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geográfico Um dos objetivos de nosso estudo é traçar um panorama das pesquisas sobre assédio moral no mundo, traçando um panorama das contribuições e avanços que os pesquisadores trouxeram ao campo. Os resultados de nossa pesquisa confirmam a opinião de Guimarães e Rimoli (2006) de que o assédio não é um problema exclusivo de determinados países, mas um fenômeno generalizado. Nos itens abaixo tentamos pincelar as principais contribuições de pesquisadores de alguns países do mundo. 1.1 Europa 1.1.1 Escandinávia Conforme mencionamos no começo da década de 1980 o psicólogo alemão, Heinz Leymann, radicado na Suécia iniciou suas pesquisas sobre assédio moral. O termo originalmente proposto por Leymann era “mobbing” e foi retirado das pesquisas do etólogo Konrad Lorenz, que cunhou o termo para descrever os ataques de grupos pequenos de animais ameaçando um animal maior (LEYMANN, 2007). A seguir, o médico sueco Peter Paul Heinemann usou esta terminologia para descrever o comportamento muito destrutivo de grupos de crianças pequenas sobre (geralmente) uma única criança. (LEYMANN, 2006) e posteriormente foi difundido nas pesquisas conduzidas pelo pesquisador norueguês especialista em assédio entre crianças na escola, Dan Olweus. 136 As primeiras análises deste fenômeno se beneficiaram das pesquisas de Dan Olweus, que estuda há muito tempo a questão do bullying ou violência nas escolas. Este pesquisador, descrevendo este fenômeno entre crianças nas escolas, foi o primeiro a caracterizar que a relação de poder entre agressor e agredido se caracterizava por forças desbalanceadas. (EINARSEN e SKOGSTAD, 1996) Leymann faleceu em 1999, mas a Escandinávia continua como grande celeiro de pesquisas sobre este assunto, sendo seus pesquisadores grandes autoridades nesta área de pesquisa, influenciando os outros países da Europa. Além dos três países escandinavos, a Finlândia também aparece como um dos países pioneiros nas pesquisas sobre assédio, sendo que neste país o primeiro congresso sobre assédio ocorreu em 1988 e o primeiro artigo em 1989. O pesquisador norueguês Stale Einarsen é atualmente uma das maiores autoridades nesta área, tendo publicado inúmeros trabalhos e coordenado em 2004 um congresso sobre este tema. Esta posição de liderança se traduz também em formas de combater este mal organizacional. Desde 1989 o Comitê Sueco de Saúde e Segurança Ocupacional (NBOSH) distribui materiais pedagógicos sobre este fenômeno (LEYMANN, 1996). Nestes países, Vartia (2004) nota que a atitude com relação ao tema mudou: o assédio moral no trabalho passou a ser visto como um problema sério para a saúde e um perigo a ser combatido. 1.1.2 França Se os estudos feitos na Escandinávia descreviam a violência no trabalho e começavam a nomear a importância deste debate e mobilizar as autoridades, foi com a psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen que o tema assédio moral ganhou notoriedade. Em seu livro de 1999 “Harcèlement moral, la violence perverse au quotidien”, ela lança luz sobre este tipo de violência do cotidiano, descrevendo a relação perversa que por vezes pode levar a vítima a uma espiral depressiva e talvez suicida (HIRIGOYEN, 1998) e desafiando todos a lutar contra a banalização deste tema. Segundo seu site oficial, desde seu lançamento, seu livro foi traduzido em 24 países, incendiando o debate sobre este assunto. Para esta autora é do encontro do desejo de poder com a perversidade que nasce a violência e a perseguição. 