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<p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>UTILIZAÇÃO DE SOFTWARE DE</p><p>PROGRAMAÇÃO AVANÇADA DA</p><p>PRODUÇÃO (APS) PARA TOMADA DE</p><p>DECISÕES EM UMA EMPRESA</p><p>FABRICANTE DE ELETRODOMÉSTICOS</p><p>Contribuições da Engenharia de Produção para</p><p>a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis</p><p>Victor Guardado Rondi (UFSCar)</p><p>victor_rondi@hotmail.com</p><p>Luciano Campanini (UFSCar)</p><p>lucianoc@dep.ufscar.br</p><p>Resumo: O constante avanço da competitividade, em decorrência da</p><p>globalização, a exigência de um sistema de Planejamento e Controle</p><p>da Produção eficiente e dinâmico tem aumentado. Muitas organizações</p><p>têm adotado a implantação de um software APS para o processo de</p><p>planejamento, programação e controle da cadeia de suprimentos.</p><p>Decorrente desta questão, este artigo tem como objetivo levantar</p><p>literaturas com aplicações práticas da utilização do sistema APS, para</p><p>à tomada de decisões, e definir um escopo de implantação do software,</p><p>além de propor relatórios padronizados para otimizar a sua utilização.</p><p>Para mensuração da pesquisa este trabalho adotou uma abordagem de</p><p>pesquisa experimental qualitativa, com o método de pesquisa-ação,</p><p>uma vez que se buscou a exploração e melhor compreensão da</p><p>aplicação do sistema APS para à tomada de decisões em uma empresa</p><p>de manufatura.</p><p>Palavras-chave: Sistema APS, Programação avançada, Tomada de</p><p>decisão, Planejamento da produção, Capacidade finita.</p><p>mailto:victor_rondi@hotmail.com</p><p>mailto:lucianoc@dep.ufscar.br</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>1</p><p>1. Introdução</p><p>Com o avanço constante da exigência dos consumidores, as empresas caminham para um grau</p><p>de competitividade em que a otimização dos prazos de entrega, custos de manufatura,</p><p>qualidade dos produtos, serviços e confiabilidade é obrigatória e progressiva.</p><p>No contexto empresarial a sinergia entre as diversas áreas produtivas e administrativas é</p><p>fundamental para o sucesso, por isso nas estruturas organizacionais é necessária a existência</p><p>de um setor que coordene o fluxo de informação das diversas áreas, comumente denominado</p><p>Planejamento e Controle da Produção e Materiais (PCPM). De acordo com a ABEPRO, o</p><p>Planejamento e o Controle da Produção são subáreas do conhecimento de um engenheiro de</p><p>produção, o qual tem como base a definição de sistemas produtivos, previsão de demanda,</p><p>controle de materiais e de estoques, planejamento agregado da produção, planejamento das</p><p>necessidades de materiais, programação detalhada da produção, planejamento da capacidade e</p><p>sequenciamento da produção.</p><p>Segundo Tubino (2000), as atividades do setor PCPM são aplicadas em três níveis</p><p>hierárquicos de um sistema de produção: o nível estratégico, onde são definidas as ações</p><p>estratégicas de longo prazo da empresa; o nível tático, onde são estabelecidos os planos de</p><p>médio prazo para a produção; e o nível operacional, onde são preparados os programas de</p><p>curto prazo de produção e realizado o acompanhamento dos mesmos.</p><p>Para conciliar a execução das atividades esperadas do PCPM nos três níveis hierárquicos, é</p><p>necessário o emprego de sofisticadas ferramentas computacionais que permitam compreender,</p><p>analisar e viabilizar o sistema de programação da produção considerando todas suas variáveis.