Na Unidade 2 falaremos um pouco mais sobre os cantinhos das atividades</p><p>como forma de planejamento do espaço físico em sala de aula. Esta divisão por cantinhos</p><p>é inclusive sugerida pelo MEC, nos Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições</p><p>de Educação Infantil.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET</p><p>51</p><p>Para treinar a pesquisa, que permite a livre expressão, organiza</p><p>saídas diárias pelas estreitas ruas da vila, onde as crianças observam</p><p>o trabalho dos marceneiros, ferreiros, dos agricultores, as diversas</p><p>estações, o céu, os pássaros, o vento etc., trazendo para a sala de aula</p><p>muitas riquezas: fósseis, nozes, avelãs, folhas, argilas... e até animais.</p><p>[...] São as aulas-passeio que trazem vida à sala: as observações são</p><p>comunicadas, comparadas, avaliadas e registradas no Livro da Vida</p><p>(ELIAS, 2008, p. 61, grifos no original).</p><p>Assim que retornavam, eles escreviam no quadro um resumo do</p><p>passeio que era comentado, transformado e ampliado pelas crianças. Ao final</p><p>da reformulação do texto, cada criança o copiava em seu caderno. Desta forma,</p><p>Freinet fazia com que suas aulas fossem animadas e vivas e possibilitava que as</p><p>crianças conhecessem o seu meio de forma mais aprofundada, contribuindo para</p><p>a construção coletiva do conhecimento.</p><p>5 PAPEL DO PROFESSOR NA PEDAGOGIA FREINET</p><p>Como vimos anteriormente, as propostas pedagógicas de Freinet</p><p>centravam-se em uma educação do trabalho. Neste sentido, o papel do professor</p><p>era o de criar um ambiente laborioso na escola, estimulando as crianças a realizar</p><p>experiências procurando as respostas às inquietações e necessidades individuais</p><p>e do grupo, sempre com o auxílio dos colegas. O professor apenas organizaria o</p><p>trabalho a ser desenvolvido.</p><p>De acordo com Elias (2008, p. 46):</p><p>[...] cabe à escola e ao professor oferecer modelos, estimular experiências,</p><p>criar uma atmosfera de trabalho, acompanhar e interpretar suas</p><p>hipóteses pessoais, não reduzindo sua ação a um ensino estreito,</p><p>acanhado, exclusivamente escolar e individualista.</p><p>O professor deveria limitar-se apenas:</p><p>à organização do trabalho, sem imposições ou ameaças. Para Freinet,</p><p>a capacidade de trabalho valoriza o indivíduo, transformando-o em</p><p>ator eficaz e responsável perante a comunidade e a própria sociedade</p><p>(ELIAS, 2008, p. 47-48).</p><p>Outra função do professor seria a de colaborar para o êxito das crianças.</p><p>Freinet não via o erro como algo importante didaticamente.</p><p>Os erros são apenas um acidente de percurso, uma pedra na qual se</p><p>tropeça, um muro que se pode evitar, uma árvore caída que se desloca ou</p><p>que se contorna; no entanto, a caminhada continua, estimulada até pelas</p><p>dificuldades que superamos ou ultrapassamos (FREINET, 1977, p. 35).</p><p>Para ele, o fracasso desmotiva e deixa a criança instável e insegura. É papel</p><p>do professor auxiliar a criança a superar o erro de formaafetiva.</p><p>52</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Para Freinet “[...] só o educador que conhece intimamente a criança e</p><p>sua natureza psicológica, suas tendências e possibilidades poderá ajudá-la a</p><p>desenvolver ao máximo sua personalidade, em função das necessidades do meio a</p><p>que pertence”. (ELIAS, 2008, p. 46).</p><p>FIGURA 17 – PROFESSOR E ALUNO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3xsT4Q3>. Acesso em: 3 jul. 2020.</p><p>Nas propostas pedagógicas de Freinet (1977), o professor é responsável</p><p>pela questão metodológica e, segundo ele, conseguirá bons resultados mesmo</p><p>sem uma preparação especial desde que seja intuitivo, sensível, equilibrado e</p><p>tiver domínio e autoridade.</p><p>De acordo com Sampaio (1989), para garantir que os professores</p><p>interessados na Pedagogia Freinet utilizassem as técnicas de forma eficiente,</p><p>Célestin Freinet organizou uma coleção de princípios para guiar o professor na</p><p>sua utilização. A estes princípios, o autor chamou de invariantes, porque são</p><p>aplicadas da mesma forma a qualquer criança, independente da sua cultura. Para</p><p>cada uma das invariantes, Freinet associou um teste para que o professor pudesse</p><p>avaliar a sua prática pedagógica.</p><p>São 32 invariantes, organizadas em três grupos: a natureza da criança, as</p><p>reações da criança e as técnicas educativas, conforme nos apresenta Sampaio (1989).</p><p>QUADRO 5 – INVARIANTES PEDAGÓGICAS</p><p>GRUPO INVARIANTE</p><p>A NATUREZA</p><p>DA CRIANÇA</p><p>1. A criança é da mesma natureza que o adulto.</p><p>2. Ser maior não significa necessariamente estar acima</p><p>dos outros.</p><p>3. O comportamento escolar de uma criança depende do</p><p>seu estado fisiológico, orgânico e constitucional.</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET</p><p>53</p><p>AS REAÇÕES</p><p>DA CRIANÇA</p><p>4. A criança e o adulto não gostam de imposições autori-</p><p>tárias.</p><p>5. A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rí-</p><p>gida, quando isto significa obedecer passivamente uma</p><p>ordem externa.</p><p>6. Ninguém gosta de fazer determinado trabalho por co-</p><p>erção, mesmo que, em particular, ele não o desagrade.</p><p>Toda atitude imposta é paralisante.</p><p>7. Todos gostam de escolher o seu trabalho mesmo que</p><p>essa escolha não seja a mais vantajosa.</p><p>8. Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como</p><p>máquina, sujeitando-se a rotinas das quais não partici-</p><p>pa.</p><p>9. É fundamental a motivação para o trabalho.</p><p>10. É preciso abolir a escolástica.</p><p>10-a. Todos querem ser bem-sucedidos. O fracasso ini-</p><p>be, destrói o ânimo e o entusiasmo.</p><p>10-b. Não é o jogo que é natural na criança, mas sim o</p><p>trabalho.</p><p>11. Não são a observação, a explicação e a demonstração –</p><p>processos essenciais da escola – as únicas vias normais</p><p>de aquisição de conhecimento, mas a experiência tatean-</p><p>te, que é uma conduta natural e universal.</p><p>12. A memória, tão preconizada pela escola, não é válida,</p><p>nem preciosa, a não ser quando está integrada no tate-</p><p>amento experimental, no qual se encontra verdadeira-</p><p>mente a serviço da vida.</p><p>AS TÉCNICAS</p><p>EDUCATIVAS</p><p>13. As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis,</p><p>como às vezes se crê, mas sim pela experiência. Estudar</p><p>primeiro regras e leis é colocar o carro na frente dos bois.</p><p>14. A inteligência não é uma faculdade específica, que</p><p>funciona como um circuito fechado, independente dos</p><p>demais elementos vitais do indivíduo, como ensina a</p><p>escolástica.</p><p>15. A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteli-</p><p>gência, que atua fora da realidade e fica fixada na me-</p><p>mória por meio de palavras e ideias.</p><p>16. A criança não gosta de receber lições autoritárias.</p><p>17. A criança não se cansa de um trabalho funcional, ou</p><p>seja, que atende aos rumos de sua vida.</p><p>18. A criança e o adulto não gostam de ser controlados e</p><p>receber sanções. Isso caracteriza uma ofensa à dignida-</p><p>de humana, sobretudo se exercida publicamente.</p><p>19. As notas e classificações constituem sempre um erro.</p><p>54</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO</p><p>INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>20. Fale o menos possível.</p><p>21. A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em re-</p><p>banho. Ela prefere o trabalho individual ou de equipe</p><p>numa comunidade cooperativa.</p><p>22. A ordem e a disciplina são necessárias na aula.</p><p>23. Os castigos são sempre um erro. São humilhantes, não</p><p>conduzem ao fim desejado e não passam de paliativo.</p><p>24. A nova vida da escola supõe a cooperação escolar, isto</p><p>é, a gestão da vida pelo trabalho escolar pelos que a</p><p>praticam, incluindo o educador.</p><p>25. A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pe-</p><p>dagógico.</p><p>26. A concepção atual das grandes escolas conduz professo-</p><p>res e alunos ao anonimato, o que é sempre um erro e cria</p><p>barreiras.</p><p>27. A democracia de amanhã prepara-se pela democracia</p><p>na escola. Um regime autoritário na escola não seria</p><p>capaz de formar cidadãos democratas.</p><p>28. Uma das primeiras condições da renovação da escola é</p><p>o respeito à criança e, por sua vez, a criança ter respeito</p><p>aos seus professores; só assim é possível educar dentro</p><p>da dignidade.</p><p>29. A reação social e política, que manifesta uma reação pe-</p><p>dagógica, é uma oposição com a qual temos que contar,</p><p>sem que se possa evitá-la ou modificá-la.</p><p>30. É preciso ter esperança otimista na vida.</p><p>FONTE: Adaptado de Sampaio (1989)</p><p>E então, prezado acadêmico, o que dizer destas invariantes? Simplesmente</p><p>fantásticas, não é mesmo? Autoavaliar-se é o caminho! Esta atitude é muito</p><p>importante para o professor. De acordo com Freinet apud Elias:</p><p>[...] a postura do educador deve ser a daquele que possui conhecimentos,</p><p>mas sabe que são relativos. Sabendo que há diversas possibilidades a</p><p>seguir, estará sempre atento aos seus alunos, acompanhando as suas</p><p>aquisições naturais, participando da organização da classe, como</p><p>membro do grupo, parceiro e orientador do aluno nas investigações</p><p>(ELIAS, 2008, p. 41).</p><p>As atividades pedagógicas propostas pelos professores das escolas Freinet</p><p>não devem ser algo espontâneo e, sim, cuidadosamente planejado, com objetivos</p><p>bem claros e precisos do que se pretende alcançar. Com base no seu planejamento</p><p>inicial, o professor deve conversar com seus alunos e buscar formas de atingir</p><p>estes objetivos, é o que Freinet chama de Cooperativa de Trabalho.</p><p>Com relação à avaliação dos alunos, Freinet defendia a avaliação contínua</p><p>na qual professores e alunos se reúnem semanalmente para discutir os resultados,</p><p>os conteúdos estudados e verificar o que realmente foi compreendido e se ainda</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET</p><p>55</p><p>há alguma dificuldade em relação ao que foi estudado. Outra forma de avaliação</p><p>são as fichas autocorretivas em que as próprias crianças podem avaliar o seu</p><p>desenvolvimento.</p><p>Para Freinet:</p><p>A escola e o professor necessitam trabalhar as relações no grupo e a</p><p>responsabilidade de cada um, tendo como meta o crescimento pessoal/</p><p>social da classe. Não se deve ter pressa. Se o educador não tiver</p><p>paciência, não der tempo para o aluno assimilar os conteúdos, não fará</p><p>mais que um trabalho de superfície, o qual não só pode ser inútil, como</p><p>perigoso. E, finalmente, reconhecerá que o saber não é um acúmulo de</p><p>conhecimentos, mas uma maneira de enfrentar qualquer situação para</p><p>depois analisá-la e comunicá-la (ELIAS, 2008, p. 40-41, grifos no original).</p><p>Podemos perceber que a Pedagogia Freinet é muito mais do que uma</p><p>simples proposta pedagógica e sim uma forma de perceber a criança de forma</p><p>autônoma, com direito de escolha, liberdade de expressão, opinião própria</p><p>e direito de fazer críticas. Percebemos nas práticas pedagógicas de Freinet, o</p><p>direito da criança de ser respeitada e valorizada, podendo assim desenvolver sua</p><p>capacidade criativa e imaginativa.</p><p>Acadêmico, atente-se para as questões de reflexão</p><p>1 Como você pôde perceber, Freinet criou diversas metodologias, a fim de colocar em</p><p>prática o que acreditava enquanto professor. E você, utiliza alguma técnica de Freinet em</p><p>suas aulas? Quais? Descreva de que forma as aplica em sala de aula.</p><p>2 Se você ainda não é professor, quais metodologias criadas por Freinet achou mais</p><p>interessantes? Descreva ao menos três e justifique a sua escolha.</p><p>UNI</p><p>56</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Célestin Freinet nasceu em 15 de outubro de 1896, no sul da França. Concluiu o</p><p>curso normal, foi professor e criou diversas cooperativas de trabalho. Faleceu</p><p>em 1966, aos 80 anos.</p><p>• As propostas pedagógicas de Freinet eram desenvolvidas em conjunto com as</p><p>crianças, visando desenvolver o gosto pelo trabalho, pela escola, tornando-as</p><p>cidadãos críticos e conscientes.</p><p>• Propôs a criação de uma escola prazerosa, onde a criança queira permanecer,</p><p>na qual a afetividade predomine e haja alegria emaprender.</p><p>• A Pedagogia Freinet centrava-se em quatro eixos: cooperação; comunicação;</p><p>documentação e afetividade.</p><p>• A proposta pedagógica de Freinet valorizava a produção individual da</p><p>criança, o trabalho cooperativo e coletivo, respeitando o ritmo da criança e</p><p>privilegiando a aprendizagem por meio de experiências.</p><p>• Para Freinet, o professor deve participar ativamente da comunidade onde a</p><p>escola está inserida.</p><p>• Freinet distingue quatro etapas educativas: período pré-ensino; período</p><p>correspondente aos jardins de infância; a escola maternal e infantil; e a escola</p><p>elementar.</p><p>• Outro aspecto importante da pedagogia Freinet é a liberdade.</p><p>• Freinet criou diversas técnicas pedagógicas: cooperativa escolar; planos de</p><p>trabalho; texto livre; imprensa escolar; jornal da escola; correspondência entre</p><p>escolas; livro da vida, fichário escolar; jornal mural; fichário autocorretivo;</p><p>biblioteca; cantos das atividades, o estudo do meio e as aulas-passeio.</p><p>• Para Freinet, o professor deve criar um clima de trabalho na escola, estimulando</p><p>as crianças a realizar experiências, com a ajuda dos colegas, procurando</p><p>responder a suas inquietações.</p><p>• Freinet via o erro como um acidente de percurso, e o professor deve auxiliar</p><p>a criança a superar este erro de forma afetiva.</p><p>• Freinet criou 32 invariantes pedagógicas, a fim de orientar o professor da sua</p><p>pedagogia.</p><p>57</p><p>• Para Freinet o professor deve autoavaliar-se constantemente. Seu planejamento</p><p>não deve ser espontâneo, mas cuidadosamente planejado.</p><p>• Freinet defendia a avaliação contínua dos alunos.</p><p>58</p><p>1 A Pedagogia Freinet está centrada em 4 eixos. Assinale a alternativa que</p><p>apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a) ( ) Cooperação, competição, diálogo e afetividade.</p><p>b) ( ) Cooperação, comunicação, documentação e afetividade.</p><p>c) ( ) Competição, autonomia, afetividade e registro.</p><p>d) ( ) Autonomia, identidade, registro e criatividade.</p><p>2 Freinet distingue 4 etapas educativas, assinale a alternativa que apresenta a</p><p>sequência correta:</p><p>a) ( ) Período pré-ensino, periodo correspondente aos jardins de infância, a</p><p>escola maternal e infantil e a escola elementar.</p><p>b) ( ) Período da educação infantil, do ensino fundamental 1, ensino</p><p>fundamental 2 e ensino médio.</p><p>c) ( ) Período da pré-escola, período dos anos iniciais, período dos anos</p><p>finais, ensino médio.</p><p>d) ( ) Período do infantil 1, do infantil 2, do infantil 3 e do infantil 4.</p><p>3 A técnica pedagógica de Freinet, que é uma forma de organização em que</p><p>todos participam, definindo princípios, objetivos e meios que serão utilizados</p><p>pelo grupo para alcançar as metas, chama-se:</p><p>a) ( ) Texto livre.</p><p>b) ( ) Cooperativa escolar.</p><p>c) ( ) Planos de trabalho.</p><p>d) ( ) Imprensa escolar.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>59</p><p>TÓPICO 4 — O</p><p>UNIDADE 1</p><p>CONSTRUTIVISMO DE PIAGET</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Quem nunca ouviu falar de Jean Piaget, não é mesmo? E de sua teoria, a</p><p>Epistemologia Genética, o que você sabe? Já ouviu falar em construtivismo?</p><p>[…] é na medida em que nós nos adaptamos aos outros que tomamos</p><p>consciência de nós mesmos. É na medida em que descobrimos que os</p><p>outros não nos compreendem espontaneamente, e que nós, da mesma</p><p>forma, não os compreendemos, que nos esforçamos para modelar</p><p>nossa linguagem de acordo com os mil acidentes que criam essa</p><p>inadaptação, e que</p><p>nos tornamos aptos para a análise simultânea dos</p><p>outros e de nós mesmos (PIAGET, 1967, p. 201).</p><p>No Livro Didático da disciplina Psicologia Geral e do Desenvolvimento,</p><p>você estudou os princípios do desenvolvimento cognitivo de Piaget e os estágios</p><p>do desenvolvimento. Já no Livro Didático da disciplina de Psicologia da</p><p>Educação e Aprendizagem, você estudou a concepção construtivista, os conceitos</p><p>de assimilação e acomodação, o processo de equilibração e o erro no processo de</p><p>aprendizagem – você se lembra?</p><p>Neste tópico, conheceremos um pouco mais a vida de Piaget e a teoria</p><p>construtivista. Embarque nesta viagem e venha desvendar conosco os principais</p><p>conceitos desta teoria.</p><p>2 JEAN WILLIAM FRITZ PIAGET (1896-1980)</p><p>Primeiramente, com base nos textos de Munari (2010), Ferreiro (2001) e</p><p>Ferrari (2012), conheceremos um pouco mais a vida de Jean Piaget.</p><p>60</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>FIGURA 18 – PIAGET</p><p>FONTE: <https://www.scrigroup.com/files/personalitati/184_poze/image001.jpg>.</p><p>Acesso em: 12 maio 2021.</p><p>Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel, na Suíça. Iniciou</p><p>seus estudos na área de biologia, depois psicologia, epistemologia e educação. Foi</p><p>professor da Universidade de Genebra por 25 anos, escreveu mais de 50 livros,</p><p>tornando-se conhecido no mundo todo pelos seus estudos. Seu primeiro livro, “A</p><p>linguagem e o pensamento na criança”, foi publicado em 1924. Piaget morreu em</p><p>1980, em Genebra, na Suíça.</p><p>Casou-se com Valentine Châtenay, com quem teve três filhos: Jacqueline,</p><p>Lucienne e Laurent. A infância de seus três filhos foi a grande fonte de observação</p><p>de suas pesquisas, o que chamou de “ajustamento progressivo do saber".</p><p>FIGURA 19 – PIAGET E SUA FAMÍLIA</p><p>FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/36/esquemas-de-acao-de-piaget>.</p><p>Acesso em: 27 maio 2021.</p><p>TÓPICO 4 — O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET</p><p>61</p><p>Piaget sempre foi um grande observador. Já aos onze anos realizou o seu</p><p>primeiro trabalho científico, resultado da observação de um pássaro em uma praça</p><p>da cidade onde morava. A partir da sua formação em biologia, iniciou suas pesquisas</p><p>sobre o desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos, a Epistemologia</p><p>Genética, procurando responder de que forma a inteligência era desenvolvida.</p><p>Com apenas 15 anos já havia publicado seus trabalhos em importantes</p><p>revistas da época. Piaget sentia-se seduzido ao realizar pesquisas científicas.</p><p>Perceba, na força de suas palavras, a paixão que tinha pelas pesquisas:</p><p>Esses estudos, por prematuros que fossem, foram de grande utilidade</p><p>para minha formação científica; além disso, funcionaram, poderia</p><p>dizer, como instrumentos de proteção contra o demônio da filosofia.</p><p>Graças a eles, tive o raro privilégio de vislumbrar a ciência e o que ela</p><p>representa antes de sofrer as crises filosóficas da adolescência. Ter tido</p><p>a experiência precoce destes dois tipos de problemática constituiu,</p><p>estou convencido, o motivo secreto da minha atividade posterior em</p><p>psicologia (PIAGET, 1976, p. 3).</p><p>Para Piaget, o método científico era a única forma de acesso ao</p><p>conhecimento e, por isso, procurou inseri-lo na escola. Muito animado com este</p><p>novo projeto, foi para Paris trabalhar nos laboratórios de Binet, onde descobriu a</p><p>riqueza do pensamento infantil. Foi nesta época que ele elaborou o seu método</p><p>crítico de interrogação da criança, buscando compreender de forma sistemática</p><p>os processos lógico-matemáticos do raciocínio da criança.</p><p>Em Paris, Piaget centrou suas pesquisas em crianças hospitalizadas,</p><p>porém, quando se mudou para Genebra, iniciou seus estudos na escola Casa das</p><p>Crianças do Instituto Jean-Jacques Rousseau, dedicando-se ao desenvolvimento</p><p>e aperfeiçoamento dos sistemas e práticas educativas, e depois nas escolas</p><p>primárias de Genebra, investigando as crianças em sua vida no dia a dia. Não</p><p>Quer conhecer um pouco mais sobre a vida de Piaget? Veja nossa indicação</p><p>de filme “Jean Piaget – Coleção Grandes Educadores”.</p><p>Sinopse: Biólogo de formação, psicólogo que estudou o desenvolvimento cognitivo, filósofo</p><p>por afinidade, Piaget construiu uma obra longa, coerente e sistematizada. Os conceitos</p><p>que cunhou marcaram o campo da Pedagogia a tal ponto que muitos o consideram,</p><p>erroneamente, um educador. Para guiar o professor que pretende conhecer melhor o tema,</p><p>este vídeo apresenta de forma clara os principais conceitos piagetianos. Conforme Yves de</p><p>La Taille, a teoria de Piaget é importante para todos os adultos que lidam com crianças, pois</p><p>ajudam a entender não apenas o desenvolvimento da inteligência, mas suas decorrências,</p><p>como a formação do comportamento e da personalidade da criança.</p><p>FONTE: <http://cineaprendizagem.blogspot.com.br/2010/08/biologo-de-formacao-psicologo-</p><p>que.html>. Acesso em: 24 maio 2021.</p><p>DICAS</p><p>62</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>estando muito interessado com a educação, mudou-se para Neuchâtel, onde foi</p><p>substituir seu antigo professor. Em 1929, em Genebra, assumiu o cargo de diretor</p><p>do Bureau Internacional de Educação (BIE), o que fez com que percebesse os</p><p>elementos político-sociais que permeiam as ações educacionais, permanecendo</p><p>na função até 1968.</p><p>Durante todos esses anos, Piaget redigiu o “Discurso do Diretor”, coleção</p><p>esta com aproximadamente 40 textos, nos quais se encontravam os elementos</p><p>básicos das suas propostas educacionais, atribuindo grande importância à</p><p>educação. Para Piaget (1934 apud MUNARI, 2010, p. 17), “[...] somente a educação</p><p>pode salvar nossas sociedades de uma possível dissolução, violenta ou gradual”.</p><p>No período da Segunda Guerra Mundial, Piaget declarou: “Após os</p><p>cataclismos que marcaram estes últimos meses, a educação constituirá, uma</p><p>vez mais, o fator decisivo não só da reconstrução, mas, inclusive e sobretudo,</p><p>da construção propriamente dita” (PIAGET, 1940 apud MUNARI, 2010, p. 17),</p><p>demonstrando que acreditava na força da educação para ultrapassar as diferenças</p><p>ideológicas e políticas da época.</p><p>Piaget não foi um pedagogo, mas foi um nome muito influente na educação</p><p>e dedicou a sua vida à pesquisa do processo de aquisição do conhecimento pela</p><p>criança. Para ele, o desenvolvimento do pensamento infantil se dá em quatro</p><p>estágios (os quais veremos mais adiante), desde o nascimento até o início da</p><p>adolescência. Suas descobertas tiveram grande impacto no campo educacional,</p><p>principalmente quando se referia à transmissão de conhecimentos que, segundo</p><p>Piaget, dependiam de dois fatores:</p><p>• a criança só aprende se ela tiver condições de absorver determinado</p><p>conhecimento.</p><p>• mesmo tendo condições, a criança só irá se interessar por conteúdos que ainda</p><p>lhe façam falta, que ainda não sejam de seu conhecimento.</p><p>3 A TEORIA CONSTRUTIVISTA DE PIAGET</p><p>A teoria de Piaget é bastante complexa e resulta de muitos anos de</p><p>pesquisa e dedicação ao estudo do desenvolvimento da inteligência da criança.</p><p>Neste livro, não detalharemos sua obra, mas traremos aspectos importantes de</p><p>sua teoria, que consideramos necessários para seu conhecimento:</p><p>• Fases do desenvolvimento.</p><p>• Organização e adaptação.</p><p>• Assimilação e acomodação.</p><p>• Esquemas (estruturas mentais).</p><p>• Equilibração.</p><p>TÓPICO 4 — O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET</p><p>63</p><p>Em seus estudos sobre a Epistemologia Genética, Piaget verificou que o</p><p>desenvolvimento da criança tem início ainda no período intrauterino e se estende</p><p>até a adolescência, evoluindo de forma cada vez mais complexa, em etapas</p><p>sucessivas, ao que chamou de fases ou períodos do desenvolvimento.</p><p>FIGURA 20 – PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO</p><p>FONTE: A autora</p><p>Dependendo da qualidade das interações de cada sujeito com o meio,</p><p>as estruturas mentais – condições prévias para o aprendizado [...] –</p><p>vão se tornando mais complexas até o fim da vida. Em cada fase do</p><p>desenvolvimento, elas determinam os limites do que os indivíduos</p><p>podem compreender (FERNANDES, 2012, p. 1).</p><p>Caso você tenha interesse em aprofundar-se nos estudos sobre Piaget, existem</p><p>diversos livros que apresentam a sua teoria. Exemplos:</p><p>• CUNHA, M. A. V. Didática fundamentada na teoria de Piaget. Rio de Janeiro: Forense,</p><p>1973.</p><p>• FARIA, A. R. Desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. São Paulo:</p><p>Ática, 1989.</p><p>• FURTH, H. G. Piaget na sala de aula. Rio de Janeiro: Forense, 1986.</p><p>• GORMAN, R. M. Descobrindo Piaget: um guia para educadores. Rio de Janeiro: Livros</p><p>Técnicos e Científicos, 1976.</p><p>• NICOLAS, A. Introdução ao pensamento de Jean Piaget. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.</p><p>Sugerimos também alguns livros escritos por Piaget, vale a pena conhecê-los:</p><p>• PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: J.Olympio, 1973.</p><p>• PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criança. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura,</p><p>1961.</p><p>• PIAGET, J. A construção do real na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.</p><p>• PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.</p><p>• PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Forense, 1970.</p><p>DICAS</p><p>64</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Vamos conhecer de forma resumida cada um destes períodos?</p><p>QUADRO 6 – FASES DO DESENVOLVIMENTO PROPOSTAS POR PIAGET</p><p>PERÍODO IDADE DESCRIÇÃO</p><p>Período</p><p>Sensório-Motor 0 a 2 anos</p><p>Neste período, a criança começa a administrar</p><p>seus reflexos básicos, gerando ações de prazer e</p><p>desenvolvendo a percepção de si mesma e dos</p><p>objetos que estão a sua volta. Mama, suga, puxa,</p><p>prende, pega um objeto e o leva à boca, afasta</p><p>um objeto para pegar outro etc. É o período que</p><p>antecede a linguagem. Seu vocabulário vai da</p><p>repetição de algumas sílabas até a utilização</p><p>da palavra-frase, representando seu desejo ou</p><p>sentimento em relação ao objeto.</p><p>Período</p><p>Pré-operatório</p><p>dois a sete</p><p>anos</p><p>Este é o período do surgimento da linguagem,</p><p>do desenho, da imitação, da dramatização etc.</p><p>A partir dos dois anos a criança cria imagens</p><p>mentais do objeto ou da ação, o que chamamos</p><p>de faz de conta, jogo simbólico ou período da</p><p>fantasia. Assim, consegue transformar uma</p><p>simples caixa de fósforos em um carrinho,</p><p>um pedaço de madeira em um cavalinho etc.</p><p>Neste período, costuma dar vida aos objetos,</p><p>colocando a boneca para dormir, ou dizendo</p><p>que ela está com fome. Pode também dizer que</p><p>a bicicleta precisa descansar um pouco, ou que</p><p>o carro da mamãe foi dormir na garagem. Neste</p><p>período, a linguagem é um monólogo coletivo.</p><p>Todos falam ao mesmo tempo, sem responder</p><p>ao que o outro está falando. A partir dos quatro</p><p>anos, já existe um desejo de compreender o que</p><p>acontece ao seu redor. É a “idade dos porquês”,</p><p>pois questiona tudo o tempo todo. Já consegue</p><p>dramatizar a fantasia, mesmo que não acredite</p><p>nela, distinguindo a fantasia do real. Organiza</p><p>coleções e conjuntos sem incluir conjuntos</p><p>menores em maiores. Seu pensamento continua</p><p>centrado no seu próprio ponto de vista e, em</p><p>relação à linguagem, já consegue adequar as</p><p>suas respostas às dos colegas.</p><p>TÓPICO 4 — O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET</p><p>65</p><p>Período</p><p>operatório</p><p>concreto</p><p>7 a 11 anos</p><p>É o período em que a criança desenvolve a</p><p>noção de tempo e espaço, casualidade, ordem,</p><p>velocidade etc. Já conserva a noção de número,</p><p>peso, volume e substância, conseguindo ordenar</p><p>por tamanho e em conjuntos, compreendendo</p><p>o mundo de forma lógica ou operatória.</p><p>Socialmente, organiza-se em grupos onde pode</p><p>ser o líder ou aceitar ser liderado. Consegue</p><p>compreender e estabelecer regras, estabelecendo</p><p>compromissos. Já consegue conversar socialmente,</p><p>porém sem discutir pontos de vista para chegar a</p><p>um consenso.</p><p>Período</p><p>operatório</p><p>abstrato</p><p>11 anos em</p><p>diante</p><p>Este período é o início da fase adulta, em termos</p><p>cognitivos, em que o adolescente tem domínio</p><p>do pensamento lógico/dedutivo, relacionando</p><p>conceitos abstratos e criando hipóteses. A partir</p><p>deste período, consegue discutir conceitos antes</p><p>de chegar à conclusão sobre algum assunto.</p><p>Continua organizando-se em grupo, porém</p><p>consegue estabelecer relações de cooperação e</p><p>reciprocidade.</p><p>FONTE: Adaptado de Fernandes (2012), Ferrari (2012), Peterson e Felton-Collins (2002)</p><p>e Munari (2010).</p><p>De acordo com Piaget (apud PETERSON; FELTON-COLLINS, 2002), existem</p><p>quatro fatores que auxiliam a criança a passar de um período para o outro:</p><p>FIGURA 21 – FATORES PARA PASSAR DE UM PERÍODO DO DESENVOLVIMENTO AO OUTRO</p><p>FONTE: A autora</p><p>66</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>A inteligência, segundo Piaget (1996), é um mecanismo de adaptação</p><p>do organismo a uma nova situação proposta pelo meio que o cerca, sempre em</p><p>busca de um equilíbrio. Assim, o desenvolvimento da inteligência ocorre por</p><p>meio de estímulos e exercícios constantes, podendo ser potencializada através de</p><p>intervenções cada vez mais complexas.</p><p>Para Piaget (1982, p. 18), a atividade intelectual não pode ser separada do</p><p>funcionamento "total" do organismo. “Do ponto de vista biológico, a organização</p><p>é inseparável da adaptação: são os dois processos complementares de um</p><p>mecanismo único, sendo o primeiro o aspecto interno do ciclo do qual a adaptação</p><p>constitui o aspecto exterior”, ou seja, a organização, segundo Piaget (1982),</p><p>é a habilidade do indivíduo de integrar as sensações e os estímulos recebidos,</p><p>transformando-os e organizando-os em novas estruturas físicas e psicológicas</p><p>(também chamadas esquemas), aos quais se adapta. Esta adaptação acontece por</p><p>meio da assimilação e da acomodação.</p><p>Vamos falar então da assimilação e da acomodação? A assimilação, de</p><p>acordo com a teoria de Piaget, é a comparação/classificação dos objetos do mundo</p><p>exterior (estímulos) com os esquemas mentais/cognitivos já existentes. Por</p><p>exemplo: a criança possui um esquema mental do que é um peixe: vive na água</p><p>e nada naturalmente, possui escamas, barbatanas, guelras etc. Ao conhecer um</p><p>tubarão, vai tentar comparar com o esquema mental de peixe que já possui: nada,</p><p>vive na água, possui guelras, barbatanas. No entanto, vai verificar que o tubarão</p><p>é um peixe que não tem escamas e, após aprender essa variante, vai adaptar o</p><p>seu conceito geral de peixe, acrescentando a ele os peixes que não têm escama.</p><p>A isto chamamos de acomodação. Para Piaget (1996, p. 18), “[...] chamaremos</p><p>acomodação (por analogia com os "acomodatos" biológicos) toda modificação</p><p>dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores (meio) ao</p><p>quais se aplicam”.</p><p>O que são estes esquemas, de acordo com Piaget? Em sua teoria, os esquemas,</p><p>ou estruturas mentais/cognitivas, são a forma de organização e adaptação do indivíduo ao</p><p>meio. Estes esquemas mudam de forma contínua, por meio das interações com o meio,</p><p>tornando-se cada vez mais complexos. Por exemplo: ao nascer, o indivíduo possui poucos</p><p>esquemas, apenas de reflexo (como vimos anteriormente: sugar, mamar, morder etc.). No</p><p>entanto, à medida que realiza interações com o meio, vai desenvolvendo e aprimorando</p><p>seus esquemas mentais/cognitivos, que, como vimos anteriormente nos períodos de</p><p>desenvolvimento, vão desde a evolução na fala até o desenvolvimento do pensamento</p><p>abstrato, entre outros aspectos.</p><p>IMPORTANTE</p><p>TÓPICO 4 — O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET</p><p>67</p><p>QUADRO 7 – ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO</p><p>PEIXES</p><p>PEIXE TUBARÃO</p><p>CARACTERÍSTICAS COMUNS</p><p>• nadam</p><p>• vivem na água</p><p>• possuem guelras</p><p>• tem barbatanas, etc.</p><p>VARIANTES</p><p>possui escamas</p><p>esqueleto vertebrado</p><p>pele lisa</p><p>esqueleto cartilaginoso</p><p>FONTE: A autora</p><p>Na teoria construtivista, portanto, a acomodação acontece quando a criança</p><p>não possui uma estrutura mental ou cognitiva da nova informação ou estímulo,</p><p>quando não consegue assimilar o que lhe foi apresentado (PIAGET, 1996). A partir</p><p>desta dificuldade, a criança modifica um esquema já existente, como aconteceu no</p><p>exemplo anterior, no qual a criança modificou o seu esquema mental em relação</p><p>ao peixe após ser confrontada com uma variação do que já conhecia, ou cria um</p><p>novo esquema, pelo fato de a informação não corresponder</p><p>a nada que já conheça.</p><p>Após ter acomodado a nova informação, assim que estiver frente a um estímulo</p><p>parecido, fará a assimilação com a nova estrutura mental já criada.</p><p>Podemos perceber, desta forma, que os esquemas, ou estruturas mentais,</p><p>são construídos pouco a pouco, dando lugar às novas acomodações. Para isto,</p><p>passam por um período de equilibração. A teoria da equilibração, de acordo com</p><p>Piaget (1982), é um ponto de equilíbrio no processo de assimilação e acomodação,</p><p>no qual a criança consegue interagir com o meio de forma eficiente. Este equilíbrio</p><p>é necessário porque, se a criança apenas assimilasse os estímulos do meio, possuiria</p><p>poucos esquemas mentais e não seria capaz de reconhecer as diferentes informações.</p><p>Por outro lado, se a criança apenas acomodasse os estímulos recebidos, teria uma</p><p>grande quantidade de esquemas em sua mente, para cada informação um esquema,</p><p>o que impediria a criança de visualizar o todo (PIAGET,1996).</p><p>Bom, agora que já estudamos um pouco da sua teoria, vamos nos ater ao</p><p>que Piaget pensa sobre a escola e o professor.</p><p>4 O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR PARA PIAGET</p><p>Piaget defende que a escola utilize métodos ativos, fruto do trabalho</p><p>espontâneo, orientado por perguntas anteriormente planejadas, frutos do trabalho</p><p>de redescoberta e reconstrução das verdades, sem recebê-las prontas. Segundo ele,</p><p>68</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de</p><p>fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações</p><p>já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A</p><p>segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições</p><p>de criticar, verificar e não aceitar tudo o que a elas se propõe” (PIAGET,</p><p>1982, p. 246).</p><p>Por defender a pesquisa em sala de aula, Piaget é extremamente contra os</p><p>métodos pedagógicos coercivos. Para ele, “[...] no terreno da educação, o exemplo</p><p>deve desempenhar um papel mais importante do que a coerção” (PIAGET, 1948</p><p>apud MUNARI, 2010, p. 17). A escola deveria convidar o aluno a experimentar,</p><p>reconstruindo o que precisa aprender. Para ele, não se aprende apenas vendo o</p><p>professor experimentar, ou realizando exercícios já organizados. “Só se aprende a</p><p>experimentar, tateando, por si mesmo, trabalhando ativamente, ou seja, em liberdade</p><p>e dispondo de todo o tempo necessário” (PIAGET, 1949 apud MUNARI, 2010, p.18).</p><p>As ações educativas deveriam ser ações de estímulo à pesquisa, à</p><p>experimentação. A escola ideal, segundo Piaget (1949 apud MUNARI, 2010), não</p><p>teria livros nem manuais obrigatórios para os alunos, mas obras de referência</p><p>utilizadas de forma livre. Os manuais seriam apenas de uso do professor.</p><p>Como vimos no começo deste tópico, Piaget iniciou seus estudos sobre o</p><p>desenvolvimento da inteligência bem cedo, procurando novos métodos e enfoques,</p><p>confrontando seus estudos com trabalhos científicos da época e dando um grande</p><p>impulso aos debates sobre a educação, o que acontece até os dias de hoje.</p><p>Piaget foi um grande defensor de uma educação ativa, em que a criança</p><p>é agente do seu conhecimento e o constrói progressivamente, por meio da</p><p>experimentação. Esta educação ativa já havia sido defendida por outros estudiosos,</p><p>como Montessori, Freinet, Decroly e Claparède, nos quais Piaget se apoiava.</p><p>FIGURA 22 – PIAGET OBSERVANDO AS CRIANÇAS REALIZANDO ATIVIDADES</p><p>FONTE: <http://f.i.uol.com.br/livraria/capas/images/10258598.jpeg>. Acesso em: 13 jun. 2012.</p><p>Com relação a algumas disciplinas específicas da época, como o ensino</p><p>das ciências naturais, Piaget se posiciona:</p><p>TÓPICO 4 — O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET</p><p>69</p><p>Aqueles que, por profissão, estudam a psicologia das operações</p><p>intelectuais da criança e do adolescente sempre se surpreendem</p><p>com os recursos de que dispõe todo aluno normal, desde que se lhe</p><p>proporcionemos meios de trabalhar ativamente, sem constrangê-</p><p>lo com repetições passivas [...]. Desse ponto de vista, o ensino das</p><p>ciências é a educação ativa da objetividade e dos hábitos de verificação</p><p>(PIAGET, 1952 apud MUNARI, 2010, p. 19).</p><p>Já com relação ao ensino da matemática para os pequenos, dizia ser</p><p>importante proporcionar a eles esquemas de ação nos quais pudessem se basear</p><p>futuramente, já que a criança nesta fase estava mais desenvolvida no aspecto</p><p>sensório-motor do que no da lógica verbal.</p><p>A compreensão matemática não é questão de aptidão da criança. É</p><p>um erro supor que um fracasso em matemática obedeça a uma falta</p><p>de aptidão. A operação matemática deriva da ação: resulta que a</p><p>apresentação intuitiva não basta, a criança deve realizar por si mesma</p><p>a operação manual antes de preparar a operação mental. [...] Em todos</p><p>os domínios da matemática, o qualitativo deve preceder ao numérico</p><p>(PIAGET, 1950 apud MUNARI, 2010, p. 19).</p><p>Além destas duas áreas, ciências naturais e matemática, Piaget defendia</p><p>uma educação ativa, por meio da experimentação, também para outras áreas,</p><p>como a aprendizagem de uma língua, que são menos técnicas. “É necessário</p><p>estabelecer entre as crianças, sobretudo entre os adolescentes, relações sociais,</p><p>apelar para a sua atividade e para a sua responsabilidade” (PIAGET, 1948 apud</p><p>MUNARI, 2010, p. 20).</p><p>Para Piaget (apud MUNARI, 2010) é muito importante que a pedagogia</p><p>parta do conhecimento do aluno, ou seja, do que a criança já conhece.</p><p>A pedagogia é uma arte, enquanto que a psicologia é uma ciência; mas</p><p>se a arte de educar supõe atitudes inatas insubstituíveis, ela requer</p><p>ser desenvolvida por meio dos conhecimentos necessários sobre o ser</p><p>humano que se educa (PIAGET,1948 apud MUNARI, 2010, p. 20).</p><p>Levar em consideração o que a criança já sabe é de suma importância</p><p>para o professor. Este conhecimento prévio é o passo inicial para a construção de</p><p>um novo conhecimento, em que a criança elabora novas estruturas mentais ou</p><p>reconfigura as já existentes. A pedagogia reflexiva, proposta por Piaget, faz com</p><p>que a criança reflita o novo conteúdo, e não que apenas o aceite sem questionar.</p><p>Este novo conteúdo torna-se significativo e amplia o conhecimento prévio da</p><p>criança, tornando-o mais complexo.</p><p>De que forma o professor pode verificar os conhecimentos prévios dos</p><p>seus alunos? Como você, caro acadêmico, faria esta sondagem? Que estratégias</p><p>utilizaria? Bem, em um primeiro momento imaginamos que você deva ter</p><p>pensado: “conversaria com as crianças”. No entanto, será que esta é a melhor</p><p>forma de verificar o conhecimento prévio do seu aluno na proposta de Piaget?</p><p>70</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Lembre-se de que Piaget não está necessariamente preocupado com a</p><p>aprendizagem dos conteúdos e, sim, com o processo de desenvolvimento da</p><p>inteligência da criança. Por isto, devemos avaliar em que fase do desenvolvimento</p><p>a criança se encontra e se o conteúdo a ser ensinado trará algo que a criança ainda</p><p>não conhece.</p><p>A melhor forma de realizar este levantamento é propor desafios,</p><p>situações-problema, que obriguem a criança a utilizar o conhecimento que possui</p><p>para resolvê-los. Para Piaget, a inteligência só é possível de ser desenvolvida</p><p>porque existem os conhecimentos prévios que podem ser ampliados. É assim</p><p>que todos nós nos desenvolvemos. Cada novo conhecimento é agregado e passa</p><p>a tornar-se conhecimento prévio quando tivermos um novo desafio pela frente.</p><p>Nossas estruturas mentais se modificam, se reestruturam para que possamos</p><p>compreender a nova realidade.</p><p>Piaget não deu receitas prontas, não criou nenhum manual de didática para</p><p>os professores, mas demonstrou que cada fase do desenvolvimento da criança,</p><p>com características específicas, apresenta novas possibilidades de conhecimento,</p><p>de aperfeiçoamento, fazendo com que o professor perceba quais estímulos poderá</p><p>utilizar a fim de favorecer da melhor forma este desenvolvimento. De acordo com</p><p>Lima (1980, p. 131),</p><p>Aceitar o ponto de vista de Piaget, portanto, provocará turbulenta</p><p>revolução no processo escolar.</p><p>34</p><p>AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 35</p><p>TÓPICO 3 — A PEDAGOGIA FREINET ......................................................................................... 37</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 37</p><p>2 CÉLESTIN FREINET (1886-1966) .................................................................................................... 37</p><p>3 A PEDAGOGIA FREINET ............................................................................................................... 40</p><p>4 METODOLOGIA ............................................................................................................................... 46</p><p>5 PAPEL DO PROFESSOR NA PEDAGOGIA FREINET ............................................................. 51</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 56</p><p>AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 58</p><p>TÓPICO 4 — O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET ...................................................................... 59</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 59</p><p>2 JEAN WILLIAM FRITZ PIAGET (1896-1980)............................................................................... 59</p><p>3 A TEORIA CONSTRUTIVISTA DE PIAGET .............................................................................. 62</p><p>4 O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR PARA PIAGET .................................................... 67</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 71</p><p>AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 72</p><p>TÓPICO 5 — O SOCIOINTERACIONISMO DE VIGOTSKI .................................................... 73</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73</p><p>2 LEV SEMYNOVITCH VIGOTSKI (1896-1934) ............................................................................ 73</p><p>3 A TEORIA SOCIOINTERACIONISTA DE VIGOTSKI ............................................................ 76</p><p>4 O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR PARA VIGOTSKI ............................................... 82</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 84</p><p>RESUMO DO TÓPICO 5..................................................................................................................... 87</p><p>AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89</p><p>REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 90</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL:</p><p>ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS ............................................. 93</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES</p><p>FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................. 95</p><p>1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95</p><p>2 ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE 0 A 1 ANO DE IDADE ............. 95</p><p>2.1 SALA DE REPOUSO .................................................................................................................... 96</p><p>2.2 SALA DE ATIVIDADES ............................................................................................................... 97</p><p>2.3 FRALDÁRIO ................................................................................................................................ 101</p><p>2.4 LACTÁRIO .................................................................................................................................. 102</p><p>2.5 SOLÁRIO ..................................................................................................................................... 103</p><p>3 ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE UM A SEIS ANOS .................. 103</p><p>3.1 SALA DE ATIVIDADES ............................................................................................................. 105</p><p>3.2 SALA MULTIUSO OU BRINQUEDOTECA ........................................................................... 