137 Neste primeiro livro, a sua visão, muitas vezes, nos leva a analisar este fenômeno somente como conseqüência da violência de uma dupla: “agressor e vítima”. O segundo livro de Hirigoyen, inspirado nos relatos recebidos após seu primeiro livro, tratou especificamente do assédio que acontece dentro das empresas. Para Hirigoyen, essa guerra psicológica no trabalho agrega dois fenômenos: abuso de poder, que é rapidamente desmascarado, e não é necessariamente aceito pelo empregador; e a manipulação perversa, que se instala de forma mais insidiosa e que, no entanto, causa devastações muito maiores. (HIRIGOYEN, 2001) Por outro lado, o sociólogo francês Jean-Pierre Le Goff é um dos maiores críticos do termo assédio moral porque, segundo o autor, pode-se levar a entender este fenômeno como algo de um “par” e não como um reflexo das atuais condições de trabalho. As lutas pelo poder e os conflitos pessoais sempre existiram, mas atualmente parecem ter redobrado de intensidade. Para este autor, se esquecermos o que torna socialmente possível que este fenômeno ocorra, podemos causar um clima de suspeita generalizada no seio da coletividade. Ele completa dizendo que o que se chama de assédio moral (harcèlement moral) revela a psicologização dos reportes sociais, e mostra a sintomatização da crise de poderes e instituições que cada vez menos assumem seus papéis (LE GOFF, 2000). Para Le Goff (2000), a obra de Hirigoyen por vezes deixa o leitor numa posição dúbia, ora ela deixa a entender que vê a situação de assédio moral como algo de um “par” e ora ela nomeia a responsabilidade das empresas em coibir esta violência. Uma pesquisa do instituto Ipsos (2000) realizada com uma amostra de 471 trabalhadores para a revista Rebondir mostrou que 30% dos franceses já haviam passado por uma situação de assédio moral e 37% haviam testemunhado. Neste país, este fenômeno atinge: executivos (35%), profissionais de nível intermediário (29%), e trabalhadores (32%). Atinge praticamente na mesma proporção homens (31%) e mulheres (29%) e está presente tanto em empresas públicas (29%) quanto privadas (30%). 138 1.1.3 Inglaterra O grande desafio do tema nos países de língua inglesa é a não preponderância de uma única denominação, enquanto na Inglaterra o termo é chamado de “bullying”, nos Estados Unidos usa-se mais comumente “mobbing”. Como já explicamos, na Inglaterra o tema foi abordado primeiramente pela jornalista Andrea Adams, que fez várias reportagens para a BBC. Após a sua morte, a fundação que leva o seu nome, primeira organização não-governamental preocupada exclusivamente com a questão do assédio moral, continua a combater e esclarecer a população. Nestes países, nota-se o grande envolvimento dos sindicatos em pesquisar a incidência deste fenômeno, vide, por exemplo, as inúmeras pesquisas patrocinadas por sindicatos tais como Unison, 1996 e 1999. Outro sindicato que participa ativamente da luta contra as situações de assédio moral no trabalho no Reino Unido é o MSF (Manufacturing, Science and Finance Union), que representa profissionais de muitas empresas de manufatura e outros setores como engenharia, eletrônica, automotiva, aço, química, farmacêutica, a indústria do fumo, indústria alimentícia e de bebidas. É o maior sindicato privado do Reino Unido e é o maior sindicato do mundo representando funcionários do setor de seguros, tendo aproximadamente 60 mil associados deste ramo de atividades. (SHEEHAN, BARKER, RAYNER, 1999) Este sindicato, junto com a Fundação Andrea Adams, segundo Sheehan et. al (1999), foi a primeira organização a atrair a atenção da mídia ao problema do assédio moral nas empresas. Eles lançaram uma campanha em conjunto em 1994 alertando sobre este tipo de violência e muitos de seus associados contataram o sindicato para contar suas histórias. Sheehan, Barker, Rayner (1999) explicam que este sindicato também financia pesquisas sobre este assunto, em 1995 eles financiaram uma pesquisa que entrevistou 1000 trabalhadores. Segundo esta pesquisa, 78% destes respondentes haviam testemunhado uma situação de assédio e 51% haviam sido vítimas de uma situação de assédio. Notamos que o Reino Unido é um dos países mais engajados em pesquisas sobre este