</p><p>É necessário ainda que estes sistemas permitam reestruturar ou modificar os planos de acordo</p><p>com um imprevisto, como: quebras de máquinas, atraso no fornecimento de matéria-prima,</p><p>problemas com qualidade, ou nova necessidade, como: alteração da previsão de demanda ou</p><p>simulação de cenários. Estes sistemas são tratados como sistemas CAPP (Computer-Aided</p><p>Process Planning), e devem ser integrados com outros sistemas que o alimentarão com todas</p><p>as informações necessárias para o processo do PCPM, considerando o menor custo e as</p><p>características do ambiente produtivo (HOUTZEEL, 2006).</p><p>Os sistemas APS (Advanced Planning and Scheduling) são softwares especialistas em</p><p>planejamento e programação avançada de operações que potencializam o trabalho do PCPM</p><p>por meio de interfaces sofisticadas com o usuário. Estes softwares utilizam o conceito de</p><p>programação com capacidade finita, muitas vezes embasados pela Teoria das Restrições</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>2</p><p>(TOC) e são capazes de considerar diversas variáveis de um sistema produtivo, necessárias</p><p>para gerar um plano de produção viável e factível (FAÉ e ERHART, 2005; TEIXEIRA</p><p>JÚNIOR, 2008). A utilização destes sistemas é crescente, em empresas de médio e grande</p><p>porte, como ferramenta de apoio à tomada de decisões.</p><p>A partir do contexto, foi estudado o processo produtivo de uma empresa fabricante de</p><p>eletrodomésticos para responder a seguinte questão: na implantação de um sistema APS, qual</p><p>o melhor escopo para otimizar o investimento do software?</p><p>Sendo assim, este artigo tem como objetivo levantar literaturas e investigar aplicações</p><p>práticas da utilização de sistema APS, para à tomada de decisões, definir um escopo de</p><p>implantação e propor relatórios padrões para otimizar a utilização deste software.</p><p>A partir do resultado desta pesquisa a empresa estudada poderá potencializar a utilização do</p><p>APS e economizar em sua implantação, em vista que os relatórios e cenários desejados já</p><p>estarão inclusos no escopo da contratação do software, não gerando personalizações extras</p><p>após a validação do sistema.</p><p>2. Referencial teórico</p><p>Para a compreensão do tema estudado, é necessário entender os alicerces do assunto. Por isso</p><p>esta sessão está organizada em etapas, afunilando o assunto para a melhor compreensão da</p><p>proposta a ser estudada. A Figura 1 demonstra um modelo mental dos assuntos a serem</p><p>tratados.</p><p>Figura 1 - Modelo mental da Revisão de literatura</p><p>Fonte: Autores</p><p>A proposta desta sequência de ferramentas indica a evolução cronológica dos sistemas e</p><p>softwares para o auxílio do PCPM, assim como sua capacidade de lidar com níveis de</p><p>complexidade distintos.</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>3</p><p>2.1. Funções do PCPM</p><p>O PCPM se tornou um departamento estratégico nas empresas, ganhando importância devido</p><p>ao grande grau de competitividade e globalização do mercado, sendo responsável por</p><p>coordenar sistemas produtivos com maior eficiência e dinamismo. (TUBINO, 2000).</p><p>Tanto o sistema de planejamento e controle da produção, como o próprio sistema de</p><p>produção, são concebidos para atender as condições do mercado e as condições impostas pela</p><p>estratégia da empresa. Um sistema eficiente de planejamento e controle da produção pode</p><p>trazer vantagens competitivas substanciais à empresa no mercado em que está inserida</p><p>(VOLLMANN, 2005).</p><p>De acordo com Lustosa (2011) o PCPM deve estar alinhado com as diretrizes do</p><p>planejamento estratégico, marketing, projeto do produto e projeto do processo, sendo que os</p><p>dois primeiros são ações de horizonte de longo prazo. O autor ainda destaca que o PCPM</p><p>ocorre em diferentes horizontes de tempo sendo, do longo prazo ao curto prazo, a Figura 2</p><p>detalha esta interação.