112</p><p>3.3 REFEITÓRIO................................................................................................................................ 113</p><p>3.4 BANHEIROS................................................................................................................................ 114</p><p>3.5 PÁTIO COBERTO ....................................................................................................................... 114</p><p>3.6 ÁREA EXTERNA ........................................................................................................................ 115</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 117</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 118</p><p>TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA</p><p>EDUCAÇÃO INFANTIL .......................................................................................... 119</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119</p><p>2 A ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DA ROTINA ..................................................................... 119</p><p>3 ROTINA E PLANEJAMENTO: O PAPEL DO PROFESSOR .................................................. 124</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 137</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 138</p><p>TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE</p><p>DA CRIANÇA ............................................................................................................ 141</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 141</p><p>2 O DESENVOLVIMENTO DA INDEPENDÊNCIA NA APRENDIZAGEM ........................ 142</p><p>3 A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA, SEGUNDO PAULO FREIRE ...................................... 145</p><p>4 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ........................................................................................ 154</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 158</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 159</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR</p><p>(BNCC) ................................................................................................................................................. 161</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 161</p><p>2 DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO</p><p>INFANTIL ..........................................................................................................................................</p><p>[...] Quem quiser segui-lo tem de</p><p>modificar, fundamentalmente, comportamentos consagrados,</p><p>milenarmente (aliás, é assim que age a ciência, e a pedagogia começa</p><p>a tornar-se uma arte apoiada, estritamente, nas ciências biológicas,</p><p>psicológicas e sociológicas). Onde houver um professor ‘ensinando’</p><p>[...] aí não está havendo uma escola piagetiana.</p><p>Você está disposto a ser um professor diferente?</p><p>71</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896, na Suíça e sempre foi um grande observador.</p><p>Formou-se em biologia e foi professor universitário durante 25 anos.</p><p>• Boa parte da sua pesquisa veio da observação das etapas do desenvolvimento</p><p>dos seus próprios filhos.</p><p>• Piaget não foi um pedagogo, mas sua pesquisa sobre o processo de aquisição</p><p>do conhecimento da criança trouxe diversas contribuições para a educação.</p><p>• Piaget identificou que o desenvolvimento ocorre em quatro períodos: sensório-</p><p>motor (de zero a dois anos); pré-operatório (de dois a sete anos); operatório-</p><p>concreto (de oito a onze anos) e operatório-formal (de doze a quatorze anos).</p><p>• Existem quatro fatores que ajudam a criança a passar de um período de</p><p>desenvolvimento para outro: o amadurecimento; a experiência; a interação</p><p>social; e o equilíbrio.</p><p>• A organização (aspecto interno) e a adaptação (aspecto externo) são</p><p>inseparáveis.</p><p>• A assimilação é a comparação do mundo exterior com os esquemas mentais</p><p>já existentes.</p><p>• A acomodação é toda modificação dos esquemas de assimilação (estruturas</p><p>mentais), sob a influência do meio.</p><p>• A teoria da equilibração é um ponto de equilíbrio entre o processo de</p><p>assimilação e acomodação.</p><p>• Piaget é contra os métodos educativos coercivos. Para ele, o exemplo é mais</p><p>importante.</p><p>• Não se aprende apenas vendo o professor experimentar, a criança precisa</p><p>experimentar também, ser ativa no processo de aprendizagem.</p><p>• A educação deve partir do conhecimento do aluno.</p><p>72</p><p>1 Qual é o nome da teoria de Piaget?</p><p>2 Descreva de forma breve três dos principais conceitos desta teoria.</p><p>3 Cite dois aspectos importantes da educação para Piaget:</p><p>4 De acordo com Piaget, o desenvolvimento ocorre em quatro períodos,</p><p>assinale a alternativa que representa o período operatório formal, de acordo</p><p>com a idade correspondente:</p><p>a) ( ) 8-11 anos.</p><p>b) ( ) 12-14 anos.</p><p>c) ( ) 2-7 anos.</p><p>d) ( ) 0-2 anos.</p><p>5 Existem quatro fatores que ajudam a criança a passar de um período de</p><p>desenvolvimento para outro. Assinale a alternativa que os apresente</p><p>corretamente:</p><p>a) ( ) A linguagem, a família, a escola e a experiência de vida.</p><p>b) ( ) O amadurecimento, a experiência, a interação social e o equilíbrio.</p><p>c) ( ) A idade, a escola, os amigos e a família.</p><p>d) ( ) A autonomia, a independência, a maturidade e a experiência.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>73</p><p>TÓPICO 5 —</p><p>UNIDADE 1</p><p>O SOCIOINTERACIONISMO DE VIGOTSKI</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Com certeza você já ouviu falar muito de Vigotski e do sociointeracionismo,</p><p>não é mesmo? Logo nas primeiras disciplinas do seu curso – Psicologia Geral e do</p><p>Desenvolvimento e Psicologia da Educação e Aprendizagem –, você já estudou</p><p>ele e sua teoria. Você se lembra?</p><p>Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas</p><p>atividades adquirem um significado próprio em um sistema de</p><p>comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos, são</p><p>refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do</p><p>objeto até a criança e dessa até o objeto passa através de outra pessoa.</p><p>Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de</p><p>desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história</p><p>individual e história social (VIGOTSKI, 1991, p. 33).</p><p>De qualquer forma, neste tópico conheceremos um pouco mais sobre a</p><p>sua história de vida e os conceitos básicos de sua teoria para a educação, como:</p><p>zona de desenvolvimento proximal, mediação, relação entre desenvolvimento e</p><p>aprendizagem, entre outros. Também veremos como Vigotski percebe o papel da</p><p>escola e do professor em sua teoria.</p><p>E então, preparado para aprofundar seus conhecimentos sobre Vigotski?</p><p>2 LEV SEMYNOVITCH VIGOTSKI (1896-1934)</p><p>Para explanar sobre a vida de Vigotski, vamos utilizar como base os</p><p>escritos de Veer e Valsiner (2001) e Rego (2004).</p><p>Lev Semynovich Vigotski nasceu em novembro de 1896, na cidade de Orsha,</p><p>na Rússia (na época, União Soviética). Era o segundo filho (de um total de oito) de</p><p>uma família judaica que possuía boas condições financeiras e proporcionou a todos</p><p>os filhos uma excelente educação.</p><p>74</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>FIGURA 23 – VIGOTSKI</p><p>FONTE: <https://sitepsicologia.webnode.com/_files/200000026-66251671e8/Vygotsky4.jpg>.</p><p>Acesso em: 12 fev. 2012.</p><p>Em sua juventude, seus passatempos favoritos eram as coleções de</p><p>correspondências em esperanto, de selos e de xadrez. “Vigotski participava</p><p>ativamente, junto com um círculo de amigos, de discussões de assuntos altamente</p><p>abstratos, como a filosofia da história de Hegel e o papel do indivíduo na história”</p><p>(VEER; VALSINER, 2001, p. 18). Também foi um admirador da poesia e dos</p><p>teatros locais da época.</p><p>Sua educação inicial foi com professores particulares. Mais tarde, frequentou</p><p>turmas mais adiantadas (do antigo Ginásio) em uma escola judaica particular de</p><p>Gomel, onde se graduou com medalha de ouro em 1913. Entre 1914 e 1917, estudou</p><p>Direito e Literatura na Universidade de Moscou. Nesta época, os interesses de</p><p>Vigotski ampliaram-se para os problemas da psicologia e da pedagogia.</p><p>Você sabe o que é o esperanto?</p><p>O esperanto é uma língua auxiliar de comunicação internacional, criada em 1887 pelo</p><p>médico e linguista judeu-polonês Dr. Lázaro Luís Zamenhof. É amplamente usado nos</p><p>protocolos de conversação e em fóruns na internet. É uma língua internacional e neutra,</p><p>que não pertence a nenhuma nação. É conhecida pela facilidade de aprendizagem, seja</p><p>pela gramática regular e sem exceções, seja pelos radicais colhidos do latim e das línguas</p><p>mais faladas no Ocidente. A proposta do esperanto é que cada povo continue a falar sua</p><p>própria língua materna, mas que use o idioma neutro nas comunicações internacionais.</p><p>FONTE: http://esperanto.org.br/info/index.php/18-disvastigado/490-como-o-esperanto-surgiu.</p><p>Acesso em: 27 de maio. 2021.</p><p>NOTA</p><p>TÓPICO 5 — O SOCIOINTERACIONISMO DE VIGOTSKI</p><p>75</p><p>Entre 1917 e 1924, lecionou em vários institutos, como a Escola Noturna</p><p>para Trabalhadores Adultos, os Cursos Preparatórios para Pedagogos, a Escola</p><p>Trabalhista Soviética e o Colégio Pedagógico.</p><p>Este último viria a desempenhar um papel importante no</p><p>desenvolvimento de Vigotski como cientista, pois foi aí que ele</p><p>montou um pequeno laboratório psicológico no qual os alunos podiam</p><p>fazer investigações práticas simples. Nesse laboratório, realizou</p><p>suas primeiras experiências sobre reações dominantes e respiração,</p><p>que proporcionaram o material para sua primeira palestra sobre</p><p>investigação reflexológica e psicológica [...]. Enquanto trabalhava</p><p>no Colégio Pedagógico de Gomel, também começou a preparar um</p><p>de seus primeiros livros importantes: Psicologia Pedagógica (VEER;</p><p>VALSINER, 2001, p. 22).</p><p>Vigotski fundou, junto ao seu amigo Dobkin e seu primo David, a editora</p><p>Eras e Dias (que publicou apenas dois livros), e a revista literária Urze (também</p><p>de vida curta). Nesta mesma época, chefiou a seção de teatro do Departamento de</p><p>Educação Popular, em Gomel. Em 1920, Vigotski e sua família foram acometidas</p><p>pela tuberculose, e um de seus irmãos faleceu devido à doença. Vigotski conseguiu</p><p>recuperar-se, porém, pelo restante de sua vida, sofreu com as consequências da</p><p>doença, resultando na sua morte em 1934.</p><p>Em 1924, casou-se com Roza Smekhova (com a qual teve duas filhas)</p><p>e mudou-se para Moscou, onde foi trabalhar no Instituto de Psicologia</p><p>Experimental de Karnilov. Nos últimos anos de sua vida morou com sua mulher</p><p>e seus filhos num quarto de um apartamento lotado. “Para ganhar seu sustento,</p><p>Vigotski assumiu uma quantidade enorme</p><p>de trabalhos editoriais para editoras</p><p>e uma pesada carga de aulas que envolviam viagens constantes entre Moscou,</p><p>Leningrado e Kharkov” (VEER; VALSINER, 2001, p. 25).</p><p>FIGURA 24 – VIGOTSKI E SUA FILHA EM 1932</p><p>FONTE: https://novaescola.org.br/conteudo/244/vygotsky-conceito-pensamento-verbal>. Aces-</p><p>so em: 27 maio. 2021.</p><p>76</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Na manhã de 11 de junho de 1934, após ter sofrido por diversos dias com</p><p>hemorragias decorrentes da tuberculose, Vigotski faleceu aos 38 anos.</p><p>Apesar de Vigotski e Piaget terem nascido no mesmo ano e viverem</p><p>na mesma época, e suas teorias terem vários pontos parecidos, eles não se</p><p>conheceram. Piaget só conheceu as obras de Vigotski por volta de 1960, quando</p><p>estas chegaram ao Ocidente, e lamentou não terem se conhecido.</p><p>No Brasil, a teoria de Vigotski é estudada há aproximadamente quatro</p><p>décadas, já que suas obras chegaram aqui apenas em meados da década de</p><p>1980. Apesar de não ter elaborado uma teoria pedagógica, suas ideias trouxeram</p><p>diversas contribuições para a educação, principalmente no que diz respeito ao</p><p>processo de aprendizagem.</p><p>3 A TEORIA SOCIOINTERACIONISTA DE VIGOTSKI</p><p>A teoria de Vigotski é bastante complexa e ainda pouco conhecida, já</p><p>que poucas de suas obras foram traduzidas para o português. Também pode ser</p><p>considerada incompleta, já que, por causa da sua doença, não conseguiu concluir</p><p>algumas pesquisas, apenas lançou ideias e conceitos que não chegaram a ser</p><p>desenvolvidos por ele. No entanto, sua obra é tão intensa e, como já dissemos,</p><p>complexa, que optamos por tratar aqui apenas dos conceitos básicos e mais</p><p>utilizados na educação:</p><p>Dica de filme: Coleção Grandes Educadores – Lev Vigotski.</p><p>Sinopse: Lev Vigotski se preocupa em entender o funcionamento psicológico do ser</p><p>humano, integrando aspectos biológicos e culturais. Com relação à educação, a teoria</p><p>de Vigotski enfatiza o papel da aprendizagem no desenvolvimento humano, valorizando</p><p>a escola, o professor e a intervenção pedagógica. Talvez por isso, suas ideias têm tido</p><p>tanta repercussão entre os educadores do Ocidente, apesar de sua distância no tempo</p><p>e espaço (viveu na antiga União Soviética e morreu há mais de 60 anos). A produção de</p><p>Vigotski foi vasta: escreveu cerca de 200 trabalhos científicos que foram pontos de partida</p><p>para inúmeros projetos de pesquisa posteriores, desenvolvidos por seus colaboradores e</p><p>seguidores, e ainda centrais na agenda de psicologia da educação contemporânea.</p><p>FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=fGH2f_pADvol>. Acesso em: 27 maio. 2021.</p><p>DICAS</p><p>TÓPICO 5 — O SOCIOINTERACIONISMO DE VIGOTSKI</p><p>77</p><p>FIGURA 25 – CONCEITOS BÁSICOS DO SOCIOINTERACIONISMO</p><p>FONTE: A autora</p><p>Para Vigotski, a aquisição dos conhecimentos só acontece por meio da</p><p>interação social/cultural da criança com o meio e de forma mediada. “No trabalho</p><p>de Vigotski, verifica-se uma visão de desenvolvimento baseada na concepção</p><p>de um organismo ativo, cujo pensamento é construído gradativamente num</p><p>ambiente que é histórico e social” (RODRIGUERO, 2000, p. 101).</p><p>É por meio das interações com o meio social que a criança se desenvolve.</p><p>Com o auxílio dos adultos, as crianças passam a assimilar habilidades básicas,</p><p>como sentar, falar, andar, comer com talheres, tomar água no copo etc. Por</p><p>meio das interações constantes com o adulto ou crianças mais experientes, vai</p><p>desenvolvendo processos psicológicos mais complexos (REGO, 2004).</p><p>Desde o nascimento, o bebê está em constante interação com os adultos,</p><p>que não só asseguram sua sobrevivência, mas também medeiam sua</p><p>relação com o mundo. Os adultos procuram incorporar as crianças à sua</p><p>cultura, atribuindo significado às condutas e aos objetos culturais que</p><p>se formaram ao longo da história. O comportamento da criança recebe</p><p>influências dos costumes e objetos de sua cultura [...] (REGO, 2004, p. 59).</p><p>E então, você consegue imaginar como a falta de um ambiente social e</p><p>humanizado influencia no comportamento do ser humano? Já leu a lenda de</p><p>Amala e Kamala, as meninas lobo? Fica aí a nossa dica!</p><p>O desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto</p><p>sociocultural em que a pessoa se insere e se processa de forma dinâmica</p><p>(e dialética) através de rupturas e equilíbrios provocadores de contínuas</p><p>reorganizações por parte do indivíduo” (REGO, 2004, p. 58).</p><p>78</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Desta forma, a cultura é que fornece à criança os elementos simbólicos de</p><p>representação da realidade, permitindo que ela construa a sua interpretação do</p><p>mundo real que a rodeia. Esta interpretação é mediada, só se constrói na presença</p><p>do outro. Este outro pode ser tanto o homem, quanto os objetos que a rodeiam,</p><p>como ferramentas, signos (em especial a linguagem), técnicas culturais etc. Vigotski</p><p>ressalta a importância de dois elementos básicos no processo de mediação:</p><p>QUADRO 8 – INSTRUMENTO E SIGNO</p><p>INSTRUMENTO SIGNO</p><p>Tem a função de regular as</p><p>ações sobre os objetos. Regula as ações sobre o psiquismo das pessoas.</p><p>O instrumento, ou ferramenta,</p><p>é o meio pelo qual o homem</p><p>aperfeiçoou a sua relação com</p><p>o trabalho, na transformação</p><p>da natureza</p><p>Ex.: Lembrar, comparar, relatar etc. Com o</p><p>auxílio dos signos, o homem passa a controlar</p><p>sua atividade psicológica, ampliando sua</p><p>atenção, sua memória e a possibilidade de</p><p>acúmulo de informações.</p><p>Desta forma, o instrumento</p><p>provoca mudanças externas,</p><p>ampliando a possibilidade</p><p>de intervenção do homem</p><p>na natureza. Ex.: trator, faca,</p><p>computador etc</p><p>Um importante sistema simbólico que o homem</p><p>utiliza para organizar os signos, e que foi fonte</p><p>de diversos estudos de Vigotski, foi a linguagem.</p><p>Por meio da linguagem o homem designa os</p><p>objetos do mundo exterior (faca - serve para se</p><p>alimentar);estipula ações (serve para cortar);</p><p>insere qualidades (lisa, cortante) e faz relações</p><p>com os objetos (está próxima, abaixo etc.).</p><p>FONTE: Adaptado de Rego (2004)</p><p>É assim que, por meio dos signos e instrumentos, o ser humano vai</p><p>interagindo com os outros. Por meio da troca com os outros e consigo mesmo,</p><p>vai internalizando o conhecimento e formando a sua consciência. Por isto, pode-</p><p>se dizer que a criança não é apenas ativa, mas interativa, pois constrói o seu</p><p>conhecimento por meio das relações inter e intrapessoais.</p><p>Todas as funções psicointelectuais superiores aparecem duas vezes no</p><p>decurso do desenvolvimento da criança: a primeira vez, nas atividades</p><p>coletivas, nas atividades sociais, ou seja, como funções interpsíquicas;</p><p>a segunda, nas atividades individuais, como propriedades internas</p><p>do pensamento da criança, ou seja, como funções intrapsíquicas</p><p>(VIGOTSKI, 1988, p. 114, grifos no original).</p><p>Desta forma, o processo de internalização, por parte da criança, nas</p><p>interações que estabelece com o meio, envolve processos específicos como:</p><p>DIFERENTES MODOS</p><p>DE PARTICIPAÇÃOSIGNIFICAÇÃO APROPRIAÇÃO</p><p>TÓPICO 5 — O SOCIOINTERACIONISMO DE VIGOTSKI</p><p>79</p><p>Nesse sentido, de acordo com Sarmento, Rapoport e Fossati (2008, p.</p><p>34), “[...] assim como o desenvolvimento das funções psicológicas superiores</p><p>acontecem no bojo da cultura, das práticas sociais, também o psiquismo humano</p><p>se constrói a partir das relações sociais que o ser humano vai estabelecendo no</p><p>decorrer de sua vida”.</p><p>De acordo com Vigotski, existem ao menos dois níveis de desenvolvimento:</p><p>QUADRO 9 – NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO</p><p>REAL POTENCIAL</p><p>O desenvolvimento real é tudo</p><p>aquilo que a criança consegue</p><p>realizar sozinha, sem a ajuda</p><p>de ninguém, pois já possui um</p><p>conhecimento consolidado a</p><p>respeito do assunto.</p><p>Ex.: Saber andar de bicicleta,</p><p>recortar, resolver um problema</p><p>etc.</p><p>O desenvolvimento potencial é quando a criança</p><p>consegue realizar tarefas mais complexas, por</p><p>instrução ou auxílio de um adulto, ou pela</p><p>interação com as outras crianças.</p><p>Ex.: Uma criança de cinco anos pode não</p><p>conseguir montar sozinha um quebra-cabeças</p><p>que tenha muitas peças, mas com a assistência de</p><p>seu</p><p>irmão mais velho ou mesmo de uma criança</p><p>de sua idade, mas que já tenha experiência neste</p><p>jogo, pode realizar a tarefa.</p><p>FONTE: Adaptado de Rego (2004), Salvador (2006), Davis e Oliveira (1994), Sarmento,</p><p>Rapoport e Fossati (2008)</p><p>De acordo com Vigotski (1991), a distância entre o que a criança já sabe</p><p>fazer de forma autônoma (zona de desenvolvimento real) e o que consegue</p><p>realizar com a ajuda dos outros (zona de desenvolvimento potencial), é o que</p><p>chamou de Zona do Desenvolvimento Proximal (ZDP).</p><p>[...] a zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções</p><p>que ainda não amadureceram, que estão em processo de maturação,</p><p>funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado</p><p>embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de “brotos” ou</p><p>“flores” do desenvolvimento, ao invés de “frutos” do desenvolvimento</p><p>(VIGOTSKI, 1991, p. 97).</p><p>No entanto, devem os levar em consideração que, de acordo com Vigotski,</p><p>a Zona de Desenvolvimento Proximal não é algo intrínseco da criança, ela ocorre</p><p>durante o processo de interação social.</p><p>Retomando um pouco a teoria de Piaget, que vimos no tópico anterior,</p><p>percebemos que na teoria construtivista, o processo de aprendizagem depende</p><p>do estágio do desenvolvimento em que a criança se encontra. Assim, o papel do</p><p>professor seria o de identificar em qual estágio do desenvolvimento a criança se</p><p>encontra e, a partir dali, programar a aprendizagem da criança de acordo com o</p><p>que ela é capaz de fazer naquele momento.</p><p>80</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Já no sociointeracionismo de Vigotski, é o aprendizado que possibilita,</p><p>orienta e estimula os processos de desenvolvimento, ou seja, a aprendizagem</p><p>vem antes do desenvolvimento. Para Vigotski (1991):</p><p>• O desenvolvimento das bases psicológicas para o aprendizado de matérias</p><p>básicas não vem antes do aprendizado, mas se desenvolve em uma interação</p><p>contínua com as suas contribuições.</p><p>• O aprendizado precede o desenvolvimento em muitas áreas.</p><p>• O aprendizado de uma matéria influencia o desenvolvimento das funções</p><p>superiores para além dos limites da matéria específica.</p><p>É na Zona de Desenvolvimento Proximal, de acordo com Vigotski, que a</p><p>aprendizagem vai ocorrer. Neste sentido, o papel do professor é o de favorecer</p><p>esta aprendizagem, mediando a criança em sua relação com o meio. Temos,</p><p>assim, um processo interativo entre aprendizagem e desenvolvimento, que ocorre</p><p>em um contexto cultural, desenvolvendo-se com o auxílio dos mecanismos de</p><p>aprendizagem propostos pelo mediador (professor ou outra criança).</p><p>Por isto, é importante que o professor inove a sua prática, procurando</p><p>compreender a realidade sociocultural das suas crianças, a fim de que a</p><p>educação se torne realmente significativa e construtiva, levando a criança ao</p><p>desenvolvimento consciente da sua autonomia social. Com relação à tomada de</p><p>consciência, Vigotski afirma que a relação da criança com a natureza e com outras</p><p>crianças no nível da consciência, acontece de forma natural e espontânea. Somente</p><p>aos poucos é que ela vai tomando consciência da consciência que já possui e, aos</p><p>poucos, vai compreendendo seus atos sobre o meio que a cerca. A partir deste</p><p>momento, os atos da criança deixam de ser espontâneos e passam a ser sociais e</p><p>históricos. Para Vigotski (1991), a autoconsciência é o estado supremo do homem.</p><p>Para Vigotski, não apenas o ensino sistematizado (disciplinas escolares)</p><p>é responsável pela ampliação do conhecimento na Zona de Desenvolvimento</p><p>Proximal, mas também o brinquedo. Para Vigotski (1991), porém, o papel do</p><p>brinquedo não é o de proporcionar prazer para a criança, já que outras atividades</p><p>como chupar o bico são muito mais prazerosas, e o fato de nem sempre ganhar</p><p>traz frustração e descontentamento para a criança. Assim, a função primordial do</p><p>brinquedo é satisfazer algumas necessidades das crianças.</p><p>No início da idade pré-escolar, quando surgem os desejos que não</p><p>podem ser imediatamente satisfeitos ou esquecidos e permanece</p><p>ainda a característica do estágio precedente de uma tendência para a</p><p>satisfação imediata dos desejos, o comportamento da criança muda.</p><p>Para resolver essa tensão, a criança em idade pré-escolar envolve-se</p><p>num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis</p><p>podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos debrinquedo</p><p>(VIGOTSKI, 1991, p. 106).</p><p>Desta forma, é por meio do brinquedo que a criança aprende a agir de</p><p>forma cognitiva, satisfazendo suas necessidades não apenas pelo que lhe é externo,</p><p>mas por meio das motivações internas. Assim, para Vigotski (1991), a criança</p><p>TÓPICO 5 — O SOCIOINTERACIONISMO DE VIGOTSKI</p><p>81</p><p>começa a agir independente daquilo que vê. Desta forma, não é o brinquedo em</p><p>si que a satisfaz e, sim, a situação imaginária através da qual a criança atribui</p><p>significados. “O papel e a situação imaginária são fundamentais na atividade</p><p>lúdica, pois através deles ocorre uma reestruturação radical das ações da criança</p><p>e dos significados com os quais ela atua” (SARMENTO; RAPOPORT; FOSSATI,</p><p>2008, p. 40).</p><p>Vigotski acrescenta a esta relação a presença de regras. “[...] não existe</p><p>brinquedo sem regras. A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo</p><p>já contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras</p><p>formais estabelecidas [...]”. (VIGOTSKI, 1991, p. 108).</p><p>Assim, ao esforçar-se em desempenhar corretamente o que observa, a</p><p>criança atua em um nível superior ao que se encontra no momento.“No brinquedo,</p><p>a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade,</p><p>além de seu comportamento diário: no brinquedo é como se ela fosse maior do</p><p>que é na realidade”. (VIGOTSKI, 1991, p. 117).</p><p>Desta forma, segundo Rego (2004), mesmo que exista uma distância entre</p><p>o comportamento real da criança e o seu comportamento por meio do brinquedo,</p><p>sua atuação no mundo imaginário, por meio de regras estabelecidas, criam uma</p><p>Zona de Desenvolvimento Proximal, impulsionando conceitos e processos de</p><p>desenvolvimento.</p><p>Vamos conhecer um pouco mais sobre a teoria de Vigotski? Veja nossa</p><p>indicação de livros que tratam sobre a teoria de Vigotski:</p><p>• SMOLKA, A. L. B.; GÓES, M. C. R. de (Org.). A linguagem e o outro no espaço escolar:</p><p>Vigotski e a construção do conhecimento. Campinas: Papirus, 1994.</p><p>• RATNER, C. A psicologia sócio-histórica de Vigotski: aplicações contemporâneas. Porto</p><p>Alegre: ARTMED, 1995.</p><p>Veja, também, a indicação de livros escritos por Vigotski:</p><p>• VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins</p><p>Fontes, 2009.</p><p>• VIGOTSKI, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1999.</p><p>• VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.</p><p>• VIGOTSKI, L. S.; LEONTIEF, A. N.; LURIA, A. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem.</p><p>São Paulo: Martins Fontes, 2012.</p><p>DICAS</p><p>82</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>4 O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR PARA VIGOTSKI</p><p>Para Vigotski, a educação não deve ficar esperando o desenvolvimento</p><p>intelectual da criança e sim estimulá-la, para que, quanto mais aprenda, mais se</p><p>desenvolva mentalmente. Lembre-se de que, para Vigotski, a aprendizagem vem</p><p>antes do desenvolvimento, sendo assim, quanto mais a criança aprender, mais se</p><p>desenvolverá.</p><p>Vigotski “[...] chama a atenção para o fato de que a escola, por oferecer</p><p>conteúdos e desenvolver modalidades de pensamento bastante específicas, tem</p><p>um papel diferente e insubstituível, na apropriação pelo sujeito da experiência</p><p>culturalmente acumulada” (REGO, 2004, p. 104). Por isto, para ele, a escola não</p><p>pode se limitar ao que a criança já sabe, às etapas intelectuais que já alcançou e,</p><p>sim, conduzi-la para novos estágios de desenvolvimento, que a criança ainda não</p><p>incorporou. No próprio brinquedo, como vimos anteriormente, a criança procura</p><p>atuar em relação àquilo que ainda não é, mas que virá a ser. Então a educação</p><p>não pode apenas se propor a lhe</p><p>oferecer o que ela já conhece. Deve, sim, propor</p><p>desafios e estimulá-la a ir mais longe.</p><p>A escola desempenhará bem seu papel, na medida em que, partindo</p><p>daquilo que a criança já sabe (o conhecimento que ela traz de seu</p><p>cotidiano, suas ideias a respeito dos objetos, fatos e fenômenos, sua</p><p>“teorias” acerca do que observa no mundo), ela for capaz de ampliar</p><p>e desafiar a construção de novos conhecimentos, na linguagem</p><p>vygotskiana, incidir na zona de desenvolvimento potencial dos</p><p>educandos. Desta forma poderá estimular processos internos que</p><p>acabarão por se efetivar, passando a constituir a base que possibilitará</p><p>novas aprendizagens (REGO, 2004, p. 108).</p><p>O papel do professor, portanto, é o de interferir na zona de desenvolvimento</p><p>proximal de seus alunos, a fim de provocar avanços que não ocorreriam de forma</p><p>espontânea. A Zona de Desenvolvimento Proximal é onde a escola e o professor</p><p>devem atuar. É entre a Zona de Desenvolvimento Real e a Zona de Desenvolvimento</p><p>Potencial que o professor deve agir, como mediador, intervindo na aprendizagem</p><p>do aluno, para que ele se desenvolva. Segundo Rego (2004, p. 110):</p><p>O paradigma esboçado sugere, assim, um redimensionamento do valor</p><p>das interações sociais (entre os alunos e o professor e entre as crianças)</p><p>no contexto escolar. Essas passam a ser entendidas como condição</p><p>necessária para a produção de conhecimentos por parte dos alunos,</p><p>particularmente aquelas que permitam o diálogo, a cooperação e troca</p><p>de informações mútuas, o confronto de pontos de vista divergentes e que</p><p>implicam a divisão de tarefas onde cada um tem uma responsabilidade</p><p>que, somadas, resultarão no alcance de um objetivo comum. Cabe,</p><p>portanto, ao professor não somente permitir que elas ocorram, como</p><p>também promovê-las no cotidiano das salas de aula.</p><p>Para Vigotski (1991), a escola é o local onde, intencionalmente, a intervenção</p><p>pedagógica faz acontecer o processo ensino-aprendizagem. O objetivo da escola,</p><p>portanto, é fazer com que os conceitos espontâneos da criança, de senso comum,</p><p>TÓPICO 5 — O SOCIOINTERACIONISMO DE VIGOTSKI</p><p>83</p><p>transformem-se em conhecimentos científicos, através da mediação e da interação.</p><p>Nesta teoria, a criança não é apenas sujeito da aprendizagem e, sim, aquela que</p><p>aprende os valores, a linguagem e o próprio conhecimento, com o outro.</p><p>FIGURA 26 – CRIANÇA INTERAGINDO COM O OUTRO</p><p>FONTE: <http://cidadedaesperanca.wordpress.com/2010/02/>. Acesso em: 5 abr. 2021.</p><p>É por isto que a escola necessita ser um local privilegiado de interações,</p><p>de diálogo, de transformação. A escola precisa proporcionar e estimular o</p><p>desenvolvimento de todo o potencial da criança.</p><p>Os postulados de Vigotski parecem apontar para a necessidade de</p><p>criação de uma escola bem diferente da que conhecemos. Uma escola</p><p>em que as pessoas possam dialogar, duvidar, discutir, questionar e</p><p>compartilhar saberes. Onde há espaço para transformações, para</p><p>as diferenças, para o erro, para as contradições, para a colaboração</p><p>mútua e para a criatividade. Uma escola em que professores e alunos</p><p>tenham autonomia, possam pensar, refletir o seu próprio processo de</p><p>construção de conhecimentos e ter acesso a novas informações. Uma</p><p>escola em que o conhecimento já sistematizado não é tratado de forma</p><p>dogmática e esvaziado de significado (REGO, 2004, p. 118).</p><p>E então, vai ficar esperando para que esta nova escola surja? Que tal</p><p>modificar a sua prática, a fim de tornar a aprendizagem mais significativa? Se</p><p>você ainda não é professor, reflita: qual forma você considera ser a melhor para</p><p>ser um professor? Será que ela é mesmo a melhor e única forma de lecionar?</p><p>Pense nas teorias apresentadas até agora. Reflita o tipo de professor que você</p><p>quer ser, o tipo de aluno que quer formar. Não se esqueça: depende de você fazer</p><p>a diferença para aquela criança que está em sala de aula. Comece agora, é só dar</p><p>o primeiro passo!</p><p>Para complementar os seus estudos neste tópico, vamos conhecer um</p><p>pouco sobre o construcionismo. Esta teoria leva em consideração o computador</p><p>como uma ferramenta de aprendizagem e foi elaborada por Seymund Papert,</p><p>com base no construtivismo de Piaget.</p><p>84</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>CONSTRUCIONISMO: O COMPUTADOR COMO FERRAMENTA</p><p>DE APRENDIZAGEM</p><p>Márcio Roberto de Lima</p><p>Assumindo um panorama alternativo à linha instrucionista, surgiu o</p><p>computador como uma ferramenta educacional. Valente (1993, p. 12) explica que:</p><p>[...] segundo esta modalidade, o computador não é mais o instrumento</p><p>que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com a qual o aluno desenvolve</p><p>algo, e, portanto, a aprendizagem ocorre pelo fato de estar executando</p><p>uma tarefa por meio do computador.</p><p>Fica explícita a ideia de que com o “computador ferramenta” o aluno será</p><p>o sujeito promotor de uma ação, ou seja: seu lugar deixa de ser o de espectador e</p><p>passa a ser o de agente.</p><p>Existem vários softwares que podem propiciar o uso do computador</p><p>como uma ferramenta, com este sentido estrito, tal como tratado aqui. Entre eles,</p><p>destacam-se as planilhas eletrônicas, os gerenciadores de bancos de dados, os</p><p>mecanismos de busca na internet, as ferramentas de cooperação e comunicação</p><p>em rede e também as linguagens de programação.</p><p>Planilhas eletrônicas são softwares que permitem a criação e manipulação</p><p>de folhas de cálculo, gráficos e também armazenar informações visando a</p><p>pesquisa, relatórios e estatísticas. São exemplos de planilhas o Excel do pacote de</p><p>aplicativos Microsoft Office e Calc do pacote de aplicativos OpenOffice.</p><p>Os gerenciadores de bancos de dados permitem criar coleções de</p><p>informações em um formato devidamente estruturado, de forma a proceder a</p><p>sua rápida recuperação (pesquisa), relacionamento e compartilhamento. Os</p><p>gerenciadores de bancos de dados constituem-se como base para os sistemas</p><p>de informações que atendem a diversas áreas, sendo largamente usados, por</p><p>exemplo, em bibliotecas, hospitais, comércio, indústria, internet etc. Exemplos:</p><p>MySql, Oracle, Firebird, Postgress e MS-SQLServer.</p><p>Os mecanismos de buscas na internet são ferramentas que permitem</p><p>ao usuário realizar buscas a conteúdos específicos dentro da rede mundial de</p><p>computadores. Ultimamente tem sido o ponto de partida para a navegação na</p><p>rede, sendo muito conhecidos: o Google, Alta Vista, Yahoo, entre outros.</p><p>As ferramentas de cooperação e comunicação em rede constituem meios</p><p>virtuais de troca de mensagens e ações cooperativas na internet. Enquadram-se</p><p>o correio eletrônico (e-mail), as ferramentas de troca sincrônica de mensagens</p><p>(WhatsApp, por exemplo) e também as plataformas de EAD, como o Moodle.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>TÓPICO 5 — O SOCIOINTERACIONISMO DE VIGOTSKI</p><p>85</p><p>Linguagens de programação são softwares que proporcionam um</p><p>ambiente de expressão de raciocínio visando à solução de problemas por meio</p><p>do computador. Em outras palavras, uma linguagem de programação permite a</p><p>criação de softwares específicos. BASIC, PASCAL, FORTRAN, C++, JAVA, LOGO</p><p>são nomes de algumas dessas ferramentas.</p><p>Ainda no prefácio de seu livro “LOGO: Computadores e Educação”</p><p>(tradução do original Mindstorms – Children, Computers and Powerfull Ideas),</p><p>Papert, ao criticar o paradigma instrucionista, introduz o seu pensamento</p><p>mostrando que o computador pode e deve ser utilizado como uma máquina de</p><p>produção de conhecimento.</p><p>[...] a frase ‘instrução ajudada pelo computador’ (computer – aided</p><p>instruction) significa fazer com que o computador ensine a criança.</p><p>Pode-se dizer que o computador está sendo usado para ‘programar’</p><p>a criança. Na minha perspectiva, é a criança que deve programar o</p><p>computador e, ao fazê-lo, ela adquire um sentimento de domínio sobre</p><p>um dos mais modernos e poderosos equipamentos tecnológicos e</p><p>estabelece um contato íntimo com algumas das ideias mais profundas</p><p>da ciência, da matemática e da arte de construir modelos intelectuais</p><p>(PAPERT, 1985, p. 17).</p><p>Nessa forma alternativa de uso da máquina, alunos e professorespassam</p><p>a ter a chance</p><p>de elaborar projetos para solução de situações-problemas das mais</p><p>diversas áreas. Isso pode ser conseguido, por exemplo, como uso das linguagens</p><p>de programação como suporte à elaboração de programas de computador que</p><p>representam essas soluções.</p><p>Papert (1986) sugeriu o termo construcionismo para designar a modalidade</p><p>em que um aluno utiliza o computador como uma ferramenta com a qual ele</p><p>constrói seu conhecimento. Valente (1993) afirma que Papert usou o termo</p><p>construcionismo para “mostrar um outro nível de construção do conhecimento: a</p><p>construção do conhecimento que acontece quando o aluno elabora um objeto de</p><p>seu interesse, como uma obra de arte, um relato de experiência ou um programa</p><p>de computador” (VALENTE, 1993, p. 40). Percebe-se que o uso do computador</p><p>nessa abordagem se configura de maneira antagônica à inicialmente introduzida</p><p>com o instrucionismo.</p><p>86</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>FIGURA– LINHAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM USANDO O COMPUTADOR</p><p>A Figura anterior apresenta as duas linhas de ensino-aprendizagem –</p><p>instrucionismo e construcionismo – sugerindo uma comparação entre elas. Nota-</p><p>se, em ambos os casos, a presença do computador, do aluno, de um professor e</p><p>de um software. As diferenças estão no sentido da direção do ensino, no tipo de</p><p>software utilizado, na postura a ser adotada pelo educador e na caracterização do</p><p>aluno dentro do processo.</p><p>Como visto anteriormente, no instrucionismo tem-se o computador pré-</p><p>programado ensinando a um aluno – espectador do processo – por meio de um</p><p>software da modalidade CAI. No construcionismo de Papert, o processo é invertido.</p><p>O educando precisa assumir postura ativa e passar a ensinar ao computador a</p><p>cumprir uma determinada tarefa. Isso é conseguido por meio de um software,</p><p>que em nosso caso é uma LPC. Configura-se nas duas abordagens a mediação do</p><p>processo de aprendizagem pelo professor. Por ora, indica-se que a atuação desse</p><p>tutor deverá ser compatível com as possibilidades oferecidas por cada linha. Em</p><p>tempo, serão apresentadas as características inerentes a esses profissionais, as quais</p><p>são decisivas para o sucesso de suas intervenções pedagógicas.</p><p>A abordagem construcionista é sintetizada em seu objeto de estudo:</p><p>um problema e a sua compreensão, a elaboração de uma estratégia de solução</p><p>no computador, pelo aluno, mediado por um profissional da educação; e no</p><p>ferramental: um computador e uma linguagem de programação usados para</p><p>a construção do conhecimento. Baseando-se nisto, a próxima seção enfoca o</p><p>conceito de linguagem de programação e seu uso no meio educacional.</p><p>FONTE: LIMA, M. R. de. Construcionismo de Papert e ensino-aprendizagem de programação</p><p>de computadores no ensino superior. 2009. 143 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –</p><p>Departamento de Educação, Universidade Federal de São João Del-Rei, São João Del-Rei.</p><p>87</p><p>RESUMO DO TÓPICO 5</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Lev Semynovich Vigotski nasceu em novembro de 1896, na Rússia. Formou-</p><p>se em Direito e Literatura na Universidade de Moscou. Faleceu aos 38 anos,</p><p>por consequência de uma tuberculose adquirida catorze anos antes.</p><p>• Apesar de Vigotski e Piaget terem nascido no mesmo ano e terem diversos</p><p>pontos em comum em suas teorias, nunca chegaram a se conhecer.</p><p>• Vigotski não elaborou uma teoria pedagógica, mas suas ideias trouxeram</p><p>diversas contribuições para a educação.</p><p>• Os conceitos básicos da teoria de Vigotski são: mediação/interação; processos</p><p>de internalização; níveis de desenvolvimento; Zona de Desenvolvimento</p><p>Proximal; tomada de consciência; relação desenvolvimento e aprendizagem;</p><p>função do brinquedo no desenvolvimento da criança.</p><p>• A aquisição do conhecimento só acontece pela interação sociocultural da</p><p>criança com o meio, de forma mediada.</p><p>• A cultura é que fornece elementos simbólicos de representação da realidade,</p><p>permitindo que a criança construa a sua interpretação do mundo que a rodeia.</p><p>Para Vigotski existem dois elementos básicos no processo de mediação: o</p><p>instrumento e o signo.</p><p>• O processo de internalização envolve aspectos específicos como: significação;</p><p>apropriação e diferentes modos departicipação.</p><p>• Existem pelo menos dois níveis de desenvolvimento: o real e o potencial. A</p><p>distância entre o que a criança já sabe fazer (real) e o que consegue realizar com</p><p>a ajuda dos outros (potencial) chama-se Zona de Desenvolvimento Proximal.</p><p>• Para Vigotski, a aprendizagem vem antes do desenvolvimento. Somente aos</p><p>poucos é que a criança vai despertando a consciência da consciência que possui.</p><p>• O brinquedo é responsável pela ampliação do conhecimento na Zona de</p><p>Desenvolvimento Proximal. A função do brinquedo não é proporcionar</p><p>prazer para a criança e, sim, satisfazer imediatamente o seu desejo. A criança</p><p>aprende a agir de forma cognitiva por meio do brinquedo.</p><p>• Para Vigotski, quanto mais a criança aprende, mais se desenvolverá. A</p><p>educação tem um papel insubstituível na apropriação da experiência cultural</p><p>acumulada socialmente.</p><p>88</p><p>Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem</p><p>pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao</p><p>AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.</p><p>CHAMADA</p><p>• O papel do professor é o de interferir na Zona de Desenvolvimento Proximal,</p><p>provocando avanços que não ocorrem de forma espontânea. A função da</p><p>escola é fazer com que os conceitos da criança, em nível de senso comum, se</p><p>transformem em conceitos científicos.</p><p>89</p><p>1 Como o professor pode fazer o papel de mediador no processo ensino-</p><p>aprendizagem para dar conta da proposta teórica de Vigotski?</p><p>2 Quais são os conceitos básicos da teoria de Vigotski?</p><p>3 Para Vigostki, qual é o papel do professor?</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>90</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>CANELADA, A. C. M. A educação integral no município de Goiânia: inovações</p><p>e desafios. 2011, 119 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação,</p><p>Universidade de Brasília, Brasília.</p><p>COSTA, E. M. G. A pedagogia Waldorf: ferramentas e práticas. In: Jornada do</p><p>Histedbr, 5., 2005, Campinas. Anais [...] Campinas: FE; HISTEDBR, 2005.</p><p>DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994.</p><p>ELIAS, M. D. C. Célestin Freinet: uma pedagogia de atividade e cooperação. 8.</p><p>ed. Petrópolis: Vozes, 2008.</p><p>FERNANDES, E. O sujeito epistêmico de Piaget. São Paulo: Nova Escola, 2012.</p><p>Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1922/o-sujeito-epistemico-de-</p><p>piaget. Acesso em: 27 maio 2021.</p><p>FERRARI, M. Jean Piaget, o biólogo que colocou a aprendizagem no microscópio.</p><p>São Paulo: Nova Escola, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3vxruQh. Acesso em:</p><p>27 maio 2021.</p><p>FERREIRO, E. Atualidade de Jean Piaget. Porto Alegre: Artmed, 2001.</p><p>FREINET, C. Conselho aos pais. Lisboa: Editorial Estampa, 1975.</p><p>FREINET, C. O método natural I: a aprendizagem da língua. Lisboa: Estampa,1977.</p><p>FREINET, C. O texto livre. Lisboa: Estampa, 1976.</p><p>GADOTTI, M. História das ideias pedagógicas. 5. ed. São Paulo: Ática, 1997.</p><p>KÜGELGEN, H. V. A educação Waldorf: aspectos da prática pedagógica. São Paulo:</p><p>Antroposófica, 1984.</p><p>LANZ, R. A pedagogia Waldorf: caminho para um ensino mais humano. São Paulo:</p><p>Antroposófica, 1998.</p><p>LIMA, L. O. Piaget para principiantes. 2. ed. São Paulo: Summus, 1980.</p><p>MACHADO, I. L. Educação Montessori: de um homem novo para um mundo</p><p>novo. São Paulo: Liv. Pioneira, 1980.</p><p>MONTESSORI, M. Pedagogia científica: a descoberta da criança. São Paulo:</p><p>Flamboyant, 1965.</p><p>91</p><p>MUNARI, A. Jean Piaget. Coleção Educadores. Fundação Joaquim Nabuco, Recife:</p><p>Massangana, 2010.</p><p>OLIVEIRA, M. S. (Org.). Fundamentos filosóficos da educação infantil. Maringá:</p><p>Editora da Universidade Estadual de Maringá, 2005.</p><p>PETERSON, R.; FELTON-COLLINS, V. Manual piagetiano para professores e</p><p>pais: crianças na idade das descobertas. Porto Alegre: Artmed, 2002.</p><p>PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar,</p><p>1982.</p><p>PIAGET, J. A construção do real na criança. São Paulo:</p><p>Ática,1996.</p><p>PIAGET, J. O raciocínio da criança. Rio de Janeiro: Record, 1967.</p><p>REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis:</p><p>Vozes, 2004.</p><p>RODRIGUERO, C. R. B. O desenvolvimento da linguagem e a educação do surdo.</p><p>Psicologia em Estudo, Maringá, v. 5, n. 2, 2000.</p><p>RÖHRS, H. Maria Montessori. Coleção Educadores. Fundação Joaquim Nabuco;</p><p>Recife: Massangana, 2010.</p><p>SALVADOR, C. C. Psicologia da educação. Porto Alegre: Artmed, 2006.</p><p>SAMPAIO, R. M. W. F. Freinet: evolução histórica e atualidades. São Paulo:</p><p>Scipione, 1989.</p><p>SARMENTO, D. F.; RAPOPORT, A.; FOSSATI, P. (Orgs.) Psicologia e educação:</p><p>perspectivas teóricas e implicações educacionais. Canoas: Salles, 2008.</p><p>STEINER, R. A prática pedagógica. São Paulo: Antroposófica, 2000.</p><p>TREVISAN, H. M. F. Filhos felizes na escola: pedagogia Waldorf, o ensino pela</p><p>arte. São Paulo: Trevisan Editora Universitária, 2006.</p><p>VEER, R. V. D.; VALSINER, J. Vigotsky: uma síntese. 4. ed. São Paulo: Edições</p><p>Loyola, 2001.</p><p>VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos</p><p>psicológicos e superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.</p><p>92</p><p>93</p><p>UNIDADE 2 —</p><p>DIVERSOS CONTEXTOS DA</p><p>EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO</p><p>DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• compreender como ocorre a organização dos espaços na Educação</p><p>Infantil;</p><p>• perceber a importância do planejamento e da rotina;</p><p>• identificar aspectos que contribuam para o desenvolvimento da autonomia</p><p>e identidade da criança;</p><p>• aprofundar seu conhecimento a respeito dos Eixos Norteadores da</p><p>Educação Infantil.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,</p><p>você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo</p><p>apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES</p><p>FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>TÓPICO 2 – A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA</p><p>EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>TÓPICO 3 – A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE</p><p>DA CRIANÇA</p><p>TÓPICO 4 – A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM</p><p>CURRICULAR (BNCC)</p><p>94</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos</p><p>em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá</p><p>melhor as informações.</p><p>CHAMADA</p><p>95</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Pode-se perceber a importância que tem a organização dos espaços</p><p>destinados à Educação Infantil no processo ensino-aprendizagem. É este o</p><p>assunto deste tópico: a organização do espaço físico e o papel do professor nesta</p><p>organização.</p><p>O espaço físico não apenas contribui para a realização da educação, mas</p><p>é em si uma forma silenciosa de educar. Como afirma Antônio Vinão</p><p>Frago, referindo-se ao espaço escolar, este não é apenas um “cenário”</p><p>onde se desenvolve a educação, mas sim “uma forma silenciosa de</p><p>ensino” (BRASIL, 2006a, p. 8).</p><p>Traremos informações sobre a estrutura física e a organização dos espaços</p><p>conforme indicação dos Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de</p><p>Educação Infantil, elaborados pelo MEC (2006a), assim como dicas e sugestões</p><p>de organização dos espaços pelo professor, além de dicas de objetos e materiais a</p><p>serem disponibilizados às crianças em cada um dos espaços trabalhados.</p><p>Que bom que estamos juntos nesta caminhada. Com certeza, você já ouviu</p><p>falar em muitas das dicas que traremos neste tópico. Também deve conhecer</p><p>muitas outras que não aparecem no texto, mas que são muito importantes</p><p>para a organização dos espaços na Educação Infantil. Que tal socializar esse</p><p>conhecimento com os seus colegas de turma? Abraços e boa troca de experiências!</p><p>2 ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE 0 A</p><p>1 ANO DE IDADE</p><p>Os espaços para crianças de 0 a 1 ano de idade devem privilegiar o cuidar e</p><p>o educar e serem organizados de forma a desenvolver as crianças de forma plena.</p><p>As crianças de 0 a 1 ano, com seus ritmos próprios, necessitam de</p><p>espaços para engatinhar, rolar, ensaiar os primeiros passos, explorar</p><p>materiais diversos, observar, brincar, tocar o outro, alimentar-se,</p><p>tomar banho, repousar, dormir, satisfazendo, assim, suas necessidades</p><p>essenciais. Recomenda-se que o espaço a elas destinado esteja situado</p><p>em local silencioso, preservado de áreas de grande movimentação e</p><p>proporcione conforto térmico e acústico (BRASIL, 2006a, p. 11).</p><p>TÓPICO 1 —</p><p>ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES</p><p>FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>96</p><p>De acordo com os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições</p><p>de Educação Infantil (2006a), o espaço para esta faixa etária deve estar organizado</p><p>de forma a conter:</p><p>FIGURA 1 – ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE 0 A 1 ANO</p><p>FONTE: A autora</p><p>Este documento (BRASIL, 2006a) sugere ainda que a construção destes</p><p>espaços observe os seguintes aspectos:</p><p>FIGURA 2 – ASPECTOS CONSTRUTIVOS DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE 0 A 1 ANO</p><p>FONTE: A autora</p><p>Agora que você já sabe o que observar na construção dos espaços, vamos</p><p>abordar a organização de cada ambiente. Acompanhe!</p><p>2.1 SALA DE REPOUSO</p><p>Como o próprio nome diz, é um espaço destinado ao repouso/descanso</p><p>das crianças desta faixa etária (0 a 1 ano de idade). Por isto, deve conter colchões,</p><p>colchonetes, entre outros, onde as crianças possam dormir tranquilamente, com</p><p>conforto e segurança.</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>97</p><p>FIGURA 3 – SALA DE REPOUSO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3zvmwXD>. Acesso em: 30 de maio 2020.</p><p>Agora, vamos pensar um pouco como o professor pode organizar este</p><p>espaço:</p><p>• deixar um espaço adequado entre os colchões, se possível, de forma a facilitar</p><p>a circulação entre eles;</p><p>• colocar música ambiente (clássica, de relaxamento), que acalme e favoreça o</p><p>descanso das crianças;</p><p>• pendurar móbiles (elaborados com diversos materiais), para que a criança</p><p>possa se distrair enquanto descansa.</p><p>2.2 SALA DE ATIVIDADES</p><p>É o espaço reservado para a realização das atividades previstas pelo</p><p>professor no planejamento. Necessita ser um espaço amplo, que permita à criança</p><p>a exploração do ambiente e dos objetos que ali se encontram.</p><p>Conforme os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de</p><p>Educação Infantil (BRASIL, 2006a), sugere-se que este espaço contenha:</p><p>Lembre-se: evite utilizar tapetes nos ambientes, pois eles acumulam poeira e</p><p>dificultam a limpeza dos espaços, possibilitando o surgimento de diversas doenças, entre</p><p>elas as alérgicas.</p><p>ATENCAO</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>98</p><p>• Espelhos amplos, onde as crianças possam se ver, se perceber: “quando o</p><p>bebê se vê diante de um espelho favorece o conhecimento de si e do mundo,</p><p>porque a criança vê sua imagem refletida no espelho e, pela sua ação, identifica-</p><p>se como distinta de outras crianças e dos objetos” (KISHIMOTO, 2010, p. 3).</p><p>• Bancadas, prateleiras e/ou armários para guardar brinquedos, com altura em</p><p>torno de 0,65 cm, para que as crianças tenham acesso livre a eles: para que</p><p>o ambiente fique bem organizado, os brinquedos devem ser disponibilizados</p><p>em estantes baixas, em locais separados, “[...] com mobiliário adequado, em</p><p>caixas etiquetadas para a criança saber onde guardar. Esse hábito se adquire</p><p>durante a brincadeira, em local tranquilo, com opções interessantes e o apoio</p><p>constante e afetivo da professora” (KISHIMOTO, 2010, p. 8).</p><p>• Portas que deem acesso ao solário, ao pátio ou parque, para que elas possam</p><p>tomar sol: De acordo com Kishimoto (2010, p. 9), os “[...] bebês devem ter</p><p>acesso a um solário próximo a sua sala, com brinquedos, para brincadeiras</p><p>interativas com as professoras. Crianças que começam a andar devem ser</p><p>separadas daquelas que correm”, para que a professora possa dar atenção</p><p>adequada a cada uma.</p><p>• Janelas de acordo com</p><p>a altura das crianças, para que elas possam visualizar</p><p>o ambiente externo: “A criança explora o mundo, vendo casas, prédios,</p><p>morros, florestas, árvores com flores e frutos, pássaros, animais, nuvens, céu,</p><p>plantações, rios, riachos e o mar, jardins, ruas, bueiros, lixos, fumaça das</p><p>fábricas, mangues, supermercado e carros [...]” (KISHIMOTO, 2010, p. 12).</p><p>FIGURA 4 – SALA DE ATIVIDADES</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3qaFWge>. Acesso em: 30 maio 2020.</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>99</p><p>De acordo com Kishimoto (2010), existem alguns aspectos a ser</p><p>considerados na seleção dos brinquedos para os bebês:</p><p>• Tamanho: o brinquedo deve ser duas vezes mais largo do que a mão fechada</p><p>da criança (punho).</p><p>• Durabilidade: não disponibilizar vidros, copos plásticos ou brinquedos</p><p>muito duros que podem se quebrar facilmente durante ouso.</p><p>• Cordas e cordões: devem ser evitados, pois podem enroscar no pescoço da</p><p>criança.</p><p>• Bordas cortantes ou pontas: deve-se eliminar este tipo de brinquedo.</p><p>• Não tóxicos: evitar os brinquedos produzidos com tintas ou materiais tóxicos,</p><p>já que os bebês os colocam na boca.</p><p>• Não inflamável: cuidar para que não seja um brinquedo que pegue fogo.</p><p>• Lavável: optar por brinquedos que podem ser limpos ou lavados. Evitar</p><p>principalmente bonecas e brinquedos com tecidos.</p><p>• Divertido: o brinquedo deve ser interessante e atraente.</p><p>É importante observar estes aspectos, pois a criança coloca o brinquedo</p><p>na boca com grande frequência, procurando vivenciar diferentes sensações, como</p><p>duro, mole, macio, áspero, ampliando assim as experiências sensoriais que já</p><p>possui e iniciando sua caminhada na compreensão de conceitos, já que o professor,</p><p>ao estar atento à brincadeira da criança, vai nomeando as texturas dos objetos.</p><p>Texturas, cores, odores, sabores, sons são experiências que a criança</p><p>adquire no contato com móbiles coloridos, sonoros e brinquedos</p><p>com diferentes texturas, formas, saquinhos com ervas aromáticas.</p><p>Os objetos de uso cotidiano são importantes itens para ampliar as</p><p>experiências sensoriais. Objetos feitos com materiais naturais ou de</p><p>metal, como bucha, escova de dente nova, pente de madeira ou de</p><p>osso, maçã ou limão, argola de madeira ou de metal, chaveiro com</p><p>chaves, bolas de tecido, madeira ou borracha, sino e outros, dentro</p><p>de um cesto de vime, sem alças, grande e com base plana, serve para</p><p>a exploração livre do bebê que fica sentado (KISHIMOTO, 2010, p. 3).</p><p>Por volta dos seis meses, os bebês fazem uso da mão para pegar, encaixar,</p><p>segurar, sentir, enfim, manipular os objetos e brinquedos disponíveis. “A criança,</p><p>nessa fase, pensa com as mãos” (KISHIMOTO, 2010, p. 4). Por isso, é importante</p><p>dispor diversos materiais diferentes para que a criança possa explorá-los, senti-</p><p>los, conhecê-los, conforme nos orienta Kishimoto (2010, p. 4):</p><p>Neste espaço, além dos tapetes, é necessário evitar a utilização de brinquedos</p><p>com pequenas peças, pois as crianças desta faixa etária levam tudo à boca e podem engolir</p><p>ou se sufocar com peças pequenas.</p><p>ATENCAO</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>100</p><p>Pinos de encaixe coloridos, no formato de carrinho ou trem, chamam</p><p>sua atenção e os bebês querem saber o que se pode fazer com</p><p>tais objetos. Usar o corpo como instrumento de conhecimento é</p><p>característico de bebês e crianças pequenas. Eles gostam de entrar em</p><p>caixas, em buracos, túneis, passagens estreitas, apreciam empurrar,</p><p>puxar, subir, encaixar, empilhar. Há brinquedos e materiais que</p><p>auxiliam o conhecimento do mundo físico, entre os quais, as bolas</p><p>que são ótimas para apertar, conhecer sua textura, cor, deixar cair</p><p>para ver como rolam. Há bolas com diferentes funções: produz som</p><p>no toque, possui face espelhada, que auxilia o conhecimento de si, e</p><p>buracos, que deixam o bebê enfiar o braço e a mão para explorá-los.</p><p>[...] Outros brinquedos de construção podem servir para os pequenos</p><p>empilharem e para os maiores construírem novos espaços para as</p><p>brincadeiras imaginárias.</p><p>O mais importante é que o professor esteja atento às curiosidades dos</p><p>bebês, e disponibilize novos desafios, estimulando cada vez mais o processo de</p><p>conhecimento das crianças. Materiais simples como colchões, tecidos, lençóis</p><p>servem para fazer um túnel, uma cabana (para elas se esconderem), balançar</p><p>as crianças, transportá-las de um lado para outro (puxando-as com os colchões</p><p>ou lençóis), para rolar, dar cambalhotas, engatinhar, entre outros. Não perca a</p><p>oportunidade de utilizar os materiais encontrados no dia a dia, para estimular</p><p>cada vez mais os bebês e se divertir.</p><p>Módulos de espuma resistente, revestidos de tecidos emborrachados,</p><p>de fácil limpeza, servem para criação de estruturas para exploração</p><p>motora com rampas para subir e descer, pontes, para passar por</p><p>baixo. Acoplados e outros módulos com buracos e túneis constituem</p><p>experiências desafiadoras em que o movimento é a linguagem</p><p>privilegiada (KISHIMOTO, 2010, p. 4).</p><p>Outros brinquedos interessantes, que não necessariamente precisam</p><p>ser comprados e sim criados pelo professor, são os balanços, que podem ser</p><p>pendurados dentro da sala. Eles podem ser feitos com pneus, tecidos, cordas,</p><p>materiais recicláveis, de forma a torná-los mais confortáveis e menos duros (que</p><p>os tradicionais de madeira), e assim não machucar as crianças que os utilizam</p><p>nem as que passam perto. Outro material que pode ser construído e que lembra</p><p>um pouco o balanço é feito com tecidos e elásticos (grandes e resistentes), no</p><p>qual a criança senta, encostando os pés no chão, e se balança empurrando os pés</p><p>para cima e para baixo (dando pulos). Da mesma forma, os cavalinhos podem</p><p>ser criados com madeira roliça, pintados com a turma e ficar disponíveis em sala.</p><p>Triciclos sem pedal ou carrinhos/caixas de empurrar e puxar fazem a</p><p>criança que começa a andar usar amplos movimentos. Cavalinhos e</p><p>balanços possibilitam balançar e cavalgar, cubos servem para empilhar.</p><p>Bancadas de brinquedos para martelar possibilitam a compreensão</p><p>de que o pino penetra na bancada. É a descoberta da relação entre o</p><p>martelar e o deslocar (KISHIMOTO, 2010, p. 4).</p><p>Como você percebeu, diversos brinquedos/objetos podem ser criados ou</p><p>reutilizados, de forma a promover e estimular o desenvolvimento dos bebês. No</p><p>quadro a seguir, será apresentada uma lista de sugestões de materiais a serem</p><p>disponibilizados aos bebês em sala.</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>101</p><p>QUADRO 1 – SUGESTÕES DE BRINQUEDOS E MATERIAIS</p><p>IDADE SUGESTÕES</p><p>Bebês (0 a 1 ano</p><p>e meio)</p><p>• Chocalhos, móbiles sonoros, sinos, brinquedos para</p><p>morder, bolas de diversos tamanhos, cores e texturas,</p><p>blocos macios, livros e imagens coloridas, brinquedos de</p><p>empilhar, encaixar, espelhos.</p><p>• Objetos com texturas (mole, rugoso, liso, duro) e coloridos,</p><p>que fazem som (brinquedos musicais ou que emitem</p><p>som), de movimento (carros e objetos para empurrar),</p><p>para encher e esvaziar.</p><p>• Brinquedos de parque.</p><p>• Brinquedos para bater.</p><p>• Cesto com objetos de materiais naturais, metal e de uso</p><p>cotidiano.</p><p>• Colcha, rede e colchonete.</p><p>• Estruturas com blocos de espuma para subir, descer,</p><p>entrar em túneis.</p><p>FONTE: Adaptado de Kishimoto (2010)</p><p>2.3 FRALDÁRIO</p><p>O fraldário é o local onde são guardadas as fraldas e materiais de higiene</p><p>e é utilizado para a troca de fraldas e higienização das crianças.</p><p>FIGURA 5 – FRALDÁRIO U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II JOSÉLINO KUHNEN, INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora</p><p>Além de possuir piso e paredes de fácil limpeza e janelas com boa</p><p>ventilação, os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação</p><p>Infantil (BRASIL, 2006a) orientam que</p><p>este espaço contenha:</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>102</p><p>• bancada para troca de fraldas, com colchonete;</p><p>• tanque com torneira para higienização das mãos;</p><p>• banheira em material térmico, com ducha de água quente e fria;</p><p>• armários e prateleiras para guardar as fraldas e materiais de higienização;</p><p>• cabides para pendurar toalhas e sacolas;</p><p>• lixeira com tampa.</p><p>É importante que este espaço possua móbiles ou outros materiais com</p><p>os quais a criança possa se distrair durante a troca. Também é importante que o</p><p>professor converse com a criança e aproveite o momento para fazer massagens</p><p>relaxantes: “brinque de esconder e achar com uma fralda, dizendo “cucu”,</p><p>“escondeu”, “achou”. Quando toma a iniciativa e esconde outros brinquedos o</p><p>bebê já domina a brincadeira e expressa de forma prazerosa, repetindo sua nova</p><p>experiência, variando as situações” (KISHIMOTO, 2010).</p><p>2.4 LACTÁRIO</p><p>O lactário é o local destinado para o preparo e higienização das</p><p>mamadeiras. Para isto, deve-se observar que o espaço esteja próximo à sala de</p><p>atividades, a fim de facilitar o transporte dos utensílios, e distante da lavanderia</p><p>e dos banheiros (BRASIL, 2006a).</p><p>No banho e troca de fraldas, evitar ações mecanizadas e dar atenção a cada</p><p>criança, brincando, movimentando seus braços, pernas, comentando cada gesto. Brincar:</p><p>onde está o nariz? Aqui! Onde está a barriga? Aqui! Apontar para a parte do corpo da</p><p>criança (KISHIMOTO, 2010). Não deixe de utilizar a criatividade e interagir com ela neste</p><p>momento tão especial...</p><p>DICAS</p><p>Você pode permitir que a criança imite a ação durante a alimentação, dando</p><p>de comer ao bichinho, à boneca, limpando o rosto com o guardanapo, entre outros</p><p>(KISHIMOTO, 2010). O momento da alimentação é muito importante para a criança</p><p>experimentar novos sabores, sentir os aromas. Aproveite este momento para estimulá-la a</p><p>provar alimentos diferentes.</p><p>ATENCAO</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>103</p><p>2.5 SOLÁRIO</p><p>O solário é um espaço livre e descoberto, onde as crianças possam</p><p>tomar banho de sol. De acordo com os Parâmetros Básicos de Infraestrutura</p><p>para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), este espaço deve estar</p><p>interligado à sala de atividades, e ser de uso exclusivo das crianças de 0 a 1 ano.</p><p>Seu acesso deverá ser fácil, sem desníveis, permitindo o trânsito de carrinhos</p><p>de bebê, e possuir dimensão compatível com o número de crianças da turma</p><p>(aproximadamente 1,50 m² por criança).</p><p>Neste espaço podem ser realizadas diversas brincadeiras e atividades com</p><p>os bebês. Puxá-los com carrinhos de madeira (em que uma criança ou duas vão</p><p>sentadas), e passear pelo espaço externo da instituição é uma atividade interessante.</p><p>Da mesma forma, aproveite este espaço para deixar a criança brincar com</p><p>a água, a terra, a areia, ou fazer “experiências com tintas, alimentos, plantas e</p><p>outros materiais, para explorar e ver o que acontece, movidas pela curiosidade”</p><p>(KISHIMOTO,2010, p. 4). Cabe ao professor, conforme o seu planejamento, criar</p><p>opções diferenciadas para o desenvolvimento integral dos bebês, exercitando a</p><p>sua capacidade criativa.</p><p>Agora que já vimos cada um dos espaços para crianças de 0 a 1 ano de</p><p>idade, vamos explorar de que forma ocorre a organização dos espaços para as</p><p>crianças com mais de um ano?</p><p>3 ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE UM</p><p>A SEIS ANOS</p><p>O espaço físico para a criança de um a seis anos “deve ser visto como</p><p>um suporte que possibilita e contribui para a vivência e a expressão das culturas</p><p>infantis – jogos, brincadeiras, músicas, histórias que expressam a especificidade</p><p>do olhar infantil” (BRASIL, 2006a, p. 16)</p><p>Desta forma, a organização dos espaços para crianças de um a seis anos</p><p>abrange a organização da instituição de Educação Infantil em si, pois as crianças</p><p>utilizarão praticamente todos os espaços presentes. Para tanto:</p><p>[...] as propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil</p><p>deverão prever condições para o trabalho coletivo e para a organização</p><p>de materiais, espaços e tempos que assegurem [...]:</p><p>• os deslocamentos e os movimentos amplos das crianças nos espaços</p><p>internos e externos às salas de referência das turmas e à instituição;</p><p>• a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinquedos e</p><p>instruções para as crianças com deficiência, transtornos globais de</p><p>desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2010,</p><p>p. 19-20).</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>104</p><p>Neste livro didático, focaremos a discussão e apresentação dos espaços</p><p>mais utilizados pelas crianças de um a seis anos, como:</p><p>FIGURA 6 – ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE UM A SEIS ANOS</p><p>FONTE: A autora</p><p>No entanto, queremos afirmar que a organização dos demais espaços</p><p>(lavanderia, cozinha, depósito, recepção, secretaria, direção, almoxarifado, sala</p><p>de professores) também é importante para o desenvolvimento das atividades e</p><p>da rotina da instituição.</p><p>Com relação aos aspectos construtivos, os Parâmetros Básicos de</p><p>Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a) orientam</p><p>que sejam observados os seguintes aspectos:</p><p>FIGURA 7 – ASPECTOS CONSTRUTIVOS</p><p>FONTE: A autora</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>105</p><p>Tendo observado os elementos para a construção dos espaços, vamos</p><p>analisar de forma detalhada os ambientes mais utilizados pelas crianças de um a</p><p>seis anos?</p><p>3.1 SALA DE ATIVIDADES</p><p>A sala de atividades é destinada às crianças de determinada faixa etária</p><p>(sala de referência), conforme a organização da instituição. Para isto, é necessário</p><p>que o professor, de acordo com o planejamento, organize a sala de forma a facilitar</p><p>e estimular o processo de ensino-aprendizagem.</p><p>O professor, junto com as crianças, prepara o ambiente da Educação</p><p>Infantil, organiza-o a partir do que sabe que é bom e importante para</p><p>o desenvolvimento de todos e incorpora os valores culturais das</p><p>famílias em suas propostas pedagógicas, fazendo-o de modo que as</p><p>crianças possam ressignificá-lo e transformá-lo. A criança pode e deve</p><p>propor, recriar e explorar o ambiente, modificando o que foi planejado</p><p>(BRASIL, 2006a, p. 9).</p><p>As salas de atividades são espaços lúdicos, podendo ser organizadas em</p><p>cantinhos (da leitura, da brincadeira, dos jogos, do desenho, da massinha, entre</p><p>outros), e necessitam ser acessíveis, dinâmicos, vivos, brincáveis, fáceis de serem</p><p>explorados e modificados. Sugere-se que estes ambientes variados, de acordo</p><p>com Horn (2005, p. 29), sejam:</p><p>[...] separados por estantes, prateleiras, móveis, possibilitando que a</p><p>criança possa visualizar a figura do adulto, não necessitando deste</p><p>para realizar diferentes atividades. Nesse modo de organizar o espaço,</p><p>existe a possibilidade de as crianças se descentrarem da figura do</p><p>adulto, sentirem segurança e confiança ao explorarem o ambiente,</p><p>terem oportunidades para contato social e para gozar momentos de</p><p>privacidade.</p><p>FIGURA 8 – CANTINHOS DA U. E. I. BAIRRO JOÃO PAULO II JOSÉLINO KUHNEN, INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>106</p><p>A forma como são organizadas as salas nas instituições de Educação</p><p>Infantil depende do planejamento do professor, dos objetivos que pretende</p><p>alcançar, do que quer desenvolver/estimular nas crianças, tornando-se parte</p><p>integrante da prática pedagógica. A organização das salas de forma linear, com</p><p>mesas e cadeiras, sem a organização de cantos diversificados, onde a criança</p><p>não tem a possibilidade de escolher com qual atividade quer brincar e depende</p><p>exclusivamente do que o professor selecionou para a turma toda desenvolver ao</p><p>mesmo tempo reflete uma visão tradicional/cartesiana</p><p>da educação, e há muito</p><p>tempo deixou de ser indicada para o trabalho com as crianças.</p><p>A organização dos espaços da Educação Infantil em cantinhos/ambientes</p><p>facilitadores da aprendizagem:</p><p>[...] pode favorecer diferentes tipos de interações em que o professor</p><p>tem papel importante como organizador dos espaços onde ocorre</p><p>o processo educacional. Tal trabalho baseia-se na escuta, diálogo e</p><p>observação das necessidades e interesses expressos pelas crianças,</p><p>transformando-as em objetivos pedagógicos (BRASIL, 2006a, p. 10).</p><p>Desta forma, é muito importante o professor refletir qual a concepção</p><p>que tem das crianças, que crianças quer formar (dependentes, adestradas ou</p><p>autônomas, ativas, independentes). A organização dos espaços é um elemento</p><p>curricular importante na Educação Infantil, pois dá suporte e cria oportunidades</p><p>de diferentes formas de aprendizagem:</p><p>[...] por meio das interações possíveis entre crianças e objetos e delas</p><p>entre si. Assim considerado, o espaço na educação infantil não é</p><p>somente um local de trabalho, um elemento a mais no processo</p><p>educativo, é, antes de tudo, um recurso, um instrumento, um parceiro</p><p>do professor na prática educativa (HORN, 2005, p. 29).</p><p>Por ser um parceiro da prática educativa, a organização dos ambientes/</p><p>espaços não deve ser engessada, permanecendo a mesma organização durante</p><p>o semestre ou o ano todo. Os ambientes (cantinhos) precisam ser organizados</p><p>conforme o planejamento do professor ou o interesse das crianças, e ser</p><p>modificados a cada certo período de tempo: mensalmente, a cada dois ou três</p><p>meses, conforme o (des)interesse das crianças pelos espaços, as necessidades do</p><p>planejamento do professor, entre outros.</p><p>O importante é criar outras possibilidades de interação para as crianças,</p><p>em que elas mesmas possam contribuir na organização e definição dos ambientes</p><p>a serem criados. Com base nestas definições, vamos trazer algumas opções de</p><p>ambientes facilitadores/cantinhos que você pode utilizar na organização das</p><p>salas de Educação Infantil:</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>107</p><p>• Cantinho da fantasia</p><p>Neste ambiente, pode haver um baú ou cabideiro com várias opções de</p><p>roupas (masculinas e femininas), chapéus e sapatos de adultos, com as quais a</p><p>criança possa se vestir, se olhar no espelho, brincar de festa à fantasia, imitar a</p><p>mamãe, o papai, a professora, entre outros. É o espaço em que a criança pode</p><p>soltar a imaginação e tornar-se adulta, mesmo que “de mentirinha”.</p><p>FIGURA 9 – CANTINHO DA FANTASIA DA U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉ LINO KUHNEN,</p><p>INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora.</p><p>• Cantinho da leitura</p><p>Ambiente aconchegante, com baú ou estante cheia de livros de diferentes</p><p>tamanhos, cores e texturas, de histórias variadas, apenas com imagens, com</p><p>sons, de pano, de plástico, entre outros, que podem ser livremente manipulados</p><p>pelas crianças para contar, recontar, criar e ouvir novas histórias. Também pode</p><p>haver almofadas (que cada criança traz para a instituição no início do ano), para</p><p>as crianças sentarem nos momentos de leitura, ou até mesmo para ouvir uma</p><p>história contada pela professora.</p><p>As histórias do mundo encantado dos contos de fadas, dos reis, bruxas e</p><p>super-heróis têm uma estrutura contendo palavras como: “Era uma vez” “Depois”</p><p>“E viveram felizes para sempre”. O começo, meio e fim proporcionado por este</p><p>gênero de literatura auxilia a criança a ampliar narrativas. Ao agregar a natureza</p><p>lúdica, no recontar histórias, a expressão livre de experiências, vivências e formas</p><p>de ver o mundo penetram nas narrativas infantis. Nas histórias recriadas, pelas</p><p>crianças, a branca de neve virou morena das neves, trazendo as questões da</p><p>diversidade, o lobo, da história da Chapeuzinho Vermelho, desdobrou-se no lobo</p><p>do “bem” e do “mal” (KISHIMOTO, 2010, p. 6).</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>108</p><p>FIGURA 10 – CANTO DA LEITURA DA U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉ LINO KUHNEN,</p><p>INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora</p><p>• Cantinho dos brinquedos</p><p>Neste ambiente podem ser disponibilizados diversos tipos de brinquedos,</p><p>estimulando “[...] diferentes usos e atividades. Os confeccionados com materiais</p><p>naturais da região costumam ser mais atrativos” (BRASIL, 2006b, p. 28).</p><p>Entre os brinquedos que podem ser disponibilizados, citamos: bolas (de</p><p>diversos tamanhos e cores), boliches (de tecido e de plástico), bambolês, pião,</p><p>triciclos,“[...] bonecas e acessórios, como berço, carrinho, caminhões de diferentes</p><p>tipos (cegonha, caçamba, bombeiro), posto de gasolina, fantoches, bichinhos e kit</p><p>médico, ampliando o repertório das brincadeiras” (KISHIMOTO, 2010, p. 5).</p><p>Ouvir e recontar histórias faz com que as crianças sintam o prazer de contar</p><p>histórias sobre elas mesmas, seus familiares, bichos de estimação, estimulando a sua</p><p>capacidade narrativa. Você pode estimular as crianças a levarem os livros para casa, para os</p><p>pais efetuarem a leitura, e depois relatarem como foi a experiência. Várias são as formas de</p><p>incentivar a criança a criar o hábito da leitura. Experimente!</p><p>INTERESSANTE</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>109</p><p>FIGURA 11 – CANTINHO DOS BRINQUEDOS DA U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉ LINO</p><p>KUHNEN, INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora</p><p>• Cantinho dos jogos</p><p>Neste ambiente, podem ser disponibilizados diversos tipos de jogos,</p><p>como: quebra-cabeça, memória, dominó, bingo, jogos das profissões, encaixes,</p><p>jogos de percurso, loto, entre outros. Os jogos</p><p>[...] auxiliam o letramento matemático, a relacionar os instrumentos</p><p>de trabalho às profissões e animais domésticos e selvagens. Blocos</p><p>lógicos servem para classificação de cores, formas e espessuras, mas</p><p>a criança pode dar outros usos, como empilhar, juntar os blocos para</p><p>criar formas de animais e objetos, ou um bloco virar sabonete, pente</p><p>ou comida na brincadeira imaginária (KISHIMOTO, 2010, p. 7-8).</p><p>• Cantinho das artes</p><p>Este ambiente pode conter: massinhas, folhas de diversas texturas, cores</p><p>e tamanhos, cartolinas, canetinhas, lápis de cor, giz de cera, tesouras sem pontas,</p><p>lápis, borracha, som, música, tintas, banda rítmica, latas lacradas com diversos</p><p>tipos de grãos (para formar sons diferentes), tecidos, entre outros.</p><p>Brincar de bandinha rítmica apropriada a crianças pequenas possibilita</p><p>experimentar diferentes instrumentos. O brincar de fazer som inclui o movimento</p><p>do corpo. Um papel amassado ou o bater palmas expressam a sonoridade que se</p><p>cria com as mãos. Soprar uma pena ou bater na água mostra o poder de fazer</p><p>coisas: a pena que voa e a água espirra.</p><p>[...] Brincar com tinta, fazer tinta com plantas, com terra e utilizá-</p><p>las para expressar o prazer de misturar, de ver as cores e, depois,</p><p>representar coisas de que gosta é outra modalidade de linguagem</p><p>plástica que requer materiais apropriados. Crianças gostam de fazer</p><p>marcas para expressar sua individualidade, e as tintas são ferramentas</p><p>para essa finalidade. As massinhas, argila, gesso ou materiais para</p><p>desenhar, pintar, fazer colagens e construções com diferentes objetos</p><p>são linguagens plásticas que dão prazer às crianças (KISHIMOTO,</p><p>2010, p. 5).</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>110</p><p>• Cantinho das atividades domésticas</p><p>Neste ambiente podem ser disponibilizadas panelinhas, pratinhos, colheres,</p><p>copos, xícaras, potes, frascos, fogãozinho (que pode ser construído com caixas de</p><p>papelão), pia com torneira (sem água, é claro), mamadeiras, canecas, geladeira,</p><p>armário, micro-ondas (estes últimos três itens também podem ser construídos</p><p>com caixas de papelão), ferro de passar, mesinhas, cadeiras, almofadas, vassouras</p><p>pequenas, entre outros objetos.</p><p>Figura 12 – CANTINHO DAS ATIVIDADES DOMÉSTICAS-</p><p>U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉ</p><p>LINO KUHNEN, INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora</p><p>• Cantinho do salão de beleza</p><p>Este ambiente pode possuir espelhos, cadeiras, armários, estantes, frascos</p><p>vazios de shampoos, desodorantes, perfumes, pentes, escovas, toalhinhas, tiaras,</p><p>prendedores de cabelo, secadores de brinquedo, pedaços de madeira para fazer</p><p>de sabonete, tudo o que lembre um salão de beleza (infantil) e estimule a fantasia,</p><p>a interação, o cuidado etc.</p><p>FIGURA 13 – CANTINHO DO SALÃO DE BELEZA – U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉ LINO</p><p>KUHNEN, INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>111</p><p>• Cantinho do mercado</p><p>Este espaço pode conter rótulos de diversos materiais, vendidos</p><p>habitualmente nos mercados como: materiais de higiene, alimentação, limpeza,</p><p>entre outros. “[...] fazer compra em supermercado, pagando com ‘dinheiro’ feito</p><p>pelas crianças, são exemplos de brincadeiras que introduzem no mundo da</p><p>matemática a criança, que já começa a fazer hipóteses de como medir e quantificar”</p><p>(KISHIMOTO, 2010, p. 7). Além disso, a criança desenvolve a noção de valores e</p><p>poder de compra e aprende a importância de economizar para poder adquirir os</p><p>produtos/objetos desejados.</p><p>Como você pode perceber, caro acadêmico, são várias as possibilidades</p><p>de organização dos espaços em sala de aula e você, enquanto professor, pode</p><p>criar outros ambientes ou subdividir os que indicamos, por exemplo: ao invés</p><p>de fazer o cantinho da arte, fazer o cantinho da massinha, da bandinha rítmica,</p><p>variando os espaços de tempos em tempos para estimular as crianças. Pode</p><p>também disponibilizar a cada dia apenas um material ou objeto para as crianças</p><p>manusearem, exemplo: um dia tintas e papéis, outro dia bandinha rítmica, em</p><p>outro, massinha, e assim por diante. O fundamental é estimular o desenvolvimento</p><p>integral da criança, em todos os aspectos.</p><p>Para ampliar a lista de materiais que podem ser disponibilizados às crianças</p><p>de um a seis anos, apresentamos, a seguir, algumas sugestões de Kishimoto (2010):</p><p>QUADRO 2 – SUGESTÕES DE BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA CRIANÇAS DE UM ANO A SEIS ANOS</p><p>IDADE SUGESTÕES</p><p>Crianças</p><p>pequenas (um</p><p>ano a três anos</p><p>e onze meses)</p><p>• túneis, caixas e espaços para entrar e esconder-se;</p><p>• brinquedos para empurrar, puxar,bater;</p><p>• bolas de diversos tamanhos e cores, cordas, bambolês,</p><p>papagaio (pandorga, pipa), perna de pau, amarelinha;</p><p>• quebra-cabeças simples, jogos de memória e depercurso;</p><p>• livros de história, fantoches (de diversas formas, tamanhos</p><p>e cores) e teatro;</p><p>• blocos, encaixes;</p><p>• massinha e tinturas de dedo;</p><p>• bonecas, brinquedos, mobiliários e acessórios para</p><p>brincadeiras de faz de conta;</p><p>• sucata doméstica e industrial e materiais da natureza.</p><p>Sacolas e latas com objetos diversos de uso cotidiano para</p><p>exploração;</p><p>• TV, computador, aparelho de som, CD;</p><p>• triciclos e carrinhos para empurrar e dirigir;</p><p>• tanques/canchas de areia, brinquedos de areia e água;</p><p>• estruturas para trepar, subir, descer, balançar, esconder;</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>112</p><p>• materiais de artes e construções;</p><p>• tecidos diversos;</p><p>• bandinha rítmica.</p><p>Crianças</p><p>maiores (quatro</p><p>a seis anos)</p><p>• boliches, jogos de memória, quebra-cabeça, dominó,</p><p>blocos lógicos, loto, jogos de profissões e outros temas;</p><p>• materiais de arte, pintura, desenho;</p><p>• CD com músicas, danças, TV, máquina fotográfica,</p><p>gravador, aparelho de som, computador, impressora;</p><p>• jogos de construção, brinquedos para faz de conta e</p><p>acessórios para brincar;</p><p>• teatro e fantoches (de famílias de diversas etnias, de</p><p>animais, de personagens do folclore, entre outros);</p><p>• materiais e brinquedos estruturados e não estruturados;</p><p>• bandinha rítmica;</p><p>• brinquedos de parque, tanques de areia e materiais</p><p>diversos para brincadeiras na água e areia;</p><p>• sucata doméstica e industrial e materiais da natureza;</p><p>• papéis, papelão, cartonados, revistas, jornais, gibis,</p><p>cartazes e folhas de propaganda;</p><p>• bola, corda, bambolê, pião, papagaio, cinco marias, bilboquê,</p><p>perna de pau, amarelinha, varetas gigantes, triciclos,</p><p>carrinhos;</p><p>• livros infantis, letras móveis, material dourado, globo,</p><p>mapas, lupas, balança, peneiras, copinhos e colheres de</p><p>medida.</p><p>FONTE: Adaptado de Kishimoto (2010)</p><p>3.2 SALA MULTIUSO OU BRINQUEDOTECA</p><p>A sala multiuso é um espaço destinado para a realização de atividades</p><p>diferenciadas, propostas pelo professor no planejamento, como:</p><p>• assistir a vídeos, filmes, DVDs: este tipo de atividade não deve ocorrer</p><p>diariamente, pois, em casa, a maioria das crianças já passa muito tempo em</p><p>frente à televisão. Por isto também é importante que a televisão não fique na</p><p>sala de atividades e sim num espaço específico para este momento;</p><p>• ouvir uma história ou manusear os livros: apesar de a própria sala de</p><p>atividades ter um ambiente para a leitura, o fato de as crianças se deslocarem</p><p>para um novo espaço, mais silencioso, para ouvir uma história, assistir a um</p><p>teatro de fantoches, entre outros, faz com que elas se tornem mais receptivas</p><p>e atentas;</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>113</p><p>• escutar uma música, dançar, fantasiar-se etc.: como vimos anteriormente,</p><p>estas atividades também podem ser realizadas na sala de atividades conforme</p><p>o planejamento do professor. Caso não seja possível ter em cada sala um</p><p>espaço com roupas e sapatos de adultos para as crianças brincarem (canto</p><p>da fantasia), este espaço também pode ser utilizado para isto, já que todas as</p><p>turmas podem ter acesso a ele.</p><p>3.3 REFEITÓRIO</p><p>O refeitório é o espaço utilizado para as crianças se alimentarem,</p><p>estimulando que elas se sirvam e se alimentem sozinhas assim que possível,</p><p>de forma a desenvolver a sua autonomia. Também é um espaço de socialização</p><p>entre crianças de diversas faixas etárias. Conforme os Parâmetros Básicos de</p><p>Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), este espaço</p><p>deve se localizar próximo da cozinha e contar com um mobiliário móvel, de</p><p>forma a possibilitar diversas formas de organização do ambiente e prevendo a</p><p>utilização por 1/3 das crianças do turno maior, intercalando as turmas no horário</p><p>da alimentação.</p><p>FIGURA 14 – REFEITÓRIO U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora</p><p>Este espaço também pode ser decorado com móbiles, desenhos das crianças,</p><p>deixando-o ainda mais divertido e interessante para elas. Os móveis devem ser adaptados</p><p>ao tamanho das crianças, possibilitando que elas se sentem, se levantem e se alimentem</p><p>sozinhas.</p><p>DICAS</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>114</p><p>3.4 BANHEIROS</p><p>O ideal é que estejam próximos das salas das crianças, porém bem longe</p><p>da cozinha e do refeitório, sem ter ligação direta com eles. De acordo com os</p><p>Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil</p><p>(BRASIL, 2006a), os pisos e paredes precisam ser de fácil limpeza, as janelas com</p><p>boa iluminação, as portas não devem conter chaves nem trincos e os lavatórios</p><p>precisam ser adequados de acordo com a altura das crianças (algo em torno de</p><p>0,60 cm), os sanitários também necessitam ser pequenos.</p><p>FIGURA 15 – LAVATÓRIO U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉLINO KUHNEN INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora</p><p>É importante que os banheiros sejam adequados ao tamanho das crianças,</p><p>para permitir que elas façam uso do espaço de forma cada vez mais autônoma.</p><p>Para as crianças identificarem qual o banheiro correto a ser utilizado (para os</p><p>meninos e para as meninas), é interessante identificá-los com figuras que lembrem</p><p>objetos utilizados por eles ou até mesmo imagens de meninos e/ou meninas.</p><p>3.5 PÁTIO COBERTO</p><p>O pátio coberto</p><p>161</p><p>3 OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS ............................................................................................... 163</p><p>4 A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ....... 179</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 182</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 184</p><p>REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 186</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...... 189</p><p>TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS ............................................... 191</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 191</p><p>2 A ABORDAGEM DE REGGIO EMÍLIA NA EDUCAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA ...... 192</p><p>3 APRENDER E ENSINAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL .......................................................... 197</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 204</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 206</p><p>TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES</p><p>NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................................................... 207</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 207</p><p>2 RELAÇÕES DE AFETIVIDADE NAS INTERAÇÕES DO DIA A DIA ................................ 208</p><p>3 PAIS E EDUCADORES: UMA IMPORTANTE PARCERIA NA EDUCAÇÃO</p><p>DAS CRIANÇAS ............................................................................................................................. 213</p><p>4 OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO .................................................................................. 217</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 221</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 222</p><p>TÓPICO 3 — A PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ........................ 223</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 223</p><p>2 A PEDAGOGIA DE PROJETOS ................................................................................................... 223</p><p>3 O PROFESSOR NA PEDAGOGIA DE PROJETOS .................................................................. 229</p><p>4 AS CRIANÇAS E O GRUPO NA PEDAGOGIA DE PROJETOS .......................................... 231</p><p>5 AS FAMÍLIAS E A COMUNIDADE NESTA PEDAGOGIA .................................................. 233</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 235</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 236</p><p>TÓPICO 4 — AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................... 239</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 239</p><p>2 A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CRIANDO ALTERNATIVAS QUE</p><p>RESPEITEM A DIVERSIDADE .................................................................................................... 239</p><p>3 OBSERVAÇÃO, REGISTRO E AVALIAÇÃO FORMATIVA .................................................. 244</p><p>4 POR QUE E PARA QUE REGISTRAR ........................................................................................ 247</p><p>4.1 PORTFÓLIO ................................................................................................................................ 249</p><p>4.2 DOSSIÊ ......................................................................................................................................... 250</p><p>4.3 ARQUIVO BIOGRÁFICO .......................................................................................................... 251</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 253</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 255</p><p>AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 256</p><p>REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 258</p><p>1</p><p>UNIDADE 1 —</p><p>AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES</p><p>TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL:</p><p>RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• conhecer os principais teóricos da Educação Infantil;</p><p>• diferenciar as metodologias e concepções de cada teórico;</p><p>• compreender o papel do professor e da escola dentro de cada concepção;</p><p>• estabelecer relações entre as concepções teórico-pedagógicas;</p><p>• relacionar as diferentes concepções com a prática diária da Educação</p><p>Infantil.</p><p>Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da</p><p>unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o</p><p>conteúdo apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – A PEDAGOGIA WALDORF</p><p>TÓPICO 2 – A PEDAGOGIA MONTESSORI</p><p>TÓPICO 3 – A PEDAGOGIA FREINET</p><p>TÓPICO 4 – O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET</p><p>TÓPICO 5 – O SOCIOINTERACIONISMO DE VIGOTSKI</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos</p><p>em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá</p><p>melhor as informações.