</p><p>Figura 2 - O contexto do PCP no âmbito dos diferentes níveis de planejamento</p><p>Fonte: Adaptado de LUSTOSA (2011)</p><p>XL ENCONTRO</p><p>NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>4</p><p>Para coordenar todo este fluxo de informações o PCPM utiliza sistemas e softwares para</p><p>viabilizar a operacionalização de suas atividades, os quais são apresentados nos próximos</p><p>tópicos.</p><p>2.2. Sistemas MRP e MRPII</p><p>De acordo com Corrêa e Gianesi (2016) as primeiras formas de cálculo das necessidades de</p><p>material eram feitas através de uma lista de materiais conhecidas como Bill of Materials</p><p>(BOM) e por alguns produtos conterem uma lista muito extensa de materiais dificultava-se o</p><p>cálculo. Com o avanço da tecnologia o Material Requirement Planning (MRP) começou a ser</p><p>difundido, possibilitando realizar as ordens de compra e fabricação de uma forma mais ágil.</p><p>De acordo com Gaither e Frazier (2001) os gerentes de produção utilizam o MRP com o</p><p>objetivo de melhorar o serviço ao cliente, de reduzir investimentos em estoques e de melhor a</p><p>eficiência operacional da fábrica. O Manufacturing Resources Planning (MRP II) é um</p><p>conceito mais amplo do MRP, contudo leva a mesma lógica, onde além de verificar as</p><p>quantidades e momentos de aquisição ou fabricação de materiais, ainda calculam e planejam</p><p>os recursos e considera capacidade.</p><p>Vollmann (2005) afirma que além das entradas do programa mestre de produção, o MRP</p><p>requer duas entradas básicas. Uma lista de materiais, para cada número de peças, quais outros</p><p>números de peças são necessários como componentes diretos. A segunda entrada básica para</p><p>o MRP é o status do estoque.</p><p>Corrêa e Gianesi (2016) dizem que os sistemas MRP e MRP II possuem as seguintes</p><p>características:</p><p> O sistema exige um sistema robusto para operacionalizar os cálculos precisamente da</p><p>necessidade dos materiais;</p><p> A programação utilizada nos sistemas MRP e MRPII parte das datas solicitadas de</p><p>entrega de pedido e calcula as necessidades de materiais para cumpri-las;</p><p> O Sistema MRP II é um sistema de planejamento que considera os recursos com carga</p><p>infinita, ou seja, não considera as restrições de capacidade de recursos;</p><p> Os leadtimes de produção dos itens são dados de entrada considerados fixos para</p><p>efeito de programação, porém estes podem mudar, de acordo com a situação das filas</p><p>do sistema, os dados usados podem perder a validade.</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>5</p><p>Goldratt e Cox (1992) salientam que o leadtime de produção é consequência da programação,</p><p>sendo assim não pode ser um dado de entrada no sistema de programação da produção. A</p><p>imprecisão nos valores de leadtimes pode provocar uma perda de aderência à realidade e,</p><p>como consequência, o desbalanceamento do fluxo produtivo, pela produção em excesso de</p><p>algumas peças e pelo atraso na produção de outras.</p><p>Slack et al. (2018) citam que num ambiente de produção as condições de carga de trabalho, e</p><p>outros fatores, fazem com que os leadtimes sejam na realidade bastante variáveis, dificultando</p><p>a interpretação dos sistemas MRP de lidar com leadtimes variáveis.</p><p>2.3. Sistema ERP</p><p>Segundo Slack et al. (2018) o Enteprise Resource Planning (ERP) é uma solução completa</p><p>para uma empresa, que consegue integrar o planejamento, a alocação de recursos e as</p><p>atividades de controle de toda a organização. Esta integração faz com que as decisões e os</p><p>dados da organização fiquem concentrados em um único sistema, evitando muitas vezes</p><p>inconsistências e redundâncias, facilitando assim a implantação e operacionalização do MRP</p><p>e MRP II, já que todas as informações estão num único local, conforme Figura 3.