</p><p>CHAMADA</p><p>2</p><p>3</p><p>TÓPICO 1 —</p><p>UNIDADE 1</p><p>A PEDAGOGIA WALDORF</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Não há, basicamente, em nenhum nível, uma educação que não seja a</p><p>autoeducação:</p><p>[...] toda educação é autoeducação e nós, como professores e</p><p>educadores, somos, em realidade, apenas o ambiente da criança</p><p>educando-se a si própria. Devemos criar o mais propício ambiente</p><p>para que a criança eduque-se junto a nós, da maneira como ela precisa</p><p>educar-se por meio de seu destino interior (STEINER, 2000, s.p.</p><p>[palestra proferida em 1923]).</p><p>Vamos iniciar nossa caminhada conhecendo o teórico Rudolf Steiner?</p><p>Você já ouviu falar nele ou nas escolas Waldorf? Sabe qual é a teoria que ele</p><p>desenvolveu e qual foi a sua contribuição para a Educação Infantil?</p><p>A Pedagogia Waldorf, criada por Steiner, tem como base a sua teoria do</p><p>desenvolvimento humano: a antroposofia. Esta pedagogia não exige do aluno o</p><p>pensamento abstrato, a não ser no Ensino Médio, e se desenvolve levando em</p><p>consideração a fase em que as crianças se encontram. Pode ser considerada uma</p><p>pedagogia holística, pois valoriza o desenvolvimento físico, etéreo e astral.</p><p>E então, ficou curioso para desvendar as características da Pedagogia</p><p>Waldorf? Vamos lá!</p><p>2 RUDOLF STEINER (1861-1925)</p><p>Para compreendermos a Pedagogia Waldorf, primeiramente estudaremos</p><p>sobre a vida de Rudolf Steiner, tendo por base os textos de Trevisan (2006) e</p><p>Canelada (2011).</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>4</p><p>FIGURA 1 – RUDOLF STEINER</p><p>FONTE: <https://docplayer.es/docs-images/76/73554245/images/24-0.jpg>.</p><p>Acesso em: 15 maio 2021.</p><p>Steiner nasceu em 27 de fevereiro de 1861, na cidade de Kraljevec, na Áustria.</p><p>Morou até os oito anos de idade na cidade de Pottschach, no mesmo país, onde foi</p><p>educado pelo pai, devido a um desentendimento com o professor. Foi o primeiro</p><p>dos três filhos do casal que levava uma vida simples. Morava em um edifício na</p><p>precisa ser amplo, para que todas as crianças da instituição</p><p>consigam usá-lo ao mesmo tempo. Também é necessário prever a sua utilização</p><p>para festas ou reuniões com os pais e para a realização das atividades físicas</p><p>em dias de chuva. De acordo com os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para</p><p>Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), caso a instituição não possua</p><p>um espaço coberto, próprio para estes fins, pode-se utilizar o refeitório.</p><p>TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>115</p><p>3.6 ÁREA EXTERNA</p><p>Este espaço necessita ser amplo para poder ser usado por todas as crianças</p><p>da instituição, para as festas da escola ou comunidade, para as atividades físicas</p><p>e de lazer, entre outros. Por ser uma área descoberta, é mais comum ser utilizada</p><p>em dias nublados ou com sol. Além disso, os Parâmetros Básicos de Infraestrutura</p><p>para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a, p. 26) sugerem que estes</p><p>espaços contemplem, sempre que possível:</p><p>[...] duchas com torneiras acessíveis às crianças, quadros azulejados</p><p>com torneira para atividades com tinta lavável, brinquedos de parque,</p><p>pisos variados, por exemplo, grama, terra e cimento. Havendo</p><p>possibilidades, deve contemplar anfiteatro, casa em miniatura, bancos,</p><p>brinquedos como escorregador, trepa-trepa, balanços, túneis etc. Deve</p><p>ser ensolarada e sombreada, prevendo a implantação de área verde,</p><p>que pode contar com local para pomar, horta e jardim.</p><p>Caso a instituição tenha playground, é preciso ficar atento se está em boas</p><p>condições de uso e observar como as crianças farão uso dos brinquedos. Por serem</p><p>bastante ativas, pode acontecer de tentarem pular de onde “não devem” ao invés de</p><p>escorregar ou descer pela escada, subir por caminhos inadequados e fáceis de causar</p><p>uma queda, pelo simples fato de se sentirem desafiadas pelas novidades. No mais, o</p><p>playground é um espaço de interação, com diversos “[...] desafios motores, como morros,</p><p>estruturas para escalar, pular, descer, girar, balançar” (KISHIMOTO, 2010, p. 9).</p><p>FIGURA 16 – PLAYGROUND U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉLINO KUHNEN, INDAIAL/SC</p><p>FONTE: A autora</p><p>Nestes espaços é comum encontrar canchas de areia para as crianças</p><p>brincarem. No entanto, é importante que a areia seja cercada e coberta, evitando assim</p><p>que animais contaminem a areia, causando doenças nas crianças que utilizam o espaço.</p><p>Também é importante disponibilizar brinquedos ou objetos que possam ser transformados,</p><p>transportados e manipulados facilmente pelas crianças.</p><p>ATENCAO</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>116</p><p>Caro acadêmico! Chegamos ao final de mais um tópico. Gostou das</p><p>dicas que disponibilizamos no decorrer do texto? No próximo tópico, traremos</p><p>diversas informações sobre a organização do tempo e da rotina pelo professor da</p><p>Educação Infantil. Não perca, continue conosco!</p><p>Agradecimentos especiais à Secretaria Municipal de Educação de Indaial</p><p>(SC) e à Unidade de Educação Infantil, do Bairro João Paulo II – José Lino Kuhnen – pela</p><p>disponibilização dos espaços nas fotografias que ilustraram este tópico.</p><p>DICAS</p><p>117</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Os espaços para crianças de zero a um ano de idade devem ser organizados</p><p>privilegiando o cuidar e o educar, a fim de desenvolver as crianças de forma</p><p>plena. Deve conter: sala de repouso, sala para atividades, fraldário, lactário e</p><p>solário.</p><p>• O espaço físico para crianças de um a seis anos de idade deve possibilitar e</p><p>contribuir para a vivência e a expressão das culturas infantis, por meio de</p><p>jogos, brincadeiras, músicas e histórias. Os espaços mais utilizados pelas</p><p>crianças desta faixa etária são: sala de atividades, sala multiuso, refeitório,</p><p>banheiro, pátio coberto e área externa.</p><p>• As salas de atividades são espaços lúdicos, organizados em cantinhos. Entre</p><p>eles, podemos citar: cantinho da fantasia, da leitura, dos brinquedos, dos</p><p>jogos, das artes, das atividades domésticas, do salão de beleza, do mercado.</p><p>• A forma como são organizadas as salas nas instituições de Educação Infantil</p><p>depende do planejamento do professor, dos objetivos que ele pretende</p><p>alcançar, do que quer desenvolver/estimular nas crianças, sendo parte</p><p>integrante da prática pedagógica.</p><p>• Por ser um parceiro da prática educativa, a organização dos ambientes não</p><p>deve ser engessada e sim modificada periodicamente.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>118</p><p>1 Você se lembra de que, lá no início do tópico, pedimos para socializar</p><p>as dicas de organização dos espaços que você conhece e que não foram</p><p>indicadas no livro didático? Mãos à obra!</p><p>Complete o quadro a seguir, informando a faixa etária, o espaço onde esta</p><p>dica pode ser utilizada (sala de atividades, refeitório, banheiros etc.) e a</p><p>dica em si. Socialize suas ideias com os colegas no momento da correção</p><p>das autoatividades. Bom trabalho!</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>Faixa etária Espaços Dica</p><p>2 De acordo com o Livro didático, quais são os espaços que não podem faltar</p><p>numa instituição que atende crianças de 0 a 1 ano de idade?</p><p>3 No caso do atendimento de crianças de 1 a 6 anos de idade, quais são os</p><p>espaços essenciais?</p><p>4 Os espaços de atendimento para crianças de 0 a 1 ano de idade são</p><p>organizados pensando em privilegiar dois elementos específicos. Sobre</p><p>quais são esses elementos, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) O cuidar e alimentar.</p><p>b) ( ) O educar e desenvolver.</p><p>c) ( ) O cuidar e educar.</p><p>d) ( ) O desenvolver e alimentar.</p><p>5 Os espaços de atendimento para crianças de 1 a 6 anos de idade, são</p><p>organizados pensando em privilegiar dois elementos específicos. Sobre</p><p>quais são esses elementos, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) As vivências e expressões da cultura infantil.</p><p>b) ( ) As atividades físicas.</p><p>c) ( ) As tarefas escoalres.</p><p>d) ( ) As atividades disciplinares.</p><p>119</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>A palavra rotina normalmente nos remete a algo sempre igual, realizado</p><p>da mesma maneira, todos os dias, com horários preestabelecidos, de maneira</p><p>chata, sem graça e cansativa, não é mesmo? Pois é importante deixar claro que</p><p>esta definição para rotina acontece em 90% dos casos, na concepção dos adultos.</p><p>Rotina para as crianças é algo muito mais interessante e significa,</p><p>basicamente, tudo o que eles terão para fazer durante o período em que estiverem</p><p>na escola. Isso exige, por parte dos educadores, planejar criativamente atividades</p><p>novas e diferentes, respeitando os mesmos espaços e tempos disponíveis na</p><p>unidade escolar.</p><p>O melhor de tudo isso é saber que cada instituição tem liberdade para</p><p>decidir como serão as suas rotinas, contando com o apoio e participação de seus</p><p>gestores e equipe pedagógica. Em alguns casos, até os pais e crianças podem opinar.</p><p>Ficou curioso? Quer saber mais? Continue conosco, então!</p><p>2 A ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DA ROTINA</p><p>As rotinas são extremamente importantes na educação infantil, pois elas</p><p>auxiliam na organização do trabalho pedagógico dos educadores e, também,</p><p>diminuem o nível de ansiedade das crianças, quando estas compreendem a</p><p>sequência das atividades a serem desenvolvidas.</p><p>Depois de acordar, mamar. Depois de mamar, sorrir. Depois de sorrir,</p><p>cantar. Depois de cantar, comer. Depois de comer, brincar. Depois de</p><p>brincar, pular. Depois de pular, cair. Depois de cair, chorar. Depois de</p><p>chorar, falar. Depois de falar, correr. Depois de correr, parar. Depois</p><p>de parar, ninar. Depois de ninar, dormir. Depois de dormir, sonhar</p><p>(PERES; TATIT; DEARDYK, 1999).</p><p>De acordo com Barbosa (2006, p. 35):</p><p>A importância das rotinas na educação infantil provém da possibilidade</p><p>de constituir uma visão própria como concretização paradigmática</p><p>de uma concepção de educação e de cuidado. É possível afirmar que</p><p>elas sintetizam o projeto pedagógico das instituições</p><p>e apresentam a</p><p>proposta de ação educativa dos profissionais. A rotina é usada, muitas</p><p>TÓPICO 2 —</p><p>A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA</p><p>EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>120</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>vezes, como o cartão de visitas da instituição, quando da apresentação</p><p>desta aos pais ou à comunidade ou como um dos pontos centrais de</p><p>avaliação da programação educacional.</p><p>Afinal, o que faz parte dessa rotina?</p><p>Absolutamente tudo o que acontece na instituição, seria a resposta. Desde</p><p>o horário de entrada e saída das crianças, a hora do lanche, da higiene, da história,</p><p>da brincadeira, do canto, entre outras atividades que compõem o cotidiano da</p><p>Educação Infantil. A rotina nada mais é do que um esquema, uma pauta do que</p><p>se vai fazer e de como será feita esta ou aquela atividade.</p><p>Como elaborar uma rotina que satisfaça as necessidades dos bebês e</p><p>crianças pequenas?</p><p>Antes de tudo é preciso lembrar que, em tudo que se faz na Educação</p><p>Infantil, há que se estabelecer uma fortíssima relação entre o cuidar e o educar.</p><p>As necessidades básicas das crianças como a alimentação, o descanso e a higiene</p><p>são tão importantes quanto às necessidades de interação, afetividade e cognição.</p><p>Quando conseguimos atender as nossas crianças em suas necessidades básicas,</p><p>aliando-as às finalidades educativas, estamos muito próximos daquilo que</p><p>consideramos a educação ideal.</p><p>Com os bebês não é fácil manter uma rotina fixa, pois eles dormem mais,</p><p>trocam mais vezes de fralda, choram mais, querem colo, mas, à medida que vão</p><p>crescendo, também passam a incorporar estas rotinas, tão fundamentais ao seu</p><p>desenvolvimento.</p><p>Com relação aos demais, sugerimos que essa rotina seja exposta em sala,</p><p>com figuras, desenhos ou imagens fotografadas do próprio grupo, representando</p><p>cada atividade a ser desenvolvida. Quando a criança visualiza a sequência das</p><p>atividades daquele dia, sente-se mais segura e tranquila. Crianças menores</p><p>adoram saber o que vai acontecer. Desta forma, também aprendem a esperar,</p><p>compreendendo que nem tudo acontece na hora e do jeito que elas desejam.</p><p>FIGURA 17 – SABENDO APROVEITAR O TEMPO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/2TO6nfC>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>121</p><p>O que temos que levar em conta na hora de planejar nossa rotina de</p><p>maneira que saibamos aproveitar o tempo de que dispomos com nossas crianças?</p><p>Devemos levar em conta, principalmente, a idade das crianças. Não se</p><p>aconselha planejar atividades que ultrapassem o tempo de concentração delas;</p><p>também não se pode dar pouco tempo às brincadeiras no parque, porque elas</p><p>vão reclamar; os recados e combinados muitas vezes não serão compreendidos de</p><p>primeira, ou seja, com as crianças menores, a repetição dos comandos é absolutamente</p><p>natural, até que todos compreendam as normas e estejam adaptados a elas.</p><p>Conheça, a seguir, um exemplo de rotina na Educação Infantil, para cada</p><p>dia da semana. Note que algumas atividades aparecerão na rotina de todos os</p><p>dias, pois são consideradas essenciais: a acolhida, o parque e as brincadeiras, a</p><p>leitura de história, a roda do canto, o lanche, a higiene, o descanso e a despedida.</p><p>Já as demais atividades e momentos de socialização vão sendo encaixados à</p><p>rotina, de acordo com a disponibilidade dos professores ou o ritmo do grupo:</p><p>QUADRO 3 – ROTINAS</p><p>Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira</p><p>Acolhida Acolhida Acolhida Acolhida Acolhida</p><p>Parque e</p><p>brincadeiras</p><p>Parque e</p><p>brincadeiras</p><p>Parque e</p><p>brincadeiras</p><p>Parque e</p><p>brincadeiras</p><p>Parque e</p><p>brincadeiras</p><p>Psicomotricidade Inglês Musicalização Formação Psicomotricidade</p><p>Roda do Canto Roda do Canto Roda do Canto Roda do Canto Roda do Canto</p><p>Higiene (troca</p><p>de fraldas)-</p><p>descanso</p><p>Higiene (troca</p><p>de fraldas)-</p><p>descanso</p><p>Higiene (troca</p><p>de fraldas)-</p><p>descanso</p><p>Higiene (troca</p><p>de fraldas)-</p><p>descanso</p><p>Higiene (troca</p><p>de fraldas)-</p><p>descanso</p><p>Lanche Lanche Lanche Lanche Lanche</p><p>Escovação Escovação Escovação Escovação Escovação</p><p>Leitura de</p><p>história</p><p>Leitura de</p><p>história</p><p>Leitura de</p><p>história</p><p>Leitura de</p><p>história</p><p>Leitura de</p><p>história</p><p>Atividade</p><p>artística/jogo</p><p>Atividade</p><p>artística/jogo</p><p>Atividade</p><p>artística/jogo</p><p>Atividade</p><p>artística/jogo</p><p>Atividade</p><p>artística/jogo</p><p>despedida despedida despedida despedida despedida</p><p>FONTE: A autora</p><p>122</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>Vale destacar, prezado acadêmico, que na elaboração das rotinas é</p><p>interessante equilibrar a intensidade, intercalando atividades mais calmas e</p><p>agitadas, individuais ou coletivas, que incentivem a concentração ou a cooperação,</p><p>que estimulem a autonomia ou o trabalho em equipe. É muito importante também</p><p>pensar nas crianças que permanecem o dia todo na instituição e gerar uma rotina</p><p>diversificada e criativa, para que elas não se aborreçam. Sugerimos que a primeira</p><p>coisa do dia seja a apresentação da rotina às crianças, controlando o nível de</p><p>ansiedade do grupo.</p><p>FIGURA 18 – ROTINA DO DIA</p><p>FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=GN7eJtj2of8l>. Acesso em: 30 maio. 2021.</p><p>A rotina planejada não deve ser considerada pronta e acabada, ou seja,</p><p>fechada a novos desafios e tampouco gerar frustrações ao educador pela não realização</p><p>de algum item em função de outro mais interessante ou pela falta de tempo hábil para</p><p>seu cumprimento. Esta rotina precisa ser flexível e prever novas situações, auxiliando as</p><p>crianças a lidarem com os imprevistos.</p><p>UNI</p><p>A rotina pode ser alterada e, por que não, até ser combinada com as crianças,</p><p>que “ajudam” a professora a montar a sequência das atividades no varal de fotos ou quadro</p><p>de rotinas daquele dia. Experimente! As crianças, desta forma, se sentirão protagonistas em</p><p>seu próprio processo de ensino-aprendizagem.</p><p>UNI</p><p>TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>123</p><p>E a questão do tempo, como funciona para as crianças?</p><p>Quando a criança passa a compreender a sequência das atividades e a</p><p>sua duração, começa a desenvolver as primeiras noções de tempo. Essas noções</p><p>se desenvolvem durante a primeira infância, num processo relativamente longo.</p><p>Não é nada incomum ouvirmos uma criança pequena dizer que “amanhã eu fui</p><p>no meu avô” ou que” amanhã eu fiz aniversário”. Isso mostra a confusão que a</p><p>questão do tempo ainda provoca nelas durante o processo de desenvolvimento.</p><p>Por isso, é importante estabelecer com elas uma rotina, por meio de uma sequência</p><p>de acontecimentos em uma determinada ordem com início, meio e fim.</p><p>Segundo Jaume (apud ARRIBAS, 2004, p. 35):</p><p>Toda a segurança que a criança irá sentir no ambiente escolar se dá</p><p>no adequado planejamento das atividades. Portanto, o tempo é fator</p><p>essencial neste planejamento. São necessários pontos de referência</p><p>estáveis, que se repitam diariamente. É desta forma que a criança se</p><p>estrutura, tendo a segurança do que virá depois.</p><p>As crianças, ao visualizarem, por exemplo, a rotina do dia e encontrarem a</p><p>figura do lanche, são capazes de descobrir o que vem antes dele (que está no meio</p><p>da manhã ou da tarde) e o que vem depois; percebem que, quando a professora</p><p>realiza uma atividade artística ou jogo, já se aproxima a hora de ir embora e, desta</p><p>forma, mesmo sem conhecer as horas, estabelecem suas próprias relações com a</p><p>questão do tempo.</p><p>Com o avançar da idade, sentem-se interessadas em saber sobre as horas,</p><p>os dias da semana, os meses e assim por diante.</p><p>FIGURA 19 – O TEMPO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3j4IDOX>. Acesso em: 30 maio. 2021.</p><p>Barbosa (2006, p. 151) questiona:</p><p>124</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>A quem pertence o tempo? Às instituições? Aos professores? Às</p><p>crianças em grupo ou no singular? Um dos objetivos centrais da</p><p>temporalização da vida das crianças está relacionado</p><p>à estruturação</p><p>do tempo coletivo, mas deve-se fazer isso sem deixar de respeitar os</p><p>tempos pessoais.</p><p>3 ROTINA E PLANEJAMENTO: O PAPEL DO PROFESSOR</p><p>De acordo com Ostetto (2004), o educador deve assumir o planejamento</p><p>educativo como um momento reflexivo, pois ele não é apenas um papel que</p><p>preencherá, é atitude e envolve todas as ações e situações cotidianas presentes</p><p>em seu trabalho pedagógico.</p><p>E quando este mesmo educador pensar a rotina, deve fazê-lo de modo a</p><p>criar espaço para os cuidados básicos em consonância com a aprendizagem das</p><p>crianças por meio da interação individual ou coletiva.</p><p>FIGURA 20 – PLANEJAMENTO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3zDZMoo>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>Para o aprofundamento teórico destas e outras questões pertinentes à</p><p>Educação Infantil, sugerimos a leitura das seguintes bibliografias:</p><p>• LOPES, A. C. T. Educação infantil e registro de práticas. Cortez, 2009.</p><p>• SCHILLER, P. ; ROSSANO, J. Ensinar e aprender brincando: mais de 750 atividades para</p><p>a educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.</p><p>• MILLER, K. Educação infantil: como lidar com situações difíceis. Porto Alegre: 2008.</p><p>KRAEMER, M. L. Aprendendo com criatividade. São Paulo: Autores Associados, 2010.</p><p>DICAS</p><p>TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>125</p><p>Neste sentido, o planejamento torna-se indispensável. Todos os detalhes</p><p>devem ser pensados, pois muitos momentos diferentes formam a proposta</p><p>pedagógica da Educação Infantil, que hoje não pode mais ser encarada de maneira</p><p>assistencialista, ou seja, o lugar onde as crianças recebem apenas os “cuidados” e</p><p>a educação, o estímulo e a cognição não teriam espaço.</p><p>Considerando a quantidade de horas que as crianças passam no cenário</p><p>‘escola’, é fácil pensar que este ambiente será de significação relevante</p><p>na história e na vida delas e que, portanto, deve ser devidamente</p><p>pensado e planejado em função dos objetivos, dos sujeitos. Trata-se de</p><p>utilizar a escola como uma ferramenta pedagógica (MUNTAÑOLA,</p><p>1980 apud ARRIBAS, 2004, p. 364).</p><p>O educador infantil deve ser consciente da importância de seu papel</p><p>na vida das pequenas crianças, conhecê-las profundamente, estabelecer laços</p><p>de afetividade com elas e, principalmente, estar ciente de todas as etapas que</p><p>compõem o desenvolvimento infantil. Desta forma, planejará suas ações pautadas</p><p>nas Múltiplas Linguagens e nos Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento,</p><p>de acordo com a BNCC da Educação Infantil, em seus Campos de Experiências,</p><p>possibilitando o desenvolvimento integral das crianças.</p><p>Na hora de planejar, o que não pode faltar?</p><p>Em primeiríssimo lugar, o respeito pelas crianças em suas especificidades,</p><p>de acordo com a faixa etária do grupo.</p><p>Em seguida, deve-se pensar nas experiências essenciais às crianças, como:</p><p>a brincadeira, o movimento, a autonomia, a identidade, a linguagem oral, a</p><p>música e a arte. Vale a pena investir em um planejamento que se aproveite destas</p><p>“palavras mágicas” tão presentes no mundo infantil.</p><p>Para Ostetto (2004, p. 190),</p><p>Elaborar um “planejamento bem planejado” no espaço da Educação</p><p>Infantil significa entrar na relação com as crianças (e não com os alunos!),</p><p>mergulhar na aventura em busca do desconhecido,construir a identidade</p><p>de grupo junto com as crianças. Assim, mais do que conteúdos da</p><p>matemática, da língua portuguesa e das ciências, o planejamento na</p><p>Educação Infantil é essencialmente linguagem, formas de expressão e</p><p>leitura do mundo que nos rodeia e que nos causa espanto e paixão por</p><p>desvendá-lo, formulando perguntas e convivendo com a dúvida.</p><p>Ficou interessado em saber quais são os Campos de Experiências da Educação</p><p>Infantil? O Tópico 4 desta unidade abordará com mais profundidade cada um destes</p><p>campos, aguarde!</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>126</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>Prezado acadêmico. A seguir, traremos dicas de como se pode planejar a</p><p>rotina, levando em consideração os eixos norteadores da Educação Infantil, com</p><p>responsabilidade, criatividade e, acima de tudo, comprometimento com a difícil,</p><p>porém encantadora, arte de cuidar/educar na Educação Infantil. Para isso, traremos</p><p>as mesmas atividades sugeridas na rotina semanal que criamos, elencando seus</p><p>principais objetivos e incorporando-os à prática, pode ser? Vamos lá, então!</p><p>Acolhida</p><p>• É um dos momentos mais importantes, pois conforme o próprio nome já diz:é</p><p>o momento de acolher, receber a criança e oferecer-lhe a certeza de que estará</p><p>em boas mãos enquanto os pais não estarão com ela.</p><p>• Essa acolhida precisa ser calorosa, amorosa, verdadeira.</p><p>• A criança precisa sentir que a professora está feliz em vê-la e que está disposta</p><p>a estar com ela, em todos os momentos, até a volta dos pais.</p><p>FIGURA 21 – ACOLHIDA</p><p>FONTE: <https://farm7.static.flickr.com/6183/6047846883_ac611c8ee5.jpg>.</p><p>Acesso em: 8 ago. 2020.</p><p>Parque/Brincadeiras</p><p>• As crianças amam os parques porque se divertem ao ar livre. Nestes espaços</p><p>é que se possibilita facilmente desenvolver atitudes de preservação ecológica</p><p>(o professor deve aproveitar essa oportunidade).</p><p>• Enquanto brinca a criança interage e convive com os colegas, desenvolvendo</p><p>sua imaginação, autonomia, identidade e movimento.</p><p>• Crianças transformam tudo o que encontram em brinquedos. Adoram a caixa</p><p>de areia e brinquedos de plástico que facilitem seu transporte de um canto a</p><p>outro ou que se transformam em panelas de comida ou formas de bolo, para</p><p>as incríveis receitas ali mesmo preparadas.</p><p>• É através da brincadeira que a criança entende o mundo, ampliando seu</p><p>universo de informações.</p><p>TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>127</p><p>• Brincar é um direito que as crianças têm – o professor pode e deve envolver-</p><p>se nas brincadeiras e tornar estes momentos tão prazerosos em experiências</p><p>educativas.</p><p>FIGURA 22 – PARQUES</p><p>FONTE: <http://blog.bestplay.com.br/brinquedos-para-parque-infantil-escolar-seguro/>.</p><p>Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>Roda do Canto/Musicalização</p><p>• É a hora de “pôr a voz para fora”: até as crianças mais tímidas adoram cantar.</p><p>• Através da música, é possível estreitar laços com as crianças e até mesmo com as</p><p>próprias famílias, quando se faz, por exemplo, um resgate das canções de ninar.</p><p>• As canções podem vir acompanhadas de palmas, rodas, cirandas, dramatizações</p><p>etc. ampliando a atenção e a percepção sonora das crianças.</p><p>• Aos poucos, a criança vai ampliando seu repertório, desenvolvendo cada vez</p><p>mais a fala, a escuta atenta, a participação e a memória.</p><p>• Através do manuseio de instrumentos musicais ou de sucata, as crianças</p><p>começam a compreender os diferentes ritmos e sons.</p><p>• Todos devem participar na escolha das canções. Cabe ao professor coordenar</p><p>esta tarefa (em forma de rodízio, ajudante do dia).</p><p>• É importante selecionar músicas de qualidade, sempre!</p><p>FIGURA 23 – RODA DO CANTO</p><p>FONTE: <https://cutt.ly/8nBUiBe>. Acesso em: 8 ago. 2020.</p><p>128</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>FIGURA 24 – CD PALAVRA CANTADA</p><p>FONTE: <https://paranaportal.uol.com.br/gente/palavra-cantada-comemora-25-anos-curitiba/>.</p><p>Acesso em: 30 maio. 2021.</p><p>Higiene/escovação/descanso</p><p>• É um dos primeiros sentimentos de independência de que a criança desfruta</p><p>na instituição. Para ela, escovar os dentes ou lavar as mãos sozinha representa</p><p>uma grande conquista, tanto que é bem comum a professora ter que intervir</p><p>para que feche a torneira, pois ela perde literalmente a noção do tempo,</p><p>enquanto “brinca” com a água.</p><p>• Quando participa efetivamente dos cuidados com o próprio corpo, a criança</p><p>aprende a conhecê-lo melhor. Aos poucos, vai aprendendo a lavar e secar</p><p>as mãos, fazer xixi e cocô sem utilizar a fralda e limpar-se sozinha (este é</p><p>um processo lento que precisa ser estimulado gradativamente); dar</p><p>descarga,</p><p>assoar o nariz e escovar os dentes.</p><p>• Durante a escovação, é importante auxiliar de perto as crianças e administrar</p><p>o creme dental sobre a escova – elas acabam “comendo mais creme” do que</p><p>escovando os dentes, até porque hoje eles possuem cheiros e gostos bastante</p><p>atrativos.</p><p>Você já ouviu falar nos CDs da “Palavra Cantada”? Sandra Peres e Paulo Tatit</p><p>são músicos compositores e produtores. Eles escrevem canções infantis que valorizam a</p><p>inteligência e a sensibilidade inata das crianças, integrando a riqueza da tradição musical</p><p>brasileira a um novo repertório. Em 2019, eles comemoraram 25 anos de muito sucesso nos</p><p>palcos, instituições e lares infantis! Vale a pena conhecer!</p><p>DICAS</p><p>TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>129</p><p>• As fraldas devem ser trocadas sempre que houver necessidade e com todos os</p><p>cuidados possíveis. É importante evitar a exposição das crianças – sugerimos</p><p>um cantinho mais reservado da sala. Enquanto a criança está sendo trocada,</p><p>o ideal é que se converse, cante ou que se sorria para ela, transformando</p><p>este momento em algo gostoso, natural. Deve-se evitar qualquer comentário</p><p>negativo à criança, por exemplo: “Nossa, que cocô fedido”, ou, então, “Nossa,</p><p>quanto cocô você fez hoje!” entre outros, pois a criança pode entender que</p><p>você não gosta de limpá-la, preferindo trancar suas fezes.</p><p>Para Gutierrez (apud ARRIBAS, 2004, p. 36):</p><p>Os hábitos relacionados à higiene têm duas vertentes: uma de relação,</p><p>outra de educação. No aspecto de relação, a limpeza se apresenta</p><p>para criar uma imagem positiva do próprio corpo. Este modelo vem</p><p>dos adultos. No aspecto da educação, é necessário perceber a riqueza</p><p>dos prazeres que a higiene proporciona ao corpo, a abundância de</p><p>sensações que ativa e seu significado para a saúde psicofísica, assim</p><p>como a quantidade de valores e diretrizes que transmite nos hábitos</p><p>que estão relacionados a ela.</p><p>• O momento do descanso é muito mais comum nas creches ou escolas de</p><p>tempo integral, onde as crianças permanecem mais tempo, sendo opcional</p><p>nas escolas em que ficam apenas um dos períodos. Ele deve representar</p><p>um momento tranquilo na rotina da criança. Para isso, sugerimos berços ou</p><p>colchonetes em salas específicas, distantes do barulho e com música clássica</p><p>ao fundo. A criança poderá auxiliar na hora de arrumar as “camas”, sentindo-</p><p>se segura nesta tarefa por estar acompanhada da professora e demais colegas.</p><p>Outra dica interessante é deixá-la trazer de casa seu travesseiro, cheirinho ou</p><p>bichinho de pano (antialérgico) para a hora do descanso.</p><p>FIGURA 25 – HORA DO SONINHO</p><p>FONTE: <https://cutt.ly/znBUCAg>. Acesso em: 11 ago. 2020.</p><p>• Na hora de despertar as crianças de seu soninho, deve-se fazê-lo com muita</p><p>cautela, com voz baixa, afago nos cabelos, delicadeza. Nem todas as crianças</p><p>despertam bem humoradas e dispostas.</p><p>130</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>Alimentação</p><p>• Ao se dirigir ao lanche ou refeição, cada criança (com exceção dos bebês que</p><p>devem ser alimentados e conduzidos ao local) deve ser incentivada a:</p><p>o carregar sua própria lancheira ou prato de comida até a mesa, com</p><p>equilíbrio e cuidado;</p><p>o sentar-se à mesa e aguardar que todos estejam acomodados;</p><p>o cantar ou rezar, conforme o hábito da instituição;</p><p>o abrir a lancheira ou servir-se sozinha;</p><p>o trazer ou comer alimentos saudáveis;</p><p>o abrir potes, segurar o prato e os talheres, controlar a quantidade de comida</p><p>que leva à boca, comer mastigando bem e segurar seu copo com líquido.</p><p>• Assim que terminar, cada criança deve:</p><p>o recolher suas coisas;</p><p>o jogar cada lixo na lixeira adequada (plásticos, papel, restos de comida etc.);</p><p>o os maiores já podem até deixar a louça suja na pia;</p><p>o aguardar os colegas terminarem ou a professora liberá-los para a</p><p>escovação.</p><p>• Desta forma, são trabalhados diferentes conceitos com as crianças: autonomia</p><p>(enquanto realizam as tarefas sozinhas), alimentação saudável e tranquila,</p><p>paciência (ao aguardarem o tempo dos outros colegas para concluírem sua</p><p>refeição), reciclagem (na separação dos lixos), cooperação (um podendo ajudar</p><p>o outro), empatia e solidariedade (quando a professora os auxilia nas tarefas</p><p>mais difíceis) e finalmente alegria, porque comer deve ser algo prazeroso e</p><p>feliz para as crianças.</p><p>• Pode-se experimentar diferentes estratégias com as crianças para que elas</p><p>desenvolvam hábitos de alimentação saudável. Uma boa dica é oferecer aulas</p><p>de culinária – as crianças adoram! Outra dica é construir com elas uma horta</p><p>escolar, onde elas desenvolvam o gosto pelo plantar, cuidar e colher os alimentos,</p><p>levando-os posteriormente à mesa, em forma de salada, sopa ou torta de legumes.</p><p>O ideal é envolvê-las, também, no processo de cozimento ou preparo destes</p><p>alimentos. Elas sentem-se desafiadas a experimentar tudo o que venha a ser fruto</p><p>do trabalho e envolvimento delas, porém é importante respeitar o gosto de cada</p><p>criança, não devendo obrigá-las a comer o que não gostam.</p><p>TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>131</p><p>FIGURA 26 – ALIMENTAÇÃO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/2TKEuVw>. Acesso em: 11 ago. 2020.</p><p>Formação</p><p>• Em todos os momentos da rotina, é preciso trabalhar valores com as crianças.</p><p>Estes valores referem-se aos conteúdos atitudinais, ou seja, atitudes que as</p><p>crianças têm com elas mesmas e com os outros.</p><p>• Deve-se trazer questões pertinentes ao convívio familiar e escolar, como a</p><p>questão das brigas, palavrões, mentiras, preguiça, birra infantil, teimosia,</p><p>choro desnecessário, falta de limites, desrespeito com os colegas ou com a</p><p>natureza, desperdício, desobediência, intolerância, entre outros.</p><p>• O professor pode aproveitar as situações que observa no dia a dia para</p><p>trabalhar estes conceitos, e isto pode ser feito através de canções, teatros de</p><p>fantoches, dramatizações, leitura de histórias ou roda de conversa.</p><p>• Pode-se aproveitar toda e qualquer oportunidade para trabalhar a formação</p><p>humana entre as crianças, pois, assim, favoreceremos seu crescimento</p><p>emocional e pessoal, o que poderá lhes servir por toda a vida.</p><p>• A escola precisa trabalhar mais os conceitos atitudinais entre as crianças, desde</p><p>o berçário, para que tenhamos no futuro pessoas mais humanas, sensíveis e</p><p>comprometidas com o bem-estar da humanidade.</p><p>132</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>FIGURA 27 – PARCERIA</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3iROFC8>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>Leitura de história</p><p>• Ler histórias é fundamental em todas as idades, mas, na Educação Infantil,</p><p>este ato é ainda mais valorizado, pois, pelo fato de as crianças ainda não lerem,</p><p>ouvir histórias torna-se essencial para o desenvolvimento da imaginação, da</p><p>fantasia e do encantamento.</p><p>• Ler para os pequenos nos traz sensações agradáveis, pois eles interagem com</p><p>a história, acreditam em tudo o que ouvem e os olhos brilham e arregalam-se</p><p>diante de cada nova página ou gravura.</p><p>• As crianças amam os livros e muitas vezes são fiéis a eles, pedindo que se</p><p>leia a mesma história “milhões” de vezes (chegam a decorar trechos, é</p><p>impressionante o tamanho do fascínio que uma história bem lida pode</p><p>acarretar nas crianças).</p><p>• O professor pode incentivá-las a “ler” as imagens sozinhas, manusear</p><p>livremente as obras e contar espontaneamente o que “leram” aos colegas.</p><p>• Quanto mais livros na sala, melhor!</p><p>• Ao professor, cabem duas tarefas básicas e, diríamos até, obrigatórias:</p><p>selecionar obras de qualidade para ler às crianças; e preparar anteriormente a</p><p>leitura, para dar à história mais vida, entonação e emoção.</p><p>TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>133</p><p>FIGURA 28 – HORA DA HISTÓRIA</p><p>FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=mPrmRFoz3Hs>. Acesso em: 30 maio</p><p>2021.</p><p>Psicomotricidade/Movimento</p><p>• Quando falamos em psicomotricidade, não estamos nos referindo apenas aos</p><p>momentos de recreação, de educação física, pois ela se encontra até mesmo</p><p>no ato de abrir e fechar a mochila, pegar os materiais na estante ou recolher</p><p>os brinquedos, afinal, usamos o corpo o tempo todo para aprender.</p><p>• A recreação/educaçãofísica trabalha com atividades/exercícios, que</p><p>estimularão ainda mais o corpo, para que a criança se descubra e desenvolva</p><p>a consciência corporal.</p><p>• Esta descoberta do próprio corpo, através da psicomotricidade, trará</p><p>às crianças o desenvolvimento da atenção, percepção visual e auditiva,</p><p>coordenação motora ampla e fina, orientação espacial, lateralidade, além da</p><p>habilidade em observar, comparar, medir, classificar e ordenar.</p><p>• Através destes momentos, desenvolve-se uma série de novas sensações</p><p>nas crianças: alegria, cooperação, competição, liberdade, diversão, disputa,</p><p>equilíbrio, agilidade, flexibilidade, resistência, respiração adequada,</p><p>compreensão de regras, limites, vitórias e derrotas (aprendendo a ganhar e</p><p>perder), autocontrole, paciência, tolerância, entre outras.</p><p>• A massagem e o alongamento são excelentes recursos para a estimulação</p><p>corporal dos bebês, aconselhados igualmente às crianças maiores.</p><p>134</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>FIGURA 29 – PSICOMOTRICIDADE</p><p>FONTE: <https://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/>.</p><p>Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>Atividade artística/jogo</p><p>• A hora de realizar atividades é o momento em que o professor consegue</p><p>perceber a evolução individual de cada uma de suas crianças. É o momento</p><p>de fazê-las experimentar toda a sua autenticidade, criatividade, imaginação e</p><p>percepção de mundo.</p><p>• Para cada dia, pedem-se novos desafios: recortar, colar, pintar, desenhar,</p><p>realizar contagens, estabelecer relações, construir conceitos, enfim, deixar o</p><p>espaço livre para manifestarem todo tipo de conhecimento.</p><p>• As atividades precisam ser elaboradas com antecedência, dentro do</p><p>planejamento do professor, respeitando a faixa etária do grupo, de forma</p><p>criativa e contextualizada, de acordo com a temática escolhida.</p><p>• Estas atividades agrupadas por temas ou semestres devem compor um</p><p>portfólio individual da criança, para que sirvam de registro escrito e possam</p><p>ser acompanhadas e apreciadas pelas famílias.</p><p>• O jogo com objetivos pedagógicos significa um importante instrumento</p><p>educativo às crianças. Brincando elas aprendem uma série de conceitos e</p><p>regras. O professor pode criar ou adaptar os jogos de acordo com as temáticas</p><p>de estudo.</p><p>• Quando a criança não leva o jogo para casa, para mostrar aos pais, pode-</p><p>se realizar um registro fotográfico de cada etapa e montar um pequeno</p><p>informativo, explicando o objetivo, as regras e o resultado daquele jogo.</p><p>Todos recebem este informativo e, cada dia, uma criança pode levar o jogo</p><p>para casa e ensiná-lo aos pais, com o compromisso de trazê-lo de volta no dia</p><p>TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>135</p><p>seguinte. Os pais podem escrever um depoimento a respeito do dia em que o</p><p>“jogo” esteve em sua casa e podem, inclusive, fotografar este momento, para</p><p>que fique registrado no portfólio de todas as crianças.</p><p>FIGURA 30 – JOGO EM FAMÍLIA</p><p>FONTE: <https://www.familia.com.br/8-jogos-que-irao-melhorar-seu-relacionamento-familiar/>.</p><p>Acesso em: 30 maio. 2021.</p><p>Linguagem Oral/Inglês</p><p>• Na Educação Infantil, a língua estrangeira acontece muito mais na oralidade,</p><p>não há obrigação de registros escritos. Ela se dá através da música, de</p><p>pequenos vídeos, de conversação e jogos (brincadeiras).</p><p>• O ideal é que a professora utilize o vocabulário da criança e dentro da temática</p><p>estudada pelo grupo, pois, havendo contextualização, há maior compreensão</p><p>de uma segunda língua.</p><p>• Sugere-se a introdução dessa segunda língua após os três anos de idade, já que</p><p>os menores encontram-se ainda no processo de aquisição da língua materna.</p><p>FIGURA 31 – AULAS DE INGLÊS</p><p>FONTE: <https://bit.ly/2TMopyM>. Acesso em: 30 maio. 2021.</p><p>136</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>Despedida</p><p>• Despedir-se é um momento tão especial quanto acolher. É necessário entregar</p><p>a criança aos pais com todo o carinho e atenção. Deve-se relatar a eles qualquer</p><p>fato que tenha sido importante na rotina daquele dia, com relação àquela</p><p>criança: machucou-se, bateu no colega, teve dor, chorou, foi ao banheiro</p><p>muitas vezes, não comeu, entre outras questões que possam ser pertinentes</p><p>ao conhecimento dos pais.</p><p>• Também é interessante relatar pequenos progressos, falas engraçadas,</p><p>momentos em que exercitou autonomia, liderança, enfim, os pais adoram</p><p>receber notícias deste tipo ao buscarem seus filhos. Esta relação os aproxima</p><p>dos professores, estabelecendo laços de confiança e tranquilidade.</p><p>• Antes de entregar a criança, deve-se verificar se ela está levando para casa</p><p>tudo o que trouxe para a instituição (casaco, mochila, sapato, camisa reserva,</p><p>material de higiene etc.); se está com o rosto, o nariz e as mãos limpas (nenhum</p><p>pai aprecia receber a criança em condições ruins de higiene).</p><p>• Despedir-se da criança com um abraço ou beijo estreita seus laços com ela e</p><p>lhe passa a certeza de que deseja revê-la no dia seguinte.</p><p>FIGURA 32 – DESPEDIDA</p><p>FONTE:< https://leiturinha.com.br/blog/lidar-com-despedidas/>.Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>137</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Rotina é tudo o que acontece na instituição, desde o horário de entrada e saída</p><p>das crianças, a hora do lanche, da higiene, da história, da brincadeira, do</p><p>canto, entre outras atividades que compõem o cotidiano da Educação Infantil.</p><p>• É preciso estabelecer uma fortíssima relação entre o cuidar e o educar.</p><p>• As necessidades básicas das crianças como a alimentação, o descanso e a</p><p>higiene são tão importantes quanto as necessidades de interação, afetividade</p><p>e cognição.</p><p>• Devemos levar em conta, principalmente, a idade das crianças. Não se aconselha</p><p>planejar atividades que ultrapassem o tempo de concentração delas.</p><p>• Na elaboração das rotinas é interessante equilibrar a intensidade delas,</p><p>intercalando atividades mais calmas e agitadas, individuais ou coletivas, que</p><p>incentivem a concentração ou a cooperação, que estimulem a autonomia ou o</p><p>trabalho em equipe.</p><p>• A rotina planejada não deve ser considerada pronta e acabada, ou seja, fechada</p><p>a novos desafios e tampouco gerar frustraçõesaoeducadorpelanãorealização</p><p>de algum item em função de outro mais interessante ou pela falta de tempo</p><p>hábil para seu cumprimento. Esta rotina precisa ser flexível e prever novas</p><p>situações, auxiliando as crianças a lidarem com os imprevistos.</p><p>• Quando o educador pensa sua rotina, ele deve criar espaço para os cuidados</p><p>básicos em consonância com a aprendizagem das crianças através da interação</p><p>individual ou coletiva.</p><p>138</p><p>1 A partir de tudo o que você aprendeu a respeito dos espaços, tempo,</p><p>planejamento e eixos norteadores da Educação Infantil, elabore uma rotina</p><p>semanal (diferente desta que criamos no livro didático) para uma turma de</p><p>crianças de três anos. Capriche! Seja criativo e explore ao máximo tudo o</p><p>que você considera importante para esta faixa etária.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira</p><p>2 O educador infantil deve ser consciente da importância de seu papel na vida</p><p>das pequenas crianças, isto é, conhecê-las profundamente. Explique com</p><p>suas palavras o que é rotina na educação infantil e por que ela é importate.</p><p>3 Em todos os momentos da rotina, é preciso trabalhar valores com as</p><p>crianças. Cite duas características importante que devem</p><p>ser levadas em</p><p>consideração na elaboração da rotina.</p><p>4 As rotinas são extremamente importantes na educação infantil, pois elas</p><p>auxiliam na organização do trabalho pedagógico. Com base nisso, classifque</p><p>V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:</p><p>( ) A rotina pode ser planejada junto com as crianças.</p><p>( ) A rotina precisa vir pronta e não pode ser alterada, pois sua flexibilização</p><p>poderia atrapalhar o planejamento do professor.</p><p>( ) Ao ser elaborada, a rotina precisa levar em conta a idade das crianças.</p><p>( ) O professor deve levar em conta o cuidar e o educar, na hora de planejar</p><p>a sua rotina.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:</p><p>a) ( ) V – F – V – V.</p><p>b) ( ) F – F – V – F.</p><p>c) ( ) V – V – F – F.</p><p>d) ( ) F – F – F – V.</p><p>139</p><p>5 Na frase “Quando o educador pensa a rotina da turma, ele deve criar espaço</p><p>para os cuidados básicos em consonância com a aprendizagem das crianças”.</p><p>Existe um meio para isso. Sobre esse meio, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Imaginação.</p><p>b) ( ) Interação.</p><p>c) ( ) Disciplina.</p><p>d) ( ) Educação.</p><p>140</p><p>141</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Quando falamos em autonomia logo nos vem à cabeça a questão da</p><p>independência, ou seja, o “saber se virar sozinho”, pois um sujeito autônomo é</p><p>aquele que sabe aonde quer chegar e os caminhos que precisa percorrer, seguindo</p><p>suas próprias leis e tomando decisões, sem precisar da opinião ou ajuda constante</p><p>do outro. E isto não é tão fácil quanto parece, principalmente se não formos</p><p>“desafiados” para isso, desde a primeira infância.</p><p>Quando não somos estimulados a desenvolver a autonomia, nos tornamos</p><p>cidadãos normalmente acomodados e passivos diante das adversidades da vida,</p><p>aceitando com tranquilidade as “coisas” tais como se apresentam.</p><p>Dê uma olhada a sua volta e verifique: entre os adultos que o cercam,</p><p>quantos preferem deixar que os outros decidam, intercedam por eles ou liderem</p><p>ações simples do dia a dia por não se sentirem capazes, desafiados ou competentes</p><p>para a realização daquela determinada função?</p><p>Quantas vezes, eles deixam de tentar sozinhos algo que com certeza</p><p>dariam conta, por pura insegurança, falta de iniciativa ou medo de errar?</p><p>Com as crianças, isso dificilmente acontece. Elas são naturalmente</p><p>autônomas e não se preocupam com o que os outros vão dizer, se estarão “certas</p><p>ou erradas”, se “estragarão algo” na tentativa de “consertar”, se aquilo tem que</p><p>ser feito “desse ou daquele jeito”, enfim, dificilmente pedem opinião, pois seguem</p><p>seus instintos: são corajosas e curiosas por natureza.</p><p>Para tratarmos destas questões, abordaremos, neste tópico, o</p><p>desenvolvimento da independência na aprendizagem, a pedagogia da autonomia</p><p>de acordo com Paulo Freire e a construção da identidade, como pressupostos</p><p>para uma infância autônoma, consciente e feliz. Boa leitura!</p><p>TÓPICO 3 —</p><p>A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE</p><p>DA CRIANÇA</p><p>142</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>FIGURA 33 – AUTONOMIA</p><p>FONTE: <https://glo.bo/3gIyFzQ>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>2 O DESENVOLVIMENTO DA INDEPENDÊNCIA NA APRENDIZAGEM</p><p>Prezado acadêmico! Como futuro educador, uma pergunta pode pipocar</p><p>seus pensamentos neste momento: Como desenvolver a independência/autonomia</p><p>nas crianças? A resposta, porém, é muito simples: dando-lhes a oportunidade</p><p>de fazer escolhas. Isso mesmo, deixando-as tomar decisões, não o tempo todo, é</p><p>lógico, mas em determinadas situações. Este exercício tão simples fará a grande</p><p>diferença na vida de nossas crianças, constituindo-as como “sujeitos ativos e</p><p>participativos” no próprio processo de ensino-aprendizagem.</p><p>Quando o professor toma todas as decisões na condução da aula, há</p><p>pouco espaço para a construção autônoma, pois é ele quem decide tudo: o que</p><p>vai acontecer, como vai acontecer, quem fará o que e de que forma tem que ser</p><p>feita esta ou aquela atividade. Perde-se, neste momento, a grande oportunidade</p><p>de desenvolver a criatividade, a responsabilidade, a iniciativa e a independência,</p><p>que funcionariam como geradoras de autonomia.</p><p>Já o professor que permite em suas aulas atividades que levarão as crianças</p><p>a pensar, atentar sozinhas e a gerir o próprio conhecimento, em comunhão com o</p><p>grupo de maneira dinâmica, promove situações de aprendizagem significativas.</p><p>Para isso, cabe ao professor “facilitar” a independência das crianças</p><p>deixando brinquedos e materiais ao alcance delas em mobília mais baixa, em</p><p>caixotes ou prateleiras. Desta forma, o acesso a estes materiais será favorecido,</p><p>como já vimos no Tópico 1 desta unidade, dispensando o auxílio da professora.</p><p>O professor pode também simular momentos em que ele precisará da</p><p>ajuda das crianças, como, por exemplo, na preparação da mesa do lanche, na</p><p>entrega de materiais ou atividades para a turma, enfim, pode criar situações em</p><p>que as crianças desenvolvam a autonomia ajudando/cooperando com os colegas</p><p>TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA</p><p>143</p><p>ou com a professora, mudando a forma autoritária e individualista a que estamos</p><p>acostumados na maioria das escolas. Segundo Ceccon, Oliveira e Oliveira</p><p>(1982, p. 71), “[...] a escola como está organizada não estimula a solidariedade, a</p><p>ajuda mútua entre os alunos ou o trabalho em equipe”. E é isto que queremos e</p><p>precisamos mudar!</p><p>Outra dica bem interessante é criar o “ajudante do dia”, que auxiliará a</p><p>professora e a turma em tudo o que for preciso. As crianças adoram e cooperam</p><p>com muita disposição e alegria. Como afirma Kamii (1997, p. 108):</p><p>A essência da autonomia é que as crianças tornem-se aptas a tomar</p><p>decisões por si mesmas. Mas, [...] a autonomia significa levar em</p><p>consideração os fatos relevantes para decidir agir da melhor forma</p><p>para todos. Não pode haver moralidade quando se considera apenas</p><p>o próprio ponto de vista.</p><p>É preciso encorajar a criança a tentar sozinha, desde as mais simples tarefas</p><p>como: pendurar, abrir e fechar a lancheira, lavar as mãos, escovar os dentes, retirar</p><p>e depois guardar o próprio lanche, comer sozinha, recortar, colar, desenhar, falar</p><p>em voz alta, entre outras coisas. No início, a criança precisa conhecer a rotina;</p><p>precisa de modelos do que deve ser feito; precisa que a ensinemos a fazer, que a</p><p>acompanhemos passo a passo durante as primeiras tentativas, mas, aos poucos,</p><p>vai se tornando cada vez mais autônoma e, do seu jeito, dentro do seu ritmo e</p><p>faixa etária, vai conquistando sua independência.</p><p>FIGURA 34 – INDEPENDÊNCIA</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3vEUCVK>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>E como fazer isso? Para auxiliá-lo na compreensão deste tópico, trazemos</p><p>dicas práticas de como desenvolver a autonomia das crianças, tornando-as</p><p>independentes e felizes na realização de tarefas:</p><p>144</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>QUADRO 4 – DICAS PARA DESENVOLVER A AUTONOMIA DAS CRIANÇAS</p><p>Converse com os pais para que as crianças tragam seu próprio material à sala</p><p>de aula.</p><p>Assim que chegarem à sala, receba a todos de maneira atenciosa e carinhosa e</p><p>incentive as crianças a pendurarem sua mochila ou guardarem seus materiais</p><p>sozinhas, em local previamente combinado.</p><p>Dê as coordenadas, mas deixe que a criança execute sozinha seus pedidos.</p><p>Exemplo: escolha brinquedos na caixa, pegue uma almofada e junte-se ao</p><p>grupo, busque a pasta de atividades etc.</p><p>Na hora do canto ou da história, sente-se com uma almofada no chão e aguarde</p><p>que todos façam o mesmo a sua volta. Se for necessário, nas primeiras vezes, dê</p><p>o comando. Com o passar do tempo, quando você se sentar, eles entenderão o</p><p>que deve ser feito sem que você o diga.</p><p>Na hora do lanche, incentive-as a lavar as mãos e a usar o banheiro sozinhas. Os</p><p>menores (zero a três anos) precisarão de ajuda, os maiores (quatro a seis anos)</p><p>já tentarão sozinhos.</p><p>Ainda na hora do lanche, demonstre a forma de sentar, de abrir a lancheira,</p><p>retirar, abrir e fechar os potes ou garrafinhas, servir-se ou conduzir o prato até</p><p>a mesa e, aos poucos, deixe as crianças tentarem. Cada dia, deve ser dado um</p><p>pouquinho mais de autonomia à criança. Ela precisa ser encorajada a tentar,</p><p>mesmo que mostre resistência ou diga que não consegue. Mostre a ela que é</p><p>capaz, pois ela confia em você.</p><p>Incentive-a a comer sozinha, por mais “lambança” que faça, ela se sente feliz e</p><p>vitoriosa quando consegue.</p><p>Após lanchar, comece todo o ritual novamente: jogar o lixo na lixeira, guardar</p><p>no pote o que sobrou, fechar o pote, guardar na lancheira, fechar o zíper e ir até a</p><p>sala de aula, levar o prato de comida até a pia (tudo isso sozinha e no seu ritmo).</p><p>Algumas crianças farão mais depressa que outras, o que pode gerar ansiedade</p><p>nas que ainda não terminaram, preferindo abandonar tudo para juntar-se</p><p>ao grupo. Neste momento, o professor deve fazê-la recuar e, pacientemente,</p><p>acompanhá-la em todo o seu processo, mostrando a ela que o mais importante</p><p>é concluir a tarefa e não ser a mais rápida.</p><p>Na hora da escovação, cada criança deve identificar seu material de higiene (ela</p><p>encontrará meios para isso, pois ainda não sabe ler) e encaminhar-se ao tanque</p><p>para escovar os dentes sozinha. Observe a necessidade de auxiliar os que ainda</p><p>não escovam direitinho e os ajude de maneira bem sutil, demonstrando, com</p><p>sua escova nos seus dentes, como a criança deverá escovar os dentes dela. Desta</p><p>forma, você não lhe tirará a autonomia e ela não se sentirá incapaz de realizar</p><p>aquela tarefa sozinha.</p><p>TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA</p><p>145</p><p>Durante as atividades, deixe as crianças buscarem os materiais necessários, já</p><p>disponíveis e ao alcance delas: tinta guache, cola, tesoura etc. Deixe-as opinar</p><p>em relação à cor, ao formato, ao tipo de atividade que desenvolverão.</p><p>Permita que sugiram, na hora do canto, as canções preferidas e que cada dia</p><p>crianças diferentes possam opinar.</p><p>Estimule atividades cooperativas onde as crianças precisem se ajudar.</p><p>Sempre que acabarem de brincar, incentive as crianças que recolham e guardem</p><p>seus brinquedos. O mesmo acontecerá com os materiais pedagógicos ou livros.</p><p>Ensine-as o lugar das coisas e espere que, de maneira autônoma elas desenvolvam</p><p>esta função, mas, se isto não acontecer, faça o papel de “mediador”, até que este</p><p>gesto seja internalizado.</p><p>Estimule suas crianças a fazerem perguntas e evite responder a questões que</p><p>elas têm condições de responder sozinhas, ou seja, incentive-as a pensar,</p><p>devolvendo-lhes a pergunta. Isso traz resultados mágicos, faça a experiência!</p><p>FONTE: A autora</p><p>Gostou das dicas? Esperamos que sim! Elas são bastante simples, porém</p><p>fundamentais para o desenvolvimento da independência na aprendizagem e na</p><p>vida das crianças!</p><p>3 A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA, SEGUNDO PAULO FREIRE</p><p>O Livro Pedagogia da Autonomia foi a última obra publicada pelo</p><p>educador brasileiro Paulo Freire em vida, em 1996. É uma obra que trata daquilo</p><p>que o mestre considera como saberes necessários à prática educativa, ou seja,</p><p>sobre como os professores devem ensinar os alunos a “serem muito mais”, a</p><p>partir de ações transformadoras.</p><p>Quando se lê o sumário da obra de Paulo Freire, “Pedagogia da Autonomia:</p><p>saberes necessários à prática educativa”, percebe-se que é um livro de grande</p><p>valor educativo, um livro gigante, apesar de apresentar tamanho bem menor do</p><p>que grande parte dos livros que circulam por aí.</p><p>O sumário traz, em sua sequência, frases/tópicos marcantes a respeito da</p><p>palavra ensinar, que poderiam nos servir perfeitamente como base de todo nosso</p><p>trabalho. Leia a amostra do sumário na sequência e perceba a profundidade</p><p>poética atribuída ao verbo ensinar, por Freire (1996):</p><p>146</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>QUADRO 5 – SUMÁRIO DO LIVRO: PEDAGOGIA DA AUTONOMIA</p><p>1. Ensinar exige rigorosidade metódica.</p><p>2. Ensinar exige pesquisa.</p><p>3. Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos.</p><p>4. Ensinar exige criticidade.</p><p>5. Ensinar exige estética e ética.</p><p>6. Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo.</p><p>7. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de</p><p>discriminação.</p><p>8. Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática.</p><p>9. Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural.</p><p>10. Ensinar não é transferir conhecimento.</p><p>11. Ensinar exige consciência do inacabamento.</p><p>12. Ensinar exige o reconhecimento do ser condicionado.</p><p>13. Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando.</p><p>14. Ensinar exige bom senso.</p><p>15. Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos</p><p>educadores.</p><p>16. Ensinar exige apreensão da realidade dos educadores.</p><p>17. Ensinar exige alegria e esperança.</p><p>18. Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível.</p><p>19. Ensinar exige curiosidade.</p><p>20. Ensinar é uma especificidade humana.</p><p>21. Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade.</p><p>22. Ensinar exige comprometimento.</p><p>23. Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no</p><p>mundo.</p><p>24. Ensinar exige liberdade e autoridade.</p><p>25. Ensinar exige tomada consciente de decisões.</p><p>26. Ensinar exige saber escutar.</p><p>27. Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica.</p><p>28. Ensinar exige disponibilidade para diálogo.</p><p>29. Ensinar exige querer bem aos educandos.</p><p>FONTE: A autora</p><p>De todos os tópicos listados por Freire (1996), escolhemos alguns para</p><p>uma abordagem mais profunda (não teríamos como abordar todos, embora sejam</p><p>igualmente importantes).</p><p>TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA</p><p>147</p><p>FIGURA 35 – TÓPICOS ESCOLHIDOS</p><p>FONTE: A autora</p><p>Faremos, agora, uma pequena reflexão, amparados por Freire (1996),</p><p>sobre cada um dos itens selecionados anteriormente.</p><p>Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos</p><p>Sabemos que todas as crianças têm saberes socialmente construídos quando</p><p>chegam à instituição de Educação Infantil. Elas conhecem com propriedade e</p><p>sabem se posicionar a respeito de determinados assuntos, a ponto de surpreender</p><p>quem estiver disposto a ouvi-las, sobretudo as crianças a partir dos três anos.</p><p>Partir do conhecimento prévio das crianças nos dá subsídios para elaborar</p><p>atividades ou projetos. Por exemplo, se uma criança convive com o descaso das</p><p>autoridades em relação ao lixo despejado no riacho próximo de sua casa, pode-</p><p>se discutir com a criança a respeito da postura dos habitantes e das autoridades,</p><p>as consequências desta atitude para os demais munícipes, o problema da</p><p>contaminação da água, a importância do tratamento para o consumo, enfim, uma</p><p>série de assuntos poderão surgir a partir dessa situação trazida pela criança.</p><p>FIGURA 35 – LIXO NO RIO</p><p>FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/415246028126380311/>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>148</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>Freire (1996, p. 34) desafia: “por que não estabelecer uma necessária</p><p>‘intimidade’ entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência</p><p>social que eles têm como indivíduos?”</p><p>Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática</p><p>Todo professor precisa ter consciência de que necessita refletir a sua</p><p>prática todos os dias, pois sempre há algo que se possa fazer diferente, fazer</p><p>melhor ou de outras maneiras, para não cair na rotina ou na zona de conforto,</p><p>dois perigosos labirintos que levam o professor ao desânimo e/ou decadência</p><p>profissional. Freire indica a reflexão da prática como forma de alinhamento ao</p><p>discurso teórico que permeia a prática. O "pensar criticamente" aqui, em Freire,</p><p>é o pensar acadêmico, epistemológico.</p><p>Para Freire (1996, p. 43):</p><p>[...] na formação permanente dos professores, o momento fundamental</p><p>é o da reflexão crítica sobre a prática.</p><p>É pensando criticamente a prática</p><p>de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. [...] quanto</p><p>mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de</p><p>por que estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar.</p><p>FIGURA 36 – PROFESSOR CRIATIVO</p><p>FONTE: <https://www.goconqr.com/pt-BR/examtime/blog/atividades-educativas/>.</p><p>Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>Ensinar não é transferir conhecimento</p><p>Existe algo que, segundo Freire (1996, p. 53), é fundamental ao educador:</p><p>TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA</p><p>149</p><p>[...] saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as</p><p>possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.</p><p>Quando entro em uma sala de aula, devo estar sendo um ser aberto a</p><p>indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições;</p><p>um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de</p><p>ensinar e não a de transferir conhecimento.</p><p>Se sou capaz de oferecer momentos de construção de conhecimentos,</p><p>estabelecer metas para que o aprendizado ocorra de fato e se planejo com esta convicção</p><p>e com esta consciência, torno-me, neste momento, um educador por excelência.</p><p>Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando</p><p>O respeito defendido por Freire em relação à autonomia encontra-</p><p>se profundamente interligado às ações e motivações pedagógicas, além do</p><p>respeito em si.</p><p>De acordo com Freire (1996, p. 66), “O respeito à autonomia e à dignidade</p><p>de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder</p><p>uns aos outros”.</p><p>O respeito é uma das palavras mais belas no vocabulário dos professores em</p><p>relação às crianças e ao trabalho que desenvolve com e para elas. Cabe-lhes respeitar cada</p><p>pequeno ser que lhe chega às mãos, independentemente da idade, classe social, cor, raça,</p><p>credo ou religião. Professor que ama o que faz não faz distinções, não tem nenhum tipo de</p><p>preconceito ou preferência. Dá de si o que há de melhor e busca o que há de melhor nos</p><p>outros, respeitando a autonomia e a identidade de cada educando. Leva com amor a profissão</p><p>e é coerente em sua prática.</p><p>IMPORTANTE</p><p>150</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>FIGURA 37 – EDUCAÇÃO PARA TODOS</p><p>FONTE: <https://cutt.ly/LnBJHuF>. Acesso em: 1 maio 2020.</p><p>Ensinar exige alegria e esperança</p><p>A alegria de estar com as crianças deve ser comparada ao tempero</p><p>essencial de um prato que se espera degustar todos os dias. Quando estamos</p><p>com fome, o tempero se torna ainda mais marcante. É assim que deve ser o nosso</p><p>“gosto” para as crianças. Um gosto que desperta a fome de saber, de aprender, de</p><p>viver novos conhecimentos, de compartilhar ideias, de arriscar novos “pratos”,</p><p>cada dia mais saborosos, diferentes e dispostos a deixar as crianças com água na</p><p>boca, com gostinho de quero mais. Um prato recheado de alegria e esperança,</p><p>pois, de acordo com Freire (1996, p. 80),</p><p>Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a</p><p>esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podem</p><p>aprender, ensinar, inquietar-se, produzir e, juntos igualmente, resistir</p><p>aos obstáculos à alegria. [...] a esperança faz parte da natureza humana.</p><p>FIGURA 38 – ALEGRIA NA ESCOLA</p><p>FONTE: <https://cutt.ly/rnBJXK2>. Acesso em: 1 maio 2020.</p><p>TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA</p><p>151</p><p>Ensinar exige curiosidade</p><p>Feliz do professor que tem alunos curiosos; Feliz do professor que tem alunos</p><p>questionadores; Feliz do professor que tem alunos pesquisadores;</p><p>Feliz, feliz, feliz!</p><p>Feliz do aluno que tem professores que estimulam sua curiosidade;</p><p>Feliz do aluno que tem professores que o incentivam a buscar respostas para</p><p>seus questionamentos;</p><p>Feliz do aluno que tem professores que reconhecem a importância da pesquisa e</p><p>da mesma forma se tornam pesquisadores;</p><p>Feliz, feliz, feliz!</p><p>FONTE: A autora</p><p>Freire (1996, p. 95) reforça:</p><p>Como professor, devo saber que sem a curiosidade que me move,</p><p>que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino.</p><p>Exercer a minha curiosidade de forma correta é um direito que tenho</p><p>como gente e a que corresponde o dever de lutar por ele, o direito à</p><p>curiosidade. [...] o exercício da curiosidade convoca a imaginação, a</p><p>intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na</p><p>busca da perfilização do objeto ou do achado de sua razão de ser.</p><p>FIGURA 39 – ALUNOS CURIOSOS E PESQUISADORES</p><p>FONTE: < https://blog.forleven.com/2018/03/19/a-curiosidade-melhora-a-aprendizagem/>.</p><p>Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>Ensinar exige comprometimento</p><p>Impossível formar-se professor sem saber disso. Sem ter a certeza de que</p><p>o nosso comprometimento com a educação é quase que integral, ou seja, ocupará</p><p>grande parte do nosso tempo, de nossa dedicação e do nosso empenho, enquanto</p><p>profissionais conscientes de nossa importância.</p><p>Para Freire (1996, p. 108),</p><p>152</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>[...] não é possível exercer a atividade do magistério como se nada</p><p>ocorresse conosco. Como impossível seria sairmos na chuva expostos</p><p>totalmente a ela, sem defesas, e não nos molhar. Não posso ser</p><p>professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou</p><p>relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso</p><p>escapar à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me percebem</p><p>tem importância capital para o meu desempenho. Daí, então, que</p><p>uma das minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a</p><p>aproximação cada vez maior entre o que eu digo e o que eu faço, entre</p><p>o que pareço ser e o que realmente estou sendo.</p><p>FIGURA 40 – PROFESSOR COMPROMETIDO</p><p>FONTE: <https://cutt.ly/9nBKuym>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>Ensinar exige querer bem aos educando</p><p>Para ensinar as crianças, é preciso querer bem a elas. É preciso conhecê-</p><p>las, compreendê-las e, sobretudo, amá-las. Esta abertura ao querer bem, para</p><p>Freire (1996, p. 159):</p><p>[...] significa, de fato, que a afetividade não me assusta, que não tenho</p><p>medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer bem a maneira que</p><p>tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos,</p><p>numa prática específica do ser humano. A minha abertura ao querer</p><p>bem significa a minha disponibilidade à alegria de viver. Justa alegria</p><p>de viver, que, assumida plenamente, não permite que me transforme</p><p>num ser “adocicado” nem tampouco num ser arestoso e amargo.</p><p>TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA</p><p>153</p><p>FIGURA 41 – PROFESSOR AFETIVO</p><p>FONTE: <http://www.zenitude.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/02/afeto.jpg>.</p><p>Acesso em: 1 maio 2020.</p><p>Para finalizar esta reflexão sobre ensinar de Paulo Freire, vamos usar uma</p><p>frase de sua autoria que diz: “a alegria não chega apenas no encontro doachado,</p><p>mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não podem se dar fora</p><p>da procura, fora da boniteza e da alegria” (FREIRE, 1996, p. 159).</p><p>FIGURA 42 – PAULO FREIRE</p><p>FONTE: <https://cutt.ly/OnBKkSO>. Acesso em: 12 jan. 2020.</p><p>Se você ficou curioso e deseja conhecer os itens do sumário que não foram</p><p>abordados neste livro didático, leia o livro “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários</p><p>à prática educativa” de Paulo Freire, 1996. São Paulo: Paz e Terra.</p><p>DICAS</p><p>154</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>FIGURA 43 – LIVRO PEDAGOGIA DA AUTONOMIA</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3qks03n>. Acesso em: 10 set. 2020.</p><p>4 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE</p><p>Identidade tem a ver com “quem somos”, com o grupo do qual fazemos</p><p>parte, em que acreditamos, o que de fato praticamos, nossas crenças, valores ou</p><p>ideais, enquanto seres aprendentes.</p><p>Essa identidade vai sendo construída à medida que interagimos com os</p><p>outros ao longo da vida. Enquanto crescemos, vamo-nos desenvolvendo em todos</p><p>os sentidos, inclusive na construção do próprio eu, passando</p><p>a compreender de</p><p>fato e gradativamente “quem somos”.</p><p>Nossa identidade, recém-construída, não é fixa, ela pode mudar e se</p><p>refazer o tempo todo, dependendo das necessidades ou experiências vividas.</p><p>Não somos sempre iguais nem temos sempre os mesmos comportamentos,</p><p>às vezes, apresentamos identidades distintas, pois, se em um momento somos</p><p>solidários, no momento seguinte podemos ser extremamente egoístas; se num</p><p>instante parecemos bonzinhos, segundos mais tarde, podemos demonstrar o</p><p>quanto somos tiranos.</p><p>Faça as suas anotações e considerações sobre o assunto.</p><p>DICAS</p><p>TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA</p><p>155</p><p>Temos, portanto, identidades diferentes e necessitamos ter liberdade de</p><p>nos posicionar também de diferentes maneiras.</p><p>FIGURA 44 – CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3vDCko6>. Acesso em: 2 maio 2020.</p><p>Aos poucos, as crianças também vão descobrindo que não existe uma</p><p>única maneira de ser. Passam a se posicionar diante das diversas identidades que</p><p>vão desenvolvendo e compreendem em si as mudanças, sendo então capazes de</p><p>compreendê-las, também, nos outros.</p><p>De acordo com Moyles (2010, p. 71):</p><p>[...] uma criança pequena pode saber que é uma ‘ótima autora’ quando</p><p>as pessoas gostam das suas histórias na escola, que é a ‘menininha</p><p>amada’ da mamãe e do papai, a ‘irmã mais velha boazinha’ do</p><p>irmãozinho bebê ou a ‘irmã menor chata’ da irmã mais velha quando</p><p>ela quer participar das brincadeiras dos mais velhos.</p><p>FIGURA 45 – DIVERSAS IDENTIDADES</p><p>FONTE: <http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/foto/0,,56769556,00.jpg >.</p><p>Acesso em: 2 maio 2020.</p><p>156</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>De acordo com o Parecer CNE/CEB nº 20/2009, aprovado em 11 de</p><p>novembro de 2009, no documento intitulado Revisão das Diretrizes Curriculares</p><p>Nacionais para a Educação Infantil:</p><p>Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria de colocar-se nos</p><p>relacionamentos e nas interações, de manifestar emoções e curiosidades,</p><p>e elabora um modo próprio de agir nas diversas situações que vivencia</p><p>desde o nascimento conforme experimenta sensações de desconforto</p><p>ou de incerteza diante de aspectos novos que lhe geram necessidades</p><p>e desejos e lhe exigem novas respostas. Assim busca compreender o</p><p>mundo e a si mesma, testando, de alguma forma, as significações que</p><p>constrói, modificando-as continuamente em cada interação, seja com</p><p>outro ser humano, seja com objetos. Cabe às instituições de Educação</p><p>Infantil assegurar às crianças a manifestação de seus interesses,</p><p>desejos e curiosidades ao participar das práticas educativas, valorizar</p><p>suas produções, individuais e coletivas e trabalhar pela conquista</p><p>por elas da autonomia para a escolha de brincadeiras e de atividades</p><p>e para a realização de cuidados pessoais diários. Tais instituições</p><p>devem proporcionar às crianças oportunidades para ampliarem as</p><p>possibilidades de aprendizado e de compreensão de mundo e de si</p><p>próprias trazidas por diferentes tradições culturais e a construir atitudes</p><p>de respeito e solidariedade, fortalecendo a autoestima e os vínculos</p><p>afetivos de todas as crianças (BRASIL, 2009).</p><p>E agora, caro acadêmico, ficou um pouco mais fácil? Para auxiliá- lo,</p><p>traremos, a seguir, algumas dicas de como estimular o desenvolvimento saudável</p><p>da identidade das crianças, nas instituições de Educação Infantil.</p><p>• Reconheça a importância da “construção da identidade” para a aprendizagem</p><p>e o desenvolvimento.</p><p>• Apoie e incentive a criança diante da posição ou mudança de identidade que</p><p>adotar.</p><p>• Incentive movimentos de autoconhecimento e autoestima entre as crianças</p><p>para que elas aprendam a se conhecer e a se ver como os outros a conhecem e</p><p>a veem.</p><p>• Provoque situações que levem as crianças a manifestarem seus sentimentos</p><p>de diversas maneiras.</p><p>• Crie situações para que interajam com o grupo e deixe-as livres para que</p><p>possam tomar decisões e ocupar posições enquanto se relacionam socialmente.</p><p>• Seja sensível a tudo aquilo que as crianças lhe disserem, preste atenção a elas.</p><p>Para Moyles (2010, p. 84):</p><p>[...] Se a criança sente que os adultos importantes da sua vida se importam</p><p>com ela, a valorizam e a aceitam como ela é, provavelmente terá uma</p><p>autoestima elevada. Para ajudar as crianças que estão desenvolvendo</p><p>seu senso de self e garantir que sua autoestima se mantenha elevada,</p><p>os profissionais devem conhecer e ser sensíveis aos discursos aos quais</p><p>a criança tem acesso – assim, compreenderão melhor como ela está</p><p>escolhendo se posicionar ou está sendo posicionada pelos outros. Os</p><p>profissionais também precisam ter em mente a natureza multifacetada</p><p>e fluída da identidade e procurar dar à criança acesso a uma grande</p><p>variedade de discursos e “maneiras de ser”.</p><p>TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA</p><p>157</p><p>• Deixe espaço para que as crianças possam manifestar os próprios gostos e</p><p>preferências, como, por exemplo, escolhendo a brincadeira, o livro ou a música</p><p>que irão cantar.</p><p>• Favoreça atividades para que elas percebam suas habilidades e limites e</p><p>sejam capazes de perceber-se como um ser único e especial, no meio de tantos</p><p>outros igualmente únicos.</p><p>• Não esqueça que este processo de autoconhecimento inicia quando a criança</p><p>nasce e a acompanha até o final da vida, sendo marcado pela história, pela</p><p>cultura, pela família e pelo ambiente onde vive esta criança. Valorize, portanto,</p><p>cada um destes detalhes.</p><p>• Não faça comparações, cada criança é única.</p><p>• Chame cada criança pelo nome, evite apelidos ou diminutivos.</p><p>• Fique atento às diferentes manifestações das crianças (gestos, atitudes, choro</p><p>etc.), elas podem se comunicar com você, mesmo sem saber ou querer falar.</p><p>Sinta-se importante durante todo o processo de construção da identidade</p><p>das crianças.</p><p>158</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Sujeito autônomo é aquele que sabe aonde quer chegar e os caminhos que</p><p>deve percorrer, seguindo suas próprias leis e tomando decisões.</p><p>• Para desenvolver a independência/autonomia nas crianças, é necessário dar-</p><p>lhes a oportunidade de fazer escolhas.</p><p>• Quando o professor decide tudo sozinho, não deixa espaço para a</p><p>construção autônoma e perde oportunidades de desenvolver a criatividade,</p><p>responsabilidade, iniciativa e independência, na criança.</p><p>• O professor que formula atividades nas quais as crianças são levadas a pensar</p><p>e a tentar sozinhas, as conduz à situações de aprendizagens significativas.</p><p>• Partir do conhecimento prévio das crianças nos dá subsídios para elaborar</p><p>atividades ou projetos.</p><p>• Todo bom professor tem consciência de que necessita refletir a sua prática</p><p>todos os dias.</p><p>• Se somos capazes de oferecer momentos de construção de conhecimentos</p><p>e de estabelecimento de metas, e ainda, se planejamos com esta convicção,</p><p>tornamo-nos educadores por excelência.</p><p>• Professor que ama o que faz não faz distinções e conduz sua profissão com</p><p>amorosidade, sendo coerente em sua prática.</p><p>• Ensinar exige comprometimento. É impossível formar-se professor sem saber</p><p>disso.</p><p>• Para ensinar as crianças é preciso querer bem a elas. É preciso conhecê-las,</p><p>compreendê-las e, sobretudo, amá-las.</p><p>• Identidade tem a ver com “quem somos”, com o grupo do qual fazemos parte,</p><p>em que acreditamos, o que de fato praticamos.</p><p>• Não somos sempre iguais nem temos sempre os mesmos comportamentos, às</p><p>vezes, apresentamos identidades distintas.</p><p>• Temos múltiplas identidades e necessitamos ter liberdade de nos posicionar</p><p>também, de múltiplas maneiras.</p><p>159</p><p>1 Escolha, entre os 29 itens do sumário do livro “Pedagogia da Autonomia”,</p><p>de Paulo Freire, cinco frases/tópicos marcantes para você, a respeito da</p><p>palavra ensinar, que poderiam lhe servir como base de um trabalho bem</p><p>feito. Justifique sua escolha.</p><p>2 Por que dizemos que quando o professor toma todas as decisões no</p><p>planejamento e condução da aula ele está perdendo grandes oportunidades</p><p>junto às crianças?</p><p>3 Identidade tem a ver com quem somos, o que nos torna únicos. No entanto,</p><p>ao longo da vida, apresentamos múltiplas identidades. O que isso significa?</p><p>4 Para desenvolver a independência/autonomia nas crianças basta dar-lhes</p><p>uma oportunidade específica. Com base no que estamos falando, assinale a</p><p>alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Da oportunidade de aprender com os adultos.</p><p>b) ( ) Da oportunidade de ouvir e imitar os outros.</p><p>c) ( ) Da oportunidade de falar o que quer.</p><p>d) ( ) Da oportunidade de fazer escolhas.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>160</p><p>161</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Sabemos que a Educação Infantil faz parte da primeira etapa da educação</p><p>básica. Por ser a primeira, necessita ser muito especial, pois se trata do início</p><p>e do fundamento do processo educacional das crianças. Esta base tem que ser</p><p>sólida, tem que ter qualidade no atendimento, no planejamento e na formação</p><p>continuada dos profissionais.</p><p>Os eixos estruturantes das práticas pedagógicas da Educação Infantil são</p><p>as interações e a brincadeira, “experiências nas quais as crianças podem construir</p><p>e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus</p><p>pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e</p><p>socialização” (BRASIL, 2018, p. 37).</p><p>Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com</p><p>os adultos, é possível identificar, por exemplo a expressão dos afetos,</p><p>a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das</p><p>emoções (BRASIL, 2018, p. 37).</p><p>A partir dos eixos estruturantes e das competências gerais da BNCC</p><p>para a Educação infantil, foram elencados seis direitos de aprendizagem e</p><p>desenvolvimento e é sobre cada um deles que falaremos neste tópico.</p><p>Aproveite esta nova oportunidade para ampliar seus conhecimentos.</p><p>Bons estudos!</p><p>TÓPICO 4 —</p><p>A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL</p><p>COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>2 DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NA</p><p>EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>De acordo com a BNCC (BRASIL, 2018, p. 37), os seis direitos de</p><p>aprendizagem e desenvolvimento:</p><p>asseguram, na educação infantil, as condições para que as crianças</p><p>aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel</p><p>ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-</p><p>se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados</p><p>sobre si, os outros e o mundo social e natural.</p><p>162</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>FIGURA 46 – DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO</p><p>FIGURA 47 –APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO</p><p>FONTE: as autoras</p><p>FONTE: < https://bit.ly/3qfzaKt >. Acesso em: 12 maio 2020.</p><p>No Quadro 6, apresentaremos uma síntese de cada um dos “seis direitos</p><p>de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil”, de acordo com a</p><p>BNCC (BRASIL, 2018, p. 36).</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>163</p><p>QUADRO 6 – SEIS DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO</p><p>INFANTIL</p><p>FONTE: a autora</p><p>• Conviver com outras crian��as e adultos, em pequenos e grandes grupos,</p><p>utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do ou-</p><p>tro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.</p><p>• Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tem-</p><p>pos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversifi-</p><p>cando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imagina-</p><p>ção, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais,</p><p>expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.</p><p>• Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamen-</p><p>to da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto</p><p>da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das</p><p>brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes lin-</p><p>guagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.</p><p>• Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emo-</p><p>ções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da na-</p><p>tureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em</p><p>suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.</p><p>• Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades,</p><p>emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questio-</p><p>namentos, por meio de diferentes linguagens.</p><p>• Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, consti-</p><p>tuindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas</p><p>diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens</p><p>vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário.</p><p>3 OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS</p><p>Considerando os eixos estruturantes e os direitos de aprendizagem e</p><p>desenvolvimento, a BNCC estruturou cinco campos de experiências, que cabem</p><p>direitinho na vida cotidiana das crianças, juntamente com seus saberes e fazeres</p><p>(experiências), tanto pedagógicas, quanto sociais, culturais ou patrimoniais.</p><p>Eis os campos em que se organiza a BNCC, para a Educação Infantil:</p><p>• O eu, o outro e o nós.</p><p>• Corpo, gestos e movimentos.</p><p>• Traços, sons, cores e formas.</p><p>• Escuta, fala, pensamento e imaginação.</p><p>• Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.</p><p>164</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>A seguir, traremos a explicação de cada um dos campos, de acordo com a</p><p>BNCC (BRASIL, 2017, p. 38):</p><p>O EU, O OUTRO, O NÓS – É na interação com os pares e com adultos</p><p>que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar</p><p>e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes,</p><p>com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências</p><p>sociais (na família, na instituição escolar, na coletividade), constroem</p><p>percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se</p><p>e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais. Ao</p><p>mesmo tempo que participam de relações sociais e de cuidados pessoais, as</p><p>crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade e</p><p>de interdependência com o meio. Por sua vez, na Educação Infantil, é preciso</p><p>criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos</p><p>sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais</p><p>de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas</p><p>experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro,</p><p>valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que</p><p>nos constituem como seres humanos.</p><p>Toda criança adora brincar e interagir com outras crianças ou mesmo com</p><p>adultos e, enquanto faz isso, desenvolve tantas aprendizagens que vale a pena</p><p>refletir elas e a sua importância dentro do processo de ensino-aprendizagem.</p><p>Conforme Nascimento (2000, p. 1):</p><p>A criança não é um adulto que ainda não cresceu, ela tem características</p><p>próprias. Para alcançar o pensamento adulto (abstrato), ela precisa</p><p>percorrer todas as etapas de seu desenvolvimento físico, cognitivo,</p><p>social e emocional. Brincando, a criança desenvolve potencialidades;</p><p>ela compara, analisa, nomeia, mede, associa, calcula, classifica,</p><p>compõe, conceitua, cria, deduz etc. Sua sociabilidade se desenvolve;</p><p>ela faz amigos, aprende a compartilhar e a respeitar o direito dos</p><p>outros e as normas estabelecidas pelo grupo e a envolver-se nas</p><p>atividades apenas pelo prazer de participar, sem visar recompensas</p><p>nem temer castigos. Brincando, a criança estará buscando sentido para</p><p>sua vida. Sua</p><p>estação de trens, até o pai ser transferido para uma aldeia de Neudörfl, nos Alpes.</p><p>Steiner iniciou ali seus estudos em uma escola, efetivamente, tendo contato</p><p>com a geometria. Este contato foi tão importante para ele, que o deixou encantado.</p><p>Steiner dizia que, pela primeira vez, havia encontrado a felicidade. Por volta dos</p><p>oito anos, teve seu primeiro contato com a paranormalidade, mantendo-a em</p><p>segredo, pois a sociedade da época era muito preconceituosa. Para integrar seu</p><p>dom à lucidez, iniciou estudos na área da matemática, da filosofia e da ciência</p><p>natural.</p><p>Após os dez anos de idade, frequentou o Liceu na cidade Wiener-Neustadt,</p><p>próxima da sua cidade. Aprendeu sozinho sobre os cálculos integrais, estatística e</p><p>geometria descritiva, sendo reconhecido no Liceu pela sua dedicação, recebendo</p><p>nota máxima. Aos catorze anos, dedicou-se ao estudo das obras de Kant, sem</p><p>abandonar o mundo da matemática e das ciências naturais.</p><p>Aos dezoito anos, graduou-se no Liceu e matriculou-se na Escola</p><p>Politécnica de Viena, por conselho de seu pai. Nesta época, concluiu sua leitura</p><p>sobre Kant e iniciou novas leituras no campo da Filosofia, desta vez com Fichte,</p><p>Hegel e Schelling. Trabalhou no Arquivo Schiller-Goethe, entre 1880 e 1897,</p><p>editando textos goethianos.</p><p>TÓPICO 1 — A PEDAGOGIA WALDORF</p><p>5</p><p>Desse período em diante, iniciou como autor e editor das obras científicas</p><p>completas de Goethe e escreveu sua primeira obra: A Filosofia da Liberdade</p><p>(1894). Tornou-se conferencista e escritor, com o intuito de divulgar sua pesquisa</p><p>científico-espiritual. Em 1914, casou-se com Marie von Sievers, sua colaboradora</p><p>na Sociedade Antroposófica, criada por ele em 1913.</p><p>Ele foi convidado pelo proprietário da fábrica de cigarros Waldorf-Astória,</p><p>Emil Moet, em 1919, para proferir palestras para seus funcionários. Como o</p><p>trabalho foi bem aceito, solicitaram que ele abrisse uma escola para os filhos dos</p><p>trabalhadores da fábrica, com o apoio de Emil.</p><p>Steiner gostou da ideia, porém exigiu que a escola fosse aberta para todas</p><p>as crianças, que os professores compartilhassem dos mesmos ideais que ele e</p><p>que o currículo escolar fosse unificado de 12 anos. Em 7 de setembro de 1919,</p><p>foi aberta a primeira escola Waldorf – Die Freie Waldorfschule – A Escola Waldorf</p><p>Livre, em Stuttgart, na Alemanha. Esta escola permanece ativa até os dias de hoje.</p><p>Steiner faleceu no dia 30 de março de 1925, aos 74 anos, em Dornach,</p><p>na Suíça, deixando diversas contribuições em áreas como: artes, medicina,</p><p>farmacologia, agricultura, pedagogia, arquitetura, teologia e na vida social.</p><p>Em 27 de fevereiro de 1956, foi fundada a primeira Escola Waldorf no</p><p>Brasil, mais especificamente em São Paulo, por um pequeno grupo de amigos.</p><p>Para preparar os professores de acordo com a Pedagogia Waldorf e auxiliar na</p><p>fundação da escola, o grupo de amigos convidou professores da Escola Waldorf</p><p>de Pforzheim, na Alemanha.</p><p>A escola iniciou com apenas 28 crianças da Educação Infantil e o antigo</p><p>primário. Como a escola evoluiu positivamente, em 1979 foi autorizado o</p><p>funcionamento do Ensino Fundamental e, posteriormente, do Ensino Médio.</p><p>Com o crescimento constante de novas escolas Waldorf, fundou-se a</p><p>Federação das Escolas Waldorf no Brasil em 1998, que teve como princípio a</p><p>consolidação da Pedagogia Waldorf. Atualmente, existem diversas escolas Waldorf</p><p>espalhadas pelo país, e seu crescimento vem se acentuando nos últimos anos.</p><p>3 A PEDAGOGIA WALDORF</p><p>As escolas Waldorf, criadas por Steiner, se diferenciaram das demais por</p><p>suas ideias e métodos pedagógicos diversificados, crescendo muito até os dias</p><p>atuais. O crescimento das escolas Waldorf foi contido apenas durante a Segunda</p><p>Guerra Mundial (1939-1945), bem como durante os regimes comunistas.</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>6</p><p>FIGURA 2 – ESCOLA WALDORF</p><p>FONTE:<https://escolawaldorfrecife.files.wordpress.com/2007/11/ew_sala_mesa.jpg>.</p><p>Acesso em: 12 abr. 2021.</p><p>A principal característica das escolas Waldorf é a sua base na concepção de</p><p>desenvolvimento humano introduzido por Steiner, que leva em conta as diversas</p><p>características de crianças e adolescentes, as quais veremos mais adiante. Na</p><p>Pedagogia Waldorf, a educação é formulada de acordo com estas características e</p><p>diferenciada para cada faixa etária, percebendo a criança do ponto de vista espiritual,</p><p>físico e anímico, e evidenciando o desenvolvimento progressivo destes pontos.</p><p>Estas escolas são diferentes das demais, pois não exigem o desenvolvimento</p><p>do pensamento abstrato ou intelectual desde a infância. As crianças aprendem a ler</p><p>após entrarem na 1ª série (atual 2º ano), e o uso do computador é feito apenas a partir</p><p>da entrada no Ensino Médio, pois o seu uso induz ao pensamento lógico-abstrato.</p><p>Esta pedagogia diferente tem suas bases na antroposofia, que, como já vimos,</p><p>foi criada por Steiner. A antroposofia é “uma linha de pensamento e investigação</p><p>científica que abrange diversas áreas do conhecimento” (TREVISAN, 2006, p. 15).</p><p>ANÍMICO: referente à alma, deriva do latim anima = alma.</p><p>DICAS</p><p>TÓPICO 1 — A PEDAGOGIA WALDORF</p><p>7</p><p>Agora que já sabemos o que significa o termo antroposofia, vamos</p><p>conhecer um pouco mais sobre as suas bases e influência na Pedagogia Waldorf.</p><p>De acordo com Costa (2005, p. 14):</p><p>Steiner concebeu o homem atual, como portador e comportador de</p><p>quatro processos, que nada mais são que a introjeção dos três reinos</p><p>evolutivos da natureza (mineral, vegetal e animal) e mais um, que</p><p>seria o qualificador, o distintor da individualidade humana: o Eu.</p><p>A isto chamou de quadrimembração.</p><p>FIGURA 3 – QUADRIMEMBRAÇÃO</p><p>FONTE: As autoras</p><p>Ainda segundo Steiner, o mineral seria o corpo físico, que não muda, a</p><p>não ser que sofra influência de forças externas, mas que, ao final de tudo, continua</p><p>sendo o esqueleto, a base, o inorgânico, presente em todos os seres. Por outro</p><p>lado, o homem, o animal e o vegetal possuem uma força vital, que faz com que</p><p>eles nasçam, cresçam e morram. Esta força que dá a vida e a forma seria o corpo</p><p>etérico, representando a vitalidade, cujo auge se refere ao nascimento e seu fim</p><p>representaria a morte, na velhice, quando o corpo etérico deixaria de existir para</p><p>se tornar apenas físico, mineral.