</p><p>Figura 3 - O ERP e as diversas integrações de planejamento e controle de todas as partes da organização</p><p>Fonte: Adaptado de SLACK et al. (2018)</p><p>2.4. Sistema APS</p><p>O sistema APS (Advanced Planning and Scheduling) é um software de programação que traz</p><p>soluções ao PCPM, por utilizar-se das práticas de sequenciamento com capacidade finita,</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>6</p><p>sendo assim, operacionaliza planos factíveis de produção. Os sistemas APS são</p><p>especializados em soluções avançadas de planejamento e programação de operações, capazes</p><p>de levar em consideração, as variáveis e restrições inerentes ao ambiente produtivo, gerando</p><p>planos de produção viáveis e factíveis. Estes softwares têm como principais características a</p><p>rapidez e performance no processamento, a precisão nas programações geradas, a elevada</p><p>capacidade de refletir a realidade operacional dos diferentes sistemas de produção e a alta</p><p>tecnologia com que são desenvolvidos (LIDDEL, 2009).</p><p>Na Figura 4, é apresentado como se comporta um sistema com capacidade infinita e um com</p><p>capacidade finita.</p><p>Figura 4 – Distribuição da programação da produção com capacidade infinita e com restrições de capacidade</p><p>Fonte: Adaptado de Vollmman (2005)</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>7</p><p>Nas duas situações a quantidade a ser produzida é a mesma, porém com o sistema APS tem-se</p><p>uma melhor previsão do prazo de entrega, pois este considera os gargalos do sistema</p><p>produtivo.</p><p>3. Procedimentos metodológicos</p><p>Este trabalho adota uma abordagem de pesquisa qualitativa (GANGA, 2012; GANGA;</p><p>MARTINS, 2018; MARTINS; MELLO; TURRIONI, 2013). Para tanto, foi adotado o método</p><p>de pesquisa-ação (Ganga; Martins, 2018; Yin, 2010), uma vez que se busca a exploração e</p><p>melhor compreensão da aplicação do sistema APS para à tomada de decisões em uma</p><p>empresa de manufatura.</p><p>O Referencial teórico auxiliou para a proposição do modelo de pesquisa qualitativa, a qual</p><p>consiste na tentativa de se entender a natureza do problema de estudo por meio da observação</p><p>e descrição de situações complexas, sem utilização de recursos estatísticos, tendo como</p><p>objetivos interpretar e dar significados aos fenômenos analisados, analisar a interação de</p><p>certas variáveis e focalizar os principais processos do objeto de estudo (LAKATOS;</p><p>MARCONI, 2003).</p><p>A análise das literaturas levantadas é baseada na experiência empírica dos pesquisadores, as</p><p>quais após analisadas são propostos relatórios padrões para o auxílio à tomada de decisão,</p><p>estes por sua vez são validados com a diretoria da empresa estudada, para eleger quais são</p><p>prioritariamente relevantes e quais não devem ser aplicados.</p><p>4. Estudo de caso</p><p>A empresa estudada é fabricante de eletrodomésticos, está presente no mercado há 44 anos e</p><p>atualmente, trabalha com três plantas, em Araçatuba-SP (Matriz), em Linhares-ES e em Feira</p><p>de Santana-BA, com um total de aproximadamente 2.000 colaboradores. A empresa</p><p>comercializa produtos como, máquinas de lavar roupas automáticas e semiautomáticas,</p><p>centrífugas de roupa, depuradores de ar, refrigeração de água, armários de aço, ferro de</p><p>passar, batedeiras orbitais e air fryer, além de vender para todo Brasil, também exporta para</p><p>países da América do Sul.</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>8</p><p>Para melhor compreensão das vantagens</p><p>da implantação do software APS na empresa</p><p>estudada, é importante identificar o tipo de sistema produtivo da empresa. De acordo com</p><p>Tubino (2000) pode-se classificar conforme:</p><p> Grau de padronização (produz produtos padronizados em média escala);</p><p> Tipo de operação (processos repetitivos em lote);</p><p> Natureza do produto (manufatura de bens).