</p><p>Você sabe o que significa o termo ANTROPOSOFIA? Deriva das palavras antropo</p><p>= homem e sofia = saber, ciência. Em grego significa: conhecimento do homem.</p><p>IMPORTANTE</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>8</p><p>Entretando, há algo mais que constitui o homem. Ele não é apenas corpo</p><p>físico e vida, ele age, possui instintos, “ele reage, tem impulsos (procura alimentos,</p><p>parceiros sexuais), manifesta atração (simpatia) e repulsa (antipatia) e também pode</p><p>aprender” (COSTA, 2005, p. 16). Estas características também estão presentes nos</p><p>animais. Homem e animal possuem uma vida anímica, possuem alma, ou, como</p><p>definiu Steiner, possuem um corpo astral. Este corpo astral é o que domina o corpo</p><p>físico e o etérico, e caracteriza-se por ser um corpo de sentimentos, movimentos,</p><p>que constrói o espaço ao seu redor. No entanto, durante a evolução, nós, seres</p><p>humanos, adquirimos um quê de diferente, que nos individualiza e nos torna</p><p>únicos: o nosso EU. Somos diferentes dos outros seres, somos diferentes dos outros</p><p>homens e possuímos consciência disto. Somos autoconscientes, temos consciência</p><p>de nós perante o mundo, temos liberdade.</p><p>Além destas características que definem o homem, Steiner procurou</p><p>definir as principais atividades anímicas do ser humano. Vejamos:</p><p>FIGURA 4 – HOMEM</p><p>FONTE: <https://www.a77.com.br/desenhos/homem_desenho_colorir_9.gif >.</p><p>Acesso em: 27 fev. 2012.</p><p>Segundo Canelada (2011, p. 16), a educação Waldorf cultiva em seus</p><p>alunos:</p><p>[...] o querer (agir) através da atividade corpórea em praticamente</p><p>todas as aulas; o sentir, que é incentivado por meio de abordagem</p><p>artística constante nas matérias, além de atividades artísticas e</p><p>artesanais, específicas</p><p>saúde física, emocional e intelectual depende, em grande</p><p>parte, dessa atividade lúdica.</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>165</p><p>FIGURA 48 – O EU, O OUTRO E O NÓS</p><p>FIGURA 49 – DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA</p><p>FONTE: <https://bit.ly/47eAGNC>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>FONTE: a autora</p><p>Perceba, prezado acadêmico, como é grande a lista de vantagens que</p><p>se esconde em um simples brincar e interagir, para o desenvolvimento de</p><p>aprendizagens signifi cativas. Enquanto brinca e interage, a criança desenvolve:</p><p>Ela aprende também a:</p><p>166</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>FIGURA 50 – APRENDENDO A DIVIDIR</p><p>FONTE: <https://www.tempojunto.com/2019/11/06/como-ensinar-meu-filho-a-dividir-os-brin-</p><p>quedos/>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>Por tudo isso, Nascimento (2000, p. 1) afirma que:</p><p>Brincar é tão importante para a criança como trabalhar é para o adulto.</p><p>É o que a torna ativa, criativa, e lhe dá a oportunidade de relacionar-</p><p>se com os outros; também a faz feliz e, por isso, mais propensa a ser</p><p>bondosa, a amar o próximo, a ser solidária.</p><p>Enquanto a criança brinca, percebe a necessidade do outro e passa a preferir</p><p>brincar em companhia de mais crianças do que sozinha, mesmo que essa parceria,</p><p>às vezes, seja conflituosa e frustrante. Com isso, desenvolve sua inteligência</p><p>emocional, tão importante para o crescimento. Em grupo, especialmente através</p><p>de jogos, ela aprende também o significado de “ganhar e perder”.</p><p>Prezado acadêmico! Não é novidade alguma que a criança utiliza</p><p>múltiplas maneiras de se comunicar ou se expressar, concorda? Durante os</p><p>jogos ou brincadeiras, o que fica evidente é o movimento como linguagem, não</p><p>apenas como ato de se mover, pois, enquanto se movimenta, a criança é capaz de</p><p>expressar seus sentimentos, quer sejam eles manifestados por gestos, emoções</p><p>ou posturas corporais, principalmente quando a criança ainda não fala. O corpo</p><p>demonstra aquilo que a criança sente ou quer falar e nós, educadores, precisamos</p><p>ter sensibilidade para perceber isso.</p><p>Partindo deste pressuposto, vamos ao segundo campo de experiência:</p><p>CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS – Com o corpo (por meio dos sentidos,</p><p>gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos),</p><p>as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu en-</p><p>torno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>167</p><p>FIGURA 51 – CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS</p><p>FONTE: <https://bit.ly/45a2wbW>. Acesso em: 12 maio 2020.</p><p>sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progres-</p><p>sivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens,</p><p>como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comu-</p><p>nicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As</p><p>crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo e, com</p><p>seus gestos e movimentos, identifi cam suas potencialidades e seus limites, de-</p><p>senvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode</p><p>ser um risco a sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças</p><p>ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas</p><p>de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a</p><p>submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas</p><p>para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na intera-</p><p>ção com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos,</p><p>gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de</p><p>ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar,</p><p>engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar,</p><p>escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.).</p><p>FONTE: Brasil (2018 (p. 40-41).</p><p>Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil</p><p>(BRASIL, 1998, p. 18):</p><p>O movimento para a criança pequena signifi ca muito mais do que</p><p>mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se expressa</p><p>e se comunica por meio dos gestos e das mímicas faciais e interage</p><p>utilizando fortemente o apoio do corpo. A dimensão corporal integra-</p><p>se ao conjunto da atividade da criança. [...] Pode-se dizer que no início</p><p>do desenvolvimento predomina a dimensão subjetiva da motricidade,</p><p>que encontra sua efi cácia e sentido principalmente na interação como</p><p>meio social, junto às pessoas com quem a criança interage diretamente.</p><p>A internalização de sentimentos, emoções e estados íntimos poderão</p><p>encontrar na expressividade do corpo um recurso privilegiado.</p><p>168</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>O terceiro campo de experiência, já vem chegando, na sequência:</p><p>TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS – Conviver com diferentes manifesta-</p><p>ções artísticas, culturais e científi cas, locais e universais, no cotidiano da insti-</p><p>tuição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversifi cadas,</p><p>vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais</p><p>(pintura, modelagem, colagem, fotografi a etc.), a música, o teatro, a dança e</p><p>o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam</p><p>por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais,</p><p>exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças,</p><p>mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diver-</p><p>sos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para</p><p>que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o</p><p>conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto,</p><p>a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos</p><p>e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a fa-</p><p>vorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão</p><p>pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfi gurem, permanen-</p><p>temente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios</p><p>e interpretar suas experiências e vivências artísticas</p><p>FONTE: Brasil (2018 (p. 41).</p><p>FIGURA 52 – TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3YlQ1rE>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>As crianças adoram cantar ou ouvir música, certamente porque desde</p><p>muito pequeninas esta linguagem as acompanha, desde as canções de ninar dos</p><p>pais ao gosto musical que a própria família lhes impõe, muitas vezes de maneira</p><p>inconsciente. Quanto mais estimulada a ouvir, cantar e até mesmo tocar diferentes</p><p>ritmos musicais, maior será o desenvolvimento da criança; ela será capaz de</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>169</p><p>FIGURA 52 – TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS</p><p>FONTE: <https://bit.ly/47jZJPe>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>produzir sons com o próprio corpo ou com diferentes objetos, ampliando seu</p><p>repertório. Por isto, é importante ao educador selecionar músicas de qualidade,</p><p>como citamos anteriormente.</p><p>A música está diretamente ligada à sensibilidade, à expressão e à alegria.</p><p>É muito importante que ofertemos diferentes oportunidades de apreciação e fazer</p><p>musical para as crianças, tais como: os sons da natureza, do corpo, de diferentes</p><p>instrumentos musicais, de jogos cantados, exploração de ritmos, gestos, canções</p><p>de roda ou parlendas, o que as desenvolverá social e intelectualmente.</p><p>A música tem que ser entendida como uma linguagem e não como</p><p>uma forma de estratégia para banalizá-la. Tem que mostrar um amplo</p><p>universo de sons para o aluno. Isso vai ajudá-lo a ampliar seus sen-</p><p>tidos, como a visão, o tato e, principalmente, a audição. Nosso pro-</p><p>pósito com essas aulas não é o de formar músicos profi ssionais, mas,</p><p>como música</p><p>é cultura, ela vai despertar nessa pessoa também o sen-</p><p>so crítico, fazendo com que esse indivíduo não aceite passivamente</p><p>todo esse material cultural descartável (LIMA apud LAGINSKI, 2012).</p><p>As artes plásticas ou visuais também compõem a lista de preferências</p><p>da criança na Educação Infantil. Quando ela tem a oportunidade de manusear</p><p>diferentes materiais e criar suas próprias obras, manifesta no mesmo instante</p><p>uma série de sentimentos, ampliando, assim, sua percepção de mundo.</p><p>De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil</p><p>(BRASIL, 1998, p. 89):</p><p>Na infância as artes visuais estão presentes desde muito cedo. As crian-</p><p>ças rabiscam, desenham, mesmo que não tenham papéis e lápis. Utili-</p><p>zam-se do próprio corpo, usam gravetos, rabiscam na areia, mas já se</p><p>expressam através dessa linguagem. [...] as artes visuais devem ser con-</p><p>cebidas como uma linguagem que tem estrutura e características pró-</p><p>prias, (e ocorre) por meio da articulação dos aspectos: (a) fazer artístico</p><p>– centrado na exploração, expressão e comunicação de produção de</p><p>trabalhos de arte [...]; (b) apreciação – percepção do sentido que o obje-</p><p>to propõe [...] (c) refl exão – considerado tanto no fazer artístico quanto</p><p>na apreciação, é pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico [...].</p><p>170</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>Prezado acadêmico! Vale lembrar que a criança se expressa através do</p><p>desenho, mas que, no início, ela só faz “rabiscos”, depois passa a dar formas e</p><p>contornos. Durante todo este processo ela precisa ser compreendida e valorizada</p><p>para que exerça de forma espontânea e saudável sua evolução. Enquanto educador,</p><p>ofereça o maior número de materiais artísticos à criança, dê-lhe autonomia</p><p>para criar e perceba que ela os experimentará com entusiasmo, criatividade e</p><p>imaginação, que lhe são tão naturais.</p><p>E por falar em comunicação e expressão, vem aí nosso próximo campo de</p><p>experiência:</p><p>ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO – Desde o nascimento,</p><p>as crianças participam de situações comunicativas cotidianas com as pessoas</p><p>com as quais interagem. As primeiras formas de interação do bebê são os mo-</p><p>vimentos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro e outros</p><p>recursos vocais, que ganham sentido com a interpretação do outro. Progressi-</p><p>vamente, as crianças vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e demais</p><p>recursos de expressão e de compreensão, apropriando-se da língua materna –</p><p>que se torna, pouco a pouco, seu veículo privilegiado de interação. Na Educa-</p><p>ção Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam</p><p>falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta</p><p>de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas ela-</p><p>boradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas</p><p>linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e per-</p><p>tencente a um grupo social.</p><p>Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita:</p><p>ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que</p><p>circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua</p><p>concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita,</p><p>dos gêneros, suportes e portadores. Na Educação Infantil, a imersão na cul-</p><p>tura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que</p><p>deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil, propostas pelo</p><p>educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvol-</p><p>vimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do</p><p>conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas,</p><p>poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêne-</p><p>ros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da di-</p><p>reção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. Nesse convívio</p><p>com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que</p><p>se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhe-</p><p>cendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da</p><p>compreensão da escrita como sistema de representação da língua.</p><p>Fonte: Brasil (2018, p. 42).</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>171</p><p>A fala é o principal veículo de comunicação entre a criança, os familiares,</p><p>professores e colegas. Por meio da fala, a criança expressa seus sentimentos,</p><p>desejos ou angústias.</p><p>Este desenvolvimento pode acontecer através de conversas informais</p><p>(roda da conversa) ou planejadas, como numa entrevista ou apresentação. Deve-se</p><p>proporcionar estes momentos em sala de aula ou mesmo fora dela, e é importante</p><p>incentivar que todos falem, que todos opinem, que manifestem seus interesses e</p><p>que saibam compartilhar como grupo o que pensam e o que sentem a respeito de</p><p>determinado assunto, fazendo-se compreender. Neste tipo de atividade, exercita-</p><p>se também a escuta, outro fator determinante na aprendizagem.</p><p>Enquanto a criança fala e é ouvida pelos colegas e pela professora, ela</p><p>sente-se importante, ampliando sua leitura de mundo, apropriando-se de novos</p><p>conceitos e aumentando sua capacidade de argumentação.</p><p>Na roda da conversa, enquanto a criança narra seu fi nal de semana, por</p><p>exemplo, é possível descobrir muitas coisas a respeito de uma rotina familiar</p><p>tranquila ou de uma convivência familiar complicada, que, porventura, esteja</p><p>afetando a vida desta criança. Enquanto relata, ela expressa desejos, sentimentos,</p><p>medos, abusos, enfi m, fatos reais do seu dia a dia.</p><p>Temos que fi car bem atentos aos “sinais” que as crianças nos dão e criar</p><p>um ambiente que valorize e incentive o diálogo e a livre expressão da criança.</p><p>FIGURA 54 – A CONVERSA DURANTE A BRINCADEIRA</p><p>FONTE: <http://www.marupiara.com.br>. Acesso em: 12 maio 2012.</p><p>A leitura também faz parte da linguagem oral, e não é só à leitura de</p><p>livros que estamos nos referindo, existe a leitura de mundo (pessoas, ambientes,</p><p>espaços), de objetos, de imagens ou de músicas, que ajudarão no de senvolvimento</p><p>da criança.</p><p>172</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>FIGURA 55 – LEITURA DE IMAGEM</p><p>FONTE: <bit.ly/3KnUJzt>. Acesso em: 12 maio 2012.</p><p>Para desenvolver crianças leitoras, é preciso que o educador seja</p><p>apaixonado pelos livros e faça da leitura uma atividade diária, desde aEducação</p><p>Infantil. Para isso, faz-se necessário ter um bom acervo literário na instituição,</p><p>se possível montar um cantinho de leitura dentro da própria sala de aula, onde</p><p>as crianças tenham oportunidade de manusear diferentes materiais impressos</p><p>como: livros, revistas, jornais, panfl etos etc. Sabemos que a maioria das crianças</p><p>de creche e pré-escola ainda não lê o código escrito, por isso esta tarefa cabe ao</p><p>educador, mas é muito interessante deixá-las manusear os diferentes materiais,</p><p>observar a imagens e levar as obras preferidas paracasa.</p><p>Ao escolher o livro que lerá para a turma, nunca se esqueça, futuro(a)</p><p>educador(a), de que você precisa preparar a leitura com antecedência, para que</p><p>possa dar a devida entonação à história. Crianças amam histórias bem contadas e</p><p>não é legal fazer feio nesta hora, concorda?</p><p>Em relação à linguagem escrita, é possível afi rmar que ela acontece</p><p>naturalmente, dentro do processo construído com a criança até então. A criança</p><p>da Educação Infantil vai avançando em sua etapa alfabética à medida que mantém</p><p>contato com as letras e com os livros, num mundo de descobertas e aprendizagens.</p><p>A escrita é um produto da cultura humana e se insere no percurso</p><p>do desenvolvimento da função simbólica. Portanto, a criança, para</p><p>adquiri-la precisa efetivar uma série de realizações</p><p>do domínio da</p><p>Mesmo sem ler o código escrito, a criança pode abrir um livro ou revista</p><p>e inventar a história a partir das imagens que vê e do conhecimento prévio que</p><p>possui. Quem nunca se encantou vendo uma criança com um livro nas mãos</p><p>lendo as imagens como se lesse realmente a história?</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>173</p><p>FIGURA 56 – LINGUAGEM ORAL E ESCRITA</p><p>FONTE: <bit.ly/45cVmUy>. Acesso em: 13 maio 2012.</p><p>função simbólica. Uma delas é ser capaz de dar signifi cado a uma</p><p>forma, capacidade que ela adquire realizando colagens, dobradura,</p><p>desenho, brincadeiras, principalmente, de faz de conta e outras que</p><p>incluem especifi camente a representação. A partir disto, podemos</p><p>afi rmar que a escrita é uma linguagem em construção na criança</p><p>pequena. Exercendo as atividades próprias do desenvolvimento</p><p>da função simbólica – o desenho, a narrativa pelo movimento e a</p><p>narrativa oral – a criança estará construindo as bases, por assim dizer,</p><p>necessárias para a leitura e para a escrita (LIMA, 2002, p. 28).</p><p>Conforme a imagem anterior, pode-se trabalhar com letras móveis,</p><p>cartelas ou listas de palavras oferecendo reais possibilidades de escrita e leitura</p><p>enquanto as crianças brincam e interagem com os colegas.</p><p>E, para fechar nosso ciclo de apresentação dos campos de experiências,</p><p>teremos:</p><p>ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES</p><p>– As crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes dimensões, em</p><p>um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde muito</p><p>pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro, cidade</p><p>etc.) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também</p><p>curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos,</p><p>os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de</p><p>materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo sociocultural</p><p>(as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que conhece; como vivem</p><p>e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a</p><p>174</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>diversidade entre elas etc.). Além disso, nessas experiências e em muitas</p><p>outras, as crianças também se deparam, frequentemente, com conhecimentos</p><p>matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões,</p><p>medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias,</p><p>reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reconhecimento de</p><p>numerais cardinais e ordinais etc.) que igualmente aguçam a curiosidade.</p><p>Portanto, a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as</p><p>crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar</p><p>seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar</p><p>respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está</p><p>criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do</p><p>mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano.</p><p>FONTE: Brasil (2018, p. 42-43).</p><p>As crianças têm verdadeiro fascínio pela natureza e estabelecem com ela</p><p>laços de afetividade. Este é, sem dúvida alguma, o assunto de maior interesse</p><p>e curiosidade das crianças, que, com o auxílio do educador, pode possibilitar</p><p>descobertas, questionamentos, experiências e diferentes formas deinvestigações.</p><p>De acordo com Tiriba (2005 apud BRASIL, 2006c, p. 17-18):</p><p>Da mesma forma que defendemos uma perspectiva educacional que</p><p>respeite a diversidade cultural e promova o enriquecimento perma-</p><p>nente do universo de conhecimentos, atentamos para a necessida-</p><p>de de adoção de estratégias educacionais que permitam às crianças,</p><p>desde bebês, usufruírem da natureza, observarem e sentirem o vento,</p><p>brincarem com água e areia, atividades que se tornam especialmente</p><p>relevantes se considerarmos que as crianças ficam em espaços inter-</p><p>nos às construções na maior parte do tempo em que se encontram</p><p>nas instituições de Educação Infantil. Criando condições para que as</p><p>crianças desfrutem da vida ao ar livre, aprendam a conhecer o mun-</p><p>do da natureza em que vivemos, compreendam as repercussões das</p><p>ações humanas nesse mundo e sejam incentivadas em atitudes de</p><p>preservação e respeito à biodiversidade, estaremos difundindo uma</p><p>concepção de educação em que o ser humano éparte da natureza e</p><p>não seu dono e senhor absoluto.</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>175</p><p>FIGURA 57 – NATUREZA</p><p>FIGURA 58 – DIA DE CHUVA</p><p>FONTE: <https://bit.ly/454KCri>. Acesso em: 14 maio 2020.</p><p>FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/450148925251845009/>. Acesso em: 30 maio 2021.</p><p>As crianças percebem a natureza enquanto observam o voo dos pássaros</p><p>ou borboletas, enquanto experimentam a textura de folhas, enquanto sentem o</p><p>perfume das fl ores e até mesmo enquanto vigiam o caminhar das formigas.</p><p>As crianças têm mais tempo e maior sensibilidade para observar os</p><p>pequenos animais do jardim, para sentirem a brisa no rosto ou a garoa nos</p><p>cabelos. Para elas, nem o sol é tão forte que as impeça de brincar e nem a chuva</p><p>tão prejudicial à saúde, como dizem os adultos. Sujar os pés na lama, encher os</p><p>olhos de areia ou fartar-se de tanto rolar na grama faz parte do show, conhecido</p><p>por elas como vida.</p><p>176</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>Nos primeiros anos de vida, a criança vai aprendendo inúmeras</p><p>possibilidades sobre o mundo que está a sua volta, com suas cores e texturas.</p><p>Aos poucos, ela vai estabelecendo contatos com a natureza e construindo novos</p><p>conhecimentos. Percebe que a natureza interage com ela e vice-versa. Compreende</p><p>que os outros também participam desta comunhão e que são igualmente</p><p>responsáveis pela natureza. Surge, neste momento, a noção de sociedade e,</p><p>junto com ela, a corresponsabilidade em relação aos cuidados com a vida, com o</p><p>próximo e com a natureza.</p><p>É fundamental, prezado acadêmico, que, enquanto educadores, nos</p><p>esforcemos para despertar nas crianças a consciência de que todos somos</p><p>responsáveis pelas questões ambientais. Esta consciência precisa ser estimulada</p><p>nas crianças desde bem pequeninas e nas pequenas atitudes do dia a dia, quer</p><p>sejam em relação à questão do lixo, do desperdício, dos cuidados com a água,</p><p>como com os animais, com as plantas, com o solo, com o ar, pequenas ações que</p><p>poderão salvar o planeta.</p><p>E qual é a melhor maneira de fazer tudo isso? Nossa dica é a de formar</p><p>sujeitos que percebam o quanto precisam dos recursos naturais para sua</p><p>sobrevivência. Sujeitos que, desde a Educação Infantil, aprendam a pesquisar, a</p><p>ser críticos, reflexivos e participativos, que saibam tomar decisões e desenvolver</p><p>ações humanas em favor da vida e do planeta.</p><p>Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil</p><p>(BRASIL, 1998, p. 172):</p><p>Dada a grande diversidade de temas que este eixo oferece, é preciso</p><p>estruturar o trabalho de forma a escolher os assuntos mais relevantes</p><p>para as crianças e o seu grupo social. As crianças devem, desde pe-</p><p>quenas, ser instigadas a observar fenômenos, relatar acontecimentos,</p><p>formular hipóteses, prever resultados para experimentos, conhecer</p><p>diferentes contextos históricos e sociais, tentar localizá-los no espaço</p><p>e no tempo. Podem também trocar ideias e informações, debatê-las,</p><p>confrontá-las, distingui-las e representá-las, aprendendo, aos poucos,</p><p>como se produz um conhecimento novo ou por que as ideias mu-</p><p>dam ou permanecem.</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>177</p><p>FIGURA 59 – CRIANÇA E CIÊNCIA</p><p>FIGURA 60 – GEOMETRIA COM BOTÕES</p><p>FONTE: <http://www.ioc.fi ocruz.br/pages/informerede/corpo/informeemail/2007/2308/DSCF3132.</p><p>jpg >. Acesso em: 14 maio 2020.</p><p>Além de abordar a natureza,</p><p>este campo de experiência também envolve</p><p>a matemática, percebeu?</p><p>Por mais incrível que possa parecer, a matemática surge muito cedo na</p><p>vida da criança, que é capaz de realizar uma série de raciocínios matemáticos</p><p>(a sua maneira, é lógico): resolver pequenos problemas, efetuar contagens,</p><p>agrupamentos ou seriações e, para isso, utiliza muitas vezes o próprio corpo ou</p><p>pequenos objetos, tais como pedrinhas ou botões.</p><p>Os jogos e brincadeiras que envolvem regras, noções espaciais (em cima,</p><p>embaixo, atrás), conceitos, organização, sequência, geometria e contagem oral</p><p>são excelentes recursos para a construção de conhecimentos matemáticos que</p><p>poderão se dar, naturalmente, enquanto brincam.</p><p>FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/_8rEk4KQ5lSY/SlkhB5uJqHI/AAAAAAAABow/dg9n3RsnWNM/</p><p>s320/mat4.gif>. Acesso em: 14 maio 2020.</p><p>178</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>Jogos de encaixe, brinquedos de empilhar ou ordenar, quebra-cabeças,</p><p>jogos da memória ou de formas geométricas são sempre bem-vindos para o</p><p>trabalho com este importante eixo, pois ensinam na prática o que ainda é abstrato</p><p>na teoria.</p><p>Sobre isso, Smole (2003, p. 9-13) afi rma que:</p><p>As crianças devem perceber que é bom ser capaz de explicar e jus-</p><p>tifi car seu raciocínio e que saber como resolver um problema é tão</p><p>importante quanto obter sua solução. Esse processo exige que as ati-</p><p>vidades contemplem oportunidades para as crianças aplicarem sua</p><p>capacidade de raciocínio e justifi carem seus próprios pensamentos</p><p>durante a tentativa de resolução dos problemas que se colocam.</p><p>Acreditamos que, desde a escola infantil, as crianças podem perceber</p><p>que as ideias matemáticas encontram-se inter-relacionadas e que a</p><p>matemática não está isolada das demais áreas do conhecimento.</p><p>FIGURA 61 – JOGOS DE MATEMÁTICA</p><p>FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/_xL0ZYbhJME8/TAQ91CI0jDI/AAAAAAAAARI/3NOZP6G_NxA/</p><p>s400/Creche+009.JPG >. Acesso em: 14 maio 2020.</p><p>Prezado acadêmico! As crianças adoram os números e eles estão em toda</p><p>parte: nos jogos, brincadeiras, músicas infantis, histórias, enfi m, eles fazem parte</p><p>do cotidiano das crianças.</p><p>Cabe a todos nós, educadores, estimular e fortalecer os laços entre a</p><p>matemática e a vida real das crianças. Sejamos criativos e aproveitemos ao</p><p>máximo todos os recursos existentes, além de uma boa dose de criatividade e</p><p>imaginação, para levar nossas crianças a pensar, exercitar o raciocínio lógico,</p><p>formular respostas e não apenas reproduzir respostas prontas; criar e resolver</p><p>situações problemas e comunicar-se matematicamente com o mundo a sua volta.</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>179</p><p>QUADRO 7 – FAIXAS ETÁRIAS</p><p>FONTE: a autora</p><p>Se você se considera um futuro educador, leitor ou pesquisador, e está</p><p>interessado em saber mais a respeito de como trabalhar a resolução de problemas com as</p><p>crianças pequenas, confira esta dica de leitura:</p><p>• SMOLE, S. K; DINIZ, I. M; CÂNDIDO, P. Resolução de problemas: matemática de 0 a 6</p><p>anos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.</p><p>DICAS</p><p>Agora que você já sabe um pouco mais sobre cada um dos campos de</p><p>experiências, reforçamos que os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento</p><p>são separados em cada um destes cinco campos, em três grupos, por faixa etária,</p><p>assim divididos:</p><p>CRECHE PRÉ-ESCOLA</p><p>Bebês</p><p>(zero a um ano e</p><p>seis meses)</p><p>Crianças bem pequenas</p><p>(um ano e sete meses a três</p><p>anos e onze meses)</p><p>Crianças pequenas</p><p>(quatro anos a cinco anos e</p><p>onze meses)</p><p>4 A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO</p><p>FUNDAMENTAL</p><p>Para que as crianças superem com sucesso os desafios da transição, é</p><p>indispensável um equilíbrio entre as mudanças introduzidas, a continuidade das</p><p>aprendizagens e o acolhimento afetivo, de modo que a nova etapa se construa</p><p>com base no que os educandos sabem e são capazes de fazer, evitando, assim, a</p><p>fragmentação e a descontinuidade do trabalho pedagógico (BRASIL, 2017, p. 51).</p><p>Pensando nisso e considerando os direitos e os objetivos de aprendizagem</p><p>e desenvolvimento, a BNCC apresenta uma síntese das aprendizagens esperadas</p><p>em cada um dos campos de experiências, para que todo o processo iniciado na</p><p>educação infantil possa ser ampliado e aprofundado. Acompanhe:</p><p>180</p><p>UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS</p><p>QUADRO 8 – SÍNTESE DAS APRENDIZAGENS</p><p>SÍNTESE DAS APRENDIZAGENS</p><p>O eu, o outro e o</p><p>nós</p><p>Respeitar e expressar sentimentos e emoções; atuar em</p><p>grupo e demonstrar interesse em construir novas relações,</p><p>respeitando a diversidade e solidarizando-se com os ou-</p><p>tros; conhecer e respeitar regras de convívio social, mani-</p><p>festando respeito pelo outro.</p><p>Corpo, gestos e</p><p>movimentos</p><p>Reconhecer a importância de ações e situações do cotidia-</p><p>no que contribuem para o cuidado de sua saúde e a manu-</p><p>tenção de ambientes saudáveis; apresentar autonomia nas</p><p>práticas de higiene, alimentação, vestir-se e no cuidado</p><p>com seu bem-estar, valorizando o próprio corpo; utilizar o</p><p>corpo intencionalmente (com criatividade, controle e ade-</p><p>quação) como instrumento de interação com o outro e com</p><p>o meio; coordenar suas habilidades manuais.</p><p>Traços, sons, cores</p><p>e formas</p><p>Discriminar os diferentes tipos de sons e ritmos e interagir</p><p>com a música, percebendo-a como forma de expressão in-</p><p>dividual e coletiva; expressar-se por meio das artes visuais,</p><p>utilizando diferentes materiais; relacionar-se com o outro</p><p>empregando gestos, palavras, brincadeiras, jogos, imita-</p><p>ções, observações e expressão corporal.</p><p>Escuta, fala,</p><p>pensamento e</p><p>imaginação</p><p>Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situa-</p><p>ções de interação, por diferentes meios; argumentar e relatar</p><p>fatos oralmente, em sequência temporal e causal, organizan-</p><p>do e adequando sua fala ao contexto em que é produzida;</p><p>ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas; co-</p><p>nhecer diferentes gêneros e portadores textuais, demons-</p><p>trando compreensão da função social da escrita e reconhe-</p><p>cendo a leitura como fonte de prazer e informação.</p><p>Espaços, tempos,</p><p>quantidades,</p><p>relações e</p><p>transformações</p><p>Identificar, nomear adequadamente e comparar as</p><p>propriedades dos objetos, estabelecendo relações entre eles;</p><p>interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais</p><p>ou artificiais, demonstrando curiosidade e cuidado com</p><p>relação a eles; utilizar vocabulário relativo às noções de</p><p>grandeza (maior, menor, igual etc.), espaço (dentro e fora)</p><p>e medidas (comprido, curto, grosso, fino) como meio de</p><p>comunicação de suas experiências; utilizar unidades de</p><p>medida (dia e noite; dias, semanas, meses e ano) e noções de</p><p>tempo (presente, passado e futuro; antes, agora e depois),</p><p>para responder a necessidades e questões do cotidiano;</p><p>identificar e registrar quantidades por meio de diferentes</p><p>formas de representação (contagens, desenhos, símbolos,</p><p>escrita de números, organização de gráficos básicos etc.).</p><p>FONTE: a autora</p><p>TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)</p><p>181</p><p>Atenção: estes objetivos não são pré-requisitos para o acesso ao ensino</p><p>fundamental, são apenas objetivos a serem explorados na educação infantil e</p><p>ampliados no decorrer do processo formativo dos estudantes.</p><p>É com esta reflexão que encerramos o tópico e o convidamos a ler a BNCC</p><p>para a Educação Infantil, na íntegra, pois os Campos de Experiências apresentam</p><p>objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, de maneira muito interessante</p><p>e completa, porém não há como abordá-la inteira neste Livro Didático, não é</p><p>mesmo?</p><p>Permaneça firme em seus estudos, rumo à Unidade 3, na qual falaremos</p><p>um pouco mais sobre a brincadeira, a linguagem corporal, musical e afetiva,</p><p>dentro da abordagem de Reggio Emília. Agradecemos sua companhia! Siga em</p><p>frente, com o mesmo empenho e dedicação!</p><p>182</p><p>RESUMO DO TÓPICO</p><p>4</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Os eixos estruturantes das práticas pedagógicas da Educação Infantil são as</p><p>interações e a brincadeira, “experiências nas quais as crianças podem construir</p><p>e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus</p><p>pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e</p><p>socialização” (BRASIL, 2018, p. 35).</p><p>• Enquanto a criança brinca, desenvolve: autonomia, criatividade, identidade,</p><p>imaginação, imitação, senso de justiça, convivência e socialização.</p><p>• Enquanto brinca, ela aprende também: a ouvir a opinião do outro; esperar</p><p>a vez de falar ou de jogar; a ceder de vez em quando; respeitar o grupo;</p><p>cooperar e a cumprir regras.</p><p>• Enquanto se movimenta, a criança é capaz de expressar seus sentimentos,</p><p>quer sejam eles manifestados por gestos, emoções ou por postura corporal;</p><p>• Quanto mais estimulada a ouvir, cantar e até mesmo tocar diferentes ritmos</p><p>musicais, maior será o desenvolvimento da criança.</p><p>• A música está diretamente ligada à sensibilidade, à expressão e à alegria.</p><p>• A fala é o principal veículo de comunicação entre a criança, os familiares,</p><p>professores e colegas. Por meio dela, a criança expressa seus sentimentos,</p><p>desejos ou angústias.</p><p>• Para desenvolver crianças leitoras, é preciso que o educador seja apaixonado</p><p>pelos livros e faça da leitura uma atividade diária, desde a Educação Infantil.</p><p>• As crianças percebem a natureza enquanto observam o voo dos pássaros ou</p><p>borboletas, enquanto experimentam a textura de folhas, enquanto sentem o</p><p>perfume das flores e até mesmo enquanto vigiam o caminhar das formigas.</p><p>• É preciso formar sujeitos que percebam o quanto precisam dos recursos</p><p>naturais para sua sobrevivência. Sujeitos que, desde a Educação Infantil,</p><p>aprendam a pesquisar, a ser críticos, reflexivos e participativos, que saibam</p><p>tomar decisões e desenvolver ações humanas em favor da vida e do planeta.</p><p>183</p><p>• Os jogos e brincadeiras que envolvem regras, noções espaciais (em cima,</p><p>embaixo, atrás), conceitos, organização, sequência, geometria e contagem oral</p><p>são excelentes recursos para a construção de conhecimentos matemáticos que</p><p>poderão se dar, naturalmente, enquanto brincam.</p><p>• Jogos de encaixe, brinquedos de empilhar ou ordenar, quebra-cabeças, jogos da</p><p>memóriaoudeformasgeométricassãosemprebem-vindosparaotrabalhocom</p><p>este importante eixo, pois ensinam na prática o que ainda é abstrato na teoria.</p><p>• Os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento “asseguram , na</p><p>educação infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações</p><p>nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as</p><p>convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas</p><p>quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e</p><p>natural” (BRASIL, 2018, p. 35).</p><p>• Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento da Educação Infantil não</p><p>são pré-requisitos para o acesso ao ensino fundamental, são apenas objetivos</p><p>a serem explorados na educação infantil e ampliados no decorrer do processo</p><p>formativo dos estudantes.</p><p>Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem</p><p>pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao</p><p>AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.</p><p>CHAMADA</p><p>184</p><p>1 Desafio – procure entrevistar a diretora ou coordenadora de uma creche</p><p>para conhecer quais são as doenças mais comuns nas diferentes idades das</p><p>crianças e nos diferentes momentos do ano. Compartilhe com seus colegas</p><p>de sala, no próximo encontro, o resultado de sua pesquisa.</p><p>a) Faça uma lista contendo cinco vantagens de se trabalhar a brincadeira e os</p><p>jogos infantis como recursos pedagógicos.</p><p>b) Faça uma lista das vantagens de se trabalhar a música e a dança na rotina</p><p>escolar.</p><p>2 Em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018,</p><p>p. 37) , existem dois eixos estruturantes das práticas pedagógicas para a</p><p>Educação Infantil. Por meio destes eixos, desenvolvem-se experiências</p><p>nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos,</p><p>aprendizagens e trocas. Diante disso, assinale a alternativa que apresenta</p><p>corretamente os dois eixos estruturantes:</p><p>a) ( ) Brincadeiras e aprendizagem</p><p>b) ( ) Interações e socialização</p><p>c) ( ) interações e brincadeira</p><p>d) ( ) socializações e aprendizagem</p><p>3 De acordo com a BNCC (2018, p. 37) , existem seis (6) direitos de</p><p>aprendizagem e desenvolvimento que asseguram, na educação infantil, as</p><p>condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam</p><p>desempenhar papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar</p><p>desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, construindo significados</p><p>sobre si, os outros e o mundo social e natural. Partindo desta informação,</p><p>assinale a alternativa que apresenta corretamente os seis (6) direitos:</p><p>a) ( ) ser, viver, brincar, conhecer, agir e aprender;</p><p>b) ( ) aprender, interagir, crescer, participar, decidir e argumentar;</p><p>c) ( ) conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se;</p><p>d) ( ) conviver, aprender, interagir, descobrir, pensar e falar.</p><p>4 Os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil</p><p>precisam ser bem compreendidos. Neste sentido, apresentamos uma</p><p>pequena síntese de cada um deles para que você faça as devidas associações</p><p>entre as alternativas a seguir:</p><p>I- Conviver</p><p>II- Brincar</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>185</p><p>III- Participar</p><p>IV- Explorar</p><p>V- Expressar</p><p>VI- Conhecer-se</p><p>( ) Este direito envolve o contato com outras crianças e adultos, respeitando</p><p>a diversidade cultural e social;</p><p>( ) Este direito envolve o estar junto na hora do planejamento e das atividades</p><p>propostas pelo professor, ajudando nas decisões;</p><p>( ) Este direito envolve a descoberta e a ampliação de saberes sobre a cultura</p><p>em suas diversas modalidades;</p><p>( ) Este direito envolve diferentes formas, espaços e tempos, com diferentes</p><p>parceiros e muitas experiências emocionais, corporais e sensoriais;</p><p>( ) Este direito ajuda na construção da identidade pessoal, social e cultural,</p><p>na instituição escolar, na família e na comunidade;</p><p>( ) Este direito se utiliza de diferentes linguagens para expressar sentimentos,</p><p>dúvidas e opiniões.</p><p>186</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARRIBAS, T. Educação infantil: desenvolvimento, currículo e organização esco-</p><p>lar. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.</p><p>BARBOSA, M. C. S. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto</p><p>Alegre: Artmed, 2006.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho Na-</p><p>cional de Educação. Base nacional comum curricular. Brasília, DF: Ministério</p><p>da Educação; Secretaria de Educação Básica; Conselho Nacional de Educação,</p><p>2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_</p><p>EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 2 ago. 2023.</p><p>BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília:</p><p>MEC, 2010.</p><p>BRASIL. Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação</p><p>infantil: encarte 1. Brasília: MEC, 2006a.</p><p>BRASIL. Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação</p><p>infantil. Brasília: MEC, 2006b.</p><p>BRASIL. Parecer CNE/CEB 20/2009. Revisão das Diretrizes Curriculares Na-</p><p>cionais para a Educação Infantil. 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/</p><p>index.php? option=com_content&view=article&id=12992:diretrizes-para-a-edu-</p><p>cacao-basica&catid=323:orgaos-vinculados. Acesso em: 10 maio 2012.</p><p>BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. [v. 1, 2, 3]</p><p>Brasília: MEC, 1998.</p><p>CECCON, C.; O., M. D.; OLIVEIRA, R. D. A vida na escola e a escola da vida.</p><p>Petrópolis: Vozes; lDAC, 1982.</p><p>FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.</p><p>São Paulo: Paz e Terra, 1996.</p><p>HORN, M. G. S. O papel do espaço na formação e na transformação do educa-</p><p>dor infantil. Revista Criança do Professor de</p><p>Educação Infantil, Brasília, n. 38,</p><p>p. 27-30, jan. 2005.</p><p>KAMII, C. A autonomia como finalidade da educação: implicações da teoriade</p><p>Piaget. In: KAMII, C. A criança e o número: implicações educacionais da teoria de</p><p>Piaget para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. São Paulo: Papirus, 1997 [1982].</p><p>187</p><p>KISHIMOTO, T. M. Brinquedos e brincadeiras na educação infantil. 2010.</p><p>Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&-</p><p>view=download&alias=6672-brinquedosebrincadeiras&category_slug=setem-</p><p>bro-2010-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 17 jul. 2012.</p><p>LAGINSKI, F. A importância da música na educação. 2012. Disponível em:</p><p>http://www.parana-online.com.br/editoria/almanaque/news/320514/. Acesso</p><p>em: 12 maio 2012.</p><p>LIMA, E. S. Quando a criança não aprende a ler e a escrever. São Paulo: Sobra-</p><p>dinho, 2002.</p><p>MOYLES, J. R. (Org.). Fundamentos da educação infantil: enfrentando o desa-</p><p>fio. São Paulo: Artmed, 2010.</p><p>NASCIMENTO, K. S. Desenvolvimento infantil: a importância de brincar. Re-</p><p>vista Alô Bebê, São Paulo, n. 3, 2000. Disponível em: https://www.alobebe.com.</p><p>br/revista/a-importancia-de-brincar.html,351. Acesso em: 30 maio. 2021.</p><p>OSTETTO, L. Encontros e encantamentos na educação infantil. 4. ed. São Pau-</p><p>lo: Papirus, 2004.</p><p>PERES, S.; TATIT, P.; DEARDYK, E. Depois de. Intérpretes: Sandra, Paulo e Edi-</p><p>th. In: SANDRA; PAULO; EDITH. Canções de ninar. São Paulo: Eldorado, 1994.</p><p>[1 CD. Faixa].</p><p>SMOLE, K. (Org.). Figuras e formas. Coleção Matemática de 0 a 6. Porto Alegre:</p><p>Artmed, 2003.</p><p>VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,</p><p>1991.</p><p>188</p><p>189</p><p>UNIDADE 3 —</p><p>AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA</p><p>NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• compreender que as múltiplas linguagens fazem parte da vida das</p><p>crianças na Educação Infantil;</p><p>• identificar a importância da afetividade e das interações no relacionamento</p><p>com as crianças.</p><p>• aprofundar seu conhecimento a respeito dos projetos pedagógicos</p><p>desenvolvidos na Educação Infantil;</p><p>• reforçar a necessidade da observação, registro e avaliação formativa na</p><p>Educação Infantil.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,</p><p>você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo</p><p>apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS</p><p>TÓPICO 2 – A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES</p><p>NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>TÓPICO 3 – PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>TÓPICO 4 – AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos</p><p>em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá</p><p>melhor as informações.</p><p>CHAMADA</p><p>190</p><p>191</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Desde que a criança nasce, ela é apresentada ao mundo. Imediatamente ela</p><p>comunica-se com ele, seja através do choro, do sorriso, do pedido de colo, da calma</p><p>aparente diante de uma canção de ninar ou até mesmo na forma de birra infantil.