</p><p>Com relação à orientação para o mercado, o sistema produtivo da empresa, é basicamente</p><p>classificado como make-to-stock e possui razoável verticalização da cadeia produtiva, com</p><p>fábricas compostas por máquinas como injetoras plásticas, prensas, dobradeiras,</p><p>puncionadeiras mecânicas, cabines de pinturas e linhas de montagem.</p><p>Nos processos produtivos da empresa foram identificadas divisões de complexidade de</p><p>programação entre as linhas de produtos, os modelos apresentados nas Figuras 5 e 6</p><p>demonstram as particularidades de cada um dos fluxos de produção.</p><p>Figura 5 – Fluxo de produção da linha branca</p><p>Fonte: Autores</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>9</p><p>Figura 6 – Fluxo de produção da fábrica de armários</p><p>Fonte: Autores</p><p>Pode ser observado, que ambos os modelos de fluxos apresentados possuem uma</p><p>característica de job shop (produtos com roteiros distintos de produção) nas etapas de</p><p>componentes e flow shop nas etapas de montagem, e que a montagem do produto acabado</p><p>depende diretamente da disponibilidade dos componentes.</p><p>O fluxo de produção apresentado na Figura 5 representa o grupo de produtos chamados de</p><p>“linha branca”, que na empresa estudada representam os modelos de lavadoras automáticas e</p><p>semiautomáticas, bebedouros e purificadores, depuradores de ar e centrífuga de roupas. Nesta</p><p>segmentação da fábrica foi mapeada a existência de 411 componentes para 99 produtos</p><p>acabados, sendo que a grande parte destes componentes são originados do processo de</p><p>injeção, portanto a complexidade encontrada na programação desta linha, é a “competição” de</p><p>componentes diversos pelas mesmas injetoras.</p><p>Na fábrica de armários, representada na Figura 6, os processos que geram os componentes são</p><p>em sequência e em mais etapas, tendo assim máquinas mais especialistas gerando menos</p><p>“competição” de componentes por máquina, porém este fluxo gera mais estoques em</p><p>processo. A quantidade de componentes é maior que o modelo de fluxo apresentado na Figura</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>10</p><p>5, devido a todos os componentes passarem por mais de um processo antes de estarem prontos</p><p>para a linha de montagem.</p><p>Portanto a programação sinérgica de todas as fábricas, de forma que os recursos sejam</p><p>otimizados, reduzindo o leadtime total de produção, sem gerar ociosidade de máquina e</p><p>excessos de setup, é um desafio superestimado para um programador sem recursos</p><p>tecnológicos apropriados.</p><p>4.1. Softwares APS</p><p>Durante o estudo foram levantadas opções de softwares disponíveis no mercado. Com base</p><p>em uma pesquisa publicada por IMAM (2015), foram consideradas quatro empresas</p><p>fornecedoras. A seguir são apresentados os softwares e um breve diferencial de cada um</p><p>deles:</p><p> Software IBM ilog ODM Enterprise (BrasilLog). A solução de planejamento da</p><p>BrasilLog é voltada para a otimização dos fluxos na cadeia de suprimentos</p><p>(planejamento tático), além de gerar modelos de programação (scheduling) e</p><p>roteirização de veículos;</p><p> Software SAP SCM 7.0 (SAP). A solução APS da SAP foi denominada APO</p><p>(Advanced Planner & Opitimizer). O software SCM 7.0 tem abrangência e integração</p><p>com as soluções da gestão da cadeia de suprimentos e demais soluções da SAP e não</p><p>SAP;</p><p> Software Preactor APS (Tecmaram). O Preactor APS é uma solução de planejamento</p><p>e programações de operações industriais e de logística. Oferece regras de</p><p>sequenciamento sincronizadas com a filosofia lean que reduz desperdícios como</p><p>tempo de setup e estoques em processos e esperas. Permite simular cenários e</p><p>reprogramar