</p><p>FIGURA 1 – A CRIANÇA E O MUNDO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3cZNpJG>. Acesso em: 9 jan. 2020.</p><p>À medida que vai crescendo, essa comunicação torna-se mais ampla e a</p><p>criança passa a demonstrar, através da fala, dos olhares, desenhos, imitações ou</p><p>gestos, o que sabe, o que pensa que sabe (por meio das hipóteses), o que conhece</p><p>e o que pretende conhecer do mundo que está a sua volta.</p><p>Ela aprende enquanto se senta para ouvir uma história, imagina cenas</p><p>através das imagens que vê, deixa-se encantar pelo tom de voz de quem lê,</p><p>embarca em suas próprias fantasias e sente-se imensamente feliz, a ponto de</p><p>sorrir enquanto ouve cada nova palavra ou expressão proferida pela professora.</p><p>Nesta fase, o “tocar, o sentir, o brincar, o experimentar, o vivenciar e o</p><p>interagir” recebem toda a força que carregam em suas palavras e devem constituir</p><p>os eixos da ação pedagógica na Educação Infantil. Estas palavras passam a fazer</p><p>sentido à medida que se encontram nas atividades do dia a dia, como pintar,</p><p>desenhar, cantar, dançar, brincar e interagir com os colegas.</p><p>TÓPICO 1 —</p><p>A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>192</p><p>Partindo desse pressuposto, traremos para seu conhecimento, caro</p><p>acadêmico, a abordagem de Reggio Emília na educação da primeira infância e, na</p><p>sequência, reflexões e conceitos que definam o aprender e o ensinar na Educação</p><p>Infantil. Boa leitura!</p><p>2 A ABORDAGEM DE REGGIO EMÍLIA NA EDUCAÇÃO DA</p><p>PRIMEIRA INFÂNCIA</p><p>Caro acadêmico! Diferentemente do que você está pensando, Reggio</p><p>Emília não é o nome de algum teórico ou de uma escola, trata-se de uma cidade</p><p>de aproximadamente 130.000 habitantes, no nordeste da Itália.</p><p>Esta cidade tornou-se conhecida e valorizada por ter um dos melhores</p><p>sistemas de educação do mundo para a primeira infância. O que torna a cidade</p><p>um fenômeno, em termos de educação, é o fato de que a proposta pedagógica</p><p>não ocorre em um contexto de elite ou de educação particular e, sim, em um nível</p><p>municipal de ensino.</p><p>Nesta abordagem, as crianças pequenas são desafiadas o tempo todo a</p><p>explorarem o ambiente e manifestarem as suas linguagens verbais e não verbais</p><p>no uso de palavras, gestos, movimentos, brincadeiras, música, artes cênicas</p><p>ou visuais. Por meio destas manifestações, desenvolvem a criatividade, a</p><p>curiosidade, o espírito investigativo e, por consequência, uma série de habilidades</p><p>e competências.</p><p>A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos, cem pensamentos,</p><p>cem modos de pensar, de jogar e de falar. Cem sempre, cem modos</p><p>de escutar as maravilhas de amar. Cem alegrias para cantar e</p><p>compreender. Cem mundos para descobrir. Cem mundos para</p><p>inventar. Cem mundos para sonhar. A criança tem cem linguagens [...]</p><p>(MALAGUZZI, 1999, p. 21)</p><p>Se você gostou deste trecho da poesia de Loris Malaguzzi, sugerimos a leitura</p><p>do livro “As Cem Linguagens da Criança”, escrito por Carolyn Edwards, Lella Gandinie George</p><p>Forman. Através desta leitura, você conhecerá quem foi Loris Malaguzzi e se encantará por</p><p>sua história de vida e paixão pela educação.</p><p>DICAS</p><p>TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS</p><p>193</p><p>FIGURA 2 – CAPA DO LIVRO SUGERIDO</p><p>FONTE: <https://img.travessa.com.br/livro/BA/27/27c9993d-caef-42dc-b7a0-ae75ac60bbb5.jpg>.</p><p>Acesso em: 25 maio 2021.</p><p>O principal professor, inspirador e organizador desta proposta pedagógica</p><p>desenvolvida em Reggio Emília, foi Loris Malaguzzi. De acordo com Hoyuelos</p><p>(2004), o trabalho de Malaguzzi apresentava duas constantes: projetar e ter</p><p>confiança no futuro.</p><p>FIGURA 3 – LORIS MALAGUZZI</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3gMGVP6>. Acesso em: 9 jan. 2020.</p><p>A história de amor de Malaguzzi pela educação começou logo após o</p><p>término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando se iniciava o processo de</p><p>reconstrução das escolas públicas de Reggio Emília. Malaguzzi desejava uma escola</p><p>que rompesse com o formato anterior, determinado pelos fascistas. Queria uma</p><p>escola que lutasse contra o tédio e a acomodação e que, acima de tudo, contribuísse</p><p>com a formação humana. O lema deste importante educador era “PARA AS</p><p>CRIANÇAS, É PRECISO OFERECER O MELHOR”. E o que seria este melhor?</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>194</p><p>Na opinião de Malaguzzi (apud EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999),</p><p>esse melhor era ter um espaço onde as crianças fossem acolhidas, ouvidas,</p><p>desafiadas, estimuladas de todas as formas e nas mais diferentes linguagens,</p><p>levando-as a se tornarem autônomas em todos os sentidos.</p><p>Barbosa e Horn (2008, p. 118-121) sintetizaram alguns princípios que</p><p>regem a pedagogia reggiana, que resumiremos no quadro a seguir:</p><p>QUADRO 1 – PRINCÍPIOS DA PEDAGOGIA REGGIANA</p><p>A escola/instituição de</p><p>Educação Infantil O professor As crianças</p><p>Não tem muros, é conec-</p><p>tada com as crianças e a</p><p>cidade onde está loca-</p><p>lizada, com as diversas</p><p>organizações políticas,</p><p>sociais e culturais e, de</p><p>modo especial, com as</p><p>famílias.</p><p>Tem uma proposta pe-</p><p>dagógica transparente,</p><p>que considera o entorno</p><p>físico e social como um</p><p>parceiro na construção</p><p>dos processos de conhe-</p><p>cimento.</p><p>Possui uma pedagogia</p><p>sistêmica, porque nasce</p><p>de uma relação entre</p><p>pessoas.</p><p>Entende que é preciso</p><p>dialogar, conversar</p><p>Considera as inúmeras</p><p>potencialidades das</p><p>crianças e respeita sua</p><p>cultura. Acredita que</p><p>elas são competentes e</p><p>curiosas e as impulsiona</p><p>a usarem suas capacida-</p><p>des para prever, resolver</p><p>problemas, planejar,</p><p>encontrar soluções, orga-</p><p>nizar seu trabalho, esta-</p><p>belecer relações e com-</p><p>preender como funciona</p><p>o mundo, construindo</p><p>sua história.</p><p>Em vez de ser falan-</p><p>te, aprende a escutar</p><p>as crianças. “Escutar”</p><p>através da observação,</p><p>da sensibilidade, da</p><p>atenção, das diferentes</p><p>linguagens.</p><p>São pessoas, não apenas</p><p>alunos. Malaguzzi afir-</p><p>mou: “É necessário que</p><p>estejamos convencidos,</p><p>nós, os adultos, de que</p><p>as crianças não possuem</p><p>apenas direitos, mas que</p><p>são portadoras de uma</p><p>cultura própria. Que têm</p><p>capacidade de elabo-</p><p>rar cultura, que podem</p><p>construir sua cultura e</p><p>contaminar a nossa” (apud</p><p>HOYUELOS, 2004, p. 56).</p><p>São ouvidas e valorizadas</p><p>como pessoas que têm</p><p>algo a dizer e que preci-</p><p>sam ser escutadas.</p><p>Ao passarem de uma</p><p>linguagem para outra,</p><p>descobremquecada</p><p>Pare por um instante e pense sobre isso. Tente formular oralmente pelo menos</p><p>cinco itens que definam para você, caro acadêmico, “esse melhor” que se pode oferecer às</p><p>crianças. Em seguida, vá até a página de autoatividades, ao final deste tópico, e escreva todos</p><p>os itens que lhe vieram à mente neste momento. Este é um importante exercício. Se você,</p><p>enquanto educador, mentalizá-lo todas as vezes que planejar suas aulas, verá a diferença!</p><p>ATENCAO</p><p>TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS</p><p>195</p><p>sobre tudo e, fundamen-</p><p>talmente, entre todos.</p><p>Cuida de sua “memória”</p><p>através da documenta-</p><p>ção que é um processo</p><p>para o registro da leitura</p><p>e dos valores dos pro-</p><p>cessos de aprendizagem</p><p>das crianças, constituin-</p><p>do-se em um instrumen-</p><p>to de interpretação e de</p><p>conhecimento. A docu-</p><p>mentação é suporte para</p><p>a pesquisa do professor,</p><p>para o conhecimento do</p><p>grupo, para a proposição</p><p>de conteúdos.</p><p>Investe na formação per-</p><p>manente dos professores</p><p>a partir daquilo que os</p><p>próprios educadores</p><p>produzem, acreditando</p><p>que as competências</p><p>educativas nascem da</p><p>interação com a práti-</p><p>ca educativa e com as</p><p>crianças e quem está</p><p>com elas.</p><p>Entende que todos os</p><p>seres humanos têm cem</p><p>linguagens, principal-</p><p>mente as crianças e por</p><p>isso oferece a elas muitas</p><p>experiências com dife-</p><p>rentes linguagens, assim</p><p>como diferentes formas</p><p>de representação, como</p><p>o desenho e a mode-</p><p>lagem, para que elas</p><p>possam tornar visíveis as</p><p>suas aprendizagens.</p><p>Cuida da qualidade</p><p>dos espaços escolares</p><p>que refletem uma nova</p><p>forma de pensar a edu-</p><p>cação. A organização do</p><p>ambiente é uma lin-</p><p>guagem silenciosa que</p><p>sugere conteúdos, ideias,</p><p>relações e propostas. Os</p><p>espaços são elaborados</p><p>para trabalhar em gru-</p><p>po, conversar, refletir,</p><p>revisar as experiências</p><p>e teorias para, assim,</p><p>poder encontrar ordem e</p><p>significado.</p><p>transformação gera algo</p><p>de novo, complexifica e</p><p>faz aprender sobre aque-</p><p>la linguagem expressiva,</p><p>comunicativa, simbólica,</p><p>cognitiva, ética, metafó-</p><p>rica, lógica, imaginative</p><p>e relacional.</p><p>São vistas como pesso-</p><p>as capazes de dialogar,</p><p>argumentar e refletir.</p><p>É essencial que elas</p><p>participem e sintam-se</p><p>parte, protagonista seres</p><p>ponsáveis pelos acon-</p><p>tecimentos presentes e</p><p>futuros.</p><p>São estimuladas em</p><p>ateliês, que represen-</p><p>tam espaços especiais</p><p>de questionamentos, de</p><p>atenção à arte, à estética,</p><p>à investigação visual e</p><p>à criatividade. Estes es-</p><p>paços possuem objetos e</p><p>instrumentos que podem</p><p>gerar fazeres e pensa-</p><p>res, despertando as cem</p><p>linguagens.</p><p>Na pedagogia de Reggio</p><p>Emília, acredita-se que</p><p>quanto mais sensível</p><p>for o adulto, quanto</p><p>mais ele conhecer sobre</p><p>as diferentes áreas de</p><p>conhecimentos, mais ele</p><p>será capaz de oferecer</p><p>às crianças situações de</p><p>aprendizagens diferen-</p><p>tes.</p><p>Trabalha os conteúdos</p><p>dentro da pedagogia</p><p>de projetos, construin-</p><p>do vínculos e relações</p><p>com as crianças. Plane-</p><p>ja rigorosamente que</p><p>perguntas fazer, quais</p><p>materiais utilizar, como</p><p>documentar a experiên-</p><p>cia, colocando em ação a</p><p>ideia de co-ensino entre</p><p>adulto e criança.</p><p>Recebem de seus pro-</p><p>fessores “vestígios do</p><p>mundo”, sobre os quais</p><p>farão perguntas e os</p><p>auxiliarão a construir ca-</p><p>minhos. Desse modo, as</p><p>crianças criam vínculos</p><p>entre os conhecimentos,</p><p>os pontos de intersecção</p><p>e as aprendizagens.</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>196</p><p>O trabalho é desenvol-</p><p>vido com projetos e na</p><p>dimensão de Reggio</p><p>Emília; projetar significa</p><p>prever e antecipar ideias.</p><p>Enxerga todos os adultos</p><p>e crianças como seres</p><p>criativos, capazes de</p><p>gerar aprendizagem.</p><p>Caracteriza o ensino</p><p>principalmente pela</p><p>oportunidade da palavra</p><p>dada às crianças, pelo</p><p>prestar atenção ao que</p><p>observam, dialogam e</p><p>brincam, enfim, por tudo</p><p>o que pode interessá-las.</p><p>No trabalho com pro-</p><p>jetos, elas vivenciam</p><p>uma rica experiência</p><p>nos pequenos ou gran-</p><p>des grupos e percebem</p><p>que suas ideias voltam,</p><p>voam alto ou se diluem.</p><p>O conhecimento chega-</p><p>-lhes através de conver-</p><p>sas, de diálogos, discus-</p><p>sões, negociações ou de</p><p>organizações de ideias,</p><p>capazes de gerar novos</p><p>conhecimentos.</p><p>FONTE: Adaptado de Barbosa e Horn (2008, p. 118-121)</p><p>A maneira de tratar a educação e as crianças em Reggio Emília deve ir</p><p>além de ser apenas exemplo de uma experiência precursora e bem-sucedida de</p><p>trabalho e, sim, servir como fonte inspiradora de novas posturas, olhares e fazeres</p><p>pedagógicos.</p><p>FIGURA 4 – MENINOS FELIZES</p><p>FONTE: <https://bit.ly/35IaPPt>. Acesso em: 9 jan. 2020.</p><p>Prezado acadêmico! Se você ficou interessado em saber mais sobre projetos</p><p>pedagógicos na Educação Infantil, falaremos mais sobre este assunto. Aguarde!</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS</p><p>197</p><p>3 APRENDER E ENSINAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>No início desta unidade, mais precisamente na Introdução, pontuamos</p><p>diferentes maneiras ou recursos dos quais a criança se utiliza para aprender no</p><p>seu dia a dia.</p><p>Desde o momento em que vem ao mundo, a criança inicia o processo</p><p>de aquisição de diferentes aprendizagens. O ambiente lhe possibilitará todos</p><p>os recursos necessários às primeiras descobertas, cheiros, gostos e sensações.</p><p>Ninguém precisa, por exemplo, ensinar ao bebê recém-nascido o que ele tem de</p><p>fazer quando o peito da mãe se aproxima de sua boca. Tudo acontece como em</p><p>um “passe de mágica”, afetivo, biológico e natural.</p><p>FIGURA 5 – AMAMENTAÇÃO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3xGKblZ>. Acesso em: 9 jan. 2020.</p><p>Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil</p><p>(RCNEI) (BRASIL, 1998, p. 21), “[...] a criança é um ser social que nasce com</p><p>capacidades afetivas, emocionais e cognitivas, podendo aprender nas trocas</p><p>sociais com diferentes crianças e adultos cujas percepções e compreensões da</p><p>realidade também são diversas”.</p><p>Aprender e ensinar são, portanto, palavras que se inter-relacionam e se</p><p>complementam. Quanto mais aprendo, melhor ensino. Quanto mais ensino, mais</p><p>aprendo. O aprendizado transcende os espaços de uma escola, de uma sala de</p><p>aula com horários preestabelecidos de aprendizagem ou rotina. Ele está em todo</p><p>lugar e em qualquer tempo, fazendo-nos companhia do primeiro ao último dia</p><p>de nossas vidas.</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>198</p><p>O educador, que tem essa concepção de que aprende enquanto ensina,</p><p>também é capaz de enxergar com outros olhos suas crianças, valorizando-as,</p><p>compreendendo-as em suas diferenças e dificuldades. Preocupa-se em ofertar para</p><p>elas um ambiente escolar rico e desafiador, que realmente as “prepare para a vida”,</p><p>em todos os níveis do comportamento humano: biológico, psicológico e social.</p><p>No mundo contemporâneo, as informações circulam a uma velocidade</p><p>surpreendente, e o educador precisa sentir-se desafiado o tempo todo para</p><p>buscar</p><p>novos conhecimentos, viabilizando outras formas de repassá-los e apropriando-</p><p>se de recursos que sejam capazes de atrair as crianças. Ele precisa conhecer as</p><p>novas mídias (as crianças já as conhecem), sem se esquecer de dar especial atenção</p><p>à formação integral dos educandos, os valores humanos como: solidariedade,</p><p>respeito, cidadania, responsabilidade, justiça, entre tantos outros, igualmente</p><p>relevantes na formação das crianças.</p><p>FIGURA 6 – AS CRIANÇAS E A TECNOLOGIA</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3wPBrdd>. Acesso em: 25 maio 2021.</p><p>Aprender é muito mais do que ouvir, exercitar e reproduzir conteúdos</p><p>programáticos. Apreender (escrito com dois “ês”) significa tomar o conhecimento</p><p>para si, apropriar-se dele. É deste tipo de aprendizagem que estamos falando. Da</p><p>aprendizagem que tem objetivo, contexto e significação para a vida das crianças,</p><p>desde a mais tenra idade.</p><p>Que bom que é assim, não é mesmo, caro acadêmico? Enquanto você lê</p><p>este livro, internaliza uma série de conceitos, realiza reflexões que poderão lhe abrir novos</p><p>caminhos e, consequentemente, ampliar sua forma de aprender e ensinar.</p><p>ATENCAO</p><p>TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS</p><p>199</p><p>É importante ressaltar, prezado acadêmico, que a criança da Educação</p><p>Infantil está protegida por documentos importantes que lhe garantem direitos em</p><p>relação ao seu atendimento e desenvolvimento integral. Entre eles, podemos citar:</p><p>Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI); Diretrizes</p><p>Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI); Parâmetros Nacionais</p><p>de Qualidade da Educação Infantil (PNQEI); e Base Nacional Comum Curricular</p><p>(BNCC), que traduzem as políticas estabelecidas em leis nacionais, servindo</p><p>como base para todo o país.</p><p>O professor da Educação Infantil necessita ter uma postura pedagógica que</p><p>articule as múltiplas linguagens com o objetivo de atingir suas metas educativas.</p><p>É fundamental que ele desperte nas crianças o desejo de aprender, de construir</p><p>e de vivenciar o conhecimento em todas as suas vertentes, através da música,</p><p>da arte, da dança, da escrita, da fala, do teatro, do raciocínio lógico-matemático,</p><p>da relação com a natureza, da inventividade, da criatividade, da autonomia,</p><p>da interação com os colegas e professores e, especialmente, da alegria, no mais</p><p>amplo sentido da palavra.</p><p>A grande questão é oferecer às crianças diferentes possibilidades de</p><p>comunicação, expressão e aprendizagem, com todas as especificidades, criando</p><p>novos conceitos ou até mesmo recriando ou ressignificando conceitos já existentes.</p><p>Nas palavras de Zabalza (1998, p. 52):</p><p>A dimensão estética é diferente da psicomotora, embora estejam</p><p>relacionadas. O desenvolvimento da linguagem avança por caminhos</p><p>diferentes dos da sensibilidade musical. A aprendizagem de normas</p><p>requer processos diferentes dos necessários para a aprendizagem de</p><p>movimentos psicomotores finos. Sem dúvida, todas essas capacidades</p><p>estão vinculadas (neurológica, intelectual, emocionalmente), mas</p><p>pertencem a âmbitos diferentes e requerem, portanto, processos</p><p>(atividades, materiais, orientações) bem diferenciados de ação didática.</p><p>Prezado acadêmico! A partir deste momento, vamos reforçar determinados</p><p>assuntos já apresentados no Tópico 4 da Unidade 2, ou seja, apresentaremos alguns</p><p>dos eixos norteadores, na forma também de múltiplas linguagens, defendidas</p><p>por importantes teóricos.</p><p>A criança aprende muito enquanto brinca e interage com os colegas.</p><p>Para Piaget (apud FONTANA; CRUZ, 1997, p. 120):</p><p>A brincadeira infantil é uma assimilação quase pura do real ao eu. É</p><p>uma atividade utilizada pela criança para assimilar uma infinidade de</p><p>acontecimentos, de objetos e relações que ela ainda não compreende.</p><p>[...] é na brincadeira do faz de conta, que ele chama de jogo simbólico,</p><p>que as crianças revivem e repensam acontecimentos interessantes do</p><p>seu dia a dia.</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>200</p><p>Por meio das brincadeiras, as crianças vivem situações do mundo real</p><p>e aprendem a elaborar o seu imaginário, a buscar a realização de seus desejos</p><p>e, portanto, a estruturar o pensamento. Entender as brincadeiras das crianças é</p><p>fundamental para possibilitar-lhes que representem os papéis que escolheram</p><p>para brincar: brincar de casinha, sendo mãe, pai e filhos; brincar com panelinhas</p><p>ou de boneca; jogar futebol; saltar; correr; pular; brincar de herói ou bandido,</p><p>recriando os heróis que fazem parte do seu cotidiano, de sua sociedade.</p><p>FIGURA 7 – CRIANÇAS BRINCANDO</p><p>FONTE: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-43577511>. Acesso em: 09 jun. 2021.</p><p>Para Vygotsky et al. (1998, p. 48):</p><p>A brincadeira é uma necessidade da criança. Ela se desenvolve no</p><p>contexto das práticas histórico-culturais e surge do interesse de</p><p>dominar o mundo. Por isso, ela age sobre os objetos como fazem os</p><p>adultos. Durante o desenvolvimento das brincadeiras, são estabelecidas</p><p>relações humanas e sociais. [...] é no brinquedo que a criança aprende</p><p>a agir numa esfera cognitiva, exercendo uma enorme influência no seu</p><p>desenvolvimento, ou seja, a brincadeira tem um papel fundamental</p><p>no desenvolvimento da criança, porque permite que, ao substituirum</p><p>objeto por outro, ela opere com o significado das coisas, dando um</p><p>passo importante em direção ao pensamento conceitual, que se baseia</p><p>nos significados e não nos objetos.</p><p>Já para Ferraz e Fuzari (1993, p. 86), “Brincar na infância é o meio pelo</p><p>qual a criança vai organizando suas experiências, descobrindo e recriando seus</p><p>sentimentos e pensamentos a respeito do mundo, das coisas e das pessoas com as</p><p>quais convive”. Assim, estamos possibilitando a descoberta e o conhecimento, de</p><p>forma prazerosa, do mundo que rodeia as crianças, fazendo com que aprendam a</p><p>lidar com o respeito mútuo, divisão de tarefas, de brinquedos e a se expressarem,</p><p>ampliando as suas experiências.</p><p>Junto ao brincar, outra importante linguagem se manifesta: a linguagem</p><p>corporal. É através do corpo que a criança estabelece contato com o mundo e com</p><p>as pessoas que a rodeiam. É com o próprio corpo que ela experimenta as mais</p><p>diversas emoções e sensações.</p><p>TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS</p><p>201</p><p>De acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 21),</p><p>[...] O diálogo afetivo que se estabelece com o adulto, caracterizado</p><p>pelo toque corporal, pelas modulações da voz, por expressões cada</p><p>vez mais cheias de sentido, constitui-se em espaço privilegiado da</p><p>aprendizagem. A criança imita o parceiro e cria suas próprias reações:</p><p>balança o corpo, bate palmas, vira ou levanta a cabeça etc.</p><p>FIGURA 8 – LINGUAGEM CORPORAL</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3wQbDO6>. Acesso em: 09 jun. 2021.</p><p>As crianças adoram aliar os movimentos (gestos, dança, faz de conta) à</p><p>música, surgindo então outra importante linguagem: a musical. Através dela,</p><p>sensações e sentimentos podem ser experimentados, laços afetivos, culturais e</p><p>sociais podem ser fortalecidos e novos conhecimentos podem ser oportunizados.</p><p>“Quem canta seus males espanta”, já diz um ditado popular, não é mesmo?</p><p>Toda criança adora cantar, tocar e dançar, isto faz parte de seu repertório infantil.</p><p>Diante disso, cabe a nós, adultos, oferecer-lhes situações prazerosas de interação</p><p>e estimuladas ao máximo, pois, segundo Rosseti-Ferreira (2007, p. 113),</p><p>As experiências musicais ampliam o repertório de linguagem e</p><p>sentimentos. Nesse sentido, a linguagem musical é excelente meio</p><p>para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e</p><p>autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social.</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>202</p><p>Para finalizar, não poderíamos deixar de mencionar a linguagem que</p><p>pode ser considerada uma das mais significativas, quando o assunto é Educação</p><p>Infantil: a linguagem afetiva. É através das emoções que a criança manifesta seus</p><p>desejos ou angústias.</p><p>Conforme afirmam Mahoney e Almeida (2004, p. 18):</p><p>O afetivo é, portanto, indispensável para energizar e dar direção ao ato</p><p>motor e ao cognitivo. Assim como o ato motor é indispensável para</p><p>a expressão do afetivo, o cognitivo é indispensável na avaliação que</p><p>estimulará emoções e sentimentos.</p><p>FIGURA 9 – AFETIVIDADE</p><p>FONTE: <https://docplayer.org/docs-images/106/169667544/images/22-0.jpg>.</p><p>Acesso em: 25 maio 2021.</p><p>Prezado acadêmico! Falaremos mais sobre afetividade no próximo tópico,</p><p>aguarde!</p><p>E por falar em “quem canta seus males espanta”, sugerimos o livro de mesmo</p><p>nome, de Theodora Maria Mendes de Almeida, Editora Caramelo, que vem acompanhado</p><p>de CD para que a festa seja completa. Todos nós sabemos que cantar é uma das brincadeiras</p><p>mais divertidas da criança. Neste livro, foram resgatadas 73 cantigas de roda, entre elas: O</p><p>sapo não lava o pé; Cai, cai, balão; Ciranda cirandinha... Enfim, canções típicas do Brasil.</p><p>Além disso, é ricamente ilustrado por trabalhos, recortes e ilustrações feitas por crianças.</p><p>Vale a pena conhecer.</p><p>FONTE: <https://www.fnac.pt/mp9481695/Quem-Canta-Seus-Males-Espanta-CD>. Acesso</p><p>em: 7 jun. 2021.</p><p>DICAS</p><p>TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS</p><p>203</p><p>Esperamos que você tenha compreendido a relação entre ensinar e</p><p>aprender na Educação Infantil. Que tenha percebido, também, o quanto as</p><p>múltiplas linguagens são essenciais para o desenvolvimento infantil, pois são elas</p><p>que abrem as portas do mundo às crianças, desdobrando-se na construção de</p><p>novos conhecimentos, à medida que interagem com seus semelhantes.</p><p>Veja, a seguir, uma mensagem de Içami Tiba.</p><p>Não existe alguém que nunca teve um professor na vida,</p><p>Assim como não há ninguém que nunca tenha tido um aluno.</p><p>Se existem analfabetos, provavelmente não é por vontade dos professores.</p><p>Se existem letrados, é porque um dia tiveram seus professores.</p><p>Se existe Prêmio Nobel, é porque seus alunos superaram seus professores.</p><p>Se existem grandes sábios, é porque transcenderam suas funções de professores.</p><p>Quanto mais se aprende, mais se quer ensinar.</p><p>Quanto mais se ensina, mais se quer aprender.</p><p>Içami Tiba</p><p>INTERESSANTE</p><p>204</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Reggio Emília é uma cidade de aproximadamente 130.000 habitantes, do</p><p>nordeste da Itália.</p><p>• A cidade se tornou conhecida e valorizada por ter um dos melhores sistemas</p><p>de educação do mundo para a primeira infância.</p><p>• A proposta pedagógica em Reggio Emília ocorre no sistema municipal de</p><p>ensino.</p><p>• Loris Malaguzzi é o nome do professor, inspirador e organizador da proposta</p><p>pedagógica desenvolvida em Reggio Emília.</p><p>• “PARA AS CRIANÇAS É PRECISO OFERECER O MELHOR”, esse era o</p><p>lema de Loris Malaguzzi.</p><p>• Sua proposta priorizava que as crianças fossem acolhidas, ouvidas, desafiadas,</p><p>estimuladas de todas as formas e nas mais diferentes linguagens, levando-as</p><p>a se tornarem autônomas em todos os sentidos.</p><p>• Aprender e ensinar são palavras que se inter-relacionam e se complementam:</p><p>quanto mais aprendo, melhor ensino e quanto mais ensino, mais aprendo.</p><p>• O aprendizado transcende os espaços e horários preestabelecidos de estudo.</p><p>• O educador, que tem acredita que aprende enquanto ensina, oferece às</p><p>crianças um ambiente escolar rico e desafiador, que as “prepare para a vida”.</p><p>• Apreender significa tomar o conhecimento para si, apropriar-se dele.</p><p>• A aprendizagem deve ter objetivo, contexto e significação para a vida de</p><p>nossas crianças, necessitando da participação efetiva delas.</p><p>• A criança da Educação Infantil está protegida por documentos importantes</p><p>que lhe garantem direitos em relação ao seu atendimento e desenvolvimento</p><p>integral. Entre eles, podemos citar os RCNEI, DCNEI,PNQEI e BNCC.</p><p>• O professor da Educação Infantil deve articular as múltiplas linguagens das</p><p>crianças com sua metas educativas.</p><p>• O professor da educação infantil precisa despertar nas crianças o desejo</p><p>de aprender, de construir e de vivenciar o conhecimento em todas as suas</p><p>linguagens e possibilidades.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>205</p><p>• A criança aprende muito enquanto brinca e interage com os colegas.</p><p>• Através do corpo, a criança estabelece contato com o mundo e com as pessoas</p><p>que a rodeiam. É com o próprio corpo que ela experimenta as mais diversas</p><p>emoções e sensações.</p><p>• Na linguagem, a musical diferentes sensações e sentimentos podem ser</p><p>experimentados, laços afetivos e sociais podem ser fortalecidos e novos</p><p>conhecimentos podem ser oportunizados.</p><p>• A linguagem afetiva pode ser considerada uma das mais significativas às</p><p>crianças, pois é através das emoções que elas manifestam seus desejos ou</p><p>angústias.</p><p>206</p><p>1 De acordo com Malaguzzi, “Para as crianças é preciso oferecer o melhor”.</p><p>De acordo com o livro didático, como esse “melhor” poderia ser definido?</p><p>Que tipo de escola ele desejava?</p><p>2 Quando Loris Malaguzzi afirma que as crianças têm “cem linguagens”, o</p><p>que ele quer dizer com isso?</p><p>3 De acordo com Hoyuelos (2004), o trabalho de Malaguzzi apresentava duas</p><p>constantes. Assinale a alternativa que as apresenta corretamente:</p><p>a) ( ) Delegar e confiar nos professores.</p><p>b) ( ) Projetar e ter confiança no futuro.</p><p>c) ( ) Planejar e confiar na escola.</p><p>d) ( ) Ensinar e fazer o melhor.</p><p>4 Aprender é muito mais do que ouvir, exercitar e reproduzir conteúdos</p><p>programáticos. Apreender (escrito com dois “ês”), de acordo com o livro</p><p>didático significa:</p><p>a) ( ) Tomar o conhecimento para si, apropriar-se dele.</p><p>b) ( ) Realizar uma atividade de aprendizagem superficial.</p><p>c) ( ) Esperar a hora certa e o lugar ideal para aprender algo.</p><p>d) ( ) Aprender por aprender e, quando crescer, aprofundar-se.</p><p>5 Existem importantes documentos que norteiam a educação infantil de</p><p>nosso país. Dentre eles podemos citar: RCNEI, DCNEI, PNQEI e BNCC</p><p>que traduzem as políticas estabelecidas em leis nacionais, servindo como</p><p>base para todo o Brasil. O que signifia a sigla DCNEI?</p><p>a) ( ) Documento Comum Nacional da Educação Infantil.</p><p>b) ( ) Diretriz Comum Nacional da Educação Infantil.</p><p>c) ( ) Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.</p><p>d) ( ) Diretrizes Curriculares Normatizadas para a Educação Infantil.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>207</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Caro acadêmico! Tudo o que você estudou até aqui refere-se a duas</p><p>palavras fundamentais que compõem o universo da Educação Infantil: afetividade</p><p>e interação. Quando não há um ambiente acolhedor, afetivo e interativo, entre</p><p>educadores e educandos, dificilmente haverá aprendizagens significativas.</p><p>Quando não há vínculos positivos entre as pessoas que compartilham dos</p><p>mesmos espaços e interesses podem surgir barreiras emocionais que impeçam o</p><p>“prazer de conviver, ensinar e aprender em grupo”.</p><p>Vida de grupo dá muito trabalho e muito prazer. Porque eu não</p><p>construo nada sozinho; tropeço a cada instante com os limites do outro</p><p>e os meus próprios, na construção da vida, do conhecimento, da nossa</p><p>história. (FREIRE, 1993, p. 26).</p><p>FIGURA 10 – TRABALHO EM GRUPO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3xEO1MA>. Acesso em: 09 jun. 2021.</p><p>Aprendizagem, afetividade e interação caminham juntas. Justamente</p><p>por isso, prezado acadêmico, abordaremos este conteúdo no presente tópico,</p><p>enfocando as relações de afetividade nas interações do dia a dia da Educação</p><p>Infantil e a parceria positiva entre os pais e educadores na educação das crianças.</p><p>Bons estudos e novas aprendizagens!</p><p>TÓPICO 2 —</p><p>A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA</p><p>EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>208</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>2 RELAÇÕES DE AFETIVIDADE NAS INTERAÇÕES DO DIA A DIA</p><p>Quando uma criança vai à unidade de educação infantil ou à escola pela</p><p>primeira vez, normalmente chora. Não chora porque é manhosa ou medrosa, mas</p><p>por não perceber no novo espaço vínculos afetivos. Ela não conhece ninguém, e,</p><p>por mais simpáticos que sejam os professores ou funcionários, eles dificilmente</p><p>conseguem conquistar sua confiança nos primeiros dias.</p><p>A criança rompe naquele momento o “segundo cordão umbilical” que a</p><p>liga à família, aos parentes mais próximos, à babá, a sua casa, aos seus brinquedos.</p><p>É como se estivesse nascendo novamente num mundo completamente diferente</p><p>daquele até então habitado por ela.</p><p>Aos poucos, esse “novo espaço”, tão assustador, vai parecendo-lhe mais</p><p>amistoso, acolhedor e menos estranho. A criança, mesmo que de maneira tímida,</p><p>passa a trocar olhares com outros colegas, começa lentamente a deixar-se encantar</p><p>pela professora, confia nela e sente-se segura ao seu lado. Percebe, também, que</p><p>está rodeada de amigos e que nada de ruim vai lhe acontecer, então deixa de</p><p>chorar ou exigir a presença dos pais.</p><p>Isso pode durar um dia, uma semana ou até mesmo um mês. Cada criança</p><p>tem seu tempo para adaptar-se, cabe à instituição e aos pais respeitarem esse tempo.</p><p>FIGURA 11 – AMIZADE E INTERAÇÃO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3j8iJK9>. Acesso em: 11 jan. 2020.</p><p>Conforme Gandini e Edwards (2002, p. 136):</p><p>O processo de inserimento requer um ambiente cuidadosamente</p><p>planejado e preparado, que transmita mensagens imediatas de</p><p>acolhimento e respeito às crianças e famílias. [...] O principal indicador</p><p>de acolhimento que os pais podem receber é o fato de serem convidados</p><p>a passar o maior tempo possível na creche.</p><p>TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>209</p><p>Quando a instituição de Educação Infantil finalmente passa a fazer parte</p><p>do “mundo infantil” da criança e estabelece vínculos afetivos com ela, conquista</p><p>todo o seu amor e carinho, a sua afeição e respeito e, por que não dizer, a sua</p><p>paixão e curiosidade, que lhe são tão peculiares.</p><p>As crianças, em geral, sentem necessidade do toque, do olhar carinhoso,</p><p>do ouvido atento e do sorriso acolhedor do professor, pois, devido às tecnologias</p><p>e à correria da atualidade, as relações estão cada vez mais distantes, as famílias</p><p>cada vez menores, os pais cada vez mais envolvidos com seus compromissos</p><p>profissionais e, muitas vezes, ausentes no lar, o que leva muitas famílias a</p><p>comporem um cenário contraditório, em que as crianças têm tudo em termos</p><p>materiais, mas são carentes de afeto. “As crianças têm necessidade do pão: do pão</p><p>do corpo e do pão do espírito. Mas necessitam ainda mais do teu olhar, da tua</p><p>voz, do teu pensamento e da tua promessa” (FREINET apud ELIAS, 1997, p. 91).</p><p>FIGURA 12 – PROFESSORES AFETIVOS</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3d52CJr>. Acesso em: 09 jun. 2021.</p><p>Entre os diversos autores que trabalharam sobre o tema “AFETIVIDADE E</p><p>EMOÇÃO”, combinando aspectos da psicologia com a educação, destaca-se Henri Wallon,</p><p>educador e médico francês, que viveu de 1879 a 1962. Para Wallon, a emoção estaria</p><p>relacionada ao componente biológico do comportamento humano, referindo-se a uma</p><p>reação de ordem física. Wallon foi o primeiro a levar, não só o corpo da criança, mas também</p><p>suas emoções para dentro da sala de aula. Para aprofundar seus estudos sobre ele, sugerimos:</p><p>• GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.</p><p>Petrópolis: Vozes, 1995.</p><p>• DANTAS, H. A infância da razão: uma introdução à psicologia da inteligência de Henri</p><p>Wallon. Manole, 1990.</p><p>• WALLON, H. As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1986.</p><p>• WALLON, H. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 1989.</p><p>• TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K. de; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas</p><p>em discussão. São Paulo: Summus Editorial, 1992.</p><p>FONTE: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/educador-integral-42</p><p>3298.shtml>. Acesso em: 7 jun. 2021.</p><p>DICAS</p><p>210</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>Os profissionais precisam estar afetiva e profissionalmente preparados</p><p>para receber estas crianças, em um espaço acolhedor e diversificado, para que</p><p>possam ser atendidas também em suas necessidades básicas.</p><p>No dia a dia da Educação Infantil é possível perceber e transformar esta</p><p>necessidade afetiva em momentos de interação positiva, através de trabalhos em</p><p>grupo, conversas coletivas, atividades cooperativas, cantos, teatros, brincadeiras</p><p>ou “roda” da conversa, da história e de muitas outras coisas, pois, conforme</p><p>Ostetto, (2006, p. 158), “A roda, feito espiral em movimento circular ascendente,</p><p>une todos, e o seu movimento a cada volta modifica o desenho do cotidiano, da</p><p>prática pedagógica, integrando papéis e histórias, incorporando as diferenças”.</p><p>FIGURA 13 – RODA DE CONVERSA</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3vNf0Eg>.Acesso em: 09 jun. 2021.</p><p>Veja alguns motivos para utilizar a roda como recurso pedagógico na</p><p>figura a seguir.</p><p>FIGURA 14 – A RODA</p><p>FONTE: As autoras</p><p>TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>211</p><p>A roda fortalece os vínculos afetivos do grupo, pois eles passam a sentir-se</p><p>parte da vida do outro a partir do momento em que estabelecem relações, quer seja</p><p>como ouvintes ou como protagonistas da vida real. Para Warschauer (1993, p.50),</p><p>[...] a roda é o momento privilegiado da rotina em que a troca entre</p><p>os participantes do grupo ocorre. Sentar-se de forma que todos se</p><p>vejam, em círculo, já é um convite a querer falar e ouvir. O respeito</p><p>pela individualidade é a base de construção do grupo.</p><p>De acordo com Freire (1993, p. 162):</p><p>[...] é no encontro do grupo que nos defrontamos com as diferenças.</p><p>É no grupo que aprendemos esse difícil processo de conviver com as</p><p>divergências, os conflitos, as diferenças. Isso tudo envolve e significa</p><p>processo de construção de conhecimento, significa processo de apropriação</p><p>do saber de cada um para deflagrar o que ainda não se conhece.</p><p>FIGURA 15 – RODA DE AMIGOS</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3gR8OFX>. Acesso em: 09 jun. 2021.</p><p>O interessante desta posição circular é a questão de que não há início e nem</p><p>fim, nem o primeiro ou o último, ou ainda diferença nos posicionamentos, todos</p><p>se encontram numa mesma linha, juntos e em equilíbrio. Todos estão incluídos e</p><p>têm as mesmas chances de participação, o que facilita a união, distanciando-se da</p><p>competição e da disputa de poder. De acordo com Ostetto (2006, p.158):</p><p>[...] mais do que fazer a roda e chamar para o encontro, por si só já é</p><p>uma ação carregada de simbolismo, entra em jogo o exercício de uma</p><p>atitude e um pensamento circular. Pensar circularmente significaria</p><p>não pensar em linha reta, na afirmação da verdade, da única voz, do</p><p>conhecimento único. Significaria abrir-se ao diálogo, ao acolhimento</p><p>da dúvida e da diversidade, à construção de múltiplos enredos</p><p>afirmados no encontro das singularidades de crianças e adultos, de</p><p>alunos e professores. Não uma técnica, procedimento metodológico,</p><p>mas um modo de agir, de ser, de acolher.</p><p>Além de tudo, a roda nos aproxima das crianças e nos torna, de certa</p><p>forma, “cúmplices”, parceiros e amigos, ampliando de maneira natural nossos</p><p>vínculos afetivos.</p><p>212</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>FIGURA 16 – RODA DA CONVERSA</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3wS3jh8>. Acesso em: 12 jan. 2020.</p><p>Provavelmente, estimado acadêmico, o que fez com que você lembrasse</p><p>o profissional escolhido foram suas qualidades relativas à afetividade entre</p><p>ambos, ou seja, como este professor era com você, modo de tratar, se era querido,</p><p>carinhoso, atencioso etc.</p><p>Dificilmente você o escolheu por questões cognitivas, por algo que ele</p><p>tenha lhe ensinado, falando de conteúdos propriamente ditos. Bons professores</p><p>merecem ser lembrados também pelos ensinamentos que nos trazem, é lógico,</p><p>mas só o serão se aliarem afetividade a sua prática. Para Snyders (apud ELIAS,</p><p>1997, p. 92),</p><p>O aluno aprende realmente bem o que o cativa, numa atmosfera</p><p>de aula que lhe pareça segura, com um professor que saiba criar</p><p>afinidades. Eis por que a escola, ao mesmo tempo, tem que conciliar</p><p>o intelectual e o afetivo e constitui um lugar privilegiado para operar</p><p>essa conciliação. A alegria na escola só é possível na medida em que o</p><p>intelectual e o afetivo conseguem não se opor.</p><p>Por falar em cumplicidade, parceria e amizade, prezado acadêmico, relembre</p><p>momentos de sua vida escolar. Em</p><p>para cada idade; e o pensar, que vai sendo</p><p>cultivado paulatinamente desde a imaginação dos contos, lendas e</p><p>mitos no início da escolaridade, até o pensar abstrato rigorosamente</p><p>científico no ensino médio.</p><p>TÓPICO 1 — A PEDAGOGIA WALDORF</p><p>9</p><p>Além destas características, Steiner argumentou que o desenvolvimento</p><p>humano não ocorre de forma linear e sim em ciclos de aproximadamente sete</p><p>anos, o que chamou de setênios. Vamos conhecê-los?</p><p>QUADRO 1 – OS TRÊS SETÊNIOS DEFINIDOS POR STEINER</p><p>CICLOS IDADE CARACTERÍSTICAS</p><p>1º setênio 0 - 7 anos</p><p>Base do desenvolvimento físico</p><p>Caracteriza-se pela estruturação do corpo físico,</p><p>por meio do corpo etérico. Nesta fase, a criança é</p><p>influenciada por tudo o que acontece ao seu redor,</p><p>absorvendo a cor, o som, a forma, os sentimentos e o</p><p>caráter das pessoas. Outra característica importante</p><p>deste setênio é a imitação. Nesta fase, a criança</p><p>aprende pelo exemplo, pelo ambiente, imitando</p><p>tudo o que vê: os nossos gestos, nosso modo de falar,</p><p>nossa maneira de comer etc. Por isto, neste período, é</p><p>necessário que a criança se sinta amada, protegida. É</p><p>o momento para a criança perceber que O MUNDO</p><p>É BOM. Para Steiner, os três primeiros anos de vida</p><p>são decisivos para a criança. Para ele, o andar, o</p><p>falar e o pensar (que se desenvolvem neste setênio)</p><p>evoluem de forma gradual e sequencial: se a criança</p><p>não desenvolver bem o ato de andar, provavelmente</p><p>terá dificuldades em relação ao falar e ao pensar.</p><p>Neste período, a criança expressa-se livremente,</p><p>sem medo, utilizando o corpo inteiro, cabendo aos</p><p>adultos a inserção da criança em uma regularidade,</p><p>em uma rotina, com horários e tempos para realizar</p><p>cada atividade. A partir dos três primeiros anos, a</p><p>criança começa a diferenciar-se do mundo e inicia a</p><p>afirmação do EU. Ex.:eu quero, é meu etc. Nesta fase,</p><p>também, teria início o desenvolvimento da memória:</p><p>por isto geralmente lembramos fatos da nossa infância</p><p>ocorridos apenas a partir dos três anos. Este setênio</p><p>marca, portanto, o desenvolvimento da autonomia.</p><p>2º setênio 7 - 14 anos</p><p>Base para o amadurecimento psicológico</p><p>Neste setênio, o corpo astral, ou anímico, é quem</p><p>assume a liderança, e todo o desenvolvimento da</p><p>criança está ligado às emoções, aos sentimentos.</p><p>Segundo Steiner (apud COSTA, 2005), o corpo astral</p><p>desenvolve-se em pequenas fases: dos 7 aos 9 anos, há</p><p>uma alteração no formato do rosto; dos 9 aos 12 anos,</p><p>há um maior crescimento do tórax e, dos 12 aos 14</p><p>anos, o alongamento dos membros. Próximo dos dez</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>10</p><p>anos, a criança pode sentir uma nova vivência do EU:</p><p>uma espécie de solidão, irritação, podendo vivenciar,</p><p>nesta fase, o amor platônico. Neste setênio, o jovem</p><p>identifica-se com o ritmo, com a musicalidade, sentindo</p><p>prazer em cantar e ouvir música. Nesta fase, segundo</p><p>Steiner, é o momento ideal de a criança vivenciar que</p><p>O MUNDO É BELO, por isto, é importante que ela</p><p>tenha uma vivência da estética e do belo por meio de</p><p>atividades artísticas e artesanais. A partir dos 12 anos,</p><p>nasce a autoconsciência, o raciocínio próprio, que a</p><p>levará a outros aprendizados. Por volta dos 14 anos,</p><p>ocorre o despertar da sexualidade, a consciência do</p><p>próprio corpo, o desenvolvimento do amor físico. No</p><p>segundo setênio, fixam-se os costumes como hábitos</p><p>alimentares, de higiene, espirituais etc. Nesta fase,</p><p>atitudes de pessoas importantes para a criança podem</p><p>facilitar ou dificultar um desenvolvimento sadio da</p><p>sua vida psíquica e anímica.</p><p>3º setênio 14 - 21</p><p>anos</p><p>Base para o amadurecimento social</p><p>Este setênio marca o amadurecimento do EU e sua</p><p>autonomia. O jovem já é capaz de emitir julgamentos e</p><p>de agir eticamente. Nesta fase, o adolescente apresenta</p><p>um forte espírito crítico, colocando em xeque as</p><p>opiniões dos demais. Recusa-se a aceitar a autoridade</p><p>de qualquer pessoa e os valores só são aceitos se</p><p>condisserem com o seu próprio raciocínio. As pessoas</p><p>ao seu redor só serão respeitadas se forem honestas,</p><p>verdadeiras. É a fase, segundo Steiner, de O MUNDO</p><p>É VERDADEIRO. Para Steiner, esta é a hora certa</p><p>de apresentar a ciência, o conceito, desenvolvendo o</p><p>pensar lógico.Nesta fase, há um amadurecimento da</p><p>responsabilidade, é a época ideal para ensinar ao jovem</p><p>os problemas da humanidade, fazendo-os vivenciar a</p><p>realidade e não apenas estudar sobre elas. Também é</p><p>interessante que se estimule o jovem a estipular metas</p><p>para o seu futuro. Por volta dos 21 anos, as maturidades</p><p>intelectual e moral se estabilizam, acompanhadas da</p><p>responsabilidade.