rapidamente a produção para orientar as decisões;</p><p> Software TOTVS APS (TOTVS). O TOTVS APS é uma ferramenta para o</p><p>gerenciamento de sistemas produtivos dinâmicos e complexos, que exigem decisões</p><p>rápidas e seguras. Pode trabalhar integrado aos diferentes sistemas ERP disponíveis no</p><p>mercado. Não é necessário um sistema MRP para gerar as ordens de produção e</p><p>compras. Incorpora conceitos da Teoria das Restrições para identificar e explorar</p><p>melhor a capacidade produtiva;</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>11</p><p> Software Drummer (Linter Sistemas). Desenvolvido nacionalmente e possui fácil</p><p>integração com qualquer ERP. Usa conceitos da Teoria das Restrições.</p><p>4.2. Empresas que utilizam o APS</p><p>Para compreender, na prática, como a aplicação do APS acontece em indústrias de</p><p>complexidades similares à empresa estudada, e assim poder adquirir conhecimento para a</p><p>melhor definição de um escopo de implantação do software, foram feitas visitas em empresas</p><p>que já passaram por esta fase do primeiro contato com o sistema.</p><p>As empresas escolhidas foram:</p><p> Uma empresa de grande porte fabricante de autofalantes, com atuação no mercado</p><p>nacional e internacional, com grande variação de produtos e verticalização do</p><p>processo produtivo, desde a conformação de estruturas metálicas até a montagem de</p><p>componentes eletrônicos para o produto acabado;</p><p> Uma empresa do ramo de embalagens para cosméticos e perfumes, sendo fornecedora</p><p>para as maiores empresas do segmento. Possui um processo pouco complexo em</p><p>verticalização, porém possui grande variação de produtos e alta competição de</p><p>componente por máquina;</p><p> Uma empresa do ramo de redutores e motorredutores de velocidade, líder no mercado</p><p>nacional e com alta complexidade de programação, com processo extremamente</p><p>verticalizado, desde o aço em lingote até o produto acabado em alguns produtos;</p><p> Uma empresa do ramo de componentes eletrônicos, com processos de montagem e</p><p>configurações complexos e quantidade de produtos acabados expressivos.</p><p>Durante as visitas, foram feitas algumas perguntas direcionadas para levantar informações</p><p>sobre o software utilizado e alguns aspectos de programação da produção importantes para a</p><p>melhor compreensão da rotina de cada empresa, alicerçando assim discernir sobre o melhor</p><p>escopo aplicado à empresa estudada. As questões abordadas foram:</p><p> Como é feito o MRP e com qual periodicidade ele acontece na empresa;</p><p> Como é feito o apontamento da produção e como o líder acompanha a programação da</p><p>produção;</p><p> Como é feita a previsão da ocupação da capacidade das máquinas e linhas de</p><p>montagem para um planejamento de produção factível;</p><p> Quais são os tipos de restrições utilizadas na configuração do software APS.</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>12</p><p>Com base nas informações levantadas durante as vistas, dois softwares foram escolhidos, a</p><p>princípio: Drummer e Preactor. Ambos se mostraram aderentes para os processos da empresa</p><p>estudada. E após análise de viabilidade e compatibilidade com as características de</p><p>programação da empresa estudada, definiu-se seguir o projeto com Drummer.</p><p>4.3.</p><p>Definição de escopo da implantação do APS</p><p>As funções padrões do software escolhido são focadas nas necessidades da empresa estudada,</p><p>porém cada software possui especificações e a implantação padrão de um novo sistema pode</p><p>não abranger aspectos críticos do fluxo de planejamento. A Figura 8 representa as</p><p>informações que alimentam o software e quais são as devolutivas após o processamento.</p><p>Figura 8 – Fluxo de entrada e saída do APS</p><p>Fonte: Autores</p><p>Dentre as devolutivas do sistema APS foram customizadas três integrações entre o software</p><p>de programação avançada e o software ERP, conforme Figura 8:</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>13</p><p> Solicitação de transferência: pelo fato da empresa estudada operar com três plantas</p><p>que têm entre si abastecimentos de materiais e componentes produtivos, foi incluído</p><p>no escopo de implantação, a automação de solicitações de transferência;</p><p> Solicitações de compras: o software escolhido possui como relatório padrão a geração</p><p>das necessidades de materiais para a programação planejada, com isso foi solicitado</p><p>que estas necessidades se transformassem em solicitações de compras</p><p>automaticamente no ERP da empresa, para acelerar o processo de compras;</p><p> Base de consumo para previsão do fluxo de caixa: como o software possui um</p><p>horizonte de planejamento detalhado, entre 1 a 3 meses, tem-se a informação sobre os</p><p>momentos exatos necessários para a compra de materiais neste mesmo período. Sendo</p><p>assim, foi solicitado na implantação do sistema que um dos relatórios padrões fosse a</p><p>previsão de gastos com matéria prima, cruzando as bases de consumo com o prazo de</p><p>pagamento de cada fornecedor.</p><p>4.4. Cronograma de implantação</p><p>Para acompanhamento e gestão da implantação do software APS na empresa, foi criado um</p><p>cronograma que atendesse a expectativa de tempo para o retorno sobre o investimento e que</p><p>também fosse factível, considerando a quantidade de pessoas envolvidas na implantação.</p><p>Para isso a implantação foi dividida em três fases:</p><p>1ª - Fábrica de Armários (Araçatuba-SP): escolhida como a primeira a ser implantada, pois, o</p><p>ganho esperado com a otimização do software nos planos de produção, já começariam a ser</p><p>colhidos em maior escala. O tempo de duração desta fase é de 5 meses, maior que as demais</p><p>fases pois nela se faz o desenho do modelo de integração entre APS e ERP, o qual também</p><p>pode ser utilizado nas próximas fases.</p><p>2ª – Fábrica Linha Branca (Araçatuba-SP): nesta fase é finalizada toda a configuração de</p><p>restrições da programação da produção, as quais também são aplicadas para a outras plantas</p><p>da empresa. O tempo de duração desta fase é de 4 meses.</p><p>3ª – Replicação para às fabricas de Linhares-ES e Feira de Santana-BA: nesta última fase a</p><p>implantação do software é replicada e nele incorporadas as programações de transferências</p><p>entre plantas.</p><p>Portanto o período de implantação soma um total de 13 meses, sendo que neste prazo já</p><p>contempla um mês para cada fase de acompanhamento do processo.</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>14</p><p>5. Conclusão</p><p>O presente estudo mostrou a importância na aplicação de softwares robustos para a</p><p>programação da produção de indústrias com cadeias produtivas complexas, onde existem</p><p>vários processos, misturando sistemas job-shop e flow-shop com estoques intermediários</p><p>entre cada etapa e restrições de programação diferenciadas. Portanto a implantação do APS na</p><p>empresa estudada se mostra interessante para que se possa aproveitar ao máximo da</p><p>capacidade produtiva da empresa, explorando seus gargalos com uma programação factível e</p><p>com redução de setups.</p><p>A busca por literaturas sobre APS ajudou a compreender como as oportunidades de melhoria</p><p>existiam na empresa, onde o fluxo de informações da programação, nas três hierarquias, era</p><p>confuso, impreciso e com pouca visibilidade do futuro, dificultando assim a tomada de</p><p>decisões.