</p><p>FONTE: Adaptado de Costa (2005), Kügelgen (1984) e Lanz (1998)</p><p>Agora que já estudamos os setênios, vamos abordar outra importante</p><p>contribuição de Steiner para a educação: o princípio dos temperamentos. Apesar</p><p>de cada um possuir o seu Eu, nossa constituição física e anímica pode ser agrupada</p><p>TÓPICO 1 — A PEDAGOGIA WALDORF</p><p>11</p><p>em quatro tipos básicos: sanguíneo, melancólico, colérico e fleumático. Lembre-se</p><p>que normalmente cada pessoa apresenta características mais fortes de um ou dois</p><p>temperamentos. Veja o quadro a seguir:</p><p>QUADRO 2 – OS TEMPERAMENTOS</p><p>TIPOS DE</p><p>TEMPERAMENTO</p><p>ELEMENTO</p><p>DE LIGAÇÃO CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA</p><p>Sanguíneo AR</p><p>Ágil, leve, aérea. É muito alegre e</p><p>inteligente, mas perde facilmente a</p><p>concentração, tendo dificuldadeem se</p><p>fixar numa determinada tarefa. Adormece</p><p>e acorda muito facilmente, prefere</p><p>alimentos picantes e azedos. Para que a</p><p>criança aprenda, é necessário que o adulto</p><p>desenvolva uma relação afetiva com ela e</p><p>dela com o objeto que deverá ocupar-se.</p><p>Melancólico TERRA</p><p>Pesada, triste. Está sempre isolada em</p><p>seu mundo, desajeitada, seu corpo parece</p><p>muito pesado para ela.Tem dificuldade</p><p>em se relacionar com os colegas, demora</p><p>a acordar e adormecer. Come pouco e</p><p>prefere doce. Qualquer sofrimento a deixa</p><p>arrasada. Não gosta de atividades físicas,</p><p>jogos mais violentos e também não gosta</p><p>do frio. Para trabalhar com ela, o adulto</p><p>deve sugerir-lhe a musicalidade. Como</p><p>se preocupa com as pessoas sofredoras,</p><p>convém discutir com ela o sofrimento</p><p>mundial.</p><p>Colérico FOGO</p><p>Tem corpo atlético, com membros curtos e</p><p>nuca grossa. É muito atenta e concentrada,</p><p>porém estoura, queima-se muito facilmente.</p><p>Líder nata, é responsável, aplicada e</p><p>corajosa, agindo sempre com muita</p><p>energia. Para trabalhar com ela é preciso ter</p><p>paciência e ser compreensível, levando-a</p><p>ao extremo de si mesma,para que perceba</p><p>que não é infalível.</p><p>Fleumático ÁGUA</p><p>Fica na sua. Possui intensa relação com o</p><p>seu corpo etérico, estando em constante</p><p>bem-estar. Dificilmente envolve-se com</p><p>coisas diferentes, pois não quer perder a</p><p>sua posição cômoda, por isso parece lenta,</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>12</p><p>sonolenta etemtendência à obesidade.</p><p>Gosta muito da rotina e da ordem e é</p><p>muito calma. É preciso que ela perceba</p><p>que as outras crianças se interessam muito</p><p>pelo assunto, para então demonstrar</p><p>algum interesse para as novidades.</p><p>FONTE: Adaptado de Costa (2005), Kügelgen (1984), Lanz (1998) e Trevisan (2006)</p><p>Para entendermos melhor cada um dos temperamentos, vamos ilustrá-los</p><p>com uma pequena história:</p><p>Pouco depois, um fleumático chega ao local, para um longo tempo;</p><p>finalmente, encontra um desvio que lhe permite dar volta ao</p><p>obstáculo e, vagarosamente, continua seu caminho. A seguir, chega</p><p>o terceiro, o melancólico: “Claro, estas coisas só acontecem a mim!”</p><p>Permanece muito tempo sentado sobre a pedra, refletindo até o ponto</p><p>de esquadrinhar como o infortúnio chegou ao mundo, e por que esse</p><p>infortúnio sempre há de lançar obstáculos precisamente nos caminhos</p><p>que ele utiliza. Levanta-se e volta para casa. Finalmente, aproxima- se</p><p>o colérico, com passo decidido: vê a pedra, detém-se por um segundo</p><p>e logo a empurra com disposição, até que consegue tirá-la do caminho.</p><p>Continua sua marcha, não deixando de voltar-se algumas vezes para</p><p>contemplar com satisfação seu êxito (KÜGELGEN, 1984,</p><p>seguida, pense num professor ou professora que tenha</p><p>marcado positivamente sua fase estudantil, desde a Educação Infantil até os dias atuais. De</p><p>quem você se lembrou? Relembre também, as qualidades desse profissional e reflita sobre</p><p>o que fez com que ele ou ela merecesse ser lembrado(a) por você.</p><p>UNI</p><p>TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>213</p><p>FIGURA 17 – CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO</p><p>FONTE: <https://bit.ly/3vLGCtC>. Acesso em: 09 jun. 2021.</p><p>Nesse sentido, tanto conhecimento quanto aprendizagem podem ser</p><p>entendidos como um conjunto de momentos amorosos, criativos, alegres e</p><p>prazerosos e que são essencialmente fundamentais para o desenvolvimento</p><p>biopsicossocial das crianças. De acordo com Freire (1996, p. 66),</p><p>O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto</p><p>estético, a sua inquietude, a sua linguagem; o professor que ironiza o</p><p>aluno, que o minimiza, que manda que ele se ponha em seu lugar ao</p><p>mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que</p><p>se exime do cumprimento do seu dever de propor limites à liberdade</p><p>do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente</p><p>presente à experiência formadora do educando, transgride os</p><p>princípios fundamentalmente éticos de nossa existência. Saber que</p><p>devo respeito à autonomia e à identidade do educando exige de mim</p><p>uma prática em tudo coerente com este saber.</p><p>Freire (1996, p. 75) nos faz refletir: “[...] como ser educador, se não</p><p>desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos educandos, com quem me</p><p>comprometo e ao próprio processo formador de que sou parte?”</p><p>Então “mãos à obra”, acadêmico! Há muito que fazer a partir das</p><p>reflexões realizadas até aqui: há que se possibilitar mais momentos de interação e</p><p>motivação, de toque, de carinho, de afetividade, de afago, de atenção, de cuidados</p><p>e delicadeza no falar, no olhar, no ouvir, no pensar, no planejar e no agir, quando</p><p>se trata de educação de crianças, especialmente as da Educação Infantil.</p><p>3 PAIS E EDUCADORES: UMA IMPORTANTE PARCERIA NA</p><p>EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS</p><p>Prezado acadêmico! “Feliz é o educador que tem os pais ao seu lado”,</p><p>formando uma tríade perfeita entre ESCOLA/FAMÍLIA/CRIANÇA. Você concorda</p><p>com isso?</p><p>214</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>FIGURA 18 – PARCERIA ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA</p><p>FONTE: <https://bit.ly/35GIIQX>. Acesso em: 13 jan. 2020.</p><p>No entanto, ter o apoio e o carinho dos pais, nem sempre é uma tarefa</p><p>fácil. Pensando nisso, lhe traremos algumas dicas que facilitarão a realização</p><p>desta tríade:</p><p>QUADRO 2 – DICAS PARA UMA PARCERIA ENTRE A ESCOLA, A FAMÍLIA E A CRIANÇA</p><p>• Abra os portões e deixe os pais entrarem na instituição, eles também</p><p>precisam sentir-se parte integrante dela.</p><p>• Receba a criança e a acolha diante dos pais com simpatia e amor, nenhum</p><p>pai aprecia sentir o professor indiferente à presença de seu filho.</p><p>• Seja cordial e receptivo às dúvidas dos pais, por mais impertinentes ou</p><p>simplórias que possam parecer.</p><p>• Coloque-se à disposição para ouvi-los, desde que isso não ultrapasse o</p><p>momento de estar com as crianças.</p><p>• Agende horários para conversas, fora do horário de aula, com os pais</p><p>necessitados de atenção.</p><p>• Mantenha-se transparente em todas as suas ações. Pais seguros interferem</p><p>menos e acabam nos auxiliando em nosso trabalho.</p><p>• Comunique-se de todas as formas possíveis. Comunicação é fundamental.</p><p>• Convide os pais para prestigiarem momentos especiais e agradáveis da</p><p>instituição, não só para conversas difíceis ou entrega de avaliações.</p><p>• Auxilie os pais a conhecerem e valorizarem a função educativa da instituição.</p><p>Estabeleça vínculos de confiança e respeito mútuo com a criança e seus pais.</p><p>• Seja sincero, não omita as verdades, diga o que pensa e o que precisa ser</p><p>dito, mas saiba fazê- lo com delicadeza.</p><p>• Procure a ajuda de profissionais especializados quando perceber algo</p><p>diferente na criança (alguma síndrome ou dificuldade de aprendizagem) –</p><p>não dê diagnósticos, encaminhe.</p><p>• Estabeleça contato também via e-mail ou telefone com os pais em caso de</p><p>necessidade e mostre-se preocupado em atendê-los.</p><p>TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>215</p><p>• Convide-os a participar de momentos ou decisões importantes da instituição.</p><p>Apresente registros, fotos, jornais ou materiais que esteja desenvolvendo com</p><p>a turma.</p><p>• Desta maneira, você estará possibilitando aos pais acompanharem todo</p><p>o processo ensino-aprendizagem do filho. Os pais que acompanham o</p><p>trabalho do professor de perto o valorizam mais.</p><p>• Realize reuniões de caráter pedagógico ou formativo.</p><p>• Lembre-se de que não existem duas famílias iguais e, sendo assim, respeite</p><p>as peculiaridades de cada uma.</p><p>• Procure estabelecer com os pais um “mesmo direcionamento” diante de</p><p>alguma necessidade da criança. Procurem falar a mesma língua e não sejam</p><p>contraditórios diante dela.</p><p>• Mantenha-se aberto às críticas e paciente às grosserias, elas vão ocorrer</p><p>inevitavelmente. Acalme os pais de maneira amistosa, fale baixo e com</p><p>diplomacia, defenda-se, se for o caso.</p><p>• Parta do pressuposto de que cada pai conhece o filho que tem e vá com</p><p>calma na hora de falar dele. Comece sempre elogiando a criança e aos</p><p>poucos relate sobre a situação que preocupa você.</p><p>• Mostre aos pais que você é justo, que trata a todas as crianças com igualdade</p><p>e respeito, que não há preferidos ou privilegiados em sua turma.</p><p>• Demonstre segurança em seus gestos, atitudes ou palavras. Os pais precisam</p><p>sentir que deixaram o filho em boas mãos.</p><p>• Leia muito sobre as crianças – é preciso conhecê-las para amá-las e</p><p>compreendê-las verdadeiramente. Conheça suas histórias de vida.</p><p>• Brinque com suas crianças, mostre-se feliz na presença delas. O professor</p><p>ou professora, que brinca com as crianças, é facilmente lembrado por elas,</p><p>mesmo quando não estão na escola.</p><p>• Enfim, compartilhe seus momentos mais especiais na instituição com os</p><p>pais das crianças, e descobrirão que, embora em espaços diferentes, ambos</p><p>lutam pelo mesmo objetivo: o crescimento pessoal e integral da criança,</p><p>numa atmosfera alegre e prazerosa.</p><p>FONTE: As autoras</p><p>Quando o assunto é “família e escola”, toda a nossa atenção é necessária,</p><p>pois esta parceria é fundamental na educação das crianças. Se você, prezado acadêmico,</p><p>sentiu-se motivado a saber mais sobre o assunto, aceite nossa sugestão de leitura:</p><p>• BASSEDAS, E.; HUGET, T.; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na educação infantil. Trad. Cristina</p><p>Maria de Oliveira. Porto Alegre: Artmed, 1999.</p><p>O livro possui um capítulo inteirinho dedicado a este assunto e traz importantes reflexões.</p><p>FONTE: <https://www.amazon.com.br/Aprender-Ensinar-na-Educa%C3%A7%C3%A3o-Infantil-</p><p>ebook/dp/B016V88JHK>. Acesso em: 25 maio 2021.</p><p>DICAS</p><p>216</p><p>UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL</p><p>Estabelecer parceria com as famílias pressupõe aceitá-las em suas</p><p>individualidades e características próprias, não se esqueça disso! Hoje sabemos</p><p>que famílias são compostas de diferentes maneiras. Não há mais apenas um</p><p>padrão de família nuclear, em que o pai é o chefe e provedor e a mãe cuida dos</p><p>filhos. As famílias apresentam formações diversas: com pais separados, netos</p><p>criados por avós, mães que cuidam sozinhas dos filhos, pais abandonados por</p><p>esposas que assumem os filhos etc.</p><p>FIGURA 19 – PAPAI E BEBÊ</p><p>FONTE: <https://bit.ly/35QmgVf>. Acesso em: 13 jan. 2020.</p><p>O professor necessita de informação e preparação para lidar com todos os</p><p>tipos de famílias, despindo-se completamente de qualquer preconceito ou pudor.</p><p>De acordo com Oliveira (2008, p.176-177):</p><p>A cultura da violência (física ou simbólica) presente em muitas</p><p>famílias (agressões, espancamentos, ameaças, castigos, humilhações),</p><p>os abusos sexuais existentes em muitas delas, a diminuição da</p><p>disponibilidade de tempo que os pais têm para ficar com os filhos, o</p><p>conhecimento de casos de abandono da</p><p>p. 38).</p><p>Conseguiu diferenciar cada um dos temperamentos? Foi capaz de</p><p>encontrar-se em algum deles?</p><p>Agora que já conhecemos a teoria do desenvolvimento humano proposta</p><p>por Steiner, que é a base da Pedagogia Waldorf, que tal analisarmos como esta</p><p>teoria é aplicada na prática?</p><p>4 METODOLOGIA</p><p>“Se você quer que seu filho seja brilhante, conte a ele contos de fadas. Se você</p><p>o quer muito brilhante, conte-lhe ainda mais contos de fadas”. (Albert Einstein).</p><p>É isto mesmo! Na Pedagogia Waldorf, contar histórias é uma forma de</p><p>estimular o conhecimento. Para cada fase do desenvolvimento, são utilizadas</p><p>histórias diferentes: prosas, versos, cantigas, contos, lendas, casos etc., que variam</p><p>em sua forma e conteúdo para cada fase. Na Educação Infantil, os contos de fada</p><p>são muito importantes:</p><p>com suas imagens cheias de fantasias, eles são um alimento para</p><p>as crianças, enriquecem seu vocabulário, ativam sua capacidade</p><p>imaginativa, estimulam a criatividade e dão a elas suporte emocional e</p><p>amparo para que se sintam felizes. E, mais do que tudo, que se sintam</p><p>aceitas (TREVISAN, 2006, p. 46).</p><p>TÓPICO 1 — A PEDAGOGIA WALDORF</p><p>13</p><p>E já que falamos sobre o conto na Educação Infantil, exploraremos como</p><p>são os Jardins de Infância na Pedagogia Waldorf.</p><p>Tendo por base os setênios, os quais estudamos anteriormente, o foco</p><p>da Educação Infantil está no brincar imitativo, na imaginação, por isto, mais do</p><p>que nunca, há a importância de se trabalhar com os contos de fadas, para que</p><p>a criança desenvolva, aos poucos, o pensamento criativo e se prepare para as</p><p>demais etapas do seu desenvolvimento escolar. Nesta fase, a criança deve ser</p><p>tratada com individualidade e respeito, estimulando o desenvolvimento do seu</p><p>talento e da sua capacidade. Lembre-se de que, nesta fase, segundo Steiner, a</p><p>criança deve se sentir segura, para que possa concluir que O MUNDO É BOM.</p><p>Tal qual numa família com irmãos, as classes de Jardim são formadas</p><p>por crianças de idades diferentes. Os mais novos aprendem com os</p><p>mais velhos; os mais velhos cultivam respeito e carinho para com os</p><p>pequenos. Nem tudo são flores, é claro. Brigas e desentendimentos</p><p>fazem parte do aprendizado social e são acolhidos como tais pelo</p><p>professor, assim como em casa pelos pais. (TREVISAN, 2006, p. 46).</p><p>Nesta fase, é importante que a criança cumpra rotinas preestabelecidas,</p><p>para que organize a sua vida de forma segura. As atividades do currículo Waldorf</p><p>seguem os ritmos da natureza, das estações do ano e dos afazeres do dia a dia,</p><p>como: acordar, tomar café, escovar os dentes, entre outros.</p><p>Assim, no currículo do Jardim, as atividades percorrem um caminho</p><p>organizado e habitual, que atende aos ritmos diários (brincar fora, brincar dentro,</p><p>lanche), semanal (culinária, desenho, modelagem, pintura), mensal (um tema</p><p>específico é trabalhado nas histórias e contos) e anual (que segue as estações do ano,</p><p>celebradas com festejos e teatros). Um dia depois do outro (TREVISAN, 2006, p. 49).</p><p>Vejamos, no quadro a seguir, quais atividades são realizadas com as</p><p>crianças das escolas Waldorf, em cada ritmo:</p><p>QUADRO 3 – RITMOS DA ESCOLA WALDORF</p><p>RITMO ATIVIDADES</p><p>Diário</p><p>- Desenho ou pintura.</p><p>- Música e poemas em diversas línguas (para formar o aparelho</p><p>fonador e auditivo).</p><p>- Brincar livre na sala de aula.</p><p>- Culinária, modelagem, teatro.</p><p>- Lanche (antes as crianças recitam um verso de agradecimento</p><p>pelo alimento).</p><p>- Brincar no jardim.</p><p>- Histórias de contos de fadas ou teatro.</p><p>Semanal</p><p>A cada dia da semana o professor estipula uma atividade</p><p>diferentecomo modelagem, desenho, trabalhos manuais, pintura,</p><p>culinária ou euritmia.</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>14</p><p>Mensal A cada mês o professor escolhe um tema diferente, de acordo com</p><p>a épocado ano, para desenvolver nas rodas de histórias ou contos.</p><p>Anual A cada estação do ano o professor prepara festas, teatros, entre outros,</p><p>para trabalhar e fortalecer as características de cada época.</p><p>FONTE: Adaptado de Trevisan (2006)</p><p>Assim, na Pedagogia Waldorf, os professores trabalham para desenvolver</p><p>um ambiente de harmonia e incentivo à criatividade na Educação Infantil. Para</p><p>isto, propõem atividades diversificadas como cuidar do jardim, fazer pão para</p><p>o lanche, construir brinquedos, criar brincadeiras com materiais da natureza,</p><p>dando grande importância ao movimento e ao desenvolvimento neurológico da</p><p>criança. Nesta fase, o professor Waldorf deve ser digno de ser imitado, pois nessa</p><p>imitação inconsciente, estará fundamentanda a moralidade da criança.</p><p>Bem, agora que já sabemos como é organizada a Educação Infantil nas</p><p>escolas Waldorf, abordaremos rapidamente a organização do Ensino Fundamental</p><p>e do Ensino Médio.</p><p>O Ensino Fundamental possui o mesmo currículo das outras escolas, porém</p><p>voltado ao desenvolvimento do jovem para o espírito científico investigativo e para</p><p>o exercício pleno da cidadania. Diversas atividades complementam o currículo,</p><p>como: marcenaria, atividades artísticas, filosofia, trabalhos manuais, música,</p><p>astronomia, geometria, inglês, alemão, jardinagem, antropologia, mineralogia,</p><p>botânica, entre outras.</p><p>Neste setênio, como vimos anteriormente, a criança deve reconhecer que</p><p>O MUNDO É BELO, por isto, recebe uma formação voltada às artes. Nesta fase,</p><p>também, inicia-se a alfabetização da criança, e o professor deve conquistar uma</p><p>autoridade amorosa.</p><p>No Ensino Médio, há uma maior preocupação com a formação social, por</p><p>isto, o jovem é levado a conhecer as diversas situações sociais que estão ao seu</p><p>redor, a fim de tornar-se um cidadão crítico e ativo. Lembre-se de que, nesta fase,</p><p>o aluno deve perceber que O MUNDO É VERDADEIRO, cabendo ao professor</p><p>estabelecer uma relação de honestidade e confiança com o aluno. Durante os</p><p>quatro anos do Ensino Médio, o jovem desenvolve uma pesquisa com um tema</p><p>de seu interesse e, ao final do curso, a defende em forma de monografia.</p><p>Independentemente da fase em que a criança se encontra, os alunos</p><p>das escolas Waldorf não repetem o ano escolar. A avaliação das crianças não é</p><p>realizada em forma de provas, exames etc., para fins estatísticos. Os professores:</p><p>[...] julgam todos os fatores que permitam avaliar a personalidade do</p><p>aluno, quais sejam: o trabalho escrito, a aplicação, a forma, a fantasia,</p><p>a riqueza de pensamentos, a estrutura lógica, o estilo, a ortografia e,</p><p>além disso, obviamente os conhecimentos reais. Mas o julgamento</p><p>TÓPICO 1 — A PEDAGOGIA WALDORF</p><p>15</p><p>geral sobre o aluno levará em conta o esforço real que ele fez (ou</p><p>não fez) para alcançar tal resultado, seu comportamento, seu espírito</p><p>social (LANZ, 1998, p. 105).</p><p>Os boletins anuais enviados aos pais relatam a biografia do aluno</p><p>durante o ano todo, seus resultados, seu comportamento, seu esforço etc. Afinal,</p><p>o principal objetivo das escolas Waldorf é preparar a criança para a vida real,</p><p>desenvolvendo qualidades essenciais para que ela saiba lidar com o mundo em</p><p>constante mudança, de forma criativa, flexível, responsável e com senso crítico.</p><p>5 PAPEL DO PROFESSOR NA ESCOLA WALDORF</p><p>“Quando a gente aprende algo e dele não se esquece nunca mais, é porque</p><p>o coração e a alma também foram tocados” (TREVISAN, 2006, p. 21).</p><p>Uma importante característica da Pedagogia Waldorf é a relação de amor</p><p>e o profundo conhecimento entre o professor e seus alunos, já que o professor</p><p>permanece com a turma durante diversos anos: um professor acompanha</p><p>durante toda a Educação Infantil, outro durante todo o Ensino Fundamental e</p><p>outro durante todo o Ensino Médio (neste último, recebendo a função de tutor,</p><p>já que as disciplinas são ministradas por professores específicos). Além disso, a</p><p>escola possui um médico escolar, que conhece profundamente a pedagogia e dá</p><p>apoio aos professores: o médico-pedagógico.</p><p>[...] o professor da classe é um dos pilares da Pedagogia Waldorf.</p><p>Principalmente nos primeiros anos de vida, quando a criança está</p><p>começando a entrar em contato com um ambiente que não é o da sua</p><p>própria casa,</p><p>é importante que ela sinta que na escola também tem uma</p><p>família. Essa analogia transfere segurança e bem-estar, e ela passa a sentir</p><p>que o professor é um substituto à altura de seus próprios pais e por quem</p><p>nutrirá igualmente respeito e confiança (TREVISAN, 2006, p.28).</p><p>Ficou curioso em aprofundar-se um pouco mais sobre a metodologia das</p><p>escolas Waldorf? Veja nossas dicas de leitura:</p><p>• KÜGELGEN, H. V. A educação Waldorf: aspectos da prática pedagógica. São Paulo:</p><p>Antroposófica, 1984. (Este livro reúne diversas palestras sobre os principais conceitos e</p><p>métodos da Pedagogia Waldorf)</p><p>• TREVISAN, H. M. F. Filhos felizes na escola: pedagogia Waldorf, o ensino pela arte. São</p><p>Paulo: Trevisan Editora Universitária, 2006. (Este livro apresenta um relato bem dinâmico</p><p>de como ocorre a Educação Waldorf em sala de aula)</p><p>DICAS</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>16</p><p>Por isto que, para se tornar um professor Waldorf, além da formação</p><p>normal de professor, é necessário realizar um curso específico na Pedagogia</p><p>Waldorf, para conhecer profundamente a teoria de Rudolf Steiner. Além disso,</p><p>de acordo com Trevisan (2006, p. 30):</p><p>um exercício importante para um professor Waldorf é meditar séria</p><p>e diariamente sobre cada aluno seu. O objetivo é encontrar respostas</p><p>sobre como é possível ajudá-lo a expressar ao máximo o seu potencial</p><p>e a desenvolver dons que ele não possui.</p><p>Na escola Waldorf, o aluno não aprende apenas por meio de livros, mas</p><p>principalmente com as pessoas, ele procura vivência e não apenas conhecimentos,</p><p>e o professor tem um papel muito importante, pois trabalhará diversos conteúdos,</p><p>das várias disciplinas existentes no currículo. “Não lhe bastará conhecer a matéria;</p><p>ele deverá ainda usá-la conscientemente como meio pedagógico, expondo-a com</p><p>entusiasmo” (LANZ, 1998, p. 84).</p><p>Você já deve ter percebido que o professor das Escolas Waldorf precisa</p><p>ter um grande conhecimento da teoria de Steiner, além de diversas qualidades,</p><p>não é mesmo? Vamos destacar três qualidades essenciais ao professor Waldorf,</p><p>de acordo com Lanz (1998):</p><p>• Conhecimento profundo do ser humano. Envolve conhecer a antroposofia e</p><p>os setênios e aperfeiçoar-se constantemente.</p><p>• Amor como base do comportamento social. O professor deve amar os seus</p><p>alunos.</p><p>• Qualidades artísticas. O professor deve ser maleável, criativo e encarar cada</p><p>aula como uma verdadeira obra de arte.</p><p>Amar os seus alunos é algo primordial para quem quer ser professor e não</p><p>apenas na Pedagogia Waldorf. Pense nisto! Não vá para a sala de aula se você não</p><p>gostar de crianças. Seja um professor responsável e, principalmente, afetivo!</p><p>Caro acadêmico, observe algumas questões para reflexão ou discussão em sala</p><p>1 Qual é o aspecto da teoria de Steiner que você achou mais interessante? Por quê?</p><p>2 Com relação aos temperamentos, a história que usamos para ilustrar o assunto auxiliou</p><p>você a identificar os diversos tipos de temperamento nas pessoas que o rodeiam? Em</p><p>qual temperamento você mais se enquadra?</p><p>UNI</p><p>17</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Steiner nasceu em 1861, na Áustria, e faleceu em 1925, aos sessenta e quatro</p><p>anos, na Suíça.</p><p>• A principal característica das escolas Waldorf é a sua base na concepção de</p><p>desenvolvimento humano criada por Steiner, a antroposofia.</p><p>• Steiner concebeu o homem atual como portador de quatro processos: mineral,</p><p>vegetal, animal e o EU.</p><p>• As principais atividades anímicas do ser humano, segundo Steiner, são:</p><p>pensar, sentir, querer.</p><p>• O desenvolvimento humano ocorre em ciclos de sete anos, que chamou de</p><p>setênios: 0-7 anos; 7-14 anos e 14-21 anos.</p><p>• A constituição física e anímica do ser humano pode ser agrupada em quatro</p><p>tipos de temperamentos: sanguíneo, melancólico, colérico e fleumático.</p><p>• Para a Pedagogia Waldorf, contar histórias é uma forma de estimular o</p><p>conhecimento.</p><p>• O foco da Educação Infantil está no brincar imitativo, na imaginação. Nesta</p><p>fase, a criança deve ser tratada com respeito, com rotinas preestabelecidas, de</p><p>forma a se sentir segura, para que possa concluir que O MUNDO É BOM.</p><p>• Nesta fase, na Educação Infantil, o professor deve ser digno de ser imitado.</p><p>• O Ensino Fundamental está voltado ao desenvolvimento do espírito científico</p><p>investigativo e do exercício pleno da cidadania. Sua formação deve estar voltada</p><p>para a estética, para as artes, para que reconheça que O MUNDO É BELO.</p><p>• No Ensino Médio, há uma maior preocupação com a formação social. Nesta</p><p>fase, o jovem deve perceber que O MUNDO É VERDADEIRO.</p><p>• Os alunos da escola Waldorf não repetem o ano escolar, pois o objetivo das</p><p>escolas Waldorf é preparar a criança para a vida real.</p><p>• Uma importante característica da Pedagogia Waldorf é o amor e o profundo</p><p>conhecimento do professor por seus alunos, já que ele permanece com a turma</p><p>durante diversos anos.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>18</p><p>• Na escola Waldorf, o aluno não aprende de livros e sim de pessoas, por isto</p><p>é importante que o professor tenha as seguintes qualidades: conhecimento</p><p>profundo do ser humano; amor como base do comportamento social; e</p><p>qualidades artísticas.</p><p>19</p><p>1 Em relação à Pedagogia Waldorf, assinale a resposta CORRETA:</p><p>a) ( ) Nesta Pedagogia o mesmo professor permanece com a turma, diversos</p><p>anos.</p><p>b) ( ) Na Pedagogia Waldorf o aluno aprende por meio de livros, não de</p><p>pessoas.</p><p>c) ( ) Devido a autonomia do grupo, o professor torna-se dispensável em sala.</p><p>2 Para a Pedagogia Waldorf, contar histórias é:</p><p>a) ( ) Uma forma de estimular o conhecimento.</p><p>b) ( ) Uma forma de moralizar as crianças.</p><p>c) ( ) Uma forma de entretenimento, apenas.</p><p>3 O que há de diferente na Pedagogia Waldorf em relação aos anos escolares?</p><p>a) ( ) Eles não repetem de ano.</p><p>b) ( ) Eles realizam dois anos ou mais, em apenas um.</p><p>c) ( ) Eles podem escolher passar para o próximo ano ou refazer o ano que</p><p>acabam de cursar.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>20</p><p>21</p><p>TÓPICO 2 —</p><p>UNIDADE 1</p><p>A PEDAGOGIA MONTESSORI</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Você já ouviu falar em Maria Montessori ou na Pedagogia Montessori? E</p><p>nas Casas das Crianças, ou Case Dei Bambini? Ou, quem sabe, já ouviu falar no</p><p>Material Dourado?</p><p>O primeiro passo da educação é prover a criança de um meio que</p><p>lhe permita desenvolver as funções que lhes foram designadas pela</p><p>natureza. Isso não significa que devemos contentá-la e deixá-la fazer</p><p>tudo o que lhe agrada, mas nos dispor a colaborar com a ordem da</p><p>natureza, com uma de suas leis, que quer que esse desenvolvimento se</p><p>efetue por experiências próprias da criança (MONTESSORI, 1972 apud</p><p>RÖHRS, 2010, p. 29).</p><p>Neste tópico, vamos nos aprofundar um pouco sobre Maria Montessori</p><p>e sua teoria, a Pedagogia Montessori, muito utilizada nas escolas brasileiras e</p><p>no mundo todo. Se você já é professor, vai perceber que muitas das atividades</p><p>desenvolvidas por Montessori já são utilizadas no seu dia a dia em sala de aula,</p><p>porém, muitas vezes, sem saber a sua origem ou o real significado e importância</p><p>de desenvolver cada uma delas.</p><p>A Pedagogia Montessori tem por princípios a liberdade, a disciplina e a</p><p>responsabilidade. Nela, as crianças aprendem utilizando materiais didáticos</p><p>especialmente elaborados para desenvolver os aspectos motores, intelectuais,</p><p>racionais ou sensoriais de cada um. Além disso, a criança tem liberdade para</p><p>escolher o material didático com o qual trabalhará. Por isto, os materiais didáticos</p><p>elaborados por Montessori são desenvolvidos para atrair a atenção das crianças,</p><p>desenvolvendo nelas a curiosidade por aprender e buscar o conhecimento.</p><p>Nesta teoria, o professor é aquele que avalia o desenvolvimento e o</p><p>comportamento das crianças, estimulando a busca pelo saber de forma criativa,</p><p>lúdica e prazerosa, guiando as crianças durante a sua caminhada em busca do</p><p>conhecimento, ajudando a tirar dúvidas e respondendo aos questionamentos que</p><p>surgem durante as aulas. O professor é um grande observador da aprendizagem</p><p>e do comportamento das crianças. Ficou curioso? Vamos explorar um pouco mais</p><p>esta teoria?</p><p>22</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>2 MARIA MONTESSORI (1870-1952)</p><p>Para iniciarmos, que tal conhecer um pouco sobre a história de vida de</p><p>Montessori com base em autores como Montessori (1965), Machado (1980) e</p><p>Röhrs (2010)? Vamos lá!</p><p>FIGURA 5 – MARIA MONTESSORI</p><p>FONTE: <https://www.tma-el.org/uploads/1/0/5/1/1051790/mission-montessori-inset_orig.jpg>.</p><p>Acesso em: 25 maio 2021.</p><p>Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870, no leste da Itália, na cidade de</p><p>Chiaravalle. Era neta do geólogo e naturalista Antônio Stoppani e filha única do</p><p>casal Alessandro Montessori e Renilde Stoppani. Quando tinha 12 anos, mudou-</p><p>se com a família para Roma à procura de uma educação de melhor qualidade. Em</p><p>1896, concluiu o seu curso de medicina, tornando-se a primeira mulher italiana a</p><p>concluir o curso. Seus estudos tinham como enfoque as neuropatologias e, logo</p><p>após concluí-lo, foi trabalhar como assistente em uma clínica psiquiátrica da</p><p>Universidade de Roma, onde se dedicou, por dois anos, ao estudo das crianças</p><p>com deficiência intelectual.</p><p>Devido a seu grande interesse pelo desenvolvimento cognitivo de crianças</p><p>com deficiência, Montessori começou a estudar os trabalhos de Itard e Séguin,</p><p>por meio de livros com relatos sobre seus métodos de ensino na educação destas</p><p>crianças. De acordo com Montessori (1965), Itard conseguiu fazer falar e ouvir a</p><p>crianças semissurdas.</p><p>No entanto, foram as teorias de Séguin que lhe chamaram a atenção.</p><p>Séguin partiu das experiências de Itard, aplicando-as e modificando-as durante</p><p>30 anos, até chegar ao que denominou de método fisiológico (método baseado</p><p>no estudo individual do discípulo). Segundo Montessori (1965), Séguin estudara</p><p>centenas de crianças com deficiência recolhidas nos asilos de Paris, dando-lhes</p><p>instrução intelectual e artística.</p><p>TÓPICO 2 — A PEDAGOGIA MONTESSORI</p><p>23</p><p>Tendo por base os estudos de Séguin, Montessori, em1898, em um</p><p>congresso na cidade de Turim, defendeu crianças com deficiência não precisavam</p><p>de médicos, mas sim de métodos pedagógicos que criassem um ambiente de</p><p>ajuda ao aluno. Para ela, em vez de internar as crianças com deficiência, seria</p><p>necessário construir escolas onde, através da observação, os métodos de Séguin</p><p>fossem aperfeiçoados, possibilitando até mesmo a formação de novos professores</p><p>para atuação na área.</p><p>Logo após sua participação no Congresso, seu antigo professor, ministro</p><p>da Instrução Pública em Roma, chamou-a para realizar palestras sobre o ensino</p><p>de pessoas com deficiência. Isto fez com que se despertasse o interesse dos que</p><p>se dedicavam ao assunto. A partir de então, a vida de Montessori voltou-se para</p><p>a educação das crianças com deficiência. Lia tudo o que era publicado a respeito,</p><p>aproveitando todas as sugestões que lhe eram dadas, realizando experiências</p><p>e trabalhando fortemente na formação dos professores que vinham trabalhar</p><p>com ela. Realizou viagens a Paris e Londres, conhecendo escolas e tudo o que</p><p>havia de mais moderno com relação à educação destas crianças. Logo, percebeu</p><p>que poderia superar as teorias de Séguin, aperfeiçoando-as. Mandou fabricar os</p><p>materiais didáticos que Séguin propunha, aperfeiçoando uns, excluindo outros</p><p>e criando novos materiais para o trabalho a ser desenvolvido com as crianças.</p><p>Tanto esforço trouxe ótimos resultados:</p><p>Usando esse método, consegui que alguns deficientes do manicômio</p><p>aprendessem a ler e a escrever corretamente; mais tarde, apresentando-</p><p>se ao exame nas escolas públicas, juntamente com os escolares [sem</p><p>deficiência], obtiveram aprovação (MONTESSORI, 1965, p. 33).</p><p>A partir de então, começou a questionar como as crianças com deficiência</p><p>puderam superar as crianças sem deficiência nos exames realizados. Concluiu que</p><p>as escolas deveriam estar desorganizadas e os métodos ser péssimos, moldando</p><p>as possibilidades das crianças.</p><p>Tais resultados eram tidos como miraculosos pelos observadores. Eu,</p><p>porém, sabia que se esses alunos [com deficiência] haviam alcançado</p><p>os escolares [sem deficiência] nos exames públicos era, unicamente,</p><p>por haverem sido conduzidos por uma via diferente: tinham sido</p><p>auxiliados no seu desenvolvimento psíquico, enquanto as crianças [sem</p><p>deficiência] haviam sido, pelo contrário, sufocadas e deprimidas. [...]</p><p>Enquanto todos admiravam o progresso dos meus alunos, eu meditava</p><p>sobre as razões que faziam permanecer em tão baixo nível os outros</p><p>escolares, a ponto de poderem ser alcançados pelos meus alunos nas</p><p>provas de inteligência. (adaptado de MONTESSORI, 1965, p. 33).</p><p>Depois de obter estes resultados, Montessori resolveu abandonar a Escola</p><p>Ortofrênica e voltar aos estudos de Itard e Séguin, traduzindo-os para o italiano de</p><p>próprio punho, chegando à conclusão de que o método de Séguin dava resultados</p><p>mesmo quando aplicado aos alunos sem deficiência. Considerando-se incompleta,</p><p>voltou a estudar, agora o curso de pedagogia e o de psicologia instrumental.</p><p>24</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Tais foram minhas conclusões. O importante não é observar, mas</p><p>‘transformar’. A observação fundara uma nova ciência psicológica;</p><p>não ‘transformará’, porém, nem alunos nem escolas. Acrescentara</p><p>alguma coisa às escolas comuns, deixando-as, no entanto, bem como</p><p>seus métodos de instrução e educação, estacionadas em seu estado</p><p>primitivo (MONTESSORI, 1965, p. 37).</p><p>Montessori sentiu, ali, a necessidade de colocar em prática sua ideia de</p><p>aplicar os métodos de Séguin com crianças sem deficiência. No entanto, não</p><p>sabia de que forma poderia realizar esta ação. Até que, em 1906, uma empresa</p><p>que construía prédios pediu sua ajuda para a solução de um problema. Como</p><p>os prédios que construíam eram para pessoas em situação de vulnerabilidade</p><p>econômica e estes precisavam sair para trabalhar desde cedo, as crianças ficavam</p><p>sozinhas durante o dia e estragavam o prédio. Assim, pediram para Montessori</p><p>que ela criasse alguma forma de entretê-los e mantê-los quietos neste período em</p><p>que estavam sem os pais. Para isto, ofereceram uma sala em cada bloco e todo</p><p>o pessoal de que ela precisasse. Criou-se, assim, a primeira Case dei Bambini,</p><p>inaugurada em janeiro de 1907. Esta Casa das Crianças recebeu crianças entre os</p><p>3 e 7 anos e deu tão certo que, em abril do mesmo ano, a empresa resolveu abrir</p><p>outra, e em outubro outra, chegando a diversas casas espalhadas pela Itália.</p><p>As Casas de Crianças tornaram-se tão populares, que educadores de Roma</p><p>e outras regiões do mundo vieram para conhecê-las e partiram entusiasmados com</p><p>seus métodos. Um deles foi Freinet, conforme veremos no próximo tópico. Mais</p><p>tarde, Teresa Bontempi introduziu as escolas na Suíça e, pouco depois, foi fundada</p><p>uma escola Montessori, na Argentina. Em 1910, o método chegou aos Estados Unidos</p><p>e, em 1911, a Paris. Em 1913, criou-se uma sociedade Montessori na Inglaterra. Nesta</p><p>mesma época, uma sociedade de Milão e outra de Roma ofereceram-se para fabricar</p><p>o material didático criado por Montessori, e a baronesa Alicia Franchetti pagou a</p><p>primeira edição do livro “Pedagogia Científica”, em que Maria Montessori falava</p><p>sobre seu método. Em 1911, devido ao empenho de Maria Maraini Guerrieri, o</p><p>método Montessori foi incluído em todas as escolas primárias da Itália.</p><p>Maria Montessori faleceu em 6 de maio de 1952, com 81 anos. Hoje, seus</p><p>livros estão traduzidos em diversas línguas, existindo escolas Montessori em</p><p>todo o mundo, inclusive no Brasil. As sociedades Montessori não descuidam</p><p>da formação dos professores, criando escolas específicas para eles; organizam</p><p>conferências, criam novas escolas, cursos de férias, entre outros.</p><p>TÓPICO 2 — A PEDAGOGIA MONTESSORI</p><p>25</p><p>3 CASE DEI BAMBINI (Casa das Crianças)</p><p>E como eram as escolas criadas por Montessori? De que forma você as</p><p>imagina? Vamos conhecer um pouco mais sobre elas?</p><p>FIGURA 6 – MONTESSORI NA ESCOLA</p><p>FONTE: <http://www.michaelolaf.net/montessori%20in%20school.gif>. Acesso em: 24</p><p>maio 2021.</p><p>FIGURA 7 – ESCOLA MONTESSORI</p><p>FONTE: <https://images.slideplayer.com.br/8/2361697/slides/slide_11.jpg>. Acesso em: 24 maio 2021.</p><p>Que tal conhecer um pouco mais sobre a vida de Maria Montessori?</p><p>Sinopse: o filme “Maria Montessori: uma vida dedicada às crianças” é uma cinebiografia de</p><p>Maria Montessori (1870-1952) – médica, educadora e pedagoga italiana que criou um método</p><p>educacional revolucionário. Acompanhe os principais momentos da trajetória de Montessori:</p><p>a graduação em Medicina, a militância feminista, o trabalho pioneiro com crianças deficientes,</p><p>a fundação da "Casa das Crianças" e a sua relação com o seu filho, Mario.</p><p>DICAS</p><p>26</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>As Casas das Crianças, como o próprio nome sugere, eram ambientes</p><p>criados especialmente para o atendimento às crianças, no intuito de melhorar o</p><p>senso de responsabilidade de cada uma. Todos os espaços eram adaptados, assim</p><p>como os móveis: pias, armários, cadeiras, entre outros. Ali, elas podiam exercitar</p><p>a liberdade e a disciplina, uma como dependente da outra.</p><p>Mandei construir mesinhas de formas variadas, que não balançassem,</p><p>e tão leves que duas crianças de quatro anos pudessem facilmente</p><p>transportá-las; cadeirinhas de palha ou de madeira, igualmente bem</p><p>leves e bonitas, e que fossem uma reprodução, em miniatura, das</p><p>cadeiras de adultos, mas proporcionadas às crianças. Encomendei</p><p>poltroninhas de madeira com braços largos e poltroninhas de vime,</p><p>mesinhas quadradas para uma só pessoa, e mesas com outros formatos</p><p>e dimensões [...]. (MONTESSORI, 1965, p. 42-43).</p><p>Montessori criou, também, pequenos armários com cortinas ou pequenas</p><p>portas, para que as crianças pudessem abrir e fechar os móveis e ali guardar</p><p>os seus pertences. “Em cima da cômoda, sobre uma toalha, um aquário com</p><p>peixinhos vermelhos. Ao longo das paredes, bem baixas, a fim de serem acessíveis</p><p>às crianças, lousas e pequenos quadros sobre a vida em família, os animais, as</p><p>flores [...]”. (MONTESSORI, 1965, p. 43).</p><p>Poder-se-ia pensar que o deslocamento de mesas e carteiras causaria</p><p>desordem e barulho, certo? Entretanto, este era o objetivo de Montessori: que a</p><p>criança aprendesse a disciplinar-se enquanto se movia ou interagia com o espaço.</p><p>Não discipliná-la no sentido de proibi-la a movimentar-se, mas orientando para</p><p>que a própria criança adquirisse controle e habilidade dos seus movimentos.</p><p>Se uma criança deixar cair ruidosamente uma cadeira, terá com este</p><p>insucesso uma prova evidente de sua própria incapacidade: em</p><p>bancos, porém, seus movimentos passariam despercebidos. Assim, a</p><p>criança terá ocasião de se corrigir e, aos poucos, verificaremos o seu</p><p>progresso (MONTESSORI, 1965, p. 44).</p><p>De acordo com Montessori (1965), é disciplina do indivíduo que é senhor</p><p>de seus atos e que sabe seguir uma regra devida.</p><p>Devemos, pois, interditar à criança tudo o que pode ofender ou</p><p>prejudicar o próximo, bem como todo gesto grosseiro ou menos</p><p>decoroso. Tudo o mais – qualquer iniciativa, útil em si mesma</p><p>ou de algum modo justificável – deverá ser-lhe permitido; mas</p><p>deverá igualmente ser observada pelo mestre; eis o ponto essencial.</p><p>(MONTESSORI, 1965, p. 46).</p><p>Para Montessori (1965), a partir dos três anos a criança pode se tornar livre</p><p>e independente para realizar todas as tarefas. O papel do professor é o de ajudar a</p><p>criança a avançar no caminho da própria independência, estimulando-a a realizar</p><p>as tarefas do dia a dia, sozinha.</p><p>Quando servimos as crianças, cometemos um ato servil para com elas.</p><p>[...] Uma pessoa que se faz servir com freqüência não somente vive</p><p>em dependência, mas definha na inanição e acaba por perder a sua</p><p>atividade natural (MONTESSORI, 1965, p. 53, grifos no original).</p><p>TÓPICO 2 — A PEDAGOGIA MONTESSORI</p><p>27</p><p>Assim, é papel do professor auxiliar a criança a ultrapassar os obstáculos</p><p>que a impedem de desenvolver-se normalmente.</p><p>4 METODOLOGIA</p><p>Com este pensamento, Montessori criou um programa conhecido como</p><p>“exercícios de vida prática”, ou “exercícios no ambiente cotidiano”, como também</p><p>foi chamado. Neles, as crianças vivenciavam uma vida real, realizando atividades</p><p>do cotidiano. Em seu livro Pedagogia Científica, 1965, Montessori relata objetos</p><p>que compunham o ambiente e auxiliavam na realização destes exercícios.“[...] os</p><p>objetos estavam dispostos de molde a permitir-lhe atingir um fim determinado;</p><p>por exemplo: certos quadros que ensinam a abotoar, dar laços, fazer nós etc.”</p><p>(MONTESSORI, 1965, p. 58). Entre outros objetos que exercitam as crianças na</p><p>análise de seus movimentos, podemos referir</p><p>[...] o quadro de madeira ao qual se fixam dois retângulos de tecido.</p><p>Esses tecidos são unidos ou fechados de diversos modos: com botões,</p><p>presilhas, laços, fitas, colchetes, fechos automáticos etc. Servem para</p><p>desenvolver a habilidade os gestos que se fazem ao vestir-se; as duas</p><p>peças de fazenda devem, primeiramente, ser justapostas com precisão</p><p>de tal modo que, em ambos os tecidos, haja uma correspondência</p><p>recíproca entre os buraquinhos por onde há de passar a fita, entre</p><p>os botões e suas casas, entre os ilhoses e os laços etc. Isso requer da</p><p>criança variadas manobras, por vezes bem complexas, que a levam</p><p>a coordenar os gestos sucessivos que terá que fazer, um após o outro</p><p>(MONTESSORI, 1965, p. 88, grifos no original).</p><p>Em outro momento, Montessori fala dos lavabos para as mãos, com panos</p><p>para limpar, vassouras, escovas, e a criança tenha liberdade de escolher o trabalho</p><p>que deseja desenvolver.</p><p>Com os exercícios da vida prática, Montessori propõe a estimulação dos</p><p>músculos por meio de atividades atraentes e do dia a dia, como enrolar um tapete,</p><p>lavar o chão, servir a mesa, abrir e fechar as portas ou janelas, entre outros, colocando</p><p>o corpo todo em movimento, exercitando-o e aperfeiçoando-o cada dia mais.</p><p>Abrir ou fechar uma porta, uma gaveta, distinguindo bem os vários</p><p>gestos a fazer: enfiar a chave, mantendo-a em posição vertical;</p><p>depois virá-la, e, finalmente, puxar a gaveta ou a porta. [...] Abrir</p><p>convenientemente um livro, folheá-lo, virando as páginas uma a uma.</p><p>[...] Sentar-se numa cadeira e, em seguida, levantar-se; transportar</p><p>objetos, parar um instante antes de colocá-los em seu lugar; caminhar</p><p>evitando obstáculos, isto é: não dando empurrões em pessoas ou</p><p>coisas [...] Além destes, outra série de gestos integram-se ainda na</p><p>vida prática da criança: são os que se referem às etiquetas nas relações</p><p>sociais, tais como saudar alguém, recolher e entregar um objeto seu,</p><p>caído no chão; evitar passar cortando o passo de outrem, escusar-se</p><p>etc. (MONTESSORI, 1965, p. 89).</p><p>28</p><p>UNIDADE 1 — AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA</p><p>Para Machado (1980), o ambiente proposto por Montessori educa pelas</p><p>suas qualidades psicológicas, pelo clima afetivo que favorece uma nova forma de</p><p>relacionamento entre professor e aluno e dos alunos entre si; percebe-se claramente</p><p>o acolhimento, a aceitação e valorização de cada um, na sua individualidade, no</p><p>seu ritmo de trabalho e de crescimento.</p><p>Ainda de acordo com Machado (1980), ao utilizar os recursos propostos</p><p>por Montessori, a criança se constrói, conquistando confiança em si mesma,</p><p>resolvendo diversas situações que lhe são propostas. Pela tentativa erro/acerto, a</p><p>criança reconhece suas limitações e procura meio de vencê-los.</p><p>Os recursos propostos por Montessori continham exercícios de paciência,</p><p>de exatidão e de repetição, reforçando o poder de concentração de cada criança.</p><p>Estes exercícios deviam ser realizados todos os dias como se fossem uma tarefa</p><p>e não um passatempo, e eram complementados com momentos de meditação e</p><p>imobilidade. Para Montessori (1976 apud RÖHRS, 2010), os exercícios serviam</p><p>para desenvolver atitudes e não apenas competências.</p><p>Montessori criou a teoria da percepção e criou os materiais didáticos</p><p>de forma que eles permitissem ou simulassem situações concretas e imediatas,</p><p>favorecendo a abstração da criança.</p>