</p><p>As visitas em empresas, onde a implantação do APS já havia acontecido, auxiliaram no</p><p>planejamento do escopo de implantação do software na empresa estudada, bem como os</p><p>relatórios necessários para a tomada de decisão rápida, pois foi levado em consideração parte</p><p>das dificuldades enfrentadas por estas empresas visitadas. Outro ponto positivo sobre visitar</p><p>empresas que já utilizam o software foi entender a real diferença entre os fornecedores de</p><p>APS na prática, sem o viés comercial, o que foi fundamental para a escolha do que mais se</p><p>identificava com o perfil da empresa foco do estudo.</p><p>Propõe-se o estudo e implantação de uma integração do software APS com outro sistema de</p><p>acompanhamento da produção, de preferência com sistemas mobile, para que a programação</p><p>detalhada da produção esteja ao alcance dos líderes de produção de forma fácil e instrutiva.</p><p>Referências</p><p>ABEPRO, Associação Brasileira de Engenharia de Produção. Disponível em: <http://www.portal.abepro.org.br></p><p>Acesso em: 10 dez. 2019.</p><p>CORREIA, H. L.; GIANESI, I. G. N.; CAON, M., Planejamento, programação e controle da produção, 5ª</p><p>edição, São Paulo, Editora Atlas, 2016.</p><p>FAÉ, C. S.; ERHART, A. A introdução de ferramentas APS nos sistemas de planejamento, programação e</p><p>controle da produção. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 25, 2005, Porto</p><p>Alegre. Anais ENEGEP/Proceedings ICIEOM. Rio de Janeiro, ABEPRO, 2005.</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>15</p><p>GAITHER, N; FRAZIER, G. Administração da produção e Operações. São Paulo. Pioneira. 2001.</p><p>GANGA, G. M. D. Trabalho de Conclusão de Curso na Engenharia de Produção: um guia prático de conteúdo e</p><p>forma. São Paulo: Atlas, 2012.</p><p>GANGA, G. M. D.; MARTINS, R. A. Metodologia científica em Engenharia de Produção e Gestão de</p><p>Operações. IN: BATALHA, Mário Otávio (Org.) Gestão da Produção. São Paulo: Atlas, 2018. Cap. 5.</p><p>GOLDRATT, Eliyahu M.; COX, Jeff. A meta: um processo de melhoria contínua. São Paulo: Iman, 1986.</p><p>HOUTZEEL, A., Factory Operations: Planning and Instructional Methods. Second Edition. Editora LLC, 2006.</p><p>IMAM, Revista intra LOGÍSTICA, “Soluções APS aumentam a produtividade”. 2015.</p><p>LAKATOS, E. M..; MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2003.</p><p>LIDDEL, M. Pequeno livro azul da programação da produção. Espirito Santo. Editora Brasileira: Tecmaran,</p><p>2009.</p><p>LUSTOSA, Leonardo; MESQUITA, Marco A.; QUELHAS, Osvaldo; OLIVEIRA, Rodrigo. Planejamento e</p><p>Controle da Produção. Rio de Janeiro. Elsevier, 2011.</p><p>MARTINS, R. A.; MELLO, C. H. P.; TURRIONI, J. B. Guia para elaboração de Monografia e TCC em</p><p>Engenharia de Produção. São Paulo: Atlas, 2013.</p><p>SOUSA, T. B. Referencial teórico sobre sistemas APS: um ponto de partida para futuras pesquisas. ENEGEP,</p><p>2012.</p><p>SLACK, N.; BRANDOM-JONES, A.; JONHSTON, R. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 2018.</p><p>TEIXEIRA JÚNIOR, R. F. Análise das principais funcionalidades de um sistema nacional de planejamento e</p><p>programação avançados (APS). In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 15, 2008, Bauru. Anais.</p><p>Bauru, UNESP, 2008a. Disponível em: <http://www.simpep.feb.unesp.br/> Acesso em: 13 dez. 2019.</p><p>TUBINO, D. F. Manual de planejamento e controle da produção. São Paulo: Atlas, 2000.</p><p>XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO</p><p>“Contribuições</p><p>da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”</p><p>Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.</p><p>16</p><p>VOLLMANN, T. E.; BERRY, W. L.; WHYBARK, D. C.; JACOBS, F. R. Sistemas de Planejamento &</p><p>Controle da Produção para o Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. Porto Alegre. ARTMED Editora S.A:</p><p>2005.</p><p>YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.</p>